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ÁGUA

DISPONIBILIDADES DE ÁGUAS SUPERFICIAIS E


SUBTERRÂNEAS
A ficha temática “Disponibilidades de águas superficiais e subterrâneas” analisa as
disponibilidades hídricas em Portugal continental num determinado ano, permitindo avaliar
se o ano foi húmido, médio ou seco.

Descrição:
Os recursos hídricos são utilizados a nível nacional para diversos fins - abastecimento
doméstico, industrial, agrícola e turismo. Importa assim conhecer e acompanhar a
evolução das disponibilidades hídricas, sendo este acompanhamento mais relevante nos
períodos extremos.
O conhecimento das disponibilidades hídricas permite uma gestão mais sustentável dos
recursos, atendendo que a variabilidade climática que caracteriza Portugal gera frequentes
situações de secas e cheias. Este indicador permite conhecer as disponibilidades hídricas
existentes num determinado ano, compara com valores médios, e possibilita avaliar se foi
um ano húmido, médio ou seco.
As reservas hídricas superficiais são determinadas pela análise comparativa do
armazenamento de água disponível em 62 albufeiras, localizadas nas principais bacias
hidrográficas do país. Nesta análise são excluídas as albufeiras a fio-de-água, as de uso
privado e com diminuta capacidade de regularização.
A avaliação das disponibilidades hídricas superficiais é realizada por albufeira e por bacia
hidrográfica, mensalmente, ao longo do ano hidrológico, por comparação dos volumes de
armazenamento observados com a média mensal, que integra os registos históricos desde
1990/1991. Deste modo, assegura-se a gestão rigorosa da água disponível para os
diferentes usos.
As águas subterrâneas têm desempenhado um importante papel, ao suprirem as
necessidades de água, devido à sua capacidade de regularização interanual. A maior
parte do país (cerca de 2/3) é ocupada por massas de água indiferenciadas (unidade
hidrogeológica do Maciço Antigo), de fraca disponibilidade hídrica resultante da pequena
capacidade de armazenamento da água no substrato rochoso, sendo formações com
grande variabilidade hídrica anual, muito dependente da precipitação. Ou seja, após as
primeiras chuvas começam a armazenar água, mas no fim do ano hidrológico, no período
de estiagem, os níveis de água subterrânea são muito baixos. Correspondem a meios
heterogéneos, sem continuidade espacial, e com importância apenas local.
Para análise das reservas hídricas subterrâneas, dá-se especial enfâse aos sistemas
aquíferos, em virtude de serem meios homogéneos, com significativa capacidade de
armazenamento da água subterrânea e de regularização interanual, sendo nestes meios
onde se localizam as principais reservas hídricas subterrâneas, com importância regional.
Contudo, face à utilização destes recursos, importa conhecer a evolução das
disponibilidades hídricas em todas as massas de água, independentemente do meio
hidrogeológico. Este acompanhamento é efetuado anualmente pela APA, ao longo de
cada ano hidrológico, tendo por base a rede de monitorização piezométrica. Neste sentido,
comparam-se os níveis registados ao longo do ano hidrológico com o valor médio mensal
ou com o percentil 20 (indicador de fraca disponibilidade hídrica) da série histórica,
permitindo aferir da evolução das disponibilidades hídricas em cada massa de água.
Importa referir que as reservas hídricas, durante um ano hidrológico com precipitação
média, têm uma evolução crescente no semestre húmido (outubro a março) e decrescente
durante o semestre seco (abril a setembro). Acrescente-se que a capacidade de
regularização interanual permite minimizar o impacto das secas meteorológicas, contudo a
persistência de baixa precipitação em anos hidrológicos consecutivos pode conduzir a
situações de escassez de água.
O índice de escassez permite relacionar as disponibilidades com as necessidades e
assim aferir a procura em relação à oferta de forma a considerar se existe escassez em
cada região hidrográfica.
O índice de escassez WEI+ surge no seguimento do WEI (Water Exploitation Index), que
corresponde à razão entre a procura média anual de água e os recursos médios
disponíveis a longo prazo e permite assim avaliar o stress hídrico a que se encontra sujeito
um território. O WEI+ tem por objetivo complementar o WEI, incorporando no cálculo da
vulnerabilidade a situações de escassez, os retornos de água ao meio hídrico, bem como
os caudais ambientais. O WEI+ é assim definido como a razão entre o volume total de
água captado e as disponibilidades hídricas renováveis.
As necessidades hídricas incluem não só os caudais ambientais, como também os
volumes que devem estar disponíveis de forma a cumprir outros requisitos como, por
exemplo, a navegação ou tratados internacionais em rios transfronteiriços. Estes volumes,
calculados no âmbito do WEI+, correspondem a 10% do valor do escoamento de cada
região hidrográfica. Por retorno, entende-se o volume de água que é devolvido ao meio
hídrico após utilização pelos sectores e que se encontra disponível para ser reutilizado.
A avaliação da escassez com o cálculo do WEI baseia-se na parcela de recursos
consumidos e divide-se em quatro categorias:

