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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

PRIMEIRA AVALIAÇÃO DA DISCIPLINA DE PRÉ-HISTÓRIA

Discentes: Anna Luisa dos Santos Dias


Yuri Cavalheiro das Neves
Disciplina: Pré-História (HUM03123)
Docente: Adriana Schmidt Dias

PORTO ALEGRE
2023
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Neste Ensaio pretende-se avaliar o capítulo Modos de Vida Na América: Povos do Atual
Território Brasileiro, inserido no livro didático intitulado Araribá Conecta: História da
editora Moderna, destinado ao estudo da disciplina de História para o sexto ano do Ensino
Fundamental. Discutiremos se o livro cumpre ou não os requisitos da Lei 11.645 de 2008 e a
habilidade EF06HI08 da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Dissertaremos também
a respeito das fendas existentes na lei já citada e possíveis alternativas para minimizar
problemas relacionados à estrutura estudantil do Brasil.
A Lei 11.645/2008 (que é uma atualização da Lei 11.645/2003) foi criada a partir do
reconhecimento da diversidade existente na sociedade brasileira. Torna-se vigente então a
obrigatoriedade do estudo da história e cultura indígena e afro-brasileira durante o Ensino
Fundamental e Médio. A Lei passa a vigorar com a seguinte redação:

O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da
cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos
étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos
indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da
sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política,
pertinentes à história do Brasil. (BRASIL, 1996, Art. 26)

Percebe-se que a Lei não possui alguma especificidade em relação à quantidade de povos
indígenas que devem ser trabalhados em sala de aula e a carga horária necessária para
aprofundamento das culturas indígenas e sua contribuição para a formação do Estado
brasileiro. Contudo, a Lei não opera sozinha na determinação de conteúdos para serem
abordados em sala de aula: há também a BNCC.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de caráter normativo que
define o conjunto de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao
longo da Educação Básica. Neste ensaio analisaremos a presença ou falta da habilidade
EF06HI08 que possui como objeto de conhecimento os povos indígenas originários do atual
território brasileiro e seus hábitos culturais e sociais:

EF06HI08: Identificar os espaços territoriais ocupados e os aportes culturais, científicos,


sociais e econômicos dos astecas, maias e incas e dos povos indígenas de diversas regiões
brasileiras. (BNCC, 2023)

Realizados os apontamentos iniciais, partiremos para a discussão em torno do livro


didático. Inicia-se o capítulo com a discussão acerca das rotas percorridas pelos seres
humanos para chegar às Américas e se existe um consenso no tópico entre os cientistas.
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Também há uma descrição breve e generalizada da vida destas sociedades que há muito se
estabeleceram nas terras americanas:

Mas, apesar das diferenças, também podemos dizer que havia semelhanças entre os modos de
vida desses povos. Em geral, eles se organizavam em grupos bastante reduzidos, praticavam a
caça, a pesca e a coleta de vegetais, como frutos e raízes, e levavam uma vida nômade,
deslocando-se constantemente em busca de alimentos. Além da pedra, outros materiais, como
ossos, madeira, fibras vegetais e peles, eram utilizados na confecção de abrigos, casas,
vestimentas e instrumentos de trabalho. (MODERNA, 2022, p. 49)

Nota-se que não há aprofundamento na abordagem e a qualidade de povo nômade e


coletor é aplicada de forma demasiadamente simplista. Também não são mencionados os
nomes dos povoados a que se referem e tampouco as regiões que ocupavam (como solicita a
habilidade EF06HI08). Observa-se na próxima página o início do debate em torno dos povos
dos Sambaquis entretanto não é citado, novamente, nenhum povo. Apenas discute-se o
sambaqui por si próprio:

Muitos sambaquis foram encontrados no Brasil, principalmente nas regiões Sul e Sudeste,
embora haja sambaquis também na região amazônica. Alguns deles são tão grandes que
chegam a atingir 30 metros de altura e 400 metros de comprimento. Os sambaquis litorâneos,
que são os mais antigos, podem ter 7 mil anos de idade ou mais. (MODERNA, 2022, p. 51)

E na página seguinte ocorre similar situação a respeito dos povos ceramistas. Não há
algum debate em torno da identidade destas sociedades e suas características próprias, mas
sim da confecção de um determinado objeto que possuía um significado em sua cultura:

É provável que a produção de cerâmica tenha sido iniciada no território brasileiro na mesma
época em que começou o cultivo de alimentos. A atividade ceramista era exercida
provavelmente por mulheres. (MODERNA, 2022, p. 52)

Ao fim do capítulo duas páginas possuem textos a respeito das escavações em Lagoa
Santa e São Raimundo de Nonato e a megafauna do Quaternário, respectivamente. Nota-se
que apesar do capítulo analisado acima estar tecnicamente dentro dos requisitos da Lei
Federal 11.645 de 2008, os autores ainda trazem pouco foco para estes povos e suas culturas.
São disponibilizadas apenas 6 páginas no capítulo para a abordagem de tais temas, mas
apenas 04 de fato discutem sobre. Há duas páginas destas que tratam de Sambaquis e de
Cerâmicas, sem nenhuma menção aos povos que habitaram as costas e o Norte do Brasil,
respectivamente. Isto acaba sendo devido a dois principais fatores: A falta de especificações
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na Lei 11.645 e a natureza do ensino em escolas fundamentais, seguindo o BNCC. Iremos


debater as falhas de ambos e o que poderia ser feito para corrigir tais erros.
A Lei 11.645 apesar de configurar um marco importante para a educação brasileira ao
exigir a presença de ensino acerca da história e cultura afro-brasileira e indígena nas escolas,
a própria ainda sofre por falta de especificação a respeito dos temas que deveriam ser
abordados nos livros didáticos e o número de páginas adequado para aprofundamento do
conteúdo. Mas isto não é apenas uma questão de especificidade da Lei como também a falta
de carga horária para ensino e alta demanda de conteúdos a serem trabalhados em sala de
aula. Espera-se que um aluno de 11-12 anos consiga aprender mais de mil anos de História
durante o período de um ano, além de outras disciplinas obrigatórias que possuem na escola.
Ao fim revela-se um problema que não abrange apenas a Lei 11.645 e a BNCC, mas sim a
estrutura do ensino brasileiro como um todo.
Estes são problemas fortemente integrados à cultura estudantil do Brasil, sendo algo difícil
de se corrigir. Porém existem algumas formas de minimizar estes problemas como por
exemplo: inserir mais especificações na Lei 11.645 para que os textos dos livros didáticos
aprofundem discussões acerca dos primeiros povos brasileiros e que isto seja obrigatório para
todos os materiais didáticos distribuídos em redes educacionais. E isto é demasiadamente
necessário, não apenas para garantir o ensino das relações étnico-raciais mas também para
rememorar diariamente a história dos primeiros povos que habitaram estas terras.
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Bibliografia:

Brasil. Lei no 11.645, de 10 de Março de 2008. Estabelece as diretrizes e bases da educação


nacional para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática
História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena. Disponível em: <L11645>. Acesso em: 10 de
Junho de 2023.

Editora Moderna. Araribá Conecta: História. 1ª Edição. São Paulo: Moderna, 2022.

Gonçales e Silva, Petronilha B. 2007. Aprender, ensinar e relações étnico-raciais no Brasil.


Educação, 3 (63): 489-506.

Silva, Edson. 2012. O ensino de História Indígena: possibilidades, exigências e desafios com
base na Lei 11.645/2008. Revista História Hoje, 1 (2): 213-223.

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