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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ (UECE)

FACULDADE DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS E LETRAS DO SERTÃO


CENTRAL (FECLESC)

CURSO LICENCIATURA EM FÍSICA

PROFESSOR: IVAN

DISCIPLINA: HISTÓRIA DA MATEMÁTICA

DISCENTE: KALWAN BEZERRA FREITAS

MATRÍCULA: 1618593

DATA DE ENTREGA: 05/12/2023

Resumo do capítulo 14 do livro: História da Matemática

QUIXADÁ – CEARÁ
2023
DA ÁSIA À EUROPA

O texto aborda a transição da matemática da Ásia para a Europa ao longo da história,


considerando marcos e eventos significativos. Aqui está um resumo:
O autor destaca a utilidade da subdivisão da história em períodos, comparando-a a um sistema
de coordenadas na geometria. Para a história política, a Idade Média é frequentemente designada
como começando em 476 com a queda de Roma e terminando em 1453 com a queda de
Constantinopla. No entanto, para a história da matemática, o autor prefere marcar o início do
período medieval em 529 e encerrá-lo arbitrariamente em 1436.
O ano 1436 é identificado como simbólico, marcando a morte de al-Kashi e o nascimento de
Regiomontanus. Este ano representa a transição da Idade Média, onde os destacados em
matemática escreviam em árabe e viviam na Ásia Islâmica, para uma nova era, onde os
principais matemáticos escreviam em latim e viviam na Europa cristã.
O autor alerta contra uma visão simplificada da Idade Média centrada apenas na Europa,
destacando que cinco grandes civilizações, com diferentes línguas, contribuíram para a história
da matemática medieval. O texto examina as contribuições matemáticas do Império Bizantino,
com sua língua oficial sendo o grego, e do Império Romano Ocidental, onde o latim era a língua
franca dos estudiosos.

MATEMÁTICA BIZANTINA
começando com o fechamento das escolas filosóficas pagãs de Atenas por Justiniano em 529. Os
sábios se dispersaram, alguns se estabeleceram permanentemente em outras regiões, enquanto
outros retornaram anos depois. Destacam-se figuras como Eutócio, Simplicio, Isidoro de Mileto
e Antemio de Trales, com Justiniano envolvido na construção de Hagia Sophia. Filoponus, um
cientista cristão, questionava as leis aristotélicas do movimento, sugerindo um princípio de
inércia. Suas ideias influenciaram pensadores islâmicos. Embora não fosse principalmente um
matemático, suas contribuições incluíam um tratado sobre o astrolábio. A matemática bizantina,
mais conservadora que a árabe, preservava o legado da antiguidade para o Ocidente. Filoponus
comentou sobre a Introdução à Aritmética de Nicomaco, influenciando o pensamento
neoplatônico. Psellus e Pachymeres continuaram a tradição grega antiga, escrevendo
comentários e compêndios sobre o quadrivium. Planudes, embaixador em Veneza, escreveu
sobre o sistema hindu de numeração. O texto destaca que, em Bizâncio, os numerais alfabéticos
não foram totalmente abandonados, e o sistema hindu chegou ao mundo grego. São
mencionados manuscritos que mostram a transição para o novo sistema, indicando alguma
influência cultural entre o Oriente e o Ocidente. No final, são mencionados outros matemáticos
bizantinos, como Manuel Moschopoulos e Nicolau Rhabdas, indicando a continuidade da
tradição matemática no Império do Oriente até o final do período medieval.

