Você está na página 1de 89

Curso de QEE

3. Fontes Geradoras de Distúrbios na QEE


Introdução

A energia elétrica é um dos mais importantes insumos da sociedade


moderna e, tem características bastante peculiares tais como: a geração da
energia elétrica e seu consumo ocorrem em tempo real e a sua qualidade
depende tanto do consumidor quanto do fornecedor.

Na verdade nem consumidor nem concessionária são capazes de


determinar precisamente a magnitude, a duração e frequência média das
ocorrências de todos os problemas da qualidade da energia elétrica. De modo
geral os consumidores estão cada vez sensíveis à qualidade da energia elétrica, e
por outro lado gerando mais distúrbios para o sistema elétrico de distribuição e
transmissão.

Nos capítulos 1 e 2 estão definidos os distúrbios e os padrões desejáveis


da tensão para uma instalação elétrica. O que se deseja é ter uma tensão
estabilizada, equilibrada e com o formato senoidal. De modo geral isto se
consegue tomando providencias simples e objetivas tais como:
 Cabos com seção de dimensão suficiente para limitar a queda de tensão;
 Transformadores de distribuição adequadamente dimensionados e com
baixa tensão de curto-circuito;
 Evitar picos de carga ou mitiga-los através de dispositivos adequados;
 Separação dos diversos circuitos de alimentação de acordo com as
características das cargas e sua forma de operação;
 Utilização de fator de demanda realístico baseado em medidas ou
estimativas de projetos semelhantes;
 Utilização de transformadores dedicados para cargas não lineares;
 Ter um bom projeto de proteção e implementa-lo.

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 1 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

3.1 Cargas com Potencial para Gerar Distúrbios na QEE

As cargas que apresentam maiores possibilidades para gerar distúrbios nas


instalações elétricas, e que são bastante encontradas no meio industrial, comercial
e residencial são:

 Forno a arco voltaico


 Forno de indução
 Motor de corrente contínua com controle de velocidade / tração elétrica
 Motor para laminadora de indústria siderúrgica
 Motor de indução de média e alta potência
 Retificadores – Interfase AC/CC
 Inversores de corrente contínua para corrente alternada

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 2 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

 Conversores eletrônicos - Controladores de Potência CA.


 Máquina de solda
 Aparelhos de Raio X
 Processadores de energia elétrica, (fonte chaveada).

Dependendo da potência de Curto-Circuito no ponto de acoplamento destas


cargas com o sistema de distribuição de energia elétrica, os distúrbios gerados
podem ser disseminados e atingir outras umidades consumidoras. Algumas
concessionárias do setor elétrico têm estabelecido diretrizes, critérios e
procedimentos que deverão ser seguidos pelos usuários do sistema elétrico de
subtransmissão e das redes primárias de distribuição.
Concessionárias do setor elétrico estão solicitando um Relatório de Impacto
no Sistema Elétrico (RISE) para ligar estas cargas com potencial de gerar
distúrbios no sistema de distribuição. Algumas destas cargas são potencialmente
geradoras de distúrbios não pela potência de uma carga, mas pela quantidade
encontrada nas instalações elétricas.

FIG. 3.1 Principais equipamentos de um forno elétrico a arco

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 3 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

FIG. 3.2 Penetração harmônica na rede de distribuição causa


por cargas não lineares

FIG. 3.3 Processador de energia elétrica (Retificador trifásico)

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 4 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

FIG. 3.4 Transformador de distribuição de 300 kVA Z% = 5,19%


Correntes de excitação

3.2 Afundamento de Tensão

Dentro do contexto da qualidade da energia elétrica o fenômeno associado


com o afundamento de tensão tem uma importância fundamental pelas razões
citadas a seguir. [03]

 Devido à vasta extensão e à vulnerabilidade das linhas aéreas de


transmissão, subtransmissão e distribuição, estes distúrbios são
inevitáveis e inerentes à operação do sistema elétrico;

 Os consumidores estão tendo prejuízos substanciais devido as


interrupções de processos, quantificados pelas perdas de produção,
perdas de insumos e custos associados a mão-de-obra e a reparos de
equipamentos danificados;

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 5 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

 As concessionárias de energia elétrica estão tendo perda de imagem


empresarial e inevitavelmente passarão a ter maiores custos com
prováveis ressarcimentos de prejuízos aos consumidores, decorrentes
de falta de qualidade da energia;

 A qualidade da energia está se transformando num fator de


competitividade, sendo que as empresas de energia deverão oferecer
contratos diferenciados, em função dos requisitos de qualidade da
energia exigidos pelos processos dos consumidores;

 A qualidade da energia está se tornando um fator diferencial para


promover desenvolvimentos regionais, juntamente com incentivos fiscais,
meios de transporte, proximidade entre matéria prima e centros
consumidores

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 6 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

3.2.1 Conceito de Afundamento de Tensão – SAG

O afundamento de tensão é caracterizado por duas variáveis magnitude e


tempo. O Institute of Electric and Electronics Engineers – IEEE define através da
norma 1159 como sendo uma redução do valor eficaz ( RMS) da tensão entre 0,1
e 0,9 p.u., durante um período de tempo entre ½ ciclo e 60 segundos. O IEEE
ainda classifica os afundamentos de tensão, segundo a sua duração, nas
seguintes categorias:
 Instantâneos: entre 0,5 ciclo e 30 ciclos;
 Momentâneos: entre 30 ciclos e 3 segundos;
 Temporários: entre 3 segundos e 1 minuto.

FIG. 3.1 Afundamento de Tensão segundo a norma IEEE - 1159

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 7 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

A norma do IEC (International Eletrotechnical Commission) define


afundamento de tensão (denominado de “dip” ou “voltage dip”) como: uma
redução súbita da tensão de um ponto do sistema elétrico, seguido de seu
restabelecimento após um curto período de tempo, de 0,5 ciclo há uns poucos
segundos.

FIG. 3.2 Afundamento de tensão de acordo com o IEC

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 8 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

No Brasil o órgão regulador do setor elétrico é a ANEEL, que define o


afundamento de tensão dentro de um contexto maior do comportamento da tensão
eficaz da seguinte forma:
Variações de tensão de curta duração (VTCD) são desvios
significativos na amplitude do valor eficaz da tensão durante um
intervalo de tempo inferior a três minutos. Ver tabela 01 abaixo.

Tabela 01.Classificação das Variações de Tensão de Curta Duração

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 9 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

3.2.1.1 Tolerância ao afundamento de tensão.

Os problemas associados à ocorrência de afundamentos de tensão tendem


a se agravar cada vez mais devido ao crescente aumento da utilização de
equipamentos sensíveis às falhas utilizados por modernas indústrias de alta
tecnologia que necessitam de energia confiável e de qualidade, uma vez que um
fornecimento elétrico de qualidade insuficiente pode levar a uma interrupção de
processos e, consequentemente, a uma qualidade do produto inferior à desejada.

Fig 3 – Curvas de tolerância dos vários afundamentos do processo segundo


norma IEEE Std 1346 (1998).

