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Gerson Lopes Monica Maia

Cerson Lopes Monica Maia

Sexualidade e Sexualidade e
Envelhecimento

Envclhecimento "Possodizer que este livro


é serenoe belo; agradou-meà

primeira vista. Com seu jeito


simples de dizer coisas, com
seu jeito sincero de ser, espero
e acredito que vá tocar
e
muitas muitas pessoas, dan
do-lhes força e coragem para
tornarem suas vidas mais ri
cas e prazenteiras.
A
obra é clara, precisa e con
creta, sem ser mecânica ou ári
da, dando uma perspectiva in
formativa e filosófica, vendo
o envelhecer com ternura e
possibilidade. Os poemas ci
tados temperam o livro com
afeto e com amor. Gostei dele.
Fecundado e gerado Sexua
lidade e envellhecimento nas
ceu da união de dois seres que
se encontram na mesma pal
xão, ou seja, o amor pela ciêne
cia, pela arte, pelo trabalho
cres
pela vontade de evoluir e
cer. Gerson e Mônica entrega
ram, neste livro, o produto de
suas vidas. Brindaram-nos com
alguns toques de sua sabedoria

editora
SARAIVA
Gerson Lopes Mônica Maia

Sexualidade
Envelhecimento
ENVELHE... SENDO COM SEXO

3 de loio de J9 916
3ª edição – 1995

editora
SARAIVA
ISBN 85-02-01497-8
Copyright 1994 by Gerson Lopes e Mônica Maia
Copyright desta publicação 1994 by Saraiva S.A. Livreiros Editores
Todos os direitos reservados

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Lopes, Gerson Pereira


Sexualidade e envelhecimento envelhe sendo
:

com sexo / Gerson Pereira Lopes e Mônica Bara Maia.


3. ed. -
São Paulo Saraiva, 1995.
:

Bibliografia.
ISBN 85-02-01497-8
1. Envelhecimento 2. Sexo (Psicologia) 3. Velhos
Comportamento sexualI. Maia, Mônica Bara. Il. Título.
Aos nossoS pais,
CDD-612.67
95-2220 NLM-WT104
Maria Lúcia e Darcy,
Índices para catálogo sistemáico: Maria Aparecidae José Henrique,
1. Envelhecimento e sexualidade :
Ciências médicas
612.67
2. Sexualidade e envelhecimento : Ciências médicas pela presença que se faz grande
612.67
atémesmo na ausência.

editora
SARAIVA
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2
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Florlanópolis: (048) 244-2748 Recife: (081) 421-4246 /421-2474 Vitórla: (027) 227-9856/ 222-1044
AGRADECIMENTOS

nossos mestres, Wolber, Ricardo, Mabel e Rita


Aos nos passa
Andréia, pois, mais do que conhecimento,
ram sentimentos.

es
Aléxia e Marcelo, pelo
Aos nossos companheiros,
para que este livro se
tímulo constante e paciência
tornasse realidade.

Aos colegas do Instituto, Luiz Otáio, Cláudia, Leo


nardo e Malcolm, companheiros de muitas viagens
científicas.

que
Aos profissionais de saúde/educaçãoe "velhos",
nos possibilitaram aprender durante o processo de
ensinar.

A Suely Pedro dos Santos, que esteve


conosço, com
sua amizade e orientação, durante toda a gestação e
parto do Sexualidade e envelhecimento.

5
SUMÁRIO

Prefácio, 9
Apresentação, 11

Introdução, 13

Em velho ser (envelheser), 20


Climatério feminino e masculino, 3
1

O
fim das menstruações (menopausae
climatério), 33
E no homem, fim de quê? (andropausa), 42
A gravidez e sua prevenção, 51
papel dos hormônios na sexualidade, 58
O

O
ato sexual normal, 66
Modificações da função sexual, 77
Problemas sexuais, 86
Mitos e crendices sexuais, 102
107
Doenças e drogas que afetam a sexualidade,
Sexualidade da pessoa só, 120

Bibliografia de apoio, 133


Sobre os autores, 135
PREFÁCIO

O organisimo apresenta, em sua evolução biológica,


modificações que lhe são peculiares.O desenvolvimento das
características sexuais secundárias típicas de cada sexo de
ende, sobremaneira, da ação hormonal, ou seja, dos esteróides
sexuais.
E a sexualidade? Comno bem assinalam os autores
Gerson Lopes e Mônica Maia, é uma forma de expressão a
pessoal, que se adquire e é aperfeiçoada durante toda vida.
ou da
Não terminaria com a instalação da menopausa
andropausa.
Sexualidade e envelhecimento traduz a vivência de um
dos mais experientes sexologistas brasileiros, que, junto com
Mônica Maia, bióloga educadora sexual, promove, através
e

deste livro, uma leitura agradável, leve e algumas vezes


pro

funda sobre o processo de envelhesendo com sexX0.


Sexualidade e envelhecimento coloca em discussão
uma série de angústias, dúvidas e mitos que afligem não
apenas amulhereo homem, comotambémo médico em geral
e, em particular, o ginecologista.
Creio que esta obra servirá para esclarecer muitas
dúvidas existentes e derrubar inúmeros mitos já consolidados.
Além disso, mostra, com clareza, que a sexualidade não
termina com o envelhecimento. Ao contrário, com amadu
o
recimento as relações entre os casais vão se solidificando cada
vez mais, preservando a sexualidade e permitindo melhor
relação sexual.

Edmund Chada Baracat


Professor titular da disciplina de Ginecologia
da Escola Paulista de Medicina
APRESENTAÇÃO

para
Duplo prêmio foi a determninação dos autoresa
que apresentasse este livro aos seus leitores: distinção,
meu nome
em si, que me foi conferida pela lembrança do
o
para a prazerosa tarefa e outro, ainda maior, qual seja
e um de seus
deleitar-me pela leitura de todos de cada
interessantes e bem apanhados capítulos.
Gerson e Mônica foram, ao mesmo tempo, técnicos seu
e eruditos, leves enquanto profundos e construíram
médico-vi
livro sobre extensa base de palpável cultura e do
vencial e literária. Aspectos da fisiologia da mulher
as dimensões
homem na maturidade (sem perder de vista e a
social e cultural); a gravidez tardia (sua prevenção
discussão – atual entre aspectos positivos
e
negat
a re
vos do ser mãæ após os quarenta, cinqüenta...");
esquecer a Terapia de
lação hormônios/sexualidade (sem
Reposição Hormonal); as modificações da semprefunção sexual
decorrentes do envelhecinmento (enfocando ambos
os sexos); os problemas sexuais (de índole orgânica, psi
so
cossocial e iatrogênica); uma análise muito bem feitauma
sexXO na velhice;
bre os mitos e crenças respeito do
a

de
abordagem compreensiva e clara das conseqüências
como dos efei
certas doenças sobre a sexualidade, assim
em seu trata
tos que têm os medicanmentos empregados a se
mento, culminam com um magistral capítulo sobre con
em especial),
Xualidade da pessoa só (da mulher só,
nesse extremo da vida.
dição por demais freqüente expostos
As idéias e os conceitos são claramente
que tiveram a habilidade de fazê
pelos autores deste livro,
entre citações de Carlos Drummond de Andrade, Wol
lo e Johnson,
ber de Alvarenga, Jorge Luis Borges, Masters Bianco,
Helen Kaplan, Freud, Caetano Veloso, Cáceres,
Cora Co
Schiavi, Anna Marina, Kinsey, Betty Doodson,
torna este
ralina e Woody Allen, entre outros. Esse fato
11
livto impar, interessante e extremamente absorvente, além
de instrutivo. E, exatamente, é isso que o torna indispen INTRODuçÃo
sável para quc se vislumbre descomplicadamente a essên
cia dificil (impossivel?) de se abstrair de tratados formais
ou clássicos sobre o tema.
Se me admiro dessa constatação? Não, clarO que Vivemos a era da alta velocidade na evolução
não. Era essa a única premissa que estabeleci para mim tecnológica. PresenciamoS essa rapidez em todas as árcas
próprio antes de encetar a tarefa de apresentar o livro do estudo cientifico, desde a Genética até a Informática
Sexualidade e emvelhecimento, de Gerson Lopes e Môni Em 1953., Watson e Crick' desvendaram a estrutura da
ca Maia. A bem da verdade, conheço de perto o Gerson, molécula de DNA, ou código gentico. Hoje, quarenta e
que, ao aproximar-se de mim nos últimos anos, deu-se a um anos depois, as possibilidades que a engenharia gené
conhecer como quem poderia lograr esse intento. Môni tica nos oferece superam as peripécias de qualquer filme
ca, escolhida pelo Gerson, não poderia destoar, alegra-me de ficção científica.
tê-la conhecido por esse caminho. ParabenizO ambos, por Entretanto, a mente não acompanha a velocidade
sua realização, enquanto agradeço o privilégio de haver da tecnologia, que, possibilitando um avanço de cem anos
lido, em primeira måo, este best-seller. Estou seguro de em dez, cria uma distância entre o senso comum e a
que a sua proposta de criar condições para que pessoas ciência. A população, em geral, não incorpora de ime
maduras c idosos trilhem os caminhos de sua própria se diato os avanços tecnológicos no seu cotidiano e, em con
xualidade e tenhanm mellhor qualidade de vida'" foi atingi sequência, nos seus valores e em suas posturas de vida,
da de maneira plena, na medida em que, página após pá
já que as mudanças na mente acontecem de modo mais
gina, me foi dado sentir que "a sexualidade uma forma lento.
de expressão pessoal que não tem um momento para co
meçar nem para terminar"". Neste fim de século, um dos resultados do avanço
Ainda que sem a propriedade dos autores, parece-me tecnológico na Medicina foi a capacidade de propiciar às
pessoas a possibilidade de viver trinta anos a mais do que
oportuno 0 poema de Fernán Silva Valdés, EI árbol"": no inicio do século. Atualmente, 20% da população dos
Los árboles que no dan flores
Estados Unidos tem mais de cinqüenta e cinco anos. O
Dan nidos, Brasil vive um aumento significativo do seu número de
idosos, sendo que em menos de vinte anos o pais passou
Y umnido és una flor com pétalas de plumas,
do I62 para o 109 lugar entre os países de maior popu
Un nido és una flor color de pájaro
lação idosa do mundo. Calcula-se que, no ano 2025, te
Ciyo perfume nhamos um aumento de cinco vezes da sua população
Entra por los oidos total e de quinze vezes da sua população de idosos.
Los árboles que no dan flores
Dn nidos... A primeira reação da sociedade a qualquer mudança
éo desprezo. Se em um momento inicial cla joga pedra,

Ronald Bossemeyer
1L Srayer, Blochemstry, 3. ed, Nova York W.H Freeman Compay, 1988,p 6
Presidente da Sociedade Brasileira do Climatério (SOBRAC) 2. Jornal do Brasil, 24 jul. 1988, 19 caderno, p !8

12 3
depois incorpora por pressão ou necessidade. Isso talvez adulta quando se rompe o equilíbrio entreo anabolismo
explique a condição preliminar do aumento da população (biossíntese) e o catabolismo (degradação), passando
na terceira idade para que, em seguida, se verifique sua predominar os processos degenerativos, que se acentuam
aceitação social. paulatina e inexoravelmente até a morte. Em outras pa
A longevidade é um aspecto relativamente novo na lavras, o catabolismo, que constitui a fase de destruição
história da humanidade e ainda desconhecemos muito celular, é maior com o avançar da vida e menor na in
sobre a dinâmica entre a pessoa idosa eo seu meio am fância e na adoles cência, etapas em que predomina o
biente, em particular no que diz respeito às questões re anabolismo. Um exemplo disso é a maior rapidez dos
processos de cicatrização em crianças, quando compara
lativas à sexualidade. Em geral, ojovem se propõe a aju
dar o idoso e, além de ter dificuldades para entrar no dos com adultOs e idosos.
referencial do velho, é portador dos preconceitos sociais A cultura ocidental tem sido bastante ineficaz no
e sexuais da nossa cultura. E natural, portanto, que, ao sentido de absorver e integrar os seus idosos, que acabam
lidar com osexo na velhice, sejamos incapazes de assimi se tornando um estorvo para a família. Os próprios ido
lar, entender e responder às pessoas dessa faixa etária. sOs, em sua maioria, não têm muita clareza do que fazer
com o resto de vida que lhes resta apóso limite social
As dificuldades começam na definição do que seja
mente definido como o fim do período produtivo'. E
envelhecimento. Observamos na literatura especializada uma fase crítica para o indivíduo, em especial em nosso
uma certa confusão com relação aos termos climatério,
menopausa, velhice e terceira idade. Grosso modo, a meio, que valoriza mais as perdas do que os ganhos. Por
outro lado, na cultura oriental, crise não possui apenas
terceira idade corresponde à velhice. A Organização uma conotação negativa de perda, mas também uma po
Mundial da Saúde estabelece o limite cronológico de ses
sitiva de ganho através da oportunidade de crescimento.
senta e cinco anos para o início da velhice. Entretanto, Seria, de fato, o processo do envelhecimento acompanha
alguns autores, embasados no aumento da expectativa de do apenas por perdas? Por não acreditarmos nisso é que
vida, tm proposto a quarta idade, que começaria aos tentaremos demonstrar o contrário, como vocês irão ob
oitenta anos. Mas a terceira idade não pode ser medida servar durante a leitura deste livro.
apenas pela cronologia, pois é um estado multifatorial
que inclui as condições fisiológicas, psicológicas e so Pensamos em abordar as questões sexuais a partir
ciais do indivíduo. dos quarenta anos, que, por ser anterior à terceira idade,
é uma preparação para essa fase e já sofre a pressão so
Para alguns teóricos mais radicais, o processo de Cial que intitula as pessoas de velhas",
velhice fisiológica começa com o nascimento e só termi
na com a morte. De fato, o processo de envelhecer é Não h por que temer a idade como fator de dimi
gradual e decorre de uma seqüência de acontecimentos nuição do prazer sexual. A idade não dessexualiza o in
divíduo, a sociedade sim. Existe uma alteração da res
imperceptíveis que transcorrem de modo muito lento.
Durante toda a vida o organismo sofre modificações pro posta sexual qualitativa e quantitativamente com o avan
morrem e çar da idade, sendo que essas modificações não se disso
gressivas quandoinúmeras células envelhecem, ciam do contexto geral de outras forças orgânicas tam
são substituídas ou não. Alguns estudiosos caracterizam
o início do envelhecimento em uma determinada etapa bém alteradas pelo tempo, como locomoção, digestão e

15
14
circulação. Por isso, a idade não pode ser apontada como como sendo as
Ihecimento normal é comumente definido com a
o fator central de problemas sexuais, que não são prerro
mudanças psicológicas e fisiológicas relacionadas
gativas das faixas etárias mais elevadas. ASsim, o orga idade e não associadas com doen
ças; entretanto, ainda
nísmo como um todo que se modifica com idade,
e mudanças fisiológicas e
a
não está claro quais seriam essas
dentro desse contexto a sexualidade também se transfor psicológicas.
ma, mas não se torna menos agradável. Aqui nos lembra nos ido
mos da história de um cliente de 55 anos que, quando Sabemos que a sexualidade estápresente por
sos e que, quando não reprimida, pode ser vivenciada
abordado sobre sua sexualidade, nos disse: "Se na juven
uma pessoa sadia até o fim de sua existência. Não há na
tude meu futebol era excepcional, agora é normal. Se
minha memória era excepcional, agora é normal. Se se biologia do envelhecimentonenhum fator que encerre dea
xualmente eu era excepcional, agora eu sou normal'". A forma automáica a função sexual. Acreditamos que
sexualidade das pessoas acima de quarenta anos, bem dificuldade de aceitação da sexualidade do indivíduo ido
como dos idosos, não ë necessariamente pior nem melhor so estámuito ligada ao estereótipo de sexualidade vincu
do que a dos jovens, é apenas diferente. A ignorância, no lado pela mídia e incorporado no inconsciente coletivo.
sentido de desconhecer, faz com que as pessoas persis Esse estereótipo restringe a idade de dezoito a quarenta
e cinco anos e o tipo fisico da beleza jovem, saudável e
tam em manter uma expectativa do padrão sexual da ju
ventude, incompativel com as mudanças fisiológicas da perfeita como os únicos capazes de desfutar os prazeres
resposta sexual que se iniciam a partir dos quarenta anos. da sexualidade e do sexo.
Se perdemos em quantidade, podemos ganhar em quali Podemos observar esse estereótipo em algumas
dade através da experiência de vida. manifestações da mídia. Em 1991, a TV inglesa veiculou
Üma das mais significativas contribuições dos pes uma propaganda na qual os protagonistas, um casal de
quisadores Masters e Johnson foi de terem estudado a 80anos, se beijavam cinematograficamente. Os telespec
sexualidade das pessoas idosas, apresentando seus resul tadores britânicos, acostumados com tóridas cenas amo
tados, em 1966, no livro A resposta sexual humana. Pela rosas, escandalizaram-se com essa cena, provavelmente
primeira vez na história da sexologia destruiu-se o este por causa da idade dos atoress. Na telinha nacional, po
reótipo da velhice assexuada. Contribuição notável, tão demos destacar dois comerciais que eXploram lados
importante como a de Freud4, que, no início do século, opostos da sexualidade dos idosos: um de shampoo, que
destruiu o mito da infância sem sexo nos Três ensaios infantiliza a sexualidade de um casal de idosos que to
Sobre a teoria da sexualidade. mam banho juntos em uma banheira; e outro, sobre for
A fisiologia do processo normal do envelhecimen no de microondas, que explicita uma sexualidade adulta
to e a da sexualidade nesse contexto ainda são confundi e madura no dizer da protagonista: *Com um forno de
das com os efeitos deletérios de algumas doenças. E bom microondas, me sobra tempo para fazer outras coisas.
lembrar que envelhecer é diferente de adoecer. 0 enve Sexo, por exemplo". A sociedade continua estranhando
as manifestações da sexualidade dos mais velhos.
3. W. Masters e V. Johnson, A resposta sexual humana, São Paulo: Roca, 1984,
p. 183-222.
Precisamos redimensionar nossos valores de sexua
4: S. Freud, Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de
Sigmund Freud,v. VII, Rio de Janeiro: Imago, 1972, p. 177-212. 5. IstoÉ, 7 ago. 1991.

16 17
lidade e sexo. A sexualidade é um aspecto inerente daa nar. A sexualidade não começa na puberdade
e no
personalidade humana, que estápresente em' nós desde termina na andropausa/menopausa.
vida intra-uterina até o momento da nossa morte. A fe o enve
cundidade não é o objetivo único da sexualidade. Ë pre Mesmo que a nossa sociedade reforce que
e
ciso humanizar o ato sexual independente da procriação. lhecimento é sinônimo de perda de poder de possibilie
ao amor
dades, acreditamos que terreno é propício
o
A união sexual simboliza a busca da unidade, a realização
ao sexo, enfim vida,
à
plena do ser.
Não temos a pretensão de dar uma receita de bolo
Durante muito tempo os conservadores delegaram
à Biologia a responsabilidade pela crença de que sexo sobre a sexualidade, que possa ser aplicada de maneira
universal. Esperanmos criar condições para que as pessoas
sinônimo de reprodução e que o único sexo legítimo era uma
o que tinha a procriação por finalidade, ou por possibi maduras e idosas trilhem seus próprios caminhos, dese en
a
lidade. Entretanto, a Biologia sempre soube que essa não maneira digna, amorosa e decente, ajudando-as
era a finàlidade do Sexo. Segundo o pesquisador Edward contrar sexualmente, o que se traduzirá em melhor qua
lidade de vida. Essa é a proposta deste livro.
Wilson, estudioso do comportamento dos animais sociais,
entre eles o homem, "o sexo é básico para a biologia
humana; éum fenômeno multiforme que permeia todos
OS aspectos da nossa existência e assume novas formas a
cada passo no ciclo da vida. Sua complexidade e ambi
güidade são devidas ao fato de o sexo não ter na repro
dução o seu objetivo primordial (...) A sexualidade pou
co ou nada tem a ver com a reprodução, mas tem muito
a ver com a união%, ou seja, com a formação do víncu
lo do casal.

Podemos tentar perceber a sexualidade segundo


duas vertentes. A primeira diz respeito àsexualidade bio
lógica e reprodutiva, e a segunda diz respeito à sexuali
dade erótica ou de promoção do prazer. Assim, pode
existir um envelhecimento biológico, porém o erotismo
persiste. O sexo desaparece com o fim da vida, e no
com o avançar da idade.
A sexualidade é uma forma de expressão pessoal
que não tem um momento para começar nem para termi

6. E. O. Wilson, Da natureza humana, São Paulo: Editora da Universidade de São


Paulo, 1982, p. 121.

18
19
EM VELHO SER (ENVELHESER) capazes de rever valores, crenças e limites, reinterpretan
do o processo de forma positiva. Como bem ilustra o
exemplo do artista plástico Henry Vitor", de 53 anos:
Com o passar dos anos descobri que tinha
Morrer de modo prematuro ou envelhecer? Diante
dessas únicas alternativas, devemos optar por envelhecer, tempo para andar mais devagar, tempo
não de forma passiva e sim como um guerreiro em bus para ver uma árvore florir. Me dei conta
ca de qualidade de vida.
que podia plantar o meu próprio caminho.
Como as pessoas em geral reagem quando perce Hoje eu enfeito o meu chão.
bem que estão envelhecendo? Em nossa prática clínica e
em oficinas de vivências com pessoas adultas maduras, O
pintor japonês Hokusais expressou assim o enve
percebemos diferentes formas de reação, que podemnos lhecer:
dividir em inadequadas e adequadas.
Desde os seis anos que eu tinha a mania de
As reações inadequadas podem se manifestar pela
desenhar a forma das coisas. Quando
passividade, neurose ou negação. A reação passiva se
traduz na aceitação aparentemente tranqüila do envelhe estava com cinqüenta, havia publicado uma
cer e em geral ocorre em pessoas de estrutura intelectual infinidade de desenhos; mas tudo que
limitada, emocional rígidae com pensamento operacional produzi antes dos setenta não é digno de
(matemático). No geral, esses indivíduos acabam por de
ser levado em conta. Aos setenta e três
senvolver patologias psicossomáticas úlceras pépticas,
e
cólon iritável gastrite-, como resultado da não ex aprendi um pouco sobre a verdadeira
pressão de afetividade e ausência de fantasias, e simples estrutura da natureza, dos animais, plantas,
mente se entregam ao inevitável. A reação neurótica, pássaros, peixes e insetos. Em conseqüên
que ocorTe em indivíduos com comportamentos de inse
gurança, excesso de autocrítica, culpa e postura de víti cia, quando estiver com oitenta anos, terei
ma e passividade diante da vida, consiste na extrema re realizado mais progressos. Aos noventa
sistência ao envelhecimento. Os indivíduos apresentam penetrarei no mistério das coisas. Aos cem,
sintomas de irritabilidade, insônia, ansiedade e depressão, por certo, terei atingido uma fase
e necessitam de ajuda psicoterápica. A reação de nega
ção é a que resulta em um estado de hiperatividade pro maravilhosa. E, quando tiver cento e dez
fissional, afetivo-sexual, social ou esportiva, como forma anos, qualquer coisa que eu fizer, seja um
de sublimação desse momento existencial. Éum mecanis ponto ou uma linha, terá vida.
mo de defesa, que determina uma forma de conviver com
as incertezas e angústias do processo do envelhecer.
7. Henry Vitor, Revista de Bordo da TAM.
8. Citado em C. Weissman, "Maturidade e envelhecimento", Revista
A reação adequada ocorre entre as pessoas que são Geriatriae Gerontologia, v. 3 (3/4) jan./ mar., abr.ljun. 1977, p. 11.
Brasileira de

20 21
Também nosso querido Carlos Drummond de An pres
Asocicdade só revê os seus valores quando
drade registrou seus sentimentos com relação ao envelhe o
sionada. Como nos cnsina Wolber de Alvarenga, idcal
cer em umapocsia denominada Fazer "70anos '", dedi a
cada ao seu amigo José Carlos Lisboa: seria que as pessoas quc compòcm sociedade conferis
sem vida scntido de "valor" enåo de "importância'
à o
Essas duas palavras podem parccer sinônimas, mas no
são.
Fazer 7Oanos não ésimples. O sentido da importância" coloca o individuo
vida exige, parao conseguirmos,
A
como sccundário, sua ação é tercrepresentar, e sua re
perdas e perdas no intimo do ser, ferênciaéo cxterno, ao contrário do sentido doe "valor'",
como, em volta do ser, mil outras perdas. que o coloca cono primário, sua ação ser, sua refe
rência o
interno. Um direcionarnento de vida pautado
na "importância'' ambiciona a aparência, a ompetição,
Fazer 70 anos é fazer a possc, a velocidade, a supcrlicialidade c o poder. Um
dirccionamento pautado no 'valor" busca o prazer, a rea
catálogo de esquecimentose ruinas.
lização, a profundidade e o bem-cstar. As pessoas im
Viajar entre o já-foi e o não-será. portantes'" preferem o quc nãopossuem ao que possuem
É, sobretudo, fazer 70 anos, c apresentam sentimentos constantes de insatisfaço: in

alegriappojada de tristeza. veja, vazio, raiva e medo. Ao contrário, quem tem "va
lor'' alcança os sentimentos de paz interior, afeto e feli
cidade. Em uma sociedade como a nossa, talvez. o equi
José Carlos, irnão-em-Escorpião! librio esteja entre essas duas posturas, uma favorccendo
Ó

a sobrevivência, e a outra, 0 crescimento do indivíduo.


