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David John Merkh, Jr.

ENSINANDO OS JOVENS BIBLICAMENTE

As contribuições das Epístolas Pastorais e Gerais relativas a um


ministério de ensino de juventude.

Monografia apresentada à disciplina


Trabalho de Conclusão de Curso, do
Curso de Bacharelado em Teologia,
sob a orientação do Prof. Helder
Cardin, como exigência parcial para
conclusão do curso de graduação.

SEMINÁRIO BÍBLICO PALAVRA DA VIDA

Atibaia

2008
SUMÁRIO

Páginas

1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES ......................................................................... 3

2 O “JOVEM” NAS EPÍSTOLAS PASTORAIS E GERAIS........................................... 7

2.1 Os significados e usos da palavra νέος. .......................................................................... 7

2.2 Os significados e usos das palavras νεωτερικός e νεότης .............................................. 9

2.3 Os significados e usos da palavra νεανίσκος................................................................ 10

3 A JUVENTUDE E A IGREJA..................................................................................... 13

3.1 O jovem e a liderança ................................................................................................... 13

3.1.1 Submissão..................................................................................................................... 14

3.1.2 Humildade .................................................................................................................... 17

3.2 O Exemplo do Jovem Ministro..................................................................................... 20

3.2.1 Palavra .......................................................................................................................... 22

3.2.2 Procedimento ................................................................................................................ 23

3.2.3 Amor............................................................................................................................. 24

3.2.4 Fé .................................................................................................................................. 25

3.2.5 Pureza ........................................................................................................................... 26

3.3 O Exemplo do Ministro aos Jovens.............................................................................. 27

3.3.1 Boas Obras.................................................................................................................... 29

3.3.2 Ensino ........................................................................................................................... 31

4 O ENSINO AOS JOVENS........................................................................................... 36

4.1 Seja Prudente ................................................................................................................ 36

4.2 Afirme a vitória em Cristo............................................................................................ 39

1
4.3 O ministério das mulheres com as jovens .................................................................... 42

4.4 Fuja do pecado.............................................................................................................. 44

4.4.1 Siga a Justiça ................................................................................................................ 47

4.4.2 Siga a fé ........................................................................................................................ 49

4.4.3 Siga o amor................................................................................................................... 50

4.4.4 Siga a paz...................................................................................................................... 52

4.4.5 Siga com outros seguidores .......................................................................................... 53

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 57

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA.......................................................................................... 59

2
1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
O mercado mundial está saturado de livros e “kits” cheios de idéias,
métodos e filosofias para o ministério de adolescentes e jovens. Uma pesquisa rápida em um
site popular de venda de livros produz 4.536 títulos.1 Já no Brasil, muitos desses livros estão
sendo traduzidos e forjando um movimento voltado para a juventude evangélica. Muitas
idéias estão sendo ventiladas e filosofias debatidas, enquanto mais e mais organizações para-
eclesiásticas apresentam novos métodos e currículos. A atenção crescente para esse ministério
é muito positiva. A juventude precisa ser ensinada, discipulada e treinada para exercer seu
papel no corpo de Cristo hoje e no futuro.

Porém, essa inundação de recursos também apresenta um grande problema.


Muitas igrejas não sabem desenvolver uma filosofia bíblica de ministério e estão à caça para
copiar o material e filosofias de igrejas onde “deu certo”. A questão é que muitas vezes não
sabem discernir se de fato “deu certo” e o que foi responsável por isso. Muitos pastores ainda
não têm um padrão para avaliar essa pluralidade de material. Freqüentemente, uma filosofia
de ministério é aceita baseada apenas no fato de uma igreja famosa ter adotado o sistema, ou
dela prometer grande crescimento numérico, ou cuidar dos jovens para que não atrapalhem os
demais ministérios. Então, um pastor de adolescentes jovem e inexperiente é contratado como
uma espécie de “babá” avançada e nada mais se espera dele do que manter os jovens na igreja
e longe da balada. As únicas qualificações que ele precisa são ser divertido, jovem, animado e
que saiba fazer uma programação que vai atrair todos os jovens.

Tudo isso demonstra um problema profundo: “O ministério com jovens está


cheio de eclesiologia pré-teológica.”2 Muitas vezes não tem uma definição fundada e limitada
pelas Escrituras, de forma que tem sido muito confuso o que de fato é o papel, propósito, e as
ênfases bíblicas do ministério com jovens. Esse trabalho não se propõe a responder todas
essas questões. Seu propósito se limita em mostrar algumas ênfases que devem existir no
ensino à juventude, baseado em alguns textos que falam especificamente a esse respeito.

1
www.amazon.com. 7 de Outubro de 2007.
2
SENTER, Mark H. III (edit.). Four views of youth ministry and the church. Grand Rapids : Zondervan, 2001. p.
X da introdução.

3
O ponto de partida é a crença que a Bíblia tem as respostas sobre as ênfases
e filosofia do ministério com jovens. 2 Timóteo 3.16-17 deixa bem claro que as Escrituras são
suficientes para o ensino, correção e instrução na justiça, para que os homens sejam
preparados para a obra de Deus. Essa declaração abrange a juventude das nossas igrejas. A
Palavra de Deus é suficiente para o ensino e preparação dos jovens. Logo, ela deve ser o
ponto de partida para a busca da maneira correta de ministrarmos a esse grupo. Para isso, a
primeira coisa a ser estudada é a definição de jovem na Bíblia. Quais as palavras no grego e
hebraico e o que significavam no contexto cultural em que a Bíblia foi escrita? Depois é
preciso buscar todas as passagens em que essas palavras são utilizadas e verificar a
implicação delas para um ministério de jovens. Essas implicações devem ser o ponto de
partida para a formação de uma filosofia bíblica de ministério. Claro, não podemos negar as
passagens que se aplicam para todos os ministérios eclesiásticos, mas se vamos ministrar
especificamente aos jovens, vamos ensinar pelo menos o que a Bíblia diz especificamente
para e sobre eles.

Minha tristeza no preparo desta monografia tem sido perceber a grande falta
de recursos que se utilizam dessas passagens. Mesmo os livros e filosofias que procuram ser
mais bíblicos omitem as passagens específicas aos jovens. Creio que essa omissão é em parte
responsável pela confusão quanto a esse ministério. Esses versículos são parte da razão por
que podem existir ministérios específicos com jovens. Se forem negligenciados, se torna
difícil defender biblicamente qualquer distinção de ministério entre eles e adultos. Porém,
uma vez que reconhecemos que existem assuntos na Bíblia a serem tratados diretamente com
a juventude, temos prerrogativa para um ministério que faça isso. Isso não significa que
podemos levar isso ao extremo e completamente segregar os jovens do restante da igreja. Isso
seria uma aplicação contrária as Escrituras uma vez que Efésios 4.3-6 ensina a união do corpo
de Cristo.

Agora, estudar todas as palavras do grego e do hebraico que falam sobre o


jovem, e pesquisar as implicações de todas elas para um ministério de jovens é uma tarefa
além do alcance desta monografia. Fica o desafio a outros estudantes de teologia e pastores de
jovens de contribuírem nesse estudo. Esse trabalho procura ser apenas mais um passo numa
longa jornada em busca de uma filosofia de ministério bíblico. Assim, esse trabalho se
limitará às epístolas pastorais e gerais. Esses livros foram escolhidos porque têm a intenção
(especialmente as pastorais) de orientar jovens líderes sobre como ministrarem à igreja de

4
Cristo. Também foram escolhidos por incluírem várias dicas práticas e específicas em relação
aos jovens. Porém, algumas dessas epístolas não serão abordadas por não falarem
especificamente sobre o jovem. É importante salientar que o objetivo desse trabalho não é
picotar a Bíblia para tirar apenas o que achamos que é pertinente aos jovens. Isso seria uma
negação gritante de 2 Timóteo 3.16. O objetivo é apenas de estudar as implicações dos textos
que falam aos jovens como ponto de partida para um ministério bíblico de ensino à
juventude.

Dito isso, é importante fazermos alguns esclarecimentos. Como


provavelmente já foi notado ao longo dessas considerações preliminares, geralmente usamos a
palavra “juventude” para significar a idade de “adolescente” e “jovem”. Entendo que muitas
igrejas (inclusive a minha) fazem distinções entre esses termos e entre os ministérios de
jovens e adolescentes. Não acredito que isso seja errado, desde que essas divisões não
comprometam a unidade real da igreja. Porém, por questões de clareza, nesse trabalho
daremos preferência às palavras “jovem” e “juventude”, usando-as nos seus sentidos mais
abrangentes para incluir todos de 13 a 35 anos. É importante lembrar que nos textos a serem
estudados, não existe uma distinção clara entre jovem e adolescente, portanto os princípios
são aplicáveis a ambos. Esse fato será exposto no capítulo seguinte.

Outro esclarecimento é quanto à definição de um ministério com juventude.


Nesse trabalho adotamos a definição de Wesley Black, que parece ser a mais abrangente e
comumente aceita. Sua definição é simplesmente que um ministério com jovens é “a soma de
tudo que a igreja faz com, por e aos jovens.”3 Portanto, o ministério não é apenas o que é
programado numa reunião específica semanal ou na classe de EBD, mas tudo que acontece
com o jovem na igreja. Isso inclui os ministérios em que participa, a forma como é tratado
pelos adultos, e as oportunidades que ele recebe de se envolver.

O nosso estudo será divido em três partes. Em primeiro lugar, estudaremos


as palavras usadas para “jovem” nas epístolas pastorais e gerais. Depois dividiremos as
passagens que se utilizam dessas palavras em dois capítulos. O capítulo 3 falará do ministério
de jovens e a igreja. Será discutido, com base em 1 Pedro 5, as atitudes que os jovens devem
ter perante a liderança espiritual da igreja. Também será estudada a integração do ministério

3
BLACK, Wesley. An introduction to youth ministry. Nashville: Broadman, 1991. p. 44

5
de jovens com os demais ministérios da igreja sob essa liderança. Em seguida, 1 Timóteo 4.12
mostrará que o jovem deve ser ativo no corpo de Cristo com uma vida exemplar. Essa vida é
chave para se ganhar respeito, mesmo lhe faltando experiência. Depois, veremos, com base
em Tito 2.7-8, as qualificações do pastor de jovens ou qualquer líder diante deles. O capítulo
4 então se voltará para as áreas de ensino aos jovens. Veremos Tito 2 que fala da importância
da prudência. Em seguida 1 João 2.12-14 mostrará a vitória que o jovem tem em Cristo. Tito
2.3-5 revela as áreas em que as senhoras mais experientes devem se envolver no ensino das
moças. E por último veremos a relevância de 2 Timóteo 2.22 para o ensino à juventude com
sua ordem explícita de fugir do pecado e seguir a justiça.

Em todo esse estudo uma questão será notória. Todas essas passagens de
alguma forma têm por base o ensino da Palavra de Deus. Nenhuma área de ensino aos jovens
pode ser divorciada do ensino do restante da Bíblia. Ela é nosso guia, que nos aponta para
Cristo. Ela é a ferramenta usada por Deus para transformar os corações mais duros.
Segurança, esperança e verdadeiro sucesso em qualquer ministério só serão reais uma vez que
este estiver saturado com o ensino claro das Escrituras, centrado em Cristo, para a glória de
Deus.

6
2 O “JOVEM” NAS EPÍSTOLAS PASTORAIS E GERAIS
O primeiro assunto a ser discutido é o perfil do jovem nas Epístolas
Pastorais e Gerais. Já nos deparamos com vários textos que em português falam acerca dos
jovens. Porém, o termo para jovem tinha o mesmo significado no primeiro século que tem
hoje? Veremos claramente que não. Não existiam os parâmetros de faixa etária tão claramente
definidos como temos hoje. Mas isso não significa que não devemos valorizar essas passagens
por falarem de um grupo mais abrangente. Pelo contrario, devemos rever nossos conceitos
atuais de divisões por idade e adequá-los à realidade bíblica. Se pretendermos ensinar os
adolescentes de 13 a 18 anos, ou os jovens de 19 a 30, precisamos pelo menos entender as
implicações dos textos que falam dos jovens em geral.

Para isso, nesse capítulo estudaremos as palavras gregas que são usadas nas
epístolas pastorais e gerais para entender o campo semântico dessas palavras e a relevância
dos textos em que aparecem para o nosso estudo. Assim estudaremos as palavras νέος,
νεωτερικός, νεότης, νεανίσκος e seus cognitivos. Essas palavras são as que abrangem o que é
atualmente considerado como juventude (13 anos para cima).4 É claro que existem várias
outras palavras na Bíblia que abrangem essa idade. Porém, também não serão abordadas
devido à limitação dessa monografia em estudar as epístolas pastorais e gerais. Mesmo assim,
as palavras que ocorrem nesses livros são uma boa amostra dos principais termos para
juventude no Novo Testamento, e o estudo desses poderá lançar luz sobre as demais.

2.1 Os significados e usos da palavra νέος.


νέος

A palavra νέος, quando usada para idade nos escritos helenistas, geralmente
significa uma criança ou jovem de até 30 anos no máximo.5 Esta palavra ocorre 127 vezes na
LXX e 24 vezes no Novo Testamento. Nos Evangelhos, 8 dos 12 usos falam do vinho novo
versus o vinho velho. Das demais ocorrências, duas se encontram na parábola do filho
pródigo em Lucas 15 onde distinguem entre o filho mais novo que é insensato e impetuoso, e

4
Não estudaremos a palavra βρέφος que aparece em 2 Timóteo 3.15 e 1 Pedro 2.2 porque não abrange essa
idade (acima dos 13 anos). Ela descreve crianças muito novas, recém-nascidas e às vezes ainda não
desmamadas, conforme LOUW, J. P., NIDA, E. A. Greek-English lexicon of the New Testament: Based
on semantic domains. New York: United Bible societies, 1996. p. 648.
5
KITTEL G., BROMILEY, G. W., e FRIEDRICH, G. (edit.). Theological dictionary of the New Testament.
Grand Rapids: Eerdmans, 1976. v. 4, p. 897

7
o filho mais velho. Em Lucas 22.26 Jesus declara que quem quiser ser o maior entre os Seus
discípulos terá que ser como o mais novo, e o líder como o servo. Isso indica que
culturalmente pessoas consideradas mais novas não tinham tanto status como os idosos e
experientes. Isso pode explicar um pouco por que Timóteo estava tendo dificuldades em
Éfeso por ser considerado νεότης (cognitivo de νέος) e precisou que Paulo o encorajasse a
não se deixar ser desprezado (1 Tm. 4.12).

Nas epístolas pastorais, νέος aparece quatro vezes em 1 Timóteo 5 e duas


vezes em Tito 2. Na primeira passagem, Paulo aconselha sobre o tratamento de diferentes
grupos de pessoas na igreja. No versículo 1, Timóteo deve tratar os homens mais idosos como
a pais, e aos jovens, ou homens mais novos (como Timóteo), como irmãos. O conselho segue
para o versículo 2, pois Timóteo deve tratar as senhoras idosas como mães e as moças, da
mesma idade ou mais novas que ele, como irmãs com toda pureza. Nos versículos 11 e 14 a
palavra descreve jovens viúvas e a forma de lidar com elas. A contribuição desses dois
versículos para nosso entendimento é mostrar que o significado de νέος inclui a idade de casar
e até de ser viúva. Porém, são viúvas jovens, pois ainda têm muito tempo pela frente, e Paulo
deseja que elas casem de novo, tenham filhos, e cuidem de seus lares.

Em Tito 2 νέος aparece nos versículos 4 e 6. Essa passagem é muito


importante para entender o ministério a juventude, como veremos adiante. É importante notar,
no que concerne às jovens casadas no versículo 4, que o significado em nada difere do
restante do Novo Testamento. Sendo essa a segunda vez que Paulo dá orientações sobre
jovens moças casadas ou viúvas, a pergunta surge se νέος possa incluir adolescentes. A
resposta é clara quando vemos a realidade cultural do primeiro século. Naquela época “a
6
idade para casamentos era baixa, 18 a 20 para jovens rapazes, e de 13 a 15 para meninas.”
Portanto, quando Paulo fala de jovens casadas ou viúvas (no caso de 1 Tm. 5), ele inclui a
situação de muitas (talvez a maioria) das adolescentes de seu dia. Isso só reforça o fato de que
quando Paulo fala dos jovens, está pensando num grupo grande que inclui o que hoje
consideramos juventude, que pode abranger as idades de 13 anos até os 35.

Em 1 Pedro 5.5, a palavra surge outra vez. Aqui o contraste é com os


πρεσβυτέροις, ou anciãos, líderes da igreja. Isso novamente sugere uma distinção baseada na

6
DU TOIT, A. The New Testament Milieu. Halfway House: Orion, 1998. s.p.

8
experiência (cf. neófito em 1 Tm. 3.6) e idade dentro da igreja. O peso da liderança está sobre
esses e não sobre os jovens, cujo papel é de serem submissos. Isso não significa que um
jovem não possa ser considerado um πρεσβύτερος, pois é muito provável que Timóteo e Tito
faziam parte desta liderança, porém para isso acontecer é necessário que o jovem demonstre
algumas características como exemplo (1 Tm. 4.12).

2.2 Os significados e usos das palavras νεωτερικός e νεότης

A única vez que surge a palavra νεωτερικός na Bíblia é em 2 Timóteo 2.22.