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 10 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

3.2.2 Causas dos Afundamentos de Tensão

As principais causas dos afundamentos de tensão no sistema de


distribuição de energia ou em uma instalação elétrica são:
 Partida de grandes motores de indução;
 Curto-Circuito no sistema elétrico.
A análise do afundamento de tensão pode ser considerada complexa, pois
envolve uma diversidade de fatores aleatórios que afetam as suas características
de tempo e magnitude [01 ]:
 Tipo de Curto-Circuito (Fase-Terra; Fase-Fase; mono ou trifásico)
 Localização do curto-circuito no sistema;
 Impedância do sistema no local do curto-circuito;
 Conexão dos transformadores;
 Tensão anterior ao afundamento de tensão;
 Desempenho do sistema de proteção;
 Fatores diversos.

3.2.2.1 Localização do Curto  Afundamento de Tensão

A localização do curto-circuito é o fator mais importante da determinação da


intensidade do distúrbio de tensão, para uma determinada unidade consumidora,
dentro de um sistema de distribuição de energia elétrica. A figura 3.3 mostra vários
pontos de ocorrência de curto-circuito e seu impacto sobre uma determinada
unidade consumidora [01 ].
Neste contesto a definição de áreas de vulnerabilidade, que relaciona o
local da ocorrência de um curto circuito e as cargas espalhadas, geograficamente,
que serão afetadas. Atingindo uma sub tensão abaixo da recomendada para sua
operação como mostrado na figura 3.4.

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 11 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

Figura 3.3 Sistema de distribuição de energia elétrica mostrando o curto-circuito


em vários pontos seu impacto sobre uma unidade consumidora. [01]

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 12 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

Figura 3.4 Sistema de distribuição e as áreas de vulnerabilidade para identificação


da origem da falha considerando as subestações A e B.[02]

As áreas de vulnerabilidades são determinadas usando simulação


computacional através do cálculo de curto circuito para obter a estimativa do
número de afundamentos, com possíveis impactos para os consumidores.
Conhecida a incidência anual de defeitos nas linhas de transmissão, pode-se ter
uma estimativa do número esperado de interrupções na operação de cargas
sensíveis. Na figura 3.5 é mostrado um gráfico que relaciona a magnitude,
duração e o número de afundamentos em uma linha da rede básica de 230 kV.

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 13 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

Figura 3.5 Perfil dos afundamentos em um ponto de medição em 230 kV, que
alimenta consumidores industriais.

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 14 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

Tabela 3. 1 - Estatísticas de taxas médias de faltas em linhas de transmissão


utilizadas nos EUA [03]

(*) n.º de ocorrências/ano/ 100 Km de linha

Tabela 3. 2 - Taxa de falhas em LTs no BRASIL [03]

(*) n.º de ocorrências/ano/ 100 Km de linha

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 15 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

3.2.3 Metodologias para Estimação de Afundamento de Tensão


Para estimação dos principais parâmetros de caracterização de um
afundamento de tensão: intensidade, duração e número de ocorrências, pode-se
utilizar metodologia de previsão.
As ferramentas indicadas para a estimativa das características do
afundamento de tensão são bem conhecidas. Para o cálculo da amplitude usam-
se ferramentas de análise de curto-circuito que permite o cálculo da falta ao longo
da linha de transmissão. Para estimar a duração do afundamento devem ser
identificados os tempos de atuação dos dispositivos de proteção, pois um
afundamento perdura tanto quanto o tempo que a falta permanece no sistema.
Para a previsão da frequência utilizam-se dados estatísticos que informam as
taxas de ocorrências anuais de falhas nas linhas de transmissão e distribuição.

3.2.3.1 MÉTODO DAS POSIÇÕES DE FALTA- (Curto- deslizante)


Este método tem sido amplamente utilizado no cálculo dos afundamentos de
tensão em sistemas elétricos de potência de grande porte, contemplando sistemas
radiais e malhados. Seu princípio está baseado na sistemática de simularem faltas
em posições diferentes ao longo do sistema elétrico, principalmente nas linhas de
transmissão e distribuição.

Figura 3.4 – Diagrama unifilar do método do curto-deslizante

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 16 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

A amplitude do afundamento de tensão (tensão remanescente durante a


falta) na barra do consumidor i, assim como para qualquer outra barra de
interesse, é feito através de um programa de cálculo de curto-circuito. Para
defeitos trifásicos a equação (3.1) é utilizada.

EkP
Ei ,k  E  
P
 Z i ,k 3.1
Z k ,k  Z F
i

Onde:
Ei,k – afundamento de tensão na barra i,e curto-circuito trifásico na barra k;
Eip – tensão pré-falta na barra i;
Ekp – tensão pré-falta na barra k;
Zi,k – impedância de transferência entre as barras i-k;
Zk,k – impedância própria da barra k;
ZF – impedância de falta.

3.2.3.2 MÉTODO DA DISTÂNCIA CRÍTICA

Seu princípio está baseado na determinação da posição da falta no


alimentador para uma dada tensão. A distância deste ponto até barra de interesse
é denominada de distância crítica.
Adotando-se a barra mostrada no diagrama da Figura 4 como sendo o
ponto de acoplamento comum (PAC), a intensidade do afundamento de tensão
registrado nesta barra, devido a um defeito trifásico no ponto A, pode ser
calculada por intermédio da expressão (3.2), adotando-se tensão pré-falta de 1 p.u

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 17 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

𝑉𝑆

Figura 3.5 –Diagrama simplificado indicando o ponto de acoplamento comum

𝑍2 + 𝑍𝐹
𝑉𝑃𝐴𝐶 = × 𝑉𝑆
𝑍1 + 𝑍2 + 𝑍𝐹

Onde:
VS – Tensão da fonte
VPAC – afundamento de tensão no ponto de acoplamento [p.u.];
Z2 – impedância do alimentador entre a barra de acoplamento e o ponto de
falta [];
Z1 – impedância equivalente da fonte no ponto de acoplamento [];
ZF– impedância de falta [].
Esta forma de cálculo do afundamento de tensão é mais adequada a
sistemas de distribuição onde predomina alimentadores radiais.

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 18 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

Seja Z2 = L x z sendo z a impedância do alimentador por km, e L a distância


entre a falta e PAC. A distância crítica (LCRIT) pode ser calculada por:

𝑍𝑆 𝑉𝐶𝑅𝐼𝑇
𝐿𝐶𝑅𝐼𝑇 = ×
𝑧 1 − 𝑉𝐶𝑅𝐼𝑇

Onde:
LCRIT – distância crítica [km];
Zs – impedância do alimentador por unidade de comprimento [/km].

Ex. 3.2 Considere um curto-circuito trifásico no ponto A do alimentador de um


sistema de distribuição de energia elétrica mostrado na figura 3.6, e calcule a
tensão no ponto B, na barra de 12 kV e na barra de 69 kV. As impedâncias
mostradas são de sequência positiva.

Figura 3.6 Alimentador de um sistema de distribuição de energia elétrica.

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 19 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

Solução:

No barramento infinito: VBar. inf. = 1,0pu


No local do curto – circuito trifásico: 𝑉𝐴 = 0,0 𝑉
Cálculo da tensão no ponto B.

𝑗1,05
VB = × 1,0 = 0,40pu
𝑗0,20 + 𝑗0,67 + 𝑗0,70 + 𝑗1,05

Cálculo da tensão no barramento de 12 kV.

𝑗1,05 + 𝑗0,70
V12kV = × 1,0 = 0,67pu
𝑗0,20 + 𝑗0,67 + 𝑗0,70 + 𝑗1,05

Cálculo da tensão no barramento de 69 kV.

