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HISTÓRIA DO PAISAGISMO

SUMÁRIO

1.0 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 03

2.0 1ª PARTE: HISTÓRIA DO PAISAGISMO MUNDIAL ..................................................................05


2.1 ANTIGUIDADE......................................................................................................................... 05
2.1.1 Mesopotâmia..............................................................................................................................05
2.1.2 Egito. ......................................................................................................................................... 06
2.1.3 Pérsia..........................................................................................................................................07
2.1.4 Grécia ........................................................................................................................................ 07
2.1.5 Roma ......................................................................................................................................... 08
2.1.6 Jardim Islâmico ......................................................................................................................... 10
2.1.7 China e Japão ............................................................................................................................ 12
2.2 IDADE MÉDIA.......................................................................................................................... 12
2.2.1 Monacais ................................................................................................................................... 13
2.2.2 Mouriscos .................................................................................................................................13
2.3 RENASCIMENTO .................................................................................................................... 13
2.3.1 Itália .......................................................................................................................................... 14
2.3.2 França .......................................................................................................................................15
2.3.3 Inglaterra ................................................................................................................................... 16
2.3.4 Holanda ..................................................................................................................................... 17
2.4 JARDIM BARROCO ................................................................................................................ 17
2.5 JARDINS DO SÉCULO XIX ................................................................................................... 18

3.0 2ª PARTE: HISTÓRIA DO PAISAGISMO NO BRASIL .............................................................. 20


3.1 O ECLÉTICO ............................................................................................................................ 21
3.1.1 Antecedentes: O Passeio público e os hortos urbanos. A linha clássica e a romântica ............. 21
3.1.2 Glaziou. O paisagista do Império e seus projetos ..................................................................... 23
3.1.3 O Palacete, Chácaras e jardins .................................................................................................. 24
3.1.4 Reynaldo Dierberger ................................................................................................................. 25
3.1.5 A Praça Eclética ........................................................................................................................ 26
3.1.6 O Parque Eclético ..................................................................................................................... 27
3.1.7 Projetos Urbanos. Rio de Janeiro e São Paulo.......................................................................... 28
3.1.8 Projetos Urbanos. Belém, Manaus e Belo Horizonte ............................................................... 29
3.2 MODERNO ................................................................................................................................ 30
3.2.1 Nascionalismo e Ruptura. Antecedentes .................................................................................. 31
3.2.2 Influencia americana e tropicalização. .....................................................................................32
3.2.3 Casa, prédios, pátios, piscinas e jardins .................................................................................... 33
3.2.4 O parque moderno. ................................................................................................................... 34
3.2.5 Roberto Burle Marx .................................................................................................................. 35
3.2.6 Roberto Burle Marx Projetos .................................................................................................... 36
3.2.7 Roberto Coelho Cardozo e Waldemar Cordeiro ....................................................................... 37
3.2.8 Os seguidores ............................................................................................................................ 38
3.2.9 Novos parques I ........................................................................................................................ 39
3.2.10 Novos Parques II......................................................................................................................40
3.2.11 A praça Moderna ..................................................................................................................... 41
3.2.12 A praça Moderna - Projetos .................................................................................................... 42
3.2.13 Calçadões em áreas centrais ................................................................................................... 43
3.2.14 Calçadões a beira mar ............................................................................................................. 44

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3.2.15 A experiência de Curitiba.........................................................................................................45
3.2.16 Os parques de São Paulo..........................................................................................................46
3.3 CONTEMPORÂNEO ............................................................................................................... 47
3.3.1 A Nova Ruptura: Introdução ..................................................................................................... 47
3.3.2 Influencia e Referencias ...........................................................................................................49
3.3.3 Ecologismo/ambientalismo .......................................................................................................50
3.3.4 Cenarização................................................................................................................................51
3.3.5 Formalismo gráfico e irreverencia ............................................................................................ 52
3.3.6 Reforma e reconfigurações ....................................................................................................... 53
3.3.7 Figurações ................................................................................................................................. 54
3.3.8 Obras e autores .........................................................................................................................56
3.3.9 Rio Cidade: Requalificação urbana .......................................................................................... 57
3.3.10 Rio Cidade: Vocações e símbolos .......................................................................................... 58
3.3.11 Realidades ............................................................................................................................... 59
3.3.12 Os primeiros anos do século XXI ........................................................................................... 60

Anexo 01 – Cronologia do Paisagismo Brasileiro................................................................................... 61


Anexo 02 – Roberto Burle Marx .............................................................................................................. 68

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1.0 INTRODUÇÃO:

A origem da profissão de paisagista remonta as culturas antigas, da Pérsia e Egito à Grécia


e Roma no tratamento de seus jardins. Durante a Idade Média o interesse pelo espaço exterior diminuiu,
porém, com o Renascimento, foi revivido com esplendidos resultados na Itália e deu origem às vilas
ornamentadas, jardins, e grandes praças exteriores.

Neste pequeno resumo didático, optamos por fazer uma divisão. Na primeira parte
serão abordados assuntos relativos a ideia geral do que constitui a história do paisagismo
mundial e na segunda parte entraremos numa etapa mais elaborada e aprofundada
relacionada a História do Paisagismo no Brasil, que é nosso foco de estudo, apresentando a
estrutura evolutiva do paisagismo brasileiro que, originado no século XVIII com a obra marco
do Passeio do Público do Rio de Janeiro (1783), é consolidado durante o século XIX com o
processo de urbanização nacional, em especial no Segundo Império. Esse período é marcado
pelo surgimento de figuras urbanas como o boulevard, o parque, a praça ajardinada, o jardim
privado, a promenade, os terraços, mirantes e a arborização de rua.

O século XX é claramente dividido por três tipos de ação: dos paisagistas ecléticos
os quais serviram as elites da Velha República, dos paisagistas modernos nacionalistas, que
têm na obra de Roberto Burle Marx a expressão máxima dos anos 40 a 70 e, finalmente, a
ação dos paisagistas contemporâneos, que vão acrescentando novas formas ao léxico urbano,
rompendo com os padrões paisagísticos modernistas vigentes, com nítidas influências dos
novos paradigmas americanos, europeus e asiáticos.

No Brasil, até a década de 80, o paisagista em geral era pouco valorizado, tendo atuação
apenas em grandes espaços e obras públicas. Em prédios e residências predominava o profissional
jardineiro, sem muito conhecimento estético e técnico, pois as crianças brincavam nas ruas e não havia
necessidade de grandes áreas de lazer dentro dos prédios. Mas mudanças sociais ocorreram e
acabaram beneficiando o paisagismo. Quem está na faixa dos 40 anos sente bem estas mudanças. Na
década de 70, os muros eram baixos e as crianças brincavam na rua, não havia tantos carros e tanta
violência, além disso, a maioria das mães era dona de casa.

A partir daí, muita coisa mudou, os muros ganharam altura e as mães foram à luta no
mercado de trabalho, e as crianças passaram a ficar confinadas dentro das casas e prédios, iniciando-
se então um movimento de valorização das áreas de lazer de prédios e residências, que continua
crescente até hoje. É desta época também o surgimento dos grandes condomínios residenciais.

Com a necessidade de projetar áreas de lazer cada vez maiores e mais bonitas,
houve uma procura muito grande por profissionais mais qualificados que o
jardineiro, valorizando a profissão de paisagista. Atualmente as atividades de jardineiro e
paisagista já não se confundem mais, cada um é responsável por determinadas etapas do
paisagismo, que são: projeto, implantação e manutenção. O paisagista é responsável
principalmente pela elaboração do projeto e pelo planejamento e gerenciamento da
implantação e manutenção. Já o jardineiro é responsável direto pela implantação e
manutenção, coordenando o trabalho de outros auxiliares no preparo de solo, plantio, poda,
controle de pragas e doenças, corte de grama, etc.

Ao final deste guia, foi colocado um anexo trazendo a cronologia dos


acontecimentos da história do paisagismo Brasileiro, seu contexto e seus projetos.

O paisagista de maior destaque ainda hoje no Brasil foi com certeza Roberto Burle
Marx, que nasceu em SP em 1909, mudou-se para o RJ ainda menino e aos 19 anos foi

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estudar na Alemanha, onde iniciou contato com a escola alemã Bauhaus. De volta ao Brasil,
estudou Artes Plásticas e iniciou seus trabalhos de paisagismo com os arquitetos Lúcio Costa e
Oscar Niemeyer, tornando-se mundialmente conhecido. Sendo assim, fechamos este guia com
o Anexo 02, trazendo um texto sobre este paisagista que até hoje é uma grande referência.

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2.0 - 1ª PARTE: HISTÓRIA DO PAISAGISMO MUNDIAL
2.1 ANTIGUIDADE

Pode-se observar que, na cultura cristã (e em diversas outras culturas com


pequenas variações) antes mesmo das primeiras civilizações, existiu o "Jardim do Paraíso",
onde Deus colocou Adão e Eva. Em Gênesis I e II, é descrito como um parque "que Deus
plantou e onde se cultivavam árvores de todas as espécies, agradáveis para se contemplar e
alimentar". Assim, as árvores foram veneradas pela fertilidade, vitalidade e o alimento que
representavam.
Através dos fatos que a história da civilização registra pode-se constatar que o
oriente próximo foi uma das regiões de grande importância, pois foi o berço das civilizações.
Estas civilizações antigas contribuíram - e muito - para a evolução das ciências e das artes. E
não distante disto, o paisagismo evolui como expressão artística.

2.1.1 Mesopotâmia:
Situada entre os rios Tigre e Eufrates, a história das civilizações relata que os
assírios foram os mestres das técnicas de irrigação e drenagem, criando vários pomares e
hortas formados pelos canais que se cruzavam. Mas este trabalho foi abandonado em razão da
invasão árabe. Sendo assim, a forma e a distribuição do jardim se identificavam inicialmente
com a prática da agricultura, onde a horta rodeada por um muro podia ser um protótipo de
jardim.
Os textos mais antigos sobre jardins datam do terceiro milênio a.C., escritos pelos
babilônicos, descrevendo os "jardins sagrados", onde os bosques sagrados eram plantados
sobre os zigurats. É na própria Babilônia que se encontra a obra mais marcante da jardinagem
nesta época, sendo considerada pela humanidade como uma de suas maravilhas: os Jardins
Suspensos da Babilônia que se caracterizavam pela supremacia dos elementos arquitetônicos
sobre os naturais.

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Algumas espécies utilizadas eram a tamareira (com a finalidade de fornecer um
microclima favorável a outras espécies), o jasmim, as rosas, as malva-rosas, as tulipas e
também álamos e pinos que não suportariam viver num clima tão árido e quente,mas só foi
possível devido ao complexo sistema de irrigação desenvolvido. O sentimento religioso estava
presente e intrinsicamente ligado à arte dos jardins, onde se acreditava que os jardins
dependiam da vontade dos deuses.

2.1.2 Egito
As características dos jardins egípcios seguiram os mesmos princípios utilizados na
arquitetura deste povo. Eles só surgiram quando as condições de prosperidade no antigo
império permitiram às artes (arquitetura e escultura) um notável desenvolvimento.

Projeto de Jardim Egípcio.

De um modo geral, o jardim egípcio desenvolvido de acordo com a topografia do Rio

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Nilo era constituído de grandes planos horizontais, sem acidentes naturais ou artificiais. As
características dos monumentos egípcios - com a rigidez retilínea e a geometria - fizeram com
que os jardins tivessem uma simetrização rigorosa. Tudo de acordo com os 4 pontos cardeais.
As plantas utilizadas eram: palmeiras, sicômoros, figueiras, videiras e plantas aquáticas.
O jardim regular era símbolo da fertilidade, sintetizava as forças da natureza e era a
imagem de um sistema racional e arquitetural baseado no monoteísmo. Osíris para os egípcios
era o deus da vegetação.

2.1.3 Pérsia
Os persas não criaram no mundo das artes monumentos originais. A sua arquitetura
foi, nas suas grandes manifestações, obra de gregos. Os jardins dos antigos persas estavam,
como as demais produções artísticas, condicionados à influências estranhas e revelavam, nos
caracteres essenciais da composição, elementos retirados dos jardins gregos e egípcios, uma
espécie de estilo "misto". Nos jardins eles introduziam árvores e arbustos de flores perfumadas.
Os jardins persas procuravam recriar uma imagem do universo, constituindo-se de
bosques povoados por animais em liberdade, canteiros, canais e elementos monumentais,
formando os "jardins-paraísos" que se encontravam próximos aos palácios do rei.
A introdução de espécies floríferas no jardim criou um novo conceito na arte de
construí-los, passando a vegetação a ser estimada pelo valor decorativo das flores, sempre
perfumadas, do que pelo aspecto de utilidade que possuíam anteriormente. A associação dos
reinos animal e vegetal completava a ideia do paraíso.
O jardim era dividido em quatro zonas por dois canais principais em formato de cruz
e na intersecção deste se elevava uma construção que podia ser o pavilhão ou uma fonte,
representando as 4 moradas do universo. O jardim persa cercado de altos muros feitos de
tijolos, estritamente formal, era um lugar de retiro privado, destinado ao prazer, ao amor, à
saúde e ao luxo.

Tapete persa utilizando como referência um jardim persa dividido por rios.

As plantas utilizadas eram: plátanos, ciprestes, palmeiras, pinus, rosas, tulipas,


narcisos, jacintos, jasmins, açucenas, etc.

2.1.4 Grécia
As raízes fundamentais da cultura ocidental se encontram, não há dúvida alguma, na

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civilização desenvolvida na Grécia Antiga. O cuidado com as plantas provavelmente foi fruto do
amor à vida em pleno ar livre, obrigando a uma constante aproximação com a natureza. Os
jardins gregos, apesar de fortemente influenciados pelos jardins egípcios, apresentaram
diferenças notáveis em razão da topografia acidentada da região e o tipo de clima.

Templo de Zeus em Atenas

Os jardins possuíam características próximas das naturais, fugindo da simetria dos


egípcios. Desenvolviam-se em recintos fechados, onde eram cultivadas plantas úteis,
principalmente maçãs, pêras, figos, romãs, azeitonas, uva e até horta.
A introdução de colunas e pórticos fazia uma transição harmoniosa entre o exterior e
interior e o jardim era um prolongamento das partes da casa, às quais ele se ligava. A sua
principal característica era a simplicidade. Os jardins também ficaram marcados por possuir
esculturas humanas e de animais mais próximas da realidade.

2.1.5 Roma
O império romano se estendia da Espanha (oeste) até a Mesopotâmia (leste) e do
Egito (sul) até a Inglaterra (norte). Compreendia variedade de paisagens, climas e raças. Os
romanos não podiam ser incluídos no grupo dos povos que tiveram a arte como forma de
expressão. Eles se encaminharam para a história, o Estado e o Direito.
A casa romana repetiu basicamente o modelo grego, sendo construída no nível da
rua, com as habitações voltadas para dentro, comunicando-se por uma coluna, e abertas a
uma praça anterior. Os jardins foram objetos de atenção, mas apesar disso, são falhos quanto
à originalidade. Como características de tais jardins pode-se ressaltar a grandiosidade e a
magnificência da composição, as perspectivas vastas, que empregaram como prioridade, a
decoração pomposa, a valorização para fins exclusivamente recreativos.

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Vila Romana Chedworth (Inglaterra) combinando elementos: jardim, pátio e corredores (ao centro), gruta com
estatuárias (no topo), horta e pomar (no topo esquerdo)

Os jardins eram principalmente santuários sociais, onde se desfrutava de proteção


frente às moléstias do sol, vento, poeira e ruído das ruas. A sombra projetada pelas galerias
com arcos reduzia necessidade de arvoredo. As plantas, quando existiam, eram colocadas em
maciços elevados e os pátios se ornamentavam com tanques de pedra para água, mesas de
mármore e estátuas.
Os romanos quando saquearam Grécia carregaram consigo também seus
monumentos e estátuas, e como não sabiam o que fazer com a grande quantidade de estátuas
distribuíram-nas pelos seus jardins. De tal forma, que a ornamentação se generalizou nos
jardins romanos da época. Em consequência, tais jardins são metódicos e ordenados,
integrando-se às moradias. como exemplo temos as cidades de Pompéia e Herculano. As
plantas utilizadas eram: coníferas, plátanos, frutíferas como amendoeira, pessegueiro,
macieira, videira e outras. Ciprestes, buxos e louros-anão recebiam "topiárias", que se
caracterizavam por moldar arbustos em formas de figuras de variados formatos e nomes.

O topiárius moldando arbustos em figuras de variados formatos. O arbusto passou a ser um elemento escultórico e essencial
num Jardim Romano por despertar o olhar .

A maioria dos jardins romanos também possuíam uma pequena horta. Talvez por
isso, a irrigação era planejada. A interpenetração casa-jardim podia ser visualizadas nas vilas
romanas localizadas nas proximidades de Roma. Dentre elas, destacou-se a "Vila Laurentina",
situada a 30 Km de Roma, construída por Plínio, o Jovem, onde plantou-se predominantemente
figueiras e amoreiras, havia também uma horta e terraço com flores perfumadas, próximo das

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águas para assim se conseguir temperaturas mais agradáveis.
Outra de semelhante importância foi a "Vila Adriana", construída em Tívoli para o
Imperador Adriano, que perdurou até antes da guerra de 1939. Estas vilas darão um impulso
definitivo para o grande estilo italiano.

Alameda de Ciprestes - Vila Adriana

2.1.6 Jardim Islâmico

No Jardim Islâmico, profundamente influenciado pelo Jardim Persa, as plantas


assumem importância por despertarem os sentidos - visão e olfacto - e por possuírem uma
carga simbólica associada à ideia da recriação do Paraíso na Terra.
O Islamismo marcou presença nas culturas dos Sécs. VII-XIV da Ásia à Índia, do
Norte de África e da Península Ibérica. De uma simplicidade de desenho, à semelhança do
Jardim Persa (fig. 11), o seu jardim possuía plantas de potencialidades ornamentais e
olfactivas, tais como: rosas, buganvílias, romãzeiras, jasmins, loureiros, murtas, lavandas,
mentas, basílicos, citrinos, madressilva, cravos [21], etc. Vasos com flores enfeitavam as casas
(fig. 12) e ladeavam as peças de água – aliando a visão e o som para o desfrute dos sentidos.
As árvores eram principalmente as de clima mediterrâneo e os arbustos, como os
loendros, floriam propositadamente na altura do ano em que a corte Moura chegava ao palácio
Generalife, em Granada.
O jardim era pequeno na dimensão, sem ostentação, usando o elemento água, cor e
perfume, com o objectivo de sedução e encantamento e era destino à vida familiar. Este povo
introduz na Península Ibérica a laranjeira azeda, o limoeiro, a alfarrobeira e a amendoeira.

