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Brasília
2016
1
ANDRÉ FERNANDES FERREIRA
Brasília
2016
2
ANDRÉ FERNANDES FERREIRA
Banca Examinadora
___________________________
Prof. Welliton Caixeta Maciel
Orientador / UnB
___________________________
Prof. Analia Soria Batista
Membro Interno / UnB
___________________________
Prof. Izabella Lacerda Pimenta
Membro Externo / UFF e PNUD
___________________________
Prof. Victor Martins Pimenta
Membro Externo / DEPEN/MJ
3
RESUMO
4
ABSTRACT
5
LISTA DE TABELAS
6
SUMÁRIO
1 – INTRODUÇÃO _____________________________________________________ 8
5 – CONCLUSÃO _____________________________________________________ 51
6 – BIBLIOGRAFIA ____________________________________________________ 56
7
1 – INTRODUÇÃO
1 SILVA, Eduardo Araújo da. Crime Organizado Procedimento Probatório, Atlas, 2ª ed. 2009, p.
17-24
2 Op. Cit., p. 25
8
Como resultado da globalização e do acréscimo e disseminação de novos
conhecimentos, o crime organizado, que antes se restringia a pequenas associações
de pessoas incumbidas da consumação de delitos, tem aumentado o rol de suas
atividades ilícitas e cada vez mais países se veem impregnados pelos efeitos
danosos das organizações criminosas, que extrapolam os limites territoriais de suas
origens. Existe uma preocupação cada vez maior da sociedade em encontrar
soluções para extirpar ou ao menos minimizar os danos consequentes de suas
ações.
Uma questão que sempre deve ser mencionada quando se fala sobre
criminalidade organizada, é a existência destas dentro dos presídios e das
penitenciárias. Antes presentes somente nos estados de São Paulo e Rio de
Janeiro, hoje já se tem relatos de suas existências espalhadas por todo o Brasil.
Esses grupos prisionais se usufruem das vulnerabilidades dos sistemas
penitenciários e das imperfeições das Leis com a finalidade de, mesmo reclusos,
permanecer no comando de diversos crimes, tais como roubos, sequestros, tráfico
de armas e drogas, entre outros.
9
governo federal deveria construir presídios de segurança máxima para os presos
mais perigosos. Até o ano de 2006, o Brasil teve seis presidentes, 20 ministros da
Justiça e o projeto não saiu do papel. Foi justamente nesse período que o país
assistiu a uma explosão do número de presos, com os criminosos mais perigosos
convivendo com o resto da população carcerária, o que resultou na estruturação de
grandes grupos organizados que controlam o crime de dentro das penitenciárias.
Esse fenômeno também foi responsável pelas cenas que a cidade de São Paulo
viveu em passado recente, mas também por toda uma rede de ações criminosas que
são articuladas por essas organizações.
De forma a dar uma satisfação à sociedade, que está cada vez mais com
medo e insegura e aos pedidos dos meios de comunicação, é de fácil constatação o
uso pelo Estado, no ensaio de resolver profundas questões que envolvem a
criminalidade, da criação de novos tipos penais ou do agravamento das penas dos
tipos já existentes. O crime organizado deve ser combatido, mas com inteligência e
ações bem preparadas. Por vezes, as leis não tem nenhuma aplicação prática no
combate à criminalidade organizada, somente causando na população em geral um
sentimento de segurança, passando a esconder a incapacidade do Estado de
enfrentar e resolver alguns problemas sociais.
10
definição propriamente dia, assunto este bastante complexo, mas sim mapear suas
principais características, que serão fundamentais para sua tipificação.
11
2. ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA
b) "Infração grave" - ato que constitua infração punível com uma pena de
privação de liberdade, cujo máximo não seja inferior a quatro anos ou com
pena superior;
3 Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5015.htm>
acesso em 01/10/2015
4 Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm> acesso em
01/10/2015
12
crime de quadrilha ou bando5, que é considerado um crime com uma estrutura
organizacional bem menor do que uma organização criminosa, já dizia que para
configuração deste eram necessárias “mais” de três pessoas e também a amplitude
do conceito, o que possibilitaria sua aplicação a grupos muito variáveis.
