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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

ANAIS

DA

BIBLIOTECA NACIONAL

DO

RIO DE
JAJNEDIRO

PUBLICADOS SOB A ADMINISTRAÇÃO

DO

DIRETOR

RODOLFO GARCIA

Litterarum seu libroeum


negotium concludimus hominis
esse vitam.

(Philobiblion, Cap. XV).

1934

VOLUME LVI

CARTAS DE LUIZ JOAQUIM DOS SANTOS MARROCOS,


ESCRITAS DO RIO DE JANEIRO À SUA FAMÍLIA
EM LISBOA, DE 1811 A 1821

SERVIÇO GRÁFICO OO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

RIO DE JANEIRO

1939
ANAIS

DA

Biblioteca Nacional

DO

RIO DE JANEIRO
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

ANAIS

DA

BIBLIOTECA NACIONAL

DO

RIO DE
JANEIRO

PUBLICADOS SOB A ADMINISTRAÇÃO

DO

DIRETOR

RODOLFO GARCIA

Litterarum seu libroram

negotium concludimus hominis

esse vitam.
Cap. XV).
(Philobiblion,

1934

VOLUME LVI

CARTAS DE LUIZ JOAQUIM DOS SANTOS MARROCOS,


ESCRITAS DO RIO DE JANEIRO X SUA FAMÍLIA
EM LISBOA, DE 1811 A 1821

SERVIÇO GRAFICO DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

RIO DE JANEIRO

1939
EXPLICAÇÃO

Os originais das cartas de Luiz dos Santos Mar-


Joaquim

roços, escritas do Rio de a sua família em Lisboa, de


Janeiro

1811 a 1821, na Biblioteca da Ajuda, na capital


guardam-se

Por obsequiosa intervenção do eminente es-


portuguesa.

critor Sr. Luiz Edmundo obteve a Biblioteca Nacional cópias

autênticas dessas cartas, conservadas inéditas até agora, e até

agora só utilizadas M. de Oliveira Lima, em seu


por grande

livro Dom VI no Brasil, Rio, 1908.


João

Publicando-as neste volume dos Anais, fica certo o abai-

xo assinado de serão recebidas


que jubilosamente pelos que

estudam o histórico a se referem, mais
período que período

interessante, é o da transição da fase colonial,


que porque que

findava, a do império independente, ia em


para que pouco

iniciar-se, toda uma década da moderna história do Brasil,

está a exigir mais luzes e mais documentos.


que

* *

Sobre o autor deste epistolário nada se sabia até


quasi

hoje. Participara da imensa legião de funcionários com


que,

a transmigração da Corte o Brasil, vieram


portuguesa para

na ocasião ou depois ter emprego na colônia. Chegou


para

ao Rio em 1811, acompanhando a segunda remessa dos li-

vros da Biblioteca Real; devia ter embarcado em Lisboa a 17

de Março, em sua carta, escrita no mar, em


porque primeira

alturas das ilhas do Cabo-Verde, e datada de 10 horas da


noite da sexta-feira da Paixão, naquele ano caiu em 12
que

de Abril, declarou estava com vinte e sete dias de via-


que

A entrada da fragata Princesa Carlota, o trans-


gem. que

não foi noticiada na Gazeta do Rio de como


portava, Janeiro;

vinha se arrastando, com as velas avariadas, as cordas


podres

e tripulação imprestável, é bem só terminasse sua


possível

rota meados de De 17 desse mês é a


penosa por Junho. pri-

meira carta escreveu ao no Rio de referida


que pai Janeiro,

na segunda desta coleção, datada de 24. Em todo caso che-

a tempo de comprar bilhetes da loteria do Tea-


gou primeira

tro de São começaram a ser vendidos no dia 15 de


João, que

Maio, correr a sorte no dia do Santo.


para

Era filho de Francisco dos Santos Marrocos,


José pro-
"ultimamente
fessor régio de Filosofia racional e moral, com

exercício no R. Estabelecimento do Bairro de Belem, e bi-

bliotecário da Bibliotheca Real da Ajuda", informa Inocêncio

Francisco da Silva, Diccionario Bibliographico Portuguez, tomo

II, 412-413. Ainda segundo Inocêncio, confirmado


ps. por
"tendo
duas cartas do filho, sido condecorado com a Ordem

de Christo el-rei o senhor D. VI, usar


por João jamais quiz

da respectiva insígnia, até recebeu o fazer uma or-


que para

dem mui expressa do mesmo Soberano". Santos Marrocos,

escreveu um Mappa alphabetico das de Portugal,


pai, povoações

etc. na Impressão Régia, 1811, in-4.v de 36


(Lisboa, pp.), que

saiu anônimo, e começou a reimprimir, em 1797, a Historia do

descobrimento e conquista da índia, de Fernão Lopes de Cas-

tanheda, a no fim do livro ficando este


qual parou primeiro,

dividido em dois tomos in-8.°, sairam da Oficina de Simão


que

Tadeu Ferreira, em Lisboa, na era supra. Devia ter vindo

1756, — o filho
ao mundo em 10 de de infere-se do que
Junho

escreveu mais adiante, e desapareceu entre os anos de 1823

e 1825, lê-se em Inocêncio, op. et loc. cit. Vivia em Lisboa,

no da O Real em Belem, casado, e alem de Luiz


páteo pera

tinha uma filha, chamada Bernardina, um irmão,


Joaquim,

Manuel Antônio Marrocos, era cônego da Sé de Braga,


que

outro, era major do exército, e mais a o


que parentes quem
— 7 —

filho se recomendava no fecho de suas cartas. A circuns-

tância de ser bibliotecário da Real Biblioteca da Ajuda expli-

ca por as cartas do filho ali foram ter, e ali ainda se con-


que

servam.

Tudo indica Luiz dos Santos Marrocos


que Joaquim

fosse lisboeta ; era trintenário aqui aportou,


já quando por-

justamente um ano depois completava o trigésimo


que pri-

meiro, em 17 de como fez lembrar em uma de suas


Junho,

cartas à mana ; teria, nascido em igual dia e mês


portanto,

do ano de 1781 . De sua vida ainda na metrô-


pregressa,

pole, sabe-se servia como ajudante das Reais Bibliotecas


que

desde o ano de 1802, — Biblioteca Nacional, Secção de Ma-

nuscritos, C. 684-23. Por ocasião da invasão francesa em

Portugal serviços na secretaria da de Direção


prestou Junta

Geral dos de boca o Exército, encarregado


provimentos para

de do registro das ordens da mesma ; com a


parte Junta

criação das Legiões nacionais a defesa de Lisboa, foi


para

nomeado capitão de uma das companhias da Legião de seu

distrito, — B. Sec. Ms., 944-47.


N-, C. Havia sido estu-


dante em Coimbra, lê-se em uma destas cartas; mas não

se apura tivesse concluído estudos superiores. Tinha,


que

entretanto, uma ilustração apreciavel, uma cultura de


geral

humanidades muito acima da comum craveira, como de seus

escritos transparece.

De seus trabalhos literários nenhum alcançou a consa-

da letra de forma. Escrevera um tratado, ou cousa


gração

o valha, sob o título de Inoculação do Entendimento,


que que

havia de ter entregue a Frei Conceição Veloso, mas não apa-

receu no espólio do frade chegou à Real Biblioteca : teria


que

ele (é conjectura sua), deixado esse na Impressão Ré-


papel

de Lisboa, em 1807 daquela esta


gia quando partiu para

cidade ; mas o é certo é de tal escrito não há a mais


que que

tênue notícia. De outras atividades literárias suas, sabe-se,

ele o diz, traduziu o Traité de Médecine Légale et


porque que

d'Hygiêne Publique, de Foderé, cinco volumes de 8.° com

mais de 2.500 trabalho imenso executou


páginas, que por
ordem real, em tempo limitado, mas em isso
pura perda, por

nunca foi Traduziu ainda, e nas mesmas


que publicado.

condições, o Traité d'Hygiêne appliquée à la Therapeuti-

de Barbier, dois volumes. A Corografia Brasílica, do


que,

Padre Manuel. Aires do Casal, imprimiu na Impressão


que.se

Regia do Rio de de 1815 a 1817, foi ele revista


Janeiro, por

em obséquio ao seu chefe na Real Biblioteca, o Padre


Joa-

Damaso, amigo do autor, também era seu. Ao


quim que

mesmo tempo fazia a revisão, ia formando uma espécie


que

de dicionário, ou lista dos termos brasílicos ocorrentes na

obra, adicionando-os como índices no fim^de cada um dos

volumes. Antes fora incumbido de copiar na Biblioteca,

para a Academia Real das Ciências, o célebre tratado


qui-

nhentista, manuscrito, de Francisco de Holanda, texto e de-

senhos, Da à Cidade de Lisboa ; e de como


fabrica que fallece

executou a encomenda, expressam os elogios do secretário

da Academia, era então Bonifácio de Andrada e


que José

Silva, transcritos em notas nos lugares competentes. Rato

de biblioteca, tinha fumaças de erudição e de altos conheci-

mentos bibliográficos, de sistema de classificação e catalo-

de livros e manuscritos.
gação

Ao desembarcar na Corte do Rio de Santos


Janeiro,

Marrocos foi morar em umas casas nobres e magníficas (diz

ele) da rua das Violas, depois essa interessante


que perdeu

Teófilo Otoni, — um oficial


alcunha chamar-se de com
para

da Secretaria dos Negócios Estrangeiros e um clérigo, pago

o aluguel de uma dobra, ou 12$800 mês, Fazenda


por pela

real; mas a do semestre de 1813 largou os


partir primeiro
"antes
companheiros, só mal acompanhado", e
porque que
a residir na rua da Alfândega, n. 31, do lado direito,
passou

adiante da capela de Nossa Senhora Mãe dos Homens,


pa-

de seu bolsinho, mensalmente, o aluguel de 9$600.


gando

Logo chegou teve exercício na Real Biblioteca, em


que

companhia do Padre Damaso, das Necessidades, e


Joaquim

de Frei Gregório Viegas, a dá o apelido de Borra,


José quem

e de três serventes, todos aliás capazes, mas só


pessoas pró-

uma biblioteca fradesca, *— observa ele,


prias para para ja-

tar-se a seguir de todos estavam abismados dos seus tra-


que

balhos anteriores, e nada faziam sem concordar com ele.

O Padre Damaso, era o maior valimento o Conde


que para

de Aguiar, e o totum continens dos senhores e se-


grandes

nhoras do Paço, mostrava-lhe muita amizade, a de co-


ponto

municar-lhe segredos de alta ; mas ele, entre corte-


política

zias e frases de concordância, dava-lhe duas figas e metia-se

em reserva. Em 8 de Setembro de 1811 recebeu chamado

do Ministro Visconde de Vila-Nova da Rainha ir falar-


para

lhe no dia seguinte ; atendendo-o com foi certifi-


prontidão,

cado de o Príncipe Regente, tendo conhecimento


que pleno,

de sua e conduta, tomasse conta e cuidasse


pessoa queria

do arranjamento e conservação dos Manuscritos da Coroa,

S. A. R. determinava à sua pes-


que permanecessem junto

soa, e dos mais ordenasse o futuro. Logo


papéis que para

no dia seguinte, empossado Visconde, começou a traba-


pelo

lhar dentro do Paço, na Sala nova do Despacho do Real

Gabinete, cima da câmara de S. A. R., e todos os dias


por

tinha a satisfação de falar-lhe e beijar-lhe a mão, 7


pelas

horas da manhã, S. A. R. se levantava da cama.


quando

O lugar a Frei Antônio de Arrabida, o dei-


pertencera que

xara ter encargo melhor.


para

Como de seus trabalhos, e dar ao Príncipe


prelúdio para

uma idéia do tesouro em sua repartição, tratou de


que possuía

arranjar uma memória literária e crítica sobre os Manuscri-

tos da Coroa, ainda não se sabia o encerravam, prin-


que que

cipalmente no ao Nò fron-
que pertencia governo político.

tespício dessa memória, ou no final, em for-


pretendia juntar
— 10 —

ma de o sistema de classificação adotara o


plano que para

arranjo dos códices.

Foi sua, conforme se atribuiu, a iniciativa, o


perante

Príncipe, de favorecer com os livros dobrados da Real Bi-

blioteca a Biblioteca da cidade da Baía, fundada


pública por

Pedro Gomes Ferrão Castelbranco durante o do


governo

Conde dos Arcos; em 1818 foram lá mandados vinte


para

caixotes de livros, somente compreendiam o ramo de


que

Teologia ; logo depois foram os restantes, no total de trinta

e sete caixões.

O emprego na Real Biblioteca rendia-lhe apenas 400$

anuais ; mas ele vivia na esperança de vir a ser algum dia

mais do era. E os fados lhe foram neste


que propícios

Brasil nos tempos tanto aborrecia e de


que primeiros que

dizia cobras e lagartos.

O Rio de achou ele uma cidade de exten-


Janeiro pouca

são, muito semelhante ao sítio da Alfama de Lisboa, ou, fa-

zendo-lhe favor, ao Bairro Alto, nos seus distritos


grande

m,ais e imundos ; seu clima era mais o


porcos pestífero que

de Cacheu, Caconda, Moçambique, e todos os mais da Costa

de Léste. O Santo Viático andava sempre casas"


pelas

dos enfermos, de dia e de noite; os sinos das igrejas conti-

nuamente davam sinais de defuntos : só na igreja da Miseri-

córdia se enterraram no ano de 1811 cima de trezentas


para

naturais de Lisboa. Quando se encontrava alguém,


pessoas

aqui, não se como ia de saúde, mas do que se


perguntava

. . Para ele era esta a terra do mundo, a


queixava. peor

indigníssima, soberba, vaidosa, libertina, os animais


gente

feios e muitos : verdadeira terra de sevandigas. O Brasil

considerava ele o de seu degredo, de estava tão


país que

escandalizado daqui saisse, não havia de es-


que, quando

de limpar as botas à borda do cais, não levar


quecer-se para

da terra o mínimo vestígio, — intenção afrontosa depois


que

se deu como realizada rainha D. Carlota


pela Joaquina, quan-

do se retirou da corte do Rio de Janeiro.


— 11 —

Das comidas brasileiras diz nauseavam e enfastia-


que

vam, como exemplo o trivial de carne seca de


por quitute

Minas com feijão negro e farinha de tudo cozido e amas-


pau,

sado com os dedos, fim eram lambidos. —


que por Quitute

explica — chamava-se aqui ao Lisboa se dava


que em o

nome de acepipe ou . . Como a sorte obrigou a ser


pitéu.
"riquinha"
di cé$, ,já lá vai o Sinhor di lá — escreve à sua
"Leve
Bernardina, e conclue: o Diabo semelhante língua,

um País, onde reina a moleza e a até no falar


pois preguiça,

há somno !" E sempre no mesmo tom de crítica, sem-


quasi

desabrida, não deixava de deprimir o Brasil, o Rio de


pre

Janeiro, e sua gente.

A nostalgia da santa terrinha, as saudades da família, e

os achaques de e de tanto se
que padecia que queixava, podem

explicar a razão dessa antipatia incoercivel, e desculpar de cer-

to modo suas objurgatórias e diatribes. Depois, há


que

convir, em seu favor, estas cartas não eram, como


que pas-

quins, endereçadas à mas à família, ao limitado


publicidade,

círculo doméstico, de onde não deviam : se chegaram


passar

ao conhecimento dos não foi, evidentemente,


pósteros, por

vontade ou culpa sua. Considere-se ainda era um in-


que

divíduo doente, de terríveis hemorróidas, cujas ca-


portador

racterísticas clínicas são, como se sabe, a irritabilidade e o

mau humor; considere-se também seus males


que podiam

ser agravados aspereza do clima do Rio de ou


pela Janeiro,

sistema alimentar da terra, era obrigado a adotar. . .


pelo que

Uma nota curiosa, ao mesmo tempo explicativa de posterior

conduta sua, fornece esse caso das hemorróidas, como se vai

ver. Por volta de Agosto de 1813, andava tão atormentado

das suas macacoas, foi consultar o Padre Teixeira, da


que

Casa da Duquesa de Cadaval, entendido em medicina. Das

receitas o Padre lhe uma aqui fica copiada


que prescreveu,
"Hum
ad litterae : frango inteiro sufocado, com o san-
pedem

e tudo, ao lume em hua a cozer com


gue, penas posto panela

meia canada dagoa : depois de cozido, e bem delido, coar

a dita agoa, estiver em de hum ex-


quando porção quartilho,
_ 12 —

premer o mesmo frango nhum forte ; dividindo a dita


pano

agoa ou caldo em duas iguais dous dias, se


porções para

tomará huma ajuda com huma morna,


porção juntando-se-

lhe hua colher de sopa de assucar refinado, e outra dita de

banha de flor de laranja". Com esta singular mezinha, o

padecente encontrou alívios, chegou a


grandes que qualifi-

car de sua nova metamorfose. . .

Houve, realmente, transformação em sua vida,


qualquer

ele, em de 1812 declarava não ter tenção


porque que Junho

de afastar-se da existência celibatária, lhe agradava com


que

em Dezembro do ano seguinte havia mudado


preferência, já

de resolução e tratava de escolher consorte, aliás ti-


que já

nha de olho. A' mana estar disposto a dar-lhe


participava

cunhada, apesar de ser brasileira, era melhor muitas


que que

portuguesas. Parece a família não recebeu bem a no-


que

vidade, bastante tempo se absteve de escrever-


porque por

lhe, do ele se amargamente. Pretendiam os


que queixou

talvês, se casasse com alguma dessas lisboetas


parentes que

toleironas, mandou às favas, como disse à irmã, citando


que

o terceto do Xavier de Matos :


poeta João

"Ora
he forte sem razão,

Quererem hum coração


que

Ame à vontade dos mais !"

Em 22 de Setembro de 1814 contraía matrimônio com

D. Ana Maria de S. Tiago Sousa, carioca, de 22 anos de

idade, filha legítima de de Sousa Mursa e de D. Fran-


José

cisca das Chagas de Santa Teresa, ele natural


português,

da vila de Mursa, na de Trás-os-Montes, e ela


província

brasileira ; muito limpa, honesta e abastada. A


gente pro-

le constava de três filhas e seis filhos ; entre estes um frade

Carmelita, de sua Ordem em São Paulo, dois nego-


prior

ciantes, outros dois administravam a casa do no Rio,


que pai

e o restante, menor, aprendia latina com o


que gramática

cunhado. O sogro vivia de suas havia


posses, que juntara
— 13 —

muitos anos em negócios Lisboa e do Brasil;


para portos

era homem de bom conceito, conhecido e respeitado de


gran-

des da corte do Rio de


personagens Janeiro.

De seu consórcio, até 1821, houve três filhos : Luiz

Francisco, nascido em 8 de Setembro de 1816, e morto do

mal de sete dias ; Maria Teresa, nascida em 7 de Março de

1818 ; e Maria Luiza, nascida em 13 de Agosto de 1819. A

família tinha boas disposições crescer, mas não foi


para possi-

vel saber do resto.

A vida corria suave Santos Marrocos depois do


para

casamento. O flagelo das hemorróidas, não o


parece, já

torturava tanto, suas veem menos lamurien-


porque queixas

tas, mais espaçadas. Em verdade, não totalmente


perdera

o vezo de detrair do Brasil, mas agora sem a agressividade

e acrimônia dos tempos.


primeiros

Em Agosto de 1819, insistindo com o trasla-


pai para

dar-se com os seus cá, visto a situação desgraçada em


para
"havendo
estava Portugal, os maiores motivos de se
que

desvanecidas as esperanças de elevar-se tão cedo


julgarem

ao seu estado antigo e florente", Santos Marrocos descreve

com simpatia o Rio de suas novas condições de ha-


Janeiro,

bitabilidade superiores às de Lisboa : a vida aqui era mais

fácil, havia fartura de tudo, os aluguéis não escandalizavam,

o sitio das casas em morava, lavado de bons ares, em


que

uma rua larga e asseada, tinha no o formoso


que princípio

chafariz de mestre Valentim, e no término o Passeio Público,

tudo obra do falecido Luiz de Vasconcelos, — não se com-

àquele triste Páteo da Opera dos paternos.


parava penates

Não temesse a mudança de clima, o desta cidade se


porque

mostrava muito favoravel às idosas, sabiam re-


pessoas que

vendo-se a cada indivíduos de século de


gular-se, passo

idade.

Impossível maior elogio à cidade, oito anos antes


que

se apresentava, em seu conceito, mais inhabitavel, mais mor-

tífera do lugar de degredo da costa africana.


que qualquer
— 14 —

* *

Servindo sempre na Real Biblioteca, no cargo de aju-

dante, incumbido da vigilância dos Manuscritos da Coroa,

informa Santos Marrocos, em de 1813, sobre a mu-


Janeiro

.dança dos enfermos ainda estavam no térreo


que pavimento

do Hospital da Ordem Terceira do Carmo, à rua Direita,

o Recolhimento do Parto, à rua dos Ourives, ficando


para

todo o antigo Hospital dos Terceiros destinado à Biblioteca,

até então ocupava somente o andar superior. Achava-


que

se a livraria bastante acrescida, com os sessenta e sete cai-

xões trouxera de Dsboa e abertos nessa ocasião,


que que,

teve o de ver louvado o bom acondicionamento dos


gosto

livros. O Príncipe Regente determinara concertos e


pre-

da casa, concedendo 1:000$000 cada mês as des-


paros para

afora o de 960 réis do servente carpinteiro das


pesas, jornal

obras, enquanto durassem. Havia de ficar uma casa muito

linda e muito bem arranjada a livraria, — confessa Santos

Marrocos. Em 1816 a Real Biblioteca tinha chegado a

um auge de explendor e como talvez se não en-


grandeza,

contrasse em muitos tribunais de consideração do


primeira

Reino, em sua opinião autorizada. Em 1819 achava-se mui-

to rica e respeitável importantes aquisições e compras,


pelas

tinham sido feitas, estando toda classificada em


que grandes

salas.

Por de 26 de Setembro de 1817 foi Santos Mar-


portaria

roços nomeado oficial da Secretaria dos Negócios do Reino

do Brasil, — B. N., Sec. Ms., C. 730-55. Acumulava as

funções desse cargo com as de ajudante da Real Biblioteca,

mas o Ministro, Visconde de Vila-Nova da Rainha, mandou

suspender-lhe o do ordenado desse último em-


pagamento

tanto reclamou o conseguiu ser de-


prego; prejudicado que
— 15 —

ferido tempos depois. Em 6 de Fevereiro de 1818 obteve

a mercê do hábito da Ordem de Cristo, B. N., Sec. Ms.,

C. 621-16. Por decreto de 22 de Março de 1821, e aviso

da mesma data ao Visconde de Vila-Nova da Rainha*, foi


pro-

movido ao lugar de encarregado da direção e arranjamento

das Reais Bibliotecas, com o ordenado anual de 500$000, na

vaga ocorrida em conseqüência da nomeação de Frei Gre-

Viegas Bispo de Pernambuco, B. N., Sec.


gório José para

Ms., C. 684-23. Frei Gregório foi Bispo em 4


provido

de Abril de 1820, Gazeta do Rio de do dia seguinte ;


Janeiro,

mas não se sagrou nem foi ao Bispado, ter seguido com a


por

família real Lisboa, em 1821, — Varnhagen, Historia


para

Geral do Brasil, V, 385.


ps.

A última carta de Santos Marrocos, de rom-


que parece

pimento com a família, tem a data de 26 de Março de 1821,

justamente um mês antes da de D. VI


partida João para

Portugal ; as se seguem nesta coletânea são dirigidas à


que

irmã, e não teem data, mas são sem dúvida escritas em tem-

pos anteriores àquela, notícias atrazadas encerram.


pelas que

Santos Marrocos não acompanhou a Corte a Lisboa,

como era nos anos o seu mais fervoroso desejo,


primeiros

tantas vezes manifestado nestas cartas ; deixou-se ficar no

Brasil, servindo ao Príncipe Regente D. Pedro. Aderiu de-

à Independência, tanto foi em oficial-


pois que graduado

maior da Secretaria de Estado dos Negócios do Império,


por

decreto de 3_de Abril de 1824, — Melo Morais, Corographia

Histórica, tomo 1, 2.a 402, Rio, 1863. Em 1825


parte, ps.

seu nome figura no Almanack do Rio de com aquele


Janeiro

cargo e mais o de encarregado da Direção e Arranjamento

da Biblioteca Imperial e Pública da Corte; morava na rua

do Cano, n. 22. Em 1826 não tem mais esse último cargo,

mas conserva o de oficial-maior na companhia do


graduado,

Conselheiro Francisco Gomes da Silva, o Chalaça, tinha


que

exercício no de S. M. o Imperador, no Paço de


gabinete

São Cristovão. Era a mesma a sua situação em 1829 ; ape-

nas mudara de residência a rua da Cadeia, n. 178 ; seu


para
— 16 —

colega, o Chalaça, morava na rua Larga de São Por


Joaquim.

decreto de 18 de Outubro desse ano foi-lhe concedida


por

D. Pedro I a comenda da Ordem de Cristo, serviços,


pelos
"de
alegou, escrever a Constituição Política do Império,
que

e de lavrar os Termos do M. I.,eS, M.


Juramento, queV.

a Imperatriz, Está em Glória, Se Dignarão Prestar sole-


que

nemente à mesma'Constituição, cujos três Autógrafos se con-

servam no Arquivo da Secretaria de Estado dos Negócios

do Império..." — B. N., Sec. Ms., 169-1.


C.

Em 1831, no da Regência, decreto de 1


já governo por

de Setembro, era a oficial-maior efetivo, — Melo


promovido

Morais, op. et loc. cit. Em 1835, sem alteração, mas atra-

vessara a baía residir no Palacete da Cidade de Nite-


para

rói. Assim em 1838. Nesse ano seu nome aparece, assi-

nando diversos atos do expediente de sua Secretaria,


publi-

cados nos inclusive o Diário do Rio de o úl-


jornais, Janeiro,

timo dos em data de 3 de Novembro, declarava e fazia


quais,

o Governo ia contratar o estabelecimento de


público que

a vapor do desta Capital os de Santos,


paquetes porto para

Rio Grande do Sul e Porto Alegre, e aceitava


propostas para

execução desse serviço, de acordo com as condições apro-

vadas os das Províncias do Norte decre-


para. paquetes pelo

to de 31 de Março de 1837.

Em exercício de suas importantes funções de Ofi-


pleno

cial-maior da Secretaria de Estado dos Negócios do Império,

depois do Ministro, com idade


primeira pessoa que pouco

de e sete anos, Santos Marrocos encerrava


passava quarenta

sua vida nesta Cidade, em 17 de Dezembro de 1838, há um

século conforme noticiava, com a sobriedade


precisamente,
"Faleceu
costumeira, o do Commercio de 18 : hontem o
Jornal

Sr. Luiz dos Santos Marrocos, official-maior da se-


Joaquim

cretaria de estado dos negocios do império". Foi sepulta-

do na Igreja de São Francisco de Paula, como consta do

Livro 4.° dos Assentamentos de Ó bitos da Veneravel Ordem

Terceira dos Mínimos de São Francisco de Paula, fls. 62,


"Aos
Assentamento n. 218: dezesete dias do mês de De-
— 17 —

zembro de 1838 sepultou-se nos desta Ordem o nos-


jazigos

so Irmão Luiz dos Santos Marrocos, o veiu em


Joaquim qual

coche, em caixão amortalhado em Hábito do nosso


próprio,

Santo; foi encomendado e recomendado nosso Rev.


pelo

Padre Pro-Comissário e dez sacerdotes ; teve convidados,

veiu acompanhado seu Pároco, e na catacumba n. 85.


pelo jaz

: — Cunha".-
(Rubrica)

* *

As cartas de Santos Marrocos não são de molde a al-

terar a história do a se referem ; mas, como essa


período que

história ainda não está completamente feita, é mais certo


que

lhe hão de trazer contribuições não desprovidas de va-


que

lor. Muitas novidades e miudezas nelas se encontram, ao

de muito mexerico, não da espécie daquele fez com


par que

Portugal a índia, como disse o Conde de Fi-


que perdesse

calho, — mas o mexerico noticioso, informativo, com


que, o

tempo, serve alumiar os desvãos da história, mais util


para

muitas vezes do o documento oficial, e cir-


que pragmático

cunspecto sua natureza.


por

O epistológrafo era em bem informado, e transmi-


geral

tia a seu o ouvia dizer fidedignas de


pai que por pessoas que

se acercava ; se as vozes não se confirmavam, tratava logo de

inutilizar o antes escrevera. Os comentários faz em


que que

desabono deste ou daquele indivíduo, deste ou daquele fato,

não exprimir a verdade ou a e efetivamente


podem justiça,

não exprimem muitas vezes, como todo homem, ti-


porque,

nha e e era manifesto seu despeito, mas


paixões preferências,

não excluem a vantagem de chamar a atenção do historiador

tais fatos e indivíduos, no senti.do de tê-los sob a reser-


para

va, se impõe. _
que
— 18 —

Em sua linguagem aparecem uma ou outra vez expres-

sões chulas ou brejeiras, ao velho e isso


gosto português, por

mesmo desculpaveis. Não há nelas intenção deshonesta :

há apenas a facécia, a laracha lusa, com a


paredes-meia gra-

çola e o motejo. Se hoje arrepiam a sensibilidade de


pes-

soas bem educadas, considere-se assim não acontecia ao


que

tempo em foram escritas, e muito menos


que quando, perante

a Corte, na de reis e rainhas, e


presença príncipes princesas,

nobres e se exibiam os autos de Gil Vicente, delícias


prelados,

dos contemporâneos.

Deslinguado e irreverente às vezes, não é con-


possível

ceber, em relação às da família real, súdito mais res-


pessoas

peitoso, mais niais cortezão. Para com elas, não há


polido,

nestas cartas uma só não seja de veneração, de


palavra que

acatamento, de bajulação ; nenhuma lhe despertou a mais

leve censura, a mais inocente crítica.

O Príncipe Regente, depois D. VI, a tinha


João quem

a honra, como se disse, de falar e beijar a mão todas as


manhãs antes de entrar o serviço, era' bondoso e mag-


para

nânimo, freqüentava sempre sua bibliotecà e interessava-se

cousas de artes e ciências. Este caso, revelado em


pelas

uma das cartas, mostra em o Príncipe estimava seus


que grau

livros Passou-se com o ministro inglês Strang-


preciosos.

ford, como é sabido, D. não morria de amo-


por quem, João

res. O ministro, ao deixar o Rio de recusou o


que Janeiro

do estilo, doze barras de ouro, esqueceu-se de de-


presente

volver dois cancioneiros antigos, tomados de empréstimo às

Reais Bibliotecas : o Príncipe mandou-os reclamar depois,

incumbindo da diligência* o ministro em Londres Cipriano

Ribeiro Freire, não se sabe com resultado.


que

No Rio de D. não levava vida sedentária,


Janeiro, João

apesar do achaque erisipelatoso de em uma das


que padecia

; boa do ano no Paço da Cidade,


pernas parte permanecia

mas estava freqüentemente no Palácio de São Cristovão, na

ilha do Governador, onde havia magnífica casa de campo,

com tapada e coutados extensíssimos ; visitava a ilha de Pa-


— 19 —

festa de São Roque, de era e


quetá pela que juiz perpétuo,

daí à ilha dos Frades, a festa de São Fran-


passava para

cisco, São Domingos, distante da Praia Grande,


para pouco

e uma vez outra a fazenda de Santa


jornadeava por para

Cruz, distante onze a doze léguas, onde se ofereciam


para já

algumas-comodidades meio de coches de Para


por posta.

sua melancólica existência buscava as distrações compatíveis

com o seu estado e com as inclinações de seu espírito, como

eram as festas de Igreja, com sermões e boa música.

D. Carlota estava sempre na chácara


Joaquina quasi

de Botafogo, causa dos ares e dos banhos de mar ; acom-


por

as Infantes suas filhas, menos D. Maria Te-


panhavam-na

resa, mais tempos com o a ajudava


que passava pai, quem

nos trabalhos de Em Março de 1814 a Princesa


gabinete.

Real andava bastante doente, tanto os médicos em


que junta

haviam decidido ser conveniente se


que, pela primavera,

transferisse o sítio do Pau-Grande, no caminho de Mi-


para

nas, onde encontraria bons ares a sua saúde ; mas,


para

por causa da distância, cerca de vinte léguas, de-


preferiram

o sítio do Suruí, mais No Andaraí, em Novem-


pois perto.

bro do mesmo ano, um residên-


preparava-se palácio para

cia da Princesa, deixasse Botafogo. Enquanto não


quando

se aprontava esse esteve na casa nobre, foi do


palácio, que

Conde das Galveas, em Mata-porcos.

De D. Carlota há nestas cartas uma obra de


Joaquina

caridade muito diz em crédito de seus bons sentimen-


que

tos, em dúvida maioria dos historiadores. Foi


postos pela

o caso o servente das Reais Bibliotecas, Lopes de


que José

Saraiva, assoalhando haver encontrado a mulher em adul-

tério com certo militar, depois de muito mal-


pespegou-a,

tratá-la, no Recolhimento do Taipú, onde a deixou sem o

menor socorro, era obrigado a subministrar; depois de


que

meses de vida horrível, a mulher conseguiu


provar judicial-

mente sua inocência, e foi restituida à liberdade. Estava

ao desamparo, com duas filhinhas o abandonou,


que pai

sabedora de sua triste situação, a Princesa a man-


quando,
— 20 —

dou buscar em sege da casa real Botafogo, fê-la tra-


para

tar seu médico, e internou as filhas em um colégio de


por

meninas, mensalmente sua educação 36$000.


pagando por

O tal servente, chegado de Lisboa em Novembro de

1811, era sujeito de maus costumes, e aqui andou metido em

trabalhos causa de sua vida estragada e escandalosa; de


por

certa vez esteve mais de cinco meses no aljube da ci-


preso

dade, motivo de desordens tivera com o filho de


por que

uma criada do Paço, o ficara cego de um olho, e ainda


qual

o Marquês de Aguiar se empenhasse em soltá-lo, a isso


que

se opunha D. Carlota fim, tendo seguido na


Joaquina; por

expedição militar de Pernambuco, em 1817, no número dos

feitores dos víveres, requererá escondidamente, morreu,


que

não em ação bélica, mas em ação de tomar um copo de

dentro de um botequim.
ponche

Sobre o infante D. Pedro de Alcântara, Príncipe da

Beira, não há notícias interessantes; uma vez foi atacado de

febres, o levaram ao leito muitos dias. A Princesa


que por

Leopoldina mereceu elogios : agradava em éxtre-


grandes

mo a todos, era discreta, desembaraçada e comunicável, so-

bretudo muito inteligente e culta.

O Infante D. Miguel teve uma meninice atribulada

moléstia da tísica, e andava sempre fora da Corte


pela quasi

à busca de melhoras, assistido Conde de Belmonte, seu


pelo

aio, até mesmo coibí-lo nos excessos de sua viveza ; com


para

o Conde de Valadares tempos na chácara âç Antônio


passou

de Saldanha, no Pedregulho.

Na véspera de São de 1818, o Infante sofreu sério


João

desastre, rebentando-lhe uma bomba na mão direita,


que

lha despedaçou; teve de dolorosa interven-


quasi passar por

ção cirúrgica, suportou em silêncio, com valor.


que grande

Por último, rapazinho, adquirira verminose ; diversas vezes

expelira varas e varas de segmentos de tênia, e havia indí-

cios de ainda conservava boa


que porção.

Em relação aos fidalgos, ministros e outro^ figurões da

Corte não é a mesma a sua linguagem : escapa-


já poucos
— 21 —

ram às suas ou injustas diatribes, filhas muitas vezes


justas

de despeito, de interesse contrariado. O Marquês de


puro

Aguiar, ministro assistente ao despacho e detentor de


qua-

tro contrariava certa sua, era uma


pastas, que pretensão

lesma, o de tudo, tudo tinha obstáculos


paralizador que para

e dúvidas, o azarento enterrara três ministros e cavava


que

a sepultura o Ainda nas vésperas de morrer


para quarto.

e filho com um despacho em


pirraceava pai protelatório

negócio do Do Conde das Galveas, D. de


primeiro. João

Almeida de Melo e Castro, ministro dos negócios da Mari-

nha e Domínios Ultramarinos e interinamente dos Negó-


"vício
cios Estrangeiros e da Guerra, revela certo antigo e

a ciência moderna, com mais definiu


porco", que primor,

como uma congênita, caracterizada dis-


predisposição por

túrbio funcional das de secreção internas, liga-


glândulas

das à sexualidade. A morte do Conde atribuiu à por


paixão

não ter saido marquês no último despacho, como sucedeu a

um seu colega, e no beija-mão se viu


principalmente por que

na retaguarda de alguns figurões a antes


quem precedia.

Do Marquês de Pombal, aqui falecido, sentiu a morte pela

amizade e agasalho com o tratava : tinha esse fidalgo,


que

não obstante suas asneiras cousa que o


políticas, qualquer

embelezava e atraía sua casmurrice. O Visconde de Vila-

Nova da Rainha mereceu no sua mas


princípio gratidão;

depois houve certa intriga, o Visconde começou


persegui-lo,

suspendeu seus ordenados na Real Biblioteca, e daí as quei-

xas amargas sobre ele expendeu. Do Marquês de


que

Loulé, com outros fidalgos conspirou em favor das ma-


que

francesas contra o Príncipe Regente, fornece al-


quinações

novidades, como a de esteve na fortaleza


gumas que preso

de Santa Cruz mais de treze meses, de ter sido em


posto

liberdade ordem de D. VI, decreto de 20 de


por João por

Março de 1818, e restituido às honras, mercês e bens


por

outro decreto de 29 de Agosto daquele ano ; nesse mesmo dia,

convidado, assistiu a função da Degolação de São João Ba-

tista na capela da Real Quinta da Boa-Vista, e no dia 5 de


— 22 —

Setembro entrou de semana no Paço, como camarista. O;

Marquês havia sido e sentenciado à última


processado pena

Tribunal de Lisboa, em 21 de Novembro de 1811.


pelo

Do Ministro Tomaz Antônio de Vila-Nova Portugal,

a devia o emprego na Secretaria de Estado dos Ne-


quem

do Reino, só diz bem ; era atencioso e honesto


gócios justo,

e cumpridor de seus deveres. Não é em relação ao


justo

virtuoso Bispo D. Caetano de Sousa Coutinho, cujas


José

famosas, se imprimiram na Impressão Régia,


pastorais que

de E lhe era obrigado, lhe fez


qualifica porcarias. porque

muita festa, visitando-o na Biblioteca, ignorar sua resi-


por

dência.

A respeito de de Azevedo, Barão do Rio-


Joaquim José

Seco, tesoureiro da Casa de Bragança, o em-


que preparou

barque da Família Real em Lisboa, e de Targini, Barão de

São Lourenço, enviou ao uns corriam na


pai pasquins que

cidade, nos os barões assinalados eram acusados de


quais

furtar a fazenda Ao aliás, mostra-se


pública. primeiro, grato

atenções e favores recebidos. Riquíssimo, Rio Seco


por

estava edificando suntuoso no largo dos Ciganos,


palácio

onde estava o e logo depois estava levantando


pelourinho,

outro mais soberbo e estupendo no sítio de Mata-cavalos.

O daqueles foi depois, durante


primeiro palácios grande

do Império e na República até tempo, a sede do


parte pouco

Ministério da Em Outubro de 1815, o Barão fez


Justiça.

um empréstimo ao Erário no valor de 200:000$000,


gratuito

deram carga a cinco carros cheios de e a onze ne-


que prata,

carregados de ouro. Visconde do mesmo título em 1818,


gros

Rio-Seco, no Império, foi elevado a Marquês de


Jundiaí.

Sobre Monsenhor Miranda (Pedro Machado de Mi-

randa Malheiros), da Mesa de Conciçncia e Ordens, Chan-

celer-mor do Reino, seu não abona a dos


juizo gravidade

altos cargos de se achava investido. Não o


que passava

Chanceler de um traste e ocupava todo o


peralvilho, que

seu tempo com certas meninas do Comboi do Porto, suas

vizinhas, referidas uma vez com expressão licenciosa. Esse


— 23 —

Monsenhor Miranda, inspetor da Colônia de Suissos de

Nova Friburgo e do Museu do Rio de sofreu do


Janeiro,

Correio Brasiliense (vol. XXIII, 303/304) sérias acu-


págs.

sações de despótico e de dos dinheiros


perdulário públicos,

em negócios feitos o Estado, apontando-se a fazenda


para

de Cantagalo, adquirida aquela Colônia 10:000$000,


para por

custara a seu alienador apenas 500$000, e as casas


quando

compradas o estabelecimento do Museu


para pela quantia

de 80.000 cruzados, seu valor aquisitivo ul-


quando pouco

trapassava da metade.

Seu conceito não é dos mais lisongeiros trata


quando

do célebre músico Marcos Antônio Portugal, depois


que

de ter sofrido um estupor andava de sege efetiva ordem


por

do Príncipe Regente, estava um lord, candidato à fidalguia

escala do dó, ré mi, Barão de Alamiré, o rapsodista


pela

Marcos, ia a aversão de todos sua fanfar-


que ganhando por

ronice, impostura, e soberba; chega a acusá-lo de


plagiário,

com a abonação de um músico e compositor vindo de


grande

Pernambuco, não nomeado, o mostrava a


qual quem qui-

sesse ver os lugares em furtava de outros autores,


que pu-

blicando-os como seus.

Sobre os brasileiros natos, achegados à Corte por qual-

motivo, manifesta-se indisfarçavel sua aversão : eram


quer

eles naturalmente os competidores dos se


portugueses, que

com direito exclusivo a todos os empregos e a to-


julgavam

das as mercês da Coroa. Egídio Álvares de Almeida,


José

logo Barão de Santo Amarq, e depois no Império Marquês

do mesmo título, a o Príncipe Regente distinguia com


quem

as suas não em seu conceito de um simples


graças, passava

cortesão, mas bandalho e tinha em seu ele-


peralvilho; poder

mentos suas expressões, e enviaria ao


que justificavam que

tivesse seguro. Egídio ia o


pai, quando portador José para

Rio Grande arranjar uma fazenda, comprou


grande que por

63.000 cruzados, de sociedade com Antônio de Araújo, o

futuro Conde da Barca, ali estabelecer uma fábrica de


para

couros.
— 24 —

De Silvestre Pinheiro Ferreira conta tendo sido


que,

nomeado uma missão em Buenos Aires e Montevidéu,


para

depois de ter recebido dinheiros e instruções, se recusou a

seguir, argumentando necessitava de carater


que público,

como tivera em Berlim. Por essa desobediência ficou


pri-

vado de beijar a mão de S. A. R., e foi degredado a


para

ilha da Madeira, cujo devia ali detê-lo até segunda


governo

ordem. Da de degredo obteve do Príncipe,


pena perdão

tinha vendido sua casa e estava a bordo se-


quando já para

viagem; teve bom na do Lord Strang-


guir padrinho pessoa

ford, mas também deveu a a sua mulher, se mos-


graça que

trou uma heroina, merecendo isso a atÃção de S. A. R.


por

Enquanto esteve suspenso meteu-se a e deu um


projetista,

curso de Filosofia no Real Colégio de São anun-


Joaquim,

ciado na Gazeta do Rio de a meia dobra, ou 6$400


Janeiro,

por cabeça. Suas lições, com o título de Pcelecções Philosophi-

cas, foram reduzidas a folhetos, tiveram exaltada aná-


que

lise no Investigador Portuguez, com escândalo de Santos

Marrocos.

A Clemente Ferreira França trata de e não ati-


piegas,

na tinha subido a tal de dignidade, em Per-


por que grau

nambuco, onde se tornara famoso suas ladroeiras; de lá


por

havia trazido a Corte muita riqueza, e aqui trotava em


para

magnífica carruagem : todos o conheciam essa boa cir-


por
"desgarre
cunstância, bem como de sua senhora,
pelo qual

outra Sabbá".

Nem ao Frei Conceição Veloso a alei-


grande poupou

vosia de Santos Marrocos : sua morte, dá cur-


participando

so à versão infundada e injuriosa de sua livraria e ma-


que

nuscritos foram ter à Biblioteca ordem do Príncipe Re-


por
"para
do muito furtou à Fazenda
gente pagamento que

Real". Em nota no lugar explica-se como se processou a

remessa do espólio literário de Frei Veloso à Biblioteca

Real.

* *
— 25 —

As notas de da destinam-se a confirmar, es-


pé página

clarecer ou ampliar as informações do texto. Fundam-se em

boa na coeva Gazeta do Rio de cuja autori-


parte Janeiro,

dade como oficioso e oficial dispensa reco-


jornal qualquer

mendação. São achegas os estudiosos não inu-


que julgarão

teis ou ociosas, aqui trazidas com a cândida intenção de

algum serviço. Por último, consigne-se a


prestar-lhes que

das cartas familiares de Luiz dos Santos


publicação Joaquim

Marrocos neste volume dos Anais, no centenário de sua

morte, eqüivale a uma homenagem da Biblioteca Nacional

do Rio de a um de seus funcionários em


Janeiro primeiros

ordem cronológica, nelas deixou subsídios apreciaveis


que

a história da instituição.
para

Biblioteca Nacional, Dezembro, 1938.

Rodolfo Garcia

Diretor
CARTAS

DE

Luiz Joaquim dos Santos Marrocos


CARTA N.° 1

Meu Pay e Sr. do C.

Esta he feita entre Ceo e agoa, sobre mil afflições, desgos-

tos e trabalhos, nunca soffrer; tendo sahido


quaes pensei pois

da barra de Lisboa com vento de feição, mal chegámos ao mar

largo, nos saltou vento de travessia, nos impellio a Costa


q.e p.a

de África : á vista delia as Ilhas dos Açores, e as


passámos

Canarias, meio de bordagens retrógradas, m.^ ve-


por q.e por

zes chegou a supender-se de todo a navegação calmarias


pelas

misturadas com ventos contrários, nos expunha a


podres, q.°

immensos Agora estamos na esperança de avistarmos


perigos.

ámanhã a Ilha de Santiágo, hüa das de Cabo-Verde, e


por

não deixar hüa tão boa occasião, tenho tenção de saltar em

terra, não obst.e os máos ares de terreno, a fim de lançar esta

Carta no Correio, não confiar esta empreza de outrem.


por

Não he necessário explicar a V. M;ce o summo cuid.° em


q.e

tenho estes 27 dias de viagem, considerando em toda


passado

a familia, sem excepção de estou certo V. M.ce me


pessoa: q.e

crê; e m.to mais na moléstia da Mãy, e nas vertigens súbitas

de V. M.ce, mas Deos se não augmente o desarranjo


permittirá

com a falta de saúde. Eu tenho muito incommodado


passado

da boca e olhos, de maneira estou em uso de re-


garganta, q.e

médios: não tive enjôo algum ao sahir da barra de Lisboa;


po-
rem causou-me a maior compaixão ver o vomitorio da
geral
da Fragata; entre 550 aqui ha, forão
gente pois pessoas, q.e
as do enjôo. De noute não dormir
poucas privilegiadas posso
mais de hüa hora, o resto fica-me eu nos lan-
por q.e p.a pensar
ces e futuros da m.a vida. Ao outavo dia de viagem
presentes

era corrupta e a agoa de ração, de man." se lanção


já podre q.e
fóra os bichos beber-se : tem-se lançado ao mar
p.a poder
mJ10* barris de carne salgada Em fim tudo aqui he hüa
podre.

desordem, falta de em tudo : todas as cordas da


pela provid.as
— 30 —

Fragata estão menos as enxarcias; todas as velas estão


podres,

avariadas, de sorte se rasgão com viração : a tri-


q.e qualq.r

pulação não e em semelhante estado ficaremos


presta; perdi-
dos, se nossa desgraça formos accomettidos de algum
por

temporal rijo. Não ha botica sufficiente os doentes,


p.a pois
não consta mais do de meia dúzia de hervas, sendo aqui as
q.e
moléstias em abundancia; não ha nem carnes frescas
galinhas,
elles. Finalm.H dizer tudo de hüa vez, se eu soubera o
p.a p.a
estado, em existe a Fragata Princeza Carlota, repugnava
q.e

absolutam.te de metter-me nella e a Livraria, e nisto m.mo fazia

hum serviço a S. A. R. Apezar de tudo isto, confio


grande

na misericórdia Divina, nos livrará dos riscos a estamos


q.e q.e
expostos; e a cuja Providencia estou entregue com a maior re-

signação. V. M.ce terá a bondad.e de me recommendar a todos

os da nossa amizade; e espero me inclúa nas suas orações, fe-

licitando-me com a sua benção, rogando isto m.mo a m.a Mãy e

Tia, a não explicar a da m.a cabeça,


q.m posso perturbação q.e
ás vezes chego a o tino, como e as
perder pensando quando
chegarei a ver. Espero V. M.ce me escreva, logo receber
q.e que
esta, dirigindo-a o Rio de e Sou
p.a Janeiro:

De V. M.ce

Filho m.° affect0 e O."

Luiz dos Santos Marrocos


Joaquim

P. S.

Saud.es á Mana e

á Ignez: e tendo tan-

to dizer ainda, he
p.a

tal a me obri-
pressa, q.e

ga a levantar
penna,
reservando este socego
p.a
o Rio, se D.s
permittir

q.e eu lá chegue.

Em 6.a fr.a de Paixão

ás 10 horas da noute,

e com dous recados


da Ronda apa-
p.a q.e

gue a luz.
— 31 —

Nota — Na ultima desta carta, encontra-se escrito


pagina

o seguinte:

Ao S.r Francisco dos Santos Marrocos,


José

Meu Pay e S.r

No Paço R. de N. S.ra da Ajuda

Páteo da Opera R. em Bellem.

Lisboa

CARTA N.° 2

Rio de 24 de
Jan.°

de 1811
Junho

Meu Pay e S.r do meu Coração — Esta só serve di-


para

zer a V. M.ce Emydio, da Secret.a ; e re-


queira procurar João

ceber delle hua Carta minha de 17 do na me


presente, qual
alargo em dar noticias minhas e as suas. Rógo-lhe não
procurar
se esqueça de escrever-me sempre duas regras todas as em-
por
barcações, eu fiz votos disso m.mo. Estimo muito a sua
q.e já

saúde, da Mãy e de toda a família, a me fará m.to recomen-


q.m
dado. Se tiver occasião de escrever ou fallar á S.ra Joaquina
Felizarda, dizer-lhe ainda não descobrir seu
queira q.e pude
filho José Thomaz, nem delle tenho atégora alcançado noticias:

eu não me descuidarei de continuar nas m.as diligencias. O m.mo

acontece a respeito do Sugeito me recomendou Simão Thad-


q.e
deo Ferreira : eu conservo a Carta, e continúo a busca.

Melitão encontrou-me hoje no Paço, e deo-me hfía honrosa

satisfação, offreceo-me a sua Casa e meza, e fez-me em


publi-
co todos os rompantes de hum fofo Cortezão.

Fui visitar o Bispo Capellão Mór: tratou-me magnificam.te

e mostrou-se nosso conhecido : eu lhe fiquei m.t0 seu affeiçoado

e agradecido. V. M.ce me fará o favor de agradecer os distin-

ctos obséquios ao S.r Dez.or Bernardo, em eu lhe não


João q.to
dirijo os meus agradecim.108 E Sou
por penna

De V. M.ee

Filho m.to affect.0 e obg.°

Luiz dos S.tos Marrocos.


Joaq.m
CARTA N.° 3

Rio de 27
Jan.°

de de 1811
Junho

Meu Pay e S.r do C. Com esta são três Cartas, tenho


q.e

o de escrever a V. M.ce este Correio Marítimo, o Bri-


gosto por
Furão; e ainda escreveria mais, se mais tempo tivesse;
gantim

não me falta objecto, sobre discorresse. Inclusa nesta


por q.e q.e

envio hüa Carta o Tio Cónego, e V. M.ce me faça a mercê


para

de mandar-me dizer se elle lhe tem escrevido; também desejava

saber se V. M.ce tem recebido mais algum dinheiro do Ordena-

do, fóra do recebeo ultim.te comigo. Aqui se deo á sepultura


q.e

a semana a Mãy do Visconde de V.a N.a da Rainha,


passado

cujo successo me fez algum em demora. Tenho sido


prejuizo

visitado algüas entre as he Fr. Innocencio


por pessoas, quaes
Ant.° das Neves Portugal, e Antonio Cirurgião da Ca-
João,
mara, com seu Cunhado Maria : não sei o com
José q.e julgue
isto. Rógo a V. M.ce com todo o empenho me mande extrahir

hüa Copia dos Estatutos da Bibliotheca de Hespanha, existe


q.e
na sua mão : fui insinuado a arranjar hüa Obra tal
por q.e já

em compet.a da do Padre Serra; e como não tenhc\nem


posso
ter hüa base de bom calibre esta empreza, fiquei assombrado
p.a
com a vista do raio. Estimarei m.t0 V. M.ce me communique
q.e
todas novas e accommodadas a este Paiz, assim no
provid.as

ramo economico, como no litterario, e não estejão na d.a


q.e
Obra, desta sorte não haver morder ; o desde lhe
p.a q.e q.e já
agradeço. Já dei a benef.° do nosso Comp.e ; o Guar-
passos
da do N.° Propriet.0 annuio facilm.te á m.a mas
proposta, quero
consultar e avisar antecipadam.te ao S.r Alex.e Ant.° das Ne-

ves, ser seu Procurador e ter sido seu Am. Do mais hou-
por q.e
ver, avisarei. Sou

De V. M.™

Filho m.10 aff.^ e do C.

Luiz dos S.tos Marrocos


Joaq.m

P. S.

Saud." m.tas e m.tas á Mãy, Manna,

Tia, &
CARTA N.° 4

Rio de 3.
Janeiro

de de 1811 £.
Julho

Meu Pay e S.r do meu C.: Cada vez na


que pego penna

escrever a V. M.ce, sinto em mim hum espirito novo, me


p.a que

alegra e vivifica, desterrado esta forma alguma do


por porção

desgosto, me acompanha, por estar separado da sua


q.e pre-

sença : a cada se me suscitão ideas e motivos lhe


passo para

fazer dinheiro no Correio; mas entretanto tenho huma


gastar

seria esperança de ver retribuída essa despeza novos inte-


por

resses a bem da nossa Casa. Não tenho descançado hum mo-

mento a Amigos de honra e valimento, ajudando-me


grangear

nesta empreza a boa metralha das Cartinhas, tem sido ouro


q.e

sobre azul, e coroando toda esta obra a necessid.e de desenferru-

a lingua, fazendo-me sahir fóra do meu misantropismo ;


jar pois

as circunpt.aS, em estou, obrigão-me a ser abelhudo, mesu-


q.G

reiro, e orador, estas até aqui bem contrarias ao meu


qualid.es

: V. M.ce bem mo Envio a V. M.ce inclu-


gênio prognosticava.

sa nesta hüa Carta do Monsenhor Machado, o me asse-


qual

de todos os seus bons officios a nosso respeito, e confia-


gurou

do em taes entro em campanha, arrimando-lhe ás


promessas, já

ventas a sua e serei hum costura : Deos


papelada, piolho por

a virtude nestes negocios, não são de bagatella. O


ponha q.e

S.r Dez.or Bernardo também foi meu com


João panegirista p.a

este Monsenhor : V. M.ce fará a mercê de reiterar ao d.° S.r os

meus agradecim.tos testemunhos da sua amizade e


pelos grd.®8

em lhe não dirijo as sinceras expres-


proteção, q.to propriam.te

soes do meu reconhecim.t(> e obrigação. A Carta inclusa o


p.il

S.r Alexandre deve ser entregue mão do nosso Compadre


por

Antonio Simões ; eu desejo fazer-lhe todo o beneficio


possivel,

e isso não descancei até o negocio nos termos, ella


por pôr q.e

indica ; e espero deste modo fique elle servido e eu satis-


q.e
— —
34

este navio ha de V. M.ce receber hüa Carta m.\ e


feito. Por

inclusa hüa o Comp.e Simões ; outra mão do João


nella p.a por

e hüa o Tio Cónego. Sou com todo o respeito


Emygdio, p.a

De V. M.0®

F.° m.° affect.0 e obde C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaq.m

P. S.

Saud.!es á Mãy, Tia, Manna

e Ignez : Visinhos Paula, Marg.da

e Santa Anna e Luiz Carpint.0

e aos mais Amigos do Bairro e

fora delle.

CARTA N.° 5

Rio de 21
Janeiro

de de 1811 f.
Julho

Meu Pay e S.r do meu C. Pelo Navio Victoria escrevi a

V. M.ce algüas Cartas, tendo só recebido aqui hüa do nosso

Compadre Simões : de Abril ; também me não tem chegado

aqui resposta sua á minha de Cabo Verde com data de 12 de

Abril. He mim a maior desconsolação vejo chegar Na-


p.a q.do

vios de Lx.a, e não acho cartas : entro a formar ideas sinistras ,

me trantornão todos os meus sentidos : rógo-lhe


q.e portanto

ainda seja dar -


me escreva sempre todos os Navios, q.e
q.e por

me da sua saúde, e da Mãy, e mais família. Eu tenho


parte

curtido hum defluxo do ar infernal desta


grande procedido

terra, e tenho soffrido hüa hemorragia de sangue na-


grd.61 pelo

riz ; cuja causa estou temendo os calores do verão,


por grandes

me hão de affligir muito. Aqui estou na Livr.a de com-


por q.e

com o P.e Damaso (das Necessid.as) e Fr. Gre-


panhi^ Joaq.m

com outros tres Serventes, todos aliás


gorio (Borra) pessoas

capazes, mas só hüa Bibliotheca Fradesca : tem


próprias p.a

ficado abismados dos meus trabalhos anteriores, e nada fazem


— —
35

concordarem comigo. Eu aqui a adoptar o siste-


sem principiei

Maria vai com as outras, e fui advertido hum figu-


ma de por

não adoptar outro differente. O d.° Padre


rão desta terra p.a

he o maior valim.0 o Conde de Aguiar, e o totum


Joaquim p.a

continens de Grd.es Senhores e Senhoras do Paço : mostra-se

m.° meu amigo, communica-me segredos de alta ; e eu


política

entre cortezias e frazes de concordância, dou-lhe duas figas, e

de reserva. Antes os meus burricos me adoeção,


ponho-me q.e

necessito fazer-me alveitar. Recebi da mão de de


Joaq.m José

Azevedo 200$000 r.s em metal, do 1.° semestre deste anno, não

havendo aqui adiantados ; e os Serventes também


pagamentos

tiverão os seus A respeito de m.as fortunas devo dizer


pagam.*08.

a V. M.ce ; S. A. R. me dá Casas Fazenda Real,


q.e pagas pela

eu assistir, afim de eu exercer hum Emprego novo, vai


p.a q.e

aqui a estabellecer-se, de honras, e tem causado grd.e


grd.es q.e

espectação : o Ordenado creio é bom. Agora não me con-


q.e

vém fazer maior declaração, o a seu tempo farei, remettendo


q.e

a V. M.ce o Titulo competente ; sou obrigado a guardar


pois

segredo ainda. Não se esqueça de recomendar-me á Mãy, Tia,

Manna, &, e lançando-me a sua benção me reconheça ser

De V. M

Filho m.° Obd.e e aff.°

Luiz dos Santos Marrocos


Joaq.m

P. S.

Cumprei hü negro 93$600


por

CARTA N.° 6

Rio de 24 de
Jan.°

Outubro de 1811

Meu Pay e S.r do meu C. Depois de ter sof-


prezadissimo

frido continuas afflicções e incalculáveis desgostos falta


pela

absoluta de suas letras, e havendo formado mil conjecturas


sinistras, necessaria consequencia do meu cuidado, ora julgan-

do aéreos motivos desconfiar da sua amizade, ora duvidando


p.a
— 36 —

até da sua existencia, o me obrigou ao excesso de


que perguntar
a do nosso conhecimento algüas noticias da
qualquer pessoa

nossa Casa, colhidas além-viá : chegou finalmente o


por gos-
tosissimo momento, em recebi a sua l.a Carta com data de 11
q.e

de Julho, mão do S.r Domingos Teixeira Lima, do


por José qual
me deo a alegre nova Fr. de S. Confessor de
Joaq.m José,

S. A. R. Tendo recebido esta d.a Carta no dia 19 deste


presen-
te, soube tivera a de a demorar na sua mão desde
q.e paxorra

21 de Setembro, dia em entrou neste o Navio Delfim.


q.*3 porto
Não tenho com explicar a m.a satisfação, ao
palavras q.e possa
ver não tem havido ahi em Casa occasião de desgosto, assim
q.e

em saúde, como em subsistência ; o espero Deos se


q.e q.*1

dignará olhar com as impenetráveis vistas da sua Providencia,

dando a V. M.ce os meios hum fim tão necessário,


possíveis p.a
e a mim iguaes soccorros daqui também supprir como devo.
p.a
Eu tenho com hüa tosse infernal, me incommoda
passado q.e
m.t0, e algüa impressão me faz ao ; cuja causa estou
peito pòr
em uso de alguns remedios, atalhar o ; mas sempre
para peior
trabalhando. Obrigão-me os Médicos a tomar vinho
qui-
nado em e a não beber a agua desta terra sem a mis-
jejum,

tura da Genebra, e bem cedo com mésinhices. Agra-


principio
deço a V. M.ce tudo me remetteo dentro ou adjunto a sua
q.to
Carta, e igualm.te acceito todas as recomendações das
pessoas,
tanto me honrão com a sua amizade, mostrando-me
que por
isso a todos mui reconhecido e obrigado ; eu também aqui

tenho retribuir a lembrança de V. M.ce alguns


para papeli-
nhos de boa curiosid.e no tempo, cuja lista vai com
prest.te
esta ; cuja remessa tenho resolvido faze-la Bergantim
pelo
Mercúrio, ir nelle hü rapaz serio e capaz, Voluntário da
por
Marinha, e veio de na Fragata Carlota : Elle
q,e guarnição
he Sobrinho de Pedro Alexandrino, desse sitio, vulgo
João

Armador : e mais segurança faço delle. Porem se


portanto

mais cedo me apparecer outra de boa confiança,


pessoa e
que
se transporte Lisboa, aproveitar-me-hei delia e
p.a avisarei a

V. M.ce. Eu estou actualm.te bem, e vou dar a V. M.ce indi-

vidual e meuda explicação. A respeito de Casas aqui


(artigo
de summa difficuld.da) assisto em hüas nobres e magníficas,

na rua das Violas, de companhia com hum Official da Secret.a

dos Neg.os Estrang.ras, e com hum Clérigo, foi Secret."


q.e
de Governo na Ilha da Madeira, no tempo de Ascenso de

Sequeira Freire, Gov.op ; este triunvirato aqui he bellissimo,


— 37 —

sendo todos de bem, somos de confor-


por q.e pessoas gênios

mes e e eis aqui hüa Socied.e m.° bem arranjada : o d.°


pacatos,

Off.aI da Secret.a he de 58 annos de id.e, e casado segunda vez

com hüa viuva de igual id.e e sem filhos ; e o Clérigo he


qualis

ego & alter ego. As Casas são Fazenda Real, a


pagas pela

dâ cada mez ao Senhorio hüa dobla (12$800 r.s), cujo


qual

ainda he mui diminuto o aqui se Casas.


preço p.a q.e pede por

Voltando a outro artigo m.*0 import.e, sou a dizer : Tendo

exercício, como dantes, na Bibliotheca, e vivendo satisfeito


por
ter logo recebido se me devia metal), e estando mui
q.t0 (em

alheia de em tudo com


qual.r pertensão, por q.e quero portar-me
madureza; a 8 de Setembro recebo Ordem do Viscon-
passado

de de V.a N.a da R.a lhe ir fallar no dia 9 : com effeito


para

promptam.te o e então elle me communicou tende


procurei, q.e
S. A. R. conhecim.*0 da m.a e conducta, e estando
pleno pessoa
m.to satisfeito dos bons desejos, eu tinha de o servir bem, lhe
q.e

tinha ordenado me chamasse logo e logo ir tomar conta e


p.a
cuidar no aranjam.to e conservação dos Manuscriptos da Bi-

bliotheca da Coroa, S. A. R.
(q.e quiz q.e permanecessem jun-
tos á Sua Pessoa) e dos mais S. A. R. ordenasse
papeis, q.e p.a

o futuro : Que estava inteirado das boas informações do S.r

Diogo a meu respeito, e como fidedigna me con-


João pessoa
fiava este Cargo de segredo, import.a e responsabilid.e. Princi-

logo no dia 10 dando-me o mesmo Visconde com as


piei posse
recomendações ; e assim continúo a trabalhar todos os
precisas
dias dentro do Paço, na Sala Nova do Despacho do R. Gabi-

nete; cima da Camara de S. A. R.. Faz-me m.13, honra esta


por

distineção, ser Successor de Fr. Antonio de Arrabida nesta


por
incumbência, e especial lembrança de S. A.
principalm.^ pela
R. em me chamar, sem eu o requerer. Eu lhe beijei a Mão e lhe

agradeci hüa tão distineta mercê, me honra e me confunde ;


q.e
e tenho a satisfação de lhe fallar e beijar-lhe a Mão todos os

dias, se levanta da cama, 7 horas da manhã, o me


q.do pelas q.e
obriga a sacudir-me de algüa frouxidão antiga. Não tenho mais

Ordenado do os simplices 400$000 r.s, mas vivo na esperan-


q.e

ça de vir a ser algum dia mais do sou : rógo a


q.e portanto
V. M.ce me ajude com os seus conselhos o bom acerto de
para
m.as acções, e enviando súpplicas ao Ceo, me illustre e
p.a q.e
illumine.

Depois de agradecer a V, M.ce a sua lembrança noti-


pelas
cias, me communica, o he um manjar do maior appetite
q.e q.e
— —
38

vive neste Mundo Novo, enviar a V.


p.a q.m parece-me justo

M.06 o me occorre a respeito do transporte da nossa familia


q.e

esta Corte. He cousa m.10 de o incommodo,


p.a ponderar-se q.e

soffre não costumada a embarcar, e m.t0


qualq.r pessoa princi-

tem moléstias do maior e cuidado : a he


pahn.te q.m perigo q.m

nocivo o tossir, o espirrar, o assoar-se 6c., he e


perniciosíssimo,

de toda a consequencia espôr-se ao enjôo marítimo, faz


q.e (pa~

rece) arrancar as entranhas e rebentar as veias do corpo, du-

rando este tormento dias, semanas, e m.tas vezes a viagem intei-

ra : além disto o susto do mar, trovoadas e aguaceiros, balanços,

submersões do Navio não são cousas ridículas não he


p.a q.m

Attendido o acima exposto, reflicta-se na


grosseiro. qualid.e

da terra ; havendo nella sempre hüa contínua epidemia


por q.e

de moléstias vapores crassos e corruptos do terreno, e hu-


pelos

mores da negraria e escravatura, aqui chega da


pestiferos q.e
Costa de Leste, contando-se cada anno desembarcarem neste

22$000 cima : he além disto a desta


porto pretos p.il grandeza
Cid.e de extensão, e mui semelhante ahi ao Sitio de Al-
pouca

fama, ou, fazendo-lhe m.10 favor, ao Bairro Alto nos seus dis-

trictos mais e immundos. Ora vem de Lx.a aqui, des-


porcos q.m

mara e esmorece : diga-o o Lima, da sua Carta,


portador pois
está summam.te arrependido de fazer tal asneira. Isto tudo

he dirigido á moléstia da Mãy, nunca me sahe do sentido.


q.e
Agora hum não dever fallar a
querendo politicar pouco, julgo

S. A. R. em semelh.te negocio, não só lhe o


por q.e participei
motivo de eu vir só, mas não bem vir V. M.Ce
pór q.e parece
olhando o Sete-estrello, e andar aqui á fazendo a triste
p.a pata,
figura de em terra movimento de
pertend.e, pois peq.a qualq.1"

olhos he notado ; e não tendo eu tenção de ficar aqui usque ad

mortem, hei de fazer toda a diligencia, se Deos me ajudar, de

formar hum decente estabellecim.10 a nossa Casa. Eu vou


p.a
tomando aqui conhecim.to com os Personagens de maior re-

e valim.t0 e a destes
presentação quero guardar protecção
bem e utilid.6 nossa. Por hum bilhetinho, remetto inclu-
p.a q.e
so, verá V. M.ce a m.^ dilig.6 acerca da sua sobre o
Jubilação;
devo dizer Mons.r Machado foi, he, e será tratante. Eu
que q.e

não cessarei de fazer os meus officios a seu respeito, em me


q.to
durarem as forças è a lingua, indaq.e bulbuciante : e não
q.d0 eu

nutrir esperanças, então ninguém lhe dar re-


possa já poderá
médio. Aqui se o Bando R. o Nascim.10 do
publicou p.a futuro

Menino, ou Menina, da alta de


q.e gozará preeminencia Infan-
— —
39

te, não obst.a não ser filho de Inf.e Portuguez ; e deseja-se m.t0

seja Menina a seu tempo haver outro Casamento com


q.e p.il

o nosso Infantezinho. Espera-se esse dia n.e de Des-


p.a grd.e

e alguns rabolistas a creação de Ducado


pachos, preconizão p.a

o Marq.z de Angeja, e de tres Baronatos de Aze-


p.a Joaq.111 J.e

vedo, Targini, e Medico Vieira. O fôr, soará. S.S. A.A.


que

R.R. saúde, excepto Meninos e Meninas, são


gozão perfeita q.e

attacados de convulsões, e especialm.te a S.ra D. M.a Izabel.

Queira recomendar-me á Mãy, Tia, Manna, Ignez, Comp.e e

Comadre 6c; õc. &c. e a todos os mais, de somos Amigos e


q.m

conhecidos : acceitando immensas recommendações de immen-

sas outras Pessoas, exist.es aqui; assim da Patr.al, como do Bair-

ro : E torno a repetir-lhe a súpplica de me escrever todos


por
os Navios sem fallencia, e felicitando-me com a sua Benção e

da Mãy; sendo deveras de

De V. M.ce

F.° m.*0 am,te

Luiz

P. S. Rógo a V. M.ce o favor de ao


pedir
Tio Cónego húa Carta de recomenda-

ção Ant.° d'Araujo ; creio


p.a porq.*1 q.e
elle vai o Lugar do Conde d'Aguiar ;
p.a

e elle disse ao Marq.z de Pombal


já q.e
me conhecia &.

Falla-se aqui na creação de húa nova

Universid.e em S. Paulo, o Parto.


p.a

(Em a mim, mais besta, mais .


q.tó quanto peixe)

CARTA N.° 7

Rio de 26 de
Jan.ro

Outubro de 1811.

Meu Pay e S.r do C. A demora deste Navio deo-me-occa-

sião eu escrever as inclusas, a fim de V. M.ce as vêr, e


p.<a jul-
capazes, faze-las entregar ás Pessoas, a são diri-
gando-as q.m
: a Carta o Tio erradam.te a fechei; V. M.0**
gidas para porem
— 40 —

abrila facilm.te, molhando a obreia. Remetto também hü


pode

em fôrma de Carta, onde se colhe algüa not.a da


papel, por

Viagem de S. A. R. a esta Corte ; e ainda o copiei á


q.e

V. M.ce entende bem a m.a letra.


pressa

Queira a João Emygdio, escrevo a V. M.06


procurar por q.m
com mais largueza e vagar : e elle continuarei a enviar as
por

m,,as Cartas mais causa do seu importe, e seguran-


gordas, por

ça ; ainda Correio sempre escreverei a m.a Carticula.


q.e pelo

Ora me escreva sempre, e sempre me conserve na sua


peço-lhe
lembrança ; sou
pois

De V. M.ce

F.° obd.te e obgd.°

Luiz

P. S.

Á Mãy, Tia, Manna, & &

recommendações m.*3-3 e m.^8 e m.tas

O Papel acima he feito P.e


pelo Joaq.m
Damazo aqui da Bibliotheca.

Pelo dedo se conhece o Gigante.

CARTA N.° 8

Meu Pay e S.r do meu C. Depois escrevi a l.a a V. M.06


q.e
inclusa a
no sacco da Secret d' Est.° dos Neg.03 Estrang.°s e di-

tada e lançada na mala do Correio : como este tem


geral se de-

morado mais tempo, não deixar de me aproveitar


posso desta

occasião, tenho vontade de desenferrujar lingua


porq.e a : e
por
me lhe escrevo, estou em
q.e parece q.e q.do gostosa conversação

com V. Em Io lugar lhe recomendo efficazm.te a sua vi-

gilancia me notificar a vacatura de Officio ahi


p.a qualquer de-
cente e de soffrivel rendimento, sendo daquelles,
q.e admittem
Serventuário : e isto valer, era bom obter-se
p.a Certidão d'Obi-
to do Dono ou Proprietário, e todas as mais Clarezas
passadas
por índia e Mina. Isto tudo he ver se
p.a posso tentar fortuna,
aproveitando-me das Pessoas, me attendem
q.e e obsequeão ;
— —
41

ainda isto agora está m.t0 esgotado, vejo aqui alguns


q.e pois

Criados não de S. A. R. com 3 e 4 Officios de mil


(e poucos)

cruzados ; mas eu não de nesta terra,


gosto prender-me q.e jul-

mim de Degredo ; e isso me lembro do me


go p.ia por q.e pode

fazer conta em Lisboa, estar seguro a todo o tempo.


p.a

Diz-se aqui occasião do Parto da Princezinha ha a


q.e por
creação da Relação o Maranhão ; assim como hum
p.a (1)

Plano de Estabellecim.t0 Publico, e Arranjam.to


grande parti-

cular dos Empregados das R. Bibl.aS, com bons ordenados, ra-

ção, fóros de Criados, ôc. &c. O Regulam.to feito P.e


pelo
Serra foi aqui chacoteado. Suppõe-se o sobred.0 Parto he
q.^

o de Novembro ; e isso fervem os


p.a principio por preparos
estrondosos, assim em terra, como no mar, as Preces diarias

amotinão os ouvidos, e todos os Pertendentes estão á mira desse

tão desejado dia.

Eu estou copiando a Hist.a do Casamento desta Senhora,

o remetter a V. M.ce, o he estimavel Obra


pj3, qual pela grd.e
das Escripturas, feita e arranjada Thomaz Antonio. Este
por

papel he feito em fôrma de Carta, como o da Viagem de S. A.