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O Jardim Islâmico era dividido por canais de água e possuía plantas de potencialidades ornamentais e olfactivas

No jardim Islâmico vasos de flores enfeitavam as casas – Palácio em Sevilha

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2.1.7 China e Japão
Pode datar de 2.000 a.C. o início das atividades de jardinagem na China. A
jardinagem chinesa tem sua origem numa paisagem de rara beleza e flora riquíssima. Os
parques das casas dos antigos imperadores não eram mais do que uma porção da paisagem
cercada, onde a tarefa do jardineiro limitava-se a ordenar o já existente.
Acreditava-se que no norte da China havia um lugar para os imortais. Como o Imperador Wu
não conseguiu encontrá-lo na realidade, decidiu então criá-lo na fantasia. Dessa maneira surgiu
o jardim "lago-ilha".
No final do século VI, com o surgimento de um novo imperador, um novo jardim
"lago-ilha" foi criado: o Parque Ocidental, com perímetro de 113 km e contendo 4 imensos lagos
cobertos de lótus e rodeados de chorões. Trabalharam na sua construção 1 milhão de pessoas.
Monumentais palácios de cor vermelha se ergueram no meio das rochas.
Este cenário foi encontrado pelos japoneses em 607 d.C. e, em poucos anos, o
Japão tinha o seu primeiro jardim "lago-ilha". Em 1894, para comemorar os 1100 anos da
capital Kioto, construiu-se um desses jardins, ficando conhecido como Santuário Heian. Trata-
se de uns dos jardins mais alegres e de melhor traçado do mundo, com hortos de cerejeira,
maciços imensos de azaléias e lírios, rochas cobertas por flores e pinus, traduzindo o amor dos
japoneses pela natureza.
A arte na jardinagem japonesa consiste em concentrar a atenção sobre o essencial,
seja das formas precisas ou a sutileza das matizes; todas as plantas são extremamente
valorizadas. São usadas comumente plantas perenes, criando um quadro estável seja qual for
a estação do ano.

2.2 IDADE MÉDIA


Considera-se como Idade Média o período entre os séculos XV e o XVI, período
entre a Antiguidade Clássica e o Renascimento. Um retorno à economia rural e a simplicidade
de hábitos concretizou-se neste período. O luxo e o requinte foram abandonados e criou-se
uma nova hierarquia de valores.
As construções feitas neste período eram rudes e pesadas. As igrejas pareciam
fortalezas. O verde foi praticamente banido na vida urbana. As igrejas e mosteiros constituíram-
se em centros de toda a atividade social, qualquer espaço útil recebia seu uso funcional, como
a obtenção de alimentos ou ervas. Em zonas amplas dos mosteiros plantavam-se árvores
frutíferas, hortaliças e se cultivavam flores para a ornamentação dos altares.

O Jardim Medieval era um jardim de lazer, enclausurado com altas paredes protectoras e rodeado de plantas aromáticas e
árvores de fruto

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O estilo de jardim desenvolvido nesta época constitui da mistura desordenada e
fragmentária dos estilos anteriores. O que era bem característico era a estrutura crucial da
composição. A interseção ortogonal das alamedas e caminhos, nos jardins construídos nos
pátios internos das grandes construções medievais, lembravam a cada momento o símbolo da
religião dominante. O estilo gótico retratava bem os jardins medievais. Os dois estilos básicos
de jardim foram os monacais e mouriscos.

2.2.1 Monacais

Representava uma reação ao luxo da tradição romana. Era dividido em 4 partes: o


pomar, a horta, o jardim de plantas medicinais e o jardim de flores.Existiam áreas gramadas
cercadas e arbustos, viveiros de peixes e pássaros, além de local para banho
2.2.2 Mouriscos

No século V os árabes invadiram a Pérsia, onde tentaram implantar o islamismo. No


século VI, na Espanha, os árabes criaram os chamados "jardins da sensibilidade" que se
caracterizavam pela água, cor e perfume, com os objetivos de sedução e encantamento.
O emprego de canais, fontes e pequenos regatos formavam um aspecto hidráulico
para a irrigação e para amenizar o calor, além do aspecto de ornamentação destes jardins. A
cerâmica e o azulejo eram bastante utilizados.
As espécies vegetais mais cultivadas foram os jasmins, os cravos, os jacintos, as
alfazemas, as rosas, as primaveras e as anêmonas. Os jardins espanhóis representam bem a
influência árabe. As principais características destes jardins: eram de pequenas dimensões,
sem ostentação e com destino à vida familiar.
2.3 RENASCIMENTO

O início do Renascimento data de meados do século XV e tal época ficou assim


conhecida devido ao ressurgimento da cultura de um modo em geral. Houve uma renovação do
pensamento no que diz respeito às artes, às ciências, à literatura e a filosofia.
Consequentemente, houve o renascimento também dos jardins e os países que mais
expressaram esta renovação foram Itália, França, Inglaterra e Holanda.
Com o Renascimento, dá-se a redescoberta da Natureza (no Humanismo
acrescenta-se a ideia de que o Jardim é a celebrização do Homem sobre a natureza), levando
à criação dos primeiros jardins botânicos de plantas exóticas e a uma nova moda de jardins
que se difunde por toda a Europa,
O Jardim Renascentista era construído para projectar o poder do Homem face à
natureza, e caracterizava-se pela sua artificialidade e organização que não se encontrava nos
jardins das épocas anteriores, apontando assim para a extrema racionalidade que se fazia
sentir nesta época. As plantas embelezavam os jardins e eram usadas para demonstrar a
superioridade do Homem e seus conhecimentos, exemplos disso eram o recurso à topiária e
aos parterres.
Primava por uma simetria rígida de arruamentos, talhe excessivamente geométrico das árvores
alinhadas, complicados jogos de água, canteiros geométricos de flores e dispunha- se em
terraços ligados por ampla escadaria formando anfiteatros [28].

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Usavam-se materiais e elementos imutáveis (plantas de folha persistente, esculturas
de santos ou divindades mitológicas, escadarias e pérgolas em pedra) e semi-imutáveis (água
parada ou em movimentoprovenientes de fontes, cascatas ou repuxos)

Fonte de Pégasos, Fonte da Natureza, Cem Fontes na Vila d´Este, em Tivoli

2.3.1 Itália

Os jardins italianos desta época se inspiraram nos jardins da Roma Antiga que possuíam
muitas estátuas e fontes monumentais. Na Itália, os sítios se encontravam nas colinas e nas
encostas, em razão das vistas panorâmicas e também do clima. Sendo assim, foi proposto que
para o aproveitamento das irregularidades do terreno, se fizesse uso de escadarias e terraços
acompanhados de corredeiras de água. Tais jardins deveriam unir-se à casa por meio de
galerias externas e outras prolongações arquitetônicas.
Os jardins eram tidos como centros de retiro intelectual onde sábios e artistas podiam trabalhar
e discutir no campo, longe do calor e das moléstias do verão da cidade. A vegetação era
considerada secundária e se caracterizava por receber cortes adquirindo formas determinadas,
conhecidas anteriormente nos jardins romanos por topiárias. Em seguida esta mesma
vegetação era distribuída pelos terraços e, no plano mais elevado do jardim, dominando a
composição, se encontrava o palácio.
Os vegetais mais utilizados foram: o louro, o cipreste, o azinheiro e o pinheiro entre outros
vegetais característicos dos jardins-italianos do Renascimento. O buxo era muito utilizado para
as formas recortadas. Nestes jardins a paisagem era desenhada com régua e compasso,
caracterizando a simetria de linhas geométricas. Havia também muito contraste entre as formas
naturais e as criadas pelo homem.
2.3.1 França

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Os países da Europa seguiram a França no século XVII, período no qual teve sua
maior riqueza e poder, no que dizia respeito a estética. A princípio, o estilo francês se baseou
nos jardins medievais, que utilizavam canteiros com flores e ervas medicinais, sendo que havia
também a horta que lhes concedia o abastecimento. Mas, com o passar do tempo, novas idéias
foram sendo introduzidas por arquitetos italianos que trabalhavam na corte francesa. Com isso,
pode-se dizer que os jardins franceses tiveram características semelhantes aos jardins
italianos.

Como características deste estilo, podemos citar a rígida distribuição axial, a


simetria, a perspectiva, o uso de topiárias e a sensação de grandiosidade. As formas
geométricas podiam ser percebidas tanto nos caminhos e passeios quanto na vegetação,
admitindo-se poucos desníveis.
Os principais jardins foram construídos pelo famoso arquiteto/paisagista de Luiz XIV,
André Le Notrê. Sua obra mais marcante foi o jardim do Palácio de Versalhes, que possui já
todo o expoente do Jardim Barroco.

2.3.2 Inglaterra

No reinado de Luiz XV, o estilo francês entrou em decadência devido à busca


exagerada da forma e simetria. De um estilo formal, os jardins passaram a ter uma maior
aproximação com a natureza. Inspiravam-se basicamente nas idéias orientais do velho império
chinês que possuía os jardins dos acidentes naturais. Tais jardins ficaram conhecidos como
"jardins paisagísticos" e tinham como características básicas a irregularidade e a falta de
simetria nos caminhos, que foram planejados com maior liberdade. Além disso, não eram
encontradas esculturas vegetais, arcos e monumentos.
Esses jardins procuravam imitar a natureza em seu traçado livre e sinuoso e a água
presente se encontrava disposta em lagos ou riachos. Tais inovações iam de encontro às idéias
do romantismo da época. A Inglaterra também teve seus mestres paisagistas como William
Kent e William Chambers, este último foi quem introduziu a idéia chinesa nos jardins de seu
país.

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Um dos objetivos deste estilo descrito era que as pessoas percebessem como jardim, toda a
natureza que estava ao seu redor. As primeiras características do jardim inglês são as
seguintes:
· Linhas graciosas;
· Amplas extensões verdes (gramados);
· Ruas amplas; cômodas, em pequeno número;
· Terreno acidentado e possibilitando a visão de belas perspectivas;
· Pequenos bosques, compostos de plantas da mesma ou de espécies diferentes, com ou sem
divergência nas colorações;
· Grupos de árvores não muito numerosas;
· Plantas isoladas;
· Plantação de árvores mortas;
· Construção de ruínas;
Este estilo foi utilizado na Inglaterra e em alguns locais da Europa, por quase dois séculos e
depois entrou em decadência, dando lugar ao estilo misto. Os ingleses acabaram dando origem
aos parques e jardins públicos que tiveram por finalidade refrescar as áreas urbanas.

2.3.1 Holanda

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Os holandeses, no início, também não fugiram das influências francesas e italianas.
Porém, devido à sua topografia plana, o hábito de cultivo das plantas bulbosas (especialmente
a tulipa) e o seu gosto pelas cores, criaram jardins mais compactos e graciosos. São divididos
em múltiplos recintos e apresentam túneis sombreados por trepadeiras. As partes centrais são
formadas por intrincados grupos florais; fontes douradas baixas que jorram suas águas em
pequenos tanques rodeados de cercas vivas de bordadura baixa. Os ciprestes recebiam podas,
formando círculos sobrepostos. Portões de ferro fundido fechavam os jardins.

2.4 JARDIM BARROCO


À semelhança do Jardim Renascentista, mas de uma forma mais exacerbada, o
Jardim Barroco era construído para evidenciar o poder do Homem e era dotado de uma
artificialidade extrema, funcionando o jardim como um palco. Através da ciência da óptica,
dispunham-se as plantas de modo a dirigirem o olhar do espectador e criarem ilusões para as
distâncias parecerem maiores ou menores. Destaca-se neste período André Le Nôtre (1613-
1700) que organizava a paisagem para um forte cenário que expressasse a dignidade e
elegância do Homem e deleitasse os seus sentidos.

A topiária atinge, principalmente em França e com Versalhes, o auge com os elaborados e


complexos desenhos de sebes e de árvores e arbustos, com a função de criar eixos e formas
geométricas. As perspectivas alongam-se, rodeadas de fortes massas de arvoredo sob declive
ou terreno plano, sem prejudicar os diferentes pontos de vista. Por toda a extensão do jardim
arrelvados, espalham-se quincôncios e bosquetes que enchem os vazios deixados entre
alamedas.

Plano e perspectiva do Jardim de Versalhes projetado por Le Nôtre e encomendado por Luís XIV. São evidentes as
grandes formas e amplas perspectivas constituindo um cenário espectacular criado para o deleite dos sentidos e
evidenciar
o poder real.

17
2.5 JARDINS DO SÉCULO XIX
Em Inglaterra, surge no jardim o conceito de bordadura vivaz (mixed-border) – no
qual o elemento flor se assume importante, utilizando-se mistura entre espécies de épocas de
floração diferentes e de fácil manutenção (herbácea, de bolbo ou rizomas). O ritmo de
plantação associa-se ao contraste flores–folhas-cor-forma (prímulas, lírios, rododendros,
peónias, etc.) em maciços e bordaduras, dentro de um traçado bem definido. Neste contexto,
destacaram-se os trabalhos de William Robinson e Gertrude Jekyll.
É no Séc. XIX que surgem os grandes parques urbanos abertos ao público, fruto da
necessidade de lazer, educação e de hábitos higienistas que se faziam sentir nos grandes
centros industriais urbanos e desempenhando um importante papel terapêutico por
promoverem o bem-estar do indivíduo. O Central Park, em Nova Iorque, projetado por Olmsted
e Vaux, terá sido o precursor de muitos destes parques até à presente época.

Bordadura vivaz em Wakehurst (Inglaterra), plantado à maneira de Gertrude Jekyll, usando principalmente rosas
e púrpuras estimulando a visão num jardim

Vista aérea para o Central Park (Nova Iorque, EUA), projectado por Olmsted e Vaux, em 1858, e que surgiu da
necessidade de o indivíduo citadino usufruir de espaços verdes para a promoção do seu bem-estar.

18
3.0 - 2ª PARTE: HISTÓRIA DO PAISAGISMO NO BRASIL

A introdução do paisagismo no Brasil foi tardia se comparada ao que ocorreu no


mundo oriental. Com poucas exceções, os primeiros grandes espaços verdes só apareceram
no século XVIII. O Passeio Público do Rio de Janeiro, por exemplo, um antigo charco, foi
aterrado e ajardinado em 1783. Porém, havia tantas regras para a sua utilização que o local
acabou sendo abandonado.

O Passeio Público é, oficialmente, o mais antigo parque urbano do Brasil destinado a


servir à população. Criado por ordem do vice-rei Luís de Vasconcelos de Sousa, foi projetado
por mestre Valentim da Fonseca e Silva segundo um traçado extremamente geométrico,
inspirado nas tradições de desenho do jardim clássico francês.

A história documentada do paisagismo no Brasil iniciou-se com a chegada de Dom


João VI, em 1807, que destinou ao Jardim Botânico do Rio de Janeiro a vocação de cultivar
espécies para a produção de carvão, matéria-prima para a fabricação de pólvora.
Até meados do século XIX, influenciados pelas mulheres, membros da corte solicitavam aos
cônsules e embaixadores, sementes e mudas de espécies floríferas para ornamentar os jardins
dos palacetes que se localizavam no bairro São Cristóvão, no Rio de Janeiro. Com isso
chegaram ao Brasil algumas espécies como: agapantos, roseiras, copos-de-leite, dálias,
jasmins, lírios e craveiros, entre outras.

A palmeira-imperial (Roystonea oleracea), originária da Venezuela e da Colômbia,


chegou ao Brasil trazida pelos portugueses libertados da Ilha de Maurício. Sementes dessa
espécie foram presenteadas ao príncipe D. João VI, que as plantou no Horto Real. Já a
palmeira-real (Roystonea regia), nativa de Cuba e Porto Rico, de porte mais baixo e estipe
mais grosso, foi introduzida quase um século depois.

Em 1859, Dom Pedro I contratou o engenheiro hidráulico francês August Marie


Glaziou, integrante de uma missão francesa, que foi o principal paisagista do Império e que
ocupou o cargo de Diretor Geral de Matas e Jardins. Entre as suas obras destacam-se o
Campo de Santana e a Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro. Esse paisagista utilizou, pela
primeira vez, árvores floríferas no paisagismo.

Somente no final do século XVIII é que, no Brasil, com a tentativa de reaproximarem-


se do meio ambiente, os jardins foram adaptados em particularidades, buscando estimular a
sensibilidade à paisagem. Essa preocupação levará à integração dos elementos da flora no
próprio traçado da cidade como reação e, ao mesmo tempo, solução ao problema do
adensamento urbano.

O paisagismo no Brasil definiu-se no século XIX, a partir do surgimento de uma rede


consolidada de cidades, grandes e médias, e com influência européia, mais precisamente
francesa e inglesa e, sob forte influência nacionalista, assumiu uma identidade própria.

O grande marco do paisagismo no país foi o surto de nacionalismo decorrente do


pós-guerra. Seguindo essa linha, chegariam aos jardins as idéias do famoso e conceituado
paisagista Roberto Burle-Marx, defendendo o uso da flora tropical. Hoje os paisagistas
brasileiros se espelham nos seus grandes e magníficos jardins tropicais.

19
3.1 O ECLÉTICO:

A denominação Ecletismo faz uma associação direta com a arquitetura do período


em que essa linha projetual de arquitetura paisagística predomina. Como esse estilo
arquitetônico, a linha projetual é também, no Brasil, baseada em manuais europeus, totalmente
aberta a modismos estilísticos, incorporando elementos anódinos, como chinoiseries e
pavilhões árabes. A vegetação utilizada, mesmo que tropical, deve ser sempre organizada de
modo a refletir um ideário qualquer, cópia de um modelo ou construção de um espaço bem
organizado, ordenado segundo regras explícitas, que dirigiam sempre a criação de um cenário
o mais parecido possível com o da metrópole.

Cenário recriado, pois o modelo europeu, ao passar para a cidade tropical, sofre
adaptações expressivas, refletidas tanto na configuração dos lugares, como no comportamento
social. Na Paris do século XIX, por exemplo, não existiam os escravos, nem as plantas nativas
se expandindo de um modo luxuriante ao sabor do cálido clima tropical.

Nesse período projetual, realidade social, clima, técnicas construtivas, águas,


disponibilidade de recursos, materiais e talentos pessoais levaram os produtos da arquitetura
paisagística nacional a serem bastante distintos dos seus congêneres europeus, tanto no
aspecto formal como no social.