𝑗1,05 + 𝑗0,70 + 𝑗0,67


V69kV = × 1,0 = 0,92pu
𝑗0,20 + 𝑗0,67 + 𝑗0,70 + 𝑗1,05

3.2.4 Desempenho do Sistema de Proteção

A função principal do sistema de proteção e eliminar a falta sejam tirando


de operação parte do sistema elétrico, equipamentos ou mesmo unidades
consumidoras.
O tempo para remover a falta está diretamente relacionado com a duração
do afundamento de tensão. A duração depende da atuação dos equipamentos

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 20 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE
destinados a eliminar a falta. Quanto mais rápido agem os equipamentos de
proteção menor é a duração da falta.
O tempo de atuação dos relés depende de suas características e dos
ajustes realizados, já o tempo de abertura dos disjuntores é uma função apenas
das características construtivas do mesmo.

Tabela 3.3 Tempo Típico de Eliminação de Falta. Fonte [ ]

Para um melhor entendimento da ocorrência de afundamento de tensão e


sua correlação com a atuação dos dispositivos de proteção vamos analisar um
exemplo descrito na referência [ ].
O sistema de distribuição mostrado na figura 3.7 é formado por uma
subestação de 20 MVA, com três alimentadores em paralelo. Cada alimentador
tem seu disjuntor com seu relê de proteção para detectar e eliminar a falta.
Na figura 3.7a temos a indicação de um curto-circuito no ponto A, que é
caracterizada como um falta trifásica, no ponto C uma unidade consumidora
alimentada através de um transformador trifásico ΔΥ.

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 21 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

a)

b)

Figura 3.7 Sequência de religamento do sistema de distribuição. a) diagrama


unifilar, b) Variação dos níveis de tensão nos alimentadores

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 22 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

De forma semelhante, a Tabela 3.4 apresenta os tempos típicos de


atuações da proteção em sistemas de distribuição.

Tabela 3.4 - Tempos típicos de eliminação de faltas dos sistemas de distribuição.[03]

(*) Retardo de tempo intencional para se obter coordenação entre os dispositivos de


proteção.

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 23 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

3.2.5 Frequência dos Afundamentos de Tensão

Ocorrências de afundamento de tensão, combinadas com a sensibilidade


dos equipamentos modernos têm resultado em um número expressivo de
interrupções de processos industriais. Tais paradas de produção têm provocado
prejuízos financeiros consideráveis. Os custos destes frequentes afundamentos
têm levado as empresas a buscar parcerias para financiar e minimizar seus
prejuízos.

Vsag  Z S 
S Vsag   n f    
1  Vsag  Z f 

Onde:
S – número anual de afundamentos abaixo de uma dada tensão de
afundamento Vsag;
nf – número de alimentadores que saem do barramento;
 – taxa de falta do alimentador principal por km por fase incluindo faltas
permanentes e temporárias;
Zf – impedância do alimentador em [/km];
Zs – impedância da fonte em ohms [].

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 24 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

3.2.5 Afundamentos de Tensão devido a partida de motores


de indução

A partida de um motor de indução com tensão plena, nominal, causa uma


sobre corrente, que resulta em um afundamento de tensão. Este afundamento é
resultado da passagem desta sobre corrente nas impedâncias do sistema de
distribuição de energia elétrica. Na figura abaixo é mostrado um exemplo típico
tirado da referência [.....].

FIG. 3. Afundamento de tensão causado pela partida de um motor de


indução com tensão plena.

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 25 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

A forma de se estima o afundamento de tensão causado pela partida do


motor de indução com tensão plena é mostrado abaixo.

Ex. 3.2. Um motor de indução trifásico de 100 cv com quatro polos,


60 Hz e tensão 380/220 é alimentado por um transformador de
distribuição de 300 kVA tensão13.8 kV/380-220 V. Considere que o
motor e o transformador estão relativamente próximos. Calcule o
afundamento de tensão provocado pela partida direta deste motor no
secundário do transformador supondo que o mesmo alimenta outras
cargas.

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 26 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

Diagrama elétrico de partidas diretas de motor de indução


Solução.
1passo: Cálculo da potência de curto circuito nos terminais do motor.
Considerações: O motor está próximo do transformador e a impedância dominante
é a do transformador.
Neste caso a corrente de curto circuito é a do transformador, a qual é estimada da
seguinte forma:

𝐼𝑛
𝐼𝐶𝐶 =
𝑍%

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 27 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

Cálculo da corrente nominal do transformador:


300 𝑘𝑉𝐴
𝑆 = 3𝑉𝑛 𝐼𝑛 𝐼𝑛 = = 454,54 𝐴
3 ∗ 220

De acordo com a norma NBR 5440, Transformadores para redes aéreas de


distribuição – Requisitos. Z% vale 4,5%, para transformador de 300 kVA

454,54
𝐼𝐶𝐶 = = 10101 𝐴
0,045

𝑘𝑉𝐴𝑆𝐶 = 3 ∗ 220 ∗ 10100 = 6666 𝑘𝑉𝐴


Cálculo da potência do motor de indução na partida:

𝑃 𝐼𝑃
𝑆𝑚𝑝 = ∗( )∗𝐾
𝐹𝑃 𝐼𝑛
Smp = potência de partida do motor expressa em kVA; ou
Pn = potência nominal do motor, em kW;
FP = fator de potência nominal do motor.
k = fator devido ao tipo de dispositivo de partida aplicado ao motor que pode
assumir os seguintes valores:
- partida a plena tensão - k = 1;
- chave estrela-triângulo - k = 0,333;
- chave compensadora de partida: 50% - k = 0,250; 50% - k = 0,250
- chave série-paralela - k = 0,25;
- partida com resistência-reator – k = 0,70 a 0,85. Fonte: norma ND.52 ligações de motores nas redes de
distribuição de energia elétrica- ELEKTRO

75
𝑆𝑚𝑝 = ∗ 8,5 = 750 𝑘𝑉𝐴 𝑆𝑚𝑝 = 𝑘𝑉𝐴𝐿𝑅
0,85

6666
𝑉𝑚𝑖𝑛 (𝑝𝑢) = 𝑉𝑛 (𝑝𝑢) ∗ = 0.89
6666 + 750

𝑉𝑚𝑖𝑛 (𝑝𝑢) = 𝑉𝑛 (𝑝𝑢) ∗ 0,89

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 28 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

3.3 Fontes Geradoras de Correntes Harmônicos

A energia elétrica é gerada, transmitida e distribuída dentro de um padrão,


por exemplo, com frequência de 60 Hz e tensão nos níveis de 13.8 kV, 138 kV,
500 kV, 750 kV. Mas ela não é consumida dentro de padrões, exceto 380/220 V e
60 Hz. A energia elétrica em sua grande parte é processada antes de ser
consumida. Veja o caso de um computador pessoal – PC: ele é alimentado com
uma tensão monofásica de 220 V em 60 Hz, mas quase a totalidade da energia
utilizada passa antes por um processador de energia. Esse processador é
conhecido como fonte e tem a finalidade de produzir +15V / –15V, +5 / –5 e outros
níveis de tensão em corrente contínua que vão ser usados nos mais diversos
circuitos do PC. Este processamento de energia gera um “resto” que polui os
sistemas elétricos locais e das concessionárias do setor elétrico.
A necessidade de processar a energia elétrica é provocada pela
automação dos processos industriais, pelo conforto do homem moderno e sua
necessidade de comunicação, qualidade de vida e uso mais eficiente da energia.

