Você está na página 1de 4

(Im)Possibilid É possível a utilização, no ordenamento jurídico pátrio, de ações encobertas,

ade da controladas virtuais ou de agentes infiltrados no plano cibernético, inclusive via


espelhamento do Whatsapp Web, desde que o uso da ação controlada na
utilização de investigação criminal esteja amparada por autorização judicial. AREsp 2.309.888-
ações MG, Rel. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, por unanimidade,
encobertas, julgado em 17/10/2023. (Info 792)
controladas
virtuais ou de “ENUNCIADO”. Em uma investigação, o MP postulou pelo deferimento de ações
controladas, destinadas ao desmantelamento da associação criminosa atuante no
agentes município de “FLORIANÓPOLIS”, sendo as ações controladas, bem assim interceptações
infiltrados no telefônicas e quebra de sigilo de dados, autorizadas pelo Juízo em processo cautelar
plano apartado. Em recurso, a defesa dos investigados sustenta a ilicitude da quebra de sigilo
cibernético, telemático por meio de espelhamento do aplicativo whatsapp pela ausência de previsão
inclusive via legal.
espelhamento Da FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA JURÍDICA.
do Whatsapp
Web. Lei n. 12.850/2013:

Art. 10-A. Será admitida a ação de agentes de polícia infiltrados virtuais, obedecidos os
requisitos do caput do art. 10, na internet, com o fim de investigar os crimes previstos
nesta Lei e a eles conexos, praticados por organizações criminosas, desde que
demonstrada sua necessidade e indicados o alcance das tarefas dos policiais, os
nomes ou apelidos das pessoas investigadas e, quando possível, os dados de
conexão ou cadastrais que permitam a identificação dessas pessoas.

Lei n. 9.296/1996:

Art. 1º A interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza, para prova


em investigação criminal e em instrução processual penal, observará o disposto nesta
Lei e dependerá de ordem do juiz competente da ação principal, sob segredo de
justiça.

Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à interceptação do fluxo de


comunicações em sistemas de informática e telemática.

QUESTÃO: É possível a utilização das provas obtidas via espelhamento do ZapZap?

R: Se houver autorização judicial, SIM!!!

Cinge-se a controvérsia a aferição da possibilidade de utilização, no ordenamento


jurídico pátrio, de ações encobertas, controladas virtuais ou de agentes infiltrados no
plano cibernético, inclusive via espelhamento do Whatsapp Web.

AÇÕES ENCOBERTAS = INFILTRAÇÃO DE AGENTE

INFILTRAÇÃO DE AGENTES
(Lei 12850 de Org. CrIm. + Drogas + Lavagem 9613 + Eca 8069).

Art. 10. A infiltração de agentes de polícia em tarefas de investigação, representada pelo


delegado de polícia ou requerida pelo Ministério Público, após manifestação técnica do
delegado de polícia quando solicitada no curso de inquérito policial, será precedida de
circunstanciada, motivada e sigilosa autorização judicial, que estabelecerá seus limites.
Infiltrado Virtual - 12.850/13 Infiltrado Virtual - 8069

infiltrados virtuais, obedecidos os I - será precedida de autorização judicial


requisitos do caput do art. 10, na internet, devidamente circunstanciada e
com o fim de investigar os crimes fundamentada, que estabelecerá os
previstos nesta Lei e a eles conexos, limites da infiltração para obtenção de
praticados por organizações criminosas, prova, ouvido o Ministério Público;
desde que demonstrada sua necessidade II - dar-se-á mediante requerimento do
e indicados o alcance das tarefas dos Ministério Público ou representação de
policiais, os nomes ou apelidos das delegado de polícia e conterá a
pessoas investigadas e, quando possível, demonstração de sua necessidade, o
os dados de conexão ou cadastrais que alcance das tarefas dos policiais, os
permitam a identificação dessas pessoas. nomes ou apelidos das pessoas
investigadas e, quando possível, os
dados de conexão ou cadastrais que
permitam a identificação dessas pessoas;

– exige prévia, circunstanciada, motivada e sigilosa autorização judicial (a lei de


lavagem/drogas não previu procedimento, portanto deve ser adotado o da lei de org.
crim.
– Delegado representa, juiz ouve MP; se no curso de IP, MP requer + manf.téc. do
Deleg. se no curso de inq. Pol.; + aut. Jud.).

