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AMBIENTAL DA EMPRESA
CURITIBA
1995
O ESTUDO DE IMPACTO E O PASSIVO AMBIENTAL DA EMPRESA
CURITIBA
1995
O ESTUDO DE IMPACTO E O PASSIVO AMBIENTAL DA EMPRESA
Dissertação aprovada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre. Curso de Pós
Graduação em Direito Privado, Setor de Ciências Jurídicas, Universidade Federal do
Paraná, pela comissão formada pelos professores:
Prof.
Setor de Ciências Jurídicas, UFPR
Prof.
Setor de Ciências Jurídicas, UFPR
1.1 INTRODUÇÃO...............................................................................................................1
1.1.1 OObjeto......................................................................................................................1
1.1.2 A Metodologia........................................................................................................... 2
1.1.3 O conteúdo..................................................................................................................11
1.1.4 As fontes...................................................................................................................... 12
2.1.1.3.1 A generalidade.................................................................................................... 22
2.1.1.3.2 A dinamicidade............................................................................................. ....... 23
2.1.1.3.3 A funcionalidade................................................................................................... 24
3.1 INTRODUÇÃO................................................................................................................ 42
3.1.3 Conceito....................................................................................................................... 47
3.1.5.4 A coletividade..........................................................................................................59
5.1 INTRODUÇÃO................................................................................................................77
5.4.5 A evitabilidade............................................................................................................91
9 CONCLUSÕ ES.................................................................................................................167
1.1 INTRODUÇÃO
1.1.1 O Objeto
1 Recorreu-se ao vocábulo ’passivo’ por duas razões fundamentais, entre outras. Em primeiro lugar, ele
expressa, no jargão econômico e contábil (campos em que algumas das principais conclusões jurídicas do
trabalho estão referidas), as idóias de *bbrigação a realizar", "pendência", 'débito*. Tais noções calham,
analogicamente, ao que se enfatiza no texto, isto ó, as "obrigações" que, sob o aspecto legal, incumbe à empresa
realizar em decorrência da nova realidade normativa derivada da introdução da legislação ambiental no
ordenamento pátrio. Em segundo lugar, o mesmo vocábulo, já associado ao qualificativo "ambiental*, migrou dos
relatórios de auditorias especializadas para as páginas dos jornais, revistas e livros científicos, sendo hoje
amplamente aceito para significar o conjunto de obrigações que oneram o patrimônio de uma dada pessoa natural
ou jurídica em conseqüência da legislação ambiental. Por outro lado e ainda quanto ao designativo "ambiental", se
ó certo que laços topológicos ligam o tema da responsabilidade objetiva ao campo do Direito Civil, ou o tema da
ação civil pública ao campo do Direito Processual Civil, parece natural que, pelo critério teleológico, esses e
outros assuntos também sejam peculiarmente abordados dentro do que, por consagração, convencionou-se
denominar Direito Ambienta) ou Direito do Meio Ambiente. É que uma convergência normativa, sistêmica, e
metodológica permite, indubitavelmente, defender validamente a existência de tal "ramo autônomo" do Direito,
sem prejuízo de sua vinculação, a partir de uma aproximação "macrojurídica", ao "continente" do Direito
Econômico.
^ O trabalho se refere basicamente, embora ocorram remissões eventuais à normas nacionais e internacionais
anteriores e posteriores, às inovações introduzidas na legislação brasileira a partir da Lei 6.938, de 31 de agosto
de 1981, que traçou, pela primeira vez, as diretrizes normativas e institucionais para uma "Política Nacional de
Meio Ambiente",
3 Nesse ponto cabe uma advertência. Adota-se, em essência, a definição tradicional de empresa consagrada na
doutrina comercialista. A distinção entre empresa civil e comercial, que subjaz à nomenclatura empregada,
decorre da adoção, pelo autor, do critério funcionalista. Segundo esse critério, reconhece-se à empresa comercial
uma função essencial à movimentação do modo de produção como um todo, disso decorrendo um tratamento
especial que justifica, até mesmo, o surgimento de um "ramo autônomo" já conhecido como Direito das Empresas
ou Direito Empresarial. Assim pode ser formulado o conceito analítico de empresa comercial, segundo a
concepção do autor: "atividade de organização dos fatores de produção com vistas à obtenção de um resultado
econômico através do atendimento lícito, profissional, regular e habitual a uma demanda reiterada, constante e
massiva. A empresa mercantil revela, em si mesma, um estado de direito identificável e tem a função de
promover e facilitar a produção, circulação, distribuição, transporte e consumo de riquezas no meio social, sendo
analisa as mudanças advindas para o regime jurídico da empresa mercantil com a
a responsabilidade objetiva por danos ao meio ambiente, a ação civil pública, a defesa
1 .1 .2 A Metodologia
servida por uma extensa rede pública e privada de serviços, insumos, benefícios e infra-estruturas. Por ser
instituição essencial ao desenvolvimento das relações de produção e à movimentação do próprio modo de
produção capitalista, recebe tratamento social, econômico e jurídico autônomo e peculiar."
4 A maioria dos que se consagram ao estudo do direito no Brasil, talvez por terem se "viciado" em dadas
concepções metodológicas e epistemológicas a partir das quais aprenderam a "pensar* e “entender* a disciplina,
apegam-se a um certo modo peculiar, fechado em si mesmo e invariável de análise dos fenômenos jurídicos.
Esse modo peculiar, avesso a cortes que não sejam dedutivos e verticais, leva sempre ás mesmas e inevitáveis
conclusões. Em suma, partem do velho princípio da identidade, segundo o qual "se â é a, â não pode ser b",
identificando, classificando e negando, artificiosamente, as inevitáveis contradições. Embora útil e até
imprescindível para a operação de qualquer sistema de decodificação de conceitos, o princípio da identidade
(bem como os demais princípios lógicos dele decorrentes, como o princípio da não contradição, o princípio do
terceiro excluído etc.) não serve, sozinho, para explicar certas circunstâncias em que a pode ser fc, conforme o
"ponto de vista" do observador. Tenha-se em mente, exemplificativamente, a teoria da estrutura piramidal do
ordenamento jurídico (segundo Merkel, Kelsen e Cossio), em oposição à idéia de sistema aberto (Hegel, Viehweg
e Engisch), a idéia de enlace lógico de normas, baseada na "fundamentação e derivação" (novamente Kelsen e,
Esse método parte de dois pressupostos^ que sustentam todo o
encetada.
entre nós, Machado Neto), em oposição à idóia da tópica e da lógica da razoabilidade (Larenz e, entre nós, Tórcio
Sampaio Ferraz). Ora, ó certo que as contradições e conflitos entre a realidade normativa e o real concreto
existem, sendo tambóm inegável que entre duas realidades normativas referentes a idênticos sujeitos ou objetos,
a contradição ó freqüente, senão inevitável. Os objetos que chamam a atenção do jurista são, comumente,
multifacetados, permitindo diversos ângulos de abordagem. Logo, há uma opção metodológica a ser feita no início
de qualquer trabalho jurídico. Ou trilha-se o caminho dedutivo e vertical, adotando-se um sistema fechado que se
valida logicamente em si mesmo, ou trilha-se o outro caminho, em que a contradição ó assumida e superada,
tambóm logicamente, mediante "cortas" que perpassam as divisões ató então estanques entre os diversos e
tradicionais "ramos" ou "campos" do direito. Privilegiou-se, nesse trabalho, a segunda opção.
® Pressuposto ó aqui entendido, em sentido amplo, como um enunciado logicamente necessário e antecedente
de outros, ou ainda, em acepção livre, como um princípio básico e fundamental para o desenvolvimento de uma
sóríe argumentativa.
6 Conforme Eros Grau. Elementos de Direito Econômico. Ed. Revista dos Tribunais, p. 31. Igualmente, Robert
Savy, Decano da Faculdade de Direito e Ciências Econômicas de Limoges, França, lança mão de idóia
semelhante, nos seguintes termos: m O Direito Económico tomado no seu conjunto - considerado globalmente,
o direito económico relaciona-se, ao mesmo tempo, com o direito público e com o direito privado (cf. G. Farjat.
Droit Economique, 1971). Encontra-se nos vários níveis em que a política econômica se manifesta. - O direito
macro-económico ó, entre outros, um meio para delinear as perspectivas de conjunto da evolução da economia a
médio prazo: 6 o direito da planificação pública ou privada. Aióm disso, tem por objectivo garantir os grandes
equilíbrios conjunturais: a regulamentação dos preços ou do comércio externo, o direito monetário, etc. - O direito
económico sectorial 6 a formulação jurídica das intervenções, de um modo geral públicas mas, por vezes,
privadas, respeitantes quer a um determinado ramo de atividade (a siderurgia, os transportes, o comércio...), quer
a um sector delimitado do espaço económico nacional (a acção regional, o urbanismo...). - o direito económico
micro-económico 6 constituído por regras que, dada a sua natureza, se aplicam a uma determinada empresa e
em que o objectivo 6 influenciar o seu comportamento com as exigências do interesse económico geral ("léttres
d’agrement", quase-contratos, planos de viabilização...) (Savy, Robert. Direito Público Económico Editorial
Notícias. Lisboa, 1a. edição, p. 13).
^ O Direito Econômico, antecipado em suas formulações desde antes da grande guerra de 1914, principalmente
na obra de juristas como Heymann (vide a introdução preliminar à sua coleção "Arbeiten zum Handels-Gewerbes
und Landwirtschaftsrecht", 1908), desenvolve-se grandemente durante os anos de guerra. Nessa ópoca, ele
ainda ó concebido como o conjunto das normas através das quais o Estado se utiliza da economia com vistas a
assegurar o atingimento de certos fins políticos e econômicos. Com a sobrevinda da paz, em 1918, o Direito
Econômico continuou a se desenvolver na Alemanha, já com outro cunho e feição, ganhando particular relevo nas
obras de Hedemann e Klausing. Nesse mesmo ano Hedemann funda em Jena o "Institut für Wirtschaftsrecht" que
mais tarde ó ampliado e transferido para Berlim. Esse instituto toma-se célebre pela edição de publicações que,
ao longo dos anos seguintes, veiculam os principais trabalhos de afirmação do Direito Econômico Alemão. Mais
tarde o Direito Econômico alcança a Itália, onde ó particularmente estudado pelo Professor Mossa, da
Universidade de Pisa ("Corso di Diritto dellEconomia", Pisa, 1933 e "Tratado dei Nuovo Diritto Commerciale",
Milano, 1942), o qual, em 1946, passa a editar a "Nuova Rivista di Diritto Commerciale, Diritto det’Economia,
Diritto Socialef. Na Espanha, o Direito Econômico passa a compor os estudos dos Professores Garrigues
(Tratado dei Derecho Mercantil") e Polo ("El Nuovo Derecho de la Economia", Revista de Derecho Mercantil,
1946, p. 373 e seguintes), sendo estudado na Hungria por Kiraly ( "Le Droit Économique : branche independent de
la Science juridique", Recueil d'ótudes sur les sources du Droit en 1'honneur de F. Gény, Paris, 1936).
Recentemente, sobretudo na França e na Bólgica, o Direito Econômico passou a ser objeto de importantes
estudos, surgindo, inclusive, vários manuais sobre a matéria. Embora já consolidado como matéria jurídica, ainda
contende a doutrina quanto a definição do Direito Econômico. Para alguns o Direito Econômico não seria
propriamente uma nova disciplina mas uma nova concepção do direito como um todo, segundo a qual caberia à
ciência jurídica responder ás necessidades de regulação da vida em uma sociedade onde o aspecto econômico
domina e prevalece sobre o aspecto jurídico. Segundo essa concepçào, todos os ramos do direito
contemporâneo estariam fortemente impregnados de Direito Econômico e seria urgente uma revisão, sob a égide
da economia, de todos os problemas da vida jurídica. Ainda sob essa ótica, o Direito Comercial, por exemplo,
estaria totalmente submergido no âmbito do Direito Econômico, dada a sua intensa relação com as necessidades
da vida econômica. Há, por outro lado, uma corrente de autores que buscam uma maior precisão na definição do
Direito Econômico, partindo para uma limitação mais clara de seu objeto. Essa visão leva, freqüentemente, a
conceituação do Direito Econômico como o conjunto de normas e procedimentos pelos quais o Estado
contemporâneo regulamenta a economia nacional. O Direito Econômico seria, então, o direito da economia
dirigida. Ele regularia as relações econômicas que, por razões de interesse público, restam subtraídas ás regras
da livre concorrência. Este Direito Econômico, compreendido como o direito da concentração ou da coietivização
dos bens de produção e da organização da economia pelos poderes públicos ou privados, estaria em um domínio
bastante particular e restrito, competindo ao Direito Comercial o papel de direito comum das relações econômicas
onde impera a liberdade dos contratantes. Não obstante essas duas posições, ambas passíveis de crítica tanto
pelo que afirmam quanto pelo que negam, surge atualmente uma visão alternativa do Direito Econômico.