R., e he da mão e do P.e Damazo.


penna Joaq.m
S. A. R. tem estado ha dias na Ilha do Governador, divir-

tindo-se, e do bello ár, estes Políticos modernos lhe


gozando q.e
achão ; tem alli hum magnífico Palacio de Campo e hüa for-

mosa Chácara, com Tapada e Coutados extensissimos, de


q.e
he Inspector G.aI o Conselh.0 de Azevedo : este tem
Joaq.m J.e
de assistência effectiva a seu Cunhado Carlos Principy, e sua

Irmã Izabelona, alli vivendo e disfructando tudo, a titulo de

conservação : o d.° Carlos Principy todos augurão ao


p.a
menos hüa Commenda : em todo o tempo desta residencia

S. A. R. na d.a Ilha, tem mandado dar meza franca a todas as

Pessoas, o tem alli cumprimentado. Tem havido


q.e re-
grd.s
crutamentos, não só afim de augmentar os Regim.108 daqui, e
soccorrer os forão as fronteiras mas
q.® p.a ; desbastar os
p.a
m.*08 ladrões e matadores, attacão sem medo
q.*1 algum : de
Minas Geraes e outras Terras tem vindo aos 200 e mais e mais

(1) No despacho de 13 de Maio de 1812 sairam nomeados para a Relação


do Maranhão : Dr. Antônio Rodrigues Veloso, chanceler ; Bacharéis Lourenço de
Arrochela Vieira Malheiros, de Almeida
Rodrigues
João de Brito, José da Mota
de Azevedo, de Castro,
Joaquim Francisco Leal, Miguel
José João Marcelino da
Gama. Manuel Leocádio Rademacker, Luiz
José de Oliveira e João Xavier da Costa
Cardoso, desembargadores. — A Gazeta do Rio de
Janeiro, de 14 de Maio de 1812.
— Tem essa data o alvará
que deu Regimento para regulação e governo da mesma
Relação, novamente criada.
— 42 —

facinorosos. Destes foi ha tempo enforcado em hum


patibulo
Preto, matara seu Senhor, Senhora, hum filho, e violentara
q.e

hua Sobrinha, a matou depois : destes casos acontece


q.m
freqüentem.^, assim como Pretas matarem seus Senhores com

veneno : o terror é m.^ necessário esta canalha, aliás está


p.a
tudo O meu Preto he m.10 manso, e tem-me m.to
perdido.

respeito, e mais ainda do meu Cosinheiro, aq.m dei a liberd.*

de o castigar, fosse Marcos Ant.° Portugal aqui


q.do preciso.
teve húa especie de estupor de repente, de cujo ataque ficou

leso de hum braço : elle tinha obtido de S. A. R. húa sege

effectiva, ração de Guarda Roupa, 600$ r.s de ordenado, do


e

R. Bolcinho aquillo S. A. R. lhe era e


q.e julgasse proprio
conveniente : alem disto ser Director Geral de todas as Fun-

ções Publicas, assim de Igreja, como de Theatro, e em


qual-

quer sentido ; e o Parto espera também húa Comenda.


p.a

O Bispo foi fazer a sua Visita Igrejas mais


pelas proxi-
mas da sua Diocese ; e levou comsigo a Fr. Bernardo, de Bel-

lem, tinha comsigo ; espera-se dia destes. Eu


q.e qualquer vou

ajuntando todas as Pastoraes delle as reinetter a V. M.ce,


p.:1
for occasião ; e he tudo hüa Eu lhe sou
q.do q.e porcaria. m.^

obrigado, me faz muita festa, e me visitou na Livr.a


por q.e por
não saber a m.a casa. Á imitação deste tenho sido obsequiado

de immensas outras com visitas, e


pessoas, presentes (cousa q.e
não aproveito). Aqui tenho visto bons Papelinhos feitos em

Londres, e de todos me agrada mais O Investigador Portuguez ;


não sei se he verd.e constar ser obra do Medico Abrantes (2) ;

do talento deste homem não tenho idea : si


pois porem forte,
seja-Ihe m.to ; ler-se e ter-se. O Medico
parabém porq.,a pôde
Paiva existe na Bahia ; donde trabalha mostrar e a
por provar
sua innocencia, e a de seus inimigos : O eu
preversid.161 (3) q.e
chóro he elle tenha aqui Padrinhos e Protectores.
q.*1

(2) O Investigador Português na Inglaterra, ou Jornal Literário, Político, etc.


Londres. — Começou a ser
publicado errj Junho de 1811 e encerrou sua publicação
em Fevereiro de 1819. Foi seu fundador o Dr. Bernardo José de Abrantes e Castro,
juntamente com o Dr. Vicente Pedro de Nolasco. a contrabalançar
_Destinava'Se
a influência do Correio ôrasiftense, de Hipólito da Costa, considerado em demasia
independente. O Dr. Abrantes fora perseguido pela Inquisição como jacobino e
mação. e se refugiara na Inglaterra.

(3) O Dr. Manuel )oaquim Henriques de Paiva, formado pela Universidade


de Coimbra, médico da Câmara Real, deputado ordinário da Real Junta do Proto-
Medicato. Foi o primeiro em Portugal, do invento da vacina, e
propagandista,
escreveu o opúsculo : Preservativo das bexigas, ou história da origem e descobri-
mento da vacina, e dos efeitos, ou sintomas, e do método de fazer a vacinação, etc.
r- Publicado ordem, e mandado do Príncipe Regente Nosso Senhor. — Lisboa,
por
na Of. Prát. de Procópio da Silva, 1801, in-8.°, com 2 estampas. Há segunda
João
— —
43

Tórno aqui a confirmar o disse em outra a V. M.ce :


q.e por

nenhu imagine a vir aqui, esta Terra não tem


modo p.a pois

boa, onde se lhe Eu não deixo nunca de a


ponta por pegue.

e todos dahi clamão unanim.e : se estivessemos


praguejar ;

fallaria eu mais claro. Athé he carid.e avisar os


mais perto,

nossos Amigos, se desvaneção de semelh.e pertenção.


p.a q.e

Aqui me veio a not.a na Charrua S. Magnanimo vinha


q.e João

Lopes Saraiva com a fam.a : tenho dele.


José pena

Rógo a V. M.ce se não incommodem a meu respeito, assim

em roupa, como em outros : eu sei a falta, faz


generos pois q.e

ahi á fam-a essas remessas ; mas eu ir sof-


posso passando

frivelm.te sou só ; e tenho Tudo agradeço,


pois q.& poupado.

mas sei o estado, em V. M.ce está, o me afflige bem, em


q.e q.e

não ser bom. Sou com o respeito devido


quanto posso

De V. M.ce

F,° m.° am.te

Luiz

Rio de 29 de
Jan.ro

Out.° de 1811

CARTA N.° 9

Rio de 16 de Novembro de 1811.


Jan.ro

Meu Pay e S.r do meu C. Eu mortifica-lo com


protestei

Cartas minhas, a fim de experimentar se deste modo mo-


posso
derar as excessivas saudades, de contínuo me affligem : não
que
he exaggeração este meu he da maneira, me
pensar, querer q.e

edição, Lisboa, 1806. Antrs, Henriques de Paiva estivera no Brasil, ao tempo do


governo do Vice-rei Marquês de Lavradio, e havia feito parte da Academia Cien-
tífica do Rio de Suspeito de partidário dos
Janeiro. Franceses, que invadiram Portu-

gal em 1807, foi


preso, demitido de todos os empregos e honras, e condenado a
degredo no Ultramar, por sentença ào ]uizo da Inconfidência de 24 de Março de
1809. Foi perdoado por decreto de 6 de Fevereiro de 1818. Em 1820 foi nomeado

professor da Escola Médico-Cirúrgica criada na Baía, onde estabelecera domicílio.


Por ocasião da Independência adotou a nacionalidade brasileira. Faleceu na Baía
em 10 de Março de 1829, aos 77 anos de idade. Foi autor de grande número de
trabalhos científicos, e um dos maiores médicos de seu tempo em Portugal e no
Brasil. — Conf. Varnhagen, História Geral do Brasil. V, ps. 91.
— 44 —

he mostrar a V. M.ce a m.a sensibilidade ao extremo


possível,
da sua amizade, e desejar ao mesmo tempo contradizer o nosso

rifão antigo, mostra os effeitos da ausência e separação :


q.do

em mim não elle verificar a sua auctoridade, o dou a


pode que

conhecer bem claramente ; e daqui conclúo a boa


que, quando
educação e os sentimentos tem lançado raízes no cora-
proprios

ção do homem, nem a experiencia tem forças escurecer a


para
razão, nem a razão deixa de abrir hum caminho seguro
jamais
contra os impulsos da indiscripção.

Eu tenho com incómmodos não ;


passado pequenos pois
ainda não nenhüa das moléstias do Paiz, tenho sido
q.e padeço
attacado de m.a tosse, nem de noute me deixa descançar ;
q.e
tenho tido 4 vezes vertigens súbitas, e as 3 no Ga-
por primeiras
binete, onde tenho exercício e sendo a ultima depois
quotidiano,
de deitado na mP- cama ; nisto mesmo somos conformes.

Acho-me m.° magro, e até falto de forças, o experimento a
q.e
cada estou influído no trabalho : tenho mandado
passo, q.do
ajustar o meu fato de côr, não foi feito o meu
pois parece q.e p.a
corpo. Nada disto me admira, são necessários effeitos do
pois
desgosto, em vivo, e do interno aborrecimento á terra, á
q.e gen-
te, e a tudo : e crêa V. M.Ce S. A. R. me enchesse de benefi-
q.e
cios taes. me visse elevado a hum sublime de repre-
q.e gráo
sentação e abundancia, nada me faria desvanecer da m.a idea o

constrangimento, com vivo, e o summo desejo de me retirar


q.e
de tão máo Paiz. Deos não terminar os meus dias de-
permitta
baixo deste horisonte, seria requintar a m.a
porq.e pena passar

por esse transe fóra dos lares e longe da nossa família.


pátrios,
Deixando cousas tristes, vou a dizer a V. M.Ce na ma-
q.e
drugada do dia de S. Carlos Borromeu deo á luz a Sr.ra Prince-

za D. Maria Thereza o seu filho com húa felicidade tão


primeiro
fóra do comum, não de meia hora o tempo das suas
q.e passou
dores : ora como esse dia era festivo em razão do
(4) já San-

(4) Temos a annunciar com o mais entranhavel júbilo, que o Ceo foi servido
abençoar os felizes Desposorios de S. ¦ A. R. a Sereníssima Senhora Princeza D. Maria
Teresa com S. A. o Sereníssimo Senhor Infante de Hespanha D. Pedro Carlos de
Bourbon e Bragança, dando-lhes o
precioso fructo de hum Augusto Neto de S. A. R.
o Príncipe Regente Nosso Senhor ; o qual veio á luz com o mais feliz em 4 do
parto
corrente á huma hora e meia da noite. No mesmo momento as girandulas e salvas
nos participarão tamanha felicidade com seus agradaveis estampidos ; e alluminando
as trevas da Noute, nos davão a saber o nascente de tão formoso Astro, tem
que
de brilhar com as virtudes de tantos e tão Progenitores.
grandes. Reis Seus Ditosa
America ! Quando esperastes ventura como esta ? Já nada tens que invejar á Europa :
os Braganças, e Bourbons nascem no teu seio.
"Por
huma singular coincidência, este dia tão respeitável e solemne
já para
nós por ser o do Augusto Nome de S. A. R. a Princeza Nossa Senhora ficou ainda

V
— 45 —

to, mais se tornou com o feliz nascimento do Regio


plausível

Brazileiro» veio ao mundo com de Aurora. Hou-


q.® privilégios

verão as Luminarias do costume, Beija mãe, e mais funções,

como V. M.ce ahi o saberá Gazeta ; e agora se espera


pela pelo

dia do Baptismo, ainda está occulto, dizendo huns ser a 8


q.e

de Dezembro, e outros a 17 ; mas o certo he S. A. R.


q.e per-

tende S. Mag.? declare o dia daquelle Acto, o a d.a Se-


q.e q.°

nhora não tem fazer, e isso todos estão em es-


querido por

pectativa.
Para esse dia espera-se somma de Despachos,
grd.e pois
todos aproveitar tão opportuna occasião : eu não sei se
querem

serei incluído em alguma cousa, ou seja Bibliotheca, ou


pela pelo
Gabinete, não me admirando de ficar excluído, não ter dei-
por
xado o meu sistema velho de calado. S. A. R.
querer perder por
vê-me todos os dias de manhã, eu tenho a honra de beijar-lhe a

Mão, e tem vagar e occasião me algüas cousas, a


q.do pergunta
lhe respondo concisa e ciaram.te, sendo hüa de Suas
q.e pergun-
tas varias vezes Se tenho tido noticias da m.° ? Á vista
por gente
disto creio ser escusado algüa cousa, sem saber o e
pedir q.°,
estando certo S. A. R. se não esquece de mim, foi
q.e pois q.m
me chamou esta m.a nova Repartição.
p.a
Eu não escrevi a V. M.Ce Mercúrio, daqui levou a
pelo q.e
noticia do referido Nascimento, foi com tanta
por q.e préssa,
nem levou malla de Cartas do Correio ; e alem disso não me
q.e

arrependo de não incumbir ao Voluntário da Marinha, Fir-


José
mino, de levar os Papeis, aqui tinha V. M.06
q.e promptos, p.a (e
sobre escrevi em outra ; me apparece
q.e já passada) por q.e
melhor Portador, he Domingos Teixeira Lima, o m.mo
q.e José
V. M.ce me enviou a sua l.a Carta, e atéqui a única :
por q.m

este Lima teve a fortuna de alcançar hum Officio, isto he,


grd.e
Guarda dos Armazéns da Alfandega Grande de Lisboa, de

hum conto de reis cima, e com todos os meios de o


p.a proteger
seu negocio, estar de dentro de Casa : alem disto
por espera ser

mais célebre e agradavel com tão feliz Nascimento. Estes duplicados motivos fizerão
concorrer ao Paço toda a Nobreza, o Corpo Diplomático, e muitas Pessoas distinctas
para terem o gosto de cumprimentar e dar os parabéns a SS. AA. RR., havendo salvas
no Mar e na Terra, e estando os Navios e Fortalezas embandeiradas em demonstração
de alegria. A' noute principiarão as luminarias de a Cidade, devem findar
geraes que
no dia de hoje.
"Hontem
houve Te-Deum na Capella Real com a assistência de toda a Côrte
e de innumeravel concurso de povo, e hoje he S. A. R. servido receber os cumpri-
mentos do Corpo Diplomático por tão fausta occasião, e dar audiencia|aos Tribunaes,
havendo Grande Parada no largo do Paço com as salvas respectivas.» — Gazeta da
Rio de Janeiro, de 6 de Novembro de 18Í1. \
— 46 —

transferido da Ordem de S. Thiago a de Christo ; tudo ma-


p.a

nejado selvagissimo P.e Confessor. E como á vista disto e


pelo

mais arranjos commerciaes, aqui tem effeituado,


q.e pertende
ir-se embora cedo ; he m.t0 mais capaz outra
pessoa q.e qualquer

a m.a incumbência. A : eu sei o nosso am.°


pja proposito q.e

Aguilar escreveo a este Lima hüa Carta me disse) com


(elle

infinitas de desgosto se lhe não fazer não


queixas por justiça,
sendo attendido &c. : o Lima immediatam.te a re-
queimou-a q.e
cebeo ; e elle e eu ficámos espantados da ou nenhüa cau-
pouca

tela do Aguilar em falar e escrever desenfreadam.te. A nossa

amizade insta V. M.ce o advirta de se abster disto ; não


q.e pois
sabe o melindre, em isto aqui está, e as necessarias e aper-
q.®
tadissimas em segredo se tem estabellecido ; e
providencias, q.e
assim não he elle dê e inconside-
justo q.e por páos por pedras
radamente ; e caridade applicar-lhe o Soíaííum esí
queira por
miseris & c. .

Tinha em em V. M.ce me remettesse em Car-


grd.e gosto q.e
ta Correio hüa Copia do Sistema de Classificação Biblio-
pelo

feita D.or Antonio Ribeiro dos Santos a Bi-


grafica, pelo p.a
bliotbeca Publica : são aqui de m.ta estimação,
papelinhos pois
he terra de tudo esteril. Estas e outras cousas semelhantes são

m.° necessarias os meus futuros intentos, os espero


p.a quaes

q.e fação desvanecer algüa nevoa, me encobre,, e ora


q.e' q.e por
me não convém subtrair-me delia. Para o futuro eu direi a V.

M.Ce lindas cousas ; e como aqui se nada em secco, havendo

grd.es basofias de fundos e materiaes ; e sabidas as contas, tudo

e tudo Fradarias ; eu me rio desta comedia, sendo os Actores,

quaes ícaros, e levados mas subitam.te abati-


pela presumpção,
dos materialidade. Ora basta de má lingua.
pela já
Como D.8 foi servido chamar si ao Botânico sem
p.a par,
Fr. Marianno da Conceição Velloso, deixou este cousa
José (5)

(5) Fr. José Marianno da Conceição Velloso, Ex-Provincial dos Religiosos


Franciscanos Reformados da Província da Conceição do Rio de Janeiro, e Botânico
Pensionado por S. A. R. o Príncipe Regente nosso Senhor, faleceo de hydropesia
anasarca no seu Convento de Santo Antonio desta cidade, tendo de idade 69 annos.
'Empregando
30 e tantos annos de estudos na vastíssima sciencia da Historia
Natural, este Varão de excellente engenho
compoz, depois de immensas fadigas pelos
sertões da America, a Flora do
Janeiro, obra de 11 volumes em foi., onde se
Rio de
achão analvsadas mais de 3.000 plantas, e classificadas segundo o system,\ de Linneo.
Esta obra vai a publicar-se, e ella fará com que o seu nome passe á mais remota

posteridade com gloria dos nossos, e inveja dos estranhos, de quem já he conhecido
e citado, como se vê do Compêndio de Willdenow, Botânico Allemão, e hum dos
mais celebres do século
presente. A brilhante carreira deste sábio Religioso foi hum
continuado serviço Pátriadapara quem sua morte he huma verdadeira perda : e
todos os que admirarão a sua instrucção nada vulgar, inteireza de costumes, e ame-
— —
47

de 2:500 vol.108 de Livr.ii entre outras mais cousas de espolio : e

Ordem de S. A. R., do m.to furtou á Fazen-


por p.a pagam.t0 q.e

da R., veio aqui nesta R. Bibliot.a recolher-se a sua miserável

Bibl.a e Mss.; e tive eu então o dissabor de vêr a Flora


grd.e

Fluminensis, 3 vol. em foi., tem importado cima de 400


q.e p.a

mil cruzados. Foi ir-se embora tão cedo hü Vassallo tão


pena

util, finalisar húa Obra tão magnífica, depois de com-


p.a q.e

valeria hum bom milhão ! A m.a Inoculação do Entendi-


pleta

mento cahio no Inferno, não apparece entre os seus Mss. ;


pois
e creio agora elle, ao esta, deixaria este Papel ahi
q.6 partir p.a
na Impressão Regia. Não aqui imprimir-se cousa algu-
pode
ma ; e dou exemplo o seguinte : aconteceo sahir errada em
p.n

nidade de conversação, não podem facilmente apagar a saudade produzida pela sua
falta-" — Gazeta do 1811 .
Rio de Janeiro, de 22 de Junho de
— Flora-2 Fluminensis seu Discriptionum plantará Praefectura Fluminensi sponte
n.iscentium Liber primns Ad systema sexuale concinatus Illm." az Exm." Dno Aloysio
d'Vascor.cellos S Souza Acons. S. Ma). Totiiu dition Brasil, terra, mariq. Praetoris
Gener. ac Pro Reg. IV. &c. <Sc. <Sc. Sistit Fr.
Josephus Marianus a Concept'. Vellozo
Praesb. Ord. S. Franc. Rrform. Prov. Flumin. 1790.
Originai. Texto 2 vols. 27 x 13. Estampas 11 vols. in foi. máximo. O texto
só foi impresso, em parte, em 1825, na Tipografia Nacional do Rio de Janeiro; publi-
cação integral teve nos Archivos do Mvseu Nacional, vol. V, 1880. As estampas
foram todas publicadas em Paris. 1827.
No José Lino Coutinho, apresentado à Assem-
Relatorio do Ministro do Império
"
bléia Geral Legislativa (ps. 13/14), lê-se :
no ano . . .Em seguimento ao que
de 1832
se tem dito sobre a Bibliotheca, convém roçar aqui na Flora Fluminense, que faz

parte de sua actual riqueza, e que tendo sido colhida, e coordenada pelo nosso con-
cidadão, o Illusire Padre Velloso, fora mandada lithograíiar pelo Governo passado,
com a despeza de mais de bum milhão de cruzados :
espantosa e isto tão somente
aqui na Typogra-
quanto plantas, porque o texto, deixado para se estampar
ás suas
phia Nacional, até hoje ainda não possuímos. Esta obra, pois, assim truncada, por
lhe faltarem as descripções. e mesmo assim pequena e pobre, á vista das muitas, e
novas especies, que os Botânicos Estrangeiros têm aqui descoberto, nos serve de
'
quanto existindo ainda quasi toda por se dispor em Paris, nos
grande peso; por
obriga a pagar 800 francos por anno, pela armazenagem, em que se acha ; 3 francos
e finalmente, não sei quanto de
por dia, a cada um dos serventes, que delia cuidão :
ordenado, ou da gratificação a hum Agente, que dantes debaixo das ordens do Com-
mendador José Marcellino, promovia os trabalhos da Lithographia, e que hoje ainda
se paga, para cuidar da sua conservação, venda ou troca por alguns outros Livros
de qué havemos mister : O que tudo sommado, e com Cambio, que tem corrido, e
ainda continúa, deve montar talvez á quantia de 2 contos de réis em cada anno : e

ha pouco acabei de receber do Ministro em França a conta do que se está devendo


de semelhantes gastos annuaes, que não mandei satisfazer por me faltar na Lei do

Orçamento autorização e dinheiro. Das collecções, que aqui existiam, tenho mandado
distribuir algumas diversos Estabelecimentos scientificos da Côrte. e das Pro-
pelos
vincias : não só porque assim convinha. mas ainda para não deixar que ellas encai-

xotadas, fossem consumidas pela traça, e pelos vermes".


O manuscrito da Flora Fluminense entrou na Bibliotheca Real em 1811. por
doação do
provincial do Convento de Santo Antônio do Rio dejaneiro, onde faleceu
Frei Conceição Veloso, em 13 de Junho daquele ano. De parte do texto existe na

Biblioteca Nacional outro exemplar, igualmente original, com ligeiras variantes, e das

estampas existe também outro exemplar original dos_três primeiros volumes.


¦— Veja o erudito estudo de Frei Tomaz Borqmeier O. F. M., — A Historia

da Flora Fluminensis de Frei Velloso, in Rodriguesia. n. 9 ps. 75/96,


publicado
Rio, 1937.
— 48 —

hüa a Folhinha dalgibeira o anno de 1812, e


pagina p.a por

isso foi necessário imprimir-se aq.le outavinho mui q.61


peq.°,

comprehendia em e deo-se este fim hüa


paginas pegadas, p.a

resma do máo em ellas costumão ser impressas : a


papel, q.6

somma da impressão foi 43$030 r.s! Tem-me isso lem-


por

brado faria aqui negocio Simão Thaddeo, se fizesse aqui


q.e

estabellecer seu Irmão com hum bom Preto, com-


pelos preços

modos dahi, ou differença, só deitar terra este


pouca p.a por

ladrão de Impr,íim Regia : em fim o ordinário das Fo-


preço

lhinhas d'algibeira he de 320 r.s e hü Livreiro Encadernador,

faz dellas hü famoso monopolio ; as vende fim a 1$600


q.e por
r.s. Vários Negociantes fazerem as suas fazen-
p.a publicas

das os Leilões do estilo, mandão á Bahia imprimir as suas


p.a

Listas (6), lhes não convém fazer estes ridículos.


pois gastos
Agora recebi a noticia de tinha sahido desta esse Porto
q.e p.u

o Navio Espadarte, e tenho desgosto de elle ahi chegue


q.e
sem levar carta m.a : destes acontecim.t0S hão de haver muitos ;

ainda existe aqui a desordem antiga neste artigo de En-


pois

tradas e Sahidas de Navios.

Eu tenho sido m.t0 obsequiado nesta terra, e tenho


gran-
m.'^ estimações de boa : sou m.to obrigado a Ro~
geado gente
mão Pedroso, o me obriga a em sua casa repe-
José qual jantar

tidas vezes : vejo a sua casa em m.^ boa ordem, dá excellente

educação a seus filhos, e vive em abund.a e com toda a decencia

e distincção ; tem 8 escravos e 4 escravas, lhe dão bom in-


q.e
teresse ; os machos todos são Officiaes e
por q.e quasi ganhão
seu Senhor bons : faz simuladamente bom negocio
p.a jornaes
em fazendas e he m.t0 feliz. Em fim eu m.*0 delle, e o acho
gósto
hum homem de e honra ; e não seria máo V.
probid.e julgo q.e
M.ce se correspondesse dahi com elle. Mais tinha lhe dizer,
q.e
mas será outro Navio : Ainda aqui não chegou a Charrua
para

A Junta da Impres-flfc ftwgia, seu deputado


(6) por José Bernardes de Castro,
em ofício ao Marquês de Aguiar, de 1 de Julho de 1815, reclamava contra a prática
abusiva de se imprimirem e reimprimirem na Baía, desde 1810, obras aqui publicadas,
leis e mais diplomas, em deprimento dos — Conf. A.
privilégios daquela régia oficina.
do Vale Cabral. Annaes da Imprensa Nacional, —
ps. XXIV/XXV, Rio, 1881. A
reclamação, parece, não surtiu efeito, porque, em Novembro de 1816, o diligente im-

pressor baiano Manuel Antônio da Silva Serva publicava este aviso na Gazeta do
"Manoel
i?i'ode Janeiro, de 30 do mesmo mês e ano : Antonio da Silva Serva, pro-
prietario da Tipographia da Bahia, que se acha presentemente nesta Corte, na rua da
Prainha casa1 n.° 16, no primeiro andar, faz publico, que quem quizer mandar imprimir,
ou reimprimir qualquer obra por preços commodos com boa letra Inglesa, pode diri-

gir-se á sua Casa afim de se convencionarem, assegurando, que qualquer obra princi-

piada se acabará em pouco tempo por estar munido de hum muito grande sortimento
de tipos, e logo que elle se ausente para a sua habitação, se poderão dirigir á sua
officina".
— —
49

"S.
João Magnanimo. Rógo a V. M.ce me conserve na sua ami-

zade e he o único bem, me satisfaz ; fazendo-me


graça, pois q.e
m.t0 recomendado á Mãy, Tia, e Manna com m.tos e affectuosos

abraços, não se esquecendo de me felicitar com a sua benção e

da Mãy, ainda longe, tem a m.lr*a virtude. E sou com toda


q.e,
a submissão.

De V. M.ce

Filho m.t0 afrect.0 e obg.mo C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaquim

P. S.

Faço tenção de mostrar a S. A. R.

todas as Cartas, de V. M.ce fôr recebendo


q.e ;

deverem ser escritas com


portanto julgo

toda a circunspecção.

CARTA N." 10

Rio de 22 de
Jan.P0

Nov.° de 1811

Meu Pay e S.r do C. Como amanhã, Sabbado, faz tenção

de Lisboa o NavioS. Thiago, aproveito esta occasião


partir p.a

dizer a V. M.oe a Charrua S. Magnanimo aqui che~


p.a q.e João

gou no dia 19 m.t0 feliz, com 69 dias de viagem, e não


padecen~
do os incômodos da Fragata Carlota. Nella veio Lopes
José
Saraiva, Servente da Livr.a, e me trouxe duas Cartas do S.p

Alex.e Ant." das N.-*®, acompanhando os últimos 87 caixotes

de Livros, ahi tinhão ficado.


q.e

Sei na d.a Charrua veio também o P.e Luiz m.t0 doente


q.e

em toda a viagem ; não eu ir a tempo a bordo


porem, podendo
not.as e Cartas de V. M.ce mão delle, como V. M.ce
procurar por
me observou na sua e isto em razão de m.as occupações,
prim.ra,

q.e me totalm.te, agora não acho not.a do d.° P.e, o


prendem q,6
me afflige bem ; e isso os Portadores não são dilig.68,
por q.do
he melhor escrever Correio.
pelo
— —
50

Lembro-me a V. M.oe o favor de não mostrar as m.as


pedir

Cartas a algüa, e ter nesse a maior reserva, com-


pessoa ponto

municando vocalm.te apenas o não fôr susceptível de senti-


q.e

dos sinistros ; he cautela m.to conveniente nós ambos,


pois p.a

facilid.e de ficar-mos compromettidos insensivelmente : e


pela

nisto não faço excepção. Sou

De V. M.ce

F.° m.° obed.e e aff.° V.or

L. S. Marrocos
J.

P. S.

Por este m.mo Navio escrevo a V. M.Ce

outra Carta mais extensa.

a esta carta, encontra-se colado um com o


(Junta papel

seguinte:)

N. B.

Aqui entrei na l.ft Loteria do Theatro de S. desta


João

Corte, comprando hú Bilhete (8$000 r.s), e entrando em outro

de Socied.e r.8) : o Io sahio em branco, o 2o teve o


(4$000 pré-

mio de 12$000 r.s. Agora entrei na 2a Loteria do m.mo Theatro,

em hü Bilhete de Socied.e com o meu Clérigo, e isso lá vão á


por
ventura 4$000 r.s Concedeo S. A. R. a este Theatro 7 Loterias

p.a ajuda das Obras do magnífico Theatro Novo de S. João, q.e

está a edificar-se, e abrir-se os Annos futuros


q.e pertende p.a
de S. A, R. S. feito ã moda do de S. Carlos (7) .

(7) Gazeta Extraordinária do Rio de Janeiro, de 7 de Maio de 1831 :


"Annunciamos
ao Publico para sua noticia, que a Lotaria já mencionada em
nosso N.° 20 para o Real Theatro de S. João terá por Thesoureiro ao Commendador
Fernando Carneiro Leão. Este Negociante de tanto credito, e probidade conhecida,
responde pelos fundos, e pelos pagamentos dos prêmios. Os bilhetes principião a ven-
der-se em 15 do corrente mez na casa do Thesoureiro na rua Direita, e quando esti-
verem quasi vendidos, se participará o lugar da extracção, e o seu começo. Os prêmios
serão pagos de tarde em todos os dias que andar a roda, depois do terceiro dia de
extracção, e em tudo o mais se observarão as formalidades com que se fazião as Lo-
tarias da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. E' escusado ponderar ao Publico a
segurança, exactidão, e pcnctualidade de todas as transacções a isto respectivas. Co-
nhecer os indivíduos que manejão este ohjecto he a maior recommendação que se
fazer". — A Gazeta de 9 de Março, o da loteria.
pôde publicou plano
CARTA N.° 11

Rio de no Gabinete de S. A. R.
Jan.ro,

2 de Dezembro de 1811.

Meu Pay e S.r do meu C. Haverá meia hora


prezadissimo

acabo de receber húa de V. M.ce, com data de 22 de Agos-


que

to, mão do Capitão da Galera Europa, Mathias da


por José

Silveira, chegando este Navio a este a 23 de Outubro


porto pas-

sado : e daqui se vê a ruina, se segue destas demoras,


que prin-

cipalmente em coúsas de importancia, como talvez será a Carta,

V. M.Ce me envia o Dor Vieira com a recommendação


q.e p.&

do S.r Farinha. Por este motivo devo lembrar a V. M.045 q.e para

a entrega das suas Cartas ou encomendas siga sempre


prompta

o systema de as remetter ao Correio, com sobrescripto a mim, e

lhe com segundo sobrescripto o Administrador


q.d° parecer, p.a

do Correio daqui, Manoel Theodoro da Silva, com tenho


quem

amizade, e tem ordem absoluta e antecipada me entregar


q.e p.a
lhe vier á mão, me respeite.
promptam.te quanto q.e

Agradeço a V. M.ce, e não menos á Mãy e Tia, a sua en-

commenda das meias e linhas ; e nisto conheço continúo a


q.e

merecer-lhe a sua amizade, o me enche da maior satisfação ;


q.e

o dizer-lhe sentido algum eu


porem permitta-me que por perten-

do servir de incommoclo nestas remessas, e em outros


gastos
iguaes ; não riscar-se-me da idea a falta,
pois pode grande q.®

ahi lhe fazem os meus Ordenados, sempre ajudão ; e tfessa


q,e

consideração rógo-lhe abster-se de despezas algüas a


queira

meu respeito ; eu aqui não vivo em algüa ; e


por que precisão

espero em Deos me não faltem com os são


que pagamentos, q.e
todos em metal, e até aqui : a contínua morti-
promptos porem

ficação, em vivo, nossa distancia e excessivas saudades


q.e pela

cuidado na situação da nossa Casa, não me fazem


pelo gozar
do bom arranjo, em estou, e além de me ralarem ao
q.e ponto
de ser notada aqui a minha magreza, a cabeça,
perturbão-me
sendo bem ha tempos em vertigens. Eu sinto em ex-
perseguido

tremo os trabalhos mentaes e físicos V. M.ce tem a bondade


que
de me relatar ; e só esse motivo eu desejava estar aqui na
por
sua companhia ; são taes os de dahi e
porem pontinhos política

daqui, ainda eu me remetto ao silencio, este silencio te-


q.e, q.e

nho m.t0 expressivo ao seu conhecimento : oxalá eu chegue


por

a tempo de ser o desejo ; e entretanto só dizer a V.


que posso

M.ce esteja na segura das minhas vistas no esta-


que persuasão

do e situação da sua Pessoa e nossa Casa ; eu todas


q.e procuro

as occasiões de lhe ser util, não deixando de dar a seu


passos

respeito ; e não obst.e as m.^ e fortes barreiras, tenho a


q.e q.e

vencer, confio na Providencia a attenção de S. A. R. ás m.as

supplicas e representações ter depois o de ver com-


p.a gosto

realizados os meus intuitos : isto não são finezas de


pletam.te

mulheres ; são expressões do coração, hü extre-


guiadas por

moso amor filial, e honra e verdade.


pela

Agradeço também a V. M.0* todas as noticias, me com-


q.e

munica ; e fôr occasião de escrever-me, não se esqueça de


q.do

fazer a m.m,a continuação, amaciando assim as m.as saud.es,


pois
mais não seja, he algüa distracção á m.a melancolia. Daqui
q/°

só communicar a V. M06. a not.a do Tratado de congra-


posso

çam.° concluido entre Monte Video e Buenos Ayres, e em con-

sequencia á retirada do nosso Exercito Pacificador. Corre vóz

aqui de ter sido convocado S. A. R. o Inglez Wilson, foi


por q.e

Comanda da Legião Lusitana, e ultimam.te residia em Ingla-

terra effeito de intrigas, Governador das Armas,


por para (ou

cousa semelh.te) na Corte do Rio de


Janeiro.

O dia 17 deste mez está determinado o Baptismo do


para

Neto de S. A. R. cuja occasião estão delineadas m.^8 fun-


para

ções de todas as classes, e muitos Despachos ; e espero


(8) q.a

"Em
(8) 17 do corrente, dia de summa veneração em toda a Monarchia Por-
tugueza, dia bem assombrado, e todos
que para sempre ficará indelevel na memória de
os Vassallos de S. M. Fidelissima a Rainha N. Senhora por ser o seu Anniversário
Natalicio: se realisou a Solemne Ceremonia do Baptismo do Sereníssimo Senhor
Infante Recem-nascido, Augusto Neto de S. A. R. o Principe Regente Nosso Senhor,
e Filho da Sereníssima Senhora Princeza D. Maria Teresa, e do Sereníssimo Senhor
Infante de Hespanha D. Pedro Carlos de Bourbon e Bragança.
Ornado todo o Paço com a maior magnificência por dentro e por fóra, segundo
convinha á celebridade do Dia, e á magestade da Ceremonia ; formada em toda a
Praça e lugares adjacentes huma Tropa aceadissima, que com a variedade dos seus
uniformes fazia á vista hum admiravel effeito ; entre harmoniosos concertos de bandas
de Musica collocadas em lugares convenientes, e hum concurso de immensas pessoas
de ambos os sexos, attrahidas pela pompa, e raridade do objecto ; ás 7 horas e Jd
da tarde, o Principe Regente Nosso Senhor se dirigio com a maior parte da Sua
Augusta Família, e acompanhado da Sua Côrte á Capella Real, onde o aguardava o
Excellentissimo e Reverendissimo Bispo Capellão Mór com os Monsenhores e Cônegos
do seu Cabido; e ali em presença de tão Nobre Assembléa e do Corpo Diplomático,
officiando o mesmo Excellentissimo Bispo, foi elevado á Fonte Baptismal. e contado
entre o número dos Filhos de Jesus Christo o Sereníssimo Senhor Infante Recem-

nascido, com o nome de D. Sebastião, Gabriel, Carlos, João, José, Francisco Xavier
— —
53

S. A. R. se lembre de mim com algüa nova mercê, não obst.te o

meu silencio a esse respeito.

Convém m.to meu o artigo da sua Carta a res-


p.a governo

de Lopes, Servente : eu tinha recebido do S.r Ale-


peito José

xandre Antonio Cartas e Officios da Repartição e onde me

dava conhecim.10 de m.as cousas do tal menino : eu aqui lhe

lancei hü freio tal, não nem abrir a boca, assim como


q.^ pôde,
fiz a ; e assim brincando, acho-me feito Pay de famílias
Joaquim

e Reformador de vidas e costumes alheios.

Com bem custo consegui dar-se esta Bibliotheca Pro-


p.a

da Impressão Regia de tudo se tem aqui impresso,


pina quanto

e houver de imprimir-se, o tenho hum m.t0 vanta-


q.e por passo

a beneficio desta Casa. Agora com outro, e he :


joso, principio

S. A. R. mande estabellecer hüa Bibliotheca Publica na


q.e

Cid.e da Bahia com a de Livros dobrados da


grande porção
Bibliot.a da Coroa. Resultão daqui tres utilid.68 muito
grandes,

alem de outras menores ; a 1." conservarem-se na Bahia os

Livros, o aqui he impossível ; não cabendo na Biblio-


q.e por q.e

theca, força hão de existir nos caixotes e nos


por perpetuam.te
Armaz.es do R. Thesqjiro, estão todos minados do bicho
q.e
cupí, achando-se isso em immensas tapessarias ; e assim
por pó
com o sobredito destino sempre se conservarão limpos cui-
pelo

dado dos Empregados : a 2.a a utlidade e aproveitam.10 do Pu-

blico ; havendo na Bahia magníficos Estabellecim.108


por q.e

públicos de toda a e em entre eiles bons Collegios e


qualid.e,
Estudos, effeitos do excellente Gov.or Conde dos Arcos,
por

falta alli hüa Bibliotheca Publica sirva Mestres e


(9), q.a p.a

de Paula, Miguel, Bartholomeo de S. Geminiano, Rafael, Gonzaga. Porão' Padri-


nhos a Rainha Pidelissima Nossa Senhora, e o Príncipe Regente Nosso Senhor, fazendo
as vezes de S. M. a Princeza Nossa Senhora.
Finalisou hum Te Deum de exquisito gosto e harmonia ;
toda a Ceremonia com
e a tropa
que estava formada, o parque de artilharia, e os navios no porto derão
descargas indicativas do prazer que Vassallos
penetrava os leais Corações de todos os
Portuguezes. A' noute, huma vistosa illuminação no mar e na terra, alegrava toda
a Cidade, e principalmente o Largo do Palacio. que estava huma scena encantadora,
realçada por hum concurso mais luzido, agradavel musica, e vista do mar, que repro-
dúzia a illuminação. Concluio-se tudo com hum fogo de artificio, que entreteve gos-
tosos a todos os circumstantes. que a si mesmos davão os parabéns por tão fausto
acontecimento, e rogavão ao Ceo os deixasse testemunhar ainda outras occasiões de
igual júbilo, e felicidade." — Gazeta do Rio de Janeiro, de 19 de Dezembro de 1811.

(9) existia
uma pequena biblioteca.
Já Veja
ali o Plano para o estabeleci-
Salvador Bahia de Todos os Santos,
mento de publica na cidade de S.
huma bibliotheca
offerecido á approvação do. . . Sr. Conde de Arcos, capitão general desta Capitania.
— Bahia, Typ. M. A. da Silva Serva, 1811 in-fol. de 2 — E' assinado
pp. por
Pedro Gomes Ferrão Castelbranco. — Para principio da fundação Pedro Gomes

offereceu os livros de sua livraria no que foi imitado por outros cidadãos,
particular,
— —
54

Discípulos, e todos os Curiosos de aplicação ; aqual


p.a p.a

Bibl.a, ser nascente, he mui sufficiente esta de Li-


por porção

vros : a 3.a he hüa de S. A. R. ao bom


generosa gratificação

agazalho e alegria dos Bahienses na chegada de S. A, R.

áquelle e ao admiravel offerecim.to e diligencias vivas


porto, p.a

alli se estabellecesse a Corte do Brazil, distinguindo-se so-


q.e

bremaneira em Donativos e outros obséquios singulares. Eu

não sei se vou errado neste meu mas sei aqui cou-
pensamento,

sas, ahi se ignorão, e isso discorro assim. Mais cousas


q.P por

tinha a dizer a V. M.ce, fiquem outra vez. Rógo a


porem p.a

V. M.ce se não esqueça de me escrever em todos os Navios

dando-me not.a da sua saúde, e da Mãy, Tia, Mãy, Ignez,

recommendando-me mui vivam.161 a todos ; e recebendo mui

submissam.^ a sua benção, me confesso ser com o maior ex-

tremo.

t)e V. M.ce

Filho m.to obed.e e C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaq.m

CARTA N.° 12

Rio de 11 de
Jan.ro

de 1812.
Janeiro
s

Meu Pay e S.r do meu C. Desde estou neste Paiz tenho


que
tido o de receber 5 Cartas de V. M.ce com as datas seguin-
gosto

tes : de 11 de de 22 de Agosto, de 8 de Outubro, de


Julho,
7 e 8 de Novembro do anno ; cujas Cartas conservo
passado
sempre á vista dos meus olhos, como antídoto á m.a saudade.

Tive o dissabor de não escrever 3 Navios a V. M.ce,


por por

incitados pelo Governador,


e em poucos dias se achou o estabelecimento com o fundo
de 3:261$000, em
dinheiro, e 3.000, entre os
"com quais oitenta de escolhidos autores, per-
tencentes ao Conde, quanto pelo tempo adiante elle os tornasse a haver a si, em
consequencia de ter sido meramente a sua prestação um meio de adquirir a doação de
outros das pessoas particulares", P. Ignacio Accioli de Cerqueira e Silva, Memórias
históricas, I, ps. 309/310, Bahia, 1835. — A biblioteca foi aberta ao publico no dia 13 de
Maio de 1811. — Veja Varnhagen, Historia Geral do Brasil, V,
ps. 119,
_ —
55

no m.mo dia, e nao podendo


de dous, sahirão
ignorar a q.
partida
na cama com a m. dor
estar assás doente
escrever 3." por
pelo
sou obrigado a dizer a
costas. Nesta consideração
antiga nas
de noticias minhas, he
houver falta ahi
V. M.ce que quando
ficando assim na certesa de
razões acima apontadas ;
duas
pelas
interromperei a m.a corresponden-
nenhum outro motivo
q. por
tenho a maior satisfação.
cia, na qual

dos Estatutos da
a V. M.°® a remessa
Agradeço
; e so-
de Hesp.a, com tive grd.e gosto
q.
Bibliotheca
vao a
creio com toda a q.
bre esse probabilid.e
ponto
dos Empregados, isto
augmentar-se os Ordenados

a de 100$000
he, a cada hum dos Serventes quantia

mais 200$000 r.s, fican-


r,s mais annualm.^, e a mim

: a respeito de
com 600$000 r.s metallicos
do assim

tem-se trabalhado fortemente, porem julgo q.


ração,
assim como a
ora não conseguir-se, porta-
por pode

Varredores em os Serventes.som.te, por q.


Soli ria de p.a
de Aguiar he o
eu não fardas. O Conde para-
omnino quero
tem obstáculos e dúvidas.
lisador de* tudo, e tudo
p.a
ao longe, em razão do
disso ouço rosnar m.t0
Alem

dar-se-me mais de Ordena-


meu exercício no Paço,

de Official da Se-
do outros 600$000 r.s,
graduação

com Habito de Christo: estes


cretaria, e condecorado
só S. A. R.
ferem-me m.t0 os ouvidos ; porem
longes

houver, avisarei logo ;


sabe a certesa disso. Do q.

he mui : isto lhe


e entretanto todo o segredo preciso

rógo com efficacia.

do S.r Arcebispo, cuja mo-


muito a noticia, me dá
Sinto q.
a liberd.e de lhe dirigir
bem o tem mortificado : eu tomei
lestia
mão de V. M.ce ; e agora
hüa Carta lhe ser entregue por
p.il
a m.a e o summo
a V. M.ce o favor de significar-lhe pena,
peço
O S.r Visconde de V.a N.a
desejo do seu restabellecimento.

no lhe fosse affirmando-


q. possível,
prometteo patrocinar-me
vistas : em dia de Reis lhe
eu estãva debãixo das sttãs
me q.
me remetteo Alex.e Antonio.
entreguei hum Officio, aqui
q.
dos Ordenados do
Faz-me o maior transtorno a extincção

espera ahi. Pare-


Bolcinho, V. M.Ce me diz se praticar-se
q.
com as ideas de S. A.
ce-me cousa mui difficil de combinar-se

situação dos ahi só tem esse


R., a he bem conhecida a q.
q.m
— 56 —

tenue recurso ; e seria a maior deshumanid.e suspender esses

debilitados, dar fim a esse resto de miseráveis,


pagamentos p.a

a elles tem todo o direito. Cada vez lamento mais a m.a


q.

vinda ; e Deos conceder-me meios, eu daqui


permitta p.a poder

ajudar em tudo o q. devo.

Se não fosse a ligação de silencio e reserva, eu aqui


q.
tenho meu novo exercício, com facilid.e ajudar a
pelo poderia

V. M,ce na sua Obra, novamente trabalha ; tenho aqui


q. pois
com abund.a material ella se enriquecer. Não
grande p.'a jul-
nunca achar neste Archivo cousas tão ; mas te-
guei preciosas
nho a maior de se lhes não dar o seu compet.e valor : e
pena

como m.a «ítrada se me determinou não consentisse a ex-


pela

tracção da minima copia, eis o me embaraça. Aqui, D.s lou-


q.
vado, ha hüa ignorancia soffrega, ou hüa soffreguidão material.

Dou a V. M.ce os agradecim.*055 novid.des me


pelas q. par-
ticipa, e me continúe, e miudezas, em me obriga
peço pelas q.
a dizer o seguinte ; O sugeito, na m.a l.a Carta eu contava
q.
andar Botequins o Bilhar, e de V. M.oe se
pelos jogando q.
admira, anda aqui de chapelinho branco redondo á
publicam.te
laia de : hisce oculis ; Quem anda desta sorte, tem ca-
Judeo

beça daq.la.
p.a jogar

A respeito de ahi, diz-se fotão os Boreis


prisões q. (e

julgo forão remettidos aqui), o Cambiacci, o Timtim,


q. p.a
o Dionisio Escr.3311 do Crime do Bairro Alto, e outros mais;

assim como a improvisa sahida de hum tal Conde Montalti,

Italiano vindo de Inglaterra, e de a Regencia descon-


q.m
fiou do Ministério Inglez.
por participação

Diz-se aqui, e se espera M.r Stuart Chefe de hüa


para
Divisão Ingleza de 5$000 homens e 4$000 Hesp.es,
para pa-
cificar as Desordens de Buenos Ayres. Não Deos
permitta
elles se demorem m.to neste chão,
q. q. pizamos.

A respeito de Ant.° Per.u desejar vir esta, faz hüa


p.a
tremenda asneira : elle o sentirá ; vem aqui ser
pois precário.
Remetteo-se daqui Aviso de Licença se transportar
p.a p.a
aqui Alex.e Ant.° das Neves, visto a das Munições
Junta

passar a Commissão Ingleza ; e neste caso V. M.ce fica



descançado a respeito das dos da Academia
perseguições p.a
o expellirem.

Aquelle Sugeito, a V. Mce affirmou serem desneces-


q.
sarias as Cadeiras de Filosofia, faz-me muitas honradas ; e
espero delle receber algum meio de me felicitar : estamos em
— 57 —

tempo, meu Pay, de devermos esquecer affrontas a troco de

algum sacrificio.

No dia 27 de Dezembro do anno morreo de hüa


passado

apoplexia, de hüa asmatica constipação, o Marquez


procedida

de Angeja, (10), cujo funeral foi sumptuosissimo, mandado

fazer S. A. R. e administrado Visconde de V.il N.a da


por pelo

R.a: ficou em seu lugar no Governo das Armas desta Corte

e Capitania o Marq.z de Vagos, depois de disputas ;


grandes

ser á Real Pessoa, como era o Duque de


querendo Junto

Lafões ; e isto de não ficar sujeito á Secret.a


proveio querer

d'Est.° respect.a: ficou como era o d° Marquez falle-


porem

cido Decreto do m.mo dia 27.


por

aqui vi o dinheiro de bronze, corre agora nessa,


Já q.

agradecendo a V, M.ce a noticia ; e em retribuição lhe dou

a de vir aqui a correr hüa nova moeda em em tra-


papel, q.

balhão m.to os s.res Economistas, depois de estarem cheios

até. ás Creio haverá difficuld.es,


goellas. grd.des por q. já

o Plano do anno se não executou.


passado

O seu requerimento está supito na Secret.a d'Estado,

assim como o do Irmão do Comp.e Simões, onde eu me as-

signei Procurador. Não sei Douto terá este appelli-


por q.m

do Marrocos ! Em á sua advert.a dç eu abrir mão


(a) q.to

da tal não faço ; e só lhe digo


pertensão, q.

Com arte e com engano

Se meio anno ;
passa

Com engano e com arte

Se a outra
passa parte.

Agora acabo de receber hüa Carta do Tio Cónego, com

tive a maior satisfação, me dava cuidado, a não


q. pois já q.m

"O
(10) Illustrissimo e Excelentíssimo D. José de Noronha e Camões, Conde
e Senhor de Villa Verde dos Francos, Marquez e Senhor da Villa de Angeja, Senhor
das Villas de Bemposta e Peniche, Alcaide Mór da Villa de Terrena. Conselheiro de
Estado e de Guerra, Gentilhomem ,da Camara da Rainha Nossa Senhora. Grão Cruz
das Ordens de Sant-Iago e da Torre e Espada, Presidente do Desembargo do Paço e
da Mesa da Consciência e Ordens, General de Infanteria, Marechal do Exercito, e
Governador das Armas da Corte e Capitania do Rio de Janeiro, faleceo inesoerada-
mente de huma apoplexia em o dia 27 de Dezembro de 1811, de idade de 70 annos,
com saudade universal de todas as classes de
pessoas, que o respeitavão pela sua
inteireza, e pelas mais virtudes com que enobreceo tantos e tão distintos lugares como
cs que dignamente occupava." — Gazeta do Riode Janeiro, de 1 de Janeiro de 1812.
"Sepultado
no Convento de Santa Theresa" — lê em uma nota por letra
antiga escrita abaixo desta nciticia.
Pelo decreto da mesma data da morte do Marquez. (27 de Dezembro), foi no-
meado lugar Governador das Armas o Marquez de Vagos. —
para substitui-lo no de
Gazeta citada, de 8 de Janeiro de 1812.
— 58 —

respondo agora, me faltar o tempo até acabar


por (q. p.a

esta, fiz hüa ao Gabinete).


gazeta

Pelo Navio Rosalia, em vai o S.r Dom.0s Teix.a


q. J.e

Lima, remeto a V. M.ce duas encomendinhas de cousas curió-

sas, elle terá o trabalho de lhe entregar ; e delle saberá


q.

cousas lindas. Acabou-se o Rogo a V. M.ce a sua


papel.

benção, e sou respeitosam.1®

De V. M.ce

Filho m.t0 obed.te e am.te

Luiz dos S.tos Marrocos


Joaq.m

P. S.

Se vir vai em termos a Carta


q.

o S.r Visconde de Sant.em, a V. M


p.a peço

o favor de entrega-la : as outras vão abertas.

Nota : No original desta carta, o termi-


periodo que

na em (a) encontra-se tapado com e difícil-


papel gomado

mente se compreender o tinha sido escrito.


poude que

CARTA N.° 13

Rio de 26
Jan.ro

de Fevereiro de 1812.

Meu Pay e S.r do meu Coração : Afflicto e cheio do

maior desgosto na lhe dirigir a


pego penna para presente,

falta de noticias de V. M.ce e da família ; ha 2 Na-


por pois

vios successivos, aqui tem chegado com mallas


q. grd.es p.a

o Correio e numero de ; e nem hum,


grd.e passageiros por

nem outro modo tenho obter Carta alguma : este


por podido

cuidado me tem em tal estado, eu me desconheço a


posto q.

mim m.mo e sou desconhecido aos outros, em magreza


pois já

não sou o era ; estou sempre doente ; e ainda hoje foi o


q.
— 59 —

a
dia, sahi fóra, hum ataque da m ca-
primeiro q. por grd.e

beça, me fez estar 12 dias de cama, 10 a caldos


q. passando

unicam.te, diminuindo-se-me a dôr com a applicação de ether

vitriolico em na cabeça. Neste triste estado assim


pannos

vou a m.a vida, esperando a cada alguma mo-


passãdo passo

lestia, venha terminar meus dias, ellas


que pois q. grassão

aqui de continuo ; e eu não tenho forças resistir, nem


para

cabeça as soffrer.
para

Ha muito tempo eu tenho lhe remetter,


q. promptas, para

duas encommendinhas ; mas como o S.r Domingos Tei-


José

xeira Lima estava com a tenção de se recolher a Lisboa, esti-

mei muito elle se me offerecesse Portador dellas, visto


q. por

ser de toda a estimação : elle será V. M.Ce entre-


pesoa por

das d.35 encomendas, restando-me o intenso de as


gue pezar

não acompanhar hüa boa somma a sua mantença


poder p.a

hum tanto tempo ; mas nem ainda tive augmento, como


por

esperava, nem vejo as cousas favoraveis. Em fim,


presentes

meu Pay, eu teria hum Despacho, se S.


querido por grd.e

A. R. me concedesse licença me ir a sua companhia,


p.a p.a

ainda mesmo sem ordenado algum, eu tenho reflectido


por q.

aqui não ter saúde, e alem disso vejo as cousas muito


q. pósso

más.

Neste mesmo Brigue vai Conrado de Passageiro ;


José

e elle tenho a tenção de escrever a V. M.Ce outra Carta,


por

assim como outra avulsa no Correio, ainda a m.a conva-


q.

lescença me não ser senhor de mim, he tal o aba-


permitia q.

timento, em me vejo, as vergão-me, e a m.a vista


q. q. pernas

me treme.

Creio está servido o Ecclesiastico, a cujo respeito me


q.

escreveo o Tio Cónego, lhe alcançar hum Beneficio na


p.a

Cathedral de Coimbra : se estas noticias, se me


que partici-

hoje, forem verdad.ras, terei muita satisfação em lhe


parão

haver sido e então lhe escreverei mais devagar.


prestavel;

Rógo a V. M.ce se não esqueça de me escrever, m.mo até

me aliviar a melancolia, em vivo continuamente. Es-


p.a q.

de V. M.ce me felicite com a sua benção e o m.mo


pero peço

á mãy, fazendo-me mui recomendado a todos de Casa, q.

esta ; a m.a cabeça não me ajuda


julguem por própria pois q.

mais.
para
— 60 —

lembranças de Fr. Gregorio, da Bibliotheca, e


Acceite

do Capranica, Gori, Borges, e Catão ; todos perguntão


pois

V. M.1* aqui chega Navio. Sou com a


por q.do qualquer

mais fina saudade

De V. M.ce

Filho m.t0 am.te e obd.e

Luiz dos Santos Marrocos


Joaquim

P. S.

Aos Visinhos e Amigos

dar m.tas lembr.^as


queira

CARTA N.° 14

Rio de 27
Janeiro

de Fevereiro de 1812.

Meu Pay e S.r do meu Coração : Depois de ter escripto

V. M.Ce mão de Domingos Tei-


a Carta p.a por José
prim.ra
de duas ericommendas, me apro-
xeira Lima, acompanhada

visinho, o S.r Conrado, me


veito do favor do nosso José p.Q

offerecimento de Anna do-


levar esta á sua presença, por

Cabo, de também leva Cartas.


q.m
referia eu a V. M.Ce o triste estado, a
Na m.a l.a Carta

a m.a saúde, não obstante a m.a regularid.e


está reduzida
q.
está claramente decidido este Cli-
e nimia cautela ; porem q.

do o de Cacheu, Caconda, Moçam-


ma he mais pestifero q.
de Leste; há aqui noti-
bique, e todos os mais da Costa pois

e carneiradas antigas :
cias de alli não há as epidemias
q. já
casa dos enfermos, de dia
aqui anda sempre o S. Viatico por
estão dando signaes de
e de noute ; as Igrejas continuam.te

eu soube só na Igreja da Misericor-


defuntos ; e há q.
pouco
de 1811 cima de
desta Cid.e se enterrarão no anno p.a
dia

naturaes de Lisboa !
300 pessoas,
reflexões V. M.ce que
A vista destas pôde julgar
peq.as

neste infernal Clima, onde qualq/


vontade terei eu presistir,
! Confesso ingenuam.te antes queria
dorsinha he mortal q.
— 61 —

ahi viver na nossa Casa mui do aqui com


pobre, q. grandes
riquezas, e me daria bem despachado, se eu, largando
por a

Bibliotheca, obter outro Emprego, o ser-


pudesse qualq.r para
vir em Lisboa. Estou bem certo V. M.ce me não terá
que
delirante, estas mesmas expressões ha de ouvir da
por pois

bocca de todos os daqui se retirão ; e diga o


q. qualq.r q.
contrario, mente sem vergonha.

S. A. R. em todo o tempo da m.a doença


perguntava
todos os dias como eu e hoje lhe beijei a Mão
passava, por
agradecimento da Sua lembrança ; e he o dia do meu
prim.0
trabalho nos Manuscriptos, em cuja Sala faço esta. Para

de meus trabalhos, e dar a S. A. R. hüa idéa


prelúdio p.!1

do Thesouro, aqui nesta minha Repartição,


q. possúe per-
tendo arranjar hüa Memória litteraria e critica deste mesmo

Corpo de Manuscriptos, até aqui ainda se não sabe


pois q.
o ha, no a Governo Político.
q. principalm.te q. pertence

No frontespicio da d.a Memória, ou no fim, hei de ajuntar-

lhe em fôrma de Plano ou o Sistema de Classificação,


planta
adoptei o arranjo dos M.mos Livros, e não me
q. p,a julgo q.
arredei do trilho dos M.**3 Bibliografos, ainda foi sem soe-
q.
corro algú mais mental. Se eu concluir em bem esta m.a
q.

surpresa, me feliz neste sentido, e darei a V. M.ee


julgarei

cópia de tudo, como tenha occasião. Aqui se está esperan-

do a Nau S. Sebastião carregada de e trem, e eu la-


gente
mento a todos elles, nem Casas hão de ter, onde se reco-
pois
lhão. Se ahi houvesse hüa verdad.ra idéa da desta
qualid.01
terra, estou seguro ninguém apareceria aqui.
q.

A respeito de novid.es, estará V. M.ce mais informado

do eu ; basta ir a Lisboa ; mas com a de


q. pois prevenção
dizem, direi a V. M.ee algüas, deixando m.tas no tinteiro. Tem

feito m.ta bulha a revolução de Buenos Ayres, ultimam.te


q.
declarou a todo o Continente da America, menos o
guerra

Inglez : daqui se segue abrirem-se os olhos com mais atten-

ção, vão augmentando as suas forças consideravelm.te


pois q.

e teme-se mais a união de mais Províncias no México, onde

a População he immensa. Espera-se aqui hum soecorro Bri-

tanico de 9$000 homens se ao nosso Exercito, assim


p.a juntar

como Stuart e outros Commissarios &. Há noticia de Luiz


q.

Buonaparte emigrará Inglaterra com alguns milhões,


p."

assim como alli chegara hüa Fragata Franceza Parlamen-


q.e

taria a tratar de abertura de alguns commercio.


portos p.a

9
— —
62

Corre vôz a Rússia a futura tem tenção de


q. p.a primavera
abrir todos os seus aos Inglezes e a todos os Inimigos
portos

de Buonaparte : e este anda formando hum Exercito de


q.
160$000 homens, dizendo he inundar a Península, mas
q. p.a

sabe-se confidencialm.te he dirigida contra a Rússia.


q.

Não me extender mais agora, e verei se Cor-


posso pelo
reio avulsam.te lhe escrever outra. Rógo a V. M.ce não
posso

deixe de me escrever, e me abençoe e m.a Mãy, a me of-


q.m
fereço m.to saudoso e também á Manna, Tia e Ignez. Sou

De V. M.ce

Filho m.t0 am.te e obed.6

Luiz dos Santos Marrocos


Joaq.m

P. S.

A Manna me escreva.
q.

CARTA N.° 15

Rio de 29 de
Jan.ro
Fevereiro de 1812.

Meu Pay e S.r do meu Coração : São


presadissimo para

mim momentos do maior me a escre-


prazer, quando ponho

ver V. M.ce; á m.a fantazia estamos


p.a pois parece q. perante

hum do outro, e estou fóra do Clima Americano : hontem


que

me despedi de Domingos Teixeira Lima, hoje fica


José q. já
*
a bordo : eu lhe com instancia me fizesse mui
pedi grande

recommendado a V. M.Ce e á Mãy e mais família, e lhe


q.
communicasse com verd.e todas as idéas boas ou más,
q.

soubesse a meu respeito ; e ainda o meu corpo existe no


q. q.

Rio de o meu espirito está sempre fixado no Páteo


Janeiro,

da Opera, ficando-me isso a maior inveja não


por por poder
ter a fortuna de me transportar também Lisboa.
p.a
Estimo sobremaneira V. M.ce tenha
q. gozado perfeita

saúde, e não tenha sido attacado das suas vertigens :


q. que
a Mãy não tenha sentido incommodos da sua moléstia ; e
q.
— 63 —

a Manna e Tia e Ignez tenhão a m.ma boa disposição : estou

m.*0 certo hão de ter m.t0 falta de meios de


q. padecido por
subsistência ; e ainda a dist.a entre nós he mui
q. grande,
tenho bem o estado da nossa casa nas e
presente presentes
atuaes circunstancias : tudo isto me rala e consome, e m.to

mais me não achar ainda com forças, daqui ir aju-


por p.a
dando. Confesso-lhe ingenuam.te me acho somente com
q.
a somma de 92$000 r.8; e não obst.e a m.a economia te-
grd.e
nho dispendido m.t0, nesta m.a ultima doença ;
principalm.1*
e ainda convalescente estou em demasia. Custa-
gastando
me cada copinho mui de ialeia de substancia 1:920 r.s,
peq.°

e cada de vinho de Champagne 2:500 r.s; mas he tal


garrafa

o meu abatimento me nada haverá, me restitúa


q. parece q.
á m.fl antiga saúde.
perfeita

S. A. R. está ir hum de tempo a S


p.a passar pouco

Cruz, 12 legoas dist.e da Corte, tendo ido a maior


já parte

do .trem necessário, e como fica em costa fronteira ao mar,

vai também a Náu Martim de Freitas costa, an-


p.a guarda

corar-se 3 legoas ao mar.

A S.a D. Carlota esteve doente de hüa constipação, che-

a deitar-se-lhe cáusticos, mas vai em melhoria.


gando grd.e
O S.r Infante D. Sebastião vai se nutrindo e criando m.t0

bem : he muito lindo, sahindo nisso a Sua Mãy, está hüa


q.

Menina m.^ bella e e anda com demonstrações de


perfeita, já

2.° filho.

Entre as m.^8 trovoadas e chuvas, inun-


grossissimas q.
dão todas as ruas, ser a Cid.'0 houve há dias hüa
por plana,
trovoada tão forte, eu m.mo sou affouto, me horrorisei
q. q.
em extremo : cahirão alguns raios na Cid.e e fóra delia (o
he freq.16) e cahio outro na Fragata Carlota. Consta
q.

aqui ter havido outra mui na Bahia no dia Anniversa-


grd.e
rio da chegada de S. A. R. alli e isso estava o Bispo
(11), por

'¦—
(11) 1812 —
Em 24 de Janeiro, em dia de sexta-feira, estando se fazendo
na Igreja do Collegio um
pomposo Te Deum, festa em acção de graças da chegada do
nosso Príncipe at esta terra ou Cidade, estando no o Sermão o
púlpito prégando
P. Ignacio, houve um
grande successo, que foi uma estrondosa trovoada, que de re-
pente deo, da qual procedeu vir um raio dentro da dita Igreja, e deitar um grande
pedaço da pedra da cornija que fica por baixo da Imagem de S. Ignacio, ficando a
mesma pedra torcida, cahindo o dito pedaço no lugar que estava prompto, o Conde
dos Arcos, D. Marcos, que por isso escapou de morrer, porem foi um • caso nunca
visto, pelo grande destroço que fez dentro da Igreja, que assistindo grande concurso
de Povo, houverão morte, e muita gente maltratada, e outros feridos, Conegos, e
Ministros, emfim todos padecerão os seus desgostos, cabeças e pernas quebradas, e
— 64 —

celebrando a Função na Cathedral : cahio nesta hum raio,


q.
fez ruínas no edifício, e desgraças no Povo, assistia.
grd.68 q.

Por mão do nosso visinho Conrado, receberá V.


José
M.ce outra Carta minha : eu aqui apenas o cumprimentei hüa

vez, mas sei elle tem m.t0 e he também dos


que padecido quei-
xosos. Como elle leva Carta da mulher de Feliciano, não

deixar de me aproveitar do offerecimento delle.


quiz

Para o Quartel de Abril creio a rece-


q. principiaremos

ber os nossos Ordenados Erário, o sentirei muito, não


pelo q.

só atrazamento, em estão os Ordenados dalli,


pelo grande q.

mas vir a Décima.


por pagar

A intriga, ha, entre o Conde de Aguiar, e o


grande que

Visconde de V.a N.a da R.a sobre e da


jurisdicção governo

Bibliotheca, tem embaraçado a cobrança do novo augmento

de Ordenados, estava arbitrado : Quando os Grandes


q. já

brigão, os
padecem pequenos.

Entre os m.tos Pasquins, aqui tem alguns qjordazes


q.

contra de Azevedo e o Targini, não me


publicado Joaq.m José

desprezíveis os dous seguintes, transcrevo, ha-


parecem q.

vendo outros sem e facecia desta de


graça própria qualidade

escriptos ....

1." Furta Azevedo no Paço,

Targini rouba no Erário ;

E o Povo afflicto carrega .

Pezada cruz ao Calvario.

2.° B. L. no Calvario

Bom Ladrão ;

L. B. no Erário

Ladrão Bruto ;

Pois faz ?
que
Furta ao
público.

He de advertir Targini, depois sahio Barão de S.


q. q.

usa nas suas assignaturas das letras B. L. são


Lourenço, q.

as de acima falia.
que

da Rua do Paço, aonde também


o mesmo que estavão na Freguezia
soffrerão outros
foi ter o matando duas pessoas dentro de uma casa,
dito raio, emfim castigo nunca
outros. — Chronica
visto nesta Cidade, de que Deos sempre nos queira livrar deste e
— Pelo Irmão José —
dos acontecimentos da Bahia — 1809-1828. da Silva Barros.

In Anaes do Arquivo Publico da Bahia, vol. XXVI, ps. 55.


— —
65

fallado ao Líbano Mestre de Prim.ras Le~


Tenho aqui

fazer outra idéa, senão :


tras, e delle não q. passeante
posso

elle se lhe recommenda.

Peço a V. M.0e me abençoe e m.a Mãy, sendo

De V. M.1*

Filho m.t0 obed.®

Luiz dos Santos Marrocos


Joaq.m

P. S.

Muitas Saud.es a todos

de Casa e de fóra.

'
CARTA N.M6

Rio de 4 de
Jan.ro

Março de 1812.

Meu Pay e S/ dó C. Pelo Brigue Boa-


prezadissimo

ventura escrevi a V. M.ce 3 Cartas, hüa mão de Domin-


por

Teixeira Lima, com 2 encomendas ; outra


gos José por José

vai daqui doente e escandalisado da terra ; e


Conrado, q.

outra avulsa no Correio; e offerecendo-se agora a sahida de

dous Navios Mercantes Lisboa, não deixo nunca de dar


p.a

V. M.ce noticias minhas, e as suas e de toda a fa-


a procurar

milia. A falta tenho tido de Carta sua dous Navios


q. por

successivos, aqui chegarão, tem-me dado o maior despra-


q.

zer na duvida e consideração de seria a causa : mas es-


qual

na Providencia ha de conservar os seus dias vigorosos e


pero

toda a nossa Casa, ter o de nos ver-mos ainda


de p.a gosto

dia : estas reflexões he me alimentão, e se ellas não


algum q.

fossem teria descoroçoado inteiramente. Eu vou convales-

cendo ainda, custando-me m.to o meu restabelecim.i^: e te-

mendo recahida ; são aqui tantas as epidemias, S. A.


pois q.

R. se vio obrigado a retirar-se a sua Chácara de S. Chris-


p.a

tovão, donde manda cada dia á Cid.e quantas pes-


perguntar
— 66 —

soas morrem, o he sempre em


q. grande numero : e havendo
de ir o Sitio de S.a Cruz
p.a (depois de lá chegar todo o trêm)
veio a noticia alli
q. grassavão agora em força as Ce-
grd.e
sões o fez suspender a S. A.
q. R. a sua
jornada.
Queira V. M.ce reflectir tal he a terra
q. ! Quando vou
fóra, encontro a .cada ou o
passo Sacramento, ou algum en-
terro, e os sinos das Igrejas não cessão de dar signaes
p.a
estes dous fins. Hontem morreo Guilherme Cipriano, Off.0^
Maior da Secret.a d'Est.° dos Neg.os Estrang.ros, durando

pouco tempo atraz do Conde de Linhares


(12).
Tenho empregado todas as minhas forças e diligencias

p.a alcançar a sua na Cadeira


Jubilação de Filosofia, e não
me tem sido tem
possível ; pois sahido sempre os Requerimen-
tos Escusados : nada me admira isto, vendo . Militão he
q
seu inimigo, como V. M.ce sabe, ainda elle me faz algüa
q.
festa, o Conde he eterno,
paralisador e na Secret.a ainda está
fresca a memória do outro seu Requerim.to, foi ahi a in-
q.
formar. Empenhos o Conde não
p.a os há ; o Mons.or
por q.
não lhe falou nem falia, não obst.e as suas me
promessas, q.
fez ; e todos fogem delle, e
querem antes fallar com o Diabo,
como há dias me disse o Confessor de S. A. R., Fr.
Joaq.m
de S. Ouço dizer a única
José. q. pessoa, a o d.° Conde
q.m
attende e respeita, he a Antonio Araújo
de : se V.
qui-
zer eu lhe falle, dahi mandar-me
q. queira algüa Carta de
recomendação elle
p.a ; por eu não tenho outro meio de
q.
me introduzir. Meu Páy, aqui reina m.t0 o Egoísmo, e eu
tenho m.to medo de me metter com os homens antes de os
conhecer ; e lhes fallo, tenho
quando sempre o na mão.
prumo

(12) Deve ter-se extraviado a carta em que Santos Marrocos deu noticia da
morte do Conde de Linhares, incidentemente referida nesta. ¦— A Gazeta do Rio de
Janeiro, de 29 de
Janeiro de 1812, assim a noticiou :
O Illustrissimo e Excellentissimo D. Rodrigo de Sousa Coutinho, Conde de
Linhares, Senhor de Payalvo, Commendador da Ordem de Christo, Grão Cruz das
Ordens de São Bento de Aviz, e da Torre e Espada. Conselheiro de Estado Ministro
e Secretario de Estado dos Negócios Estrangeiros da Guerra,
e falleceo no dia 26
do corrente pelas 6 horas e 1/2 da tarde, em idade de 56 annos, 5 mezes, e 21 dias,
de uma cruel febre maligna de
que foi accommettido, achando-se no Gabinete da Se-
cretaria de Estado, occupado no serviço da Patria, em que era tão assiduo, e que
lhe terminou a vida em 55 horas. 1
Communicar tão infausta noticia aos nossos leitores he| dizer-lhes faltou
que
hum dos mais firmes esteios da Monarchia Portugueza, hum dos mais activos, zelosos,
e amantes servidores do Príncipe Regente N. S., o Varão mais interessado pelo
augmento e
prosperidade da Nação, ornado de consummada literatura, e das mais
amaveis virtudes sociaes.
Tão grande perda não pôde deixar de ser lamentada todo o verdadeiro
por 'mais »
Portuguez : a Patria proferirá seu nome com viva saudade, e o transmitirá á
remota Descendencia."
— —
67

Se ahi apparecer alguma de Emprego de-


por qualid.e

cente, ou Propried.e de Off° bom vago V. M.00 não se


p.tt

descuide; mande os Papeis e Clarezas eu aqui


precisas, p.a

o alcançar ; nisso serei hüa continua sanguisuga. Não


pois

tenha algüa omissão a esse respeito, em não vier tempo


q.to

de se obter a : Quantas mais amarras a Nau


poder Jubilação

tiver, mais segura está, e os inúmeros exemplos nos abrem

via larga e desembaraçada.

O Medico Manoel Luiz aqui sahio despachado com

honras de Fisico Mór, e Director dos Estudos Médicos e

Cirúrgicos na Corte e Estados do Brazil. O Marquez de

Vagos sahio Gov.0r das Armas. O Marquez de Bellas sahio

Presid.te da Mesa do Desembargo do Paço e Mesa da Con-

sciencia, com Commendas, & de man.ra está fazendo 36


q.

mil Cruzados. Os seus dous filhos sahirão Ajud.6® de Or-

dens do Marquez de Vagos. A Condeça de Linhares ficou

morte do marido com hüa de 6 mil Cruzados, e


por penção

outros 6 repartidos filhos em desiguaes. Para os


pelos p.tes

Annos de S. A. R. espera o Marq.z de Pombal sahir Regedor

das com 8 mil Cruzados, como ahi tinha o Marq.z


Justiças

de Bellas.