Nós o conseguimOS
E sorrimos O medo de envelhecer e, como consequência, o de
de uma vitória comprada por que preço? morrer acompanham o ser humano desde os primórdios
da civilização. A busca do elixir da juventude e da lon
Ouem jamais o saberá? ga vida faz parte da nossa história. Mas a tristeza está na
morte em vida, e viver nada mais é do quc agirmoS como
A sombra dos 70 anos, dois mineiros seres criativos, pois a monotonia da repetição cquivale à
em silêncio se abraçam, conferindo morte. E por isso que o sexo monótono, habitual, mecá
nico e tedioso se veste com a mortalha da frigidez femi
a estranha felicidade da velhice. nina ou masculina. Não hánada mais dramático para a
sexualidade dessa faixa etária do que a monotonia sexual.
muito freqüente entre os cônjuges. Ea morte sexual an
tecedendo a morte fisica.

9C.D. Andrade,Amarse aprende amando, Rio de Janeiro: Record, 1985, p. 41.


l0. W. Alvarenga, palestra proferida em Itabira, out 1981

22 23
A escolha entre vida e morte depcnde basicamentc Esse mcsmo pocta nos descreve as sensações
e os
os únicos responsáveis
da postura de cada um, c somos scntimentos do scu envelhecer, em "Paisagem"i2:
por cla. Os outros podem dificultar ou facilitar o meu
no
Viver, mas eu sou o agente desse procSso e outro é
o
e
máximo o veiculo. Se vivermos de forma criativa autô
Vireipoeta
noma, estaremos capacitados quando a ordem natural
nos empobrecer de habilidades, coisas e pessoas para Esse arrombador de portas
criar condições de vida que possam nos realizar e alegrar. Que comn celestiais oferendas
Se vivermos de forma condicionada, repetitiva, que não Invade corações
se liberta do que foi ensinado para aprender o novo, a Mais cautos
velhice se tornaráum fardo.
Não énossa pretensão, nem nos julgamos com ca Virei expressão
pacidade para tal, aprofundar a discussão em torno dos Expressão de um canto
aspectos psíquicos do envelhecimento. Entretanto, acre Sem cantar
ditamos em uma visão otimista desse periodo. Deixo Magia divina
uma palavra de esperança. Mais do que esperança, de
realidade. Que os tempos são ótimos e o futuro será bem Virei andarilho
melhor."" Ouvimos isso da poetisa Cora Coralina, pela De infinitos espaços
televisão, em uma de suas comemorações de aniversário. Alma alada
Para Wolber de Alvarenga!, parafraseando o Amar De ancestrais riquezas
é... ,o Envelhecer é...": A espalhar no ar
O doce aroma
Do eterno
descobrir o novo, o que não foi ensinado;

• viver o novo, o
inesperado;
Por isso;
•0 cara a cara com a falta de controle e previsão; A se
saudade aportou

fazer o que se fazia antes, mas de modo diferente; Num canto de mim

ver o que se via antes, mas de modo diferente:; E me fez mais terno.
A dor sofrida
perder o que conhece e ama (o velho) para ganhar
*

o desconhecido (o novo). Me amaciou o coração


Me fazendo mais puro

11. W.Alvarenga, publicação interna do Instituto Cavalcanti, Centro de Estudos em 12. W.Alvarenga, publicação interna do Instituto Cavalcanti, Centro de Estudos em
Sexualidade Humana. Sexualidade Humana.

24 25
A
falta de esperança a existência a se realizar na açãol3, Amor é união, e uníão
meu desejo
Tornou mais leve é mais que aproximação. O amor verdadeiro
é
aquele que
E essa grande, imensa provém de um sentimento que não ficou na periferia, mas
Vontade de amar que penetrou no âmago e, apesar disso, não perdeu a in
Tornou mais doce o meu semblante dividualidade. E é a esse "penetrar em' do amor (inti
Envelheci mare, em latim) que chamamos intimidade,
Mudei. Amor e intimidade amadurecidos são a união, sob
a condição de preservarem a própria integridade, pois
Mudei muito
Hoje sou como uma flor no amor ocorre o paradoxo de que dois seres sejam
Do mato um e contudo permaneçamn dois. (Erich Fromm)14
Que não anseia por companhia
Nem admiração Se a intimidade é um dos componentes do amor e
E
sabe'gue a vidaé se quanto maior o tempo de convivência maior o amor,
Breve podemos acreditar que o tempo éum grande afrodisíaco
E que sSÓo viver sexual. Desde que não existisse a perversão da monoto
Vale a pena. nia conjugal, que infelizmente só éboa para alguns pri
vilegiados.
Fiquei assim
Diferente A civilização ocidental acredita que tempo é des
gaste. "E preciso trocar rápido este carro, senão o seu
Poeta sem versos modelo ficaráultrapassado. "Meu Deus! E este com
Ourimna
putador que já não é tão veloz." E assim estamos nos
Um ser Sódistante
comportando em nossas relações humanas, trocando o
De mãos dadas "velho e desgastado'" pelo novo"". Não estamos fazen
Com sua própria do a apologia de que uma relação não deva ser dissolvida
Sina. em nenhuma circunstância. Estamos tentando amenizar a
idéia de que uma relação pode ser facilmente dissolvida
frente a um fracasso. A etiqueta é um bom símbolo do
descartável, pois denuncia a preocupação com a aparên
Eo amor, onde fica nesse momento do envelhecer? cia, e Carlos Drummond de Andradels usou-a no seu
Quando nos referimo ao amor, fazemos uma associação poema “Eu, etiqueta'", do qual transcrevemos alguns
imediata com uma pessoa ou um objeto. Se ama, ama al trechos para que possamnos refletir sobre eles:
guém ou alguma coisa. Mas o amor é mais; éuma atitu
de, uma orientação de caráer que determina a relação de
13.J. Chevaliere A. Gheerbrant, Dicionário de simbolos, 5. ed., Rio de Janeiro: José
uma pessoa para com o mundo e a vida. Olympio, 1991,p.46.
14. E. Fromm, Aarte de amar, Belo Horizonte: Itatiaia, 1988, p. 32.
O amoréa pulsão do ser, a libido que impele toda
15.C.D. Andrade, Corpo-novospoemas, 2. ed., Rio de Janeiro: Record, 1984,p. 85.

26
27
Em miìnha calça estå grudado um nome pertório de alternativas para administrar crises inerentes
a todo relacionamento sadio. De fato, outras possibilida
que não men de batisno ou de cartório, e
des estão ao nosso alcance, além da solução rápidaou
um none ... estranho. (...) imediata da separação: respcito à individualidade do
troe àprópria, cooperação, compartilhamento de alegrias
Meu lenço, meu relógio, mneu chaveiro,
e tristezas, e incrementos eróticos na vida sexual, para
minha gravata e cinto e escova e pente, que esta não caia na monotonia.
meu copo, mìnha xicara,
Aniversários definem fases marcantes do ciclo da
mìnha toalha de banho e sabonete, existência. O tempo de relação conjugal também é come
casa
men isso, meu aquilo, morado através das bodas ou dos aniversários de
mento, que são representados por materiais mais precio
o
desde a cabeça ao bico dos sapatos, sOs, mais sólidos e mais raros à medida que aumenta
são mensagens, (..) tempo de uniãol6:
Ordens de uso, abuso, reincidência,
costume, hábìuo, premêincia, lano: bodas de papel;
anos: bodas de madeira:
indispensabilidade, (.) iunite5
E
doce estar na moda, ainda que a moda 10 anos: bodas de ferro;
seja negar minha identidade, (..) 0ab 25 anos: bodas de prata;
Com que inocência demito-me de ser 50 anos: bodas de ouro;
eu que antes erae me sabia (...)
70 anos: bodas de diamante.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
de ser não eu, mas artigo industrial,
Apesar de vivermos um tempo de mudanças rápi
peço que meu nome retifiquem. das, não podemos abdicar da comemoração de cada eta
Já não me convém o título de homem. pa superada que abre caminho para o novo. O ritual con
fere consistência a esses momentos de passagem e pode
Meu nome novo é coisa. aproximar os parceiros, na medida em que nos mostra
Eu sou a coisa, coisamente. mos capazes de viver, de fato, cada momento da vida.
Na frase envelhece-se como se viveu', podemos
dizer que a noSsa estruturaemocional e afetiva está na
O
casal atual deve adquirir novas habilidades de re
lação interpessoal, que não eram necessárias ao casal de 16.J. Chevalier e A. Gheerbrant, Dicionário de simbolos, S. ed., Rio de Janeiro: Jos
ontem, capazes de instrumnentalizá-lo com um melhor re Olympio, 1991,p. 60.

29
28
no
nossa história de vida. O passado teima em se colocar CLIMATÉRIO FEMININO
E MASCULINO
as seguin
presente. A esse respeito é fundamental avaliar
tes questões:


Existiram pessoas significativas no nosso desen O termo climatério
vem do vocábulo grego kli
volvimento? makter-eros, que significa um períodó da
vida considera
do crítico. Como já vimos,
na cultura ocidental, o signi
Foi dado, em alguns momentos pelo menos, a essa

perdas em
ficado de crise traduz-se na valorização das entretanto,
pessoa o direito de ser o que é, de querer o que os orientais,
queria, de pensar o que pensava, enfim, de ser ape detrimento dos ganhos. Entre
fato real o exemplo de
significa perigo e oportunidade. Ecomeçam
sar do outro? Ou sua vida foi pautada na avaliação a envelhecer,
pessoas que só crescem quando
e na aprovação do(s) outro(s)? a de crescimento
pois é na crise que brota oportunidade
·Como é sua auto-estima, sua auto-imagem e seu humano.
climatério feminino consiste no conjunto de
autoconceito? O
alte
se observam no final do
rações emocionais e fisicas que as
e
Em outras palavras, a presença ou não de uma crise período reprodutivo da vida da mulher, compreende
fases: pré-menopausa, menopausa pós-menopausa.
e Já é
emocional e sua resolução, acompanhando o envelheci e menopau
mento, dependerão sobremaneira da estrutura pessoal e de praxe no meio leigo o uso de climatério
menopau
da vivência no contexto sociocultural. Os principais fato Sa com0 sinônimos, apesar de não o serem. A
res socioculturais que interferem nesse processo são: sa é um dos sintomas do climatério, caracterizando-se
se tratando de cli
costumes e regimes alimentares, tipos de trabalho, clas pela abolição das menstruações. Em
matério masculino, o fenômeno da andropausa, que é
a
se econômica, sexo e tabus sexuais, estado civil, instru
falência testicular, gerando privação hormonal que
e cor
ção, religião e mídia, em especial a televisão no mundo
atual. responde à menopausa, só ocorre em situações patológi
cas. Em condições normais, o homem não apresenta um
Como promover um bom envelhecimento*? Essa fim na produção hormonal de testosterona pelos testícu
preparação envolve discussões, palestras, informação, los. Isso ocorre apenas em casos de cirurgia ou radiação
aconselhamento, acompanhamento médico e psicológico sobre as gônodas, ou pelo uso de estrogênio no trata
quando necessário. Cada um de nós possui dentro de si mento de câncer de próstata ou mama.
o potencial de solucionar seus próprios problemas, e a re
A palavra menopausa é formada pelos radicais de
solução dos mesmos depende de uma confrontação posi a lua é o
origem grega men (mês) e menos (lunação
tiva com as dificuldades: é quando deixamos de ser víti símbolo dos ritmos biológicos e da fecundidade) acresci
mas e assumimos o papel de sujeito de nossa história. Só dos do radical grego pausis, que significa cessação,
re

assim as situações negativas podem ser superadas. Dire pouso. A menopausa designa o processo específico de
cionando a nossa vida para o ser eo crescer, épossivel envelhecimento das gônodas sexuais femnininas, os ová
um bomn envelheser (em velho ser). emn outras
rios, caracterizado pelo fím das menstruações;

31
30
palavras, a menopausa é o periodo na vida da mulher cm O
FIM DAS MENSTRUAÇÖES
que cessam as suas funções reprodutivas. Nos dias de
(MENOPAUSA E CLIMATÉRIO)
hoje, o avanço da ciência na fertilização assistida
"bebê de proveta'' - pôs em cheque essa verdade da
natureza humana, DiscutiremoS mais esse assunto no ca
pítulo A
gravidez e sua prevenção.
Em torno dos quarenta
anos, o declínio da função
Apesar de a menopausa ser um acontecimento uni
versal inerente àespécie humana, o conjunto de fenôme ovariana sinalizao início de
um período denominado cli
a meno
nos que denominamos climatério não o é, o que nos faz matério, qual compreende a pré-menopausa,
o

inferir que outras variáveis -pessoais, conjugais, sociais pausa e a pós-menopausa.


e culturais além da hormonal interferem nesse process0. aparecem alterações do ciclo
Na pré-menopausa e com
Em tese, podemos dizer que o climatério correspon menstrual, em geral menstruações mais espaçadas
de à meia-idade, a ponte entre a juventude e a velhice. menor volume, associadas a distúrbios neurovegetativos
como ondas de calor, sudorese etc. A iregularidade hor
monal é a norma, algumas vezes ocorrendo dois fluxosa
em um mês e, em outras, ocorrendo atrasos, gerando
presen
incerteza com relação a uma possível gravidez. A
ça de sintomas como náuseas, tonturas e cansaço, poSSi
veis nessa fase, associada ao atraso menstrual, pode as
sustar a mulher ainda mais com a possibilidade de uma
gravidez indesejada, caso ela não faça uso de uma con
tracepção efetiva. A necessidade de procurar o ginecolo
gista, para que ele confirme ou afaste essa suspeita, é
imperiosa. A hemorragia genital persistente que ocorra
nessa época pode ser uma conseqüência do início da
menopausa. Entretanto, caso ela não se resolva com o
tratamento hormonal adequado, énecessário o retorno ao
médico para investigação da origem do sangramento e
afastamento da possibilidade de uma doença ginecoló
gica mais grave.
Na menopausa, ocorre a amenorréia, ou a cessação
das menstruações, com acentuação das perturbações so
máticas e psicológicas. E o fenômeno mais característico
do climatério feminino, sendo, por isso, muitas vezes usa
do como sinônimno. Existem casos mais raros de meno
pausa precoce, que acontece antes dos quarenta anos e
em geral está ligada a fatores constitucionais (familiares).

32
33
A pós-menopausa simplesmente a extensão da
é éde que a nicotina
desconhecida. Uma das explicações produzindo a falên
etapa anterior. Mais tardiamente, verificamos uma ate no ovário,
provocaria microin fartos
nuação da sintomatologia neurovegetativa descrita acima.
em decorrência da adaptação. Porém, problemas mais cia precoce desse órgão.
em menopausa propria
sérios poderão surgir, como osteoporose e enfarte do Por convenção, só se fala
um ano sem episódios
miocárdio. Nessa fase, a mulher exige atenção especial mente dita quando já se passou o
do estado
do ginecologista, no sentido de prevenção também do menstruais. Em outras palavras, diagnóstico
câncer ginecológico. de menopausa é retrospectivo.
uma quantidade dimi
Em resumo, podemos dividir o climatério em três Os ovários passam a produzir e cessam
estágios, de acordo com a sintomatologia caracteristica: nuta de estrogênio (hormônio da ovulação) prepara o úte
produção de progesterona (hormônio´que
ro para uma possível gravidez).
INICIAL INTERMEDIÁRIA TARDIA A conseqüência mais
comum da queda na produção
(35 a 44 anos) de estrogênio so os sintomas
vasomotores, ou seja, on
(45 a 54 anos) (55 a 65 anos) 75 a
das de calor e sudorese. As ondas de calor afetam
os calores
Ondas de calor Atrofia vaginal 80% das mulheres ocidentais!7,•Aoque parece
Osteoporose
Sudorese ocorrem coimo disfunção dos mecanismos de controle da
Dispareumia (dor Doença cardiovas
Insônia coital) cular temperatura no hipotálamo, causada pela deficiência de
sensa
Irregularidade mens Sintomas urogeni estrogênio. Aparecem de modo súbito, como uma
trual ção de quentura na parte superior do corpo, acompanha
tais
|Sintomas emocionais da por vermelhidão, suor e tonteira. Podem ser pouco
freqüentes (semanais) ou em intervalos de horas, e durar
de poucos segundos a quinze minutos. São mais presen
tes durante o sono. A terapia com estrogênio combate
esse sintoma com eficiência, e mesmo sem tratamento os
ASPECTOS ORGÂNICOS calores podem desaparecer alguns anos após a menopausa.
A deficiência de estrogênio também causa o enco0
A menopausa não é um evento abrupto, mas um Ihimento eo estreitamento da vagina, a perda de elasti
lento processo de transição entre períodos menstruais cidade dos tecidos, a diminuição dos pêlos pubianos e
regulares, que se tornam irregulares até o fim das mens uma menor lubrificação da vagina durante a excitação
truações. As anormalidades do ciclo menstrual começam
a ocorrer por volta dos trinta e cinco anos, e o fluxo só sexual. Essas alterações podem produzir dor durante a
cessa entre quarenta e oito e cinqüenta e dois anos. Exis penetração na relação sexual.
tem mulheres que entram repentinamente na menopausa
sem que tenha ocorrido nenhuma irregularidade de ciclo
premonitória. Em média, as mulheres fumantes entrarão 17. L. Payer, "The Menopause in Various Cultures". In H. Burger e M. Boulet, A
portrait of themenopause, Nova Jersey: The Parthenon Publishing Group Ltd.,
na menopausa antes das não fumantes, e a razão ainda é 1991,p. 10.

34
35
Com o passar dos anos que se seguem
à menopau uma boa expressão se
são situações incompatíveis com uma mu
sa ocorre perda do teor mineral dos ossOs, ou osteopo Xual. O envelhecimento da pele pode produzir
propensos à fratura,. em auto-imagem
rose, que os torna mais dança do esquema corporal, resultando na
A mulher menopausada pode apresentar disfunções negativa, que dificulta expressão sexual
a relação de
como outro será ca
o
urogenitais devido à atrofia do tecido epitelial, músculos parceria. "Se não gosto de mim, o ou
e vasos em conseqüência da deficiência de estrogênio, A paz de gostar?: "Se mne acho feia, provavelmente
principal conseqüência desse fato, que atinge 25% das tro também vai achar!". Isso é o que em geral pensam
essas mulheres. Nesses casos, a presença do ginecologis
mulheres menopausadas, é a incontinência urinária de
esforço (IUE), ou a perda involuntária de urina. A IUE ta, dermatologista, cirurgião plástico ou um psicoterapeu
e nin
ta que possa oferecer ajuda muito significativa,
é
pode ser tratada com cirurgia ou, nos casos leves, com para procurá-los.
estrogênio. Nesses casos, éde grande ajuda a fisioterapia guém deve pensar duas vezes
vaginal através de exercícios de contração e relaxamen
to da mus culatura perineal e vaginal para aumento do
tônus muscular. Esse exercício pode, inclusive, melhorar
a
percepção que a mulher tem do componente fisico da ASPECTOS EM0CIONAIS, SOCIAIS E
sua resposta orgástica (plataforma orgástica). CULTURAIS
A deficiência de estrogênio também pode causar
alteração na flora vaginal microorganismos que habi A abordagem sob o aspecto cultural pressupõe, do
tam normalmente a vagina -, predispondo a infecções ponto de vista conceitual, uma visão holística e integrada
urogenitais reincidentes. Essas infecções ocorrem mais do ser humano e sua realidade. Dentre os principais fato
comumente em casos de hospitalização e podem ser tra res que influenciam o climatério, podemos destacar a or
tadas com antibióticos ou quimioterápicos associados ou ganização social (idade, estado civil, posição social), p0
não àestrogenioterapia. lítica (liberdade, ditadura etc.), as informações corretas e
Os hormônios sexuais afetam a derme e a espessura distorcidas (crenças), bem como modas, leis, artes, jogos,
da pele, que perde o brilho e o viço, ficando ressecada e lazer e todas as formas de comunicação.
acentuando-se as rugas. E interessante notar que o fenô A
língua ea
cultura são muito importantes no tipo
meno inverso ocorre em nível de vagina, que se torna e na intensidade dos sintomas vivenciados pela mulher no
fina e menos rugosa, podendo facilitar o desconforto no periodo de menopausa. A cultura, no seu sentido amplo,
ao
coito devido à maior possibilidade de dor. Esse quadro pode alterar a fisiologia da mulher. Estudos realizados
pode ser prevenido e revertido por hormônio, que au redor do mundols demonstram que a prevalência das
menta a produção de substâncias importantes para a derme. ondas de calor em mulheres menopáusicas varia de 0%
em mulheres da cultura maia até 80% em mulheres ale
A incontinência urinária de esforço e/ou in fecções
urogenitais, como cistites e vaginites, podem trazer resul
tados dramáticos para a sexualidade feminina e do casal. 18, L.
e
Payer, "The Menopause in Various Cultures". In H. Burger M. Boulet, A
medo de urinar durante o esforço do ato sexual ou a
O
portrait of the menopause, Nova Jersey: The Parthenon Publishing Group Ltd.,
1991, p. 3-22.
possibilidade de dor durante o coito devido à infecção
37
36
mâs. Da mesma maneira, ao que parece, síndrome cli
a
nega para predizer a população de maior risco;
matéricaé um fenômeno carregado de significados
os
tivos na cultura ocidental e não na oriental. Entre os exercicios fisicos são muito importantes na redu
nor
muçulmanos e os rajput (casta militar dominante do ção das ondas de calor e na depressão associada à me
te da india), as mulheres adquirem privilégios após a
menopausa, podendo então participar de atividades que nopausa;
antes lhes eram proitbidas.Já no Japão, a menopausa não •
a incontinência urinária e as infecções recorrentes do
estáassociada a nenhum status sociale ritual, sendo que sistema urinário após a menopausa não parecem ser
nào existe palavra para `ondas de calor'.
influenciadas pelas diferenças culturais;
Porém, na cultura ocidental, os estudos detectam
niveis significativos de sintomas climatéricos vasomoto o risco de osteoporose e desordens cardiovas
res, como as ondas de calor e a sudorese. Os sintomas culares é diferente entre as diversas culturas e pare
psicológicos mais comuns relatados pela mulher climaté ce estar relacionado com fatores como dieta e esti
rica sào: tensão, cansaço, falta de autoconfiança, insônia, lo de vida, assim como a instituição precoce de te
irritabilidade e depresso. Esses sintomas são considera
rapia de reposição hormonal, que atua de modo fa
dos atipicos, pois sua ligação com a deficiência de estro
gênio não é clara. Além disso, são sintomas que podem vorável.
ocorrer durante toda a vida da mulher, variando de pes
soa para pessoa. Em um exame mais aprofundado do status social
Dos estudos sobre a influência dos padrões cultu da menopausa na cultura brasileira, segundo Silvia My
rais sociais na menopausa, podemos elaborar algumas
e sior20 podemos perceber que essa fase é encarada como
conclusões capazes de nos indicar o que de fato é fisio um sinal do esgotamento do tempo, da chegada do fìm.
lógico e o que é contextual nas fases da menopausae do Esse periodo vai confrontar a mulher com a incapacidade
climatério, como por exemplo: de gerar filhos, com a perda do viço, com a diminuição
de seus atrativos femininos, sendo a representação do
a menopausa estáassociada a poucos e menos se inexorável, da castração e morte. Eo fim dos sonhos e
veros sintomas na Asia do que em países ociden 0 cara a cara com a realidade.
tais, pois os povos asiáticos não consideramo cli A crença popular percebe a menopausa como um
matério como doença; periodo de grande desconforto fisico e emocional. O es
tereótipo brasileiro da mulher climatérica define-a como

ondas de calor e outros sintomas vasomotores são irritável, mal-humorada, histérica e deprimida. Em res
comuns na Europa e América do Norte, sendo que o posta a essa programação psicossocial, grande parte das
status social da menopausa parece ser o fator primário mulheres climatéricas apresenta sintomas psicogênicos
como insônia, depressão e medo do envelhecimento. As
19. L. Payer, "The Menopause in Various Cultures". In H. Burger e M. Boulet, A
portrait of the menopause, Nova Jersey: The Parthenon Publishing Group Ltd., 20. S. G. Mysior, O tratamento psicanalitico no climatério, 12 Curso Mineiro de
1991,p. 4-5. Climatério, Associação Médica de Minas Gerais, Belo Horizonte, mar. 1992.