5Assim dispunha o artigo 288 do Código Penal Brasileiro: "Associarem-se mais de três pessoas, cm
quadrilha ou bando, para o fim de cometer crimes. Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.", antes
de ser alterado pela Lei 12850/13.
6 Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12694.htm> acesso
em 01/10/2015
7 Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12850.htm> acesso
em 01/10/2015
13
Lei 12.694/12 Lei 12.850/13 Art 288 do CP Art. 35 da Lei 11343/06
2.1 – Conceito
8 Scarance Fernandes (ANO: data, página) relata que são três as opções doutrinárias e legislativas
utilizadas para a conceituação de crime organizado: 1- a que parte da noção de organização
criminosa para conceituar o crime organizado, o qual, assim, seria aquele praticado pelos integrantes
da organização; 2 – define-se o crime organizado a partir dos seus elementos essenciais, em regra os
que servem para identificar a existência de uma organização criminosa, sem enumeração de tipos
penais; 3 – enumera-se um rol de crimes como sendo crimes organizados (SCARANCE
FERNANDES, Antônio. O equilíbrio entre a eficiência e o garantismo e o crime organizado. P.
236-237)
14
De acordo com Ana Luiza Almeida Ferro9:
Jorge Figueiredo Dias11, diz que não necessitamos conceituar o que seria
crime organizado, uma vez que para ele, o crime organizado, nada mais é do que o
resultado do crime praticado por associações criminosas, ou seja, toda a
criminalidade organizada precede à existência da associação criminosa:
9 FERRO, Ana Luiza Almeida. Crime organizado e organizações criminosas mundiais. P. 320.
10 JUNIOR, João Paulo Baltazar. Crime Organizado e Proibição de Insuficiência, p.84
11 DIAS, Jorge Figueiredo A criminalidade Organizada: fenômeno ao conceito jurídico-penal, p.
12 e 26-27
15
crimes – no estádio da consumação, da tentativa ou mesmo da
preparação – de particular natureza e gravidade (chamados de
crimes de catálogo)”.
2.2 – Características
14 Disponível em <https://www.unodc.org/documents/justice-and-prison-
reform/projects/UN_Standards_and_Norms_CPCJ_-_Portuguese1.pdf> acesso em 01/10/2015
15 Fonte: Elaborada pelo próprio autor em pesquisa para este trabalho.
17
Algo importante de ressaltar, é o fato que estabilidade não significa dizer
que a composição dos membros deve ser eterna. Pode acontecer a troca de seus
integrantes, mas a organização criminosa não terá suas atividades interrompidas.
É de difícil aceitação que locais que são utilizados a vários anos para o
tráfico de drogas, a prostituição ou para exploração do jogo do bicho, não sejam
conhecidos pelos órgãos policiais, pelo Ministério Público ou pelos Poderes da
União. Por várias vezes, assistimos reportagens que divulgam esses lugares
Aqui visualizamos não somente a ameaça física, mas qualquer forma que
a organização criminosa possua para prejudicar suas vítimas.
A violência é considerada como meio fundamental que a organização
criminosa possui para se manter no poder e conquistar suas metas e objetivos.
Em seu livro Perspectivas de Controle ao Crime Organizado e Crítica à
Flexibilização das Garantias, Francis Rafael Beck relata que quanto maior for o
planejamento empresarial da organização criminosa, maior será a tendência em se
utilizar meios menos violentos:
21
Essas são os traços que melhor caracterizam as diversas organizações
criminosas. Quando relacionados as características principais, não ficamos presos a
um conceito fechado, mas abrimos o leque de forma que a medida que seja
necessário, podemos modifica-lo, até mesmo acompanhando a evolução da
sociedade.