Queira fazer-me m.*0 recommendado ao S.r D.or Fari-

nha ; e rógo a V. M.ce me abençoe e minha Mãy, a


quem

desejo saúde, e affectuosas lembranças á Manna, Tia


perfeita
e Ignez, Comp.e, Com.e, Marianna, e Luiz : e Sou

De V. M.ce

Filho m.1* obed.e e obgd.°

Luiz dos Santos Marrocos


Joaq.m

N.M7 «
CARTA

Rio de 31 de
Jan.ro

Março de 1812.

Minha Manna do C. Depois de estar conside-


querida

rando na causa verdadeira de eu não ter recebido Carta al~

tua, se seria estares arranjando os caracóes do- teu


güa por
— 68 —

cabello, ou estares afinando


por os algüa
gorgomillos para
Aria a Duo ; eis senão
quando, entra esta barra dentro o
por
Navio Victoria, e elle recebo hüa
por Carta tua, me ale-
q.

grou summam.te. Por ella soube da tua saúde, e do Pay, da


Mãy e mais família a Ignez
; que está fiando a sua têa do
costume ; flatos
q. padece grandes ; o vistoso do Pateo,
q.
criou m.tos cardos, & c. Desejarei não te esqueças de me
q.
continuares a mandar tres borrões teus ; ainda seja
pois q.
cousa borrada, eu lhe darei bom uso.

Daqui só te mandar informações


posso fastidiosas : a
terra he a do Mundo a
peior ; gente he indignissima, sober-
ba, vaidosa, libertina ; os animaes são feios, venenosos, e mui-
tos ; em fim eu crismei a terra, chamando-lhe terra de sevan-
dijas; e brutos todos
por q. gente são sevandijas. Passei

huma Quaresma aqui, comendo carne ao todos os dias,
jantar
menos Quarta feira de Cinzas, Vespera de S. Matheus, e
toda a Semana Santa ; isto foi concedido hüa Pastoral
por
do Bispo. Entrudo horrível foi o aqui se : houve-
q. passou
rão desgraças, e eu estive clausurado, e mesmo assim fui atta-
cado em casa : nunca vi mais
jogar brutalmente. Em fim
tudo aqui vai huma maravilha.

Quando me escreveres conta-me novid.05 desse Paiz


abençoado ; aqui falla-se
por q. a torto e a direito ; e como eu
estou de rixa velha com esta
podengaria, mando-os á fava,

quando me importunão com séccas ; e isso tenho


por grangeado
0 appellido de Soberbo,
por os não aturo.
q.
Dá muitas lembranças á Ignez, e aos nossos visinhos de
Cabeleira e sem ella, e a todos aquelles, forem do conheci-
q.
•mento da nossa Casa.

Manda-me noticias das Cupidas ; se sãjb mais clarinhas


e menos asninhas : e das cagonas do Paço velho.

Ora Deos te faça hüa Santa e te livre do Rio de :


Janeiro
Sou

Manno m.t0 am.te

Luiz

P. S. Boas Festas e

festinhas.
CARTA N.° 18

Ríd de 3 de
Jan.ro

Abril de 1812.


Meu Pay e S.r do meu C. Veio finalm.^ este Navio

Victoria me fazer virar de hum a outro estado, não


para pois

explicar a V. M.ce a afflicção e cuidado, me causava


posso q.

a falta de noticias de nossa casa e família, imaginando


quantos

acontecimentos sobrevir, e com isto misturadas mil


poderiam

asneiras : chegarão dous Navios Portuguezes vindos desse

Porto, e também hum Paquete Inglez, sahindo de Inglaterra,


q.

fez escala Portos de Lisboa, Ilha da Madeira, e Bahia,


pelos

e aqui chegou com immensas Cartas ; e nenhum destes me

trouxe hüa só, o me fez sobir ao de deseperação, e


q. ponto

esse effeito moi a ao Admin.or do Correio daqui,


por paciência

meu Amigo, e todas me remette a m.a casa, sem o meu nome


q.

ir á Lista : toda esta falta me impossível de succeder,


parècia

havendo em casa tantas escrevessem ; mas he certo


pessoas q.

assim succedeo. Logo o Navio Victoria aqui chegou e


q. q.

recebi a sua Carta do Correio, me annuncia


que pequena q.

vir outra mão de Lopes de Gouvea, Cap.^ do m.1110


por José

Navio, o Negociante Gomes Valle, e delle soube


procurei João

o d.° Cap.|am se achava a bordo doente : immediatam.te fui


q.

aj bordo, e da mão delle recebi a outra Carta de V. M.ce,


q.

me encheo da maior satisfação. Por ella vim a ter informa-

ção da saúde de V. M0*5, da Mãy, e mais família ; e D.s


permitta

conceder-lhe largos dias de saúde e descanço, como o meu

desejo incessantemente lhe implora : eu vou durando, como

he de esperar de está desenganado não aqui saúde ;


quem gozar

os meus ataques de cabeça vão continuando, e estes são taes,

não abrandão com o caffé, he applicarem-


q. já pois preciso

se-me chumaços de ether vitriolico á testa e fontes, e cataplas-

mas aos : isto me desconsola he vejo


pés q.to possível, pois

morrer no dia ás dúzias ! Tem sido tal o contagio, em


q. pou-
caá semanas tem morrido mais de mil ; e S. A. R. re-
pessoas

tirou-se a sua Chácra de S. Christovão com tenção de


p.a
— 70 —

passar p.a Santa Cruz, mas não se effeituou esta, se saber


por
também alli havia o m.mo contagio. O S.r Infante
q. D.
Pedro Carlos tem m.t0 doente, creio
passado q. por excesso
do seu exercício conjugai, e isso fizerão
por separar os Con-

estando também a S™ D. M.a Thereza doente


juges, e 2.a

vez Mãy. Morreo o Off.al Maior da Secret.a d'Est° dos

Neg.os Estr.oS, Guilherme Cypriano de Souza, e em seu lugar


ficou o Off.al Pedro Franc.00 X.ep de Brito ; a viuva daq.le
ficou com hüa de 450$000 r.s. Morreo
pensão o Fisico
João
Manoel Nunes do Valle, tendo mil necessid.08,
padecido e a
sua família fica morrendo de fome : devo dizer-lhe o so-
q.
bred.0 Pedro Franc.™ X.er de Brito tem
padecido m.to e está

em risco de vida. O Fisico Mór Manoel Vieira, soube eu


hontem mandara chamar á hü
q. pressa Confessor, em razão
*
de hum repentino ataque não sei de
que. Aqui he o se
q.
ouve : e se encontra não
q.do qualq.r pesoa, se se tem
pergunta
saúde, mas sim de se ?
q. queixa

Passando agora a objecto das Cartas de V. M.ce, concluo

V. M.ce não tem recebido todas as Cartas,


q. eu daqui lhe
q.
tenho dirigido; a respeito de Thomaz
pois José daqui mandei

dizer se não descobre semel.e rapaz
q. ; eu tenho feito todas
as diligencias, assim em casa do Marq.z de Torres Novas,
q.
he hum dos Assignantes fixos na Bibliotheca, como toda a
por
Cid.® : indaguei todos os Conventos, Regimentos,
por e e es-

palhei por outras bilhetes com os signaes de sua


pessoas pessoa
se descobrir : fallei a dous Capitães de
p.a Navios com iguaes
inculcas, e Monte Video,
q. partirão p.a em razão do
grd.e
recrutam.10 aqui tem havido formar
q. p.a o nosso Exercito

Pacificador : nada tenho concluído. Daqui se segue ou elle


q.
• algüa
passou p.a outra terra da America e fóra delia, ou está
encurralado em algüa Rossa, em hua immensid.e
q. de terreno
e Sertão se não descobrir, ou em fim morreo.
pode Sinto m.to
este louco rapaz tenha dado occasião de desgosto
q. e cuidado

a seus Pays e Manas, a m.t0 me recommende,


q.m conservando
ainda em meu a Carta, dellas a
poder q. eu trouxe o d.°
p José
Thomaz. A respeito do tratante Roberto
João Bourgeois,
p.a
eu trouxe Carta de Simão Thaddeo Ferr.a,
q. em outra

disse a V. M.ce entregando-lhe eu a d.a
q. Carta, me respondeo

q. já tinha escrito a Lx.a a seu tempo, e dizendo-lhe eu tra-


q.
zia recommendação e ordem receber
p.;l hüa resposta séria e
decisiva da Carta, lhe entregava, me replicou
q. comigo
q.
— —
71

negocio algum, e as a Carta vinha dizendo já


não tinha q. q.

dado satisfação : eis tudo fielmente relatado ;


elle ha m.t0 tinha

assegurar a V. M.ce, o dizer a Simão Thaddeo, q.


e p.a
posso
he hum desavergonhado, e tem outro ao he o Gaze-
elle pé, q.

Martin, Francezes e traidores nos ossos ! aqui


teiro, Paulo Já

ha m.to a not.^ de se apromptar a Náo S. Sebastião e


corre

180 veio ás Mãos de S. A. R. a Lista


cima de passag.® já
p.a
nella vem de entre outras são o
das q. passagem, q.
pessoas,

o Aguilar ; e agora V. M.oe me diz vem


Marquez d'Alvito, q.

sabia da extincção da das Munições,


o Garrocho. Já Junta

de outra sem.e Tribuneca ao Rato nas


e do Estabellecim.10

Luiz de Brito, se alugarão 600$000 r.s


Casas de J.e q. por

Thomaz Ant.° aqui me disse as Contas das Mu-


annuaes : e q.

ser eternas, continuão a receber os m.mos


nições hão de pois

Também aqui constava a morte de Foyos, e


Ordenados. já

sua morte ha hüa Demanda entre a Casa


causa da grd.e
por
Congregação a respeito de hüa Quinta elle
de Mesquitella e a q.

seu : isto mo disse o


há m.t0 arrendára p.a proveito proprio

tem constituído esse Fidalgo Admin.or


Marquez de Pombal, q.

Lx.\ Fico sciente da morte de Felippe,


de sua Casa em João

outrem soube a da morte do Monsenhor Ac-


assim como por

do negocio do Tio Cónego, vou a dizer :


ciayoli. A respeito

ao P« Damaso maior valido do


faliei immediatam.te Joaq.m (o

de Aguiar) e occultando-lhe o nome do Pertend.e, quiz


Conde

da outro. Disse-me : ainda se


saber o estado pertenção por q.

mas S. A. R. e o S.r Conde estavão empenha-


não tinha dado, q.

Dignid.e de Thesoureiro Mór da Sé de Braga a


dos a dar essa

de merecimentos, e formado Universi-


hum Conego grd.ss pela

tal, estava sempre a em todas as


dade,, q. preferir
prerogativa

: disse-me Mons.r Nobrega estava empenhado por


vacaturas q.
ou do Dez.or Ber-
hum tal Gamboa, afilhado protegido João

D. Manoel da Camara, Sobrinho do


nardo : disse-me q.

Aguiar, e assiste em sua casa, estava empenhado


Conde de q.
alcunha o Bonito, de
hum Irmão de certo Conego, por
por
Braga, m.t0 rico, o tem aqui dispendido grossas quantias
qual
este fim único lhe vem
em mimos e e a q.m para
presentes,
de de de linho
em alguns Navios remessas peças panno
grossas
Atheletas, alem de immensos ou-
especialissimo : todos estes

no dedo ; ha de ficar provido


tros, hão de ficar chuchando pois

vontade de S. A. R., e creio se publicará p.a


aq.le he da
q. já
— 72 —

dia dos Annos da S/* D. Carlota. Á vista disto fiquei de

queixo cahido sem ter animo nem de ver o Requerimento 2a


vez : e decerto, ainda m.rao, abstrahindo da formidável con-
tenda, ha a respeito desta
q. pertenção, seria m.t0 difficukoso
obter aquella Dignid.e só com hüa simples Certidão dObito
ou d Exéquias, e nem ao menos
poder mostrar era Cónego
q.
por hüa Certidão ; referir o serviço importa no S.t0 Off.° de
Coimbra, e não o certificar ; allegar com a Atest.3™
grd.e de
vita & moribus
passada por D. Fr. Caetano, e não a remetter ;
Approvação de
pregar, &c., Attestações de serviços
patrioti-
cos occasiões dos Francezes
por ; tudo isto são incoherencias,
fazem baldar o empenho
q. ; ainda se
por q., q. queira favo-
recer hum Pertend.e,
q,d° este falta com os Doçura.105,
q. a Ley
e o costume estabelecerão, nada conseguir,
pode e o Re-
querim.to assim nú e crú nem hum Escusado tem, e he sumido.
Portanto fico cuidando em lhe alcançar o Habito de Christo,
mendigando alguns
por Provincianos Attestação de Cónego,'

já q. não ser mais e V.


pode ; M.ce dahi recommendar-
queira
lhe me mande sem
q. perda de tempo todos Papeis
quantos lhe
possao servir de Documentos em
qualquer pertenção, q. aqui
venha a ter ; e sejão sellados e reconhecidos
pelo Juiz de índia
e Mina. Com estes Papeis ficarei eu auctorizado
para lhe
pertender qualq.r cousa, aqui me
q. pareça p.,a elle conve-
niente ; e sejão dos
primeiros as Certidões de Coneqo, Serviço
na ínq.am, Attest.3111 de vita & moribus, d.a de
pregar, e
quantos
puder alcançar a respeito de seus serviços Ecclesiasticos-mili-
tares ; trabalhos com o Arquivo, administrações, &c. Tudo
isto me serve.

Remetto a V. M."e as Cartas do Tio Conego, V. M.ce


q.
me enviou, e fica
por ora em meu o Diário
poder de 1809 o
p.a
mostrar a alguns,
q. padecem de cataractas : em occasião
opportuna logo o remetterei.

Amanhã, Domingo de Pascoela, vou entregar 4.° Reque-


rimento documentado a respeito da
Jubilação ao Mons.r Ma-
chado ; e eu
gosto q. elle se contente com hum Aviso de In-
iorme, me affirma
pois q. ahi o Salter ha de attender á sua
recommendação,
por elle ser aqui seu Procurador. Em fim
eu tenho ora m.t0
por medo da
pertenção, por causa do
Pao de ló.

Aqui se recebeo a not.a de Ciudad Rodrigo, mas não se


festejou como ahi, o
q. me admirou sobremaneira. Seria tal-
— 73 —

vez chegar o Navio em 5a fr.a de Endoenças ? A respeito


por

de se transportar a R. Família Lxja, nada ha aqui faça


p.a q.
desconfiar disso ; antes vou vendo em tudo,
pelo geito, q.
se firma mais o Estabellecim.10 da Corte e Estado
parece-me q.

neste lindo Paiz.

Recebo a Epístola do nosso amigo Antonio Pereira,


q.
me alegrou muito, e em retribuição conservo aqui em meu
poder,
remetter em melhor occasião, hüa Traducção original,
p.a da

mão do P.a Ant.° Per.a, de hua Bulla : achado mim


p.a muito

estimavel.

Entreguei a Mons.r Nobrega a Carta do Dez.or


João
Bernardo, a Senhoria a S. A. R.; a
q. pede outra ao Conego

Vicente, e a ultima ao Cura e Conego Salvagem, o P.e Ant.°

Pedro Teix.^, o me affirmou não só havia


qual q. entregar o
Requerim.*0 a S. A. R„ mas até mesmo a Carta em verso,
q.
o Professor Manoel Francisco lhe dirigira : isso no meu con-

ceito era deitar a


pérolas porcos, por q. p.a elle o verso he

proza.

Não tenho fallado ao Marcos, se me vai


por q. fazendo
fofo, e afidalgado : aos mais dei logo as recommendações de
V. M.oe. Rogo a V, M.06 o favor de mandar entregar as

Cartas inclusas ás Pessoas, a são


q.m dirigidas, depois de as
fechar, e fazer-me recomendado
queira ao P.e Carreira, de
q.m
ainda não recebi resposta ás lhe escrevi
q. daqui : ao Sr. Mar-

quez, S.r Arcebispo, e S.r Visconde ao Mons.r


; Inspector ;
ao Dez.or Bernardo, e deste
João peço a V. M.ce hüa nota
dos titulos honoríficos de seus Empregos,
p.a sobscripto de
Carta ; os não sei. A respeito
por q. da banca do Bartolini,
sei está ainda in stãtu não
q. quor obstante terem-se espalhado
Papeletas das impressas,
q. eu trouxe; mas nada de novo.
Não sei o resultará da m.a recomendação.
q. Lembranças ao
dito Bartolini. O meu Preto se recomenda a todos delle
q.108
se lembrão : só tem levado hua dúzia de tei-
palmatoadas por
moso, mas o vicio.
quebrei-lhe He m.t0 meu amigo, e eu não
sou menos delle. He m.to habilidoso, e tem muito tino. Serve
á meza m.to bem. Tem m.to cuidado no asseio do meu vestido
e calçado, escovando-o &. He m.to caprichoso em andar as-
seiado : e tem muita roupa. He
já fiel, sadio, e de
grd.es
forças. Tem hum rancor
grd.e a mulheres e a
gatos. Quando
eu o dispensar, hei de mandar
puder ensina-lo a rezar e Dou-
trina, disso sabe
q. pouco ; eu não tenho ; e aqui ha
paxorra
— —
74

vivem de ensinar Doutrina aos


Clérigos inhabilitados, que
de Cabinda, e tomou o nome de Ma-
Escravos. Como elle he

todo o seu nome Manoel Luiz


noel no Baptismo ; compuz-lhe

singularid.6 de fazer-me sentinella ao


Cabinda. Tem elle a

eu estou dormindo a sésta, só com o fim


de mim, quando

me não acordarem. Em fim, se elle
de enxotar as moscas, p.fa

não tiver moléstia o rape, espero q.


não mudar, ou grave, q.

bom escravo, sem e levado só


élle venha a ser hum pancada,

brio e amizade.
peld
me resta a dizer a V. M.ce, se não me con-
Nada mais q.

benção, acceitando todas as expressões


ceda a sua possíveis

filial respeito e amor, eterna e inviolavelmente pro-


do meu q.

testarei consagrar-lhe ; sendo, como devo,

De V. M.ce

Filho M.t0 am.te e obd.e Cr.

Luiz dos S.tos Marrocos.


Joaq.m

p. S.

S. A. R. mandou dar de pensão

annual 6 mil cruzados ao Conde

da Louzan, fazer Corte, em


p^a

lhe não conferia Despa-


quanto

cho competente.

carta, encontra-se um de com


Dentro desta pedaço papel

o seguinte, escrito de Luiz Marrocos.


pelo punho

Meu Pay.

Depois de acabar hüa Carta V. M.ce vi-me obrigado


p.a

este bilhete a hüa cousa, em outra


a dirigir-lhe pedir-lhe q. já

a V. M.ce; e he : não mostre nem fie de


Carta anunciei q.

as m."8 Cartas, daqui lhe for escrevendo. Eu


algüa q.
pessoa
m.a Carta escrita de Cabo Verde, e V. M.ce
sei a junto que
q.
confiou de algüas foi notada e até co-
ou mostrou ou pessoas,

desacordo de eu fallar em de
piada, pelo grd.e falta providen-

vindo aqui ter essa Nota ás mãos de a soube escarne-


cias, q.m

não era de m.ma estofa. E como V. M.ce não sabe


cer, q.
por
deslumbrar-nos em vão), he isso
quem pertende (tentando por

mui necessaria esta reserva. Espero merecer-lhe este favor

mui especial.

Nem também communique esta m.a advertencia.


— 75 —

CARTA N." 19

Rio de o 1.°
Jan.ro

de Maio de 1812.

Meu Pay e S.r do meu C. Neste instante me chega no-

ticia de ámanhã sahe daqui o Navio Princeza Carlota, e


q.

não ter tempo sufficiente me alongar na escripta desta


por p.a

Carta, só me referirei aos artigos abaixo, reservando occa-


p.a

sião de mais vagar o muito tenho a dizer a V. M.oe.


q.
Hontem sahio daqui o Navio Rosalia, leva Carta m.a
que

com outras dentro, V. M.ce fará favor de mandar entregar.


q.

No Navio Oceano, aqui chegou ha dias, recebi hüa


q.

Carta de VM.ce, se referia a outras, em volume


q. q. grosso
me trazia o Cap.am do Navio Flor de Lisboa : este Navio ainda

aqui não chegou.

No Navio S.te Cruz, aqui chegou a 13 d'Abril, recebi


q.
2 Cartas do nosso Amigo Ant.° Per.a de Figueiredo, e outra do

Dez.or Bernardo, a agora respondo ; Queira V. M.ce


João q.m
fazer-me o favor de notar o sobscripto da d." Carta e se no

numero dos titulos de seus Empregos houver algüa incoheren-

cia, rógo-lhe haja de fazer outro sobscripto com letra desço-

nhecida, a fim de se lhe entregar. Neste Sobred.0 Navio não

recebi Carta algüa de V. M.ce.

No dia 29 de Abril chegarão aqui a Escuna Quirino e o

Navio Rainha dos Anjos, e só recebi hüa Carta do nosso Com-

Antonio Simões, e mais nada.


padre

No dia 16 d'Abril falleceo o Marquez de Bellas : e


(13)
estando o Marquez de Pombal sahir Presid/' do Dezem-
p.u
bargo do Paço, no lugar do falecido, foi sacramentado ha 8

dias, havendo repentinam.e sido attacado de hüa malina.

"O
(13) Illustrissimo e Excellentissimo José de Vasconcellos e Sousa, Con-
selheiro de Estado, Primeiro Marquês de Bellas, Sexto Conde de Pombeiro, e Senhor
Donatario destas duas Villas, Grão Cruz das Ordens de S. Tiago, e da Torre e
Espada, Capitão da Guarda Real. Presidente nomeado do Desembargo do Paço. e
da Mesa da Consciência e Ordens, faleceo nesta Côrte no dia 16 do corrente, tendo
de idade 72 annos. Este illustre Varão, tendo se dedicado á carreira da Magistratura,
em que tanto se distinquio, fez relevantes serviços ao Seu Soberano, e á Patria nos
eminentes Cargos, tão dignamente occupou." — Gazeta do Rio de de 25
que Janeiro,
de Abril de 1812.
— 76 —

Hoje 3 1/2 horas da tarde foi sacramentado e ungido


pelas

o Conde das Galvêas, hüa formidável constipação ; e creio


por

nenhüa esperança ha de elle escapar. Estes acontecimentos

fazem-me hum notável.


prejuízo

Daqui foi Aviso Cypriano Ribeiro Freire ser trans-


p.a

a esta Corte.
portado

Alcancei Algüas not.as de Thomaz. Depois elle


José q.

sahio de Casa do Marquez de Torres Novas, foi


prezo p.a

assentar no Corpo da Policia. Tendo servido algum


praça

tempo, desertou e fugio a Prov.a de Buenos Ayres, e vive


p.'a

agora em hum Lugar chamado S. Sebastião. Farei as mais

dilig.^8 me forem
q. possíveis.

Rógo a V. M.ce me o laconico desta Carta ; pois


perdoe

a not.a de hoje fez-me transtorno na Cabeça. Estimarei


grd.e

V. M.ce a Mãy, e mais famia saúde, e de-


que gozem perfeita

sejarei merecer-lhe sempre a sua benção e da Mãy; sou


pois

De V. M.ce

Filho obd.e e obg.mo C.

• Luiz dos S.tos Marrocos


Joaquim

CARTA N.° 20

Rio de 19
Jan.ro

de Maio de 1812.

Meu Pay e S.r do meu Coração : Ha tem-


prezadissimo

não tenho recebido Carta de V. M.**, em


pos que pondo-me
cuidado o não ter ainda chegado aqui o Navio Flor de
grd.e

Lisboa, annunciado na sua ultima de 5 de Março : mas como

a estrada do mar he m.t0 irregular, espero socegar o meu espi-

rito, só deixa de tenho o e a fortuna


q. padecer quando gosto
ler Cartas suas. Estimo sobreman.1^ V. M.ce tenha lo-
q.

saúde m.to ; e a Mãy, Mana, e Tia


grado perfeita q. gozando
e mais família esse bem, me farão de suas noticias,
participante
— 77 —

estimar e : eu não tenho tido novid.e maior


saberei prezar
q.

da m.a saúde, mais a m.a tosse, antiga,


no estado q. q. por

Ultimam.**1 tem aqui havido hüa epi-


me não admira. grande

de olhos com inflammações e erisipélas, dão grande


demia q.

serem de algum : mas eu tenho até aqui


cuidado, perigo
por

tido a fortuna de ir escapando ; e espero ir sempre triumfando.

Pelo Navio Princeza Carlota escrevi a V. M.ce húa Carta mui

breve, apressada e concisa, foi tal a noticia da sua


por q.

sahida, me não deixou lugar mais : e no dia 12 deste


q. p.a

mez sahio daqui o Brigue Estrella Provid.e inesperadam.te

ignorando-o eu até ao dia 15 : estes acontecimentos, como já

disse a V. M.ce em outras, hão de ser mui repetidos, o


por q.

methodo de noticiar ao Publico as sahidas dos Navios, he

e até m.mo, fallando) nada interessante


péssimo, (politicam.te

â Fazenda Real.

O dia 13 foi aqui mui solemne, ser Anniversario de


por

S. A. R., e Lista inclusa verá V. M.ce os Despachos,


pela q.

houve, e m.10® mais não forão á Lista : mim não houve


q. para

nada, ainda tive admoestações requerer, o recusei.


q. p.a q.

Parece-me intempestivo fornecer requerimentos, sei com


q.

toda a sahirem escusados; e nessa consideração


probabilid.e

tomei o sistema da apparecer e não requerer.

Veio a verificar-se o eu tinha dito a V. M.ce em outra


q.

a respeito do requerimento do Tio Conego, vindo m.*0


pois

tarde, veio a frustrar-se todo o trabalho : o veio Exped.®


q. pelo

Despacho : — A Cadeira,
de Diogo, teve q. pede,
João por

está dad% — e isso mo tinha dito o P.e Damazo, o


já Joaq.m

não servir-me, ninguém havia de lisongear-se


qual podendo

com maior. Este Padrezinho he tão valido do Con-


protecção

de de Aguiar, tem toda a liberd.e de ver, mexer, e remexer


q.

todos os Papeis do d.° Conde, e este o consulta em muitos Des-

Do bilhete incluso verá V. M.ce a m.a verd.e e a effi-


pachos.

cacia, com elle me servio em obter-me hum Beneficio hum


q. p.a

Amigo do Tio Conego, chamado Bap.1*1 Roiz Leitão. Eu


João

aqui diligenceio, em lugar da se frustrou, a mercê


pertenção, q.

do Habito de Christo, me lembrarão as de V.


pois palavras

— vamos a contentar o Clérigo. — Deos seja eu


M.<* Queira

feliz nesta empreza. Da da Cadeira ainda o Mons.r


Jubilação

Machado me não dá novid.e algúa ; e eu sinto ter a celebre


— 78 —

retentiva de conhecer o caracter dos homens só


pela pinta, pois

sempre enganar-me : elle aqui se entretêm com suas vi-


queria

sinhas chegadas ha de Lx.a, e ahi bem conhecidas


pouco pelò

distinctivo — Comboy do Porto. — He fama foi daqui


q.

Ordem vir esta Corte Cypriano Ribeiro Freire, e agora


p.a p.a

accrescentão também D. Miguel Pereira Forjaz hüa


q. p.a

das Secret.as : o certo he a dos Neg.os Estr.08 e da Guerra,


q.

vaga morte do Conde de Linhares, ainda está interina nas


por

mãos do Conde das Galvêas. Este Conde está convalescente

de hum ataque de nervos, inteiram.te, e do


grd.e q. prostrou

tem sido mui difficil livrar-se. He de espantar e de enojar


qual

q vicio antigo, e deste homem, a V. M.** não será


porco q.

extranho ; sendo homem e casado, desconhece inteira-


pois

ménte sua mulher, e nutre a sua fraqueza com brejeiros e se-

vandijas. Por causa deste vicio, em está mui debochado,


q.

tem m.tos ataques, o totalmente ; mas elle


padecido q. paralisão

confessa não sem a sua diaria !


q. pode passar

Rógo a V. M.ce o favor de fazer entregar as inclusas ás

pessoas a são dirigidas, e neste tenho dizer a


q.m particular q.

V. M.ce eu tenho cumprido a m.a obrigação, escrevendo


q. já

repetidas vezes áquellas me merecião attenção


pessoas, q. por

húm ou outro motivo. De todas ellas só tenho recebido Cartas

do Amigo Per.a, Bartolini, e de Bernardo : eu tenho agra-


João

decido a estes a sua lembrança e civilid.e ; tanto sou obri-


por

a não escrever mais Carta algúa ás ainda não


gado pessoas q.

me responderão ; ainda huns, ufanos sua


pois q. por gravid.e,

outros sua alta esfera, não deverem incommodar-se


por julgão

com semelh.e tarefa, devem entender o em


q. gráo político, q.

vivem, não os exceptua de serem civis. Estou


persuadido q.

V. M.ce me dará razão, todas tem ido inclusas nas eu


pois q.

tenho dirigido a V. M.ce.

Fico sciente da not.a V. M.ce me dá, da chegada ahi


q.

do famoso Campeão Dionysio, no se hüa boa farda,


qual perde

e a Praça de Badajóz hum combatente. Também recebo a

not.a da morte de M.me Bertrand. Daqui foi no Navio Prin-

ceza Carlota o Livreiro Borel, havendo-se de seus


q. justificado

trabalhos, foi remunerado com o Habito de Christo. V. M.ce

me aponta duas Plantas de Bibl.a no Legipon, mas nenhüa

me agrada : a este respeito não se incommode V. M.®*5


flellas
— 79 —

a tardança da Carta o
mais. Faz-me incommodo p.'a
grd.e
affeiçoado informações, e
Ex.m° Araújo, eu sei he meu por
q.

vir a ser mui vantajosa. Occorre-me


cuja nos pode
protecção
de Dignid.e a tem subido o
communicaí a V. M.06 o gráo q.

França em Pernambuco : bilhe-


Clemente Ferreira pelo
piegas
os Empregos honoríficos delle, e
tinho incluso verá V. M.ce

a memória do nosso Bemfei-


lhe deve ser recommendavel
q.to

tor F. M. P. !

Heróe E. A. de A., tenho em meu poder


A respeito do J.

as m.as expressões dirigidas a V.


monumentos, fortificão
q.

: elle agora não de ser hum simples


M* a seu respeito passa

Quando haja mão fiel


Cortezão, mas bandalho e peralvilho.

V. M.ce os d.os assim como


e enviarei a papelinhos,
particular,
Também rógo a V. M.ce
outros mais, aqui tenho juntado.
q.

Obra interessante, e ao me-


me faça ver q. presente
qualquer

approvação aqui apparece algum papeli-


reça a sua ; pois q.d0

e applicado ás actuaes circunst:as, he assas estimado ;


nho bom

e com razão, isto não de Certão.


por q. passa

a V. M.0* o favor de me recommendar affectuosa


Rógo

a m.a Mãy, a me abençoe, e de


e respeitosam.te q.m peço pro-

amizade á Tia, Manna, e também á


testar a m.a extremosa

sem reserva de distincção ; e D.s


Ignez, e mais visinhos queira

verifiquem. Espero da sua bondade me


os seus sonhos se
q.

na sua lembrança, favorecendo-me com o seu


tenha sempre

amizade e benção, sendo estes os bens, com


conselho, letras,

desejo conservar-me, mui feliz na considera-


q. julgando-me

de ser com a maior vaidade


ção

De V. M.°*

Filho m.10 obed.e e C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaquim
r

P. s.

Aprecei hoje l.a vez


pela

as uvas, e cada
pedirão-me por

arratel a 2$400 r.s!

Maçãs mui a 80 r.s cada hüa !


peq.nas
CARTA N.° 21

Rio de 23 de
Jan.ro

Maio de 1812.

Meu Pay e S/ de todo o meu Coração :


prezadissimo
Pelo Navio Trajano escrevo a V. M.ce hüa Carta, e inclusa

lhe envio a Lista dos Despachos do dia 13 em fôrma


publicados
de Gazeta Extraordinaria ; e agora offerecendo-se-me occa-

sião de tornar a escrever a V. M.ce Correio Marítimo, o


pelo
Brigue ou Fragatinha Aurora, não deixo de aproveitar-me

delia, sendo o S.r Antonio, Criado


pFincipaIm.te portador José
de S. A. R.,eq. ahi era nosso semi-visinho, o dizendo-
qual,
me vai buscar sua família, se voluntariam.te a este
q. prestou
favor. Estimo V. M.06 tenha feliz saúde, e
que gozado que
a Mãy não tenha soffrido incommodos da sua moléstia, e
q.
a mais família esteja livre de moléstias Americanas :
padecer
hontem tive hum ataque da ma cabeça e hypocondria,
grande
me incommodou fortem.te, o são effeitos das m.^ con-
q. q.
siderações successivas, em estou envolvido. Aqui se
q. padece
agora a humidade do inverno, o ainda não he
grd.e qual, q.
tão rijo como no nosso Clima, he com tudo mui desagradavel

sua irregularid.e, muito as moléstias dos olhos :


pela grassando
Ouvi também em outras da America tem havido
q. partes

epidemias diversas.

S. Mag.e, S. A. R. e mais Família R. de saúde,


gozão
segundo estado relativo da constituição de cada hum : menos

o S.r Infante D. Pedro Carlos, a o novo estado conjugai


q.m
tem feito não impressão no seu sistema nervoso :
peq.a porem
espera-se o seu bom restabellecimento. O Marquez de Pom-

bal está desenganado de sua vida ; e eu nelle hum


perco bom

Amigo e Protector. O Conde das Galvêas vai melhor, mas

prohibido pelos Médicos de cuidar nos Negocios da sua Re-

estes dous mezes futuros, em razão de sua


partição por grande
debilid.e. A do Sul açanha-se muito e vai a haver
guerra

( os há movimentos de Tropas em todo o Conti-


já ) grandes

81

a fim de dar-se hum mortal na


nente da America, golpe gar-

da desordem. Eu vou andando no meu


do monstro
ganta
conforme o vento, temo faltas
ram ram, pairando pois grandes

e faltando este, não há recurso. Mandei para


de dinheiro ;

hua Carta avulsa, tentando a sorte de ir á mão


Buenos Ayres

Thomaz de Aquino, de tenho o maior dó ;


do doudo José quem

fossem as suas asneiras, elle sugeitar-se, eu


e se não querendo

o melhor arranjo, eu visto os


lhe q. podesse, grandes
procuraria
devemos a seus : mas he não
obséquios, q. pays pena poder

rapaz, nem avista-lo. Na minha anteced.te fazia


alcançar este

a V. M.0* eu não estava de acordo de enviar Cartas


lembrar q.

me não responde a ellas ; nesta confirmo a V. M.0* o


a
q.m
disse naquella, distinguido sempre aq.las Per-
mesmo porem
q.

de se não deve exigir correspondência epistolar.


sonagens, q.m

recebido Cartas das seg.tes alem da fam.a de


Eu tenho pessoas

: Bernardo, Alex.e Antonio, Pereira, Bartolini, Tio


Casa João

húa nosso Comp.'e, Tio Major, Quiroga ; e


Cónego ( ), para

todos estes tenho a attenção de corresponder-lhes ;


guardado

os mais arrumei a
para penna.

Com esta envio a V. M.ce a Copia de húa Attestação, q.

do maior inimigo do Tio Cónego, não haver


obter por
pude
outro mais conspicuo e mais conhecido, afim de lhe; cuidar
aqui

no Despacho, V. M.™ sabe. He conveniente V.


q. q.

lha não communique ; ainda lhe faz honra, não


pois q. grd.e

eu me valesse de hum seu Antagonista. Queira


gostará q.

D.s se faça o milagre ! Com esta vão também dous


papelinhos

mão de Aleixo Nicolau Scribot, de V. M.0®


pela q. gostará

seu conteúdo ; assim como a traducção de hum Breve de


pelo
Pio VI. mão do P.e Antonio Per.a e o Texto Latino
por grd.e

em separado, de cuja traducção talvez V. M.ce não


papel

tenha noticia.

Aqui chegou húa a S. A. R. feita Bispo


queixa pelo

Conde de Arganil, contra a Regencia, não admittirem a


pelo

Ref.or Reitor da Univ.6 havendo-o sido ao seu Bispado, visto

o seu inculpavel. Eu estimaria aqui mos-


procedimento poder

a me a Memória, V. M.0® lhe


trar, q.m parecesse preciso, q.

dirigio a respeito dos Estabellecim.108 Litterarios em Lisboa ;

dar a conhecer aquella rez. Nada mais se me


pois quero

affecere a dizer a V. M.ce ora, reservando outro


por para

Navio a continuação de not.as. Rógo a V. M.ce o favor de

me recomendar affectuosam.te a toda a fam.a sem excepção, e


^
— —
82

a V. M.ce e á Mãy com especialid.e, a D.8 lhes con-


pedindo

ceda largos annos de vida, e a mim o de merecer sempre


gosto

a sua benção : sendo com toda a veneração.

Filho m.to am.te e obed.e

Luiz dos S.tos Marrocos


Joaq.m

CARTA N.° 22

Rio de 29 de
Jan.ro

Maio de 1812 f.

Meu Pay e S.r do meu C. Hontem chegou


prezadissimo

aqui o Navio Carolina, vindo de Lx,a, e dissabor


passei pelo

de não receber Carta Algüa de V. M.ce nem de al~


pessoa

; e suppor em cuidados e sobresaltos me envolve


gúa pode q.

esta falta de noticias. Deos sejão sempre imagina-


permitia

rios estes meos receios, e dê a V. M.ce saúde muito vigorosa,

e a Mãy e a toda a familia, a me fará recommendado.


q.m

Serve esta a a V. M.06 foi D.s servido chamar


participar que

a melhor vida a S. A. Seren.ma o S.r Infante D. Pedro Carlos,

Sobrinho e Genro de S. A. R., o faleceo no dia 26 deste


qual

mez 6 horas e 20 minutos da tarde, na Chácara de S.


pelas

Christovão, hüa legoa dist.e desta Cidade Hoje^se


guasi (14).

fez o seu funeral com a mais brilhante e luzida he


pompa q.


"He
(14) com a mais profunda dôr, e entranhavel sentimento, que vamos
cumprir com o triste, mas indispensável dever, de annunciar aos nossos Leitores a
infausta noticia da prematura morte do Serenissimo .Senhor Dom Pedro Carlos de
Bourbon e Bragança, Infante de Hespanha, Grão-Cruz das Ordens Portuguezas de
Christo, de S. Bento de Aviz, da Torre e Espada, e da Real, e Distinguida Hespa-
?hola de Carlos III. ; Cavalleiro da do Tozão de Ouro ; Grão-Prior da de S. João
de Almirante General da
Jerusalem ; Irmão Maior da Real Mestrança de Ronda;
Marinha Portugueza, á Real Pessoa do Príncipe Regente Nosso Senhor :
que.
Junto
depois de se achar restabelecido da grave moléstia que pad«cêra,qfoi nova e
quasi
inesperadamente accommettido He huma cruel febre lenta nervosaÇ que em poucos
dias lhe terminou a vida, falecendo na Real Quinta da Boa Vista a 26 do corrente
mez de Maio 6 horas e 37 minutos da tarde, em idade 25 annos. 11 mezes e 8
pelas
dias.
A de huma Pessoa Real he sempre hum acontecimento mui funesto, e
perda
digno de lamentar-se ; o successo presente he acompanhado além disso de
porém
circunstancias tais. que não podem deixar de mover sentimentos pungentes, e doloro-
sos. Trata-sê da morte de hum Príncipe na sua mais florente idade : de hum Principe
— —
83

e vai depositar-se o seu Cadaver na Igreja de S.*°


possível,
Antonio dos Capuchos. He incrível a falta, faz este Infante
q.

a todos os seus Criados e famílias, e o desarranjo, daqui


q.

vai a Creio haverá mudanças em todos


proceder-se. grd.'es

os indivíduos empregados na Repartição da marinha, de


que

o d.° S.r tinha o


governo.

Era engano dizer-se a S.ra Princeza D. Maria Theresa,


q.

sua m.er, estava ha a certeza do contrario. S. A.


pejada, pois

R. ordenou se fizessem ao d.° S.r todos os obséquios, como


q.

se fosse Pessoa Reinante, e isso ha luto a Familia


por geral p.a

R., Criados e Empregados no Serviço do Paço, Tribunaes e

Corte ; e isso fui obrigado a os meus tantos reis


por gastar

em fumo.

Também dou a V. M/* de no mesmo dia 26,


parte q. pelas

7 horas e hum da manhã falleceo o Marquez de Pombal


quarto

da sua moléstia, (15) se desenganou em hydropsia de


que

peito.

adornado de virtudes, e qualidades verdadeiramente Reais, e que apenas havia dous


annos que #se achava unido pelos laços de Hiníeneo a huma Princeza summamente
respeitável, não só pelas suas virtudes, e raras como ser a Filha
qualidades, por
Primogênita de SS. AA. RR. O Príncipe Regente Nosso Senhor, E Sua Augusta
Esposa, a Princeza Nossa Senhora.

grande perda pois, que por tantos, e tão justos titulos se torna sóbre ma-
Esta
neira sensível para a Nação Portugueza. Nação que tem por timbre a mais pura
lealdade, e amor aos Seus Soberanos, e á Augusta Real Familia, só pôde ter Ienitivo
na consoladora lembrança de que nos fica hum caro penhor de tão amavel Príncipe
na Pessoa de Seu Filho o Sereníssimo Senhor Infante Dom Sebastião.
Nos poucos dias durou a sua afflictissima moléstia, concorreo ao Real
que
Palacio da Quinta Boa Vista hum grande numero de Pessoas de todas as Classes
da
mais distinctas, mostrando assim o grande interesse, e cuidado que a todos merecia
a preciosa vida de S. A.
O Príncipe Regente Nosso Senhor deo nesta occasião mais hum testemunho
da Sua Real Beneficencia na maneira benigna, e affavel com que acolheo estas sin-
ceras, e cordeais demonstrações que lhe tributão os Seus Fieis Vassallos.
do amor
O Mesmo Senhor em demonstração de sentimento pela morte de S. A., Seu
Muito Amado e Prezado Sobrinho, e Genro, toma luto por teçipo de seis mezes,
tres rigoroso, e tres alliviado, encerrando-se oito dias, queÇjprincipiárão em 27
por
do corrente : e Foi Servido Determinar que na mesma conformidade tomassem o
referido luto a Corte, e Tribunaes.
A estreiteza permitte dar nesta Folha huma relação circunstan-
do tempo não
ciada das Funeraes que hontem tiverão lugar, o que faremos na
Exéquias, e Honras
Gazeta de Quarta Feira próxima." — Gazeta dó Rio de Janeiro, 30 de Maio de 1812.
A Gazeta de quarta-feira, 3 de Junho, descreveu largamente as exéquias do

Infante. Na Gazeta de 11 de Julho vem o aviso de que foram reimpress<^ os números

que referiam seu falecimento e funeral.


"O
d Oeiras.
(15) Excellentissimo Henrique José de Carvalho e Mello, Conde
Marquez de Pombal, Filho do Grande Ministro d'Estado deste mesmo Titulo, Conse-
lheiro d Estado, Gentil-Homem da Camara de Sua Magestade a Rainha Nossa Senho-

ra, Gram-Cruz das Ordens de Christo, e da Torre e Espada, faleceo nesta Capital
de 64 annos.
a 26 do mez de Maio proximo passado, em idade
A sua moléstia foi longa, e afflictiva ; não tardou em declarar, que desejava

fazer, como fez, todas as disposições Christãs e Civis, e foi exemplar na pâciencia com
— 84 —

Sou m.t0 obrigado á memória deste Fidalgo, amizade


pela

e agazalho, com em tão duração me tratou : e não


q. pouca

obst.® as suas asneiras V. M.ce m.10 bem sabe,


políticas, q.

tinha hum não me embellezava e attrahia a m.a casmur-


q,, que

rice. Em fim conto a falta de dous Fidalgos, se


já q. podião,

vivessem, em m.t0 a m.a felicid.e, erão o Marquez


promover q.

de Pombal e o Conde de Linhares : !


paciência

No Navio Aurora vai de Passageiro hüm Varredor, ahi

nosso visinho, nome Antonio, casado com a Getrudes


por José

Contrabandista, antigam.te moravão no beco dos Gallegos


q.

e ultimam.1* na rua do matadouro á Boa Hora : elle diz-me

vai buscar a sua familia, e eu isso foi


q. julgo q. pretexto p.a
alcançar Licença de S. A. R., não viver neste Paiz
por querer
infernal. •

Por mão delle escrevo a V. M.ce húa Carta mais volu-

mosa ; o servirá a V. M.ce de antecipação o


q. p.a procurar,
elle não tenha a civilid.e de ir leva-la a nossa Casa ;
q.do por
eu não creio em
q. portadores particulares.

Não havendo ora cousa, me obrigue a ser mais


por q.
extenso, conclúo a sua benção e de minha Mãy, e
pedindo
acceitando toda a sincerid.e e affect.e, he de
q. proprio q.m
he com o maior respeito. ,

De V. Mce

Filho m.to ara.151 e obd.e

Luiz dos S.tos Marrocos


Joaq.m

que soffreo, e no soceqo de animo com que esperou a morte, pois que até o ultimo
instante da sua vida não se vio alteração no seu modo urbano, e amenidade social.
"Nos
Empregos acima referidos, assim como na Presidencia do Sena<3(o da
Camara de Lisboa, foi elle sempre hum modelo de h«ra, de relo, e de exactidão : são
testemunhas desta verdade, e do valor da perda, «Ho só o sentimento mostrou
que
toda a Real Familia pela sua morte, mas a magoa do Publico em as lagrimas
geral,
dos muitos indigentes que soccorria, e as saudades que ihe tributa a amizade.
"O
Príncipe Regente Nosso Senhor, que sempre o honrou com a Sua estima-
ção, lhe tinha conferido ha
pouco o importante Cargo de Presidente do Desembargo
do Paço, e Mesa da Consciência e Ordens; se o Marquez de Pombal não pode retri-
buir esta Graça com a continuação dos seus Serviços, retribuiu-a com demonstrações
de gratidão e amor, porque pouco antes da sua morte mostrou pungente cuidado sobre
a afflicção em que estaria S. A. R. pelo proximo perigo de perder hum Sobrinho
querido ; articulou depois frases dictadas pelo seu patriotismo, e affectuosas despe-
didas aos seus amigos.

Quis desidecio sit pudor, aut modus


Tam cari capitis?"

— Gazeta do Rio de de 3 de de 1812.


Janeiro, Junho
— —
85

CARTA N.° 23

Rio de 4 de
Jan.ro

de 1812.
Junho

S.r do meu Coração. Havendo


Meu Pay e
prezadissimo
M.ce outras Cartas, em lhe expunha qjianto
escripto a V. que

e tratando em hüa da morte do S.r


se me offerecia a dizer-lhe ;

conveniente remetter a
Infante D. Pedro Carlos, me pareceo
Tenho dissabor de não re-
V. M-.ce as Gazetas respectivas.

de V. M.ce Navio Carolina, e espero q.


ceber Carta algüa pelo

de mim, enviando-me noticias suas, e


V. M.ce se lembre sempre

o mande fazer Mana; em


V. M.ce não possa, pela pois
q.d0
a V. M.ce saúde m.t0 e á
todos acho descuido. Desejo perfeita

de me recommendar m.to e m.to, e cuja


Mãy, a fará favor
q.m
merecer-lhe, e fazendo as m.as demons-
benção espero sempre

á Tia, Mana, Ignez. Sou como devo


trações de amizade

De V. M.ce

Filho am.te obd.^ e obg.do

Luiz dos S.tos Marrocos


Joaq.m

P. S.

O Professor M.el Francisco de

Oliveira teve o seguinte Despacho:

—' Espere Consulta: e


pela quando

lhe deferirá. —
vier, se

CARTA N.° 24

Rio de 17
Jan.ro

de de 1812.
Junho

Hüa Carta, ha tempo re-


Meu Pay e S.r do Coração. q.

M®6 com data de 5 de Março, me certificava q. por


cebi de V.

Flor de Lisboa me remettia V. M.0®


mão do Cap.am do Berg.m

e desde então nunca mais tive Carta


outra em volume,
grosso
— 86 —

algüa sua, vários Navios, tem aqui chegado. Finalm.te


por q.
antehontem chegarão a este Porto os Navios Flor de Lisboa,

Bom Sucesso, e Nova Alliança, e fazendo eu as dilig.as de-

vidas, me certificou Lopes de Gouvêa, não tinha vindò


José q.
Carta algüa sua mim, mostrando-me todas tinhão
p.a quantas
vindo no bahú do d.° Cap.®1"1. Por outra depois de me
parte
ter fatigado em ir a bordo dos outros Navios o m.mo fim e
p.a
tudo inutilm.te, vou achar o meu nome na Lista do Correio,

mas com o maior espanto vi me tinhão tirado a Carta do


q.
Correio engano ou temeraria curiosid.e. Nestes termos
por

V. M.ae reflectir será a m.a situação, depois de


queira qual q.
não receber Carta algüa de V. M.ce alguns 6 ou 8 Navios
por

(seg.d0 creio), me haja de succeder hum caso destes, ignoran-

do me escrevia, e a importancia e da Carta ! He


q.m qualid.e
mim hum dos maiores infortúnios não receber noticias suas
para

e de nossa Casa, dando nisso liberdade á minha fantasia


p.a

julgar o de ella he capaz. Portanto rógo-lhe extremo,


que pelo
com me estima, e a mJ3, cega obed.a lhe merece, não deixe
q. q.
nunca de me escrever duas regras, ao menos, meu
p.a sooego e

consolação ; não encarecer-lhe o desgosto


pois posso e hy-

pocondria, me tem acabrunhado o fisico e o espirito.


q.

Acabo esta com a de morte do


participação que pela S.r

Infante D. Pedro Carlos vai a fazer-se hüa reforma em


grande
alguns objectos. Tudo o era família e Criados do In-
q. S.r

fante defunto, está sem ração, e entre elles está á orça o


já já
Beneficiado Reis, tendo este obtido a da d.a ração,
pechincha
Casas cavallo e Criado de acompanhar, ordenado de
pagas,

Capellão do d.° S.r Inf.e, TençÕes livres chupar 320 reis


p.a
diários Missa menor neste Paiz), e fim 500$000
pela (taixa por
reis do seu Benef.0, elle anda requerendo ser aqui
q. pago, por
se não receber Continua a d.a reforma economica em vir
papel.
a tirar-se os Ordenados de todos os Criados do Paço, não
q.
forem semanarios, ficando-lhes só os seus Alvarás ad honocem;

Pensões a todas as as recebião; os Ordenados


pessoas q. de

todas as Repartições diminuídos ; e outras Repartições intei-

ram.te extinctas ; e creio também a Bibl.a


q. padecerá diminui-

ção ; todas as rações, seges, e cavallos, até aqui se davão a


q.
Criados e outros indivíduos, tudo fóra ; e mais outras miude-

zas, não lembrão : e fim hum empréstimo forçado


q. por de 2

milhões a nossa Tropa, anda em Campanha neste


p.a q. Con-

tinente. Dous Off.es do Erário trabalhão neste Plano de Eco-


— —
87

Aguiar. Isto he o consta geral


em Casa do Conde de q.
comia
destas reformas seja pn-
e eu temo meio
e q. por
publicam.1®,
exigir mais algüa cousa.
vado do tenho, e inhabil p.a
q.
a todos de Casa,
recomendar-me affectuosam.te
Queira
V. M.** e da Mãy espero q.
saúde, e de
aq.m desejo perfeita
honrando-me com a sua
sempre na sua lembrança,
me tenhão
sou com a maior ternura.
benção, e estando persuadidos q.

Filho m.to obd.e e obgd.°

Luiz dos S.tos Marrocos


Joaq.m

CARTA N.° 25

Rio de 26 de
Jan.ro

de 1812.
Junho

Coração. Huma e mil vezes


Meu Pay e S.r todo do meu

suas letras; vierão mitigar'de


lhe agradeço o favor das q.

eu andava envolto :
modo o desasossego, em q. porem
algum
No dia 15 deste mez
totalm.te o Navio, emq. vierão.
ignoro
e Flor de Lisboa, o Io,
aqui os Navios Bom Successo
entrarão

No dia 16 entrou o Navio Nova


com 71 dias, o 2o cora 72.

No dia 19 entrou o Navio Marquez


Alliança com 62 dias.

dia 20 entrou o Navio Imperador


d'Angeja com 72 dias. No

Entrarão mais os Navios Triunfo


d'America com 45 dias.

o Io a 22 com escala Bahia,


da Inveja e S. Thiago Maior, pela

p-tn 18 dias, o 2o a 23 com 39 dias.


donde veio

a Carta de V. M.ce, de-


A 19 deste mez recebi primeira
todo se me frustrou, como
de immenso trabalho, q.
pois passar
vim a recebe-la no Paço, onde
lhe contei na minha ultima ; pois

Antonio a deixou ao Varredor d<i


o Livreiro e Reposteiro José

dar : e a 2.a Carta trouxe-a aqui a


Camara de S. A. R. ma
p.a
d'Est.° dos Negocios Estran-
m.a casa o Correio da Secret.a

mandada Porteiro da Secret.V


geiros, pelo

vinhão duas Cartas de V. M.^ com


No masso
primeiro
e adjunto a ellas vinhão o Legipon,
datas de 3 e 12 de Março,
— —
88

Plano da Bibliotheca Publica, hüa Carta do Visconde de


o

Santarém V. M.ce, e outra do P.* Carreira, mim, e hüa


p.a p.a

Noticia impressa do Inglez das Botas. No 2o masso vinha

hüa Carta de V. M.ce com data de 20 de Abril, e outras da

Mãy, Mana e Tia, outra do Bartholini outra do Garrocho;

hüa do Tio Cónego V. M.ce, outra alheia o Musico João


p.a p.a

de Deos, hüa Gazeta, e hum Poema ao Argonauta de Cortiça.

Tórno a agradecer a V. M.^ as remessas mencionadas, q.

sendo interessantes sua curiosid.e, fizerão hüa diversão


pela

ao meu espirito assás fatigado e triste. Estimo pôde


quanto

ser a sua saúde, D.8 conserva-la sempre


perfeita q. permitta

mui vigorosa ; sinto haver-se aggravado tanto a mo-


porem

lestia da Mãy, chegou ao de sobrevir-lhe principio


q. ponto

de aneurisma : V. M.ce da impressão, q.


pode persuadir-se

me causaria esta noticia, não havendo de diminuir


probabilid.e

tão custoso Em tão desconsolação eu tomo


padecer. grande

aq.ia me he devida natureza, sangue,


parte, q. pela pelo pelo

affecto, e obrigações. A minha tosse attu-


pelas persegue~me

radam.te, e agora m.mo sou obrigado a levantar a hü


penna

sem n.° de vezes aliviar o : as minhas dores de cabeça


p.a peito

tem-se tornado importunas e excessivas, sem abrandarem com

o fumo de caffé, como ahi succedia ; descobri hü


porem pe-

lenitivo, e he uzar da barretina de lã mui felpuda,


queno q.

V. M.ce ahi me comprou, o me obriga a concentrar todo o


q.

calor na tésta, fazendo-me suar em bica cabèça abaixo.


pela

Respondendo agora em ás Cartas de V. M.^,


particular

devo dizer, fiquei mui contente com as Cartas selectas


que p.a

o fim, V. M.** sabe, as vem matizadas com


q. quaes judicioso

artificio : manha deixei-as, como acaso, sobre a mesa


por por

á escrivaninha, na Sala em trabalho, e


grande juntas q. posso

dizer-lhe se me se eu tinha tido noticias de


q. já perguntou

Lisboa ? He m.10 bom V. M.** vá continuando;


q. porem

mais de espaço, não virem com datas tão hüas


por próximas

ás outras entendido eu fallo das d.aS selectas) : se


(bem q.

lhe misture as noticiaè bellicas com algumas místicas,


parecer,
como alguma Função de Igreja, Procissão, &. cousa cheire
q.

a murmuração, nada ; e contrario, venha hum ressaibo de


pelo

erudição nos seus vastos ramos ; formando-se assim


política
hum lindo ramálhete.

Eu vou trabalhando no m.mo estado, sem haver até aqui

novid.e algüa a respeito de interesses ; isto de dinheiro


por q.
— —
89

Tenho bem fundadas esperanças


está aqui m.to atrapalhado.

mais alguma cousa ; e tenho toda a certeza


de vir a perceber
de Novembro foi Servido arbi-
de S. A. R. no fim passado
q.
a Pensão de 600$000 r.s, eu estar occupado
trar mim por
p.a
o Conde de Aguiar e Militão
em Serviço ; porem
particular
Decisão de S. A. R., a de eu ainda
tem esta ponto
paralisado
V. M.ce a de nestes
não ver real. Queira julgar qualid.e gente

elles mè tem : mas espero vencer a


dous heróes e o affecto q.

apezar de todos os incommodos ; estou per-


batalha, por q.

nem sempre a conservar impu-


suadido q. prepotencia pode

nem.*3 o da sua intriga.


jogo

a V. M.ce os seus bons conselhos a respeito de


Agradeço

: os acceito com todo o respeito : devo


Per.a e Romão eu porem

se não lembre de formar a respeito da


dizer-lhe q. juizos

Romão, alem de eu não freqüentar a casa


filha do por q.

não de mezes a mezes, m.as occupações, não tenho


deste, se por

de affastar-me da vida celibataria, me agrada com


tenção q.

O eu disse a V. M.ce em hüa m.a acerca do


preferencia. q.

da casa do Romão, tórno a confirmar nesta, ser


arranjo por

verd.6 e despida de outro algum juizo.


pura

a V. M.ce ter,aqui recebido as meias e


Eu
já participei

linhas cujo saquinho tornei a enviar com encommendas por

mão de Domingos Teix.ra Lima : e esta sua repetição me


José

obriga a suppôr não ter V. M.ce recebido a m.a Carta relativa

a esta remessa.

Continúa a m.a confusão em .me confirmar V. M.ce q.

ao Capitão do Navio Flor de Lisboa havia entregado hum

masso em 5 de Março, contrario o d.° Cap.am me disse


q.do pelo

aqui não recebera ahi nada. Assim como me a riso


promove

haver se lembre de eu vir a misturar-me com bonecos de


quem

chapéo redondo ; basta uzem delle E. A. de Almeida,


pois q. J.

e Militão, eu lhe ser opposto.


pa

Ainda tenho em vista a sua recomendação a respeito de

lhe communicar anecdotas do Io dos dous ; e eu a seu tempo

direi o souber, e mandarei o tiver.


q. q.

Aqui recebi hüa Carta do S.r Lourenço, á res~


João qual

com a maior brevidade, não estar em falta ;


ponderei por querer

assim como ao P.e Carreira, cuja Carta me lisongeou muito.

Hontem se cantarão hüas magníficas Matinas novas, com-

Marcos, e hoje foi a Missa de Officio ; tudo


postas por por

alma do defunto S.r Infante D. Pedro Carlos, na Capella Real,


— —
90

dia hum mez do


neste
S. A. R., completando-se
a assistio
q.
do d." S.r Infante. _
fállecim.to
: indo eu hon-
creio nao arriba
O Conde das Galvêas q.
achei-o tao perdido,
objecto do R. Serviço,
a fallar-lhe em
tem
o neg. , a hia.
de communicar-lhe q.
não o capaz
q julguei
o outro Mundo ,
Marquez de Pombal para
na retaguarda do
Irá
soffre de modo
os mais. O Paiz nao
assim iremos todos
e
de conductas.
alqum desmanchos
Tio Conego, havendo
recebi Carta do
Ainda não
'seu
tem a
. O requerimento
responder ás minhas
promettido no
mas esta sepultado
não haver sahido escusado,
fortuna de

como outros muitos.


cadoz, assim ^
V. M.ce na Fragatmha
ultima dizia eu a q.
Em hüa
nosso visinho, nome
de S. A. R. e por
hia hü Criado
Aurora
M. : Porem a d.
Carta m.a V.
Tosé Ant.°, levava para
q.
embarcações, e o
assim como outras
Fraqatinha desarmou-se,
Victoria, onde ira p.
o Navio
d.° Ant.° passou-se p.a
José

o favor da sua benção,


V. M.ce me continue
Rógo a

pois sou
De
V. M.ce

Filho m.° obed.e e obgd.°

dos S.tos Marrocos


Luiz Joaq.m

CARTA N.« 26

Fins de de 1812.
Junho

do meu Coração. Cuidava


Mana m.to
Minha querida
e os tinteiros em
se terião acabado as pennas
eu até aqui q.
não escrevias ; enganei-me, por
Lisboa, e isso me porem
por
alegrou m.t0 me dares
receber hüa tua, me por
acabo de q.
q.
: ora nao
ainda doente dos olhos peço-te q.
noticias tuas, q.
mais velho, a 17 deste
Eu cada vez estou pois
sejas ramelosa.
dia, e o dia 10 em o
31 annos, sendo esse q.
mez completei
mim, nem comi
os dias dá maior tristeza pa pois
Pay faz annos,
em vivo neste
: vê tu a satisfação que
cousa algüa grande
— —
91

tua Carta Anna do Cabo foi logo en-


Paiz dos monos ! A p.a

hoje não sei o ella continha : Ao


tregue na sua mão, e até q.

filho, e teve outro, também lhe


morreo-lhe hum já q.
Joaq.m
Conrado ouvi dizer o seguinte :
morreo. A respeito de
José

na Fragatinha Benjamim, entrou com


Quando elle aqui chegou

a ser despachado seus grandes


muitas basofias querer pelos

em lugar de o attenderem, o Vice


serviços fantasticos ; porem

era Ajud.te Gener.al do S.r Infante mos-


Almir.te Quintella q.

a feia nota Conrado tinha no Corpo


trou a este Senhor q. José

crime de desobediencia e deserção na critica


da Marinha, pelo

da invasão dos Francezes ; e este motivo


occasião por querião

Conselho de Guerra : assim elle vio ficava


formar-lhe q. q.

a adoecer fortem.te de e isso


entrou paixão, por pedio
perdido,
Licença se curar em Lisboa : custou-lhe muito
ao S.r Infante p.a

com empenhos alcançou-a tempo


a alcança-la, porem grd.6® por

annos somente, findos os ha de apparecer aqui


de dous quaes

se Com effeito lá foi no Brigue Boaventura por


p.a justificar.
a á sua custa, não
simples passageiro, paga passagem pois

dar-lhe commando nenhum : assim como elle


quando
quizerão
veio cá na d.a Fragatinha, não trouxe commando nenhum,
p.a

como elle ahi basofiou ; eu vi a Parte do Registro, se


pois q.

deo ao S.r Infante, e em elle vinha no numero dos


q. passa-

e nem he crivei, nem se dar-se a Official cri-


geiros ; pratica,

minoso commando em Navio algum. Tudo isto he constante

aqui verdade, e assim a Elle me levou hua Carta


por julgo.

o Pay. Agradeço-te a remessa dos versos ao Botas, assim


p.a

como as mais noticias, me mandas ; e a respeito de me es-


q.

creveres menos vezes eu não tanto em no


por gastar porte

Correio, não repares nisso, eu antes ler hüa


por que quero

Carta tua, do ver hüa Opera. Fica na certeza de logo


q. q.,

eu tenha meios de ajudar a nossa Casa, immediatam.te re-


q.

de todos os meus interesses ; ainda estou


partirei por q. q.

distante na apparencia, não estou distante no coração, a


pois

todos tenho como se estivesse á vista.


presentes,

Sou com todo o affecto

Teu Mano m.to e m.t0 do C.

Luiz

P. S.

Lembranças á Ignez, á S.ru Thereza, Filhas e Sobr.a,

e aos mais Visinhos e visinhas em e sem


geral

reserva.
— —
92

CARTA N.° 27

Rio de 3 de
Jan.ro

de 1812.
Julho

S.r do C. Esta he feita com


Meu Pay e
prezadissimo
amanhã sahe o Navio Aurora :
m.ta ter noticia de
pressa, por q.

em (alta, apenas faço estas regras p.a


e não estar
por querer
da Mãy e mais familia, a me fará
saber da sua saúde e quem

muito af fectuosamente. Em huma


a mercê de me recomendar

a V. M. alguns apontamentos de refor-


antecedente referia eu

se tirarem as rações, cavai-


mas economicas, principiando por

tem-se suspendido esses Planos, e só


los, seges, &cporem

a familia e Criados, forão do S.r Inf.'a D.


sé verificou p.a q.

D.s haja, ficando todos á orça : o Benefi-


Pedro Carlos, q.

ciado Reis foi o exceptuado de todos ; havendo-se-lhe


pois

ração, como aos mais, tanto se lhe deo outra


tirado a gritou, q.

vez, argumentando elle a tinha, não como Capellão do S.r


q.

Inf.e, mas especial de S. A. R..


por graça

Dou a V. M.06 de fui victima da intriga aqui


parte que já

no Paço, fazendo-se toda a diligencia me tirarem do exer-


por

aqui tenho ; e com effeito fui obrigado a


cicio q.
quotidiano,

não ir ao Paço dous dias successivos, me expulsarem, não


por

motivos de honra, me envergonhem, a Deos,


por que graças

mas a S. A. R. eu não devia ver


por q, querião persuadir q.

certos Papeis, em estes se conservassem depositados na


q.10

Sala dos Manuscriptos. Este de expulsão seria


principio

eterno, se eu não cuidasse logo em o desfazer, estava


por q.

compromettido interrupção do meu trabalho, e o meu


pela

caracter ficaria mui deslustroso com o Publico com esta


p.a

noticia. Participei logo ao S.r Visconde àe V.a N.a o succe-

dido, tudo ignorava), o expondo a S. A. R. a malicia


(q. qual,

daquelle me fez dar em Publico huma magnífica sa-


pretexto,

tisfação, no m.mo lugar e sitio onde se me tinha intimado a sus-

e hum figurão todos os do sitio da Ajuda co-


pensão, por q.

nhecem ; tornando eu ao meu exercício tal tinha d antes.


qual

Veja V. M.** a de indivíduos, aqui ha, ainda


qualid.e q. q.
— —
93

antes mui mettido nas


observando não ser eu-intromettido,

hospedes ! Eu sou muito


conchas, os dedos lhes parecem
conservando sempre comigo
obrigado ao d.° S.r Visconde, que
neste caso, como hum
a m.ma affabilid.e e attenção, portou-se

cavalgado, se não fosse a sua


Heróe, vendo eu era
q.

protecção.
a V. M.ce no seu
Também me lembra dizer pa guardar

Marcos Antonio Portugal, celebre


canhenho ; o Rapsodista

de Dó, Ré, Mi, indo ver


Candidato na Fidalguia escala
pela
de S. A. R., teve a insolentissi-
os Manuscriptos, faculd.e
por
elles nada valia o, e
ma ousadia de me dizer todos juntos
q.

em os mandar vir, antes deveria o


S. A. R. não bem
q. fez

recolhidos na Torre do Tombo!


ser

o dito de Horacio : risum teneatis,


Logo me lembrou

a cousa a disfarce, olhando os ares,


amici; mettendo p.a
porem
estava mudado e chuva.
lhe respondi o tempo q. promettia
q.
entendeo antes, dando funga-
Foi tão besta, não ; quatro
q.
a ler os versos de Thomaz Pinto
dellas, voltou costas, e
poz-se

Brandão. Que lastima !

mais resta a dizer a V. M.ce, se não


Por ora nada pedir-

e benção, assim como da Mãy,


lhe a continuação da sua graça

ser sempre com todo o respeito


protestando

De V. M.ce

Filho obd.mo e aff.mo C.

Luiz dos S.tos Marrocos


Joaq.m

P. S.

A Mana, se não continuar a

escrever-me, a Ia vez a vir,


q.

as orelhas.
pucho-lhe

CARTA N.° 28

Rio de 22 de
Jan.™

Agosto de 1812.

do meu C. Antehontem chegou aqui o


Meu Pay e S.r

o não trouxe Carta alguma de V. M.00,


Brigue Mercúrio, qual

falta mui atrazada de 3 embarcações ; como


sendo esta porem
— —
94

mal o menos. Tenho tido


motivo de moléstia, do
não seja por
D.s conceder-lhe
maior cuidado na sua saúde, q. permita
o
conservado livre dos ataques
e a Mãy se tenha
mui perfeita, q.
a Mana, Tia e Ignez, a q.
da sua moléstia, não esquecendo

me recomendo affectuoSo.

Flor de Lisboa, no
está a sahir o Bergantim qual
Daqui

5 arrobas de Caffé, o melhor


a V. M.0® húa sacca com
remetto
desta man-
nestes Paizes ; o escolher qualid.e,
ha pois pa
q
na Carta, acompanhar a
vir de S. d'ElRey : q.
dei-o João
a norma da sua venda,
remessa, serei mais largo, e explicarei

agora falta-me o tempo.


se V. M.w vendelo ; pois
quizer
e a 18 deste mez he recebi
Eu vou vivendo sem novid.e, q.

ha boas esperanças de fazermos


o 2o deste anno, e
quartel

na bocca daqui a tempo.


cruzes pouco
da nossa amizade, e
recommendar-me a todos
Queira
e V. M.06 me console sempre
Visinhos, Compadre, Comadre ;

me fâça da sua
a segurança do seu affecto, e participante
com

Mãy sou com todo o respeito


benção, e de ma ; pois

De V. M.ce

Filho obd.e e obgd.0 C.

Luiz dos S.tos Marrocos


Joaq.m

P. S.

A da Carta he notar-se ;
pequenez pa

entre mil embaraços me serve de


mas

escusa o não faltar em Navio


querer

algü, ao menos com duas regras.

CARTA N.° 29

Rio de 29 de
Jan.ro

Agosto de 1812.

Pay e S.r do meu Coração : Depois de


Meu prezadissimo
húa Carta mui breve Navio Imperador
escrever a V. M.ce pelo

lhe referia o meu cuidado não ter rece-


da America, em por
q.
Navio Mercúrio aqui chegado a 21 ;
bido Cartas algüas pelo
me foi remettida húa de V. M.™ a 25
sem o
quando, pensar,
— —
95

de Brito, Off.al Maior da Secret.a


Pedro Francisco Xavier
por
Estrangeiros, a ma casa, dizendo-me q.
dEstado dos Neg.08

Repartição. Depois de agra-


tinha vindo no Sacco daquella

ternas expressões, com a


a V. M06 as amorosas e q.
decer

e favorecer-me, e
extremosa amizade se digna honrar-me
sua
vou a responder a
da espero e desejo nunca desmerecer ;
qual
me ajudar a minha cabeça enfras-
todos os seus artigos, como

assás a fatigão. Primeiro


cada em mil ideas extranhas, q.

Lisboa remetto a V. M.ce húa


tudo ; neste Navio Flor de
q.
Caffé, V. M.ce a especialid.e
sacca com 5 arrobas de pa provar

em Casa ; mas se nelle


desta se o gastar
producção, quizer
vai incluso hum rol de
fazer algum interesse, pequeno
quizer
se calcular o da venda, adver-
despezas feitas aqui pa preço

ahi se fizerê em Despacho e


tindo devem incluir-se as q.
q.
de cada arratel : O caffé he
carretos, se conhecer o valor
pa
não havendo algü outro melhor q.
magnífico, e escolhido,

a remessa, intentava fazer, man-


este ; e isso demorei q. pa
por
d EIRey. Com esta vai hü Conheci-
dar vir este de S. João

e no Navio mandarei 2o Co-


mento o tirar de bordo, prim°
pa
este se ; e na ma mão fica 3o,
nhecimento servir, q.do perca
pa
de V. M.06, não sirvão o 1°
só mandarei com aviso q.do
que'
em circunstancias favoraveis de aju-
e 2o. Eu desejáva estar

meus interesses ; espero ter ainda essa


dar daqui com os porem

me dará occasides de ver cumpridos estes


satisfação, e Deos

ardentes desejos. Eu ora vou continuando


meus bons e por

: concluí hum Mappa Sistemático da Classi-


no meu trabalho

annunciei a V. M.ce em outra : este Mappa


ficação, como

a Fr. Antonio de Arrabida, q.
hei de mostra-lo primeiram.t9

e ao depois hei de entrega-lo ao


me essa
pedio preferencia,
da R.a este o appresentar a S. A. R..
Visconde de V> N.a para

os dias tenho a honra de beijar a Mão deste Senhor,


Todos

o meu trabalho, e tenho a satisfação e


antes de entrar pa gloria

lembrança e no Seu agrado : no dia 25


de estar na Sua pela

occupado, me mandou S. A. R. chamar á Sala


manhã, estando

fallar com Paulo Fern.des Vianna, Intend.te Geral


do Docel,
pa
me esperava tratar comigo cousas do R.
da Policia, ahi pa
q.

e nesse dia de tarde e de noute fui ao Sitio do Engenho


Serviço,

da Cid.e mais de húa legoa) de sege, acabar de


Velho, (dist.'e

com o m.mo Intend.te o negocio de manhã, na sua Chá-


tratar

ahi Nos dias 3 e 6 deste mez também fui


era, elle possúe.
q.

a casa do Off.al Maior da Secreta d'Est.° dos Neg.08


chãmado
— 96 —

Estrang.0S hüa Diligencia do R. Serviço, o q. promptam.tB


p.a
Por estas cousas conhecerá V. M.ce ainda
executei. q. que

senão dos miseráveis 40Ó$000 r.5,


eu não presentem.te
gózo

estou na lembrança de S. A. R. e no Seu R. agrado,


todavia

digo : e se não fosse o odio e rancor do Conde de


como acima

e Melitão, chamar-me feliz ; mas nem sempre


Aguiar poderia

Diabo ha de estar atraz da como dizem as Velhas.


o porta,

o Stockler, e havendo beijado a Mão de


Aqui chegou grd.e

A. R. este o na noute do desembarque, teve


S. (sem prever)

não apparecer mais na de S. A.


insinuação part.ar pa presença

R. até segunda ordem. O P.G Bernardo, foi Frade Jero-


que

nimo, e veio comigo na Fragata, depois de moer-se com


q.

chusma de requerimentos, e depois de soffrer hüa contra-

rotura n'húa verilha, e de hum braço hüa


quebrar por queda,

chupou finalm.1* a Abbadia de S.ta Eulalia d'Agueda, 7 legoas

acima de Coimbra, e de hum formidável rendimento : o d° P.e

foi civilm.5e expulso de Casa do Bispo, e andava aqui


pade-

cendo necessidades.