38 39
apo
sociado a isso, a mídia tem imposto uma constante merecem ser tratadas. Quando tratamos/cuidamos de
al
logia da juventude e do culto do corpo, que resulta no
o
guém, não significa, necessariamente, que haja doença. O
sentimento de inadequação e vergonha da mulher idosa cuidado não só ameniza o mal, mas também favorece
a
com relação ao seu corpo.
vida. Atualmente, existe uma pre0cupação da Medicinaa
aumento da expectativa de vida est criando uma
O com a qualidade de vida das pessoas e, nesse sentido,
nova população, que passa a ter uma expressão numéri terapêutica substitutiva hormonal se impõe.
O
que não
ca significativa, possibilitando-a realizar uma pressão pode ser feito é a automedicação através da hormoniote
social a fim de mudar a visão predominante no sentido de rapia.
valorizar essas pessoas. Isso talvez explique, em parte, o
fato de a reconhecida psicoterapeuta americana Helen
Kaplan detectar que o pico sexual da mulher americana
Ocorre entre os quarenta e cinco e cinqüenta anos.
Entretanto, percebemos que esse fato não constitui
a realidade das latino-americanas de forma geral e das
brasileiras especificamente. A dessexualização social em
relação às mulheres de mais idade que ainda persiste em
nosso meio prejudica a vivência sexual nessa faixa etária.
E interessante relembrar que, do ponto de vista biológi
co, essas mulheres possuem um ováio, que produz hor
mônio masculino- androgênio , o que poderia favo
recer o desejo sexual. Porém, a cultura se sobrepõe à
Biologia.
Sintetizando, o climatério feminino envolve quatro
estágios principais:

diminuição da fertilidade;
menopausa;
sinais de atrofia progressiva dos tecidos;

envelhecimento.

Uma grande controvérsia ainda persiste: o climaté


rio é ou não uma doença? Em nossa apesar de
ser uma fase normal, acreditamos queopinião,
suas conseqúên
cias, tanto do ponto de vista físic0 como
psicológico,
40
41
E NO HOMEM, FIM DE QUE?
Seria menos higiênico.
(ANDROPAUSA)
Correria mais, viajaria mais, contemplaria mais
entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria
mais rios.
Estudiosos revelam a existência de um estado de Iria a mais lugares aonde nunca fui, tomaria nais
transição semelhante àcrise fisica e emocional da meno sOrvete e menos lentilha, teria mais problemas
pausa em homens de meia-idade. Estes, sem menos imaginários.
e
dúvida, tam reais
bém estão sujeitos, nessa fase da vida, a transformações
biológicas, psicológicas e sociais significativas. A percep Eu fui uma desSas pesSoas que viveu sensata e
ção do próprio envelhecimento acarreta crises emocionais produtivamente cada minuto da sua vida; claro
que resultam na mudança que tive momentos de alegria.
de algumas posturas. Percebe
mos a necessidade de um Mas, se pudesse voltar a viver, trataria de ter sSo
movimento em a
memo: Tenho dinheiro, o que fazer com direção Atinsi mente bons momentos.
ele?';
gi o mais alto cargo da minha profissão, e agora?*;
Como mudar o diálogo de surdos que
Porque, se não sabem, disso é feita a vida, só de
estabeleci com momentos, não percas o agora.
minha parceira e filhos?. Entretanto, muitos negam ou
sublimam, canalizando sua energia para uma atividade Eu era um desses que nunca ia a parte alguma
fisico-esportiva, religiosa, laborativa etc., com medo des sem um termômetro, uma bolsa de água quente,
se encontro, que pode ser doloroso. um guarda-chuva e um pra-quedas; se voltasse a
Na verdade, qual
quer mudança vem acompanhada de dor.
Evitamos a dor viver, viajaria mais leve.
sem saber que ela se torna
maior quando evitamos a Se eu pudesse voltar a viver, começaria a anda
mudança. Podemos perceber essa dor do encontro con
sigo mesmo na poesia Instantes'" de Jorge Luis Bor descalço no comneço da primavera e continuaria
ges2i: assim atéo fim do outono.
Daria mais voltas na minha rua, contemplaria
Se eu pudesse viver nOvamente a minha vida, mis amanheceres e brincaria com mais crianças,
se tivesse outra vez uma vida pela minha jrente.
na próxima trataria de cometer mais erros.
Mas, já viram, tenho 85 anos e seique estou nor
Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.
Seria mais tolo ainda do que tenhosido, na rendo.
verdade bem poucas coisas levaria u sério.
Em geral, os homens começam a se sentir velhos
21.J.L.Borges, citado em "Sexo após 40 anos", Revistade
muito antes da verdadeira sencctude biológica. É a histó
Sexologla-Órgão Oficial
do Instituto Cavalcanti, n° 1l, nov. 1992: 27. ria de homens vigorosos c saudáveis com trinta, quarenta

42
43
ou cinqüenta anos que já se sentem velhos. O poeta
Wolber diz bem quando coloca que "velho é aquele que Porém, um homem pode ser pai aos oitenta, noventa
chora o que perdeu'". A postura diante da vida, no sexo anos.
masculino em geral, se dáem uma grande dificuldade de Asmudanças na fisiologia hormonal masculina não
lidar com as perdas e na facilidade no conviver e no bus ocorren de modo súbito e não estão designadas por um
car o poder e as conquistas. Querendo conquistar tudo e marco, como ocorre na menopausa. Fisiologicamente,
todas e tendo que deparar com sua condição humana, no ocorre uma baixa androgênica. A redução nos níveis cir
geral em torno dos quarenta anos, o homem que não culantes de testosterona é incontestável. E interessante
consegue manter o mito da máquina masculina'" justi relatar que ambos os sexos possuem, em seu sangue,
fica a possibilidade de fracasso pela sua condição de estrogênio (hormônio feminino) e testosterona (hormônio
"velho". Talvez mudassem de idéia através da convivên masculino). As mulheres vivem no climatério a baixa de
cia com moços de setenta e oitenta anos que conhecemos estrogênio e o aumento de testosterona. No homem, o
em nosso trabalho. processo é inverso. O aumento de estrogênio nessa fase
da vida pode prejudicar a auto-imagem corporal mascu
Por que muitos homens, nessa fase da vida, trocam lina. E o caso de um de nossos pacientes que, aos 62
Suas parceiras por outras bem mais novas? Por que com anos, estava tomando estrogênio para tratamento de cân
pram, com freqüência, carros esportivos do último tipo? cer de próstata. Esse senhor já apresentava ginecomastia
A reflexão a apenas essas duas perguntas ajuda a cla (aumento das mamas) e esta foi acentuada com a hormo
rear esse momento existencial. nioterapia. Chegou ao consultório com três queixas prin
cipais: falta de libido, disfunção eretiva e sentimento de
Existiriam mudanças hormonais equivalentes às da vergonha pela mama durante o ato sexual nos banhos
mulher menopausada? A questão nesse caso é mais com de piscina em clubes, que faziam parte de sua rotina. De
plexa, e serádiscutida mais adiante. acordo com a percepção desse cliente, o maior problema
era o sentimento de vergonha com relação à mama, ou
seja, o mais importante era a resolução de sua imagem
corporal. Por isso, ele foi encaminhado àcirurgia plástica
para correção das mamas (a extração do tecido mamário
ASPECTOS ORGÂNICOS elimina o efeito do estrogênio). Ë possível que a estroge
nioterapia tenha também se constituído em um dos fato
res responsáveis pela falta de libido e de ereção, junto
com a deterioração de sua auto-imagem.
O
testículo é para o homem o que o ovário épara
a mulher.. Apresenta duas funções: hormonal e reprodu Alguns homens acima de sessenta anos apresentam
tiva. A diferença entre homens e mulheres está principal sintomas como fraqueza, cansaço, perda de apetite, ton
mente na segunda função, que o homem mantém ao lon tura, palpitação, redução do desejo sexual, redução ou
go de sua vida, mesmo que na prática se verifique uma perda da potência, iritabilidade e perda da capacidade de
baixa de fertilidade com o avançar da idade. A baixa de concentração. Terapias com testosterona podem minorar
fertilidade estámais associada à capacidade fértil dos es ou reverter esses sintomas, nos raros caSOS em que se
permatozóides do que a seu número.
constata a deficiência hormonal. Não podemos nos es
motilidade etc.
45
44
quecer de que a ajuda psicoterápica associadaé funda
ratória de carícias ou algum outro tipo de excitação mais
mental. cfetiva. Muitas vezes essa menor rapidez/facilidade de
A baixa de testosterona é conseqüência da perda atingir a ercção confundida com um problema.
gradual da função dos testiculos, que resulta em reduçao
da secreção androgênica. Os cspermatozóides continuam
a ser produzidos ao longo da vida, como já foi dito. O
sêmen, constituido por espcrimatozóides e secreção pros ASPECTOS EMOCIONAIS, SOCIAIS E
tática/seminal, deixa de ser produzido cm casos nos quais CULTURAIS
os individuos sâo muito idosos, o que não acarreta per
da do prazer sexual. Entretanto, não é raro homens de O
homem que está entrando na meia-idade apresen
setenta ou oitenta anos nos procurarem por se sentirem
ta alguns padrões de comportamento em resposta ao en
sexualmente inferiores devido à ausência do volume de
esperma desejado. Muitas vezes é a própria parceira que velhecimento fisico. Ocorre uma mudança da imagem
cobra isso dele, por desconhecimento das mudanças nor corporal e social que pode resultar na diminuição da
auto-estima.
mais do envelhecimento. Com o tempo, a ausência do
gozo convencional (com grande volume cjaculado) aca MRVerificamos que muitos sintomas psicolgicos au
ba por comprometer o prazer através da inibição das fa mentam com a idade e geralmente afetam o sexo, a me
ses do desejo e/ou da ereção, resultando em inadequação mória e o sono. A cultura tende a reforçar esses sinto
do casal. O homem desenvolve um sentimento de im mas como universais e causadores de sérios prejuízos no
perfeito" posto que tem ereção, mas pouca ou nenhuma viver. Isso pode não ser verdadeiro para muitos homens,
ejaculação. Esse fenômeno é idêntico ao de homens ope como o caso do nosso cliente que disse ter tido uma
rados da próstata que não foram previamente avisados da memójia excepcional na juventude e que agora ela é nor
ausência de ejaculação exteriorizada como condição pós mal, mas sem conotação negativa. Com relação ao sono,
cirúrgica. O gozo é uma reação psicofisica, mas a maio dormir menos, nessa época da vida, não seria uma reação
ria dos homens dá mais valor à reação orgânica da ejacu natural ao querer aproveitar mais os momentos da vida?
lação. Por que não? A visão da insônia como uma situação pa
tológica pode ser questionada, dentro dos limites, e m0
Independente da idade, um homem é capaz de ter tivações de atividades produtivas para esses momentos
ereções regulares durante o sono. Logo, ele é capaz de podem atenuar ou eliminar os incômodos. Ënecessário
ter ereçõöes e relações prazerosas com uma parceira. A mudar a conotação de que qualquer mudança fisiológica
função sexo-prazer será detalhada depois. seja necessariamente anormal.
envelhecimento aterial, neurocerebral e hormo
O
Na meia-idade, a pessoa começa a ter consciência
nal pode ser a fonte da repercussão de inúmeras pertur do processo inexorável da vida, a possibilidade da mor
bações sexuais. Porém, a perda da capacidade de ereção te. a
inpotência não sexual mas existencial Ven
não constitui uma parte natural do processo de envellhe a
cendo onipotência dos machos. Não se pode permitir
cimento. Em um jovem, a ereção mais rápida. Em um uma morte social antecedendo a morte fisica. As perdas
idoso, na maioria das vezes, depende de uma fase prepa do corpo jovem, do trabalh0, dos filhos, da parceira, da

46 47
moradia, entre outras, precisam ser elaboradas. A perdao A impotência masculina, freqüente nessa popula
do trabalho pela aposentadoria em geral afeta mais ção, quase tão temida quanto a mnorte, sofre a influência
homem do que a mulher. Segundo as sexólogas argenti de múltiplos fatores: pressão social, monotonia, falta de
nas Clara Abate e Lucia Mazzeo22, em nossa sociedade, variação no ato sexual, ansiedade, tensão no trabalho,
o sujeito se define e é.definido pelo que faz, e não pelo preocupações profissionais, fadiga, excesso de comida e
que é. Isso implica que a práxis ésocialmente mais álcool, uso de certas drogas (anti-hipertensivos e tranqüi
transcendente que a exis. Quando o s4jeito se aposenta, lizantes), patologias fisicas e mentais. Mas, sem dúvida,
nãoapenas perde um trabalho, mas também perde os o grande causador desse problema é o temor do fracas
atributos que fazem a sua identidade. Por sua vez, a sin so, que determina uma ansiedade de desempenho, incom
drome do ninho vazio", que ocorre por volta da quin patível com o exercício da função sexual normal,.
ta década de vida, gerada pela saída dos filhos de casa,
Masters e Johnson23 descrevem seis fatores respon
parece afetar mais as mulheres do que os homens.
sáveis pela perda do desejo e da potência sexuais nessa
A percepção da própria morte muda a percepção fase da vida:
de tempo e resulta na procura de novos objetivos. Mu
danças de papel resultam na perda de funções e no cho
monotonia conjugal, freqüente e devastadora;

que de gerações. Crises emocionais advêm do dilema
produção versus estagnação. fadiga fisica e mental;
Temos observado também que muitos homens rela
temor do fracasso ou medo de desempenho'";
tam que só a partir dos quarenta anos perceberam o
quanto a relação afetiva com sua parceira poderia possi excesso de bebida e/ou alimentação;
bilitar-lhes um enriquecimento sexual. Alguns chegam a
afirmar que estão desfrutando mais do que nuncao sexo. doença fisica ou mental de um dos cônjuges;
· crise econômica e/ou profissional.
Infelizmente continua sendo um mito queo avançar
da idade é incompatível com o desejo sexual, fazendo
com que as pessoas sintam vergonha de sua atividade se
xual. Parece mentira, mas com freqüência deparamos A auto-estima associada a expectatvas sociais é
Com perguntas na mídia do tipo: "Tenho 73 anos. Ë nor muito importante no desempenho sexual dos homens a
mal sentir desejo sexual?"". Nunca é demais afirmar que partr dos quarenta anos. Se um deles acredita que é in
a andropausa não é sinônimo de suspensão da atividade capaz de ter ereções após uma determinada idade, seus
sexual e que o sexo não se reduzZ ao genital. Mesmo que sentimentos negativos podem de fato impedi-lo de t-las.
o indivíduo tenha uma função genital diminuída, A falta de informação do homem a respeito das mu
isso não
é prerrogativa para considerá-lo assexuado. danças em sua fisiologia sexual pode assustá-lo e fazê-lo
pensar que háalgo de errado, ficando vulnerável sobre

23. W. Masters e V. Johnson, A resposta sexual humana, São Paulo: Roca, 1984,
22. C. Abate eL. Mazzeo, "La Sexyalidad en la Tercera Edad", XICongresso Mundial p. 217-222,
de Sexologia, Rio de Janeiro, 1 a5 dejunho de 1992.

48 49
acar
tudo à ansiedade de desempenho, Tal situação pode E SUA PREVENÇO
A GRAVIDEZ
retar inadequação e, de modo mais radical, abstinência
para alguns homens, só por acharem que não sâo sexual
mente capazes. INTRODUÇÃO
A vida sexual dos homens de idade depende, sobre
tudo, de sua história pessoal. Aqueles que apresentaram A gravidez após Os quarenta anos constitui tema de
no passado a "Sindrome do Supermacho" têm maior di real importância, por uma série de fatores. É cada vez
ficuldade em elaborar fracassos eretivos eventuais. Relu maior o aumento da população feminina nessa faixa etá
tam em aceitar sua condição humana de falibilidade, que ria, assim como também vem aumentando a proporção de
resulta na quebra do mito da máquina masculina". mulheres em idade fértil que postergam a concepção para
Além disso, ao contrário do que alguns homens pensam, essa época. Estima-se que, no ano 200, 10% dos nasci
não é o fato de uma extensa Vida seXual em fases ante mentos, nos Estados Unidos, ocorrerão em mulheres nes
riores que leva a pessoa a apresentar problemas na meia se estágio da vida.
idade. A profilaxia para uma vida sexual ativa nessa épo Além disso, os avanços tecnológicos na fertilização
ca pressupõe uma atividade sexual constante. Mas, em se
assistida têm propiciado, através de ovo-doação óvu
tratando de ser humano, a qualidade supera significativa lo ou gameta feminino obtido de uma a
doadora cha
mente a quantidade. ve da gravidez em mulheres pós-menopausadas de cin
qüenta, cinqüentae cinco e sessenta anos. Recentemen
te, gerou-se uma polêmica mundial, quando o médico
italiano Severino Antinori, especialista em infertilidade,
possibilitou a gestação em uma mulher de 61 anos de
idade. Na verdade, o assunto é bastante controverso,
sendo que diversos estudiosos en reprodução humana
questionaram a conduta desse profissional, alegando
motivos éticos e biológicos.
As mulheres de mais idade apresentam maior
dência de ciclos menstruais irregulares, anovulatórios
inci
(sem a liberação de óvulos), além de deficiência da fase
lútea (queda da progesterona, que é o hormônio da gra
videz). Em conseqüência, essas mulheres apresentam
menor fertilidade quando comparadas com as
vens. Em suma, a possibilidade de mais jo
gravidez natural nes
saépoca da vida émenos provável. Depois de instalada
a menopausa (um ano sem menstruações),
fica afastada
capacidade de gravidez.
Uma maior incidência de morbidade (doenças) e

50
a
mortalidade materna e fetal nessa faixa etária leva-nos
recomendar ao casal medidas anticoncepcionais efetivas contração muscular uterina ajuda a parar a hemorragia
quando essa gravidez não é desejada. do parto e pelo maior índice de retenção placentária.
Vários fatores tornam essa fase da vida uma época Essas Ocorrências aumentamn o risc0 de morte materna.
especial em relação à contracepção: Além disso, a incidência de abortos espontâneos é
elevada, e essa gravidez está relacionada como aumen
to de anormalidades cromossômicas do feto, bem como
com complicações maternas.
nagrande maioria dos casos, o casal já tem o número

de filhos desejado, considerando a familia definitiva Na verdade, o patrimônio genético sofre alterações
com a idade, aumentando a probabilidade de malforma
mente pronta; Ções, notadamente a Síndrome de Down ou mongolismo.
grande número de mulheres nessa faixa etária já A incidência dessa síndrome é de 1/1200 aos vinte e cin
·

retornaram às suas atividades profissionais, ou se de co anos, elevando-se para 1/365 aos trinta e cinco anos,
dicam a outras atividades, além da família, e, portan atingindo por fim 1/32 aos quarenta e cinco anos. De fa
to, não aceitam a idéia de uma nova gravidez; to existe um maior risco, mas a vida não é um constan
te risco? Contudo, é possivel, com a genética, resolver
maioriados casais, nessa faixa etária, tem medo de
a
em parte essa questão.
uma gravidez pelos riscos que pode acarretar à mãe e
ao feto. Se os problemas mnédicos da gravidez nessa fase da
vida são grandes, as complicações na esfera psicológica
e social têm maiores dimensões. E comum o relato da
opção de abortamento clandestino diante da situação de
GRAVIDEZ uma gravidez indesejada devido à impossibilidade de con
viver com a pressão social e emocional: prole já defini
da, desarranjo familiar e profissional, medo de compro
Com relação aos riscos, alguns fatos já bem docu
metimento da saúde materna e/ou fetal, pressão do com
mentados corroboram as razões para esse receio. Em panheirO que não deseja mais filhos e insegurança com
comparação com mulheres de vinte a trinta anos, as mu
relação à capacidade de ser mãe de novo.
Iheres com mais de quarenta anos apresentam maior pro
pensão a sofrer complicações na gravidez e no parto, em
especial hemorragias, hipertensão induzida pela gravidez
(eclâmpsia) e rompimento da musculatura lisa do útero
PREVENÇÃO
(ruptura uterina).
trabalho de parto tende a ser mais dificil ou pro
O
Sabemos que não dispomos ainda do contraceptivo
longado. Isso se deve ao fato de a idade dificultar a con ideal, sendo que todos apresentam vantagens e
tração muscular do útero (atonia). Essa atonia também é gens. O importante é vinculá-los desvanta
às características de se
a
responsável pelo maior sangramento pós-parto gurançae eficácia. Diversos aspectos
devem ser
rados na escolha do método anticonceptivo: conside
condiçòes
52
mulheres fumantes com mais de trinta e cinco anoS. A
sociocconômicas e culturais, valores religiosos, estrutura partir dessa idade a mulher fumante tem duas opções:
médica e psicológica, entre outros. manter o hábito e escolher outro método contracep
A
necessidade de maior efetividade do contracepti tivo, ou abandoná-lo em detrimento da pilula,
vo, associada às freqüentes irregularidades menstruais
nas mulheres pré-menopáusicas, torna os métodos de em outubro de 1989, o Comitê para Assesso
abstinência periódica ('tabela'" ou Billings) inadequa ramento sobre Medicamentos da Food and Drugs
dos ao casal de mais idade. Administration nos Estados Unidos decidiu eliminar o
Os métodos de barreira ou comportamentais limite de idade máxima para o uso de contraceptivos
(preservativo, diafragma e espermaticidas), apesar de não orais para mulheres sadias e não fumantes. Um ano
apresentarem efeitos colaterais significativos, não são antes, a American College of Obstetricians and
indicados para essa faixa etária. Falta de motivação, al Gynecologists (ACOG) também havia decidido que a
terações na estática pélvica (exclui o uso de diafragma), pilula era inócua para mulheres sadias e não fumantes
alto índice de falhas (espermaticidas), agravamento ou até a idade de quarenta ecinco anos;
desencadeamento de impotência (preservativo) são argu
mentos que confirmam essa assertiva. O efeito lubrifican as preparações de depósito de progestagênios e os
te dos espermaticidas em casos de secura vaginal pode
implantes (contracepção hormonal intradérmica) ne
constituir uma vantagem para um grupo de mulheres. cessitamn de mais estudos para serem indicados a essas
A anticoncepção hormonal não é a primeira op mulheres. A alta efetividade é contrabalançada por
ção nessa faixa etária. Porém, seus avanços vêm colocan uma taxa significativa de sangramento intermenstrual,
do-a no páreo. Devemos considerar alguns pontos funda que pode ser confundida com sangramento causado
mentais: por doenças ginecológicas.

uso de minipilulas constituídas apenas por


-
o

progestagênios, de trifåsicos e de pilula de menor do O


DIU Dispositivo Intra-Uterino representa
sagem estrogênica (atualmente dispomos no comér uma precisa e segura indicação de anticoncepção para
cio, contendo apenas 20 microgramas de estrogênio) mulheres pré-menopáusicas, em especial entre aquelas
apresenta-se como solução alternativa; com contra-indicação para uso
de pílulas ou que se
opõem à esterilização. A presença de alterações mens
pílulas com progestagênios seletivos, como o truais, freqüente nas usuárias de DIU, exige para essas
desogestrel e o gestodene, exercem um efeito poten mulheres uma investigação que afaste doenças do trato
cial sobre a fração HDL-colesterol, ou "bom genital, principalmente uma patologia maligna.
colesterol': A esterilização laqueadura tubária na mulher
Ou vasectomia no homem representa o melhor méto
o maior fator de risco associado a mortalidadeepilu do para o casal que deseja ter uma
nente. As complicações são mínimas. contracepção perma
la é o fumo. A orientação é não se indicar pilula para Entretanto, por se

54 $S
tratar de um método em tese irreversível, a decisão de cia mãe e filho, não podemos nos esquecer que os avan
usá-lo deve ser bem amadurecida. A esterilização é um ços da Medicina propiciaram o aumento da sobrevida
processo cirúrgico que não afeta a condição hormonal da média das pessoas, em particular das mulheres de classes
pessoa e que não influencia na sua sexualidade-prazer. O média e alta, o que aumenta a possibilidade dessa convi
desconhecimento e a pouca discussão e reflexão sobre o vência.
método junto com o médico levam alguns casais a expe
rienciarem disfunções sexuais após a realização da vasec
tomia ou laqueadura das trompas.
Uma análise sobre os diversos métodos contracep
tivos de um modo geral nos mostra uma inclinação posi
tiva para os dispositivos intra-uterinos e a laqueadura
tubária. Mas, na verdade, não existe um método con
traceptivo que satisfaça todas as exigências da mulher. O
médico tem importante participação no sentido de orien
tar o casal de uma maneira clara, sensata e honesta. A re
lação médico-cliente nesses casos pressupõe ouvir com
atenção e paciência as ansiedades, expectativas e prefe
rências da mulher, possibilitando assim que a escolha
não seja induzida e sim particular para cada caso.
Ser mãe aos quarenta, cinqüenta... Foram levanta
dos todos os pontos críticos da gravidez nessa época.
Não existe luz no fim do túnel para quem decide engra
VIdar, apesar dos pesares? Mesmo com a controvérsia e
a discussão constante, em especial com o
atual avanço
na fertilização assistida, acreditamos que a gestação
uma opção individual e do casal, e como seja
tal tem que ser
respeitada. Cabe à ciência, por sua vez, alertar as pes
soas envolvidas sobre os
riscos, que aumentam quanto
maior for a idade da gestante. Essa mesma ciência, den
tro de um espírito ético, compromete-se, na medida do
possível, a anular ouminimizar os paraefeitos.
Além disso, existem aspectos positivos na gravidez
aos quarenta anos, como a maturidade, uma vida mais
estruturada, uma escolha mais consciente, que podem
refletir de modo adequado na relação mãe e filho. Com
relação àprobabilidade de um menor tempo de convivên