Abandonando-se qualquer tipo de rigidez e procurando render á doutrina aquilo que, indiscutivelmente, se
observa no mundo dos fatos, ó forçoso reconhecer que existem certas concepções clássicas do direito privado
que não mais se ajustam â realidade da vida econômica. Assim, ó evidente que o princípio da autonomia da
vontade, sobre o qual repousa a teoria geral dos contratos civis e comerciais, pouco se adapta às instituições do
mundo econômico contemporâneo. Alguém se arriscaria a dizer, nesse sentido, que os contratos praticados pelos
bancos são "verdadeiros" acordos de vontade, regidos pela autonomia da vontade dos contratantes ? Como
negar que nesse tipo de contrato existem cláusulas de adesão ou condições obrigatórias tanto para os bancos
como para os que com ele contratam, já que as próprias instituições financeiras, inobstante sua superioridade
jurídica em face do particular, estão também manietadas por regulações estatais ? Com base nessas e em outras
considerações ó que surge a idéia da constituição de uma nova disciplina jurídica que se insere precisamente no
meio de dois campos tradicionalmente opostos : o direito público e o direito privado. O Direito Econômico, assim
entendido, teria por missão regular a vida econômica como um todo e disciplinar a produção, a circulação, a
distribuição, o transporte e o consumo das riquezas. O Direito Comercial, nesse sentido, sobretudo se
considerado como o Direito da Empresa Mercantil, não seria senão um dos braços do Direito Econômico,
exatamente aquele que regula a circulação de mercadorias e de capitais, tendo a seu lado o Direito do Trabalho, o
Direito da Propriedade Industrial, o Direito Agrário, o Direito Ambiental, entre outros ramos. Fora dos domínios do
Direito Econômico restaria o Direito Civil clássico com suas normas acerca da família e das relações patrimoniais
que ocorrem de modo relativamente independente da vida econômica, vale dizer, todas as operações imobiliárias
de mera subsistência (sem comercialização de excedentes), as relações de ocupação de bens imóveis (direitos
reais) etc. Sem dúvida que os princípios de um tal Direito Econômico ainda estão por ser construídos. Em
inúmeros pontos ó certo que os princípios de Direito Civil servirão, naturalmente, de base, assim como já serviram
para a construção das categorias que sustentam os contratos administrativos, por exemplo. Em todo caso será
conveniente repensar esses princípios à luz das necessidades econômicas, principalmente para que reste
assegurado que imperativos de interesse coletivo e postulados da economia não imponham uma mudança no
sentido de novas direções. Não se diga, ademais, que um Direito Econômico assim concebido tenderá a ser um
direito estatizante. É óbvio que em períodos de economia dirigida este Direito Econômico poderá reconhecer um
largo poder de regulamentação da economia nacional ao Estado. Em contrapartida, em um regime de economia
liberal, esse Direito Econômico também terá a virtuosidade de respeitar aos direitos e liberdades individuais, vindo
a regulamentação estatal tão somente para impedir o mau uso das forças econômicas predatórias que,
freqüentemente, atuam na anulação da liberdade nominal que, no modelo liberal, assiste aos economicamente
mais fracos. É fundamental, por último, que se reconheça o papel preponderante que o Direito Comercial tem a
cumprir na formação deste Direito Econômico. Graças ao avanço que o Direito Comercial tem alcançado em suas
formulações, ele servirá, forçosamente, de centro e núcleo de novas construções. No Brasil, consolidam-se aos
empresa mercantil e da disciplina da produção, circulação, distribuição e consumo das
poucos as seguintes definições do Direito Econômico, entre outras : Affonso Insuela Pereira . O Direito
Econômico na Ordem Jurídica, 2a. edição, Editora Bushatski, p. 66/67 - *Complexo de normas que regulam a
ação do Estado sobre as estruturas do sistema econômico e as relações entre os agentes da economia" - José
Nabantino Ramos. Sistema Brasileiro de Direito Econômico. Ed. Resenha Tributária, IBDT, p. 92 - D. 02.01 -
Discriminações - "O Direito Econômico é o conjunto sistemático de princípios e normas que disciplinam : a) a
produção de bens e serviços; b) a partilha dos benefícios desse trabalho; c) o consumo das utilidades produzidas;
d) os meios necessários à consecução desses objetivos para realizar; e) determinada política econômica. * -
EdvaJdo Brito. Reflexos Jurídicos da Atuação do Estado no Domínio Econômico. Ed. Saraiva, p. 145 - "A
necessária função conformadora do Estado, manifestada pela modificação autoritária da ordem social e pela
participação ativa estatal na vida social, decorreu da inarredável intervenção no domínio econômico para
estabelecer o seu equilíbrio abalado pelo liberalismo. " - Washington Peluso Albino de Souza. Direito Econômico.
Ed. Saraiva, p. 3 - "O direito econômico ó o ramo do direito composto por um conjunto de normas de conteúdo
econômico e que tem por objeto regulamentar as medidas de política econômica referentes às relações e
interesses individuais e coletivos, harmonizando-as - pelo princípio da MeconomicidadeH- com a ideologia adotada
na ordem jurídica." - Geraldo de Camargo Vidigal. Teoria Geral do Direito Econômico. Ed. Revista dos Tribunais,
p. 44 - "O direito econômico é a disciplina jurídica de atividades desenvolvidas nos mercados, visando a organizá-
los sob a inspiração dominante do interesse social." - Eros Grau. Elementos de Direito Econômico. Ed. Revista
dos Tribunais, p. 31 - "Conceituo-o como o sistema normativo voltado à ordenação do processo econômico,
mediante a regulação, sob o ponto de vista macrojurídico, da atividade econômica, de sorte a definir uma
disciplina destinada à efetivação da política econômica estatal." - Ives Gandra da Silva Martins. Direito Econômico
e Tributário. Ed. Resenha Tributária - FlEO. p. 9/10 - "Os ordenamentos jurídicos veiculadores das normas
econômicas são necessariamente formulados a partir de uma concepção dinâmica, com flexível adaptação de
conceitos clássicos aos nascentes desafios, não raras vezes descortinadores de soluções originais. Os modelos
tradicionais e as regras hermenêuticas sofrem, na área específica do direito econômico, mutações sensíveis,
espelhando, quase sempre, a lei maior de cada país, maleabilidade suficiente para dotar sua estrutura legal de
instrumental célere e descomplicado, capaz de acompanhar a velocidade de tais fenômenos." Ainda Ives Gandra
da Silva Martins, na obra em que se colheu a maioria das definições antes citadas, sintetiza "Direito Econômico ó
a disciplina jurídica da macroeconomia." - Caderno de Direito Econômico - Disciplina Jurídica da Iniciativa
Econômica. 1a. edição. Ed. Resenha Tributária. Co-edição do Centro de Estudos de Extensão Universitária. São
Paulo, 1983, p. 110/111.
3 Partindo-se do princípio, segundo Tórcio Sampaio Ferraz, de que "interpretar é selecionar as possibilidades
comunicativas da complexidade discursiva" (op. cit. p. 235) é forçoso reconhecer, "a fortiori", que o discurso da
norma ó pura "possibilidade comunicativa" até ser positivado pela via da interpretação, vale dizer, ató ter o seu
sentido definitivamente explicitado atravós de um ato intelectivo que, necessariamente, considera a dimensão
"semântica" e a dimensão "pragmática" do signo jurídico. Ver-se-á ao longo do texto que os procedimentos
técnicos e analíticos que constituem o estudo de impacto ambiental são as "ferramentas" atravós das quais o
Com base nesses dois "lugares comuns de argumentação" ( “topoP “), opta-
para outros fins, exigiria a análise "vertical* de cada um dos temas implicados, de modo
sentido meramente "diretivo" da norma legislada transmuda-se em "ação" e em "operação" na realidade concreta.
Em outras palavras, ver-se-á como, no campo da semântica e da pragmática, o instrumento que indica o sentido
definitivo e dominante da norma ó o estudo de impacto ambiental. Daí dizer-se que as categorias jurídicas restam
"positivadas" mediante a atuação do EIA como instrumento.
^ A expressão liga-se à tópica, enquanto técnica de pensamento que se orienta para problemas. Cabe a
transcrição da melhor doutrina : "Tópica é o nome específico de um dos livros do "Organon" aristotólico. Os
conceitos e proposições básicos dos procedimentos dialéticos (no sentido de diálogo), estudados na tópica
aristotélica, constituíam não axiomas nem postulados de demonstração, mas "topoi" de argumentação, isto é,
lugares (comuns), formas variáveis no tempo e no espaço, de reconhecida força persuasiva no confronto das
opiniões. A tópica, assim, estaria a serviço da chamada "ars disputationis", casos em que as conclusões a que se
chegam valem pelo efeito obtido (são funcionais), sendo, pois, mais importante uma bem feita elaboração das
premissas."(...) "Quando se fala, hoje, em tópica, pensa-se, como já dissemos, numa técnica de pensamento que
se orienta para problemas. Trata-se de um estilo de pensar e não, propriamente, de um método. Ou seja, não é
um conjunto de princípios de avaliação e evidências nem de canônes para julgar a adequação de explicações
propostas, nem ainda critério para selecionar hipóteses. Em suma, não se trata de um procedimento verificável
rigorosamente. Ao contrário, é um modo de pensar, problemático, que nos permite abordar problemas, deles partir
e neles culminar. Assim, pensar topicamente significa manter princípios, conceitos, postulados com caráter
problemático, no sentido de que jamais perdem sua qualidade de tentativa." (...) "Os pontos de vista referidos,
chamados "loci", "topoi", lugares comuns, constituem pontos de partida de séries argumentativas, em que a
razoabilidade das opiniões é fortalecida. Como se trata de séries argumentativas, o pensamento tópico não
pressupõe nem objetiva uma totalidade sistematizada. Parte de conhecimentos fragmentários ou de problemas,
entendidos como alternativas para as quais se buscam soluções. O problema é assumido como um dado, como
algo que dirige e orienta a argumentação, a qual culmina numa solução possível, entre outras." (Tórcio Sampaio
Ferraz Júnior. Introdução ao Estudo do Direito - técnica, decisão, dominação. São Paulo, Atlas, 1986. p.298/300.)
à modo de conclusão, as implicações de tais categorias para o universo da empresa
mercantil.
Pelo contrário.
onde ela se revela útil às suas conclusões, faz amplo uso do raciocínio dito
institucionais e administrativas.
Explica-se.
ambiental" no universo da empresa comercial nada mais correto do que lançar mão do
medida em que tal análise resulta útil para a construção das conclusões do trabalho.
figura hoje como meio compulsório de controle não só das variáveis ambientais dos
10 Segundo o conceito legislativo em vigor, ‘considera-se impacto ambiental qualquer alteração das
propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia
resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: "I -a saúde, a segurança e o bem estar
da população; II - as atividades sociais e econômicas; III - a biota; IV - as condições estéticas e sanitárias do meio
ambiente; V - a qualidade dos recursos ambientais (art. 1o., da Resolução 001/1986 - CONAMA). Como se vê, a
definição da Lei ê extremamente ampla, vaga e imprecisa, sobretudo se se considerar que meio ambiente,
também segundo a Lei ó “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e
biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas (Lei 6938/81, art. 3o., inciso I). Nas seções
subseqüentes deste trabalho explicitam-se os procedimentos interpretativos que, ao parecer do autor, melhor se
afinam com a natureza de tais conceitos legais, a fim de "filtrar", nos casos concretos, a partir da noção de
impacto, a noção do dano ambientai.
11 Apesar de o estudo de impacto ambiental ser exigido, indiscriminadamente, para empreendimentos públicos e
privados, do que derivou a menção a que esta nota se refere, o trabalho não aborda, senão eventualmente e para
fins ilustrativos, a realização do estudo em relação a investimentos públicos ambientalmente relevantes. É
importante que se consigne, contudo, que a Resolução 001, de 23 de janeiro de 1986, do CONAMA - (Conselho
Nacional do Meio Ambiente), ato normativo que, em regulamentação da Lei 6.803, de 02 de julho de 1980, traçou
o "perfil" do estudo de impacto ambiental, ao discriminar, exemplificativamente, as obras e atividades que
exigiriam a realização prévia do estudo, referiu-se a situações que, ao menos quando da edição da norma,
envolviam a atividade do Estado. É o caso das estradas de rodagem, ferrovias, aeroportos, oleodutos,
hidroelétricas, distritos industriais, projetos urbanísticos etc (art. 1o. da Resolução 001/1986 - CONAMA). O
caráter geral das "indicações"de exigência de estudo de impacto ambiental contidas nas Leis 6.803/80 e 6.938/81
Seu surgimento, bem como o surgimento da política ambiental como um
naturais renováveis ou não, seja como matéria prima, insumo, receptor de rejeitos ou
(arts. art. 10, inciso V, parágrafo 3o. e art. 9o., inciso ill, respectivamente) e o caráter claramente exemplificativo
da enumeração do art. 1o. da Resolução 001/1986 - CONAMA, foram os fatores jurídicos que legitimaram, a partir
de 1986, a exigência de realização prévia do estudo de impacto ambiental para o licenciamento da instalação e
operação de obras e atividades potencialmente causadoras de significativa degradação ambiental, sempre ao
critério discricionário do órgão ambiental competente. A declaração legal sobre a generalização da exigibilidade
da confecção prévia do estudo de impacto ambiental, entretanto, veio com a edição da Constituição de 1988 que,
em seu art. 225, parágrafo quarto, elevou a sistemática da avaliação prévia de obras e atividades potencialmente
lesivas ao meio ambiente à condição de princípio constitucional de tutela ambiental: "Todos têm direito ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Parágrafo Primeiro - Para assegurar a
efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:! - (...); II - (...);lll - (...);IV - exigir, na forma da
lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do
meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade(...)m
próprio Poder Judiciário), com reflexos jurídicos que não podem ser desprezados.
não, que interessam ao trabalho. A qualificação jurídica do impacto direto dos custos
*microjurídica", assume para si. E é a análise do EIA que esclarece e positiva, em uma
situação concreta, qual o tratamento legal a que tais custos estão sujeitos e quais suas
econômico para situar as premissas das quais decorre o passivo ambiental da empresa,
passivo ambiental.
1.1.3 O Conteúdo
"dano ambiental", "direito difuso" , "ação civil pública", entre outros, os quais, não
obstante, não são (nem poderiam ser) tratados com o rigor e o aprofundamento que
1.1.4 As Fontes
e fevereiro de 1992, nos Estados Unidos) lastreou amplamente a sua realização. É que,
Quanto aos ramos do Direito em que os temas instrumentalmente abordados têm a sua
de-página, bem como em seção própria ao final. As notas de pé-de-página, além disso,
que, embora úteis e pertinentes ao que se expôs no correr do texto, dele não poderiam
menos na mesma época, e surge, em boa medida, sob a égide de um acirrado e intenso
debate que, desde a década de setenta, se propagou a partir dos principais centros de
processo de desenvolvimento.
^ O acidente em Bhopal, índia, envolvendo a Union Carbide Inc., o desastre nuclear de Chernobyl e os
freqüentes vazamentos em navios petroleiros, entre outras tragédias, bem ilustram a afirmação consignada.
Atenta a esse movimento, a Organização das Nações Unidas promoveu, em
1972, na Suécia, a Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente Humano. Nela
"formato" das diversas legislações nacionais posteriores, como foi o caso do Brasil e dos
EUA.
Estado, pode-se afirmar, como regra geral, que os institutos e instrumentos basilares
momento, o próprio Direito Ambiental Internacional tenha nascido como uma tentativa
Ao contrário.
interdependem quanto aos esforços para a solução dos problemas ambientais tanto
ambiente, da avaliação prévia dos impactos ambientais, entre outros, têm sede
ambientais domésticas.
naturais, por seu caráter essencial à sobrevivência e sua condição de finitude, devem ter
seu aproveitamento ou, para usar um conceito típico, seu "manejo", limitado por normas
novas e mais avançadas formulações. Durante a Conferência das Nações Unidas para o
Desenvolvimento e Meio Ambiente, ocorrida em 1992 no Brasil (a ECO-92), muito se
naturais com o fito de preservá-los para as futuras gerações. O art. 225, *caput", da
antrópicas, seja através da ação isolada do poder público seja através da ação dos
agentes econômicos que protagonizam tais atividades, está alçada à condição de
Ambientais
Contudo, é certo que a propriedade dos recursos ambientais, sobretudo no que toca ao
sua função.
^ Sem dúvida nenhuma, a conceituação do direito de propriedade como direito real sobre a coisa, consistente
na titularidade e exercício dos poderes do domínio (uso, gozo, fruição, disposição e reivindicação), exercitável
'erga omnes" e cuja estrutura envolve um sujeito ativo "versus" um sujeito passivo universal, continua válida.