DECLINIO DO SABER MEDIEVAL


O texto aborda o declínio do conhecimento matemático medieval na Europa, desde o auge nos
tempos dos escolásticos até o declínio após o século XIV. Destaca que, apesar do progresso
notável desde o século VII até as obras de Oresme nos séculos XIII e XIV, os esforços
matemáticos não foram comparáveis aos da Grécia antiga.
O declínio se inicia na Europa Ocidental após as contribuições de Bradwardine e Cresme. A
Peste Negra de 1349, que dizimou entre um terço e metade da população, causou perturbações
severas, afetando a Inglaterra e a França, líderes matemáticos do século XIV, também
impactadas pela Guerra dos Cem Anos e a Guerra das Rosas.
O renascimento matemático migra para universidades italianas, alemãs e polonesas durante o
século XV, afastando-se do escolasticismo decadente de Oxford e Paris. O foco agora se volta
principalmente para representantes desses países.
CAMPANUS DE NOVARA
O texto aborda Johannes Campanus de Novara, um capelão do Papa Urbano IV no século XIII,
que contribuiu para a tradução das obras de Euclides do árabe para o latim. Ele discutiu o ângulo
de contato, um tópico debatido no final da Idade Média, quando a matemática assumiu uma
forma mais filosófica e especulativa. Campanus comparou o ângulo de contato, formado por um
arco de círculo e a tangente numa extremidade, com o ângulo entre duas secantes, destacando
uma aparente inconsistência com os "Elementos" de Euclides. Ele concluiu corretamente que a
proposição de Euclides se aplica a grandezas de mesma espécie, e os ângulos de contato são
diferentes dos ângulos retilíneos. Houve uma semelhança de interesses entre Campanus e
Jordanus, e Campanus descreveu uma trissecção do ângulo no Livro IV de sua tradução de "Os
Elementos", semelhante àquela apresentada por Jordanus em "De triangulis".

O SABER NO SÉCULO XII


No século treze, a Europa testemunhou um notável progresso, sendo considerado por alguns
como "o maior dos séculos" na Idade Média. Este período foi marcado por realizações
significativas na cultura latina em diversos campos, indo além da matemática destacada na obra
de Leonardo de Pisa. Fundaram-se renomadas universidades, como Bolonha, Paris, Oxford e
Cambridge. A construção de grandes catedrais góticas, como Chartres, Notre Dame,
Westminster e Reims, também ocorreu nessa época.
A filosofia e a ciência aristotélicas foram recuperadas e incorporadas ao currículo de
universidades e escolas religiosas. Destacam-se eruditos e líderes da Igreja, como Alberto
Magno, Robert Grosseteste, Tomás de Aquino e Roger Bacon. Grosseteste e Bacon, apesar de
não serem matemáticos, defenderam a importância da matemática no currículo escolar.
O século treze também foi marcado por avanços práticos, como a introdução da pólvora e da
bússola, possivelmente provenientes da China, e o desenvolvimento dos óculos na Itália. Esse
período representou uma continuidade da tradução do árabe para o latim, iniciada no século
doze. No entanto, houve uma ampliação e correção desse conhecimento. Em resumo, o século
treze foi uma época de significativo florescimento cultural, científico e educacional na Europa
medieval.

O LIBER ABACI
O "Liber Abaci" de Fibonacci, apesar de ser uma obra importante na introdução dos numerais
indo-arábicos na Europa, pode não ser cativante para leitores modernos devido à sua ênfase em
cálculos práticos e problemas específicos da época. O livro aborda diversos tópicos aritméticos,
incluindo a extração de raízes e algoritmos para cálculos comuns, usando um sistema posicional
complexo e mudanças de moeda.
Uma ironia histórica é que a principal vantagem da notação de Fibonacci com numerais indo-
arábicos escapou em grande parte aos contemporâneos, durante os primeiros mil anos de
existência desses numerais. Fibonacci introduziu três tipos de frações no "Liber Abaci",
incluindo frações decimais, mas também utilizou sistemas de frações unitárias e comuns, que
eram menos eficientes.
Além disso, o livro contém problemas que podem parecer desinteressantes para leitores
modernos, como aqueles relacionados a trocas monetárias específicas da época, envolvendo
diferentes tipos de moedas e taxas de câmbio. Por exemplo, questionamentos sobre a troca de
uma quantidade específica de uma moeda por outra.
A SEQUÊNCIA DE FIBONACCI
O "Liber Abaci" de Fibonacci contém um problema notável que teve grande impacto e inspirou
futuros matemáticos. O problema é o seguinte: "Quantos pares de coelhos serão produzidos num
ano, começando com um só par, se em cada mês cada par gera um novo par que se torna
produtivo a partir do segundo mês?" Este problema deu origem à famosa "Sequência de
Fibonacci" - uma sequência de números em que cada termo é a soma dos dois anteriores. A
sequência começa com 1, 1 e continua como 2, 3, 5, 8, 13, 21, e assim por diante. Essa
sequência é fundamental em muitos contextos matemáticos e naturais, como modelagem de
crescimento populacional e estruturas na natureza.