56
57
NA essa prática tan
O PAPEL DOS HORMÔNIOS nio, apesar de muitos médicos adotarem
SEXUALIDADE to para homens quanto para mulheres.
Pode ser que o futuro esteja no esclarecimento do
papel dos feromônios (afrodisíacos naturais [?1) na espé
pro
cie humana. Sabemos que nas Macacas rhesus esses
E bastante conhecido o papel dos hormônios tes a causa dos
dutos, presentes nas secreções vaginais, são
tosterona, estrogênio e progesterona na determinação estímulos sexuais no macho. E interessante relatar que
a esses
do sexo do feto e no desenvolvimento da puberdade fe alguns perfumes. contêm substâncias semelhantes
minina e masculina. Na vida intra-uterina, a presença de compostos, sendo-lhes aludido úm efeito de estimulante
no
testosterona estimula o desenvolvimento das estruturas sexual. Particularmente, não acreditamos nesse efeito
anatômicas masculinas, e sua ausência, o das femininas. caso da espécie humana.
Durante a puberdade, o aparecimento dos caracteres se A busca de um elixir sexual'" se dá com a mesma
xuais masculinos é devido ao aumento na produção de ou da
testosterona, assim como o dos femininos é devido ao avidez que a procura do elixir da juventude
'pilula da felicidade'". Acreditamos que essas buscas
estrogênio. Com relação aos efeitos desses hormônios na
função sexual -
trovérsias superam as verdades científicas.
-,
desejo, excitação e orgasmo as con estão fadadas ao fracasso. A dinâmica intrae interpessoal
é fundamental no comportamento humano, e a sexualida
de, a juventude e a felicidade estão dentro de nós.
Não é objetivo deste capítulo um aprofundamento
no aspecto do determinismo hormonal na sexualidade.
Porém, algumas considerações podem ser feitas, inclusive
na perspectiva de uma reflexão.
HORMÔNIOS E SEXUALIDADE FMININA
É preciso estarmos alertas paraouso
inadequado
de androgênio, o hormônio masculino, no tratamento de
problemas como a frigidez" feminina e a impotência Ainda não estáesclarecido o real papel dos horm
sexual, bastante freqüentes em nosso meio. Essa atitude nios na sexualidade feminina.
refletiria a nossa necessidade de buscas milagrosas e so Com relação aos estrogênios, é sabido que aumen
luções mágicas, além do desconhecimento das pessoas, tam fluxo sangüineo para a vagina, clitóris e muscula
o
inclusive dos profissionais de saúde, a respeito do papel tura pélvica. Como melhora o trofismo vaginal espes
dos hormônios na sexualidade. A quase totalidade das sura do epitélio da vagina facilita a sua lubrificação.
pessoas com queixas de impotência sexual ou frigidez
apresenta, em seu sangue, níveis hormonais normais. A A progesterona parece ter um efeito contráio ao
determinação de tal terapia, além de não trazer nenhum do estrogênio, mas ainda se comporta como um enigma,
e está mais ligada ao sexo-reprodução (etimologicamente
beneficio, pode provocar maleficios. Infelizmente (ou
felizmente), os distúrbios que envolvem a sexualidade vem do latim prog-estare, que significa levar avante').
não são tão simples para serem resolvidos em um balcão A maior controvérsia refere-se ao papel do andro
de farmácia com a prescrição de um determinado hormô gênio (testosterona). Níveis normais desse hormônio são

58
S9
promovem
Os contraceptivos hormonais (pílula)
inibição do desejo sexual?A influência dos vários
contra
imprescindíveis para a manutenção da libido e/ou respos
ta orgástica da mulher, mas nossa experiência clínica ceptivos hormonais sobre a sexualidade ainda é contradi
demonstra que a quase totalidade das mulheres que nos tória. Na maioria das mulheres usuárias de pílulas, nota
procuram com essas queixas sexuais não apresenta defi mos melhora da libido (desejo sexual) e aumento da fre
ciência hormonal. Por isso, é bastante negativa a autome qüência sexual, e, em algumas, percebemos diminuição
dicação ou prescrição indiscriminada de testosterona,
o destes. Essa alteração parece não estar ligada apenas aos
que pode resultar em alterações de voz (grave ou mascu fatores hormonais. A possibilidade de desfrutaro sexo
lina), hirsutismo (pêlo no rosto), alopécia (queda de ca prazer, sem o risco do sexo-reprodução, pode propiciar
belo) e outros sinais de virilização. Por outro lado, o uso às usuárias desse método contraceptivo uma maior satis
em altas doses de compostos antiandrogênicos à base de fação sexual. No entanto, a crença de que a pilula pode
ciproterona pode levar a mulher ao bloqueio do desejo e/ estar causando algum mal real ou imaginário dificulta a
ou do orgasmo. expressão sexual em sua totalidade.
Tivemos a oportunidade de atender um caso que
A
terceira questão 1levantada diz respeito ao papel
tem mérito por sua excentricidade. Uma mulher de 52 dos hormônios no tratamento da menopausa. Nas mulhe
anos nos foi encaminhada por um ginecologista do inte res menopausadas, a Terapia de Reposição Hormonal
rior de Minas Gerais. Este vinha prescrevendo, já há al (TRH) pode ser particularmente útil na melhora da vida
gum tempo, a ciproterona para que ela não manifestasse sexual. A qualidade de vida é tão importante quanto a
mais nenhum desejo pelo padre da cidade. Segundo rela quantidade. Faremos um aprofundamento do assunto no
to da cliente, sua vida social estava restrita àigreja, e a final do capítulo.
presença de tal desejo a angustiava muito. Entretanto, os
paraefeitos da ciproterona (apatia, náuseas etc.) começa
ram a incomodá-la, vindo a nós em busca de outra orien
tação. E lógico que a conduta do profissional que a en HORMÔNIOS E SEXUALIDADE MASCULINA
caminhou não era a opção correta.
E verdadeiro e universalo relato de mulheres que No homem, os limites de testosterona dentro dos
mencionam aumento do desejo e do potencial orgástico níveis normais são necessários para o exercício da função
durante a ovulação, quando se observam níveis máximos sexual masculina no que se refere à libido e à ereção
de estrogênio? Parece não existir relação entre sexualida peniana, além da função reprodutora. Concentrações de
de e diferentes níveis de hormônios durante o ciclo mens testosterona abaixo do normal podem ser responsáveis
trual. Entretanto, na segunda metade do ciclo, quando por disfunções do desejo e/ou da ereção. Essa causa é
predomina a progesterona, próximo àmenstruação, as mu muito rara, não constituindo 3%% dos casos de impotên
Iheres relatam uma diminuição da atividade auto-sexual: cia ou frigidez masculina. Reforçamos que o excesso do
masturbação, fantasias e sonhos eróticos. Entretanto, o hormônio não traz nenhum beneficio para a função se
relacionamento sexual com outra pessoa está mais na Xual, podendo inclusive prejudicar, favorecendo
dependência da qualidade dessa interação e de fatores sérios
problemas de próstata.
ambientais do que propriamente no seu nível hormonal.

61
60
Com relação a homens muito idosos, observamos o ovário da
uma diminuição significativa da testosterona livre, quc & do progcsterona pclo ovário, Entretanto,
a forma ativa. Porém, não podemos relacionar essa qucda mulher mcnopausada sccreta uma quantidade significa
como causa direta da disfunçâo crétil-impotência. Nun tiva de tcstosterona,
ca demais relembrar que a impotência pode ser um es O trato reprodutivo feminino sofre modificações
tado transitório c circunstancial, cm cspccial cntre as devido à redução na sccreção de esteróides ovarianos: a
pessoas dessa faixa ctária. vagina sofre mudanças cm sua anatomia, histologia, mi
crobiologia e bioquimica; o útero atrofia, chegando a
Eopapcl doserhormônio feminino (cstrogênio) no perder 50% do scu peso; o cndométrio adelgaça c atro
homem? Podendo utilizado no tratamento do cncer fia. Esse quadro pode ser mclhorado, ou mesmo reverli
de próstata, cxiste possibilidade de quc produza alguns
a
do, pela T'erapia de Reposição Hormonal (TRH).
efeitos sobre o comportamento sexual masculino. A gi
necomastia (aumento das mamas) e a suavização da pe Não cxiste um conscnso sobrc as alteraçõcs da me
nopausa no comportamento c na libido, sendo que alguns
le podem causar transtornos na imagem corporal c na
auto-estima. Em alguns casos, esses hormônios podem pesquisadores acreditam quc cssas alteraçõcs são intrín
sccas, cnquanto outros defendem que são devidas a in
suprimir a libido e diminuir a potência sexual, Esses efci
tos são transitórios e desaparecem com a supressão da fluências sociais e culturais. Contudo, é de se espcrar que
medicação no final do tratamento. Devido a essa ações,
o
adelgaçamento e a secura vaginais resultantes da defi
em alguns paises, doses maciças desses hormônios são ciência do estrogênio afetem a resposta sexual feminina.
utilizadas para tratar delinqüentes sexuais.
O
principal tratamento para mulheres climatéricas
que apresentam desordens genitais e não genitais é a Te
rapia de Reposição Hormonal (TRH), que exerce um
efeito curativo imediato e preventivo longo prazo. A
TRH restabelece o controle vasomotOr, e o tratamen
TERAPIA DE REPOSIÇÃO HORMONALE to das 'ondas de calor" se torna a principal indicação
SEXUALIDADE para a reposição hormonal na menopausa. Além disso,
aumenta o fluxo sangüíneo vaginal, diminuindo a dispa
O
ciclo menstrual é caracterizado por mudanças reunia (dor no coito); pode curar elou prevenir os sinto
mas nos órgãos urogenitais; pode melhorar a
ciclicas na secreção hormonal pela hipófise (pituitáia), forma e a
que regula o desenvolvimento e a liberação de um óvu consistência das mamas; e pode melhorar os sintomas
lo maduro e coordena a preparação do trato reprodutivo psicológicos (nervosismo, irritabilidade, ansiedade e de
para a fertilização e implantação. Se não ocorre gravidez, pressão) através do aumento das endorfinas cerebrais. As
o ciclo culmina com o sangramento menstrual e o come endorfinas possuem efeitos benéficos constatados no re
Ç0 de um novO ciclo.
laxamento, bem-estar, homeostase metabólica e prazer
sexual, e também são produzidas através de atividades
Quando o ciclo menstrual não é mais observado, fisico-esportivas. Isso explica a sensação de prazer e
por falência ovariana, a mulher está na menopausa. A laxamento produzida pelo exercício balanceado.
re
menopausa estáassociada àperda dos oócitos (células
A TRH é preventiva para doenças cardiovasculares,
germinativas) e ao declínio na produção de estrogênio e pois aumenta a fração HDL-colesterol
bom coleste
62
63
rol"–e diminui a fração LDL-colesterol mau co
lesterol além de inibir a formação de placas arteroes local ou um lubrificante vaginal pode resolver. Porém, em
cleróticas nos vasos sangüine0s. Também épreventiva mulheres que apresentam uma real diminuição da libido,
para a osteoporose, pois diminui a perda ÓSsea, aumen acreditamos que algo mais se faça necessário, além da
tando a reabsorção de cálcio pelo osso (restabelecimen TRH. Aconselhamento e reeducação sexual são nccessá
to do balanço ósseo). Estudos epidemiológicos demons rios. Ë o médico atuando também como medicamento.
traram que a TRH diminui o número de fraturas por osteo Sem dúvida, a TRH está associada a uma grande
porose pós-menopausa e senil, que constitui uma das gran
melhora da qualidade de vida da mulher, preocupação
des causas de morbidade e mortalidade entre idosas. É recente dos ginecologistas frente a suas clientes. No en
comum o caso de problemas médicos que se iniciaram ou
tanto, o uso de hormônios se faz obrigatoriamente sob
se agravaram após fratura de bacia ou de colo do fêmur.
prescrição médicae nunca na forma de automedicação.
Apesar da correlação TRH e câncer de mama não Quando a terapia hormonal se fizer necessária, a mulher
ter sido demonstrada de modo conclusivo, é prudente um climatérica deverá receber também uma orientação sobre
as mudanças sexuais que estarão ocorrendo em seu cor
acompanhamento clinico regular da mama. Essa terapia
também possui forte correlação com câncer de endomé po, ben como ser reeducada quanto à expectativa de sua
trio, que é dependente da dose e do tempo da medicação. vida sexual.
Esse risco pode ser anulado através da administração de Para concluir, é bom relembrar que nos seres huma
progestagênios em intervalos regulares. Entretanto, o nos os fatores psicológicos e sociais representam, mais
sangramento que ocorre após a ingestão de progestagê do que os níveis hormonais, o principal papel na determi
nios não ébem-aceito por muitas das mulheres climaté nação do comportamento sexual.
ricas; além disso, esses compostos podem facilitar o de
senvolvimento de hipertensão e doenças cardiovascula
res, pois diminuem ou anulam os beneficios induzidos
pelo estrogênio. Esses efeitos também são tipo e dose
dependentes.
Os efeitos colaterais do uso de estrogênios apare
cem em um pequeno número de mulheres. Os sintomas
são náuseas, aumento de peso, retenção de água e dores
nas pernas. Os progestagênios podem induzir principal
mente ao cansaço e à perda da libido, que são dose e
tipo dependentes, como já foi dito.
Voltando àquestão da TRH e sexualidade, pode
mos afirmar que essa terapia melhora a vida sexual
da
quelas mulheres que se queixam de menor interesse se
xual devido ao desconforto do coito doloroso. Nesses ca
sos, às vezes, apenas o uso de hormônio de aplicação

64
65
O ATO SEXUAL NORMAL A tua presença/entra pelos sete buracos da minha
cabeça /A tua presença/pelos olhos, boca, nari
nas e orelha/A tua presença/evolve meu tronco,
meus braços e pernas. (Caetano Veloso)?5

Quando dizemos o ato sexual normal", estamos


nos referindo à fisiclogia da resposta sexual, ou seja, às Quando sentimos desejo por alguém que também
um
aos amamOS, estamos asSOciando um estímulo externo a
modificações que ocorrem no corpo humano frente
estimulos eróticos. tipo preferencial de estímulos, bem
O sentimentointerno, ou seja, as sensações visuais, táteis,
como sua duração e intensidade necessárias para a obten olfativas e auditivas provindas dessa pessoa encontram
um respaldo afetivo.
ção da resposta sexual, é uma questão mais pessoal e
menos acadêmica. De forma generalizada, podemos afir
mar que, se esse estimulo não causa dano fisico, psicoló A tua presença / paralisa meu momento em que
gico ou moral nas pessoas envolvidas no ato sexual, ele
é inteiramente normal.
tudo começa/A tua presença/é a coisa mais bo
nita em toda a natureza. (Caetano Veloso)26
sexólogo peruano Artidoro Cáceres24 propôs de
O

nominar a resposta sexual resposta coital'" e dividi-la


em seis etapas: desejo, busca, estimulação, genitalização, tipo de fantasia e o estímulo sensorial mais efe
O

orgasmo, pós-orgasmo. Para compreensão didática, divi tivos na produção de sensação de desejo são individuais
e particulares. As fantasias e os sonhos sexuais, por mais
diremos a resposta sexual em três etapas: desejo, excita
ção e orgasmo. Examinaremos cada uma delas exaltando estranhos que possam parecer, não são indicios, por si
as semelhanças e particularidades entre os sexos. sós, de desvio ou perversão sexual. Na opinião dos sexó
logos William Mastrs e Virginia Johnson2", a fantasia
Odesejo ou apetite sexual pode ser estimulado nos permite escapar das frustrações e limites do coti
por fatores endócrinos e/ou psíquicos (sensações e sen diano. Através da fantasia, pode-se transformar o mundo
timentos). real em qualquer coisa que se goste, não importa quão
Os estímulos internos que fazem emergir o desejo breve ou improvável. Ainda que seja uma incursão no
podem ser os sonhos ou as fantasias vinculados ou não a faz-de-conta da mente, a fantasia pode nos ajudar a en
um estímulo externo. Por isso, esse desejo pode ter ou contrar a excitação, aventura, autoconfiança e prazer.
São manifestações simbólicas de registros armazenados
não um alvo definido. Os estímulos externos ou senso
riais que ativam o desejo são visuais, táteis, olfativos ou
auditivos, provindos de alguém ou alguma coisa que 25. C.Veloso, "A tuapresença morena"-Asaparências enganam, Ney Matogrosso
pode ou não possuir um componente afetivo. eAquarela Carioca, Polygram.
26. C. Veloso, "A tuapresença morena"-Åsaparências enganam, Ney Matogrosso
e Aquarela Carioca, Polygram.
24.G. P. Lopes e colaboradores, Patologiae terapia sexual,Rio de Janeiro: MEDSI, 27. W. Masters e V. Johnson, O relacionamento amoroso: segredos do amor eåa
1994, p. 49-52. intimidade conjugal, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988, p. 268.

66
67
no inconsciente e não devemos temê-los nem negá-los.
coito? O fato é que no casal mais velho existe uma valo
rização da corporalidade sobrepondo a genitalidade.
e
A tua presença/é branca, verde, vermelha, azul desejo sexual provoca respostas fisiológicas que
O

anarela /A tua presença / é tudo que se come, foram estudadas por Masters e Johnson29, as quais deno
tudo o que se reza. (Caetano Veloso
)28
minamos excitação sexual. Entre as alterações decorren
tes da excitação sexual destacamos: rubor facial, dispnéia
ou alteração da freqüência respiratória, arritmia cardiaca
Com relação ao tipo de estimulo mais efetivo na ou alteração da freqüência cardíaca, tremor e congestão
produção do desejo, de uma forma genérica, as mulheres
tendem a apreciar mais os estímulos auditivose táteis en pélvica ou grande afluxo de sangue para a região da bacia.
quanto os homens preferem os visuais. Transcendendo
essa constatação, chegamos ao particular, em que cada
pessoa deverádescobrir qual é o seu canal sensorial mais Os coraçôes pegam fogo e depois / não há nada
aguçado na captação dos estimulos sexuais. que os apague / se a combustäo os persegue as
/
desejo pode culminar com a relação sexual ou
O labaredas e as brasas são /o alimento, o veneno e
o pão o vinho seco, a
não. Os motivos que levam as pessoas a passar da sensa / recordação / dos tempos
idos de comunhão. (Tunai e Sérgio Natureza)30
ção do desejo para a satisfação deste através da relação
sexual são particulares e não cabem ser julgados, rotula
dos ou estereotipados, apenas entendidos pela própria
pessoa. A congestão pélvica, devido ao grande afluxo de
sangue para os genitais, resulta em lubrificação
Uma das queixas mais freqüentes da mulher que na mulher (ficar molhada'', vaginal
vive uma relação de casal se refere àincompreensão do ficar úmida') e em ereção
no homem.
parceiro de que nem toda carícia sexual tenha que, obri
gatoriamente, terminar em uma relação sexual. Inúmeras A lubrificação vaginal tem por finalidade facilitar a
mulheres relatam que gostariam de namorar seu marido, penetração do pênis. A sua abundância varia de mulher
mas não o fazen por medo de que aquele para mulher e na mesma mulher,
sinal sexual dependendo do contex
seja de imediato transformado em ato sexual. to da relação sexual e da idade.
Em casais mais velhos, o carinho existe de forma No homem, além da ereção, ocorre a secreção
mais significativa, pois não háa interpretação da neces um líquido viscoso pré-ejaculatório, que tem por de
sidade do coito. Seria medo do homem em não apresen finalida
de criar um meio propício na uretra para a passagem
tar uma resposta convencional, facilitando a aproximação espermatozóides. A ereção pode ser perdida (recordação
dos
da parceira? Ou o casal descobriu que outras formas de desagradável, ruídos estranhos, parada do jogo erótico
expressão da sexualidade são tão importantes quanto o
etc.) e readquirida com a mesma facilidade. E bom lem

28.C. Veloso, "Atuapresença morena"-Asaparências enganam, 29. W. Masters e V. Johnson, A resposta sexual hunmana,
e Aquarela Carioca, Polygram. Ney Matogrosso São Paulo: Roca, 19S4
30. Tunai e Sérgio Natureza, "As aparências
Ney Matogrosso e Aquarela Carioca, Polygram.
enganam"As aparéncias enganam,

68
69
uma das maio
brarmoso quc diz Helen Singer Kaplan1, que são caracteristicas individuais e sujeitas a inumess
res sexólogas do mundo, quando aborda os problemas de re
variáveis culturais, psicológicas, fisiológicas, etárias,
creção de causa emocional: em condições de relaxamen ligiosas etc.
to, sc produzem ereções. Isso significa que o aparelho se O orgasmo feminino, infelizmente, vem acompantado
cncontra em bom estado de funcionamento. Se a erecão
de mitos e crenças irracionais. Podemos dizer que a
mu
desaparcce, não está perdida para sempre. Voltará em
resposta a um estímulo suave. E normal que, quando se Iher atual está presa à ditadura do orgasmo, ou seja, o
faz amor de mancira prolongada, a ereção apareça e de direito ao prazer do orgasmo se trans formou cm dever
saparcça, exccto na cxtrema juventude, quando a ereção Abaixo expomos alguns desses mitos e sua contrapartida
pode persistir por longos periodos de tempo. da realidade.

MITO: Toda relação tem que ser orgástica!


Mas bem que nós fomos muito felizes /só durante REALIDADE: Toda relação deve ser prazerosa,
o preúdio / gargalhadas e lágrimas / até irmos podendo, como consequência, ser orgástica. Prazer
pro estúdio / mas na hora da cama /nada pintou não é sinônimo de orgasmo.
direito /é minha cara falar / não sou provcito /

sou pura ama(...)/não quero que vocêfique fera MITO: Para se ter orgasmo, basta querê-lo.
comigo/quero ser seu amor/quero ser seu amigo REALIDADE: Em geral o orgasmo não vem quan
/quero que tudosaia / cono o som do Tim faia do se quer, pois não se submete nosso controle.
/

sem grilos de mim sem desespero / sem Ele simplesmente acontece.