Entretanto, as categorias de tutela ao direito difuso á salubridade e sustentabilidade do meio ambiente e dos
recursos ambientais limitam, no âmbito funcional, as prerrogativas de exercício dos poderes do domínio. As
limitações que decorrem do direito difuso á salubridade e sustentabilidade dos recursos ambientais não se
assemelhariam às limitações administrativas, embora pudessem, em alguns casos, ensejá-las. Decorrem da
aplicação da teoria do abuso de direito e podem ser adequadamente expressas pela locução limitações
funcionais. Afinal, a mesma lei que outorga o direito de propriedade e dispõe sobre o modo de seu exercício,
outorga, indiscriminadamente e sem referência a uma relação-base, o direito de gozo da sustentabilidade. Nessa
medida, portanto, é o próprio sistema de direito positivo que cria "esferas" de interesse não concêntricas, mas
tangenciais, que se autolimitam ou naturalmente ou através da intervenção corretiva dos poderes instituídos (veja-
se que se utiliza "instituídos" ao invés de "públicos" para abranger, além dos poderes do Estado os de outras
instituições não necessariamente estatais, que tendem a se fazer cada vez mais presentes nas relações sociais e
políticas da sociedade contemporânea.
O recurso ambiental, em suma, deixou de ser visto como um objeto
(e não, propriamente, a sua titularidade), passou a ser encarada, no plano social, como
condições que permitem, abrigam e regem a vida em todas as suas formas, mas
específicas.
por objeto de tutela um bem material qualquer, como ocorre, por exemplo, com o direito
prestação pecuniária. É um direito que tutela um interesse imaterial, uma justa e legítima
favor das futuras gerações. Esse interesse consiste no gozar de um entomo, de uma
como se no Direito Penal fosse tutelada não a vida, já garantida pelo art. 121 do Código
Penal, mas a qualidade das condições físicas, químicas e biológicas que permitem a
vida.
dinamicidade e funcionalidade.
2.1.1.3.1 A Generalidade
têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
regime de propriedade a que estejam sujeitos (bem por isso conceitua meio ambiente
como *bem de uso comum do povo1) e o direito de todos ao equilíbrio e salubridade de
tais recursos.
em seu todo. O indivíduo, seja animal, mineral ou vegetal, é tutelado na exata medida
todo.
generalidade.
2.1.1.3.2 A Oinamicidade
É certo, por outro lado, que não é o ambiente natural e intocado o visado
civilizatório.
se harmonizar com o meio natural. Por isso, o "estado do meio ambiente" e os ajustes
2.1.1.3.3 A Funcionalidade
oferecidas pela meio ambiente, e mais, se alguns desses "serviços" e usos são
conflitantes entre si (v.g., lazer x utilização econômica), somente uma bem formulada
regulamentação institucional da apropriação e gozo desse versatilíssimo bem de
sobre ele incidem. À essa regulamentação, que será tanto mais eficaz quanto mais
se inserem.
Padova : ‘È evidente allora che la finalità ultima delia politica ambientale consiste nel
risolvere in modo ottimale tali contrasti e quindi nel definire i livelli ottimali da assegnare
ai molteplici usi dell’ambiente nei vari tempi e nei vari luoghi. Gli obiettivi ultimi delia
delia fauna, i tipi di paesaggio da salvaguardare, ecc. Ma nel momento applicativo tale
politica dovrà avere ríguardo alie variabilli che sono manovrate dagli operatorí economici,
e quindi essa dovrà articolarsi in una serie di strumenti che regolino opportunamente
1’attivitá mineraria, i trasporti, gli insediamenti industriali, lo sacrico dei residui, la caccia e
pelo meio ambiente é tarefa assumida por qualquer política ambiental, variando
grandemente, entretanto, os instrumentos a partir das quais as relações "otimais" são
induzidas.
nas relações públicas e privadas, com o objetivo de garantir, tanto quanto possível e ao
Embora seja possível reconhecer nas ações de planejamento, ató semantics e intuitivamente, a intenção de
"conformar" o futuro atravós do controle das condições do presente (e nesse sentido há no planejamento um claro
propósito preventivo), ele freqüentemente apresenta uma face corretiva. No campo do meio ambiente, inclusive,
essa dupla face das ações de planejamento fica denunciada pela paulatina evolução dos respectivos
instrumentos. 8e em um momento a enfase da legislação era punitiva, eis que centrada na responsabilização do
poluidor (Lei 6.938/81), em outra, a preocupação se deslocava para o campo da prevenção atravós da
generalização da exigência do Estudo Prévio de Impacto Ambiental (Constituição Federal, art. 225, parágrafo
quarto). Nos Estados Unidos pode-se observar a mesma tendência. Desde a década de setenta estavam em
vigor normas de controle e monitorização das atividades potencialmente causadoras de danos ambientais, com
caráter preventivo. Em 1980, ou seja, pouco antes da Lei 6.938/81 no Brasil, o Congresso Norte-Americano
editou o ato conhecido como *Comprehensive Environmental Response, Compensation, and Liability Act'
(também chamado *CERCLA" ou "S U P E R F U N D Através dele o governo federal e, eventualmente, outras
partes, legitimaram-se a usar e administrar um fundo da ordem de oito milhões e quinhentos mil dólares,
destinado a custear atividades de "limpeza" de sítios contaminados. A novidade do m Superfundoa, além do caráter
retroativo e repristinatório de que se reveste, está na possibilidade de os valores do fundo serem recuperados
m ediante uçoes judiciai« contra uu cham ada« ’poltunikiJIy itt& po /w ibio pu/fta?" (pui too poluiu.Inin ion to
responsáveis). Tais ações, a que se aplica a responsabilidade objetiva ( "strict, joint and several liabilitym
), têm em
seu pólo passivo, concorrentemente, aquele que, ao tempo do fato, (i) era titular ou operador da empresa cuja
atividade causou a contaminação ambiental, aquele que, ao tempo da ação, (ii) figura como titular ou operador da
mesma empresa, (iii) a própria empresa e, quando ó o caso, aquele que a pedido de qualquer dos anteriores (iv)
transportou rejeitos contaminantes ou, de qualquer sorte, contribuiu para a produção do resultado danoso. Ainda
ao nível federal, em 1984 foi editado o "Resource Conservation and Recovery Act' ('RCRA*), condicionando a
obtenção de licenças ambientais á prévia limpeza dos danos praticados pelo pretendente no passado. Os
alcançado pelo direcionamento de ações públicas e pelo fomento e controle das ações
o objetivo de avaliar e identificar a real "vocação" dos recursos naturais que tem por
que podem variar de Estado para Estado, de padrões e "standards" de uso de recursos
Estados, por sua vez, fizeram editar legislações congéneres, que ficaram conhecidas como mbaby CERCLA’S" ou
"baby fíCLA’S”. Dessa forma, têm sido atingidos pelos efeitos da legislação repristinadora de danos passados
tanto empresas controladoras quanto subsidiárias, seus sócios, acionistas, administradores, financiadores,
passados ou atuais.
Este zoneamento ó, na verdade, imprescindível para o adequado funcionamento dos demais instrumentos de
política ambiental. Só um exame técnico acurado da prestabilidade de cada ecossistema pode permitir o
licenciamento e/ou controle de atividades econômicas que nele tem o seu cenário.
^ Tais *standarós" muitas vezes são determinados por tratados internacionais, acordos, convenções ou
protocolos de intenções não formalmente recepcionados pelo Estado que os aplica ou reconhece. São de
fundamental importância para a determinação do conceito legal de meio ambiente, eis que este ó um verdadeiro
"conceito em branco” que só se valida mediante a coleta, pelo intérprete, de dados oriundos da realidade
concreta.
c) a criação de um conjunto integrado de órgãos administrativos que, em cooperação
ambiente^ .
^ No Brasil, o exercício do poder de polícia ó tratado dentro do campo do Direito Administrativo. Bem por isso, a
atividade do Estado na limitação da liberdade individual, que se exerce através de tal poder, ó infralegal e está
inteiramente sujeita ao princípio estrito da legalidade. Os atos restritivos de direitos e praticados sob a égide do
poder de polícia , mesmo os auto-executórios, só se legitimam mediante previsão prévia e exaustiva em lei
formal. Fora disso, está-se diante do barbarismo estatal.
2.1.1.5.3 Instrumentos Repristinatórios ou Compensatórios
g) fundos e reservas, compostos, inclusive, por receitas públicas e privadas. Tais fundos
são geridos, muitas vezes, por comissões compostas por representantes da coletividade
como eficazes:
produtivos22.
^ A importância hoje atribuída a este instrumento está gerando um movimento em favor da reversão das
indenizações por danos ambientais a um fundo capaz de financiar a pesquisa em tomo de novas tecnologias de
redução de resíduos lesivos e aproveitamento econômico de rejeitos.
j) a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público em seus
instituições privadas também pode ser considerado como um desdobramento cada vez
educação formal.
divulgação;
realidades.
Esse fato pode ser explicado pela complexidade da opção nacional por uma
privadas, eis que o problema ambiental hoje não se coloca em um horizonte idílico mas
Por todas essas razões, não pode haver dúvida que o que antecede a adoção isolada
ambiental etc.) é exatamente o debate em tomo do modelo global que melhor atende as
23 Vale anotar nesse passo, exemplificativamente, que no contexto de uma economia eficientemente regulada,
onde os investimentos de vulto, as obras e atividades são responsavelmente planejadas e monitoradas por ações
públicas ou privadas (o que freqüentemente pressupõe um alto grau de conscientização e organização da
sociedade civil), a adoção generalizada e incondicional da responsabilidade objetiva por danos ao meio ambiente
pode ser dispensável. Nesse modelo hipotótico, o papel preventivo e punitivo da responsabilização objetiva seria
suprido por outros instrumentos, menos drásticos e mais eficientes, que levariam ao resultado em última análise
desejado : o uso sustentado dos recursos ambientais. É de se considerar, ainda quanto á hipotética supressão da
responsabilidade objetiva, que a sua adoção tem caráter excepcional e derrogatório do sistema tradicional da
responsabilidade, baseado na noção jurídica de culpa e na noção moral do livre-arbítrio. A responsabidade
Em razão do que se expôs, pode-se considerar a existência de dois modelos
Brasil, antes de 1981 e do advento da Lei 6.938 do mesmo ano, apresentava, se tanto,
uma política ambiental de interferência pontual. A tutela do meio ambiente decorria dos
capítulos do Código Civil que tratavam do direito de vizinhança, das posturas municipais,
objetiva traduz, em alguns campos, uma opção de política legislativa que pode, ou não, se justificar pela
importância do bem por ela tutelado. No caso brasileiro e ante ao lamentável estado de degradação ambiental dos
recursos ambientais do território nacional, não há dúvida que a adoção da responsabilidade objetiva, pelo menos
em um primeiro momento, se justifica.
gestão dos problemas ambientais. Além de implicar efetiva utilização de todos (ou de
global é diretivo e prima pela subordinação das demais políticas públicas e privadas aos
seus ditames.
brasileira foram objeto de algum tipo de tutela jurídica. Estudos específicos demonstram
^ Já desde antes do término da compilação das Ordenações Afonsinas (1446), vigorava em Portugal o Decreto
de Afonso III que, pelo critério da compilação, faz parte das mesmas Ordenações, determinando que o pão e a
farinha não fossem levados para fora dos domínios territoriais do Reino (13 de julho de 1311). Dom Diniz, em 9 de
novembro de 1326, editou norma que punia severamente o furto de aves, equiparando-o a qualquer outro tipo de
furto. Com a edição das Ordenações Manoelinas e Filipinas o eixo da preocupação voltou-se para as sesmarias,
impondo-se aos seus ocupantes a obrigação de cultivo efetivo da terra. Preocupações quanto a ordenação da
atividade de caça e ocupação do solo urbano também ocuparam o legislador reinícola. Muito posteriormente, o
Código Civil Brasileiro consagrou disposições ao direito de vizinhança, o Código de Águas tratou da proteção do
recurso hídrico, o Decreto-Lei n. 25, de 1937, tratou da proteção dos bens públicos naturais, artificiais e culturais,
o Estatuto da Terra ocupou-se da questão do solo, A Lei dos Loteamentos estabeleceu diretrizes de zoneamento
e ocupação do solo etc. O detalhado estudo de Ann Helen Wainer, Legislação Ambiental Brasileira : Evolução
Histórica do Direito Ambiental. COAD, Seleções Jurídicas. Mai/Jun. 1992, p. 27/34, traz importantes ilustrações
adicionais sobre o tema.
Contudo, não se pode falar, propriamente, de política ambiental no Brasil,
certo número de diplomas que incluíam dispositivos de tutela pontual e difusa dos
em suas linhas mestras acabou sendo confirmado e ampliado pela própria Constituição
de 1988, consolidou o esforço do Estado pela criação de uma política ambiental com
25 Por outro lado, é também falsa a idéia de que a Constituição Brasileira, na forma extensa como trata a matéria
ambiental, seja inovadora no plano do Direito Constitucional Comparado. Uma rápida consulta à Constituição da
República Portuguesa, de 1976, revela que o legislador constitucional português, de maneira bastante nítida,
influenciou o legislador constitucional pátrio, sendo válida a comparação : "Art. 66 (Ambiente e Qualidade de
Vida). 1. Todos têm direito a um ambiente de vida humana sactío e ecologicamente equilibrado e o dever de o
defender. 2. Incumbe ao Estado, por meio de organismos próprios e por apelo e apoio a iniciativas populares : a)
prevenir e controlar a poluição e os seus efeitos e as formas prejudiciais de erosão; b) ordenar o espaço territorial
de forma a construir paisagens biologicamente equilibradas; c) criar e desenvolver reservas e parques naturais e
de recreio, bem como classificar e proteger paisagens e sítios, de modo a garantir a conservação da natureza e a
2.2.2 Referências Ideológicas
descompasso com o grau de amadurecimento da sociedade civil, acabou por dar feição
a uma Lei de Política Ambientai talvez precoce e certamente pouco discutida por seus
técnicas sobre o tema, até porque treinada em temporadas de estudos fora do Brasil,
preservção de valores culturais de interesse histórico ou artísticio; d) promover o aproveitamento racional dos
recursos naturais, salvaguardando a sua capacidade de renovação e a estabilidade ecológica. 3. é conferido a
todos o direito de promover; nos termos da lei, a prevenção ou a cessação dos fatores de degradação do
ambiente, bem como, em caso de lesão directa, o direito à correspondente indemnização. 4. O Estado deve
promover a melhoria progressiva e acelerada da qualidade de vida de todos os portugueses.mConstituição da
República Portuguesa, Texto segundo a Lei Constitucional n. 1/82, de 30 de setembro de 1976, Ed. Trabalhistas.
