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ADDONAI TEIXEIRA MED 20 - FPS

Caso 02 - Os determinantes de saúde nem sempre se devem a questões


biológicas...

Objetivos de Aprendizagem

1. Definir as DCNT, identificando as mais comuns no cenário de saúde


2. Identificar os fatores de risco, relacionando com os dados epidemiológicos.
3. Entender os determinantes sociais de saúde, conhecendo as políticas públicas de saúde para sua
prevenção e controle.

DCNT (Doenças crônicas não transmissíveis)


Características das DCNT

1. Etiologia múltipla, sem origem infecciosa;


2. Interação de fatores etiológicos conhecidos e desconhecidos;
3. Causa necessária desconhecida;
4. Especificidade de causa desconhecida;
5. Muitos fatores de risco;
6. Longos períodos de latência;
7. História natural da doença e curso clínico lentos e permanentes;
8. Longo curso assintomático;
9. Manifestações clínicas com períodos de remissão e exacerbação
10. Lesões celulares irreversíveis;
11. Associadas a deficiência, incapacidades funcionais ou até morte;

Causalidade das DCNT

Biologia humana: inclui os fatores decorrentes da constituição orgânica do indivíduo, como a herança
genética, o envelhecimento, os mecanismos de defesa do organismo, suas suscetibilidades e resistências,
entre outros.

Ambiente: agrupa os fatores externos, como clima, água, radiações e exposição a agentes poluentes diversos
(pesticidas, gases). Inclui também os aspectos sociais, que envolvem nível socioeconômico, renda,
escolaridade, inserção no mercado de trabalho e riscos ocupacionais.

Estilos de vida: incluem as opções e decisões que o indivíduo toma a respeito de sua saúde no que se refere,
por exemplo, a atividades de lazer, hábitos alimentares e comportamentos autodeterminados ou adquiridos
social ou culturalmente, estando, portanto, parcialmente sob seu controle. São limitantes dessas escolhas
individuais de “estilos de vida”, em grande medida, o ambiente social e a condição socioeconômica.

Organização da Atenção à Saúde: envolve a disponibilidade, a quantidade e a qualidade dos recursos


destinados aos cuidados com a saúde.

Inspirados nesse modelo e buscando sintetizar uma complexa cadeia de causalidade, que inclusive se insere
em fortes condicionantes históricos e sociais, a OMS propôs um diagrama, representado na Figura 14.6, que
procura sintetizar a história natural das DCNT, seus determinantes e desfechos. O diagrama representa a
causalidade das DCNT de etiologia múltipla, mostrando sua complexidade. São identificados diversos
elementos, como:

(a) determinantes e condicionantes socioeconômicos, culturais e ambientais que estão na base das
desigualdades do processo saúde-doença;

(b) fatores não modificáveis (sexo, idade e herança genética);

(c) fatores de risco comportamentais (tabagismo, alimentação, inatividade física, consumo de álcool e outras
drogas) que podem ser modificáveis (WHO, 2005; MALTA et al., 2006).

Impactos

Estimativas para o Brasil sugerem que a perda de produtividade no trabalho e a diminuição da renda familiar
resultantes de apenas três DCNT (diabetes, doença do coração e acidente vascular encefálico) levarão a uma
perda na economia brasileira de US$ 4,18 bilhões entre 2006 e 2015 (ABEGUNDE, 2007).

Os custos diretos correspondem aos gastos com assistência médica, medicamentos, internações, exames,
procedimentos, fisioterapia e reabilitação. Os custos indiretos estão ligados a perdas na produção e na renda,
à perda de produtividade e de empregos e em razão de absenteísmos. Os custos intangíveis são difíceis de
estimar e referem-se a renda familiar, cuidados informais e outros (ALWAN et al., 2010).

O impacto socioeconômico das DCNT tem afetado o progresso das Metas de Desenvolvimento do Milênio
(MDM), que abrangem temas como saúde e determinantes sociais (educação e pobreza). Essas metas têm
sido afetadas, na maioria dos países, pelo crescimento da epidemia das DCNT e seus fatores de risco (WHO,
2011).

Mortalidade

54,7% dos óbitos registrados no Brasil foram causados por doenças crônicas não transmissíveis
(DCNT).