NICOLE ORESME
Nicole Oresme, que viveu após Bradwardine, expandiu as ideias deste último em sua obra "De
proportionibus proportionum," aproximadamente escrita em 1360. Oresme generalizou a teoria
da proporção de Bradwardine para incluir qualquer potência com expoente racional. Ele
estabeleceu regras para combinar proporções que são equivalentes às leis modernas de
expoentes, como x^m * x^n = x^(m+n) e (x^m)^n = x^(mn). Cada regra é acompanhada por
exemplos específicos. Além disso, em outra obra chamada "Algorismus proportionum," Oresme
aplicou essas regras a problemas geométricos e físicos. Essas contribuições indicam um avanço
significativo na compreensão matemática e nas aplicações práticas das propriedades das
proporções e dos expoentes.

A LATITUDE DAS FORMAS


O contributo mais notável de Oresme pode ter sido sua concepção brilhante da noção de
potência irracional. No entanto, sua influência mais significativa não se limitou a isso. Durante
quase um século antes de seu tempo, os filósofos escolásticos debatiam a quantificação das
"formas" variáveis, conceito de Aristóteles aproximadamente equivalente à qualidade. Entre
essas formas estavam grandezas como a velocidade de um objeto em movimento e a variação da
temperatura em um objeto com temperatura não uniforme. As discussões eram prolixas, mas a
falta de instrumentos analíticos adequados tornava a análise complexa. O lógicos em Merton
College haviam obtido um teorema crucial sobre o valor médio de uma forma "uniformemente
diforme," onde a taxa de variação da taxa de variação é constante, como mencionado
anteriormente.
Oresme conhecia esse resultado e teve um pensamento brilhante por volta de 1361: por que não
representar graficamente a variação das coisas? Isso sugere uma abordagem antiga do que hoje
chamamos de representação gráfica de funções. Ele propôs traçar um gráfico das velocidades de
um corpo com aceleração constante ao longo de uma reta horizontal.
O Liber abaci, escrito por Leonardo de Pisa, conhecido como Fibonacci, é uma obra abrangente
sobre métodos e problemas algébricos, fortemente recomendando o uso dos numerais indo-
arábicos. Fibonacci, que estudou com um professor muçulmano e viajou extensivamente pela
África do Norte, Egito, Síria e Grécia, estava familiarizado com os métodos árabes de álgebra. O
Liber abaci começa com a ideia de que a aritmética e a geometria estão interligadas e se
auxiliam mutuamente, refletindo a tradição latina e islâmica. O tratado destaca as "nove cifras
indianas" com o símbolo 0, chamado de "zephirum em árabe," que originou as palavras "cifra" e
"zero." Embora a exposição de Fibonacci da numeração indo-arábica tenha sido significativa
para a transmissão do conhecimento, não alcançou a popularidade de descrições mais
elementares de outros autores. O uso regular da barra horizontal para frações por Fibonacci só se
tornou comum no século XVI.
Gravura sobre madeira de Gregor Reisch. Margarita Philosophica (Freiburg, 1503)