Vejamos quem são esses processadores da energia elétrica:


Na indústria:

 Fontes de Potência CC
- Equipamento formado, na maioria dos casos, por retificador e filtro CC.

Vac Retificador Pcc = Vcc Icc


Filtro
60 Hz

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 29 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

80A

60A

40A

20A

0A
0Hz 0.1KHz 0.2KHz 0.3KHz 0.4KHz 0.5KHz 0.6KHz 0.7KHz 0.8KHz 0.9KHz 1.0KHz
I(V1)
Frequency

Fig. 3.6 Espectro de Amplitude da corrente de alimentação de um retificador


monofásico com um filtro CC na saída. A potência fornecida é de 10 kW com um
fator de ripple  5

 Controladores de Velocidade de Motores de Corrente Contínua


- Equipamento constituído por:

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 30 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

Fig. 3. Retificador trifásico controlado alimentando um motor CC (A), tensão e


corrente de entrada (B) e tensão e corrente no motor (C).

 Controladores de Velocidade de Motores de Indução

Filtro
Retificador Inversor
Vac Vac => Ajustável

60 Hz Freqüência => Ajustável

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 31 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

Figura 3.7 Corrente e tensão de fase no lado CA de um conjunto retificador +


conversor de frequência de trifásico de 140 kW

Figura 3.8 Espectro de amplitude da corrente de linha no lado CA do retificador +


conversor de frequência. Corrente eficaz de 250 A e THD de 63,92%

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 32 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

 Controladores de Potência CA - Conjunto de Tiristores

Vac Vac => Ajustável

60 Hz Freqüência Fixa => 60Hz

400

200

-200

-400
16.6ms 20.0ms 24.0ms 28.0ms 32.0ms 36.0ms 40.0ms
I(L1)*5 V(V1)
Time

Figura 3.9 Tensão e corrente de alimentação de um controlador de potência de


19,8 kVA. Tensão de alimentação de 220 V.

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 33 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE
FOURIER COMPONENTS OF TRANSIENT RESPONSE I(L_L1)

DC COMPONENT = 9.127459E-04

HARMONIC FREQUENCY FOURIER NORMALIZED PHASE


NORMALIZED
NO (HZ) COMPONENT COMPONENT (DEG) PHASE (DEG)

1 6.000E+01 4.063E+01 1.000E+00 -2.690E+01 0.000E+00


2 1.200E+02 1.180E-03 2.904E-05 -1.225E+02 -6.866E+01
3 1.800E+02 2.892E-04 7.117E-06 -1.649E+01 6.420E+01
4 2.400E+02 7.913E-04 1.948E-05 -5.053E+01 5.706E+01
5 3.000E+02 1.062E+01 2.614E-01 5.988E+01 1.944E+02
6 3.600E+02 1.254E-03 3.086E-05 8.182E+01 2.432E+02
7 4.200E+02 5.300E+00 1.304E-01 -6.044E+01 1.278E+02
8 4.800E+02 7.865E-04 1.936E-05 -1.305E+02 8.469E+01
9 5.400E+02 1.826E-03 4.495E-05 7.469E+01 3.168E+02

TOTAL HARMONIC DISTORTION = 2.921822E+01 PERCENT

Ex. 3.2 Para o controlador de potência CA de 19,8 kVA cujas as formas de ondas
da tensão e corrente são mostradas na figura 3.4 calcule:
a) A corrente eficaz de alimentação ( L1);
b) O fator de potência da alimentação.
Use a séria de fourier da corrente L1

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 34 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

Fontes Chaveadas

Filtro
+ Retificador
Vac Controlador +
Transformador Vcc => Ajustável
60 Hz - CC - CC -

FiG. 3.10 Fonte chaveadas. A) circuito equivalente, B) forma de onda da corrente 𝑖𝑎𝑐
de alimentação, C) espectro harmônico da corrente de alimentação.

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 35 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

 Sistema Ininterrupto de Fornecimento de Energia UPS (Uninterruptible Power


Supply)

Retificador Inversor Carga


Vac

Rede

Banco
de
Baterias

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 36 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE
Nas Residências:
 Televisores
 Máquinas de Lavar
 Computadores
 Forno de Microondas
 Geladeiras
 Secretária Eletrônica
 Iluminação
 Carregadores de Telefone Celular

Todos esses equipamentos têm em seu interior um processador de energia


elétrica formado por:

Filtro
+
Vac Retificador Conversor
Transformador
Rede - CA - CC CC - CA

As características das harmônicas de corrente geradas por estes


processadores dependem fortemente da topologia do retificador utilizado e do filtro
no lado CC.
Para ilustrar a distorção de corrente em uma unidade residencial vamos
mostrar o corrente de uma lâmpada fluorescentes compacta, que após o apagão
de 2002 ficaram bastante comuns nos lares brasileiros, figuras 3.10. Outro
equipamento que passou a fazer parte dos utensílios domésticos foi o
computador, que também destorce bastante a corrente de alimentação. Ver
figuras 3.10 e 3.11.

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 37 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE
a) Forma de onda da corrente

b) Espectro de amplitude da corrente

Figura 3.10 Dados medidos de uma lâmpada florescente compacta [ ]

Fig. 3.11 – Forma de onda (a) e espectro de amplitudde (b) da corrente de


alimentação de um televisor [ ]

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 38 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

Fig. 3.12 – Forma de onda (a) e espectro de amplitude (b) da corrente de


alimentação de uma geladeira [ ]

Fig. 3.11 Corrente de alimentação de um computador pessoal PC

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 39 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

Fig 3.13 Espectro de amplitude da corrente de alimentação do PC da Fig. 3.4

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 40 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

Tabela resumo dos conversores.


Topologias de conversores e a distorção na corrente de alimentação
Tipo Forma de onda comentários

Interface comum das


cargas não lineares
monofásicas. O capacitor
de saída reduz o ripple de
tensão-VCC.
O THDI≈ 140%

Interface comum das


cargas não lineares
trifásicas. O capacitor é
determinante nesta forma
de onda. Este retificador é
de 6 pulsos.
O THDI≈ 80%

Retificador trifásico, 6
pulsos, com filtro do lado
CA de 3%.
O THDI≈ 40%

Retificador trifásico com


filtro L no lado CC.
O THDI≈ 30%

Controlador de tensão CA
monofásico. O THDI está
relacionado com o ângulo
de disparo dos tiristores.

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 41 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

3.4 Efeitos das Harmônicas sobre os equipamentos

Para analisarmos os efeitos das correntes harmônicas nos mais diversos


circuitos e equipamentos vamos utilizar uma tabela do livro “Power quality Primer”

Equipamento Efeito Harmônico Resultado


- Impedância capacitiva decresce - Aquecimento dos
com o aumento da frequência, capacitores devido a
portanto os capacitores agem perdas no dielétrico.
como um caminho de baixa
impedância, para onde os - Curtos-circuitos.
harmônicos convergem; porém,
eles não geram harmônicos. - Falha do fusível.

- A indutância de sistemas de - Explosão do capacitor.


alimentação pode entrar em
ressonância com capacitores em
alguma frequência harmônica
causando altas correntes e
tensões.
- Capacitores secos não dissipam
Capacitores
bem o calor e são mais
suscetíveis a danos causados
por harmônicos.

- Ruptura de material dielétrico.