O Brasil vem sendo marcado, nas últimas décadas, por uma transição demográfica acelerada, que resulta da
redução abrupta da taxa de fecundidade e de elevados índices de envelhecimento populacional. Por sua vez, a
transição epidemiológica observada no País é marcada, entre outros aspectos, pelo desafio das doenças
crônicas e de seus fatores de risco, além de forte crescimento das causas externas de morbimortalidade.
No Brasil, em 2019, as doenças do aparelho circulatório (que fazem parte do grupo das DCNT) ocuparam o
primeiro lugar em número de óbitos por capítulos da CID-10. Nas faixas etárias acima de 50 anos, as
principais causas de óbito, em 2019, foram as doenças do aparelho circulatório, as neoplasias malignas e as
doenças do aparelho respiratório (Quadro 1).

As DCNT são responsáveis pela maior carga de morbimortalidade no mundo, acarretando perda de qualidade
de vida, limitações, incapacidades, além de alta taxa de mortalidade prematura.

Em 2019, foram registrados 738.371 óbitos por DCNT no Brasil. Destes, 41,8% (n=308.511) ocorreram
prematuramente, ou seja, entre 30 e 69 anos de idade, perfazendo uma taxa padronizada de mortalidade de
275,5 óbitos prematuros a cada 100 mil habitantes.

É possível observar que, em todos os anos da série histórica analisada (2000 a 2019), a mortalidade
prematura por DCNT foi maior para o sexo masculino. O mesmo comportamento é observado ao redor do
mundo, com a mortalidade por DCNT superior em homens na maioria dos países.

Na população masculina, as doenças cardiovasculares foram responsáveis pelas maiores taxas de mortalidade
em todo o período, embora tenha havido decréscimo em sua magnitude.

Na população feminina, as doenças cardiovasculares foram responsáveis pelas maiores taxas de mortalidade
até o ano de 2013. A partir de 2014, a mortalidade por neoplasias malignas passou a ser a maior causa de
morte por DCNT entre as mulheres.

Na população masculina, as neoplasias malignas de brônquios e pulmões foram responsáveis pelas maiores
taxas de mortalidade em todo o período, apresentando decréscimo em sua magnitude a partir de 2004. Entre
as mulheres, as neoplasias de brônquios e pulmões estavam em terceiro lugar entre as causas de morte por
neoplasias malignas até 2005, passando para o segundo lugar a partir de então. Ao contrário dos homens, as
mulheres vêm apresentando aumento na taxa de mortalidade por neoplasia malignas dos brônquios e
pulmões.

A neoplasia de mama foi responsável pela maior taxa de mortalidade por neoplasia malignas em mulheres
em todo o período analisado, sendo verificado acréscimo em sua magnitude ao longo dos anos.

Um exemplo do impacto dos hábitos de vida nas neoplasias do aparelho digestivo são os fatores de risco
relacionados a neoplasias malignas de cólon e reto e estômago, entre os quais estão a obesidade, a
inatividade física, o tabagismo, o alto consumo de carne processada, a alimentação pobre em frutas e
hortaliças e o consumo excessivo de álcool; os fatores de risco que serão apresentados a seguir
Fatores de Risco

A maioria das mortes prematuras está ligada a fatores de risco modificáveis, tais como obesidade, hábito
alimentar inadequado, inatividade física, tabagismo, consumo de bebidas alcoólicas, poluição ambiental e
saúde mental.

Hábito alimentar inadequado

● O consumo adequado de frutas, legumes e verduras reduz os riscos de doenças do aparelho


circulatório, câncer de estômago e outros tipos de câncer.
● A frequência de consumo recomendado de frutas e hortaliças foi de 22,9%, a frequência de consumo
de cinco ou mais grupos de alimentos ultraprocessados foi de 18,2% e o consumo regular de bebidas
adoçadas foi de 15,0%.
● A prevalência de crianças com excesso de peso passou de 4,8% para 5,9% entre 1990 e 2018,
aumento de mais de 9 milhões de crianças.
● De 2006 a 2019 houve aumento de 72% na prevalência de obesidade em adultos das capitais
brasileiras, passando de 11,8% para 20,3%, sendo observado aumento tanto no sexo masculino como
no feminino. Em 2016, a prevalência global padronizada por idade deste indicador foi de 27,5%.
Este valor permaneceu estável entre 2001 e 2016 (GUTHOLD et al., 2018).