• Sem escassez – países que consomem menos de 10% dos seus recursos renováveis;
• Escassez reduzida – países que consomem entre 10% e 20% dos seus recursos
renováveis;
• Escassez moderada – países que consomem entre 20% e 40% dos seus recursos
renováveis;
• Escassez severa – países que consomem mais de 40% dos seus recursos renováveis.

Esta ficha temática diz respeito a Portugal continental e será atualizada anualmente.

Objetivos e Metas:
• Conhecer as disponibilidades hídricas por massa de água;
• Comparar as disponibilidades hídricas anuais com valores médios para caraterização
do ano (húmido, médio ou seco);
• Analisar o índice de escassez por massa de água com base no conhecimento das
disponibilidades e das necessidades de água.

Análise da evolução:
Escoamento médio anual em regime natural
Escoamento (hm3)Ano húmido (80%)Ano médio (50%)Ano seco
(20%)RH1RH2RH3RH4RH5RH6RH7RH802500500075001000012500RH7● Ano médio
(50%): 1 771GRÁFICO INTERATIVO
Fonte: APA, 2019
Para a caracterização do escoamento superficial foi utilizado uma série longa de dados
para cálculo do escoamento médio anual em ano húmido (percentil 80), ano médio
(percentil 50) e ano seco (percentil 20).
A distribuição anual média do escoamento, que decorre essencialmente da distribuição da
precipitação anual média, é caracterizada por uma grande variabilidade do escoamento
mensal, a qual está presente também nas diferentes regiões hidrográficas (RH).
Em regime natural, verifica-se que as RH com maior escoamento são o Douro (RH3),
Vouga, Mondego e Lis (RH4) e o Tejo e Ribeiras do Oeste (RH5) e as regiões com menor
escoamento são o Sado e Mira (RH6), Guadiana (RH7) e Ribeiras do Algarve (RH8).

Disponibilidades hídricas subterrâneas de referência


Disponibilidade hídrica subterrânea (hm3)Disponibilidade hídrica subterrânea por área
(hm3/km2)Disponibilidade hídrica subterrânea totalDisponibilidade hídrica subterrânea
média por unidade de
áreaRH1RH2RH3RH4RH5RH6RH7RH8010002000300040000.0250.050.0750.10.125GRÁ
FICO INTERATIVO
Fonte: APA, 2019
Entende-se por disponibilidade hídrica subterrânea o volume de água que uma massa de
água subterrânea pode fornecer anualmente em condições naturais. Este volume está
intrinsecamente associado à recarga direta por precipitação. No entanto, ao nível da
massa de água subterrânea poderão ocorrer outras origens de recarga, nomeadamente as
trocas de água com outras massas de água e processos de drenagem.
A avaliação das disponibilidades hídricas superficiais através do armazenamento de
albufeiras permite avaliar o volume mensal armazenado face à média.
Armazenamento das albufeiras em dezembro de 2017