/ tdio /
sem fim. (Cactano Veloso)32
MITO: Existem dois tipos de orgasmo: um clitoria
no e outro vaginal.
O processo de excitação crescente pode culminar REALIDADE: 0 orgasmo é um só: o clitoriano.
no orgasmo. O orgasmo é a liberação da descarga ener
Esse órgão funciona como um gatilho, que depois
gética acumulada pcla excitação. As alterações fisiológi
cas envolvidas com o orgasmo são taquicardia, ou cora difunde o orgasmo para a plataforma orgástica, da
ção batendo em alta velocidade, elevação da pressåo ar qual a vagina faz parte, resultando nas contrações
terial, respiração acelerada, rubor no rosto e no terço vaginais.
superior do tórax.
Não existem parâmetros de normalidade para a MITO: A mulher deve chegar ao orgasmo duran
in
tensidade, a duração e a quantidade de orgasmos, visto te o coito, pois só através da penetração possivel
lográ-lo.
31.H SKaplan,Maualhustrado de terapia sexual,Barcelona: Grijalbo, 1978, p. REALIDADE: Chega-se ao orgasmo da mancira
|46-148 que se pode. A maioria das mulheres que têm of
32 C.
Veloso, "Eclipse oculto" -0 melhor de Caetano l'eloso: sem lenço, sem
gasmo o obtém através de estimulo direto
doxumento, Caetano Veloso, Polygram. (manual
oral ou vibrador) do clitóris. Somente 20% das
70
71
se constituir em
mulheres obtêm orgasmos coitais, ou seja, estimu ção, também chamada de involutiva, por
nos in
lação indireta do clitóris,
e nem por isso são mais fenômenos inversos ao da relação sexual. Provoca
divíduos um estado de relaxamento e bem-estar emoci0
livres ou melhores.
nal e fisico.
MITO: O orgasmo tem que ser simultâneo. Percebermos, do lado masculino, uma incapacidade
REALIDADE: Em geral, as mulheres demoram de vivenciar o depois, dormindo logo após a relação
mais a se excitar do que os homens, tanto por sua sexual ou se afastando da parceira. Muitas vezes esse
condição anatômica (a vasocongestão demora mais processoéacompanhado pela própria mulher, que imedia
tamente vai se lavar, manifestando dois mitos: o sexo é
tempo devido ao tamanho da pelve) quanto pela re
sujo e deve ser finalizado logo após a ejaculação. Pode
pressão histórica. Por isso, é difícil chegarem jun mos afirmar que o sexo é muito mais o antes' e o
tos ao orgasmo, o que não deve ser o objetivo ou “depois'" do que o durante'". Exaltar durante'' re
o
a preocupação primordial da parceria. flete uma visão limitada da relação sexual, restrita aos
poucos segundos ou minutos do intercurso. E fundamen
tal que as pessoas persistam em caricias, comunicando ao
O orgasmo mas culino apresenta dois momentos,
que por ocorrerem consecutivamente parecem ser um só.
outro a satis fação por essa vivência.
O
primeiro momento é o da emissão, quando o esperma
se concentra no início da uretra (perto da bexiga). Nes Ai de nós, mendigos famintos:
se momento o ejaculado não se exteriorizou, mas o ho Pressentimos sóas migalhas
mem já sentiu a sensação do orgasmo. Imediatamente
desse banguete além das nuvens
após ocorre a fase da inevitabilidade, quando então o eja contingentes de nossa carne.
culado se exterioriza.
E por isSO a volúpiaé triste
Assim, apesar da crença cultural de que gozo e eja um minuto depois do êxtase
culação são a mesma coisa, isso não é verdade. O orgas (Carlos Drummond de Andrade)33
mo étoda a sensação psicofisica do clímax do prazer
sexual, e a ejaculação é a expulsão do esperma em jatos,
com duração e intensidade variando com o grau de exci O homem apresenta um período pós-ejaculatório,
tação e com a idade. Ëpossivel desvincular ejaculação e
denominado “período refratário', durante o qual é quase
orgasmno, pois uma co1sa acontece sem outra. A práti impossível a obtenção de uma nova ereção ou, se esta se
ca do gozO sem o ejaculado é difundida entre os adeptos tizer presente, não é possível a ejaculação. As mulheres
da filosofia taoista, pois eles acreditam que o ejaculado
não apresentam período refratário, podendo ter orgasmos
évida e energia e que não deve ser desperdiçado. Esses Consecutivos multiorgasmos.
homens aprenderam um autocontrole que possibilita o Como nos atemos aos aspectos fisiológicos da res
distanciamento das fases de emissão e inevitabilidade, que
resulta em gozo sem ejaculação.
33.C.D. Andrade, "Ominuto depois",Corpo- novospoemas, 2. ed., Rio de
A relação sexual se conclui com a fase da resolu Janeiro
Record, 1984, p. 13.

72
73
posta sexual, é necessário refletir mais um pouco sobre
a de
Os desvios ou as perversões sexuais, também chamadas a ne
diferença entre genitalidadee sexualidade. A genitalida parafilias. A principal característica das parafilias é
de é a função fisiológica dos órgãos sexuais que existe cessidade objetiva ou imaginária, permanente e indispen
independente da afetividade. A sexualidade, por sua vez, sável de uma situação/estímulo sexual especificos para
tem uma dimensâo tipicamnente humana. Compreende a ativar a função sexual. A maioria dessas situações/estímu
genitalidade, porém a supera e a transcende. A genitali los é socialmente proibida.
dade é unm dos muitos componentes da interação sexual,
juntamente com fantasia, afetividade, comunicação e
emoção. Segundo o psicanalista italiano Dacquino", a E se Deus é canhoto
e crioucom a mão esquerda?
fixação na genitalidade é sintoma de imaturidade, pois o
individuo torna-se governado pela busca do prazer ime Isso explica, talvez, as coisas deste mundo
(Carlos Drummond de Andrade)36
diato.
O que constatamos, entretanto, é que a maioria das
pessoas é imatura no exercÍcio de sua sexualidade, pos sadomasoquismo sexual é a mais conhecida das
O

to que restringe o encontrO Sexual aos genitais. Aboliu perversões sexuais. No sadismo, a atividade sexual que
se a comunicação tanto do prelúdio como do decorrer e provoca sofrimento fisico ou psicológico em outra pes
do fim do ato sexual. Deixamos de ser pessoas para ser
soa constitui a especificidade fundamental. No masoquis
mos uma "máquina sexual, que, quando se mostra fa mo, é o inverso. O prazer sexual se dápela percepção de
lível, resulta notemor do desempenho, que perpetua a dor fisica ou psicológica. No fetichismo, a pessoa utiliza
in um objeto inanimado (sapatos, roupas intimas, cintas)
competência sexual.
como artificio quase que exclusivO para obter prazer se
Sempre que falamos em comportamento sexual,
tendemos a classificá-lo como normal ou anormal. Quan Xual. A prática sexual de observar pessoas envolvidas em
do percebemos o comportamento sexual como sinônimo
uma relação sexual, sem ser percebido e sem a intenção
de sexualidade, essa classificação torna-se falha. O mani de participar da relação, é denominada de voyeurismo.
queísmo normal/anormaléuma visão simplista que su Podemos observar parafilias mais aberrantes, tais como
bestima a complexidade individual composta por variá necrofilia (prazer com cadáveres), uro e coprofilia (pra
veis culturais, biológicas, sociais e morais. zer com urina e fezes, respectivamente) e zoofilia ou
bestialidade (prazer com animais).
Entretanto, podem existir alguns distúrbios sexuais
relacionados como estímulo erótico. Em algumas pessoas, Existe uma crença errônea de que o velho é mais
o desejo, a excitação e o orgasmo são obtidos através de
uma estratégia socialmente inaceitável. O Manual
pervertido do que o jovem. Os estudos até o momento
diag Constatarm apenas que as perversões são mais comuns em
nóstico das doenças em sexologia, do sexólogo Fernando homens do que em mulheres.
Bianco³5, inclui, entre as doenças sexuais, as aberrações,
A orença de que os velhos apresentariam mais taras
34.G. Dacquino, Vivirelplacer, Avellaneda: Sudamericana-planeta, 1986,p. 149.
35. F. Bianco, Manual diagnóstico das doenças em sexologia, Rio de Janeiro: 36.C.D. Andrade, "Hipötese",Corpo–novospoemas, 2. ed.,Rio de Janeiro: Record,
MEDSI, 1994. 1984p. 61.

74
75
sexuais decorre do fato de a sociedade visualizar qual MODIFICAÇÕES DA FUNÇÃO SEXUAL
quer manifestação sexual destes como anormal, desviante
ou perversa. Muitos adultos gostariam que os velhos fos
sem assexuados. Caso contrário, seriam considerados hi
persexuados, quando na verdade sâão apenas sexuados.
A fisiologia sexual da velhice normal., livre de doen
A parafilia necessita de tratamento sexológico e não ça e em ambos oS sexos, é pouco conhecida. Sabemos que
apenas de tratamento juridico. Suas origens são contro ocorre um declínio na função das gônodas (ováriose
vertidas, e os resultados em terapia sexual são pouco testiculos), que resulta em diminuição na produção dos
eficazes.
hormônios sexuais, que, por sua vez, ocasiona uma redu
ção quantitativa da resposta sexual, que se acentua com
o avançar da idade. Existem, porém, exceções individuais.

NA MULHER

O envelhecimento por si só não diminui o interes


se da mulher por sexo nem seu potencial de reação se
xual, se sua saúde no geral for boa. Não podemos con
fundir capacidade reprodutiva com desejo sexual.
Com relação à função sexual, o que muda na mu
Iher climatérica éo tipo da resposta sexual, que se tor
na mais lenta e mnenos intensa em conseqüência da dimi
nuição de estrogênio, mas nem por isso menos prazero
sa ou satisfatória. O principal fator da senescência sexual
é a freqúência sexual baixa ou nula. A constância de
ati
vidade sexual da mulher idosa retarda os efeitos do en
velhecimento sobre os órgãos genitais.
Além disso, o interesse e a capacidade para a res
posta sexual, incluindo o orgasmo, não são dependentes
de estrogênio e podem persistir por toda a vida da mu
lher, se ela assim o desejar. Dentre as mudanças verifica
das, destacamos e detalhamos:

76 77
1.
Alterações fisiológicas Na verdade, os aspectos fisiológicos do envelheci
diminuição dos niveis de estrógeno e progesterona;
mento favorecem o aumento da libido. A queda de estro
diminuição do tamanho do colo do útero, do útero e
gênios resulta em contrapartida no aumento dos androge
dos ovårios;
nios, que são os hormônios da libido sexual. Por sua vez,
diminuição na espessura e elasticidade da vagina; desenvolve-se um complexo sistema de veias na área
diminuiço da lubrificação vaginal. genital. Essas mudanças podem favorecer um aumento
2. Alterações na fase de excitação do impulso sexual na mulher após a menopausa.
resposta mais lernta: AspectoS psicológicos também podem favorecer um
redução da vasocongestão genital, devido à diminui aumento do prazer sexual. E interessante notar que, com
ção do fluxo sangüíneo por queda de estrogênio; o passar dos anos, as mulheres se tornam menos inibidas
aumento no tamanho dos seios torna-se mínimo ou e mais experientes sexualmente. Algumas se permitem
ausente: maiores liberdades sexuais após a menopausa, pois não
menos tensão sexual devido à diminuição da massa
sofrem mais com a angústia de uma gravidez indesejada.
muscular; Em alguns casos, a mulher apresenta diminuição da sua
menor expansão da vagina e menor lubrificação vagi
resposta sexual de forma indireta, por causa de doença
nal; ou do declínio no interesse do cônjuge.
secura vaginal, devido a maior demora e menor lubri
ficação vaginal; Umasituação clínica comum é a que denominamos
•o coito pode causar dor por causa da secura vaginal. pseudodisfunções sexuais7, que são transtornos involuti
vos normais do envelhecimento vividos como patológicos
3. Alterações na fase do orgasmo por desconhecimento ou negação da “crise da meia-ida
resposta clitoridiana intacta; de'". A resolução dessas situações requer informação deta
diminuição da duração do orgasmo; Ihada e muitas vezes técnicas de enriquecimento sexual.
menos contrações vaginais, e mais fracas.
Dentre as pseudodisfunções sexuais da mulher ido
4. Alterações na fase de resolução sa, as queixas são:
aumento do tempo de retorno ao estado pré-estimu
poucaou nenhuma lubrificação vaginal;
latório;
redução da capacidade multiorgástica, cólicas uterinas coitais ou pós-coitais;
·
irritação fácil do clitóris devido à redução do tecido · dispareunia coital ou pós-coital por baixa de es

adiposo; trogênio;

sintomas de cistite ou uretrite após o coito demora
do ou repetido em intervalo curto de tempo, chamada 37. AF. Colombino, "Terapia Sexual naTerceira ldade". Trabalho apresentado no VI
de cistite de lua-de-mel'", CongressoLatino-Americano de Sexologiae EducaçãoSexual, Belo Horizonte, 24 a27
de agosto de 1992.

78
79
a
• distensão vaginal exagerada no coito devido vá desde o final da década de 40, quando Kinsey
tudads
rios partos; identificou um declínio na atividade sexual, na capacidade
vagina estreita e curta por baixa de estrogênio; eretiva e orgástica e na freqüência de ereções matinais
com o avançar da idade. Porém, ele não pesquisou o im

imposição do ritmo de um homenm mais novo.
pacto das doenças nesse processo, que às vezes é bastan
O
problema mais comum nas mulheres menopausa te relevante.
a
das é atrofia vaginal decorrente da falta de estrogênio.
A dispareunia, ou dor no coito, decorrente dessa atrofia Alguns outros estudos também foram feitos sem o
pode gerar como disfunção sexual a perda do desejo controle das doenças que poderiam estar afetando o de
devido à ansiedade e ao temor de um coito doloroso. O sempenho sexual dos homens idosos, e as conclusões
sintoma clínico é de uma dispareunia secundária, pois foram as seguintes39:
não existia antes da menopausa, e é causada pela dificul
dade de lubrificação da mucosa vaginal, resultante da a atividade e o interesse sexual diminuem com o
deficiência de estrogênio, da atrofia vaginal e da diminui avançar da idade:
ção da vasocongestão pélvica.
o
De uma forma geral, a Terapia de Reposição Hor declínio progressivo da atividade sexual não é
regra geral para todos os individuos, sendo que al
monal oral, transdérmica ou local diminui alguns
dos sintomas sexuais pós-menopausa. O uso de lubrifi guns apresentam aumento do interesse sexual:
cantes vaginais artificiais, como o K-Y gel, também pro o nível docomportamento e do interesse sexual é
duz bons resultados no caso de secura vaginal. Entretan E
essencialmente o mesmo entre indivíduos casados e
to, a inatividade sexual potencializa a senilidade vaginal,
ou seja, mulheres menopausadas sexualmente
não casados;
ativas apre
sentam de forma significativa menos atrofia vaginal do •o fim das atividades sexuais do casal está relacio
que as inativas. nado principalmente com a falta de desejo e proble
mas eretivos dos homens;
experiências sexuais passadas, classe social e fato
NO HOMEM res objetivos e subjetivos da saúde contribuem para
a variação do comportamento sexual.
Constata-se em homens idosos uma diminuição da
testosterona livre, o que pode contribuir para a diminui
ção do desejo e da atividade sexual. A partir desses estudos surgiram discussõcs sobre a
avanço da idade também ocasiona a perda de
O importância da saúde na função sexual do homem idoso,
bras sensórias e nervosas periféricas. Especula-se que fi
essa alteração pode diminuir a sensibilidade nervosa aos
38.G. P. Lopes e M. B. Maia, Envelhecimento sadio e sexualidade masculina, 1993.
estímulos eróticos. Reprodução 8(2):44-45.
A
sexualidade do homem idoso tem sido muito es 39. R. Schiavie colaboradores, Sexualiy andaging men.National Institute on Aging.
Grant 06895.

80
81
concluju-se que o bem-estar fisico uma importante de sexual masculina, a satisfação pessoal com o relaciona
é
e
variável no comportamento na função sexual.
e mento em parceria e a satisfação com o desempenho se
Atualmente, o psiquiatra e sexólogo Raul Schiavi, xual não diminuem com a idade. Mesmo alguns indivíduos
que apresentam diminuição da ereção durante o sono e da
diretor do Programa de Sexualidade Humana do Depar
tamento de Psiquiatria do Hospital Monte Sinai em Nova rigidez peniana reportam, assim como suas parceiras, que
York, tem se dedicado a exaustivas pesquisas sobre a se estão tendo coitos regularese satisfatórios.
xualidade do homem idoso saudável, ou seja, não porta Apesar da testosterona livre estar relacionada com de
dor de doença fisica ou mental, e suas conclusões são0:
sejo sexual e ereções noturnas, não está associada com a
freqüência do coito, que é mais influenciada pela recep
o desejo sexual, a excitação sexual (graus das ere tividade da parceira. Esses dados nos fazem reafirmar o
Ções no coito, no sono e nas masturbações e fre conceito de que fatores hormonais não são determinantes
qüência de ereções matinais) e a atividade sexual importantes das diferenças individuais no comportamento
(freqüência de coito e de masturbação) diminuem sexual do homem idoso saudável.
Com o avança da idade: O processo que contribui nas mudanças do com
a dificuldade de obtenção e manutenção de ereção portamento sexual desse homem idoso é multifatorial e
inclui, além dos determinantes biológicos, fatores psico
aumenta;
lógicos, econômicos e conjugais.
hámaior ocorrência de ejaculação retardada;
Os indivíduos idosos que permanecem sexualmen
*o interesse, a responsividade à insinuação sexual, te ativos, mesmo na presença de um decréscimo na capa
a freqüência masturbatória e o grau de ereção na cidade eretiva, estão sob a ação positiva de outras variá
masturbação não sofrem alterações. veis. O valor da sexualidade durante sua vida, a moti
vação e a habilidade de experienciar e desenvolver estra
Schiavi também trabalhou com dosagens de horm tégias sexuais compensatórias e a atitude de companhei
e
nios demonstrOu que, com o avançar da idade, o ho riSmo de suas parceiras são grandes afrodisíacos.
mem apresenta diminuição da testosterona livre, 0 que Entre as mudanças na fisiologia da resposta sexual
parece estar relacionado com a diminuição do desejo se masculina que começam a ocorrer a partir dos quarenta
xual, da freqência masturbatória e da rigidez das ere e cinco anos aproximadamente, destacamos de maneira
ções durante Sono41, sucinta as seguintes:
Apesar do envelhecimento estar significativamente
vinculado a um decréscimo de vários aspectos da ativida tendo o desejo sexual, estejá não é mais capaz de
produzir ereção concomitante ou imediata;
40. R. Schiavi e colaboradores, "Healthy Aging and Male Sexual Function", 1990,
American JournalofPsychiatry 147(6): 766-771. em geral épreciso mais tempo e uma estimulação
41. R. Schiavi e colaboradores, "The Relationship between
Pituitary-Gonadal
Function and Sexual Behavior in Healthy Aging Men", 1991, Psychosomatic
tátil mais direta para que o pênis fique ereto;
Medicine 53:363-374. •
as ereções tendem a ser menos firmes e só alcan

82
83
çam o máximo de rigidez segundos antes da ejacu ereção apenas com mânipulação ativa do pênis;
lação; ereção apenas com mulheres mais jovens que sua

em geral, a necessidade fisica de ejacular diminui. esposa, devido à monotonia conjugal;
o que resulta em longos periodos de ereção antes perda da força da ejaculação e do volume ejacu
da ejaculação; latório;

maior facilidade no controle ejaculatório; diminuição no número de orgasmos;
a quantidade de sêmen e a intensidade da ejacula · imposição do ritmo de uma mulher mais nova.
ção se reduzem:
diminui a quantidade de contrações da uretra du homemn maduro demora mais tempo a

O
ejacular,
rante a ejaculação; tanto pelas modificações fisiológicas como por uma dimi
perda de ereção imediatamente após
a
ejaculação; nuição da ansiedade. São amantes mais refinados que se
• o periodo refratário (período necessário para a entregam mais à parceira e aos jogos sexuais dos beijos,
toques e carícias, desfrutando por mais tempo a relação
obtenção de nova ereção após a ejaculação) fica sem ter a iminência do orgasmo. Além disso, quanto
mais longo, de quinze minutos atéuma semana. mais ativo sexualmnente o indivíduo for na vida adulta,
mais o será na velhice.
Muitos homens, quando notam que sua ereção está Contamos uma história mnetafórica a todas as pes
mais lenta e mais demorada, acreditam estar ficando im soas idosas que nos procuram para um aconselhamento
potentes. O medo da impotência gera uma ansiedade que sexual. Vamos comparar um jovem e um idoso na sua
pode inibir de fato a ereção, resultando em uma disfun capacidade de se deslocar de um ponto A para um pon
ção erétil psicogênica. A parceira do homem idoso tam to B, distantes um do outro. Ambos conseguem atingir
bém deve estar ciente dessas modificações para que não objetivo proposto. Porém, se o idoso perde a velocidade,
as interprete de modo errado, como se o parceiro a es ele pode ganhar a possibilidade de apreciar as nuanças de
tivesse rejeitando. seu trajeto. O jovem muitas vezes faz esse percurso ra
pidamente, perdendo a capacidade para essa observação.
Na clínica sexológica, deparamos com quadros de Em outras palavras, a forma de caminhar édiferente, mas
pseudodisfunções sexuais em homens idosos. São "pro o caminho não deixa de ser percorrido. Da mesma forma
blemas' que não existem de fato e que se devem às fa acontece na resposta sexual.
Ihas na educação sexual para a terceira idade, posto que
se referem a situações de normalidade que fazem parte Temos certeza de que esse caminho vai ficando
das modificações naturais dessa etapa da vida. Lidamos mais deslumbrante, quanto mais segura e tranqüila estiver
com elas através do esclarecimento, apoio e aconselha a pessoa com relação a sua seXualidade. Em matéria de
mento sexual. sexo, mais importante do que o fimé o meio, a travessia.

Dentre as pseudodisfunções sexuais, aquelas de que


os homens idosos mais se queixam são:

84 85
PROBLEMAS SEXUAIS A satisfação do casal é o que denominamos, na
guagem sexológica, adequação, ou seja, cada um está
lin
bem consigo mesmo e com o outro. texto reproduzi
O

do espelha muito bem o conceito de adequação e inade


O decorrer do tempo opera mudanças na sexualida quação sexual. O profissional Só vi atuar em caso de
de. Na terceira idade pode ocorrer diminuição do desejo, inadequação, quando um ou ambos se apresentam insa
da atividade e da resposta sexual em ambos os sexos. tisfeitos com a situação vigente.
Entretanto, essa não é a regra, pois o avançar da idade Até três décadas atrás persistia a crença de que o
também da mesma forma que pode diminuir a quanti climatério determinava o fim da atividade sexual junto
dade pode incrementar a vida sexual através de uma com a perda da função reprodutiva. Ignorava-se o que
melhora de qualidade. hoje sabemos da fisiologia da resposta sexual humana.
De uma forma geral, em especial nos países desen
volvidos, observamos a diminuição do interesse sexual. Os problemas sexuais que afetam os casais idosos
O desinteresse sexual pode estar desvinculado das altera não podem ser interpretados como incapacidade para a
Ções fisicas e estar relacionado com as vida sexual. As disfunções sexuais inerentes à idade avan
modificações na çada e provenientes da mudança do ciclo hormonal po
forma de perceber e vivenciar a sexualidade.
dem e devem ser tratadas para que as pessoas idosas
O
coito perde a importância principalmente para as
Continuem vivenciando sua sexualidade.
mulheres maduras, se comparado à ternura e às carícias,
como bem retratou a jornalista A sexualidade é um fenômeno holístico com dois
mineira Anna Marina2;
componentes principais: o psicossocialeo biológico. Em
muitas mulheres de meia-idade, já na menopausa, conseqüência, a sexualidade não pode ser completamente
sentem-se muito satisfeitas sem atividade sexual. entendida sob pontos de vista setorizados ou psicoló
Podem ser muito bem casadas Ou solteiras, por gico ou orgânico. A resposta sexual na terceira idade é
razões fisicas ou emocionais, não desejam manter particular e não deve ser generalizada. Tentamos abordar
relações sexuais com o companheiro. Essas mu no capítulo anterior algumas
situações que podem alterar
lheres fazem parte de casais que consideram o a resposta sexual, mas devemos ter em mente que
companheirismo, o carinho e a proximidade não existem förmulas para a sexualidade ajustada. não
sexual como elementos suficientes para a
ção de suas necessidades fisicas e afetivas.satisfa Alan Wabreck43, ginecologista e sexólogo
tinência torna-se então umaescolha
A abs no, acredita que a fórmula para se america
ter uma resposta se
te normal. Os problemas surgem perfeitamen Xual adequada (RSA) seja o produto de
só quando os ca estímulos efe
sais têm opiniões divergentes, ou quando um dos tivos" (EE), quantidade suficiente de estímulos em inten
dois estáfrustrado por causa sidade e duração (QS), em um ambiente propício
quantoo outro parece não preocupar-se com en
da abstinência, (AP),
Ou seja, RSA = EE x QS x AP.
esSa Em sua opinião, OS estí
questão.
42. A. Marina, trecho extraído de O 43.A. Wabreck, "Comunicação Pessoal".XICongresso Mundial
Estado de Minas. de junho de 1993. de Sexologia, 1a5