O interesse pelo celular é tão grande junto aos presidiários, que a cada
dia são criadas diversas maneiras tanto para se enganar a fiscalização (caso dos
microcelulares) como para corrompê-la. Há um comércio de celulares nas prisões.
Quanto mais difícil o acesso, mais caro fica o aparelho.
3.1. Milícias
26
Os políticos se aproximaram das milícias e muitos milicianos se elegeram
para os mais diversos cargos, hoje em dia, após inúmeras condenações, perda de
mandatos e prisões, as milícias optaram por apoiar simpatizantes.
A milícia mais famosa do Rio de Janeiro atendia pelo nome de Liga da
Justiça, hoje rebatizada como Explosão, e tem o Batman como símbolo, atua
preferencialmente na zona Oeste do Rio de Janeiro.
Dados do Núcleo de Pesquisa das Violências (Nupevi) da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) apontam que 41,5% das 965 favelas no Rio
estavam dominadas por milícias em 2008, contra 11,9% em 2005. Em 2014, 148
comunidades em 28 bairros tinham a presença de milícias e 23 dos 90 municípios do
Estado também haviam sido tomadas pelas milícias.
De acordo com Araújo (2015) levantamentos da Polícia Civil do Rio de
Janeiro apontam para um faturamento mensal da Liga da Justiça/Explosão de
aproximadamente r$ 6.500.000,00, mensais.
Nos últimos anos, a aliança entre milicianos e o tráfico de drogas ficou
evidente devido a algumas circunstâncias. Em 2015, a polícia do Rio identificou uma
carga de drogas que trazia o símbolo de uma grande facção criminosa ao lado do
desenho usado pela maior milícia do estado.
Após as prisões de grandes líderes da maior milícia da Zona Oeste, como
Ricardo Teixeira Cruz, o Batman, Toni Ângelo de Souza Aguiar e Marcos José de
Lima Gomes, o Gão, todos ex-policiais, alguns nomes passaram a ser cogitados
para assumir o comando. Um deles era o ex-traficante Carlos Alexandre da Silva
Braga, o Carlinhos Três Pontes, que conseguiu ganhar prestígio entre os milicianos
após tomar a favela Três Pontes do tráfico.
Um caso recente que chamou bastante atenção pela audácia e sobretudo
pela certeza da impunidade, foi o relato de Agentes da Força Nacional que atuaram
durantes as Olimpíadas no Rio de Janeiro que teriam sido proibidos por milicianos
de instalarem internet nos quartos disponíveis para a Força Nacional em um
condomínio em Jacarepaguá / RJ22
Outro exemplo da forma de atuação das milícias foi observado durante as
eleições desse ano. O site O Globo, denunciou que as milícias cobravam até R$
22Disponível em http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2016/07/agentes-da-forca-nacional-relatam-
tensao-com-milicia-no-rio.html acesso em 06/11/2016
27
120.000,00 (cento e vinte mil reais) para que candidatos fizessem campanha em
áreas dominadas pelos milicianos23
23 Disponível em http://oglobo.globo.com/brasil/milicias-do-rio-cobram-ate-120-mil-para-que-
candidatos-facam-campanha-20191488 acesso em 06/11/2016
28
de policiais, de agentes e de quem se opõe aos interesses do grupo. A mais nova
prática ilegal pode ser definida como agiotagem, ou seja, juros sobre a mensalidade
travestida de dízimo – a contribuição financeira de R$ 100 mensais por integrante.
Os “irmãos” que estão na lista de devedores são obrigados a pagar R$ 2,50 ao dia –
75% de juros ao mês.
Quem der calote cumpre a pena – ou melhor, não cumpre é executado.
Essa norma faz com que o PGC arrecade por ano, aproximadamente, R$ 1,6 milhão.
São aproximadamente 1.400 afiliados no Estado. Cada um paga R$ 100 por mês
para o dízimo. Com exceções: presos libertos têm três meses de carência. No quinto
mês de atraso “o responsa é cobrado com rigor”.