1a. ed., 1987.
desenvolvimentistas^ô, mas pouco disposta, pela feição do próprio regime, a
convencimento sobre o que deveria ser a política ambiental. Mesmo considerando que a
Lei de Política Nacional do Meio Ambiente tramitou pelo Congresso, não há como evitar
apenas reforçado o aspecto "elitista" desta lei que, embora possa ser salutar em sua
"intenção" global, jamais foi referendada pela reflexão da coletividade, podendo ser dito
Foi notória, nesse período também caracterizado como de ‘guerra fria", a atuação doutrinária de agências e
organismos internacionais, que atravós da "cooperação internacional" promoviam treinamentos em que se
internacionalizava conceitos estrategicamente importantes para os Estados de atuação dominante no cenário da
comunidade internacional. Sem falar, especificamente, da atuação de certos órgãos especializados da ONU
(como a UNDP - United Nations Development Programme), o caso da USAID - United States Agency for
International Development - e sua influôncia na formação da tecnoburocracia brasileira, por exemplo, ó
emblemático. Bancos Multilaterais de Desenvolvimento (como o Banco Mundial, o Banco Internacional para a
Reconstrução e Desenvolvimento), assim como os centros regionais de irradiação de conhecimentos, como o
CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe), também cumpriram esse papel.
atividade pública e privada de disposição dos recursos naturais nas mais variadas
27 Como se comenta adiante, a política ambiental também envolveu a criação de um conjunto de órgãos, de
atuação integrada, que exercem ampla atividade discricionária em face dos conteúdos "em branco" da maioria
dos princípios basilares do "sistema* ambiental. Não há como negar a analogia natural que, a partir disso, se
estabelece entre a política ambiental e a noção lógica de "moldura"ou "quadro"de normas (e isso ó válido para a
imensa maioria das políticas públicas). Fábio Nusdeo, aliás, ilustra com propriedade o funcionamento e a feição
normativa e institucional das políticas indicativas do Estado : "O legislativo basicamente faz-se presente no
campo econômico por meio de leis bastante amplas concernentes à criação de órgãos e entidades encarregadas
da execução da política econômica, fixando-lhes as atribuições, as competências e a composição. Por outro lado,
podem traçar limites, em geral extremamente imprecisos, para a atuação das mesmas, bem como consignar
objetivos gerais a serem atingidos e eventuais restrições quanto a objetivos concorrentes. É a denominada "loi
cadre"pelos franceses ou Mlege cornice" pelos italianos. No fundo, ela contém uma autorização para agir conferida
a órgãos ou agências do executivo. Estes, na realidade, os verdadeiros legisladores, pois a "loi cadre" não passa
de um esqueleto, por si só inoperante, sem a carne e os músculos a serem preenchidos pelas agências,
devidamente dotadas de poder regulamentar. Quase sempre ela não ó auto-exeqúível. Necessita, para ser
aplicada, de uma regulamentação e conseqüentemente de uma agência que a edite e exerça a competente
fiscalização." (Nusdeo, Fábio. A Elaboração e Aplicação da Norma de Direito Econômico, in Caderno de Direito
Econômico : Disciplina Jurídica da Iniciativa Econômica. Ed. Resenha Tributária, co-edição do Centro de Estudos
de Extensão Universitária. São Paulo, 1963, p. 19/20).
^ Para citar um exemplo restrito à poluição do ar por emissões industriais, os estabelecimentos industriais
"potencialmente poluidores" no Brasil, em 1980, conforme as informações do Censo Industrial do mesmo ano,
formavam 49,73% do universo de indústrias brasileiras e estavam situados, predominantemente na Região
Sudeste. Para informações adicionais acerca do estado do meio ambiente no Brasil pode-se consultar as
seguintes obras : Instituto de Planejamento Econômico e Social - IPEA. Poluição Industrial no Brasil. Consultée -
Sociedade Civil de Planejamento e Consultas Técnicas Ltda. Brasília, 1975, 111 p.; Fundação Estadual de
Engenharia do Meio Ambiente - Rio de Janeiro - FEEMA - Restrições Ambientais à Localização Industrial. Rio de
Janeiro . 1978; Braille, Victoria Valli - Poluição do Ar no Brasil - Participação da Indústria. FEEMA, Rio de Janeiro,
1979; Brasil - Divisão das Nações Unidas do Ministério das Relações Exteriores. Relatório Nacional do Brasil -
Notas Preliminares - Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente. Brasília - abril de 1971, mimeo;
CETESB - Secretaria de Serviços e Obras Públicas do Estado de São Paulo. Qualidade do Ar na Região
Metropolitana de São Paulo e Cubatão, São Paulo, 1985.
iniciativa espontânea de reclamar do Estado a limitação institucional das relações que
É inegável, portanto, que com a edição da Lei 6.938/81 atendeu-se a uma necessidade
freio ou critério.
de política ambiental, obra acabada pela Constituição de 1988 e inaugurada pela Lei
*ecodesenvolvimentista *.
desenvolvimento sustentável mas que hoje foi absorvido por ela, deriva diretamente da
Declaração de Estocolmo.
^ Com afeito, embora 9eja criticável a concepção vanguardista que subjaz à política ambiental brasileira, è
preciso reconhecer que, não fosse a iniciativa espontânea dos poderes oficiais, quaisquer que tenham sido as
suas reais motivações, dificilmente o Brasil teria um quadro institucional dedicado ao trato da questão ambiental.
O ponto relevante, a essa altura, mais que a discussão do modo como a política foi trazida à vigência, ó a
adequação de seu modelo às necessidades nacionais. E uma boa oportunidade para tanto, se a sociedade
apresentasse suficiente amadurecimento político, seria a revisão constitucional prevista para o ano em curso.
Pode ser definido, em uma primeira aproximação, como a doutrina que
desenvolvimento econômico^ .
Confira-se.
arts. 6o. a 11), o Título VIII ( “Da Ordem Social“ - arts. 193 a 232), bem como alguns dos
sustentabilidade social.
192), bem como o Capítulo VI, do Título VIII ( “Do Meio Ambiente“ - art. 225), referem-se
à sustentabilidade econômica.
ecológica vem contemplada nos Capítulos I, II, III e VIII do Título VII (*Política Urbana,
Política Agrícola o Fundiária, Da Reforma Agrária, Dos índios* - arts. 182 a 183, 184 a
mesmos dispositivos.
pelo menos 100 (ou 40%) tratam, direta ou indiretamente, da questão ambiental.
Diante de todo o exposto, não pode haver dúvida que a política ambiental
as demais políticas públicas. Nenhum valor ou interesse, por mais privilegiada que seja,
foi contemplado com tanta abrangência pela Constituição Federal quanto o da tutela ao
meio ambiente.
3 O ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL
3.1 INTRODUÇÃO
se dizer que o EIA, por si só, equivale a uma política ambiental, tendo, em alguns
demoradas perícias se pode alcançar o "estado do meio ambiente", para efeito de uma
ambiental, e através da análise destes elementos face aos cânones jurídicos em vigor,
objeto de atenção ainda nesta seção, principalmente no tocante aos instrumentos cuja
efetivas implicações jurídicas dessa forte integratividade do EIA parece não ter sido
potencialmente lesivas ao meio ambiente, bem como sobre suas alternativas viáveis.
julho de 1985, a Diretiva n. 85/337/CEE, que recomenda aos países membros a adoção
configuração que, ampliada por normas posteriores, o identifica, foi a Lei n. 6.803, de 02
de julho de 1980, que dispôs sobre o zoneamento nas áreas críticas de poluição.
1983 (que regulamentou a Lei n. 6.938/81 e deu outras providências), pela Resolução
de oitenta, sendo certo que os fatores que antecederam e influenciaram a adoção de tal
parentesco muito próximo com os projetos de investimento. Tanto o EIA como o projeto
32 A definição de planejamento se inspira em Ignacy Sachs que esclarece, ainda, que o planejamento nasceu na
antiga URSS, motivado pela necessidade de reorganização de uma sociedade em condições de penúria e
isolamento (Sachs, Ignacy. Espaços, tempos e estratégias do desenvolvimento, São Paulo, Vértice, 1986. p. 24).
Deepak Lal, comentando a origem do planejamento, opina que : "Tornou-se um dos cânones das teorias
desenvolvimentistas exigir dos governos tudo que era possível para promover a industrialização. O planejamento
era a panacóia oferecida. Embora, na prática ele tenha vindo a ter tantas variantes quanto adesões, o
planejamento tem sido habitualmente identificado com a forma de intervenção governamental empregada na
União Soviética e na República Popular da China. Sua principal característica ó a determinação centralizada das
quantidades físicas dos bens e serviços que são os insumos e os produtos de uma miríade de indústrias que
compõe o chamado setor industrial. É uma tentativa de suplantar o funcionamento de uma economia de mercado.
f...J”(Lal, Deepak. A pobreza das teorias desenvolvimentistas. Rio de Janeiro, Instituto Liberal, 1987, p. 89).
de investimento, no campo econômico, traduz a necessidade de compatibilização das
uma atividade peculiar, porque refere-se a uma unidade específica de ação e não ao
rodagem, uma trama de vias expressas, uma colonização agrícola ou uma barragem
para a geração de energia hidrelétrica e irrigação. É pois, uma técnica de análise que
sociaisfSS.
33 Pomeranz, Lenina. Elaboração e Análise de Projetos. São Paulo, Editora Hucitsc, 1985, p. 17. A respeito do
tema ver Lange, O. Political Economy. Varsóvia, PWN - Panstwowe Wydawnictwo Naukowe; e Londres,
Pergamon Press, 1963. Volume 1. Capítulo 5 e Godelier, M. Racionalidade e irracionalidade na economia. Rio de
Janeiro, Edições Tempo Brasileiro, 1970.
iii) Os Estudos Econômicos - que compreendem: a) a estimativa dos custos; b) a
o modelo teórico do EIA, pode-se afirmar que o estudo de impacto ambiental é uma
impactos ecológicos e globais de uma dada obra, atividade ou ação. E essa conclusão
Brasil.
3.1.3 Conceito
o seguinte:
e análise dos recursos ambientais e suas interações, tais como existem no momento da
o meio físico, composto pelo subsolo, solo (tipos e aptidões), águas, ar, clima, regime
ii) Descrição da Ação Proposta e suas alternativas - parte composta pela identificação
dos prováveis impactos relevantes de cada fase do projeto, sua classificação segundo
36 Sobre o tema ver Gevaerd Filho, Jair Uma. Anotações sobre os conceitos de Meio Ambiente e Dano
Ambiental, in Revista de Direito Agrário e Meio Ambiente. Curitiba, Instituto de Terras, Cartografia e Florestas, p.
13/17, e Gevaerd Filho. Reforma Agrária e Meio Ambiente, op. cit, p. 306/310.
realização. A recomendação de medidas mitigadoras dos impactos, com a discriminação
daqueles que não poderão ser mitigados e a realização de um detalhado estudo dos
analisará.
caráter abrangente que se outorga à tutela do meio ambiente no Brasil e incluem, desde
confecciona.
3.1.5.1 O Proponente do Projeto, Obra ou Atividade
Como regra geral, será uma empresa comercial, sendo irrelevante, pelo
Para que se chegue a essa conclusão, basta que se formule uma única
ambiental ?
definição, o que organiza fatores de produção (capital, trabalho e meio ambiente) com
Como se demonstra adiante, se a empresa comercial proponente do projeto, obra ou atividade estiver
estruturada sob a forma de sociedade anônima (Lei 6404/76), há dispositivos expressos que demandam a efetiva
recepção do passivo ou contingência ambiental na contabilidade da empresa, tanto no que concerne à
regularidade das demonstrações financeiras, quanto no que concerne aos deveres do administrador e acionista.
Pode-se enxergar aí um diferenciador do regime jurídico a que se submete o passivo ambiental, conforme esteja
referido ao âmbito da sociedade anônima. Contudo, ó defensável a posição segundo a qual os princípios gerais e
universalmente aceitos da contabilidade, cuja observância ó de lei para qualquer empresa comercial, foram
apenas declarados explicitamente pela Lei do Anonimato, valendo, de qualquer forma, para todas as demais
empresas, independentemente da forma jurídica que adotem.
vistas ao atendimento profissional e massivo de demanda habitual é a empresa
comercial.
massividade da atividade a ser considerada, são fatores que condicionam, como regra
localizadas em um certo distrito industrial, por seu caráter habitual, reclama precisão
benefício individual.
É claro que o risco coletivo não é criado intencionalmente, muito menos pode
Bem ao contrário.
produzir tais riscos. Logo, só em relação a elas, o EIA pode, validamente, ser exigido.
38 Os impactos decorrentes do afluxo de funcionários, rede elétrica, etc., embora consideráveis dentro do estudo
de impacto ambiental, são objeto de análise por ocasião do licenciamento do Distrito Industrial ou da Lei de
Zoneamento.
Portanto, o proponente, salvo a hipótese de intervenção direta do Poder
Público (aliás, já ressalvada), será sempre uma empresa comercial, bastando que a
EIA, mas uma equipe independente contratada por sua conta e responsabilidade.
Multidisciplinar e Independente.
a confecção do EIA fica por conta do próprio proponente e, nos Estados Unidos, do
criticada. Afinal, como se pode garantir a independência absoluta de uma equipe que,
do EIA por técnicos designados para este fim pelos órgãos estaduais competentes (art.
9o.).
Os órgãos Ambientais.
SISNAMA)4 0 .
administrativas.