- Capacitores usados em
computadores são
particularmente suscetíveis a
danos por serem, em geral, não
protegidos por fusíveis e relés.

- Como regra prática, capacitores


e dispositivos de potência
chaveados são incompatíveis.

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 42 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

- Tensões com harmônicas


causam voltagens maiores no
transformador e stress no
- Aquecimento do
isolamento; não é,
transformador.
normalmente, um problema
significativo.
- Vida útil reduzida.
- Correntes harmônicas causam
- Acréscimo de perdas
Transformadores redução na capacidade nominal
no cobre e ferro.
dos transformadores.

- Correntes harmônicas de
- Stress no isolamento.
terceira ordem, sequência zero,
circulam apenas internas na
- Stress.
ligação delta.

- Aquecimento do
motor.

- Vibrações mecânicas
e ruído.

- Torques pulsantes.
- Aumento nas perdas.
- Acréscimo de 5 a 10%
das perdas no cobre e
- Tensões harmônicas produzem
Motores ferro nos
um campo magnético girante
enrolamentos do rotor
cuja velocidade corresponde à
e do estator.
frequência harmônica.
- Redução da eficiência.

- Redução da vida útil.

- Tensão de stress nos


materiais isolantes dos
enrolamentos do
motor.

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 43 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

- Componentes adicionais de - Acionamento incorreto


Relé torque são produzidas e podem dos relés.
Eletromecânico alterar as características do
tempo de atraso dos relés. - Leituras incorretas.
- A bobina de sopro magnético
- Falha na interrupção
pode não operar adequadamente
Disjuntor da corrente.
na presença de correntes
- Falha no disjuntor.
harmônicas
- Harmônicos geram torque
adicional no disco de indução o
que pode causar operação
Medidores
imprópria do aparelho, uma vez - Leituras incorretas.
Watt-hora
que esses equipamentos são
calibrados para operarem apenas
na frequência fundamental.
- Operação incorreta
- O controle eletrônico depende
dos equipamentos de
quase sempre da passagem pelo
Equipamentos controle e proteção.
zero ou da tensão de pico; os
Eletrônicos e - Falha prematura do
harmônicos podem alterar
Controlados por equipamento.
significativamente esses
Computador - Operações incorretas
parâmetros, interferindo na
de drivers estáticos e
operação.
robôs.

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 44 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

3.5 Correntes Harmônicas de Neutro

3.5.1 Cargas Lineares

A presença de corrente no neutro de um sistema de distribuição de energia


a quatro fios deve-se ao desequilíbrio da carga ou das tensões de alimentação. As
tensões de alimentação podem apresentar três formas de desequilíbrio:

a) Módulo das tensões não uniformes;


b) Defasamento entre as tensões;
c) Módulos e defasamentos diferentes.

FONTE TRANSMISSÃO CARGA


VA

Z
VB

Z Z
VC
N

Fig. 3.13 –Sistema de distribuição de energia elétrica Trifásico a quatro fios

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 45 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE
Tabela 1 – Variação no Módulo da Tensão

Módulo da
5% 10% 15%
Tensão
Corrente de
8,5% 17,4% 26%
Neutro

Na tabela 1 temos que para um desequilíbrio de 5% no módulo da tensão


corresponde a presença de uma corrente de neutro equivalente a 8,5% da
corrente de fase. O percentual da corrente de neutro varia aproximadamente com
o desequilíbrio nos módulos das tensões.

Vmáximo ( A, B, C )  Vmédio
V (%)   100 (3.1)
Vmédio

Tabela 2 – Variação no Ângulo de Defasamento


das Tensões de Fase

Variação na Fase 1% 3% 5%

Corrente de Neutro 7% 10,6% 15,5%

Na tabela 2 temos que para um desequilíbrio de 1% no ângulo entre as


fases, corresponde ao surgimento de uma corrente de neutro de 7% da corrente
de fase. A corrente de neutro aumenta à medida que a defasagem entre os
fasores se distancia de 120º, que é a condição desejada.

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 46 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

3.5.2 Sistemas Trifásicos com Cargas Não Lineares Monofásicas

Num projeto de instalação elétrica o Engenheiro responsável pelo projeto


procura distribuir as cargas monofásicas de forma equilibrada entre as três fases.
Com isso, procura-se minimizar a corrente de neutro e as perdas no sistema de
distribuição de energia elétrica.
Quando se trata de cargas não lineares, a distribuição das cargas entre as
três fases não minimiza a corrente de neutro. Uma instalação elétrica com
predominância de carga tipo computadores pessoais (PC) e iluminação utilizando
lâmpadas compactas terá, com certeza, uma corrente de neutro próximo a duas
vezes a corrente de fase. As figuras FIG. 3.20; 3.21; 3,22 e 3.23 mostram as
correntes de fase para lâmpadas compactas e computadores com os seus
respectivos espectros harmônicos de amplitude.

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 47 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 48 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE
3.5.2.1 Componentes Simétricas

Tradicionalmente os Engenheiros que trabalham com sistemas de potencia


usam componentes simétricas para melhor entender o funcionamento da
transmissão e distribuição da energia elétrica num sistema trifásico. Nesta forma
de análise o sistema trifásico é transformado em três sistemas monofásicos de
análise muito mais simples. O método de componentes simétricas pode ser
empregado para analisar o sistema trifásico com harmônica, sem violar as
suposições fundamentais do método,[02 ].
No sistema elétrico trifásico equilibrado as tensões estão defasadas de 1200
entre si e tem mesma amplitude, da mesma forma as correntes trifásicas, ver FIG.
3.14. A seqüência mais usual das fases é A-B-C que gira no sentido ante-horário e
é conhecido como seqüência positiva [ 04].

Na análise de sistema elétrico trifásico com harmônicas vamos usar esta


mesma seqüência, tomando a fundamental de tensão ou corrente como
referência. As demais harmônicas têm suas seqüência, baseadas nestas
referências, de seqüência positivo.

FIG. 3.14 Sistema Elétrico Trifásico Equilibrado

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 49 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

Como se relacionam os ângulos das demais harmônicas com as fases e


com este sistema de referência? Esta é uma pergunta um pouco difícil de
responder numa análise rápida do sistema trifásico com harmônicos. Mas para o
objetivo deste tópico sobre corrente de neutro, é suficiente analisarmos apenas as
harmônicas de corrente e de ordem impar, que são as mais encontradas no
sistema de distribuição de energia elétrica.

Com base no acima exposto vamos analisar as harmônicas de corrente


num sistema trifásico.

  a1 (t )  1Cost

  b1 (t )  1Cos(t  1200 )

  c1 (t )  1Cos(t  240 0 )

Fig. 3.15 Correntes de Seqüência Positiva - Fundamental

As correntes fundamentais de fase são tomadas como referência para as


demais harmônicas, ver FIG. 3.15

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 50 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE
As correntes de 3a harmônicas podem ser calculadas tomando como
referência as correntes fundamentais.

  a3 (t )   3Cos3t

  b3 (t )   3Cos3(t  1200 ) =  3Cos(3t  3600 ) =  3Cos3t

  c3 (t )   3Cos3(t  2400 ) =  3Cos(3t  720 0 ) =  3Cos3t

Notamos que as correntes de 3a harmônicos estão em fase, ou seja a soma


instantânea destas correntes não é zero. Ver FIG. 3.16.