O campo semântico dela é muito parecido com a de νέος. Uma possível ênfase diferente é que
νεωτερικός descreve mais o período de tempo da adolescência.7 A importância disso para esse
texto onde Paulo adverte Timóteo contra as paixões da juventude é mostrar justamente
aquelas paixões que são próprios aos jovens mais novos. Ao dar esse cuidado a Timóteo,
porém, Paulo demonstra que essas paixões não se manifestam apenas nos adolescentes, mas
também nos jovens mais velhos como Timóteo. Por isso, ele deve substituir essas paixões
com a busca pela justiça, fé, amor, paz e um relacionamento com o Senhor.

O substantivo νεότης aparece 4 vezes no Novo Testamento e 64 vezes na


Septuaginta. No Novo Testamento é usado em Marcos 10.20, Lucas 18.21, Atos 26.4 e 1
Timóteo 4.12. Em Marcos e Lucas é usado pelo jovem rico quando afirma que havia
cumprido a Lei “desde a minha adolescência (NVI)”. Provavelmente aqui o termo se refere
aos 12 anos, que era a idade em que um rapaz judeu passava pelo Bar-Mitzvah – uma
cerimônia em que ele se tornava “filho da Lei” e passava a ser responsável pelas suas ações e
pela guarda da Lei.8 O uso de νεότης em Atos 26.4 também carrega esse contexto judaico
(talvez até mesmo a idéia de Bar-Mitzvah) quando Paulo afirma que sua vida e zelo pela Lei
desde sua mocidade eram conhecidos por todos os Judeus.

O uso da LXX em Gênesis 43.33 indica uma comparação entre novos e


velhos. Em Levíticos 22.13 e outras passagens semelhantes descrevem uma moça jovem antes
de ser casada. Outra ocorrência é em 1 Samuel 17 onde descreve Golias como um guerreiro
desde a sua juventude, ou seja desde muito cedo, versus Davi que é apenas uma pequena

7
LOUW, J. P., op. cit. p. 648
8
WALVOORD, J. F., ZUCK, R. B., et. al. The Bible knowledge commentary: An exposition of the scriptures.
Wheaton, IL: Victor Books, 1983. v. 2, p. 150

9
criança (παιδάριον). Então, parece que νεότης também significa a idade de um jovem que
está no início ou logo antes de sua carreira militar. “Porém, o foco do significado em seus
respectivos contextos parece ser mais sobre o período de tempo em particular do que sobre
um estado ou condição fisiológico.” 9

Fora da Bíblia este termo e seus cognitivos aparecem nos escritos helenistas
e dos pais da igreja. Geralmente inclui idades de trinta a no máximo quarenta anos. Pensando
que Timóteo já havia ministrado com Paulo durante cerca de treze anos, é provável que ele
tivesse entre 25 e 35 anos de idade.10

É importante lembrar que todas essas palavras têm um sentido muito


relativo. Muitas vezes alguém pode ser chamado de novo apenas em comparação com outra
pessoa. Por isso é difícil definir uma idade específica. Qualidades de pessoas novas são
caracterizadas mais em termos gerais do que em termos de desenvolvimento específico de
faixas etárias. Não vemos declarações claras acerca do pré-adolescente, adolescente, jovem,
etc. Todos são agrupados numa única categoria: jovens, novos.

Porém, isso não significa que devamos descartar a relevância de tais textos
para as necessidades específicas das diferentes faixas etárias. Devemos, sim, considerar que
os versículos que tratam deste grande grupo de idades estão nos dando diretrizes e traços
específicos a todos de mais ou menos 12 anos aos 30. É difícil conceber isso numa sociedade
onde todos são divididos em tantas faixas e “sub-faixas” de idades. A tendência seria negar
diretrizes e traços que não “respeitam” as necessidades de cada idade, como determinados
pela psicopedagogia. Porém, não negando a realidade de existiram diferenças entre rapazes de
14 anos e jovens de 28, as dificuldades de cada um não são tão distintas e a ordem de Paulo a
Timóteo em 2 Timóteo 2.22 é relevante e relevante a ambos, mesmo que as aplicações sejam
bastante diferentes..

2.3 Os significados e usos da palavra νεανίσκος

A palavra νεανίσκος ocorre apenas 13 vezes no Novo Testamento, mas 110


vezes no Antigo Testamento. Ela é bastante semelhante às palavras acima, significando de

9
LOUW, J. P. op. cit. p. 648
10
MOUNCE, William D. Word biblical commentary: pastoral epistles. Nashville: Thomas Nelson, 2000. p. 258

10
forma relativa qualquer “jovem” desde criança até a meia-idade.11 Entretanto, νεανίσκος
muitas vezes revela um sentido mais específico: um jovem depois da puberdade, porém
normalmente antes de se casar.12 Esse significado, então sugere fortemente a idade que hoje
reconhecemos como “adolescência”.

Em Atos 23.18 e 22, esta palavra descreve o sobrinho de Paulo que levou
informações ao comandante acerca de uma emboscada. Note no versículo 19 que o
comandante o toma pela mão. Isso pode sugerir que o rapaz era mais novo. Em Mateus 19.20
e 22 νεανίσκος descreve o jovem rico que pergunta a Jesus como chegar ao Reino dos Céus.
Nesse caso, parece que temos um exemplo de um νεανίσκος que é mais velho, pois ele tem
muita propriedade, é alguém de destaque na sociedade (cf. texto paralelo de Lc. 18.18), e
afirma ter guardado a Lei desde a sua juventude (νεότητος, Lc. 18.21).13

Os usos que mais nos interessam para esse estudo são os dois que se
encontram em 1 João 2.12-14. Nessa passagem existem duas tríades que afirmam as razões de
João em escrever para crianças (τεκνία no v. 12 e παιδία no v. 14), pais (πατέρες nos vv. 13 e
14) e jovens (νεανίσκοι, nos vv. 13 e 14). Existe muita discussão se João aqui está se
direcionando para três grupos de pessoas diferentes ou se está se referindo sempre a todos os
seus ouvintes.

O Dr. Carlos Osvaldo Pinto diz que são encorajamentos para todos os
crentes, com essas distinções sendo figuras de linguagem.14 Hiebert afirma que não é provável
que as distinções sejam apenas diferenças de idade, pois τεκνία é usada em outros lugares em
1 João como uma forma carinhosa de se dirigir a todos os seus leitores. Ele acredita que os
três grupos se referem ao tempo de conversão de seus leitores.15 Porém, mais adiante, ao tratar
especificamente do versículo 13 ele concede que “Os ‘jovens’(νεανίσκοι)... são

11
WUEST, K. S. Wuest's word studies from the Greek New Testament: For the English reader. Grand Rapids:
Eerdmans, 1984. p. 200
12
LOUW, J. P. op. Cit. p. 107
13
Cf. discussão acima acerca do uso de νεότητος nesse caso para descrever o Bar-Mitzvah do jovem rico aos 12
anos.
14
PINTO, Carlos Osvaldo Cardoso. O argumento de 1 João. In: ________. New Testament arguments. Dallas:
Dallas Theological Seminary. (Trabalho apresentado para curso de Philosophy Doctor). p. 87
15
HIEBERT, D. Edmond. An exposition of 1 John 2.7-17. Bibliotheca Sacra. Dallas: Dallas Theological
Seminary, Out-Dez 1988. p. 428

11
16
caracterizados como mais novos na fé, bem como em idade.” Me parece estranho todo o
trabalho de descrever seus leitores com quatro palavras diferentes apenas para dizer que são
todos o mesmo grupo. Concordo que os princípios da vida cristã que são próprios dos três
grupos podem ser verdades de qualquer crente de qualquer idade. Porém, tendo a concordar
com Hiebert que são diferentes tempos de conversão que possivelmente podem ser
relacionados também a idade. De qualquer forma, essa passagem pode ser aplicada a jovens,
pois esses são novos na fé e novos de idade.

Existem, então, várias palavras utilizadas pelos apóstolos Paulo, João e


Pedro que descrevem o jovem. Fica bem claro que elas são bastante abrangentes quanto a
idade e muitas vezes são usadas de maneira comparativa com os mais velhos. Porém, o estudo
dessas palavras já limita a nossa pesquisa para sete passagens: 1 Timóteo 4.12; 5.1-2; 2
Timóteo 2.22; Tito 2.3-5; 2.6-8; 1 Pedro 5.5-7 e 1 João 2.12-14. Serão esses textos que nos
darão importantes dicas sobre como ensinar e lidar com o ministério aos jovens.

16
HIEBERT, D. Edmond. Op. Cit. p. 430

12
3 A JUVENTUDE E A IGREJA
Um dos fundamentos do ministério de jovens precisa ser o envolvimento
deles na vida e nos demais ministérios da igreja.17 Não deve ser uma “sub-igreja” que vive
competindo acerca de regras, datas, agendas, etc. A juventude deve se engajar ativamente no
propósito e na direção geral de sua igreja local. Portanto, o propósito do ministério com
jovens não difere do propósito da igreja, que pode ser definido como três ministérios:
ministério a Deus, ministério aos crentes e ministério ao mundo.18 É claro que a primeira, a
glória de Deus, é a principal e mais abrangente. Os ministérios aos crentes e ao mundo estão
inclusos nela.

Senter enfatiza que “para ser uma parte saudável da igreja, o ministério de
jovens precisa facilitar todos os três propósitos da igreja entre os jovens do corpo de Cristo.”19
No passado muitos ministérios não tem tido uma visão equilibrada desses propósitos. Aqueles
que são mais focados na igreja local têm enfatizado mais o ensino e a comunhão. Os
ministérios com tendências mais para-eclesiásticas têm enfatizado o evangelismo e também a
comunhão.20 Porém, um ministério equilibrado abraçará todos esses, como parte de seu
propósito no Corpo de Cristo.

Para que haja essa interação integral na igreja local, é preciso ter uma boa
definição dos papéis de cada um. Esse capítulo visa estudar as implicações de 1 Pedro 5.5-7, 1
Timóteo 4.12 e Tito 2.6-8 para o relacionamento dos jovens com o ministério e com os seus
líderes. Também procura identificar as qualidades que esses líderes devem demonstrar perante
a juventude. Assim teremos uma concepção mais correta do papel do ministério de jovens
dentro da vida da igreja local.

3.1 O jovem e a liderança

O primeiro texto a ser estudado é 1 Pedro 5.5-7. Esse texto se encontra no


final do livro e tem sérias implicações para o ministério de ensino à juventude. Ao longo de

17
BLACK, Wesley. Op. cit. p. 18
18
GRUDEM, Wayne. Systematic Theology. Grand Rapids: Zondervan, 1994. p. 867-868
19
SENTER, Mark H. III (edit). op. cit. p. xi
20
Idem., Ibid.

13
sua epístola Pedro encoraja seus leitores perante perseguição e sofrimento iminente. Ele
queria que soubessem como suportar esse sofrimento e como manter a santidade e bom
testemunho da igreja em meio a ela. Portanto, essa epístola é bastante prática e enfatiza como
os cristãos devem se portar uns com os outros dentro da igreja.21 Chegando ao capítulo 5,
Pedro dá uma série de recomendações aos presbíteros de como pastorearem bem a igreja.
Logo em seguida, ele ensina aos jovens a se submeterem a esses líderes.

Há uma tensão interessante nessa passagem muito parecida com a que existe
em muitas igrejas de hoje. Muitas vezes a juventude tem dificuldade em seguir as orientações
do pastor titular, dos diáconos e demais líderes da igreja. Essa tensão pode existir por causa
do mau uso da autoridade por parte dos líderes, mas esse não é o foco do nosso estudo. A
tensão também é causada (talvez na maioria das vezes) pelo orgulho e arrogância dos jovens.
Pedro previu esse conflito resultante de dar autoridade aos presbíteros. Por isso escreveu as
recomendações aos jovens nos versículos 5 a 7. O ministério de juventude não tem direito de
negar essas instruções em seu ministério de ensino. Portanto veremos as duas ordens de Paulo
aos jovens: de serem submissos e humildes.

3.1.1 Submissão

Pedro ordena aos jovens que se submetam (ὑποτάγητε) aos presbíteros. Essa
palavra é um imperativo do aoristo, que implica numa instrução específica, não um
mandamento a ser cumprido apenas uma vez.22 O verbo ὑποτάσσομαι ocorre 38 vezes no
Novo Testamento, seis das quais estão em 1 Pedro. Essa palavra significa “ser obediente, se
submeter, estar sob o controle”. Como termo militar, descrevia uma tropa que se organizava
para se apresentar sob o comando de seu líder. Fora do contexto militar era uma atitude
voluntária de se entregar, submeter, cooperar ou levar algum fardo com responsabilidade.23

Vemos pelos seis usos em 1 Pedro, que a submissão é um dos sub-temas da


epístola. Faz parte da mensagem geral que é preparar os santos como embaixadores num
mundo hostil. Eles têm esperança baseado na graça de Cristo que se evidencia nas vidas deles.
Assim, Pedro ensina as novas responsabilidades dos salvos no seu convívio uns com os

21
WALVOORD, J. F., Op. cit. p. 837
22
CHAPMAN, B. Greek New Testament Insert. Quakertown, PA: Stylus Publishing, 1994. s.p.
23
STRONG, J. The exhaustive concordance of the Bible. Ontario: Woodside Bible Fellowship, 1996. s.p.

14
outros.24 Essas novas responsabilidades em seus relacionamentos envolvem essa submissão.
Todos devem se submeter ao rei, aos governantes e a outras instituições governamentais como
sendo estabelecidas por Deus (1 Pe. 2.13-14). Os servos devem se submeter aos seus mestres -
quer sejam eles bons ou maus (v. 18). As esposas se submetam aos seus maridos crentes ou
incrédulos, mostrando vidas piedosas que podem ser instrumentais na conversão de seus
maridos (3.1, 5). Num outro aspecto, todos os anjos e até os demônios foram submetidos a
Cristo (v. 22). Portanto, a vitória de Cristo pelo Seu grande sofrimento, nos motiva a
perseverarmos e vivermos vidas organizadas (4.1-2, 7-9).

1 Pedro 5.5 é o último dos textos que fala da submissão (ὑποτάγητε). No


contexto anterior, o apóstolo apelou (παρακαλῶ) aos presbíteros (anciãos, ou líderes
espirituais da igreja) que cuidassem da igreja com desejo de servir e como exemplos.
Interessantemente, a idéia de submissão também se apresenta aqui, pois os presbíteros
também são submissos ao Supremo Pastor (v. 4). Ninguém deve pensar que eles estão no auge
da hierarquia eclesiástica, nem devem agir como tais (v. 3), pois estão ali para cuidar e servir
o rebanho de Cristo (v. 2; cf. Mc. 10.42-45).

Imediatamente após esse discurso tão precioso para o ministério pastoral,


Pedro se dirige aos jovens que, da mesma forma, se submetam aos presbíteros. Alan Stibbs
defende que Paulo aqui está se referindo a todos os mais velhos, mas não oferece uma
explicação.25 Porém, o puritano Matthew Henry em seu comentário clássico propõem que os
jovens devem, sim, ser submissos e respeitosos a todos os mais velhos, mas que esse texto
está falando especificamente dos líderes.26 Concordo com essa última opinião. É claro pelo
discurso anterior, que Pedro está falando aos anciãos e líderes da igreja nos versículos 1 a 4
(cf. v. 2). Esses líderes geralmente eram de mais idade, porém não é essa qualidade que é
enfatizada aqui. Aqui Pedro fala dos homens experientes que cuidam, supervisionam e
pastoreiam a igreja. Por isso, não há razão em pensar que no versículo 5 Pedro de repente
mudou o sentido da palavra πρεσβυτέροις para significar todos os idosos, e não
especificamente os líderes da igreja. Isso não implica que os jovens devem apenas respeitar os
líderes da igreja e não os idosos. 1 Timóteo 5.1 e 2 ensina humildade e respeito a todos os

24
WALVOORD, J. F. op. cit. p. 838
25
STIBBS, Alan M. The first epistle general of Peter. Grand Rapids: Eerdmans, 1959. p. 169
26
HENRY, M. Matthew Henry's commentary on the whole Bible. Peabody: Hendrickson, 1996. s.p.

15
idosos como se fossem pais e mães. Nesse texto a mesma palavra, Πρεσβυτέρῳ, é usada, mas
pelo contexto vemos que Paulo usa para significar homens mais velhos em geral.

A razão desta discussão não é defender a submissão dos jovens aos líderes
em detrimento de sua humildade perante os demais idosos, mas perceber que essa submissão
aos líderes era de suma importância para o apóstolo. Ele entendia que essa ordem aos jovens
era necessária para o bom andamento da igreja. Não era suficiente ensinar os presbíteros
como pastorearem, mas também ensinar os jovens a serem submissos.

A sabedoria do Espírito Santo ao inspirar o apóstolo é tremenda. Submissão


à liderança da igreja muitas vezes está em falta entre a juventude, e até mesmo entre o
ministério de juventude como um todo. Conforme Lin Johnson, os jovens estão numa fase em
que querem ganhar e exercer sua independência. Assim, acabam desafiando as autoridades
que têm posto limites em suas vidas. Isso se vê muito em casa, mas também na escola e na
igreja.27 Johnson e outros têm comentado que jovens se rebelam proporcionalmente aos
limites colocados pelas autoridades.