(Constituição Federal, art. 23, incisos III, VI, VII, VIII), que vigora em matéria ambiental,
Distrito Federal e, quando for o caso, das Regiões Metropolitanas (Constituição Federal,
ambiente, bem como o juízo discricionário sobre a própria exigibilidade do EIA e sua
Estados e o Distrito Federal (Constituição Federal, art. 24, incisos V, VI, VII, VIII), bem
(Constituição Federal, art. 30, incisos I e IX), o exercício infraiegal do poder de polícia
pelos órgãos do SISNAMA está condicionado por normas de índole federal, estadual e
municipal.
desde o início. A própria exigência de sua realização prévia depende da iniciativa do(s)
Não pode haver dúvida que a gestão ambiental - expressão que aqui se
licenciamento, bem como outras que caracterizam a atuação típica dos órgãos
Administração.
ambigüidade e vagueza na dicção das normas voltadas à tutela dos bens de interesse
degradação ambiental“?
ninguém mais. Não só o juízo sobre a exigibilidade do EIA se configura como atribuição
discricionária do órgão ambiental, como o juízo sobre a sua aprovação não pode ser
por natureza, especializado, não pode ser manifesto por outra instância administrativa
pode-se afirmar que o EIA existe em função do licenciamento e para que este ocorra
Estudo de Impacto Ambiental que não seja prévio ao licenciamento, pelo menos no
3.1.5.4 A Coletividade
caso, opinar sobre suas conclusões. A parte sintética e conclusiva do EIA, que
^ Na onda *ecok>gista*que tem varrido o Brasil, que se apresenta saudável em alguns aspectos, ó possível
detectar, sobretudo no Judiciário, algumas posições extremadas quanto a atuação do Ministério Público e
associações, de um lado, e empresas, de outro. Às centenas, tem sido ajuizadas ações civis públicas que, em
sua face cominatória, pretendem obrigar certas empresas a mandar confeccionar, e o Estado-administração a
analisar, Estudos de Impacto Ambiental, e isso após a entrada em funcionamento dos projetos, obras ou
atividades supostamente poluidoras. Parece haver em situações como a descrita, pelo menos dois flagrantes
equívocos. A uma, a exigência de Estudo de Impacto Ambiental compete, discricionária, típica e exclusivamente,
ao órgão ambiental, não podendo o Ministério Público ou qualquer outra instituição (inclusive o próprio Poder
Judiciário) invadir a esfera privada de competência deste, ditando-lhe quando e como deve exigir das empresas a
confecção do EIA. Salvo vício de legalidade na atuação do agente público competente, as razões de
conveniência e oportunidade em tomo da exigibilidade (ou não exigibilidade) do EIA em cada caso concreto, são
de sopesamento exclusivo do administrador. Até por decorrer de normas que se dirigem á interpretação autêntica
e privilegiada do administrador público, o direito de exigir o EIA e de realizar o juízo definitivo sobre sua utilidade
no caso concreto não se configura como direito difuso, falecendo ao Ministério Público e outros susbstitutos
processuais nominados pela Lei 7.347/85, nessa exata medida, legitimidade para reclamá-lo em juízo em
representação da coletividade indeterminada de interessados. A duas, o EIA, como tal, só existe se for realizado
prwviammntm ao licenciamento do projeto, obra ou atividade. Após o licenciamento, pode-se falar em perícia,
auditoria, prova técnica, mas não se pode falar em Estudo de Impacto Ambiental, tal como a lei brasileira o
formatou.
corresponde ao Relatório de Impacto Ambiental (doravante denominado RIMA), deve er,
Município, determinará o prazo para recebimento dos comentários a serem feitos pelos
que o órgão ambiental entenda oportuno (no que repete a Resolução 001/1986) ou que
haja solicitação oriunda de entidade da sociedade civil, do Ministério Público, ou de
a conceberam.
audiência será convocada mediante carta registrada para o(s) solicitante(s) e através da
potencialmente interessado.
audiência pública.
dos trabalhos ficará a cargo do representante do órgão ambiental, que após exposição
questionamentos e debates. Do ato será lavrada ata que, como documento integrante
do EIA, será considerado pelo órgão ambiental por ocasião da deliberação quanto ao
licenciamento.
4 AS VIRTUOSIDADES DO EIA
ambiental da empresa.
revolucionária para a Teoria Geral do Direito. Seu desenvolvimento deveu-se, mais que
Estado, a garantia dos direitos civis, entre outras matérias reputadas *materialmente
normativa, tem tido a função de veicular princípios que gozam de uma superioridade
^ É verdade que, na antiguidade, a distinção entre a *oikia* e a ‘polis’, bem como entre o ‘domus’ e a 'civita',
cumpria importante função. Contudo, para os fins do trabalho e como se esclareceu, importam as distinções a
partir do surgimento do Estado Moderno.
Na verdade, perdida a riqueza e prolixidade do Direito Romano Justinianeu
uma declaração de direitos, era a “carta" política, no sentido literal e figurado, que
nação. Ela é vista como documento garantidor dos princípios pelo qual o poder se
Estado.
político e social, ante à entidade estatal até então detentora de poderes ilimitados.
dos Estados burgueses, foi só com a reforma do Estado, em direção ao Estado de Bem
Estar Social (Welfare State), que começaram a ser incluídos nas constituições
início fortemente marcado pelo relevante papel das trocas comerciais (a fase conhecida
pelo emprego de vastas multidões de operários que não tinham outra alternativa senão
a venda de sua força de trabalho, foram fatores determinantes para a alteração drástica
por sua vez, não raro excediam as 18 horas diárias, trabalhadas, indiscriminadamente,
por homens, mulheres e crianças. Tais trabalhadores, recrutados sem qualquer critério,
certa altura do século XIX, sérias e profundas distorções sociais, econômicas e políticas
internacionais.
coletivos. Releva notar que, a partir desse momento, o direito que sempre fora
44 Ada Peiegrini Grinover conceitua direitos coletivos, distingüindo-os dos interesses ou direitos difusos, corno
•interesses comuns a uma coletividade da passoas a apenas a atas, mas ainda repousando sobra um vínculo
jurídico definido que as congrega. A sociedade comercial, a família, o condomínio dão margem ao surgimento de
interesses comuns, nascidos em função da relação-base que congrega seus componentes, mas não se
confundindo com os interesses individuais. Num plano mais complexo, onde o conjunto de interessados não ó
mais facilmente determinável, embora ainda exista a relação-base, surge o interesse coletivo do sindicato, a
congregar todos os empregados de uma determinada categoria profissional. Mas ainda não estamos no piano do
contudo, principalmente nos países de forte tradição romano-germanística, face à
interesses difusos.
difusos, seriam *interesses que não encontram apoio em uma relação-base bem
direito difuso” (Conferência proferida em 24 de novembro de 1982, no Seminário sobre Tuteia dos Interesses
Coletivos, na Faculdade de Direito da USP).
extremamente genéricos, a dados de fato freqüentemente acidentais e mutáveis :
habitar a mesma região, consumir o mesmo produto, viver sob determinadas condições
pólosfl5 .
Ambiente Sustentado
que o EIA permite particularizar e identificar o conteúdo desse direito em relação a uma
circunstância concreta.
47 Vgje lembrar, nesse ponto, o conteúdo mínimo do EIA, conforme já explicitado : I) O Diagnóstico Ambientai
da ó/ma da Influência do projeto - parle destinada à descrição e análise dos recursos ambientais e suas
é o meio ambiente a se preservar, qual o seu *estado" ideal de sustentação (conclusões
difuso, pois é em função dele que as demais categorias jurídicas que, concretamente,
formam o seu passivo ambiental, poderão ser resgatadas, no sentido econômico, como
se verifica adiante.
interações, tais como existem no momento da avaliação, de modo a permitir a caracterização da situação
ambiental do sítio antes da implementação da obra, atividade ou projeto. Nessa descrição devem ser
considerados o meio físico, composto pelo subsolo, solo (tipos e aptidões), àguas, ar, clima, regime pluviométrico,
altitude, topografia, corpos d’água, regime hidrológico, correntes marinhas, correntes atmosféricas etc., o meio
biológico e os ecossistemas naturais, compostos pela fauna, flora, espécies de valor científico e econômico
indicadoras da qualidade ambiental, espécies raras ou ameaçadas de extinção, áreas de preservação
permanente etc., o meio sócio-econômico (o uso e ocupação do solo, os usos da água etc.), e o meio cutturai,
composto pelos monumentos arqueológicos, históricos e culturais da comunidade, relações tradicionais de
trabalho e lazer da comunidade local, potencial utilização futura dos recursos naturais etc; ii) Deecríçáo da Ação
Propoata e euaa aiternativaa - parte composta pela identificação do projeto, seus objetivos e justificativas,
análise de suas premissas de demanda e oferta, adequação às políticas globais de ocupação de território
indicadas pelo Estado, alternativas de localização, tamanho, tecnologia, dimensão, consumo de insumos e uso de
infra-estruturas públicas (transporte, energia elétrica, telecomunicações, armazenamento etc.), matérias primas
utilizadas, mão de obra, processos e técnicas operacionais, empregos diretos e indiretos a serem gerados,
benefícios tributários, econômicos e sociais para a área de influência etc; iii) Identificação, aniUee e previsão
doe Impactoa significativos, positivos e negativos - parte composta pela identificação, previsão da magnitude
e interpretação da importância dos prováveis impactos relevantes de cada fase do projeto, sua classificação
segundo sejam positivos e negativos, diretos e indiretos, imediatos e mediatos, temporários e permanentes,
reversíveis ou irreversíveis, cumuláveis ou não cumuláveis, causadores de reações em cadeia (sinérgicos) ou
não causadores etc. Compõe esse segmento, igualmente, a caracterização da provável qualidade ambiental da
área de influência do projeto após a implementação do projeto, obra ou atividade, levando-se em consideração as
diversas alternativas viáveis, bem como a hipótese de sua não realização, a recomendação de medidas
mitigadoras dos impactos, com a discriminação daqueles que não poderão ser mitigados e a realização de um
detalhado estudo dos riscos ambientais apresentados pela obra, bem como a confecção de um programa de
monitoração e controle.
4.2 O EIA E A DETERMINAÇÃO DO CONCEITO JURÍDICO DE MEIO AMBIENTE
4.2.1 Introdução
análise.
Quer-se dizer, em outras palavras, que o EIA, nos moldes em que vigora no
ordenamento brasileiro e a despeito das críticas que se pode formular quanto a seu
demais legitimados para influir na gestão ambiental das obras humanas contam, para
a atividade jurisdicional.
A importância do que se vem de afirmar magnifica-se na medida em que é
biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas" (art. 3o., inciso I,
da Lei 6938/81).
exceção de direções interpretativas que o orientam quanto aos fatores ou critérios que
ambiente.
4.2.1.2 A Postura Metodológica Adequada
setores da vida social e jurídica que não se coadunam com soluções prontas e
alcançáveis por operações mentais simplistas (como o silogismo formal), essa Justiça é
concebida como equilíbrio no sentido físico. Assim como na física há equilíbrio quando o
corpo, sofrendo forças e pressões contrárias e antagônicas entre si, mantém-se estável,
no social, quando os diversos interesses legítimos e contrários, ajustam-se a uma
Os intérpretes legitimados pela lei para formular esse conceito são, por sua
vez, precisamente os atores que nele interferem e que, não por acaso, também recebem
legitimação processual extraordinária para pleitear em juízo a prevalência de suas
formulações.
cenário jurisdicional, o intérprete a que a lei outorga o privilégio de fixar, para todos os
sempre com apoio da lei, serão as ofertadas pelas partes em litígio (em tese, a
caso concreto, deve ser entendido como o meio ambiente a ser preservado.
tenham por objeto a tutela ambiental (basicamente ações civis públicas), tem reflexos na
5.1 INTRODUÇÃO
Responsabilidade Civil.
Em que pese não ser esse o lugar adequado para longas e aprofundadas
jurídicas de dano, e isso parece estar relacionado ao fato de que o Princípio Geral da
Responsabilidade Civil, segundo o qual não é dado a alguém causar dano a outrém, sob
dúvida que a base jurídica da definição do primeiro termo tem muito a ver com a idéia de
conceito ao Princípio Geral da Responsabilidade Civil, por sua vez calcado na noção
então, o dano passasse a ser juridicamente relevante. Von Thur, citado por Serpa
Lopes, afirma:
(Serpa Lopes, Miguel Maria de. Cunso de Direito Civil. v. 2, 3. ed. São Paulo : Freitas
legalidade da conduta lesiva, o caso fortuito e a força maior não configuram causas
vontade da vítima não desnaturam o dano em si. Ele continua existindo, inclusive sob o
aspecto jurídico ; apenas que a conseqüência jurídica de sua produção não é imputada
ao Autor, por força de princípio interpretativo de ordem moral que reputa excluída a
essa, o dano ao bem jurídico tutelado pela ordem criminal pode se produzir; contudo, as
Dantas, Aguiar Dias, entre outros, sempre citados por Serpa Lopes (op. cit.), relevam o
em dois aspectos:
normativa que, sob o aspecto lógico-jurídico, toma possível a imposição de uma sanção.
campo do meio ambiente, concluir-se-à que é também o EIA que possibilita, face a cada
seja dano ambiental. Incumbirá ao intérprete que se dispuser a assumir tal tarefa o
Explica-se.
A Necessária Distinção.
Assim a Resolução 001/1986 - CONAMA define impacto ambiental:
III - a biota;
detalhamento o que a Lei 6.938/81, em seu art. 3o., inciso II, esboçava como idéia
I - (...);
49 É irrecusável, ademais, a constatação da vinculação entre "os fins previstos" na Lei 6.938/81 e o problema do
dano ambiental. É que a mesma lei introduziu à vigência a Responsabilidade Objetiva em matéria ambiental,
através da previsão que se transcreve, implicando, reciprocamente, expressões como "degradação da
qualktadm ambientar, m
danoa e inconvenientee", m
poiuidoi etc. : "Art. 14 - Sem prejuízo das
penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o nào-cumprímento das
medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela
degradação da qualidade de vida sujeitará os transgressores: I - (...); II - (...); III - (...); IV - (...);
Parágrafo Prim eiro - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor
obrigado, independentem ente de existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados
ao meio am biente e a terceiros, afetados p o r sua atividade.
II - Degradação da qualidade ambiental: a alteração adversa das características do
meio ambiente;
ou indiretamente:
flora."
atividades técnicas:
I - (...);
contemplados.
Estes seriam os critérios aplicáveis a uma classificação mínima dos danos
ambientais quanto:
a) a previsibilidade;
b) a *previstabilidade
e) a evitabilidade do dano;
i) a natureza da reparação.
5.4.1 A Previsibilidade
está em estreita relação com todos os demais critérios. Com efeito, só os danos
dos eventuais impactos negativos da obra, atividade ou projeto, a tal ponto que seja
ou sobre qualquer outro elemento ambiental. É óbvio que o uso dessas substâncias
época do EIA.
5.4.2 A Previstabilidade
A previstabilidade diz respeito a danos que, embora passíveis de ocorrência
EIA.
face ao caso concreto, encontrar-se as soluções mais justas, entre várias, quanto à
podem ser imprevistos, mas previsíveis, tirando-se disso definitivas implicações quanto
imprevisto, embora previsível, sujeita-se ao rigor ordinário, por não terem sido esgotadas
o dano não poderá ser considerado, contábil e juridicamente, como passivo (senão *lato
ser tratado como tal no âmbito contábil e jurídico. Os danos certos, por sua vez,
presente trabalho comenta como o caráter local ou regional do dano ambiental pode
públicas.
implementação.
Por opção social de consenso entende-se o juízo que a coletividade faz
causados pela construção e operação de uma usina hidrelétrica são de grande monta e
tais obras e atividades (bem como de suas conseqüências danosas), é tido, pelo senso
elétrica, de produtos minerais e de papel para o uso cotidiano. Quer-se dizer, em outras
ser licenciada, consulta-se, antes de mais nada o critério da tolerabilidade. O EIA, nesse
em caso negativo, contemplar alternativas viáveis para que os mesmos benefícios sejam
alcançados.
projetos, obras ou atividades que causam impacto ambiental (o “know how*), trata-se de
eliminação possível.
ela aplica o método de produção de energia mais adequado às condições do país (rico
elimina, pelo menos em tese, os inconvenientes ambientais e o alto risco que, pelo
termo-nucleares.