O Ecletismo divide-se em duas correntes bastante diferenciadas:

1. Clássica: tem como referências os jardins franceses dos séculos XVI e XVII o espaço é
tratado a partir de um parcelamento geométrico do solo, favorecendo-se a criação de pisos e
caminhos estruturados por eixos, que convergem para um ponto principal e que o conectam
aos diversos acessos. A vegetação é disposta de uma maneira expositiva e entremeada por
objetos pitorescos, como fontes e esculturas.

2. Romântica: o espaço é concebido de modo a recriar a imagem do parque e do jardim anglo-


francês da segunda metade do século, fortemente inspirado nos cânones ingleses.
A cenarização constitui-se um forte apelo do projeto. Grandes gramados e arvoredos em
maciços são introduzidos e dialogam com lagos românticos, edifícios pseudo-gregos, estátuas
e outros elementos. Os caminhos são sempre orgânicos e os eixos geométricos não são
permitidos.

3.1.1 Antecedentes: O Passeio público e os hortos urbanos. A linha clássica e a


romântica.

O Passeio Público, primeiro espaço público tratado do país, foi construído na capital
carioca durante os anos de 1779 a 1783. As características clássicas presentes em seu
desenho predominam durante toda a primeira parte do século XIX, tanto na concepção do
jardim privado, como na dos espaços públicos. Alguns espaços, entre eles os Jardins Botânicos
do Rio de Janeiro e de São Paulo (atualmente Jardim da Luz) e os Passeios Públicos em

20
diversas cidades, são ajardinados e parcelados em
canteiros geometrizados que utilizam-se de simetrias e
traçados ortogonais, onde se valoriza sempre pontos focais
como marco, seja ele fonte, escultura ou coreto.

A denominação "Ecletismo" faz uma associação


direta com a arquitetura do período na qual essa linha
projetual de arquitetura paisagística predomina. Como esse
estilo arquitetônico, a linha projetual é também, no Brasil,
baseada em manuais europeus, totalmente aberta a
modismos estilísticos. O ecletismo divide-se em duas
correntes bastante diferenciadas: Clássica e Romântica.

A segunda metade do século XIX marca na


arquitetura paisagística brasileira uma mudança bastante
significativa, com a introdução do viés romântico inspirado
na tradição inglesa, então recentemente adotada em Paris
nos grandes trabalhos de reforma urbana executados pelo
Barão Georges Eugène Haussmann. Os "bois" de Boulogne
e de Vicennes,os parques de Buttes Chaumont, Montsorris,
Monceaue outros mais são as grandes referências urbanas
em termos de arquitetura paisagística da época. São
projetados dentro de uma visão idealizada do campo, com
contrastes entre águas serpenteantes, bosques cerrados e
gramados extensos, visão totalmente derivada de padrões
antigos e tradicionais ingleses de concepção de parques.

Essa concepção, desenvolvida havia cerca de


duzentos anos nos parques privativos da nobreza inglesa, é levada ao público quando da
abertura de um conjunto de parques urbanos em Londres e serve de padrão a muitos outros
como o Regent's Park de Clarence Nash (1812). O Parque Francês, que influencia o
paisagismo romântico brasileiro, possui um sistema viário bastante ordenado, no qual todos os
caminhos, mesmo que orgânicos, levam a pontos de convecção e distribuição. Esses, por sua
vez, estão conectados a um grande caminho principal, que percorre todo o parque e para o
qual convergem todos os caminhos secundários.

O Campo de Santana,o primeiro parque público de fato da capital imperial, foi


concebido por Auguste Françóis Marie Glaziou, o arquiteto paisagista do século XIX no Brasil,
como símbolo da modernidade e europeização do Rio de Janeiro do século XIX, sendo
responsável pela introdução do que se denomina postura anglogalicista de projeto paisagístico
no Brasil, caracterizando e direcionando a concepção dos espaços livres para lazer do
ecletismo brasileiro. Essas características românticas podem ser percebidas no traçado do
Passeio Público inplantado em 1862, também de Glaziou, em substituição ao antigo desenho
de Mestre Valentim, geométrico e rigidamente estruturado em parterres.

21
3.1.2 Glaziou. O paisagista do Império e seus projetos:

Nasce em 1833 na Bretanha. Após concluir


o curso de Engenharia Civil, estuda botânica no
Museu de História Natural de Paris, onde toma
conhecimento das transformações urbanas
promovidas pelo Barão Haussmann, e do trabalho de
Jean-Charles-Adolphe Alphand, autor dos parques
Bois de Bologne e o Buttes Chaumontentre outros,
absorvendo assim as influências formais do jardim
francês. Em 1858, a convite de D. Pedro II, Auguste
François Marie Glaziou vem para o Brasil e ocupa o
cargo de Diretor Geral de Matas e Jardins. Em 1869 é
nomeado Diretor de Parques e Jardins da Casa
Imperial. Permanecendo no país até 1897, quando foi
aposentado, volta para a França, vindo a falecer em
1906, aos 73 anos de idade. A influência da obra de
Glaziou e sua equipe foi enorme, fazendo com que
inúmeros logradouros pelo país afora fossem
construídos seguindo os seus padrões paisagísticos
de concepção de parques e praças, como no caso dos
jardins da Glória(1903), do Campo de São Bento em
Niterói (1909) e, anos mais tarde, nos Parques Dom
Pedro e Anhangabaú em São Paulo (segunda década
do século XX).

O Campo de Santana, a obra mais


importante de Glaziou (1875), é certamente o melhor
exemplo dessa forma de concepção dentro do
paisagismo brasileiro, pois nela encontram-se
implementados todos os seus cânones. O parque,
concebido dentro dos padrões pelos quais foram
projetados os parques franceses, está estruturado por
caminhos suavemente curvilíneos que levam a um
espaço central, e cortado por águas serpenteantes
emolduradas por extensos gramados e grandes maciços arbóreos. Contém os mais diferentes
elementos decorativos, que dão um caráter pitoresco ao local, como uma falsa cachoeira de
pedra, uma gruta, pontes de argamassa imitando troncos, esculturas mitológicas e bancos
delicadamente trabalhados, detalhes que podem ser observados em outras obras do autor:
Passeio Público e Quinta da Boa Vistano Rio de Janeiro, Parque São Clemente de Nova
Friburgo e ainda o Parque Mariano Procópio de Juiz de Fora.

22
3.1.3 O Palacete, Chácaras e jardins;

O cerne da mudança urbana paisagística


brasileira do século XIX está, com certeza, contido entre
os muros da propriedade privada. É nela que uma
modernização bastante drástica se dá, tanto no tocante
à arquitetura em si, como na implantação do edifício,
que passa a ser disposto de outro modo dentro da
propriedade. Por sua vez o jardim, antes pequeno e
restrito a modestos pátios e canteiros, sem um
tratamento específico, assume o papel de elemento
valorizador da edificação, que deve ser destacada de
modo a exibir a riqueza e a importância de seu
proprietário.
As mudanças configuram-se tanto na residência
suburbana das chácaras como na casa da cidade, que
pouco a pouco se destaca das divisas do lote e passa a
ser cercada por jardins, em princípio laterais e depois
frontais.

O modelo adotado é o da "villa" ou palacete,


isolado no meio de jardins, que criam em volta da
construção uma cenarização de acordo com o estilo
arquitetônico da residência, que deve ter todas as suas
faces emolduradas e destacadas pela vegetação. A sua
fachada principal deve, de preferência, ser totalmente
exposta ao público, valorizada por um gramado
romântico ou por "parterres" cuidadosamente decoradas
com arbustos e flores. Esse é o caso dos inúmeros
palacetes construídos nas barrancas de Capibaribe em
Recife, cujos jardins luxuriantes e generosos descem
até as águas do rio; daqueles construídos em São
Cristóvão, junto ao Paço Imperial no Rio de Janeiro, ou
ainda, na mesma cidade, nos bairros de Andaraí,
Cosme Velho e Laranjeiras. Nesses bairros não só as
casas das chácaras estão isoladas, mas nos novos arruamentos; muitos palacetes são
construídos totalmente isolados no lote, como é o caso do palácio Princesa Isabel nas
Laranjeiras, residência da princesa desde 1865, cercado por um belo parque de autoria de Paul
Villon, pelos palacetes da Rua São Clemente e muitos outros.

Na medida em que a orla carioca foi se urbanizando, já no final do século XIX, os


bairros do Flamengo, Botafogo e a distante Copacabana, foram intensamente ocupados por
palacetes, que fizeram, no caso da Avenida Atlântica, um magnífico mostruário do que de mais
moderno se podia conceber na época. Na capital paulista, a abertura do Bairro de Higienópolis,
totalmente idealizado para receber palacetes, e da Avenida Paulista (1891) marcam a
consolidação definitiva do palacete como figura urbana, pois, confirmando as normas do
loteamento, a própria Prefeitura Municipal passa a exigir, por lei, recuos de 6 metros
obrigatórios para as principais vias dos dois bairros, para os recuos frontais das
Avenidas Angélica e Higienópolis e da Rua Maranhão, e de 12 metros para os recuos frontais
da Avenida Paulista.

23
O bairro de Higienópolis, conhecido inicialmente como Boulevard Burchard, foi todo
concebido, como a Avenida Paulista, de modo a configurar a imagem de um bairro residencial
francês, cortado por ruas e calçadas largas e arborizadas.

3.1.4 Reynaldo Dierberger;

Na medida em que a criação de parques e


jardins públicos e privados se torna um hábito corrente, se
produzem condições para o surgimento de um mercado
consumidor para firmas especializadas em serviços
paisagísticos. Na cidade de São Paulo, a partir do final do
século XIX, observa-se um aumento da demanda de tal
solicitação e são inúmeras as empresas que se
organizaram para a prestação de serviços ligados à
arquitetura paisagística, principalmente na implementação
de projeto de parques e jardins privados. Esse aumento
da demanda na cidade, principalmente junto às camadas
de alto poder aquisitivo, permitiu que um certo número de
profissionais se destacasse em tal área, concorrendo em
importância com os arquitetos paisagistas, que
tradicionalmente trabalhavam para o Estado, como
Glaziou e outros.

Em São Paulo, os nomes de Germano Zimber,


de João e Reynaldo Dieberger destacam-se pelo porte
das obras nas quais estiveram envolvidos.

Os Dieberger, pai e filho, são com certeza os


nomes que mais se destacam na cidade e no estado de
São Paulo, com um número expressivo de projetos, tendo
como clientes as principais famílias da época, que
solicitavam os serviços da firma de sua propriedade
Dieberguer & Cia. João Dieberger, jardineiro alemão de
origem, recebe o apoio da mais importante mecenas
paulistana do último quartel do século XIX, Dona
Veridiana Prado, que lhe arrenda uma chácara de sua
propriedade à Rua da Consolação, onde mais tarde seria
construída a Praça Roosevelt, e passa a dedicar-se à cultura e à venda de plantas ornamentais
(1893), atividade que expande em 1895, com a compra e formação de uma chácara própria
atrás do Parque Trianon na Avenida Paulista.

Da pesquisa e produção de espécies, passa a elaborar projetos para os mais


diversos clientes da alta sociedade paulistana. O trabalho da firma de João Dieberger, que no
século XX passa a contar com viveiros e uma casa distribuidora, consolida-se em 1919,
quando Reynaldo Dieberger (filho de João), paisagista, com especialização em Dresden, na
Alemanha, passa a colaborar na empresa.

24
Os projetos dos Dieberger caracterizam-se por explorar todas os nuances da
arquitetura paisagística da época, ora elaborando projetos romântico - paisagísticos, como os
da residência de Antônio Prado Júnior, na Avenida Higienópolis, ou o parque da Residência de
Dona Georgina de Rego Freitas, na Avenida Brigadeiro Luís Antônio, dotados de amplos
gramados, que emolduravam a fachada principal dos palacetes ou os jardins da família Nagib
Salem na Avenida Higienópolis em estilo "romântico".

Outros projetos foram concebidos dentro de linhas clássicas rígidas, como a Praça
Pública de Rio Claro, a praça da Liberdade de Belo Horizonte e os jardins das Termas de
Poços de Caldas, em Minas Gerais, mas, com certeza, foram as variações estilísticas
desenvolvidas nos projetos criados pela firma Dieberger & Cia., por meio da sua seção de
ajardinamentos, que mais caracterizavam os projetos dos dois paisagistas.

O trabalho de Reynaldo Dieberger foi bastante intenso, como o de seu pai, e são de
sua autoria muitos dos mais importantes projetos desenvolvidos pela empresa da família, no
Parque da Água Branca em São Paulo, nos jardins das estações d'água Mineral de Araxá, São
Pedro e Poços de Caldas, trabalhos de excelente qualidade e porte e para os quais a sua
formação de arquiteto paisagista possibilitou a finalização de excelentes resultados.

3.1.5 A Praça Eclética;

Inspirada nos jardins franceses dos séculos


XVII e XVIII, que por sua vez buscaram referências
nos jardins renascentistas, a linha clássica estrutura-
se sobre uma rigidez geométrica no traçado e plantio,
buscando sempre a ortogonalidade e a centralização.
Os caminhos dispostos em cruz conduzindo a um
estar central marcado por um ponto focal, geralmente
um elemento verticalizado (monumento, fonte,
chafariz, coreto, obelisco, etc), vegetação arbustiva
plantada como bordadura dos canteiros e caminhos,
poda topiaria e vegetação arbórea plantada ao longo
dos caminhos, tudo isso envolto por um passeio
perimetral, caracterizam a chamada tríade eclética
básica que permeia a grande maioria dos projetos
clássicos como o Largo do Campo Grande em
Salvador, a Praça da República de Niterói e a Praça
da República em Recife, a Praça da Independência
em Santos, a Praça da Alfândega em Porto Alegre e
as Praças da Sé e Dom Pedro em Belém.

Muitas são as variações a partir da mesma


estrutura, com traçados ligeiramente orgânicos ou
combinações de vários arranjos e composições
geométricas, que obedecem, porém, à lógica da tríade
básica. Os projetos da Praça Santos Andrade em
Curitiba e Praça Paris no Rio de Janeiro são bons
exemplos de projetos que, sobre a estrutura
geométrica eclética, propõem algumas variações. No

25
exemplo curitibano, as mudanças ficam por conta das linhas curvas que aparecem nos
canteiros, porém a força dos eixos longitudinais, dos três estares centrais e da simetria remete
claramente à lógica do Ecletismo.

Os projetos românticos, por serem mais elaborados, necessitaram de maiores áreas


para sua implantação, de custo mais elevado e muito característicos de sua época, não se
consolidaram como padrão tão forte quanto os projetos clássicos, porém a proposta de
valorização da imagem naturalista e romântica e a forma cênica de plantio incorporaram-se ao
ideário das praças urbanas entremeando-se ao geometricismo clássico.

Principalmente a partir do começo do século XX, surgem projetos que utilizam-se de


elementos dos dois estilos. Geralmente com a colocação de elementos pitorescos e cenários
bucólicos sobre uma estrutura de caminhos e canteiros com eixos e espaços centrais bem
definidos como, por exemplo, a Praça Dom Pedro em Beléme a Praça General Osório em
Curitiba.

3.1.6 O Parque Eclético:

A tradição de construção de parques públicos na cidade


brasileira consolida-se no século XX, sendo que vários
projetos de grande porte são executados nas principais
cidades do país. Durante as primeiras quatro décadas são
entregues ao público importantes logradouros, que se
tornam paradigmas de qualidade urbana, como o Parque
Antártica(1900) e o Bosque da Saúde (1908) em São
Paulo, de propriedade particular e já desaparecido; o
Campo São Bento(1909) em Niterói; o Bosque dos
Jequitibás(1915) em Campinas; o Parque da
Independência, conhecido como Ipiranga(finalizado em
1922 em São Paulo); início da implantação do Jardim
Botânico em São Paulo em 1929 (concluída em 1939), o
Parque da Farroupilha (Parque da Redenção)(1935) em
Porto Alegre, construído no local de uma grande feira de
exposições; os grandes jardins da Orla de
Santos(concluídos em 1937) e o Parque 13 de Maio em
Recife (1939).

26
3.1.7 Projetos Urbanos. Rio de Janeiro e São Paulo

O Segundo Império marca um período de crescimento


e consolidação do Rio de Janeiro como capital, que se moderniza
na sua arquitetura, nos seus arruamentos e nos seus espaços
públicos. A Rua do Ouvidor é, então, uma via de comércio
elegante e diversificado, o hábito de ir ao teatro é comum, um sem
número de prédios públicos e privados de arquitetura nova de
influência européia são construídos no centro, novos bairros são
abertos e, pouco a pouco, as senhoras de "boas" famílias passam
também a freqüentar o espaço público, que tem seu uso
disciplinado e saneado.

As últimas três décadas do século XIX caracterizaram-


se, então, por um processo progressivo e constante de
transformação dos espaços públicos da grande cidade brasileira,
que foram redimensionados, reelaborados cenicamente e
adequados a um novo papel sócio-econômico que, de certo modo,
estava preparando as condições para as grandes transformações
ocorridas nas duas primeiras décadas do século XX.

O Rio de Janeiro, a capital da nova república, e São


Paulo, são então, o palco de grandes transformações em suas
áreas centrais, que destroem de vez as antigas estruturas
espaciais coloniais, colocando-as dentro dos cânones do
urbanismo europeu.

As obras executadas no Rio de Janeiro na primeira década do século são


emblemáticas e servem de padrão para todo o país. A abertura da Avenida Central em 1905, o
primeiro boulevard em área central urbana brasileira, a construção da Avenida Beira-marem
1904, os jardins da Praia de Botafogode 1903 e ainda os jardins da Glória, da Lapa e do
Monroe executados pela Inspetoria de Matas e Arborização, sob a direção de Júlio Furtado,
representam mudanças significativas para o espaço público.

O núcleo antigo da cidade de São Paulo passa, na primeira década do século, por
inúmeras mudanças como alargamento de ruas, ajardinamento de praças e a construção de
um sem números de novos edifícios; mas a grande transformação se dá na segunda década,
quando após numerosos estudos são, finalmente, transformadas as grandes várzeas que
cercavam o centro antigo em dois parques, com a idéia deral de Joseph Antoine Bouvard.

Esses parques, o Dom Pedro, construído na antiga várzea do Carmo, e o


Anhangabaú, construído em parte do vale pelo qual corria o córrego de mesmo nome, eliminam
definitivamente os focos de insetos, os terrenos incultos e quintais, que conferiam ao centro em
formação um aspecto acanhado. Os dois parques possuíam um desenho romântico
nitidamente enquadrado na mesma linha projetual seguida por Glaziou nos seus projetos para
o Rio de Janeiro. Constituíram, na época, uma moldura ajardinada para o centro da cidade,
pois formavam um semi-anel verde em volta da sua parte principal.