Porém, não devemos apenas dar mais liberdade, entendendo que isso
solucionará a rebeldia entre jovens. Pelo contrário, isso só esconde o pecado e insubmissão
que existe nos corações dos jovens. Eles precisam entender, especialmente nessa fase de suas
vidas, que existem absolutos e autoridades em suas vidas. Também querem verificar se as
cercas em volta de suas vidas são seguras e firmes. Essas cercas são princípios, não apenas
regras, que pais e líderes devem ensinar e insistir com amor, mostrando que os mesmos não
são flexíveis. Isso pode trazer conflito com os jovens, mas também trará segurança à medida
que aprendem a liberdade que têm dentro desses princípios.28

Outra forma de insubmissão à liderança da igreja pode ser observada muitas


vezes no conflito entre a o ministério com a juventude e o ministério geral da igreja. Não é
incomum encontrar ministérios de juventude que são completamente separados do restante do
corpo de Cristo. Isso também é uma forma de insubmissão da parte do pastor de jovens à
liderança da igreja. Geralmente, essa atitude reflete um erro eclesiológico. A igreja é a

27
JOHNSON, Lin. Como ensinar adolescentes. Rio de Janeiro: CPAD, 2003. p. 48
28
BLACK, Wesley. Op. cit. p. 95

16
unidade básica de ministério.29 Deus escolheu alcançar o mundo através dela. Os jovens
fazem parte desse corpo. Logo, existe uma ligação estreita e essencial entre a igreja e o
ministério dos jovens. Isso significa que a igreja não deve relegar sua responsabilidade para
organizações e ministérios para-eclesiásticos. Também significa que os líderes dos jovens não
devem construir um programa completamente paralelo e alheio à vida da igreja. Precisam
existir elos e envolvimento forte dos jovens na vida da igreja, e da igreja nas vidas dos jovens.
Aquilo que a liderança da igreja decidir como ênfases, necessidades ou projetos para a igreja,
devem ser abraçados pelo ministério de jovens. Se a igreja lançar um projeto missionário, por
exemplo, os líderes dos jovens têm a tarefa de pensar em formas práticas de envolver os
jovens no seio desse projeto.

Portanto, os líderes da igreja são em essência, líderes também da juventude.


A juventude precisa aceitar essa realidade humildemente, e se submeterem aos presbíteros
como homens estabelecidos por Deus. Isso também se aplica a todo o ministério da juventude,
que não deve se distanciar do restante do corpo de Cristo, mas se integrar completamente a
ele.

3.1.2 Humildade

A última parte de 1 Pedro 5.5 apela a todos (πάντες), jovens e presbíteros,


para se humilharem uns diante dos outros. A razão é uma citação de Provérbios 3.34. Deus
está contra os orgulhosos, e a favor dos humildes. Esta humildade é essencial para o bom
andamento dos relacionamentos e das funções exercidas por todos na igreja. Os presbíteros
não podem servir ao rebanho e cuidar dele por livre vontade se não forem humildes. Os
jovens não conseguirão se submeter à liderança se também não forem humildes uns com os
outros.

As palavras traduzidas como “sejam... humildes” na NVI são τὴν


ταπεινοφροσύνην ἐγκομβώσασθε. Essas duas palavras são bastante raras no Novo
Testamento e LXX. A palavra ταπεινοφροσύνην ocorre sete vezes no Novo Testamento e
significa a humildade com a qual os jovens e presbíteros devem se revestir. É um
reconhecimento de sua posição inferior e uma atitude disposta a se associar com pessoas
inferiores (Rm. 12.16), e de colocar os interesses dos outros acima de interesses próprios (Fp

29
BLACK, Wesley. Op. cit. p. 15

17
2.3). A segunda, ἐγκομβώσασθε, é um imperativo aoristo plural e, portanto, o verbo que
carrega a oração. Ela significa se vestir, geralmente se referindo a um avental que se vestia
por cima da roupa, amarrando com um barbante. Strong observa que a forma substantiva
dessa palavra era especificamente o avental dos escravos que era vestido para manter a roupa
limpa durante o seu trabalho e para mostrar a sua posição de escravo.30 Portanto, era uma
roupa muito humilhante. Lembra-nos a figura de Jesus se cingindo com uma toalha para lavar
os pés de seus discípulos em João 13. Jesus se humilhou para servir, tratando os demais como
superiores ao cuidar de suas necessidades.

Portanto, a humildade de 1 Pedro 5.5-6 não se limita a emoções, mas a uma


atitude prática. Dentro do corpo de Cristo todos são como escravos, aguardando surgir alguma
necessidade para exercer seu ministério de amor e humildade. Onde essa humildade se
manifesta, todos saberão o seu lugar sob a mão de Deus (v. 6) e que podem buscar a ajuda de
qualquer outra pessoa na igreja, que estará pronto e disposto a servir com amor.31 Os
relacionamentos de submissão descritos em 1 Pedro só funcionam se essa humildade for
evidente. Por isso Pedro falou em 1 Pedro 3.8 que todos deviam ter o mesmo modo de pensar,
serem compassivos, e ter amor fraternal, misericórdia e humildade (ταπεινόφρονες). Percebe-
se que a humildade é a unidade básica para a paz e a união na igreja.

A humildade é uma virtude que precisa ser ensinada aos jovens, pois nessa
idade a arrogância aflora. J. C. Ryle usa termos bastante fortes para descrever esse orgulho no
coração do jovem:

Como é comum encontrar um jovem teimoso, altivo, e impaciente mediante


conselhos! Quantas vezes são rudes e insensíveis com todos à sua volta, achando
que não são valorizados e honrados como merecem! Quantas vezes se recusam parar
para ouvir a dica de alguém mais velho! Eles acham que sabem tudo. Estão cheios
de orgulho de sua própria sabedoria. Consideram os idosos, especialmente da
família, como estúpidos, tolos, e devagar. Imaginam que eles mesmos não precisam
de instrução: eles entendem todas as coisas. Quase ficam irados quando alguém se
atreve falar com eles.32

É com esse tipo de gente que o ministério de juventude procura lidar.


Precisamos ter uma noção real do pecado que está contido em seus corações, como em todos

30
STRONG, J. Idem. s.p.
31
KITTEL G., Op. cit. p. 23
32
RYLE, J. C. Thoughts for young men. Amityville: Calgary, 1996 (primeira ed. 1886). p. 22

18
nós. Esse orgulho se manifesta criativamente e em muitas áreas na vida do jovem. Por isso, o
ministério de ensino deve ajudar a juventude a enxergar a realidade deste orgulho e o que
Deus pensa acerca disso. O restante do versículo de 1 Pedro 5.5 diz que Deus se opõem
(literalmente, “é hostil”) ao orgulhoso, mas dá graça ao humilde. A ira e disciplina de Deus
são ferozes contra a arrogância. Se não alertarmos os jovens desse fato, somos infiéis com
eles e com o recado que Deus quer que transmitamos.

Por outro lado, a graça de Deus também está disponível para a juventude das
nossas igrejas. A mão de Deus é poderosa (v. 6) para resistir devastadoramente ao orgulhoso,
mas também para exaltar o humilde de coração e ação. Aceitar uma posição inferior e tratar
outros como mais importantes e merecedores do nosso serviço será reconhecido por Deus e
Ele nos erguerá no tempo que Ele achar melhor. Isso encoraja os jovens a terem fé e
esperança na promessa de Deus.

A humildade também tem outro resultado bastante prático para o jovem. O


versículo 7 convida todos a se lançarem sobre Cristo, o Supremo Pastor (v. 4), todas as
ansiedades e preocupações, porque Ele tem todo cuidado e amor por nós. Um coração
orgulhoso jamais lançará suas preocupações sobre Deus, pois quer manter o controle sobre
tudo. Acha que, pela própria força, inteligência e habilidade, consegue garantir os resultados
de todos os seus sonhos. Porém, esse orgulho só resulta em ansiedade, stress e preocupação.
Para os jovens isso pode ser ansiedade no relacionamento com os pais, com um rapaz ou
moça do sexo oposto, ou com amigos. Muitas vezes é preocupação com notas na escola,
passar de ano, passar no vestibular e conseguir um emprego. Precisamos lembrá-los da
soberania, amor e cuidado de Deus. Deus está no controle, portanto todos devem se humilhar
e aceitar a vontade dEle. Porém, muitos jovens têm medo de lançar suas preocupações sobre
Deus. Eles pensam que Deus, em Sua soberania, talvez os force a fazer coisas que não
querem, ir para onde não querem, ou casar com quem não querem. Eles precisam ser
lembrados do amor de Deus e que Deus faz tudo para a Sua própria glória, que resulta em
nossa maior alegria.

Diante disso, o ministério de juventude não pode negligenciar, no ensino da


Palavra, o papel dos jovens na igreja. Devem se submeter à liderança da igreja enquanto
demonstram humildade e amor a todos. A humildade deve tomar o lugar do orgulho em seus
corações e precisam aprender a mostrar esse amor servindo o restante do corpo de Cristo.
Essa humildade se baseia em fé no amor e cuidado de Deus. Sua poderosa mão os exaltará no

19
tempo certo, seja colocando-as em posições de liderança, destacando-os na igreja ou dando a
elas novas oportunidades de ministério. Por isso, toda e qualquer ansiedade pode e deve ser
renegada aos cuidados de Cristo.

3.2 O Exemplo do Jovem Ministro

O próximo texto também é essencial para entender o papel do jovem na


igreja. Em 1 Timóteo 4.12, como em toda a epístola, Paulo adverte Timóteo a ter cuidado com
seu ministério e vida pessoal. Especificamente ele deve cuidar da sua palavra, procedimento,
amor, fé e pureza. Essas características são contrastadas com os oponentes de Timóteo, que se
dedicam a discussões inúteis (1.6), têm manchado a reputação da igreja (3.2, 7, 10 – pensando
no contraste entre os falsos mestres e verdadeiros líderes da igreja), abandonado o amor
(6.10), naufragado a fé (1.19), e têm consciências cauterizadas (4.2).33

Esse texto é muito importante para o ministério de todo jovem. Como


exposto acima, jovem aqui pode significar qualquer homem até seus 35 ou 40 anos. A
relevância deste texto para o nosso estudo é dupla. Em primeiro lugar, a maioria dos pastores
de juventude é jovem. Esse versículo ensina como devem se portar diante de todos na igreja.
Em segundo lugar, mostra que idade não limita a atuação de jovens nos ministérios da igreja.
De fato, o respeito que não têm por falta de experiência e tempo de vida pode ser ganho com
vidas exemplares e fundadas na prática da Palavra de Deus.

O versículo começa com a frase, “Ninguém o despreze.” O verbo aqui é um


imperativo do tempo presente. Assim, é uma ordem geral que pode ser repetida na vida de
outros.34 Ele não deve permitir que outros o desprezem (καταφρονείτω). Essa palavra muitas
vezes tem um sentido bastante forte no Novo Testamento, significando “desprezo, considerar
35
sem valor algum, desdém, ou até ódio.” Certamente, as pessoas não estavam aceitando a
liderança de Timóteo, achando que tinha pouca experiência e, portanto, que seu ensino e
ministério eram sem valor. A intenção de Paulo, ao escrever essa carta, também era que ela

33
MOUNCE, William D. Op. cit. p. 245
34
CHAPMAN, B. Op. cit. s.p.
35
LOUW, J. P. Op. cit. p. 762

20
fosse lida perante a igreja que reconheceria que o apóstolo estava transferindo sua autoridade
a esse jovem pastor.36

Porém, a forma de Timóteo cumprir esse primeiro imperativo (ninguém o


despreze) está no segundo imperativo do versículo, “mas seja um exemplo”. Esse imperativo
já está na segunda pessoa singular, ou seja, direcionado diretamente a Timóteo e aquilo que
ele deve ser. É o segundo lado da moeda. A forma de conseguir respeito de sua igreja é
naquilo que ele mostra em sua vida. Ele deve ser um exemplo (τύπος) aos fiéis, ou crentes.
Τύπος é usada no Novo Testamento para significar um molde usado para fazer outros iguais,
um padrão a ser copiado, ou um exemplo a ser seguido.37 O caráter de Timóteo devia ser esse
molde que se impressionaria nas vidas de outros na igreja. É isso que lhe daria credibilidade
para ensinar e ministrar.

Essa mesma verdade precisa ser ensinada aos jovens de nossas igrejas. A
relevância deles na vida da igreja e no ministério é diretamente proporcional ao caráter deles.
Muitos jovens podem se sentir ameaçados e intimidados diante de tantos homens e mulheres
de Deus no corpo de Cristo. Ao mesmo tempo, muitos dos adultos mais velhos não valorizam
o envolvimento da juventude na vida da igreja. O resultado dessas visões equivocadas é um
ministério de juventude distante da igreja, aparentando mais um tumor do que um membro do
corpo de Cristo. A juventude passa a fazer todas as suas próprias atividades e programas e o
restante da igreja pensa que está apoiando ao dar dinheiro e espaço. Mas essa não é uma
descrição de uma igreja bíblica.

Os jovens fazem parte da igreja. Eles são completamente membros do corpo


de Cristo, e “teologicamente não existe diferença alguma entre o rapaz de 14 anos e o senhor
de 40 anos.”38 Jovens crentes também receberam dons para serem desenvolvidos e
aproveitados na igreja. Os demais membros devem incentivá-los a participarem e se
envolverem em todos os ministérios da vida da igreja, encorajando-os a desenvolver seus
dons e talentos. Wesley Black defende que parte da responsabilidade disso é do próprio pastor
de jovens, em parceria com o pastor titular e a liderança da igreja. Ele afirma que “o

36
MOUNCE, William D. Op. cit. p. 258
37
SWANSON, J. Dictionary of biblical languages with semantic domains: greek. Oak Harbor: Logos Research
Systems, Inc., 1997. s.p.
38
BLACK, Wesley. Op. cit. p. 16

21
ministério com jovens deve... constantemente buscar maneiras de incorporar o ministério de
juventude no ministério total do corpo da igreja. Os jovens não são um grupo separado no
mundo ministerial. São integralmente ligados ao corpo de Cristo – a igreja.”39

Para esse envolvimento tão essencial, precisamos preparar os jovens para


serem exemplos para os demais crentes. Paulo cita cinco áreas que devem ser trabalhados no
caráter de Timóteo: palavra, procedimento, amor, fé e pureza. Alguns dividem estas cinco em
dois grupos. Palavra e procedimento seriam qualidades externas e práticas. Amor, fé, e pureza
seriam qualidades interiores.40 Esta divisão é interessante, mas não pode ser levada muito
longe. Todas as características têm aspectos internos e externos. Todas necessitam de uma
espiritualidade interna sadia que é demonstrada na vida prática. O jovem se torna exemplo
nessas qualidades conforme elas são visíveis e praticadas em sua vida. Voltaremos nossa
atenção agora para cada uma dessas cinco virtudes.

3.2.1 Palavra

A primeira área em que Timóteo devia se mostrar exemplo é a palavra. Os


seus oponentes ensinavam doutrinas falsas (1.3; 6.3), se envolviam em discussões inúteis (1.6;
2.8; 6.4,20), eram profanos (1.9), juravam falsamente (1.10), blasfemavam (1.20), eram
mentirosos (4.2), ensinavam fabulas tolas (4.7), eram fofoqueiras (5.13), maldizentes (5.14;
6.4) e envolvidos em brigas (6.4). O jovem piedoso deve ser contrário a tudo isso. Ele deve
ser exemplo no falar com orações e gratidão (2.1; 4.4,5; 5.5), apto para ensinar (3.2; 4.13;
5.17; 6.2, 17, 18), instruir na boa doutrina (4.6, 11) e se dedicar a leitura pública da Bíblia e
exortação (4.13; 5.7), pregação (5.17) e repreensão (5.20).

Pelo contexto, então, vemos descrições claras de algumas coisas que são
maus usos das palavras e também descrições de bons usos das palavras. O jovem que se
envolve no ministério deve tomar muito cuidado com sua língua. Precisa se lembrar das
palavras de Jesus em Mateus 15.18: que tudo que falamos é resultado da nossa condição
interior. Portanto, para transformar a fala, é preciso primeiro transformar o coração. Essa
primeira qualidade do jovem exemplar é uma qualidade interna e externa.

39
BLACK, Wesley. Op. cit. p. 16
40
CARSON, D. A. New Bible commentary. Downers Grove: Inter-Varsity Press, 1994. s.p.

22
Outra implicação importante do contexto é o papel do ensino. Todas as
palavras do jovem ministro devem ser temperadas com a Palavra de Deus e a sã doutrina (v.
13). O ministério não se baseia em idéias humanas ou experiências, nem em modelos e
sistemas de ministério. O jovem se dedica a ensinar a Palavra em todo seu falar, sejam em
pregações, aulas, estudos, aconselhamentos, discipulados ou conversas informais. Porém, por
ser mais novo ele deve ser bastante sensível e amável ao exortar e ensinar. 1 Timóteo 5.1-2 dá
a dica de tratar os diferentes grupos de cristãos como membros da família. Da mesma forma
que o jovem falaria ao seu pai, mãe, irmã ou irmão, ele deve falar aos homens mais velhos, às
mulheres mais velhas, moças e rapazes, respectivamente. Esse bom uso de suas palavras para
falar da Palavra dará credibilidade e autoridade ao jovem.