No Navio Imperador da America ahi ha de chegar Sil-

vestre Pinheiro com sua familia : este foi nomeado Nego-


pa

ciador na America Hespanhola causa das desordens entre


por

Buenos Ayres e MonteVideo : elle depois de receber


porem

dinheiros e Instrucções, regeitou a Commissão, argumentando

necessitava de caracter Publico, e menos se lhe


q. q. pelo

devia dar hü igual ao tivera em Berlim. Por este caviloso


q.

argumento e desobediencia ultrajante ás Ordens de S. A. R.,

foi logo de beijar a Mão de S. A. R., e degradado


privado pa

a Ilha da Madeira, cujo Governador o reterá até 2a Ordem

de S. A. R.

Não me admira a indolência do Lima, não obst.^


Jesuíta

as minhas recomendações a entrega dos Papeis


pa prompta

levou ; e a este respeito vou a contar a V. M.ce o seguinte.


q.

Logo elle aqui chegou, visitava-me todos os dias, e


q. quasi

fim desatou-se em exigir de mim a de certo


por promoção

Militar, offerecendo-me o suborno de certa ; e vendo


quantia

eu me subtrahia a esse negocio, intentava captar-me com


q.
Baldou-se o d° negocio m.as negativas, e foi-
presentes. por

se escoando de tal man.ra, nunca mais me visitou, é só me


q.

fallava encontros na rua. Daqui vejo havia de


por q. pro-

ceder como eu ; e este motivo rógo a V. M.ce


premeditei por

se não fie em eu só me fio no Correio


q. portadores, q. geral.
— —
97

do respeita a Pedro Antônio Garrocho,


Fico sciente q.
como criança ; e o admiro he
em fim havia de proceder q.
q.
De Alex.6 Antonio tenho recebido mui-
tenha protectores.
q.
obséquios ; e eu aqui vou bem com o Irmão
tas Cartas e muitos

Antonio. Agradeço a V. M.TO as noticias


Thomaz políticas,

ruraes desse Continente, V. M.ce me communica,


militares e q.

reputão bocadinhos de ouro ; e eu desejava com-


aqui se
q.
mil outras, daqui sei, mas he forçoso, e conveniente
municar q.

hum cadeado á bocca ; e V. M.ce disso me desculpará.


applicar

R. bem, e a Rainha N.a S.ra está em hü


S. A. pro-
passa

digioso estado de saúde, cousa digna de notar-se, abstrahindo

nat.al de seus annos ; mas nesta id.€ avançada he


da moléstia

respeitável magestade de Sua Pessoa, e con-


summam.te pela

idéas, a cada maximas de m.ta


certo de Suas produzindo passo

e delicadeza : a mais Família R. se con-


instrucção política

serva com igual saúde, excepto a S.ra D. Carlota, q. passou

o Sitio de Botafogo a tomar ares e banhos.


pa

A respeito de Fr. Antonio d'Arrabida, não dar a


posso

V. M(.ce outras idéas, se não de ser hum P.e mui serio e bem

conceituado, e estar no,gráo de representação que geralm.*®

os Confessores e Mestres das Pessoas Reaes : os seus


gózam

R. Discípulos não deixão de applicar-se no meio das distra-

cções, Lhes são


q. próprias.

Por ora não ha fundamento algum se a resti-


para julgar

tuição de S. A. R. a esse Reino, nem aqui ha apparencias disso,

se não de desejos unicam.te, antes contrario se


grandes pelo

dispõem as cousas mui devagar, vejo e observo : he


pa pelo q.

verd.d de hum momento outro se tomar húa reso-


q. pa pode

lução até alli não : mas eu em


premeditada persuado-me que

se não verificar a Sorte da Península, expellindo-se o ini-


q.*0

migo alem dos Pyrinéos, e em se não vir a decisão desta


pa q.10

da Rússia, não he expôr-se a R. Família a ou-


guerra prud.te

tros Deos nos faça ver esse venturoso e tão desejado


perigos.

instante nossa inteira e incrível satisfação : lhe con-


pa pois

fesso esta terra e estão cobertos de maldições dos


que gente

Europeos seus modos em insolencias, ladroeiras,


por péssimos

e mil outras ajustando-se todos a chupar o nosso


patifarias,

sangue, e regosijando-se de nossos trabalhos e desgraças.

Fico algum tanto aliviado e consolado com as melhoras

da Mãy, ainda mui escassas, segundo V. M.ce me affirma ;


q.

e he mim da maior dor e consternação afflictiva considerar


pa
— —
98

toda a nossa
e abatimento, experimenta
o estado de q.
penúria
de e soffnmento
: V. M.ce revestir-se paciência
Casa queira
a sua e
e animar com prudência
nesta situação desgraçada,

a Mãy, tem dobra-


a nossa familia, q.
conselhos principalm.te
angustiar-se tor-
multiplicadas razões de pelo
das, ou antes

moléstias ; creio firmissimam.


mento contínuo de suas pois
auxilios, e no
desamparados dos Celestes q.
não seremos
q.
renascer húa época de
nossos trabalhos ha de prazer
meio de

a nossa felicid.6 e^descanço.


para
húa Carta a Relação dos
remetti a V. M.^ em
Ha tempos
individuações P.e
de S. S. A. A. feita com pelo
Desposorios
e isso escusa-
Damazo, ; por parece-me
}oaq.m q. presenciou
1810, cuja noticia não será
a Gazeta de Maio de
do enviar-lhe
se delia ,
e miúda : mas todavia, precisar juntam.
tão exacta
como remetterei os Alma-
aviso a mandarei; assim
com seu
de e outros
me falia, na Ia occasião portador,
nacks, em q.
boa collecção. Aqui não tenho
de tenho húa
papelinhos, q. já
opposta ao meu
vida ociosa, he diametralm^ gênio.
q.
do Officio de
respeito de eu requerer a sobrevivência,
A

a difficuld.* de se obter, por


Escrivão das Capellas vejo grd.e
são contra mim ; e
Melitão e Conde de Aguiar, q.
causa de
me chegasse
tinha reservado esse requerimento pa q.do
assim
de Araújo, eu
Carta de recomendação Antonio q. pedi
á pa

lesma do d.° Conde, ninguém, por


a V. M.ce : he tal a q.
pois
e se anima a fallar-lhe em pedito-
maior figurão seja, quer
q.
alcançar esta mercê, não
rio e eu tinha motivos pa
; grandes
seu Valido, o tenha re-
o sabendo o P.e Damazo, q.
Joaq.m
termos se a V. se lhe
outras cousas. Nestes
servado pa
me mandar a da Carta Araújo,
occasião de p.a
proporcionar
he o único, de certo pri-
o estimarei m>; Araújo q. góza
pois
Também sei a Velha Mar-
vilegio em attenção e respeito. q.

d° Conde, he húa Pessoa de


tjueza de Valença, Sogra do

do Conde, a ella com


veneração e respeito q.m pede
grande
com esta tem servido muitos Per-
especie de auctoridade, e

da Oração, V. M.ce resolverá o


tend.es : á vista destas partes

lhe juato.
q. parecer
e nada faz,
Miranda he traste e peralvilho,
Monsenhor
todo o tempo as M-ninas
tudo he espuma : levão-lhe
porq.
Eu tenho-o mandado
do Porto, elle
do Comboy q. protege.
a Romão Pedroso,
assim como me tenho escoado José
ã tabua,
eilfasis ; e como eu em'
V. M.ce me fallou com
de em hüa
q.m
— 99 —

tudo desejo obedecer-lhe, a nada attendo mais aos seus


q.

e vontade.
preceitos

Tenho estranhado m.to não receber ainda hüa só Carta

do Tio Cónego, havendo-lhe eu escrito algumas : ignoro os

motivos, e m.to mais não me fallando V. M.06 nelle. Em actos

de attenção e civilid.e tomei o capricho de não ceder a ninguém,

assim como de me escandalizar, se não tomem em consi-


q.do

deração os meus obséquios. Estou muito certo V. M.ce


q.

me achará razão, este sistema se combina com o seu


pois q.

Tendo importunid.e escrever repetidas vezes aos


gênio. por

Ex.mos S.rss Visconde de Santarém e seu Irmão Arcebispo,

resolvi só dirigir-lhes as m.as Cartas occasiões de Festas


por

em dias assignalados ; e entretanto sirva-se V. M.®*5 de offe-

recer-lhes os meus humildes cumprimentos, como e


protegido

sempre reconhecido.

Deo-me o maior o honrado de Alex.6


prazer procedim.t0

Antonio com Garrocho e o brégeiro de Dionisio : este o


pa
faria eu comer terra, se aqui o
pilhasse.

Rógo a V. me mande na Ia occasião de Navio hüa

copia da Nota manuscripta, se no frontespicio dos


q. pôz

Grandes de Portugal acerca da duvida ou engano das suas

1 .as edições (16). Igualm.te hüa Cópia do Titulo manuscripto


q,

se nas Instrucções Políticas de D. Luiz da Cunha a Marco


pôz

Antonio de Azevedo Coutinho, aqui o escrever em outro


pft
exemplar. Recomendo-me mui affectuosam.te ao Amigo Pe-

reira, e mais da nossa amizade, Visinhos e Visinhas,


pessoas
e eu escrevi huma. Carta á S.ra Thereza, inclusa em hüa a

V. M.00. Por fim a V. M.ce viva sempre
peço persuadido q.
e com singular veneração hão de ver de mim acceitas as suas

determinações, e em mim he constantissima a vontade de


q.
dar-lhe e de merecer a sua benção ; sendo com o maior
gosto,

respeito

De V. M.ee

Filho obd.mo e obg.mo C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaq.m

(16) Memórias Históricas, e Genealógicas dos Grandes de Portugal... Por


D. Antônio Caetano de Sousa, etc. — Lisboa, na Oficina de Antônio Isidoro da
Fonseca. 1742. in 8.° — Há outra edição: Na Régia Oficina Silviana, e da Acade-
mia Real. 1755, in 4.°. — A Biblioteca Nacional ura exemplar da l.â edição' e
possue
dois da 2.a; em um destes há anotações marginais do punho de Francisco José da
Serra: no outro, de Diogo Barbosa Machado, com brasões coloridos à mão.
— 100 —

P. S. Agora me affirmão S. A. R. a Silves-


q. perdoou

Pinheiro, depois de vender toda a sua Casa, e estar a


tre

bordo : teve bom Padrinho e foi Lord Strangford.

Hum filho do Isidoro, sapateiro, e outro filho de Luiz


José

do Vale, Reposteiro e Ajud.te de Camara de S. A. R. (cujo

tarequinho era Tenente da Marinha) forão mandados para


Inglaterra conta de S. A. R. em hüa Náo Ingleza, da-


por q.

aprenderem, o Io a Lingua Ingleza, o 2o a


qui partio, para

Mathematica no Corpo daquella Marinha, e ambos a serem

mais bréjeiros, do aqui erão. Para Ajuda de Custo deo-se


q.

a cada hum 300$000 r.s e alem disto hüa Pensão de 600$000

r.s annuaes, a cada hum, sua sustentação, tudo conta


pa por

de S. A. R.

Estou V. M.0® não tem recebido todas as


persuadido q.

Cartas, daqui lhe tenho escrito, não me aponta a sua


q. pois

recepção, nem se mostra sciente de algüasr couzas, nellas


q.

annunciava ; o me desgosta bem, faço todas as dilig.as


q. pois

não me escapar Navio algum, sem levar Carta minha.


por

Assim veja V. M.00 se descobre algum meio não haver ahi


pa

semelhante extravio. As Cartas, vinhão inclusas na de


q.

V. M.06, forão logo entregues. Depois desta feita, recebo a

sua Carta d'aviso Correio, a responderei na


pelo q. primeira

occasião de Navio, assim como hüa do Feliciano Barbeiro.

CARTA N.° 30

Rio de 7 de Ou-
Jan/°

tubro de 1812.

Meu Pay e S.r do C. Ainda não haverá


prezadissimo

húma semana recebi a ultima de V. M.ce com data de 27


q.

de estando de todo V. M.ce me não tinha


Junho, persuadido q.

dado esse não ter annuncio no Correio : e se não


gosto, por

fosse o cuidado do Brito, Off.al Maior da Secret.a, estaria

sempre nessa : e evitar-mos este transtorno,


persuasão para

bom será V. M.00 me remetta as Cartas todas Correio,


q. pelo

ainda m.mo ; sempre faço despesa (e nunca


grandes por q.
— 101 —

he menor), o Correio da Secret.® ; e vindo


premiando pelo

Correio como digo, tenho a utilid.® de ser logo entregue


geral,

dellas, e talvez com menos despesa. Isto lembro a V. M.00


q.

he relativo á demora, sobre tudo me afflige ; e V. M.ce não


q.

repare no volume e dellas, este Admin.or he amigo.


pezo por q.

Não sei expressar a V. M.ce o tive, ao ver toda


gosto q. q.

a nossa familia não soffre novid.e na sua saúde, o conti-


q.

nuam.te occupa das m.flS reflexões : Deos


grande parte per-

mitta atender aos meus ardentes desejos e votos sua vigo-


pela

rosa conservação, algum dia nos vermos com alegria, e


para

vivermos com descanso. Eu também tenho melhor


passado

ha dias, e creio vou engordando mais, observo no


q. pelo q.

fato; não fallando na m.a cabeça, continua a sem


q. padecer

diminuição : hoje m.mo; depois vim do Paço, fui obrigado


q.

a deitar-me, não ver de terra, e agora, mais


por já palmo

alliviado, e feito Mouro com o turbante na cabeça, faço esta

a V. M.06 não faltar ao Navio, ha de sahir ámanhã.


por q.

Hontem recebi o meu 3o deste anno, única felicid.®»


quartel

tenho neste Novo Mundo, vejo as outras


q. por q. gemer

Repartições e clamar sem remedio. Lamento a falta, existe


q.
ahi nos ; mas não deixar de me admirar
pagamentos posso
da desiguald.® relativam.te ás outras Repartições, sendo a

humas tudo, a outras nada. Oxalá terminasse a Época dos


nossos trabalhos !

Agradeço a V. M.0* as noticias, me communica, ha-


q.
vendo aqui chegado a da acção de 22, em Beres-
já grande q.
ford ficou ferido : hum Navio Inglez trouxe depois
gravem.^
a noticia de elle ter morrido, o se he certo, he digno de sen-
q.,

tir-se. Ha aqui desgosto dos Estados


grande pela guerra
Unidos com a Grã Bretanha, falta faz ao nosso com-
pela q.
mercio, e ao fornecimento de Portugal com as suas :
produções
hüm Artigo do ultimo Tratado, fizemos com a
por q. por q.
Grã Bretanha, devemos ajuda-la com vasos e ; e
gente por
estarmos nesses o Encarregado dos Estados Uni-
preparos, já

dos, aqui residente, os seus Passaportes se retirar.


pedio pa

Nada se sabe aqui do Norte, e todos desconfião do Im-

da Rússia não tenha forças resistir ás siladas de


perador pa

Napoleão; e lhe não tenhão ainda aproveitado as lições


q.
alheias : agora, alli he o tempo dos e neve, he natu-
q. gelos
ral o Exercito Francez Dizem Bernadotte vi-
q. padeça. q.
rára a casaca a Napoleão, unindo-se á Rússia e Inglaterra, e
— —
102

Aq.
apparecera na frente dos seus Exércitos o Grande General

Moreau, até agora escondido. São vozes mas


populares,

Deos se verifiquem.
queira q.

O nosso Negociador em Buenos Ayres, nome Radema-


por

cker, aqui appareceo de repente ; dizem huns viera fugido,


q.

o assassinar ; dizem outros largara a sua Com-


por q. querião q.

missão sem ordem da Corte, e isso não fora admittido a


por

Audiência O certo ignora-se. Silvestre Pinheiro aqui vive


(17).

em desgosto, e deve o seu a sua mulher, se mostrou


perdão q.

huma heroina, merecendo isso a attenção de S. A. R.


por

Melitão Alvares da Silva está doente de


José gravem.te

húa malina respeitável, e desconfia-se de sua vida. Se elle não

fosse meu inimigo, tomava o trabalho de o visitar ; nem


porem

elle merece esse meu obséquio, nem eu tenho de arris-


precisão

car a m.a saúde. Pelos altos clamores do Povo contra elle me

lembra a algazarra dos rapazes morte do Negociante


pela

Manteigueiro em Lisboa : o seu modo de tractar a


péssimo

todos obriga a este excesso. O irmão Plácido está hum esque-

leto, com as inchadas, hum fétido na bocca,


pernas pestifero

mas neste estado ainda freqüenta o Cáes e outros Sitios seme-

lhantes, a ver se encontra algum devoto, o soccorra com a


q.

sua bemdita esmola. . . Eu fujo delle, como do Diabo, e elle

faz-me a sua visita de em q.do.


q.do

(17) O armistício de 26 de Maio de 1812, pelo tenente-coronel João


assinado
Raderaaker e o ministro D. Nicolas de Herrera. em do qual cessaram as hos-
virtude
tilidades, prometendo as duas partes que se não renovariam, sem mediar um aviso
com três meses de antecipação, provocou em Buenos Aires certa manifestação desai-
rosa ao governo do Príncipe Regente, que explicou sua atitude no caso com a seguinte
nota na Gazeta do Rio de Janeiro, de 15 de Julho de 1812 :
publicada
"Havendo-se
vulgarizado nesta Cidade entre chegados recen- outros Impressos
temente de Buenos-Ayres Supplemento á Gazeta com o titulo de — Extraordina-
hum
ria Ministerial de Buenos-Ayres, ¦— que contem o annuncio, que o Governo daquellas
Províncias faz aos Póvos, que lhe estão sujeitos, do Armistício, que se tinha ajustado
entre S. A. R., O Príncipe Regente Nosso Senhor, e o mencionado Governo, estabe-

lecendo áquella Negociação principios pouco decorosos á Soberania, e Independencia


de S. A. R., e â energia, e valor das Suas Tropas : Somos auctorizados Oficialmente
a desmentir semelhante annuncio na parte, que diz respeito a ser S. A. R. quem Soli-
se prestou unicamente o Mesmo Senhor,
citasse o Armistício, quando a esta medida
adherir ás beneficas vistas, e dezejos manifestados pelo Seu Grande Alliado
por
S. M. B., facilitando quanto estava parte de S. A- R. o feliz resultado do empenho,
da
em que se acha aquelle Monarcha de conseguir pela Sua Mediação a dezejada Con-
ciliação. e tranqüilidade das Provincias do Rio da Prata e poupando com a suspen-
Negócio) aquella effusão
são de hostilidades {em quanto se tractava de tão importante
de Sangue, a repugnão os conhecidos Sentimentos de Humanidade de S. A. R. .
que
Acerca desse de São Leopoldo,
armistício Annaes daescreveu o Visconde
"Tive
Província de São Pedro, ps. 302, nota, Paris, 1839 : de pessoa fidedigna, que
mais o magoárão durante sua
ouvira a El-Rei D. João. que os dois successos. que
T5. Pedro Car-
residencia no Rio de Janeiro, forão a morte de seu sobrinho o Infante
los, e esse desaíroso armistício."
—103 —

Fico entregue das Cartas e Estampas : estas forão logo

entregues a S. A. R, mão do Visconde de.V.a N.a ; a


por

Carta Egidio foi mim logo entregue : e remetto


p.a José por

essas, V. M.0*5 terá a bondade de fazer entregar a q.m per-


q.

tencem.

O Tio Conego me remetteo húa Carta Araújo, cujo


p.a

trabalho ficou frustrado, elle me dar attenção. Sinto


por pouca

bem este acontecimento, esperava delle algúa couza ; e


por q.

agora não seria máo fazer-se 2.a tentativa com 2.a Carta : eu

não digo isto ao Tio, não incommodar e affligir.mais ;


pelo

o Conde de Aguiar, de dependemos em todas as


porem p.a q.m

nossas não tenho ninguém. Monsenhor Miranda


pertensões,

maindai-o á fava, he o sempre foi, e aqui he bem co-


por q. q.

nhecicjo causa das P. . . do Comboy do Porto, suas visi-


por

nhas. Todos os dias se espera aqui o Conde do Funchal,


q.

dizem vem com influencias ínglezas, e traz comsigo


grandes

hum novo Plano de Finanças, couza estupenda a regene-


p.a

ração deste Erário. Quanto a mim, digo Deos o affaste


q.

daqui este de tempos, frase antiga) ; e se for


par (na preciso,

direi a razão. Marcos Antonio Portugal está feito hum Lord

com fumos mui subidos. Por certa Ária, elle compoz,


q. p.a

cantarem trez Fidalgas em dia d'annos de outra, fez-lhe o Con-

selh.ro de Azevedo hú magnífico con-


Joaq.m José presente, q.

sistio em 12 dúzias de de vinho de Champagne


garrafas (cada

do valor de 2$800 r.s), e 12 dúzias d.as de vinho do


garrafa

Porto. Elle ser Commendador, e argumenta com


já quer
Franzini, e Monteiro da Rocha. O Medico Vieira
José per-
tende ser Barão. Queira recommendar-me a todos de casa

sem excepção, e visinhança, e aos mais Amigos, nos honrão


q.
e estimão ; e espero o favor da sua benção e da Mãy ; por
sou
q.

De V. M.ce

Filho obd.te e obdg,mo C.

Luiz dos S.108 Marrocos


Joaquim

P. S. Fico sciente dos apontamentos de interesses, V.


q.
M.ce me remette, e he bom venhão os e com
q. papeis precisos
clareza, não haver aqui duvida. Deos abençoe as nossas
p.a

! Sempre devo advertir se deve fugir a


pertensões q. gravar-
se a Fazenda R. circunstancia : cousa, de o
por qualq*r q.
Conde de Aguiar zanga immenso.
—104 —

CARTA N.° 31 !

Rio de 14
Janeiro

de Outubro de 1812.

Meu Pay e S.r do C. Na duvida de


prezadissimo q.

ámanhã saia Navio esse aproveito a occasião


para porto, para

saber da saúde de V. M.ce e da Mãy, Mana, Tia, a me


quem

fará o obséquio de me recommendar : eu vivo sem novid.e, ex-

cepto da cabeça continua no flagello do costume, e agora


que
mais mortificado ter o meu Preto mui doente a os
por purgar
humores, trouxe de Cabinda, o a todos succe-
péssimos q. q.
de : se elle me morre, faz-me falta auxilio sua
pelo grd.e q. por
habilidade eu tinha, alem da não será tão
perda pecuníaria, q.

pequena.

Hontem 11 horas da manhã faleceo Melitão


pelas José
Alvares da Silva, de húa febre maligna tão forte, o matou
q.
em 9 dias ; e hontem mesmo 8 horas da noute foi sepul-
pelas
tado na Freguezia de N. S.ra da Candelaria, fazendo-se-lhe

hü magnífico enterro, e estrondo com foi condu-


pela pompa q.
zido á Igreja e mais ceremonias relativas a esse acto : a cor-

rupção foi expontânea no cadaver exhalava hum fétido rn-


q.
supportavel. A sua casa ficou tão rica, e recheada de
pre-
ciosides, e a todos faz admiração ; alem
jóias prendas, q. pois
de immensas outras cousas se nota hum apparelho de chá mui

copioso e todo de ouro macisso ; nestes termos não


provoca
m.t0 á compaixão a sorte da Viuva D. Anna Miquelini, antes

alguns lhe dão novo. Deos a Melitão todo o


já par perdoe
mal, nos fez, e nos ajude agora nas nossas Por
q. pertensões.
ora não se sabe de certo irá a Off.aI Maior, huns dizem
q.m q.

João Alvares Varejão, antigo favorito do C. de Aguiar, e

outros Egidio Alvares de Alm.da, o eu não creio


q. José q. por
ser inferior Emprego ao de Conselheiro da Fazenda. O Ro-

mão tem cócegas : Abrenuntio I

Tive o de dar os a de Aze-


gosto parabéns JoaquimJosé
vedo, nova mercê, S. A. R. acaba de lhe conferir, com
pela q.
o Titulo de Barão do Rio Secco, cuja elle ha muito
graça es-
— 105 —

e todos lhe desejavão : em algüas casas houverão Ju-


perava,

minadas benefícios, a a tantos elle faz, ajudando e


pelos q.

soccorrendo. Eu lhe sou muito obrigado, ainda q. me


pois

não tem sido valer-me delle, trata-me com todo o agra-


preciso

do e acolhimento, offerecendo-se eu necessitar.


paoq.

Estamos mui anciosos chegada do Brigue Lebre,


pela

segundo dizem, traz os detalhes da acção de 22 tão


que, glo-

riosa as nossas armas : creio haverá Função e


pa q. pública

luminarias. Pelas folhas Inglezas temos tido noticias mui

importantes e da maior satisfação, as se forem verda-


quaes

deiras, hão de contribuir m.to a favor da nossa causa. A nossa

contenda no Sul da America está em silencio ; e creio se


q.

espera occasião opportuna se lhe descarregar golpe


pa pezado

sobre os revoltosos, e cortar de húa vez a cabeça á hydra do

Bonapartismo. Temos a satisfação de não havermos errado

nos nossos segundo eu vejo das Folhas de Monte-


planos,

Video e Buenos Ayres, e o a todos he


q. patente.

Não tenho ha muito recebido Cartas de Pereira, nem

noticias a respeito de transportar-se esta Corte, o


querer p.a

eu estimaria elle não fizesse, lhe não convir, e


q. q. por pelo

desejo tenho de affastar todos os amigos de semelhante


q.
loucura ; e isso muito o Aguilar se tenha des-
por gostarei q.

vanecido dessas ideas, vinha aqui ser desgraçado.


por q.

Em húa antecedente escrevi a V. M.ce remettendo-lhe

húa Procuração cobrar os vencidos e se ven-


pa poder juros q.

cerem, de 11 mil cruzados, húa S.ra chamada Anna Joaq.na


q.
Rosa, e . aqui me tem no Convento de Bellem e no da
q pedio,

Penna, dos Frades : e ao m.mo tempo enviei adjun-


Jeronimos

tas Cartas V. M.0*5 se haver com clareza com hum


para poder

tratante de hum Procurador a d.a S.ra tinha ahi, e lhe


q. q.

não deo contas do seu dinheiro. Esta Velha constituiu-me

seu Testamenteiro, e he m.to minha affeiçoada, deixando-me

bom legado, e a V. M.06 outro não menor : eu lhe tenho feito

a boca doce, como desejão as Velhas, só com o desejo de ser

util á nossa Casa; não ter herdeiros. Nestes termos


por
espero V. M.ce em limpos a traficancia do d.°
q. ponha pratos

Procurador Anselmo, Cantor da Patriarcal, e fique de


Joaq.m

convenção com o Abb.e dos a recepção dos


Jeronimos para juros,
remettendo aqui em Letras, ou do melhor modo, os dinhei-
pa
ros, for recebendo ; he o a Velha dezeja, e appe-
q. por q. q.'
tece : esta creança tem 79 annos, e está entrevada.
quasi
— 106 —

Torno a o favor de me recommeíidar á Mãy,


pedir-lhe q.

espero se lembre de mim com a sua benção ; a Tia, a Mana,

e a Ignez se certifiquem da ma amizade, e da ma zanga,


por

estar tão longe : e a V. M.ce rógo me dê o complem.10 dos seus

contínuos favores com a sua benção; sou


por q.

De V. M.ce

Filho obd.e e obg.mo C.

Luiz dos S.tos Marrocos


Joaq.m

P. S.

Remetto as relações dos

Despachos do dia 12.

CARTA N.° 32

Rio de 8 de
Janeiro

Novembro de 1812.

Meu Pay e S.r do meu C. A noticia de


prezadissimo

V. M.ce, tive o de receber ; foi com data de 27 de


q. gosto

á respondi logo Bergantim S.ta Anna ; porem


Junho, qual pelo

foi tudo frustrado desgraçada do d° Bergantim,


pela perda

como V. M.ce verá da Gazeta inclusa : agora tórno a respon-

der á m.ma sua Carta, visto todas as eu re-


perderem-se q.

mettia. Pelo Brigue Lebre, ultimamente aqui chegado, não

recebi Carta alguma de V. M.ce, ainda o Compadre Simões


q.

me diz em hüa V. M.ce me escrevera, e daqui concluo


q. q.

se na Secretaria ; tórno a me não


perdera pelo q. pedir-lhe

mande Cartas Sacco de Secretaria, ambos


pelo por q. pade-

cemos detrimento, e venhão todas Correio Geral, seja


pelo

for a sua : Derão-se agora as


qual grandeza provid.aB pa q.

Cartas vão o ao Correio serem


particulares pagar porte p"

entregues.

Estou com summo cuidado na saúde de V. M.ce e na da

Mãy e mais'família ; e Deos dilatar-lhe os seus dias


queira

eu ter o de chegar á sua e da sua com-


pa gosto presença gozar

: creio se vai approximando o desejado instante


panhia q.
—107 —

da nossa restituição, e com fundamentos me attrevo


grandes

a communicar-lhe esta noticia, não alongar-me a dizer


podendo

os serão manifestos fôr occasião compe-


porquês, q. quando

tente. Não expressar-lhe a ancia, de me vejo


posso q. pos-

suido, de me lançar aos mares, chegar a esse tão


para porto

desejado : me avisto a formosa barra de Lisboa,


já parece q.

e chego a distinguir montões de vultos no alto do Mochão da

Saudade, e entre tanta chego a divisar a sua Pessoa no


gente

meio da nossa familia : estas considerações occupão sempre

a ma fantasia, e até dormindo, me não deixão.

He aqui bem manifesta a escassez dos nas


pagamentos

differentes Repartições, e não menos a irregularid.e com


q.

elles ahi se : aqui succede com differença o


praticão pouca

mesmo ; e se este ultimo foi necessário


para pagar quartel,

o Barão do Rio Secco adiantasse os dinheiros


q. precisos.

Os Planos de Manoel não tiverão até hoje acceitação,


Jacinto

o do Targini, ou Barão de S. Lourenço, he


por q. partido

muito e : mas espero Deos limite


grande poderoso q. ponha

a esta desordem, satisfazendo os nossos desejos.

Com a morte de Melitão Alvares da Silva


José persuado-

me virão a terminar em os nossos incommodos ;


q. parte por

foi ao seu Lugar na Secretaria o Official


q. promovido José

Carneiro de Campos, a eu fui logo dar os


Joaq.m q.m para-

bens, e achei hum Sugeito m.tp agradavel, tanto ou mais o


q.

Brito : no meio da conversação, fallou-se na sua Pessoa, e

elle me disse tinha ideas m.to vantajosas a seu respeito desde


q.

o tempo, em regia a Cadeira de Filosofia, e tinha dado


q. q.

m.tos discípulos, homens de m.to respeito em saber.


promptos

Também me foi necessário faliar ao Conde de Aguiar sobre

objeCto á m.a Commissão e tive a for-


pertencente particular,

tuna de ser introduzido ao seu Gabinete ; e espaço de


pelo

meia hora, ahi me demorei, tive de convencer a dispo-


q. geito

lo a nosso favor ; e então conheci era Melitão a origem de


q.

todo o máo conceito achei ao Conde de


público, por q. gênio

mais macio, do eu suppunha, e só lhe achei húa cabeça de


q.

f^rro, isto he, difficil Como eu tenha occasião


penetração.

de o dispor mais, assim como ao Campos, tenho resolvido re-

novar o requerimento o Habito do Tio Conego, me sahio


pa q.

escusado no tempo de Melitão, e também tomar a res-


parecer

da
peito Jubilação.
— 108 —

O Dezembargador Pitaluga ficou com o Officio


grande
de Escrivão das Cosinhas, foi muitos figu-
q. pertendido por
rões mais no feitio, no ; e ha algúa mode-
q. pezo parece q.
ração no usofructo, ter sobido esse a hum excesso incri-
por
vel no tempo de Melitão ; mas disto não tenho certeza,
por
ser alheio de meu Officio.

Pode V. M.ce segurar ao Bartolini a banquinha de seu


q.
Amigo Abbiati se acha ha tempos em de Capranica,
pòder pa
onde a remetteo o P.® Mazzoni; não ha a
João pois quem
compre avultado Este P.e conhece a V. M.06
pelo preço.

muito bem, e foi seu Condiscipulo na Aula do Sales, onde me

diz V. M.00 era o Decurião ; e me conta varias ane-


q. geral
cdotas da sua rapaziada : elle he m.10 meu Amigo e todos

os dias soffrivelmente, e até a bisca em


palestramos jogamos
casa de Feliciano, de elle he visinho e me tem com-
q.m ; já

prado algfúas couzas a meu uso, eu não entender disso.


por
Elle he muito da S.ra Infanta D. Marianna de
querido q.m
he Confessor, assim como he respeitado de todos os o
q.
conhecem, sua e virtudes.
por qualidade

Forão entregues as estampinhas do Beresford a S. A. R.

por mão do S.r Visconde de V.a Nova da Rainha, e estimarei

q. venhão cedo as aqui fazem estima das


grandes, porq. grd.6
Obras de Bartolozzi, e isso valem
por grande preço as q.
eille fez de Wellesley.

Fico sciente de tudo o V. M/10 me diz nos


q. seus apon-

tamentos a respeito de interesses nossos, e farei tudo o


q.
V. M.oe me ordenar ; e como eu
presentemente tenho os bons

princípios, q. acima apontei, Deos o


permitia promovér-nos
nosso bem.

Aqui se cunharão na Casa da Moeda dous milhões em


cobre em moedas de 80 r.s, correm
q. já sem haver Alvará de

publicação : e também aqui chegou hüa Fragata Hespanhola


com hüa somma de duros
grande pezos com destino a Monte-
Video ; fez aqui a venda
porem dos d.08 a 820 r.s a dous
pezos
Negociantes, ao depois os metterão
q. no Erário
pelo preço
de 830 r.s. Estes cunhão-se
pezos alli a frio, e sahem em
moeda nossa valor de 960 r.s
pelo segundo a Ley : a semana

passada jã entrarão a Moeda 80:000


pa pezos pa esse fim.
Dizem a da Fragata trazia dous
q. milhões e meio de
pezos
ou cinco dos nossos Cruzados. Eu muito a Fazenda
gosto q.
— 109 —

Real tenha este interesse; he fama S. A. R. man-


pois q. q.

dára suspender o cunho do dinheiro em ouro : e ignoro as

razões.

Feliciano agora menos mal; alem do seu


passa por q,

Ordenado da Livraria, tem mais o de 640 r.® coad-


jornal por

as Obras da mesma Livraria, como Official de Car-


juvar
: o P.e Damazo foi concorreo
pinteiro Joaquim quem para q.

o Barão do Rio Secco lhe este interesse.


promovesse

Lopes aqui anda mettido em trabalhos;


José por q.

succedeo-lhe hum dia destes recolher-se a casa fóra do cos-

tume, obrigado dores de cabeça, e achar certo Militar


por

mettido na cama com a mulher : houve desordem, e


grande

elle intenta a mulher em hum Reco-


parece-me q. pespegar

lhimento, e o tal Militar. Agóra me recordo do


prender q.

V. M.0* me disse em hüa sua acerca da socied.® delia com os

Garrochos ôc. õc. Estamos aqui no tempo de maior calor,


q.

me tem incommodado em excesso, em razão de me sobrevir

hüa desynteria há 9 dias, me tem debilitado muito : tenho


q.

tomado alguns remedios, e hoje de tarde espero sahir


pela

Ia vez O meu Preto restabeleceo-se inteiramente, o me


q.

alegra muito, me fazia falta.


por q. já

Aqui houverão luminarias nos dias 3, 4, e 5 deste mez,

com Te Deum no Io dia na Capella R., Beija Mão de


para-

bens no 2o, e arrumação de Tropas no 3o com as Salvas do

costume. O S.r Infante D. Sebastião também deo Beija-

Mão no dia do Seu Anno, e com o dedinho index erguido mos-

trava a todos fazia só hum anno. Queira Deos as


q. q.
boas noticias continuem a vir sem interrupção.

Nada mais tenho ora a dizer, senão rogar-lhe


por q.
me deite a sua benção, e o m.mo favor espero da Mãy, a
q.m
me fará m.10 e m.10 recomendado : e não menos á Mana, Tia,

e Ignez, affirmando-lhes os meus e inexplicáveis dese-


gxd.es
de os no Caes de Bellem. Sou com todo o respeito
jos pôr pés

De V. M.M

Filho m.to obed.e e obg.°

Luiz dos S.tos Marrocos


Joaq.m
P. S.

Saud.®3 a todos os nossos

Visinhos e Amigos.
— 110 —

margem desta carta) P. S. Remetto esse Alvará de novas


Imposições a beneficio do Banco do

Brazil (18).

CARTA N.° 33

Rio de 17
Janeiro

de Novembro de 1812.

Meu Pay e S.r do C. Pelo Navio Emilia


prezadissimo

escrevi a V. M.ce ultimamente, repetindo a resposta, lhe


q.

havia enviado Brigue S.ta Anna, o desgraçadamente


pelo qual

se conforme a supposição vulgar : e como agora


perdeo,

recebo a noticia de ámanhã o Navio S.10 Antonio


q. parte

Delfim, não deixo de aproveitar a occasião, fazendo esta Carta

a dar-lhe noticias minhas e a supplicar-lhe as suas e de nossa

Casa ; Brigue Lisboa fiquei sem Carta de V. M.0®,


pois pelo

o me causou admiração. Estimo muito V. M.0®


q. grande q.

tenha boa saúde, e a Mãy, Mana, Tia, Ignéz, a


gozado q.m

igualmente me offereço m.to affectuoso ; eu tenho soffrido

incommodos com o calor, vai agora apertando com


grd.®3 q.

força ; não obstantes as chuvas e trovoadas ; em hum destes

dias cahio hum raio no Hiate de S. A. R., o Monte de Ouro,

mas não causou damno ; e aqui são m.to freqüentes e fáceis

em cahir na terra, serem m.to baixas as trovoadas, e os


por

ares m.ito crassos. Tem-se espalhado aqui a noticia de


q.

cedo vamos Lisboa mas este cedo não ser menos


para pode
daqui a dous annos : algúas embarcações estão-se ataman-
q.

(18) O alvará de 20 de Outubro de 1812, criando novas imposições era be-


nefício do Banco do Brasil, ocorre em José Paulo de Figueiroa Nabuco Araújo,
Legislação Brasileira, tomo II, ps. 46/48. Os impostos eram os seguintes: por
sege de quatro rodas. 12$800; por sege de duas rodas, 10$000; por loja de merca-
dorias. armazéns, lojas de oficios, e onde se vendam obras feitas, 12$800; navios
de três mastros, 12$800; de dois mastros. 9$600; por embarcação de um mastro de
barra fora, 6$400; por outras de lote menor, exceto as de pescaria, 4$000 ; por
compras de navios, ou embarcações quaisquer, 5 %. Os lançamentos eram feitos

anualmente.
— 111 —

cando, navegar a Bahia, a fim de se aprompta-


para poderem pa

rem ; entre ellas a Fragata Carlota. Estas vozes vulgares tem

seus fundamentos, mas sabe a certeza deste destino, cala-


q.m

se; S. A. R, mesmo ouve se as cabeças com os


q. quebrão

cálculos, se formão, e deixa-os nos seus desatinos : entre-


q.

tanto assegurar a V. M.ce o Barão do Rio Secco


posso q.

está edificando hum soberbo no Largo dos Siganos,


palacio

onde he o Pelourinho ; e outras mais vão creando


pessoas

raizes m.to fortes neste Paiz.

Qualquer dia destes sahirá Lisboa o Brigue Mercúrio,


pa

no vai o D. Francisco de Mello, alcunha o


qual grande por

Pilatos, dahi a Ilha Terceira, como Degredo


q. passará pa

honroso, vicio de suas bebedeiras, até na


pelo publico pre-

sença de S. A. R., tendo sido aqui varias vezes reprehendi-

do e preso.

Chegou aqui a noticia de haver sido desfeita a de


Junta

Buenos Ayres, e assassinados alguns Membros


pela populaça

armada : consta a nossa Tropa se retirára as nossas


q. pa

fronteiras, tomando o da Defensiva, fazendo-se ahi


partido

fortes.

A S.ra Princeza D. Carlota ainda existe no Sitio de Bo-

tafogo com Suas Filhas, menos a S.ra D. Maria Thereza ; e

não se sabe até alli existirá. S. A. R. vai


quando parece q.

huns dias á Ilha do Governador ou a S.ta Cruz, e


passar por

esta occasião faço tenção de ir alli beijar-Lhe a Mão, e ver

Ia vez esses Sitios.


pela

Esta semana vão a supplicio hüs Pretos criminosos,


q.

forão condemna.dos a ultima, crimes


pena por grandes q.

aqui tem comettido, até com os Inglezes : e este


procedimento

de castigo vem a ser m;'to necessário desaforos,


pelos q. pra-

ticão até com seus Senhores.

Nada mais ora se me offerece dizer a V. M.ce se


por

não o favor da sua benção, e da Mãy, e recommen-


pedir-lhe

dando-me, como devo, m.to saudoso. Sou com todo o respeito

De V. M.ce

Filho m.to obed.e e obg.do

Luiz dos S.tos Marrocos


Joaquim
— 112 —

CARTA N.° 34

Rio de 21 de
Jan.To

Novembro de 1812.

Meu Pay e S.r de toda a m.a vener.am e


prezadissimo

resp.to. A ultima tive o de dirigir a V. M.ce, alem


q. gosto

de ser m.|t0 breve, fóra do meu costume, não foi no Navio

S.*0 Antonio Delfim, como nella lhe dizia, elle an-


por partir

tecipadamente ao eu suppunha ; e isso ficou o


q. por p.a
Brigue Mercúrio, lá vai. Agora faço esta o Brigue
q, já p.a

Lebre, o dizem sahe ámanhã, carregado de trigo, e


qual q.

acompanhando mais 3 Navios, levão outros mantimentos


q.
o nosso Exercito na Península ; dizem he Donativo de
p.a q.
S. A. R., e no Rio Grande se está carregando mais trigo
que

o mesmo fim. Estamos muito anciosos vinda do


p.a pela
Brigue Daniel, ha muito se espera, e tanto tarda ; a
q. q.
fim de nos adiantar em mais algüas noticias das nossas van-

tagens contra os Francezes ; couza em a Provid.a claris-


q.
simam.'te nos mostra se desvéla em le-
quanto proteger-nos,
vantando o braço da Sua : todos aqui anhelão
já Justiça por
esse bem, espalhando-se a voz vulgar de no mez de
já q.
Março de 1813 está secretamente ajustada a primeira, par-
tida, ou, como outros, a vanguarda do Exercito refugiado

no Brazil. Seja como for ; o eu affirmar he


q. posso q.
está breve a nossa sahida deste Continente ; e accrescen-
p.a

tão muitos o magnífico de huma Esquadra Ingleza.


preparo

Deos approximar esse instante nossa maior sa-


queira já p.a

tisfação e descanço, me não terei em m.a vida outro


q. parece

maior. Eu estou tão escandalizado do Paiz, delle nada


q.

quero, e daqui sahir, não me esquecerei de limpar as


q.do

botas á borda do Cáes, não levar o minimo vestígio da


p.a
terra, tão benefica, nem aos seus : e eu com a maior
q. perdoa

parte dos lhe com usura os bons


queixosos pagaremos grande
effeitos de sua condição.

Meu Pay; se trata das más do


quando qualidades
Brazil, he mim matéria vasta em ódio e zanga, sahindo
p.a
—113 —

fóra dos limites da ; e até dormindo


prudência julgo q. pra-

contra elle. Podia o S.r D. Luiz da Cunha, se fosse


guejo

vivo, da sua combinação sobre o estabeleci-


jactar-se política

mento da nossa Monarquia no centro do Brazil (19); por q.

errou : o Ministro de Estado, Monsieur Pitt,


puerilm.te grd.e

se existisse, cára não faria, vendo em execução o seu


q. posto

Plano moderno sobre o Comercio do Brazil (20), e achando

a Nação Britanica he a experimentou vanta-


q. primeira, q.

negativas com este Paiz, lhe fez dar á costa


gens q. grandes

Casas de Negocio, em de suas delicadezas !


prêmio políticas

Deixando estas cousas melhor tempo e melhor vagar, vou


p.a

a tratar do mim import.e he a sua saúde e a da


ponto p.a q.

nossa familia : a falta, tive de Cartas de V. M.0®


q. pela

chegada do Brigue Lebre, ultimo até hoje, me deixou em

extrema suspensão ; considerando hüa o


por q., por parte

melindre da nossa existencia, e outra ser motivo


por parte

da sahida do tal Brigue de tanta consideração, ninguém


q.

deixou certam.te de communicar aos seus Amigos e Parentes-

as importantes noticias, elle trouxe ; isto foi bastante e.até


q.

m.mo demasiado na m.a fantasia cousas sinistras,


p.a produzir

me inquietão e : e isso rógo a V. M.ce,


q. perturbão por

como em outras tenho feito, considerando a se-


já q. pouca

de e do m.mo Sacco da Se-


gurança portadores particulares,

cretaria de Estado m.tas mãos, alli mexem, e dando-


pelas q.

se ultimamente nenhüa Carta esca-


providencias p.a q. possa

ao do será V. M.ce mande tudo


par pagamento porte, justo q.

Correio não attendendo a volume, eu aqui


pelo geral, por q.

me saberei haver.

(19) Na Instracção a Marco Antônio de Azevedo Coutinho para quando


"Considerei
/osse ministco de Estado, já citada, D. Luiz da Cunha escreveu : talvez
visionariamente que S. M. se achava na idade de ver potentissimo e bem povoado
aquelle immenso continente ,do Brasil ; e nelle tomasse o titulo de imperador do Occi-
dente : que viesse estabelecer a sua corte levando comsigo todas as pessoas que de
ambos os sexos o quizessem acompanhar, que não seriam poucas, com infinitos extran-

geiros ; e na minha opinião o lugar mais proprio da sua residencia seria a cidade do
de — 13.
Rio Janeiro' . Conf. Varnhagen, Historia Geral do Brasil, tomo IV, ps-

(20) Sobre o discurso proferido por Pitt, ou a ele atribuído, onde vem exposto
"Colocado
o plano da Inglaterra : o trono de Portugal na América, então a Grã-

Bretanha, ao seu antigo aliado, aumentaria o Império" —. ver a erudita disser-


junta „
tação de Tobias Monteiro, em A Elaboração da Independencia, ps. 67/69, Rio, 1927.
Santos Marrocos devia conhecer esse discurso por uma publicação feita em Lisboa,

em 1809, onde vem acompanhado de um retrato de Pitt.


— 114 —

Cada vez sou mais obrigado ao Ex.mo S.r Visconde de

V.a Nova da Rainha ; he decididam.te meu Protector


pois q.

e Amigo ; valendo-me dos revezes de alguns zoilos, me


q.

attirão fortemente ; e fazendo-me triunfar delles, do ainda


q.

esta Semana recebi hüa Rogo a V. M.ce o favor de


prova.

manifestar este meu tenue mas sincero reconhecimento,


q.do

lhe seja ao Ex.mo S.r Visconde de Santarém e ao


possível,

Ex.mo S.r Arcebispo ; só das Suas recommendações


por q.

esta m.a ventura aílias nem ao menos o meu <


poderia provir ;

nome seria da attenção do d.° Ex.mo S.r Visconde. Lembra-

me escrever directamente a estes Ex.moS S.1*® mostrando-lhes

as vantagens, tenho recebido, das suas informações ; mas


q.

será talvez ousadia distrahi-los com as minhas letras,


querer

q.do eu estou certo V. M.ce dará vocalm.1* mais força e


q.

energia a esta m.a confição, do o executaria a


q. perturbação

da m.a Do mesmo modo me fará a mercê de reiterar


penna.

os meus agradecimentos ao S.r Lour.Ç0 de Andr.e


João pelos

seus bons-Officios a meu resp.to com o S.r Barão do Rio Secco,

de tenho recebido mil obséquios de offerecimentos a tudo


q.m

eu e dizendo-me muitas vezes me estima


q. precisar, q.

muito, o assas me lisongea.


q.

Recommendo-me mui respeitosam.te ao S/ D.or Farinha,

de ha m.t0 não tenho noticias; e ouvi dizer aqui


quem q.

existe hum irmão do seu Criado aqui não


Jacinto, pessoa q.

conheço : da m.ma sorte ao 111.mo Monsenhor Garcia, affir-

mando-lhe o seu Amigo, o P.e Eloy, ha dias


q. grd.® José pa-

dece suas de cabeça ; mas não nunca o


perturbações perde

fogo da sua : eu me encontro com elle todos os dias


jovialid.e

de manhã no Paço, e ambos discorremos acerca da nossa

futura viagem, fazendo elle tenção de dançar no Cáes de

Bellem, ahi chegar.


q.do

Igualmente me recommendo ao S.r P.e Francisco


José

Carreira, Antonio Per.a de Fig.do se deixou de escrever-


q. já
me, ao S.r Antonio Bartolini, e mais da nossa ami-
pessoas

zade, e conhecimento ; não esquecendo dos nossos visinhos,

e em especial da S.ra Thereza de ainda não rçcebi res-


q.m
a hüa Carta, daqui lhe escrevi, e tanto desejava :
posta q. q.
e por me tem faltado, lhe roguei a de
q. praga q. perdesse
sempre no dos tres settes.
jogo
— —
115

V. M.ce ter-me sempre na sua lembrança e ami-


Queira

zade, felicitandome com a sua benção; e este mesmo


peço

favor á Mãy, desejando-lhes saúde m.to : assim como


perfeita

á Mana, Tia e Ignez.

Sou com o maior respeito

De V. M.ce

Filho m.t0 obed.e e obgd.°

Luiz dos S.tos Marrocos


Joaquim

CARTA N.° 35

Rio de 5 de
Jan.ro

Dez.bro de 1812.

Meu Pay e S.r do C. A 2 deste mez chegou aqui o

Navio Conde das Galveas, e a 3 o Bergantim Thetis : nem

hum nem outro me trouxe Cartas de V. M.ce assim na mala

do Correio Geral como na da Secretaria e Particular, e


por

consequencia ficárão em e com todo o vigor os meus cuida-


dos e afflicções. Não attribuir esta omissão a falta


posso

de saúde ; nesse caso suppriria o seu lugar a Manna,


por q.

a tanto tenho recommendado me escreva, ou have-


quem que

ria outro meio, me socegasse ; em segundo lugar o


qualq.r q.

Comp.e Simões me dá na sua Carta recomendações da Fa~

milia e nada mais ; tive também outrem, a noti-


por q.m pedi,

cias de nossa Casa, dadas Organista Figueiredo, e com-


pelo

binão com as do Compadre Simões ; Manoel Martins Band.ra

* daqui foi com destino a Universid.e, me escreve, certi-


q. p.a

ficando-me da boa saúde de V. M.ce, e ambos com o


q.

Secret.0 do S.10 Officio Cintra a divertir-se. No


partião p.a

meio destes princípios como me haver, estando de


poderei

todo abandonado V. M.0* e todos de Casa ? Os


por por

Navios vem e tem vindo successivam.te com Cartas e noti-

cias todos: eu, em todos os Navios escrevo sem


para q.

termo nem limite, recebo muitas Cartas dahi, mas nenhüa


— 116 —

de V. M.ce nem de Casa, ha 4 ou 5 Navios. Queira V. M.ce

fazer hüa séria reflexão sobre os motivos, tenho lhe


que p.a

enviar estas razões, e determinar como for sua vontade.

Rógo a V. M.ce o favor de me recomendar a todos de

Casa, affirmando-lhes em nada avalio o seu cuidado a


q.

meu respeito : e com a benção de V. M.ce e da Mãy


protesto

ser sempre com todo o respeito

De V. M.ce

Filho M.to aff.° e obd.e C.

Luiz dos S.tos Marrocos


Joaq.m

P. S.

A da m.a cabeça
perturbação

me de ser mais extenso :


priva

nem esta Carta deve tractar de

outro objecto.

CARTA N.° 36

Rio de 13 de
Jan.ro

Dezembro de 1812.

Meu Pay e S.r de todo o meu C. Afflicto


prezadissimo

e angustiado tórno a na de algum modo des-


pegar penna p.a

fazer o está feito. Em 5 do mez escrevi hüa


q. já presente

a V. M.ce cheio de hum impulso de desgosto, não achar


por

Cartas de V. M.ce em dous Navios ultimam.10 aqui chegados.

Conde das Galveas e Thetis, e era tal a m.a situação não


q.

sei agora o escrevi, mas sei forão asneiras. Desde


q. q.

então começou a m.a cabeça a de modo, no


perturbar-se q.
dia 7 de tarde tive duas vertigens mui e fiquei de
grandes,

cama como doudo, não comendo e em afflicção, até


grande

no dia 11 fui obrigado a vomitar-me, cujo vomitorio me


q.

foi m.to aliviando-me estomago e cabeça da bilis


proveitoso,

em avultada me incommodava. Hoje, sahi á


q. porção q.

Missa e ao mesmo tempo beijar a Mão de S. A. R*, recebi.


—117 —

depois de tantos trabalhos, hüa Carta de V. M.ce com data

de 14 de Setembro, mão do Varredor do Quarto de S.


por

A. R., o a tinha na algibeira havia 3 dias, e a recebera


qual já
do Ordenança da Secretaria de Estado dos Negocios da

G.ra, andava toda a Cid.e a sem me


q. por procurar-me,

achar. Que successos ! De não se arranjava hum


proposito

desencontro semelhante.

Depois de ficar sciente do conteúdo da Carta de V. M.ce,

faço esta, ainda não serve de resposta, mas he de


q. preven-

ção ante omnia a retractar-me de tudo o escrevi na Carta


q.
me desculpe, como espero ; não he m.a tenção affronta-lo,
por q.
nem desobedecer-lhe em couza algüa, antes mostrar to-
por
dos os modos o extremo de amor e respeito, lhe he devido :
q.

e o naquelle momento escrevi V. M.ce considera-lo


que queira
como effeito de m.a cabeça esquentada e opprimida de sau-

dade falta de suas Cartas. Á Mãy envio a mesma


pela

supplica, tenho certo será bem ouvida assim como aos


q. por

mais, a offendi com falsas supposições, excepto a Manna,


q.m

não a desculpo nunca.


q.

Fez-me tal impressão o V. M.ce me diz a respeito do


q.
Heróe e Aristarco Luiz Fernandes, não
Joaquim q. pude
dispensar-me de dirigir-lhe a inclusa, V. M.00 com
q. julgará
foi escripta em dos seus ditos : rógo a V. M.00 .
q. gana paga

o favor, depois de a ver e fechar, ir lança-la no Correio


p.a
lhe ser entregue, ahi antes disso lhe a marca
pedindo ponhão
do Rio de elles lhe não a de Lisboa,
janeiro, p.a q, ponhão
como costumão ; tudo cautella.
p.a
O S.r Quiroga levará a sua remessa outra occasião
p.a
tenho contas com elle: e ora não mais.
por q. por posso

Queira recommendar-me m.to e m.to á Mãy, Mana, Tia

e Ignez ; assim como aós Vesinhos, amigos e conhecidos;

e V. M.ce me continue o favor da sua benção, assim como da

Mãy, desejando-lhes saúde muito : e sou com todo


perfeita
o respeito

De V. M.06

Filho affect.0 e obd.e C.

Luiz Joaq.m dos S.tos Marrocos

P. S.

Dou o Sentimento á S.ra Thereza e suas filhas morte


pela
do S.r Fran.co de Paula ; assim como o seu
parabém pelo
novo arranjo.
— 118 —

CARTA N.° 37

Rio de 13 de
Jan.ro

Dezembro de 1812.

S.r Luiz Fernandes.


Joaquim

Havendo escrito a V. M.ce em resposta á sua ultima, em

tractava de velhaco ao Sargento Mór Francisco de Paula


q.

Xavier de Bastos de hum Off.al da Secret.a Leonardo


(Primo

Gons.es Bastos) a eu tinha obtido a Mercê do Ha-


José q.m já

bito de Aviz, como em outra avisei ; e com tenção de continuar

os seus requerim.tos em tudo o mais, elle : larguei


q. pertendia

mão immediatam.16 dessas diligencias, logo soube das suas


q.

velhacarias, como V. M.00 se expressava. Agora acabo de re-

ceber hüa Carta de certo Militar de Campo Maior, nome


por

dos Santos, referindo-se a hum Negociante desta Praça,


José

me fornecer dos dinheiros necessários as despezas, a


p.a para

fim de conseguir-se a Mercê, Em lugar, a


que pede. primeiro

sua he tão ridícula, basta elle revestir-se do cara-


pertenção q.

cter de Delator, denunciando outros como crimi-


queixando-se

nosos, sem os crimes : causas desta não me


provar qualidade

a m.a honra abonar, nem ; me fica mal.


permitte proteger por q.

Em segundo lugar, na m.ma occasião recebi separadam.te noti-

cias de V. M.ce anda eu estou mal com meu


q. publicando q.

Pay, não ha entre nós correspondência ; eu devo a V.


pois q.

M.ce a m.a educação ; sou seu afilhado, o m.mo nome ; e


q. por

á sombra destas exigir certa da mão do


patranhas quantia Ça-

da Princeza, a titulo de Despezas do Despacho do d.°


pateiro

Militar. Nunca V. M.ce se valesse de meios tão


julguei q.

humildes arrogar a si valimentos e certa nas


p.a jurisdicção

m.mas acções ; devendo antes aqui tenho feito a


pensar q. q.to

favor do seu amigo Sargento Mór foi simples obséquio e


por

attenção ás suas rogativas; e consequencia de nenhum modo


por

devo consentir o meu nome e credito hajão de deslustrar-se,


q.

ou mera mordacidade, ou á m.a sombra se contra-


por por q.

ctem ajustes de interesses em consequencia das


pecuniários,
— 119 —

pertenções alcançadas. Eu me sinto offendido


gravemente
com semelhantes noticias, e V. M.ce desde co-
já perdeo p.a
migo aquella attenção, o nosso de affinidade e
q. parentesco

os seus annos me fazião tributar-lhe. Portanto advertir


queira
ao seu amigo de Campo Maior entregue o negocio, ven-
q. q.
tila, nas mãos de outro Procurador : e nenhum tenha a ousadia

de manchar o meu nome com sinistras ideas e oppostas á m.a

honra; aliás, saberei mostrar, ainda de longe, o ella he


q. q.
capaz de em sua defesa.
praticar
O Negociante, de acima fallei, e da d/' Carta,
q. portador
foi immediatam.^ despedido ; e o requerim.t0, há m.to existe
q.
na Secret.a de Estado, até hoje não tem merecido Despacho al-

gum. Sou

De V. M.ee

Sobr.0 Ven.or

Luiz Joaq.m dos S.tos Marrocos

CARTA N/> 38

Rio de 7 de
Jan.°

Janeiro de 1813.

Meu Pay e S.r do meu C. Tenho á vista


prezadissimo
duas Cartas de V. M.ce de 14 de Setembro e 16 de Outubro

ás ainda não respondi, ainda a l.a exis-


passados, quaes q. já
tia na minha mão, escrevi a minha ultima. Fico scien-
quando
te do contexto dellas, e em lugar devo a
primeiro prevenir
V. M.ce da miiíha retractação acerca de hüa antecedente mi-

nha foi escripta mais desesperação tino, cheia toda


q. por que
dei asneiras e não sei se de blasfêmias : a este respeito es-

crevi a V. M.Le me desculpasse, conhecendo a
pedindo-lhe
razão eu tinha ; e desde fico socegado da minha illusão.
q. já
Eu me muito feliz se as circunstancias
julgaria por permitis-
sem V. M.ce huns dias comigo nesta abo-
que podesse passar
mínavel terra ; e então V. M.ce veria e ouviria couzas de es-

e riso, e eu lhe communicaria outras de não menor ef-


panto
— 120 —

feito ; mas a Sorte estejamos distantes, e ainda


quer que q.

sendo concordes as opiniões, haja obstáculo de se communi-

carem certos casos e negocios. . .

Também me não admira existir ainda in statu sem


quo

ter até hoje interesse ou augmento novo ; vejo muitos


por q.

e ainda não fiz hum só requerimento para mim,


padecentes,

nem faço : de me distinguir da Corja Maçonica, e


prézo-me

não tenho receio sobre a minha conducta se a rigo-


q. proceda

rosissima Devassa, antes me daria mui satisfeito. A apa-


por

rinha de França, em V. M.ce me falia, não he objecto dos


que
meus desejos, antes devo assegurar a V. M.Le ora me
q. por

não convém semelhante ornato : cuidemos agora no util e


pro-

veitoso, e depois disto seguro, voltaremos a attenção o ap-


p.a

a fim de ficar a balança equilibrada ; alias esta 2.a


penso, parte,

vindo faria tropeçar a l.a Vive V. M.ce em hum en-


primeiro,

acerca da interrupção do meu exercício no Paço, attri-


gano

buindo essa intriga ao Pão de ló, Deos haja, este


q. quando

não teve nunca serviço no Paço, e era occupado na Secreta-

ria. Outro bixo mais temível foi o artífice da tramóia,


q. já

foi seguida de outra, como anunciei a V. M.ce, e estes


já por

dias espero 3.\ conheço estar a te-


primeiros q. principiada

cer-se ; mas lhe formei hum contra muro, me deixa zoin-


já q.

bar dos assaltos, á maneira do D. de Castro no


grande João

cerco de Diu. S. A. R. ordenou se me entregasse a chave


q.
da Sala dos Manuscriptos ; e assim ir a ella ha de
quem quizer
vir á bajulação : he como se ensinão estes tarecos.
primeiro

Reconheço-me obrigado aos elogios do P.e Baptista


João

Rodrigues Leitão e Manoel Martins Bandeira, sem terem mo-

tivos isso. Este rapaz escreveo-me de Lisboa com toda


para

a attenção, e eu lhe respondo Coimbra, onde creio elle


para q.
hoje existirá : seu Pay he Cerieiro, e tem na Loja outro filho

Joaquim Ignacio Moreira Dias, em V. M.ce me falia, e


q. q.
he amigo do Dez.or Bernardo, aqui me faz seus obse-
João

e cumprimentos : e V. M.ce livre-se de tomar amizade


quios

com o Irmão delle, chamado Antonio Moreira Dias, exísten-

te em Lisboa, causa da sua lingua. Conheço


por péssima
V. M.ce se terá consumido com o estado deplorável
quanto

de nossa Casa, não diminuindo de modo algum a lida, em


q.
vive ; ainda mesmo com o alcance de sua vista ; nas Cartas,

acompanhão a esta, manifesto o meu sentimento moti-


q. por
vo tão forte ; e V. M.ce me dará inteiro credito, tem larga
pois
—121 —

experiencia da minha efficacia em ser-lhe util. Deos


permitta

facilitar-me os meios, se me destinão, os farão


q. quaes parar

de nossos desgostos.
grande parte

Acceito com as recommendações de Louren-


prazer José

ço Peres, a agradar a V. M.ce, escrevo no


quem por presente

Navio contra o meu sistema de não escrever a me não


quem

escreve ; não tendo eu obrigação de escrever não


primeiro por

trazer delle incumbências algüas ; e em de capricho


pontos

sou muito teimoso.

A Pereira não escrevo agora, não exigir o negocio


por

tanta brevidade ; e não tenha medo do ille


que graculus, por

está no outro Mundo com satisfação de muitos : e a res-


q. já

do Almanack, aqui corre, e dizem as más linguas


peito já por
com muitas falhas e erros : também aqui chegarão im-
que

novas da Academia.
pressões

Fico certo de V. M.ce ter recebido a Carta e Papeis,


q.
lhe enviei mão do Varredor Antonio, V.
por José julgando
M.ce me havião esquecido os dizem respeito ao Sugeito
q. q.
de chapéo redondo branco á laia de : os d.°8 são
judeo papeis
de natureza tal, não sahir da minha mão, nem os
q. podem
confio de Correio ou de Quando a Pro-
pesoa particular.
videncia determinar eu me restitua a esse Paiz, analisa-
q.
remos com vagar, e entretanto ficão em arrecadação.

Vejo o V. M.ce me diz a respeito das Mercês de terras


q.
e trigos a Pedro de Alcantara, Porteiro da Secretaria, Bene-

ficiado Theotonio, e filhas do Cap.am Miguel Luiz : aqui


por
vejo eu ainda maiores abortos. Certo Clérigo de Barcellos,

rústico da e mais o maior lorpa trans-


gemma, grosseiro q.
montano, appareceo aqui com basofias de valentão, e
publi-
cando ter sido o maior do General Francez Loy-
perseguidor
som : disse huma vez a S. A. R. o se segue : Vossa Alteza
q.
conhece o Lazão 7 Pois eu1 e mais meu Irmão cegámo-lo ás

Isto he facto. Pedia o Titulo de Conde o


porretadas. para
Irmão com certos interesses mui avultados, e Commendas e
;

p.a elle dous Benefícios, apontava e o Priorado de Guima-


q.
rães : e com effeito o vejo Commendador de
já p.a principio
seus Despachos. O Conego de Braga, Gomes
José' Joaquim
da Silva e Mattos, da familia dos Bonitos, mui conhecido pela

profusão de dinheiros e tracto de moças, Com-


pelo pedia
mendas o Pay e cada hum de seus Irmãos, alcançou
p.a p.a
hum delles a Thesouraria Mór da d.a Sé, e a elle o vejo
p.a já
— 122 —

CommenâaâoT. Certo Negociante, da m.a amizade, Ca-


valheiro, anda requerendo ser Grão-Cruz da Ordem de

Christo, e aprompta 80:000$000 r.s. Á vista disto nada mais

me admirar.
pode

O requerimento o Habito do Tio Conego sahio Es-


para

cusado ; e eu em acho-lhe razão ; alem de se mos-


parte por q.

trar não era sua a Cadeira, occupava, não havia. Do-


q. q.

cumento algum de outros Serviços ou merecimentos, como

aconteceo com o P.e Baptista Rodrigues Leitão, me mu-


João q.

nia de metralha forte com duas bellas Attestações. Cuidão

muitas não ha mais se não fallar, sem se o


pessoas q. provar

se allega : com o tempo e verei se se faz o milagre.


q. geito

A respeito do requerimento de V. M.ce sobre a


Jubilação

nada se obter, a não ser Informação da o


pode por Junta, q.

nos não convém. Antes do dia 17 fallei nisso ao Conde de

Aguiar, está mais manso ; e elle me desenganou S. A. R.


q. q.

não fazia semelhante Mercê sem o da ; e argu-


parecer Junta

mentando-lhe eu com os Documentos, apresentava, respon-


q.

deo-me tinhão data muito antiga,' e desde então cá


q. q. para

haver circunstancias, obstassem, o só se resolveria


podião q. q.

com a d.a Informação : não entregar-lhe o requerimento,


quiz

ouvindo semelhante resposta. O mesmo Mons.or Miranda me

havia dito ha tempos sem a Informação nada se conseguia, e


q.

ella a acceitava, havia de recommenda-la ao Salter,


q. por q.

de era aqui Procurador : ao eu não annuir.


quem q. quiz

Parece-me será mais fácil conseguir-se o Privilegio


q. para

a impressão dos Livros Clássicos ; e V. M.ce me man-


quando

dar o requerimento, seja com todos os Papeis, faci-


q. possão

litar a d.a Graça : assim como me mande hua Nota do calculo

sobre a impressão da sua Obra nova, terá, è


que grandeza q.

despeza montará, mais ou menos ; tenho de


pouco pois gosto

haver essa noticia. Remetto mais essa Carta o nosso A mi-


p.a
Lour.co recomendação, V. M.ce me faz, assim
go Jqão pela que

como outras o P.e Carreira e S.r D.or Farinha, na Carta


p.a q.

me enviou, me falia em hüa nova Mercê, S. A. R. lhe fi-


q. q.

zera, e não declara o he ; V. M.oe me faça esse favor.


q. pelo q.

O Ex-Frade Bernardo de Vasconcellos, e dan-


Jeronimo,

tes Fr. Bernardo de Maria S.ma, aqui sahio com seu Habito de

Christo, alem do seu Priorado : e o P.e Reys está feito Conego

da Sé de Lisboa com a expectativa do 1.° vagar.


q.

f
— 123 —

Como ha dias forão mudados os Enfermos, q. exis-


poucos

tião em do Hospital dos Terceiros, em está collocada


parte q.

a Livraria, dando-se-lhes em troca outro edifício, chamado o

Parto, m.to maior e melhor este ; veio hoje a Mestrança da


q.

Casa das Obras se determinarem os concertos e da


p.a preparos

Casa a beneficio dos Livros. S. A. R. concede cada mez

1:000$000 r.s despezas, afora o mais extraord.0, for


p.a q. pre-

ciso ; e o Servente Feliciano foi constituido Aparelhador da

Obra com o de 960 r.s em ella durar, alem do seu


jornal quanto

Ordenado da Livr.a Confesso ficará hüa Casa mui linda, e


q.

mui bem arranjados os Livros : Ábrirão-se os últimos 67


Caixões de Livros, ainda existião fechados, e tive


q. grande

satisfação de ver louvado o bom acondicionamento delles dos

d.0® Caixões. Por ora baste.

Não se me offerece neste Correio dizer mais a V. M.ce; e

entretanto rógo a Deos conserve e a sua Pessoa


prospere p.a

benef.° meu, e de toda a nossa Casa ; ao m.m0 tempo


pedindo

,ó do seu affecto na sua benção ; sou


penhor paternal por q.

com o maior respeito e veneração

De V. M.ce

Filho obd.e e obg.ra0 C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaquim

CARTA N.° 39

Rio de 8 de
Jan.ro

Março de 1813.

Meu Pay e S.r. Pelo Bergantim Thetis,


prezadissimo q.

ujtümam.*6 sahio deste tive o de escrever a V.


porto, gosto

M.ce, como he meu dever e cuidado, e na esperança de


grande

receber Cartas de V. M.ce Navio, aqui che-


pelo primeiro q.

; esta frustrou-se, vendo entrar o Paquete Inglez,


gasse porem

trouxe as malas do Navio Trajano, assim como o Navio Her-


q.
cules, aqui chegou ante-hontem. Com esta falta cresceu o
q.

meu cuidado não sabendo attribui-la a motivos certos, e nesta

duvida ficarei, até V. M.ce socegar-me ; e Deos


q. queira per-

r
— 124 —

mitta não seja falta de saúde, a eu lhe desejo mui


q. por qual

vigorosa, e á Mãy, Mana, Tia e mais família, a me re-


quem

commendo mui affectuoso. Eu não tenho bem, ora


passado

da minha cabeça, ora das com dores rheumaticas,


pernas quaes

tive de idade menor, sendo obrigado a largar as bottas e servir-

me de çapatos : o calor da estação tem sido extremo e quasi

febril, chegando o thermometro muitas vezes a 97 cousa


gráos,

extranha e : considere V. M.ce incommodos não


pasmosa q.

tenho eu com o trabalho diário, de q. estou encarre-


padecido,

exige a maior fadiga e disvelo, sendo só, sem mais


gado q.

ajuda de braços, e isto debaixo de hum calor insoffrivel, me


q.

faz destillar de continuo. Vivo muito desgostoso ; no


pois

meio de toda a m.a activid.e, ainda não consegui algum,


prêmio

tendo-se-me este e em outras tenho em


promettido, q. já parte

communicado a V. M.ee; não he falta de


por passos, persua-
sões e rógos, não he desmanxo de m,a bocca em loquacid.e,
por
nem deixar de conhecer são acceitos a S. A. R. os meus ser-
q.

viços, assim como me tem honrado em saber da minha saúde,

sou obrigado a faltar algum dia em beijar-lhe a Mão : no


q.do

meio destas considerações, me abonão, vejo a força da m.a


q.
Estrella fazer-me recuar em fortunas e interesses, e recebendo

só obséquios, bons modos, cortezias, tudo fantastico ; e não

ouvindo da bocca destes Milords senão deixe estar, ha de ser

servido, agora cedo, S. A. mandou, não tenha duvida, &c.


&c. : em fim, e esperar.


paciência

Inclusa nesta vai hüa o Quiroga, a V. M.ce se ser-


p.a q.m
virá entrega-la, e receberá delle 12$000 r.s em metal, eu aqui
q.
emprestei a seu filho Domingos de Carvalho Quiroga, pelos
rógos de seu Pay, como V. M.ce verá da Carta dahi me es-
q.
creveo esse fim, e cujo emprestimo elle abonou com a sua
p,a

de honra, extendendo até 20$000 r.8, como verá da


palavra

d.a Carta, eu de remetto a V. M.ce, fazer


que proposito p.a
delia o uso, for necessário ; assim como a Carta do d.° rapaz
q.

a o d.° dinheiro, e tem no reverso o recibo compe-


pedir-me q.

tente ; a Carta do Quiroga Pay V. M.ce conserva-lá, e


queira
depois de cobrar o dinheiro, acima digo, se servirá remet-
q.
ter-ma outra vez, me he necessaria ad
por q. futurum.

Também vão inclusas hüa Carta Patente com Cédula res-

da Ordem Terceira de S. Francisco, ahi se


pectiva p.a paga-
rem 8 anos, deve a m.a Velha Testadora, Anna
q. Joaq.na
Rosa, Irmã da d.a Ordem, a 360 r.s cada anno, importão em
q.
— 125 —

2$880 r.s. Depois de V. M.ce receber a acima, delia se


q.tia

dignará fazer este no Convento de S. Franc.C0, ou


pagamento

aonde V. M.ce deva fazer-se, eu estar embol-


julgar q. por já

sado desse dinheiro mão da Velha : e se houver Recibo a


por

remetter-se, bom será, eu ficar desobrigado. Devo advertir


p.a

a V. M.ce, o faça constar aos Irmãos Carolistas a d.


p.a q. q.

Irmã recommenda e riscada do Livro da Ordem, como


quer ficar

; lhe não ser aqui conveniente continuar na d.


fállecida por

Irmand.e. Espero de V. M.ce este favor em algüa das occa-

siões, chegar a Lisboa ; assim como espero V. M.ce me


q. q.

continúe o favor da sua benção e da Mãy ; sendo sempre com

todo o.respeito e humiliação

De V. M.re

Filho m.to obd.e e obgd.°

Luiz dos S.tos Marrocos


Joaquim

CARTA N.° 40

Rio de 26 de
Jan.ro

Março de 1813.

