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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Inicialmente decidimos por demonstrar os resultados obtidos, dentro dessa


pesquisa acerca da temática estudada, sob a perspectiva do psicanalista
Sigmund Freud em primeiro momento. Segundo Freud, deve-se romper com
a ideia de que, exista uma mente humana capaz trabalhar puramente com a
imparcialidade, onde tal fato seria ilusório. A explicação para isso seria dada
por meio do inconsciente humano, onde nele ocorre o conjunto de processos
mentais, que não são conscientemente pensados, mas que de alguma forma
serão expressados pelo ser humano, como por exemplo, de maneira
simples, é o que ocorre no sonambulismo, onde o indivíduo efetiva
determinadas ações de forma inconsciente e imperceptível pelo mesmo.
Estes tipos de ações, ainda podem ocorrer ao Homem em estado de sã
consciência, pórem é necessário ressaltarmos que o fenômeno sempre será
expresso de maneira inconsciente, mesmo o indivíduo estando sóbrio. É
neste ponto que encaixamos a decisão do juiz dentro da jurisdição, perante
o problema encontrado dentro deste artigo. Antes de partimos para os
resultados práticos, ainda sobre a perspectiva Freudiana, a ideologia na qual
o Homem tem para si, dependeria do produto de sua superestrutura e suas
condições econômicas, como também das tradições e ideologias passadas
de geração em geração, assim igualmente as crenças e ritos tidos como
familiares. Então desta forma, podemos perceber, diante desta análise que,
mesmo o indivíduo desejando ser imparcial, existirão fatores inconscientes,
que o impossibilitará chegar ao desejado sem qualquer resquício que não o
tenha influenciado, isto é, de fato, torna-se improvável que exista uma total
neutralidade existente na pessoa humana. Discute-se, portanto, que, a
decisão jurídica aplicada pelo juiz, dentro da jurisdição, estará sujeita de
forma inconsciente a motivações pessoais, simpatias, antipatias, por alguma
das partes dentro do processo, onde levará também a prosperar
mentalmente suas próprias convicções, afetos, desafetos, cansaço ou ânimo
e tudo aquilo que está a rodear e incidir na pessoa do magistrado, os fatores
que proporcionam o meio existente. Tais argumentos se encaixam
perfeitamente nos fatos apresentados acerca da imparcialidade humana,
perante os estudos de Sigmund Freud.

Outro ponto acerca dos resultados obtidos, podem demonstrados através do


juiz Hércules, apresentado na obra O império do Direito, de Ronald Dworkin.
Segundo o autor, Hércules seria um juiz dotado de exemplar postura
hermenêutica, que serviria como base para os demais juízes que
pretendessem levar o direito a sério. Para que ele não cometesse algum erro
dentro de suas decisões, ou fosse ludibriado por algum infortúnio, Hércules,
deveria prezar pela moralidade dentro de suas escolhas, e além disso, sentir
o peso e a importância que suas ações trariam na vida daqueles que fossem
julgados por ele. Para que seus anseios não atrapalhassem seu ofício,
Hércules deveria pautar seus argumentos e decisões em princípios inerentes
à pessoa humana, com base em razões universais, como também em
direitos fundamentais. Isso na prática seria dado de uma maneira que, ele
partiria inicialmente analisando os fatos sob uma ótica constitucional, depois
disso, ele poderia aferir as normas que são infraconstitucionais e se
encaixem no caso concreto. Ele não tentaria expandir o entendimento da
norma, sob risco de ser parcial, mas sim buscaria uma resposta histórica e
com embasamento constitucional para o litígio.

Podemos verificar que, de acordo com as noções expostas por Ronald


Dworkin, é dada por discussão que, em um caso difícil, ou até mesmo que
não o seja considerado, haveria a possibilidade tanto da discricionariedade
do juiz, como seus pensamentos, de poderem fazê-lo tomar a decisão
errada ou agir com parcialidade. Percebida essa possibilidade, o autor
viabiliza por meio do juiz fictício Hércules a melhor forma do magistrado lidar
com as adversidades que o rodeiam, com o intuito de prezar pela
imparcialidade e julgamento justo, baseados em princípios inerentes a
pessoa humana.

Partindo para resultados práticos, percebeu-se que, diante de diferentes


períodos vivenciados pela humanidade, o conceito de imparcialidade, é
posto em ação de diferentes maneiras dependendo do contexto. Na idade
média, era muito comum o uso da tortura dentro do processo de julgamento,
onde o indivíduo que era acusado por determinado crime, poderia ser
torturado, para aferir-se sua possibilidade de ser culpado ou não pelo delito.
Pórem questionamos aqui, a inexistência de uma defesa plausível para o
acusado, uma vez que, este era submetido à tortura, o indivíduo, mesmo
que fosse inocente, em algum momento não resistiria ao amargor da tortura,
e concordaria em assumir que seria culpado, consequentemente, ao assumir
a culpa, caberia a este a pena de morte, comumente dada pela fogueira ou
forca. Nesse período, esta forma de julgamento, era considerada justa e
imparcial, na visão de reis, nobres e o clero, porém, para aqueles que não
tinham algum privilégio na sociedade, ou eram perseguidos por conta dos
seus ideais, acabavam por suas chances de defesa, serem praticamente
nulas.

Outro ponto que podemos destacar acerca dos resultados obtidos foi o
Volksgerichtshof, o Tribunal do povo alemão, na qual funcionou entre 1934 e
1945. Neste tribunal, instituído por Adolf Hitler, tinha como objetivo julgar
acusados de crimes de traição à pátria, contra a segurança e contra o
regime Nazista. Um dos principais nomes deste tocante foi Roland Freisler.
Dentro deste tribunal estima-se que tenham sido sentenciadas mais de 5000
pessoas por pena de morte. Claramente, Freisler estava a serviço do
regime, desta forma mesmo que devesse agir com imparcialidade, por ser
um magistrado e atuar dentro da jurisdição representando o Estado, é
explícito que dado princípio foi fortemente violado, estando sob detrimento
das ideias vigentes naquele contexto. Sua atuação foi tida como grave
desvio de lei, e submissão da justiça e seus princípios, sob a ordem do
regime Nazista. Todos esses fatos aconteciam sob a premissa de que, o
tribunal agia pela ordem, pelo direito e pela liberdade.

Fazendo uma breve comparação dos resultados encontrados com outros


estudos acerca do tema, pode-se conferir que de acordo com Guilherme e
Filho (Revista Pensamento Jurídico, São Paulo, VOL 13, N° 2, 2020, Pág.
21) ´´Para que se possa efetivamente respeitar as emoções no direito (na
norma, no processo e na decisão) não se poderá negá-las ou ignorá-las
mas, ao contrário, dever-se-á admitir sua existência e aceitar que a carga
emocional está sobre os ombros de todos que participam da construção de
um sistema ou ordenamento jurídico, desde o processo político, até o ato
decisório último do julgador que se pretende ser imparcial e que aplica o
ordenamento às causas levadas ao Poder Judiciário``

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