Oresme utilizou os termos latitude e longitude, equivalentes às coordenadas e abscissa em um


sentido amplo, e sua representação gráfica assemelha-se à geometria analítica moderna. Embora
o uso de coordenadas não fosse uma novidade, Oresme inovou ao realizar a representação
gráfica de uma quantidade variável. Ele percebeu o princípio fundamental de representar uma
função de uma variável como uma curva, embora sua aplicação tenha sido eficaz principalmente
no caso de funções lineares.
No entanto, Oresme não explorou plenamente esse princípio fundamental da geometria analítica,
que afirma que uma curva plana pode ser representada, em relação a um sistema de coordenadas,
como uma função de uma variável. Enquanto modernamente afirmamos que o gráfico da
velocidade em um movimento uniformemente acelerado é uma linha reta, Oresme expressava
isso como "Toda qualidade uniformemente diforme terminando em intensidade amo é imaginada
como um triângulo retângulo." Seu interesse estava mais voltado para os cálculos relacionados à
situação, como a maneira como a função varia (equação diferencial da curva) e a forma como a
área sob a curva varia (integral da função).
Oresme reconheceu a propriedade de inclinação constante para o gráfico do movimento
uniformemente acelerado, uma observação análoga à equação de uma reta em geometria
analítica, que leva ao conceito de ângulo diferencial. Ao encontrar a função distância, a área sob
a curva, Oresme estava, de fato, realizando uma forma primitiva de integração, resultando na
regra de Merton. Embora ele não tenha explicado detalhadamente por que a área sob a curva de
velocidade em relação ao tempo representa a distância percorrida, é provável que tenha
considerado a área como sendo formada por muitos segmentos verticais ou "indivisíveis", cada
um representando uma velocidade mantida por um tempo muito curto.
THOMAS BRADWARDIN
Thomas Bradwardine (1290-1349) e Nicole Oresme (1323-1382), destacados filósofos, teólogos
e matemáticos do final do período medieval, contribuíram significativamente para uma visão
mais ampla da proporcionalidade. Suas ideias trouxeram uma compreensão mais avançada e
refinada da relação entre grandezas variáveis.
Bradwardine, que posteriormente se tornou arcebispo de Canterbury, desenvolveu em seu
trabalho "Tractatus de proportionibus" (1328) uma teoria generalizada de proporções. Ele
estendeu a teoria de Boécio sobre proporções duplas, triplas e, mais genericamente, "n-uplas".
Em termos modernos, isso implicava que as quantidades poderiam variar como a segunda,
terceira ou n-ésima potência, proporcionando uma perspectiva mais flexível para lidar com
diferentes tipos de proporções. Além disso, a teoria de Bradwardine incluiu proporções
subduplas, subtriplas e sub-n-plas, onde as quantidades variam como a segunda, terceira ou n-
ésima raiz, oferecendo uma abordagem mais abrangente.
Por outro lado, Oresme, um sábio parisiense que eventualmente se tornou bispo de Lisieux,
contribuiu para uma visão mais prática da proporcionalidade. Em sua obra "De proportionibus
proportionum" (por volta de 1360), ele generalizou a teoria de proporção de Bradwardine para
incluir potências de expoentes racionais. Oresme forneceu regras para combinar proporções, que
são equivalentes às leis modernas sobre expoentes, como x^m * x^n = x^(m+n) e (x^m)^n =
x^(mn). Ele aplicou essas regras em problemas geométricos e físicos, demonstrando a utilidade
prática de sua abordagem mais avançada da proporcionalidade.
Ambos os pensadores contribuíram para uma compreensão mais sofisticada da relação entre
grandezas variáveis, enriquecendo a matemática e preparando o terreno para desenvolvimentos
posteriores na análise matemática. Durante o período de traduções nos séculos XII e XIII, a
confusão em torno do nome de al-Khowarizmi resultou na palavra "algoritmo", como explicado
anteriormente. Os numerais hindus foram introduzidos aos leitores europeus por John de Sevilha
e Abraham ibn Ezra por volta do século XII, substituindo gradualmente os numerais romanos.
Tanto na cultura bizantina quanto entre os judeus, os numerais alfabéticos foram adaptados para
representar os numerais hindus, incluindo o zero, em um sistema decimal posicional para
inteiros. Apesar de várias exposições sobre os numerais indo-arábicos, a transição do sistema
romano para o novo sistema foi surpreendentemente lenta. A prática comum de usar o ábaco
pode ter contribuído para essa resistência, já que as vantagens do novo sistema não eram tão
evidentes ao calcular com o ábaco. A rivalidade entre os "abacistas" e os "algoristas" persistiu
por vários séculos, mas apenas no século XVI os numerais indo-arábicos triunfaram
definitivamente sobre os romanos, consolidando-se como o sistema padrão de representação
numérica.