3.2.2 Procedimento

A segunda qualidade em que o jovem ministro deve ser exemplo é ἐν


ἀναστροφῇ, que significa “conduta, procedimento, maneira de viver diante de outros”.41 Essa
palavra aparece em outros lugares no Novo Testamento e muitas vezes nos escritos de Pedro.
É a palavra usada em Efésios 4.22 para descrever a antiga maneira de viver no pecado antes
da regeneração. Esta conduta deve ser despida, para que sejamos revestidos do novo homem
em Cristo, que implica em uma nova ἀναστροφή, conforme a vontade de Deus. Em 1 Pedro
2.12 e 3.16, o apóstolo chama os crentes a terem uma conduta excelente perante os incrédulos,
para que aqueles que falam mal da igreja sejam envergonhados por não terem o que falar.
Essa conduta é externa, vista por todas, pois é feita de boas obras (1 Pe. 2.12). O padrão desta
conduta é a santidade de Deus que nos chamou (1 Pe. 1.15). Logo, também é uma qualidade
interior.

Note que nesses usos da palavra ἀναστροφή existe uma semelhança no


pensamento. Pedro queria que os crentes fossem santos em sua conduta para que os de fora
não tivessem o que dizer contra eles, e Paulo queria que Timóteo fosse exemplo em seu
procedimento para que seus oponentes não desprezassem seu ministério e juventude. Esse
padrão de refletir a santidade de Deus na vida diária e de ser irrepreensível (1 Tm. 6.14)
também deve ser ensinado aos jovens ao se prepararem para o ministério. Uma das razões
porque pessoas não abrem espaço para os jovens atuarem na igreja é que não vêem em suas

41
LOUW, J. P. Op. cit. p. 503

23
vidas um compromisso sério com Deus. Os jovens devem aprender a serem testemunhos
claros da graça de Deus que transformou suas vidas da antiga conduta para a santidade (Ef.
4.22-24). Esse testemunho não deve ser apenas dentro da igreja, mas também em todo lugar,
tendo um bom testemunho perante os incrédulos.

É muito comum encontrar jovens da igreja que, pela vida, ninguém


adivinharia que são convertidos. Eles não são exemplos para os fiéis e não estão prontos para
o ministério. Precisam ser advertidos com muito amor e seriedade. Diante disso, porém,
precisamos tomar muito cuidado. A tendência de muitos ministérios é de apenas se preocupar
com o testemunho externo da juventude. Estabelecem certos padrões rígidos e o cumprimento
deles é tido como marca de boa conduta e bom testemunho.

Porém, precisamos tomar muito cuidado, porque “o simples cumprimento


de regras é comportamentalismo, dissociado do coração e repudiado ao longo de toda a
Bíblia.”42 Não podemos pensar que o procedimento que Paulo pede a Timóteo é apenas
externo. Se fosse, seria mera religiosidade, falsa humildade e um disfarce contra a verdadeira
santidade (Col. 2.20-23). No nosso ensino, queremos causar mudança prática na vida e
testemunho da juventude, mas só podemos atingir isso quando focamos o coração dos jovens.
Se apenas colocarmos limites, podemos até criar um grupo que pareça muito espiritual.
Porém, se não trabalharmos o coração e o pecado que está apegado a ela, nosso trabalho será
em vão, pois a mudança não será permanente. Verdadeira mudança acontece quando
reconhecemos a pecaminosidade dos jovens, e ao mostrarmos o padrão bíblico, os levarmos à
cruz de Cristo para clamar por misericórdia.43 Só assim pode haver verdadeira mudança
bíblica, que fará do jovem um exemplo digno de ser imitado em seu ministério.

3.2.3 Amor

O amor é um dos temas centrais das epístolas pastorais. 1 Timóteo 1.5 diz
que a razão das instruções de Paulo a esse jovem ministro é o “amor, que procede de um
coração puro, de uma boa consciência e de uma fé sincera.” Em 2 Timóteo 1.7, Deus é quem
nos dá um espírito de amor. O amor é resultado da obra de Deus em nossas vidas e procede de

42
TRIPP, Paul David. O que é ‘sucesso’ para os pais de um adolescente. In: Coletâneas de aconselhamento
bíblico. Atibaia: SBPV, v. 6, 2007. p. 126
43
FITZPATRICK, Elyse, NEWHEISER, Jim, HENDRICKSON, Laura. When good kids make bad choices.
Eugene: Harvest House, 2005. p. 164

24
vidas que têm um relacionamento íntimo com Ele e Sua Palavra. O amor é o resultado de uma
vida vivida dentro dos mandamentos de Deus. Não é apenas um sentimento como no conceito
popular, mas uma “escolha de serviço sacrificial para o benefício de outros, apesar dos
sentimentos”.44

Mais será dito a esse respeito adiante, mas é importante nos lembrarmos da
importância dessa qualidade especialmente nas vidas dos jovens que servem na igreja. Muitas
vezes jovens são conhecidos como insensíveis às outras pessoas da igreja. Isso pode ser
resultado de um ministério que segrega a juventude do restante do corpo. Assim, eles
aprendem que não precisam dos demais adultos e que são auto-suficientes. Porém, os jovens
devem ser conhecidos pelo amor que têm pelos demais grupos da igreja. Para isso, precisamos
envolvê-los na vida da igreja e proporcionar oportunidades de servir e mostrar esse amor
prático. Isso pode acontecer na prática num programa para as crianças da igreja, num
piquenique com a terceira idade ou de tantas outras formas. Devemos encorajá-los a se
envolverem nos ministérios de culto infantil, berçário e grupos de oração dos homens ou
mulheres. Isso pode ajudar muito no desenvolver desse amor pelo restante da igreja.

Assim, os jovens poderão ministrar como exemplos. Suas palavras e


palpites não serão desvalorizados, pois todos verão que falam com amor, e não com rebeldia
ou pretensão. Isso abrirá portas para o envolvimento dos jovens em mais áreas e os adultos e
liderança da igreja vibrarão em ver que o futuro da igreja estará em boas mãos. Mas tudo isso
será conquistado apenas com amor prático e cooperação, e não com rebeldia e separação.

3.2.4 Fé

A quarta forma em que o jovem ministro deve ser exemplo é na fé, que
segue naturalmente o amor. É interessante que quase todas as vezes nas Epístolas Pastorais
que Paulo fala da amor, ele a relaciona com a fé.45 Ambos dependem um do outro pois o amor
de Deus só pode ser produzido na vida de quem confia nEle. Conforme 1 Timóteo 1.5 essa fé
deve ser sincera, genuína e sem hipocrisia. Ela produz fidelidade que é essencial para o bom
ministério. Aquele que tem fé em Deus e naquilo que Deus requer de um bom ministro
raramente será influenciado pelos modismos doutrinários e eclesiológicos. Muitos ministérios

44
MACARTHUR, John. The MacArthur New Testament commentary: 1 Timothy. Chicago: Moody, 1995. p. 174
45
MOUNCE, William D. Op. cit. p. 23

25
de juventude e muitos jovens ministros estão desesperados atrás dos recursos mais recentes ou
modelos de ministério mais eficazes. Esses modelos muitas vezes podem até ser bons. Mas a
confiança demasiada neles demonstra uma falta de fé em Deus e em Sua Palavra. Transmite
uma incerteza sobre o poder de Deus para transformar vidas. O pensamento que programas e
atividades criativas vão segurar os jovens no ministério também demonstra essa falta de fé na
suficiência das Escrituras.

Estudaremos essa fé com mais proximidade mais a frente. Porém, por agora
lembremos que os jovens precisam desenvolver essa fé inabalável nos princípios elementares
da Palavra de Deus. Eles serão enfrentados por muitos desafios e idéias novas. Precisam
demonstrar uma firmeza doutrinária e fé naquilo que Deus falou. Essa fidelidade não será
apenas uma qualidade interior, mais demonstrável na constância e seriedade demonstrada por
esses jovens. Isso também será um grande encorajamento e exemplo para o restante do corpo
de Cristo.

3.2.5 Pureza

A última qualidade mencionada por Paulo é a pureza (ἁγνείᾳ). Significa


pureza moral, que é interior, mas também vista por outros. 1 Pedro 1.3 relaciona pureza
(ἁγνὴν) com conduta (ἀναστροφὴν, veja acima) na vida das esposas piedosas. Os seus
maridos podem observar essa pureza e isso pode ganhá-los (v. 1). Por isso, é uma qualidade
do coração que é vista na vida cotidiana. ἁγνείᾳ também implica em pureza sexual. 1 Timóteo
5.2 relata outra instrução de Paulo ao jovem pastor. Como já visto, Paulo ensina como o
jovem deve tratar os demais crentes da igreja. Quando fala das moças jovens, a instrução é de
tratá-las como irmãs, com toda a pureza (ἁγνείᾳ). Nesse contexto, é claro que ele está se
referindo especificamente a pureza sexual.

Esse é um desafio muito grande para os jovens de hoje. A falta de pureza


talvez seja o que mais pode comprometer o ministério deles. Satanás é muito esperto em
atacar a juventude na área sexual justamente nestas idades, quando os desejos são tão fortes.
Ele está trabalhando hoje para comprometer uma geração inteira para que a igreja futura não
tenha mais líderes que são exemplos. O jovem é o prêmio que o Diabo busca, pois ele sabe

26
que se conseguir entrar cedo em sua vida, poderá causar muito dano ao Reino de Deus.46 Por
isso a batalha é intensa.

Precisamos ajudar os jovens nessa batalha a verem que “os prazeres que
satisfazem plenamente a alma, pelos quais os jovens anseiam, só podem ser encontrados
quando conhecemos e amamos a Deus.”47 Isso requer fé, e mentes transformadas pelas
verdades da Palavra. Eles precisam ver que o padrão de Deus não é chatice, mas liberdade e
vida plena. A alegria duradoura de ter corações puros diante de Deus é infinitamente maior
que o prazer momentâneo da promiscuidade. Não deixemos que a imoralidade sexual destrua
mais uma geração. Precisamos treinar os jovens para serem ministros no Reino de Deus,
envolvidos na obra da Igreja. Precisamos focar o coração, o padrão da Palavra e o poder
transformador da cruz e ressurreição de Cristo.

A juventude pode e deve ser exemplo para os fiéis na palavra, no


procedimento, no amor, na fé e na pureza. Isso é essencial para crescerem cada vez mais no
envolvimento com os ministérios da igreja. A liderança da igreja deve reconhecer essas
qualidades e proporcionar oportunidades para a juventude se envolver. O ministério de
juventude deve ensinar essas virtudes e motivar os jovens a serem exemplos e servos na
igreja. Deus nos deu a tarefa e privilégio de preparar as gerações mais novas para serem a
igreja de hoje e a liderança de amanhã, como ministros que são exemplos para os fiéis.

3.3 O Exemplo do Ministro aos Jovens

Um dos textos fundamentais para um entendimento bíblico do ministério


com jovens é Tito 2.6-8. Ela ordena claramente o que deve ser ensinado aos jovens: a
prudência. Isso será abordado no próximo capítulo. O que nos interessa agora é o que esse
texto fala sobre as características do pastor ao lidar com os jovens. O capítulo 2 inteiro tem
várias diretrizes do que ensinar a vários grupos, mas nos versículos 6 a 8 Paulo fala a Tito
sobre qualidade que ele deve ter. Muitos defendem que essas qualidades são para lidar com
todos os grupos na igreja. É verdade que essas qualidades também são importantes perante os

46
RYLE, J. C. Op. cit. p. 16
47
TRIPP, Tedd. Dê ao seu adolescente uma visão da glória de Deus. In: Coletâneas de aconselhamento bíblico.
Atibaia: SBPV, v. 6, 2007. p. 87

27
demais grupos. Porém, não se pode negar a ênfase do texto ao mostrar a importância dessas
características ao lidar com os jovens.

Isso pode ser provado olhando para alguns detalhes do próprio texto. As
recomendações acerca dos jovens estão no meio da lista de grupos diferentes. Antes vêm as
recomendações aos homens mais velhos, às mulheres mais velhas e às moças jovens. Depois
de falar aos rapazes jovens, Paulo ainda fala dos escravos (v. 9-10). Aquelas instruções gerais
que Paulo pretendia para todos podem ser vistas no início e no fim da lista, formando uma
espécie de moldura. No versículo 1 ele fala que o conteúdo do ensino deve ser a sã doutrina.
Nos versículos 11 a 15 ele fala da graça de Deus que possibilita a transformação de todos (v.
11). Portanto, as instruções no meio da lista são específicas para aqueles grupos e não devem
ser entendidas como generalizações. Paulo está falando pessoalmente a Tito sobre áreas em
sua vida em que deve ser exemplo para todos, mas especialmente para os jovens.

Agora, o fato de encontrarmos na Bíblia uma descrição parcial do perfil do


ministro perante os jovens tem algumas implicações sérias. Proponho que a busca por um
novo pastor de jovens, ou até mesmo um voluntário para ajudar com esse ministério, deve
incluir a verificação de pelo menos essas qualidades básicas em sua vida. Ele deve ser
exemplo em boas obras, no ensino, na integridade, seriedade e linguagem sadia. Na minha
pesquisa tem sido difícil encontrar esses padrões dentro das descrições de responsabilidades e
qualidades ideais do pastor da juventude. Muitas vezes a busca é focada em habilidades
administrativas ou carisma pessoal e não na qualidade de seu ensino e vida. Chap Clark alista
o que é comumente esperado dos pastores de jovens: mantê-los felizes, interessados e
seguros; ensinar as bases da cosmovisão e política Cristã; garantir que eles não se
contaminem com o mundo e continuarem interessados na igreja.48

Precisamos permitir que Paulo nos mostre como deve ser o pastor de jovens.
Assim veremos um pouco de sua principal tarefa e principais características. Essas
características não são exaustivas e não estou defendendo que Paulo escreveu Tito 2.7-8 como
uma descrição do pastor de jovens. Estamos dizendo apenas que essas devem ser as
características de qualquer pastor perante os jovens. E se for assim, então o pastor que

48
CLARK, Chap. The misional approach to youth ministry. In: SENTER, Mark H III (edit.). Op. cit. p. 79

28
trabalha especificamente com os jovens deve ter pelo menos essas qualidades. É nesse sentido
que essas características devem ser normativas no ministério com juventude.

Tito provavelmente estava recebendo forte oposição, talvez dos próprios


jovens (v. 8). Sua melhor arma contra essa oposição seria seu exemplo. Isso seria eficaz para
envergonhar e silenciar aqueles que procuravam falar mal de Tito. Como em 1 Timóteo 4.12,
a palavra para exemplo é τύπον, um molde para os demais crentes. Mais uma vez, Paulo fala
que é isso que servirá contra o desprezo (no caso de Timóteo) e a oposição (no caso de Tito).
O verbo que dirige esse mandamento a Tito no versículo 7 é o particípio παρεχόμενος que
significa “continuar mostrando, mantendo um estado ou condição”.49 A condição de exemplo
deve ser mantida na vida de Tito e ser a base de seu ensino (v. 6). Especialmente com os
jovens, ele não deveria apenas ensinar o que era correto, mas exemplificar o seu ensino. As
seguintes qualidades são as áreas específicas em que ele deve continuamente se mostrar como
exemplo.

3.3.1 Boas Obras

A primeira área em que o pastor de jovens deve ser exemplo é nas boas
obras. As boas obras são um tema comum em todas as Epístolas Pastorais e especialmente em
Tito.50 Em Tito 2.14 as boas obras são praticadas zelosamente por aqueles que foram
regenerados por Cristo. Estas são as marcas do povo particular de Deus, enquanto aguarda seu
retorno (v. 13). Em Tito 1.16 os homens perversos, mesmo que dizem ser crentes e
conhecerem a Deus, demonstram pelas suas vidas desobedientes que são incapazes de
produzir boas obras. Então, essas obras vêm de um verdadeiro conhecimento de Deus que
leva a obediência e pureza. No capítulo 3, nos versículos 8 e 14, os santos devem se empenhar
em boas obras. Nesses versículos são descritos como obras excelentes, úteis aos homens e que
se preocupam com as necessidades dos outros. Parece, então, que boas obras têm um aspecto
de pureza e andar reto, mas também de amor prático que serve e é produtivo.

Agora, duas passagens merecem consideração especial: Tito 2.11-14 e 3.3-


8. Ambas terminam falando que a prática de boas obras é resultado do que foi dito nos
versículos anteriores. No primeiro texto, como explicado acima, liga intimamente o processo

49
LOUW, J. P. Op. cit. p. 151
50
MOUNCE, William D. Op. cit. p. 413

29
e prática da santificação com a graça de Deus manifesta na salvação e no glorioso retorno de
Cristo. A entrega de Cristo por nós nos libertou das influências do pecado e possibilitou as
boas obras. Cristo quer que pratiquemos essas coisas por causa de tudo que já recebemos e
somos nEle.

O segundo texto, Tito 3.3-8, é parecido. Novamente Paulo nos lembra da


nossa condição antes de conhecermos a Cristo. Éramos insensatos, desobedientes, escravos,
enganados, maldosos, invejosos e cheios de ódio uns pelos outros. Porém, Deus nos mostrou
amor e bondade para nos salvar. Interessantemente, no versículo 5 Paulo fala que a razão
dessa salvação não eram nossas boas obras de justiça, mas a Sua misericórdia a fim de sermos
justificados e herdeiros da vida eterna. Depois de uma longa e maravilhosa lista de tudo que
Deus fez por nós e apesar de nós, Paulo termina pedindo que Tito ensinasse essas verdades da
salvação e santificação pela graça para que os crentes “se empenhem na prática das boas
obras” (v. 8). Nesses dois textos as boas obras só vêm depois de um conhecimento completo
da obra de Cristo pela graça.