5.4.5 A Evitabilidade
evitabilidade. Trata-se da formulação de um juízo, desta vez pelo órgão ambiental e pelo
com o custo do projeto, obra ou atividade. Pode-se dizer, inclusive, de forma geral, que
que a tecnologia capaz de eliminar boa parte dos danos está ao alcance geográfico e
econômico do proponente, não sendo o custo de tal monta que possa inviabilizar a
exemplo, de uma casa noturna que ofereça aos seus freqüentadores música ao vivo
para bailes. Ou, ainda, de uma serralheria que pela utilização intensiva de instrumentos
que cortam metal, produza uma poluição sonora tida por intolerável pelos padrões e
acústicos, tanto para o revestimento de paredes e tetos como para a proteção dos
órgãos de audição dos trabalhadores, que devem ser providos pelos proponentes, sob
não, e nessa última hipótese não há razões para que se releve a falta de condições
potencialmente lesiva.
possível e o evitamento ideal dos danos ambientais deve ser feita pelo intérprete. Os
compatibilizado na prática.
relevar um dano evitável (ao menos em tese), para viabilizar uma ação reputada
em alguns casos, ser superado pelo juízo quanto a reversibilidade do mesmo dano, em
evitável, é evidente que a reversão espontânea do ambiente ao *status quo ante“ após
eventual evitamento. Daí porque, na imensa maioria dos casos, a classificação do dano
ambiental depende de uma complexa integração dos critérios mínimos ora esboçados,
No que pertine à reparação, quando o dano atinge bens ambientais que, por
corresponderá à manutenção das condições favoráveis para que tal regeneração ocorra.
Os projetos de exploração florestal, por isso mesmo, são excelentes exemplos do que
cautelas e técnicas de manejo que, pelo menos em tese, permitem que as condições
favoráveis à regeneração, espontânea ou não, do bem lesado (no caso, não a árvore
em si, mas o sistema que a abriga), ocorra. Em tais casos, é comum que a ação de
ideal de crescimento das espécies consideradas. O manejo das florestas permite que a
extração de madeira ocorra de forma *sustentada", isto é, de forma propícia ao seu não
exaurimento.
viveiros de peixes, cursos dágua utilizados para a deposição de rejeitos industriais, são
exemplos típicos de cenários onde a reversibilidade deve ser considerada como critério
sistema, o todo, tem para efeitos de aferição das medidas necessárias à preservação do
entorno ecológico. Sendo assim, por vezes a supressão de todo um ecossistema pode
ser compensada (e a palavra aqui foi bem escolhida), pela recomposição de outro. É
intuitivo que essa solução está longe de ser ideal, até porque é ínsita à idéia de
decorrentes da eliminação.
indenizações, que variam desde a substituição do bem degradado, quando viável, até
uma solução de barganha que satisfaça, por sua razoabilidade, os interesses a serem
RESPONSABILIDADE OBJETIVA
6.1 INTRODUÇÃO
indenizatória própria, especificada com detalhe pelo modelo legislativo de EIA presente
no ordenamento.
se útil para os seus fins uma análise instrumental (e por isso menos rígida e profunda do
terceiro, sempre teve por pressuposto lógico e moral a interferência da livre e deliberada
qualquer ente natural ou jurídico radica sua conduta na liberdade de escolha entre
para entender o caráter delituoso de sua conduta podem ser destinatários de sanções
jurídicas.
É fácil constatar, só por isso, qüe a base lógica que permite o funcionamento
imputações de fatos e sanções), tem a ver com a noção de livre arbítrio e culpa, no
que motivou a conduta lesiva do autor do dano, implica completa subversão de todo o
realidade inegável.
concepção objetivista) até a negação do caso fortuito e da força maior como eximentes
aprofundados debates.
normas. Bem por isso é que se pode falar da responsabilidade objetiva mais como uma
Os exemplos da legislação brasileira no campo da responsabilidade objetiva são bastante sintomáticos do que
se afirmou. A responsabilidade objetiva por danos causados em acidentes em estradas de ferro, por exemplo,
introduzida a várias décadas no ordenamento nacional, teve a sua adoção determinada pela introdução de um
■novo e perigoso• meio de transporte, que jà no primeiro quartel desse século vitimava extraordinariamente as
pessoas ainda não habituadas com os riscos inerentes àquele "prodígio0da tecnologia. Sem dúvida, a recepção
do princípio da responsabilidade objetiva nesse campo de atividade, veio para resolver, pela via da política
legislativa, uma situação de risco extraordinário e anormal. O mesmo pode ser dito em relação à adoção da
responsabilidade objetiva, já em 1977, relativamente às atividades de manipulação de energia nuclear. A partir
desses exemplos, e do mais que se consignou no corpo do texto, parece induvidoso que a adoção da
responsabilidade objetiva, como exceção ao esquema tradicional da responsabilidade subjetiva, constitui
instrumento de política legislativa que se destina a contrabalançar o risco extraordinário e anormal que exsurge
para a coletividade com a utilização de determinados métodos, técnicas e procedimentos.
subjetiva, é o risco que certas atividades ou condutas criam para a conservação e
raiz dessa motivação, que em seu conjunto de justificativas se pode chamar de Teoria
conseqüências danosas.
do custo de apropriação do recurso ambiental, ainda que quem dele se aproprie seja o
natural é como que separado de seu continente (as árvores do solo, o minério do
(nos termos do EIA ou de estudo técnico em seus moldes), como no caso de supressão
total, tolerável, inevitável, irreversível e permanente, o autor do dano, ainda que seja
a) um dano ambiental;
verificado.
6.3.1 O Dano
competentes.
no Brasil.
contábil o dano como passivo ou, pelo menos, contingência, decorre da submissão ao
sistema de leis comerciais vinculativas, que serão objeto de análise detalhada mais
(art. 37, "caput1), tomam imperativa a denúncia aos órgãos competentes (quando não a
ser tolerada.
mesmas advertências.
6.3.2 O Agente
como empresa comercial. Não obstante, toda e qualquer pessoa natural ou jurídica
apresenta aptidão genérica para figurar como agente do dano ambiental. Tanto a União
dano ambiental, desde que estejam direta ou indiretamente implicados na cadeia causal
que culminou na ocorrência do evento danoso. E esta é a razão pela qual se afirmou,
responsabilidade objetiva.
teoria da equivalência das causas, também vigente no campo do Direito Penal, com
universo de possíveis agentes, causou o dano, pode, por si, frustrar a intenção maior do
Explica-se.
O cidadão que habita a metrópole não pode ser obrigado a identificar, entre
um certo número de possíveis autores, aquele que cortou as árvores de uma reserva
florestal. Ou, entre um número imenso de possíveis poluidores, aquele que está
únicas defesas possíveis do suposto autor do dano (ou do demandado na ação própria,
que é a ação civil pública), estão ligadas à inocorrência do dano e à negativa da autoria.
convincentes, que o dano produzido era tolerável pela opção social de consenso,
algum elo da cadeia causal o demandado tiver tido qualquer tipo de participação ativa
ou passiva.
Para que não passe *in albis", há ainda a militar como possível defesa do
eximentes de responsabilização.
revela funcional quando está em jogo a tutela privilegiada do meio ambiente, entre
outros interesses.
6.3.5 A Solidariedade
persiga o fabricante do alimento contaminado, que pode, por hipótese, estar sediado em
sistema jurídico a que competiria respaldar os interesses da vítima, estaria lhe impondo
ônus intoleráveis que acabariam por agravar ainda mais a ofensa sofrida.
atendimento de uma demanda por bens e serviços, deverá ele, também, arcar com os
"A/f. 896 - A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes.11
6.3.6 As Eximentes
da legalidade da conduta, do caso fortuito e da força maior como causas que, em tese,
tempestivas licenças legais, mesmo esse agente haverá de arcar com a obrigação de
reparar o dano produzido. E esse dever persistirá ainda se o dano houver se produzido
responsabilidade objetiva. A culpa concorrente, como é óbvio, já não tem esse "efeito
colateral".
resultado danoso. Como já se viu, pela consideração da equivalência das causas, esse
afirmar
demonstração cabal desse nexo (de causalidade), tem-se sustentado que a relação de
Como conseqüência, o nexo causal pode ser dessumido de presunção simples, "da
a prova do nexo causal ó bem menos onerosa ao autor da ação de indenização. Basta
que se demonstre a existência do dano para o qual o risco da atividade exerceu uma
A transcrição da lição de Nelson Nery Junior, que por sua vez apoia suas
nexo causal, em casos onde está em pauta a aplicação da responsabilidade objetiva por
típico para tanto : a ação civil pública. A ação civil pública também é, como se viu, um
^ Nelson NERY Junior. Responsabilidade Civil e Meio Ambiente. Rev. Advogado, São Paulo, n. 37, p.38, set.
1992.
interesses de titularidade difusa, inovando significativamente a processualística
brasileira.
Essa ação civil pública, disciplinada pela Lei 7.347, de 24 de julho de 1985,
tem como uma de suas características a restrição de seu âmbito de eficácia cautelar,
que existam danos pessoais ou coletivos exsurgindo da mesma conduta, a ação civil
pessoa n a tu ra l^ :
‘Art. 5o. - A ação principal a a cautelar poderão ser propostas pelo Ministério Público,
pela União, pelos Estados e Municípios. Poderão também ser propostas por autarquia,
^ Dada a amplitude que a tutela legal do meio ambiente apresenta no Brasil, a legitimação da pessoa natural
Interessada parece ser de extrema conveniência. Não fosse o caso, por alguma razão ligada ao caráter difuso do
interesse posto em juízo, de se reconhecer à pessoa natutrai tal legitimidade, a lei deveria, peio menos, à
exemplo da legislação processual penal, admitir que o particular, já em juízo, provocasse a atuação do Ministério
Público para, como substituto processual da coletividade, desencadear a ação. Embora o inquérito civil,
disciplinado peia mesma Lei 7.347/81, em certa medida pretenda suprir esse papel, o Ministério Público
(autoridade à qual incumbe a instauração do inquérito) goza de discricionariedade para o arquivamento da
investigação. Ademais, não há previsão de iniciativa subsidiária da parte interessada, na hipótese de inação do
órgão competente (como ocorre em casos de ilícitos penais que autorizam a instauração de ações penais
públicas, com as quais aqui se traça um paralelo).
II - Inclua, entre as suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao
encontrou no Ministério Público uma instituição apta, pelo menos em tese, para cumprir
I-O-);
II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública
sua g a ra n tia ^ ;
Já M defendeu em outro lugar que a Constituição, ao se referir, no art. 225, inciso IV, ao 'Poder Público',
estava na verdade se reportando ao Estado-Administração, não cabendo ao Ministério Público, em substituição
processual da coletividade difusa de interessados, propor ação civil pública para reivindicar o cumprimento dos
deveres prescritos ao administrador naquele dispositivo constitucional. A dicção desse inciso II, do art. 129
confirma o quanto se consignou, eis que deixa clara a legitimação do Ministério Público para a propositura das
"medidas necessárias" à garantia, pelo poder público, dos direitos assegurados na Constituição. Ora, ó direito da
própria administração decidir sobre a exigência de Estudo de Impacto Ambiental ao proponente de projeto, obra
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio
IV
(~ r
bem ambiental estiverem sendo atingidos por dano ou ameaça de dano, o Ministério
(que constitui exceção ao princípio do art. 6o. do Código de Processo Civil), poderá
tende a ser encarada como uma verdadeira “panacéia universal", que esse instrumento
provável, pode ensejar a propositura da ação, ainda que se admita que ela se destine a
cominação só poderá versar sobre obrigação que possa evitar o dano provável.
uma ação civil pública, deve envolver pretensão cautelar, cominatória ou condenatória
Fora dessa hipótese e em razão do interesse público que avulta na ação civil
pública, o órgão ministerial atuará, sempre que não for parte, apenas como fiscal da lei
artigos que tratam da instauração do inquérito civil que, para arquivamento, reclama
fundamentadamente.
serão remetidos, sob pena de se incorrer em falta grave, no prazo de 3 (três) dias, ao
regimento.
ajuizamento da a ç ã o /
6.5.2.2.1.1 A Obrigatoriedade
Público (e de outras partes legitimadas para a sua propositura), hoje discutida por parte
da doutrina, é outra das características da ação civil pública. Contudo, por ser uma nota
Nada mais natural, eis que serão os órgãos ambientais das mesmas
É estranhável, apenas, que o art. 5o. da Lei dos Interesses Difusos não
tenha listado o Distrito Federal como parte legítima para a propositura da ação.
Fundações e Associações
órgãos ambientais federais e estaduais estão, em regra, constituídos sob essa forma
jurídica5**.
se pode enxergar qualquer motivação explícita para a legitimação outorgada por lei.
55 é o caso do IBAMA - Instituto Brasilsiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, e do IAP •
Instituto Ambiental do Paraná.
Tratam-se de entidades para-estatais que, em tudo, regem-se pelo direito privado,
legitimadas, sem qualquer tipo de restrição, para a propositura da ação civil pública,
privadas, ou pelo menos aquelas que tem objeto comercial ligado direta ou
restrições que, pelo menos ao que se dessume do texto legal, não oneram as outras
56 Não 6 demais lembrar, nesse particular, que as sociedades anônimas abertas, por força do fato de captarem
poupança pública atravós da venda de ações no mercado de bolsa ou balcão, sofrem (ou deveriam sofrer)
intervenção direta de mecanismos legais e administrativos cujo objetivo ó a sua fiscalização. Como se abordará
adiante, em outros países (como nos EUA), o órgão equivalente à CVM - Comissão de Valores Mobiliários,
conhecido como SEC - Securities Exchange Comission, fiscaliza de perto a atuação concreta e financeira de
sociedades anônimas ( “pubtic compartes"), no que foca ao cumprimento da legislação ambiental. Seria pensável,
face ao evidente interesse público que induvidosamente se evidencia no bom funcionamento das sociedades
anônimas, que elas próprias, seus acionistas ou administradores, pudessem propor ações civis públicas, na
preservação de seus próprios interesses e dos interesses da companhia. A ação de responsabilidade civil de
administradores, regulada pelos arts. 159 e seguintes da Lei 6.404/76, oferece importante precedente para a
reflexão. Releva consignar, no mesmo sentido, que há previsão específica de solidariedade passiva ampla, no
caso de quebra do dever do administrador e acionista, quanto à obrigação de indenizar. Da parte do autor não há
dúvida de que as normas da Lei 6.404/76 (sobretudo os arts. 152 e seguintes), combinadas com as normas da
responsabilidade objetiva por danos causados ao meio ambiente e do art. 1.518 do Código Civil Brasileiro,
comprometem gravemente, ao nível da obrigação de reparar, todos os acionistas, administradores e conselheiros
fiscais de sociedade anônima que pratique dano ambiental.