Do investimento feito pelo grupo é exigido retorno de 10% a 30%. Assim,
se alguém assaltar com arma fornecida pelo PGC, deve repassar parte do valor ao
grupo. O dinheiro vai para o caixa geral do grupo e então é revertido em drogas,
armas, pagamento de advogados, compra de alimentos, ajuda a familiares de
presidiários e ao financiamento de atentados. Quem não o honrar, pode ser
condenado à morte.
Familiares de detentos também são ameaçados para se submeter à
vontade dos líderes do grupo – seja com contribuição financeira mensal, seja
praticando crimes. Geralmente, o aliciamento é feito pelo preso, que busca em um
parente, em especial adolescentes, que ele se alie e passe a praticar delitos para a
organização.
Em inquérito policial que se arrasta desde 2010 na Justiça de Tijucas, na
Grande Florianópolis, a Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic) relata
que o grupo cresceu de forma vertiginosa a partir de maio de 2003, aos moldes do
Comando Vermelho (Rio de Janeiro) e do Primeiro Comando da Capital (PCC), de
São Paulo.
24 Disponível em http://dc.clicrbs.com.br/sc/noticias/noticia/2016/06/como-traficantes-do-pgc-
montaram-rede-entre-brasil-e-paraguai-6166091.html acesso em 06/11/2016
29
3.3 – Primeiro Comando da Capital – PCC
25
Disponível em http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,maior-investigacao-da-historia-do-crime-
organizado-denuncia-175-do-pcc,1084346 – acessado em 25/10/2015.
26
idem
27 AMORIM, Carlos. CV-PCC A Irmandade do Crime. 5ª edição. São Paulo: editora Record. 2004.
30
“Geléião, amigo de coração e de crime de Cesinha, acompanhou o
discurso inflamado do outro e também falou naquela noite: - Como
vamos chamar esse novo ‘time’? – Primeiro Comando da Capital –
batizou Cesinha, usando parte do nome do time que os consagrara
na cadeia. Nascia ali o PCC. Em poucos dias as ideias foram
colocadas no papel. E até um Estatuto foi manuscrito. Prometiam
fidelidade, luta até a morte pelos direitos jamais respeitados dos
detentos neste país. Foi rápido: nas rebeliões, lençóis brancos
apareciam com as três letras (PCC) do partido do crime.
Subestimado pelo governo, que não conhece a realidade das
cadeias, o PCC criou raízes em todo o sistema carcerário paulista.
Nas prisões, diretores ultrapassados, da época da repressão,
tentavam resolver o problema da maneira em que foram doutrinados:
porretes, choques, água fria, porrada... Não foi suficiente. Em menos
de três anos, já eram três mil. Em menos de dez anos, 40 mil...” 28
Criado em 31 de agosto de 1993, por oito presos, no anexo da Casa de
Custódia de Taubaté (130 km de SP), conhecida como Piranhão, e apontada como a
prisão mais segura do Estado de São Paulo naquela época.
28 AMORIM, 2004
31
3.1.1 – Surgimento
30 AMORIM, Carlos. CV-PCC A Irmandade do Crime. 5ª edição. São Paulo: editora Record. 2004
33
criminosa, nega a informação, dizendo que o PCC não tem liderança. Acumula mais
de 240 (duzentos e quarenta) anos de condenação por roubo a banco, tráfico de
drogas e envolvimento com o crime organizado. Foi preso em julho de 1999 e
permanece até os dias atuais, apesar de diversas tentativas frustradas de resgate.
PC 45 PM Morto (Serviço) 9
31WOLOSZYN, André Luís. Ameaças e desafios à segurança humana no século XXI. São Paulo:
Schoba, 2013.
34
também foram registradas. Com ele na liderança, em pouquíssimo tempo o PCC se
tornou uma organização criminosa muito maior e mais perigosa.
35
das cadeias quanto nas ruas. Se alguém quiser vender drogas, ou compra do PCC
ou paga um “aluguel” para continuar dono da boca de fumo.