Esse ensino é muito relevante para o pastor de jovens. Fazer boas obras
geralmente não é um problema. O ministério está cheio de programas e atividades e o pastor
de jovens está sempre bastante atarefado com as muitas “boas obras” que tem para realizar
para manter todas as atividades no ar. Porém, muitas vezes nos esquecemos da razão pela qual
fazemos essas boas obras. Muitas vezes queremos ser reconhecidos como bons ministros,
como aqueles que revolucionam os corações dos jovens. Às vezes queremos mostrar pelas
muitas atividades que de fato estamos fazendo algo de bom e louvável. Tito nos ensina que
este não deve ser o caso. Nossas boas obras são resultado das gloriosas manifestações
(ἐπιφάνειαν, que ocorre três vezes nesses textos) de Deus a favor de nós. Trabalhamos com a
certeza do ministério que Deus já fez e está fazendo por nós e pelos jovens. As nossas obras
são resultados da suprema obra, que é dEle.

Portanto, essas boas obras não devem substituir um relacionamento íntimo


com Cristo, mas fluir deste relacionamento. Estudar a Bíblia para ensinar outros, planejar
como ajudar o crescimento espiritual de outros, dirigir a adoração de outros, e tantas outras
coisas como discipulados, aconselhamentos e reuniões podem nos tentar a substituir essas
obras como se fossem a nossa verdadeira espiritualidade. Essas coisas são importantes, mas

30
não podem tomar o lugar da nossa própria adoração, crescimento e estudo pessoal da Palavra
de Deus.51

Doug Fields começa o seu livro Um ministério com propósitos para líderes
de jovens contando de seu testemunho pessoal. Ele conta como ele trabalhava duro para ser
reconhecido pela sua igreja e como Deus o quebrou e o lembrou que o ministério é dEle.
Como pastor, ele havia se esquecido de seu relacionamento com Deus ao se preocupar
principalmente com o trabalho de Deus. Passou a depender do poder de Deus para realizar o
ministério e valorizar mais o ser do que o fazer.52 Pastores de jovens podem aprender muito
com isso. Devemos nos empenhar em toda boa obra e sermos exemplos disso. Mas essas boas
obras devem surgir de relacionamentos íntimos com Deus e gratidão pelas manifestações de
Seu poder, amor e bondade.

3.3.2 Ensino

A segunda área em que o ministro deve ser exemplo perante os jovens é o


ensino. Essa é uma categoria geral que é condicionada nos versículos 7 e 8 por integridade,
seriedade e linguagem sadia. O versículo 1 deixa claro que esse ensino é a instrução da boa
doutrina da Palavra de Deus. A Palavra de Deus deve permear todo o ministério com os
jovens. Como diz Eric Bancroft:

Um pastor de jovens com cerca de 25 anos pode ter todo zelo e amor, e em alguns
casos, personalidade que alcançará audiências. Enquanto podem ser bons veículos,
tem que vir da Palavra de Deus. Qualquer ministério, seja jovens, solteiros, ou
terceira idade, que não está baseado na Palavra de Deus será, no melhor das
hipóteses, limitado.53

O pastor tem que ser um exemplo no seu ensino íntegro, puro e


incorruptível (ἀφθορίαν), e isso implica em conhecer, estudar e transmitir as verdades
bíblicas. Duas perguntas podem ser feitas para avaliarem o exemplo do pastor de jovens:
como estão suas boas obras? E como está seu ensino? Perceba que Paulo não fala de
programações e atividades. Essas coisas são periféricas. São úteis somente quando usadas
para promover algum propósito bíblico. O trabalho principal do ministério de juventude é

51
BLACK, Wesley. Op. cit. p. 170-171
52
FIELDS, Doug. Um ministério com propósitos para líderes de jovens. São Paulo: Vida, 1999. p. 31-36
53
BANCROFT, Eric. Apud. DEMING, Melissa. How vital is theological training for youth pastors?
www.sbtexas.com. 29 de Janeiro 2007.

31
pregar a Palavra de Deus. Isso pode ser feito de muitas formas: discipulado, aconselhamento,
estudos bíblicos, Escola Dominical e pregações, entre outras. Precisamos resgatar esse foco ao
ministério de jovens.

Uma área que tem sido muito negligenciada devido a esse desvio da
centralidade do ensino puro é o lugar da exposição bíblica e pregação no ministério de jovens.
É raríssimo encontrar ministérios que aderem a isso. Com pregação expositiva não quero
dizer estudos compridos e chatos que só falam de grego e hebraico. Quero dizer mensagens
(muitas vezes em série) que explicam um texto, extraindo o princípio principal e aplicando de
forma relevante às vidas de seus ouvintes. Bancroft insiste que a maioria do que se ensina aos
jovens nas igrejas são apenas lições sobre moralidade que não se baseiam nas verdades do
evangelho. Ele enfatiza a necessidade de exposição bíblica e pregação para os jovens. O
ministério de jovens é essencialmente pastoral, focado em ensinar a Bíblia e ajudar os jovens
a crescerem nas verdades de Deus.54

Atualmente, existem muitas filosofias de ministério que não dão essa


ênfase, apesar de afirmarem a primazia das Escrituras. Por exemplo, no primeiro apêndice de
seu livro, Black inclui uma descrição de tarefas para o ministro de jovens.55 Das quatorze
responsabilidades alistadas, apenas três são mais voltadas para o pastoreio dos jovens. Todos
os demais são trabalhos administrativos ou educacionais. Com isso quero dizer que elas se
preocupam com áreas legítimas, mas que não envolvem tanto a exposição da Palavra, o
aconselhamento e o discipulado. São responsabilidades de trabalhar principalmente com
materiais, projetos, programas, treinamentos e métodos. Não parece muito que o papel do
ministro do jovem é principalmente de pastorear. Esse papel é do pastor titular da igreja ou
dos demais departamentos. Nesta visão, o trabalho do ministro de jovens inclui algumas
funções pastorais, mas o centro não é o ensino da Palavra e o cuidado de ovelhas. Parecem
que as funções são mais administrativas, de treinar e de coordenar outros para cuidar dos
jovens. Isso, sim, multiplica o ministério com os jovens, mas pode acabar tirando o foco do
pastoreio.

Outra maneira em que os líderes devem ser exemplos no ensino é ensinando


com seriedade. Essa palavra (σεμνότητα) aqui descreve o conteúdo e a maneira em acontece o

54
BANCROFT, Eric. Apud. DEMING, Melissa. Op. Cit.
55
BLACK, Wesley. Op. cit. p. 235

32
ensino. Ambas devem demonstrar dignidade e seriedade, causando respeito especialmente
diante os que são de fora.56 Essa qualidade de dignidade também deve ser característica dos
homens mais velhos (Tt. 2.2), dos reis (1 Tm. 2.2) e dos diáconos (1 Tm. 3.8). Portanto, Tito
deveria também mostrar essa mesma seriedade que é própria da idade avançada e dos cargos
de liderança. O ensino sério e digno é aquele que mostra o verdadeiro perigo do pecado e da
condenação eterna e que mostra com muita reverência o evangelho de Deus. Entende que o
que está em jogo é o destino eterno de almas criadas por Deus.

Essa qualidade parece estar especialmente em falta no ensino atual aos


jovens. J. C. Ryle comentou que na sua época (século 19) palavras tolas, piadas, brincadeiras
e festas excessivas já eram comuns demais. Portanto, ele exorta os jovens a terem seriedade
com as coisas de Deus, porque o inferno é sério, o pecado é sério, o desejo do diabo em nos
derrubar é sério, Cristo é sério em interceder por nós e o Espírito Santo é sério em nos
conduzir.57

Hoje a situação não mudou muito. Os melhores palestrantes de juventude


são aqueles que divertem todos com suas piadas e malabarismos. O conteúdo pode ser pouco
e raso, mas o importante é ser engraçado e divertido. Claro, existe o lugar de humor no
ensino, mas a ênfase não pode ser essa. A juventude já tem diversão demais. Precisamos
equilibrar suas vidas com ensino sério e digno de respeito. O pastor de jovens deve se
empenhar em entender os problemas mais profundos dos corações dos jovens e saber lidar
com eles biblicamente. David Powlison concorda quando critica o conceito moderno de pastor
de jovens:

Geralmente, aqueles que trabalham com jovens são animados e lideram atividades,
viagens missionárias para lugares distantes ou estudos bíblicos dinâmicos. A idéia
de que um pastor de jovens poderia também lidar com os problemas mais profundos
de [um adolescente] parece inconcebível. E por que não? Não há motivo para
duvidar. A sabedoria bíblica pode fazer a mais profunda diferença.58

Se os jovens não forem levados a entender que a Bíblia tem respostas sérias
para suas dúvidas e problemas sérios, nunca sentirão a necessidade de abri-la. Se o ensino das

56
KITTEL G. Op. cit. p. 196
57
RYLE, J. C. Op. cit. p. 33-34
58
POWLISON, David. Apenas um adolescente. In: Coletâneas de aconselhamento bíblico. Atibaia: SBPV, v. 6,
2007. p. 80

33
Escrituras se resume a entretenimento, com apenas uma “moral da história”, só encontrarão
respostas de mesmo valor que as respostas dos programas de televisão. Eles precisam de uma
direção concreta, objetiva e profunda. Precisam ver o dinamismo da Bíblia e que estudá-la
não é como comer feno seco. Por isso devemos aguçar o interesse e imaginação deles no
nosso ensino. Mas isso jamais deve substituir o peso, dignidade e respeito pela Bíblia.

No versículo 8, Paulo fala de mais uma forma em que Tito deve ser exemplo
no seu ensino aos jovens. Ele deve ensinar com palavras sadias que não podem ser justamente
criticadas (λόγον ὑγιῆ ἀκατάγνωστον). O foco aqui é no conteúdo e na forma da transmissão.
A linguagem de Tito deve ser sadia, pura, conversando de forma edificante, apropriada e
saudável.59

Mais uma vez, isso vale de alerta para todos que ministram aos jovens. A
tentação é de nos envolvermos com eles de tal modo que acabamos usando a mesma
linguagem que eles. Com os devidos cuidados isso pode até ajudar na comunicação. Não
queremos nos distanciar deles com palavras difíceis e “evangelicalês”. Por outro lado,
precisamos também elevar o nível das conversas e não só nos abaixar ao nível deles. Muitas
vezes líderes da juventude se apropriam da “gíria teen” para serem aceitos e às vezes até para
chocar os seus ouvintes. Ao fazerem isso, porém, muitas vezes passam dos limites e pecam ao
usar linguagem que não é sadia e que é muito susceptível à crítica.

O pior é que esse tipo de contextualização lingüística não é o que os jovens


mais valorizam e respeitam no líder. Num capítulo muito interessante intitulado “Ficando
mais velho no ministério de jovens”, Wesley Black relata o resultado de sua pesquisa com
pastores com mais de 30 anos de idade. A maioria diz que conforme ganhavam mais
experiência de vida, seu ministério com os jovens mudou muito. Ao invés de seus
relacionamentos com os jovens ficarem mais fracos com o distanciamento de idade, se
fortaleceram, pois eles viam nos pastores mais experiência e seriedade de vida. Os ministros
mais velhos não sentiam a mesma necessidade de fazer tudo com os jovens para provar sua
relevância, mas se focalizavam em desenvolver relacionamentos mais profundos.60

59
MACARTHUR, John. Op. cit. p. 95
60
BLACK, Wesley. Op. cit. p. 181

34
Pastores mais novos podem aprender com isso. Ser considerados como
iguais aos jovens não é tão essencial como muitas vezes imaginamos. Devemos ser relevantes,
mas devemos nos focar mais no conteúdo e em demonstrar amor e seriedade nos
relacionamentos. Porém, mais importante ainda, nunca devemos comprometer a linguagem
sadia de forma que alguém possa nos acusar de palavras torpes. Nesse sentido, Tedd Tripp
nos lembra:

A Palavra de Deus desafia-nos a pensar nas palavras que pronunciamos. O seu falar
refletiu a sabedoria do alto, que é pacífica, gentil, submissa, cheia de misericórdia e
bom fruto, imparcial e sincera? Ou foi sabedoria terrena cheia de inveja, ambição
egoísta, confusão e toda prática do mal?61

São essas perguntas que devem dirigir nossa conversa e ensino aos jovens.
Portanto, devemos como ministros à juventude, tomar muito cuidado com nossa conduta e
ensino. Tito 2.7-8 é um texto que serve de padrão para nossos ministérios. Devem ser
comprovados pelo exemplo de seus líderes. Esse exemplo deve ser nas boas obras e no ensino
puro, sério, com linguagem sadia. Essas qualidades na vida do pastor de jovens darão vida e
profundidade ao seu ministério.

61
TRIPP, Tedd. Comunique-se com os adolescentes. In: Coletâneas de aconselhamento bíblico. Atibaia: SBPV,
v. 6, 2007. p. 94

35
4 O ENSINO AOS JOVENS
O papel mais importante do ministério de jovens é o ensino da Palavra de
Deus. Isso pode acontecer de diversas formas. Pode envolver pregação, discipulado individual
ou em grupos, classes de Escola Dominical, evangelismo pessoal ou em massa,
aconselhamento etc. Seja qual for o meio ou o ambiente, o conteúdo precisa ser o ensino
bíblico, focado na pessoa e obra de Cristo. Não apenas isso, mas precisamos permitir que a
Bíblia direcione todo o nosso ministério.

Muitas vezes não fazemos as perguntas certas sobre o que devemos ensinar
à juventude. Geralmente avaliamos a cultura pós-moderna e então buscamos na Bíblia as
respostas para aquilo que o mundo está perguntando. Isso tem o seu lugar e pode ser válido,
porém muitas vezes o mundo não faz as perguntas certas. Proponho que precisamos ser ainda
mais bíblicos e saturar o nosso ensino com aquilo que a Bíblia diz que eles precisam ouvir.
Vamos deixar que a Bíblia faça as perguntas certas e também as responda.

Com esse intuito continuaremos olhando para algumas passagens das


Epístolas Pastorais e Gerais procurando as ocasiões em que os apóstolos falaram
explicitamente sobre a juventude. Começaremos com Tito 2.6 onde Paulo dá instruções claras
a Tito no que ensinar aos jovens. Em seguida veremos 1 João 2.12-14 onde João encoraja os
jovens na sua vitória contra o inimigo. Por último veremos 2 Timóteo 2.22 onde Paulo adverte
Timóteo, um pastor jovem em como lidar com as pressões e paixões próprias da juventude.
Seguindo essas instruções preciosas, teremos uma boa idéia de ênfases que também devemos
ter em nossos ministérios com juventude.

4.1 Seja Prudente

Um dos textos mais importantes e talvez mais negligenciados sobre o ensino


aos jovens é Tito 2.6. De fato, o único texto que encontrei na minha pesquisa que relacionava
esse versículo com o ministério de ensino foi Thoughts for Young Men de J. C. Ryle. Ele
escreve na introdução de seu livro que a razão de escrever é justamente o conselho de Paulo

36
aos ministros de ensinarem prudência aos jovens.62 E de fato, seu livro faz justamente isso em
suas 86 páginas.

Todo o capítulo 2 de Tito foi escrito para ensinar esse pastor (talvez jovem
como Timóteo) como lidar com os diversos grupos na igreja. Paulo inclui instruções acerca
dos homens mais velhos, das mulheres mais velhas, das jovens moças, dos jovens rapazes, e
dos escravos. O capítulo 1 mostra que a razão de lidar com esses grupos era: levá-los à
piedade através da fé e conhecimento da verdade (v.1, 9), colocar em ordem a igreja com sua
liderança (v. 5), silenciar os insubordinados que ensinavam heresias (v. 11-12) e repreendê-los
para que todos crescessem com uma fé saudável (v. 13).

Com esses objetivos em mente, Paulo inicia o capítulo 2 advertindo Tito a


ser diferente no seu ensino. Ele deve falar o que pertence à sã doutrina (Tt. 2.1). Tito serve de
contraste com os seus oponentes que são faladores e enganadores que ensinam falsidade por
ganância (1.10-11). Seu conteúdo é a teologia bíblica e boa doutrina. Essas verdades formam
a base para o ensino específico aos diversos grupos da igreja. Seu compromisso é conhecer a
Palavra (1.9) para depois ensinar a cada grupo conforme necessita.

Hoje em dia esse processo freqüentemente se inverte. Muitas vezes as


necessidades das diferentes faixas de idade são consideradas primeiro e depois a Bíblia é
consultada para verificar se ela corresponde. Não é errado conferir nossas crenças na Bíblia.
Porém, muitas vezes damos mais valor para o que a sociedade diz que são as necessidades das
diferenças idades, e não perguntamos se Deus diz quais são essas necessidades. Assim, nos
deparamos com muitos ministérios de jovens que acham que a maior necessidade desta faixa
de idade é a auto-estima ou algo semelhante, e passam a procurar textos bíblicos que ensinem
sobre isso, ao ponto de torcer versículos fora do seu sentido normal.

