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Doze Homens e Uma Sentença

“Twelve Angry Men”, em inglês, é de 1957. Dirigiu-o Sidney Lumet,


segundo um roteiro de Reginald Rose, que também o prodiziu juntamente com
Henry Fonda, que trabalha no filme, para os estúdios da United Artists. A
fotografia é de Boris Kaufman, sendo a direção de arte de Robert Markel,
responsabilizando-se Kenyon Hopkins pela musica original. O filme, a direção e
alguns atores foram muito premiados nos USA e na Europa. Em 1997, com o
mesmo título e assunto, foi lançado nos USA um filme pela TV americana, bem
inferior ao primeiro.

A distribuição de papéis é a seguinte: Juiz (Rudy Bond), Guarda


(James Kelly), o Acusado (John Savoca). Jurados, de 1 a 12: Martin Balsan,
John Fiedler, Lee J.Cobb, E.G. Marshall, Jack Klugman, Ed Binns, Jack
Warden, Henry Fonda, Joseph Sweenwey, Ed Begley, George Voskovec e
Robert Webber.

Numa quente tarde de verão, doze homens se fecham numa sala


abafada, no Palácio da Justiça de Manhattan, NY, para discutir e deliberar se
um adolescente porto-riquenho deve ou não ser condenado à cadeira elétrica,
acusado de ter assassinado o próprio pai. Antes, como é de praxe, o juiz
esclarece quanto a alguns critérios a serem adotados; um deles, muito
importante, fundamental, recomenda que no caso de alguma dúvida o acusado
deveria ser inocentado (na dúvida, para o réu). Esclarece mais que apenas
uma votação unânime pode levar ao veredicto. Nenhum dos jurados é
conhecido pelo nome, mas apenas pelo número da cadeira ocupada na sala do
júri.

Há três dias que os jurados ouvem os argumentos da defesa e da


acusação. Agora, na sala fechada, sem ventilação adequada, no dia de verão
“mais quente do ano”, devem deliberar. As dimensões da sala, os móveis, tudo
é desconfortável, contribuindo para que a irritação dos jurados aumente e os
ânimos se acirrem.

Os doze jurados, do sexo masculino, são todos de origem, condição


social, vida profissional e religião diferentes. Todos, de início, parecem
concordar com a tese da acusação (pena de morte), até que um dos membros
do júri começa a questionar essa unanimidade. Os jurados começam a discutir
a questão, argumentos aparecem, problemas individuais de cada deles vão
emergindo, dificultando o veredicto.

Aos poucos, os pontos de vista de cada um, em meio a veementes


discussões e até conflitos, mais ou menos abertos, vão sendo revistos. As
diferenças individuais, as incertezas, as emoções, os ressentimentos e as
mágoas, como variáveis, que premeiam o grupo, vão sendo resolvidos. Com
isso, as diferenças vão se integrando e o grupo consegue caminhar para a
decisão que a todos parece satisfazer. O que fica para nós talvez sejam as
idéias de que interagindo como o fizeram um grupo pode ser mais que a soma
aritmética dos seus membros. Num nível assim, sentimentos de respeito e
confiança podem se sobrepor aos de má-vontade, descaso, desintere.

O filme, no momento histórico (final da década de 1950) da vida


americana em que aparece, não coloca só em jogo problemas do Direito Penal
de um país, mas traz para um primeiro das cogitações de espectadores mais
atentos questões como o Macartismo, o Fascismo, o Racismo, o Comunismo.
Um dos cartazes publicitários do filme, nos USA, tinha frases como esta: “A
vida em suas mãos. A morte em suas cabeças!”

O orçamento do filme foi mínimo, cerca de $ 350.000 dólares. Foi


rodado em menos de vinte dias, segundo o roteiro de Rose, apresentado
inicialmente como espetáculo de TV. Foi Henry Fonda quem, ao se interessar
pelo tema, pediu que Rose o “expandisse” um pouco para levá-lo ao cinema.