ESTATUTO DO PCC
1. Lealdade, respeito, e solidariedade acima de tudo ao Partido;
2. A Luta pela liberdade, justiça e paz;
3. A união da Luta contra as injustiças e a opressão dentro das
prisões;
4. A contribuição daqueles que estão em Liberdade com os irmãos
dentro da prisão através de advogados, dinheiro, ajuda aos familiares
e ação de resgate;
5. O respeito e a solidariedade a todos os membros do Partido, para
que não haja conflitos internos, porque aquele que causar conflito
interno dentro do Partido, tentando dividir a irmandade será excluído
e repudiado do Partido;
6. Jamais usar o Partido para resolver conflitos pessoais, contra
pessoas de fora. Porque o ideal do Partido está acima de conflitos
pessoais. Mas o Partido estará sempre Leal e solidário à todos os
seus integrantes para que não venham a sofrerem nenhuma
desigualdade ou injustiça em conflitos externos;
7. Aquele que estiver em Liberdade "bem estruturado", mas esquecer
de contribuir com os irmãos que estão na cadeia, serão condenados
à morte sem perdão;
37
3.4 – Comando Vermelho – CV
33 AMORIM, Carlos. Comando Vermelho: A história do crime organizado, Editora Record, 1993
34 ISTO É apud AMORIM, 2004, p. 100
38
O Comando Vermelho é uma das organizações criminosas mais
poderosas do Rio de Janeiro, mas atualmente, a maioria de seus líderes está preso
ou morto.
3.2.1 Ascensão
35 AMORIM, Carlos. Comando Vermelho: A história do crime organizado, Editora Record, 1993
39
"Morte para quem assaltar ou estuprar companheiros;
Incompatibilidades trazidas da rua devem ser resolvidas na rua,
porque a rivalidade entre quadrilhas não pode perturbara vida na
cadeia; Violência apenas para tentar fugir; Luta permanente contra a
repressão e os abusos"36. ()
3.2.2 O tráfico
O objetivo era controlar toda a região do Grande Rio, assim como cidades
próximas e de turismo como Búzios, Cabo Frio, Petrópolis, Teresópolis e Nova
Friburgo. Os líderes da facção haviam percebido com a prática que o tráfico era um
negócio muito mais rentável. O lucro era absurdo, o perigo não era tão grande se
comparado aos frequentes assaltos á mão armada que eram realizados, e o grupo já
era grande o suficiente para que pudesse tomar o próximo passo.
36 AMORIM, Carlos. CV-PCC A Irmandade do Crime. 5ª edição. São Paulo: editora Record. 2004. p. 137.
37 Submetralhadora de fabricação israelita fabricada no final da década de 40
40
ou capturando todos os traficantes pertencentes á quadrilha que dominava o ponto
local. Nestas guerras, apesar de comum a morte de muitos inocentes moradores das
favelas, não era raroo Comando Vermelho obter apoio das comunidades. A
organização se preocupava em realizar um tipo de "trabalho social" nas
comunidades onde estabelecia suas bases de operação. O apoio vinha de diversas
formas, como distribuição de botijões de gás roubados, comida, e até construção de
creches.
As guerras no morro produziam vítimas muito além das que ali estavam.
Algumas das armas utilizadas possuíam longo alcance, como os rifles AK-47. O
projétil desta arma pode viajar a uma distância superior a 1,5Km. Com isso, todos os
bairros de classe média localizados nas proximidades dos morros, eram
frequentemente alvejados.
40 AMORIM, 2004
42
fugas de seus membros. Ajudavam também a realizar o chamado “serviço
comunitário” dentro dos presídios, alçando o Comando Vermelho a uma posição de
comando nas penitenciárias.
"Em coligação com o CV, iremos revolucionar o país de dentro das prisões
e o nosso braço armado será o terror "dos poderosos" opressores e tiranos
que usam o "anexo de Taubaté" e o Bangu 1 no Rio de Janeiro como
instrumento de vingança da sociedade na fabricação de monstros".