' Meu Pay e S.r do C. Esta serve só


prezadissimo para

dizer a V. M.ce ahi lhe envio Seguro outra Carta, que


que pelo
leva o Seguro e Porte
pago.
Lembro-me recommendar-lhe se não esqueça de fechar a

Carta, achar inclusa, cujo cuidado conservará


que para quaes-

outras, eu daqui remetter. Ella á minha


quer que pertence

Velha Testadora, cujo negocio tórno a rogar a V. M.ce o tóme

como ; nos faz muita conta, e não estamos em


proprio por que

circunstancias de desperdiçar.

Eu tenho o cuidado de antecipadamente no Correio


pagar

o de todas as Cartas, daqui reraetto a V. M.ce, cujo


porte q.

sistema conservarei sempre, lhe evitar essa despeza ;


para po-

rem não tenho a certeza de ahi os do Correio sejão exactos,


q.

talvez segundo Queira V. M.ce certi-


querendo gramar porte.
ficar-se disso. Sou

De V. M/*

Filho obd.e e obdg.mo C.

Luiz dos S.tos Marrocos


Joaq.m
CARTA N.° 41

Rio de 26 de Março
Jan.ro

de 1813.

Meu Pay e S.r do C. Havendo escripto a


prezadissimo

V. M.ce neste mesmo Navio sobre objectos do meu interesse,

offerece-se occasião de enviar esta Seguro de recommen-


pelo

dação da Sr.ra Anna Rosa, a cujo respeito em outras


Joaq.na já

tenho escripto a V. M.ce, e de V. M.ce está constituído


quem

actual Procurador. Consta o Papel incluso de hüa Copia au-

thentica da Escriptura, o total de 3:200$000


pela qual passou

r.s de 3 a vencer a 5 % na íorma da Ley, no Mostei-


por % por

ro da Penna da Serra de Cintra ; a Copia V. M.ce se ser-


qual

virá entregar ao P.e Fr. Bernardino em Bellem, a fim de con-

tinuar-se o conforme se contractou.


pagamento,

Quando houver occasião opportuna communicar-me


queira

tudo o for a esse respeito, o fazer constar á d.a


q. preciso para

S.ra, a desde declara serem sua conta todas as des-


qual já por

houverem de fazer-se ahi a continuação deste


pezas, q. para

negocio.

Com a certeza de sua saúde e de todos de Casa contarei

hüa da m.a ventura ; e entregando-me na sua ten-


grd.e parte

ção e na da Mãy, ser como devo.


protesto

De V. M.ce

Filho m.to obd.e e obg.mo C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaquim

CARTA N.° 42

Rio de 13
Jan.ro

d'Abril de 1813.

Meu Pay e S.r do C. Tenho responder


prezadissimo que

a duas tive o de receber de* V. M.ce, hüa de 22 de


que gosto

Novembro e outra de 4 de do anno,


passado, Janeiro presente
— 127 —

e escripta em Casa do seu Amigo e Co-Irmão ao Loreto.

Agradeço desde todo o seu cuidado e de toda a nossa fami-


lia, acaso de não encontrar Cartas m.3* no Correio. Eu


pelo

faço toda a diligencia não faltar em Navio algum com as


para

minhas noticias ; mas isto não ser infallivel, segundo vejo,


pode

desordem da sahida dos Navios. Estavão agora a sahir


pela

os Navios seguintes : Oceano, Princeza Carlota, Rainha dos

Anjos, Conde das Galveas, Robusto, e outros : ha de


Jaquia,

succeder o Oceano leve algüas 4 Cartas minhas, e algum


q. q.
dos outros não leve nenhuma ; vem a sahir todos
porq. quasi

; e as Cartas erão a dividir-se todos, vem a en-


juntos q. por
contrar-se n'hum só : tanto, se assim algüa vez succeder,
por
não he se abandone e entregue a hum excesso de cui-
justo q.

dado, a até de do alimento, e socego.


ponto privar-se

Estimo summamente o Caffé chegasse bom e sem ava-


q.
ria, o seria de sentir, ser magnífico e : e ao
que por primoroso
mesmo tempo dou a V. M.ce e á Mãy os devidos agradecimen-

tos remessa do saquinho de torna-viagem com todo o seu


pela

conteúdo : os novellos de linhas estão em arrecadação, e só fiz

do niasso de cabecinhas de linhas á D. Anna do Ca-


presente

bo ; não me acertado deixar de faze-lo, sabendo


pois parecia q.
ella compra as linhas a m.a roupa, e fim não
precisas p.a q. por

acceita de suas costuras : fica-me só impressa a


pagamento
idéa de aquella sua remessa fizesse algum detrimento a
que

nossa Casa ; não só desejo allivia~la o mais for


por q. q. pos-
sivel, visto ainda daqui não repartir do tenho ; mas
q. posso q.
também não tenho ainda necessidade de reforma de
por q.
roupa ; o mandarei na l.a occasião hum rol da con-
para q. q.
servo, de faço hum dia destes balanço. D. Anna do Cabo
q.
ficou estupefacta asseio e das linhas, abençoan-
pelo perfeição
do as mãos da Manna, e eu fiquei m.10 cheio de vento, lembran-

do-me aquella expressão do nos sumas.


quoque gens

V. M.ce me falia em certo mimo ou com Carta,


presente
ou sem ella, me dirige o Seu Amigo e Co-irmão, em lembran-
q.

ça do Beneficio, lhe alcancei : até hoje não vi semelhante


q.
mimo, nem Carta de daria logo se o tivesse recebido
q. parte, ;

demais, não o espero, .nem o obséquio, lhe


pretendo, porq. q.
fiz, foi em attenção á Carta e recomendação do Tio Conego, sem

mais interesse. Com tudo, se eu vier a recebe-lo, farei em res-

posta tudo o V. M.c^me ordena : e melhor seria, V. M.06


q. q.
se aproveitasse delle, se viesse á sua mão eu cedo
parar ;^or q.
—128 —

mui boamente de tudo em sua utilidade e E estimo


proveito.

igualmente todos os obséquios e mimos, elle lhe tenha feito, e


que

creio não he desproposito mais do certa


q. julga-lo generoso, q.

Pessoa, a V. M.ce tem feito incomparaveis serviços.


quem

Recebo a noticia do do Tio Conego do


presente primoroso
linho, sabão Hespanhol, e chocolate Gallego, assim como dos

a Pascoa ; e isso bom será do


presentes p.a por q. participe
Caffé, e igualmente o Provincial de S. Domingos es-
pelo que
delle.
pera

Paulo Bezerra aqui chegou ha tempos, come-


João quando

çou a a noticia da derrota do Exercito Francez na Rus-


grassar
sia ; e desde então não ouço fallar mais delle, excepto hüa vóz

como de som ao longe elle vinha Ajudante de hum dos


que p.
Min.08 d'Estado. Não acertad<yír visita-lo de reco~
parece
mendação do Tio Conego, visto não estou munido com a
q.
mais breve Carta delle ; e eu não de fazer visitas tanto
gosto
de superfície.

No Návio Trajano aqui chegou D. Francisco d'Almeida,

trazendo comsigo o desse desgraçado Conde da Ega


filho (pa-
lavras de S. A. R.), a cujo rápaz deo S. A. R. a mão a beijar

no meio do Povo, sem outra distincção mais, não lhe dando até

hoje nem fazendo reparo nelle. Perguntando S. A.


palavra,
R. a D. Francisco d'Almeida tal achava o Paiz ? respon-
que
deo elle : Senhor, eu sempre ouvi dizer aos d'Ame-
papagaios
rica — Papagaio —
Real... Portugal estas, tem
p. palavras q.
feito descarregar hüa chuva das mais horrorosas
grossa pragas
dos Brazileiros e Brazileiras, sem esperanças de armistício.

A S.ra Infanta D. Marianna tem estado ha dias muito

doente com hum espasmo no estomago, tudo vomita, sem se lhe

conservar cousa alguma : todos estamos tremendo com este re-

pentino ataque, os Médicos nada ora affianção delle.


pois por
Deos conservar-lhe a sua saúde, evitando com ella
permitta os

nossos desgostos, na época serião duplicados.


q. presente

Ha dias estou trabalhando no R. Thesouro ha-


que ; pois
vendo de mudar-se a S.ra Princeza D. Carlota do Sitio de Bo-

tafogo o Paço, vinha a ser-lhe


para precisa, os Seus arran-
p.a
de Família, a Sala, em estavão depositados
jos q. os Manus-

criptos, de estou encarregado, e não


q. querendo o S.r Viscon-

de de V.a N.a nem eu, nem elles ficássemos debaixo


q. da di-
recção do P.e Damazo, fez com S. A. R.
Joaquim p.a q. se me

preparasse a melhor Sala do R. Thesouro o meu officio.


p.
—129 —

Com effeito alli estou trabalhando sem de alguém,


precedencias

mas todos os dias manha vou ao Paço ter a honra de


pela para

beijar a mão de S. A. R.

Em hüa das minhas disse a V. M.ce Fr,


precedentes q.

Bernardo de Maria SS.ma, de S. e em razão de


Jeronimo, q.

se desfradar ficou com o nome de P.e Bernardo de Vasconcel-

los, havia alcançado hüa Vigairaria em S.ta Eula-


(Priorado)

lia d'Agueda, 14 legoas acima de Coimbra, alem do Habito de

Christo : assim foi; mas succede feita a Mercê, chegou


que

a noticia de estar vivo o Prior antigo, se morto ;


q. julgava

com o ficou o P.e desesperado. Todos os ruins tem ven-


q.

tura : alcançou, effeito daq.la Mercê, a melhor Vigaira-


por

ria, tem o Brazil, he a da Caxoeira, 13 legoas distante


q. q.

da Bahia.

Agora me dizem D. Francisco d*Almeida vem a ficar


q.

Regedor das e outros empurrão-no as Finanças ;


Justiças, para

e em Paulo Bezerra não se falia.


João

Fico sciente de todos os acontecimentos bellicos, V. M.ce .


q.

me communica : derrota do Exercito Francez na Rússia ; su-

blevações em França ; e aqui accrescentão as noticias vindas de

Fragata e Galera Hespanholas, haverem fugido da


Çadiz por
França Inglaterra immensas famílias francezas com horror
p.a

da revolução, tendo-se ? algüas embarcações destas


perdido

fam.as ao atravessar o Canal ; e outras famílias tem aportado

mesmo a Cadiz. Desejo V. M.ce saúde, e toda


q. góze perfeita

a nossa Família, e lhe rógo se lembre de mim com o favor da

sua benção ; me lisongeio em ser com todo o respeito


por q.

De V. M.ce

Filho m.10 obd.e e obgd.0

Luiz dos S.tos Marrocos


Joaq.m

CARTA N.° 43

Riò de 17 de
Jan.ro

Maio de 1813. f

Meu Pay e S.r de todo o meu C. Cheio de


prezadissimo

e consolação recebi Navio Victoria a ultima de


prazer pelo

V. M.ce, em continuo a conhecer a sua amizade lhe


que quanto
— —
130

suscita ideas affectuosas a meu respeito não interrompi-


pelas
das demonstrações da sua lembrança : eu lhe agradeço com

toda a ingenuid.e a força do extremo, com me trata ; e lhe


q.
rógo se de existem na m.a alma vivos caracte-
persuada quanto
res da m.a humiliação, respeito e sincero reconhecimento. Es-

timo, me he V. M.ce tenha feliz


quanto possível, q. gozado
saúde, ao menos descontar das continuas afflicções
p.a_ poder
nascidas da situação de nossa Casa ; e este mesmo
presente q.
bem se extenda a toda a nossa familia, a me fará inti-
quem
mam.te recommendado. Com a noticia de haver chegado o

d.° Navio Victoria, me dirigi immediatam.te ao Correio


geral,

e ahi recebi a l.a sua Carta, me servia de aviso a outra na


q.
mão de Lopes de Gouvea, com encomenda adjunta :
José quasi
arrebatadamente aluguei huma Canôa, e ainda alcancei o Na-

vio ao entrar na Barra deste e entrando nelle me


porto, pareceo
vinha navegando na Fragata Carlota ; foi trabalho
q. porem
infructifero, não se me então dar a d.a encomenda :
por q. pôde

no dia seg.te, 14, fui m.10 cedo a bordo e fiz revolver todo o

trem do Cap.am eu e elle descançar-mos. Nada faltava,


para
de tudo V. M.ce me apontava na sua Carta ; e foi
quanto para
mim hum dia até á m.a Tribuneca não
grande, por q. gazeei ;

obstante o meu sistema de exactidão.

Respondendo ao conteúdo da sua Carta, e en-


por partes
comenda : agradeço m.to e m.to a lembrança dos Papeis e fo-

lhetos curiosos, objecto de tratão, se fazem recomen-


q. pelo q.
daveis ; e não menos as Estampas : de tudo isto tenho commu-

nicado o necessário, ás Pessoas, sabem avaliar


q. julguei que o
seu merecimento ; agradecendo ao Aguilar a sua lembrança e

remessa, e estimarei conclua a Estampa do Beresford


q. grande

para eu aqui fazer callar os tem a do Lord Bartolozzi


q. pelo
como o ultimo da Arte.
primor

Ainda até hoje não dar algum a respeito das


pude passo
'
Cartas e Papeis, me remette, e segundo as Instrucções
q. adjun-

tas : 1.° A Carta o Conde de Cavalleiros não


p.a pode ser en-

tregue ainda esta semana ; elle está de Serviço


por q. de Se-
mana á Princeza N. S.ra no Sitio de Botafogo, e só Domingo

será entregue circunstancia de ser eu


pela pessoalmente :
parti-
ciparei a recomendação S.r Marquez de
4o Sabugoza, e res-

ponderei o 2.° A Carta o D.or Antonio


q. passar. p.a Jourdan
será ámanhã entregue com todas as recomendações compet.es, e
depois de observar o houver de novidade, darei
q. conta a V.
— 131 —

M.ce sobre este objecto devo accrescentar desconfio muito


q.
de vir a ser nulla esta do Cabido, o Cónego Réo
pertensão por q.

tem aqui hüa ascendencia com toda a Corte, e a todos


ganhado

os o conhecem faz espanto a excessiva com tem


q. profusão, q.
espalhado sommas exorbitantes em e : o
gratificações presentes

Negociante Fernando Carneiro Leão está continuamente re-

mettendo-lhe aos contos de reis, com o d. Conego tem


q. pren-
dido a todos beiço. Eu o tenho visto muitas vezes na Se-
pelo

cretaria entrar com toda a liberdade, e receber zumbaias


ge-
raes. Daqui venho a concluir elle terá largas noticias das
q. já

duas anteriores Representações, o Cabido fez aqui diri-


q. p.a

gir com Cartas ao Conde de Aguiar ; e isso terá


por preparada
contra-barreira de bronze : esta sua empreza basta o co-
para
nhecimento, elle tem com D. Manoel de Portugal, Sobrinho
q.

do d.° Conde, o lhe tem chupado immenso dinheiro ; e


qual

álem do tratamento familiar de tu, são sempre socios de meza,

e nas sortidas..., em são eminentes. Accrescento mais


q. q.
este Antonio he da amizade delle, os tenho visto
Jourdan pois
de na rua, e algüas vezes no Paço ao Beija-Mão d -
parelhas

S. A. R. á noute, Á vista disto temo o máo êxito desta Re-

presentação do Cabido ; he certo o d.° Conego está


pois q.

muito seguro e desafogado. O d.° foi ha tempo despa-


Jourdan
chado de Fóra a Bahia, não tendo ainda ido, em razão
Juiz p.a

de requerer como os seus antecessores ; mas


predicamentos,

agora brevemente sahirá o Lugar, ter tirado as suas


p.a por já
Cartas. 3.° O Requerimento de Plácido Antonio Coelho da

Costa Vasconcellos Maia será também entregue, depois de exa-

minar o êxito, teve a l.a via vinda no Navio Trajano. Estou


q.

promptissimo a encarregar-me dos Negocios do Beneficiado

Lúcio de Gouvea, como V. M.ce me assevera são de


José q.
tarifa ; e V. M.Ce communicar-lhe a minha boa vonta-
poderá
de, ainda não será talvez com o manejo do Borges
q. prompto
e Melitão. 4.° A Carta Thomaz Luiz de Gouvea,
para para
mim desconhecido, será entregue com as mesmas recommenda-

ções ; e como V. M.ce me diz contêm Papeis, exigem


q. q.
despezas, será disso sciente em tempo proprio.
Por ora ainda me não convém remetter-lhe a Carta do Tio

Conego ; faço tehção de uzar dos mesmos argumentos


por q.
alli expostos a Representação do Cabido ; e me for
p.a quando
desnecessária, a remetterei.
— 132 —

hüa Nota sobre Contas suas e mi-


Adjunta recebi também

resposta : a este respeito devo dizer eu


nhas, não tem tido q.
q.
divida a Carta Alguma de V. M.ce, a
não estou em pois quan-

me tenho respondido; e se acaso não tem


tas V. M.ce aponta

m.as respostas, he originada esta falta do Correio,


recebido as

lá, ou de cá. Neste tenho sido exactissimp,


ou de particular

vão extraordinarias nos mesmos Navios. Faz-me


alem das
q.
a noticia, V. M.ce me dá, de não ter ainda
transtorno q.
grande
a Procuração de m.a Velha Testadora, e ella fez mil
recebido

lhe communiquei a Carta de V. M.ce; inda se es-


caretas q.do

chegada do 1.° Navio dahi, o desengano, ou cer-


pera pela p.a

teza da d.a noticia, e se não vier- contraria a esta, cuidar-se-ha

em 2.a Procuração.

Remetto a Lista dos Despachos no dia de Annos de S. A.

R. e devo advertir a Lista da Secret.a d Estado dos Nego-


; q.

cios do Brazil tem a equivocação, vai apontada.


q.

Hontem ã noute 9 1/2 horas f-alleceo a S.ra Infanta


pelas

D. Marianna, e depois damanhã será o seu enterro.


(21),

Na occasião continuarei a escripta, ainda


prim.ra por q.

tenho a dizer : e agora só me resta o favor da sua


pedir-lhe

benção, e da Mãy ; sendo com todo o respeito

De V. M.60

Filho m.to obd.® e obgd.°

Luiz dos S.tos Marrocos


Joaquim

"Com"o
(21) mais. profundo sentimento temos hoje de cumprir o penosissimo
dever annunciar
de huma digna de amargo A Sereníssima Senhora
perda pranto.
Infanta D. Maria Anna, Irmã da Rainha Fidelissima Nossa Senhora, depois de

huma dilatada dyspepsia, onde se apurou o exercício da mais firme paciência, falleceu
nesta Côrte no dia 16 do corrente, ás 9 horas e meia da noite, na idade de 76 annos,
7 mezes e 9 dias, de hum attaque de atra bilis.

O Príncipe Regente Nosso Senhor, a a amizade, que gerarão os vin-


quem
culos do Sangue e a/imitação das Suas Virtudes, fázião mais Sensivel esta Grande

Perda, se encerrou por 8 dias, que começarão naquella mesma noite, tomando luto

rigoroso, e dois alliviado. Ordenando a mesma demonstração


por quatro mezes, dois
de sentimento á Sua Corte e Tribunaes.
A Sereníssima Senhora Infanta será sempre ob}ecto da mais viva saudade para
fortuna de admirar as Suas Singulares Virtudes, A Sua
todos aquelles. que tiverão a
das Religiosas do Louriçal, sobre
Piedade padrão no Convento
deixou hum eterno
enchentes de benefícios, aos quaes precedia hum
as quaes a Sua Caridade derramou
materna!. Esta mesma Virtude, sobresahia a todas as
amor verdadeiramente que
alliviava a miséria de
outras, que Sua Alteza possuia em hum gráo pouco vulgar,
a penúria
muitas famílias, estendendo-se mesmo ás infelizes victimas da justiça, a quem
e o desamparo aggravão ainda mais a sua situação; e és quais nem deixou de acodir,

seus soffrimentos dever suspender cuidados estranhos,'mas que


quando os parecião
Alma mais do que os Não he este o lugar desti-
occupavão a Sua Grande próprios.
— 133 —

CARTA N.° 44

Rio de 19 de
Janeiro

Maio de 1813.

Meu Pay e S.r de toda a minha veneração.


prezadissimo

Havendo escripto a V. M.ce este mesmo Navio em objectos


por

de maior importancia, não haveria demora na


por q. julgava

sahida continuo com a resposta ás de V. M.ce de 4 e 10 de


;

Março Navio Victoria, aqui chegou com 38


pelo q. passagei-

ros, sendo hum delles o esperado Marquez d Angeja com 22

de familia ; eu o vi entrar no Paço, tendo eu acabado


pessoas

de beijar a Mão de S. A. R., recolhendo-se do Seu na


passeio

Chácra de S. Cristovão : o dito Marquez o Homem


parece-me

de ferro na Procissão do Corpo de Deos, ou o Centurio con-

vertido na do Enterro ; nelle tudo era metal, e até trazia a


pois

banda e o boldrié muito abaixo das verilhas. Com elle chegou

a noticia do Ex-ter-Secretario de Estado, de Seabra da


José

Silva. Ao S.r D.or Farinha agradeço m.to a lembrança, de


q.

mim tem, e o conceito, de mim faz elogiando as m.as notas e


q.

estilo epistolar : he mim da maior satisfação ter tão sublime


p.a

Panegerista, e a não macular as suas respeitáveis decisões, diria

era fructo da adulação. O a alma concebe, descreve a


q. q.

com facilidade, e as lições dos bons Mestres sempre dei-


penna
xão vestígios saudaveis ainda mesmo em talentos escassos, como

a Lua, sendo hüa massa opaca e feia, deixa reflectir á Terra


q.

o brilhantismo do Sol. A V. M.ce me affirma


gratificação, que

se lhe conferira a arbítrio do Patriarcha, he huma decisi-


prova

va do de estimação, em as Letras se considerão hoje :


gráo q.

aqui também se muito, Planos e Projectos


préga produzem-se
Litterarios, mas ex tanto nihil. Silvestre Pinheiro está mettido

nado para se publicarem aquellas acções, que a Modéstia de Sua Alteza quereria cm
vão esconder; as lagrimas dos desamparados, que chorão a sua orfandade, são mais
eloqüentes que todas as expressões.
Em quanto o Seu Espirito descança no Seio do Creador. que a chamara á Sua
Gloria, o Seu Corpo se ha de dar á Sepultura hoje 19 do corrente na Igreja de N. S.
da Ajuda, das Religiosas de Santa Clara desta Corte. Daremos a descripção desta
fúnebre." ¦— Gazeta do Rio de Janeiro, 19 de Maio de 1813.
pompa
A Gazeta de 22 de Maio traz a discrição das honras fúnebres feitas á Infanta.,
—134 —

a Projectivista, e as suas lições reduzem-se a huma mezcla

scientifica, não sabe o he : estamos no tempo das Grani-


q..se q.

maticas Filosoficas, e o Sistema de todas as Linguas reduzido

e hüa só Estimo muito as noticias, me dá, do


praxe (22). q.

Ex-Frade Bento, Official Maior : em dia de Pascoa estive em

sua Casa, onde me tratou magnificamente. O Off.al Maior da

Secret.» d'Est.° dos Neg.os Estrangeiros, Pedro Francisco Xa-

vier de Brito, me deixou também hü Bilhete de Boas-Festas

em m.a casa, não me encontrando.

He de o desafogo, com se ladroeiras,


pasmar q. praticão

segundo V. M.ce me affirma ; e muito mais as houverão no


q.

Convento de Bellem, dous filhos da Casa : a devastação do


por

Reino tornou-se ; o os Francezes mereceo o


geral pois q. p.a

de conservação, e reserva, cahio desgraçadamente em


privilegio

mãos sacrilegas tão abominaveis, como as daqueles. Tenho o

maior sentimento soffreo a nossa Visinha, a S.ra


pela perda, q.

Thereza, na roupa, lhe furtarão ; e ainda isso he menos máo,


q.

q. elles também costumão chegar a roupa ao couro. Agra-


por

deço as recommendações do seu Amigo e Co-irmão, assim como

ao P.e Carreira e Ex.mo S.r Marquez : esta semana não


posso
cuidar em alguns, como lhe annunciei na outra m.a ;
papeis por

(22) As lições de Silvestre Pinheiro Ferreira eram dadas no Real Colégio


de São Joaquim, de acordo com o aviso publicado na Gazeta do Rio de Janeiro, de
14 de Abril de 1813 :

"No
dia 26 do corrente começará na Sala do Real Collégio de S. Joaquim hum
Curso de Prelecções Philosophicas, que terão por objecto :
1." A Theoria do Discurso, e da Linguagem : em que se exporão os princípios
da Lógica, da Grammatica geral, e da Rhetorica.
2.° O tratado das Paixões : primeiramente consideradas, como simples sensa-

çõês. e versando sobre matérias de gosto; donde se deduzirão as regras da Esthetica


ou da Theória da eloqüência, da poesia, e das bellas artes : depois considerando-as
como actos moraes, comprehendidas nas idéas de virtude ou vicio, se desenvolverão
as maximas da Dicéosyna. que abrangerá a Ethica e o Direito Natural.
3.° O Systema do Mundo : em que depois de se tratar das propriedades geraes
dos Entes, ou da Ontologia : e da Nomenclatura das Sciencias Phisycas e mathema-
ticas, se expenderão as noções elementares da Cosmologia : e destas se deduzirão as
relações dos Entes creados com o Creador. ou os princípios da Theologia Natural.
Além da exposição da Theoria. haverá em cada huma das Prelecções lição e
analyse de alguma obra escolhida dos principaes Phllosoplios, Oradores, e Poetas,
assim antigos, como modernos, sagrados e profanos.
As pessoas, que quizerem subscrever para estas Prelecções, que serão nas
segundas, quartas, e sextas feiras, pelas 5, horas da tarde : dirigir-se-hão ao Reverendo
Reitor do mesmo Collégio de S. Joaquim.
A subscripção he de meia dobla mez.".
por
— 135 —

he tempo m.t0 critico causa da morte da S.ra


q. geralmente, por

Infanta : as Secretarias e Tribunaes fecharão-se estes dias, e

fazem a mudança de cores luto.


para
*V.
Sinto o Caffé tivesse a mingua, M.ce me refere ;
q. q.

de outras saccas, daqui se mandarão


pois q. juntamente p.a

Casa de Ascenso de Sequeira Freire, consta chegarão m.t0


q.

beín, e sem desfalque : Com tudo como elle era bom, Deos

ajudará mais, não me faltando as forças.


para

Se acaso o S.r D.or Farinha fizer a


por publicar Justifica-

ção, intenta, em de seus officios e benefícios ao Semi-


q. prova

nario de Santarém, como V. M.ce me assegura ; desde lhe


rógo se lembre de mim com hum Exemplar ; aqui ha Par-


pois

tidistas da nova Reforma do d.° Seminário, e outros Declama^

dores a bem dos Veneraveis P.P.63 Pios, e mais turba Jacobéa.

Vejo as reflexões, V. M.ce me dirige ácerca do estado


q.

actual do nosso Reino, e sobre tudo da Cid.e.de Lisboa, em ca-

réstia de viveres e outros artigos : será de lamentar se


políticos

os balanços, o Continente tem soffrido, não vem a


que produ-

zir melhores conseqüências, do aquellas, os nossos olhos


q. que

tem mas em fim, da desordem sempre nasceo a


presenciado;

ordem, e se Deos tiver marcado o fim das nossas desgraças,


he de conjecturar os acontecimentos venhão a


que presentes

ser o da nossa melhor sorte. Os nossos


principio proprios

campos regados com sangue, e de cadaveres dão bem


juncados

a conhecer na sua fertilidade ao tempo Deos nos castiga,


q. q.

nos enxuga o Eu tenho firmissimas esperanças na


pranto. q.

época havemos de ver ; e sem ser


presente prodígios políticos

Sebastianista me aproveitará bem a Lição, com a


parece q. q.

Providencia nos convida.

Oq. me refere ácerca de Àntonio Per.a e Garrocho, nada

me admira : faltando a honra, seriedade, e brio, mais


pois q.

faltar ? O l.° de Off.al da Secret." a Commissario


pode passa

de Letras ou Cambista, vendo-se disso o extremo da sua situa-

ção, feios deboches, em está engolfado : e nessas tris-


pelos q.

tes circunstancias ainda medita vir aqui ser Off.aI Maior


gra-
duado. Ao faliei com empenho a seu respeito, mas
principio

vendo me encarregava de negocio arriscado, desisti da em-


q.

: não obstante, ouvi ha dias tinha ido'daqui hum Aviso


preza q.

á Regência, resolver como melhor entendesse. Houve aqui


p.a

logo as manhas e costumes : Sape ! O 2.° dá


q.m publicasse
—136 —

muita honra aos seus Protectores, tem nelle hum lindo apon-
q.

toado de armas, letras, e bestas.

Meu Pay : basta de lhe dar sécca tão importuna. Rógo-lhe

continúe a favorecer-me com a sua benção ; sou com


q. por q.

todo o respeito

De V. M.ce

Filho m.to obd.e e obg.mo C.

Luiz dos S.tos Marrocos


Joaq.m

CARTA N.° 45

Rio de 22
Janeiro

de Maio de 1813.

Meu Pay e S.r do C. Depois de ter feito


prezadissimo

duas Cartas em differentes datas do mez ;


presente q. julgo

irão todas no Navio Emulação, restavão ainda couzas a com-

municar-lhe, e não reservar mais tarde. No Na-


q. queria para

vio Conde das Galveas escrevi a V. M.01® hüa breve Carta


por

mão de hu Sugeito, nelle foi de e com a recommen-


q. passagem,

dação de a lançar no Correio, logo chegasse, soube


q. por q.

muito tarde da sahida do d.° Navio : V. M.06 a terá


julgo q. já

recebido, assim como de algüas talvez fossem n hum


quatro, q.
só Navio.

A morte da S.ra Infanta D. Marianna foi a todos


geral-

mente sensível, e a todos foi bem a sua exemplar a edi-


patente
ficante Virtude : muitos dias antes de fallecer fez as suas ulti-

mas Disposições, em ao depois se vio a ternura do seu Co-


q.
ração a beneficio de e das Suas
quantos quantas participavão
esmolas. Deixou todos, os Seus Criados e Criadas no m.mo

arranjo, e dos mesmos interesses, como se estivesse


gozando
Viva. Deixou todas as Suas vestidos e ás Suas
jóias, galas
Freiras de S.ta Clara de Lisboa, assim como a Sua
grande

Quinta de Corroyos, e todo o mais dinheiro, se lhe achasse


q.
Sua morte. Ás 9 1/2 horas da noute expirou, assistida do
por
— 137 —

Seu Confessor e Capeílão, erão os P/63 Mazzoni e Joaq.m


q.

noute, causa da corrupção, lavrou rá-


Damazo : á meia por q.

vestida de 6ua farda rica, foi mettida no


estando
pidamente,

chumbo, a toda a se bitumou em roda ; e


Caixão de q. pressa

metteo dentro do 1.° Caixão de : e assim ficou


depois se páo

Sala armou-se de encarnado com toda a ma-


em Deposito. A

sendo d.° Deposito e seus ornatos assim


gnificencia, pretos,

como a armação da Igreja : 12 Altares na d.a


prepararão-se

Sala as de Corpo e Officio a


Missas presente primeiro, q.
p.a

concorreo todo o Corpo Ecclesiastico Regular e Secular desta

Cid.e, assim como ao Enterro, o causa da noute tem-


qual, por

e chuvosa, não fazer-se com aq.le brilhantismo,-


pestuosa pode

estava determinado. Tinha-se resolvido fosse a d.a S.ra


q. q.

levada, o Convento de S.to Antonio, dos Arrabidos ; porem


p.a

a requerimento das Freiras d'Ajuda, intervenção da Vis-


por

condeça do R. Agrado, determinou S. A. R. se lhes fizesse essa

vontade ; e assim se trocarão as Ordens dadas. Era const.e

a S.ra Infanta continuamente a Deos lhe desse o Pur-


q. pedia

nesta vida : em do seu bom Despacho, depois de


gatorio prova

m.^ na sua moléstia, morreo com 12 cáusticos.


padecer

Envio a V. M.0® estas noticias ; me q. as


por q. persuado

não virá a saber outro modo ; e a Descripção, remetterei


por q.

na l.a occasião, não tratará destas


particularidades.

Tem aqui entrado huns de Navios de Lisboa, e


poucos

sahido outros aos dous e tres no m.mo dia ; ficando a com


gente

sustos noticias, se espalharão, de serem tomados dous


pelas q.

vinhão de Lisboa, dous hião do Pará Lisboa, e outro


q. q. p.a

Correio daqui; alem do Navio Espadarte, e alguns Inglezes.

Os Americanos retomarão ultimam.te dous Navios Portuguezes,

os Inglezes havião tomado, virem de fazer Escravatura


q. por

nos vedados ult.° Tratado, e se dirigião a


portos pelo q. p.a

Bahia ; e conseq.a forão Americanos restituidos a


por pelos

seus donos.

Tendo vindo no Navio Trajano D. Francisco d Almeida

a tratar do Casamento de seu filho com hüa das filhas do Mar-

de Bellas, e a desfazer certas intrigas ahi armadas e


quez por

elle conhecidas ; succede dahi a 15 dias, mais ou menos,


pouco

hum Frade Marianno, seu Capeílão a bordo, e aqui meu Vi-


q.

sinho, me disse huma noute D. Francisco, havendo feito mui


q.
—138 —

rigorosas dilig.as saber de mim, ignorando o meu appellido,


por

não acertava, lembrando-se do meu Emprego na Bibl.a,


porem

finalmente atinou com o appellido. Marrocos, inquirio d todos

os o rodeavão á meza se me conhecião, saber onde


q. querendo

eu morava. Por fim o Frade se deo meu conhecido, e logo


por

elle lhe recomendou com todo o empenho me fosse a


pedisse

sua Casa, tinha desejos de me conhecer, e


pois grd.^ q. queria

ter amizade comigo. Rompeo em hüa chuva de elogios no-


por

ticias havidas em Lisboa, e até se lembrou da Informação, a


q.

deo o notável Pedro de Mello a respeito de V. M.ae


Junot

como hü homem, com devia haver a maior cautella. Re-


q.m
•pugnei
m.to ir a Casa de D. Francisco, mas instado Frade,
pelo

fui disposto a figurar com reserva. Confesso a V. M.**


q.

sendo elle hum homem Cortezão e civil, me tratou de hum


pouco

modo mui obrigatorio, e assás me satisfez, enchendo-me de


q.

obséquios e elogios, me envergonharão, obrigando-me a


q. jan-

tar com elle, servindo-me elle m.mo nas iguarias. Confiou-me as

da sua vinda, e dos seus Cargos em Lisboa, a


particularidades

origem de todas as intrigas soffreo, certas delicadezas no


q.

tempo dos Francezes ; e depois de me honrar com offereci-

mentos, convites, e franquezas, me citou a freqüentar a sua

Casa diariamente, e ir sempre com elle. Dahi a dous


jantar

dias foi ao Thesouro, onde eu estava, acompanhado do Vis-

conde de V.a Nova, e do Monsenhor Nobrega. Devo adver-

tir a V. M.0* eu tenho medo delle, como do Diabo, e farei


q.

todas as diligencias fugir delle ;


por politicamente por q.

me não agrada a sua viveza. Diz-se elle vai a sahir Re-


q.

Presid.e do Dezmb.0 do Paço, e Ministro das Finan-


gedor,

ças ; destas couzas huma : e tendo-me elle affirmado não


q.

Despacho algum a S. A. R., cahio na asneira de ma-


pedira

nifestar a sua zanga, não ser incluído nos do dia 13 do


por

mez, vendendo carruagem, bestas & e fazendo


presente pre-

ir Lisboa ; em conseq.a disso foi necessário


parativos pa pa

ser notado de S. A/R., o fez suspender de seus


q. preparos

arrebatados.

O Marquez de Vagos tem estado nos últimos


paroxis-

mos da vida, e com custosissimo trabalho tem ressuscitado

dessa situação : as suas são duas fontes de matérias


pernas

e máos humores em abundancia, estando até


grande privado
— 139 —

de todo o movimento. Sendo desenganado de todos os Mé-

dicos da Camara, tem achado alivio com o tratamento de hum

Medico Carcunda, de boa nota. Os dous filhos do Romão,

Of£.al da Secreta, forão despachados com dous bons Officios

a Maranhão, de . elle me deo Elle tém


para q parte. passado

muito mal e a Filha também, figurando sempre a sua Casa

como de Botica. Eu ha muito o não visito, de q. elle se


que

escandaliza. Em húa das m.as antecedentes lembrei a V.


M.ce ao Tio todo e Documento, lhe


pedisse qualq.r q. per-

tencesse, e fosse conveniente a algúa sua : E.


q. pertensão

Certidão de Conego da Sé de Braga — Serviços feitos á


gr.

da Sé — Outra de Secret.0 do Cabido — Serviços feitos ao

Estado em tempo da Restauração do Reino — Tudo o mais

elle colher em seu favor, e de eu me não


q. possa q. possa

recordar. Desejo ter húa Copia authentica desses Papeis

na ma mão, uzar delles


pa q.do julgar preciso.

Vai a apromptar-se nova Procuração da ma Velha Tes-

tadora, enviar a V. M.ce dous Navios, e desejarei


pa por q.

V. M.6*5 se incumba desse negocio, em tenho m.to empenho,


q.

e em me fará muita mercê.


q.

Anna do Cabo me adverte a V. M.** o favor de me


peça

mandar, se lhe offerecer maior c.ommodid.e, húa vara


quando

de Cambraia, tiras das m.as camizas ; as antigas


para pois q.

vão a fenecer, e aqui não apparece dessa de fazen-


qualidade

da. V. M.ce se não mortifique com esta encommenda, pois

não h.e das indispensáveis, como vê ; mas he só no caso de

se lhe facilitar essa compra.

Aqui vou continuando com as m.as tarefas, sem mais

lucros, nem Despachos, ouvindo só em hum


prêmio placet:

O Visconde tem-me encarregado de varias couzas, e sou

delle acceito.

Rógo a V. M.0** me continue o favor da sua benção, es-

a m.ma mercê da Mãy, a me fará mui recomen-


perando q.m

dado, assim como a toda a nossa família : e sou com todo o

respeito

De V. M.ce

Filho m.to obd.e e obg.mo C.

dos S.tos Marrocos


Juiz Joaquim
—140 —

CARTA N.° 46

Rio de 27
Jan.ro

de Maio de 1813. f.

Meu Pay e S.r do C. Havendo respondi-


prezadissimo

do largamente á Carta de V. M.4* ultimam.10 recebida, resta-

me a V. M.0* hum negocio, aqui se me e


propor q. pedio, q.

desejo satisfazer. Huma S.ra, existe nesta Cid.e,


q. porem

nascida e baptisada nessa Freg.a de N. S.ra d'Ajuda, e


por

nome Anna Rosa, tem ha annos a de 3 mil


Joaquina quantia

cruzados no Convento de Bellem, e 8 d.os no Conventinho da

Penna da Serra de Cintra, e da m.ma Ordem, depositados a

de 5 cento, dos sempre recebeo bons


juro por quaes juros

até a Retirada de S. A. R., devendo-se-lhe, de


pagamentos

dos 8 mil cruzados, então só os últimos 6 mezes,


principal

se vencião a 12 de Dezembro de 1807. Depois a da


q. q.

S.ra existe nesta Cid.e, constituio seu Procurador a Joaquim

Anselmo, então Cantor da S.ta Igreja Patr.al, o alem de


qual,

não tratar com a clareza devida a este negocio, se lhe


q.

incumbio, nunca teve aqui hüa correspondência certa, e


pa

apenas a da S.ra recebeo hüa sõ vez a de 100$000


por quantia

r.s, ficando ignorante do elle tem tratado e recebido ahi


q.

do Abbade dos-Jeronimos, he o incumbido desses 11 mil


q.

cruzados, como acima disse : vendo esta S.ra o transtorno e

segurança do seu dinheiro, e desejando saber o estado


pouca

actual desses pagamentos com boa correspondência, pa o fu-

turo, e me fazer favor, rogasse a V. M.°®


por pedio-me qui-

zesse acceitar a incumbência de ser seu Procurador, tomando

á sua conta a recepção desses dinheiros, e remette-los aqui


pa

Letras seguras entre acreditadas e idôneas ahi


por pessoas

e aqui, como V. M.00 escolher, e dando os mais


poderá passos,

a a bem da continuação dos d.08


q. julgar proposito, juros.

Pela Procuração inclusa fica V. M.ce com


plenos poderes p.a

tratar deste negocio, ficando de nenhum effeito a Procuração

do d° Anselmo o diante; e isso V. M.ce lhe


Joaquim pa por

fará constar a sua auctorid.e, e exigirá delle todas as clarezas

sobre este dinheiros recebidos ahi, e remettidos aqui,


ponto, pa
— 141 —

as despezas elle feitas, ainda serão, e a


por q. poucas quantia
restante, existir na sua mão, devendo elle mostrar a V.
q.

M.0* Ordem, daqui recebesse, abonar


qualq.r q. pa qualquer
outro extravio de dinheiro. É de summa V. M.0®
precisão q.
fallasse ao Abb.e dos a agora se escreve ; e
Jeronimos, q.m
certificando-o da sua incumbência, saber estes
procurará
m.m°s artigos apontados, a fim de ver se se combinão entre

si os dous ditos ; lhe fará conhecer o futuro só se deve


q. p.a
entender com V. M.0*. Disto espero V. M.ce in-
q. queira
cumbir-se, mandando-me dizer tudo o na verdade ahi se
q.
relativo a este negocio, m.a satisfação e do
passar pa q. pro-
metti a esta S.ra, fica mui descançada na honra
q. probidade,
e bom desempenho da Pessoa de V. M.0*.

Rógo a V. M.^ me felicite com a sua benção, e esperando

este m.mo favor da Mãy, a m.to me recomendo, lisongeio-


q.m

me de ser com todo o. respeito

De V. M.^

Filho m.to obd.e e obg.mo C.

Juiz Joaquim dos S.tos Marrocos

P. S.

Meu Pay : Como V. M.ce me asseverou

na sua ultima de não ter recebido ain-

da a Procuração daqui havia


prim.a, q.
remettido, o Navio,
julgando-se perdido
vai agora outra Procuração Ia Via, e
por
irá 2a Via, assim como esta Carta, ídenti-

ca á acompanhou a da Procuração.
q.

CARTA N.° 47

Rio de 27
Jan.™

de Maio de 1813.

Meu Pay e S.r do C. Esta serve de con-


prezadissimo

tinuação a 3 Cartas minhas, vão este Navio, o


q. por qual
inda me dá occasião escrever este de
pa quarto papel.
—142 —

Fallei ao D.or Antonio com os Papeis do Cabido


Jourdan

de Braga, os elle vio com ideas antecipadas : appro-


quaes já

vou tudo, mas não assignar, empurrando-me mim essa


quiz pa
: vendo eu repugnava, disse-me
pillula q. qtinha grd.e

amizade com o Conego Réo, e nestas reformas não


q. queria

comprometter-se, nem ser esmagado : nada obter-


q. podia

se, o R. tinha conhecimento desta arenga, elle sup-


por q. já

estar tudo contra todos os ataques do


punha já prevenido

Cabido:- outra Representação, o seu Amigo Chantre


q. q.

lhe enviára ha tempos, a fizera entregar nas mãos do Conde

de Aguiar, e tinha sido inutilmente, nada se


q. por q. provi-

denciára : em fim lhe deixasse eu os Papeis espaço


q. por

de 8 a 10 dias, os fazer assignar outro Sugeito, e depois


p.a por

me seríão entregues. Sou obrigado a reflectir este


q. Jour-

dan he falso ao Cabido, comunicando este negocio ao Réo

Cónego, a fim de algum mimo dos elle sabe


grangear grd.es, q.

aqui espalhar : e agora o fará mais facilmente, estar


por quasi

de a Bahia, como annunciei


partida p.a já

O Conde de Cavalleiros ainda me não deo resposta algüa

á Carta do S.r Marquez de Sabugoza. Quando a receber,

darei A Carta Thomaz Luiz de Gouvea consta de


parte. p.a
1
documentada se tirar aqui Carta de Cirurgia a
papelada p.a

hum tal Bento Dias ; e de Emolumentos a


José pedem-me q.tia

de 38$400 r.s adiantados. Como as m.as circunstancias me não

facilitão o desembolso de huma tão avultada, fiz sus-


quantia

e a da dar disto a V. M.ce,


pender guardar papelada, pa parte

intimará a estiver encarregado deste negocio, faça aqui


q. q.m

abrir Letra as despezas necessarias. V. M.0* me achará


pa

razão nisto, lhe communico; me não convém de


q. pois

modo algum no tempo expor-me a vexames. E isto


presente

servirá de cautela outro negocio, se lhe recom-


pa qualq.1" q.

mendar.

O Requerimento o R. Beneplácito, a favor do Conego


pa

Plácido Antonio Coelho da Costa Vasconcellos Maia, ainda

não teve Despacho. Participarei o tiver. Sou


q.do

De -V. M.ce

Filho m.to obd.e e obgd.mo C.

dos S.tos Marrocos


Juiz Joaquim
—143 —

P. S.

S. A. R. foi hoje S.u Cruz.


p.a

O S.r Inf.e D. Miguel ãcha-se doente

com muita febre. A Princeza Viuva,

D. M.a Francisca Benedicta, está do-

ente de húa m.to inchada.


perna,

Hontem sepultou-se a mulher do Velho

Corrêa Picanço.
José

P. S. na margem da ultima desta carta


pagina

Fallei ao Conde de Cavalleiros, me disse lhe era ne-


q.

cessario fallar ao Conde de Aguiar a respeito do ho~


prim.ro

mem, em o S.r Marq.z lhe falia na sua Carta. Recomen-


q.

dou-me o na antevespera da sahida do Brigue


procurasse

Daniel, e então me daria a resposta.


q.

CARTA N.« 48

Rio de 19 de
Jan.ro

de 1813.
Junho

Meu Pay e S.r do meu C. Pelo Navio


prezadissimo

Emulação tive o de escrever a V. M.ce 3 Cartas em


gosto

resposta ás de V. M.ce ultimamente recebidas, e sobre outras

noticias de importancia ; suspendeo-se a sahida desse


porem

Navio, apèzar de estar a fim de ir na dianteira este


prompto,

Brigue com a noticia da morte da S.ra Infanta : essa razão


por

ficárão as m.as Cartas demoradas, mas creio


q. por pouco

tempo, ser o se segue na sahida.


por primeiro q.

Estimarei V. M.ce vá saúde ;


q. gozando perfeita pois

sei não ter socego nem satisfação na crize actual das


q. pode

couzas : também folgarei muito com as boas noticias da saúde

da Mãy, Manna, Tia, e mais família, a me fará a mercê


q.m

de recomendar-me.

O Requerimento do Primo do seu Co-Irmão sahio com

a Licença d'impetra na fôrma ; e será remettido na


q. pedia

Ia occasião, não me chegando agora o tempo a faze-lo. Quei-


— 144 —

ra V. M.045 ficar nesta certeza, e cTantemão


participar-lhe pa

sua segurança.

Ao S.r Marq.z de Sabugoza V. M.06


pode participar q.

o S.r Conde de Cavalleiros me recomendou o 3


procurasse

dias anteriores a sahida do Brigue, me entregar a resposta


pa

á Carta do S.r Marquez, e mim requerida ; até


por porem

hoje ainda não a recebi, e isso não vai.


por

A Carta recebi Thomaz Luiz de Gouvea continha


q. pa

huns Documentos se tirar Carta de Cirurgia ao perten-


pa

dente : me 38$400 r.s adiantados, o


pasmei q.do pedirão q.

me obrigou a suspender o negocio ; não com essa


pois posso

despeza e desembolso em fins de Se o Bn.do Lúcio


quartel.

ou seu dono a conclusão, abone o dinheiro do modo,


quizer

lhe mais recomendando-lhe a brevid.e ;


q. parecer proprio,

maior he o lapso do tempo fóra do Re-


pois julgo q. quanto

maior he o emolumento : disto não tenho certeza.


gimento,

Recebi da mão do D.or as Representações do Ca-


Jourdan

bido de Braga contra o Cónego Mattos aqui existente, as-

signadas hum Pedro Alvares, mim he


por quidam José q. p.a

o homem da Capa Causticou-me o d.° com


parda. Jourdan

archi-judiciosissimas reflexões, ora sobre a sua intima amiza-

de com o d.° Conego, ora sobre a razão do Cabido


pouca

dito o contrario na Ia occasião lhe faliei),


(havendo-me q.

ora sobre a inadvertencia de não virem de lá assignadas


pelo

m.mo Cabido representante, ou menos dous Membros


pelo por

Deputados da m.ma Corporação ; e em fim eu tinha bem


q.

fundadas ideas de vir a ser inútil este trabalho admiravel


pela

expérteza do Conego em saber obviar a estes combates m.t0

antes esperados. Esta ultima reflexão agradou-me logo e

com acerto ; havendo-me valido de certa Pessoa a in-


pois pa

cumbencia do negocio, respondeo-me logo difficilem rem


pos-

tulasti; nem os vem com legalidade competente,


pois papeis

nem o Conde he tão em fazer revogar a S. A. R. húa


prompto

Mercê concedida com razões e insertas no m.mo


patentes

Aviso : demais disso, he e notoria a sua entrada com


publica

D. M.el de Portugal, Sobrinho do Conde, alem de outras

muitas vantagens, e não he lhe seja desconhecida


possível q.

esta Representação do Cabido, sendo-lhe talvez


participada

seus interessados na sua nesta


pelos parentes persistência

Corte.
— 145 —

Postas de todas estas reflexões, he minha tenção


parte

aproveitar ambos os Papeis, fazendo-os entregar a S. A. R.

e ao Conde, a cada hum seu ; e esperar decisão, a


pela qual

D.s seja igual ao nosso empenho.


queira que

Pelo d.° Navio Emulação vai Segura a Ia Via da Pro-

curação da ma Velha Testadora, e no Io Navio, se seguir,


q.

irá a 2a Via. Anselmo escreveo ao Cónego Cura da


Joaquim

Capelía R., dizendo-lhe já sabia a d. Velha tinha


que que
novo Procurador, mas elle affirmava este havia de
q. jámais

dar boas contas de si; elle m.t0 bem o conhecia. Que


pois

forma de intriga

A 15 deste mez faleceo Fr. Antonio Baptista Abrantes,

Decano no exercido de Confessor, o era da S.ra D.


pois que

Carlota, da S.ra Princeza Viuva Velha, e de todas as Meni-

nas, com mais de 30 annos de Paço, e 76 de id.e : deixou m.10

dinheiro, o não levar a eternid.e, e o


por q. pode pa grd.6

Cargo de Capellão Mór, ficou vago.


q.

O Marquez de Vagos ha m.tos dias está a expirar,


q.

tendo alternativas freqüentes. A Casa de Bellas vem a sen-

tir m.to a sua falta. Nada mais se me offeréce ora a dizer


por

a V. M.ce, se não rogar-lhe me continúe o favor da sua benção

e da Mãy ; sendo com toda a submissão e respeito

De V. M.ee

Filho m.to affect.0 e obg.mo C.

Luiz dos S.tos Marrocos


Joaquim

CARTA N.o 49

Rio de 6
Jan.ro

de de 1813.
Julho

2a Via,

{Esta carta é a repetição da N. 46, com exclu~

são do P. S. nesta não é repetido) .


que
CARTA N.° 50

Rio de 6 de
Jan.ro

de 1813.
Julho

2.a Via.

uma carta escrita Luiz dos


(E' por Joaquim

Santos Marrocos e assiganada Anna Joaquina


por

Rosa, dirigida ao Illm0 e R.mo S.r D. Abbade do R.

Mosteiro de Bellem) .

CARTA N.° 51

Rio de 7
Janeiro

de de 1813.
Julho

Meu Pay e S.r de todo o meu C. Desde


prezadissimo

o dia 13 de Maio em aqui chegou o Navio


passado, que

Victoria, não tive ainda o de receber noticias de V.


gosto

M.06 e da nossa Casa, até agora não tem apparecido


pois

algum outro Navio de Lisboa, me console e dê des-


que

canço. Estimo V. M.ce tenha saúde vigorosa e


que gosado

meios sufficientes ir aturando e resistindo aos incom-


para

modos do tempo, sermos em tudo concordes, se


que, para

tem espalhado este desgraçado Continente : os viveres


por

vão a subir em extremo, e com falta notável, os meios de sub-

sistir mingúão diariamente, a cresce, e não


pobreza podendo

soffrer occulta e em silencio, apparece sem e a maior


pejo,

dos Empregados afflicta, chegando a epidemia


parte geme

á m.a Corporação, apenas recebeo a fraca noticia de vir


q.

a o seu Quartel Agosto. se completarão


perceber para Já

dous annos da ma chegada a esta Corte, e não tenho até hoje


—147 —

recebido se não sustentar as minhas espe-


promessas para

ranças ; tendo de mais a mais a de requerer


prohibição qualq.r

outra couza, tér sido convocado, logo aqui cheguei,


por q. pa

húa Repartição do Serviço Particular de S. A. R., havendo

o Conde de Linhares abonado estas de Pensão e


promessas
com o Nome de S. A. R., e eis aqui o me tem
graduação q.

ligado de e mãos, ouvindo a cada Sim Senhor,


pés passo

deixe estar, ôc. ôc. Devo confessar a V. M.ce não me


q.
com a falta dos meus Despachos se
penalizaria promettidos,

não fosse hüa das m.as obrigações ajudar a nossa


principaes

Casa com os meus interesses, alem dos ardentes e volunta-

rios desejos tenho de ser agradecido ; a


q. porem permitte

Providencia conservar-me esse desgosto a seus fins occul-

tos. A muito regular e inalteravel, com sub-


parcimônia q.

sistindo, me tem feito conservar sem dependencias ; pois q.

a de viver neste Paiz desmente toda a idéa, d'antes


prática q.

vagava, de se viver aqui com e bem, ou á farta.


poder pouco,

Há 6 mezes estou de aluguer de casas, em


q. pagando q.

habito, 9$600 r.s mez, não obstante tèr outras casas,


por q.

S. A. R. manda e cuja chave tenho em meu


pagar, poder, pa

dispor dellas, se nellas continuar a assistir : mas forão


quizer

taes as circunstancias do meu capricho e honra, não me


que

foi conveniente continuar a daquella de S. A. R.,


gozar graça

e ouvidos pareceres de m.to respeitáveis, resolvi-me


pessoas

a alugar Casas da ma algibeira, tendo dado disto ao


parte

mesmo Senhor ; e nisto confirmei o adagio : antes só


que

mal acompanhado. Por tanto a m.a residencia he na Rua da

Alfandega, N. 31, do lado direito, adiante da Capella de

N. S.r Mãy dos Homens.

Havendo fallecido o P.e M.e Fr. Antonio Baptista Abran-

tes, Confessor das Seren.mas S.ras D. Carlota, todas as Meni-

nas suas Filhas, e da S.ra D. Maria Francisca Benedicta,

Princeza Viuva, foi logo nomeado Confessor desta ultima

S.ra o P.e M.e D.or Fr. Innocencio Antonio das Neves Portu-

Provincial das Carmelitas, cuja digna e acertada eleição


gal,

foi applaudida, e na verd.e he este hum Reli-


publicamente

muito exemplar, e a todos amão seu saber e


gioso q.m pelo

virtudes. Para Confessor de todas as Meninas foi nomeado

o meu Collega, o P.e M.e Fr. Gregorio Viegas, o nos


José q.

lisongeou muito, vendo também S. A. R. se dignou de


q.

honrar a nossa Corporação. A S.ra Princeza D. Carlota


—148 —

ainda não fez eleição de seu Confessor, e os


julgão prudentes
virá a ser o R.mo P.*1 Mazzoni visto estar vago. O
q. João (23),
S.r Infante D. Miguel continúa a a sua moléstia de
padecer

tisica, por cuja causa está em tal ou separação, e assis-


qual
tido sempre do seu Ayo o Conde de Belmonte, mesmo até

o cohibir nos excessos da sua viveza.


para

O P.e Bernardo, Ex-Frade sahio desta Corte


Jeronimo,

a sua Igreja na Bahia, a toque de caixa, e dentro de


pu poucas

horas, ordem expressa de S. A. R. ; he de hüa tal


por pois
o menino, .por suas intrigas foi causa de S. A. R.
qualid.e q.

suspender em hüa noute a Audiência em consequencia de seus

ditos : conheceo-se a mentira e a intriga, foi


porem pela qual
logo mandado despejar, e S. A. R. não concedeo lhe beijasse

a Mão na occasião da sahida.

Hontem faleceo Vicente Paulino, M.e das Cosinhas,

cujo Lugar hão de haver cacheiradas entre o


por grandes
Torres e o Alvarenga ; ambos campar.
por q. querem
D, Francisco de Almeida está a sahir Lisboa no
para
Navio Victoria, zangado, intrigado, e sem ser despachado,

o esperava em dia de S. : mas ha de ser ? Elle


q. João que
chamava ao irmão o Governador de Mata-porcos, ao Conde

de Aguiar o Perna e fim a sua Casa era o covil da


gorda, por
bregeirada, onde entrei hüa vez e não tornar, como
protestei
em outra disse a V. M.ce. Ambos erão seus inimigos, e

maior o irmão, mansa he temível; e se d'antes elle
q. pela

mangava nos Governadores do Reino, fazendo o . enten-


q
dia, (q. nem tudo erão acertos), agora ahi chega neste
q.
estado, fará? Vai as suas fazendas d'Alemtejo, como
q. pa

elle diz. O filho do Conde da Ega obteve dar-se-lhe annual-

mente a de 3 mil cruzados dos rendimentos da Casa


q.tia q.
foi de seu Pay, e este não as e vai satisfeito.
perdeo passadas
Estão annunciados sahir os Navios seguintes : Tra-
pa

Victoria, Brig. S.to Ant.° e S.ta Anna, D.° Activo, Ulys-


jano,

ses da China, Triunfo da Inveja. N. B. No Navio Trajano

vai segura hüa Carta, em vai inclusa a 2a Via da Procura-


q.

ção da Ma Velha : e he claro esta não valerá, se tiver ahi


q.
chegado a Ia Via; assim como as Cartas adjuntas, são
q.
idênticas. Nesta vai adjunta a Cautella.

(23) O Padre Mazzoni, da Congregação do Oratório, foi nomeado


João
Arcebispo da Baía nos despachos publicados em 13 de Maio de 1818. — Gazeta do
Rio de Janeiro, de 15 do mesmo mês e ano. — Renunciou ao cargo, alegandc avan-
çada idade. — Varnhagen, História Geral do Brasil. V, ps. 379.
— 149 —

Rógo a V. M.ce o favor de conservar-me na sua lem-

brança, honrando-me com a sua benção : sou com


por q.

todo respeito

De V. M.ce

Filho M.k* obed.e e obg.mo C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaquim

CARTA N.° 52

Rio de 26 de
Jan.ro

de 1813.
Julho

Meu Pay e S.r do meu C. A ultima,


prezadissimo que
tive o de dirigir a V. M.Ce, foi remettida no Brigue S.,to
gosto

Antonio, havendo mandado outra segura no Navio Trajano,

e como ha a sahir hum bom numero de embarcações esse


para

porto, antecipo-me de cautela com estas regras, ignorando

o dia da sahida, aqui sempre he incognito. Estimo


qfle quasi

sobreman.ra V. M.ce tenha saúde correspondente


que gozado
aos meus desejos, a conceder-se-lhe limite, seria em húa
que,

perpetuidade ; mas nem he das nossas forças, nem de húa

racional exigir casos incompatíveis com a nossa


prudência

condição, estreitando-nos somente a húa serie o


prolongada

mais de dias alegres e Eu em outras


possível gostosos. já
tenho relatado a V. M.06 o estado de minha saúde, vai
que
continuando com as mesmas interpolações de ataques mais

ou menos activos, e obrigando-me estes de dia em dia a re-

cordar-me com bem desgosto da moléstia da Manna Candi-

da, Deos haja, considera-la mui á minha,


q. por parecida

ainda nascendo de diversos


q. princípios.

Já ahi terá chegado o Despacho do Conego de Guima-

rães, Primo do seu Co-Irmão, o Ben.do Baptista Rodri-


João

Leitão, obtendo a Licença d'Impetra, como desejava,


gues

no muito me alegro, e lhe dou os : se ainda a


que parabéns

não tiver tirado, deverá na Secretaria :


procura-la pois que
foi remettida daqui Expediente.
pelo
—150 —

Estamos á espera da Galera Aurora, vindo de Lis-


que
boa com as Cartas, arribou á Bahia, e nos tem deixado ás

escuras, cuja noticia trouxe aqui outro Navio, Correio d'Azia,

entregando no Correio desta Corte só 17 Cartas, o nos


que
tem feito desesperar : mim asseverar a V. M.ce
por posso que
he dos motivos da minha mortificação, me
principais e
que
transforma o sangue em veneno.

Agora não se falia aqui em outra couza, se não na des-

graça da Bahia ; havendo chovido alli espaço


pois que por
de 32 dias contínuos, com o enorme da agua, cahirão
pezo
alguns morros sobre a Cidade baixa, em ficou ala-
que parte
e o resto está ameaçando ruina : foi considerável o es-
gada,

trago em mortandade, sendo esta de lamentar-se com a


grande

perda de bons edifícios e estabelecimentos Regios ; o que


obriga ao Conde dos Arcos a representar a S. A. R. a nova

transplantação da Cidade outro sitio mais seguro, des-


para

povoando-se de todo esta


parte, que padeceo (24).
S. A. R. havia determinado húa nova a S.ta
jornada
Cruz, o tudo estava em movimento ; suspen-
para que porem
deo-se até segunda ordem, em razão de sobrevir a S. Mag.e

(24) Ainda que seja bem conhecida a catastrophe acontecida nesta Cidade
[Bahia], todavia julgamos que não será inútil extrahirmos huma noticia dos principaes
acontecimentos com a brêvidade e singeleza,
que sempre nos acompanhão.
No dia 14 de Junho pela huma hora da tarde, em consequencia das grossas
chuvas, que durarão muitos dias antes, e ainda continuarão muito tempo, desabou
da ribanceira, que ficava defronte do Trapiche do Barnabé a
parte pouca distancia da
Igreja do Pilar, e arrazou as ca2as, que estavão em frente do dito Trapiche, e a parte
deste da banda de terra. Não se pode assignar ao certo o numero de pessoas que
perecerão, assim nas cazas, como na rua, a qual ficou atulhada da terra e arvores,
que deslizarão da mesma ribanceira. Pelos cuidados'e providências do Exmo. Conde
dos Arcos escaparão á morte algumas pessoas, que estavão soterradas, e se demoli-
rão algumas casas situadas naquella encosta, que ameaçavão ruina.
Na madrugada de 16 cahio hum muro de quintal com tres moradas de cazas
térreas na encosta adiante da Conceição do Boqueirão; e igual desgraça aconteceu
por cima da ladeira da Misericórdia. Alguns pedaços de terra se despegarão da
ribanceira do caminho novo, por detraz da Igreja da rua do Passo. Dizem a
que
muralha da praça nova de S.
a montanha, que desce da gameleira
Bento, e á pre-
guiça. igualmente ameação estrago. A 22 de Junho precipitou-se do monte, sobre que
está construída a Igreja de S. Antonio além do Carmo huma grande porção de terra,

que derribou 10 moradas de cazas na vizinhança dos cortumes, e lançou no mar as


suas ruinas : porém os moradores havião tido a cautela de abandona-las.
Tal he o resumo dos damnos, que tem soffrido aquella Cidade, e das desgra-
ças que tem aterrado os moradores da Cidade baixa, que em
grande parte tem de-
samparado as suas habitações." — Gazeta do J?io de de 11 de Setembro
Janeiro,
de 1813.
À vista do perigo que oferecia a cidade, o Conde dos Arcos concebeu o plano
de mudá-la, fazendo-se uma nova desde a praia e planícies que seguem do Noviciado
até Itapagipe, reedificando-se a casa do Noviciado para as sessões do Governo, Junta
da Fazenda, Relação e Câmara, obra que informava ser pequena despesa, sendo mais
dispendiosa a casa da nova Alfândega. — Conf. Varnhagen, Historia Geral do Brasil,
V. ps. 11R.
— 151 —

húa leve erisipéla em hum de se está curando, e vai


pé, que

melhor.

Hé o ora se .me offerece dizer a V. M.ce, a


que por quem
continúo a a ma fiel obediencia, e a o favor da
protestar pedir

sua benção; sou com todo o respeito


pois

De VI M.06

Filho m.to affect.0 e obg.mo C.

Luiz dos S.toe Marrocos


Joaq.m

CARTA N.° 53

Rio de 31
Jan.ro

de de 1813.
Julho

Meu Pay e S.r do C. No dia 27 entrou


prezadissimo

aqui a Galera Aurora com 65 dias de viagem, e nos


que já

havia causado cuidados, espalhando-se vozes aereas,


grandes

todas sahirão falsas, sobre o seu destino. Por ella tive


q.

o excessivo de receber húa Carta de V. M.^ com'


gosto pa-

adjunta, tudo estimei e a responderei em tempo


pelada que que

mais de descanço e socego mim ; hoje he dia


para pois que

de afflicção hum vigoroso ataque de cabeça,


grande por que

me torna todo convulsivo. O Navio Ulysses sahe ámanhã,

e leva outra Carta minha, e a escrever esta em


já propuz-me

razão da recomendação de V. M.ce lhe notificar a recepção


pa

do Requerim.to do F. Guimarães aqui se tratar do meu


pa

Despacho.

Sobre esse respeito fallei a hum Sugeito, expertissimo


manejador de negocios e de immensos outros ; e em


procurador

razão do offerecido e das reflexões de V. M.ce sobre


prêmio
rasca. . ., estabelleci-lhe hum diminuto valor; elle me
porem

asseverou outros idênticos Despachos recebera sommas de


por

480$000 r.s. Elle ficou com o Requerimento, e ficou de ob-


ter a Mercê em duas ou tres semanas, do darei a V. M.ce


que

a competente resposta; isso V. M.C€> em


por providenciará
— 152 —

apromptar-se aqui o dinheiro melhor modo lhe ;


pelo q. parecer

mas era bom descontasse a beneficio de nossa Casa a


q. quan-

tia, razoav^l, e o resto virá então ; por depois


que julgar que

de ir a mão do d.° Procurador, eu o farei callar. Se eu


p.a

cuidasse dessas nada de despezas era


pessoalmente pertensões,

mas sou assás timido, não comprometter-


preciso, por q. quero

me. Não mais. Encomendo-me m.to na sua benção e da


posso

Mãy, e sou

De V. M.ce

Filho obd.e e obg.m0 C.

Luiz

P. S. Saud.es a todos.

N. B. No 1.° Navio, sahir depois deste, se D.8


q. quizer,

responderei a tudo e tudo. não vejo


por Já quasi

nada.

CARTA N.° 54

Rio de 5 de
Janeiro

Agosto de 1813.

Meu Pay e S.r do meu C. Recebi a ultima


prezadissimo

de V. M.ce suspirado Navio Aurora e mão de hum Su-


pelo por

desconhecido, mas fez a mercê de em


geito que procurar-me

minha Casa, e entregar-ma sua segurança : eu


pessoalm.te para
lhe agradeci o trabalho, e a V. M.ce deixo a suas reflexões ma-

duras e avaliar a minha satisfação e


judiciosas prazer, passando

de hüa ardente sede á abundancia de Cartas e


gostosa papeli-
nhos estimaveis e dignos de séria lição. Consolei-me sobre-

maneira com as boas novas de nossa Casa e Familia, e


quererá
Deos conservar-me essa alegria, de outro modo se não
já que
digna de arrancar-nos do incommodo nos afflige. Eu
pégo, q.
tenho hua época bem enfadonha meu mal se
passado pelo q.,
me não engano, refinou, e mais refinará : hontem á noute.
quasi
havendo sahido de casa, em companhia de hum Clérigo meu

amigo, de repente fui assaltado de húa vertigem, a não ser


q.,
—153 —

elle me amparou, cahiria o lado sobre hum lameiro : e


q. p.a

alem deste, foi a cada me sobrevem muitos


q.. grande, passo

outros vagados menores, me mas não me desacor-


q. perturbão,

dão. Posso assegurar a V. M.ce com toda a ingenuidade,


q.

ninguém estará mais longe da America, a costumes e


quanto

modo de do eu ; e dou em meu abono me co-


pensar, que quem

nhecer, e for amante da verdade : tenho a maior neste


jactancia

meu errado caminho, o vejo trilhado ; e com esta


por que pouco

minha sincera confissão respondo aos mixtos da America, em

V. M.ce na sua me falia.


q.

Quanto a numero de Cartas está decidido em Con-


pleno
sistorio, V. M.ce me he devedor ás respostas de muitas Car-
q.
tas minhas, daqui lhe tenho dirigido, conservando eu também
q.
todas as tem aqui chegado, assim de V. M.ce, como de todas
q.

as mais me tem honrado : Segundo a sua conta


pessoas, q.

chronologica excedo eu em 6 Navios, eu accrescento


porem
muitas outras, V. M.ce me não refere, e isso me faz
q. por jul-

gar que são no Correio, ou talvez. . ., desaforo, me


perdidas q.
tem sido aqui have-lo sempre ignorado : não faço
patente, por

menção dos Navios, levão duas, tres, e Cartas mi-


q. quatro
nhas separadamente, o muitas vezes tem acontecido. Não
q.
he só a seu respeito tenho estas ideas sobre o destino das
q.
Cartas, algúas outras a sempre tenho es-
pois q. pessoas quem
cripto, se da minha omissão, não as haverem re-
queixão por
cebido.

Fico inteirado do estado actual de campestres,


producções
e seu avultado ; assim como do tremendo temporal de
preço
28 de Abril com os estragos, em e edi-
que produzio plantações
ficios : aqui, comparada a natureza de hum e outro Paiz, não

he mais favoravel o dos de necessidade ;


preço generos primeira
e muito os Europeos, na frase dos Cariocas, são
peior p.a q.,

exdruxulos, isto he, não acostumar o seu e


q. podem paladar
estomago á diversid.e economica de comeres, nausêa e enfas-
q.
tia, como he exemplo o trivial de carne secca de
por quitute
Minas com feijão negro e farinha de tudo cosido e amas-
páo,
sado com os dedos, fim são lambidos. Entre esta
q. por gente
chama-se ao entre nós se dá o nome de acepipe, ou
quitute que

pitéo.

Não me ficão no esquecimento os serviços e interesses dos

dous benemeritos Ex-Apontadores e digníssimos Comissários

de Viveres e transportes ; conhecendo-se daqui a importancia


— 154 —

do Silece leges inter arma, e memoráveis serão os factos


quam

da nossa Historia, rivalizando-se o heroísmo de huns,


presente

nascidos e cria4os nos Campos de Bellona, com outros bem


q.

se derão a conhecer entre as do Alto d'Ajuda !


pedras

Estimo muito o Tio Conego esteja com a integra


q. posse

da sua Cadeira morte do Velho renunciante : eu nada sa-


pela

bia, e isso lhe não havia dado as en horas buenas. Com


por

tudo como S. S.a R.ma se não digna ao menos de responder ás

minhas Cartas ; e regeita ser do numero dos Cruzados, só


por
nelle ha alguns menos dignos ou indignos ; eu também me
q.
não digno de escrever a S. S.a R.ma, não das
pelo perturbar

suas semeaduras ou enxertos, fructo da sua curiosid.e e dos

seus lapanios, entre apparecer com a sua batina tan


quem quer

coma a da man.
plaina, palma

Fico tão ufano com a noticia da recommendação do S.r

Visconde de Santarém a este de V.a N.a da Rainha a meu res-

e da resposta deste a esse a meu favor, não sei dar a


peito, q.

V. M.ce húa idea da minha satisfação : he muito na-


plena pois
tural no homem de saber são acceitos os seus serviços
gostar q.

e trabalhos, inda mesmo não sejão remunerados. Lou-


q. João
renço me escreveo também agora, dando-me recomendações do

dito S.r Visconde, e lisongeando-me assás com elogios, eu


q.
não acceitara, se fossem de outrem. Eu lhe sou summamente

obrigado ; não obstante as suas diarias fadigas, como


por q.

V. M.ce sabe, me obsequêa respondendo ás minhas Cartas.

Eu tenho ido muito bem com a amizade deste Visconde e Barão

do Rio Secco, apezar de suas inimizades, e espero continuar

igualmente, cumpre não tomar e só ser calado


por q. partidos,
e neutral : o d.° Barão cuida agora em ir residir o seu novo
para
Palacio no Campo dos Ciganos, onde ha dias se tem
para

transportado a sua mobilia, muzeu, &c. e ficará esta


preciosa

Casa, elle occupava, servindo só de seu Escriptorio e


grande q.

Pagadoria. No sitio de Mata-porcos está levantando 2.° Pa-

lacio, virá a ser mais soberbo e estupendo, segundo a Planta


q.

e alinhamento.

em húa anteced.te e brevíssima respondi a V. M.ce sobre


o Requerimento do Negociante do Porto, he interessa-


por q.m
do o seu P.e Co-irmão ; e agora repito se acha incumbido
q. já

a .hum Sugeito, chamar-se o Procurador de todo o


q. pode

Brazil : elle exige 100 moedas de e eu, sem lh'as


prêmio;
negar, lh'as não offereci, nada dispor ; mas lhe
por q. podia
— 155 —

asseverei a untura havia de ser o melhor ainda


q. possível, q.

me não occupava temor algum de suas como fizera


penhoras,

a outros. Da somma, o dito Negociante aqui remetter


q. p.a

em segurança, V. M.ce aproveitar-se naquillo


queira q. julgar

digno ; e o restante, vier, será entregue ao dito agente, e se


q.

este a mui diminuta, eu farei toda a diligencia satis-


julgar por

faze-lo, apromptando mim ou outrem o for conve-


por por que

niente : e com toda a brevidade remetterei ahi o


julgo q. para

d.° negocio concluído, segundo elle logo me affirmou.