Requisito: crime que a lei aut. + a prova não puder ser produzida por outros meios;
Prazo (6m. + renovações c/ comprovada necess.)

cuidado, a infiltr.virt. do eca é 90d. renováveis, c/ necess.; limitada a 720d. – findos os


6m será elaborado relatório Circunstanciado pelo delegado remetido ao juiz, que
cientificará o MP.

A Lei que trata acerca de Organizações Criminosas, Lei n. 12.850/2013, prevê que,
em qualquer fase da persecução penal, serão permitidos, sem prejuízo de outros
procedimentos já previstos em lei, infiltração, por policiais, em atividade de investigação,
mediante motivada e sigilosa autorização judicial. Objetiva-se a outorga, ao agente estatal,
da possibilidade de penetrar na organização criminosa, participando de atividades diárias,
para, assim, compreendê-la e melhor combatê-la pelo repasse de informações às
autoridades.

De se mencionar, ainda, que a lei que regulamenta o Marco Civil da Internet (Lei n.
12.965/2014), estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para uso da Internet
no Brasil, garante o acesso e a interferência no “fluxo das comunicações pela
Internet, por ordem judicial”. De idêntica forma, a referida Lei n. 12.850/2013 (Lei da
ORCRIM), com redação trazida pela Lei 13.694/2019, passou a prever, de forma expressa,
a figura do agente infiltrado virtual, em seu art. 10-A.

Por sua vez, a Lei n. 9.296/1996 (Interceptação Telefônica), permite em seu art. 1º,
parágrafo único, a quebra do sigilo no que concerne à comunicação de dados,
mediante ordem judicial fundamentada.

Nesse ponto reside a permissão normativa para quebra de sigilo de dados informáticos e
de forma subsequente, para permitir a interação, a interceptação e a infiltração do
agente, inclusive pelo meio cibernético, consistente no espelhamento do Whatsapp
Web. A lei de interceptação, em combinação com o Marco Civil da Internet e a Lei das
Organizações Criminosas, e no caso de CR/AD envolvida, o próprio Estatuto da Criança e
Adolescente, outorga legitimidade (legalidade) e dita o rito (regra procedimental), a
mencionado espelhamento, em interpretação progressiva, em conformidade com a
realidade atual, para adequar a norma à evolução tecnológica.

*Detalhe a interpretação progressiva consiste na adaptação do texto da lei à realidade


atual, mediante análise do jurista, aplicador do direito no caso concreto.

(vale a menção à essa necessidade devido à evolução tecnológica, em especial criminosa


- de modo que pensar o contrário levaria à Síndrome da Alice no País das Maravilhas).

A potencialidade danosa dos delitos praticados por organizações criminosas, pelo meio
virtual, aliada a complexidade e dificuldade da persecução penal no âmbito cibernético
devem levar a jurisprudência a admitir as ações controladas e infiltradas no mesmo plano
virtual. De fato, nos últimos anos, as redes sociais e respectivos aplicativos se tornaram
uma ferramenta indispensável para a comunicação, interação e compartilhamento de
informações em todo o mundo. Entretanto, essa rápida expansão e influência também
trouxeram consigo uma série de desafios e problemas no âmbito da investigação, no meio
virtual, tornando-se a evolução da jurisprudência acerca do tema questão cada vez mais
relevante e urgente.

Não há empecilho, portanto, na utilização de ações encobertas ou agentes infiltrados na


persecução de delitos, pela via dos meios virtuais, desde que, conjugados critérios de
proporcionalidade (utilidade, necessidade), reste observada a subsidiariedade, não
podendo a prova ser produzida por outros meios disponíveis.