Inatividade física

● No Brasil, em 2019, o percentual de adultos que praticaram atividades físicas no tempo livre
equivalentes a, pelo menos, 150 minutos de atividade de intensidade moderada por semana foi de
39%, sendo maior entre os homens, com tendência à diminuição com a idade e aumentando
fortemente de acordo com o nível de escolaridade.
Tabagismo

O tabagismo está relacionado ao desenvolvimento de vários tipos de neoplasias malignas, doenças do


aparelho respiratório, doenças cardiovasculares, entre outras doenças. Estima-se que fumar cause,
aproximadamente, 70% dos casos de câncer de pulmão, 42% das doenças respiratórias crônicas e cerca de
10% das doenças do aparelho circulatório (WHO, 2009). Ele é responsável por mais de 8 milhões de mortes
por ano no mundo, das quais cerca de 1,2 milhão são decorrentes do fumo passivo.

Álcool

O consumo do álcool é associado com a mortalidade e a ocorrência de uma ampla variedade de doenças
crônicas, como neoplasias malignas, doenças cardiovasculares, doenças do fígado, entre outras. De acordo
com estimativas do Global Burden of Disease (GBD), em 2017, aproximadamente 6,2% de todos os óbitos
ocorridos no Brasil estavam relacionados ao uso do álcool.

Quando observados os anos de vida perdidos ajustados por incapacidade (DALYs – Disability Adjusted Life
Years), o uso de álcool foi o terceiro principal fator de risco comportamental para carga de doença no Brasil e
o quarto no mundo.

Poluição do Ar

Estima-se que ocorram, anualmente, 4,2 milhões de mortes prematuras atribuídas à poluição do ar ambiente
no mundo. Responsável pelo desenvolvimento, pela exacerbação e pela morte por doenças crônicas e agudas,
estima-se que a poluição do ar tenha sido responsável, no ano de 2016, por aproximadamente 58% de mortes
prematuras por doenças cerebrovasculares e doenças isquêmica do coração; 18% por doença pulmonar
obstrutiva crônica e infecção respiratória aguda baixa; e 6% por câncer de pulmão, traqueia e brônquios
(BRASIL, 2018).

De modo geral, o número de óbitos por DCNT devido à poluição do ar (MP2,5 e O3) aumentou no Brasil e
nas unidades federadas entre os anos 2006 e 2016. Enquanto em 2006 um total de 22.395 óbitos atribuídos a
esses poluentes foram estimados para homens no Brasil, em 2016 esse número subiu para 25.435.

Pressão arterial elevada

Estima-se que a pressão arterial alta cause 7,5 milhões de óbitos, ou seja, 12,8% de todas as mortes (WHO,
2009). Esse é um fator de risco para doenças do aparelho circulatório (WHO, 2010d). A prevalência de
pressão alta é semelhante em todos os grupos de renda, contudo é geralmente menor na população de alta
renda (WHO, 2011).

Colesterol aumentado

Estima-se que o colesterol elevado cause 2,6 milhões de mortes a cada ano. Ele aumenta o risco de doença
cardíaca e AVE. O colesterol elevado é mais prevalente em países de alta renda (WHO, 2009).

Determinantes Sociais da Saúde


Determinantes sociais de saúde são considerados todos os fatores sociais e econômicos que afetam
diretamente ou indiretamente a saúde e a qualidade de vida de indivíduos, comunidades ou jurisdições como
um todo. Por ser um conceito bem amplo, os DSS podem ser classificados e encaixados em modelos e
categorias diferentes, um modelo muito bem reconhecido é o de Dahlgren & Whitehead (1991). Esse modelo
estrutura os determinantes sociais em diferentes camadas de acordo com seus níveis de abrangência, sendo os
mais proximais microdeterminantes e os da camada mais distal macrodeterminantes.

As diferentes camadas desse modelo exigem intervenções no âmbito da promoção da saúde direcionadas
para cada uma delas.

● Nível proximal - políticas voltadas para a promoção de escolhas saudáveis, mudanças de


comportamento para redução dos riscos à saúde e a criação e fortalecimento de laços de
solidariedade e confiança
● Nível intermediário - políticas que melhorem as condições de vida, como acesso à água potável,
saneamento básico, moradia adequada, ambientes e condições de trabalho apropriadas, serviços de
saúde e de educação de qualidade.
● Nível distal - políticas estruturantes da sociedade, ou políticas “macroeconômicas”, de mercado de
trabalho e de proteção ambiental, e a promoção de uma cultura de paz e solidariedade que vise
promover o desenvolvimento sustentável, reduzindo as desigualdades sociais.
Ações estratégicas para enfrentamento das DANT (DCNT + Agravos)
São organizadas em 4 eixos:

1. Eixo Promoção da Saúde


2. Eixo Atenção Integral à Saúde
3. Eixo Vigilância em Saúde
4. Eixo Prevenção de Doenças e Agravos à Saúde

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