86
87
mulos efetivos incluem fantasias, vibrador, auto-erotis PROBLEMAS SEXUAIS NA MULHER
mo, estimulação manual e orogenital pelo parceiro, coj
to e coito associado a estimulação do clitóris.
Os fatores que afetam a expressão sexual nas mu
Os modelos culturais obrigaram o homem, com
o
Iheres menopausadas såo nltiplos e abrangem o perfil
correr dos tempos, a associar estreitamente sexo a uma hormonal, a estrutura psicossocial e a idade propriamente
atitude básica de conquista, nccessidade de desempenho dita. Algumas mulheres sentem uma diminuição do dese
e
poder. Impotência, em termos etimológicos, significa
jo sexual após a menopausa, enquanto outras vivenciam
falta de poder, ou seja, a qualidade pessoal e sexual do um aumnento do apetite erótico. Restringindo ao ponto de
homem avaliada por sua função cretiva. Isso é triste,
vista fisiológico, a menopausa favorcce um aumento da
porém ainda é uma verdade para muitos homnens. Nesse so
caso, estamos comparando o ser humano aos animais libido,já que a aço da testosterona (androgênio) não
fre mais oposição de estrogênios. Entretanto, nos
a seres
infra-humanos, também dotados de capacidade eretiva, humanos parece que os fatores psicossociais represcntam
porem incapazes do exercicio da sexualidade, que trans um papel preponderante na determinação do comporta
cende sobremancira a genitalidade. mento sexual, e não os niveis hormonais.
Merece ser enfatizado que a sexualidade masculina Sem dúvida, a queixa sexual mais freqûente a de
mais focalizada nos genitais, enquanto a feminina & inibição do desejo, isto é, a falta de interesse pelo sexo.
mais difusa pelo corpo todo. Homens que foranm educa Algumas mulheres fazem-no por obrigação, para cumprir
dos dentro de papéis sexuais rigidos apresentam um du uma norma, para não perder o parceiro. Não sabem quc,
plo padrào de cxpressão sexual. Tornam-se o cspecialis agindo dessa forma, se estreitam e simbolicamente aca
ta, o iniciador, o controlador do orgasmo feminino, des bam morrendo e matando a relação. Algumas evoluem
vinculando sexo de afeto, enquanto as mulheres buscam para um quadro mais avançado de fobia ou aversão se
a associação dos dois. O processo de genitalização da se
xual. Nesse caso, o estimulo não é apenas indiferente,
xualidade masculina compartimentaliza a erotização mas
culina e exalta a importância do desempenho. As mulhe
tornando-se repulsivo e provocador de distúrbios como
res geralmente buscam no sexo o complemento da
taquicardia, sudorese e irritabilidade.
rela O
tratamento para a frigidez feminina'", termo
ção de partilha entre o casal. O resultadoo desencon
tro entre os sexos, propiciando o que chamamos de se impróprio para a falta de desejo sexual, mas o mais uti
xismo, ou seja, a *guerra dos sexos" lizado no meio leigo, nessa fase da vida é muito dificil.
Na maioria das vezes não podemos contar com o parcei
Os problemas sexuais podem ser decorrentes de ro, resistente à terapia sexual ou totalmente omisso da
tores orgânicos elou psicossociais. Esses últimos sâo fa
os vida conjugal.
principais promotores, apesar de essa faixa etária apre
sentar um aumento significativo de causas orgânicas, Em alguns casos, o que acabou não foi a vida se
Xual do casal, mas a sua vida conjugal, e a busca
decorrentes de arteriosclerose, diabetes, hipertensão e da te
uso de medicamentos, entre outras. rapia sexual é a tentativa de resgatar uma relação que
não existe mais.
Nos casos em que a queixa advenha da monotonia
88
89
a presença da
conjugal, ausência de fantasias,
desconhecimento corpo Temos observado cada vez mais
ral ou jogo sexual
com estimulação insuficiente c/ou ina mulher idosa no consultório, procurando ajuda especifi
dequada, podemos ajudar mulher através
a de psicotera camente para tornar seu jogo sexua orgástico. Uma de
sexual. nossas clientes assim se expressou: Quero agora, na me
pia ou aconselhamento
vem acompa nopausa, descobrir todo o meu potencial feminino. Será
Nos casos em que o quadro sexual
nhado de depressão, a instituição de medicação cspecifi
que tenho direito? Não é muito tarde?"".
na
ca pode produzir uma melhora significativa. Apesar de A terapêutica da dificuldade orgástica consiste,
controverso, em casos especiais, doses minimas de testos maioria dos casos, em um procesSo de reeducação sexual
terona podem ser administradas como coadjuvantes ao através de técnicas de dessensibilização masturbatória
(vide capitulo “Sexualidade da pessoa só"). E lógico
que,
aconsellhamento sexual.
a
Outraqueixa comum a que relaciona o coito com dentro do possível, se deve abordar questão relacional
uma história de desconforto e/ou dor constante. Esta que possa estar facilitando ou dificultando a resposta do
orgasmo, além de se trabalhar, com a mulher, o seu pen
pode ter uma origem orgânica devido à atrofia vaginal.
Porém, muitas vezes, acompanha uma história de falta de sar, sentir e agir em termos da sexualidade. Infelizmente,
desejo não expressada pela mulher ou percebida pelo alguns medicamentos têm sido utilizados de forma inade
parceiro, traduzindo a falta de diálogo sexual e geral quada, para essa disfunção, quando é quase impossível
entre a maioria dos casais. uma problemática orgânica. A indicação de cirurgias
pode ser ainda mais maléfica.
Quando o bloqueio do desejo se dá por doenças ou
medicamentos que aumentam a prolactina no sanguc, o Os profissionais médicos em contato com pacientes
uso de lisurida ou bromocriptina pode reverter o sintoma. climatéricas devem estar preparados para interrogá-las
E interessante relatar a história de uma paciente de 68 sobre sua sexualidade e tratar ou encaminhar as queixas se
anos, viúva e háalgum tempo
totalmente assexuada, que xuais. Identificada a causa do problema, este deve ser tra
vivia com o filho casado. A preocupação de seu filho tado da maneira mais adequada: medicação, educação, acon
começou quando ela iniciou um tratamento para selhamento ou encaminhamnento para um profissional es
doença
de Parkinson com um medicamento que sabemoS ser ini pecialista (ginecologista, psicólogo ou terapeuta sexual).
bidor da prolactina. Como sua condição assexuada talvez
se devesse em parte às altas doses
desse hormônio, uma
vez suprimido o medicamento, houve a
possibilidade de
manifestações sexuais. Reações de estranhamento, por h
PROBLEMAS SEXUAIS DECORRENTES DE
parte do filho, foram manifestadas como: Minha mãe ALTERAÇÕES ORGÂNICAS
parece uma tarada. Não pode ver um
homem bonito na
tela da TVou colegas de seus netos sem que
a beleza de seus corpos e a manifeste Nunca é demais repetir que um dos problemas mais
nossa orientação foi no vontade de tocá-los". A comuns nas mulheres menopausadas é a atrofia vaginal
sentido de esclarecer que essas
manifestações não faziam parte de um comportamento decorrente da falta de estrogênio, que pode causar dispa
desviado ou perverso.a reunia e conseqüente disfunção sexual de perda do desejo
devido à ansiedade e ao temor do coito doloroso. Entre
90
91
o orgas
tanto, a inatividade sexual potencializa a senilidade vagi como diabetes, podem prejudicar o desejo e/ou
nal, ou seja, mulheres menopausadas sexualmente ativas mo, e serão tratados emn um capítulo à parte.
apresentam, de modo significativo, menos atrofia vaginal
do que as inativas.
É
interessante saber que as mulheres menopausadas PROBLEMAS SEXUAIS DECORRENTES DE
sexualmente inativas também apresentam umamédia de ALTERAÇÖES PSICOSSOCIAIS
peso maior do que as ativas. E o sexo funcionando tam
bém comno um regime de emagrecimento. Segundo o se Como já foi relatado, fatores interpessoais parecem
xólogo Ricardo Cavalcanti4: os fatores orgânicos
ter um papel preponderante sobre
como determinantes da vida sexual da mulher menopau
Como terapia fisica, o sexo é uma excelente providên sada. Mulheres abstinentes no. climatério apresentaram
a sua
cia. Nenhum cooper se compara a uma cópula. As pouca satisfação e/ou interesse sexual durante toda
as atividades
vaidosas que fiquem atentas. Hoje sabemos que cada relação conjugal e em geral abandonaram
ato sexual consome em média 150 cal, o que decerto coitais justamente por acreditarem que o sexo
nunca teve
é muito atraente para quem deseja perder peso. grande importância em suas vidas.
A falta de parceiro, por separação ou viuvez, é
um
Sintomas da menopausa, como ondas de calor e fator limitante para que mulheres mais velhas possam
suores noturnos, também conseqüentes da deficiência de viver a sua sexualidade. Essa situação é agravada pelo
estrogênio, podem ter um efeito secundário sobre a se fato de que as mulheres têm uma expectativa de vida
xualidade. Por serem agentes causais de distúrbios do maior que os homnens, e estes, por sua vez, tendem a
sono, podem estar associados a alterações de humnor e, casar-se com mnulheres mais jovens.
como conseqüência, à diminuição do desejo e da ativida A
falta de comunicação entre os casais é um impor
de sexual. tante fator de desencontro sexual. Enquanto a maioria
Por causa da redução da lubrificação vaginal, a pa das mulheres julga que seus parceiros perderam o interes
tologia sexual feminina orgânica por excelência é a dis se sexual, esses mesmos parceiros relatam estar com di
pareunia. Essa situação exige exame ginecológico minu ficuldades eretiva elou ejaculatória.
cioso para descartar a possibilidade de um câncer, bem
como exames complementares, em especial o ultra-som e Podemos dizer, com certeza, que falar em proble
a laparoscopia. ma sexual feminino nessa época da vida nos autoriza a
0 uso de medicamentos e/ou cirurgia, colocar grande parte da responsabilidade no outro sexo.
quando bem conduzido, leva a uma reversão do guadro
clínico. Entretanto, em terapia sexual, o comprometimento é vis
to como da unidade conjugal e não pessoal. A busca de
Medicamentos como ansiolíticos maiores, antide
culpados só ajuda a paralisar o crescimento no sentido da
pressivos e antiulcerosos, além das doenças sistêmicas,
busca de uma adequação sexual.
44. R. Cavalcanti, "Sexologial"-textos do 1°Encontro Nacionalde Sexologia, São Os casais idosos devem comunicar aos seus parcei
Paulo, Femina Livro, Fundo Editorial da FEBRASGO, 1984, p. 23. ros suas necessidades e seus problemas sexuais, bem

92
93
a
cirur
como ser instruídos sobre as mudanças fisiológicas e sentimento de velhice, que se manifestaram após
anatômicas que ocorrem com o avanço da idade. Nesse gia. Na verdade, junto com
o útero e s ovários, essa
sua
momento, é importante estar atento para mudanças nas mulher perdeu o sentido de sua vida. A queixa de
uma um sentimen
atividades sexuais propriamente ditas, não considerando falta de desejo sexual era expressão de
éo
o coito como a única expressão de sexualidade e fazen to mais profundo da falta do desejo de viver. Esse
do uso de hormônios e lubrificantes vaginais quando ne que trans
resultado da internalização da crença cultural
cessário. formou feminilidade e vitalidade sinônimos de maternida
de. Talvez uma escuta mais acurada antes do procedi
mento cirúrgico pudesse evitar traumas tão significativos.
MENOPAUSA CIRÚRGICA Felizmente, esse caso é raro, pois a maioria das mulheres
que sofrem esse tipo de intervenção cirúrgica evolui sa
Algumas mulheres são confrontadas com uma me tisfatoriamente no pós-operatório.
nopausa induzida cirurgicamente por remoção do útero
(histerectomia) ou remoção bilateral dos ovários (oofo
rectomia). Essas mulheres apresentam uma redução sig PROBLEMAS SEXUAIS NO HOMEM
nificativa de testosterona e estrogênios nos primeiros dias
após a cirurgia. Pouco antes da cirurgia ou logo após,
De modo geral, os problemas sexuais nessa faixa
elas são submetidas a tratamentos de reposição hormo
nal: o estrogênio garante a integridade vaginal, assim
etária não são específicos dos idosos, porém, há uma
como previne as ondas de tendência social a reforçá-los, através de uma postura de
calore sudorese; os progesta negação da sexualidade na velhice. A pressão sociocultu
gênios previnem os efeitos colaterais da exposição pro ral dos 'adultos' ", se é que podem ser assim chamados,
longada ao estrogênio; os androgênios parecem aumen émuito grande, em especial quando os homens maduros
tar o interesse sexual, como já foi discutido antes.
não realizam o desempenho convencional.
Entretanto, os principais efeitos dessa castração"
O homem acredita, durante grande parte de sua
cirúrgica estão relacionados comn a sua representação
vida, que pode manter o mito da 'máquina masculina"',
simbólica para a mulher. A remoção do útero ou do ová e que sua curva descendente, em termos sexuais, se
rio, na maioria da vezes, representa a anulação da sua ini
feminilidade e repercute em sua auto-imagem, cia a partir dos cinqüenta anos. Na verdade, o que ocorre
ma e sexualidade. Nesses casos, indica-se o auto-esti nessa ép0ca é um atestado de sua condição humana, de
acompanha ser falível, que não ocorria em etapas anteriores. São
mento psicoterápico.
necessárias três décadas, a partir da puberdade, para que
Ilustrando essa situação, lembramos o atendimento ele perceba que não é uma máquina ou um animal em
de uma mulher que teve o seuútero e ovários retirados, cio'" permanente. Infelizmente, poucos homens estão
uma cirurgia comum na prática ginecológica. Essa conseguindo transformar as perdas de quantidade em
pacien
te relatava falta de desejo sexual. Apesar da pouca ganhos de qualidade. Se existe perda genital, pode se
idade,
41 anos, apresentava sinais de envelhecimento abrupto, ganhar em sensualidade (tão ou mais importante para a
com mudanças na pele, cabelos brancos e um sexualidade feminina) através da maturidade, experiência
profundo

94
95
a busca
de vida e não exigência de pressa, que ocorrem com o solução através dessas orientações, é necessário
de um profissional especializado, no
caso um sexólogo.
processO do envelhecer.
Considerando a resposta sexual em três fases (de Sem dúvida, a maior revolução nos últimos tempos
que com o ad
sejo, excitação e orgasmo), percebemos com nitidez para o tratamento da disfunção eretiva se deu
a maior fragilidade do sexo masculino ocorre na pertur vento das drogas vasoativas -prostaglandina, fentolami
bação da fase de excitação, traduzindo-se nos distúrbios na e papaverina que são aplicadas no corpo do pênis,
eréteis, impropriamente denominados de impotência. tanto pelo médico quanto pelo próprio homem portador
O homem com dificuldade de ereção foge de qual de dificuldade eretiva, podendo reverter um quadro "ir
quer contato, para não lidar com a angústia do fracasso. reversivel'" de impotência e depressão. São incontáveis
Em alguns casos, pode perder o desejo sexual como pro oS resultados positivos com homens idosos bem-sucedi
cesso de defesa ao risco do fracasso. Para escolher o dos profissionalmente mas deprimidos pela impotência,
melhor tratamento, énecessário um diagnóstico correto. que é resolvida através de terapia sexual e auto-injeção.
Os dois problemas que mais reduzem a aceitação e a pra
Para saber a causa da disfunção erétil (fisica ou psí o
ticidade dessa terapêutica são o medo de injeção (e
quica), deve-se consultar um andrologista, e o médico homem se diz sexo forte) e o fato de Brasil contar
o
checaráse o problema tem origem vascular (arterioscle apenas com papaverina (as outras precisam ser impor
rose etc.), neurológica (diabetes etc.) ou hormonal. Caso
se confirme a causa fisica ou orgânica, o tratamento irá tadas), que é a menos aconselhada das três drogas por
significativos efeitos colaterais. Essa terapia só deve ser
variar dependendo de qual compartimento esteja lesado: utilizada sob orientação médica.
fluxo de entrada (artéria) ou fluxo de saída (veias); con
dução nervosa (neurológica); ou, em situação bem mais Na verdade, o temor da impotência sexual é bem
rara, deficiência de testosterona (hormonal). O avanço na mais freqüente do que a própria ocorrência dela. E nor
andrologia e na sexologia permite que a pessoa possa mal que ocorra falha sexual ocasionalmente em quase
contar com vários instrumentos para resolver a falha ere todos os homens, de todas as idades e por diversas ra
tiva: medicações orais e intracavernosas, aparelhos de zões, entre elas cansaço, tensão, doenças, uso de medi
vácuo e cirurgias para implantação de prótese. camentos e bebida em excesso. Mas a principal razão de
Se não houver causa orgânica, o que ocorre na falhas eretivas ocasionais diz respeito a nossa condição
inaioria dos casos, a disfunção eretiva pode ter caráter emo humanae não de máquinas, apesar de que estas também
cional. As vezes, um eventual fracasso traz ansiedade falham. Na maioria das vezes, a potência retorna por si,
de desempenho, o que leva a um novo fracasso, instalan mesmo sem tratamento especial, logo que desaparece a
do-se um ciclo vicioso. Esse fenômeno deve ser interrom causa.
pido. A solução pode vir pelo diálogo entre o casal e pela Um problema que é bastante perturbador para o
orientação no sentido de se dar menos importância à pe homem moderno é a dificuldade de controlar a sua ejacu
netração durante um período de tempo no qual se permi lação, o que denominamos ejaculação precoce. Precoce
tem os jogos sexuais prazerosos e desvinculados de ere não no sentido de não dar prazer à sua parceira, pois não
ção e coito. A não necessidade do coito diminui sensi devemos nos julgar responsáveis pelo prazer do outro,
velmente a ansiedade de desempenho. Caso não haja re somos no máximo facilitadores ou dificultadores. Porém,

96 97
qualquer homemécapaz de controlar
o seu reflexo eja descompromissado com o coito. Educação sexual, psico
culatório de forma a prolongar seu prazer
o0 e, em conse terapia ou terapia sexual e aconselhamento constituem
qüência, o de sua parceira. também armas efetivas quando as pessoas não resolvem
por si sós. Se os problemas forem de origem orgânica, o
As causas de ejaculação precoce estão fundamen
ve acompanhamento pelo andrologista e pelo sexólogo ga
talmente ligadas a um aprendizado que condicionou a
rante praticamente a resolução do caso.
locidade: iniciação sexual com prostitutas, masturbações
rápidas e culposas, ou sexo em ambientes inadequados.
Todas essas situações associam ansiedade ao momento
de excitação crescente, o que dificulta a percepção das PROBLEMAS SEXUAIS DECORRENTES DE
sensações premonitórias ao orgasmo. D
ALTERAÇÖES ORGÂNICAS
O
tratamento através da psicoterapia sexual visa
propiciar esse aprendizado, através de técnicas de auto Afisiologia do desejo sexual do homem idoso não
controle, primeiro individualmente e depois em parceria. estáesclarecida, podendo o indivíduo apresentar desde
Por não ter um fator causal orgânico, as cirurgias para inapetência até aumento do desejo sexual. Porém, na
ejaculação precoce são totalmente inadequadas. Seria maioria das vezes, o desejo diminui. A pergunta-chave
ótimo que elas tivessem efetividade, porém constituem que se pode formular é: “Existe uma relação entre queda
uma falácia. de desejo e baixOS níveis de testosterona circulante?"". E
Os transtornos relacionados com a dificuldade eja sabido que uma produção aumentada desse hormônio
culatória, em particular o intravaginal, são raros e mere não aumenta o interesse sexual masculino. Por outro
cem uma abordagem mais criteriosa para se lado, existem doenças que provocam o aumento do hor
afastar uma mônio prolactina no sangue e insuficiência dos testiculos,
causa fisica.
ou gônadas, ocasionando possível perda do desejo se
Problemas ligados à inibição do desejo sexual no xual. Entretanto, esses casOS são raros.
homem eram muito infreqüentes no consultório, porém
Nessa faixa etária, as causas orgânicas de impotên
têm se tornado mais usuais em decorrência da crise so
cioeconômica e política pela qual atravessa o pais. O cia são mais freqüentes, tornando obrigatória a diferen
homem brasileiro ainda é tão genitalizado que ciação entre impotência fisica e psíquica através do estu
foram ne do dos compartimentos hormonal, vascular e neurológi
cessários vários planos econômicos fracassados (Bresser,
co, todos eles importantes no
Funaro, Cruzado etc.) para que se sentisse afetado na sua fenômeno da ereção pe
prática sexual. De uma maneira simplista podemos dizer niana.
que crise social é igual a depressão, que é A história de perda paulatina de ereção em indiví
igual a frigi
dez masculina. A terapia sexual para a inibição do duos que não apresentam a ocorrência de ereções
se mostra satisfatória na maioria desejo mati
dos casos. nais e/ou noturnas e com a libido preservada faz-nos pen
sar em etiologia orgânica.
Concluindo, podemos dizer que, se os problemas
forem de origem emocional, podem ser resolvidos através
do estímulo ao diálogo do casal e da proposição
do sexo

98
99
PROBLEMAS SEXUAIS DECORRENTES DE
ção das sensações eróticas responsáveis pela ereção, con
tribuindo na manutenção do fracasso. A repetição de fa
ALTERAÇÕES PSICOSSOCIAIS
lhas eretivas pode resultar em inibição do desejo, usna
defesa do homem para se antecipar ao fracasso.
Existem disfunções provocadas por causas psicoló
gicas profundas ligadas a problemas intrapsíquicos, como E interessante relatar que, recentemente, temos ob
conflitos edipianos, porém não são tão comuns como servado muitos homens, entre quarenta e cinco e sessen
querem acreditar e fazer acreditar os psicanalistas. Estu ta anos, com queixa de inibição do desejo, fazendo par
dos contemporâneos comprovam que a origem dos pro te de um quadro de depressão mas carada. O mais inte
blemas sexuais está mais ligada aos fatores de aprendiza ressanteé que o agente iniciador do problema é a insta
do, na fase mais adulta, do que aos fatores do inicio do bilidade financeira e profissional vivenciada pela pessoa,
desenvolvimento psicossexual. A causa mais freqüente é como desemprego e queda salarial, reflexo do momento
o medo do fracasso. Depressão e causas
conjugais tam politico-econômico pelo qual passa o pais. E a confirma
bém podem constituir fatores etiológicos. ção de que sexo também é ecologia, isto é, está sujeito
A pressão social sobre o homem maduro faz com às variações do meio e pode ser destruido pelos homens
que ele sinta que sua vida sexual tende a acabar-se por de poder e pelas instituições. Feliz ou infelizmente, não
é mais possivel, como foi no passado, dicotomizar o
um fracasso circunstancial. E completamente normal o ho
homem adulto não conseguir ereção umna ou duas vezes
mem e separar a gaveta sexual da gaveta do cotidiano.
para cada cinco ou seis tentativas4s, Entretanto, esse A ocorrência de ejaculação precoce é basicamente
padrão não é percebido nos povos menos desenvolvidos de fundo psicogênico, apresentando como principais
e mais genitalizados. Ao que parece, a
imposição cultural componentes o aprendizado social e o vínculo da rela
social resulta em um determinismo biológico, exacer ção. Ela também resulta em ansiedade de desempenho,
bando a resposta sexual. Essa percepção confirma, cada podendo ser um caminho rápido para o desenvolvimento
vez mais, que o sexo é suprabiológico. da impotência. Mas, nesse caso, manifesta-se não a difi
culdade de obter a ereço, mas sim de mantê-la, sob a
Além disso, apesar de ser considerado sadio e de pressão da obrigação do controle ejaculatório. A ejacu
poder haver relações sexuais, nossa sociedade não tolera
bem a atividade sexual na terceira idade, e de certo modo lação e a ereção são fenômenos que não respondem bem
obriga os idosos a renunciarem sua sexualidade. Nunca é quando o organismo não estárelaxado e capacitado para
demais reforçar que um fracasso, que deveria ser
auferir as sensaçes erógenas.
ocasio
nal, passa a ser recorrente em virtude da instalação de A ejaculação retardada, ou a incapacidade de ejacu
uma ansiedade de desempenho, que lar dentro do canal vaginal, é uma doença sexual rara e
reduz as sensações em geral está relacionada com fatores
sexuais, levando a um novo fracasso e instalando o ciclo psicossociais, tais
vicioso. A medida que aumenta o número como técnicas masturbatórias pouco habituais,
de falhas, au educação
menta a angústia, que diminui a repressiva, sentimento de culpa ou temor ao ato de eja
possibilidade de percep
cular, entre outros.
45. J. C. Kusnetzoff, O homem sexualmente feliz,
3. ed., Rio de Janeiro: Nova Frontei
ra, 1987.