S.. A. R. foi logo entregue das Estampas do Aguilar, de

mostrou e eu dei as duas, me couberão, ao S.r Vis-


q. gostar, q.

conde de V.a N.a, e a- D. Miguel Valladares, Camarista effe-

ctivo de S. A. R., e fiquei em Bartolozzi mandou das


jejum.

suas do Lord hum Caixote com huns de centos


grandes poucos

S. A. R., e Aguilar manda 7 estampas, nem che-


p.a q. podem

a toda a Família Real, esta deve ser sempre brindada.


gar q.d0
He necessário elle reflicta, e saiba ajustar o mais os
q. possível

seus offerecimentos ás Pessoas : isto he bem claro, e digo-o ;

não foi a minha repugnancia, apresentando nas


por q. pequena

Mãos de S. A. R. o dito numero de Estampas.

O nosso Compadre me escreveo também agora, dando-me

de outra filha : eu tenho o maior sentimento, não ter


parte por

aqui ser-lhe util ; a sua he de tal natu-


podido por q. pertensão
reza, logo fica indeferida. Tenha ; em
q. paciência pois q.
tenho sido util aqui a V. M.ce e mesmo a mim ? Se os exem-

de nossa Casa o não fizerão chegar á razão, não


pios própria

sei lhe responda.


q.

. Rógo a V. M.ce me continue o favor da sua benção, sou


pois

De V. M.ce

Filho m.t0 obed.e e obg.mo C.

Luiz dos S.tos Marrocos.


Joaquim

P. S. Saud.es a todas as a devo o favor de


pessoas quem

se lembrarem de mim.

N. B. Agradeço a V. M. a remessa dos curió-


papelinhos
sos, impressos e manuscriptos ; reservando
p.a
outra Carta algüas reflexões, tenho sobre isso.
q.
CARTA N.° 55

Rio de 14 de
Jan.ro

Agosto de 1813.

Meu Pay e S.r do C. No dia 7 sahirão daqui


prezadissimo

os dous Navios, Ulysses e Victoria, hum dos foi sem


quaes

Carta minha, tendo eu d antemao lançado húa no Cor-


por que

reio o N. Ulysses, e indo no m.mo dia 7 lançar outra o


p.a para

N. Victoria, tinha este na vespera á noute tirado a mala do


Correio ; e consequencia ficou a d.a Carta o 1.° N.


por p.a q.

sahir, será o N. Triunfo.


q. julgo

Esta agora he só relativa á S.ra Anna Rosa, de


Joaq.na

V. M.06, me fazer favor, está constituído Procurador ;


quem por

e se reduz o objecto a tres artigos : 1.° Desejo eu saber se V.

M.ce foi entregue de húa Carta, ha mezes daqui lhe remetti ;


q.

e nella se incluia húa Carta-Patente desta S.ra na Irmand.e de

S. Francisco, e ahi se certos annuaes, se não me


pagarem q.,

engano, importavão a de 2$880 r.s. Na mesma ião adjun-


q.tla

tas certas Clarezas V. M.ce ahi receber da mão do Quiroga


p.a
a de 12$000 r.s, eu aqui emprestei a seu filho, em
quantia q.
moeda metallica. De nenhúa destas cousas temos tido resposta,

a V. M.ce se dignará de dar na occasião de Na-


qual primeira

vio. 2.° Deseja esta S.ra V. M.** estabeleça hum con-


q. preço
veniente a beneficio trabalho e incumbência de
proprio, pelo
lhe tratar ahi de seus negocios, cujo será extrahido do
preço

dinheiro, receber, dos vencidos no Convento dos


q. juros Jero-
nimos de Bellem e da Penna, e será regularm.te ad libitum
pago
ou aos mezes ou aos ; remettendo logo aqui o di-
quartéis p.a
nheiro restante, reduzido a metal, e em Letras, como he costu-

me. 3.° V. M.00 se dignará entregar a Carta inclusa em Bellem

ao Procurador Geral, Fr. Bernardino, e ter com elle as intelli-

necessarias, a fim de receber a nella declarada


gencias quantia
de 400$000 r.s, e assignará os Recibos e Clarezas
precisas,
attendendo m.t0 ao tempo, em a correr o de 10
q. principia juro
mil cruzados, causa desta extracção ; e logo tiver rece-
por que
bido essa em metal, a remetterá aqui em Letra se-
quantia para
— 157 —

: e sobre este'particular de Letras, lembro-me eu em


gura que

todo o sentido, e em tempo he mui estas sejão


qualquer justo q.

sobre o Barão do Rio-Secco, de Azevedo,


passadas Joaq.m José

seu Correspondi Bexiga ; o d.° Barão he o mais


por pois q.

e bizarro nenhú outro. He a maior re-


prompto pagador, q.

commendação, ora se faz a V. M.ce, saber do Convento


q. por

de Bellem e da Penna, até tempo tem elles satisfeito o


que pa-
dos vencidos, em hum e outro Convento ; e
gamento juros

mandar em Carta essa memória ; e melhor seria, se


para qui
V. M.ce extrahir húa copia exaicta dos ditos
podesse pagamen-

tos desde o tempo, em S. A. R. se transferio esta Corte.


q. para

Para o 3.° Navio escreverei a V. M.ce sobre objectos,


q,
me : e agora só me resta me continúe o
pertenção pedir-lhe
favor da sua benção ; recommendando-me m.to e m.to á Mãy,

Mana, Tia e Ignez : e sou com a maior submissão.

De V. M.®*

Filho m.t0 obd.e e obg.mo C,

Luiz dos S.tos Marrocos.


Joaquim

CARTA N.° 56

(A esta carta está ligada a N.° 57 com data


(suplemento)

de 25 de Outubro de 1813)

Rio de 28 de
Jan.ro

Setembro de 1813.

Meu Pay e S.r do C. Tenho responder


prezadissimo que
a hua da sua Carta de 10 de trazida aqui Na-
parte Junho pelo
vio Triunfo Americano, e a outra de 5 de Correio
Julho pelo
Marítimo Mercúrio, deo baixa. Desde o mez de Agosto
q.
até hoje tem entrado e sahido os Navios seguintes : a 16

d'Agosto entrou o d.° Triunfo, e a 10 de Setembro entrou o d.°

Mercúrio : a 2 d'Agosto sahio o Navio Leal Portuguez, a 6 os

Navios Victoria e Ulysses, a 26 o Triunfo da Inveja, a 5 de

Setembro o Brigue Activo, alio Flor de Lisboa ; e ignoro


— 158 —

levarião Cartas minhas incerteza de sahirem huns


quaes pela

outros, mas tenho de o


primeiro q. grande probabilidade q.

Brigue Activo fosse o da m.a resposta sobre a


portador perten-

são do Negociante Antonio Francisco Monteiro Guimarães,


q.

V. M.ce exporá ao seu Amigo e Coirmão se deliberar, em


para

daqui não vai a decisão : o novo Procurador


quanto prestou-se

ao empenho de outro Sugeito, a fallei, visto eu não


quem q.

tenho familiaridade com elle ; e elle dará boa


persuado-me q.

conta de si, não ser farçola nem tratante ; assim como me


por

desenganará logo, se não obtiver bom êxito. Sinto muito a

continuação da moléstia do S.r Arcebispo, e recebo com o maior

reconhecimento as suas recommendações : eu me lembrava di-

rigir-lhe huma Carta sobre hum e outro objecto, mas havendo-o

feito outra vez, repeti-lo agora seria mais im-


por parece-me q.

officioso : do S.r Visconde tive iguaes demonstra-


portuno q.

de favor húa Carta de Lourenço com data de 2


ções por João

de Maio, a também respondo agora : e eu me muito


q. julgo

feliz acceitação, em estou com muitas e Pessoas,


pela q. grandes

desejando não desmerecer nunca de sua boa opinião.

A tomada do Navio Oceano em 8 de fez-me


Junho grande

transtorno ; creio levava V. M.ce de im-


pois que para papeis

segundo o meu calculo : aqui, logo depois dessa no-


portancia,

ticia, chegou a da sua retomada com o Corsário, e


proprio q.

havia de restituir-se a seu Dono, visto succeder a retomada

dentro do de tempo estabellecido entre a nossa Corte


periodo

e a de Inglaterra, deduzindo-se hüa 8.a o reto-


porem parte p.a

mante. Agradeço a V. M.0® a remessa dos versinhos impressos

e manuscriptos, e a do Bispo de Orense, a


Justificação q. q.to

mim he magnífica e sem resposta : versos do Borges ve-


pelos
nho a concluir nesse ramo não de Cisne implume, ou
q. passa
nas de Bocage, de Ganço : não ha hum só
palavras grasnador

verso, mereça hum Benza-te Deos, e fóra de basofia, eu


q. q.
me não banhei nas agoas de Hyppocrene, e sem ter o nome,

elle me atrevo a fazer melhores Obrinhas do


q. grangeára, q.

ae delle, tenho á vista.


q.

Fico sciente do fallecimento de Ignacio Antonio Ribeiro,

de Seabra, Sobrinho do P.e Antonio, e do Alfaiate


José José
Felix Cação : e desejo saber do destino do celebre Dionisio.

Diz-se aqui ficar Intendente Geral da Policia, hum Dezembar-

e Deputado da das Munições, de Mattos e


gador Junta João

Vasconcellos Barbosa de Magalhães ; assim como se vai a es-


— —
159

das Necessidades hum Colle-


tabelecer na Ca§a e Congreg.am

Governo, e regido m.mos Padres.


Militar conta do pelos
gio por
certas figuras aqui tem vindo,
Sobre os destinos de q. p.a

: o Cirurgião Manoel Alvares está feito Cirurgião


devo dizer

rogos do Velho Picanço, o e introduz ;


da Camara, a q. protege

destituído de agilidade as Opera-


reconhecendo-se já p.a
pois
Cirúrgicas delicadas obst.e ainda ser peralvilho) para
ções (não

se seguiria da sua falta, lembrou-se só Al-


encher o vácuo, q.
q.
: com effeito eu o vejo no Paço,
vares era capaz de succeder-lhe

Farda nos dias de Gala ; e até hoje não ha murmuração


e com

A respeito de Stockler em outra informei a V. M.ce


delle. já

chegado inesperadamente servir onde S. A. R.


de elle ter para

bem empregá-lo : eu não o vejo ir ao Paço, e


houvesse por
não tem beijado a Mão a S. A. R. : elle vive
é^ffirmão-me q.

em retiro fóra da Cidade, inculca muito de sua conducta


como

e húa Obra —
exemplar no tempo do intruso Governo, publicou

ao Auctor da Historia Geral da Invasão dos Francezes


Cartas

em Portugal, e da Restauração deste Reino. Rio de


Janeiro.

1813 — 4.° — em com muita


(25) q. pertende justificar-se pa-

lavra ou assim como o seu Plano de Campanha com o


parolada,

Duque de Lafões ; porem he tão infeliz, cada vez se condemna


q.

mais, e se atóla no lodo. Simão Portugal he Organista da Ca-

R. com os seus 300$000 r.8 e appendices, ignoro se com


pella

ração ; o irmão tem-no introduzido com os seus conhe-


porem

cimentos de sorte tem muitos discípulos e disci-


q. grangeado

lhe mandão suas seges a casa busca-lo : eu tenho-o


pulas, q.

visto mil vezes nas d.as seges, entre ellas a da Duqueza de Ca-

daval : isso não tem razão de lamentar-se, he mui


por por q.

natural lhe intereses de seu exercício. O


provenhão grandes

irmão Marcos, ou o Barão d'Alamiré, tem a aversão


ganhado

de todos sua fanfarronice ainda maior a do Pão de ló :


pela q.

he tão a sua impostura e soberba estar acolhido á


grande por

(25)
"Saiu
Aviso publicado na Gazeta do Rio deJaneiro, de 16 de Junho de 1813:
à luz : Cartas do Autor da História Geral da Invasão dos Francezes em
Portugal, e da Restauração desta Monarchia, por Francisco de Borja Garção Sto-
ckler, Fidalgo da Casa de S. A. R., Marechal de Campo dos Seus Exércitos, &c.
Nas quais se convencem os descuidos do Autor relativamente à Campanha de 1801,
ese justifica a conduta da Academia Real das Sciencias de Lisboa, e a do próprio
Autor, durante a dominação Francesa, injustamente desfigurada na dita Obra, em
4." um voiume. — Vende-se 960 reis na loja de Paulo Martin, filho, rua da
por
Quitanda N.° 34."
Essas Cartas sairam na Impressão Régia, Rio de Janeiro, 1813, in-4.° de 117

pp. num., 1 fl. de erratas.


referida História Geral. —
São dirigidas a José Acúrcio das Neves, autor da
Veja A. Vale Cabral, Annaes da Imprensa Nacional, n. 315.
— —
160

de S. A. R., se tem levantado contra si a maior parte


graça q.

dos mesmos, o obsequiavão : he notável a sua circunspecção,


q.

olhos carregados, cortejos de superioridade, em fim apparen-

cias ridículas e de charlatão : tem desmerecido nas suas


Composições e hum Musico e Compositor, vindo de


; grande

Pernambuco, e aqui vive, he hum seu Antagonista, e mostra


q.

a todos, os ver, os lugares, Marcos furta de


q. quizerem q.

outros A. A., como originaes. Como está cons-


publicando-os

tituido Director dos Theatros e Funções, a Musica, tem


q.to

formado enormes intrigas entre Músicos e Actores, de se


q.

tem originado desordens. Do novo Theatro, vai a


grandes q.

abrir-se o dia 12 de Outubro ; e tem sido feito á imi-


p.a (26) q.

tação e de S. Carlos, a troco de despezas incríveis,


grandeza

Marcos ser despotico Director com 2:000$000 r.s alem de


queria

Benefícios e o melhor Camarote da bocca ; como encon-


porem

trasse duvidas no seu Emprezario, tem-se empenhado em des-

viar os Actores, e isso obrigando-os a exigir me-


para grandes

zadas. He riso velo á e em todo empoado e


janella, público,

"Terça
(26) feira 12 do corrente, dia felicíssimo por ser o natalicio do Sere-
nissimo Senhor D. Pedro de Alcantara, Príncipe da Beira, se fez a
primeira répre-
sentação no Real Theatro de S. João, a qual S. A. R. foi servido honrar com a
Sua Real Presença, e a da Sua Augusta Família. Este theatro, situado em hum dos
mais bellatraçado com muito e construído com
lados da praça desta Corte, gosto,
magnificência, ostentava n'aquella noite huma pomposa perspectiva, não só pela Pre-
sença já mencionada de S. A. R., e pelo immenso e luzido concurso da Nobreza, e

das outras classes mais distinctas; mas também pelo apparato de formosas decora-

ções. e pela pompa do Scenario e vestuário. Começou o espectaculo por hum Drama
lvrico, tem por titulo o^juramento Numes, composto por D.
dos Gastão Fausto da
que
Camara Coutinho, e allusivo á comedia, que se devia seguir. Este drama era adornado
com muitas peças de Musica da composição de Bernardo José de Souza e Queirós.
Mestre e Compositor do mesmo theatro, e com danças engraçadas nos seus interval-
los. Seguio-se a apparatosa peça intitulada Combate de Vimeiro.
A illuminação exterior do exquisito
theatro,
gosto, realçava o ordenada com
esplendor do espectaculo. Ella J. P. R. allusivas ao Augusto
representava as letras

Nome do Príncipe Regente Nosso Senhor, cu]a Mão Liberal protege as Artes, como

fontes perennes da riqueza e da civilização das Nações." — Gazeta do Rio de Janeiro,


de 16 de Outubro de 1813.
"danças
As engraçadas" foram executadas sob a direção de Luis Lacombe, que
13 de Julho daquele ano
desde 1811 estava no Rio de Janeiro e punha na Gazeta de
"Luis
o seguinte aviso : Lacombe, Professor de Dança, ultimamente chegado ao Rio

de tem a honra de annunciar a todas as pessôas civilisadas desta Cidade,


Janeiro,
se ensinar todas as qualidades de Danças próprias nas sociedades :
que elte propõe
honra de tomar as suas lições, o poderão
todas as pessôas que lhe quizerem fazer a
procurar na rua do Ouvidor, n. 82, 3.° andar.
O drama representado tinha sido impresso, como se vê deste aviso, publi-
já "Sahio
na Gazeta de 6 de Outubro de 1813 : — á Juramento dos Numes,
luz : o
cado
se representar na noite da abertura do Real Theatro de S. João, em
Drama para
applauso ao Augusto Nome de Sua Alteza Real o Príncipe Regente Nosso Senhor,

Gastão Fausto da Camara Coutinho. Este Drama he todo allusivo ã Peça,


por D.
se ha de representar no mesmo dia 12 de Outubro no referido Theatro
que igualmente
titulo o Combate de Vimeiro. —> Vende-se 640 réis na
de S. João. que tem por por
loja da Gazeta.".
— 161 —

emproado, como'q.m está o Mundo : mas em fim


governando

tem hum Padrinho, e este o ser, he affagado


grande por por

outros. Bem dizia o Dez.ur Domingos Monteiro de Albuq.e e

Amaral, chamando-lhe rapsodista Marcos !

Os folhetos, me forão remettidos seu Auctor Anto-


q. por

nio de Gouvea Pinto, hão de ser vendidos com algum


Joaquim

trabalho, visto aqui ha negocio de Livros, e dous Li-


q. pouco

vreiros, aqui se achão, basta serem Françezes serem tra-


q. p.a

tantes : eu ainda me não a esse trabalho, e o


(27) propuz q.

elle remetterei Letra segura. Dos dous exempla-


produzir, por

res, eu entreguei ao Conde de Aguiar, foi remettido as R.


q. p.a

Bibliothecas o a S. A. R. Faz-se estimavel esta


que pertencia

Obra singularidade de servir de Continuação á outra —


pela

Primeiras Linhas sobre o Processo Civil — inda lhe falte


que

o Tratado das Execuções m.t0 importante e completava a


q.
Obra
geral.

Referindo-me agora á Carta de V. M.ce de 5 de


Julho,
escripta ao Loreto, com a noticia da victoria alcançada
gloriosa

em Victoria contra os Francezes Duque da Victoria, he


pelo
m.t0 nos congratulemos hum tão importante
justo q. por golpe,
a meu ver virá a decidir da boa sorte da Península : nós
q.

aqui o soubémos, antes da chegada do Mercúrio, húa Su-


por
maca vinda a toda a brida de Pernambuco, unicamente trazen-

do a S. A. R. a Gazeta impressa de Lisboa, o Governador


q.
recebera de hum Navio também de Lisboa e alli chegado, e
pela
sua combinação ainda aqui se não saberia, como acer-
julgou q.
tou ; e isso fez logo sahir a Sumaca com a d.il Gazeta. S.
por

A. R. ficou mui satisfeito com aq.la alegre noticia, e mandou

cantar o Te Deum na Capella R. ; mas esperar Mer-


quiz pelo
curió em razão dos seus Officios, haverem maiores demons-
p.a,

trações de ; e então elle chegou, houverão lumi-


júbilo quando
narias em 3 noutes, Salvas, alem da Missa e Oração em Ação

de e causa da muita chuva não houve arrumamento


graças, por

de Tropa, como he costume, descargas e vivas. S. A. R.


p.a
deo beija Mão de e todos tivemos o de os dar
parabéns, gosto
mos e receber mos com o maior : eu também lhe beijei
prazer
segd.il vez a Mão da sua como outros muitos fizerão,
parte, e

(27) Os dois livreiros franceses, tinham seu comércio no Rio de


que Janeiro
nessa ocasião, eram Paulo Martin, filho, com loja à rua da n. 34» e João
Quitanda,
Roberto Rourqeois, à mesma rua. n. 33. Ksse último, com quem Simão Tadeu Fer-
reira tinha contas, faleceu de repente em Março de 1814, conforme se lê infra, carta
n. 66.
— 162 —

Elle se mostrou mui'agradecido a tão evidentes demonstrações

de contentamento. Agora todos estamos em suspensão,


geral

e até em sustos, conseqüências do Armistício entre a Rus-


pelas
sia e a França ; he muito notoria a flexibilidade de Ale-
pois
xandre, como foi também a de Francisco; e também se
julga
reprehensivel a retirada de Murray, largando o cerco de Tar-

ragona : em fim concluirão os Hespanhoes só admittindo


q.
nos seus Exércitos a disciplina Ingleza se tornar ca-
poderião
de4 anniquilar as forças Francezas ; e só a
pazes q. prudência
do Lord a travez da sagacidade da-
grande poderia penetrar

salvando-nos e salvando-os. Antes desta ultima mar-


quelles,

cha do nosso Exercito dizem Lord foi insultado com Pas-


q.
Satiras, e Cartas anônimas, mofando do seu silencio,
quins, q.
chamavão cobardia, e affrontando-o retirada de Burgos.
pela

Que dirão agora esses Politicarrões e Generaes das Praças e

Botequins ? Mettem a lingua no ....

No dia 16 terminou o luto morte da S.ra Infanta,


pela q.
D.s haja.

S. A. R. esteve huns dias em S.ta Cruz, Fazenda,


grande
foi dos e distante daqui 11 legoas : esta semana
q. Jesuítas,

esteve na Ilha do Paquetá em razão de hüa Festa a S. Roque,

de he ; e dali a Ilha dos Frades


q. Juiz perpetuo passa para p.a
a Festa de S. Francisco.

Aqui se está á espera do Conde de Funchal, asseverão


q.
vir a Secret.a dos Negocios Estrangeiros, e ficando o Con-
p.a

de das Galveas na da Marinha. O Plácido, irmão do Melitão,

morreo ha dias de suas moléstias, e com elle vagarão


grandes
3 Officios : o maior, he de Inqueridor das do
q. Justificações
Reino no Conselho da Fazenda, e rende de 4 5 mil cru-
q. p.a
zados, foi logo requerido 36 entre elles alguns
por pessoas,
GuardaRoupas ; a todos elles foi o S.r Mar-
porem preferido
cos Antonio Portugal, a S. A. R. conferio a
q.m propriedade
do d.° Officio, com hüa Pensão de 400$000 r.s annuaes a
para
irmã do d.° Plácido, ora recolhida aqui no Convento da Ajuda.

O Marquez de Borba está em cura de hum ataque apople-

tico : o Marq.z de Vagos tem estado nas ultimas, e tem-se tor-

nado hum fiambre : o Conde de Cavalleiros tem tido 4 recahi-

das, e se acha agora tomando áres em húa Chácara do Veador

Antonio de Saldanha no Sitio do Pedregulho : o Conde de

Belmonte está doente com ichtericia, e foi rendido Conde


pelo
de Valladares acompanhar o S.r Infante D. Miguel, ainda
p.a q.
não tem melhoras.
No dia dos anhos do Príncipe Regente de Inglaterra fez

aqui o Ministro daquella Corte, M.r Strangford, huma função

esplendidissima, consistindo esta em baile e cêa, a foi toda


que

a Corte : se salas competentes lançarão-se


para prepararem

abaixo divisórias interiores, e alem de ser espantoso e


paredes

admiravel o apparato, até desembarcou Tropa da Marinha In-

dentro e fóra as suas Casas, além da.


glezà p.a guarnecer por

nossa de Infanteria e Cavalleria. Não descrever a Fun-


posso

ção, V. M.06 conjecturar em todas as suas circunstan-


q. poderá

cias ; a Marqueza de Bellas foi a Mestra Salla das Senhoras,

Strangford o dos homens ; e S. A. R., então se achava em


q.

S.ta Cruz, mandou dalli o seu Camarista, D. Miguel de Vai-

ladares, a cumprimentar Strangford hú tão dia.


por plausivel
O inverno tem sido muito rigoroso, e eu o tenho extra-

nhado : espantão-se os Brazileiros dã mudança das Estações,

vão a assemelhar-se ás da Europa. Frios muito intensos,


que

e chuvas mui atturadas e assás os incommodão : e agora


grossas
vamos a entrar no verão, seremos convidados com trovoadas
q.

e chuvas, como he costume. ahi se saberá da ca-


Já grande
tastrofe da Bahia, ficou toda em ruinas abundan-
q. quasi pela
cia e pezo dagoa, como em outra annunciei a V. M.ce. S. A. R.

mandou daqui a toda a o Architecto da Costa com


pressa José

hum numero de outros Architectos e Engenheiros,


grande para
alinharem huma Cidade nova fóra da eminencia dos morros e

montanhas, de ainda agora continuão a despejar-se


q. pedaços,
arrazão tudo, encontrão.
q. q.

Nesta Cidade e seus suburbios temos sido m.to insultados

de ladrões, accommettendo estes e roubando sem vergonha, e

logo ao da noute; de sorte tem horrorisado as


principio q.
muitas e barbaras mortes, tem feito : em 5 dias contarão-se
q.
em circuito 22 assassinios, e em húa noute mesmo de-
peq.°

fronte da m.a fez hum ladrão duas mortes e ferio 3.°


porta gra-
vemente. Tem sido tal o seu descaramento, até avanção a
q.

pessoas mais distinctas e conhecidas, como foi o Chefe


proprio
de Policia ; o Chefe de Divisão Maria Dantas recebeo
José por
favor duas tremendissimas bofetadas, cahir no erro
grande por
de trazer dinheiro, depois de lhe roubarem o relogio &c.
pouco
Alem disto tem degolado varias mulheres, depois de soffrerem

outros insultos ; o tudo tem dado fazer ao Corpo da Po-


q. que
licia, e não sendo este sufficiente as rondas e
para patrulhas
multiplicadas em todas as ruas, o Intendente mandou armar e

apromptar todas as de ajudarem os da


Justiças paisanos para
— 164 —

Policia ; mas os Aguazis até forão accommettidos e


pobres já

insultados de ladrões, lhes tem


pelas grandes quadrilhas q.

dado cóças. Com effeito numero delles forão


grande já pre-

zos, e estão bastantes sentenciados a ultima, dos


pena quaes

vão ámanhã 3 o Oratorio. Faz-se agora hum novo recru-


para

tamento mui rigoroso em conseq.* daq.les successos, e se


para

augmentar o Corpo da Policia e os outros Regimentos ; o


pois

caso está muito serio, não andar na rua mais tarde.


por poder-se

Eu recolho ás 8 horas da noute, e nunca as minhas digressões

se extendem longe, mas só se limitão a Casa de Feliciano


p.a

com o meu Velho P.e Mazzoni.


palestrear

Clemente Ferreira França aqui veio ha tempos de


para

Pernambuco, tendo-se alli feito muito famoso suas ladroei-


por

ras : trouxe muita riqueza, e aqui trota em húa carruagem ma-

: todos o conhecem esta boa circunstancia, assim


gnifica por

como o desgarre de sua Senhora, outra Sabbá.


qual

A toda a se está apromptando huma Casa de Opera


pressa

no Sitio de Botafogo, divertimento de S. S.


particular para

A. A. as Meninas, e das Fidalgas Suas Criadas : os Repre-

sentantes são os mesmos Fidalgos rapazes, fazem figuras


que

utriusque sexus ; e he muito nátural as Fidalgas moças os


q.
vistão, órnem, e enfeitem, tudo se repartirão as Par-
grátis. Já

tes ; e mè couza m.to digna elles se occupem n'hum


parece q.

exercício, no tempo lhes he bem análogo, visto


q. presente q.
vão a sahir os Francezes da Península : e alguns dahi vierão

mui fatigados com o das armas.


pezo

Ha tempos a V. M.06 o Servente Lopes


participei que José

Saraiva tinha mettido a Mulher no Recolhimento de Taypú,

a achara em casa acompanhada de certo indivi-


publicando q.

duo : foi caso se espalhou toda a e a mulher


q. por parte, pobre
cheia de vergonha foi victima de toda a de insultos,
qualidade
elle com ella. Agora devo accrescentar ; depois
q. praticou q.
de haver alguns mezes todos os. incommodos,
padecido por q.
se soffrem naquella Casa, sem elle lhe subministrasse soccor-
q.
ro algum, como e a são todos obrigados conse-
prometteo q. ;

ella innocente e sem culpa, e


guio justificar-se judicialmente

sendo ao depois restituida á sua liberdade, se a servir


propôz
em Casa de certas Senhoras de Lisboa e do seu conhecimento ;

e dalli soccorria suas duas filhas ainda crianças, se achavão


q.
carid.e em outras Casas também e o Pay da
por pobres, q.
mesma sorte desamparára. Anna do Cabo movida de compai-
xão desgraça e desamparo dellas, fez toda a diligencia
pela para

a introduzir no Paço Criada de büa Retreta de S. A. R. a


por

S.ra Princeza D. Carlota, se achava sem ella ; e tendo-lhe


q.

fallado intervenção do P.e Mazzoni, dando-se alguns


por pas-

sos, como he costume, conseguio finalmente este negocio, e foi

a mulher de Lopes em húa sege da Casa Botafogo com


José p.a

toda a recommendação. Admire V. M.C6 como se mudão as

Scenas, e como os acontecimentos desta vida andão encadea-

dos alternativam.^ e infaustos ! Havendo beijado a


prosperos

Mão de S. A. foi esta Senhora informada da moléstia


grande

de hemorrhoidas, a rapariga e se aggravára mais


q. padecia, q.

em Taypú : condoída delia e de sua e ao mesmo tempo


pobreza,

aQradando-se do bom modo e maneiras, com se


q. portava,

fez-lhe algúa roupa, de ; e ordenou


preparar q. precisava pes-

soalmente ao Seu Medico actual, tratasse da rapariga


p.a q.

com todo o disvelo, e todos os remedios fossem á custa da


q.

mesma Senhora. Foi S. A. tão extremosa neste hia


ponto, que

lembrar á doente as horas, em todos os dias


pessoalmente q.
havia de tomar os remedios, assistindo allí nessas occasiões.

Sabendo ao depois ella tinha duas filhas e em de-


q. pequenas
samparo, mandou logo busca-las, vestio-as nobre e magnifica-

mente com hum enxoval, e a educar e apren-


primoroso pô-las
der em hum Collegio de meninas, mensalmente
pagando por
sua educação 36$000 r.8 e eisaqui tem V. M.ce a mulher de

José Lopes e suas filhas muito felices, e m.to no acolhimento de

S. A. R., tudo effeito da compaixão de Anna do Cabo, a


por

quem ainda se não lembrou de vir agradecer o seu beneficio e

recommendação, havendo-lhe algu-


passado pela porta já por
mas vezes em Sege da Casa R. O marido anda n hüa vida

estragada e escandalosa, e tem húa nota igual á de Joaquim


de Oliveira : a este morrerão aqui dous filhos, dahi trouxe,
q.
e lhe ficou a filha mais velha ; e ha hum mez lhe nasceo outra

filha. Esquecia-me advertir a mulher de Lopes, logo


q. José
sahio do Recolhimento de Taypú, ficou legalmente divor-
q.

ciada do marido em do Bispo, e Vigário Geral. Tenho


presença
insinuação mui efficaz a V. M.ce hum favor,
para pedir de in-

dagar com a averiguação se na Livraria do Bispo In-


possível

quisidor existe hum Livro manuscripto de Foi. com este tit. —

Festas e Funções da Corte — encadernado


publicas em mar-

roquim vermelho, e mui asseado, e isto com toda a reserva e

segredo, ser de e superior empenho. Em


por grande qualquer
—166 —

V. M.ce o descobrir, fique-lhe debaixo do


onde puder
parte

olho, e se digne de me avisar immediatam.te na 1 .a occasião, p.a

se darem outras necessarias.


providencias

Outra igual recommendação me adianto a pe-


propor-lhe,

dindo a V. M.ce o obséquio de me remetter, lhe for


q.d0 possi-

vel, hum exemplar de hum folheto, vem a ser traducção em


q.

feita P.e Agostinho, de hum Poema Francez, e


verso pelo José
— da Natureza — e o seu objecto
se intitula Contemplação
q.

he sobre Historia Natural. Faz-se celebre esta Obra ; q.


por

o traductor, não havia noticia da Obra Franceza,


julgando q.

como original, e tão abortiva não se estendeo alem


publicou-a q.

do 2.° Canto. Tem hüa Dedicatória ao P.e Vellozo, e tem


grd.e

hum Prologo m.10 extenso, em contra os Poetas


q. pragueja

Tenho fallado tanto dos outros, agora he falle


(28). justo q.

hum de mim ; e ser; a V. M.ce a m.a nova


pouco participando

Pois havendo tanto da -minha dôr de


metamorfose. padecido

cabeça, e sendo o dia de S. Lourenço mim do maior tor-


para

mento, resolvi-me a 2.a vez o P.e Teixeira, de casa da


procurar

Duqueza de Cadaval, e sugeitar-me ao seu curativo. Havendo

sido a m.a cabeça nas mãos delle victima de e trigeitos


geitos

suas apalpadellas, me insinuou o d.° P.e do modo, eu


por q.

havia de nos meus ataques, como vai escripto no


praticar pape-

linho adjunto, N.° 1.° e 3.° ; assim como uzasse dos outros de

N.° 2.° e 4.°. Fui tão feliz com aquelle homem,


precaução que

havendo tomado os últimos remedios N.° 2.° e 4.° nos


primeiros

dias consecutivos, entrei a evacuar sangue via e


pela posterior,

nunca mais até hoje fui attacado da dôr na cabeça, tenho no


q.

melhor desembaraço possível.

Depois de tantos annos de calcule V. M.0,e


padecimento,

será a minha alegria e satisfação, vendo-me livre daquelle


qual

flagello com o maior acerto e facilidade ! He hum e sua-


gosto

vidade entreter o tempo com aq.le bom P.e, sem deixar de


q.,

ser lhe transluz huma caridade em seus curativos.


jovial, grande

Desejo V. M.ce de húa saúde muito inda


que góze perfeita, que

conjecturo não ser livre de incómmodos. Deos conhece o


poder

meu coração e os meus desejos, todos se dirigem a ser-lhe


que

(28) Contemplação da Natureza'. Poema (em dois actos) consagrado a S.


A. R. o Príncipe Regente Nosso Senhor. — Lisboa, na Oficina Calcográfica. Ti-

poplástica e Literária do Arco do Cego, 1801, in 4." E' precedido de uma dedica-
tória e prefação em prosa, e de uma epistola em verso a Frei Conceição Vt-Ioso.
Nada indica que seja tradução de outro poema francês; pelo menos não vem isso
Hedarado no livro, que é raríssimo.
—167 —

: oxalá, Elle me concedesse forças e meiós,


prestavel pois q.

então o immenso Oceano era fraca barreira elles romperem.


p.a

Alegro-me muito com as boas noticias, V- M.ce me tem dado,


q.

da saúde da Mãy : eu não agora escrever-lhe, no V.


posso q.

M.ce se dignará interceder mim ; á vista deste Sermão


por pois

creio tenho desculpa : e em me recommendo com a


q. geral

maior efficacia a todos de casa, assim como aos nossos Amigos,

ou o E muito certo com o favor da Sua benção, e


que pareção.

na da Mãy, me lisongeio ser com o maior respeito.

De V. M.0*

Filho m.to obed.e e obg.do C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaquim

P. S. — Esta deve supprir a de algüas outras


pequenez

Cartas, ou falta de tempo ou de saúde,


q. por

não tem sido extensas.

á carta encontra-se um com o se-


Junta precedente, papel
:
guinte

Remedios, me applicou o P.e Teixeira, de Casa da Du-


q.

de Cadaval, a minha dôr de cabeça.


queza para

1,° para hum ataque repentino :

Metter os calcanhares em huma bacia de agoa com


quente
o maior calor, supportar : tendo-os na d.a agoa o
q. possa

tempo, seja fazer esfregar os d.os calcanhares


q. possível; por
outra e com força, os magôe. Repetir
pessoa, grande q. quasi
este trabalho 3 vezes, e depois de os abafar, metter~se na
por

cama, e fazer diligencia dormir.


para

2.° suppondo a dôr de hemorrhoidas :


procedida

Hum frango inteiro suffocado, com o sangue, e


pennas
tudo, ao lume em hüa a cozer com meia canada
posto panella
de agoa : depois de cozido e bem delido, côar a d.a agoa,
quan-
do estiver em de hum ; espremer o m.mo frango
porção quartilho
n'hü forte ; e dividindo a d.a agoa ou caldo em duas
panno

iguaes dous dias, se tomará huma ajuda com huma


porções p.a

morna, hüa colher de sopa de assucar


porção juntando-se-lhe

refinado, e outra d.il de banha de flor de laranja.


— 168 —

3.° suppondo a,dôr de enxaqueca :

hum espirito de certa de canfora, com


Deo-me preparação

se molhará o dedo, e se esfregará a testa, fontes e nuca,


o
qual

forma de fomentação, e descançando a cabeça depois de


em

abafada. Este espirito também serve a dôr de dentes, e


para

avivar a vista.
para

4.° suppondo a dôr de falta de circulação :

Deo-me outro espirito, a chama essencial, ser com-


q. por

de essencias de metaes : em hüa chicara deitão-se duas


posto

colheres de sopa de agoa fria, e huma colher de chá do d.° espi-

rito : isto bebe-se ao recolher. Repete-se 4 noutes, e des-


por

cança-se duas.

CARTA N.o 57

Rio de 25 de
Jan.ro

Outubro de 1813. Supplemento

Meu Pay e S.r Havendo-se demorado aqui o Navio Cho-

calho, estava destinado a anteced.e Carta, faço este


para quem

supplemento addicionar algúas cousas e reformar outras.


para

No dia 13 deste mez falleceo o Marq.z de Borba com 61

anos e ficou em seu lugar as R. Cosinhas


(29); governando

seu filho, aqui existe, o innovou


(interinamente) q. qual já

certas com as os Cosinheiros estão saltando de


provid.aS, quaes

alegria. Talvez seja chamado aqui seu filho, ahí he


para q.

Governador do Reino, e a este Officio, ser o


quem pertence por

Morgado : se vier, bom será o Compadre Simões o acom-


que

panhe.

No dia 8 deste mez forão a enforcar 5 criminosos,


pretos

e ha 40 e tantos, hão de seguir o mesmo destino.


que

A S.ra Infanta D. Maria Isabel acha-se muito doente, e ha

5 dias fez-se-lhe de Médicos extraordinaria. S. Mag.e


Junta

está muito boa, e todos os dias na Sua Carruagem. A


passea

"O
(29) Illmo. e Exmo. Thomé José de Sousa Coutínho Castello-Branco e
Menezes, 1.® Marquês de Borba, 3." Conde de Redondo, Védor da Casa Real, falleceu
no dia 13 do corrente, de huma violenta febre, que durou 18 dias, em que deu as mais
evidentes provas das suas virtudes, e supportou a sua enfermidade com huma resigna-
ção verdadeiramente christan. Viveu 61 annos, 2 mezes e 21 dias." .— Gazeta do Rio
de Janeiro, de 23 de Outubro de 1813.
— 169 —

mais Família R. conserya-se em estado de saúde ; Me-


perfeito

nos o S.r D. Miguel, ainda vai


q. padecendo.

No dia 16 entrou neste o Navio Asia Grande com


porto

54 dias de viagem, e trouxe a alegre noticia de outra victoria

conseguida Exercito Alliado nas immediações de Pamplo-


pelo

na. Custa-lhes muito deixarem a Península, e fazer-lhe


querem

huma despedida sanguinosa e desesperada ! Todos tememos as

conseq.as do Armistício na Rússia, e cada dia esperamos o Pa-

nos diga algúa cousa a esse respeito, D.s


quete, q. q. permittirá

seja favoravel.

No dia 18 entrou aqui o Navio Príncipe do Brazil com 57

dias : e eu fiquei agoniado, não receber Cartas de V. M.ce;


por

ainda o B.el Antonio de Gouvea Pinto me escreveo,


q. Joaq.m

remettendo-me hú requerimento, e a seu respeito me diz estas

— Eu não sei se elle escreverá neste Navio,


palavras. por que

o fez no antecedente, mas fica de saúde. —

Pela demora, tem havido, todos os Navios


q. julgão q.

Thetis e Fenix, vindos desse este, tiverão a desgra-


porto para

ça de serem aprisionados Francezes ; assim como o foi


pelos

ha tempos outro Navio Amor da Patria. Ha a mesma descon-

fiança a respeito do Triunfo da Inveja, daqui sahio essa,


q. para

e tinha chegado da índia. O Navio Tamerlão, vindo do Por-

to aqui, na altura da-Bahia.


para perdeo-se

Nada mais me occorre, se não advertir a V. M.Ce, como

em outras tenho feito, em meu se conserva a


já q. poder pape-
lada se tirar Carta de Cirurgia a hum Sogeito de recomen-
p.a

dação do Bn.do Lúcio de Gouvea, em razão de se me exigir


José

o emolumento de 38$400 r.s, não desembolçar da m.a


q. posso
algibeira. Conforme as dahi vierem, assim
providencias., q.

praticarei.

Sobre a Representação do Cabido de Braga não ha nada

de novo, e isto m.mo eu e outros, a fallei, esperavamos.


quem
Sou com todo o respeito

De V. M.ce

Filho m.to obed.e e agrad.0 C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaquim
P. S.

Esta he feita ao som de hüa chuva, e trovões, me


grossa q.
fazem lembrar o S.r D.or Farinha e a Tia Mauricia, e a S.ra
'Grão-Cruz
Thereza. Annunciou-se a sahida do Navio de

Aviz Lisboa a 10 de Novembro.


p.a
CARTA N.° 58

Rio de 2 de
Jan.ro

Outubro de 1813

Meu Pay e S.r do meu maior respeito. Ago-


prezadissimo

ra acabo de receber a noticia de sahir ámanhã esse


que para

com escala Bahia a Galera S.to Antonio Brilhante,


porto pela

não deixo de aproveitar a occasião de dirigir a V. M.0*3 a


pre-

sente Carta, ainda breve, saber da sua saúde. Com


q. para

data de 28 do mez estou formando outra Carta mui


passado,

longa e irá no Navio S. Indiano,


paxorrenta, q. julgo José

annunciado 15 e ahi chegará mais depressa, do esta.


para q. q.

Não tenho agora nada mais relatar a V. M.0*, e em


q.

tudo me reporto á d.a Carta, de algum modo indemnizará a


q.

desta e de alçjüas outras, tenho tido o de


pequenez q. gosto

remetter a V. M.ce

Eu tenho bem desde o mez de Agosto, ainda


passado que

lançando abundancia de sangue das hemmorrhoidas ; e


grd.e

agora fiquei desenganado da m.a dôr de cabeça, ;


q. padecia

desde o dia de S, Lourenço, nunca mais fui


pois perseguido

delia, a D.s.
graças

Estimarei summam.te a Mãy continue a melho-


que gozar
ras da sua moléstia, segd.0 V. M.ee nas suas me diz, não
pois,

tem tido novidade. Ao menos he hüa satisfação contar-se com

esse bem, tantos males de continuo nos affligem. Rógo a


já q.

V. M.ce o favor de me recomendar também á Mana, Tia e

Ignez ; se não esqueção de vive aqui com bem


q. q.m pezar
meu. Sou com o maior affecto e respeito

De V. M.ce

Filho m.trt obd.e e obg.° C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaq.m
CARTA N.° 59

Rio de 16
Janeiro

de Novembro de 1813.

Meu Pay e S.r do C. Por este mesmo Navio


prezadissimo

escrevi a V. M.ce mui extensamente, em resposta á sua


já pe-
nultima, conservava : como o Navio Chocalho se
que porem

tem demorado, devo aproveitar-me desta occasião,


para parti-
cipar a V. M.ce Navio Fenix recebi a sua ultima de 20
q. pelo
dei Agosto com outros inclusos, de dou a V.
papelinhos que
M." os meus agradecimentos, e vou responder.
q.

Hum bilhetinho de Antônio de Gouvea Pinto,


Joaq,m
com data de 4 de me fez /eflectir elle he, ou
Junho, q. parece,
algüa cousa tollo; não obstante ter sido de Fóra de
Juiz
Coruche : álem de me causticar com requerimentos so-
pois

bre a sua offerecendo ao Agentè deste negocio o


pertensão,

importantíssimo da sua Obra, apenas constava


produto que
de 100 Exemplares, e a cujo respeito se diligenciou hüa

Carta de empenho o Conde; remette-me dentro da Carta


pa
de V. M.ce o d.° Bilhetinho com esta clausula — vindo~me

logo no Navio o dinheiro em metal todo. — Veja


primeiro
V. M.Ce se isto combina ! Eu só dizer-lhe, não
posso q.
obstante a sua e razão, não confio nada no bom êxito
justiça

do negocio ; ha muito menino bonito, o : o


pois que queira
Principal Souza mandou dahi hum e
pedir por pertendente,
aqui Lord Strangford está empenhado outro. Ora met-
por
ta~me eu lá nestas brigas com a minha chibança ! He mo-

lestia dos vivem em Lisboa os


quasi geral q. julgarem q.
residentes nesta Corte tem sem falha as seguin-
propriedades
tes : isto he, riqueza, valimento, e tempo tratar dos ne-
para

alheios : enganão-se ; se ha algum Ca-


gocios pois por q.
nalzinho, reserva-se este os negocios e de casa,
pa proprios

seja occasião disso.


q.do

Rógo a V. mim agradecer ao Professor


queira por

M.eI Fran.°° a Carta, me dirigio, e a responderei na


q. q.
Ia occasião opportuna : eu darei os necessários
passos pil
—172 —

obter assumpto, lhe convenha, o até hoje não tenho


q. q,

fazer. Também lhe agradeço o da Carta


podido paragrafo

de seu Irmão sobre as nossas victorias e triunfos : assim como

a V. M.ce as addições de sua letra. Eu também lhe escrevo

neste Navio em resposta e hüa sua ; reflectindo


porem q.
elle se achará em Coimbra na occasião da entrada do d°

Navio, lembro a V. M.00 o favor de fazer tirar seu


pelo

Amigo e Coirmão a da Carta do Correio, e remeter-lha


pa

Coimbra.

Não me aproveito do offerecimento de M.el Martins

Bandeira sobre os Telegrafos de seu Irmão com tudo


(o q.
agradeço); alem de não conhecer essa e
por q. gente, q.

me não fica ser hum Cerieiro de loja


proprio procurar, por
aberta ; eu tenho toda a facilid.e de ler todos os Periodicos,

de differentes vem aqui o Paço, de sem-


q. partes para q.
tenho curiosidade, e de Inglaterra vem bastantes.
pre

No Navio Oceano, foi tomado, não hia Procuração


q.
da m!l Velha sobre os Frades como V. M.ce me
Jeronimos,
diz ; mas sim foi a ía via no Navio Emulação,
julgára q.
daqui sahio a 19 de e a 2a no Brigue Boaventura,
Junho, q.

sahio a 21 .

Alem deste Navio Chocalho, estão annunciados sahir


pa
os Navios seguintes : Grão Cruz d'Avis, Aurora, Venus, e

S. Americano.
José

No dia 12 deste mez faleceo o Marq.z de Vagos, Estri-

beiro Mór, e Governador das Armas da Corte e Capitania,

ao meio dia, de hum ataque de sua antiga moléstia,


quasi

e o fez resolver todo em matérias e Foi


q. quasi podridão.
-13
sepultado no dia á noute nas Catacumbas novas da Igr.a

de S. Francisco de Paula ; cujas disposições funeraes


(30)

forão feitas com o maior explendor Barão do Rio Secco.


pelo

S. A. R. foi a semana S.u Cruz, donde se


passada para
não virá senão Véspera da Conceição.
julga

"Nuno
(30) da Silva Tello de Menezes Corte-Real, segundo Marquez de Va-
qos, e Sétimo Conde de Aveiras : do Conselho de S. A. R. e do de Guerra, Gentil-
Homem da Sua Real Câmara, Senhor das Villas de Aveiras, e Vagos, Alcaide-Mor
de Lagos. Grão Cruz das Ordens de Christo, e da Torre e Espada, Marechal do Real
Exército, Governador das Armas desta Corte, e Capitania, e Estribeiro-iMór de
S. A. R. o Príncipe Regente Nosso Senhor : Faleceu com todos os Sacramentos em
12 de Novembro de 1813, com 67 annos e 18 dias de idade. O seu cadaver foi
sepultado na Igreja de São Francisco de Paula na noite de 13 do dito mez com
todas as honras devidas aos seus altos empregos." —• Gazeta do Rio de de
Janeiro,
17 de Novembro de 1813.
— 173 —

De noticias externas só communicar a V. M.ce o


posso

seguinte : dizem os Americanos se fizerão senhores da


q.

Flórida Hespanhola no Golfo do México, e os expellirão delia.

Há huma semana entrou aqui de MonteVideo húa Fra-

Hespanhola a soccorro contra os de Buenos Ayres ;


gata pedir

estes tem crescido em forças, ajudados dos Negocian-


pois q.

tes Inglezes, os tem fornecido de armas e de


q. provisões

: daqui vai Cadiz, e leva 2 Emissários. Ante-


guerra para

hontem começou a entrar hum Comboy Inglez de


grande

duas Fragatas e 30 e tantos transportes dizem


grandes, q.

trazer 4 Regimentos Inglezes ; huns conjecturão ser os


para

Domínios Inglezes na índia, outros MonteVideo:


q. para

as embarcações vem atulhadas, e ainda hoje entrão com

outra Fragata Hespanhola, vem da Havana. Trazem


q.

a viagem m.to dilatada, e fizerão escala Ilha da Mad.ra,


pela

e Canarias : da Ilha da Madeira souberão Soult


pelas q.

era morto depois da acção de Pamplona ; tinhão conti-


q.

nuado as hostilidades no Norte ; e o Imperador d'Áustria


q.

se havia unido aos Alliados com hum Exercito de 80:000

homens. Das Canarias trouxerão a triste noticia de esta-

rem deshabitadas, esterilidade e epide-


quasi pela grande

mias, não tendo alli chovido ha dous annos.

Nada mais ora se me offerece dizer a V. M.ee; e


por

ficando na certeza de ser favorecido com a sua benção, assim

como a da Mãy, desejando-lhes saúde m.to me li-


perfeita,

songeio em ser

De V. M.ce

Filho m.to obd.e e'obg.mo C.

Luiz dos S.tos Marrocos.


Joaquim

P. S.

Como o Povo he o 1" faz Despachos, sendo estes


q.

aéreos, dizem Estrib/0 Mór ha de ser o Conde de Bel-


q.

monte, e Govern.01" das Armas o Marquez de Alegrete : e eu

accrescento — e Mordomo Mór da S.ra Prin-


quem ficará

ceza Viuva ?

2o P. S.

Este Conde do Funchal ainda não chegar, e eu


quer

sem elle não ser despachado !


posso

margem da última desta carta) N. B. Pelo


(á pagina

Navio Thetis recçbi a Carta de V. M.ce de 8 de


Julho, q.
— 174 —

serve de empenho a favor de hum Requerimento de dos


José

Santos, de tenho recebido outras Cartas e requeri-


q.m já

mentos em vão ; e como V. M.ce na sua anteced.e me adverte

nada faça, e o trate d'opio :


q. q. placet.

CARTA N.° 60

Rio de o Io de
Jan.ro

Dezembro de 1813.

Anniversario da Acclamaçam do S.r Rey

D. IV.
João

Meu Pay e S.r de todo o meu C. No dia


prezadissimo

26 de Novembro chegou a este Porto a Galera Conde das

Galveas com 68 dias de viagem, e nella tive o


grande gosto

de receber a Carta de V. M.ce com data de 17 de Setembro,

assim como outro vol.e em fôrma de Carta com as remessas,

abaixo apontarei. Sinto he


que quanto possível que por

irregularid.e do Correio daqui houvesse húa interrupção tão

na nossa correspondi; mas he fácil de e o


grande presumir

espero da sua esse acontecim.to não seja


penetração q. por

indolência ou negligencia minha, e se verificou fim ter


por

V. M.ce recebido 4 Cartas m.as, e todas no N. Emulação :

daqui V. M.ce conhecer a ma verdade e o meu cuidado,


pode

e o difficil he acertar a chegada deste ou daq.le


quam prim.a

Navio, ainda haja daqui sahido mui anteriormente. He


q.

hüa regra mim invariavel — escrever nossa Casa em


pa pa

todos os Navios com a extensão — e não faltarei a


possível

ella, se não ou moléstia improvisa, me não deixe apro-


por q.

veitar de soccorro alheio, ou falta de tempo a supprir a


por

inesperada sahida dos Navios : e não sejão estes os mo-


q.do

tivos, então o anáthema contra o Navio e Nave-


profira-se

sua ronceira derrota. Estimo sobreman.ra as


gadores por

boas noticias, V. M.ce me dá, da sua saúde, da Mãy, e de


q.

toda a nossa Casa, a fará o favor de me recomendar :


q.m

eu tenho bem, a D.s, excepto o incommodo de


passado graças
—175 —

hüa hemorragia de sangue das hemorrhoydas de dias a dias,

mas isto m.mo me he útil, seg.do ouço dizer a todos ;


julgo q.

e da m.a cabeça não tem havido novid.e, o me satisfaz


q. gran-

demente. Agradeço a V. M.ee a curiosa, isto he,


papelada

hüa Sentença contra a Confraternid,e do Beato Chinelo;

hüa Pastoral do Patriarcha ao m.mo assunto ; 3 estampas

do nosso Lord com toga Romana, e na m.a opinião também


q.
devia s.er laureado ; e hum annuncio impresso da Tomada

da Praça de S. Sebastião.

Eu aqui (na frase bregeira) sou o da em occa-


Joanna

sião de chegada de Navio, he não só a fartura


pois publica

de Cartas e noticias, dahi tenho, mas também a curiosid.e


q.
de está longe do Mundo Velho serve
papelinhos, q. pa q.m

de refrigerio, recreio, e : e isso a m.a Casa


gosto por pode

chamar-se a 2a Loja da Gazeta, ancia com sou


pela q. pro-

curado. As nossas Victorias na Península tem correspondi-

do á espectação e o Norte da Europa tem tomado boas


geral,

lições nossas ; oxalá vão conservando sempre o mesmo en-

thusiasmo ! Devemos congratular-nos com tão visíveis be-

neficios da Providencia, de dia em dia vai abençoando as


q.
nossas fadigas, e vai approximando o momento da nossa res-

tituição, segundo avançar o meu calculo se verifi-


q. pode

cará para o anno de 1818, sem ser Satellite Sebastianista.

Não tenho tido noticia da explendida cêa de Rodri-


José

Fragoso, meu visinho aqui, e em V. M.06 na


gues quasi q.
sua me affirma ; e motivo da entrada delle na Seita
por

Maçonica : tanto ser falsa essa noticia. Eu sei


julgo por

em sua Casa ha assembleas ou nocturnas, mas


q. partidas

he cousa sem estrondo, e isto he em todas as


quasi geral

Casas, onde ha algú de ; não haverem outros


par patacas por

entretenimentos. José Manoel Pinto de Carvalho me escre-

veo enviando-me certo requerim.to de húa Viuva, metti


q. já

a Despacho, e farei o V. M.ee me insinúa sobre a sua des-


q.
: com elle veio também hü novo Documento unir-se
peza pa

ao Requerimento de Ant.° Fran.co Mont.° Guim.®53, a cujo

respeito nada ainda dizer, não ter sido ainda re-


posso por

solvido : assim como da Consulta de Ant.° de Gouvea


Joaq.m

Pinto, se não tiver bom êxito, não he falta de dilig.aS


q. por

e empenho, nem deixar de se requerer em tempo, mas


por

sim tremendos Contendores ao m.mo Officio.


pelos

Fiquei m.to satisfeito noticia de V. M.0* ter recebido


pela

a Ia Via da Procuração da ma Velha, o logo fui commu-


q.
— 176 —

nicar-lhe, e com ella ficou mais alliviada dos seus flatos.


q.

O Cónego Cura da Capella R., Ant.° Pedro Teix.ra aqui


q.

foi o seu Io Testamenteiro, ficou em húa braza demissão


pela

de Anselmo, e á Velha, em razão de Cartas do


Joaq.m jurou

m.mo Anselmo, da mão do seu novo Procurador não via


q.

ella nem hum vintém, e ninguém era mais honrado o seu


q. q.

amigo. Eu creio elles comião de meias, e a lesma


q. pobre

da Velha remettia essa maroteira o Tribunal Divino.


pa

A respeito do Cónego Mattos vou a contar-lhe o


q.

succede. Hum destes dias estando eu conversando na rua

com o Arcediago da Sé de Évora, meu amigo, veio ter

comnosco o d.° Cónego, e logo mui contente e ex-abrupto

disse ; o Conde de Aguiar lhe mostrara hüa Conta,


que q.

contra elle Cónego aqui fizera entregar o Cabido de Braga ;

elle Conego estava cag.. . . todos elles ; e daqui a


q. pa q.

dias lhe havia de remetter outro Aviso, em os


poucos q.

havia de tozar a ; não temia o Cabido &. Digo


preceitos q.

eu agora : o Conde, apezar de toda e affeição,


qualq.r q.
ter-lhe, não era capaz de mostrar-lhe a Representação,
possa

eu fiz entregar-lhe ; e se o Cónego a vio, foi manejo se-


q.

creto de certo Off.al da SecretA ha tempos trabalha no


q.

Gabinete do Conde, impedim.^8 do Varejão : o d.° Off.al


por

he hu dos maiores borrachões desta Cid.e, e este vicio


por
he miserável no Officio e na Repartição. Eu tinha mil

anecdotas do d.° Conego, são referir-se houver


q. p.a q.do
descanço ; e agora só dizer elle se dóe de mim,
posso q. já ç

naq.Iil occasião experimentar se eu sahia a campo,


quiz pa
se certificar, o não conseguio.
q.
D. Franc.co de Almeida está aqui fazendo húa triste

figura, e eu atinei, sem o com a ma reserva ; ainda


pensar, pois
me espremão, não tirão çumo ; com rez o Pe-
q. q. queria
reira envolver-me ! O Tio Conego ainda me não escreveo,

nem ainda Correio do Porto, como elle assegurou ao


pelo

seu Amigo e Coirmão.

Affirmão-me agora chegou aqui hü Cónego de Braga


q.

a tratar da Mercê do Habito de Christo todos


geralmente pa
os Conegos daq.lil Sé ; e . tinha obtido aq.la Mercê. Se
q já

assim he (o hei de saber ámanhã), devo reflectir o se-


q.

: Se o Tio Conego repugnou em acceitar a ma offerta


guinte

de lhe conseguir a Mercê do Habito, e em ella lhe era mais


q.
honrosa, ser singular ; ficará agora mui airoso, sendo a
por

Mercê sem distincção, incluindo-se nella bons e máos ?


geral,
— 177 —

Veja agora se responde a batina tam coma a


q. quer plaina

da man!
palma

Acabo a Carta, húa trovoada : e


porq. principia grd.e

o Navio seguinte continuarei a responder, e a dar


para

novidades.

Faço os meus cumprim.tos ao seu Amigo e Coirmão, ao

S.r Farinha e a todos os mais da nossa amizade : e esperando

me continúe o favor da sua benção, assim como da Mãy,

ser
protesto
De V. M.<*

Filho m.to obed.e e C.

Luiz, dos S.108 Marrocos


Joaq.m

CARTA N.° 61

Copia

Rio de 23 de
Jan,ro

Dezembro de 1813.

Meu Pay e S.r do C. Havendo escripto


prezadissimo

a V. M.^ neste mesmo Navio, enviando-lhe as Listas dos

Despachos Anniversario do dia 17 dando-


publicados pelo

lhe noticia de ter recebido a sua ultima Carta Navio


pelo

Nova Alliança, com data de 11 de Outubro ; agora devo

aproveitar esta occasião, se demorar ainda o


por presente

Navio alguns dias ; estimando V. M.00 e toda a nossa


por q.

familia continuem a'gozar saúde m.to sempre


perfeita, q.

lhes desejo.

O objecto da Carta he mim de


principal presente pa

m.u importancia, e a V. M.re será talvez da maior extra-

nheza. Depois de chegar á id.e de 32 annos e meio, e de

haver adoptado o sistema da vida celibataria, vim esta


pa

Corte, e mudando de Clima, mudei também de resolução.

Por havendo experimentado m.tas alternativas a m.a vida ;


q.

soffrido desgostos traz comigo huma existencia


quantos pe-
—178 —

nosa, trabalhosa» solitaria, e sempre arriscada, e tendo pro-

curado, suavisar e diminuir estes males, todos os meios,


pa

a ma razão e filosofia me ; estes se me


q. podem grangear

tem tornado infructuosos em todos os sentidos, indo a des-

cahir cada vez mais em desarranjos, moléstias, e incommo-

dos, nunca fui nem sou. Apezar de todos os esfor-


para q.

tenho evitar estes inconvenientes, e


ços, q. procurado pa

húa vida discorrendo comigo, e con-


principalmente precaria,

sultando outros ; tenho fim observado me não con-


por q.

vêm seguir o m.m0 sistema, vivendo como misantropo, e vindo

algum dia a em vicios, de até aqui,


precipitar-me q. por

mercê de D.s, me tenho livrado. Depois de concluir nas

m.®*5 reflexões me devia cazar, entrei n'outro trabalho


q.

mais serio suas conseq.as, era o da boa ou má esco-


por qual

lha de mulher ; e nisso me a Providencia visivelmente


quer

(se o homem se fiar nos !) ou


patrocinar, pode proprios juizos

o trabalho, vistos os até hoje me tem flagella-


poupar-me q.

do : consequencia devo declarar a V. M.06 achei nesta


por q.

Corte húa a escolhi vir a ser ma mulher, e


pessoa, quem pa

fazendo-se digna de toda a ma estimação, suas boas


que, por

unir-me com ella, neste


qualid.68, pretendo procurando passo

o socego do meu espirito, o meu descanço, o arranjo da ma

casa, e todas as mais commodid.®8, de não


q. posso gozar

com o meu sistema filosofico.

Porem tendo eu o capricho de nada executar, sem pri-

meiro lhe dar noticia, da ma obediencia, apezar da


pa prova

immensa distancia, nos separa ; desejo isso V.


q. por q.

M.00 me honre com a sua approvação e licença no


primeiro
Navio, dahi eu ancioso espero a
q. partir, pela qual pa

execução destes meus intentos ; não he


prompta pois justo q.

haja demoras em negocios desta natureza ; nem V. M.*3

em retribuição desta ma desgostar-me


quererá, participação,

com a sua repulsa.

Espero finalm.te V. M.ce me felicite com a sua ben-


q.

ção, e esteja na firme certeza de sou com o maior res-


q. q.
e submissão
peito

De V. M.06

Filho m.t0 obed.e e V.or

Luiz dos Santos Marrocos


Joaq.m
—179 —

CARTA N.° 62

Copia

Rio de 23 de Dezembro
Jan.ro

de 1813. f

Minha Mana do C. Tenho conhecido não valem


q.

nada as tuas e te tens feito cada vez mais


palavras, q. pre-

escrever, e nunca escrevendo ; e


guiçosa, promettendo por

isso creio á sahida dos Navios sempre estás occupada ou


q.

em costura, ou em leitura, em te não desculpar,


q. posso por

não reservar minutos hüa Cartinha.


quereres poucos pa

Pelas Cartas do Pay e da Mãy saberás estou na reso-


q.
lução de te dar Cunhada, apezar de ser Brazileira, he
q.
melhor muitas Portuguezas : e espero virás a achar-
q. q.
me razão, chegares a ve-la e a conhece-la. Tenho
quando
muito dar-te com antecipação esta noticia, não só
por justo

em razão da nossa amizade, mas tua curiosid.e,


pela pois pa

esse fim basta seres mulher, todas são curiosas*. He m.a


q.
tenção não me cazar, sem receber a resposta do Pay e da

Mãy ; e emquanto ellas não chegão, silencio e mais silencio.

Não ser mais extenso ; e tenho todo o em


posso gosta

ser com o maior affecto

Teu Mano do C.

Luiz.

CARTA N.° 63

Rio de 25
Jan.ro

de de 1814.
Jan.ro

Meu Pay e S.r do C. No dia 19 do cor-


prezadissimo

rente mez entrou com 82 dias de viagem a Galera, Flor de

; e no dia 23 entrou o Navio Imperador da America,


Jaquiá

segundo consta, sahio do de Lisboa a 19 de No-


que, porto

vembro : nenhum destes Navios tive o de receber


por gosto
— 180 —

Cartas de V. M.06, nem de nossa Casa ; e apenas ulti-


pelo

mo tive hüa Cartinha do nosso Compadre Simões, de


quatro

e sem me dar noticias de ninguém. No meio de


palavras,

mil desgostos, a me traz a reflexão das minhas circuns-


que

tancias, vivendo ainda tal cheguei, não se verificando


qual

nenhuma das com me engodar, era


promessas, q. pertendião

o meu único refrigerio distrahir estas ideas com a leitura das

Cartas de nossa Casa e dos Amigos ; até nisso succe-


porem

de o contrario de minhas esperanças, e em huma conjunctura

tão fértil de noticias, assim como militares. Esti-


políticas

marei esta falta não seja consequencia da de saúde de


que
V. M.00, viva e efficazmente lha desejo muito vigorosa,
q.

e assim também a da Mãy, Mana, Tia e S.ra Ignez, a


quem
e com as mais expressivas demonstrações de
geralmente,

affecto e respeito V. M.ce me fará a mercê de m.to e m.to me

recomendar : eu tenho muito incommodado com esta


passado

de calor, sendo muito intenso, affrouxa, abate, e


quadra que

torna a incapaz tudo ; chegando o thermometro a


gente para

subir a 95 e nunca descendo de 80.


gráos,

Ámanhã sahe daqui o Navio Nova Alliança, he entre


que
outros o ter aqui a carga antes da
primeiro, por já prompta,
sua entrada, ser bom veleiro : e ficão annunciados a sahir
por

alguns 5 ou 6 Navios.

Pela Gazeta inclusa ficará V. M.0® sciente da morte do

Conde das Galveas (31), tem feito nesta Corte a maior


que

(31) e Exm.° D. João de Almeida de Mello e Castro, Conde das Gal-


veas, Conselheiro de Estado, Ministro e Secretario de Estado dos Negocios da Marinha,
e Domínios Ultramarinos, Inspector Geral da Marinha, Encarregado interinamente da
Repartição dos Negocios Estrangeiros e da Guerra, e da Inspecção Geral dos Correios
e Postas, Grã Cruz das Ordens de S. Bento de Aviz, e da Torre e Espada; Com-
mendador das Commendas de S. Pedro das Alhadas, da Ordem de Christo, e da de
Portancho, na ordem de Sant-Iago, Couteiro Mór da Real Tapada de Villa Viçosa,
e das mais Coutadas da Sereníssima Caza de Bragança, 6c. 6c. 6c. Falleceu nesta
Corte, no dia 18 do corrente, pelas 10 horas e meia da manhã, de huma febre lenta
nervosa, com 56 annos, 11 mezes, e 26 dias de idade ; quaes a maior parte foi dos
empregada no serviço do Estado, tanto na carreira Dipiomatica, á qual se dedicou
logo na flor da sua idade, occupando com a maior distinção o lugar de Ministro nas
Cortes de Hayá, Roma, e Londres; como nos importantes empregos de Ministro e
Secretario de Estado, tendo por duas vezes regido a Repartição dos Negocios Estran-
geiros e da Guerra ; e mostrando em
todo o tempo do seu Ministério a maior energia,
íntelligencia, e patriotismo, qualidades que lhe grangearão a Alta Benevolencia e
Estimação de S. A. R., de' que^sempre lhè deu as provas mais decisivas, e com espe-
cialidade nos últimos momentos da sua moléstia, mostrando quanto lhe era sensível a

perda de hum Vassallo tão Benemerito, e de hum Criado que sempre o servira muito,
á sua satisfação; e que lhe segurão o amor e respeito dos seus contemporâneos, e a
admiração da posteridade. No dia seguinte foi enterrado na Igreja de S. Francisco
de Paula, sendo
precedido e seguido aquelle acto fúnebre das honras devidas aos
seus altos empregos." — Gazeta do Rio de Janeiro, de 22 de Janeiro de 1814.
—181 —

impressão, ser inexperada : diz-se fora


por quasi geralmente q.

effeito de não sahir Marquez, como succedeo


paixão, por

ao seu Collega ; e muito depois do


principalmente prim.ro

Beija-Mão, onde se vio na retaguarda de alguns figurões,

a elle d'antes : o he certo he desde


quem precedia que q.

então ficou demudado e reduzindo-se a hum estado


pateta,

deplorável, em acabou. Posso dizer a V. M.c,e elle


q. que

morreo em hüa crise terrível, jz S. A. R. tem tido


grande

sentimento, elle era mui dextro nos Negocios Estran-


por que

e á Inglaterra era húa : no dia da sua


geiros, quanto joia

morte e no seguinte fizerão os Inglezes a sua satis-


patente

fação e alegria com banquetes e bebedeiras assim no mar,

como na terra ; e Strangford, tremia delle, logo nessa


que

noute appareceo no Theatro com a sua farda de e foi


gala,

de dia duas vezes ao Paço, mas levou húa apupada disfar-

de — Anda, corre, da . . ., te sem


çada filho p. que pilhaste
— D. Francisco de Almeida também vio cumpridos os
freio!

seus desejos,' ficando-lhe o Morgado, com o


grande q. já

dar bem empregada a sua vinda a esta Corte: e


pode por

tanto este, como o Conde de Cavalleiros, seu Testamenteiro,

levarão suas Casas a Condeça e sua Cunhada : a Casa


para

do Conde ficou toda desmantelada com hüa despedida


geral;

e vem a annullar-se o mesmo Testamento, em


julga-se q.

razão de vários Legados, elle deixára á Misericórdia. He


q.

riso ver o o Povo discorre, despachando aquelles Lu-


q. pa

a huns e outros : estes o Conde do Funchal e


gares querem

Paulo Bezerra, assim m.mo estuporado ; aquelles desejão


João

o Conde dos Arcos, e o Montenegro : outra se


por parte

augura, Araújo, Thomaz Antônio, Marquez de Vallada, e

immensos outros, mas tudo he ás apalpadellas ; e entretanto o

Marquez de Aguiar está com as tres Secretarias,


gemendo

o fazem encurvar de de Freitas, Of-


q. pezo. José Joaquim

ficial Maior da Secretaria da Marinha, está muito doente, e

com de vida, lhe haver faltado o seu Pro-


grande perigo por

tector, a cuja sombra elle figurava como outro Secretario de

Estado : e virá a succeder o m.mo com a morte do


julgo q.

Conde de Linhares, a se seguio o seu Official Maior Gui-


q.m

lherme Cypriano.

Aproveito esta occasião a mercê de dizer


para pedir-lhe

ao seu Amigo Manoel Pinto de Carvalho o Requeri-


José q.

mento, me enviou, de Maria teve Despacho


q. Joaquina, por

18 de Dezembro — Senado da Ca-


a passado Requeira pelo
— 182 —

mara de Lisboa o lhe convier — Ainda não tirar


que pude

da Secretaria o d.° Requerimento, lho remetter ; e se elle


p.a

não tiver ido Expediente, irá na Ia occasião, me


pelo q.

seja possível.

Os Inglezes espalharão aqui ha dias a triste noticia de

haver entrado no Tejo a Esquadra de Toulon, e havião


q.

desembarcado na Figueira 50$000 Francezes, formando


q.
hüa combinação com os da Esquadra havião occupado Lis-

boa : eu não a acreditei mas muitos até chegarão a


pran-
tear-se com os seus amigos e Agora hum Navio
parentes.

do Porto trouxe a noticia da batalha de Dresden, de até


q.
hoje não ha Officios, mas se diz a derrota dos
geralmente q.
Francezes subira a 163$000 homens: Saxonia occupada

Alliados, e o Rey toda a Familia Real:


pelos prisioneiro.com

Baviera unida aos Alliados, assim como os outros Reyzinhos

da Confederação do Rheno : Napoleão fugido Paris


para

com 50$000 homens, e hia formar 3o Exercito : A Esqua-


q.

dra de Toulon toda desfeita e Sidney Smith,


queimada por

dentro ou fóra do seu : e outra esquadra sahira de


porto q.
hum dos de Hollanda, também abafada outra In-
portos por
sem escapar hum só vaso. Em fim o nosso Lord,
gleza, que
ensinou ao Mundo a derrotar exercitos invencíveis, tinha
que

o seu Quartel General em Bayonna, e as Guardas avançadas

chegavão a Bordeaux, arvorando em todo aq.le territorio a

bandeira Franceza da antiga Casa de Bourbon.

Daqui nada ha mais de novo, communicar-se,


que possa
excepto a noticia de Buenos Ayres ir debaixo na sua luta ;

e tanto esta Província, como a de MonteVideo


padecerão
falta de viveres, cuja causa os seus habitantes as
grd.e por

tem desamparado em e se tem refugiado no nosso


grd.e parte,

Brazil.

A respeito dos Requerimentos do Principal Freire nada

tenho sabido, apezar das minhas diligencias : e sinto não ter

todo o tempo desembaraçado cuidar com o devido dis-


para

velo neste e n'outros negocios da recomendação de V. M.06;

me acontece ás vezes impedido commetter a outrem


pois por

incumbências minhas, a devo força responder.


q. por

He nesta Corte o P.e Bernardo, ex Frade


publico q.

e meu companheiro de viagem, fora expulso a to-


Jeronimo,

de caixa da sua Igreja de N. S.ra da Cachoeira, na Capi-


que

tania da Bahia, e com a havia daqui sahido :


qual provido
sua brutalid.e, e máo comportam/0, com alli se hou-
pela que
— 183 —

vera com os seus freguezes, o Arcebispo se vio obrigado


pa

a tirar-lhe a da Igr.a, e a S. A. R.. Pode annun-


participa-lo

ciar isto aos seus Confrades.

Não ora ser mais extenso, e devo concluir


posso por

a V. M.®* o favor da sua benção, assim como a da


pedindo

Mãy; sou
pois

De V. M.ee

Filho m.to obed.e e obg.do C.

Luiz dos S.*08 Marrocos


Joaq.m

P. S.

Tenho visto os sobescriptos das Cartas dos Bispos de

Leiria e Lamego, de cujas corresppond.3® he eu dê a


justo q.

V. M.66 os devidos parabéns.

CARTA N.° 64

Rio de 22 de
Jan.ro

Fevereiro de 1814 f.