Precisamos fazer o processo inverso, buscar o que Deus diz sobre as


necessidades do jovem e a condição do homem numa antropologia bíblica, e a partir disso,
buscar as implicações específicas para os jovens com quem lidamos. Todo ministério de
juventude precisa se fundamentar no estudo da Palavra de Deus. Um pastor comentou que é
impressionante como nós muitas vezes erramos no que os jovens precisam e também no que
querem. Muitas vezes eles não querem os jogos, dinâmicas e atividades. Eles querem estudar

62
RYLE, J. C. Op. cit. p. 1

37
a Bíblia e aprender a sua relevância para as vidas deles.63 Somos chamados em Tito 2.1 a
sermos diferentes no nosso ensino, falando o que está de acordo com a sã doutrina.

Paulo então prossegue e fala dos homens mais velhos, das mulheres mais
velhas e das moças mais jovens. Chegando ao versículo 6, ele dá um único tema para Tito
tratar com os rapazes. Ele deve encorajá-los (παρακάλει) a serem prudentes (σωφρονεῖν) em
tudo. Παρακαλέω ocorre 8 vezes nas epístolas pastorais. Ela transmite a idéia de exortar,
encorajar, rogar, clamar.64 Em Tito as outras duas ocorrências desta palavra são no contexto
geral desta passagem. Tito 1.9 fala de se apegar firmemente à palavra fiel, de acordo com a
boa doutrina, para que o ministro seja apto para encorajar ou exortar (παρακαλεῖν) os que
estão na doutrina sadia e refutar os oponentes dela. Em Tito 2.15, Paulo resume todas as
instruções que deu para os diversos grupos, lembrando Tito que deve falar tudo isso com
exortações (παρακάλει) e advertências com toda a autoridade. Nesses contextos, Παρακαλέω
tem um aspecto mais positivo, de encorajar a fazer algo que deveria. Porém, não podemos
deixar de notar a ênfase que Paulo dá de que todo ensino, exortação, refutação, autoridade,
vem da boa doutrina da Palavra de Deus.

Em Tito 2.6, παρακάλει está no imperativo, para que Tito rogue aos jovens
a serem prudentes (σωφρονεῖν). Esta palavra (σωφρονεῖν) e seus cognitivos são muito raros
no Novo Testamento, ocorrendo apenas 14 vezes. Nas Epístolas Pastorais estas palavras são
usadas para ensinar como um cristão deve interagir e viver no mundo. Consiste numa atitude
correta acerca do mundo e seus bens que resulta em domínio próprio, contentamento,
moderação e prudência. Estas palavras são usadas justamente para combater a idéia de um
cristianismo dualista ou gnóstico que separa a relevância do físico para o espiritual, resultando
em ascetismo ou libertinagem. Também combate a idéia de uma fé de êxtase como as crenças
pagãs.65

Portanto, os jovens precisam aprender a pensar antes de agir, a serem


sensatos e prudentes. Devem ter bom juízo e entender como colocar a fé na prática e lidar
com as situações do seu cotidiano. Numa idade onde o corpo clama por atenção e satisfação,

63
BOLINDER, G., MCKEE, T., CIONCA, J. R. What every pastor needs to know about music, youth, and
education. Waco: Word Books, 1986. p. 102
64
LOUW, J. P. Op. cit. p. 407
65
KITTEL G. Op. cit. p. 1103

38
precisam deixar a mente guiar o corpo, refreando esses desejos e se lembrarem das verdades
de Deus. Precisamos dar recursos na nossa pregação para que saibam escolher a vontade de
Deus em suas vidas. “Um ministério bem-sucedido com jovens é aquele que desafia
teologicamente os alunos, para que possam... se manter firmes em meio a cultura, entender a
fé que tem e falar dela claramente.”66

A juventude é muito caracterizada por dar muita importância a coisas


secundárias, por ser levada aos extremos e instabilidade. Mas também é a idade de firmar os
alicerces da fé e aprender a tomar boas decisões. Em um ministério de jovens que prioriza o
ensino da Palavra e mostra amor, carinho e interesse pelas vidas deles, não faltarão jovens
pedindo conselhos acerca de situações e decisões que precisam lidar. Devemos aproveitar
essas oportunidades para mostrar como eles podem buscar as respostas na Palavra por si sós.

A lista de exortações aos diferentes grupos em Tito 2 conclui nos versículos


11 a 15 com encorajamento e esperança para essa obra. A nossa purificação e andar santo no
mundo de hoje é possível por causa da graça redentora de Cristo. Nós somos exclusivamente
dEle e aguardamos o Seu glorioso retorno para a nossa salvação. Essa graça é o que ensina a
dizer “não” às paixões mundanas. Podemos viver de uma maneira sensata (σωφρόνως), justa
e piedosa nesse mundo caído por que fomos completamente lavados pelo sangue de Cristo.
Esse é o evangelho! É a nossa esperança! A única forma que qualquer jovem, adolescente, ou
adulto pode ser prudente, sensato e saber lidar com os problemas de sua vida é reconhecendo
o poder purificador da graça de Cristo que atua na vida do salvo. Nossos ministérios têm o
privilegio e responsabilidade de proclamar essa “graça que se manifestou salvadora a todos os
homens” (v. 11). Não pensemos que qualquer mudança real possa acontecer na vida de um
jovem apenas com regras, padrões e hábitos. A purificação e santificação procedem da
apropriação e aplicação da graça de Cristo. Só ela pode ensinar a renúncia do pecado (v. 12).

4.2 Afirme a vitória em Cristo

O próximo texto que trataremos é 1 João 2.12-14. Essa passagem consiste


de duas tríades, ambas falando da razão porque João escreveu sua epístola aos filhinhos, aos
pais e aos jovens. Já foi discutida acima a validade de entender essas designações como

66
DEROUEN, Johnny. Apud. DEMING, Melissa. Op. cit.

39
diferenças de idade, e concluímos que os princípios são válidos a todos os crentes, mas que as
distinções se referem a diferenças de tempo de convertido e idade. Essa passagem, portanto,
traz implicações valiosas para o ministério da juventude.

Para entendermos esse texto, primeiramente devemos entender o seu


contexto imediato. No capítulo 1, João lembra os cristãos da realidade da pessoa de Cristo e
as implicações de serem filhos de um Deus santo e amoroso. O objetivo de João fica claro no
versículo 4 que ele escreve para que a alegria de seus ouvintes seja plena. Porém, como parte
desse propósito, era necessário que ele advertisse seus leitores no início do capítulo 2 a terem
comunhão com Deus e uns com os outros, obedecendo aos mandamentos de Deus. Assim
chegamos aos versículos 12 a 14 que se encaixam perfeitamente no restante do livro. O Dr.
Carlos Osvaldo Pinto explica que:

Na sua tentativa de levar seus leitores para longe dos falsos ensinos dos hereges
(2.12-19), João achou apropriado encorajá-los, expressando sua confiança nas
possibilidades deles na vida espiritual (2.12-14). Certos fatos haviam se tornado
verdades sobre os crentes (aqui figuradamente descritos como crianças, homens
maduros e jovens) e continuavam verdades (seis das sete descrições usam o tempo
perfeito) e que deixavam João certo que seu ensino seria apropriado e que produziria
fruto (cf. 2.21).67

João não queria apenas exortar, mas encorajar os crentes a continuarem


naquilo que já conheciam. Portanto, olhemos para alguns detalhes desse texto.

Um dos atributos mais interessantes desses versículos é que quase todos os


verbos estão no tempo perfeito. Isso destaca que João está encorajando seus leitores ao
declarar realidades passadas que ainda tinham efeito presente em suas vidas. Ele os lembra do
perdão do pecado que têm em Cristo (v. 12) e do conhecimento de Deus que têm devido a
esse perdão (v. 13-14). Essas lembranças são importantes para o ensino de João, pois injetam
esperança em meio às exortações, e mostram que João crê que está falando com convertidos.
Devemos seguir esse exemplo no nosso ensino à juventude de nossas igrejas. Precisamos
lembrá-los de quem são em Cristo. A base de qualquer mudança bíblica é a realidade que já
temos em Cristo e os desdobramentos dessas verdades no presente. O jovem (e qualquer ser
humano) não tem condições pela sua força de causar mudança em sua própria vida. Ele

67
PINTO, Carlos Osvaldo Cardoso. Op. cit. p. 90

40
precisa da graça de Deus e a lembrança do amor, do sacrifício, da ressurreição e do perdão de
Cristo.

Percebamos como João faz isso ao encorajar os jovens. O tempo perfeito


para “tens vencido” (v. 13 e 14) indica que eles já têm enfrentado o Maligno e asseguraram a
vitória. Isso não implica que a batalha acabou, mas que a luta é contra um Diabo cuja derrota
já foi decretada e que não tem mais poder nenhum sobre os crentes.68 É muito interessante a
ligação desse texto com 1 Pedro 5.8-9 que também segue uma passagem aos jovens. Ali Pedro
adverte que o Diabo anda ao redor buscando atacar o crente, mas que a vitória é ganha
resistindo-o com fé. Não podemos negar que o ministério com juventude é uma tremenda
batalha espiritual. O Diabo reconhece que nessa idade ele pode causar muita destruição e
levar muitos para longe de Deus. O mundo está nas mãos dele e assedia os jovens por todos os
lados. A pressão é tremenda! Precisamos reconhecer isso e não tratá-los como crianças
inocentes e nem como rebeldes pervertidos. Eles estão sendo introduzidos numa guerra feroz.
Precisamos lhes dar os recursos da Palavra e o encorajamento para perseverarem. Muitos
ministérios se propõem apenas em dar diversão e comunhão, quando o que precisam é de
treinamento e fortalecimento. É por isso que João encoraja-os a lembrarem da vitória que já
têm em Cristo. “Essa posição de vitória deve ser mantida diariamente com uma fé firmada em
Cristo e um avançar resoluto contra o Diabo e suas tentações.” 69

No versículo 14, ao repetir a tríade dos versículos 12 e 13, existem algumas


mudanças no tratar dos jovens. Note também aqui o tempo dos verbos. Eles são fortes
(ἰσχυροί ἐστε, tempo presente), a Palavra de Deus permanece neles (μένει, tempo presente), e
tens vencido o Maligno (νενικήκατε τὸν πονηρόν, tempo perfeito). As três declarações são
intimamente interligadas com a conjunção καὶ, e assim, a vitória que eles já têm, é explicada.
“Como jovens, agora são descritos explicitamente como fortes, e a razão pela força é dada: a
palavra de Deus habita neles.” 70

Vejamos a seriedade e a glória do ministério aos jovens. Temos a


oportunidade de expor a Palavra de Deus para fortalecê-los em sua luta contra o Diabo, pois
vitória e força só vêm quando permanecem nas Escrituras. A idéia de permanecer (μένω) é

68
HIEBERT, D. Edmond. Op. cit. p. 430
69
Idem. Ibid.
70
MARSHALL, I. Howard. The epistles of John. Grand Rapids: Eerdmans, 1978. p. 141

41
muito prevalente nos escritos de João (a palavra ocorre 68 vezes em seus escritos). Ele
combate as religiões helenistas e pagãs de sua época que valorizavam apenas a experiência
mística e mostra o cristianismo como acima de todas elas, pois a realidade da fé em Cristo e a
vida de Cristo são permanentes.71 1 João 3.24 relaciona a nossa permanência em Deus com
obediência aos Seus mandamentos. Em João 8.31 Jesus ensina Seus discípulos de verdade são
somente aqueles que permanecem em Sua palavra. Em João 5.38, Jesus acusa seus inimigos
de não terem a Palavra de Deus permanecendo neles, pois não têm fé em Jesus que foi
enviado por Deus. Baseado nesses versículos, e em muitos outros, concluímos que ter a
Palavra de Deus permanecendo nos jovens (1 Jo. 2.14) depende da fé que têm em Cristo, e da
obediência aos mandamentos de Deus. Não se limita a um conhecer ou memorizar a Palavra,
e nem mesmo a uma experiência mística, mas praticar e obedecer aos mandamentos de Deus.

Por isso, o nosso ensino aos jovens deve ser expositivo e exortativo. Eles
precisam conhecer plenamente as Escrituras (At. 20.27), as implicações das Escrituras e as
aplicações práticas para as suas vidas. Nossa pregação e ensino aos jovens têm que visar
mudança espiritual e prática, de dentro para fora. Não pode ser apenas mudança externa, pois
isso não tem valor permanente (Cl. 2.23). Também não pode ser apenas mudança interior,
pois isso não existe sem mudança externa (1 Jo. 3.24).

O ensino aos jovens, portanto, deve lembrá-los da batalha espiritual que


enfrentam e da vitória que têm em Cristo. O ministério com a juventude procura preparar um
exército que conhece a sua força proveniente de um relacionamento permanente com Cristo
exemplificado numa vida obediente a Sua Palavra. Esse exército de jovens fortes, vitoriosos,
obedientes a Cristo está nas nossas igrejas. Precisamos acordar para essa realidade e parar de
tratar esse ministério como um berçário ou cultinho infantil avançado. Com a espada das
Escrituras podemos treinar essa geração para alcançar sua geração e outras gerações com o
evangelho e o poder de Cristo.

4.3 O ministério das mulheres com as jovens

O penúltimo texto a ser considerado é Tito 2.3-4. Aqui continuamos no


mesmo contexto de admoestações aos diversos grupos da igreja. O estudo desse texto poderia

71
KITTEL, G. Op. Cit. p. 576

42
ser feita no capítulo anterior sobre o jovem e a igreja, mas preferimos incluir aqui ao tratar do
ensino aos jovens, pois fala de algumas áreas muito importantes para a vida das jovens moças
em seus futuros lares. Entretanto, é um assunto que requer especial cooperação do corpo de
Cristo. Nessa passagem Paulo fala às mulheres idosas e às jovens. Tito deve se preocupar em
ensinar as mais velhas a serem reverentes, não caluniadoras, nem dadas ao vinho, mas boas no
ensinar (v. 3). A razão disso é que elas, por sua vez, ensinem as moças como cuidar de seus
lares. Todo esse processo visa o bom testemunho e para que ninguém difame a Palavra de
Deus (v. 4). Agora, dos cinco grupos a quem Tito deve ensinar (homens mais velhos,
mulheres mais velhas, moças, rapazes, escravos), as moças são o único grupo a quem Tito não
tem nada a falar diretamente. Uma possível explicação é que Paulo temia a tentação que
poderia ser causada pelo envolvimento próximo de Tito com as moças. Outra razão pode ser
que as necessidades específicas de uma jovem moça são melhores ensinadas por senhoras
mais experientes do que um jovem pastor.

Ao olhar para as áreas que devem ser ensinadas pelas mulheres, percebemos
que as ênfases são com respeito ao lar. As moças devem amar seus maridos e filhos, serem
prudentes (veja acima), puras e bondosas, estarem ocupadas em casa e sujeitas a seus maridos.
Fica claro que as jovens sobre as quais Paulo está falando são casadas, possivelmente já com
filhos. Esse perfil é bem diferente das jovens e adolescentes que geralmente se encontram em
ministérios de juventude. Porém, como foi defendido anteriormente, νέας pode descrever
idades até os 35 ou 40 anos, logo inclui senhoras muito mais velhas que comumente abordada
pelos ministérios de juventude. Por outro lado, como também afirmado acima, no primeiro
século as moças se casavam muito mais cedo. Este texto tem implicações muito importantes
para todo o ministério das mulheres da igreja, mas não é a intenção desse trabalho se
aprofundar nisso, pois escolhemos limitar o tratamento de ministério com juventude aos
jovens solteiros.

Porém, esse texto não está desprovido de implicações para as jovens


solteiras. Existe aqui uma importante área de ensino que pode ser muito explorado nos
ministérios de juventude. Não se deve esperar até que as moças se casem para começar a
ensinar sobre a prioridade do lar. Elas já devem ser discipuladas pelas mulheres mais
experientes mesmo enquanto solteiras. Hoje em dia o papel da mulher é muito negligenciado.
Diante da sociedade, a mulher de sucesso é aquela que tem um bom desempenho em seu
trabalho, que faz faculdade ou pós-graduação e que é independente. Portanto, as jovens

43
também são ensinadas nesses valores pela cultura e pelo exemplo de mulheres assim. Até na
igreja, muitas vezes mais se fala para as jovens sobre escolha de carreira do que preparo para
o lar.

Está na hora de honrarmos a dignidade do papel das mulheres e


proporcionarmos momentos de ensino e discipulado das moças solteiras em preparação para
seus futuros lares. Devemos chamar mulheres experientes e qualificadas para participar do
ministério de jovens e incentivá-las a se envolverem com as jovens. Elas podem ensinar
formalmente em palestras ou informalmente em casa num discipulado. O conteúdo deve ser
tudo que possa ser útil para os futuros lares das moças, desde habilidades na cozinha,
decoração, costura, etc. Mas não deve se limitar a isso. Paulo dá muito valor a qualidades
espirituais. Ele fala de prudência, pureza, bondade e submissão. Essas virtudes são
desenvolvidas no coração das moças pela aplicação da Palavra de Deus e são demonstradas
nos relacionamentos e na conduta diária.

Algumas formas práticas de aprender submissão é sendo obedientes aos


seus pais e líderes. Podem aprender a amar sacrificialmente na forma que tratam seus irmãos.
Na igreja existem muitas oportunidades para aprenderem a amar e cuidar de crianças. Elas
devem começar a entender a responsabilidade e privilégio de se derramarem na vida de uma
criança para que ela cresça conhecendo a Cristo.72 Tudo isso pode e deve ser acompanhado
por senhoras responsáveis, irrepreensíveis, qualificadas e dignas.