100
101
MITOSE CRENDICES SEXUAIS próstata pelo homem assinala o fim da vida sexual de
ambos;

em geral são pessoas com mais de sessenta anos que
molestam sexualmente as crianças;
Essa fase davida é rodeada por mitos e crenças i os velhos não levam vantagem sobre os jovens quan
racionais a respeito do sexo, sendo que alguns consti
tuem verdadeiras lendas. to à atividade sexual.
é que pessoas maduras e velhas sofrem
A realidade
muito na cultura ocidental, onde maciças propagandas A crença de que o homem nasce com um número
veiculadas na mídia exaltam a juventude como o único limitado de ejaculações é completamente equivocada.
estágio ideal da vida. Apesar de nossa cultura não incluir Acreditando nisso, alguns homens se abstêm da ativida
o sexo como
parte das funções das pessoas nessa fase da de sexual a título de "descanso'" e "reposição'". No
vida, nada envelhece mais do que a predisposição psico entanto, quanto mais regular for a manifestação sexual
lógica de sentir-se em inferioridade, 'por baixo. Essa masculina, mais fácil será manter a sexualidade com o
predisposição propicia a disseminação de expectativas, passar dos anos. O homem sexualmente ativo na juventu
crenças, mitos e crendices, em sua maioria ligados à es de tende a sê-lo também na velhice. Na mulher idosa, é
fera sexual, que prejudica e até mesmo destrói o compo fundamental a atividade sexual na manutenção da integri
nente erótico-afetivo das pessoas. Vejamos alguns desses dade vaginal, tanto quanto da reposição hormonal.
mitos46: Outra crença errônea é a de que a masturbação é
uma prática restrita a crianças e adolescentes. Relatórios
a sexualidade édebilitada na menopausa e sobre sexualidade humana demonstram que pessoas de
desapare todas as idades e níveis socioeconômicos se masturbam.
ce na terceira idade;
a sexualidade termina com a menopausa;
Idosos(as) que não tenham parceiras(os) fixas(os) devem
usar essa prática para obter prazer, sem
a redução funcional das glândulas sexuais assinala o sentimentos de
culpa ou inadequação (veja o capítulo Sexualidade da
fim da vida sexual dos seres humanos; pessoa só'").
todo individuo pode ter um número de relações se Doenças tendem a inibir a atividade sexual, mas no
a encerram. Homens com problemas
Xuais e, ao esgotar-se a cota, encerra-se sua atividade cardíacos, de
sexual; próstata, hipertensão, doenças pulmonares e diabetes,
entre outras, precisam estar preparados para

se um homem ou uma mulher são esterilizados, o em sua vida sexual. Apesar adaptações
im de algumas doenças compro
pulso sexual diminui; meterem a capacidade de ereção do homem, sua
capaci
a remoção do útero e/ou ovários pela mulher e da dade para o orgasmo continua a mesma. Situações seme
Ihantes podem ocorrer nas mulheres. A possibilidade de
46. "Sexo apös 40 Anos", RevIsta de Sexologia
Cavalcanti, n 1, nov. 1992: 27.
- Orgão Oficial do Instituto
que uma enfermidade comprometa
abordada em um capítulo àparte.
função sexual será

102
103
sc
Existcm substâncias quc atuam como cxcitantes *gengibre (rizoma);
nome
xuais? A resposta não! Não cxistcm afrodisíacos, ' cocaína;
quc se dáa cssas substâncias. A propaganda de substân
cias afrodisíacas advém de modismos e sensacionalismo guaranáem pó;
comercial. Porém, substâncias assim propagadas podem vitamina E;
funcionar como um placcbo e atingir o objctivo por um t ioimbina (casca);
cfcito psicogênico no aumento da autoconfiança c auto
muirapuama (raiz);

estima.
pau-para-tudo (suco da planta fresca);
Na nossa experiência de clínica, tivemos a oportu
rabancte (raiz);

nidade de ouvir o relato de um senhor de 60 anos que


ficou sabendo que scu problema de impotência poderia urucum (semente);
ser resolvido com a colocação da espora do passarinho
pimenta-de-caicna;
quero-quero em sua carteira, durante o período de um
mês. Depois de exaustiva caça a esse passarinho, coroada
*

catuaba.
de sucesso por uma arapuca, e executada a retirada da
espora e sua incorporação à carteira, aguardou-se ansio A noss0 ver, o único afrodisíacO verdadeiro é o
samente o mês, na esperança da resolução do problema amor erótico, bem cmo um corpo vigoroso, saudável c
sexual. Este e tantos outros artificios mágicos e místicos energético. Porém, o homem ainda está à procura da
são com freqúência utilizados sem a possibilidade de su solução mágica através de um elixir sexual. Cresceremos
Cesso. sexualmcnte quando rcaprendermos habilidades esqueci
das pelo sexo masculino, como humildade, honestidade,
Em nosso meio, centenas de produtos fazem parte não querer levar vantagem em tudo, não querer ser com
do folclore popular para a resolução dos problemas se parado, c deixar de ser utilitarista consigo mesno. Em
xuais. Os mais difundidos são47; suma, ser gente. Fernando Pessoa, em seu Poema em
Linha Reta'"48, conseguiu, com o brilhantismo que Ihe era
8,

abacateiro (brotos e sementes); peculiar, traduzir isso tudo:


álcool;
cajueiro (flores e frutos); Nunca conheci quem tivesse levado porrada.

maconha; Todos os meus conhecidos têm sidocampeões em


tudo.(..)
cipó-cravo (caule);
·
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
LSD; Nunca teve um ato ridiculo, nunca sofreu enxovalho,
cipó mil-homens (caule e raiz); Nunca foi senão principe-lodos eles príncipes

anfetaminas; na vida..
48. F. Pessoa, O Eu profundo e os outros Eus, 18, ed., Rio de Janeiro: Nova
47. G.P. Lopes, Sexualidade humana, Rio de Janciro: MEDSI, 1993, p. 83. Fronteira, 1980, p. 268-269.

104 105
Quem me dera ouvir de alguém a voz umana DOENÇAS E DROGAS QUE AFETAM A
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia; SEXUALIDADE
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o ldeal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundoque me confesse que, uma
Quando uma pessoa idosa apresenta queixas se
ves foi vil? pro
xuais, é essencial esclarecer se a mudança parte do
é

Ó principes, meus irmãos, cesso normal do envelhecimento ou se é devida a alguma


Arre, estou farto de semideuses! doença relacionada com a idade. No caso de uma doen
ça impor limitações à atuação sexual de uma pessoa ido
Onde é que há gente no mundo? sa, os impactos via de regra são generalizados sobre todo
(..) 0 organismo, não se dirigindo apenas à atividade sexual.
A-debilitação pór doenças crônicas, incluindo fadi
ga problemas respiratórios, inibe maiso comportamen
e
to sexual do que as alterações neurológicas, endócrinas
ou as resultantes do uso de medicamentos. Entre as doen
ças crônicas que se desenvolvem durante o envelheci
mento e que podem afetar a função sexual, as mais co
muns são as desordens vasculares (hipertensão, cardiopa
tias e acidente vascular cerebral-AVC ou derrame)
eo diabetes.
D
Caracteristicas inerentes do envelhecimento, como
dores, mal-estar e limitações por doenças, podem dimi
nuir a auto-estima e criar sentimentos de não atrativida
de, provOcando assim apatia ou aversão sexual. A fadi
ga mental também exerce um importante papel no desin
teresse sexual da pessoa idosa, em particular entre os
homens. Preocupações profissionais, exaustão e depres
são podem inibir a comunicação conjugal, que deveria
vitalizar a relação sexual.
O
consumo excessivo de álcool e fumo é outro im
portante fator na suspensão da libido, bem como na
ficuldade de obtenção e manutenção da ereção. d
Os excessos alimnentares e a obesidade podem criar
apatia e desinteresse sexual.

106
107
tes é significativo é a
a impotência, e o fator causal mais
As doenças reumáticas, que acometem mais facil
mente essa faixa etária, resultando em dor e em outros neuropatia periférica ou doença dos nervos periféricos,
sintomas, podem afetar a atividade sexual. Esses sinto juntamente com alterações vasculares e hormonais. As
mas são acentuados pelo sedentarismo, excesso de peso, emoções que envolvem o diabético com incapacidade de
vicios de postura e dieta inadequada. A correção da doen ereção, tais como choque, depressão, fracasso e não ela
ça e dos fatores agravantes propicia uma melhor qualida boração do desempenho, também são importantes como
de de vida. perpetuadoras da impotência. Em todos os casos de im
potência resultante de diabetes, o fator psicológico está
Quando uma determinada droga usada para o trata
presente e deve ser valorizado.
mento de alguma doença estiver provocando efeitos co
laterais sobre a sexualidade, ela deve ser substituída ou
Ébom
deixar claro que o diabético não se tornará
descontinuada. Nem sempre isso é possiyel, pois em de obrigatoriamente impotente. A perda episódica ou tem
terminadas doenças o medicamento especifico é vital e porária das ereções não significa impotência. Essa situa
não tem substitutos. ção só passa de transitória para permanente dependendo
do que o indivíduo faz consigo mesmo. Se ele ficar an
Em tese, a grande maioria dos medicamentos é po
sioso, com temor do fracasso e acreditar no inexorável
tencialmente capaz de comprometer o sexo. Porém, os da impotência, esse quadro pode se manter e transfor
agentes psicotrópicos (atuam no sistema nervoso cen mar-se em uma disfunção eretiva psicogênica. Esses ca
tral), os anti-hipertensivos e os bloqueadores dos recep sos, em geral, respondem muito bem à psicoterapia bre
tores H2 (cimetidina e ranitidina, usadas nas gastrites e
Ve, em especial se existe a colaboração da parceira.
úlceras) constituem os três principais grupos de drogas
capazes de provocar alterações na resposta sexual. Quando o problema eretivo decorre de neuropatia
periférica, as opções de tratamento, propostas pelo an
Algumas pessoas que tiveram experiências e vivên drologista e sexólogo, recaem na auto-injeção de drogas
cias sexuais insatisfatórias durante toda a sua vida podem
usar a condição de doente como uma intracavernosas (prostaglandina ou fentolamina) ou em
sar suas atividades sexuais. A desculpa para ces prótese peniana.
maioria das pessoas idosas
desinteressadas ou inativas sexualmente em geral o é
mais Outras opções diante de casos orgânicos irreversí
por hábitos e atitudes de veis, quando o indivíduo é resistente à auto-injeção ou
vida do que por doenças.
Neste capítulo abordaremos com mais detalhes os prótese, consistem no trabalho com a pessoa sobre o
problemas relacionados com algumas cirurgias e conceito de que sexualidade não implica obrigatoriedade
como diabetes, cardiopatias, hipertensão, doenças genital. Um homem não deixa de ser sexualizado por
doenças reumá apresentar uma dificuldade eretiva, mas, na realidade,
ticas, depressão e uso de fumo e álcool.
ainda é dificil para o sexo masculino aceitar e introjetar
o conceito de relação sexual sem penetração.

DIABETES Mais raramente ouvimos de um homem diabético o


relato de perda de interesse sexual. Em geral, esse blo
queio do desejo se dáem consequência da angústia do
A principal disfunção sexual na presença de diabe fracasso. É uma forma de defesa, quando o organismo

108 109
a passos rápidos du
por nào suportar a cventualidade três lances de escada ou caminhar
inibe seu centro sexual
o
de falha na ereção peniana, sobretudo homem diab
o rante 10 minutos, sem sentir nenhum descon forto toráci
co (dor ou falta de ar), pode vivenciar sua atividade
se
tico, que, por se sentir (d)eficiente,
tem maior dificulda
de de lidar com o fracasso. xual sem riscos significativos.
Eventualmente, mulheres diabéticas podem relatar
E
interessante relatar que alguns estudos demons
uma dificuldade na obtenção de seu orgasmo, como tam tram que os raros casos de morte durante ou pós-coito,
em cardiopatas, ocorrem em situações de relação extra
bém uma perda significativa da libido. Esses problemas e em
podem estar relacionados com a doença (alterações hor conjugal, parceira muito jovem, alimentação bebida
excesso. Em todas essas situações, percebe-se no estres
monais, vasculares e neurológicas perifricas) e/ou com
a dificuldade de aceitação da própria condição diabética. se da ansiedade de desempenho o grande responsável
pela falência cardiaca.
O uso
de hipoglicemiantes orais e insulina, para o
Para avaliar uma disfunção sexual em paciente por
tratamento da diabetes, não afeta a sexualidade.
tador de doença cardíaca, épreciso começar estabelecen
a
do uma relação de causae efeito, ou seja, se disfunção
apareceu com o problema cardíaco e os medicamentos ou
se é anterior a eles. Apesar do impacto da doença em si
CARDIOPATIAS e dos medicamentos sobre a função sexual efeitos So
bre sistema nervoso central periférico, sistema vascu
o e
lar e modificações hormonais
, não se pode
Doenças cardíacas são comuns na velhice. Os prin desconsi
cipais fatores de risco são: altos níveis de colesterol, hi derar medo, ansiedade, depressão, insegurança e diminui
pertensão, tabagismo e diabetes. Entretanto, todos esses ção de auto-estima, associados com esse estado.
fatores de risco podem ser controlados ou eliminados. Atépouco tempo, orientação ao cardíaco e infar
a

Quando as cardiopatias interferem na vida sexual tado era que ele moderasse todas as suas atividades, in
do casal, isso se deve mnais ao medo e à depressão do clusive a sexual. Essa prescrição médica, nem sempre
que propriamente a uma incapacidade fisica. Alguns per amparada cientificamente, fazia com que muitas pessoas
dem o desejo sexual devido à depressão pós-infarto, que reduzissem ou abolissemo sexo de suas vidas. Assim,
pode durar até um an0. problemas emocionais e conjugais surgiam e acabavam
por agravar a doença.
As cardiopatias atuam na sexualidade quando os
parceiros desenvolvem o medo do intercurso sexual, por A atividade sexual só estácontra-indicada em casos
causa do mito da "morte durante o coito'". Precisamos de grave distúbio da função cardíaca. Nesses casos, as
nos conscientizar de que o risco da morte é inerente à vi pessoas manifestam falta de ar até durante o repouso,
da, e talvez o risco seja maior ao atravessar uma rua do bem como agravamento do quadro clínico frente a qual
que ao fazer sexo. O aumento dos batimentos cardíacos quer atividade fisica.
e da pressão durante a relação sexual é comparável ao A maioria dos estudos diz respeito ao homem por
de
se subir dois lances de escadas. Portanto, uma pessoa tador de cardiopatia, mas acredita-se que os resultados
por
tadora de doença cardíaca, que é capaz de subir dois ou sejam válidos para as mulheres, principalmente depois

110
os efeitos dessa terapia na qualidade de vida dos pacien
que Masters e Johnson9 comprovaram que a função car
diaca é idêntica em ambos os sexOs. tes, pois observamos que, junto àeficácia no sentido de
po reduzir os níveis da pressão arterial, esses medicamentos
Algumas poucas mudanças nos hábitos sexuais apresentam-se como possíveis bloqueadores da resposta
dem aumentar muito a satisfação e tranqüilidade do ato sexual. Por isso a existência da preocupação na escolha
sexual. Destacam-se entre elas: da droga mais adequada.
Percebe-se que esses medicamentos podem estar
evitar a relação sexual quando estiver cansado(a) e relacionados, no homem, com a redução do desejo sexual,
experimentar o sexo de manh, após uma boa noite de
a dificuldade de obtenção e a manutenção de uma ere
ção e os problemas ejaculatórios. Os estudos sobre se
a
Sono;
xualidade feminina ainda são contraditórios, apontando
assegurar-se de que o ambiente está com uma tempe para a diminuição ou perda do desejo sexual, a diminui
ratura agradável, nem muito quente nem muito fria: çãoda lubrificação vaginal e, em menor potencialidade,
• evitar
bebidas alcoólicas antes da relaçãosexual, do orgasmo.
pois elas podem dificultar a resposta da ereção; Entretanto, o sexo-prazer é afetado não só pelo
anti-hipertensivo, mas também pela própria doença, que
esperar duas ou três horas após as refeições para se

pode provocar alterações vasculares comprometedoras da


engajar em uma relação sexual (issO não é necessário resposta sexual.
para a pessoa não cardíaca);
Em nossa experiência, hipertensos portadores de
*mudar de posição, encontrar aque émais confortá uma disfunção sexual apresentam como fator causal,
vel para si mesmo(a), ou permitir ao(à) parceiro(a) as mais do que a doença ou o anti-hipertensivo, a não ela
sumir um papel mais ativo. boração de um fracasso sexual. É a dificuldade em não
satisfazer um desempenho sexual convencional e estereo
tipado que mantém a disfunção. Para ficar mais claro o
que estamos tentando dizer, podemos pensar da seguin
te maneira: o fato de sermos pessoas humanas já implica,
HIPERTENSÃO por si só, uma percentagem *x"de falhas (afinal, somos
gente ou somos máquinas?). Sendo hipertenso em trata
A hipertensão arterial é um dos principais proble mento, soma-se "y'" por cento de possibilidade de falha.
mas de saúde pública de países desenvolvidos e subde Existindo dificuldade como temor de desempenho, acres
centa-se um percentual “z" de falha. O que observamos
senvolvidos. O grande progresso de sua prevenção veri éque
ficou-se na década de 50, com a introdução de anti-hi *z'" é o grande responsável pela perpetuação de
uma disfunção, como por exemplo a impotência'".
pertensivos eficazes. Na atualidade, muito se discute sobre
No aconselhamento sexual, deve-se começar orien
tando o hipertenso, sem provocar pânico, sobre todas as
49. W. Masters e V. Johnson, A resposta sexual humana, São Paulo: Roca. 1984. conseqüências de sua doença. A escolha da medicação e

112 I13
de sua dosagem deve ser cuidadosa para evitar efeitos bidas alcoólicas e o fumo. A sintomatologia dolorosa
colaterais que possam interferir na sexualidade. Portanto, compromete de forma significativa o exercicio da sexua
é bastante desaconselhável a automedicação, sendo ne
lidade, em especial quando o(a) portador(a) se apresenta
cessário orientação médica adequada. emocionalmente abalado(a) ou deprimido{a). A osteopo
Por fim, é preciso trabalhar as expectativas do hi rose afeta toda a qualidade de vida, não apenas a sexua
pertenso e sua parceira, enfatizando a importância do tr lidade.
tamento da doença e as alternativas de mudança da(s)
droga(s). desconforto sexual cessa com o fim do uso
O

dos medicamentos, ou seja, trata-se de uma disfunção de


As doenças articulares
prometem o sexo são as que
artropatias
ocorrem nas
que com
articulações
-
coxofemural, do joelho e da coluna lombar. Curreys es
caráter transitório. tudou uma centena de clientes com cOXoartrose e perce
beu que as dificuldades sexuais ocorrem em cerca de
80% dos casos, decorrentes de dor e limitação dos mo
vimentos. Observou ainda que a limitação sexual acaba
DOENÇAS REUMÁTICAS provocando dificuldades conjugais e que um número pe
queno de clientes relata melhora da função sexual depois
da cirurgia corretiva.
Os fatores que podem influenciar a sexualidade do
reumático são: dor, rigidez, desconforto, fadiga, auto Existem outras doenças, como a artrite reumatóide,
imagem negativa por deformidade, medo do parceiro geradoras de deformidades fisicas que repercutem muito
causar desconforto e redução da libido, no autoconceito e na auto-imagem, bem como na
de acordo com vida
Fergusson e Figleyso, Porém, muitas vezes o processo social das pessoas portadoras, e como conseqüência na
reumático é apenas uma desculpa para evitar a atividade sua vida sexual.
sexual, e não uma reação da limitação fisica. Entusiasmo e compreensão, manutenção constante
de uma atmosfera de otimismo e um médico que não tra
Existem inúmeras doenças reumáticas, porém tece
remos comentários com relação às te apenas de ossos e articulações, mas que aborde temo
mais comuns, ou seja, res e problemas sociais, constituem pré-requisitos na
a osteoporose e as artropatias.
melhora das pessoas portadoras de doenças reumáticas.
A osteoporose manifesta-se por intensas dores, que
exacerbam com defecação, tosse, riso e outros movimen
tos. No caso de osteoporose pós-menopausa, a
forma de preveni-la é a terapêutica de reposição melhor DEPRESSÃO
hormo
nal, feita pelo ginecologista. Recomendam-se exercícios
fisicos, ingestão de leite e derivados e verduras. Da mnes As condições psiquiátricas no climatério e na seni
ma formna, é importante diminuir a ingestão
de café, be lidade referem-se principalmente às alterações da perso

50. K. Fergussone B. Figley, "Sexuality and Rheumatic Diseases: A


51. H. L. F. Currey, "Ostearthrosis of the Hip Joint and Sexual Activity". AnnaE
Prospective
Study". Sexuality Disability, 1979, 2: 130. Rheumatic Disease, 1979, 29:488.

114
nalidade e aos estados depressivos. QuadroS graves
como drogas reduzem a duração e a intensidade dos episódios
outros,
depressão melancólica, psicose delirante, entre e mere depressivos, e as recidivas ficam mais raras, curtas e
estão ligados a um passado de patologia mental menos severas$2,
cem uma abordagem especializada, a qual não nos dete ba Ouso prolongado desses medicamentos pode retar
remos, por não ser tema específico desta obra. dar a ejaculação masculina, assim como o orgasmo da
Trataremos dos estados depressivos, que podem mulher. E controverso o efeito sobre a libido, que, segun
ser divididos em dois tipos: reativo, com sintomatologia do alguns, poderia diminuir. Nas mulheres, o humor de
básica de apatia, astenia e desinteresse, e neurótico, que pressivo ea insônia que acompanham o estado depressi
é a complicação de uma neurose persistente. vo podem melhorar através de estrogênio ou tibolona,
usados na terapia de reposição hormonal. Entretanto, não
A depressão nessa fase da vida pode ser vista sob
uma perspectiva biológica, psicossocial e cultural. Na estáclaro o papel dos estrogênios sobre o desejo sexual.
perspectiva biológica, as baixas taxas de estrogênio, trip S8 No caso de psicoterapia, deve ser explorado com
to fano e endorfinas explicariam esse fenômeno. A pers cuidado o contexto psicossocial, os antecedentes de cri
pectiva psicossocial e cultural envolve aspectos variáveis,
ses de ansiedade e depressão, bem como a
personalida
e podemos destacar na mulher o impacto da menopausa de prévia. Esclarecimento e apoio são fundamentais na
e a 'síndrome do ninho vazio". A menopausa pode des reversão desse quadros3,
figurar a feminilidade nas mulheres que relacionam a
menstruação à sua condição feminina. A "síndrome do
ninho vazio'" écaracterizada pela sensação de isolamen
to e inutilidade da mulher, agora pouco solicitada pelos FUMO E ÁLCOOL
filhos já adultos que abandonam o lar, e ignorada pelo
marido em alta produtividade. A nosso ver, fumo e saúde relacionam-se tão bem
O processo da aposentadoria, próprio dessa época, quanto cão e gato. São estados antagônicos.
pode, com facilidade, eclodir num estado depressivo. Mais Não nos cabe colocar aqui todos os aspectos dele
perigoso que o envelhecer é a ociosidade que o acompa térios do fumo sobre o organismo humano. Entretanto,
nha. Uma reação em cadeia se instala: aposentadoria no que se refere ao sexo-prazer, conhecemos alguns pro
depressão - inibição da libido - aposentadoria sexual. É blemas vinculados ao tabagismo que prejudicam a vida
fundamental quebrar a cadeia, pois, em matéria de sex0, sexual das pessoas.
não existe, ou não deveria existir, aposentadoria.
Como tratar esse problema? Os antidepressivos As vezes, apenas a halitose caracteristica do fu
mante é motivo de distanciamento sexual e, por tabela,
constituem a terapêutica mais efetiva, em especial nas
pessoas com depressões maiores (desde que no sejam conjugal, se a(o) parceira(o) não é tabagista.
tão graves a ponto de ameaçarem a vida delas suicí
dio
, pois, nesses casos, às vezes, é usada a cletrocon 52. U.G.V. Cunha, "Tratamento daDepressão no Idoso com Antidepressivos Tricíclicos
vulsoterapia) e que não sejam portadoras de doenças que ede Segunda Geração".Arquivos Brasileiros de Medicina, 1991, supl. I:49-65.
53.A. Guzmán, "Salud Mentaly Climatério", Gaceta Medica de Caracas, 1991,3:
contra-indiquem o seu uso, como cardiopatias. Essas 175-177.