Meu Pay e S,r. Agora ouvi dizer a hum


prezadissimo

Sugeito hia ámanhã Lisboa ; e não húa


que para por perder

tão boa occasião, faço esta Cartinha, cumprir com os


para

meus deveres, saber novas de V/M.06, da Mãy e


querendo

de toda a nossa Casa e familia, dando-lhe também noticias

minhas : estará V. M.0*5 satisfação me


persuadido quanta

deva occupar a m.a alma, sabendo continua a


que gozar per-

feita saúde, e a Mãy não tenha incommodos de


que padecido

suas moléstias ; a cada me está representan-


pois q. passo.se

do na fantasia o rancho inteiro de nossa familia, e


quando

ólho mim, lembra-me o — Exules Hevae : são os fructos


p.a filíi

da ma solidão, sempre me traz triste, apezar de meus con-


q.

tinuos esforços mostrar-me contente ; e sinto dizer


pa q.

nunca chega a desvanecer-se hüa negra e nuvem,


pezada que

me abafa. Assim vamos durando.


parece
— 184 —

No 19 de chegou aqui o Navio — Flor de


dia Janeiro

com 82 dias de e elle recebi húa Carta


Jaquiá, Yia9em, por

do Compadre Simões, a ainda não respondi, com data de


q.

10 de Novembro : e mais nada. No dia 23 de entrou


Jan.r0

o Navio — Imperador da America, com 64 dias, e o seu Ca-

me trouxe húa CaTtinha da Maria da Lapa,


pellão Jacinta,

e com data de 14 de Novembro : e mais nada. No dia 9

de Fevereiro corrente entrou o Navio Roberto com 102 dias

de viagem, ter feito escala Ilhas de Cabo Verde,


por pelas

onde carregou de Sal aqui: e com a entrada deste fiquei


para

ás escuras ! Esta falta tem sido mim mui sensível, e não


para

acho razão algüa a haver ; as duas Cartinhas,


p.a pois q.

acima referi, do Comp.e e da Lapa, ambas me fazem ter boas

ideas a respeito de saúde ; a Ia não me dizendo nada ; a 2a

certificando-me estão bons.


q.

No dia 9 de Dezembro do anno sahio este Des-


passado

a Antonio de Gouvea Pinto — Baixou Cônsul-


pacho Joaq.m

ta á Mesa do Desembargo do Paço de Lisboa, e eu


querendo

saber ex Officio a Resolução de S. A. R. á d.a Consulta, fiz

esse Requerimento, com o seu Despacho dar ao


pa perten-

dente húa ultima e decisiva resposta do seu negocio : com

elle devo concluir a sahio elle indeferida,


q. pertensão pa

houve inconveniente de se a Certidão eu


pois q. passar q.

requeria ; e esta he sempre a Agora devo accres-


pratica.

centar toda a demora não foi minha, mas. sim da m.ma


q.

Secretaria ; o Marq.z de Aguiar se mudou as Casas,


pois q. p.a

onde morou e onde morreo o Marq.z de Vagos, e antes delle

o velho Marq.z de Angeja. Não expressar-lhe a des-


posso

ordem, houve na Secretaria com esta mudança ; ape-


q. pois

nas havia algum Expediente em eonseq.a do dia 17 de De-

zembro causa do venha a nós : aconteceo depois a morte


por

do Conde das Galveas, com a este Marq.2 ficou attonito,


qual

vindo as 3 Pastas a reduzi-lo, nem a rã esmagada com a


q.

do boi : de sorte se antes elle 3 horas diarias


pata q. gastava

com o Expediente de hüa só Secretaria, ultimo, vencer


por p.a

o trabalho das outras duas, lhe sobrecarregavão, não vi-


q.
>nha a hüa hora a cada huã. Para certeza disto
pertencer

combine-se a entrega deste Requerimento em 2 de e o


Jan.ro

Despacho em 31 ; e mandando eu á Secret.3 outra


q. pessoa
—185 —

busca-lo meado de se lhe respondeo alli não


pelo Jan.ro, q.

era Cartorio de Advogado, e estavão as couzas de


q. prim.ro

maior Na m.ma Secretaria também soube o


ponderação. q.

d° Antonio de Gouvea Pinto requeria Habito de Chris-


Joaq.m

to, lhe sahio escusado. A respeito da venda de folhetos


q.
— Manoal de Appellações e Agravós tem sido mui tra-
(32),

balhosa, e he o m.mo em outras eu disse a V. M.ce : se


q. já

não me engano, creio se tem vendido só 20 exemplares,


q.

e he o basta esta terra. Paulo Martin, Administrador


q. p.a

da Loja da Gazeta, recebeo do Pay 20 aqui vender, e não


pa

tem vendido nenhum. Por tanto estou na resolução de re-

colher o Producto desses e se cobrir as Despezas e


poucos,

Commissão, remetter o resto liquido, assim como os folhetos

existirem,^e ficar de todo desonerado; não


q. pois quero

comprometter-me com V. M.®0, nem consentir V. M.ce se


q.

comprometta com seu dono.

S. A. R. houve bem nomear a Antonio de Araújo


por

de Azevedo Ministro e Secretario de Estado dos, Ne-


para

Ultramarinos e da Marinha e Encarregado da dos Ne-


gocios

Estrangeiros e da Guerra interinamente. He este


gocios

hum facto, tem dado fallar a huns, e callar a outros.


q. q.

A Secretaria da Marinha foi agora transferida o Arsenal


pa

R., ficando as Casas, aquella occupava, a Secret.a dos


q. pa

Neg.03 do Brazil, ser fronteira ás Casas novas do Marq.a


por

de Aguiar, e sua commodid.0.


pa

Egydio Alvares de Almeida lá vai o Rio Grande


José pa

ver e arranjar hüa Fazenda, comprou 63 mil


grd.e q. por

cruzados, e alli estabellecer hüa fabrica de couros, de socied.e

com Antonio de Araújo.

(32) Na Gazeta do Rio de Janeiro, de 30 de Abril de 1814, apareceu o Se-

íjuinte aviso :
"Na
loja da Gazeta se achão as seguintes obras : Tratado regular e pratico de

Testamentos e Sitccessão, por Antonio Joaquim de Gouvêa Pinto, 3:200 réis ; Manual

de Appellação e Aggraços, pelo mesmo, 1 vol. 2:400 réis."

Na mesma Gazeta, de 11 de Maio, veio este outro aviso :


"Na
rua da Alfandega, no sobrado N.° 31, do lado direito, se acha de venda

a interessante obra Manual de Appellações e Aggravos. de Antonio Joaquim, de Gou-

vêa Pinto, ultimamente impressa em Lisboa, pelo modico preço de 1:600 réis."

O local indicado neste aviso era esse tempo a residência de Santos Marro-
por
cos, depois que se mudou da rua das Violas.
— 186 —

No dia 2 do corrente entrou aqui hüa Fragata Franceza

— Ceres ~ aprezada duas Fragatas Inglezas Tejo


por

e Ledger — na altura de Cabo Verde : a da Fragata tinha

hü Navio do Porto, e dous Hespanhoes. Para


já pilhado

outro Navio serei mais extenso : e entret.° espero me con-

tinúe o favor da sua benção e da Mãy ; e sou

De V. M.ce

Filho m.t0 obed.e e C.

Luiz dos S.^® Marrocos


Joaq.m

CARTA N.° 65

Rio de 11 de
Jan.ro

Março de 1814.

Meu Pay e S.r do C. Agora está


prezadissimo que
sahir o Navio Grão Cruz d'Aviz, faço esta a annunciar
para

a V. M.0® chegou ha dias o Navio Rainha dos Anjos,


que q.

apenas me trouxe hüa Carta do de Fóra de Torres Ve-


Juiz

dras, Antonio de Gouvea Pinto, com mais


Joaquim papelada

de Requerimentos, eu aqui tratar de seu Despacho :


para

sinto m.t0 a sua anterior lhe não sahisse a ;


q. pertensão geito
eu vejo diariamente monstruosi-
porem praticarem-se quasi

dades, a cuja vista estou bem acostumado. Tem-me cau-


sado a maior expectação hüa falta de correspondência


geral

assim de V. M.0*3 como das mais Pessoas de nossa casa ; e

isto tem feito trabalhar a ma fantasia m.t0 extravagantemente,

não sabendo aq. haja de attribuir tão extranho silencio ; por

se me inclino á falta de saúde, outras Cartas, assim do


q.

Compadre, como da Lapa, me affirmão e dão a entender


q.

estão bons ; se me inclino á falta de amizade, a ultima Carta

da Mãy de 9 de Setembro me expõe o cuidado, em


grande q.

estão, eu não escrever em hum Navio, ahi então che-


por q.

Nesta desordem de m.a imaginação V. M.04*


gara. queira

decidir melhor dando-me a razão do seu talvez


pela parte,
— 187 —

descuido, e o na lição das suas letras mim sempre


gosto p.a
apreciaveis, se nisto conhecer a menor ousa-
perdoando-me

dia. Esta mesma sua falta faz com estas minhas Cartas
q.
sejão mais breves, do eu não se me offerecem
q. quizera, pois
couzas a responder; e do ha daqui a dizer he
q. pouco.
A estação tem sido tão secca e esteril, todos la-
presente q.
mentamos e tememos males : tem-se feito Preces
grandes

chuva : as novidades estão mirradas, as arvo-


publicas para

res tem as folhas enroladas e tão seccas, se


q. pizando-se,
reduzem a : • em muitas terras de mandioca tem
pó pegado
fogo com o intensissimo calor : em fim as agoas dos mesmos

ribeiros e lagos estão em tal estado de calor, os insectos e


q.
outros animaes, neles se crião, se vê a cada saltarem
q. passo
a terra, e a frescura, morrem de seccos.
pa querendo procurar

Nunca se vio hüa tão falta de agoas, aqui


grande quando

sempre os Verões erão celebres abundancia de chuvas


pela

e trovoadas. Os Médicos tem todas as casas


prevenido por
haverem archotes, e outras composições de alca-
promptos

trão, se incendiarem na occasião de chuva,


p.a primeira por

causa da exhalação dos vapores da terra, então


péssima q.

se desenvolverem ; sempre são nocivos. Tem havi-


pois q.

do moléstias e mortes súbitas, e muitas febres ; e


grandes

principalmente se descobrio agora certa moléstia de


garganta

e narizes, tão violenta, ,q. não chega o enfermo aos 10 dias,

e nas crianças. Eu, a Deos, tenho sido


peior graças
felizmente reservado ; e á excepção do incommodo do calor,

bem : sou obrigado a dormir nú em húa esteira sobre


passo

hüa marqueza, e apenas coberto com hü lençol ; e assim mes-

mo affrontado e todo alagado. He divertimento agora de

muita sóbir de ás alturas, rodeão esta Ci-


gente passeio q.
dade, e alongando a vista, assim a do mar, como da
pa parte
terra, espreitarem de continuo se descobrem algúa nuvem,

traga algúa de agoa, tanto suspiramos ; e he


q. gota por q.
nisto tão o empenho, como eu o tenho em descobrir
grande
algum Navio de Lisboa.

JS. A. R. esteve uns 15 ou 20 dias em Cruz, donde

veio no dia 7 assistir ao Anniversario da Sua chegada a


pa

esta Corte, se celebrou na Capella Real, e no dia 8 a outra


q.
Festivid.e ao m.mo objecto solemnizada Senado da Ca-
pelo
mara na Capella dos Terceiros do Carmo, immediata á

Capella R.
— 188 —

S. A. R. a Seren.raa S.ra Princeza D. Carlota tem


passa-

do muito mal com hum ataque da sua moléstia,


grande q.

tem causado o maior cuidado, e sentimento a todos ; e agora

melhoras ainda se lhe conhecem. Decidirão os seus


poucas

Médicos em ser conveniente a futura


Junta q. pa primavera

a mesma S.ra se transferisse o Sitio do Páo no


pa grande,

caminho de Minas, e daqui distante húas 20 legoas ; e alli

dos bons áres a Sua saúde.


gozar para

S. A. a S.ra Princeza Viuva D. Maria Thereza tam-

bem sempre se e está muito magra : e a S.to Infanta


queixa,
D. Maria Isabel continua nos seus accidentes ou desmaios,

m.t0 a incommodão : e teve ha dias hü, cujo desacordo lhe


q.

durou espaço de 20 minutos.


por

a V. M.0** a nomeação de Antonio de Araújo


Já participei

Ministro e Secretario de Estado dos Negocios da Marinha


pa

e Domínios Ultramarinos, e Encaregado interinamente da Se-

cretaria dos Negocios Estrangeiros e da Guerra ; até


porem

hoje ainda não tomou de nenhüa das Secretarias, e só


posse

acompanhou a S. A. R. em S.1^ Cruz.

Affirmão no Palacio da Ajuda se trabalha com muita'


q.
actividade, e em se lhe duplicára a :
q. Janeiro passado gente

ainda esta vóz he não a tenho acreditado,


q. geral, por q.

V. M.ce nada disso me tem referido nas suas ultimas. Ainda

aqui se tem húa das embarcações


q. preparado grande parte

de ninguém ora se lembrá de nos transferirmos a


guerra, por

Lisboa ; antes contrario ha disposição de não ser tão


pelo

cedo ; não só crescem aqui as Obras de melhor accom-


por q.

modação futuras, mas ha couzas e não sei se


particulares,
expressões de autoridade, fazem recear húa mui
q. prolon-

neste Clima. Por todas as Repartições


gada permanencia

Ecclesiasticas, Civis e Militares ha estas apparencias ; e ha

tratantes . nem se lembrar de Lisboa ; e eu, ha


q querem q.
tempos em hüa Carta m.a confessava a V. M.00 a ma satisfa-

ção, ser sciente de couzas me obrigavão a


por q. julgar pro-
xima a nossa translação ao Reino, agora tenho esmorecido

e descorçoado em vendo e ouvindo o nunca


grande parte, q.
Em fim, Deos dispõe melhor das couzas, resol-
quizera. q.

verá dos nossos destinos como melhor convier ao Seu Ser-

viço ; e entre tanto me vou conformando, com o


pairando

dér e viér.
q.

As R. Bibliothecas se com todo o asseio e


preparão

magnificência, e até serve de frequenta-las : isto


gosto q.
— 189 —

hüa me satisfaz, outra me desconsola mo-


por parte por pelos

tivos acima : a R. Família nos honra com fre-


ponderados

e diarias visitas ; e ora está vedada ao


quentes quasi por

Publico, em se cuida no seu arranjo.


quanto

Lopes Saraiva ha 3 mezes se acha


José que prezo por

motivo de certas desordens, tivera com o filho de certa


q.

Criada do Paço : ainda o Marquez de Aguiar se tem em-


q.

a solta-lo, S. À. R. a S.ra Princesa D. Carlota se


penhado

tem opposto ; e á Sua Ordem se acha prezo, e estará até

a Mesma Senhora
quando quizer.

Nada ora se me offerece mais a dizer a V. M.**5


por

se não me recomende m.*0 aos S.res D.or Farinha,


pedir-lhe

Lourenço, P.e Carreira, e a outro, me fizer o


João qualq.r q.

obséquio de se lembrar de mim. E a V. M.0*5 a sua


peço

benção, e a continuação das suas letras ; sou com todo


por q.

o respeito e veneração

be V. M.™

Filho iç.*0 obed.e e C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaquim

CARTA N.° 66

Rio de 15 de
Jan.r0

Março de 1814.

Meu Pay e S.r do C. Depois de dirigir


prezadissimo

a V. M.ce a minha ultima Carta Navio Princeza do Bra-


pelo

zil, sahio hontem, e em engano annunciava a V.


q. q. por

M."*5 ser Navio Grão Cruz d'Aviz ; succedeo ficar ainda


pelo

este ámanhã, e sahir aquelle hontem : na da


pa primeiro

Carta me de não haver recebido hüa só letra de V.


queixava

M.0® 4 Navios, successivamente aqui tem entrado, e


por q.

me tem feito submergir em hum labiryntho de ideas, todas


q.

sem fundamento, nem razão ; mas como esta falta não seja

originada de saúde, seja o Deos Agora


pela que quizer. por
hum Navio Hespanhol, foi roubado na altura de Cabo Verde
q.
— 190 —

duas Fragatas Francezas, tivemos a triste noticia do


por grande

roubo, as mesmas Fragatas Francezas, ou outra embarcação


q.

Franceza fizera ao Navio Emulação, vinha desse


q. porto p.a

este, sacando-lhe tudo o e deixando-o compaixão


precioso, por

arribar ás Ilhas de Cabo Verde : consequencia elle devia


por

lançar ao mar as malas das Cartas ; e elle aqui chegar,


quando

se tanto ficarei na mesma, como d'antes ; e neste caso


puder,
fortuito seria menos sentir, V. M.c,e elle não tivesse
para q. por

escrevido.

Tem-se espalhado aqui outras noticias, húas tristes, outras

alegres, mas tudo em consequencia d"a demora dos Paquetes ;

o referirei : 1.° hüa Fragata e hum Brigue Portuguez, an-


q. q.
dando de encontrarão huma Fragata Franceza,
guarda-costa,

era o flagello dos de barra fóra, e depois


q. pobres pescadores
de a attacarem, a levarão a Lisboa ; 2.° estava
prisioneira q.

sahir desse hü numeroso comboy de Navios da


para porto
Praça vários do Brazil, comboyados húa Fraga-
p.a portos por

ta e dous Brigues Portuguezes ; e dahi se avistára outro


que
comboy Inglez com destino também o Brazil :
grande passar p.a
3.° o Navio Oceano, sendo restituido Inglezes, e indo
q. pelos
seu Dono a Inglaterra a busca-lo ; hia Lisboa, en-
quando p,a
contrára hum Corsário Francez ; como elle hia de cau-
porem
tella bem artilhado, e saudou o d.° Corsário com
guarnecido,

duas bandas, o obrigou a dar ás trancas, e elle entrou em


q.

Lisboa m.t0 ufano : 4.° o nosso Lord em Bayona tivera duas


q.
batalhas ; a teve a desgraça de a com a derro-'
primeira perder
ta de 20$000 Alliados ; a segunda com a só
ganhada perda
de 4$000 Alliados, e Soult com a de 10$000 : 5.° Suchet
q.
na Catalunha capitulára, mas ignora-se de modo.
q.
Ha dias aqui entrou hum Comboy Inglez de mistu-
poucos
ra com alguns Navios Hespanhóes ; e tanto huns, como outros,

se tem repetido consideravelmente. Pelo Paquete da Bahia

soubemos de hum tumulto de Negros, alli houvera


grande q.
ultimamente, e causou susto em toda a Cidade :
q. grande (33)

(33) Essa rebelião de escravos vem narrada Ignacio Àccioli de Cer-


por
queira e Silva, Memórias Históricas da Bahia, tomo I, 312, Bahia, 1835. — Os
ps.
negros da nação Ussá, da armação do Visconde do Rio-Vermelho, da fazenda de
João Vaz de Carvalho, e de outras vizinhas, em número excedente de 500, deram
principio às hostilidades pelas 4 horas da manhã do dia 28 de Fevereiro de 1813.
Ocupando o caminho que segue ao rio de Joanes, ao tentarem atravessar esse rio
{oram batidos pelas forças do major da Legião da Torre. Manuel da Rocha Lima,

que assim os impediram de marchar para o Recôncavo, a incorporar-se aos que ali
se achavam com elles coligados. Os chefes da revolta sofreram a pena última em
18 de Novembro do mesmo ano, no patibulo levantado na praça da Piedade.
— 191 —

elles matarão muitos brancos, e alguns erão Negociantes, alguns

soldados também forão mortos, assim como outros Negros, q.e

não associasse ao tumulto. Lançarão fogo a muitos


querião

Engenhos, aos Armazéns da da Balêa, e a mil outras


pesca

de maneira se affirma só a Fazenda Real


partes, q. q. perdera

mais de 300$ cruzados. He muito se temerem alli estes fu-


p.a
nestos acontecimentos : tem os Negros a boa circuns-
por q.

tancia de não se unirem nas suas senzalas e ranchos, se não os

filhos da sua mesma terra, e não acompanhão, nem contrahem

amizade com outros ; e como he immensa a variedade de Na-

ções delles ; não se unindo ellas, vem a ser os ranchos de cada

huma numerosos : isto succede aqui no Rio de


pouco Janeiro,

onde entrão Negros de todas as Nações, e isso inimigos


por
huns dos outros. Porem na Bahia húa inclinação natural
por
dos habitantes entrão só Negros da Costa da Mina, e mui

de algúa outra Nação, sendo esse motivo todos elles


poucos por
Patrícios, companheiros e amigos ; e em desordem, ou
qualquer
tumulto, todos são unanimes, como neste se acharão, e só ma-.

tarão os não erão seus Patrícios. A muita liberdade, o


q. q.
Governador lhes tem dado, e o caso faz das suas de-
pouco q.
sordens, incapazes de emprezas
julgando-os grandes, produ-
zirão talvez esta explosão, ha de ficar em lembrança : com
q.
effeito conseguio-se 10 Negros, e os mais erão em
prender q.
numero, fugirão o matto, e alli se embrenharão.
grande para
Antonio de Araújo tomou só da Secretaria da Marinha,
posse
e agora se acha doente com húa dôr, trouxe de S.ta Cruz, e
q.
levou isso hum cáustico, mas não he couza de cuidado :
por
elle tem em sua casa o Medico Manoel Luiz, sabichão e corifêo

da Faculdade.

José Egydio foi ao Rio Grande, como disse a V. M.ce,



e levou comsigo o Heróe Ferrugento : o Neto de m.a Avó aqui

está feito Padeiro, e Caixa do Pay, vestido com hum balandráo

do m.mo riscado, de os Escocezes fazem os seus sayotes.


q.
V. M.06 nada me tem respondido acerca do em algüas
q.
lhe tenho ; isto he, se recebeo do 12$000
perguntado já Quiroga

r.8 metallicos, eu aqui emprestei a seu filho e se também re-


q. ;

cebeo 4$000 e tantos reis da mão do Tio Major, de certas des-

pezas, aqui fiz. Não recebi ainda decisão algüa a respeito


q.
da Carta de Cirurgia, de recommendação do Lúcio, e cujos

Papeis conservo em meu O Officio de 2.° Feitor


poder. da

Mesa da Abertura n'Alfandega de Lisboa, Antoinio


q. Joaq.m
de Gouvêa Pinto requeria, foi dado de
propriedade, seg.do me
— 192 —

affirmão, ao Serventuário he Afilhado do Principal Souza,


q.

aqui accumulou Certidões e Attestados de bom Serviço e


q.

boas Faleceu de repente o P.e Caldas, Pregador e


qualidades.
Poeta (34) : também faleceo de repente o Livreiro Francez,

Roberto Bourgeois, com Simão Thaddeo tinha con-


João quem
tas : a este V. M.ce noticiar isto.
pode

Tenho summos desejos de dar á m.a Velha Legataria al~

resposta dos do seu dinheiro : ella teve hum ataque


güa juros
de suas moléstias, e se sacramentou e ungio ; está boa,
porem já
e sahe fóra, notando-se-lhe isso a sua muita rigeza.
já por

O Sugeito, a incumbi a Venda dos folhetos — Ma-


quem

nual de Appellações e Aggravos, — e os repartio Li-


q. pelos
vreiros, me deo hontem de se terem vendido só 43 exem-
parte

Se eu vir não continua a extracção, recolho o


plares. q. pro-
dueto, e deduzidas as despezas, remetto o resto e Livros seu
p.a
Dono. Acabo a Carta a V. M.0"3 os meus desejos
protestando
de continue a disfruetar saúde m.10 assim como a
q. perfeita,
Mãy e mais família, e recebendo o favor de suas bênçãos, não

deixarei nunca de mostrar sou com todo o respeito


q.

De V. M.0®

Filho m.t0 obed.e e obg.° C.

Luiz dos S.108 Marrocos


Joaq.m

P. S. Continua o nosso flagelo dos calores ardentes e

sécca e todos tememos a fome, se


geral, grd.® q.
espera !

CARTA N.° 67

Rio de o 1.°
Jan.ro

de Abril de 1814.

Meu Pay e S.r do C. Hüa e muitas vezes


prezadissimo

tenho contra mim mesmo, minha ditosa


praguejado pela pouca
Sorte ; no«eio das circunstancias criticas, em vivo, e
pois que

(34) O Dr. Padre Antônio Pereira de Sousa Caldas faleceu no Rio de


Janeiro, em 2 de
Março de 18M, e foi sepultado na Casa do,Capitulo do Convento
"aistineção
de Santo Antcmio, esta que de bom grado lhe fizeram os Religiosos Fran-
ciscanos, em respeito aos seus grandes méritos". —
Januário da Cunha Barbosa, in
Revista do Instituto Historico, tomo II, ps. 130. (2.® edição).
— 193 —
i

tenho varias vezes referido a V. M.065 nas minhas Car-


q. por

tas ; martelado com e com intrigas a fim de me anni-


guerras

restava-me a única consolação de ver as suas letras,


quilarem,

e cá de tão longe desafogar-me com V. M.00 nos meus traba-

lhos : mas em fim até isso me falta ; ha 5 Navios succes-


pois

sivos V. M.06 me não dá o das suas noticias, sendo o


q. gosto

ultimo aqui chegado a 29 de Março, chamado o Berg.m


Júpiter.
Não conto a desgraça, soffreo o Navio Emulação, cahindo
q.

nas mãos dos Francezes a 18 de na altura de Cabo


Janeiro,
Verde; he m.to sufficiente esta falta naq.les 5 Navios
porem

me transtornar todo o meu e socego. Nem a Sr.ra


para juizo
m.a Mana tem a lembrança de me escrever, mais não fosse,
q.do
nem outra algüa da nossa família : e cá está então o
pessoa

a escrever Cartas e Cartas em todos os Navios ; e


pobre quan-
do succede faltar em algum, dahi vem rebolindo hum tre-

mendo Recipe attentado em não cymprir com os meus
pelo
deveres.

Por este mesmo Navio remetto ao S.r Alexandre Antonio

das Neves hua Copia do Tratado manuscripto de Francisco

Dolanda — Da Fabrica falece —


á Cidade de Lisboa feita
q.
de minha mão Ordem de S. A. R., cuja Copia não enviei
por
directamente a V. M.06 a ver, em razão de ser volumosa e
p.a

e conseguinte ser subido o Porte do Correio : tive


pezada, por
o de o S,r Marquez de Aguiar a elogiasse, tendo-a
gosto q,
visto toda, desde o até ao fim, no huma
principio q. gastou

grande parte da tarde de Domingo, 27 do


passado.

Não deixar em silencio hua declaração, devo fazer


quero q.
a V. M.Qe, visto erradamente em duas m.as antecedentes lhe
q.
expuz Antonio de Araújo de Azevedo er^ também interina-
q.

mente Encarregado da Secretaria de Estado dos Negocios Es-

trangeiros e da Guerra ; e isso he de notar elle


por q. he só

Ministro e Secretario de Estado dos Negocios da Marinha e

Domínios Ultramarinos, e aquella Secretaria está


q. adjunta á
dos Negocios do Brazil.

Ha dias sahio daqui a Náo Rainha


poucos de Portugfel,

commandada Cap.am de Mar e Guerra,


pelo Conde de Vianna,
dizem com destino de dar caça a algüa
q. Fragata Franceza,

encontrar ; he constante haverem


q. pois q. sahido de alguns

portos de França 54 Fragatas a corso diversas


p.a alturas.
Antehontem sahio daqui outra Fragata Ingleza o mesmo
p.y
destino, e não sei se sahirá mais alguma.
— —
194

S. A. R. a S.ra Princeza D. Carlota continua na sua mo-

lestia com incommodos, e se resolveo ir a seu tempo


grandes

Sumi, hum Sitio distante daqui, e não vai o


para pouco já para

Sitio do Páo Grande, ser m.to longe. A S.ra Infante D. Ma-


por

ria Isabel também ataques das suas vertigens.


padece grandes

Da Livraria apenas apontarei o seguinte : de


Joaquim

Oliveira intervenção do Barão do Rio Secco obteve ser


por

nomeado Guarda de Conducção da Alfandega desta Corte,

com 320 r.s diários, menos Domingos e Dias Santos. José Lo-

Saraiva desde 4 ou 5 de Dezembro se acha


pes passado prezo

no Aljube desta Cid.e Ordem de S. A. R. a S.'ra Princeza


por

D. Carlota huma desordem tivera com hum


Joaquina, por q.

filho de certa Criada, o dizem, ficara cego de hum olho.


qual,

Feliciano anda trabalhando em Obras de Carpinteirage,


José

como Apparelhador, incumbido Barão do Rio Secco, com


pelo

o interesse de 960 r.s diários. Outro Servente está ocçupado

em casa do S.r Visconde de V.a N.a da Rainha : outro he tam-

bem Amanuense de hum Tabellião ; e apenas de 6 resta hum,

he diário e aturado.
q.

Finalizo a Carta desejando a V. M.ce, á Mãy, e a toda a

nossa família, saúde muito e hüa lembrança mais viva


perfeita,

de existe em terra extranha, só, e sem abrigo mais da


quem q.

Providencia : e ni|nca deixará de ser efficaz na sua venera-


q.

ção e obediencia, implorando as suas bênçãos, como he


quem

com todo o respeito De


ee
y M

Filho m.10 affect.0 e obg.mo C.

dos S.*013 Marrocos


Joaquim
p Luiz

Creio ser desta Carta o Navio — Sete


portador

de Março —, me dizem vai com escala a outro


q.

porto.

CARTA N.° 68

Rio de 21
Jan.ro

de Abril de 1814.

Meu Pay e S.r do C. Pelo Navio


prezadissimo
— Sete de Março — 12
daqui sahio a do corren-
que

te. escrevi a V. M.ce a minha ultima, da


queixando-me
—195 —

falta total de suas letras, não recebia em 5 ou 6 Navios dahi


q.

chegados. Esperava-se Correio Marítimo, o Brigue S.


pelo

Boa ventura, havia de trazer os Officios das ultimas noticias,


q.

e contava eu com a certeza de receber Cartas : chegou fim


por

o dito Brigue*a 4 do corrente, com 58 dias de viagem, e apenas

se hüa Lista mui no Correio, e eu fiquei em


publicou pequena

branco. Divulgou-se então o Navio Trajano estava a chegar,


q.

e era o das malas, se lhe destinavão por


portador grandes q.

Ordem da Regencia : chega Trajano a 10 com 64 dias de via-

traz malas, todos recebem Cartas, e eu fico na


gem, grandes

mesma!

Á vista desta exposição V. M.ce a ex-


pode julgar grande

tranheza este inexperado acontecimento, ser mais


por q. para

notável he igual em todos de casa, desde o mez de Novembro


q.
não se dignão de me escrever, contra os seus votos e
promessas.

Estimo V. M.ce disfructe saúde m.to assim como a


q. perfeita,
Mãy, Mana, Tia, e mais familia : eu tenho estado doente, e bem

afflicto ; mas emquanto se me conservarem as forças, vou du-

rando, esperançado sempre na sua amizade, e no favor das suas

bênçãos ; sou com todo o respeito


por q.

De V. M.00

Filho m.to aff.°, obed.® e C.

Luiz dos S.103 Marrocos


Joaquim

CARTA N.° 69

Rio de 12 de
Jan.ro

Maio de 1814.

Meu Pay e S.r do C. Depois de ter


prezadissimo passa-
do tanto tempo, em não recebia Cartas de V. M.ce, chegou
q.

finalmente o dia consolador, fazendo entrar esta barra


por
dentro o Navio S. Thiago Maior, recebi no Correio
pelo qual
duas de V. M.00, N.os 1.° e 2.°, com datas de 25 de e 9
Jan.ro
de Fevereiro; e tendo ellas noticia de hum caixotinho, de
por

V. M.** me fazia mercê, mandei busca-lo á Alfandega com


q.
— —
196

hüa Attestação, esse fim, e nelle achei outra


q. passei para
•Carta M.ce de 4 de duas da Mãy, hüa dúzia de
de V. Jan.ro,

tiras de cambraya camizas, tres vol.68 d'Estampas do Lord


p.a

Wellington, S. S. A. A. R. R., e mim offerecimento


p.a p.a por

do nosso A.° Aguilar, assim como hüa collecçãosmha de Papeis

mui curiosos. Dahi a 3 dias me o F.° de Tibur-


procurou José

cio em occasião, em me não achou em casa, o senti muito


q. q.

o obsequiar, como V. M.ce me recomenda ; deixou-me


p.a porem

outra Carta, N.° 3.°, de 7 de Março, com mais afora


papelinhos,

outros, em vol.e separado havia recebido Correio, onde se


q. pelo

incluía o Decreto a respeito de Bernardim Freire. Por todas

estas couzas dou, como me he a V. M.ce os agradeci-


possível,

mentos devidos, e lhe beijo mil vezes as mãos sinceras


pelas

demonstrações do seu amor e extremo, com se digna hon-


q,

rar-me ; e lhe rogo haja de communicar á Mãy iguaes senti-

mentos da m.a em tenho summos desejos de nunca


gratidão, q.

lhe desmerecer, como he m.a obrigação. Pela sua ultima Carta

me dá noticia de não bem a nossa família, estando de


passar

cama com catarraes agudos : sinto, e tremo de susto com esta

noticia, sei de m.408 outros, infelizmente não tem escapa-


pois q.

do : D.s não espalhar nossa Casa esse triste exem-


permitta por

e se sirva dar-nos com a saúde meios de consolação. Eu


pio,

tenho muito doente, e cheio de afflicções e desgostos,


passado

e não m.a desgraça dar ao meu corpo enfermo


podendo por

algum descanço da cama : vejo-me abatido com a moléstia das

hemorrhoydas, me dão maior incommodo, ser nesta terra


q. por

moléstia : estou outra vez attacado da m.a cabeça com


péssima

força ; e com a entrada do inverno mui repentina tenho


grande

tido dous defluxos muito fortes, me tem carregado sobre


já q.

o me acabrunharão, e ainda estou o segun-


peito, q. purgando

do. O meu muleque acha-se m.t0 doente com hüa febre conti-

nua, lhe chamão intermittente, e reina agora muito; ha 3


q. q.

dias não dá acordo de si, de sorte se lhe deitão os caldos e


q.
remedios com violência bocca abaixo ; e eu desconfio
pela q.
haja alli de bexigas, ainda as não teve : Te-
proximid.e por q.
nho sentido estes não expressar, não só
golpes quanto posso
m.a8 circunstancias de falta de saúde, mas total de-
pelas pelo
samparo e soledade, em vivo, obrigando-me a m.a
q.e precisão
a exercitar serviços domésticos, sou inabil, a beneficio do
p.a g.
meu mesmo moleque, e a acceitar os obséquios dos Visinhos

offerecendo-me os seus escravos o de fóra eu


p.a q. precisar.
—197 —

Confesso a V. M.ce nunca me mortifiquei tanto como agora,


q.

tenho amaldiçoado a m.a vida com a maior desesperação, e tenho

fim conhecido a época da m.a infelicid.® ape-


por q. principiou,

zar de antecedencias, com a m.a sahida do Tejo.

Não agora responder a todos os artigos das 4


poderei

Cartas de V. M.ce, de espero me desculpe, mas irei respon-


q.

dendo sua serie, conforme me ajudar o meu juizo


pela pertur-

bado e cofifuso ; e o nesta não ir, sua


q. puder pela pequenez,

irá nas se seguirem


q. primeiro.

Foi hum beneficio da Providencia chegar V. M.ce


grande

a receber as m.as 6 Cartas retardadas no Navio Oceano, depois

de ser tomado e retomado, salvando sempre as malas das Car-

tas ; e mais me satisfez se salvarem alguns Papeis de im-


por

ellas incluião. Estimo recebesse o dinheiro do


portancia, q. q.

Quiroga, o também me escreve agora e me como em


qual pede,

outras, a continuação do m.mo favor com seu filho, o não


p.a q.

farei, não obstante ser elle bom moço. Entreguei á m.a Velha

Testadora o Recibo, V. M.ce me remetteo, da sua-Irmand.6 de


q.

S. Francisco, e ella approvou as suas resoluções a esse respeito,

e lhe roga ir continuando a os Annuaes, se


queira pagar q.

forem vencendo até sua morte : ella nasceo a 7 de Outubro de

1734. Segundo a sua de haver de receber dos Fra-


promessa

des em 12 de Dezembro o dinheiro dos


Jeronimos passado

vencidos, esperava ella agora a somma V. M.ce dalli


juros q.

liquidar, e embaçou viu elle não era chega-


podesse quando q.

do : eu não lhe ler as expressões da sua Carta ; dizendo


quiz

notava nos P.€S certa desconfiança não e lhe


q. pela perturbar,

substitui o termo indisposição ; apezar disso ella se admirou de

ser necessário formar hüa supposta Letra, ella sua


q.do pela

Procuração dá a V. M.ce todos os seus de receber


poderes

aq.les dinheiros : e ella não tem duvidas algumas a seu res-


q.d0

menos as deverão ter os P.es, a V. M.ce se servirá


peito, quem

de significar ella se amargam.te de elles não respon-


que queixa

derem ás suas Cartas, daqui lhes tem enviado. Rógo agora


q.

em a V. M.ce e com toda a efficacia apressu-


particular queira

rar ao menos a remessa do dinheiro, a Velha,


prim.ra para p.a

ella ficar descançada, e eu ainda mais ; Anselmo


por q. Joaq.m

dahi, e o Conego Cura desta Capella são dous zangões,


q.

fazer arrepender a Velha da reso-


quanto podem pertendem
— 198 —

lução, tomou com a nossa escolha. Foi mui ampla e


q. gene-

rosa a remessa das tiras de Cambraya, eu m.10 e m.ío lhe


q.

agradeço e á Mãy, com vinhão e


pelo primor q. preparadas

Conheço não devia dar-lhe esse incommodo,


promptas. q.

fui m.tas vezes instado, Anna do Cabo, cami-


porem pela por

nharem algüas das antigas.


p.a^velhas

As Estampas ainda se conservão em meu não


poder, por q.

se me tem occasião de o S.r Visconde


proporcionado procurar

de V.a N.a da R.a as entregar a S. S. A. A. R. R.,


p.a por

estarem nos dous Sitios de S. Christovão e Botafogo :


pelos q.

me tocão agradeço ao nosso Amigo Aguilar, e dellas espalhei


algüas alguns Amigos, assim como do Decreto de Bernar-


por

dim Freire só me ficou hum Exemplar.

Depois de ter entrado ò Navio S. Thiago Maior no dia 3

do corrente, e com 57 dias, chegou no dia 6 o Navio Victoria,

me não trouxe Cartas, e creio veio a sahir dahi com


q. q. poucos

dias de differença, trouxe os mesmos de viagem.


por q. quasi

Sobre o essencial, em ahi tanto se ventila, da ida da


ponto q.

Familia R. esse Reino, devo dizer a V. M.ce, fazer callar


p.a p.a

os fallão ; aqui nunca se menos nessa matéria, do


q. q. pensou

agora. Deixe ao contrario, e deixe vir Pro-


q. gritar q.m quizer

dos Governadores do Reino ; ahi não hão de sa-


postas por q.

be-lo mais;depressa, do eu aqui : e em V. M.ce não tiver


q. q.to

m.a clara e desenganada, não acredite ninguém


participação q.

affirme o contrario.

Tenho respondido á Carta de V. M.oe de 4 de


Jan.ro, por

ser a mais antiga, e nas seguintes irei continuando as m.as res-

Rogo a V. M.00 acceitar os votos da m.a humi-


postas. queira

liação e respeito, honrando-me com a sua benção, e esperando

o m.mo favor da Mãy, a se dignará de me recomendar :


q.m

sendo como devo

De V. M.06

Filho m.to obed.e e C.'

Luiz dos S.103 Marrocos


Joaq.m

Saud.®8 á Mana, Tia, e Ignez e Visinhos, e Amigos.


CARTA N.° 70

Rio de 16
Jan.ro

de Maio de 1814.

Meu Pay e S.r. Pelo Navio Protector Ge-


prezadissimo
neral a responder ás 4 Cartas de V, M.oe vindas no
principiei

Navio S. Thiago Maior : agora continuando as m.85 respostas,

como e como me a m.a situação, tenho


prometti, permitte presente

a dizer : começando ha o Inverno nesta do Bra-


q. pouco parte

zil, tem feito estragos horríveis, em moléstias, suas


já q. por
complicações, novas e desconhecidas, como affirmão
parecem

os da : não fallando em mim, nem no meu muleque,


profissão

ainda hontem á noute levou hum cáustico, he de espantar os


q.

successivos enterros, de dia e noute se encontrão ; parecendo


q.

todos os dias, dias de Finados agouro dos sinos.


pelo

A respeito da Supplica dos Governadores do Reino


p.a q.
S. A. R. se recolha ao Reino, he tudo aqui notorio e e
patente,
isso não ha nisso segredo ; e eu accrescento Strangford
por q.
teve ha tempos hüa Audiência de S. A. R. toda
publica perante
a Corte, Ordem do Governo Britannico, a fim de ler hüa
por

Carta do Príncipe Regente de Inglaterra a S. A. R., em lhe


que
manifestava, havendo sido o Governo Inglez censurado de
q.
algüas Cortes, haver sido a causa do incommodo da
por geral
Família R. Portugueza, e de toda a Nação, separação re-
pela

pentina e tão amarga do seu Soberano os Estados do Bra-


p.a
zil; era isto ao contrario de m.^ satisfação ao Governo Inglez,

salvar o seu Alliado e Amigo das francezas.


por prim.ro garras
E complemento desta obra desejava concorrer também
p.a p.a
a sua restituição ao Reino, visto as couzas da Península es-
q.
tavão seguras e o futuro conseq.a con-
permanentes para ; por
vidava a S. A. R. e á sua Corte e como intentasse
p.a quando
recolher-se ao Reino; e esse fim mandaria apromptar a
p.a
Esquadra competente, S. A. R. com os Trans-
q. pertendesse,
necessários de hüa vez conduzir-se tudò o fosse
portes p.a q.
relativo á Casa R. : e ficava aò arbítrio de S. A. R.
que esco-

Iher dos Almirantes Inglezes aq.le mais lhe agradasse, a não


q.

querer o m.mo Sidney Smith, o conduzio aqui.


q.
— 200 —

'desta
Alem Carta, depois dos agradecimentos e
parabéns
recíprocos, advertio Strangford seria bom apromptarem-se as
q.

Embarcações de Portuguezas, nellas se transporta-


guerra p.a

rem as Pessoas Reaes e a sua Corte ; a Esquadra Ingle-


por q.

za se destinava estado e acompanhamento.


p.a

Ignora-se foi a resposta de S. A. R. a isto tudo : mas


qual

ha todo o fundamento se menos as couzas da


p.a julgar, q. q.
França não estejão em estado de Luiz 18.° e Fer-
pacificação,
nando 7.° nos seus Thromnos, e S.° Padre na sua Cadeira, não

se resolva S. A. R. a recolher-se ao Reino, m.mo até obséquio


por
De nada disto ha certeza, e só a ha se não se mexer
político.

ainda em couza alguma, e estar tudo em hum lethargo e silencio

: ainda se affirma aqui estes 3


profundo pelo que persistirmos
ou 4 annos Deixo de referir factos
proximos. particulares, q.
confirmão esta opinião, serem de mais segredo, e só digo
por

este descanço combina com o da Obra do Palacio da Ajuda :


q.

a affirmar agora o contrario, anathema sit.


quem

Respondendo agora ao importantíssimo artigo da Carta de

V. M.ce sobre a de Antonio Francisco Monteiro Gui-


pertensão
marães, eu não sou o culpado, ella se achar tanto em em-
por
brião, nem ainda m.1110 culpa do Procurador, encarreguei
por q.
desse negocio. É claro homens, tem esta vida, não traba-
q. q.
Ihão sem recompensa, e esta mui segura e á vista dos
quasi
olhos. De vale ter-lhe eu 80 moedas, se conse-
q. promettido
o se deseja, fiado nas Cartas, recebia de V. M.0®,
guir q. q.
alem da satisfação de todas e despezas se fizessem ?
quaèq.r q.
Segue-se daqui ter-me elle hum enganador, elle não ter
por por
visto nem a sombra dellas. E seria de mim, se fiado elle
que
na m.a elle mettesse mãos á obra, conseguisse a Mercê,
palavra

e apresentando-ma me exigisse o eu lhe ? Se eu não


q. prometti
dispender 38$400 r.B Carta de Cirurgia do P.e Lúcio,
pude pela
menos com esta despeza. Certamente me envergonho
poderei

de me ser dar a V. M.ee es'ta resposta, não ser men-


preciso p.a
tiroso; mas se eu cánseguir negocio,
pudesse pessoalm.*® este

como fiz ao seu Co-irmão, seria mui


graciosam.1® e de todo o

primor ; mas, como disse a V. M.06, não me convém figurar



nesta de ; e havendo de exigi-lo
qualid.6 pertensões de outrem,

necessita húa idônea : sobre ella hé


gratificação q. eu sempre

mover ao d.° Procurador, com tião


pertendi q.m nem
posso,
devo agastar-me, não acho razões isso
por q. p.a ; pelo con-
trario elle o deveria comigo, immensas
praticar pelas vezes o
q.
— 201 —

tenho A ultima Carta, em V. M.°3 me fallava


procurado. q.

nisto, me affirmava estar o seu Co-irmão resolvido a mandar-me

entregar as 80 moedas da mão do Pay do Bandeira : e agora

me diz V. M.ce elle mandou ás m.as ordens 60 moedas, como


q.

V. M.ce me tinha annunciado. Eu ainda não recebi Carta


nem aviso algum com essa nem me resolver


participação, posso

a o d.° Bandeira, não tenho ordem isso : e


procurar por q. p.a

isto não he desamparar o negocio, como diz V. M.°3, he


querer

não ter meios de o fazer vigorar. Também V. M.°3 me diz,

de algum modo hua Carta m.a em lhe exponho


(estranhando q.

difficuld.es) ahi apparecem m.tos com semel.6S Mer-


q. patifes

cês. A isto só respondo, rogando a V. M.ce e


queira procurar

fallar com Fr. Fortunato, Capellão do Berg.m Thetis, e he


q.

também Freire da Ordem do Christo. Elle lhe dirá trazia


q.

hüa sem.9 o Cap.8-111 Mór da V.a de Thomar,


pertensão p.a

homem de todo o merecimento e serviços, e apresentou Do-


q.

cumentos immensos e de toda a legalid.e. Foi aqui


protegido

Fr. Custodio em valimento), Camareira


por (bicho grande pela

Mór e Marqueza de Aguiar : e se estes


pela q.d0 julgava q.

empenhos serião desnecessários, ser attendivel a sua


por jus-

tiça, sahio Escusado; e lá vai o d.° Fr. Fortunato dar


parte

disto ao d.° Cap.am Mór. Deixo de enumerar outros casos

idênticos, ser escusado.


por

Esta Carta vai Navio Imperador da America, me


pelo q.

affirmão sahe ámanhã Lisboa, e serve de resposta á Carta


p.a
*
de V. M.06 de 25 de e continuarei a responder ás outras
Jan.ro

Navios, se seguirem. Rógo a V. M.03 me desculpe de


pelos q.

não escrever agora á Mãy, dando-lhe disto hüa satisfação : o

farei na l.a occasião tenha : e desejando


q. pontualmente q.

a toda a fam.a saúde m.to continuo a a m.a


perfeita, protestar

humiliação, auxiliado com as suas bênçãos. Sou com todo o

íespeito

De V. M.**

Filho m.° obed.0 e C.

Luiz dos SMarrocos


Joaq.m

PS. Envio as Listas dos Despachos do dia 13 de Maio.


— 202 —

CARTA N.u 71

Rio de 2 de
Jan.ro

de 1814.
Junho

Meu Pay e S.r do C. Pelo Navio Thetis e


prezadissimo

Imperador da America, ultimamente sahirão deste


q. porto,

a responder ás 4 Cartas de V> Mercê vindas no


principiei

S. Thiago Maior; e não occasião de continuar as


perdendo

minhas respostas, faço esta mencionando depois do dito Na-


q.

vio S. Thiago, entrárão os seguintes : a 6 de Maio entrou o

Navio Victoria com 53 dias de viagem, a 24 o Bergantim


'Activo
com 73 dias, a 29 o Navio Ulysses com 53 dias, e

nenhum destes me trouxe Cartas de V. M.06, como sempre

espero : não fallo no Navio Paquete do Rio, vindo do Porto,

com escala Lisboa, e aqui entrou a 13 com hüa


por q. grande
mala de Cartas de Lisboa, e em eu fiquei em branco. Nas
q.

minhas duas antecedentes a V. M.06 ter aqui rece-


participei

bido a encommenda, vinda no S. Thiago, com todo o trem in-

cluso, sem faltar nada, conforme a sua relação ; e tórno a dar

a V. M.06 os meus agradecimentos sua bondade e cuidado,


pela
com foi servido mimosear-me : ás Estampas, estão
q. quanto já
entregues a Suas Altezas Reaes, o ao Agui-
q, pode participar
lar, a também agradeço o seu offerecimento e remessa,
quem
de tenho espalhado hüa boa : e a respeito do Decreto
q. parte
de Bernardim Freire, a muito custo fiquei só com hum exemplar,

ser com se lê hüa obrinha tal, ao objecto, e


por geral q. quanto
á
quanto penna.

São de toda a consolação as noticias, V. M.0* se lembra


q.
enviar-me, e outras aqui recebidas Navios es-
por posteriores
trangeiros, os Portuguezes nada trazem : este
por q. quasi porto
vai-se fazendo mui vistoso immensas embarcações se
pelas q,
vão amontoando, alegrando as nossas vistas, todas as vem
q.
da Costa do Norte, Russas, Hollandezas, Suecas, Dinamar-

Prussianas, Austríacas, e de todos os mais Reinos e


quezas,

Principados, tem seus naquele Continente, tudo fe-


q. portos
lices conseqüências da alliança daquellas Potências com
geral
— 203 —

nosco. A respeito da Supplica dos Governadores do Reino


p.a

a Familia R. se retirar daqui, he isso e mui constante ;


já publico

e eu em outra disse a V. M.oe o estado das couzas a esse fim,


não se fallando nem tratando de semelhante movimento ; pelo

cj. esteja V. M.oe na certeza de logo eu saiba a menor


q., q.

novidade, a communicarei e consecutivam.te irei


promptamente

repetindo em todas as occasiões, se me offerecerem ; e em


q.

V. M.oe não tiver noticias minhas a esse objecto, he falso


quanto

tudo o ahi se espalhar de affirmativa. Agora sobre a minha


q.

ida com S. A. R., V. M.c,e reflectir hum


permitta-me pouco,

respofidendo ás suas intimativas de ir a todo o risco, e até de

sem soldada : O meu exercicio actual não he na Li-


grumete

vraria, he sim no R. Thesouro, onde estão os Manuscriptos de

sou encarregado ; e a outra m.a Commissão tem exercicio


q.

em diversos sitios, ora em m.a casa, ora na Secretaria


particular

de Estado, ora em casa do Offal Maior, ora em casa do In-

tend.tó G.al da Policia, e eis o me leva todo o tempo. Quando


q.

S. A. R. se retirar Lisboa, ou levará comsigo a Livraria,


para

oil não; se a Jevar, he de toda a eu como Em-


probabilid.® q.
a acompanhe ; se a não levar, creio não nomeará
pregado pes-

soas de fóra, tem Empregados antigos tratar delia,


quando p.a
até chegue a occasião de embarcar. Os dous Padres, aqui
q. q.

se achão, não ficar, hum ser Confessor de S. S. A. A.


podem por

as Senhoritas, e outro ser Companheiro de Confessor,


por q.
força hão de acompanhar suas Amas : na falta destes
por

P.08 não ha outro de Casa, em a albarda, se


quem possão pôr
não em mim : e será de mim, se eu disser não e
que q. quero,
só ir-me embora ? Quanto aos Manuscriptos, tem
que quero

o Visconde de V.a Nova tido a idea de os conservar sempre


p.a
separados da Livraria ; e tanto ou elles vão com S. A. S.,
por

ou não ; se não forem, he natural se á Livraria,


q. juntem p.a
irem ao depois, e de certo não se incumbirá ninguém delles,

estando eu com esse encargo ; se elles forem, fica a duvida


de eu os acompanhar, attendendo á massa de Livraria,


grande
me empurrão, e necessita da m.a e tanto tal-
q. q. presença, por
vez commettão a conducção dos Manuscriptos ao Fiel do The-

souro, assim como a l,a conducção de Lisboa aqui foi com-


p.a
mettida ao Com.te da Embarcação. Quanto á m.a Commissão

em sou também Empregado, de certo ha de ir na


particular, q.
comitiva de S. A. R„ visto he aqui desnecessária, logo
q. q.
S. A. R. se retira ; mas além de eu ter aqui mais dous Compa-
— 204 —

nheiros, me ajudão ; em Lisboa ha outros Empregados mais


q.

antigos e em maior numero : neste caso não obsta aquelle meu

Emprego a eu fique ; tomar conta de húa couza,


q. por q. para

hei de faltar a outra, e muito mais esta ser supprída


podendo

na m.a falta outros, apezar da superiorid.e sempre tive no


por q.

meu trabalho, como reconhecia o fallecido Conde de Linhares,

se expressava francamente este modo : O Marrocos,


q. por

coutado, tem hú trabalho insano ! merece ter 600$000' r.s. Á

vista disto liberdade eu ter me determinar a ir


q. posso para

Lisboa, se não fôr em consequencia das Ordens, receber ;


p.a q.

e se estas Ordens forem eu fique, incumbido de algüa


p.a q.

couza, até chegue a m.a hora de embarcar, remedio terei


q. q.

eu, se não callar-me e soffrer ? Eu tenho superiores, a q.m

obedecer, ora em hüa Repartição, ora em outra : se as m.as di-

ligencias forem frustradas ir na m.ma monção com S. A. R. ;


p.a

resistir a ellas seria nunca mais levantar cabeça ;


perder-me p.a

e isso estou conforme ao Deos me deparar. Estas hy-


por que

são fructos da m.a estonteada cabeça, tem


potheses quando

algum repouso ; e não he de admirar todas sejão sinistras ;


q.

appetece hüa couza, imagina sempre o contrario


por que quem

e o : e eu como experiente do he fortuna e suas alter-


peior já q.

nativas, tenho concluído o verdadeiro valimento e


q. protecção
he a honra, com se vive, A terra mim he odiosa ; depois
q. p.a

de e vim a ella abrir os olhos, e aprender o


perigos privações q.

os Livros não ensinão, obrigando-me até a mudar de figura e

constituição ; e de m.a verdade, se D,8 me conceder


p.a prova

o de o tornar ainda a ver, V. M.ce se admirará de me ver


gosto

magro, abatido, e velho ; até nas barbas se me divisão


pois já

cans. Esta matéria he mui vasta mim, mas ora conte-


p.a por

nhamo-nos e valha o silencio.

Para outro Navio hei de escrever hüa Cartinha mui simples

a Pereira, e sinto mreprehensivel da sua conducta : assim

como sinto a morte de Manoel, a respeito de estou


José q.m já
desonerado, ha m.to lhe havia remettido o Recibo da en-
por q,

trega de húa Carta hü Caixeiro daqui, e lhe mandei também


p.a

communicar o Despacho de certo Requerimento de hüa Viuva,

q. aqui me enviára ; e tanto não tenho mais nada de


p.a por já
incumbências delle.

O Tio Cónego nunca mais me escreveo, e creio me deve


q.
resposta a duas m.8® eu tenho as Listas do Correio
procurado

do Porto, depois elle lhe advertio havia de escrever-me


q. por
— 205 —

esse Correio ; e nada até agora : eu também suspendi a m.a

corresponda, vejo me trata de resto.


por q. q.

Na m.a anteced.e communiquei a V. M.ce os meus sentim.-"*

a respeito do negocio do Habito, V. M.ce com


q. ponderará

mais madureza, do eu tinha de extensão me explicar : e


q. p.a

isto estar concluído ou em bem, ou em mal.


poderá já

Esta serve de resposta á sua Garta de 9 de Fevereiro, e

continuarei em outra a resposta á sua de 7 de Março : e por

ora só me resta recomendar-me na sua benção e da Mãy, a


q.m

respeitosamente me recomendo, e a toda a fam.a Sou

De V. M.™

Filho m.to obd.e e C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaq.m

P. S. Hoje a tomar 20 de alcalí volátil,


principiei gòtas

em causa da m.a tosse.


jejum, por

margem da ultima desta carta)


(á pagina

O filho de Tiburcio aqui me 2.a vez, e eu


José procurou

o obsequiei como e então conheci ser hüa criancinha


pude,

muito atordoada : elle se do se divirtio viagem


gabou q.t0 pela

em bebedeira, e rifas. O irmão mais velho, aqui estava,


jogo, q.

lá vai no Navio Imperador da America. Fico sciente das he-

roicid.es do Garrocho, he o delle se esperar.


pois q. pode

CARTA N.° 72

Rio de 2 de
Jan.ro Julho

de 1814.

Meu Pay e S.r do C. Depois aqui chegou


prezadissimo q.
o Navio S. Thiago Maior a 3 de Maio continuarão
passado,
a vir os Navios seguintes : a 6 entrou o Navio Victoria com 53

dias de viagem ; a 24 o Berg.m Activo com 73 dias ; a 29 o

Ulysses com 53 dias ; a 4 de S. Americano com 58


Junho José
dias ; e a 27 entrarão a Frag.a Benjamim com 59 dias, o Berg.m

Alerta com 62 dias, e o Navio Oceano com 80 dias : accrescen-


— 206 —

to mais a 13 de Maio chegou aqui o Paquete do Rio, vindo


q.

do Porto, e trazendo de Lisboa, onde fez escala, húa


por grande

mala de Cartas. São 8 todos, e nenhum me deo V.


por por

M.ae a satisfação de me dirigir hüa só Carta, assim como de

nossa Casa ninguém mais se lembrou. Eu tenho continuado

sem interrupção a escrever todos, daqui sahem, menos


por q.

o Navio Asia Grande, a 13 de sem eu elle


q. Junho partio, por

escrever, então me achava m.t0 doente na cama


poder pois por

causa de húa constipação, de ainda estou mui abalado,


q. por

me ter custado muito a arribar : o exercício diário, tenho de


q.

sahir manhã cedo a beijar a Mão de S. A. R., he mim


pela p.a
mui arriscado em tempos de Inverno, ser esta estação mui
por

desagradavel e doentia humid.-? do seu frio, o este anno


pela q.
tem feito apezar do thermometro não ter
grd.68 progressos,
abaixado até hoje de 60 : e agora de resto estou curtindo
gráos

húa defluxão, apezar de não me dá tanto incommodo,


grande q.
a vou levando de inda mesmo com o abati-
por q. pé, grande

mento, em tenho estado. Estimarei ahi Casa se tenhão


q. q, por
felizmente desvanecido as catarráes, segundo o V. M.06
q.
ultimam.** annunciou ; os Invernos da nossa terra são
por q.

mais benignos : e com esse restabelecim.to estimarei adquirão

mais vontade de me escrever, no estou summam.te escanda-


q.
lizado ; inda m.a desgraça fui obrigado a
pois que por passar
a Linha Equinocial este hemisferio do Sul, não me tem ser-
p.a
vido esta de deixar de cumprir com os
passagem pretexto para
meus dfeveres, saber noticias de V. M.03 e de toda
procurando
a nossa casa.

Conservo ainda em vista a ultima de V. M.c<e com data

de 7 de Março, das 4 recebi Navio S. Thiago),


(ultima q. pelo
cuja resposta devia ir Navio Asia Grande, a não ser o
pelo

motivo e tendo respondido ás 3


já ponderado, já precedentes
com separação em 3 Navios anteriores. O desta foi
portador

o menino filho de Tiburcio, aqui me tem


José Justino, José q.
visitado tres vezes, e a tenho obsequiado o melhor
por q.m q.

; e da ultima me húa caixa de doce com


posso gramou quasi
seus appendices, e meia de bom vinho do Porto :
garrafa q.
daqui sahio, hia ad Ephesios. Soube então
quando quasi q.
os de Commercio, V. M.06 me affirma elle
grd.66 productos q.
traz no d.° Navio, consistem em húa commissão de sardinha

salgada, em na índia elle espera formar lucros, a não


q. grd.®8
arderem de corrupção caminho. O Navio chegou aqui
pelo
— 207 —

fazendo m.ta agoa, foi necessário descarregar todo,


q. quasi

se concertar e de novo : traz trinta e tantos


para querenar

como o d.° todos, como elle, vão fazer


garotos, José Justino, q.
'Commerciaes
especulações á índia, mas vão aqui deixan-
grd.63

do dos seus capitaes, botequins, casas de


grd.es porções pelos

Pasto, Operas, e outras Casas. . . : em fim he


provérbio geral

de q. o Navio S. Thiago he o Navio dos doudos. O irmão

mais velho, do d.° aqui era Caixeiro de húa


José Justino, q.

Loja de Quitanda, foi Lisboa no Navio Protector General.


para

São inteiram.** falsas as 4 noticias, V. M.ae me affirma


q.
terem ahi a respeito do Visconde de V.a N.a da R.a,
grassado,

do Confessor de S. A. R., do Barão do Rio SeCo, e do Mons.or

Machado ; não duvidando eu houvessem sufficientes moti-


q.
vos os do L° e 2.°, e sobre isso ha m.to a
p.a procedimentos

dizer, m^s não se confiar do O casamento da filha


p.a papel.

do Barão com o Fisico Mór he certo, mas está destinado


p.a
Outubro, e entretanto elle espera o Titulo de Barão igual ao

do futuro Sogro, as Casas com a maior


preparando pompa, q.
lhe he : também se achão os casamentos das
possível justos

pessoas seguintes ; a filha do Marquez de Vallada com o

Conde do Barreiro, a filha da Condeça da Ponte com o filho

de D. Francisco de Almeida, a filha do Marquez de Bellas

com o Conde da Ponte, e a filha do Marquez de Lavradio,

(Dama de S. A. a S.ra Princeza D. Maria Francisca Benedicta,

Viuva) com o Conde da Ribeira, aqui chegou na Frag.a


q.
Benjamim. Morreo ha dias a Marqueza de Angeja, de
parto.

Entreguei ã m.a Velha a Certidão das Missas, V. M.***


q.
me remetteo, de ficou descançada e satisfeita mas cau-
q. ;

sou-lhe impressão a duvida dos Frades em lhe entregar


grande

o dinheiro vencido dos seus ; logo ella escolhia


juros pois q.
hum Procurador, não era da conta delles duvidarem em satis-

fazer aos dando nisso ocçasião a outros


pagamentos, juizos.
Eu vi os originaes de ambas as Escripturas, e ellas consta
por
estarem as duas dividas manifestadas á Décima, V.
porem
M.ce terá a bondade de examinar até anno estão
q. pagas.

Pelos Papeis e outras Cartas nos tem constado


públicos
com a maior satisfação o acontecimento da Pacifica-
prodigioso

ção geral da Europa, e da do Tiranno : he


queda precipitada

justo nos congratulemos com tão noticia, havendo-se


q. prospera
dado fim a tantos males com a restituição dos legítimos Sobe-
— 208 —

Thronos : aqui houve hüa solemne Festivid.® na


ranos a seus

R. com Te Deum e 3 noutes sucessivas de luminarias,


Capella

de artilheria, de Tropa, e Beija-Mão de


Salvas grande parada

com a maior : está sahir a Corveta Voador


parabéns gala para

Antonio de Saldanha Veador de S» A. R. a S.ra


com (35),

Princeza D. Carlota, e foi Governador no Maranhão e em


q.

Angola ; affirma-se vai a Inglaterra em Comissão particular,


q.

até hoje se ignora, e de lá a França e a Italia, e dalli


q. passa

tornará aqui. Manoel Francisco de Barros, filho do S.r Vis-


p.

conde de Santarém, ir na d.a Corveta com o fim de


pertendeo

viajar, mas com o titulo de Secretario de Antonio de Saldanha ;

S. A. R. não O Secretario do Núncio vai neste


porem quiz.

Navio Victoria Lisboa, e dahi vai Mediterrâneo a Na-


p.a pelo

a Roma a cumprimentar o S.10 Padre, e re-


poles p.a passar-se

ceber as suas Ordens, e dalli tornará aqui. Antonio de


p.

Araújo está com obras nas suas Casas, lhe levarão


grandes q.

huns de mezes. O Conde de Cavalleiros ha


poucos poucos

dias comprou húas bellas casas com sua chacra Tudo


(36).

o mais está em socego, ou antes, mortuario, denota mui longa


q.

neste Paiz, e ha de
permanencia quasi q. prohibição política

fallar-se na ida Lisboa : Deos sabe será.


para quando

Fico ancioso saber noticias de V. M.cíe, espero me


por q.

felicite com a sua benção, e igualmente da Mãy, a me fará


q.m

mui recommendado, e á Tia, Mana, e S.ra Ignez, e Visinhos.

E sou com todo o respeito

De V. M.06

Filho m.to obed.e e C.

Luiz dos S.tos Marrocos


Joaquim

(35) Antônio de Saldanha da Gama, depois Conde de Porto üianto; era

capitão de fragata da armada real e governou o Maranhão em 1804. Conf. Var-


nhagen, Historia Gera! do Brasil, V. ps. 342.

(36) Falta nesta carta a noticia da morte do General Carlos Antônio Na-

pion. que vem na Gazeta do Rio de Janeiro, de 9 de Julho de 1814 :


e Exm.° Carlos Antônio Napion. do Conselho de S. A. R., Conselheiro

de Guerra, Gram Cruz da Ordem da Torre e Espada, Cavalleiro da de S. Maurício

c Lazaro de Sardenha, Tenente General dos Reaes Exércitos, Inspector Geral de

Artilharia, e Fundições, Presidente da Real Junta da Fazenda dos Arsenaes do

Exercito, Fabricas, e Fundições, e da Junta de Direcção dos Estudos da Academia

Real Militar desta Corte : falleceu no dia 27 de Junho proximo passado, pelas 10

horas da manhã, tendo de idade, quasi 56 annos".

*
CARTA N.° 73

Rio de 18 de
Jan.ro

Julho de 1814,

Meu Pay e S.r do C. Na minha ultima,


prezadissimo q.

daqui foi no Navio Victoria, affirmava a V. M.ae' haverem


aqui chegado 8 Navios sem ter o de receber elles


gosto por

Hüa Carta única de V. M.c,e, depois daquellas, vierão no


q.

Navio S. Thiago Maior : agora accrescento depois da-


que

8, entrarão esta semana os Navios Nova Alliança,


quelles

Fenix, e Despique, e nem estes 3 me trouxerão hüa só letra.

He mim o caso mais inexperado esta suspensão da sua


para

correspondência, não era de não ter


quando presumir, por

havido falta da minha e as circunstancias a exigião


parte, por q.

sem interrupção ; e isto não fosse, era sufficiente mo-


quando

tivo a época dos acontecimentos e militares,


presente politicos

cujas noticias todos os aqui vivemos, anciosamente espera-


q.

mos ; e sendo estas communicadas todos os


geralmente por

existem neste Continente, só V. M.ce se conserva em hum


q.

silencio nunca até aqui abraçado. Nunca seja este causado

falta da sua saúde, eu sobre tudo e estimarei


por q. prezo, q.
todos de nossa Casa esse, mim he o
geralmente gozem q. p.a
melhor de todos os bens ; recomendando-me mui especialmente

á Mãy e Tia, e declarando estou muito mal com a Mana,


q. q.
sem estar no Brazil se lhe a Eu tenho conti-
pegou preguiça.
nuado a hum defluxo de tal me attacou
padecer qualidade, q.
o com semelhança aos asthmaticos, falta de ár, e
peito, pela
tosse mui forte, dè noute me carrega : da
pela q. principalm.1®

m.a dôr de cabeça ha tempos bem, e vejo isso


q. passo por q.
he moléstia, se chamar
q. pode periódica.
Tem-me causado desgosto a falta de remessa do
grd.e

dinheiro dos esta impertinente Velha, tem


juros pa q. quando
"~-ííoticia
da chegada de algum Navio de Lisboa, não me deixa,

e he hum mosquito. He verdade ella vive em


peior q. q.

tão falta, e da sua Pensão de 320 r.8


penúria por grd.e já
diários tem com tempo de avance, se attender
precebido por
— 210 —

á sua miséria, e ao m.t0 tem dispendido com as suas largas


q.

enfermidades. Por ultimo ella me communicou


q. passava

a empenhar aqui a Escriptura do seu Capital existe em


q.

Bellem, e tinha tenção de consultar o seu Advogado a


q.

fim de fazer ao d° Mosteiro nos seus bens, ti-


penhorar q.

vessem mais bem como elles se na da


parados, prometterão

Escriptura, o dos seus


pa prompto pagamento juros, já q.
não davão de si boa conta, e a divida hia em augmento.

Recebeo-se aqui a ultima noticia da abolição das Cortes

de Hespanha, e da sua Constituição : e nós aqui estamos


(37)

vendo a desordem destas Províncias da America Hes-


quasi

cujas arranhaduras nos chegão á ; e aqui


panhola, já pelle

se vai apparelhando e armas, com lhes tomaremos


gente q.
a visita.

Depois de receber o favor da sua benção e da Mãy, con-

tinúo a sou com o maior respeito.


protestar q.

De V. M.™

Filho m.t0 obed.e e C.

Luiz dos S.t0® Marrocos


Joaq.m

N. B. No Navio Victoria escrevi a Pereira.

CARTA N.° 74

Rio de 4
Janeiro

de Agosto de 1814

Meu Pay e S.r do C. Creio na ma


prezadissimo q.
ultima Carta, daqui foi no Navio Vasco da Gama a 25
que

de tenho annunciado a V. M.oe haverem chegado a


Julho,

este no dia 10 do mesmo mez o Navio Nova Alliança


porto,

com 58 dias de viagem, a 11 S. Fenix com 42 dias, e a


José

(37) O decreto do Rei Fernando VII, dado em Valença, a 4 de Maio de


1814. abolindo as Cortes de Espanha e sua Constituição, foi publicado na Gazeta
do Rio de Janeiro, de 20 de Julho do mesmo ano. E' longo e faz a história da inva-
são francesa na Espanha.
— 211 —

12 o Despique com 57 dias, sem nenhum delles me trazer

Cartas de V. M.0®, o sobremaneira tenho sentido,


q. por
serem contados 11 Navios, depois do S. Thiago Maior,

em eu fico sem noticias. Agora vai a sahir o Navio


q. q.
Trajano, faço esta, não deixar nunca de cumprir os
para

meus deveres, isso se me offerecerem occasiões,


quando para

e me durarem as forças, solicitando novas da saúde de V.

M.ae, da Mãy, Manna e Tia, a espero me faça mui


quem
recommendado, apezar de extranhar de tal modo o silencio

de todos, em falta de suas como se eu não exis-


promessas, já
tisse, ou dando talvez a entender a ou nenhuma tenção
pouca
de ainda me tornarem a ver : eu não decidir futuros,
posso
e muito menos de minha duração ; mas assegurar a
posso
V. M.ae a firmeza de meus sentimentos, maiormente esperan-

çado nos benefícios da Providencia, devendo mostrar


por
este modo o meu reconhecimento a todos, huns
por'obedien-
cia e respeito, outros amizade e ; e
por gratidão julgo que
fundado nestes não deixará de lhe ser agra-
princípios jamais
davel o meu objecto da minha atten-
procedimento, principal

ção. Neste mesmo Navio Trajano vai de hum


passagem

P.* Manoel Carmello Raimundo Cantagallo, Abbade da

Igreja de S. Baptista do Louredo, como V. M.06 verá


João

da Lista inclusa : este Clérigo he o m.mo Frade Carmellita

Descalço, aqui chegou com D. Francisco de Almeida,


q.

em eu em outra fallei a V. M.ce, lhe annun-


que já quando
ciei ter sido aquelle Fidalgo : hum feliz aca-
procurado por por
so succedeo o d.° Clérigo fosse irmão de hum Amigo meu
q.

e Visinho, Advogado nesta Corte, e vindo assistir com este

irmão, tomasse amizade comigo, a se tem sempre con-


qual
servado mui estreita e sincera, na verdade tem me-
(por q.
lhores sentimentos seu irmão Advogado) até agora
q. q.
vai tomar da sua magnífica Igreja. Em elle
posse quanto
se demorar em Lisboa, ha de hospedar-se em casa de Anto-

nio Pedro da Silva Ribeiro, Commendador da Ordem de

Malta, e morador ao Collegio dos Nobres, no N.° 59. Todo

este vem a dizer ; tenho summos desejos de


preâmbulo q. q.
V. M.ce o em casa do d.° Commendador, e delle re-
procure

ceber todas as noticias, a meu respeito elle


q. quizer, ; pois
sabe com toda a a minha vida e estado do meu
particularid.e
arranjo, e communicar-lhe couzas, eu não devo fiar
pode q.
do relativas ao meu novo Emprego e nova Pensão,
papel,
— 212 —

até aqui imaginária : álem das noticias, delle houver a


q.

meu respeito, elle lhe referir outras ;


pode geralmente políticas

álem de elle discorrer com bons tem


por q. princípios, gênio

besbelhoteiro e conhecedor. Elle não sabe deste


preparativo,

mas esta Carta lhe servirá de elle se des-


guia, querendo, p.a
cozer mais ; não me aproveitando eu do seu
promptamente

offerecimento ser o veio despedir-se de


p.a portador, quando
mim, em razão de não haver demora na sua recepção, sendo

esta mais Correio.


prompta pelo

Remetto a V. M.oe as Listas dos Despachos


publicados
imprevistamente no dia 25 de e muito
Julho, principalmente

os da Secretaria de Estado dos Negocios Estrangeiros e da

Guerra, e em húa crise tão embaraçada de outros negocios.

Aqui se está embarcando o Corpo de Artilharia com os mais

e bagagens, assim como o Marquez de Alegrete,


petrechos

General em Chefe, a Ilha de S.18- Catharinâ, e dalli se


pa

distribuírem as Linhas das nossas fronteiras,


pa guarriecerem

deffendendo-as das incursões dos insurgentes Americanos

Hespanhóes, ameação o nosso territorio, mas a nossa


q. já

força he considerável, e he mais temível sua disciplina.


por

O Governador, foi de MonteVideo, Vigodet, aqui se acha


q.

refugiado, mas não o caso tão feio, como o referem


pinta

das Praças; e com o adjutorio, se


politicarrões julgo q. q.

espera da Hespanha Européa, se accomodarão depressa estas

desordens.

Hum Navio, chegado aqui de Málaga, dá a noticia de

Fernando 7o ter acceitado e assignado a Constituição, com

certas moderações ; vista a tremenda fermentação, em


que

a Civil, por effeitos de sendo


principiava guerra partidos,

necessário a Lord Wellington apresentar-se em Madrid com

o seu Exercito ; e isto de nada valera o seu De-


por grande

creto. Não sei se he verdade, assim como tudo o mais,


q.

se conta do Norte da Europa.