Fonte: APA, 2019


Armazenamento das albufeiras em março de 2018

Fonte: APA, 2019


Armazenamento das albufeiras em junho de 2018

Fonte: APA, 2019


Armazenamento das albufeiras em setembro de 2018

Fonte: APA, 2019


Armazenamento das albufeiras em dezembro de 2018

Fonte: APA, 2019


Armazenamento das albufeiras em março de 2019

Fonte: APA, 2019

No início do ano hidrológico de 2017/2018 as reservas hídricas superficiais estavam


significativamente abaixo da média, em nove das doze bacias hidrográficas analisadas.
Esta condição de seca hidrológica resultava de três anos consecutivos de seca
meteorológica.
No 1.º trimestre do ano hidrológico a precipitação foi abaixo do normal, pelo que houve um
agravamento das condições iniciais, conforme se observa no mapa abaixo. O 2.º trimestre
foi bastante chuvoso, principalmente o mês de março, o que se refletiu num aumento
significativo das afluências às albufeiras e consequentemente num aumento dos volumes
de água armazenada. No 3.º trimestre observou-se a recuperação das reservas hídricas
em todas as bacias hidrográficas o que permitiu a transferência interanual para o ano
hidrológico de 2018/2019.

Distribuição mensal do armazenamento em albufeiras ao longo


do ano relativamente à média histórica, na região do Lima,
Cávado, Ave, Tâmega e Douro (Trás-os-Montes)
Armazenamento (%)Armazenamento observadomédiaout-17nov-17dez-17jan-18fev-
18mar-18abr-18mai-18jun-18jul-18ago-18set-18out-18nov-18dez-18jan-19fev-19mar-
1950%60%70%80%90%100%GRÁFICO INTERATIVO
Fonte: APA, 2019
Distribuição mensal do armazenamento em albufeiras ao longo
do ano relativamente à média histórica, na região do Douro
(lmargem esquerda), Mondego, Tejo e Sorraia
Armazenamento (%)Armazenamento observadomédiaout-17nov-17dez-17jan-18fev-
18mar-18abr-18mai-18jun-18jul-18ago-18set-18out-18nov-18dez-18jan-19fev-19mar-
1950%60%70%80%90%100%GRÁFICO INTERATIVO
Fonte: APA, 2019
Distribuição mensal do armazenamento em albufeiras ao longo
do ano relativamente à média histórica, na região do Sado,
Guadiana, Mira, Arade e Ribeiras do Barlavento
Armazenamento (%)Armazenamento observadomédiaout-17nov-17dez-17jan-18fev-
18mar-18abr-18mai-18jun-18jul-18ago-18set-18out-18nov-18dez-18jan-19fev-19mar-
1955%60%65%70%75%80%85%GRÁFICO INTERATIVO
Fonte: APA, 2019
O armazenamento mensal das albufeiras permite aferir as disponibilidades hídricas ao
longo dos semestres húmido e seco do ano hidrológico, face à média histórica. Durante o
semestre húmido, em algumas albufeiras que podem fazer controlo de cheias, é realizada
uma gestão de volumes que permita o encaixe de afluências elevadas provocadas pelo
aumento de precipitação.
Analisando os dados, verifica-se que, no Norte e no Centro, o armazenamento observado
foi, até outubro, superior à média, verificando-se em outubro inversão dessa tendência. No
Sul, o armazenamento observado foi superior à média, divergindo muito da média a partir
do mês de dezembro. Face à baixa precipitação a percentagem de volumes de
armazenamento é inferior à média.
No que concerne às disponibilidades hídricas subterrâneas, analisa-se a evolução do nível
de água ao longo do ano hidrológico, comparando o nível de água subterrânea mensal
com os valores médios do nível de água subterrânea dos anos anteriores. Neste contexto,
considera-se como referência para análise, os níveis de águas subterrâneas nos meses de
outubro e abril. O mês de outubro corresponde ao início do ano hidrológico, quando os
níveis de água subterrânea se encontram mais baixos, uma vez que, na generalidade do
país, ainda não ocorreram eventos pluviosos que permitam a infiltração da água e
consequente recarga dos aquíferos. Por sua vez, o mês de abril respeita ao final do
período pluvioso, que em termos de águas subterrâneas corresponde ao final do período
de águas altas (quando os níveis de água subterrânea são mais elevados), sendo diminuta
a probabilidade de ocorrência de recarga significativa dos aquíferos a partir deste período.
Armazenamento subterrâneo no mês de outubro de 2017