Fig. 3.16 Correntes de seqüência zero – 3a harmônica

Vamos calcular as correntes de 5a harmônicas tomando o mesmo


referencial.

  a5 (t )   5Cos5t

  b5 (t )   5Cos5(t  1200 ) =  5Cos(5t  6000 ) = 5Cos(5t  2400 )

  c 5 (t )   5Cos5(t  2400 ) =  5Cos(5t  12000 ) =  5Cos(5t  120 )


0

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 51 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

Fig. 3.17 Correntes de seqüência negativa – 5a harmônica

Correntes de 7a harmônicas

  a 7 (t )   7Cos7t

  b7 (t )   7Cos7(t  1200 ) =  7Cos(7t  8400 ) =  7Cos(7t  1200 )

  c 7 (t )   7Cos7(t  240 ) =  7Cos(7t  16800 ) =  7Cos(7t  240 )


0 0

Notamos que as correntes de 7a mantêm a mesma seqüência das correntes


fundamentais.

Fig. 3.18 Correntes sequência positiva - 7a harmônica

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 52 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

3.5.2.2 Corrente de Neutro

O motivo pelo qual teremos uma grande corrente de neutro, independente


do equilíbrio de carga entre as fases, é a presença da terceira harmônica na
corrente de alimentação, tanto de lâmpadas fluorescentes compactas como de
PC´s. O fator Harmônico da terceira harmônica está acima de 50% e a
componente é de sequência zero, o que a faz circular pelo neutro. Deve-se
lembrar que as componentes de sequência zero são a terceira e seus múltiplos
(9ª, 15ª, 21ª, etc).

Vamos esclarecer porque a terceira harmônica e seus múltiplos são de


sequência zero e, por conseguinte, circulam pelo neutro. A FIG.3.19 mostra as
correntes de fase – IA(t), IB(t) e IC(t) – e suas respectivas terceiras harmônicas –
IA3(t), IB3(t) e IC3(t). Fazendo uma análise da figura constataremos que as terceiras
harmônicas estão em fase e, por tanto, se somam algebricamente no neutro.
Verifique que as correntes de primeira harmônica estão defasadas de 120º e sua
soma em qualquer instante é zero.

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 53 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

Fig.3.19 – Sistema trifásico com corrente fundamental-60 Hz e com as correntes


harmônicas de terceiras ordem-180 Hz

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 54 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE
0.25

0.2

0.15

0.1

0.05
Corrente(A)

-0.05

-0.1

-0.15

-0.2

-0.25
0.03 0.035 0.04 0.045 0.05 0.055 0.06 0.065 0.07 0.075
Tempo(s)
Fig. 3.20 – Corrente de alimentação de uma Lâmpada Fluorecente Compacta

100

90

80

70

60
I(%)

50

40

30

20

10

0
0 5 10 15 20 25
Ordem harmônica
Fig. 3.21 – Espectro de Amplitude da onda de corrente na lâmpada fluorescente
compacta.

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 55 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

Fig. 3.22- Corrente de alimentação de um computador pessoal PC

Fig 3.23- Espectro de amplitude da corrente de alimentação do PC da FIG.3.22

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 56 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

FIG. 3.24 Transformador de 75 kVA com impedância de 6%, alimentando cargas


monofásicas não lineares de 4,2 kW, distribuídas igualmente entre as três fases.

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 57 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

100A
(178.964m,83.475)
0A
SEL>>
-100A
I(La)
100A

0A

-100A
I(Lb)
100A

0A

-100A
I(Lc)
100A

0A

-100A
161ms 165ms 170ms 175ms 180ms 185ms 190ms 195ms 200ms
I(R5)
Time

FIG. 3.25 Correntes nas fases do transformador e no neutro

Podemos constatar que as correntes de fase acontecem em momentos


diferentes e circulam somente entre a fase e o neutro. Desta forma ela se soma no
neutro e pode ser calculada pela equação 3.2

N  3  32   92  15
2
  221 (3.2)

Onde:  N =3; 9; 15; 21;... é o valor eficaz da componente harmônica

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 58 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

150A

100A

(185.614m,53.634)

Corrente de Neutro
50A
(185.618m,33.466)
Corrente de Linha

0A
0s 20ms 40ms 60ms 80ms 100ms 120ms 140ms 160ms 180ms 200ms
RMS(I(La)) RMS(I(R5))
Time

FIG. 3.26 Transitório das correntes de fase e de neutro durante a carga dos
capacitores de filtro das cargas não lineares.

Análise da carga com relação às potências envolvidas.


P = 12,6 kW;
S = 22 kVA;
FP= 0,57

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 59 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

400

200

-200

-400
150ms 155ms 160ms 165ms 170ms 175ms 180ms 185ms 190ms 195ms 200ms
V(Vta) -I(La)
Time

FIG. 3.27 Distorção na tensão no secundário do transformador causada pela


circulação de correntes distorcidas nas reatâncias.

As demais unidades consumidoras que estejam sendo alimentadas por este


mesmo transformador serão agora supridas por uma tensão não senoidal. Esta
tensão vai causar harmônicos de corrente em cargas lineares. Este é um efeito
multiplicador no sistema de distribuição de energia elétrica. Este fenômeno é
conhecido com penetração harmônica.

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 60 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

Ex 3.3 Calculo da corrente de neutro

Cargas monofásicas não lineares, com o espectro harmônico de corrente


mostrado na figura a seguir, são alimentadas através de um sistema trifásico a
quatro fios. As cargas são divididas igualmente entre as três fases, e estão ligadas
entre fase e neutro. A corrente de linha (RMS total) é 40 A. Calcule a distorção
harmônica total THD (padrão IEEE) e a corrente de neutro.

1,2

1
1

0,8
Amplitude das Harmônicas (pu)

0,8

0,6
0,6

0,45

0,4
0,34

0,25

0,2 0,18
0,12
0,1
0,05

0
1 3 5 7 9 11 13 15 18 19
Ordem Harmônica h

FIG. 3.28 Espectro de amplitude das correntes de linha do exercício 3.3.

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 61 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

3.5.2.3 Correntes de fase e neutro em uma instalação elétrica com


predominância de cargas não lineares

Figura 3.29- Forma de onda de corrente na fase A

Figura 3.30 Valor total e conteúdo harmônico da corrente na fase A

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 62 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

Figura 3.32- Valor total e conteúdo harmônico da corrente na fase B

Figura 3.33- Formas de onda da corrente no neutro com a carga de ar condicionados


(IRMS = 8,9 A)

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 63 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

Figura 3.34- Valor total e conteúdo harmônico da corrente no neutro (com


a carga de ar condicionados)

Figura3.35-Formas de onda da corrente no neutro sem a carga de ar condicionados


(IRMS = 12,4 )

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 64 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

Figura 3.31- Valor total e conteúdo harmônico da corrente no neutro


(sem a carga de ar condicionados)

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 65 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

3.5.3 Estudo de caso: Instalação elétrica com cargas monofásicas não


lineares.

O centro de aulas Aroeira existe um sistema de climatização que tem como


equipamento básico de refrigeração climatizadores. Foram instaladas um total de
33 equipamentos monofásicos, cujos modelos e potências são mostrados na
tabela 01 abaixo.