É o que se dá na hipótese em análise, com o autorizado espelhamento via Whatsapp Web,


como meio de infiltração investigativa, na medida em que a interceptação de dados direta,
feita no próprio aplicativo original do Whatsapp, se denota, por vezes, despicienda, em
face da conhecida criptografia ponta a ponta que vigora no aplicativo original,
impossibilitando o acesso ao teor das conversas ali entabuladas. Concebe-se plausível,
portanto, que o espelhamento autorizado via Whatsapp Web, pelos órgãos de persecução,
se denote equivalente à modalidade de infiltração do agente, que consiste em meio
extraordinário, mas válido, de obtenção de prova.

Pode, desta forma, o agente policial valer-se da utilização do espelhamento pela via do
Whatsapp Web, desde que respeitados os parâmetros de proporcionalidade,
subsidiariedade, controle judicial e legalidade, calcado pelo competente mandado judicial.
De fato, a Lei n. 9.296/1996, que regulamenta as interceptações, conjugada com a Lei n.
12.850/2013 (Lei das Organizações Criminosas), outorgam substrato de validade
processual às ações infiltradas no plano cibernético, desde que observada a cláusula de
reserva de jurisdição.

CUIDADO: “SIMCARD” - “Subscriber Identy Module” - módulo de identificação;


É ilegal a quebra do sigilo telefônico mediante a habilitação de chip da
autoridade policial em substituição ao do investigado titular da linha, AINDA
QUE AUTORIZADO JUDICIALMENTE. STJ. 6ª Turma. REsp 1.806.792-SP, Rel.
Min. Laurita Vaz, julgado em 11/05/2021 (Info 696).
A Lei nº 9.296/96 não autoriza a suspensão do serviço telefônico ou do fluxo da
comunicação telemática mantida pelo usuário, tampouco a substituição do
investigado e titular da linha por agente indicado pela autoridade policial.
Isso possibilitaria, inclusive, que os policiais enviassem mensagens ou
excluíssem o conteúdo das mensagens, sem deixar vestígios, já que a
operadora não armazena em nenhum servidor o teor das conversas dos
usuários. O que automaticamente tornaria questionável a prova e
consequentemente a tornaria inutilizável para basear uma condenação.
Outro caso similar : Não podem ser usadas como prova as mensagens
obtidas por meio do print screen da tela da ferramenta WhatsApp Web (STJ
- 2021)
CASO: Determinada pessoa entregou à Polícia prints de conversas registradas
no WhatsApp Web. Tais conversas demonstravam a ocorrência de crimes
contra a Administração Pública. Vale ressaltar que esses prints foram feitos por
um dos integrantes do grupo do aplicativo, ou seja, os prints foram tirados por
um dos interlocutores da conversa.
Mesmo assim, o STJ considerou ilícita essa prova. Isso porque, para o STJ, é
inválida a prova obtida pelo WhatsApp Web, tendo em vista que nessa
ferramenta “é possível, com total liberdade, o envio de novas mensagens e a
exclusão de mensagens antigas (registradas antes do emparelhamento) ou
recentes (registradas após), tenham elas sido enviadas pelo usuário, tenham
elas sido recebidas de algum contato. Eventual exclusão de mensagem enviada
(na opção "Apagar somente para Mim") ou de mensagem recebida (em qualquer
caso) não deixa absolutamente nenhum vestígio, seja no aplicativo, seja no
computador emparelhado, e, por conseguinte, não pode jamais ser recuperada
para efeitos de prova em processo penal, tendo em vista que a própria empresa
disponibilizadora do serviço, em razão da tecnologia de encriptação ponta-a-
ponta, não armazena em nenhum servidor o conteúdo das conversas dos
usuários” (STJ. 6ª Turma. RHC 99.735/SC, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em
27/11/2018). Assim, a pessoa que tirou os prints poderia, em tese, ter
manipulado as conversas, de maneira não há segurança para se utilizar como
prova.
Diante disso, o STJ declarou nulas as mensagens obtidas por meio do print
screen da tela da ferramenta WhatsApp Web, determinando-se o
desentranhamento delas dos autos, mantendo-se as demais provas produzidas
após as diligências prévias da polícia realizadas em razão da notícia anônima
dos crimes.
STJ. 6ª Turma. AgRg no RHC 133.430/PE, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em
23/02/2021.

Você também pode gostar