Fonte: APA, 2019


Armazenamento subterrâneo no mês de abril de 2018

Fonte: APA, 2019


Armazenamento subterrâneo no mês de outubro de 2018

Fonte: APA, 2019


Armazenamento subterrâneo no mês de abril de 2019

Fonte: APA, 2019


No início do ano hidrológico 2017/2018, em outubro de 2017, verificam-se níveis
piezométricos significativamente baixos nas formações do Maciço Antigo Indiferenciado
bem como nalguns sistemas aquíferos, em consequência dos reduzidos eventos pluviosos
ocorridos no ano hidrológico 2016/2017, que não permitiram a recarga das águas
subterrâneas. No mês de abril de 2018, observa-se uma recuperação significativa dos
níveis, em consequência da precipitação ocorrida nos meses de fevereiro e março de
2018, que possibilitou uma recarga efetiva das águas subterrâneas.
Ao iniciar-se o ano hidrológico 2018/2019, em outubro de 2018, era expectável que os
níveis se encontrassem mais baixos, uma vez que, no período de estiagem não é
expectável que ocorra precipitação. Esta situação reflete-se na região sul, registando-se
níveis significativamente baixos. Por outro lado, na generalidade das restantes regiões,
observam-se valores altos resultantes da recuperação das disponibilidades hídricas e da
resiliência dos sistemas aquíferos, devido à sua capacidade de regularização inter-anual.
O mês de abril de 2019, e tendo em conta a precipitação pouco significativa do período
húmido do ano hidrológico, não permitiu a recarga das águas subterrâneas, registando-se
na maior parte do país, uma descida acentuada e generalizada, dos níveis de água,
encontrando-se em diversas massas de água, valores inferiores ao percentil 20. Esta
situação traz preocupações acrescidas em termos de disponibilidades hídricas
subterrâneas, em virtude de, até ao final do ano hidrológico, não ser expectável a
ocorrência de eventos pluviosos significativos.

Índice de escassez por região

Fonte: APA, 2019


Para Portugal, o índice WEI+ foi determinado pela APA, na elaboração dos PGRH, tendo
em consideração os seguintes dados de base:
• Escoamentos anuais médios em regime natural, associados ao percentil 50% e a
recarga de aquíferos, a partir das quais se estimou os recursos hídricos subterrâneos
disponíveis;
• Necessidades, volumes captados e volumes de retorno associados aos sectores,
nomeadamente, agrícola, pecuário, abastecimento público, indústria e turismo.

O WEI+ de 14% obtido para Portugal indica que o país se encontra numa situação de
escassez reduzida. No entanto, a mesma análise efetuada à escala da região hidrográfica,
através do gráfico, e por bacia hidrográfica, através do mapa, mostra assimetrias
regionais, decorrentes sobretudo da distribuição dos recursos hídricos.
Índice de escassez por bacia

Fonte: APA, 2019

Considerando o escoamento em regime natural associado ao percentil 50%, as bacias


com um índice de escassez superior a 20%, ou seja uma escassez moderada, são
Ribeiras de Oeste, Sado, Mira, Guadiana e Ribeiras do Algarve. As bacias hidrográficas
com um índice de escassez inferior a 10%, ou seja sem escassez, são as bacias do
Minho, Lima, Douro, Vouga e Lis.
Na análise por região hidrográfica, verifica-se que as regiões com maior escassez ao nível
do Continente são as RH5, RH6, RH7 e RH8.
Muito embora o cálculo deste índice permita identificar potenciais situações de escassez, a
avaliação efetuada demonstra a importância da escala de análise. Considera-se assim que
seria importante incorporar neste índice a capacidade de armazenamento existente em
cada região para retratar de forma mais correta as disponibilidades hídricas.
O Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH) disponibiliza o Boletim
de Armazenamento das Albufeiras de Portugal Continental bem como o Boletim de
Quantidade das Águas Subterrâneas, onde se podem consultar os dados mais recentes
relativos às disponibilidades hídricas das albufeiras e das águas subterrâneas,
respetivamente.

Última atualização:
Terça, 11 Junho, 2019
Mais informação:
Agência Portuguesa do Ambiente – www.apambiente.pt
Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos – snirh.pt
Volumes dos Planos de Gestão de Região Hidrográfica (2.º Ciclo)
- www.apambiente.pt/?ref=16&subref=7&sub2ref=9&sub3ref=848

Fonte: https://rea.apambiente.pt/content/disponibilidades-de-%C3%A1guas-superficiais-e-
subterr%C3%A2neas

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