Noventa dos noventa e cinco minutos do filme se concentram num


único “set” (a sala do júri). Alguns críticos americanos o acharam estático,
rodado em tempo real, vendo nisso um demérito. O fotógrafo, BK, já havia
demonstrado em trabalhos anteriores (On the Waterfont, 1954, e Baby Doll,
1956), o domínio completo da câmara em ambientes mais fechados.

Embora não possa ser colocado na galeria dos grandes diretores do


cinema americano, como um Martin Scorcese ou um Satanley Kubrick, Lumet é
um artesão sério e competente. Nascido em 1924, dirigiu filmes de sucesso de
público e de crítica, destacando-se dentre eles O Homem do Prego (1964),
Longa Jornada Noite Adentro (1962), Negócios de Família (1989), Um Dia de
Cão (1975), Equus (1977). Seu último filme é de 1988, O Peso de um Passado.

Doze Homens e Uma Sentença deve grande parte de sua existência


ao interesse que Henry Fonda demonstrou pelo tema. Este ator, um dos
maiores do cinema americano, nasceu em 1905 e faleceu em 1982. Dentre
seus trabalhos mais importantes, podemos citar Paixão dos Fortes, Era Uma
vez no Oeste, O Homem que Odiava as Mulheres, Mister Roberts e muitos
outros.

Doze Homens e uma Sentença apresenta alguns tópicos dignos de


registro. Muitos jurados, por exemplo, são identificados pelo trabalho ou
profissão que exercem. O jurado nº 1 é treinador de futebol em escola de
segundo grau; o de nº 2 é bancário; o de nº 3 tem um serviço de mensagens; o
de nº 4, corretor na Bolsa de Valores; o de nº 5, ingênuo e inseguro, pintor; o
de nº 11, um relojoeiro; o de nº 10, dono de uma garagem, intolerante, racista;
o de nº 8, um arquiteto, bem informado; o de nº 6 é um trabalhador típico, um
“seguidor”, que tem dificuldade para chegar a uma opinião própria; o dª 7, meio
apalhaçado, louco por baseball, um vendedor; o de nº 9, o mais velho, de início
parecendo resignado com a morte, acaba “renascendo” ao participar das
discussões; o de nº 12, bem vestido, publicitário, elegante, superficial, usa
clichês para se expressar. Um microcosmos que representa de modo admirável
o macrocosmos americano, com as suas contradições e grandezas.

Doze Homens e Uma sentença é um filme que abre várias


possibilidades de abordagem. Sua importância fica muito ampliada se
considerarmos a sua dimensão “extra-cinematográfica”. Nos anos 70, quando
dei aulas em faculdades de Comunicação, de Serviço Social e de
Administração de Empresas, esse filme foi por mim usado para seminários em
que se discutiu o tema da Opinião Pública em pequenos grupos.

Situado entre a Psicologia Social e a Política, a temática do filme é


um excelente laboratório para a investigação das origens e das características
dessa força a que damos o nome de OP. O ponto de partida para as
discussões estava, como então se colocou, no exame da OP como fenômeno
que estabelece uma relação entre o psiquismo individual e o comportamento
grupal.

Para introduzir os participantes no tema e debates, parti de uma


frase de Pascal (Pensées): “La force est la reine du monde et non pas l´opinion,
mais l´opinion est celle qui use la force.” Dentre os itens discutidos, cito: a)
definição de opinião e de atitude. A primeira relaciona-se com o sistema de
crenças e ideologias de um indivíduo. A atitude (mais concreta) é uma
tendência para agir, uma predisposição para entrar em ação com relação a
determinado assunto, de maneira mais ou menos predizível. b) procurar
escalas de medida de opiniões e de atitudes. c) a opinião é de natureza
comunicacional e interpessoal. d) terá a opinião a função de adaptar o
indivíduo ao grupo? e) é a opinião que faz a pessoa ser aceita pelo grupo? f)
como apresentar a um grupo opiniões que julgamos por ele inaceitáveis? g)
será possível uma classificação dos participantes, algo assim como “duros”
(realista, sensual, pragmático, materialista, pessimista, cético etc.) ou “ternos”
(idealista, otimista, religioso, sentimental etc.)?

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