UMA SOLUÇÃO DE UMA EQUAÇÃO CÚBICA


Leonardo de Pisa, conhecido como Fibonacci, foi considerado o matemático mais original e
capaz do mundo cristão em seu tempo. Seu trabalho, incluindo o "Liber Abaci", destacou-se pela
combinação de algoritmo e lógica. Em seu tratamento da equação cúbica x^3 + 2x^2 + 10x - 20
= 0, Fibonacci adotou uma abordagem quase moderna ao primeiro provar a impossibilidade de
solução exata como uma razão de inteiros no sentido euclidiano. Ele então aproximou a raiz
positiva usando uma fração sexagesimal, 1/22, 7, 42, 33, alcançando uma notável precisão.
Fibonacci utilizou diversas fontes, mostrando influências de Diofante, Euclides e elementos
árabes e chineses em seus problemas matemáticos. Sua aproximação da raiz cúbica demonstra
um notável sucesso, embora os detalhes exatos de seu método não sejam conhecidos. A
utilização de frações sexagesimais em sua obra matemática teórica reflete as práticas da época,
sendo uma abordagem característica dessa era. É interessante notar que, apesar da precisão
alcançada, os números indo-arábicos não foram prontamente adotados em tabelas astronômicas,
talvez devido à menor urgência em substituir as frações sexagesimais nesses contextos
específicos.

TEORIA DOS NÚMEROS E GEOMETRIA


Em 1225, Leonardo de Pisa publicou o "Flos" e o "Liber Quadratorum". O "Liber Quadratorum"
é uma obra brilhante sobre análise indeterminada, contendo problemas variados, incluindo
alguns provenientes de competições matemáticas na corte do imperador Frederick II. Fibonacci
demonstra sua habilidade em álgebra e análise, resolvendo problemas desafiadores, como aquele
que se assemelha aos que Diofante apreciava, envolvendo a busca por um número racional cujo
quadrado, somado ou subtraído de cinco, resulta em um quadrado de um número racional. A
solução, 3 5/12, é apresentada no "Liber Quadratorum".
Fibonacci destaca-se como um algebrista, demonstrando conhecimento na versão árabe da
Divisão de Figuras de Euclides (agora perdida) e nas obras de al-Khwarizmi sobre mensuração.
Sua obra contém diversas contribuições, incluindo uma prova de que as medianas de um
triângulo dividem na razão de 2 para 1, e um análogo tridimensional do teorema de Pitágoras.
Demonstrando influências babilônicas e árabes, Fibonacci emprega a álgebra como uma
ferramenta poderosa na resolução de problemas geométricos.