Ainda na área vizinha ao centro paulistano foi construída, em 1905, praticamente um pequeno
parque, em área não distante do Parque Anhangabaú, a Praça da República. Essa área era, na
época, totalmente residencial e ao seu redor construíram-se inúmeros palacetes, como os da
Avenida São Luís, então, uma das mais elegantes vias da cidade.

27
3.1.8 Projetos Urbanos. Belém, Manaus e Belo Horizonte

Por todo país, ao final do século XIX e no começo do século XX, são feitas
importantes reformas urbanísticas junto às áreas centrais e aos principais bairros vizinhos. O
Intendente Antônio José de Lemos, por exemplo, na sua longa gestão à frente da
Administração Municipal de Belém do Pará constrói um dos mais expressivos conjuntos de
áreas livres do início do século. Durante os anos de 1898 a 1911, foi o responsável pela
modernização da estrutura urbana da capital paraense, que enriquecida pelo ciclo da borracha,
transforma-se em um dos mais importantes centros do país, priorizando o embelezamento
urbano, simbolizado pela criação de parques e praças, além do ajardinamento de logradouros
já existentes, formando um dos mais completos sistemas de áreas verdes públicas para lazer
do período.

São criados vários boulevards, praças e um


grande parque - o Bosque Municipal, depois denominado
Parque Rodrigues Alves. Como no Parque Municipal,
predomina em todas as praças da cidade o traçado
geométrico e clássico, que sempre direciona o usuário a
um ponto focal ou à área central do logradouro. Assim
são concebidas as praças Brasil, Dom Pedro, Amazonas,
da Sé, da República e Baptista Campos, além do
Boulevard junto ao Mercado Ver-o-Peso.

A Praça Baptista Campos, reinaugurada em


1904, após uma grande reforma, transformou totalmente
um campo vazio, plantado com mangueiras, em um dos
mais significativos exemplos da arquitetura paisagística
eclética brasileira. . Ao longo dos caminhos são
colocados os mais diversos e pitorescos elementos,
como bancos e pontes
trabalhados em formas orgânicas, ilhotas, formações
rochosas falsas, imitando situações naturais, chafarizes,
uma torre de castelo, utilizada para disfarçar as
instalações de abastecimento d'água, enfim, toda uma
cenarização romântica que visava possibilitar ao flaneur
diversas possibilidades de descanso e prazer visual.

A Praça Dom Pedro II destaca-se pelo seu


caráter extremamente bucólico e romântico, obtido por
meio de seus gramados emoldurados por um lago
sinuoso e tranquilo, e grandes maciços arbóreos.

Igualmente na cidade de Manaus, a outra


capital brasileira do ciclo da borracha, um sem número de
obras de embelezamento foram executadas. Muitas
foram as praças construídas e reformadas, formando um
conjunto significativo. Entre elas, destacam-se as praças Dom Pedro II(1893) e 15 de

28
Novembro, os Jardins da Igreja Matriz, e a Praça Heliodoro Balbi, conhecida como Praça da
Polícia.

Entre as grandes obras públicas de construção da paisagem, destaca-se, ainda no


final do século XIX (1897), a implantação da nova capital de Minas Gerais (Belo Horizonte,
sucedendo a velha Ouro Preto), desenhada por Aarão Reis, que com certeza é a obra de
construção paisagística de maior porte de todo o período do Ecletismo. Com seu traçado em
grelha, cortado por eixos radiais arborizados, na realidade, grandes boulevards inspirados nas
experiências parisienses e dotada de um grande parque central, projetado dentro do estilo
romântico por Paul Villon, Belo Horizonte consolida-se como cidade-modelo nas primeiras
décadas do século XX.

O parque então denominado de Municipal, e hoje Américo Renné Gianetti, com uma
área de 180.000 m2, foi inaugurado em 12 de dezembro de 1897 e chega ao final do século XX
com sua estrutura morfológica e funcional bastante íntegra, apesar de ter sofrido algumas
intervenções importantes para a construção do edifício do centro cultural Paço das Artes.

3.2 MODERNO

O modernismo significa, na arquitetura paisagística brasileira, ruptura e construção.


Ruptura, pois abandonaram-se definitivamente os modos de projetar do Ecletismo, do qual só
se conserva a prática de lidar com a vegetação nativa, já bastante desenvolvida, e o uso de
certos materiais para pavimentos, como o mosaico português e o arenito.

Construção, pois a nova forma de encarar o espaço possibilita a formação de


uma identidade própria da arquitetura paisagística nacional. Os novos espaços se identificam
com a paisagem local, da qual extraem elementos para sua construção e partem de novos
hábitos sociais que se delineiam no período de sua gestação.

O programa de atividades do espaço livre moderno evoluiu, a partir do


programa contemplativo eclético, para novas formas de uso.

A apropriação tradicional para o lazer contemplativo, passeio, apreciação da


natureza e convivência permaneceu como a forma de utilização intrínseca e mais comum; no
entanto, novos programas voltados ao lazer esportivo e a recreação infantil passaram a ser
propostos e muito bem aceitos.

Esse novo programa provoca uma forte ruptura formal entre os projetos ecléticos e
modernos, derivada da alteração da função de espaço, uma vez que, no parque ou praça
modernos, os espaços são criados para serem usados para a permanência dos
frequentadores, ao passo que, no Ecletismo, os espaços eram concebidos como trajetos e
caminhos para passar ou passear.

A vegetação já não é mais utilizada como bordaduras de caminhos e canteiros ou


como peças de cenários naturalistas, mas como elementos de composição espacial,
estruturando os espaços organizando a circulação. No paisagismo moderno brasileiro, a forma
de utilização da vegetação vincula-se à idéia de criação de estares e de setorização. A
vegetação participa do projeto como elementos tridimensional do espaço.

29
3.2.1 Nascionalismo e Ruptura. Antecedentes.

O movimento moderno no paisagismo


nacional veio a reboque do movimento moderno na
arquitetura e no urbanismo brasileiro, que se instala
nos anos 30. Nos anos 40, 50 e 60 difunde-se pelo
país, sendo institucionalizado pelo novo Estado que
se estabelece, sendo transformado em um dos
produtos da modernidade e identidade nacional.

A construção do projeto do Ministério da


Educação e Saúde, citado como o marco da
modernidade arquitetônica, urbanística e paisagística,
ministério mais emblemático, não é casual. É por
meio da renovação e modernização da saúde, a
criação dos institutos de previdências e os programas
de aposentados e saúde popular, o patrocínio das
artes novas, como a pintura e a música, que o novo
Governo expressa suas intenções e ações de
mudança.

A arquitetura paisagística moderna


brasileira caracteriza-se por uma forte identidade
nacional, que vem atrelada ao nacionalismo cultural
típico do período de sua formação nos anos 40, 50 e
60 e tem como símbolo a valorização exacerbada da
vegetação tropical no tratamento e formalização dos
seus projetos.

A prática de esportes, que é introduzida em


massa nas grandes cidades, exige instalações
adequadas para seu exercício formal, como as
quadras esportivas, as canchas de bocha e os
campos gramados de futebol, que passam a fazer
parte dos programas dos novos logradouros,
construídos especialmente após os anos 40 e 50, bem como dos espaços livres particulares.

A partir dos anos 40 chega ao país o playground, criação típica norte-americana, que
consiste basicamente na concentração de conjuntos de brinquedos industrializados, em
determinados locais dos espaços livres, em geral público, para lazer infantil. A crescente
carência de espaços livres para lazer infantil populariza esse tipo de equipamento que se torna
obrigatório nas escolas e pré-escolas de então, particularmente nos jardins de infância, nas
praças públicas e parques. Essa carência é o resultado direto do aumento de custo do solo
urbano e dos aluguéis, que inviabiliza grandes quintais e jardins, espaços antes ocupados por
atividades infantis ao ar livre.

A sociedade do século XX destitui dos grandes espaços públicos o hábito do flanar,


principal atividade de lazer que deve agora conviver com as atividades esportivas.

Roberto Burle Marx, o paisagista do Ministério da Educação e Saúde, torna-se nos

30
anos 40 e 50 o arquiteto paisagista dos novos projetos arquitetônicos de Pampulha, subúrbio
de Belo Horizonte, concebido para ser o palco da modernidade urbana das novas elites locais.
Seus projetos arquitetônicos encomendados por Juscelino Kubitschek para valorizar o entorno
da represa de mesmo nome, inaugurados em 1942, possuem caráter arquitetônico de
vanguarda. Com eles Oscar Niemeyer chegou à criação de alguns de seus mais marcantes
projetos de início de carreira: os edifícios do Iate Tênis Clube, Cassino ( hoje Museu de Arte
Moderna), da Capela de São Francisco de Assis, e da Casa do Baile.

Com o projeto do MES e a praça Salgado Filho, em 1938, no Rio de Janeiro,


rompem-se totalmente os padrões de parcelamento e estruturação tridimensional dos espaços
livres até então vigentes, criando espaços únicos, estruturados por uma densa vegetação
tropical da qual explora cores, texturas e formas.

3.2.2 Influencia americana e tropicalização.

Os anos 40 caracterizam-se por um


drástico processo de transformação social e urbana
no país, reforçado com o advento da Segunda
Grande Guerra Mundial, alterando formalmente o
eixo de influência cultural do país que passa dos
países da Europa para os Estados Unidos da
América, e por um crescimento econômico sensível,
devido ao aumento das exportações e a
possibilidade de uma industrialização diversificada e
de porte.

O ambiente cultural está aberto a


inovações e os padrões americanos que, desde os
últimos anos da década de 20, já penetravam
maciçamente no país, passando a fazer parte do
ideário das classes média e alta brasileira. Apesar de
bastante influenciada
ainda pela cultura européia, essa população se rende
de uma maneira generosa à influência americana,
sobretudo durante o período da guerra e nos anos
posteriores, em que cinema, rádio, imprensa e mais
tarde a televisão colaboram na difusão do "American
Way Of Life", que passa a fazer parte do desejo da
família brasileira, com seus objetos de consumo
como casas de subúrbio, carros, geladeiras, pátios e
piscinas.

A casa deve ser funcional e eficiente, com


espaços livres estruturados como continuidade dos
espaços internos, com salas e quartos formando
locais de trabalho, em substituição ao velho quintal
com galinheiros e pátios dedicados ao lazer familiar,
nos quais uma quase sempre inacessível piscina
seria bem-vinda. Seriados da TV, ou filmes que retratam a família americana média e discursos

31
sobre os espaços livres dos lotes residenciais urbanos apontam nessa direção.

Os novos princípios projetuais, tornam os espaços excessivamente geometrizados,


criando-se formas bastante diferenciadas do passado, notando-se um nítida influência das
novas concepções formais em desenvolvimento nos Estados Unidos da América por
paisagistas como Garret Eckbo e Lawrence Halprin, que também influenciam na geometrização
de pisos e canteiros.

3.2.3 Casa, prédios, pátios, piscinas e jardins

Nas novas concepções projetuais, tanto


arquitetônicas como paisagísticas, deve haver uma
continuidade espacial entre os espaços internos da
residência ou edifício e o espaço externo. A fluidez é
garantida por amplas janelas e portas envidraçadas, pisos
contínuos e generosas varandas, que a exemplo das suas
congêneres do passado, são amplamente utilizadas pelas
famílias como espaços de estar e socialização, cumprindo o
papel de elemento de transição entre a residência e o
jardim.

O quintal, agora denominado também de área de


serviço, é minimizado, serve basicamente para o lavar e
estender roupas e ocupa muito pouco espaço no lote,
abrigando, além das instalações de serviço, áreas de
estacionamento de automóveis. O jardim frontal, destinado
a valorizar a arquitetura da residência, é simplificado ao
extremo, perdendo tamanho, reduzindo-se por vezes a
simples e singelos gramados, emoldurados por tufos de
vegetação, o que deixa a arquitetura totalmente exposta.

A grande novidade será a introdução do jardim


dentro do lote urbano verticalizado, o que acontecia
esporadicamente desde os anos 40, principalmente em
volta de edifícios públicos como escolas, hospitais e postos de saúde ou em bairros
residenciais, como, por exemplo, nos edifícios Prudentia, Bretagne e Louveira, construídos no
bairro de Higienópolis em São Paulo. Foi nesta cidade que se consolidou o hábito de construir
prédios isolados no lote, onde em alguns dos seus bairros residenciais, que nos anos 50 e 60
passaram por um processo de verticalização oposto ao anteriormente praticado pelo país, que
enclausurava o edifício de apartamentos em quadras - bloco verticais, comuns nas áreas
centrais dos centros urbanos mais importantes de então e que tem na cidade do Rio de Janeiro
os seus exemplares perfeitos.

A verticalização em São Paulo, na medida em que sai da área de influência direta do


centro da cidade, instala-se a princípio nas áreas tradicionalmente ocupadas pela antigas elites
cafeeiras, no Bairro de Higienópolis e nas vizinhanças da Avenida Paulista, quando velhos
casarões são substituídos por prédios de luxo. A classe média, por sua vez, habita prédios em
geral dotados de recuos frontais, de fundo e laterais, nos quais o ajardinamento é obrigatório.
Essas edificações, muitas delas encomendadas a arquitetos de renome na época, seguem os

32
princípios modernos de concepção arquitetônica, que exige o prédio isolado, disposto sobre
pilotis, por entre os quais devem fluir pessoas e vegetação.

3.2.4 O parque moderno

O primeiro grande parque moderno


construído no país foi o Parque Ibirapuera, erguido
para as Comemorações do IV Centenário da Capital
Paulista em 1954, que pelo seu porte, localização e
significado sócio-cultural se transforma em
referencial paisagístico tanto para a cidade como
para país.

O parque situado junto aos bairros mais


elegantes da cidade, foi construído sobre antigas
terras alagadiças, que formavam uma barreira a
expansão urbana de então. O projeto concebido por
Oscar Niemeyer e equipe inicialmente deveria ter o
projeto paisagístico de Burle Marx que, entretanto,
não foi levado adiante. Ao invés do projeto semi-
geometrizado do paisagista, foi implementado um
projeto de caminhos extremamente orgânicos,
emoldurados por maciços de árvores e recortado por
um lago quase serpenteante. O projeto na realidade
não passou de uma releitura de uma simplificação
formal do parque romântico do ecletismo, em meio a
qual foram dispostos um grande conjunto de
pavilhões, que serviram para as comemorações do
centenário e mais tarde converteram-se em museus
e edifícios públicos.

No início da década seguinte foi gestado o


Parque do Aterro do Flamengo, o mais significativo
parque público moderno do país, pelo seu porte,
localização e visibilidade na orla de uma das cidades
e paisagens mais famosas do mundo, e pelo seu
programa como o do Ibirapuera, totalmente moderno
com um projeto paisagístico desenvolvido por Burle
Marx e equipe. A concepção do parque foi de uma comissão de trabalho, que formado por Lota
Macedo Soares, no início do governo de Carlos Lacerda (1961), indicou e coordenou a
implantação do parque em uma área já ganha ao mar e na qual já haviam sido construídas vias
de transito rápido e sobre a qual foi idealizado o projeto do parque.

33
3.2.5 Roberto Burle Marx

Roberto Burle Marx (1909-1994), o mais


importante paisagista do país, teve um papel relevante
e simbólico na construção da arquitetura paisagística
nacional, tendo desenvolvido centenas de obras
durante toda a sua vida profissional. Burle Marx foi
essencialmente o paisagista das elites e do Estado,
para os quais dedicou a maioria de seus serviços; foi o
paisagista da modernidade, da ruptura, da conquista
total da identidade nacional no projeto paisagístico,
devida a uma forte identificação pessoal com a cultura
modernista e com os valores culturais e ecológicos
brasileiros. O seu primeiro projeto consagrado, os
jardins da Casa Forte de Recife, tem um traçado ainda
acadêmico, clássico, como se vê na sua planta de
piso. O contraste está no uso da vegetação nativa, que
é utilizada para estruturar os seus três grandes
espaços, um deles, destinado a representar,
figurativamente, o caráter de paisagens diversas,
como a da Amazônia e da América do Sul em geral.

A ruptura definitiva dá-se nos jardins do


Ministério da Educação e Saúde, de 1937, a já citada
obra-marco do paisagismo e arquitetura nacional, onde
abandona totalmente o formalismo típico do ecletismo
vigente, concebendo jardins, tanto para o terraço como
para os espaços do lote. Radicalmente diferentes das
formas até então utilizadas, usa as formas orgânicas,
tanto para o desenho dos canteiros, como no plantio
das massas multicoloridas de vegetação.

Como pesquisador, descobriu inúmeras


espécies nativas e introduziu o uso de outras tantas. O
uso da cor, da vegetação e dos pisos, tirando partido
do mosaico português, e o caráter, ora orgânico, ora geométrico, de suas águas, fizeram
sempre parte de sua obra.

Criou os principais parques do Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília; praças e


jardins de grandes corporações, museus, bancos, casas e prédios de apartamentos. Executou
importantes projetos fora do país, como o Parque Del'Este, em Caracas - Venezuela - (1956) e
o parque junto as Torres Patronas na Indonésia.

O trabalho de Burle Marx sempre esteve ligado ao poder e às elites: são seus os
jardins dos Palácios do Itamaraty(Relações Exteriores), do Exército em e outros mais Brasília,
o Aterro do Flamengo(Rio de Janeiro) e o Parque das Mangabeiras(Belo Horizonte) e inúmeros
outros jardins

34
3.2.6 Roberto Burle Marx Projetos

O projeto de Burle Marx retrata um artista


de fina percepção, que concebeu espaços livres de
alta qualidade, utilizando a vegetação tropical, os
panos de pisos coloridos e as águas em formato ora
geométricos, ora insinuamente rocambólicos com
maestria.

O paisagista teve oportunidades únicas e as


aproveitou de um modo sensato e competente, criando
espaços marcantes pelas formas e materiais
empregados.

Nos anos 30 e 40, período de


transformações radicais na arquitetura e urbanismo
nacional, teve trabalhos junto a obras de porte no Rio
de Janeiro, como a Praça Salgado Filho, de 1938, e os
inúmeros Jardins da Pampulha, como os do Cassino e
da pequena Capela de Dom Bosco.