Mal podemos imaginar o impacto de uma geração de moças bem preparadas


e dispostas a fazerem seu papel como mães e esposas dignas cujas vidas são motivos para as
pessoas glorificarem a Deus e não difamarem Sua Palavra (v. 5). Essa força pode ser o berço
de um reavivamento na igreja, pois Deus reservou a especial tarefa de treinar as seguintes
gerações para as mulheres. É o nosso dever no ministério de ensino à juventude auxiliar nessa
tarefa tão digna que é o preparo e discipulado das moças.

4.4 Fuja do pecado

Em 2 Timóteo 2.22 encontramos outra passagem muito importante para o


ensino á juventude. Paulo, nessa carta pessoal, escreve para o seu jovem aprendiz dando

72
MACARTHUR, John. Different by design. Wheaton, Ill.: Victor Books, 1997. s.p.

44
muitos conselhos e exortações quanto a sua vida pessoal e ministério, e fortalecendo-o contra
os ataques de falsos ministros. Como Timóteo era considerado relativamente jovem (1 Tm.
4.12), é importante notar os textos onde Paulo adverte especificamente sobre alguma área
relativa a essa juventude. 2 Timóteo 2.22 é um dos melhores exemplos disso.

Esse versículo se encontra num contexto de conselhos para um bom


ministério (2 Tm. 2.15) e especificamente a importância de uma vida pura para tal (v. 21).
Nos versículos 23 e 24, Paulo inclui um terceiro imperativo (os primeiros dois estão no
versículo 22), chamando Timóteo a evitar as conversas inúteis dos falsos ministros. Ele deve
se cuidar para não brigar, mas ensinar, corrigir e admoestar a todos para que venham a se
arrepender e conheçam a verdade de Deus (v. 24-25). Timóteo deveria tomar muito cuidado
com aquilo que ele deixasse o envolver e como reagisse diante de opiniões e posições
diferentes dentro da igreja em que ministrava.

Considerando esse contexto, voltemos nossa atenção ao versículo 22.


Encontramos dois imperativos (φεῦγε e δίωκε; foge e busca), o segundo seguindo
imediatamente o primeiro (sem separar com uma conjunção), transmitindo a idéia de que a
obediência a uma é integral para o cumprimento da outra. Não se pode separar a fuga do
pecado da busca pela santidade. Desde já encontramos uma séria implicação para o ministério
de ensino aos jovens. Quantas vezes não ouvimos jovens tentando desassociar suas vidas e
condutas pessoais com seu relacionamento com Deus. A religiosidade é divorciada de suas
ações. A motivação e coração são separados da prática. Porém, essa dicotomia é impossível,
conforme esse versículo. A fuga das paixões da mocidade é, ao mesmo tempo, uma busca
intensa pelas virtudes de Deus. A vida com Deus se separa radicalmente de qualquer vestígio
do pecado. Portanto a primeira implicação deste texto para o ministério de ensino aos jovens é
justamente de não desassociar a santidade da rejeição do pecado.

O primeiro imperativo é de fugir das paixões da mocidade. A palavra usada


aqui é ἐπιθυμίας, que significa desejo muito forte, paixão, geralmente cobiça.73 Esta palavra
ocorre 38 vezes no Novo Testamento, muitas delas nas escritas paulinas. É a palavra usada
para concupiscências, e desejos malignos da carne contra a qual o Espírito Santo milita (Gl.
5.16, 24). Tito 2.11-14 ensina que é a graça de Deus que ensina como negar esses desejos

73
SWANSON, J. Op. cit. s.p.

45
pecaminosos e Romanos 13.13-14 fala da necessidade do crente de se revestir com a vida de
Jesus Cristo para a vitória sobre eles. Logo, o conhecimento do sacrifício de Cristo, sua
ressurreição e as implicações dEle ter crucificado a nossa carne com Ele na cruz são chaves
para fugirmos dessas paixões.

Como visto, essas paixões são bastante abrangentes e esses pecados na vida
do jovem não diferem em muito dos pecados enfrentados pelos adultos. Lutamos contra as
paixões que guerreiam em nós (Tg. 4.1) e adorando ídolos em nossos corações que substituem
o lugar de Deus. Alguns dos ídolos mais comuns em jovens são: orgulho e desempenho,
prazer e sensualidade, posses e temor aos homens. Esses ídolos, ou paixões, se manifestam na
forte competitividade, na vaidade, na pornografia e masturbação, na preocupação com a
aprovação dos amigos, etc.74 Temos o trabalho de ajudá-los a colocarem Deus em primeiro
lugar em suas vidas e fugirem dessas paixões desenfreadas.

O bispo anglicano J.C. Ryle em seu livro clássico Thoughts for Young Men
(Pensamentos para Jovens) do século retrasado, adverte severamente contra qualquer forma,
vestígio ou ocasião de pecado. Os maiores pecadores raramente chegam a cometer atrocidades
de um dia para o outro. Eles começam devagar, concedendo espaço em suas vidas para
pequenos males, que viciam e crescem até derrubar a pessoa por inteiro. Por isso é essencial,
especialmente para os jovens, fugirem até de situações (especialmente no entretenimento) que
em si não tem nada de errado, mas que oferecem ocasião para o Diabo agir.75

Agora, precisamos reconhecer as demais vozes clamando pela atenção do


jovem. A cultura, através da mídia, do sistema de educação, das psicologias e das próprias
amizades dos jovens, dizem exatamente o oposto. Elas pregam aos jovens que precisam dar
abertura e ventilarem os seus desejos. Não tem problema como querem se divertir. O
importante é serem felizes. Os jovens se deslumbram com essas propostas e param para
avaliá-las ao invés de fugir, e assim o pecado os alcança e os destrói. Por isso, no ensino sobre
o perigo do pecado, o pastor de jovens precisa mostrar o pecado à luz da grandeza da glória de

74
TRIPP, Tedd. Dê ao seu Adolescente uma Visão da Glória de Deus. Op. cit. p. 84
75
RYLE, J. C. Op. cit. p. 66

46
Deus e da obra de Cristo, para que as grandes verdades do amor e promessas de Cristo atraem
o jovem para a santidade. 76

Nesse sentido, Paulo não fala apenas de fugir do pecado, porque nenhuma
fuga é eficiente sem uma direção certa. É preciso fugir, numa busca intensa pela justiça, fé,
amor, e paz! A idéia da palavra δίωκε é de perseguir, de correr atrás com o propósito de
alcançar, com um esforço intenso. Com o mesmo vigor que o jovem foge do pecado, deve
seguir, buscar, perseguir o bem. Os desejos que puxam seus corações são tão intensos que
devem ser substituídos por algo ainda mais forte. Precisam ser afunilados para um novo
propósito: a justiça, fé, amor e paz. Essa é a vida de Cristo! Não ensinamos apenas um parar,
mas um prosseguir, um objetivo! Mostramos aos jovens que a justiça, fé, amor e paz, não são
virtudes que nos iludem, mas um alvo que Cristo nos concede condições de alcançar. Agora,
isso não significa que ensinamos piedade pela força deles mesmos, pelos seus próprios
méritos. Não! É Cristo quem faz, pelo Santo Espírito. Porém, a vida de Cristo nos jovens faz
com que fujam do pecado e fujam para a piedade. Isso não é uma vida estática, mas uma vida
dinâmica e abundante!

Agora, quais são as coisas que o jovem deve buscar? São a justiça, fé, amor
e paz. Nessa passagem, essas quatro virtudes são apresentadas numa seqüência metralhadora,
pois não são interligadas por qualquer conjunção. Assim, apresentam um retrato de como a
vida cristã deve ser vivida na prática, negando as paixões carnais.

4.4.1 Siga a Justiça

A primeira qualidade é justiça. De acordo com MacArthur, essa justiça se


refere a uma vida reta, a justiça prática que deve ser exibido em nossas vidas. Ele não acredita
que justiça aqui se refere à justiça imputada a nós pela obra de Cristo.77 Devido o contexto,
essa declaração parece correta. Porém caímos em perigo se fizermos muita distinção entre a
justiça imputada e a justiça prática. A segunda é impossível sem a primeira e a primeira
naturalmente proporcionará a segunda.

A busca intensa pela justiça está em forte contraste com os desejos malignos
da juventude. Esses não demonstram justiça alguma. Os desejos da carne não se importam em

76
TRIPP, Tedd. Dê ao seu Adolescente uma Visão da Glória de Deus. Op. cit. p. 88
77
MACARTHUR, John. Rediscovering expository preaching. Dallas: Word, 1997. p. 88

47
mostrar a santidade ou o caráter de Deus em suas vidas, pois para essas pessoas o pecado não
é importante, o que importa é o que elas querem - como, quanto e quando querem. A justiça é
descartada para dar lugar aos desejos da carne. Na vida do jovem, o ardor desses desejos
impulsiona à satisfação imediata e completa, sem consideração pelo valor moral dessas ações.
Por isso, a justiça precisa ser alvo da busca intensa por parte dos jovens.

Na própria carta de 2 Timóteo encontramos duas outras ocorrências da


palavra “justo, justiça”. A primeira, 2 Timóteo 3.16, é um texto clássico para a defesa da
suficiência das Escrituras. A Palavra de Deus é a ferramenta nas mãos do Espírito Santo para
o “ensino, para a repreensão, para a correção e parar a instrução na justiça.” Portanto, a busca
pela justiça começa e termina nas verdades da Bíblia. Novamente precisamos focar que o
trabalho do pastor dos jovens que busca ajudá-los a fugirem do pecado e buscarem a justiça é
firmado sempre e somente nas Escrituras. Elas são a ferramenta para nos treinar na justiça.

Em 2 Timóteo 4.7-8 Paulo começa sua despedida de Timóteo com palavras


cheias de esperança e confiança. Paulo tinha certeza de que sua luta na vida e no ministério
havia sido bem sucedida. Ele não tinha dúvida daquilo que o aguardava na presença de Cristo:
a coroa da justiça. Essa é a coroa da semelhança de Cristo, o produto final do poder
transformador da vida de Cristo em nós. Ela será entregue quando Cristo “o justo juiz” nos
declarará justos pelos méritos dEle. Paulo promete que essa coroa não está guardada apenas
para ele, mas para todos que amam a vinda de Cristo. Essa tremenda promessa faz parte da
busca pela justiça. Ela nos anima para uma vida vivida como a de Paulo, no serviço e
ministério de Deus.

Parte do ensino aos jovens deve incluir a lembrança do nosso futuro em


Cristo. Eles devem aprender a amar a vinda de Cristo. Isso é extremamente relevante
especialmente porque muitos jovens têm muita ansiedade sobre as escolhas a serem feitas na
vida. As pressões de escolherem uma carreira, faculdade, cônjuge e tantas outras coisas
levantam questões em suas cabeças sobre o propósito da vida e o papel deles no mundo.
Conforme Tripp, eles estão buscando um alvo para suas vidas, algum ideal. Precisam ver a
grandiosidade e glória de viverem para Deus.78 O ministério de jovens deve aproveitar esse
momento para ajudá-los a enxergar suas vidas à luz da eternidade. O propósito da vida deles

78
TRIPP, Tedd. Dê ao seu Adolescente uma Visão da Glória de Deus. Op. cit. p. 83

48
precisa ser estabelecido. Precisam pensar em como Deus quer que O glorifiquem com suas
carreiras e casamentos. Esse é o valor de mostrarmos uma visão da coroa da justiça que
receberão.

4.4.2 Siga a fé

A segunda virtude em 2 Timóteo 2.22 a ser procurada é a fé. Esta fé


significa confiança plena na soberania de Deus.79 É uma certeza alicerçada no poder, no
plano, na provisão e na promessa de Deus. Esta vida é livre das frustrações de precisar
controlar tudo, porque Deus controla. Isso produz paz, confiança e amor.

Porém, as paixões da juventude não têm fé em Deus. A única fé que existe é


no esforço próprio da humanidade. O homem é capaz de construir sua própria vida e mudar o
mundo. A sociedade crê nisso. Ela não precisa de Deus, pois o homem é a resposta para tudo.
Se mudarmos o ambiente, mudaremos o homem. Se houver uma boa educação, uma boa
família, bons recursos e o ambiente perfeito, nascerá o homem ideal. Com essa fé na força e
bondade básica inerente ao ser humano, a culpa nunca é assumida. Todos os males na minha
vida são fruto do que outros cometeram contra mim, ou frutos do mal da sociedade. Essa
forma de pensar é incoerente, pois culpa todos os outros como más enquanto eu não o sou.
Então nasceu a sociedade de vítimas, onde ninguém toma responsabilidade alguma por suas
ações. A fé no homem só tem estragado mais o mundo.

Por isso, quando Paulo ordena Timóteo a fugir das paixões do pecado,
também manda buscar intensamente a fé. Timóteo precisava confiar plenamente em Deus
para tudo em sua vida. Se ele pensasse que tudo em sua vida e ministério dependesse dele,
entraria em desespero. Precisava lembrar-se do poder e da soberania de Deus para direcioná-
lo e consolá-lo.

Essa mesma ênfase precisa ser dada á juventude. Eles enfrentam pressões e
desafios terríveis. São perseguidos na escola e no trabalho por serem crentes. Na faculdade se
deparam com professores muito bem preparados para desmantelar o cristianismo. Em casa
lidam com familiares incrédulos e situações que parecem não ter solução. Por isso a fase da
juventude deve ser aproveitada para ensiná-los e firmá-los na fé. São nessas idades que eles
são levados a questionar a fé dos pais. Eles não querem apenas crer no evangelho porque

79
MACARTHUR, J. Rediscovering expository preaching. Op. cit. p. 94

49
foram ensinados assim quando crianças. Eles precisam experimentar e ver que Cristo é real e
relevante para suas vidas. Precisam aprender verdades teológicas bem fundamentadas na
Palavra sobre as quais podem alicerçar essa fé. Como diz Tripp, “Queremos ver os nossos
jovens internalizarem o evangelho de Jesus Cristo como sua fé pessoal e viva... Para tanto,
precisamos cultivar sua interação com a verdade da Palavra de Deus.”80

Uma maneira de fazer isso é embutindo um pouco de apologética nas aulas


e pregações aos jovens. Ao estudar o Antigo Testamento, mostre as descobertas arqueológicas
que comprovam essas histórias. Em outros ensinos, não fuja das perguntas difíceis que
poderão surgir. O mundo está os desafiando justamente nestas questões, então é importante
mostrar que a fé cristã é baseada em fatos e também raciocínio lógico. Claro, os jovens
também devem aprender a confiar mesmo quando não sabem a resposta, mas isso não nega
que devamos demonstrar que a nossa fé tem respostas. Um dos grandes benefícios do
ministério com jovens é que eles têm uma capacidade de assimilação cada vez mais apurada.
Não podemos perder a oportunidade de fortalecer sua fé, mostrando-lhes mais afundo os
grandes mistérios e verdades da Palavra de Deus.

4.4.3 Siga o amor


A terceira virtude a ser buscada no lugar das paixões da juventude é o amor.
Esse amor não é apenas um sentimento, mas uma decisão. Significa o amor leal que Deus
escolheu demonstrar quando mandou Cristo para morrer por nós. Baseado nesse amor de
Deus é que transbordamos com o amor por Ele e amor uns pelos outros.81 Amar é dar de si
mesmo aos outros, lealmente, sem saber se receberá alguma coisa em troca.

Agora, os desejos malignos da juventude não permitem esse tipo de amor. O


único amor que existe é o amor de si mesmo. Tudo na vida se volta para o prazer e satisfação
própria. O único “amor” que existe para os outros é falso, pois apenas busca o benefício
próprio. Em outras palavras, pessoas só são amigas ou continuam casadas enquanto se sentem
amados ou enquanto acharem valer a pena para elas. A sociedade é completa e abertamente
egocêntrica.

80
TRIPP, Tedd. Comunique-se com os Adolescentes. Op. cit. p. 93
81
MACARTHUR, John. Rediscovering expository preaching. Op. cit. p. 95

50
O resultado disso no mundo é notório. O sexo livre e o divórcio são
resultados diretos disso. Entre os jovens, isso é muito claro nos relacionamentos entre rapazes
e moças. Mesmo dentro das igrejas, jovens avaliam se um relacionamento tem futuro com
determinado rapaz ou moça baseado naquilo que pode receber dele ou dela. Em primeiro
lugar, isso significa o contato físico. Se um “gostar” do beijo e abraço do outro, então o
relacionamento poderá prosseguir. Se não, então o relacionamento acaba ali mesmo. É
verdade que a juventude também consideram outras áreas, mas hoje em dia o mais importante
não deixa de ser o físico. Isso tem dado lugar ao “ficar” sem compromisso na comunidade
jovem. Esse é o ápice da falta de amor num relacionamento! O casal mal precisa saber o nome
do outro para aproveitar fisicamente do corpo do outro, e muitas vezes o objetivo não é nem
satisfação sensual, mas poder contar aos amigos com quem e com quantas “ficou”.