JORDANUS NEMORARIUS
Jordanus Nemorarius, também conhecido como Jordanus de Nemorecana ou Jordo, é uma figura
destacada no século treze, contribuindo para a chamada escola medieval da mecânica. Ele não é
uma figura tão isolada quanto às vezes retratada, e há outras personalidades contemporâneas,
como Festonicius ou Jordatus de Saxonia, que compartilham interesses similares.
Jordanus é creditado por estabelecer a primeira formulação da lei do plano inclinado,
expressando que a força ao longo de uma trajetória inclinada é inversamente proporcional à
obliqüidade. Ele desenvolveu essa lei em termos trigonométricos, antecipando a formulação
moderna. Além de mecânica, Jordanus escreveu livros abordando aritmética, geometria e
astronomia. Seu trabalho "Arithmetica" foi fundamental na Universidade de Paris até o século
XVI, oferecendo resultados teóricos e teoremas algébricos gerais ao representar números por
letras, permitindo uma abordagem mais abstrata.
No entanto, a obra "De numero datis" de Jordanus evidencia um interesse árabe na álgebra,
apresentando regras algébricas para encontrar números relacionados a partir de condições
específicas. Seus sucessores, no entanto, abandonaram em grande parte o uso de letras, focando
mais nos aspectos árabes da álgebra. Jordanus contribuiu significativamente para o
desenvolvimento da matemática medieval, deixando um legado notável em áreas diversas.

A IDADE DAS TREVAS


O Capítulo II menciona os tratados de Boécio no final do período antigo, destacando seu nível
considerado muito elementar. A partir desse ponto, é evidente que a matemática poderia
deteriorar-se ainda mais, como ilustrado por um compêndio trivial sobre as artes liberais escrito
por Cassiodoro, discípulo de Boécio, que passou seus últimos anos em um mosteiro que fundou.
Cassiodoro, vivendo de cerca de 480 a 575, forneceu obras primitivas que serviram como texto
nas escolas eclesiásticas no início da Idade Média. Seus escritos também foram fonte para livros
de nível inferior, como o "Origens" ou "Etimologias" de Isidoro de Sevilha (570-636), que
incluiu um breve resumo da aritmética de Boécio em um de seus vinte livros. Apesar de ser
considerado o homem mais culto de seu tempo, o lamento de Isidoro sobre o declínio do estudo
das letras indica o estado da ciência na época.
Durante os dois séculos seguintes, as sombras persistiram, levando alguns a descrever esse
período como as "trevas" da ciência. No entanto, é crucial evitar o equívoco de generalizar essa
condição para toda a Idade Média. Ao longo desse período, houve exceções, como o trabalho do
venerável Beda (cerca de 673-735) na Inglaterra, que abordou matemática relacionada ao
calendário eclesiástico e à representação dos números pelos dedos. Assim, enquanto alguns
aspectos do conhecimento estavam em declínio, não se pode aplicar esse cenário a toda a Idade
Média.

ALCUIN E GERBERT
Alcuíno de York (cerca de 735-804) nasceu no ano da morte de Beda e foi convocado por Carlos
Magno para revitalizar a instrução na França. Embora tenha havido uma melhoria na educação,
com alguns historiadores chamando-a de Renascimento Carolíngio, a presença de matemática
significativa na França e na Inglaterra foi limitada por mais de dois séculos. Na Alemanha,
Hrabanus Maurus (784-856) continuou os esforços matemáticos e astronômicos, especialmente
no cálculo da data da Páscoa, seguindo os passos de Beda.
No entanto, foi somente um século e meio depois que a Europa Ocidental viu uma modificação
significativa em seu ambiente matemático, e isso ocorreu por meio da influência de Gerbert
(cerca de 940-1003), que viria a se tornar o Papa Silvestre II. Gerbert, nascido na França e
educado na Espanha e Itália, serviu como tutor e conselheiro do Imperador Otto III e mais tarde
se tornou arcebispo em Reims e Ravena, antes de ser elevado ao papado em 999.
Silvestre II estava envolvido em questões políticas e eclesiásticas, mas também se dedicava a
questões educacionais. Escreveu sobre aritmética e geometria, possivelmente influenciado pela
tradição de Boécio. No entanto, o aspecto mais notável foi que Gerbert foi talvez o primeiro a
introduzir os numerais indo-arábicos na Europa. A origem exata de seu conhecimento desses
numerais é incerta, mas especula-se que, durante sua visita à Espanha em 967, ele pode ter tido
acesso à cultura moura e aos numerais indo-arábicos. A introdução desses numerais foi um
marco significativo na transmissão do sistema de numeração, apesar de haver pouca evidência
de influência árabe nos documentos preservados da época. Uma cópia espanhola do "Origens"
de Isidoro, datada de 992, contém os numerais, mas não se sabe se Gerbert estava ciente dessa
parte específica do sistema indo-arábico. É possível que ele tenha aprendido os numerais indo-
arábicos através do uso de ábacos baseados na tradição de Boécio, onde certas formas numéricas
eram semelhantes às de Boécio.