Nos anos 50 e 60, os Jardins de Olivo


Gomes (hoje Parque Burle Marx, em São José dos
Campos, São Paulo), o grande Parque do Aterro do
Flamengo, do qual foi encarregado do tratamento
paisagístico, dividindo com outros tantos profissionais
de gabarito, como Affonso Eduardo Reidy, Jorge
Machado Moreira, Hélio Mamede, Berta Leichick e o
botânico Luiz Emydgio de Mello Filho, a sua autoria,
em equipe coordenada por Lota de Macedo Soares, os
jardins do Museu de Arte Moderna (no próprio Aterro) e
outros mais.O seu trabalho na fazenda Vargem
Grande, no município de Areias, onde transforma um
velho terreiro de secagem de café em jardim de águas
terraceadas (1979), e o jardim do condomínio
Macunaímaem São Paulo (1979) - SP; são bons exemplos de seu trabalho com planos,
materiais, cores, águas e a exuberante flora tropical.

O trabalho de Burle Marx e equipe, único no gênero, se torna referência para


gerações de arquitetos paisagistas pelo país então, que utilizam materiais, e formas como
referências para seus projetos.

O período de trabalho de Burle Marx (1934-1994) é, com certeza, o tempo do uso da


planta nativa e tropical como elemento fundamental no projeto paisagístico, e tem no próprio
seu usuário principal e grande incentivador.

35
3.2.7 Roberto Coelho Cardozo e Waldemar Cordeiro

Duas formas de pensamento direcionaram


a nova arquitetura paisagística brasileira, moderna por
excelência, advindas de dois extremos. De um lado a
obra única e emblemática de Roberto Burle Marx, que
apesar de nunca ter formado uma escola projetual,
direcionou com seus posicionamentos éticos, rupturas
morfológicas e espaciais, o modo de projetar de
dezenas de jovens profissionais. Do outro, o
posicionamento dos paisagistas modernos da Costa
Oeste Americana, especialmente de Garret Eckbo e
Lawrence Halprin, que transpostos para o Brasil de
modos diversos, se fundiram aos princípios
nacionalistas vigentes e colaboraram na criação do
paisagismo moderno nacional.

Entre os profissionais, que influenciaram ao


extremo a penetração destes princípios e suas formas
no país, destaca-se o paisagista Roberto Coelho
Cardozo, que desenvolveu intenso trabalho
profissional em São Paulo nos anos 50, 60 e 70,
dirigindo de um modo direto as posturas de uma
geração importante de novos paisagistas. Cardozo,
nascido em 1923, estudou arquitetura paisagística na
Universidade da Califórnia em Berkeley, e teve na
ocasião também contato com a obra em andamento de
Garret Eckbo, Royston e Willians (1947 1949).

No Brasil, em 1952 teve contato com o


trabalho de Burle Marx no Rio de Janeiro, e a partir de
1954 estabelece um estúdio próprio em São Paulo, na
mesma época em que inicia suas atividades como
docente na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de São Paulo (1954 1970).

A obra de Cardozo é modesta em termos de porte e dimensão em relação a de Burle


Marx, restringindo-se o seu trabalho praticamente só ao Estado de São Paulo, onde projetou
jardins para edifícios residenciais, casas unifamiliares, hidrelétricas, avenidas e fazendas.

Trabalhou, a princípio, com sua mulher Suzana Osborn Coelho. Teve um trabalho
importante com Luciano Fiaschi, com Antônio Augusto Neto, arquiteto e paisagista, que como
Cardozo também desempenhou, por alguns anos, importante trabalho docente na FAUUSP, na
disciplina, então existente, de Paisagismo,e com o arquiteto Marcos Souza Dias, entre os quais
a Praça Roosevelt, em São Paulo.

Entre os seus trabalhos, destaca-se pela extrema qualidade o magnífico Jardim do


São Paulo Clube, na Avenida Higienópolis. Este, um clube reservado, ocupa a antiga
propriedade da Família Prado em São Paulo, que no passado teve seus jardins desenhados
pelos Dieberguer em "estilo inglês", e que foi totalmente transformado por Cardozo nas obras
de adaptação da propriedade para Clube.

36
A atividade dos dois Robertos não foi isolada, pois trabalharam em um período em
que houve de fato, uma extrema expansão das oportunidades no campo do paisagismo. No
mesmo período que Cardozo atuou em São Paulo, outro paisagista, Valdemar Cordeiro,
também artista plástico como Burle Marx, desenvolveu um trabalho bastante intenso.

Seguia basicamente os mesmos princípios de Cardozo, mas como Burle Marx,


incorporou em sua obra algumas concepções próprias advindas da sua experiência de artista,
construindo espaços pictóricos, geometrizados, em exploração desenhos ortogonalizados ou
curvilíneos. Foi notável, por exemplo, o seu trabalho com tapetes de grama em forma de
xadrez, em um condomínio da Rua João Ramalho, em Perdizes.

3.2.8 Os seguidores

A partir dos anos 60 e 70, uma série de


jovens arquitetos paisagistas firmam uma posição no
mercado, como Antunes Neto, Rosa Kliass, Miranda
Magnoli, Luciano Fiaschi, Jamil Kfouri, Madalena Ré,
em São Paulo, e Fernando Chacel e outros no Rio de
Janeiro. É notável como em suas obras nota-se a
influencia dos dois Robertos, como pode se ver no
traçado de seus pavimentos, na escolha da vegetação,
enfim, na composição espacial dos seus projetos.

Cardozo, na medida que desenvolveu seus


trabalhos, suas aulas e divulgou sua obra em revistas
especializadas, sintetizou suas idéias projetuais em
alguns pontos, que servem de base para o
entendimento tanto das suas posturas como daquelas
que vão direcionar os trabalhos de seus discípulos e
contemporâneos. São eles: respeito ao usuário,
procurando soluções de lazer adequadas a cada faixa
etária; os acessos e percursos dos espaços criados
deveriam sempre tirar o maior partido das emoções e
sensações usuais, de modo que se possibilitasse ao
usuário orientação e intimidade com os espaços e
lugares nos quais estivessem inserido; respeito as
condições de visibilidade dos espaços a serem
projetados, consideradas a partir dos deslocamentos
prováveis, suas velocidades e dos pontos de parada
principais, sejam de automóvel, ou do usuário
correndo, andando ou simplesmente do observador
parado; o uso da vegetação como um elemento
construtivo de ambientes e espaços semelhantes
aqueles criados pela arquitetura. A planta é importante
a partir dos efeitos que dela pode se tirar, como brilho,
transparência, vedação e textura, e orientação do
espaço a ser projetado em relação ao percurso solar, que se constitui em um critério de
seleção fundamental para a designação de zonas de uso.

37
Durante os anos 50, e especialmente nas três décadas seguintes, consolidam-se os
princípios projetuais modernistas, como pode ser atestado pelo surgimento de centenas de
projetos seguindo seus preceitos, tanto em São Paulo como em Curitiba, Porto Alegre,
Salvador e Recife.

Se de um lado o trabalho de Burle Marx e sua equipe continua intenso e onipotente,


por outro lado a abertura real do mercado de trabalho, tanto na esfera pública como privada,
possibilita o surgimento de um número significativo de profissionais, que desenvolvem seus
projetos dentro dos novos cânones.

A formação destes paisagistas é como a de seus antecessores, bastante autodidata


e somente um ou outro cursa uma escola especializada no exterior. Paralelamente, se
populariza nas escolas de arquitetura, o ensino do paisagismo, fazendo com que muitos jovens
arquitetos se introduzam nas práticas da arquitetura paisagística e
desenvolvam posteriormente suas carreiras profissionais na área.

A atuação dos novos paisagistas pode ser observada nos primeiros planos e estudos
de áreas verdes do país: em São Paulo, 1967-1968, por Miranda Magnoli, Rosa Kliass e
Madalena Ré, em Salvador - 1977, por Rosa Kliass, Jamil J. Kfouri e Vanusa Oliveira, nas
centenas de projetos de pátios e jardins de prédios de apartamento, nas novas praças e
parques, nos jardins de fabricas, etc., e muitos deles como Benedito Abbud, Rosa Kliass,
Fernando Chacel, Luis Vieira, José Tabacow e Isabel Duprat, atuam em diversos centros,
levando a arquitetura paisagistica gestada no sul para diversas partes do país.

3.2.9 Novos parques I

O período imediatamente pós-guerra


caracterizou-se por profundas transformações no
hábitos sociais urbanos brasileiros, condicionados pela
mudança do perfil econômico do país. Cidades como o
Rio de Janeiro e São Paulo já bastante industrializadas,
cresceram rapidamente tornando-se as duas principais
metrópoles nacionais, englobando na sua malha urbana
cidade vizinhas. Como essas, inúmeros outros centros
urbanos se expandiram, gerando pela primeira vez,
uma necessidade real da existência de parques
públicos.

Na Europa e nas grandes cidades


americanas do século XIX, o contínuo urbano tinha
eliminado toda a possibilidade de contato imediato da
sua população com áreas campestres, riachos e
bosques. Como também naqueles casos, grande parte
da nova população urbana, tem origem rural e o
atavismo natural, a saudade dos cenários bucólicos
está impressa no seu meio, existindo culturalmente toda
a condição de uma demanda por parques urbanos.

Do mesmo modo, em muitos países, alguns

Técnico em Paisagismo - História do Paisagismo 39


parques particulares foram gradativamente abertos ao público, em especial os parques de
diversos palácios oficiais, como o Parque Guinle, desmembrado do Palácio das Laranjeiras, o
Parque Lagee muitos outros, a maioria no Rio de Janeiro.

O parque moderno tem um caráter mais popular do que o parque do passado, que
no Brasil era o cenário de desfrute das elites, redirecionando as políticas públicas de
construção de novos parques, passaram ao final dos anos 70 e início dos anos 80 a serem
construídos também em bairros populares.

Brasília, a nova capital, concebida nos anos 50 e inaugurada em 1961, é o arquétipo


mais significativo da introdução do parque no contexto urbano brasileiro, já que foi idealizada
como uma cidade-parque.

O Parque Rogério Python de Faria, depois Sarah Kubitschek, projetado por Burle
Marx (1974), possui uma área extensa, que corre paralelamente a todas as quadras
habitacionais da Asa Sul, tem todos os equipamentos e atrações diversas de um parque urbano
convencional moderno, atraindo milhares de usuários todos os fins de semana.

3.2.10 Novos Parques II

Os novos parques são, em geral,


concebidos por equipes técnicas de órgãos públicos,
muitas compostas por jovens profissionais, arquitetos,
agrônomos, etc, que precisam projetar seus espaços
enfrentando a falta crônica de recursos para suas
obras e para a aquisição de glebas adequadas em
porte e estrutura morfológica.

A estratégia adotada por muitos para


enfrentar o problema, como foi feito, por exemplo, em
Curitiba pelos técnicos do IPUC Instituto de
Planejamento Urbano de Curitiba, ou do DEPAVE
Departamento de Parques e Áreas Verdes da
Prefeitura Municipal de São Paulo, foi a de adaptar
glebas de propriedades do Estado com remanescentes
vegetais, tanto de matas nativas como de pomares e
jardins de antigas chácaras para a formalização dos
novos parques.

Este é o exemplo do Parque do Piqueriem


São Paulo, que foi criado sob a área densamente
arborizada de uma antiga chácara da família
Matarazzo na zona leste, que é reciclada para se
converter em um dos poucos parques deste setor da
cidade. Nele foram introduzidos pavimentos,
equipamentos esportivos, brinquedos infantis e
vegetação de modo a adequá-lo aos novos usos
pretendidos.

Técnico em Paisagismo - História do Paisagismo 40


Segue-se a prática já feita, na mesma cidade, no Parque Alfredo Volpi(Bosque do
Morumbi), cuja área possuía remanescentes de mata nativa, que foram conservados e
receberam trilhas e alguns poucos equipamentos de lazer, e que se tornam comuns na grande
maioria dos novos parques urbanos projetados a partir dos anos 70.

Estas práticas de aproveitamento e conservação se tornam populares e direcionam


a construção da maioria dos novos parques urbanos brasileiros, dando origem a logradouros
de tal tipo em todo o país, de Teresina a Porto Alegre, de Porto Velho a Salvador, e Manaus.

A ênfase na conservação de recursos paisagísticos e ambientais, pré-existentes, se


torna um hábito e um consenso técnico social, favorecendo a proposta e concepção de novas
idéias, que têm no ideal do Parque Ecológico uma das suas sínteses.

3.2.11 A praça Moderna

Forma-se no período um verdadeiro


arquétipo projetual sobre a figura da nova praça, que
deve conter dentro do imaginário dos projetistas, e
mesmo de muitos usuários, uma série de elementos
padrão. Esta praça figurada, imaginária, sempre
contém playground, quadra esportiva, espelho d'água
ou fonte, e eventualmente uma arena para
apresentações de concertos, que de certo modo
substitui o velho coreto.

Ao mesmo tempo que se criam uma série de


arquétipos formais e funcionais para a praça moderna,
novas experiências projetais são feitas, em especial em
decorrência dos grandes projetos de reurbanização dos
anos 60 e 70, por que passam a maioria das grandes
cidades brasileiras. As obras em andamento para a
construção de novas vias expressas e de avenidas,
para a construção dos sistemas de trens subterrâneos
urbanos no Rio de Janeiro e São Paulo, possibilitam o
surgimento de uma série de novas praças, com
características bastantes especiais, como o já citado
Largo da Carioca, a Praça Roosevelt(São Paulo) e o
conjunto de praças das estações da linha norte-sul do
metrô paulistano.

O playground como um espaço especial


para a recreação infantil dotado de equipamentos, os
conhecidos brinquedos infantis, como gangorras, escorregadores, gaiolas e gira-giras, torna-se
comum na composição do programa da nova praça, como também posteriormente se torna
rotineira a construção de quadras poliesportivas.

Os coretos não são mais necessários, pois as bandas diminuem em número


sofrendo a concorrência de outras formas de prática músical, na medida que aumentam os
bailes em clubes de bairro com pequenos conjuntos e bandas, com o incremento do rádio, da

Técnico em Paisagismo - História do Paisagismo 41


TV e principalmente da indústria fonográfica, que permite a cada um desfrutar de sua música
preferida em casa.

Nos espaços da nova praça só são aceitos uns poucos elementos decorativos como
murais e esculturas, de preferência de artistas da época e os tradicionais espelhos d'água e
fontes adaptados aos novos princípios projetuais.

As formas orgânicas passam a ser menos elaboradas em geral, a exceção do


trabalho de Burle Marx. As fontes e repuxos d'água são simplificadas e geometrizadas ao
máximo, sendo menos comuns nas praças modernas.

A disposição da vegetação é totalmente diversa do passado e, como nos jardins


particulares, passa a ser explorada como elemento de formação do espaço, colaborando na
criação de um modo nitidamente arquitetônico. A Praça Santos Dumont em Goiâniae a Praça
Vinícius de Moraesem São Paulo são dois excelentes exemplos deste novo modo de utilizar a
vegetação, que rapidamente se difunde pelo país. No caso, pode-se observar como o arvoredo
delimita o contorno das praças, cria espaços mais abertos e fechados, formando dentro do
conjunto da praça, diversos sub-ambientes, que são reforçados, no caso da Praça Vinícius de
Moraes, por maciços de arbustos.

3.2.12 A praça Moderna - Projetos

A configuração da praça urbana, típica da


segunda metade do século XX, apresenta variações
formais e projetuais sutis de cidade a cidade. No Rio
de Janeiro, a praça recreativa, sombreada, dotada de
equipamentos de lazer, se torna um fato comum,
enquanto em São Paulo a adoção do padrão praça-
parque é a tônica. São então construídas nesta
cidades, nos anos 60 e 70, cerca de uma centena de
praças, muitas ainda em bom estado de conservação.
Estas apresentavam uma estrutura morfológica
organizada por pequenos bosques e gramados
extensos por entre os quais se entremeavam
equipamentos esportivos e recreativos, como as
praças Barão de Pirapama, hoje Vinícius de Moraes,
Barão Pinto Limae a Província de Santaina, projetos
resultantes de organização, pela primeira vez na
cidade, de um departamento de Parques e Áreas
Verdes.

3.2.13 Calçadões em áreas centrais

Técnico em Paisagismo - História do Paisagismo 42


As áreas centrais das principais cidades
brasileiras, à medida que o crescimento urbano foi se
dando no século XX, tiveram apenas uma pequena
parcela de suas vias adaptadas às novas formas de
transporte e chegam aos anos 60 extremamente
congestionadas. As calçadas - como as ruas, são
estreitas e mal comportam o fluxo intenso de
pedestres, que transborda para o leito carroçável, e
este por sua vez abriga um trânsito pesado e lento de
ônibus, automóveis e bondes (estes últimos
praticamente são eliminados como meio de transporte
coletivo nos anos seguintes, subsistindo apenas em
áreas turísticas e pitorescas, como o Bairro de Santa
Teresa no Rio de Janeiro).

Os calçadões ou ruas de pedestres são


introduzidos em Curitiba, que pedestrianiza sua
principal artéria comercial, a Rua XV de Novembro,
conhecida popularmente como Rua das Flores, e
posteriormente uma série de outras vias de sua área
central. Estes visaram basicamente solucionar os
problemas de trânsito e fluxo de pedestres de modo a
favorecer o comércio local.

O tratamento de tais espaços é


extremamente inovador para a época e consiste
basicamente na eliminação total dos leitos carroçáveis,
que são substituídos por novas calçadas elevadas ao
nível das antigas, formando um novo piso plano,
revestido por pavimentos contendo desenhos
geométricos em mosaico português. Ao longo dos
calçadões são dispostos uma série de equipamentos
urbanos como telefones públicos (daí em diante
popularmente denominados de orelhões), jardineiras,
luminárias de "design" moderno, bancas de jornal, bancos, quiosques, totens e esculturas.

43
3.2.1 Calçadões a beira mar

O hábito de tomar banhos de mar, que


ainda no início do século se limitava a determinadas
temporadas populariza-se nos anos 30 e 40 e passa a
fazer parte do cotidiano das massas, o que favorece a
ocupação rápida, o adensamento e a verticalização da
orla carioca. Praticamente na mesma época em que
surge o calçadão de área central é implementado o
primeiro calçadão de praia do Brasil na Praia de
Copacabana, como resultado de uma grande reforma
deste trecho da orla carioca.

O projeto paisagístico concebido em 1970


por Burle Marx e equipe abrange todos os quatro
quilômetros da beira da praia e substitui a antiga via e
calçada beira-mar, datados dos primeiros anos do
século e totalmente saturada tanto para o uso de
veículos quanto de pedestres.