Paulo fala explicitamente contra esse tipo de promiscuidade em 1


Tessalonicenses 4.3-8. Ninguém deve se aproveitar do corpo do outro fora do casamento,
mesmo com a permissão e convite do outro. Essa prostituição será condenada por Deus, por
isso devemos ensinar os jovens a controlarem seus corpos (v. 4) e fugirem dessas paixões da
juventude. Em 1 Timóteo 5.2, ao ensinar ao jovem Timóteo como lidar com os diferentes
grupos na igreja, Paulo o adverte a tratar as moças (νεωτέρας) como a irmãs, com toda
pureza. O apóstolo reconhecia o perigo que existe em relacionamentos entre rapazes e moças
(especialmente em contextos de ministério). Por isso deu essa advertência que vale para todos
os jovens hoje. O amor de Cristo permite que tenham amizades e relacionamentos fortes entre
rapazes e moças, como irmãos e irmãs em Cristo. A base desse amor não deve ser a vantagem
própria, mas o crescimento e aperfeiçoamento do outro no Senhor. Essas amizades podem (e
devem!) servir como o ambiente em que jovens encontrarão seus futuros cônjuges. Porém,
não podemos nos esquecer do padrão de completa pureza nesses relacionamentos.

No ministério de ensino à juventude devemos ensinar muito claramente o


amor de Deus por eles e as implicações desse amor em seus relacionamentos. Isso não se
limita a relacionamentos entre os sexos, mas se estende para qualquer amizade com outros
crentes e inclusive com incrédulos. Muitas vezes existe uma segregação consciente ou até
inconsciente entre os jovens. Alguns que são considerados mais esquisitos permanecem na
periferia dos relacionamentos. Precisamos ensinar que o amor de Deus também implica num
acolher das pessoas que não são amáveis. É um amor sacrificial que aceita até perder sua
própria reputação ou status no grupo para servir e amar os outros. A base desse ensino deve

51
ser o amor de Deus e o amor a Deus, pois esse amor é infinitamente maior que o “amor”
barato do mundo. Ensinamos os jovens a fugirem do pecado e buscarem o amor. Precisam
lembrar que só “amamos porque ele nos amou primeiro.” (1 Jo. 4.19).

4.4.4 Siga a paz

A última das quatro virtudes em 2 Timóteo 2.22 é a paz. Talvez à primeira


vista, a paz pareça uma qualidade estranha a ser ensinada à juventude. Geralmente, pensamos
num ministério efetivo com jovens como sendo aquela que é cheia de atividades, vibração e
loucuras. Por isso, muitas vezes nos esquecemos de ensinar essa qualidade que é essencial
para a vida deles.

Mais uma vez, a paz de Deus se contrasta com os desejos da mocidade.


Todos que lutam com essas paixões precisam de paz, pois as vontades da carne não permitem
sossego. Elas sempre anseiam por algo para satisfazer alguma necessidade sentida ou vontade.
Pode ser desde uma experiência emocional até uma posição social, ou mesmo o possuir de um
objeto. Isso é especialmente verdade na vida dos jovens. O foco do marketing atual se volta
para a juventude. São assediados por todo lado para serem alguém com base na roupa que
vestem, na faculdade que freqüentam, na tecnologia que têm, e o tipo de gente com quem
andam. Essas pressões externas se somam à vontade interna da carne e criam uma força
poderosa que não permite descanso até que o próximo desejo seja satisfeito. Porém, uma vez
satisfeito, a alegria resultante dura pouco e logo as paixões clamam por algo maior. Por isso
há uma busca contínua por experiências, emoções ou posses maiores e melhores.

Essa força incessante se apresenta também na igreja. Muitos ministérios


trabalham apenas na base de experiências para motivar a juventude a um compromisso com
Cristo. Eles vão à frente num “Culto da Fogueira” após uma semana empolgante de
acampamento ou retiro, e testemunham da voz de Deus que ouviram naquela ocasião. Porém,
seis meses ou um ano depois, estão de volta, contando as mesmas histórias de pecado e
arrependimento, mostrando que nada mudou entre os dois retiros espirituais. A preocupação
com isso é que muitos desses jovens estão baseando todo o seu relacionamento com Deus em
experiências, e assim, precisam cada vez mais de maiores e melhores experiências. Uma vez
passado o momento em que “Deus fala” com ela, verifique-se que não houve mudança
permanente (cf. discussão acima sobre a permanência da Palavra). Esse ciclo vicioso produz
tudo menos paz na vida do jovem. Estão sempre em busca de uma experiência maior com

52
Deus, que não é mal em si, mas se esqueçam da água viva que vem de um relacionamento
vivo através da pessoa, da obra e da Palavra de Cristo.

Uma verdadeira busca por Deus é o contraste dessa vida agitada e ansiosa,
pois Ele oferece vida abundante e verdadeira paz. Essa paz se fundamenta novamente na
grandeza, soberania e amor de Deus. O trabalho para estarmos retos diante de Deus e com
plena paz com Ele foi feito por Cristo na cruz. Nós vivemos agora por gratidão. Nossa corrida
e luta continua contra o pecado, mas temos certeza da vitória. Em João 14.27 Jesus promete
essa verdadeira paz que tantos jovens precisam. Eles precisam entender justamente nesse
momento de suas vidas em que o mundo oferece todo tipo de “paz” que a única paz
permanente se consegue descansando na obra de Cristo que nos proporciona acesso a Deus.
Não podemos deixar de ensinar isso aos nossos jovens. Precisam ter experiências íntimas com
Cristo, mas firmados nas Escrituras e numa doutrina correta. Por isso precisamos sempre
voltar à Bíblia em nosso ensino e pregação aos jovens.

4.4.5 Siga com outros seguidores


No final de 2 Timóteo 2.22 encontramos uma última advertência de como
“seguir” (δίωκε) a justiça, fé, amor e paz. A frase “com aqueles que, de coração puro,
invocam o Senhor” se inicia com a preposição μετὰ (junto com) e introduz o particípio τῶν
ἐπικαλουμένων (os que invocam). Essa frase preposicional modifica δίωκε e se constitui
como mais uma forma importante de fugir das paixões da juventude.82 Portanto, é importante
verificar quem são esses com quem devemos seguir.

A palavra ἐπικαλέομαι, traduzida como “invocar”, é muito comum na LXX,


ocorrendo 189 vezes, e outras 30 vezes no Novo Testamento. Na voz ativa, ἐπικαλέω pode
significar “dar nome”. Porém, quando usado na voz médio-passiva, o sentido é de “apelar a
uma corte maior”, ou “clamar por ajuda”, ou ainda “clamar em oração” quando se trata de
Deus. Quando se trata de invocar o Senhor, é a declaração de fé que Jesus é o Messias.83 Isso
pode ser verificado nas seis vezes que Paulo emprega o termo (menos em 2 Co. 1.23, onde é a
idéia de chamar Deus como testemunha). Particularmente relevante é Romanos 10.12-13 onde
a palavra aparece três vezes em seguida. Aqui não pode haver dúvida de que Paulo está

82
MOUNCE, William D. Op. cit. p. 533
83
KITTEL, G. Op. cit. p. 500

53
falando sobre o processo de salvação. Portanto, devemos entender que o uso em 2 Timóteo
2.22 descreve a comunhão com outros salvos no processo de fuga do pecado e busca da
santidade.

Porém não são todos os salvos de quem Paulo está falando. São
especificamente aqueles que invocam ao Senhor, “de coração puro” (καθαρᾶς καρδίας). Essa
idéia de puro precisa ser entendida a luz do contexto imediato do argumento de Paulo. No
versículo 21 ele fala que Timóteo seria útil para Deus se ele se purificar (ἐκκαθάρῃ) dos
vasos desonrosos (v. 20) que são os que caem em conversas inúteis e profanas (v. 16), na
heresia (v. 17), e também nas paixões pecaminosas do versículo 22. Conforme o versículo 19,
essa purificação é separação desses crentes perversos. Chave para isso é o versículo 15 onde
mais uma vez ressalta que para ser um ministro útil para Deus é preciso “manejar
corretamente a palavra da verdade.” Portanto, o coração puro nesse contexto está intimamente
ligado a aplicação da boa doutrina na vida e no ministério de Timóteo; e ele não pode
comprometer esse ministério se misturando com esses crentes maléficos. Então, no versículo
22, Paulo deixa claro mais uma vez que o jovem deve fugir do pecado e buscar a justiça com
aqueles crentes que buscam a Deus com corações puros, submissos e obedientes à Palavra de
Deus.

Muitos crentes, ao se relacionarem com o mundo, são muito atentos a


qualquer erro ou pecado, para não se contaminarem. Porém, ao andarem com outros crentes,
baixam sua guarda e acabam aceitando o pecado ou erros de outros crentes. Isso leva a
tolerância e por fim eles mesmos caem nos pecados dos outros.84 Precisamos nos lembrar de 1
Coríntios 15.33, “Não se deixe enganar: as más companhias corrompem os bons costumes.”
Isso é verdade mesmo entre os salvos.

Isso é de extrema relevância aos jovens. Muitos deles não sabem distinguir
entre amizades sadias e perigosas. Ouvimos histórias e mais histórias de jovens que se
desviaram do Senhor por causa de más companhias. Os jovens precisam saber como escolher
suas amizades e as influências sobre suas vidas. Muitas das amizades que fizerem nessa idade
permanecerão para o resto de suas vidas. Isso não significa que não devem ter contato com
incrédulos, mas que suas amizades mais íntimas sejam com aqueles que os auxiliarão em sua

84
MACARTHUR, John. The MacArthur New Testament commentary: 2 Timothy. Chicago: Moody, 1995. p. 89

54
busca de Deus e na fuga do pecado. J. C. Ryle comenta que mesmo toda a armadura que o
jovem tiver para se proteger contra o Diabo não será suficiente se tiver um amigo perverso.
Por isso, Ryle considera que saber escolher suas amizades dentre aqueles que amam a Palavra
e não tem vergonha de exortar, é uma das habilidades mais valiosas a serem buscadas pelos
jovens.85

Uma das preocupações que muitos pais têm com seus filhos jovens é a
escolha de amigos. Precisamos orientar os pais e ajudar os seus filhos a encontrarem amigos
que estão caminhando na direção certa, que estão clamando a Deus de um coração puro. Não
devem investir seu tempo com pessoas que vão desviá-los desse caminho, que não estão
fugindo das paixões da juventude. E isso não é apenas na escola ou na vizinhança. Mesmo
dentro da igreja existem muitas pessoas que não buscam esse coração puro. Precisam tomar
cuidado, pois a Bíblia é muito clara sobre evitar envolvimento com essas pessoas. Uma forma
de ajudá-los a ter amizades sadias é em grupos pequenos ou grupos de discipulado. Esses
grupos de amigos podem ser ensinados a encorajar e orar uns pelos outros e também se
cobrarem no seu crescimento espiritual. Uma das coisas mais marcantes no ministério é
quando um grupo de jovens por si só combina de se encontrar para prestar contas e estudar a
Palavra.

Agora, esses relacionamentos não devem se limitar apenas a outros da


mesma idade. Também existem muitas pessoas na igreja que estão buscando a Deus de
coração puro. O ministério de jovens pode ajudar a proporcionar esses relacionamentos
sadios. Mas é importante lembrar que o lugar de encontrar esses santos não se limita ao grupo
da juventude. Precisamos expandir nossos horizontes e engajá-los em relacionamentos com
pessoas de outras faixas etárias. As gerações do corpo de Cristo precisam interagir umas com
as outras para estimular esse clamor a Deus de coração puro. Existem muitas formas de fazer
isso. Podemos envolver os adultos no discipulado, no aconselhamento e no acompanhamento
dos jovens. Incluir adultos maduros e experientes como líderes dos jovens é de extremo valor.
Fora isso, podemos promover atividades que envolvem toda a igreja e buscar maneiras
criativas de aproximar as gerações de crentes.

85
RYLE, J. C. Op. cit. p. 58

55
Paulo queria que Timóteo fugisse do pecado e buscasse a justiça, a fé, o
amor e a pureza. Muitas vezes jovens acham que conseguem fazer isso por conta própria.
Precisam reconhecer sua fraqueza e clamar pelo Senhor. E isso não é um exercício solitário. A
igreja, o corpo de Cristo é o lugar onde todos nós precisamos carregar os fardos uns dos
outros, onde reconhecemos nossas fraquezas e prosseguimos juntos. É o lugar de clamarmos
ao Senhor de corações puros!

56
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Bíblia é rica e cheia de orientações valiosíssimas para todo e qualquer
ministério. O objetivo desse trabalho foi mostrar a riqueza dela apenas no que ela ensina sobre
a juventude nas epístolas pastorais e gerais. Se apenas buscarmos nas Escrituras, nunca
esgotaremos os assuntos a serem expostas para eles. A Bíblia é o nosso currículo. Ela dita
nossa filosofia. É suficiente para resolver qualquer problema ministerial e para preparar
jovens maduros e aptos para toda boa obra (2 Tm. 3.16). Baseado nas implicações bíblicas
que foram estudadas para a área de ensino, podemos fazer algumas sugestões de como aplicá-
las.

Em primeiro lugar, ainda existe necessidade de exposição bíblica para os


jovens. Isso não é ultrapassado, pois a Bíblia não é. Se crermos que ela é rica e suficiente,
precisamos transmiti-la da maneira mais pura aos jovens. Isso significa ensiná-la dentro do
seu contexto, de preferência versículo por versículo, em série. Mostre aos jovens como extrair
naturalmente o sentido do texto e como aplicá-lo nas suas vidas. Eles precisam saber como
observar, interpretar e aplicar o texto bíblico. Se não agüentam esse tipo de ensino serio,
devem aprender, sendo ensinados com sensibilidade. Porém não podemos nos acomodar com
o nível de ensino que eles parecem querer, pois isso é uma característica dos ensinos
equivocados dos últimos dias (2 Tm. 4.3-4). Exposição bíblica pode ser feita em discipulados
individuais, em grupos pequenos, na EBD, na pregação e muitas outras formas e lugares.

Em segundo lugar, não podemos nos esquecer da necessidade de


relacionamentos intergeracionais para a saúde do ministério com jovens. Não podemos nos
separar do restante da igreja. O corpo de Cristo, começando em casa, é o ambiente criado por
Deus para o bom desenvolvimento dos jovens. Adultos mais experientes têm muito que lhes
ensinar e demonstrar. Os jovens precisam entender seu lugar na igreja, e isso só acontecerá à
medida que se envolverem com crentes de outras gerações. Muitos jovens deixam a igreja
quando vão para a faculdade, e muitas vezes abandonam a igreja porque nunca tiveram
envolvimento suficiente com ela. Uma vez que saíram do colegial, sentem que não têm mais
lugar, e vão embora.86 Portanto, o ministério dos jovens deve ajudá-los a fazerem cada vez

86
NEL, Malan. The inclusive congregational approach to youth ministry. In: SENTER, Mark H. III (edit.) Op.
cit. p. 8

57
mais parte da igreja, se envolvendo nos diversos ministérios, e desenvolvendo
relacionamentos com outros adultos.

Uma observação deve ser feita nesse sentido sobre o papel da família na
formação do jovem. Mesmo que esse tema não foi abordado nos versículos estudados desse
trabalho, não podemos concluir sem afirmar que uma das chaves principais para a criação de
jovens tementes a Deus são os pais. Na verdade, a responsabilidade em primeiro lugar é deles
(Ef. 6.4). Todo ministério com jovens precisa estar completamente ciente disto e buscar
apoiar e auxiliar os pais em sua tarefa. Existem muitos textos no restante da Bíblia que
ensinam claramente isso e uma filosofia de ministério completa lidará com eles. Esse tema é
muito abrangente e existe muito material bom (especialmente em inglês) nesse sentido. Em
português, existem alguns artigos muito bons no Volume 6 de Coletâneas de Aconselhamento
Bíblico publicado pelo SBPV.

Outra observação é que devemos encarar a liderança dos jovens com mais
seriedade. O pastor de jovens deve receber preparação teológica como qualquer outro pastor.
Ele precisa ter todas as ferramentas disponíveis para fazer o que é mais importante no seu
ministério: expor a Palavra de Deus. Creio que isso deve incluir o estudo das línguas
originais, que são indispensáveis para a boa exposição. Ele também precisa cuidar de sua vida
espiritual. Seu crescimento com Deus não pode parar, mas se aprofundar cada vez mais.
Oração, meditação e estudo pessoal da Bíblia são essenciais para tal.

Também não creio que o pastor de jovens deva encarar esse ministério como
apenas uma ponte para um ministério maior. Muitos não se dedicam completamente aos
jovens, pois aguardam a oportunidade de ser o pastor titular de alguma igreja. Isso reflete uma
desvalorização do ministério dos jovens. Ela é tão importante como qualquer outra, e
devemos nos dedicar a ela com todo nosso esforço, como se fossemos trabalhar nesse
ministério para o resto da vida. E talvez Deus nos conceda esse privilégio.

Cristo está ativamente preparando uma nova geração para a liderança de Sua
Igreja. Ele nos deu o privilégio e responsabilidade de treiná-los, discipulá-los e ensiná-los a
guardarem a Sua Palavra. Devemos encarar essa missão com seriedade e reavaliarmos a nossa
filosofia de ministério e ensino. O propósito é a glória de Deus. O centro é a Pessoa de Cristo.
O meio é a exposição das Escrituras. Sejamos bons despenseiros dessa fonte de vida à
juventude (1 Co. 4.1-2).

58
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