01. tabela. Climatizadores do bloco de aulas aroeira

Em agosto de 2020 foi feito um levantamento do consumo, da


conformidade da tensão, forma de onda das correntes e do fator de
potência. Foram ligados todos os equipamentos que estivessem em
condição de operação. Na figura 3.37 são mostrados os valores de tensão,
forma de onda da tensão e valores eficazes das correntes de fase. Os
equipamentos são monofásicos e foram ligados entre as fases e o neutro
de modo que quando operando em condições nominais as correntes de
fase fossem aproximadamente as mesmas.

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 66 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

Figura 3.37. Forma de onda das tensões de fase com seus respectivos valores
eficazes e os valores eficazes das correntes de fase

Figura 3.38 Forma de onda da tensão e corrente na fase A

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 67 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

Figura 3.39. Forma de onda da tensão e corrente na fase B

Figura 3.40. Forma de onda da tensão e corrente na fase C

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 68 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

Figura 3.41. Forma de onda da corrente no neutro

Na figura 3.42 tem-se o diagrama fasorial mostrado que as tensões do


sistema trifásico de suprimento estão adequadamente equilibradas. Observa-se
também que as correntes fundamentais nas fases estão em fase com as tensões.

Figura 3.42 Diagrama fasorial

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 69 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

Figura 3.43. Espectro harmônico das correntes de fase.

Figura 3.43 Espectro harmônico da corrente de neutro.


A corrente de neutro é aproximadamente três vezes o valor das correntes
de terceira harmônicas nas fases. Como já estimado pela equação (3.2)

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 70 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

3.6 Ressonância

O conceito de ressonância está presente nos mais diversos ramos da


engenharia. O fenômeno de ressonância em sistemas mecânicos é relatado na
literatura [ ], e está relacionado com as frequência naturais das estruturas. Um
exemplo clássico desse efeito é o que aconteceu com a ponte Tacoma Narrows,
construída em 1940 sobre o estreito Puget,no Estado de Washington, Estados
Unidos. Quando meses após a inauguração da ponte, que tinha um vão livre de
853 m, um vento intermitente de 67 km/h a fez oscilar na sua frequência natural. A
amplitude das oscilações foi aumentando ao ponto de a ponte se romper e cair na
água. Esta só foi reconstruída em 1950.

Na engenharia elétrica este fenômeno esta relacionado com sobre tensões


e sobre corrente nos sistemas de energia elétrica e também com as
telecomunicações. As sobre tensões e sobre correntes são o foco do estudo de
qualidade da energia elétrica, quando analisamos fenômenos relacionados, com a
circulação de correntes harmônicas em instalações elétricas, e até mesmo na
distribuição da energia elétrica. A circulação de energia reativa entre os elementos
reativos das instalações elétricas é a causa das sobre tensões ou sobre correntes
que possam acontecer durante o fenômeno da ressonância. Veja o exemplo de
uma fonte de corrente alimentando um circuito RLC qualquer. Nesta experiência a
frequência da fonte de corrente é o único parâmetro a variar.

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 71 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

(t)  IMcos wt

Vab(t)  VMcos(wt   )

FIG. 3.36 Circuito RLC alimentado por uma fonte de corrente de frequência
variável

Tabela 02 - Resultado da variação da frequência sobre a tensão Vab

IM [ mA] W [ rad/s] VM [ V ] 
2 200 6,6 48o
2 220 8,4 33o
2 250 10,0 0o
2 270 9,3 -21o
2 300 7,4 -43o

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 72 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

3.6.1 Ressonância em Circuito Série

Impedância do circuito série


1
Z(w)  R1  jwL1 
jwc1
A ressonância ocorre quando
1
j{wL1  }0
wc 1
Se esta igualdade acontece pela variação na frequência da fonte VS(w),
esta frequência recebe uma denominação específica, ou seja frequência de
ressonância, W o.
1
wo 
LC
Quando isto ocorre temos:

Z(w)  R1
Fator de Potência = 1

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 73 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

Outro ponto importante é a definição do fator de qualidade, que relaciona a


energia reativa nos elementos L e C e a energia dissipada na resistência R.

Energia Reativa
Q
Energia Dissipada

w oL 1 1 L
Q  
R w o CR R C
Na ressonância série a grande preocupação é com o surgimento de sobre
tensões nos elementos do circuito. Inicialmente vamos calcular a corrente que
circula nos elementos do circuito.
Como
Vs
Z(wo) = R a corrente do circuito série é   0 o
R
Cálculo das tensões:

VS
VL  w oL   w oL  Q  VS
R

 1 VS
VC    Q  VS
w oC w oC R

VS
VR  R   R  VS
R

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 74 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

3.6.2 Ressonância em circuito paralelo

IS  Ir  IL  Ic

Vs Vs
Is    VsjwC1
R1 jwL1

1 Vs
Na ressonância temos  jWo C  0 Logo Is 
jw oL R1

1
wo 
LC
Fator de qualidade

Vs 2 R R C
Considerando o Indutor L Q  2
 R
w oL Vs w oL L
R C
Considerando o capacitor C Q  Vs 2 w o C  2
 w o CR  R
Vs L

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 75 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

Cálculo das correntes no indutor e no capacitor

Vs RIs R
IL     Is  Q  Is
w oL w oL w oL

Ic  Vs w o C  w o CR  Is  Q  Is

Considere uma instalação elétrica como mostrada na figura 3.37 para análise do
fenômeno de ressonância em sistemas elétricos.

FIG. 3.37 Diagrama unifilar de uma instalação elétrica contendo cargas lineares e
cargas não lineares.

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 76 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

3.7 Sistemas de distribuição de energia elétrica com harmônicos

Torna-se de grande importância a análise da circulação de correntes


harmônicas nos sistemas de distribuição de energia elétrica, em função dos
fenômenos de ressonância elétrica. Porque este fenômeno pode levar ao
surgimento de sobre tensões e sobre correntes acarretando a queima de
equipamentos.
Nesta análise é de suma importância em qual ponto do sistema elétrico de
distribuição a análise será feita. Para isto será definido o Ponto de Acoplamento
Comum – PAC ou do inglês “Point of Common Coupling” – PCC. Ver figura 3 38
abaixo.

Fig.3.38 Mostra o PAC em duas situações distintas dentro do sistema de


distribuição da energia elétrica

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 77 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

3.7.1 Representação de cargas não lineares no sistema de distribuição

A representação de carga não lineares no sistema de distribuição de


energia elétrica, para estudo do fenômeno de ressonância, será feito através de
fonte de corrente.
A análise do fluxo harmônico em sistema de potência e feito considerando o
estado de regime permanente, técnicas de soluções de circuitos lineares, e fontes
harmônicas de tensão ou corrente.
Em muitos casos, o estudo do fluxo harmônico é adequado trata-lo como
uma simples fonte de corrente harmônica. Neste modelo a tensão do barramento
de serviço e praticamente uma senóide, com no máximo um THDV ≤ 5%. Nesta
condição a influência da tensão sobre o estudo da circulação de correntes
harmônicas pode ser considerado irrelevante para as conclusões do estudo. Deste
modo as cargas não lineares são substituídas por fontes de corrente, como nas
figuras 3.39 e 3.40, tirada da referência [ ].

Figura 3.39 Representação de cargas não lineares por fonte de corrente

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 78 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

Figura 3.40 Circuito equivalente para análise de ressonância

Ex 3.4 Análise da possibilidade da ocorrência do fenômeno de ressonância.