Este projeto de urbanização paisagística


não foi pioneiro, já que no final dos anos 30 a
inauguração do grande parque linear da orla de
Santos(São Paulo) dentro da linha clássica do
ecletismo, consiste de fato no primeiro projeto
paisagístico de porte executado em uma beira-mar
brasileira destinado a se tornar um apoio ao uso da
praia.

Na orla da praia de Iracema, em Fortaleza,


é implantado outro projeto emblemático, que ao
contrário do de Copacabana, que se divide em três
ambientes; entre a praia, e sua avenida lindeira se
constrói uma grande calçada, se organiza em uma
única larga faixa contínua, qual um piso sinuoso.
Palmeiras e arvoredos configuram um sem número de
pequenos espaços, que contêm equipamentos diversos, como quadras e quiosques e até um
pequeno "falso" anfiteatro.

Pode-se dizer que a praia é o palco de parte importante dos encontros sociais ao ar
livre no cotidiano de tais cidades, assumindo portanto as funções de parque urbano, apesar de
não apresentar sua conformação espacial típica, sempre estruturada por vegetação de porte.

44
3.2.2 A experiência de Curitiba

Desde os anos 1960, a cidade de Curitiba


desenvolve de maneira pioneira uma política de
investimentos públicos, não só especificamente na
criação de espaços livres, como também na
elaboração de um plano urbanístico para a região
metropolitana. Tal política é conduzida de maneira
sistemática desde 1966 até os dias atuais pelo IPPUC
- Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de
Curitiba - o que conferiu à cidade uma infraestrutura
de áreas de lazer eficiente e que se destaca no país.
Antigas áreas de bosque aprisionadas na mancha
urbana, então em processo de crescimento, foram
convertidas em parque, iniciativa que trouxe duas
vantagens imediatas: de um lado facilitou a
conservação dos remanescentes vegetais de porte,
cuja recuperação ou introdução é demorada ou
custosa; por outro, permitiu a inauguração de
logradouros com
estruturas formais bastante prontas, uma vez que
grande parte da vegetação já alcançou o
desenvolvimento máximo.

Surgiram logradouros como o Parque


Barigüi, cuja área é totalmente ocupada por bosques
de araucária, os ParquesBarreirinha, Gutierrez, São
Lourenço, General Iberê de Matos, de modo que a
cada gestão corresponde à inauguração de alguns
parques públicos de linhas projetuais mais ou menos
estabelecidas.

45
3.2.3 Os parques de São Paulo

As tentativas de criação de novos espaços


de lazer foram muito importantes nos anos 1970 em
São Paulo, pois já na década de 1950 a cidade
apresentava uma grave carência de tais espaços,
conseqüência de um intenso processo de urbanização.
Foram concebidas desde pequenas praças dentro dos
padrões modernistas até grandes
parques com programas diversificados. As gestões de
Faria Lima (1966 a 1969) Miguel Colasuono (1972 a
1974) e Olavo Setúbal (1975 a 1979) tiveram a clara
intenção de valorizar o espaço público urbano, em
especial praças e parques, então criados em grande
número. Foi organizado, na gestão Faria Lima, o
Depave - Departamento de Parques e Áreas Verdes -,
no qual equipes de jovens arquitetos tiveram a
oportunidade de projetar inúmeros espaços de
excelente qualidade. São desse período os Parques
do Piqueri (1978), Nabuco(1977), Anhangüera(1978),
Conceição(1975) e muitos outros.

Nos anos 70, o projeto do Parque Ecológico


de São Paulo reuniu em uma grande proposta para os
subúrbios da capital paulista as ideias de recuperação
das várzeas ainda não ocupadas do rio Tietê que,
juntamente com um plano ambicioso de criação de
centros populares de lazer, visavam proteger e inserir
tais várzeas no contexto urbano da cidade.

O projeto apresentado em 1975 pelo


arquiteto Rui Othake e equipe visava a criação de um
gigantesco parque linear, que transformava em parque
público extensas áreas remanescentes da antiga
várzea do rio Tietê. Entretanto, só foram concretizados
dois núcleos: Tamborée Engenheiro Goulart.

46
3.3 CONTEMPORÂNEO:

Os anos 80 marcam o início de um processo de liberdade na concepção do


espaço livre urbano, resultado do questionamento cultural ocorrido nos anos 1960 e 1970, que
revisou os já tradicionais princípios modernistas, tanto na arquitetura quanto no urbanismo e
paisagismo.

Observa-se o retorno a muitos dos antigos valores, principalmente estéticos, do


Ecletismo, que irão fundir-se às novas formas de uso. Tudo pode ser experimentado, tudo é
possível. A linha contemporânea de projeto paisagístico caracteriza-se, assim, por uma postura
experimental, de busca, não chegando a apresentar padrões definidos como suas
antecessoras.

Essas novas experimentações e a revisão das regras e dogmas das linhas


anteriores leva a uma vigorosa e fértil produção de espaços livres urbanos. Mudanças
profundas, porém, não se processam em curtos períodos de tempo, o que torna a linguagem
contemporânea dos espaços livres públicos brasileiros, até o momento, extremamente difusão.

Liberdade e profusão de formas e linguagem são suas principais marcas e,


paradoxalmente, constituem seu mais forte elemento de coesão.

3.3.1 A Nova Ruptura: Introdução

O final do século XX caracteriza-se pela grande velocidade de comunicação e troca


de informação, abrangendo todas as formas do cotidiano e superando em muito as
possibilidades até então efetivadas. A intensa comunicação, veloz e voraz, que permeia o
mundo urbano interconectando e aproximando metrópoles, fomenta o surgimento de inúmeros
movimentos artísticos inovadores nos mais diversos pontos do planeta. Conseqüentemente
colabora também na divulgação e difusão dessas vanguardas, gerando a pluralidade que
estrutura a produção paisagística contemporânea. O conhecimento imediato das tendências de
vanguarda paisagística mundial fica extremamente acessível aos projetistas da paisagem no
Brasil na medida que os grandes centros do país estão conectados às redes mundiais de
informação.

Os projetos internacionais em voga caracterizam-se por grande pluralidade formal e


conceitual, uma verdadeira liberdade espacial que faz surgir projetos com as mais diversas
configurações, possibilitando uma liberdade de expressão ainda não alcançada no paisagismo.
Estabelecem-se situações de confronto e de complementaridade constantes entre posturas
diversas, desde o desvario formal pós-modernista que prega o uso irrestrito de formas
iconoclastas como frontões, colunas gregas, pórticos e topiarias até as linhas conservadoras
de projeto dos restauradores pragmáticos, que buscam recriar fielmente imagens do passado,
reconstruindo antigos jardins segundo sua concepção original. O rebatimento deste arcabouço
conjuntural nos espaços livres públicos das cidades - que são reflexo direto da sociedade que
os constrói - torna-se expresso em formas de projeto que englobam inúmeras posturas e
tendências, quase um neo-ecletismo contemporâneo.
As características dos projetos contemporâneos podem ser elencadas de maneira parcialmente
conclusiva, pois ao final do século estariam configurando-se novas posturas e modos de projetar
que iriam complementar esta forma de construção urbana. Liberdade e profusão de formas e
linguagens são suas principais características e, paradoxalmente, constituem-se da sua mais
forte forma de coesão.

47
O projeto paisagístico contemporâneo e
típico dos anos 90, ainda é uma exceção, uma
vanguarda em meio a onipresente tradição
modernista, e absorve os programas de uso, as
formas e partidos modernos e vai muito mais além.
Basicamente, evolui-se do conceito moderno de
liberdade, abrindo possibilidades formais antes
impensáveis. A base morfológica dos projetos
obedece a mesma da lógica espacial moderna, com
estares, esplanadas e patamares que fundem-se e se
entrelaçam criando ambientes e sub-espaços, porém
a liberdade de programas, formas, desenhos, cores e
materiais permite a criação de projetos com variadas
linguagens e elementos, como por exemplo no Centro
Empresarial Itaú Conceição, em São Paulo.

A ruptura com regras e dogmas das linhas


anteriores leva a uma vigorosa e fértil produção de
espaços livres urbanos. Mudanças profundas, porém,
não se processam em curtos espaços de tempo, e
devido a esse fato a linguagem contemporânea dos
espaços livres tanto públicos como privados
brasileiros é, nesta década ainda, extremamente
difusa.

Formalmente, a pluralidade do fim do


século é expressa em projetos que transitam entre os
mais rígidos e formais traçados e a leveza de
desenhos simples, passando por diversas soluções
que exploram possibilidades cênicas, simbólicas e
escultóricas de elementos construídos e da
vegetação. A liberdade obtida a partir da revisão de
conceitos modernistas e a recuperação e
reinterpretação de ícones do passado permite a
inclusão de partidos e linguagens irreverentes, simbólicas, cenográficas e espetacularizadas.

As praças contemporâneas, por exemplo, são representativas de uma conjuntura


urbana onde muitas formas de expressão são aceitas. Utilizando-se de novas tecnologias dos
materiais construtivos, os projetistas possuem a seu alcance um espectro extremamente
diversificado de possibilidades para materializar suas intenções projetuais.

48
3.3.2 Influencia e Referencias
Os novos projetos têm como fonte de
inspiração duas bases: a literatura especializada e as
experiências isoladas de cada projetista. A difusão de
conceitos e da produção paisagística de alguns países
como França, Espanha, Estados Unidos e Japão, por
meio da publicação de livros, revistas e material
editorial, aproximou dos profissionais brasileiros a
forma de concepção e construção do espaço livre
urbano contemporâneo internacional. A expressividade
de algumas propostas influenciou a produção nacional
e suas características podem ser notadas em projetos
por todo o país.

Existem várias tendências no desenho


paisagístico cuja concepção se baseia em estruturas
formais e gráficas, como por exemplo o Parc de La
Villetteem Paris, onde o projeto deconstrutivista de
Bernard Tschumi justapõe três sistemas reguladores
distintos: as linhas, os planos e os pontos dispostos
em forma de retículas. Outro exemplo é o Parque
André Citroën com suas fontes em movimento, suas
estufas e seu desenho fortemante geométrico. Outros
exemplos contemporâneos são o Parc de L`Espanya
Industrial,em Barcelona, parques temáticos como a
Disneyworld, na Flórida, e o parque André Citroën, em
Paris, com seus jogos de água.

3.3.3 Ecologismo/ambientalismo

49
Os novos princípios ecológicos em voga
desde os anos 70 funcionaram como crítica aos
extensivos danos ambientais do pós-guerra e
influenciaram de um modo extremo o projeto
paisagístico urbano internacional/ocidental, que
passou a sobrevalorizar a conservação dos
remanescentes dos ecossistemas nativos ainda
existentes dentro da cidade. Essas idéias rapidamente
chegaram ao país, identificando-se com posturas já
praticadas, especialmente em Curitiba, nos seus
parques em meio a bosques nativos, e foram
absorvidas principalmente na concepção e
implementação dos novos parques urbanos como, por
exemplo, o Parque Cidade de Toronto, em São Paulo
(1992), e o Parque Professor Mello Barreto, no Rio de
Janeiro (1994). O Parque Cidade de Toronto, projetado
por uma equipe mista das prefeituras das cidades de
São Paulo e de Toronto (Canadá), conserva um
pequeno charco pelo qual se pode passear, ao passo
que no Parque Professor Mello Barreto conservam-se
os manguezais remanescentes da Lagoa da Tijuca, no
trecho do parque (projeto de Fernando Chacel e
Sidney Linhares).

Os princípios ambientalistas, que visam a


conservação e preservação dos recursos ambientais
do país e que a partir de 1988 estão incluídos na nova
Constituição Brasileira, influenciam a concepção de
um sem número de novos logradouros públicos de
porte, especialmente parques. Torna-se frequente, por
exemplo, a manutenção de largas
áreas com vegetação natural, que só podem ser
acessadas por trilhas rústicas, ou mesmo por pontes
sobre a vegetação de várzea ou de bosques, como no
Parque do Mindúem Manaus.

3.3.4 Cenarização

50
A evocação de signos anacrônicos e de
imagens simbólicas também é uma das características
inovadoras que caracterizam projetos de espaços
livres contemporâneos nacionais. Apropriando-se de
partidos temáticos, históricos ou simplesmente
simbólicos, os projetos paisagísticos passam a ter
incorporados elementos e estruturas cênicas para
valorizar o ambiente criado.

São influenciados por tendências de


projetos internacionais como o pós-modernismo
simbólico e cenográfico da Piazza d'Italia em Nova
Orleans, onde os autores (Charles Moore e equipe)
utilizaram-se de elementos da cultura italiana dentro
da linguagem espetacularizada típica de norte-
americanos para elaborar um projeto que
homenageasse a colônia da cidade. São também
influenciados por posturas culturalistas, que buscam
renovar de um modo simbólico paisagens naturais e
históricas de cada nação, como pode ser o observado
na evocação das paisagens campestres de várias
regiões do Canadá, que foi ponto de partida para a
concepção doVillage of Yorkville Parkem Toronto.

Poucos e marcantes são os exemplos


brasileiros de praças que adotaram tal partido. O
exemplo mais importante é a Praça Itália em Porto
Alegre onde, em uma releitura pós-moderna do
ecletismo romântico, são explorados os valores da
vegetação e dos elementos construídos. A vegetação
cria arcabouços cênicos em dois diferentes setores: o
primeiro que traz as espécies vegetais típicas das
paisagens da Toscana, como o Cipreste Italiano, para
ambientar o logradouro em referência à Itália distante,
pátria natal dos muitos imigrantes presentes no Rio Grande do Sul, e o segundo que
caracteriza-se por uma ambientação cênico-ecológica, procurando relembrar, com uma
vegetação típica de alagadiços plantada no lago semi orgânico, as barrancas do Rio Guaíba e
da Lagoa dos Patos, em uma recomposição da paisagem primitiva da região de Porto Alegre.
Ainda como intenção simbólica, a grande esplanada que corta a praça está ornada de colunas
de pedra que não possuem função claramente definida, sendo talvez uma referência às ruínas
da civilização romana, berço da cultura italiana ou simples marcos referencias aplicados à
paisagem do bairro.

Também apropriando-se da vegetação como elemento cênico, a Praça do


Relógioconstruída no campus paulistano da Universidade de São Paulo, possui um projeto que
propõe a criação de inúmeros bosques, cada qual com espécies vegetais representativas da
flora pré-existentes na região da cidade e no estado de São Paulo: os
campos do cerrado, as matas de araucárias, atlântica e semi-decídua e dos campos de atitude.
O partido adotado neste projeto visa criar uma série de sub-espaços onde podem ser
observados diversos tipos de espécies vegetais. A proposta cênica e educativa da Praça do

51
Relógio foi concebida para atender às solicitações da Reitoria da Universidade de criar uma
praça de caráter estritamente contemplativo.

Outros tantos exemplos são observados em parques temáticos, como o Jardim


Botânicode Curitiba, em jardins privados de condomínios e casas particulares e mesmo em
jardins de edifícios de grandes corporações.

3.3.5 Formalismo gráfico e irreverencia

Caracteriza os projetos onde toda a


estruturação morfológica obedece a composições
bidimensionais de desenho marcadas pelo intensivo
formalismo e rigidez gráfica. Formalismo este, que se
expressa em desenhos, às vezes virtuosísticos, às
vezes simples e rígidos, que utilizam-se de linhas
mestras, grelhas, retículas, malhas e eixos para
estruturar o espaço globalmente, interferindo inclusive
na colocação dos equipamentos e da vegetação.

Tridimensionalmente caracterizam-se por


uma construção excessiva, uma profusão de planos
horizontais, verticais e construções. O rigor formal dos
elementos construídos é com certeza uma das
características mais expressivas de praças formalistas,
como as praças Itália(Porto Alegre) e Demóstenes
Martins( Campo Grande). Pórticos, colunatas, muros e
os mais diversos elementos construídos são básicos
neste tipo de concepção tridimensional e a própria
vegetação, quando utilizada, assume um caráter
escultural e arquitetônico. As possibilidades
morfológicas de estruturação espacial que os maciços
vegetais, largamente utilizados no modernismo
criavam, e que foram seu principal legado, deram lugar
a projetos de plantio que destacam elementos vegetais
isolados, concebidos como esculturas vivas, ou que
propõe seu plantio de forma rígida e inseridos no
contexto formal e gráfico do desenho, plantando-se
árvores e arbustos em
fileiras e retículas. O nacionalismo, expresso na
utilização da vegetação nativa que caracteriza o
Modernismo, sucumbe ao formalismo internacional e
nestes projetos é abandonado o uso intensivo deste
tipo de vegetação, que passa a ser utilizada como elemento adicional e não mais estrutural na
composição do novo espaço.

52
3.3.6 Reforma e reconfigurações

Os processos de revitalização e
reconfiguração de trechos urbanos são expressão de
uma tendência vanguardista do urbanismo e
paisagismo contemporâneos. A valorização de antigos
ícones e de ideais do passado é uma postura que não
cabia plenamente na ideologia moderna que rejeitava
muitos dos padrões tradicionais clássicos e românticos
da cidade oitocentista.

Com o passar do anos, os rígidos dogmas


modernos começam a ser questionados e revisados
dando lugar a uma apreensão histórica da arquitetura
e do urbanismo, que aceita propostas de reedição de
antigos valores estéticos. Dentro deste processo de
exultação pós-moderna, de valorização das origens e
revisão dos conceitos
modernos de cidade, as atenções voltam-se para os
antigos centros históricos de cidades brasileiras e seu
rico patrimônio arquitetônico colonial, republicano,
eclético. Cidades como Rio de Janeiro, Recife,
Salvador e São Luís passam, nos anos 80 e 90, por
grandes reformas em seus centros históricos. Nesta
última década são comuns as propostas de
revitalização de áreas de patrimônio com mudança no
tipo da ocupação, isto é, o arcabouço formal e
cenográfico das antigas edificações permanece, sendo
restaurado, e sua utilização transforma-se.

Em Salvador, o centro antigo da cidade


colonial, o Pelourinho, foi transformado em um grande
complexo turístico. Os antigos casarões residenciais
foram desocupados para dar lugar aos serviços de
apoio a atividade turística. O Pelourinho sempre foi
uma área extremamente utilizada na cidade e seus espaços livres (os largos, terreiros e ruas)
foram e são palco de muitos festejos, atividades culturais folclóricas e manifestações
populares.