O SÉCULO DA TRADUÇÃO
Antes e durante o tempo de Gerbert, a Europa não estava pronta para o desenvolvimento da
Matemática, com uma atitude cristã inicialmente hostil à pesquisa científica. A cultura
muçulmana atingiu seu apogeu durante a época de Gerbert, mas os estudiosos latinos
contemporâneos mal podiam apreciar os tratados árabes, já que a barreira linguística era um
obstáculo significativo.
A situação começou a mudar no início do século XII, de forma semelhante ao século IX na
Arábia. Os muçulmanos quebraram a barreira linguística que os separava da cultura grega no
século IX, e os europeus latinos superaram essa barreira com a cultura árabe no século XII.
Nesse período, um bom conhecimento da língua árabe era essencial para quem pretendesse ser
um verdadeiro matemático ou astrônomo na Europa. Durante a primeira parte do século XII, a
Europa não podia se orgulhar de ter matemáticos significativos que não fossem mouros, judeus
ou gregos.
No final do século XII, na Itália cristã, surgiu o mais importante e original matemático do
mundo, marcando uma transição de uma perspectiva antiga para uma mais moderna. Esse
renascimento começou com uma série de traduções, inicialmente do árabe para o latim.
Contudo, até o século XIII, havia várias variantes de tradução, incluindo do árabe para o
espanhol, do árabe para o hebraico, do grego para o latim, ou combinações como árabe-
hebraico-latim.
Uma das primeiras obras matemáticas clássicas a aparecer em tradução latina do árabe foi "Os
Elementos" de Euclides, traduzida por Adelard de Bath (cerca de 1075-1160) em 1142. O
conhecimento da cultura árabe na Inglaterra dessa época não é claro, mas Adelard não parece ter
utilizado a ponte intelectual espanhola.
Embora as cruzadas religiosas tenham ocorrido durante esse período, é incerto se tiveram uma
influência positiva na transmissão da cultura. No entanto, as rotas através da Espanha e da
Sicília foram vitais para a comunicação intelectual entre o mundo islâmico e cristão, e essas
rotas foram relativamente menos afetadas pelos eventos das cruzadas entre 1096 e 1272. O
renascimento cultural da Europa latina ocorreu durante as cruzadas, mas provavelmente apesar
delas.

SERIES INFINITAS
Durante o século XIV, os matemáticos do Ocidente, embora carecessem de algumas técnicas
algébricas e geométricas, destacaram-se pela imaginação e precisão de pensamento. Suas
contribuições não focaram tanto em estender a obra clássica, mas sim em sugerir novos pontos
de vista. Um desses pontos de vista inovadores foi o interesse pela série infinita, um tópico
essencialmente novo na época. Essa abordagem foi antecipada apenas por alguns algoritmos
iterativos antigos e pelo cálculo da soma de uma progressão geométrica infinita por Arquimedes.
Enquanto os gregos tinham uma aversão ao infinito, os filósofos escolásticos do final da Idade
Média frequentemente discutiam o infinito, tanto como uma potencialidade quanto como uma
realidade "completada". Na Inglaterra do século XIV, um lógico chamado Richard Suiseth, mais
conhecido como "Calculator", resolveu um problema sobre latitude de formas. Infelizmente, os
detalhes específicos do problema ou sua solução não foram fornecidos, mas fica claro que o
trabalho de Suiseth envolveu conceitos relacionados à infinitude e foi representativo do interesse
crescente por essas ideias na matemática da época.

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