Na figura 3.33 tem-se um diagrama unifilar de uma fábrica, na qual um


barramento comum alimente cargas lineares e não lineares. O transformador é de
2000 kVA, 13.8 kV para 480/277 V com X= 6% e R=1%. O transformador alimenta
dois sistemas de controle de velocidade de motor de indução, cada um com uma
potência de 500 hp. Já se encontrava instalado nesta mesma fabrica um banco de
capacitor para correção de fatos de potência com 750 kVar ligado em estrela
como mostrado. Analise as condições de ressonância desta instalação e calcule,
caso ocorra ressonância a corrente de linha do banco de capacitor.

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 79 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

Solução:

1o. passo:

Criar um circuito equivalente que descreva o mais realisticamente, o modelo


da instalação elétrica, com a finalidade de estudar o fenômeno de ressonância.

Circuito equivalente por fase, considerando o sistema equilibrado.

Fig.3.5 Circuito equivalente por fase do Ex.3.4

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 80 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

2o passo: Calcular os elementos do circuito equivalente

4.0KA

3.0KA

2.0KA

(420.028,818.444)
1.0KA

0A
0Hz 100Hz 200Hz 300Hz 400Hz 500Hz 600Hz 700Hz 800Hz 900Hz
I(C1)
Frequency

FIG.3.6 Resposta em frequência do circuito equivalente com os


valores calculados

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 81 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

4.0

2.0

0
V(Vc) / I(Ih)
4.0KA
(422.273,3.3341K)

2.0KA

SEL>>
0A
300Hz 320Hz 340Hz 360Hz 380Hz 400Hz 420Hz 440Hz 460Hz 480Hz 500Hz
I(C1)
Frequency

FIG.3.6 Resposta em frequência do circuito equivalente com o valor


do capacitor 10% menor calculados

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 82 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

3.8 Potência de curto circuito e potência do banco de capacitor

Existe uma relação entre a potência de curto circuito no PAC e a


potência do banco de capacitor, com a frequência de ressonância
neste ponto do sistema de distribuição de energia elétrica.

Fig. 3.42 Sistema de distribuição com potencial para ocorrer


ressonância

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 83 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

Um modelo simplificado para análise deste fenômeno é mostrado


abaixo, na figura 3.43.

FIG.3.43 Modelo simplificado para análise de ressonância

FIG. 3.44 Resposta em frequência do sistema com a potência do banco e


potência do transformado com a ordem harmônica.

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 84 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

3.9 Potência de curto circuito e ressonância

Em uma instalação elétrica a onde se encontra operando cargas lineares e


cargas não lineares, e mais banco de capacitores, o qual foi instalado,
originalmente para corrigir o fator de potência das cargas lineares, pode-se
estimar a frequência de ressonância. Esta estimação e feita através da relação
entre a potência de curto circuito, e a potência do banco de capacitores.

FIG. 3.45 Circuito unifilar para análise da ressonância.

3.9.1 Definição da potência de curto circuito

A potência de curto circuito no ponto indicado na FIG. 3.45 é dado pela


expressão abaixo.

𝑆𝑐𝑐 = 3 ∗ 𝑉𝐹 ∗ 𝐼𝑆𝐶

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 85 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

Corrente de curto circuito nos terminais do transformador

𝑉𝐹
𝐼𝑐𝑐 =
𝑋1

3∗𝑉𝐹 2 3∗𝑉𝐹 2
𝑆𝑐𝑐 = =
𝑋1 2𝜋𝑓𝐿1

Valor da indutância como função da potência de curto circuito.

3𝑉𝐹 2
𝐿1 =
2𝜋𝑓𝑆𝑐𝑐

Na ressonância tem-se

3𝑓0 𝑉𝐹 2
𝑋0𝐿 = 2𝜋𝑓0 𝐿1 𝑋0𝐿 =
𝑓𝑆𝑐𝑐

3𝑅ℎ 𝑉𝐹 2 𝑓0
𝑋0𝐿 = 𝑂𝑛𝑑𝑒 𝑅ℎ =
𝑆𝑐𝑐 𝑓

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 86 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

3.9.2 Potência do banco de capacitores

𝑆𝐶 = 3 ∗ 𝑉𝐹 ∗ 𝐼𝐶 3𝑉𝐹 2
𝑆𝐶 =
𝑋𝐶
𝑉𝐹
𝐼𝐶 =
𝑋𝐶

1
𝑋𝐶 = 2𝜋𝑓𝐶
𝑆𝐶 = 3𝑉𝐹 2 2𝜋𝑓𝐶

𝑆𝐶
𝐶=
3𝑉𝐹 2 2𝜋𝑓

Na ressonância.

1
𝑋0𝐶 =
2𝜋𝑓0 𝐶 3𝑉𝐹 2
𝑋0𝐶 =
𝑅ℎ 𝑆𝐶

Quando ocorre a ressonância

𝑋0𝐿 = 𝑋0𝐶 3𝑉𝐹 2 𝑅ℎ 3𝑉𝐹 2


=
𝑆𝑆𝐶 𝑅ℎ 𝑆𝐶

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 87 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

Desta forma a relação entre a frequência de operação do sistema elétrico e a


frequência de ressonância é dada por:

𝑆𝑆𝐶
𝑅ℎ =
𝑆𝐶

3.10. Energização de transformadores

No processo de energização de transformadores podem ocorrer pulsos de


correntes, basicamente, com as seguintes características [04].
▪ valor de pico inicial que pode superar vinte vezes o valor de pico da
corrente nominal;
▪ duração de vários ciclos;
▪ amplo espectro de harmônicos, predominando a segunda harmônica.
Este fenômeno eletromagnético é conhecido como corrente de inrush. As
consequências mais importantes deste surto de corrente são:
 Atuação indevida de fusíveis e relés de proteção de atuação rápida;
 Afundamento de tensão nos demais circuitos alimentados do mesmo
barramento;
 Solicitações de natureza eletromecânica e térmica no transformador;
 Sobre tensões causadas por fenômenos de ressonância harmônica.

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 88 antoniooliveira@ufg.br


Curso de QEE

A intensidade e a duração das correntes de inrush dependem dos seguintes


fatores [04]:
▪ valor instantâneo da tensão aplicada ao transformador no instante da
energização;
▪ magnitude e sinal do fluxo residual no núcleo magnético;
▪ resistência e indutância equivalentes em série do circuito alimentador;
▪ indutância de dispersão do enrolamento primário do transformador;
▪ características magnéticas e geometria do núcleo do transformador;
▪ valor da resistência de pré-inserção do disjuntor;
▪ impedância da carga ligada ao secundário;
▪ velocidade de fechamento dos contatos do disjuntor.

Bibliografia complementar

[01] Kennedy, Barry W. Power Quality Primer, McGraw-Hill New York, 2000

[02] Canguçu, Nilza Alves. “Contribuições para Avaliação dos Impactos


Econômicos Causados por Mergulho de Tensão em Sistema Elétrico Industrial”.
Dissertação de mestrado, UNESP, 2006. Ilha Solteiras – SP.

[03] Leborgne, Roberto Chouhy. “Uma Contribuição à Caracterização da


Sensibilidade de Processos Industriais Frente a Afundamentos de Tensão”
Dissertação de mestrado, UNIFEI,2003 Itajubá - MG

Prof. Dr. Antônio Melo de Oliveira 89 antoniooliveira@ufg.br

Você também pode gostar