No bairro do Recife na capital pernambucana, o processo de revitalização segue o


processo de Salvador, transformando uma antiga área também abandonada e degradada em
um importante pólo de entretenimento e atividade turística. Em São Luís do Maranhão o centro
histórico também passou por grande reforma.

As implantações dos novos projetos visam soluções para problemas diagnosticados


nas configurações anteriores: desobstruir calçadas e redimensionar passagens e caminhos,
quando necessário refazer o projeto de plantio atentando para as questões ambientais e
climáticas. Alguns exigiram reformas estruturais que transformaram radicalmente o espaço
desfigurando o projeto anterior, como é o caso da praça do Carmo em Belém, praça Cuiabá em
Campo Grande e da praça Bandeiraem Belo Horizonte, entre outras. Como também existem
propostas que apenas restauram os antigos projetos dando-lhes uma linguagem formal

53
contemporânea como nas praças Nova York em Belo Horizontee Saens Peña no Rio de
Janeiro.

Um exemplo que pode ser considerado emblemático de reconfiguração de um


espaço consagrado é a reforma da Praça Ary Coelho em Campo Grande. Esta, uma das mais
antigas e utilizadas praças da cidade recebeu, em 1996, um projeto totalmente novo
elaborado por um escritório de arquitetura de Campo Grande. O antigo projeto caracterizava-se
fortemente pela "tríade eclética completa" em formas geométricas e o projeto da reforma
quebrou esta rigidez utilizando-se de formas orgânicas na reformulação dos canteiros. Porém a
tradição da praça e seu já consagrado traçado eclético, que persistiu por décadas, não foi
esquecido completamente no novo desenho: buscando a memória e valorizando a imagem do
projeto anterior os autores propuseram um desenho de piso na forma dos antigos caminhos
sobreposto ao projeto novo. Um piso de cor avermelhada representa o antigo traçado.

3.3.7 Figurações

Paralelamente, ao incremento da
verticalização urbana, em grande parte destinada à
habitação, observa-se o surgimento em grande
escala de condomínios horizontaisdestinados à
moradia das classes média e alta, situadas por muitas
vezes em áreas distantes das áreas centrais ou, até
mesmo, totalmente fora da malha urbana
convencional. Geralmente protegidos por guaritas,
com administração própria e sua imagem é
construída como um reflexo direto dos subúrbios
americanos. Compõe-se de residências isoladas,
construídas em lotes muitas vezes de grande porte,
com recuos frontais ajardinados, sem muros,
calçadas gramadas, arborização de rua e uma
arquitetura bastante diversa, que apresenta formas
extremamente opostas, como a de chalés suíços e
palacetes normandos, até obras assinadas por
arquitetos expoentes do modernismo ou do pós-
modernismo nacional. Para seu morador, como no
passado recente, para o mesmo público de classe
média alta e alta, são executados projetos de
paisagismo que expressam, a seu modo, a vanguarda
do projeto paisagístico brasileiro.

Observa-se na arquitetura paisagística


nacional um resultado imediato da onda de novas
informações que chegam ao país. As paisagens
novas, acessíveis à classe média, de Miami e
Orlando, com seus jardins neo-românticos, seus
detalhes arquitetônicos pós-modernistas, seus
extensos canteiros floridos com amores-perfeitos e
outras tantas flores sazonais banidas do cotidiano
brasileiro pelo Modernismo nacionalista. Os cenários

54
novos com pinheiros, tuias e palmeiras, gramados e podas topiárias influenciam o novo
imaginário popular chique que se configura.

Como em uma parte da nova arquitetura de etiqueta encomendada aos profissionais


arquitetos da moda, com casas que remetem ao subúrbio americano, ou chalés normandos e
suíços, de novo em voga, que caracterizam um certo neo-ecletismo arquitetônico, os velhos
ícones paisagístico/românticos do Ecletismo, voltam a ser utilizados: fontes de pedra,
caramanchões treliçados, esculturas de deuses, bordaduras floridas, tanques d'água e piscinas
em formas clássicas, luminárias românticas, falsas ruínas de pedra para jardins, vasos
vagamente gregos ou italianos e todo um repertório decorativoGrandes condomínios a beira-
mar devem ao contrário ter um aspecto tropical, o que justifica o uso intenso de uma vegetação
nativa, tropical e luxuriante emoldurando e formando espaços diversos, entremeando torres e
casas que tanto podem seguir linhas arquitetônicas de vanguarda ou remeter a formas pseudo
polinésias ou ítalo-mediterrâneas.

No Rio de Janeiro, especialmente na Barra da Tijuca, são comuns os grandes


empreendimentos que seguem tais premissas de tratamento espacial, com uma clara alusão
ao caráter tropical do lugar.

Nos espaços privados, pátios e jardins de prédios e residências, apesar da ainda


evidente presença dos padrões modernistas, todas as tendências formais se misturam e a
cenarização temática então passa a ser comum. Jardins relembrando românticos desenhos de
casinholas suburbanas dos Estados Unidos, o uso e abuso dos pinheirinhos, tuias e buxinhos
podados topiariamente, o retorno às bordaduras de canteiros e gramados, o uso de materiais
brilhantes e polidos para piso ao lado dos pisos mais tradicionais, esculturas de jardim, tudo é
utilizado, variando de acordo com o gosto do proprietário ou do empreendedor imobiliário.

55
3.3.8 Obras e autores

A liberdade de criação ou de composição fica


vinculada de novo ao "espírito desejado para o lugar",
que de certo modo acompanha a linha de composição
do projeto arquitetônico ou urbanístico, como nos
velhos tempos de Ecletismo.

Os espaços junto a prédios destinados a


grandes corporações ou ao aluguel para escritórios e
serviços seguem o padrão da arquitetura nitidamente
baseada nas tendências internacionais, inspirando-se
também nos espaços dos seus congêneres
americanos, canadenses, entre outros. Com pouca
vegetação, grandes pisos de materiais
"nobres", como granitos, contam com esculturas e
fontes eventuais. A vegetação tropical pode até estar
presente, mas disposta de um modo controlado,
visando valorizar a entrada e a fachada da torre. O seu
uso intenso, como no caso do Banco Safra e do edifício
Brasilinvest, projetos modernistas de Burle Marx e
Ayako Nishikawa, em São Paulo, diminui de modo
expressivo, ficando restrito a poucos casos.

Em muitos núcleos urbanos de porte é


possível perceber o surgimento de novos projetistas,
verdadeiros arquitetos paisagistas, que vão dando
forma a um paisagismo brasileiro novo,
contemporâneo. Ainda que não preencham o vácuo
deixado por Burle Marx, com sua morte em 1994,
indicam o fortalecimento de um modo de projetar o
espaço público, aproveitando-se da experiência acumulada e da sensibilidade pessoal para
criar obras e espaços de qualidade.

56
3.3.9 Rio Cidade: Requalificação urbana

Os programas Rio Cidade I, implementado


em 1996, e Rio Cidade II, iniciado em 1998,
caracterizam-se como dois marcos do paisagismo
nacional. Por meio de concurso público foram
selecionadas equipes multidisciplinares para agirem
sobre alguns dos mais importantes logradouros da
cidade. Essas equipes encabeçadas de arquitetos e
paisagistas tiveram a possibilidade de criar soluções
inovadoras para segmentos importantes da cidade,
que são totalmente reformados, de modo a exercerem
da melhor maneira suas funções urbanas. A mudança
não é só estética e formal, mas envolve a revisão e
recuperação das infra-estruturas existentes, fato que
se reflete em uma melhoria real das condições
urbanísticas dos logradouros.

Paralelamente, os projetos são


desenvolvidos junto a uma discussão com a
comunidade local, o que os torna bem mais
entrosados com as necessidades sociais existentes,
facilitando a manutenção de sua integridade,
posteriormente.

Os projetos baseiam-se, todos eles, cada


um em sua individualidade, em pesquisas projetuais e
formais de seus autores, que buscam criar novos
modos de expressão espacial, compondo pisos de
desenhos inéditos, redesenhando e criando
equipamentos e mobiliário urbano e paralelamente
aproveitando a experiência acumulada no
Modernismo.

Como nessa linha projetual o uso do


mosaico português é frequente, agora utilizado em
combinação com materiais bem mais diversificados que no passado e em paginações inéditas,
como pisos em xadrez ou com desenhos expressivamente geometrizados. As palmeiras e a
vegetação tropical são também ainda utilizadas a larga,
mas misturam-se agora a esculturas, tótens e pórticos que fazem alusões as vanguardas
internacionais, especialmente as espanholas.

O sucesso real do projeto Rio Cidade I, que contou inclusive com o apoio da opinião
pública, conduziu à execução de um segundo concurso: o Rio Cidade II, que possibilitou a
inclusão de muitos subúrbios distantes, anteriormente preteridos em função de áreas centrais e
das zonas sul e norte da cidade, criando-se uma abertura para o projeto e para a renovação
urbana.

3.3.10 Rio Cidade: Vocações e símbolos

57
O programa Rio Cidade caracteriza-se na
última década do século XX como o mais amplo
programa de renovação urbana utilizando-se
amplamente recursos paisagísticos, levado a cabo na
país. Outros vários foram feitos em Salvador, Recife e
João Pessoa, mas vinculados à renovação urbana, ou
então se limitaram a simples ajardinamentos.

Os projetos já implementados da sua


primeira fase, o Rio Cidade I, foram absorvidos, em
sua maioria, pela população dos bairros à que se
destinaram, sendo considerados como referência para
o paisagismo urbano, como foi nos anos 70 e 80 o
calçadão da Rua das Floresem Curitiba.

3.3.11 Realidades

58
Parques temáticos, jardins neo-ecléticos ou
tropicais, calçadões e piscinões são figuras urbanas
comuns na cidade brasileira que, somadas aos
parques e praças do passado, respondem as
demandas urbanas em voga.

A necessidade de novos espaços livres,


urbanos ou não, é extremamente grande, ainda mais
quando a atividade ao ar livre torna-se um ícone social
explorado pela "mídia". Por outro lado, existe um
processo de fechamento de partes importantes da
cidade, que tornam-se muradas e excluídas do
restante, formando-se verdadeiras ilhas de conforto e
sonho lado a lado às construções, formais ou
informais, de bairros populares, nos quais a carência
de infra-estrutura é quase total e o espaço para
convivência social é a rua ou a viela.

Dessa forma, perdem-se espaços de alta


importância ecológica e paisagística dentro do
contexto urbano, com invasões, asseoramento e
disposição de lixo e entulhos, como corpos d´água,
matas e campos, tornando-se, pouco a pouco, muito
difícil e oneroso, quando não impossível, a
recuperação de parte deste patrimônio social. Já nas
áreas centrais e consolidadas, estabeleceu-se uma
postura oficial de sobrevalorização através de
investimentos de alto custo e manutenção, com
projetos paisagísticos de alto nível, enquanto que para
as áreas mais carentes ocorre o inverso - manutenção
e fiscalização precárias e projetos inacabados e de má
qualidade

59
3.3.12 Os primeiros anos do século XXI

As novas propostas projetuais continuam a


ser feitas por todo o país, bastante desconectadas em
termos de conceitos e formas, mas sempre refletindo
duas vertentes básicas: saudosistas ou
revolucionárias.

Na esfera pública, o projeto do Piscinão de


Ramosna cidade do Rio de Janeiro, vira um ícone
popular graças a propaganda maciça feita pelos meios
de comunicação de massa, principalmente uma novela
de televisão exibida em horário nobre, servindo de
idéia a outros projetos não concientizados.

O restauro e recuperação de velhos centros


históricos, como o de João Pessoa ou Fortaleza, e a
adaptação de velhos logradouros as novas formas de
uso, como o Parque Moscosoem Vitória (ES) - com
sua quarta versão espacial. São outras situações de
qualidade e apropriação popular.

No Rio de Janeiro, a tropicalidade dos


novos projetos para orlas e dos projetos particulares
continua uma tradição da cidade, dos tempos do
Império e de Burle Marx do uso farto da vegetação
nativa, como no Parque de Educação Ambiental
Professor Mello Barreto, nos jardins do Centro
Empresarial e Shopping Center Città América e nos
jardins do Shopping Downtown, projeto de Isabel
Duprat. Em São Paulo esta tropicalidade está
expressa tanto nos jardins centrais da Avenida
Brigadeiro Faria Lima como no projeto da grande
praça do Banco de Boston. Em Salvador essa
característica pode ser observada na Praça Nossa
Senhora da Luz, projeto de Lucinei Cardoso, na qual
se faz uma releitura do projeto eclético clássico.

https://www.seduc.ce.gov.br/wp-
content/uploads/sites/37/2011/10/paisagismo_historia_do_paisagismo.pdf

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Anexo 01 – Cronologia do Paisagismo Brasileiro

Século VIII

Contexto Nacional: Brasil Vice-Reino (Capital Rio de Janeiro)

Contexto Urbano: Cidade Colonial. Ruas, largos e terreiros, construções geminadas.


Vegetação confinada a quintais e pátios Intenso uso de ruas e largos feira, mercado,
procissões, vendedores ambulantes, mascates. Criação de jardins botânicos e hortos para
pesquisa de essências e vegetação nativa.

Projetos:

1783 : Inauguração do Passeio Público no Rio de Janeiro. Autor: Mestre Valentim


1798:Ordem de criação do Jardim Botânico de São Paulo, atualmente, Parque da Luz, São
Paulo.
1798:Criação do Jardim Botânico de Belém.

1801 - 1860

Contexto Nacional: Vinda da família real portuguesa para o Brasil. 1816: Brasil na condição
de Reino Unido; Missão Artística Francesa. Quatro grandes cidades: Rio de Janeiro, Salvador,
Recife e Belém.
1822:Brasil Império.
1840:Início do II Império. Ciclo do café no Estado do Rio.
Influência cultural francesa
Influência econômica inglesa.
Ciclo da Borracha: Belém e Manaus modernizam-se.

Contexto Urbano: O neoclássico é a arquitetura oficial do início do Império, substituindo a


arquitetura colonial nos solares rurais e na cidade. Transformam-se os hábitos urbanos.
Influências européias, principalmente francesas. Reformas urbanas no Rio de Janeiro. Surge o
palacete, a residência da elite. Os jardins se tornam usuais nas casas das elites do Império.
Ajardinamento de praças e largos por todo o país. Criação dos primeiros parques urbanos.

Projetos:

1803-1806:Criação do Passeio Público de Belém (desaparecido).


1808: Criação do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, então Real Horto Botânico.
1810-1818: Passeio Público de Salvador.
1821:O Jardim Botânico do Rio de Janeiro é transformado em jardim público.
1825: O Jardim Botânico de São Paulo é aberto ao público.
1858:Auguste François Marie Glaziou, a convite de Dom Pedro II, ocupa o cargo de Diretor
Geral de Matas e Jardins.

1861-1900

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Contexto Nacional: Proclamação da República. Capital: Rio de Janeiro.

Contexto Urbano: Surgem e se consolidam os primeiro bairros da elite: Cosme Velho,


Laranjeiras (RJ), Graça (Salvador), Campos Elíseos (SP) e outros. Arborização de ruas,
calçadas elaboradas, iluminação pública.

Projetos:

Glaziou reforma o Passeio Público do Rio de Janeiro.


1870:Abertura do bairro dos Campos Elíseos em São Paulo.
1860-1876:Ajardinamento da Quinta da Boa Vista por Glaziou.
1873:Projeto do Campo de Santana por Glaziou.
1886: Passeio Público de Curitiba.
1891: Abertura da Avenida Paulista São Paulo.
1892:Inauguração do Largo do Campo Grande, hoje (Praça 2 de Julho)em Salvador.
1893-1896:Loteamento de Copacabana. Criação da Inspetoria de Matas, Florestas, Jardins
Públicos e Arborização do Rio de Janeiro
1897: Inauguração de Belo Horizonte. O projeto do Parque Municipal é de Paul Villon
1898:Abertura do Parque da Cantareira, São Paulo.
1899:Reforma do Jardim da Luz.
1900:Parque Antártica, São Paulo, um dos primeiros parques particulares.

1901-1930

Contexto Nacional: Expansão urbana. Primeira Guerra Mundial, desenvolvimento industrial e


crescimento urbano. 1922:Centenário da Independência e Semana de Arte Moderna, o
nacionalismo começa a surgir nos meios culturais.
1930: Final da República Velha.

Contexto Urbano: Consolidação dos bairros de Copacabana, (o primeiro bairro de praia do


Rio de Janeiro), e Higienópolis em São Paulo. Abertura de grandes avenidas e programas de
saneamento em Santos, Recife, Rio de Janeiro, etc. O Rio de Janeiro
moderniza-se sob o Governo Pereira Passos.
A avenida-boulevarde a alameda são vias padrão. Introdução do lazer ativo nos parques
públicos. Clubes são formados e esportes de origem inglesa, como o tênis e o futebol, são
implementados. Em São Paulo os bairros-jardim consolidam-se.

Projetos:

1898-1911: Em Belém, no Governo do Intendente Antônio Lemos, o Serviço de Parques,


Hortos e Jardins Municipais cria praças, avenidas, parque e marcos ajardinados.
1901:Primeiro tratamento do Campo da Redenção, hoje Parque Farroupilha, Porto Alegre.
1902:Ajardinamento da Praça do Ferreira, em Fortaleza.
1903:Jardins da praia de Botafogo, Rio projeto de Paul Villon.
1905:Avenida Central Rio de Janeiro.
1906:Avenida Beira-Mar Rio de Janeiro.
1908:Bosque da Saúde, São Paulo parque particular.
1909:Campo de São Bento Niterói projeto de Arséne Puttmans.
1911:Plano de Bouvard, São Paulo: parques em volta do Centro (Anhangabaúe D. Pedro II).

62
1915:Abertura do Bosque dos Jequitibás o primeiro parque de Campinas.
1922:Exposição do Centenário, Rio de Janeiro e reconstrução dos jardins do Ipiranga, São
Paulo, por Reynaldo Dierberger, o paisagista da elite do café.
1929:Início da construção do Jardim Botânico de São Paulo.

Construção da Praça Paris, Rio de Janeiro, projeto de Archimedes José da Silva.


1930:Plano de Avenida de Prestes Maia: proposta de parques, playgrounds, parques
esportivos, realizada em parte nas décadas seguintes.