116 117
Pelo fato de a nicotina ser maléfica para os vasos plástica de perínco (perineoplastia) afetam sobremaneira
arteriais, é natural que, na população de inmpotentes, a a sexualidade, através de implicações como medo da
maioria seja fumante ou ex-fumante. Estudos clinicos morte, problemas de estética, perda da feminilidade e
sugerem que o fumo impede a função erétil noS portado dor, sendo que as repercussões são mais significativas
res de insuficiência arterial moderada, particularmente nos casos de doença maligna, como câncer. A intensida
freqüente entre os idosos. de e duração dessas perturbações dependem da história
pessoal da paciente e do profissional que a atende. Quan
Eo álcool, afeta ou não a sexualidade? Como diria to mais humano for o profissional, maior a possibilidade
Shakespeare, it provokes the desire, but takes away the
de a mulher elaborar de modo positivo o conflito.
performance, ou seja, o álcool provoca o desejo, mas
impede o ato. Os nordestinos também possuem a sua Nos homens, o dilema maior da população idosa se
máxima sobre o assunto: 0
cool dácoragem, mas tira dirige para as cirurgias de próstata (prostatectomia). Em
as forças. E por isso que algumas pessoas usamn essa nosso meio, predomina o mito de que as cirurgias de
droga como "bengala'", que torna homens e mulheres in próstata resultam inexoravelmente em impotência. Isso é
seguros pessoas corajosas. verdadeiro apenas nos casos de prostatectomia radical,
O problema éque a bengala começa a vergar e aca por via abdominal, realizada nos casos de câncer de prós
ba por
quebrar.O uso crônico ou em grandes doses re tata. As cirurgias por via abdominal no caso de hipertro
percute de modo desfavorável sobre a função sexual, fia de próstata apresentam um risco de 10 a 15% deoin
sobretudo na ereção e no orgasmno da mulher. E contro dividuo perder a capacidade eretiva. Nas cirurgias pela
verso o possível efeito de retardo ejaculatório
quando há uretra, esse riscoémenor do que 5%.
ingestão de pequenas doses de álcool. Se essa ação ocor Entretanto, a maioria dos homens que se submete
re, parece ser por pouco tempo.O uso prolongado do á ram àcirurgia de próstata vai apresentar ausência de eja
cool acaba por anular esse efeito. Em suma, o álcool não culação, pois esta se torna retrógrada, revertendo-se para
se constitui em um medicamento para tratamento da a bexiga. A falta de informação sobre esse fato acaba por
ejaculação precoce. .criar problemas que não existem e transformá-los de
mecanismo pelo qual o álcool prejudica a função
O
transitórios em permanentes. Citamos um cliente que se
sexual, sem falar das questões emocionais e sociais, re submeteu a prostatectomia através da uretra e não foi
sulta em lesões arteriais, neurológicas e hepáticas, essa comunicado da impossibilidade de exteriorização de seu
última interferindo na produção hormonal. ejaculado: Quando retomei minha vida sexual e não
g0zava, comecei a me sentir meio homem, pela metade.
Passei a evitar o sexo e agora o meu problema se agra
vou, pois não estou conseguindo ereção". O que obser
vamos nesse caso é a ausência de informações mínimas
CIRURGIAS
necessárias, impossibilitando esse homem de refletir so
bre seus sentimentos.
Na mulher, processos cirúrgicos como a retirada
das mamas (mastectomia), do útero (histerectomia) e a

118
119
Em geral, as primeiras experiências masturbatórias
SEXUALIDADE DA PESSOA SÓ ocorrem de forma espontânea na infância e adolescência.
o
Entretanto, proibições e castigos podem impedir indivÍ
duode ter esse conhecimento de si mesmo. Outras pes
soas podem descobrir, ou redescobrir, a masturbação
Nessa época da vida, é provável que a pessoa, por durante um período de solidão, abstinência ou por inca
opção ou por força das circunstâncias, tenha uma vida pacidade do(a) parceiro(a) devido a doença. O auto-ero
solitária, com ou sem parceiros eventuais ou esporádicos. tismo é a nossa sensualidade original e não tem uma ida
de para ser interrompido, assim como não deve
ser dis
Entre as pessoas sÓS, encontramoS as que enviuvaram ou e
se separaram enão casaram de novo, e mais raramente as criminado entre os sexos, pois sua prática é saudável
que nunca se casaram. normal, tanto para homens como para mulheres.
Na nossa cultura, infelizmente, existe o mito de Betty Dodson escreveu, e bem, um livro inteiro
que o sexo é uma experiência a dois. Entretanto, uma sobre o assunto: Sexo para uno el placer del autoe
das formas de satisfação sexual entre esse grupo de pes rotismo55, Betty é uma
artista plástica americana que
soas é a masturbação ou auto-erotismo, infelizmente acreditava, no auge do mnovimento feminista, que a mas
muito combatido em nossa cuitura. E uma prática saudá turbação continuava sendo o grande tabu da sexualidade
vel, a ponto de podermos perguntar: por que não alto humana, o segredo inconfesso da sociedade. Ela defendia
erotism0. isto é. um erotismo em alto nível? Ea essa vi
que a resistência à masturbação, cuja prática continua
vência, ainda tão discriminada, que dedicamos grande gerando sentimentos de vergonha, angústia e culpa, era o
parte deste capítulo. pilar principal da repressão sexual. E tornou-se, a partir
de então, uma grande apologista do sexo “consigo mes
De uma forma simplista, podemos dizer que sexo
é mo", fazendo palestras e grupos de discussão por todo
uma combinação de fantasia e fricção. E a fantasia e a os Estados Unidos. Mesmo que não se concorde com
fricção não estão abolidas na vida só. Por sua vez, a Betty Dodson, ela nos faz pensar no assunto.
a dois pode ser sinônimo de solidão a vida
dois, e um casal
que não se comunica, não troca,
não interage e não se De uma forma geral, a sociedade já avançou no
satisfaz na relação sexual acaba por praticar uma sentido de que hoje se aceita o auto-erotismo como uma
mastur atividade normal da criança e do adolescente; entretanto,
bação a dois, poiS não existe o interesse e muito menos
O
respeito pelo parceiro. ainda falta completar o resto do caminho e aceitá-lo
como natural em qualquer idade.
Sexo para um, sexo solitário, onanismo, auto-ero
tismo, masturbação. O significado? Provocar o prazer Através da masturbação podemos aprender muito
sexual pelo contato da mão, ou por meio de instrumen sobre nossas reações sexuais, sobre os segredos do cor
tos adequados, nos órgãos genitais. Segundo Woody po e da mente. Podemos descobrir nossos sentimentos
Allens4, masturbação: sexo com
alguém que vocêama. eróticos e não nos envergonharmos deles ou dos nossos

54. Citado em G. P. Lopes, Sexualidade 55, B. Dodson, Sexo para uno -elplacerdelautoerotismo, Madri: Temas de Hoy,
humana, 2. ed., Rio de Janeiro: MEDSI,
1993, p. 55. 1989.

120 121
o
mesmos. Entre os mo era empregado, entre os religiosos, para designar
orgãos genitais, podemos amar a nós
beneficios do auto-erotismo, podemos destacar: coito interrompido e, a partir desse momento, foi incor
porado pelos médicos como denominação da masturba
çãoss,
•éa melhor forma de compreensão da nossa resposta termo onanismo provém da história de Onam,
O

sexual;
promove um aprendizado do controle ejaculatório:
filho de Judá. Onam tinha um imão que morreu por um
castigo divino. Judá pediu-lhe que se casasse com Tamar,
·facilita o orgasmo da mulher; sua cunhada, a fim de garantir a posteridade do falecido
produz alivio de cólicas menstruais; irmão. Mas Onam, que sabia que essa posteridade não
leva a satisfação sexual na ausência de um(a) par seria dele, deixava cair o sêmen por terra cada vez que
se unia à mulher do seu irmão, a fim de não dar a este
ceiro(a),
a posteridade. Seu comportamento desagradou ao Se
pode ser usado como método terapêutico para algu
mas queixas sexuais, como ejaculação precoce no nhor, que o feriu de morte tambén,s7
mem e ausência de orgasmo na mulher.
ho A campanha contra a masturbação começou em
1710, na lnglaterra, através de uma publicação médica
que atribuia a essa prática conseqüências drásticas como
Entretanto, não hárazões para se abandonar a mas parada de crescimento, fimose, priapismo, sincopes, epi
turbação no caso de um(a) companheiro(a) estável, pois lepsia, impotência e histeria. Essas e outras publicações
é uma prática que pode enriquecer a relação a dois. É logo se estenderam ao continente, principalmente Alema
uma boa ferramenta, inclusive, para se nha e França. Todas essas obras, escritas por médicos e
lidar com as dife
renças nas freqüências de desejo sexual entre os pedagogos, viraram best-sellers de suas épocas e deno
parcei
ros, além de ser um incremento do jogo tavam a práica da masturbação como uma
sexual através da
mas enfatizavam o tratamento para a doença. Algu
masturbação mútua. doença", outras
eram dirigidas aos adolescentes, mas eram impiedo
sas quanto à nocividade e todas
perversidade dessa prática. O
exagero pretendia despertar o medo.
O conceito de abuso
REPRESSÃO À MASTURBAÇÃO sexual contra si mesmo foi incorporado com
que a masturbação provocava o idéia de
desgaste fisico e
dia a nutrição do corposs, Esse conceito, que impe
No século XIX, a prática da masturbação era deno estar relegado à história, ainda se deveria
minada abuso de si mesmo. Depois passou a ser faz muito presente em
nosso cotidiano.
denomi
nada masturbação, e hoje é mais referida como auto-ero
tismo. Essa evolução dos termos pode ser um Em 1784, a Igreja entra firme na campanha contra
sintoma da a masturbação. Além do
evolução dos conceitos. medo, associou a idéia de pecado
Ao que parece, o combate àmasturbação teve 56. J. Van Ussel, Repressão sexual,
cio entre os médicos do século XVIII. iní Rio de Janeiro: Campus, 1980, p. 162.
57.P. Weil,Mistica do sexo, Belo Horizonte:
O termo onanis Itatiaia, 1976, p. 37.
58.J. Van Ussel, Repressão sexual, Rio
de Janeiro: Campus, 1980, p. 178
122

123
e culpa à prática masturbatória. Jos Van Ussel acredita P. A masturbação é normal?
que a sindrome antimasturbatória étão patológica quanto R. Sim. E uma prática inerente e normal do ser hu
o anti-semitismos9, mano. Estápresente em qualquer época da vida, apresen
Podemos detectar o ponto máximo do combate à tando unm pico de freqüência durante a adoles cência.
masturbação quando, em 1860, o médico inglês Isaias
Baker Browns®, grande e respeitado cirurgião da época, P. A masturbação enfraquece a pessoa?
propôs a retirada do clitóris clitoridectomia Como R. Não. A masturbação, assim como o coito, pro
forma de tratamento para essa doença'". Felizmente, o
registro é de que poucas mulheres foram submetidas a duz após o êxtase um estado de relaxamento completo.
essa mutilação. Algumas tribos africanas são adeptas E relaxamento não é sinônimo nem causa de fraqueza ou
dessa prática cirúrgica como ferramenta de intensa re doenças.
pressão sexual.
Esses conceitos começaram a mudar no século X}X P. As mulheres se masturbam?
junto com o aparecimento da sexologia. Na década de R. Sim. O processo masturbatório está presente em
40, observações do desenvolvimento infantil detectaram todo ser humano. Entretanto, como em todas as facetas
que a prática masturbatória era comume salutar no pro de sexualidade, estácercado de maiores preconceitos so
cesso do autodescobrimento. A partir de então, gradati
ciais. Em países desenvolvidos, a masturbação feminina é
vamente as publicações médicas sobre assunto foram
relatada em aproximadamente 90% das mulheres adultas
revendo seu posicionamento anterior até assumirem a e maduras e quase na totalidade absoluta dos homens.
completa normalidade e ausência de prejuízos dessa prá
tica sexual.
P. A masturbação prejudica as mulheres que não
tm orgasmo?
R. Não. Pelo contrário, a masturbação pode cons
DÚVIDASE MITOSACERCA DA MASTURBAÇÃO tituir-se em uma atividade facilitadora da resposta orgás
tica, sendo inclusive usada como técnica terapêutica nos
Essas crenças estão profundamente arraigadas em casos desse tipo de queixa feminina. Em
homens com
nossa cultura, devido aos séculos de propagação dos pre
ejaculação precoce, a técnica masturbatória pode ajudar
tensos maleficios fisicos, morais e espirituais provocados no aprendizado desse controle.
pela masturbação. Na nossa prática clínica e vivência em
grupos e palestras, detectamos algumas perguntas muito
freqüentes sobre masturbação, que aqui reproduzimos com
P. A
masturbação não é um mau substituto da re
as respostas que acreditamos serem as mais adequadas. lação sexual?
R. Não. Em primeiro lugar, a masturbação não
deve ter esse caráter negativo. Em segundo lugar, essa
59. J. Van Ussel, Repressão serual,Rio de Janeiro:Campus, 1980, p. 171. não é uma prática necessariamente substituta
60.F. S.Caprio e colaboradores, Sexo e amulhersolteira, São Paulo: Ibrasa, 1977, da relação
p. 52. sexual, podendo ser mais um complemento desta.

124
125
achan dificil rcalizar conjunto do corpo inteiro. Esteja atento a cada parte
P. Algumas pessoas ou casais
essa atividade? dessc todo. Com um pequceno espelho de mão, as mulhe
res podcm descobrir as maravilhas do seu genital, tão
R. Sim. O mito que se traduz na assertiva de quea
cm inaccssívcl aos nossos olhos e pensamentos. O conheci
masturbação é uma prática anormal está enraizado mento do formato, da cor c do cheiro dos genitais faz
nossa cultura, como dissemos antes, impossibilitando a parte da nossa scxualidade.
algumas pessoas e casais una prática que podcria ser cn
Encontre uma hora e um lugar onde você possa
riquecedora em suas vidas sexuais. estar sozinho(a) e relaxado(a). Cerque-se de coisas que
o(a) excitem: luz baixa, som, fotos e vídeos eróticos etc.
Alguns mitos sobreviventes acerca das conscqên Use óleos ou lubrificantes vaginais, como o K-Y gel, que
cias da masturbação sâo: cegueira, surdez, debilidade possam aumentar o seu prazer. Exile a pressa, a culpa e
mental, impotência, esterilidade, crescimento das mamas a vergonha desse momento de encontro consigo mesmo.
e do
pênis em homens, deformação da vulva em mulhe Estimule as fantasias, através de fotos, vídeos ou lem
res, olheiras, fraqueza e aumento dos pêlos. Neste mo branças de relações sexuais que tenham sido agradáveis.
mento em que estamos entrando no século XXI, é a hora Temos ainda a nossa disposição outros instrumen
definitiva de ceifar essas crenças da nossa cultura, permi tos, encontrados em lojas especializadas, com finalidade
tindo às pessoas uma vivência pacifica com a própria se de estímulo sexual, que aliás não são uma invenção re
xualidade. cente. Historicamente, o instrumento sexual mais antigo
é o dildoó1, um pênis artificial usado na Babilônia, em
Pompéia e na antiga Grécia. O nosso avanço foi incre
mentar o dildo com eletricidade, transformando-o em
FACILITANDO A MASTURBAÇÃO vibrador. Os vibradores podem ser usados tanto por
mulheres como por homens.
Cada pessoa tem a sua forma de sentir prazer. En
tretanto, algumas dicas podem tornar o amor solitário
mais excitante e prazeroso. Nunca é demais tomarmos FACILITANDO A SOLIDO
conhecimento de outras formas de prazer, inclusive para
termos a sensação de pertinência e normalidade.
Nessa fase da vida, é normal e natural a possibili
A hora do banho é um bom momento de intimida dade de deparar com o processo da solidão conjugal. A
e
de de proximidade como corpo. Não apenas lavar, mas ausência do(a) parceiro(a) pode ser por separação ou por
tocar, acariciar e descobrir são outras das necessidades falecimento.
corporais. Algumas mulheres relatam enorme prazer na
masturbação com jatos de água de chuveirinho duranteo A morte do(a) parceiro(a) nessa fase da vida pode
banho. Automassagens também podem ser ferramentas gerar o que os profissionais denominam
síndrome da
preciosas no descobrimento e na aceitação do corpo.
Olhand0-se no espelho, não se restrinja apenas ao 61. P. Gillan e R. Gillan, A
terapia sexual, Lisboa: Edições 70, 1976, p. 64.

126
127
viuvez', caracterizada por perturbação emocional (de a companheira de 56 anos em um acidente trágico e re
momen pentino. Quatro meses após o falecimento da companhei
pressão, angústia, insônia etc.) e sexual. Ncssc
to, se faz obrigatória a elaboração da pcrda. ra tentouretomar suas atividades sexuais, que antes eram
constantes e promíscuas, e entrou em pânico, pois, pela
O que é a perda? Ë a falta de algum importante,
primeira vez, começou a apresentar falha eretiva. Perce
gerando a sensação de ausência, vazio e falta de lugar. bemos com clareza na sua história que o fator desenca
Enfim, solidão. Um crescimento que possibilitará a elabo deador do problema possivelmente estava relacionado a
ração do luto ocorre quando a pessoa é capaz de resga um luto não resolvido, que mobilizava culpa e ansiedade.
tar a história pelo que fica, e não pelo que vai.
Porém, o fator perpetuante era a ansiedade de desempe
Conhecer e respeitar esse momento de luto. Essa nho, queo levava a um novo fracasso, desen cadeando o
premissa é básica para retomar o prazer de viver e o pra ciclo vicioso já relatado.
zer sexual.
Do lado das mulheres na faixa etária dos sessenta,
Pelo que percebemos através do consultório, os ho setenta anos, em geral a perda do parceiro significa uma
mens têm uma dificuldade muito grande de ficarem sós introspecção e um isolamento mais duradouro, muitas
após a morte ou separação da parceira. Atualmente per vezes permanente. A mulher dessa geração apresenta
cebemos de forma crescente essa mesma dificuldade para uma grande dificuldade de expressar sua sexualidade comn
as mulheres. Tentando livrar-se com
rapidez da solidão, outro parceiro, pois nasceu e foi criada para ser de um
formam de imediato uma nova parceria, às vezes sem homem só. E provável que isso não aconteça com as
elaborara perda da antiga relação. Na verdade, querem gerações futuras.
abrir uma porta sem fecharem totalmente a anterior, o
que éimpossível quando se fala em relacionamento afe Lembramos de um caso noticiado nas primeiras pá
tivo. ginas de um jornal de Fortaleza, sobre uma viúva an
ciã" (palavras do próprio jornal) que faleceu na porta do
O processo de "luto por uma relação que se aca motel. Viúva já havia alguns anos e com um novo com
bou pode durar três meses, seis meses, um ano ou mais, panheiro há dois anos, ela foi estimulada pelas amigas a
dependendo da história pessoal (fica preso a perdas ou as manter relações sexuais com ele. Pelo tempo
supera rapidamente), conjugal (qual o significado da par de luto e de
-
ceira amiga, amante, mãe), o tipo de morte (súbita ou
gradual), bem como da qualidade do profissional ao qual
namoro, já estava "passando
da hora", diziam as amigas.
Porém, para tanto, ela precisava romper com valores
cos e morais muito rígidos: ser éti
ele recorre para ajuda. Nesse contexto, que se traduz em de apenas um homem e
não aceitar a modernidade de um motel.
um momento no qual a perda ainda não foi elaborada, o e em uma “casa de Estar com outro
homem pode apresentar algumas dificuldades sexuais sexo" deve ter desencadeado estres
se e ansiedade, que, associados a uma
episódicas, que, gerando ansiedade de desempenho, po provável doença
cardíaca, levaram-na morte.
dem se tornar permanentes.
Um fenômeno cada vez mais
Em uma de nossas viagens ao Nordeste, conhece na população madura e idosa, o freqüente, inclusive
mos um senhor no avião que, sabendo da nossa área de é da separação conjugal.
Da mesma forma que a morte, a separação
atuação profissional, nos relatou sua história. Ele perdeu supõe um luto', A pressa em constituir uma também pres
nova par
128
129
ceria pode ser ilustrada com o relato de um colega mé ficados menos pejorativos. Para Wolber, envelhecer é ir
dico de São Paulo que dizia que o seu tempo de separa perdendo devagar os sonhos, as coisas e as pessoas,
ção poderia entrar para o Guiness Book (livro de recor para, de repente, ganhar o infinito. O grande paradoxo
des) como o mnenor do mundo: catorze minutos, o tem está no fato de ter que sair da sociedade para poder con
po de sair da casa da ex-parceira e chegar na casa da tribuir para ela.
esposa atual. O
poeta Rainer Maria Rilkess se expressou da se
Na clínica, é usual problemas sexuais em homens guinte forma com relação à solidão:
com história de separação recente. Interessante notar que
em geral esses distúrbios (impotência e ejaculação pre
coce) aparecem com mulheres muito mais atrativas, Mas se verificar, nesse momento, que a sua soli
e
inteligentes bem-sucedidas'", às vezes muito mais no dão é grande, alegre-se comn isso. Que seria, com
vas, que a ex-esposa. E nitido nessa situação a 'som efeito, uma solidão (faça esta perguntaa você
bra'" da relação anterior associada a uma grande neces
sidade de desempenho. mesmo) que não tivesse grandeza? Mas isso
não o deve desorientar. O que se torna preciso, é
Mas por que resistimos à solidão? Quantas vezes no entanto isto: solidão, uma grande soliadão inte
nos sentimos sós a dois ou no meio da multidão? O im
rior. Entrar em si mesmo, não encontrar ninguém
portante não é estar na multidão e estar só, mas sim es
tar só com uma multidão dentro de si. -
durante horas eis o que se deve saber alcançar.

Ame a sua solidãoe carregue com queixas har ditado popular “antes só do que mal acompa
O

moniosas a dor que ela lhe causa (.) (Rainer Ma nhado" poderia ser modificado para algumas vezes só,
ria Rilke)62 e muitas vezes bem acompanhado'.

No momento em que estamoS Sós, temos a oportu


nidade de um novimento reflexivo mais autêntico com o
nosso interior. Na vida agitada e social, estamos conta
minados pelas relações convencionais e superficiais, pe
las obrigações com coisas e pessoas. Na solido, não.
Aprendemos a ser solidáios conosco, a gostar de nós
mesmos, revalorizando e reforçando nossa auto-estima,
amadurecendo. E só assim podemos ser solidários com
os outrose compartilhar de forma verdadeira.
A nosso ver, envelhecer e solidão devem ter signi

62. R. M. Rilke, Cartas a um jovempoeta e A canção de amor e de morte


do porta
estandarte Cristóvão Rilke, 20. ed., São Paulo:Globo, 1994, p. 4]. 63.R. M. Rilke, Cartas a um jovem poeta e canção amore
A

estandarte Cristóvão Rilke, 20. ed., São Paulo: de de morte do porta


p.
Globo, 1994, 48.

130
131
BIBLIOGRAFIA DE APOIO

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edição.
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MaCARY, J. L. Mitos e crendices sexuais. São Paulo: Manole,
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segredos do amore da intimidade conjugal. Rio de Janeiro:
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masculina, São Paulo: Summus, 1943.
e trauamento. Rio de Janeiro:
MUNJACK, D. J. Sexologia: diagnóstico
Atheneu, 1984.
VAN USSEL, J. Repressão sexual. Rio de Janeiro:
Canpus, 198O.

133
SOBRE OS AUTORES

mnédico sexólogo, es
GERSON PEREIRA LOPES é
pela FLASSES- Federa
pecialista em Sexologia Clínica
e Educação. Além de
ção Latino-Americana de Sexologia
Revista de Sexologia, órgão oficial do Instituto
editor da ne 1 e Sexualidade na
Cavalcanti ( Sexo após 40 anos'",
Adolescência", ne 2), é presidente da
comissão de sexologia
FEBRASGO -Federação Brasileira das Sociedades de
da
Ginecologia e Obstetrícia.
BARA MAIA, além de bióloga e educado
MÔNICA Educação para a
ra sexual, é a responsável pelo setor de
e co-editora da Revista
Sexualidade do Instituto Cavalcanti
do Instituto Cavalcanti.
de Sexologia-órgão oficial
LOPES e MÖNICA MAIA também são os
GERSON sensu de Se
coordenadores dos cursos de especialização lato da FUMEC
xualidade Humana'' e de Educação Sexual'',
e em Belo Horizonte.
Fundação Mineira de Ensino Cultura, Sexologia
e
São autores de Patologia eterapia sexual, em diver
colaboraram
integral e Sexualidade humana, já e têm
sas outras obras. Como conferencistas palestrantes
por o
país, desenvolvendo temas como 'A fa
viajado todo Sexualidade na in
mília atual'', Sexo na terceira idade,
"Anticoncepção:
fância"", Sexualidade na adolescência",
as causas do fracasso, "Relação de casal'",
entre outros.
para a
Têm dado assessoria a projetos de educação
e governa
sexualidade em instituições governamentais não a escre
convidados
mentais, além de serem freqüentemente de jor
verem para revistas de circulação nacional, colunas
e a comparecerem em
programas de televisão.
nais e Association
São membros da FLASSES da World
of Sexology -WAS (Associação Mundial de Sexologia).

135
Impresso na @rol. editore gilico kda.

03043 Rua Martim Burchard, 246


Brás São Paulo SP
Fone: (011) 270-4388 (PABX)
com filmes fornecidos pelo Editor.
e seus conhecimentos, fazen
do-nos Compreender que sexo
e vida podem ser uma coisa
S. E eterna.
Obrigado, amigos."
Wolber de Alvarenga
Psicólogo e
psicoterapeuta.

GERSON LOPES é mé
dico sexólogo, com especiali
zação em Sexologia Clínica.
MÔNICA MAIA é bióloga Envelhecer é bem diferente de adoecer. O
e educadora sexual. envelhecimento normalécomumente defi
nidocomo sendo as mudanças psicológicas
FLASSES -
Os autores são membros da
Federação Lati
no-Americana de Sexologia e
e fisiológicas relacionadas com a idade e não asso
ciadas com doenças.
Em Sexualidadee envelhecimento, Gerson Lopes
Educação Sexual
- -e
da WAS Mônica Maia afirmam que a sexualidade está pre
World Association of Sexo
cur sente nos idosos e, quando não reprimida, pode ser
logy e coordenadores dos vivenciada por uma pessoa sadia até o fim de sua
SOs de "Sexualidade Humana" existência. Åidade não dessexualiza o indivíduo, a
e "Educação Sexual" da Fun sociedade sim.
dação Mineira de Ensino e A união sexual simboliza a busca da unidade, a rea-,
Cultura, em Belo Horizonte. lizaçãoplena do ser. Descubra como viver eser feliz
Têm assessorado projetos de com Sexualidade e envelhecimento.
educacão para a sexualidade
em instituições governamen
tais e não governamentais..

ISBN 85-02-01497-8

Capa de Christof Gunkel

9"788502"014978

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