44
4 – O CRIME ORGANIZADO E O SISTEMA PENITENCIÁRIO FEDERAL
45
TOTAIS POR FACÇÃO - SPF
OS MANOS
2
NOVO CANGAÇO
1
NÃO INFORMADA
MILÍCIA DA GARDÊNCIA
1
LIGA DA JUSTIÇA
6
FRENTE PATRIÓTICA MANOEL RODRIGUES
1
FAMÍLIA DO NORTE
13
EX SERVIDOR DA SEGURANÇA PÚBLICA
3
ESTADOS UNIDOS
1
CONSÓRCIO DO CRIME
1
COMISSÃO DA PAZ
2 no Sistema Penitenciário Federal
Tabela 03: Grupos criminosos com membros presos
46
Atualmente somente três Estados não possuem presos no Sistema
Penitenciário Federal: Tocantins, Piauí e Sergipe.
SPF - UF
120
103
100
80
60
48
41
40 34
30 29
24 23
Tabela 04: População carcerária por Unidade Solicitante21 21 21
Em março de 2009, a advogada Elker Cristina Jorge foi acusada de ter levado
uma carta do PCC aos chefes do Comando Vermelho reclusos na Penitenciária
Federal em Catanduvas / PR. A carta, interceptada com a advogada, era, segundo a
Justiça, uma espécie de reconciliação entre as organizações, com relatos de ordens
para crimes e retaliações. Segundo a direção do presídio, a advogada fez mais de
48
70 visitas a prisioneiros desde 2007, o que motivou sua prisão em flagrante. Pelo
menos oito episódios semelhantes foram relatados pelo diretor de Catanduvas,
Fabiano Bordignon, o que inclui uma suposta ordem para o assassinato de um juiz
estadual de execução penal.
Como exemplo da forma como os advogados são utilizados por esses grupos
prisionais, temos a recente operação da Polícia Civil e do Ministério Público de São
Paulo que prendeu diversas pessoas que estariam ligadas ao PCC, na sua maioria
advogados, todos suspeitos de movimentar dinheiro do crime organizado em suas
contas bancárias e ainda de ajudar a criar uma espécie de banco de dados com os
nomes e endereços de agentes penitenciários e de seus parentes. Essas pessoas
poderiam ser mortas quando a facção julgasse necessário42.
50
5 – CONCLUSÃO
51
União, em tentativas de se enfrentar esse tipo de criminalidade organizada, que
exige uma complexa produção de provas e comprovação de autoria.
A guerra hoje está localizada nos presídios e pode sair para as ruas.
Normalmente, cada vez mais está se provando isso, o crime é comandado de dentro
para fora das unidades prisionais. Além de obter controle da unidade em termos de
maioria de proteção, o PCC pode avançar fora dos presídios. O motivo do PCC é
sempre o lucro. A partir do momento em que você domina o tráfico dentro de
determinada região, você se torna mais forte. Essa me parece que seja a intenção e
o objetivo dessa guerra.
55
6 – BIBLIOGRAFIA
CANO, Ignacio. Seis por Meia Dúzia? um Estudo Exploratório do Fenômeno das
Chamadas ‘Milícias’ no Rio de Janeiro em Justiça Global (org.) Segurança, Tráfico e
Milícias no Rio de Janeiro. Fundação Heinrich Böll. Rio de Janeiro, 2008.
RODRIGUES, José da Cunha. Os senhores do crime, RPCC, ano 9, fasc. 1°, 1999,
p. 19
VARGAS, Diogo; PEREIRA, Felipe. Primeiro Grupo Catarinense – PGC. Zero Hora,
13 de abril de 2013 | N° 17401.Disponível em <
http://faccoesmafiosas.blogspot.com.br/2013/04/primeiro-grupo-catarinense-
pgc.html> Acesso em 06/03/16.
SOUZA, Percival de. O Sindicato do Crime – PCC e outros grupos. Rio de Janeiro,
2006.
59