1931-1967

Contexto Nacional: 1937 :Estado Novo: nova política sócio-econômica; influência econômica
dos Estados Unidos. O cinema americano como elemento de definição de
padrões culturais e, portanto, urbanísticos e paisagísticos.
Criação do primeiro Parque Nacional em Itatiaia.
1939 a 1945:II Guerra Mundial, industrialização e expansão habitacional; novos hábitos,
declínio da influência européia. Expandem-se as fronteiras urbanas nos Estados de São Paulo
e Paraná. São implementadas novas cidades ferroviárias com praças centrais e traçado em
xadrez. No pós-guerra, cresce a influência cultural dos EUA.
1947:Fim do Estado Novo, forte nacionalismo.
A indústria automobilística começa a ser implantada. Programas habitacionais de massa.
Expansão das fronteiras urbanas do país. Implantação da TV nas grandes cidades. As estradas
de rodagem são construídas em massa e há o declínio do transporte ferroviário.
São Paulo e Rio de Janeiro configuram-se como as duas grandes metrópoles do país.

Contexto Urbano: Edifícios de apartamentos consolidam-se em áreas centrais do Rio de


Janeiro e São Paulo, expandindo-se pela beira-mar sul do Rio de Janeiro no final das décadas
de 30 e 40. Primeiros edifícios e jardins modernos com influência da arquitetura modernista
européia. Novos hábitos urbanos: piscinas e banhos de mar. A arquitetura moderna consolida-
se e os jardins deixam de ser moldura das residências para tonarem-
se espaços de estar, como continuidade da casa. Os esportes de massa ganham importância;
o futebol consolida-se como esporte nacional. São construídos parques infantis e playgrounds.
A piscina como sonho da classe média. A influência do urbanismo
se torna mista (européia modernista e americana), mas continuam os planos e avenidas
haussmanianos, que reformulam velhos centros urbanos.O desenho do Ecletismo começa a
ser abandonado também nos espaços públicos, primeiramente devido à influência da obra de
Burle Marx.Grandes contingentes de classe média compram casas e apartamentos no litoral.O
hábito do banho de mar é consolidado em Copacabana .
1950-1960:Crescimento urbano acelerado.Nas décadas de 40 e 60, em termos quantitativos
são poucos os parques públicos construídos nas cidades brasileiras. Fortalecimento de órgãos
de planejamento. As grandes cidades têm um planejamento centralizado. Abertura de sistemas
viários de porte nas grandes e médias cidades.
A casa e o prédio isolado: bairros inteiros são construídos sob esses padrões.
O BNH (Banco Nacional da Habitação) cria grandes conjuntos habitacionais dotados de
generosas áreas livres. Partes dessas são posteriormente invadidas pelos moradores.
Os edifícios de apartamentos em São Paulo, construídos em bairros de elite, estão isolados no
lote. Paisagistas assinam alguns dos projetos dos seus espaços livres. A verticalização ainda
incipiente começa a se espalhar por todas as cidades do país.
Com a televisão alteram-se gradativamente os usos dos espaços públicos, que são por muitas

63
vezes minimizados. Muda o programa de parques e praças, agora nitidamente voltados para o
lazer ativo. Expansão urbana. Metropolização. Grandes obras urbanas: terminais, praças,
calçadões, viadutos, etc.

Projetos:

1937:Projeto dos Jardins de Alá Rio de Janeiro, em moldes clás-sicos, por José Silva de
Azevedo Neto.
1938:Jardins do MES (Ministério da Educação e Saúde) e Praça Salgado Filho, no Rio de
Janeiro, projetos de Burle Marx.
Oficialização do Jardim Botânico de São Paulo.
1939:Parque 13 de maio - Recife.
1942:Construção da Pampulha com os modernos jardins de Burle Marx.
Criação do Departamento de Parques do Rio de Janeiro.
Projeto definitivo do Parque da Redenção por Arnaldo Gladosh.
1942-1943:Abertura da Avenida Getúlio Vargas, Rio de Janeiro.
Durante toda a década de 40, Burle Marx produz projetos modernistas trabalhando junto com
arquitetos modernos. Torna-se o paisagista oficial do Estado.
1954:Abertura do Parque Ibirapuera, São Paulo.
1954:Projeto do Parque do Flamengo, por Affonso Reidy, Burle Marx e equipe.
1957:Concurso de Brasília. Durante a década de 50, Roberto Coelho Cardozo, radicado em
São Paulo. Influência de paisagistas da costa oeste americana como Eckbo e outros.
Os dois Robertos (Cardozo e Burle Marx) possuem um denominador comum: a valorização da
vegetação nativa. Influenciam a obra dos arquitetos que se formam em São Paulo.
1960: Inauguração de Brasília, o ideal da cidade no meio do verde.
1961:Inauguração do Aterro do Flamengo Rio de Janeiro.
1967:Centro Cívico de Santo André, projeto de Burle Marx.
1967:É feito o primeiro e único estudo de áreas verdes da cidade de São Paulo por Rosa
Kliass, Miranda Magnoli e equipe.

1968-1980

Contexto Nacional: Governo Militar (1964-1984): início de um período de projetos


urbanos centrali-zados. Consolidação das grandes redes nacionais de televisão.
Anos de fastígio econômico. Abertura de fronteiras: devastação florestal. Grandes
investimentos estatais. Fortalecimento da indústria automobilística. Aumento do número de
veículos.

Contexto Urbano: Década de 70:instala-se a primeira linha de metrô de São Paulo. Consolida-
se em São Paulo e Porto Alegre uma linha de projeto fortemente influenciada por paisagistas
da Califórnia / EUA.

1971:É promulgada em São Paulo a lei que favorece a criação de espaços livres nos lotes
verticalizados, voltadas sobretudo para áreas de lazer. São concebidos os primeiros
condomínios fechados Alphaville, em São Paulo, como Alphaville, e na Barra da Tijuca, Rio de
Janeiro. O desenho das praças modernas é muito elaborado, com programas complexos ao
passo que o projeto de parques tende a uma grande simplificação em relação aos do período
do Ecletismo. Surgem as praças-edifício, muitas delas derivadas da construção do metrô, em
São Paulo. O maior exemplo é a Praça da Sé. Uma legislação mais abrangente referente ao

64
patrimônio histórico urbano é criada, incentivando a presença de "monumentos" de todas as
épocas, inclusive parques e jardins. Proliferação dos calçadões de área central e de praia.
Todas as grandes cidades
têm um planejamento centralizado e as leis de zoneamento são estabelecidas por todo país.
Programas habitacionais em massa.

Projetos:

1967-1968: Praça Centro de Convivência Cultural, Campinas, a praça-edifício de autoria de


Fábio Penteado e outros.
1969: Plano da Barra, por Lúcio Costa, um projeto modernista com viés ecológico.
1970-1980: São inaugurados mais de 10 parques na cidade de São Paulo, entre
eles o Parque do Carmo (aproveitando a mata nativa) e centenas de praças.
1972:Calçadão da Rua XV de Novembro/ Rua das Flores Curitiba.
1972:Parques Barigüi, São Lourençoe Barreirinha Curitiba.
1973:Construção da Praça Alberto Dalva Simão, Belo Horizonte, projeto-escultura de Roberto
Burle Marx.
1974: Parque Guarapiranga, São Paulo, o primeiro parque à beira de represa da cidade é
inaugurado.
1975:Parque Rogério Pitton Farias (Parque da Cidade Sarah Kubitschek), na Asa Sul em
Brasília projeto de Roberto Burle Marx.
1976:Parque Iguaçu, Curitiba.Projeto para o Parque Ecológico do Tietê em São Paulo por Ruy
Othake, (construído anos depois parcialmente).
Bosque João Paulo II, primeiro parque temático de Curitiba.
1982:Parque das Mangabeiras, Belo Horizonte um parque que conserva a mata nativa,
projeto de Roberto Burle Marx.

1981-1990

Contexto Nacional: Expansão urbana acelerada. Correntes migratórias de porte refletem-se


na criação de uma rede nacional de metrópoles.
Onda ecológica. Criam-se secretarias do verde e meio ambiente.
O país está conectado por uma rede nacional de comunicações: rádio, TV, telefone.
1988: Nova Constituição, com itens que privilegiam o meio ambiente e as paisagens notáveis.

Contexto Urbano: Proliferação dos calçadões de área central e de praia. Surgem os padrões
ecológicos, volta a idéia dos contatos com a vegetação. Expansão dos condomínios horizontais
e verticais. Segregação. Estabelece-se uma forma desconstrutivista de projeto.

Projetos:

Em São Paulo e por todo o Brasil, centenas de projetos de paisagismo são feitos.
1981:Largo da Carioca projeto de Burle Marx.
1983:Lei nº 506 de 17/01/84 aprova o corredor cultural, como zona especial do Centro
Histórico do Rio de Janeiro, que preserva 1300 edificações do centro da cidade.
1987;Projeto do Parque Villa Lobos, São Paulo: um parque de lazer ativo, contemplativo e
cultural , projeto de Décio Tozzi.
1989:Lei 1989, do estado do Rio de Janeiro, cria a Fundação de Parques e Jardins.

65
1991-2002

Contexto Nacional: Aumenta a já forte influência cultural americana, com a possibilidade de


viagens para os EUA de amplos setores da classe média. Aumento do uso dos espaços
públicos e privados urbanos em função do crescente aumento da população das cidades.
1992: Eco 92, Rio de Janeiro: um marco das posturas ecológicas.
Aumento da expansão urbana: ao final da década de 1990, o país é predominantemente
urbano. O condomínio horizontal fechado se torna uma figura urbana comum nas médias e
grandes cidades, se multiplicando ao longo de rodovias e áreas rurais vizinhas. A verticalização
como habitação para as classes médias se torna um fato urbano nacional, expandindo-se
inclusive pelas áreas turísticas. Ampliação nas áreas costeiras e serranas da Segunda
Residência. Aumento da criação de áreas de proteção ambiental, parques nacionais e reservas
naturais. Introdução nas áreas turísticas, principalmente nas costeiras, da figura do "resort"
como uma opção de hospedagem. Ocupa grandes áreas com jardins tropicais e áreas de
conservação. Expansão da moradia informal sobre áreas
frágeis, como manguezais, florestas, dunas e áreas de proteção de mananciais, em volta dos
principais centros urbanos. Aumento da demanda de áreas para recreação e lazer por todo o
país, que cada vez mais são objetos de projeto

Contexto Urbano: Os calçadões de praia são renovados. O modo moderno de projetar


começa a sofrer forte influência das novas correntes formalistas européias (Paris e Barcelona)
e americanas. Volta-se a um decorativismo e os pórticos e canteiros floridos são elementos
importantes nessas novas obras. Expansão do comércio informal por todos os principais
centros urbanos do país, em especial nas áreas centrais e pontos de grande comércio e
aglomeração humana. Começam a ser valorizadas novas formas de espaços livres. São
projetados os primeiros parques temáticos do país. Por todas as principais cidades, os
ajardinamentos de canteiros centrais de avenidas são comuns, com
forte influência decorativista. Uso de elementos neo-ecléticos como fontes, esculturas, arbustos
e forrações cuidadosamente elaboradas. Forte viés romântico no desenho dos jardins privados,
convivendo com formas tradicionais modernistas.
O jardim florido: um padrão de qualidade. Construção de parques públicos com alto teor
ecológico: Manaus, São Paulo, Teresina e Salvador. Valorização extrema do "verde" na cidade,
pela mídia, pelo mercado imobiliário e pelo senso popular. Forte apelo do "tropical" sob uma
nova ordem formal, valorizando-se o uso de palmáceas e da vegetação nativa. Consolidação
do pátio do edifício de apartamentos como um dos principais objetivos do projeto paisagístico
dentro do urbano.

Projetos:

1991:Jardim Botânico, Curitiba a volta do Ecletismo revisto em uma posição pós- moderna.
1992:Parque Cidade de Toronto, São Paulo.
1992:Vale do Anhangabaú, São Paulo.
Projeto Rio Orla: a orla do Rio é toda reformada, com a criação de um sistema de ciclovia
costeira.
1992-1996:Centenas de novos projetos são feitos para espaços livres nas cidades de Belo
Horizonte, Fortaleza, Campo Grande, Curitiba, Recife. A Praça do Ferreiraé destruída e no seu
lugar constrói-se um projeto totalmente contemporâneo. Parques são
inaugurados em Belo Horizonte. Renovação do Pelourinho em Salvador e do centro do Rio de
Janeiro.

66
1995:Rua da Cidadania Boqueirão, Curitiba.

1996:Os 17 projetos do Rio-Cidade são entregues ao público do Rio de Janeiro.


Inauguração da Terra Encantada primeiro parque temático ao ar livre do país.
1996:Parque Tanguá Curitiba.
1996:Bosque Alemão, Curitiba, trilha de João e Maria, a fantasia no parque temático.
1997:Concurso Viva São Paulo no qual 20 praças da cidade são objeto de projetos de linhas
contemporâneas.
1998:Shopping ao ar livre: Downtown, Rio de Janeiro, paisagismo Isabel Duprat.
Concurso Rio Cidade II: espaços públicos de periferias têm propostas de modernização.
Recuperação de parques e praças em Salvador. Praça do Marco Zero em Recife

2000: Jardins do Shopping "Cittá América", Rio de Janeiro, de forte inspiração tropical -
cenográfica do paisagista Sérgio Santana.
Reforma de praças em Campo Grande, entre elas a do Rádio Clube. Inauguração da 1a fase
da Praça da Sé em Salvador
2001:Recuperação, abertura e tratamento paisagístico de parte na área das docas de Belém do
Pará; Piscinão de Ramos (Rio de Janeiro): projeto que visa compensar a perda da
balneabilidade das águas da Baía de Guanabara. Inauguração do novo calçadão de Fortaleza
em lugar do projeto anterior, que é substituído em função de uma idéia de modernização.
Recuperação paisagística do Mercado de Ver-o-Peso em Belém.
2002:Projeto dos Jardins do Banco de Boston, São Paulo. Paisagismo de Isabel Duprat
Ajardinamento das calçadas centrais da Avenida Faria Lima em São Paulo, com um caráter
cenográfico-tropicalista. Inauguração da 2a fase da praça da Sé em Salvador.

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Anexo 02 – Roberto Burle Marx

A história do paisagismo brasileiro, a partir de 1930, está ligada à obra mundialmente


famosa de Roberto Burle Marx. É um dos brasileiros mais consagrados no exterior em todos os
tempos. Nascido em São Paulo em 1909, Roberto Burle Marx muda-se ainda menino para o
Rio de Janeiro. Aos 19 anos, viaja para a Alemanha para se aperfeiçoar como desenhista.
E é lá que, casualmente, descobre a beleza das plantas tropicais, numa visita ao
Jardim Botânico de Dahlen. De volta ao Brasil, Burle Marx começa a cultivar, colecionar e
classificar plantas num jardim na encosta do morro, atrás de sua casa.
Seu primeiro trabalho como paisagista é feito a pedido do arquiteto e amigo Lúcio
Costa, no início dos anos 30. Burle Marx projeta um jardim revolucionário, usando plantas
tropicais e a estética da pintura abstrata.
O começo é difícil. Os jardins brasileiros obedecem ao modelo europeu:
predominam azaléias, camélias, magnólias e nogueiras. A elite conservadora da época
estranha o estilo abstrato e tropical de Burle Marx. Mas a renovação nas artes e na arquitetura
é uma tendência mundial e irresistível nos anos 30. Burle Marx torna-se adepto da escola
alemã Bauhaus, com seu estilo humanista e integrador de todas as artes.
No Brasil, um grupo de jovens arquitetos, profundamente influenciados pela
corrente francesa liderada por Le Corbusier, revoluciona a arquitetura. Entre eles, Oscar
Niemayer e Lúcio Costa.
A moderna arquitetura brasileira usa novos materiais. Aço, vidro e concreto pedem
um paisagismo renovador. A associação entre Burle Marx, Niemayer e Lúcio Costa não pára
mais.
Apaixonado pela flora brasileira, realiza incontáveis viagens por todo o país à
procura de plantas raras e exóticas. Pouco a pouco, torna-se botânico autodidata, especialista
em plantas tropicais. A relação de Burle Marx com a natureza é quase religiosa. Sua reverência
ao verde torna-o pioneiro na luta pela preservação do meio ambiente.
Apaixonado pela flora brasileira, realiza incontáveis viagens por todo o país à
procura de plantas raras e exóticas. Pouco a pouco, torna-se botânico autodidata, especialista
em plantas tropicais. A relação de Burle Marx com a natureza é quase religiosa. Sua reverência
ao verde torna-o pioneiro na luta pela preservação do meio ambiente.
Roberto Burle Marx é um artista polivalente. Pintor, designer, arquiteto, paisagista,
artista plástico, tapeceiro. Nas horas vagas canta música lírica para os amigos. Sua obra como
artista plástico é amplamente reconhecida e premiada em mostras e salões internacionais.
Pouco a pouco, o nome de Burle Marx paisagista ultrapassa as fronteiras do Brasil. Sua
assinatura brilha em milhares de projetos espalhados pelos cinco continentes.
Sua grande paixão, contudo, sempre foi o Brasil, sobretudo o Rio de Janeiro. Nos
mais belos cartões postais da cidade estão os jardins de Burle Marx. O Largo da Carioca... a
orla do Leme... o calçadão de Copacabana... os jardins suspensos do Outeiro da Glória...e a
menina dos olhos do artista: o Aterro do Flamengo.

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Do trabalho conjunto com Oscar Niemayer e Lúcio Costa nascem o
Parque da Pampulha, Minas Gerais, e os famosos jardins de Brasília. Entre suas
obras mais expressivas estão os jardins do Parque do Ibirapuera, em São Paulo.
Em 61 anos de carreira, Burle Marx assina mais de dois mil projetos e
recebe inúmeras honrarias. Mas a homenagem que mais o sensibiliza é ver seu
nome designando uma espécie de plantas tropicais: "Burle Marxii".
Em 1972, Burle Marx muda-se para o sítio Santo Antônio da Bica, nos
arredores do Rio de Janeiro. Dedica-se à pintura, coleciona obras de arte e cultiva,
ao longo de mais de vinte anos, três mil e quinhentas espécies de plantas do mundo
inteiro, criando um verdadeiro Éden Tropical.
Em 1985, doa a propriedade ao governo federal. Seu grande sonho é
criar ali uma escola para jardineiros e botânicos, e abrir o sítio à visitação pública.
Mas é somente após a sua morte, ocorrida em 1994, aos 82 anos de idade, que os
seus últimos projetos florescem. Graças ao empenho de sua equipe, o sítio, agora
batizado com o seu nome, recebe visitantes do Brasil e do mundo.
E ecologistas, paisagistas e jardineiros podem freqüentar cursos
regulares,ministrados em meio às plantas que o próprio Roberto Burle Marx cultivou.

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