Com efeito, é bastante nítida a tendência da sociedade civil no sentido de se
pálio da Lei Civil, há pelo menos um ano da data da propositura da ação e voltadas
estatutariamente à defesa do meio ambiente, estão legitimadas para o uso da ação civil
“Art. 18 - Nas ações de que trata essa Lei não haverá adiantamento de custas,
®7 Diz-se que o artigo transcrito beneficia, preponderantemente, as associações civis em razão de que o
Ministério Público e a Fazenda Pública já gozam de benefício similar por força da previsão do art. 27 do Código
de Processo Civil que, aliás, aplica-se subsidiariamente á ação civil pública (art. 19). Quanto as autarquias, por
causa da vinculação financeira ao orçamento (do que decorre uma indisponibiiidade de recursos para o
pagamento de verbas contingenciais) tende-se a aplicar os mesmos favores processuais que se concede à
Fazenda Pública. Já para as empresas públicas, fundações e sociedades de economia mista o problema não se
põe com especial ênfase. Tais pessoas, por gozarem de um regime jurídico de direito privado, não sofrem
restrições maiores quanto ao desembolso de verbas das quais dispõe abundantemente.
Outro dispositivo da Lei n. 7.347/85 que parece ter sido incluído como forma
"As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo
Obviamente que o dispositivo aplica-se a casos em que, por ser local o dano
entende aplicável também à tutela do meio ambiente e, por conseqüência, à ação civil
pública que vise atuá-la (art. 117 do CDC), dispõe que são competentes os foros da
Capital do Estado ou do Distrito Federal, conforme as ações tenham por objeto danos
competência territorial, isto é, enquanto o art. 2o. da Lei n. 7347/85 trata da competência
dano for de tal magnitude que seu evitamento ou atuação interesse à toda comunidade
competência territorial será a do Distrito Federal. Se, pelos mesmo critérios, o dano for
Se, por último, for de interesse da comunidade habitante de uma única Comarca, o foro
empresas públicas. Nos demais casos a Justiça Estadual deterá competência para
Muitas vezos, dada a inter-relação de interesses administrativos sobre a questão da gestão ambiental, peia
qual proliferam convênios entre aa diversas pessoas políticas para a viabilização do poder de polícia, o interesse
da União e de autarquias federais ó praticamente irrecusável. Os exemplos do quanto se afirma são conspícuos
na área florestal. Daí porque se observa uma tendência de serem propostas as ações civis públicas, já no foro
federal, configurando-se freqüentemente o litisconsórcio passivo entre pessoas políticas de diferentes níveis
(normalmente a União e o Estado). Trata-se de solução mais prática e econômica do que o ingresso perante a
Justiça Estadual que, com probabilidade que varia conforme a natureza da matéria versada na ação, poderá
declinar da competência em favor da Justiça Federal.
m
Art. 1 7 - 0 juiz condenará a associação autora a pagar ao réu os honorários
6.5.2.2.5 A Indisponibilidade
pública por que é difusa a titularidade dos interesses nela disputados pela parte ativa.
Não por acaso, a legitimidade para ajuizar a ação recaiu em pessoas políticas e
interdita às partes em litígio a disposição sobre os termos em que este deverá ser
em relação à ação civil pública em análise mas está erigido em princípio basilar no
âmbito do Direito Público, algumas noções ideológicas que, de resto, sustentam
quem competiria a fiel execução das leis, ou o Legislativo, passando-se por instituições
eles está vedada a transigência, pela simples razão de que o consenso dos reais
com a aplicação do princípio do "pacta sunt sen/anda", pressuposto lógico que, segundo
piramidal.
percurso de caminho inverso ao pressuposto pelo sistema jurídico para vedá-las (o que
acordos para composição de conflitos entre particulares e o Estado, por exemplo, esse
percurso cumpre, passo a passo, a inversão retórica do alicerce lógico que sustenta o
sistema.
dado fazer o que está, estritamente, previsto na lei), há a edição de lei formal ou
material permissiva do acordo, em certas condições cuja aferição, em regra, é
está atuando com poder de império ("jus imperii*), mas em situações em que ele atua
justo preço). Nessas circunstâncias é até natural que se reconheça ao Estado, por
indisponibilidade.
legitimadas a propor a ação civil pública, sabe-se perfeitamente bem que nenhuma
associação civil, por mais pródiga em número de membros e anos de atuação, pode, de
cujas raízes históricas situam-se bem longe das nascentes populares, inclusive pelo
o caso, entre várias possíveis. Veja-se, a propósito, que o próprio EIA reserva espaço
aplicável à defesa do meio ambiente, no que for cabível, todas as disposições do seu
Livro III, referente à defesa do consumidor em juízo, e entre essas está a possibilidade
de celebração de compromisso, aliás incluída como parágrafo 6o., no art. 5o. da Lei
Armelin:
"A ação civil pública pode terminar em primeiro grau de jurisdição com sentença
irrecorrida. Mas pode se findar através de acordo. Este, por expressa autorização legal,
(...)
obrigações de dar coisa infungível e de fazer ou de não fazer, tal como sucede com o
Causas. 159
A derrogação do princípio da indisponibilidade, operada pelo Código de
conformam a esse perfil, vale dizer, dificilmente poderão ser considerados, sob qualquer
sob a influência de uma ótica muito própria : a dos membros do Ministério Público. É
notória (e notável) a contribuição que uma certa elite cultural do órgão, sobretudo
oriunda do Estado de São Paulo, prestou para o desenvolvimento do diploma. Com isso,
e certamente não conscientemente, certos dispositivos foram cunhados como que "sob
Armelin, Donaido. Tutala Jurisdicional do Me» Ambiente. Revista do Advogado. Associação dos Advogados
de São Paulo, n. 37, p. 59.
O lado positivo disso está nas evidentes vantagens que, em certos casos
dessas vantagens.
Não fosse isso, por si, um dado de extrema relevância para a reflexão em tomo da
Por último, ainda, deve-se convir para o fato de que os conflitos típicos do
Quer-se referir aqui a casos em que o dano ê evitado por acordos ou, se já produzido, resta revertido em
razão delas. Ora, se a questão se resume à, tão somente, reparar as conseqüências adversas do dano, ou evitar
que elas se produzam, o acordo se impõe por decorrência do bom senso. A maioria dos casos, entretanto, além
de se referirem a danos já produzidos e de reparação impossível, apresentam aspectos profundamente
complexos quanto às possibilidades de contenção de seus efeitos adversos, tanto ao nível social, quanto
econômico e, propriamente, ambiental. Quando em presença de tais casos, o acordo pode ser um instrumento
deletério, pelo simplismo das soluções que poderá alvitrar. Deixar, por outro lado, ao arbítrio de umas poucas
partes, ainda que privilegiadas, o encontro da solução, ó ainda mais perigoso.
ao mercado), são essencialmente diferentes destes, oportunizando soluções também
diferenciadas. Portanto, o que se considera solúvel por acordo, no campo da tutela das
relações de consumo, pode não ser no campo da tutela ambiental. Como conseqüência,
pública via do art. 113 do Código de Defesa do Consumidor, pode-se dizer que vigora,
*A sentença civil fará coisa julgada "erga omnes", exceto se a ação for julgada
cominações que forem objeto da ação, a sentença que der pela procedência ou
reflete aquilo que, no curso da instrução probatória, foi possível apurar quanto a
aferido, por impossibilidade técnica, durante a instrução probatória de uma ação civil
campos (o da ação de alimentos e o da ação penal, por exemplo), a sentença tenha sua
frustrar os objetivos a que a ação civil pública, como instrumento processual de tutela do
dependem, em larga escala, do tipo de procedimento técnico utilizado pelo projeto, obra
são muito próprias do campo de atividades humanas que a tutela jurisdicional do meio
ambiente visa atuar com seus mecanismos preventivos, repressivos e repristinatórios,
exigem que as sentenças proferidas em sede de ação civil pública por danos ao meio
de descarga, pode estar sujeita, hoje, a uma revisão da parte dispositiva da sentença,
eis que novos equipamentos podem, em tese, reduzir ao grau mínimo - ou mesmo
intoleráveis de contaminação.
medida, a cláusula *rebus sic stantibus* receber particular atenção e interpretação, eis
meio ambiente.
6.5.2.2.7 A Imprescritibilidade
Outra questão, que embora apresente certa semelhança com a anterior não
várias frentes.
ações civis públicas, de incidência bastante comum nos meios forenses, do "direito
empresas há muitos anos poluentes, sem que, até o momento de uma eventual
pela qual uma região até então predominantemente industrial ou erma passa a servir de
equipamentos de controle de poluição não existentes até então etc. Não obstante, a
defesa da atividade poluidora principiará sempre pela seguinte fórmula : "mas a fábrica
sujeitá-la a restrições ?
exigências que, por via de lei material ou formal, forem impostas aos respectivos
suportabilidade e "standards" com base nos quais uma dada atividade foi licenciada.
juízo que a coletividade fizer das condições de desenvolvimento que melhor lhe convêm.
Logo, o que até a pouco tempo não era considerado dano ambiental, pode passar a ser
poderá ser atuado por outra ação (ou pela mesma ação), após o decurso de período
Para os casos em que não houve ação civil pública e que os danos são
revertido), o dano continuará a ser atuàvel pela ação civil pública, pois seus efeitos
Ora, sabe-se que para o titular do direito ofendido, o direito de ação nasce
penal privada, tudo fica relativamente simples. Mas se o que está em jogo é o interesse
Parece ser plausível a defesa da idéia de que a ação que tutela o interesse
difuso, como ocorre com a ação que tutela o interesse do menor, do tutelado ou do
curatelado, não está sujeita à prescrição. Afinal, como se assinalou por ocasião da
noção de sustentabilidade que subjaz à tutela jurídica do meio ambiente tem como
locupletamento das futuras gerações. Se ó certo que, pelas regras em vigor, contra os
menores a prescrição não corre, que dirá em relação aos que sequer nasceram...
imprescritível.
7 O El A E A DEFESA DA CONCORRÊNCIA
escala, provocam prejuízos que se refletem negativamente desde o nível macro até o
Marcado, segundo a definição de Josó Luiz Bulhões Pedreira, "ó o conjunto de agantss econômicos inter-
relacionados como figurantes em trocas de determinado objeto. A palavra ó empregada também para denotar o
local em que os agentes econômicos se encontram para efetuar trocas(...). Os dois papéis essenciais do sistema
social do mercado são os de vendedor e comprador, que podem ser desempenhados pelos agentes que
produzem e usam (ou consomem) o objeto trocado, ou por intermediários, que compram para revender. São
funções dos intermediários (a) facilitar as trocas entre produtores e consumidores finais, (b) manter a
continuidade do mercado (vendendo ou comprando quando não há oferta de produtores ou consumidores) e (c)
reduzir as diferenças de preço no tempo e entre mercados. O mercado não é formado apenas pelos agentes que
efetivamente figuram nas trocas realizadas durante determinado período, mas compreende os papéis de
vendedor e comprador em potencial: participam de cada mercado (a) todos os agentes que tem as mesmas
fontes possíveis de fornecimento do objeto das trocas e (b) as fontes de fornecimento para as quais esses
agentes são os únicos compradores possíveis. A delimitação de cada mercado baseia-se, portanto, na definição
do conjunto de vendedores em potencial aos mesmos compradoresm(Pedreira, José Luiz Bulhões. Finanças e
Demonstrações Financeiras da Companhia : Conceitos e Fundamentos. Rio de Janeiro, Forense, 1a. edição,
1989, pp. 30/31).
A defesa da concorrência é matéria jurídica recente, se se tomar como
concorrência do mercado. Não é por outra razão, inclusive, que o art. 170 da
conjunto de normas de política económica visando certos objectivos tais como um alto
"As regras da concorrência dos nossos dias não se limitam a defender o mercado como
63 Cabral da Moncada, Luís S. Direito Económico. Coimbra. Coimbra Editora, Limitada. 2a. adição, 1988, p.
312/313.
eficiente. A defesa da concorrência é levada a cabo por que se acredita ser ela o melhor
económica. ‘
livre que, seleccionando os mais capazes, logra orientar a produção para os setores
ao mesmo tempo, a mais eficiente afectação dos recursos económicos disponíveis, que
ó como quem diz, os mais baixos custos e preços. A concorrência é assim encarada
informação económica quer ao nível do consumidor quer ao nível dos produtores, assim
de política económica."
Há por traz das razões jurídicas e econômicas tão bem enfatizadas pelo
oligopolizados, que podem influir (e de fato influem) "dirigindo'', com políticas artificiais
Nesse sistema, trabalha-se com a idéia de dano potencial (e não de dano real) que deve
comportamento dos agentes econômicos. Por essa razão ele envolve o controle e
No âmbito da tutela ambiental, que sem dúvida tangência, por seu caráter
aplicação no Brasil.
O sistema da proibição pode ser identificado nas restrições rígidas e
território nacional (art. 225, inciso VI, parágrafo quarto, da Constituição Federal e leis
esparsas).
ambiental.
8 O E IA E AS OBRIGAÇÕES AMBIENTAIS DA EMPRESA COMERCIAL
8.1 INTRODUÇÃO
funcionais em relação a todo o sistema de tutela ambiental e para além dele. Aliás, o
objetivo.
COMERCIAL
Ao contrário.
deveres de ordem ética e legal que vinculam a empresa comercial que opera atividades
indubitavelmente, à empresa.
identificação dos ônus gerais e não indenitários (mas tão somente preventivos) que a
Nesse caso, tanto sob a forma da repristinação do ambiente degradado ao “status quo
reparação do dano ambiental), até porque se apresentam como duas faces de uma
contexto que apresenta inúmeras e complexas relações de várias ordens, que já ficaram
de sua atividade mercantil e dar-lhes a publicidade que, em cada caso, seja adequada,
a empresa está cumprindo um dever que satisfaz a interesses seus, do Estado, da
mercantil:
expressamente exigido por este Código, dentro de quinze dias úteis da data dos
mesmos documentos (art. 31), se maior ou menor prazo não se achar marcado neste
Código.
pertencentes ao giro de seu comércio, enquanto não prescreverem as ações que lhe
papéis de crédito, e outra qualquer espécie de valores, e bem assim todas as dívidas e
Art. 12. No Diário é o comerciante obrigado a lançar com individuação e clareza todas as
suas operações de comércio, letras e outros quaisquer papéis de crédito que passar,
alheia conta, seja por que título for, sendo suficiente que as parcelas de despesas
comerciantes de retalho deverão lançar diariamente no Diário a soma total das suas
vendas a dinheiro, e, em assento separado, a soma total das vendas fiadas no mesmo
dia.
4), devendo aquele conter todas as verbas deste, apresentando cada uma verba a soma
total das respectivas parcelas; e será assinado na mesma data do balanço geral.
(...)*
escrituração contábil que, minimamente, reporte "em geral, tudo quanto receber e
despender de sua ou alheia conta, seja por que título for* (art. 14 - Livro Diário), bem
O Copiador da cartas teve sua obrigatoriedade abolida pelo art. 11 do Decreto-Lei n. 466, de 03.03.69.
