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UNIVERSIDADE EVANGÉLICA DE GOIÁS

CURSO DE MEDICINA – 4º PERÍODO


MEDICINA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE
ACADÊMICAS: Carolline Viegas Dutra e Jenifer Jessi Melo - M6

OBSERVAÇÃO DA REALIDADE

MBS, 70 anos, aposentada e pensionista, viúva, analfabeta, evangélica, mora


sozinha e recebe auxílio de seus familiares e amigos que moram próximos a sua residência
para atividades como os afazeres domésticos, transporte e fazer compras. Sai de casa apenas
para ir à igreja, geralmente as pessoas vão até a casa dela para visitá-la ao invés dela se
locomover. Tem um filho que a visita semanalmente. Foi diagnosticada com diabetes,
obesidade, hipertensão arterial, artrite reumatóide, insônia, aterosclerose e faz uso de 7
medicamentos diariamente, qualificando iatrogenia medicamentosa. Nos últimos anos
precisou ser internada 1 vez em decorrência de um quadro de COVID e a uma pneumonia,
ficando internada por 15 dias dias na UTI. Nega tabagismo e etilismo. Não pratica qualquer
tipo de atividade física,e não tem nenhum tipo de deficiência, apenas dificuldade de
locomoção devido a uma dor crônica nos joelhos. Em relação ao ambiente doméstico, a casa
não possui escadas, mas alguns degraus entre um cômodo e outro, o piso é escorregadio,
possui tapetes em todos os ambientes o que aumenta o risco de quedas. No banheiro, tem
como box uma pedra colada e não apresenta corrimãos para que ela possa se apoiar durante o
banho que ela realiza sozinha.

Medidas antropométricas: Peso = 117 kg, altura = 1,55 m, IMC de 48,69 e Perímetro da
Panturrilha Esquerda = 41,5.

IVCF-20: 17 - Alto risco de vulnerabilidade clínico-funcional.

LEVANTAMENTO DOS PONTOS-CHAVE

Foi realizada a aplicação do Questionário IVCF-20, com auxílio dos cuidadores


presentes. Paciente apresentou resultado igual a 17, o que indica alto risco de vulnerabilidade
clínico-funcional. Já no protocolo de identificação do idoso vulnerável (VES-13), a idosa
avaliada obteve pontuação igual a 8 e, por isso, é considerada vulnerável e deve ser
acompanhada mais frequentemente , com maior frequência de visitas e cuidados da equipe de
saúde.
Quanto aos aspectos clínicos, a idosa possui diabetes, hipertensão arterial, artrite
reumatóide, insônia, aterosclerose, obesidade e iatrogenia medicamentosa devido à
quantidade de medicamentos utilizados, sobretudo, para tratar uma artralgia no joelho.

