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Análise Fílmica – 12 Homens e Uma Sentença

Discente: Guilherme Neves Stadtler

"Não se decide a vida de alguém em 5 minutos".

Qual o valor de uma vida? Algumas vidas valem mais do que outras?

A grandiosidade do tribunal abre o filme em uma panorâmica externa de baixo para


cima, que mostra a monumental fachada do prédio. Em seguida, mira-se de cima para
baixo o interior do tribunal, mostrando como as pessoas lá dentro são pequenas diante
do sistema de justiça. Comemorações de sentenças são reprimidas pelos guardas. Não é
um espaço para emoções, e sim para a razão.

Doze homens formam o júri que irá decidir se um jovem será condenado ou não à pena
de morte pelo assassinato do pai. A decisão deve ser unânime para a condenação ou
absolvição. Temos em cena doze personagens completamente diferentes, com suas
particularidades e personalidades, mas que são tratados apenas como peças do jogo da
justiça após entrarem no imponente tribunal. Seus nomes são substituídos por números,
do Jurado 1 ao Jurado 12.

Logo no início, o juiz orienta os jurados a respeito da enorme responsabilidade que está
recaindo sobre eles, apresentando a regra básica do veredicto: somente no caso de
certeza absoluta (unanimidade) os jurados deveriam condenar ou inocentar o réu. Em
caso de discordância entre eles ou possíveis dúvidas, proceder-se-á a prevalência da
inocência. Há que se ressaltar também a gravidade da pena a ser aplicada no caso de
condenação: pena de morte por crime de homicídio.

Os jurados não tem nenhum tipo de relação uns com os outros. O júri acontece num dia
quente. A sala é pequena e os ventiladores não funcionam. Todos adentram a sala e vão
passeando, conversando, tomando seus lugares à mesa, exceto o Jurado 8, protagonista
interpretado impecavelmente por Henry Fonda. Ele se posiciona em silêncio em frente à
janela, afastado dos demais. Demonstrando que ele é diferente.

Inicialmente, ocorre uma votação para verificar quem considerava o acusado culpado ou
inocente; dos doze ali presentes, onze votaram pela condenação e, apenas um optou pela
inocência, afirmando que tinha dúvidas a respeito do caso e que, portanto, manteria seu
voto, até apresentação de prova absoluta e incontestável em sentido contrário.
O único jurado que apresentou voto pela inocência do acusado inicia uma calorosa
discussão dialética a respeito dos pontos obscurecidos do caso em questão, tentando
convencer os demais de que as evidências de autoria, apresentadas pela promotoria,
poderiam não ser tão irrefutáveis e objetivas quanto pareceram de início. Sendo
persistente e persuasivo, ele vai aos poucos fazendo com que cada jurado reflita sobre
seu voto e reveja seu modo de pensar, deixando de lado preconceitos que poderiam
corromper o julgamento.

O contexto histórico desse filme é muito importante. Os Estados Unidos ainda eram um
país segregacionista, não apenas com a população negra, mas também com a população
latina. Visto que o réu não é um jovem negro, pode-se assumir que é latino, tendo em
vista o racismo escancarado do Jurado 10, que diz: “É assim que eles são, por natureza!
Entende o que quero dizer? Violentos!”. A reação dos demais jurados rende uma das
cenas mais bonitas do filme.

Um dos pontos valiosos que se pode extrair do filme é o relacionado à questão da


fragilidade da justiça e sua necessária imparcialidade. A sociedade, sendo composta de
homens - cada qual com seus pontos de vista pessoais - representa um emaranhado de
preconceitos, opiniões e valores. A justiça, como parte do meio social, muitas vezes
acaba por refletir estereótipos dos quais deveria abster-se a fim de respeitar e manter
imparcialidade jurisdicional, que, na realidade, representa a própria essência da justiça,
que é a de dar a cada um o que é seu.

A ética e a moral são questões muito presentes no filme, tanto nas discussões a respeito
da condenação do réu, como na manifestação das personalidades e, consequentemente,
das atitudes dos jurados durante o debate. Há três visões que podem ser observadas nos
jurados, principalmente nos Jurados 3 (antagonista do filme), 7 e 10. Com relação ao
Jurado 3, a definição de moral e ética pela visão de Kant e Kelsen é a que melhor se
aplica: Kant afirma que a razão é que guia a moral e a ética, não podendo deixar que as
emoções interfiram. A todo o momento, o Jurado 3 insiste nos fatos apresentados
durante o julgamento e os toma como verdade absoluta. Ele critica os demais jurados
que começam a considerar uma possível inocência do réu. A ironia é que seu
posicionamento durante o debate é completamente baseado em suas emoções mais
profundas. Ainda na análise do Jurado 3, é possível dialogar com Kelsen, que afirma
que o Direito se diferencia das demais ciências pelo seu poder de sanção: o Jurado 3 é o
mais incisivo na condenação do réu e, consequentemente, na aplicação da sanção
máxima, a pena de morte.

Com relação ao Jurado 7, percebe-se a ideia de Kant a respeito de “pessoa sensível”: ele
conhece a moral, mas não a aplica. Desde o início do filme, o Jurado 7 se mostra
desinteressado em debater sobre a culpa ou inocência do réu. Ele vota com a maioria
para acabar logo com a discussão e ir assistir a um jogo de baseball. Por fim, ao Jurado
10 aplica-se à ideia de moral e ética elaborada por Marx e Engels: a moral e a ética
refletem os valores da classe dominante. Logo, em um contexto de segregação racial, a
“ética” racista ainda predominava nos EUA, sendo o Jurado 10 um representante dela.

A principal mensagem trazida pelo filme é a relacionada à problemática das relações


grupais nos processos decisórios, onde cada indivíduo possui certas características,
condicionamentos e padrões de vida, o que acaba influenciando nos modos diversos de
encarar a mesma situação, pois cada um analisa os fatos a partir de seu ponto de vista,
dos seus condicionamentos sociais e pessoais. Esse filme demonstra a superioridade da
razão diante de concepções fundadas nas crenças, nos pré-conceitos ou costumes.

Por esse motivo não cabe aos jurados agir com a emoção, levando em conta suas
experiências de vida, suas frustrações ou seus medos, mas sim buscar minuciosamente o
esclarecimento dos fatos, analisando assim todas as possibilidades e buscando enxergar
de diferentes ângulos cada nova possibilidade a fim de poder melhor analisar e assim
tentar chegar o mais próximo possível da verdade.

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