Os dispositivos do Código Comercial, contudo, destinam-se à interpretação
integrativa com outros dispositivos de outros diplomas esparsos. Nesse ponto, não só a
mercantil, impõe que a disciplina normativa das matérias de comércio se faça de forma
difusa e esparsa, sendo natural que leis posteriores, ainda que aparentemente
que muito bem exemplifica a tendência citada, traz importantes subsídios de ordem
detalhes, mais adiante, da situação específica das sociedades anônimas, com menção
por analogia aos demais tipos de sociedades comerciais, e, por força da legislação do
do imposto, tributadas com base no lucro real. Pode ser aplicado ainda, com pequenas
produçãcfiS. *
Por sua vez, as leis ordinárias que disciplinam o Registro do Comércio,
demasiado obtemperar, aqui, que os órgãos registrais do comércio são sucessores dos
sobretudo quando for detectada alguma afronta à Lei e à ordem pública. Confira-se o
*Ementa Oficial: Junta Comercial. Limites de atuação da Junta Comercial como órgão
Demonstrações Financeiras, segundo o mesmo autor, ‘São quadros elaborados com base em escrituração
mercantil e acompanhados de notas explicativas que apresentam, de modo resumido e com disposição que
facilita sua compreensão, informações quantificadas sobre o património da companhia. Esses quadros são
designados demonstrações porque revelam, ou dão a conhecer, aspectos do patrimônio, e são financeiros porque
fornecem informações sobre as finanças da companhia" (Bulhões Pedreira, José Luiz. Finanças e
Demonstrações Financeiras da Companhia, op. cit., p. 627/628).
"Compete à Junta Comercial verificara legalidade dos contratos trazidos a arquivamento
sociedade, ou relativas aos bons costumes, ou que visem a acautelar eventuais direitos
de terceiros. Nestes casos, poderá negar arquivamento aos contratos ofensivos a tais
princípios ou interesses. ‘
(...)
que:
“É o Registro de Comércio, destarte, guardião da Lei. Não mais do que isso. Cumpre-
"É preciso compreender que, (...), as Juntas Comerciais funcionam como tribunal
Mas essa função não é jurisdicional, pois as juntas possuem apenas competência para
o exame formal desses atos e documentos. Assim, p. ex., têm elas competência para
que são extremamente sutis os limites existentes entre o exame formal da legalidade
Judiciário (pois é cediço o princípio segundo o qual não se pode subtrair do exame do
Poder Judiciário as lesões ao direito individual, coletivo ou difuso), não pode haver
dúvida que, velando pela ordem pública e pelo interesse privilegiado de terceiros, o
Comercial dos atos de escrituração contábil e mercantil que se provam mediante livros e
dos serviços da Junta, bem como das formalidades adicionais de que devem se revestir
os livros comerciais, da qual se dessume, ainda com maior clareza, a consistência das
anotações.
É obrigatória, portanto, a manutenção de registros contábeis e mercantis
obrigação compete à Junta Comercial, por ocasião da autenticação de tais livros, sem a
qual eles tem minimizada a sua força probante em favor da empresa. Aliás, os livros
seu passivo ambiental, na forma indicada pelo Estudo Prévio de Impacto Ambiental e
conforme o tipo de dano identificado pelo EIA e o tipo de indenização que, face ao dano,
mais rigoroso.
à sociedade anônima, ver-se-á que os deveres que vinculam o administrador frente aos
sócios, sobretudo no modelo "quase-público" da S/A, oportunizam uma ótica toda
por deveres formais, expressos com detalhes na Lei do Anonimato®®, deveres estes
Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976, dispõe sobre as sociedades por ações."Seção IV. Deveres e
Responsabilidades. Dever de Diligência. Art. 1 5 3 - 0 administrador deve empregar, no exercício de suas funções,
o cuidado e a diligência que todo homem probo costuma empregar na administração dos seus próprios negócios.
Finalidade de Atribuições e Desvio de Poder. Art. 1 5 4 - 0 administrador deve exercer as atribuições que a Lei e o
estatuto lhe conferem para lograr os fins e no interesse da companhia, satisfeitas as exigências do bem público e
da função social da empresa. Parágrafo Primeiro - O administrador eleito por grupo ou classe de acionistas tem,
para com a companhia, os mesmos deveres que os demais, não podendo, ainda que para a defesa do interesse
dos que o elegeram, faltar a esses deveres. (...) Dever de Informar. Art. 157 - (...) Parágrafo Primeiro - O
administrador da companhia aberta ó obrigado a revelar à assembléia geral ordinária, a pedido de acionistas que
representem 5% (cinco por cento) ou mais do capital social: a) (...); b) (...); c) (...); d) (...); e) quaisquer atos ou
fatos relevantes nas atividades da companhia. Parágrafo Segundo - (...) Paragrafo Terceiro - A revelação dos
atos ou fatos de que trata este artigo só poderá ser utilizada no legítimo interesse da companhia ou do acionista,
respondendo os solicitantes pelos abusos que praticarem. Parágrafo Quarto - Os administradores da companhia
aberta são obrigados a comunicar imediatamente à bolsa de valores e a divulgar pela imprensa qualquer
deliberação da assembléia geral ou dos órgãos de administração da companhia, ou fato relevante oconido nos
seus negócios, que possa influir, de modo ponderável, na decisão dos investidores do mercado de vender ou
comprar valores mobiliários emitidos pela companhia. Parágrafo Quinto - Os administradores poderão recusar-se
a prestar a informação (parágrafo primeiro, g), ou deixar de divulgá-la (parágrafo quarto), se entenderem que sua
revelação porá em risco interesse legítimo da companhia, cabendo à Comissão de Valores Mobiliários, a pedido
dos administradores, de qualquer acionista, ou por iniciativa própria, decidir sobre a prestação de informação e
responsabilizar administradores, se for o caso. Responsabilidade dos Administradores. Art. 1 5 8 - 0 administrador
não ó pessoalmente responsável pelas obrigações que contrair em nome da sociedade e em virtude de ato
regular de gestão; responde, porém, civilmente, pelos prejuízos que causar, quando proceder. I - dentro de suas
atribuições ou poderes, com culpa ou dolo. II - com violação da lei ou do estatuto. Parágrafo Primeiro - O
administrador não ó responsável por atos ilícitos de outros administradores, salvo se com eles for conivente, se
negligenciar em descobrí-los ou deles tendo conhecimento deixar de aagir para impedir a sua prática. Exime-se
de responsabilidade o administrador dissidente que faça consignar sua divergência em ata de reunião do órgão
de administração ou, não sendo possível, dela dê ciência imediata e por escrito ao órgão da administração ou,
não sendo possível, ao conselho fiscal, se em funcionamento, ou à assembléia geral. Parágrafo Segundo - Os
administradores são solidariamente responsáveis pelos prejuízos causados em virtude do não-cumprimento dos
deveres impostos por lei para assegurar o funcionamento normal da companhia, ainda que, pelo estatuto, tais
deveres não caibam a todos eles. Paragrafo Terceiro - Nas companhias abertas a responsabilidade de que trata o
parágrafo segundo ficará restrita, ressalvado o disposto no parágrafo quarto, aos administradores que, por
disposição ck> estatuto, tenham atribuição específica de dar cumprimento àqueles deveres. Parágrafo Quarto - O
administrador que, tendo conhecimento do não-cumprimento desses deveres por seu predecessor, ou peio
administrador competente nos termos do parágrafo terceiro, deixar de comunicar o fato à assembléia geral,
tomar-se-á por ele solidariamente responsável. Parágrafo Quinto - responderá solidariamente com o
administrador quem, com o fim de obter vantagem para si ou para outrem, concorrer para a prática de ato com
violação da lei ou do estatuto. Ação de Responsabilidade. Art. 159 - Compete à companhia, mediante previa
deliberação da assembléia geral, a ação de responsabilidade civil contra o administrador, pelos prejuízos
causados ao seu patrimônio. Parágrafo Primeiro - A deliberação poderá ser tomada em assembléia geral ordinaria
E fácil constatar, não só pela leitura dos dispositivos de lei que se
prescrições, que aos administradores das sociedades anônimas não se faculta qualquer
duras, não permite espaço de transigência aos destinatários e atingem até mesmo
quando existentes).
aplicam, por analogia expressamente aconselhada pela Lei (art. 18, do Decreto n.
e, 36 prevista na ordem do dia, o for conseqüência direta de assunto neta incluído, em assembléia gerai
extraordinária. Parágrafo Segundo - O administrador ou administradores contra os quais deva ser proposta a
ação, ficarão impedidos e deverão ser substituídos na mesma assembleia. Parágrafo Terceiro - Qualquer
acionista poderá promover a ação, se não for proposta no prazo de 3 (três) meses da deliberação da assembléia
geral. Parágrafo Quarto - Se a assembléia deliberar não promover a ação, poderá ela ser proposta por acionistas
que representem 5% (cinco por cento), pelo menos, do capital social. Parágrafo Quinto - Os resultados da ação
promovida por acionista deferem-se à companhia, mas está deverá indenizá-lo, até o limite daqueles resultados,
de todas as despesas em que tiver incorrido, inclusive correção monetária e juros dos dispêndios realizados.
Parágrafo Sexto - O juiz poderá reconhecer a exlcusão da responsabilidade do administrador, se convencido de
que esse agiu de boa-fó e visando ao interesse da companhia. Parágrafo Sétimo - A ação prevista nesse artigo
não exclui a que couber ao acionista ou terceiro diretamente prejudicado por ato de administrador. Órgãos
Técnicos e Consultivos. Art. 160 - As normas dessa seção aplicam-se aos membros de quaisquer órgãos criados
pelo estatuto, com funções técnicas ou destinados a aconselhar os administradores. (...) Capítulo XIII. Conselho
Fiscal. (...) Art. 165 - Os membros do conselho fiscal tem os mesmos deveres dos administradores de que tratam
os arts. 153 a 156 e respondem pelos danos resultantes de omissão no cumprimento de seus deveres e de atos
praticados, com culpa ou dolo, ou com violação da lei ou do estatuto. Parágrafo Primeiro - O membro do conselho
fiscal não é responsável pelos atoe ilícitos de outros membros, salvo se com eles for conivente ou se concorrer
para a prática do ato. Parágrafo Segundo - A responsabilidade dos membros do conselho fiscal por omissão no
cumprimento de seus deveres, ó solidária, mas dela se exime o membro dissidente que fizer consignar sua
divergência em ata da reunião do órgão e a comunicar aos órgãos da administração e à assembléia geral.
3.708, de 10 de janeiro de 1919, conhecido como a *Lei das Limitadas*), aos
por danos ambientais pagas no exercício (art. 178, parágrafo segundo, letras a e b -
contas do *passivo exigível1), assim como uma reserva para contingências, constante da
assembléia geral pelos órgãos de administração (art. 192 e 195), proverá o suficiente
para o pagamento das indenizações ambientais tidas por prováveis para os exercícios
dano ambientai causado (art. 177, parágrafo segundo, normas sobre “registros
auxiliares*).
ao lucro líquido do exercício. (...) Reservas para Contingências. Art. 195 - A assembléia geral poderá, por
proposta dos órgãos da administração, destinar parte do lucro líquido à formação de reserva com a finalidade de
compensar, em exercício futuro, a diminuição do lucro decorrente de perda julgada provável, cujo valor possa ser
estimado. Parágrafo Primeiro - A proposta dos órgãos da administração deverá indicar a causa da perda prevista
e justificar, com as razões de prudência que a recomendem, a constituição da reserva. Parágrafo Segundo - A
reserva será revertida no exercício em que deixarem de existir as razões que justificarem a sua constituição ou
em que ocorrer a perda.
8.4 O CONTROLE DO PASSIVO AMBIENTAL DA EMPRESA
compulsória e denúncia do passivo ambiental, ele pode ser utilizado, e com toda a
de todo o texto, ademais, louvou-se a intemalização como medida de bom senso capaz
como instrumento de gestão e controle ambiental, que deve ser explorada ao máximo
pela empresa que, em última análise, arcou com os custos de sua confecção.
vez mais o planejamento estratégico e seus instrumentos^ , no Brasil de hoje ela deve
concentrar sua atenção aos fatores de análise que acusam, no âmbito do EIA, os
Porque não assumir, portanto, o controle desse passivo para, dentro da Lei,
gestão de riscos ambientais que pode ter como ponto de partida o próprio EIA, a
ambientais aleatórios e sem qualquer controle, pode ser trocada pela assunção dos
trazer.
ambiental, que na verdade reflete o avanço geral de toda uma concepção econômica
empresas à prática da sonegação, o velho e imoral conceito do "nada pagar* vem sendo
dos princípios éticos e legais mostra-se indispensável. O ideal ético tende, no passo da
bom senso. O capitalismo parece finalmente ter se apercebido que só a sustentação dos
assumindo as rédeas do controle dos custos ambientais a própria empresa. Assim como
para atualizar e monitorar o cumprimento das normas respectivas, a empresa que adota
o SIGRA se antecipa à atuação das instituições e, com ampla publicidade (que nesse
que são como que “catalisados" pela dimensão ambiental que o EIA explora, está
corporativas etc., devem estar de tal modo integradas no SIGRA que permitam um
entrelaçamento de decisões.
público e privado e permitindo seu tratamento científico segundo uma ótica unívoca.
O raciocínio dito "problemático”, por sua vez, orientado pela tópica e pela
através de um sistema aberto e de feição elíptica que busca, entre várias, a melhor
solução possível para problemas e questionamentos postos, é possível a
AMBIENTAL
AMBIENTE SUSTENTADO
Revela-se como um direito que tutela um interesse imaterial, uma justa e legítima
em seu todo. O indivíduo, seja animal, mineral ou vegetal, é tutelado na exata medida
se harmonizar com o meio natural. Por isso, o *estado do meio ambiente* e os ajustes
necessários para o seu equilíbrio ideal só podem ser alcançados mediante verificações
técnicas e em consideração da situação concreta e presente do uso efetivo dos recursos
ambientais. Não há, em outras palavras, meio ambiente "ideal" a ser tutelado. Segundo
AMBIENTAL
conceito de impacto ambiental, conforme a previsão do art. 3o. da Lei 6.938/81 e do art.
Uma vez fixado o seu conceito, o dano ambiental pode ser classificado
OBJETIVA
impactos e danos ambientais de uma dada obra, atividade ou projeto. O mesmo ocorre
solidários.
repressão ao abuso (ligado ao sistema da "rule of reason"), o EIA tem função de defesa
in".
"passivo financeiro", a saber: (i) passivo não-financeiro - (a) dever de monitorar o estado
deveres, sob pena, nas três hipóteses, de responsabilização civil da empresa e seus
administradores, (ii) passivo financeiro - dever de indenizar os danos ambientais
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