TEORIZAÇÃO

A fragilidade em idosos é um fenômeno prevalente e impactante na saúde da


população. Em termos de Saúde Pública, torna-se adequado o conceito de fragilidade
multidimensional (Moraes, 2012), definida como a redução da reserva homeostática e/ou da
capacidade de adaptação às agressões biopsicossociais e, consequentemente, maior
vulnerabilidade ao declínio funcional.
A fragilidade tem sido associada a um maior risco de quedas, hospitalizações,
declínio funcional, institucionalização e mortalidade. Além disso, idosos frágeis apresentam
maior probabilidade de complicações pós-operatórias e menor sobrevida em comparação aos
não frágeis (Lee et al., 2018). Esses dados destacam a importância de abordar a fragilidade
em idosos como uma medida crucial na promoção do envelhecimento saudável. Nesse
contexto, a idosa avaliada apresenta condições de saúde que a inserem em um alto risco de
vulnerabilidade clínico-funcional, dentre elas, obesidade, diabetes, hipertensão arterial e
iatrogenia.
Estudos demonstram um aumento significativo na prevalência de obesidade em
idosos ao longo dos anos. A obesidade em idosos está associada a uma série de problemas de
saúde, incluindo doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, hipertensão, dislipidemia,
osteoartrite e certos tipos de câncer. Além disso, a obesidade em idosos tem sido associada a
um maior risco de incapacidade funcional, quedas, declínio cognitivo e mortalidade (Lavie et
al., 2012). Esses dados ressaltam a importância de estratégias eficazes de prevenção e manejo
da obesidade em idosos, a fim de promover a saúde do idoso e prevenir doenças associadas.
A presença de diabetes mellitus em idosos está associada a um maior risco de
complicações, como doença cardiovascular, retinopatia, nefropatia e neuropatia (Kirkman et
al., 2012). Ademais, a diabetes em idosos está relacionada a uma maior vulnerabilidade
clínico-funcional. Esses dados destacam a importância da detecção precoce, do controle
adequado da glicemia e do manejo multidisciplinar da diabetes em idosos para prevenir
complicações e melhorar os resultados de saúde nessa população.
A hipertensão arterial também é uma condição prevalente entre os idosos. De
acordo com a Sociedade Brasileira de Hipertensão, estima-se que cerca de 60% dos idosos
brasileiros sejam hipertensos (SBH, 2020). Essa condição está associada a um maior risco de
complicações cardiovasculares, como doença cardíaca coronariana e acidente vascular
cerebral (Malachias et al., 2016). Além disso, a hipertensão arterial em idosos pode contribuir
para o declínio cognitivo e o desenvolvimento de demência (Santos et al., 2019).
Intervenções não farmacológicas, como a adoção de uma dieta saudável e a prática regular de
atividades físicas, são fundamentais para o controle da pressão arterial em idosos hipertensos
(SBH, 2020).
A iatrogenia medicamentosa, ou seja, os danos causados aos pacientes devido ao
uso inadequado de medicamentos. Visto que os idosos são mais suscetíveis a efeitos adversos
de medicamentos devido a alterações fisiológicas relacionadas ao envelhecimento, como
diminuição da função renal e hepática, alterações na farmacocinética e maior número de
comorbidades, a iatrogenia torna-se uma questão ainda mais relevante no tratamento
oferecido aos idosos (Onder et al., 2013). Estratégias de revisão e otimização da terapia
medicamentosa são essenciais para prevenir iatrogenia em idosos e melhorar a segurança e a
qualidade de vida dessa população.
Portanto, a presença de múltiplas condições de saúde está associada à maior
utilização do sistema de saúde e maior risco de iatrogenia, incapacidades, institucionalização
e óbito; o que caracteriza declínio funcional iminente. Todavia, a multimorbidade pode ser
definida como uma combinação de condições de saúde, agudas e/ou crônicas, associadas a
diversos fatores de risco biopsicossociais, polifarmácia, hábitos de vida, uso excessivo do
sistema de saúde, dentre outros (Moraes, 2018).

PLANO DE CUIDADOS

1. Aconselhamento para prevenção de quedas: 1) instalação de tapete antiderrapante e


de corrimão na área do box do banheiro; e 2) substituição dos degraus por rampas;
2. Solicitação de consulta e avaliação especializada com psicólogo e médico
ortopedista para a solução da iatrogenia medicamentosa;
3. Requerimento de acompanhamento com nutricionista da UBS para tratar
obesidade;
4. Aconselhamento para prática de atividade física de baixo impacto, como
hidroginástica;

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Lavie, C. J., et al. Obesity and cardiovascular diseases: implications regarding fitness,
fatness, and severity in the obesity paradox. Journal of the American College of
Cardiology, 63(14), 1345-1354, 2012.

Kirkman, M. S., et al. Diabetes in older adults: a consensus report. The Journal of the
American Geriatrics Society, 60(12), 2342-2356, 2012.

Malachias, M. V. B., et al. 7a Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial. Arquivos


Brasileiros de Cardiologia, 107(3), 1-83, 2016.

Moraes, E. N. Atenção à Saúde do Idoso: Aspectos Conceituais. Brasília: Organização


Pan-Americana da Saúde, 2012.

Moraes, E. N.; Azevedo, R. S.; Moraes, F. L.; Pereira, A. M. V. B. Avaliação


multidimensional do idoso. SAS - Curitiba : SESA, 113p., 2018.

Santos, C. Y. S., et al. Hipertensão arterial em idosos: uma revisão sistemática. Revista
Brasileira de Geriatria e Gerontologia, 22(3), e190141, 2019.

Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH). Hipertensão arterial: conceitos e estatísticas.


2020. Disponível em:
<https://sbh.org.br/publico/hipertensao-arterial-conceitos-e-estatisticas/> Acesso em: 23 Maio
2023.

Onder, G., et al. Strategies to reduce the risk of iatrogenic illness in complex older adults.
Age and Ageing, 42(3), 284-291, 2013.

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