Não tendo mais ora communicar-lhe, rógo a


por q.
V. M.oe me continúe o favor da sua benção, e o m.mo espero

da Mãy : me lisongeio de ser com todo o respeito


pois

De V. M.06

Filho m.to obed.e e C.

Luiz dos S.10® Marrocos


Joaq.m
CARTA N.° 75

Rio de o Io de
Jan.ro

Novembro de 1814.

Minha Mana do C. Inda eu tenho sobejas razões


que

deixar de escrever-te, vendo não tens a lembrança


para q.
de me responderes a algüas, daqui te tenho enviado ; com
q.

tudo faço esta o ha hum anno te


pa prehencher q. quasi par-

ticipava, isto he, estar na resolução de casar-me. Com effeito

a burra, como diz o adagio, e depois de velho vim


pario já

a sahir : e deixando mil Lisboetas, aqui estão, e


gaiteiro q.

mim tem as inquirições tiradas, terem


q. p.a por já passado

a Linha, encostei-me a huma Carioca, só tem o único de-


q.

feito de ser Carioca. Estou antevendo agora a tua expres-

são de — ha de a Noiva ?— a isto te respon-


quem gabar

derei — e dar delia melhor informação ? —


quem pode

Nas Cartas do Pay e da Mãy dou eu aquellas noticias,

a brevid.® do tempo me referir, a respeito do meu


q. permitte
casamento, e só me lembro dizer-te esta m.a Sinházinha
q.

não he rigorista de modas ; não sabe dançar, nem tocar ; não

serve de ornato á com o leque e com o lenço, não


janella
sabe tomar visitas na Salla, nem discorrer nas ;
guerras porem

sabe satisfazer-me em tudo o ao da casa,


q. pertence governo
meu e seu arranjo, ser este o seu e a sua criação ;
por gênio

pois apezar de em casa de sua Mãy haver hüa immensid.e

de escravas o serviço, erão as filhas obrigadas Sema-


pa por
nas a regerem este m.mo serviço ; e a tartaruga Velha o fazia

executar sem a menor falha ao som do chicote e


palmatória,

sempre lhe servirão ao seu lado de Camaristas.


q.

Tem hido aqui o Diabo a com este meu novo


quatro
estado entre destas toleironas, húas inveja,
grande parte por

outras desesperação, entretendo a todas, fim


por pois q. por

mandei-as á fava : e agora se vingão em lamentar a ma des-

dizendo entre si — Coutado ! foi-se fazer infeliz !


graça,

podia achar melhor fortuna, casando com húma filha de hum

Criado. — Entre ellas se tem distinguido a irmã e a sobrinha


— 214 —

do P.e Antonio, Cura da Capella R., ora andando de propo-

sito casa das suas amigas a divulgarem este fe~


por grande

nómeno, ora escrevendo Lisboa a toda a besbelhoteirage


pa

do Sitio de Alcolena e de Bellem, tudo a desfazerem neste

meu : outra tem andado o d° P.e Antonio a


passo por parte

descobrir matto a respeito das m.as e do dote, ma


posses, q.

mulher trouxe ; mas eu me estou rindo com a cegueira desta

tolla, condoendo-me do empenho, com á tôa


gente q. perten-

dem o meu segredo, não dando satisfação a ninguém,


penetrar

lembrando-me nisto do diz o nosso Xavier de Matos :


q. João

"Se
he homem, tem com ella ?
que
"Se
he mulher, tem comigo ?
que

E em outro lugar diz :

* "Ora
he forte sem razão,
"Quererem
hum coração
que
"Ame
á vontade dos mais !

Com isto faço e com o tempo irei dando mais


ponto,

conta de mim, esperando a resposta desta, e sendo sem

reserva teu

Mano do C.

Luiz.

P. S.

Saud.eB á Tia, e á Ignez.

CARTA N.° 76

Rio de o Io de
Jan.ro

Novembro de 1814.

Meu Pay e S.r do C. Pelo Navio Traja-


prezadissimo

no, daqui sahio a 16 de Agosto, escrevi a ultima a V.


que

M.oe, de não haver recebido Carta algüa de


queixando-me

V. M.00 depois da chegada do Navio S. Thiago Maior em 3

de Maio: entrarão depois disso a 15 de Setembro o Navio

Marquez de Angeja, a 18 de Outubro o N. Aurora, e a 28


'
— 215 —

o N. Nova União : nenhum destes me trouxe Cartas algüas

de V. M.06, deixando-me no m.mo enleio e confusão antiga.

Sobreveio-me nos fins de Agosto húa formidável erysipéla no

braço direito, e me acabrunhou bastante até


peito pescoço, q.

ao fim de Setembro, me do movimento em


quasi pois privou

razão do torpor, com veio acompanhada, a mim me


que q.
hum estupor. Neste intervalo de tempo
parecia peior q.

sahirão daqui os Navios Despique, Nova Alliança, e N. S.ra

da Luz, a 3, 6, e 24 de Setembro, os não levarão Carta


quaes
ma impossibilid.e, em estava : e agora continuando
pela q.

a ma escriptura, como sempre o tenho feito, será o meu


prin-

cipal empenho exigir de V. M.°® o favor de me explicar a

razão e o motivo da sequidão, com ha tanto tempo me tem


q.

tratado, não fazendo caso das m.as Cartas, e não respondendo

a ellas, entregando a ellas e a mim em hum esquecimento tal,

se só entre dous inimigos. Accresce mais este


q. praticavel

meu cuidado, ver igual na Mãy e Mana,


por procedimento

ambas se remetterão ao silencio, apezar das m.33 Cartas.


pois

Tenho feito mil sobre este extranho acontecimento, e


juízos

não tiro conclusão mais hum simples fructo da sem-


por que
razão e extravagancia: V. M.oe uzar deste
permitta-me

termo, não acho outro, com exprimir a causa


pois q. q. possa

do seu esquecimento.

Quanto a novidade, a eu, como Povo, chegar,


q. possa
devo dizer a V. M.0* vai a nascer húa fermentação occulta,
q.
solapaâamente vai minando em da nossa ida
q. preparativos
Lisboa : no Arsenal da Marinha trabalha-se em aprestos
pa

as Embarcações de ; estas estão-se concertando e


pa guerra
apparelhando ; dos differentes deste Estado tem che-
portos
aqui varias embarcações com madeira ; ha 4 dias che-
gado

da Bahia húa embarcação com 40 Officiaes de machado


gou

ajudarem os aqui ha ; tem-se comprado bom


pa poucos, q.
numero de a Ribeira, e ha hum Edital se compra-
pipas pa pa
rem apparecerem : ouvi dizer se manda
q.133 q. prender gente

pa marinhagem aqui e todos estes Lisboa e Ilhas,


por portos,
donde também virão todas as embarcações, não tiverem
# q.
carga e destino ; de Inglaterra vem todos os marinhei-
já q.
ros Portuguezes, alli servião, e a alli agora se lhes
q. quem
dá baixa. Entretanto no Publico não ha nada de novo :

S. A R. não falia, nem consente se falle nisso ; e he essa


q.
a razão ninguém se nem cuida em tal. Huns
por q. prepara,
— 216 —
/

dizem a \ 7 de Dezembro he vem a a nossa


q. q. publicar-se

retirada, e esta se verifica Março ; outros todo


q. pa q. pa

o anno futuro ; outros finalmente affirmão esta se não


q.

effeitúa, em fôr viva S. Mag.e, ou emq.to se não


quanto pre-

hencher o tempo deste ultimo Tratado com Inglaterra. Da-

V. M.oe concluir o ainda estamos ás cegas neste


qui pode q.10

; vamos continuar Obras e des-


ponto pois grandes grd.®3

: no Sitio de Andrahy 1/2 léguas distante desta


pezas (2

Cid.e) se está hum bom Palacio, com 50 Offi-


preparando

ciaes, a S.ra Princeza D. Carlota ir alli residir, e deixar


pa

o Sitio de Botafogo. Na Livraria continuão as Obras com

o m.mo vigor, e em Setembro entrou ella hum Leigo Arra-


pa

bido, irmão de Fr. Confessor de S. A. R., Servente


Joaq.m pa

com seu Ordenado.

Morreo o Visconde de Condeixa de húa indigestão :

estão desfeitos os ajustes dos casamentos entre a filha do

Barão do Rio Secco com o Fisico Mór, e a filha da Condeça

da Ponte com o filho de D. Francisco de Almeida, e agora

se sabe este casar com a m.ma Condeça da Ponte, e


q. quiz

esta lhe respondera antes hum estupor ;


q. q. queria padecer

e indo elle ao depois o m.mo fim sua Cunhada,


q. pertender pa

a Condeça das Galvêas, tivera igual resposta. Houverão

dous desafios ; o 1,° entre o Conde da Ponte e o f.° do Mar-

de Lavradio, e este velho fora de capote, e espada


quez q.

e cabelleira torta despicar seu filho medo e cobardia q.


pelo

teve; o 2o entre D. Francisco de Almeida com o Visconde

de V.a N.a da*Rainha, ciúmes da Condeça da Ponte, aca-


por

bando a briga, ou convertendo-se em descompostura de re-

: todos forão reprehendidos.


gateiras

O Vigodet, Gov.or foi de MonteVideo, foi Hes-


q. pa

com húa Commissão mui espécial da S.ra Princeza D.


panha

Carlota, levando a Fernando 7.° hum e lindo re-


precioso

trato da S.ra Infanta D. Maria Francisca : Sahio daqui em

húa Fragata Hespanhola*.

O filho do Cosinheiro, Patrício Alvarenga, era Sa~


q.

cristão da Capella R., foi dalli despedido vários roubos,


por

alli fizera, em de e em dinheiro ; e lá foi com


q. peças prata,

degredo encuberto a assentar no Regim.*0 de Dragões


praça

do Rio Grande : na casa de seus Pays he tudo húa desolação

magoa, tiverão.
pela q.

A m.a Velha Legataria está inconsolavel não haver


por

recebido nada ainda do seu dinheiro : e eu desconfio m.to


'
— 217—

ella tenha escripto outrem aos Frades sobre o estado


q. por

da sua divida, uzando de silencio comigo : ella remette esses

dous Apontam.*0®; o de S. Fran.00 alli se lhe fação os


pa q.

suffragios, como fallecida ; o do Carmo alli se


pa q. paguem

os seus annuaes até o presente.

Tenho ora acabado a m.a escripta ; e desejando a


por
V. M.oe e a todos de Casa mui vigorosa saúde, espero de

V. M.oe o favor de sua benção, sendo com todo o respeito

<De V. M.ra

Filho m.t0 obed.6 e obg.do C.

Luiz dos S.toS Marrocos


Joaquim
P. S.

Remetto as Relações dos Despachos do dia 12 de

Outubro.

CARTA N.° 77

Soli

Rio de o Io de
Jan.ro

Novembro de 1814. f.

Meu Pay e S.r do C. Apezar de dirigir


prezadissimo
outra a V. M.oe adjunta a esta, contendo diversos objectos,

me acertado o objecto desta fosse separado e


parece que
independente, conforme o uzo V. M.**5 determinasse delia
q.
fazer.

Em Carta com data me não engano) de 23 de De-


(se

zembro de 1813 e daqui foi no Bergantim Venus a 28 do


q.
d° mez, eu a V. M.0*5, assim como á Mãy e Mana,
participava

estar na resolução de cazar-me, obrigando~me a isto razões

tão fortes, as expunha na da ma Carta, todas dirigidas


quaes
ao socego do meu espirito, e ao meu arranjo. Deixo
principal
de referir agora, os incommodos, tenho soffrido, con-
q. pa
servar com airosa decencia a ma representação ; os tantas
q.
vezes supportei occasiões de m.as moléstias, acceitando
por

necessid.e da ma solidão os favores alheios em meu tra-


por
— —
218

tam.t0: não refiro os modos extranhos, carrancas, focinhos

e outros de até me devia servir de narizes, ficando


géstos q.m

eu hum capricho celibatario cheio de obrigações e depen-


por

dencias ; ma ultima resolução applicava hum sau-


quando pela

davel remedio á ma vida : o tudo V. M.00


precaria q. pode

olhando o meu em terra extranha, só, e doen-


julgar, pa gênio,

te mais ou menos.

V. M.ae se não dignou de me responder áq.la ma Carta,

assim como tem feito a muitas outras até agora, como na ad-

lhe refiro, como fiquei na de V.


junta porem persuasão q.

M.oe fosse ella sciente, descancei nesse ser


por ponto, por

annunciado com a maior antecedencia, me foi possível.


q.

Com effeito em a ma resolução, e me cazei com


puz pratica

húa Brazileira, nome Anna Maria de S. Thiago Souza,


por

de idade de 22 annos, filha de de^ Souza Mursa, e de


José

Francisca das Chagas de S.*3- Thereza : a Mãy he Brazileira,

mas o Pay he natural da V.a de Mursa, na Província de Traz

os Montes, muito limpa, honesta e abastada. Este


gente

homem vive actualm.te de suas ha m.*08


posses, q. juntou

annos em negocio Lisboa e outros do Brazil ; he


pa portos

conhecido e respeitado de Personagens desta Cidade,


grandes

e foi o único, com contrahi amizade, e a era summam.te


q.m q.m

obrigado, me valer nas occasiões de m.as moléstias com o


por

serviço de seus escravos, e com o de toda a sua


préstimo

Casa. Os delle todos são em Portugal : sua mulher


parentes

tem boa ascendencia, seu Avô Ten.® Coronel, e seu


por

Bisavô M.e de Campo; tem linha transversal igual


pbr pa-

rentela, como he o Io Medico do Hosp.al R. desta Corte,


por

appellido o Leal, outros dous Médicos, são também hum


q.

Capitão, e outro Ten.e Coronel, addidos ao Estado Maior do

Exercito, o Secret,0 do Governo da Bahia, e Ouvidor de

Matto Grosso, e outros Negociantes desta Praça, &, a maior

com Hábitos de Christo.


parte

Referindo-me neste objecto a outras meudezas, vão


q.

transcriptas nas duas Cartas adjuntas á Mãy e Mana ; vou

a concluir me fez Deos o beneficio de neste me res-


q. ponto

tituir o meu socego ; vivo em em abundancia, e com


pois paz,

aquellas commodid*® de tanto com hüa boa casa


q. precisava,

bem arranjada de tudo, e com escravos, e outras convenien-

cias, sem a menor despeza minha.



Sem me . V. M.°® caprichos léve
persuadir q por políticos

a mal esta ma resolução, espero V. M.cte a approve, e com


q.
— 219

a sua approvação consolide mais a ma fortuna ; alem


pois q.

de eu não fazer voto de celibato, he de reflectir es-


q. quem

até aos 33 anos de idade, e ao depois se caza, não se caza


pera

vicio ; aliás, o tinha em Lisboa.


por já praticado

Espero V. M.°® me honre com a sua resposta, annun-


q.

ciando-me a entrega desta, e com a sua benção dar-me todas

as occasiões em eu mostre a ma fiel obd.a; sou com


q. pois

o maior respeito

De V. M.™

Filho m.t0 affect.0 e obg.mo C.

Luiz dos S.tos Marrocos


Joaquim

Appendix Ap.

de Sousa Mursa, casado com


José

Francisca das Chagas de S.ta Thereza.

Filhas

Emerenciana Rosa do Sacramento, 34 annos

Angélica Francisca de Sousa, 25 annos

Anna Maria de S. Thiago Sousa, 22 annos

Filhos

. . Negociante em S. Paulo
José..

Fr. Cláudio, Carmelita, e Prior da sua Ordem em S. Paulo

de Souza Mursa, Negociante no Rio Grande.


João

Antônio í Administrão nesta Cid.e a Casa

Manoel de Souza cje seu Pay


José \
*
Cândido de Souza, de 16 annos, aprende comigo a
José

Gram.a Lat.a

CARTA N.ü 78

Rio de 22 de
Jan.ro

Dezembro de 1814.

Meu Pay e S.r. Depois do ultimo Navio


prezadissimo

chegado a aqui, em 27 de Outubro, e de dei a


q. já párte

V. M.06, tem igualmente chegado os Navios seguintes : a 8

de Novembro o N. Princeza do Brazil, a 10 S. Baptista,


João
— 220.—

a 11 Imperador, a 12 Charrua Princeza Real, a 25 Conde de

Peniche, e a 29 Sociedade. Por nenhum destes me tem ap-

húa só Carta de V. Merce, e consequencia te-


parecido por

nho ficado no mesmo embaraço antigo : eu não sei se deva

continuar nas minhas arguindo-lhe tão extranho e


queixas,
talvez nunca desapego ; alem de outros, lhe
praticado pois
era bem visível a causa do meu compromettimento com a

Velha Anna Rosa, a não sei dar resposta


Joaquina quem
alguma : mas em fim he vontade ou talvez seu, ver-
prazer
me luctar sem forças, nada mais digo.

Na minha ultima dei a V. M.0* de me haver casado


parte
com huma natural desta Corte, e lhe manifestei as razões,

o fui feliz na minha escolha, ter todas


por que pratiquei; por
as eu exigia, e nas minhas circunstancias
qualidades, q. q.
me erão convenientes. Não sei se V. M.00 haverá appro-

vado esta ma resolução, nessa idea sempre tenho es-


pois q.
tado ; e estimarei com esta sua approvação se me augmente
q.
o numero de seus favores.

Tem esfriado inteiram.te o fogo, com se assoalhava a


q.
nossa retirada esse Reino ; nada se diz, e
próxima pa pois
em nada se trabalha daquelles aprestos, induzião a affir-
q.
mar aquelle regresso : e o único com os mais
pegadilho, q.
anciosos argumentavão de se esse movimento no
publicar
dia 17, de todo, e todos nós calámos. Ha muitas e
gorou
muitas Obras, mas são daquellas, de os Pseudo-Brazilei-
q.
ros vulgo se servem o boato de
Janeiristas, para promover

presistirmos aqui eternamente.

Desejo muito V. M.cie continue a saúde muito


que gozar
vigorosa, e na sua me dê todas as occasiões de lhe
que posse
mostrar a ma fiel obediência, favorecendo~me com a sua ben-

ção, e tendo toda a certeza de sou com a maior submissão


q.

e respeito

De V. M.ce

Filho affect.0, obed.® e obg.m? C.

Luiz dos S.tos Marrocos


Joaquim
P. S.

Remetto as Listas dos Despachos —


221 —

CARTA N.° 79

Rio de 8
Jan.ro

de de 1815.
Janeiro

Meu Pay e S.r Esta he feita com a maior


prezadissímo

me affirmarem hoje vai bordo a mala das


pressa, por q. pa

Cartas, e não tenho isso tempo de ser mais extenso : a


por

29 de Dezembro entrou aqu^o Navio Grão Cruz de


passado

Aviz, sem me trazer Carta algüa de V. M.0**, e só recebi

húa de Lourenço mão do Visconde de V,il N.11 da


João por

R.a, e a tenho respondido.


quem já

Ha muito espero saber a razão da falta da sua cor-


q.

respondencia, tantas vezes lhe tenho ; mas


q. por pedido

inutilmente : estou fóra de toda a verdadeira conjectura ;

nem isso tenho adquirido idéas algúas. Esta mes-


por q. pa

ma extranheza tenho notado em todos ahi de casa ; e eis

aqui em tantos disvelos e affeições antigas : ape-


q. parárão

zar disso desejo nunca faltar com o devo.


q.

Desejo a V. M.oe saúde m.*° e igualmente á


perfeita,

Mãy, em cujas bênçãos me encomendo ; e sou com todo o

respeito

De V. M.ce

Filho m.to obd.e e obg.m° C.

Luiz dos S.tos Marrocos


Joaq.m

P. S.

Recommendo-me m.t0 á Manna, Tia, e S.ra Ignez.

CARTA N.° 80

Rio de 10 de
Jan.ro

Abril de 1815.

Minha Mana do C. Depois de hüa falta tão extraordi-

naria das tuas Cartas, seja seja descaminho,


por preguiça, por

recebi finalmente duas, com datas de 9 dé Setembro e 15 de


— 222 —

Dezembro do anno ás vou responder, como


passado, quaes

sempre costumo, suppostos os cumprimentos do uso, ou antes

da amizade, em sou firme, como húa rocha.


que

Chamas-me interesseiro, como S.t0 Antonio ; he hum

testemunho, levantas a elle e a mim ; . m.1** e m


q. por q

vezes tenho escripto Cartas ti, adjuntas ás do Pay e da


pa

JVÍãy, sem ter da tua respostas algumas : e ultimam.te


parte

o Pay me referio em húa me náo escrevias, não


q. por q.

Ora á vista disto não ha interesse


querias. parece-me q.
meu nesse antes sou mui franco e apezar de
ponto, pontual,

estar consumido de trabalho.

Tive noticia das festas e apparatos, houvérão, com a


q.
chegada dos nossos Regimentos, tudo foi o
q. pouco para
seu merecimento : he verdade a chegada delles
que quando
seçvisse a huns de alegria, a outros causaria tristeza,
pela
falta dos seus acabarão os seus dias na
parentes, q. guerra.
Aqui forão despachados esses Officiaes dahi vierão, como
q.
eu mando dizer ao Pay, e lhe envio a Relação dos Despachos :

os Segundos Sargentos, Cabos, e Soldados, ficarão


pobres

tristes, esperavão todos sahir Officiaes, isso só


pois quando
aconteceo aos erão Sargentos:
q. primeiros porem quando
virão os Saldados a Cabos, os Cabos a segundos
q. passavão

Sargentos, e os segundos Sargentos a Sargentos,


primeiros
ficarão todos m.10 zangados, clamando esses Postos os
q.
costumam dar os Coronéis dos Regimentos, e he vergonha
q.
húa Secretaria de Estado conferir Postos tão ridículos a
pa

faz tantos Serviços em húa Campanha tão horrível.


quem

Em fim a intriga contra elles he muito e hontem se


grande,
enforcou hú Sargento, apezar de lhe acudirem,
q. parece-me
não escapa.
q.

A respeito da nossa ida Lisboa, vem a ser huma


para

como a Seita dos Sebastianistas : dizes ahi se


questão que
está o Palacio da Ajuda, a Familia Real,
preparando pa quan-
do ahi for. Também te digo aqui se está
pa que preparando
o Palacio de S. Christovão, e augmentando-se com mais de

metade, nelle vir assistir o futuro em tempo de verão


pa pa

toda a Familia Real; e acabado elle, vai a fazer-se o mesmo

trabalho de augmento no Palacio de S.to Cruz, distante daqui

14 legoas, toda a Familia Real vir a accommodar-se alli


pa

nas suas annuaes de Fevereiro, e Novembro.


jornadas Julho
Alem disto se mandarão examinar os caminhos daqui a
já pa
— 223 —

Cidade de S. Paulo; tem havido lembranças de se ir


pois

estabelecer a Corte para alli, em razão dos bons ares serem

semelhantes aos de Portugal. O Concerto actual das nossas

Embarcações de tem dado fallar a muita


guerra que gente,

tirando disso argumento a breve sahida da Familia


para

Real destas terras : a Deos isso assim fosse ! mas


prouvera q.

infelizm.te não são ainda esse destino :* basta só co-


para q.

nheças as couzas vão se outra vez feias. Dá-me


q. pondo

rizo ou raiva, vejo dizer a algum tolo falia


quando q. quem

deste modo he aquelle não tem vontade de hir a Lisboa :


q.

ora sabe as couzas, e não as dizer, serem de


quem pode por

segredo, ouvindo isto, ou se ri, ou lhe chama tolo ; por q.

he a desforra tem. Á vista disto o melhor he ouvir e


que

callar, este sistema não causar damno a


por que pode quem

o uza. De alguns dos de França tem aqui chegado


portos

alguns Navios, com muitas modas, enfeites, e bugiarias, mais

baratas as Inglezas, de estes desesperão,


q. que pois querião

só si o interesse ; e ainda esta semana aqui tive em ma


pa

casa 3 vestidos de seda, bordados de de


palheta prata, pa

ajustar, mas achei m.*0 caro o de cada hum, era de


preço q.

cinco doblas. He ahi tenha apparecido o m.mo


provável q.

com igual abundancia. Já vão apparecendo aqui muitos

Francezes, são conhecidos tope branco ; mas eu não


q. pelo

sei ainda lhes conservo tal aversão, não


pelo que q. posso

olhar direito elles ; e mim ficou sendo Nação


para para

detestável.

Já em outras duas te de me haver cazado a


participei

22 de Setembro do anno ; e me foi muito sensivel


passado

não ter respostas, nem do Pay, nem da Mãy, ás m.3-55


primeiras

Cartas de de 23 de Dezembro de 1813 ;


participação, pois

apezar de eu estar em hüa consideração impugnavel, assim

distancia, em a Providencia me tem como


pela que posto, por

todas as mais razões são bem conhecidas : com tudo de-


q.

sejo sempre fazer as couzas com e reflexão, não dei-


gravid.e

xando de executar os meus deveres, como me cumpre e he

de Nesse ainda me acho suspenso, esperando


justiça. ponto

resposta de todos.

Eu tenho bem, e todos me dizem estou muito


passado q.

tenho 7 de familia, com esperanças de 8:


gordo: pessoas

e fui muito feliz no meu casamento.


— —
224

Sou com todas as demonstrações de húa verdadeira

amizade

Teu Mano m.t0 cordial e obg.do

t.

Luiz.

P. S.

Muitas recomendações á Tia, Maurício, e aos nossos

visinhos.

CARTA N.° 81

Rio de 16 de
Jan.ro

Abril de 1815.

Meu Pay e S.r Dizem-me esta Fragata


prezadissimo q.

sahe ámanhã, tenho escripto hüa Carta


pela qual já grande

a V. M.oe ; mas como me resta ainda esta occasião,


quero

aproveita-la dizer-lhe o seguinte :


para

Hontem he sahirão daqui Strangford e o Vice Almi-


q.

rante Beresford na Náo destinada S. A. R. ir daqui a


para

Lisboa : S. A. R. ficou delles tão zangado e aborrecido,

elles arribárão a Ia vez falta de vento, foi


que, quando por

logo a Ilha do Governador, donde não intentava vir, em


para

elles aqui se demorassem, os não ver mais. Os


quanto para

Livros da Bibliotheca com Strangford ficou, são o Can-


que

cioneiro, e o Blasonero do Io temos outro exemplar,


geral;

ainda sem rosto, mas não do 2o.


q.

A Carta do Marquez de Aguiar o Visconde de San-


pa
tarem a este respeito creio se não verificou ; tudo
q. por q.
são molezas.

Nesta Fragata vai a Regencia a l.a remessa de 150


p.a
arrobas de Quina, descoberta ha em Minas Geraes, tão
pouco
boa como a Peruviana ; o nos ha de dar hum interesse
q. grd.e
ao Commercio.
— 225 —

Está ia>p.a Lisboa, com Licença de hum anno, doen-


p.a por

te, o Cirurgião Mór Honorário, Manoel Alves, alem de ser


q.

da Camara, he Lente do 4.° anno Cirúrgico no Hosp.al R., com

mais 600$000 r.s. Sou com todo o respeito

De V. M.06

Filho m.10 obed.e e C.

Luiz dos S.tos Marrocos


Joaq.m

P. S.

Strangford não acceitou o das doze barras


presente

de ouro : e ahi lhe remeto inclusa a Carta, em


que

resposta e despedida elle enviou ao Marquez de

Aguiar.

COPIA

Ex.mo Senhor — O Senhor Lage trouxe-me da


(38) parte

do Governo de S* A. R. o do estilo, se costuma fa-


presente q.

zer a Ministro Estrangeiro, ao momento da sua


qualquer

partida.

Agradeço a V. Ex.a esta ultima attenção, a com tudo


qual
lhe rógo me dispensar de acceitar.
queira

Tive a honra e a fortuna de servir a S. A. R. espaço


por

de muitos annos. Tenho a de fiz


presumpção pensar q. por
Elle mais nenhum outro Ministro Estrangeiro, re-
q. q. jámais

sidio na sua Corte : e assim não desejo levar comigo, se não a

lembrança dos meus fracos esforços sua Gloria e seus in-


pela

teresses ; e não menos a de deixar sempre hum So-


pena p.a

berano e hüa Nação, igualmente objectos de meu amor e ve~

neração,

Supplíco a V- Ex.a coroar os seus favores,


queira pois pon-
do-me aos Pés de S. A. R., explicando-lhe os meus sentimen-

tos nesta occasião, de húa maneira análoga, tanto ao respeito,

como ao reconhecimento, devo á Sua Augusta Pessoa.


q.

Tenho a honra de ser

& & &

(Assignado) Strangford

7 de Abril de 1815.

IIl.mo e Ex.mo S.r Marquez

de Aguiar

(38) Camilo Martins Lage, oficial-maior da Secretaria de Estado dos Ne-


gócios Estrangeiros e da Guerra, teve o titulo de Conselho despacho de 3 de
por
Maio de 1819. — Gazeta do Rio de de 5 de Maio de 1819.
Janeiro,
CARTA N.° 82

Rio de 29 de
Jan.ro

Abril de 1815.

Meu Pay e S.r do C. Estava


prezadissimo persuadido qae

antes do dia 13 de Maio não sahiria daqui Navio algum,


porem
dizem-me está despachado e o Navio Rectidão
q. já prompto
largar esta semana ; e isso acautelo~me d*antemão com
para por

esta Cartinha, annunciando a V. M.00 a Fragata Príncipe


q.
D. Pedro, daqui dessafferrada a 16 levou hum masso com

Cartas minhas, antigas e modernas, e outros Papeis, tudo em

resposta ás V. M.oe ultimamente me enviou no Navio Sete


q.

de Março : igualm.1* levou hüa Cartinha com varias


posterior
noticias, o tudo Deos chegue ahi sem ter extravio.
q. queira q.
Na d.a Cartinha lhe affirmava ir daqui a l.a remessa de

150 arrobas da nossa Quina, ha descoberta em Minas


pouco
Geraes, e não he inferior á Pèruviana : falta de capa-
q. por
cidade não foi na d.a Fragata ; mas ficou destinada ir em
p.°
hüa das Náos, estão a sahir.
q. próximas

Pedro de Mello aqui vai campando com a sua carruagem,

e assistindo em hüas boas casas no Sitio de Valongo. Certo

Frade Franciscano, nome Fr. Pantaleão, ha dous annos


por
aqui reside no Mosteiro de S. Bento, e tem sido sempre o seu

Procurador com a maior activid.e e destreza, fazendo couzas

a favor do d.° Pedro de Mello, e alcançando-lhe hum


grandes

Decreto a sua lhe fez dar agigantados


p.a Justificação, q. passos
o fazer figurar aqui. Em fim o tal Frade tem sido hum
para

heróe, sustentando hüa fortíssima, em sahio victorio-


guerra q.
so, e fim o seu mais commodo alojamento :
procurando-lhe por
em retribuição Pedro de Mello lhe obteve o Cargo de Pro-

furador Geral da Ordem ; e há dias recebeo 8 mil


poucos q.
e tantos cruzados de tenções de Missas se dizerem nos
para
seus Conventos de Portugal, e remettidos de Minas Geraes.

Dizem-me este Frade foi sempre Procurador e Companheiro


q.
iiiseparavel de Pedro de Mello, inda do tempo do Governo

intruso, e m.to antes.


— 227 —

Aqui tem sido despedidos muitos Criados de varias Re-

especialmente dá Mantearia, não lhes valendo as suas


partições,

Portarias ; e vai haver reforma no numero


julga-se que grande

delles ; o nosso de ainda se nos não


quartel Janeiro pagou.

No dia 25 deste mez vieráo de cambada do Sitio de Bo-


prezos

tafogo todos os indivíduos empregados na Cosinha e Copa do

Serviço de S. A. R. a S.ra D. Carlota, haverem


por graman-

teado a Merenda destinada S. Altezas. .


para

Por esta occasião supplico a V. M/*5 o favor de me indagar

si, ou outrem, se ahi existe em termos decentes


por por por

algum Officio, Lugar ou Emprego vitalício, e de bom lote,


que

esteja em circunstancias de se requerer a Propried.e a S. A. R.,

se estiver vago, e occupado interinamente ; ou se exigir


q. possa

a m.ma Propried.e o futuro, o Proprietário actual


para quando

seja decrepito e sem filhos ; o tem S. A. R. m.^ vezes


q. por

como acontece com os Espectativos dos Benefícios


praticado,

Ecclesiasticos. Esta he mim ; sou o único


pertensão para pois
dos aqui estão em Serviço effectivo, ainda não tem contra-
q. q.
de algum Officio simples ; e S. A. R. está inclinado a be-
pezo

neficiar todos os seus Criados, aqui vierão, especialmente


q. p.a
os forão mandados, com Mercês desta : e indo
q. qualidade
agora a estabellecer-se Estatutos a Livraria, vem a ser
para
hum trabalho successivo de todo o dia, sem mais augmento de

Ordenado o futuro ; e dentre estes m.mos Empregados sou


p.a

eu também o único, existe sem outro algum augmento, nem


q.

no Cargo, nem no dinheiro, todos estão chupando outros


q.do já
interesses, como V. M.ce verá do incluso. Este favor,
papelinho
lhe agora, V. M.ce a fazer-me ha m.t0
q. peço já principiou
tempo, enviando-me hum conservo ; como
papelinho, q. porem
não continuou a illustrar-me com mais ideas a esse respeito,

nada tenho fazer. Tenho noticia alguns dos Officios


podido q.
da Mesa Grande d'AIfandega de Lisboa, Casa da índia, e Sete

Casas estão conferidos S. A. R. em Supravivencia a outros,


por
e entre elles são alguns os Lobatos e outros taes figurões ; e

isso destes, serem de lote m.to deverei


por julgo q. por grande,
a mira : mas em V. M.ce verá o lhe
perder proporção q. pare-
ceí conveniente á m.a figurinha, não he hombrear com
q. p.a
esses : e ao mesmo tempo enviar-me tudo o servir de
q. possa
Documento, ou seja Certidão de Óbito, sem herdeiros, ou outra

qualquer Certidão de Vacancia &c. &c.


— —
228

tenho em meu húa Certidão de Óbito de Joaq.m


Eu poder

Anna, de id.e de 70 annos, sepultado na Paroquia


de S.ta
José
Paulo e tinha o Officio de Administrador do Bacalháo,
de S. ;

do d.° vago em Março de 1811. Não sei


ficou, morte
q. por

Officio, e o vencim.to tem ; e ignoro também se


tal he esse q.
q.
dada a Propriedade a outrem ; só sei hum Sugeito
estará q.

dous annos 150 moedas a aqui lho al-
dahi ha quem
promettia
Lopes de Gouvêa, Capitão do Navio Asia Gran-
cançasse. José

do Habito de S. Thiago o de Christo !


de, fez mudança p.a

de desejar a V. M.ce hüa saúde, assim como
Depois perfeita

Mãy, Mana, e Tia, a falta de tempo não escrevo


á q.m por

continúo a os meus sentimentos de humi-


agora ; protestar-lhe

e respeito, esperando a sua benção, e confessando Ser


liação

De V. M

Filho m.t0 obed.e e obg.do C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaquim

CARTA N.° 83

Rio de 23
Janeiro

de Maio de 1815.

Meu Pay e S.r Com a chegada do Navio


prezadissimo

Trajano esperava eu ter Cartas de V. M.^, me déssem


que

noticias da sua saúde, da Mãy e de toda,a mais familia ; pois

desde as recebi Navio Sete de Março, não fui mais'


q.' q. pelo

com algüa outra : com effeito frustrou-se a m.a es-


favorecido

só recebi Cartas do Compadre Simões, e de outras


perança, pois

a agora não respondo.


pessoas, quem

Remetto a V. M.cie as Listas dos Despachos do dia 13 do

corrente, cujas Graças ainda não chegão a nenhum de nós, nem

ha apparencias disso : a luta vigorosa, em entrei ha


pois q.

de 4 annos, ainda continua ; e não sei como tenho tido


perto
sustenta-la com tanto vigor, sem enfraquecer : algum
geito para

dia V. M.^ será sciente de toda a minha história neste


politica

Paiz, não he escrever-se.


que para
— 229 —

Hontem de noute entrou neste o Paquete Inglez,


porto que

trouxe a infaustissima noticia da entrada de Bonaparte em

França, onde se diz fora acclamado segunda vez ; e


q. já q.

Luiz 18.° apenas tivera tempo de escapasse. Eu não sei se

aqui ha algum engano ou augmento de noticia ; q. ainda


pois

hoje ninguém contar o caso com individuação. O certo


podia

he a nimia humanidade dos Soberanos Alliados, destro-


q. q.
nizarão este monstro, foi a causa da catas-
principal presente

trophe. Que se na vida deste Diabo ? Ganhava-se o


perdia
socego da Europa. Por ora nada dizer ; mas
geral posso pa-
rece-me o de virem aqui os 5$000 homens do
q. projecto para
nosso Exercito, transportados nas embarcações de
guerra, q.
estão apparelhando aqui, e nas existem no Tejo, se suspen-
q.
derá até vêr o rumo, vai tomando este novo acontecimento :
q.

o mesmo creio succederá na resolução da nossa volta


q. para

Lisboa ; cada vez se hia verificando com bastante regosijo


q,
nosso ; ainda nesse sempre houverão disputas e
q. ponto pró
contra; e a retirada de Strangford responder ao Parla-
para
mento de Inglaterra, e com elle o Almirante Beresford com a

grande Náo e Esquadra adjunta, fazem confirmar a opinião

dos Agora he se sabe com fundamento a historia


Janeiristas. q.
de toda esta desordem dos Inglezes, até fez ir Lord Canning
que

para Lisboa, o se da Carta elle escreveo aos Go-


q. prova que
vernadores do Reino. S. A. R. a S*ra D. Carlota tem estado

muito doente de suas moléstias, o a todos tem causado


q. gran-
de sentimento ; e a S.ra Princeza D. Maria Tereza também se

acha doente, ainda não he couza de maior


que presentem.16
cuidado. S. Mag.e esteve ha dias muito incommodada, sem co-

mer, nem descançar, com febre, e'outros simptomas,


grande q.
muito nos assustarão ; mas felizmente se restabeleceo com todo

o cuidado, e hoje temos o de a ver bem disposta, no


gosto exer-

cicio de seus
passeios.

Antonio de Araújo ha dias comprou húas nobres casas


que
45 mil cruzados, e nellas vai fazer a sua habitação, conti-
por

nuando igualmente com o maior luxo as obras daq.las, tem


q.
habitado até aqui, e também são suas.
q.

Não tenho tempo de ser mais extenso ora na escripta,


por
o farei, logo tenha occasião, ha muito a dizer
q. q. pois ; e agora

entramos em nova matéria de discursos.

Espero da sua bondade me recommende com todo res-


o

peito a m.a Mãy, e com o maior affecto á Mana e Tia reser-


;
— 230 —

vando melhor occasião de vagar escrever a cada húa sepa-


p.a

radam.te. Minha mulher faz igualmente com o maior os


gosto
cumprimentos, a he obrigada ; e me não lhe sendo
q. pede q.,
desconhecidos os seus deveres, antes os
procurando quanto
seus dictames, signifique eu a V. M.c'e logo chegue á minha
q.
mão as respostas sobre o meu novo estado, sem a
primeiras

menor dilação ella cumprirá escripto a sua obrig.am,


por pro-
curando a sua amizade e como deve, e como eu
protecção, que-
ro. Queira V. M.oe ficar na certeza da sinceridade destas suas

expressões ; dignando-se não menos de me felicitar com a sua

benção, e igualmente da Mãy ; tenho toda a satisfação


pois
de ser

De V. M.06

Filho m.to obd.e e obg.mo C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaquim

CARTA N.° 84

Rio de 29
Jan.ro

de de 1815.
Junho

Meu Pay e S.r de toda a m.a veneração


prezadissimo e
respeito ; Com a sahida de alguns
próxima Navios, sem
q.
esperarem Comboy da Nau Meduza vão a desafferrar
pelo
deste esse ; não deixo de continuar com
p.a porto a m.H cor-
respond.a de escripta, reiterando mais e mais todas as demons-

trações de m.a obediencia e cuidado na sua saúde, em co-


que
nheço se encerra hüa de m.a felicid.e,
grande parte alegria e
descanço : e não menos se dirigem estas expressões a m.a Mãy,

q. desejo melhoras de suas moléstias, assim


góze como me re-
commendo m.to affectuoso á Mana e Tia,
que se desvião
jamais
da m.a lembrança.

Tem aqui chegado ultimam.te os Navios Trajano e Fenix,


mas elles não fui favorecido com Cartas
por de V. M/fe, o
que
attribúo a restos de algum cançaço fadiga,
e das
provenientes
ultimas, me fez a mercê de enviar-me
q. pelo N. Sete de Março.
— 231 —

Depois dessas, tenho escripto a V. M.c>e algúas Cartas, e hüa

dellas assás volumosa ; mas tenho conjecturado existirem ainda

neste Correio, demora dos Navios a sahir,


pela promptos q.

a inesperada noticia da traição de Bonaparte, e


produzio q. por
isso se suspendeo a sahida dos Navios, os se
principalm.te q.

dirigião á Costa d'África, razão de se affirmar haverem


pela

tomado essa m.ma direcção as Esquadras de Brest e Toulon :

em consequencia ainda aqui existem as malas do Correio, se


q.

achavão o tem causado hum atrazamento conside-


promptas, q.
ravel, em especulações Commerciaes da nossa
pricipalmente

e hüa despeza enorme aos Proprietários e Carregadores.


gente,

Depois chegarão aqui no N. Asia Grande essa de


q. porção

Militares do nosso Exercito, disciplinar a Tropa desta Cor-


p.a
te, resolveo-se mandarem-se conduzir 5 ou 6$ homens do Exer-

cito de Portugal hum igual destino no Brazil, e essa con-


p.a p.a
ducção se mandarão apromptar as Naus Meduza e S. Sebas-

tião, estarem desmantelladas ; o tudo eu em outras


por q. já
expux a V. Encherão-se as Naus de mais
passageiros, q.
e mais concorrião, não irem armadas com toda a artilheria,
por

e isso ficarão mais desempachadas ; mas no meio de todo


por

este barulho, recebe-se a triste noticia do ingresso de Bonaparte

em França e de todos os mais acontecimentos dahi seguidos, o

veio transtornar todos os meditados, depois de


q. planos já
haver sahido a Fragata Príncipe D. Pedro e hum Brigue
p.a
Lisboa. Publicou-se logo hü Edital da do Comercio, em
Junta
se offerecia Comboy a todos os Navios, sahir
q. q. quizessem
a Europa, Nau Meduza, havia de sahir no fim de
p.a pela q.

Junho, fazendo-se escala da Bahia &c.t não se


pelos portos pri-
vando a sahida de Navio, não
qualquer q. podesse esperar
pelo
Comboy da d.a Naue no espaço de 48 horas sahio a toda a

hum Brigue aos ditos a annunciar o referido


pressa portos
Comboy : em consequencia disto todos os mais
preparos se
suspenderão, e os tem-se arranjado
passageiros em Navios da
Praça, e outros desembarcarão. Aquelles
porem, q. já dantes
eístavão e não esperar
promptos, q. podem pelo Comboy da

Nau, nem fazer escala tão metterão


prolongada, algúa artilhe-
ria, e vão a sahir, apezar dos riscos ; pois q. também corre
noticia de andarem a corso os Argelinos.

Estamos suspirando Navio de Lisboa,


por accrescente
q.
as nossas noticias com certeza, assim como se tem demorado o
Paquete, o nos faz andar em
q. sustos, isto he, aquelles se
q.
— 232 —

interessão nossa e aqui ha m.t0


pela gloria prosperid.e, pois

velhaco encoberto, e na nossa fraze da moda, : não


jacobinos

me neste artigo, arriscado, apezar da


quero prolongar q. julgo

fertilid.e de ideas, elle offerece.


q.

Segunda feira se sacramentou a toda a Antonio de


pressa

Araújo, de hum ataque repentino, chegou a da vóz :


q. priva-lo

a sua moléstia he antiga, e está muito aggravada : dizem ser

moléstia das entranhas ; eu nelle não vejo, se não inchação e

tremulencia ; e S. A. R. na 3.a fr.a de manhã disse á minha vista

elle não assignar, e a sua letra de agora sua


q. já podia q. pela

meudeza não ser feita mesma mão de algum dia :


parece pela
até hoje está hum melhor, mas não são melhoras de es-
pouco

O Marquez de Aguiar tem enterrado tres Secre-


perança. já

tarios de Estado ; Anadia, Linhares e Galvêas, e parece-me

está abrindo a sepultura o Paulo Be-


para quarto (39). João
zerra ainda se arrasta muito, mas dizem na falta daquelle,
que,
he o está á bica ; e ninguém falia em Pedro de Mello.
que

No meio destas afflictivas noticias, sempre aqui se


proje-
cta em obras, e obras : o Palacio de S. Christovão, ou
grandes
a R. Quinta da Boa Vista, está m.10 adiantado : o de Santa

Cruz vai a reformar-se e augmentar-se : ha Plano


prompto
hum Palacio novo no Sitio chamado a Ponta do Cajú, or-
p.a

çando-se a obra em 17 milhões. A- Capella R. vai a dourar-se

toda, depois da Festa do Carmo estar a Festa


p.a prompta para
da Conceição : e entretanto^e hão de fazer os Officios Divinos

(39) O Marquês de Aguiar precedeu a João Paulo Bezerra, com uma dife-
rença de 10 meses e A Gazeta do Rio de de 3 de Dezembro de 1817.
pico. Janeiro,
assim noticiou a morte do Ministro da Fazenda :
"O
Illustrissimo e Excellentissimo João Paulo Bezerra, Ministro e Secretario
de Estado dos Negocios da Fazenda, Presidente do Real Erário, Encarregado interi-
namente da Repartição dos Negocios Estrangeiros e da Guerra, falleceu nesta Corte,
de uma apoplexia. Sabbado 29 Novembro, a huma hora tres
de e quartos da tarde,
em idade de 61 annos, 3 mezes, e 2 dias. Começou a sua carreira Diplomatica em
1801, em que foi nomeado Ministro Plenipotenciario dos Estados Unidos da
junto
America : no 1,° de Fevereiro de 1802 passou a Enviado Extraordinário, e Ministro
Plenipotenciario junto da Republica Batava, e residio. em Haya até o anno de 1809 ;
a 31 de Agosto do mesmo foi nomeado com o mesmo caracter para a Corte de
S. Petersburg, onde residiu até
16 de Setembro de 1812, em que prontamente voltou
a esta Corte, sendo chamado por Sua Magestade, que houve por bem elegê-lo no dia
23 de
Junho do corrente anno, para o mencionado Ministério, no qual (assim como
nos precedentes empregos) mostrou probidade, zelo, e enthusiasmo pelo Real Serviço,
superiores a toda a exageração. Não era menor o amòr, que professava á Sagrada
Pessoa de Sua Magestade, que não havendo incommodo algum, (apezar da delicadeza
de sua saúde) o fizesse que se dedicava
affrouxar a prehencher da efficacia, com
seus importantes e laboriosos encargos. Sua Magestade Ordenou que se lhe fizessem
todas as honras militares, que tiverão seus antecessores no Ministério. Foi sepultado
no dia 30 na Igreja dos Religiosos de Santo Antonio".
— 233 —

na Igr.a dos 3.08 do Carmo, contígua á Capella R. A S.1®

D. Carlota vai o Palacio, em habitou o Conde das Gal-


p.a q.

veas, no Sitio de Mata Porcos, se está como


que preparando,

foi o de Andrahy. Não havendo ora mais a dizer, espero


por

V. M.^e me felicite com o favor da sua benção, assim como


q.

da Mãy ; sendo

De V. M.oe

Filho m.t0 obed.e e obg.do C.

Luiz dos S.tos Marrocos


Joaquim

P. S.

Remetto a única Lista dos Despachos do dia 24.

CARTA N.? 85

Rio de 7 de
Janiro

de 1815.
Julho

Meu Pay e S.r do meu maior respeito e ve-


prezadissimo
neração. Antes o Comboy sáia deste le-
que proximo porto,

vando algumas Cartas minhas de varias datas, aprovei-


quero
tar-me do tempo, me rèsta, dirigindo a V. M.^e mais esta, e
que

em ora remetto a minha escripturação,


que por queixando-me

dá escassez, com ha tempos V. M.^ me trata, não


grande que

me escrevendo estes dous últimos Navios, nem me dando


por
notícias suas e de nossa família. Longe de V. M/^ me cen-

surar esta m.a espero V. M.c,e a attribúa á


queixa, que grande
satisfação, tenho com a leitura das suas Cartas, em tudo
que q.
me alegrão, consolão, e instrúem.

Antonio de Araújo vai melhor, e livre de no seu


já perigo,
ultimo ataque, de esteve Sacramentado : Tem sido assistido
q.
4 Médicos Manoéis, todos de bigode, isto he, Manoel
por

Vieira, Fisico Mór ; Manoel Luiz, d.° Honorário ; Manoel

Bernardes, e outro Manoel, não conheço ; mas nenhum delles


q.
chega ás barbas do 2.°, álem de Medico he Filosofo.
q.
Chegou ultimamente o Paquete de Inglaterra, em nada
que
nos satisfez, ainda elle se recebeo a noticia de o
pois por que
Tiranno da França continua a sua impostura com
grande par-
— 234 —

tido do Exercito e de húa da Nação. Ouço vaga-


grd.e parte
mente dizer a Liga das Nações Alliadas dá Portugal
q. para
20.000 homens, hão de ir desembarcar a hum do Sul
que porto

da França, a incorporar-se coift o Exercito de Hespanha,


que

será m.t0 maior. Há muito tempo não leio as Gazetas e Pe-


q.

riodicos de Lisboa, e as daqui andão estereis ; nada


por q.

chega aqui a tempo : isso correm ás vezes noticias sem


por
fundamento dadas Politicos dos Botequins, sem-
pelos q. quasi

tem consequencia e devassas.


pre por prizões

Queira, depois de ler, fechar a Carta inclusa o Com-


p.a

Simões, e ella conhecerá a sua : ninguém


padre por pertensão

tem mais desejos de o beneficiar, mas ao nada mais


presente
obter, ser negocio complicado. Se a Informação vier
pude por
boa, espero de lhe alcançar as d.as Casas, as não
p.a quaes

obter-lhe Aviso, sem este requisito.


posso prévio

Quando tiver occasião, se dignará de dizer ao Feliciano,

barbitonsor, o Requerim.t0 seus filhos ainda não sahio


q. p.a

despachado, e temo vá ahi a informar ao Mons.or


q. prim.ro
Thorel, ou Garcia : do houver
q. participarei.

Tomo a liberd.® de enviar com todo o respeito a V. M.Cfò

e á Mãy m.*° affectuosas e sérias recomendações de m.a mu-

Iher, Anna Maria de Santiago, a 25 deste mez faz 23 annos.


q.
Espero igualmente ser contemplado com o beneficio da sua

benção e da Mãy ; sendo

De V. M.0"3

Filho m.t0 obed.e e C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaquim
P. S.

Saud.es á Mana e Tia.

CARTA N.° 86

Rio de 10
Jan.ro

de Agosto de 1815.

Meu Pay e S.r de toda a minha veneração.


prezadissimo
Estando a sahir deste o Bergantim Esperança, aprovei-
porto
to-me dele saber da saúde de V, M.('e, de m.a Mãy, Mana
para
— 235 —

e Tia, e segurar-lhes me seja o sincero respeito


quanto possível

e affecto, todos os motivos e titulos lhes consagro : sen-


q. por
do-me m.to sensivel a falta de suas noticias, desde a chegada
que

do Navio Sete de Março tem sido mim interrompida, Eu


para

tenho doente com hüa erisipela nhüa assás


passado perna, que
me tem incomodado, modo, com ellas aqui attacão,
pelo que
inchando e inflamando-se de hüa maneira extraordinaria ; mas,

a Deos, vou melhor, e caminho de


graças já pé.

Por outras embarcações tenho escripto a V. M/'3 algüas

Cartas, mas como estas se no Correio antes da sahida,


juntavão

julgo virião a todas n'hú só Navio, sahindo os


que juntar-se
outros sem Carta minha, e dando nisto occasião a V. M.'13
que
se não escrevi elles : estes acontecimentos
persuada que por

ser freqüentes, todas as vezes apezar das differen-


podem que,
tes épocas dos annuncios, as sahidas de diversos Navios vem a

cahir no m.mo dia.

Chegou o Brigue Lebre, e o objecto da sua vinda ainda

está em segredo : elle não trouxe malla de Cartas, e só Offi-

cios S. A. R. sendo delles o foi Secretario da


para portador q.
ultima Legação em Hespanha. Os intromettidos e falladores

dizem se trata do Casamento das duas S,ras Infantas mais


q.
velhas com Fern.do 7.° e o Infante D. Antonio, de Hespanha :

accrescentão se cuida nos Enxovaes das d.as Senhoras, e


q. já
ha a serem admittidos ao n,° de sua familia :
q. pertendentes
he certo o m.mo Brigue está a sahir com o referido
q. prompto

portador, e affirma-se sahirá logo chegue aqui, como se


que q.
espera, húa Fragata Hespanhola com hum Embaixador Ex-

traordinario esta importante Commissão : renovou-se


p.a a

Ordem de se apromptarem as Embarcações de e


guerra, já
algüas revista de no tem havido a
passarão promptas, que
maior actividade.

O Ministro de Estado, Antonio de Araújo, se acha



restabellecido, mas não sahe fóra, nem acompanhou a A. R.
S.

na sua actuàl de Santa Cruz, donde se espera


Jornada a 20 do

corrente. S. A. R. o S.r Príncipe D. Pedro esteve ha dias

muito doente com hüa erisipela, obrigando-o a estar de cama,

o nos assustou muito ; agora acha-se bom, e resta-


q. porem
bellecido.

Ainda dura o silencio e a expectaçào acerca da nova em-

preza da dethronização de Bonaparte, nem os últimos Paque-

tes aqui chegados accrescentão novid.e import.e a este respeito.


— —
236

V. M.c'8 a continuação dos seus


Finalizo a rogando a
presente
com a sua benção, e igual-
apreciaveis favores, honrando~me

saúde m.to vigorosa ; e


mente de m.a Mãy, desejando-lhes

mulher, e toda esta Casa á execução


offerecendo-me com m.a

sendo deveras e com todo o respeito


de suas Ordens ;

De V. M.06

Filho M.to obed.e e hum.e C;

Luiz dos S.^8 Marrocos


Joaquim

CARTA N.° 87

Rio de 18
Janeiro

de Setembro de 1815.

Meu Pay e S.r de toda a minha veneração.


prezadissimo

Por alguns dos últimos Navios, daqui tem sahido, tenho


que

dirigido a V. M.^ algumas Cartas, só com o objecto


pequenas

de indagar noticias de V. M.í,e, da Mãy, e de toda a familia,

a todos desejo cordealmente húa vigorosa saúde : agora


q.m q.

também se acha a sahida do Navio Trajano, e da Fra-


próxima

Benjamim, não deixo a occasião de escrever,


gatinha perder

ou hü ou outro seja o cumprindo nisto o


p.a q. portador, primei-

ro de meus deveres, e satisfazendo ao mesmo objecto de todas

as m.as antecedentes. Como ha muito tempo V. M.(,e me


que

não escreve huma só Cartinha, teria esse pelo


julguei gosto

Navio Despique, agora aqui chegado com húa de Tropa,


porção

e com mallas de Cartas o Correio : enganei-me


grandes p.a

não recebi nada ; e fico appelando os 3 Na-


porem, por q. p.a

vros, dahi sahirão este, e ainda aqui não


q. primeiro q. que

chegarão. Não me he licito expor os meus argumentos des-


p.a

cobrir os motivos de húa tão sensível falta de correspondência

da de V. M.C!e, devo satisfazer-me com o silencio, e visto


parte

o incommodo, V. M.qs na sua ultima me affirma ter com


que

a indagação das sahidas de Navios, me conformo sempre com

a sua vontade, esperando se não esqueça de favorecer-me


que

com as suas noticias, de dia em dia appeteço sejão fre-


que

quentes.
— 237 —

Devo congratular-me com V. M/'3 2,a dethronização


pela

do Usurpador Bonaparte, e desertor da Ilha d'Elba,


que quiz

experimentar a força dos talentos do nosso Lord


pessoalmente

Wellington, de todo expirar a sua vida Neste


para política.

canto do Mundo Novo chegão m.to tarde as noticias, e isso


por

nada dizer de novo a este respeito, mas não deixar


poderei posso

de notar depois de tantos conflictos bellicos, haja ainda


que

toúa escapadella aquelle indivi-duo ; e sendo tão vários


p.a que

os destinos, lhe dão, ora de hir Inglaterra, ora a Ame-


q. p.a p.a

rica Ingleza, ora a sua Ilha d'Elba, ora de andar desconhe-


p.a

cido em França, mesmo entre os seus, o detestão e


que pro-
curão ; haja ainda húa Gazeta do Rio de
Janeiro, que publica

a noticia de elle se ter impunem.te embarcado a America


p.a

Meridional! O certo he os Sebastianistas he elle o


que para

2.° Encoberto, em contraposição ao 1.° e antiquissimo, faz


que

o objecto das especulações, mas fins oppostos ; o


presentes p.a

1.° p.a ser reintegrado e os axiomas o


prehencher proféticos,

2.° p.a ser invito Domino anniquilado, e as resoluções


preencher

do Congresso
pendente.

He constante e sem contradicção a noticia dos Casamen-

tos das S.raa Infantas D.a M.a Isabel com Fernando 7.° e D.a

MJ* Francisca com o Infante D. Antonio, irmão daquelle ; os

enxovaes estão-se : a Marq.za de Bellas he a in-


preparando

cumbida da direcção dessa Obra : a Nau S. Sebastião desman-

chou os arranjos, se havião feito a Tropa, e está toda


q. p.a
de novo, e está mettendo a bordo mantim.tos e agua-
pintada já

da : a Fragata Carlota está com os m.mos e recebeo a


preparos,
bordo a Officialidade Hespanhola, veio na Fragata,
que q.
conduzio aqui Vigodet : e esta m.ma Fragata Hespanhola se

igualmente. Agora as seguintes noticias correm aqui


prepara

vagamente, a saber : Que S. A. R. a S.ra Princeza D. Carlota

acompanha suas Filhas, e sahem todas todo o mez de


que por
Outubro : huns affirmão vão em direcção a, Lisboa, outros
que
a Cadiz : ha duvidas se as Senhoritas sahirão daqui
que já
cazadas, ou se isso se concluirá em Lisboa. Accrescentão
que
a^ m.ma S.^ Princeza recebe em Lisboa Sua Sobrinha, filha

d'ElRey de Nápoles, conduzindo-a nas m.mas Embarcações,


p.a
aqui se cazar com S. A. o S.r Príncipe D. Pedro, e vai daqui em

troca na m.ma occasião a S.ra Infanta D. Izabel M.a casar


p.a
com Seu Primo, filho do m.mo Rey de Nápoles. Dizem tão

bem Fernando 7.° e Seu Irmão cedem dos Dotes


que he
que
— 238 —

de etiqueta levarem estas Senhoras, em attenção ás criticas cir-

cunstancias de nossos Reinos, e outras despezas, ora se


que
fazem. Todas estas noticias são vulgares, e isso não me-
por
recem tanto credito, mas também não são desprezar-se.
p.a

Fazem aqui figura os Militares, vierão de Lis-


galante que
boa, e se comportão muito bem, de maneira tem elogios de
que

todos : são destinados a campanha do Sul, segundo


p.a geral-
mente se affirma.

Antonio de Araújo está restabelecido, vai ás Conferências

do Despacho com S. A. R., mas ainda não tem a Pasta da Se-

cretaria de Estado.

O Ferrugento, Picador e Padeiro, morreo há dias de húa

indigestão : fez hum testamento mui semelhante ao do D.or

Tamagnini, aonde só brilha o Materialismo.

Por ora concluo a rogando a V. M.C|3 o favor de


presente,
me recomendar mui respeitosamente m.a Mãy, a supplico
quem
a sua benção ; e reiterando as m.mas de affecto
protestações
á Mana e á Tia, não nunca occasião alguma de mos-
perderei
trar a todos em e a cada hum em a m.a sin-
geral, particular
cerid.®; sendo alliás com mui distincta devoção e respeito

De V.

Filho m.to obed.e e obg.do C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaq.m

CARTA N.° 88

Rio de 7 de
Jan.ro

Outubro de 1815.

Meu Pay e S.r do C. Serve esta de annun-


prezadissimo
ciar a V. M.ce no dia 28 de Setembro chegou
que passado aqui

o Navio S. Baptista ; no dia 29 chegou o Navio União, os


João

não me trouxerão Carta algüa ; e no dia 30 chegou


quaes o

Navio União, os „quaes não me trouxerão Carta algüa e no


;

dia 30 chegou o Navio Fama, em veio o Marechal Beresford,


q.
— —
239

e vendo eu o meu nome na Lista do Correio, tive o dissa-


(40)

bor de achar se me tinhão tirado as Cartas antecipadam.1^


q.

ou engano, ou malícia, não eu saber me


por por podendo quem

havia escripto, e foi ò curioso de semelhante lembrança.


quem

Em razão disto devo a V. M.ee de no caso me


prevenir q. q.

tivesse feito a honra de escrever-me, não ficando eu sciente do

conteúdo da sua Carta, aq> successo, em outra, na


por queira

occasião, repetir o me mandava dizer, eu saber


próxima q. para

;responder.

Escrevo agora com esta se está ápromptan-


pressa, por q.

do a mala a Fragata Benjamim, vai com direção a Ca-


p.a q.

diz ; e Navio Trajano, sahido daqui a 30 de Setembro,


pelo já

escrevi outra a V. M.qe mais extensa.

Corroboro nesta noticia da Partida de S. A. R, a S.ra

Princeza D. Carlota com Suas duas Filhas, as S.ras Infantas

D. M.a Izabel, e D. M.a Fran.0*, ambas Noivas em Hespanha :

e creio também acompanha a S.ra Infanta D. Anna de


q. Jesus

Maria voltar). Hoje forão almoçar a bordo da Nau


(mas para

S. Sebastião, e visitarão depois a Fragata Hespanhola, q. trouxe

Vigodet. tem havido nomeação de alguns Criados (não de


todos) acompanharem. Por ser relação m.*0 minuciosa, dei-


p.a

xo outra occasião.
p.a

O Barão do Rio Secco metteo no Erário, de Empréstimo

500 contos de reis, fazião a carga de 5 carros, car-


gratuito, q.
regados de e 11 negros carregados de ouro.
prata,

"No
(40) dia 30 de Scptcmbro 1R15 chegou de Lisboa no navio Fama o
Excellentissimo Marquez de Campo Maior, Lord Guilherme Carr Beresford ; Mare-
chal dos Exércitos de Sua Alteza Real, o Príncipe Regente Nosso Senhor, que o
Recebêo com o mais benigno, e honroso acolhimento devido ao valor, e prestantes
serviços de Sua Excellencia, feitos a Sua Alteza Real, e a Nação Portugueza, na

guerra da Península, que ha pouco terminara.

Este sábio, e valoroso General, havendo organisado, e disciplinado o Exercito


Portuquez, o levou muitas vezes á victoria, mostrando á França, e ao Mundo
por
inteiro, e militar, não erão infe-
que os Soldados Portuguezes, em coragem, disciplina
elles em
riores ás melhores pois que debaixo do seu commando
Tropas da Europa,
todos os encontros com o inimigo colherão sempre louros, e palmas, e alcançarão huma
e para si mes-
gloria immortal para o Príncipe, para a Patria. para o Commandante,
mos. A chegada de Sua Excellencia á esta Côrte foi de muito prazer para todos em
tanto militares, como paizanos, que á porfia procuravam a satisfação de co-
geral,
obrigada ; porem sobre
nhecer hum Heróe, quem toda a Nação Portugueza he tão
a
tudo foi altamente applaudida pelos muitos companheiros de armas, que já se achavam
"Côrte
depois se á Patria,
nesta vindos de Portugal, que o nosso Exercito recolhêo
da França, até onde chegara o seu valôr. — P. Luis
voltando triumphante do interior
Gonçalves dos Santos, Memórias servir á Historia do Reino do Brasil, I,
para
334/335, Lisboa, 1825.
ps.
— 240 —

Recomendo-me m.10 á sua e affecto, assim como


protecção

de m.a Mãy, recebendo as suas bênçãos com todo o respeito;

e certificando a m.a amizade á Mana e Tia ; me lisongeio


grd.e
de ser

De V. M.*

Filho m.t0 obed.e e C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaq.m

CARTA N.° 89

Rio de 11 de
Jan.ro

Outubro de 1815.

Meu Pay e S.r do C. Tenho a maior satis-


prezadissimo
fação em annunciar a V. M.^9 S. A. R. o Príncipe Regente
que
Nosso Senhor Foi Servido Decreto de 3 do
por presente mez

Fazer-lhe Mercê do Habito da Ordem de Christo. Esta hon-

rosa distincção me obriga desde como o


já, por esta faço, a

dar-lhe os devidos ; enviando a V. M/'3 ao


parabéns mesmo

tempo as Portarias do estilo, V. se


pelas quaes M.c,e saberá
regular. Hontem e hoje tive a honra de beijar a Benefica Mão

de S. A. R., agradecendo-Lhe, como filho, a Mercê aca-


que
bava de receber : e espero V. M.Cf3 na
que primeira occasião
se sirva de me remetter escripto hüa Memória
por de Agra-
decimento, eu entregar ao Mesmo R.
para Senhor.

Esta não tem outro objecto ; este ser


q. por tão elevadq,
nenhum outro digno de ser aqui inserido.
julgo

V. M.c,a me honre com a sua benção, assim como a de


minha Mãy; e recomendando-me a todos me
geralm.**,
jprézo ser

De V. M.06

Filho m.10 obed.e, aff.° C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaquim
— 241 —

CARTA N.° 90

Rio de 3 de
Jan.ro

Novembro de 1815.

Meu Pay e S.r do C. Recebi ao mesmo


prezadissimo

tempo duas Cartas de V. M.ffe, de 23 de Maio, e de 3 de Julho,

depois de hüa interpolação de muitos mezes, das fiz,


quaes

como sempre, a devida estimação, desejando-lhe a continuação

de sua saúde, sempre vigorosa ; assim como a Mãy, Mana e

Tia, a muito me recommendo.


q.m

Pela Fragata Benjamim, está sahir deste porto,


q. para

remetto a V. M.ce hüa Carta Segura, inclue as Portarias do


q.

Marquei de Aguiar, a respeito da Mercê do Habito de Christo,

S. A. R. foi Servido Conferir a V. M.í,e Decreto de 3 de


q. por

Outubro ; e agora envio outra Cautela, lhe ser-


passado para

vir de Quando tiver occasião opportuna remetterei


governo.

a V. M.0*0 Certidão a Copia do Decreto da Mercê ;


por pois

he estilo ficar na Secretaria o Decreto Original, nunca se


q.

entrega ao Candidato ; e no entanto são as Portarias os


prin-

cipaes Documentos. Por esta demonstração conhecerá V. M.°e

agora de bem lhe servio a m.a recomendação ha 4 annos,


quanto

V. M.('e me enviasse algüas Cartas mais


para q. políticas, q.

noticiosas, eu fazer dellas o uso, conveniente ; e


p.fl q. julgasse

V. M.cle, mettendo a couza a ridículo, apenas me escreveo duas,

ou tres : he eu rompa o silencio, ha tanto


justo q. q. guardava.

As intrigas, a lavrar contra V. M.c,e seus


q. principiarão pelos

dous capitáes inimigos, o P.e Serra, e Egidio, e esteira


José pela

destes, o Melitão, no Bairro de Bellem : chegárão nossa


por

fatalidade a estender-se ao Rio de A Providencia,


Janeiro. q.

sempre dispõe melhor das couzas, eu viesse só, e deo-me


quiz q.

forças as desfazer, desde fui incumbido


para principalm.te q.

dos Manuscriptos da Coroa, então se achavão no Quarto de


q.

S. A. R. Apezar de ser m.10 ameaçadora a tempestade, o eu


q.

vi e conheci ; tenho a consolação de chegar ao


palpavelm.te
— 242 —

fim, me alizando e aplanando o caminho da ver-


que propuz,

dade, triumfando assim da calumnia, ou antes da inveja. Nada

me restava do mostrar a todos, amigos e calumniadores,


pois q.

V. M.(,e está e ha de estar no Agrado de S. À. R. ; lhe


q. que
são acceitos os seus Serviços e trabalhos ; e sem embargo de
q.
serem os seus inimigos, ainda-houve hum
gigantes pigmeo, q.
soube attirar a funda, e lhes fez dar com os focinhos na
q.
arêa, na fraze da Escriptura. Eis o eu desejava com esta
q.
recente Mercê de S. A. R., hum homem honrado, intriga-
q. p.a
do e abatido, he de mais valor, hum milhão de renda : e
q.
eu, dando-me os dou também a D.8 esta
parabéns, graças por
victoria, ha muito Com estes V. M.cle
premeditada. princípios
no seu entender avançará o resto.

A de S. A. R. a S.m D, Carlota com Suas duas


partida

Filhas Cadiz está defferida, ou suspensa, ou annullada,


p.a de

sorte todos os Criados, erão nomeados a acompanha-la,


q. q.
e daqui estavâo dispensados no Serviço, estão outra
q. já vez

servindo como d'antes : diz-se isso S. A. R. tomou


por q. a

deliberação de não arriscar Suas Filhas, mandando-as


p.a
Hespanha, sem se cazarem aqui; o
primeiro que em conse-

quencia mandou buscar as Procurações.

Talvez ahi se saiba do Empréstimo de 200


já contos de
reis, o Barão do Rio Secco fez ha
q. pouco o Banco, e sem
p.a
lucro ; e eu na m.a ultima Carta
julgo q. referia 500 contos de
reis, o foi engano meu.
q.

O Marechal Beresford aqui chegou m.*0 brilhante, e foi


recebido mui : a
grandemente promoção, q. elle trouxe dahi
arranjada, foi aqui acceita e
publicada no dia 12 de Outubro,
e em outra Carta remetterei a
q. V. M.ce. Em fim está figu-
rando melhor do em Lisboa,
q. e todos o trazem nas
palmas.
Não agora alongar-me
posso mais, o farei a se-
q. para
guinte, e só me resta a
pedir-lhe sua benção, e cuja mercê es-

pero igualm.te de m.a Mãy sendo


; como devo

De V. M.oe

Filho m.to obed.e e C.

Luiz dos S.tos


Joaq.m Marrocos
— 243 —

CARTA N.° 91

Rio de 8 de
Jan.ro

Novembro de 1815.

Meu Pay e S.r ^ Hoje sahio daqui o Navio


prezadissimo

Despique. e sabbado ha de sahir o Navio União, segundo a


q.

sua conhecida veIocid.e espera-se chegue a Lisboa


q. primeiro

aq.le. Por elle envio a V. M.ce as Listas dos Despachos do


q.

dia 12 de Outubro, das a l.a he a feita


quaes promoção pelo

Beresford, e ahi não foi acceita nem approvada Go-


q. pelos

vernadores do Reino, e esta dizer-se ser a menor vanta-


pode

e isso m.mo a menor desfeita áquelles, tinhão mais


gem, por q.

tempo e experiencia de o conhecer : á sua chegada tem aqui

havido sumptuosissimos banquetes casas de figurões ; e


por
com especialidade houve hum festim á moda Ingleza,
publico
encoberta com o titulo da Officialidade do Exercito de Portu-

do maior luzimento, eu não sei expressar, e em se


gal, q. que
dispenderão mais de cem mil cruzados. S. A. R. manda dar-

lhe mez, 600$000 r.s, e ouvi dizer vai a esta-


p.a prato, por já q.
bellecer-se-lhe o Soldo annual de 60 mil cruzados. Certamente

a elle não lhe succede igual sorte, ao irmão, antes con-


q. pelo
trario me se lhe facilitarão todas as difficuldades, e se
parece q.
lhe mais interesses com o fim de elle não sahir daqui.
proporão

fez revista á tropa, e a achou na maior miséria, e


Já pouco pro-
veito dos M.08 Instructores do Exercito de Portugal, cujo
por
respeito se derão mais
providencias.

A de tropa, tem chegado de Lisboa, he manda-


porção q.
da desembarcar da banda d'alem do rio, em huns Sitios chama-

dos a Praia e a Armação das Balêas, onde se lhe tem


grande

preparado Quartéis á ligeira, ou ínterim : e a Artilheria


pro
vai a Ilha das Cobras ; e em tudo estar em separação
para para
da tropa desta Cidade, se está o seu Hospital na
preparando
Ilha das Enchadas, onde antigamente esteve o dos Inglezes.

Apezar de não terem feito desordens, são bem apontados


pelas
bebedeiras, e certo ár de chibanteria mas toda a lhe
; gente
espera emquanto se lhes alguns vinténs,
pela quarentena, gastão
— —
244

trazem, e se lhe surrão as fardinhas tafues, com ora appa-


q. q.
recem ; como succedeo aos hão de vêr-se em
pois, já primeiros,

dias com as caras amarellas, e cabisbaixos.


poucos

S. A. R., depois de estar alguns dias incommodado com

hüa dor no e braço, está agora de a R. Fa-


pescoço partida p.a
zenda de S.^ Cruz ; e a S.ra D. Carlota está igualmente de

partida para o Sitio de Botafogo, tendo-se largado estas



Casas e Chácra a seu dono, não ter tenção de ir alli
por p.a
mais. Cada vez se vai confirmando a noticia de Ella não hir

a Hespanha com Suas Filhas, como tencionava ; mas não ha

ainda certeza. Uns dizem não vai não ser monção, e


q. por
outros accrescentão Ella m.ma declarára não nem
que querer já,
hir, nem Suas Filhas cazassem na Hespanha, e Vigodet
q. q.
fôra daqui despedido ; alguns fazer suspeitar a desor-
querem
dem da Hespanha, introduzindo a noticia da Abdicação de

Lüiz 18.° da retensão do monstro Bonaparte em Inglaterra :

nada a este respeito se combinar com segurança o


pode ; que
he certo he toda a azáfama e murmurinho o embarque
que p.a
e transporte de Suas Altezas Hespanha, tudo de repente
p.a
e se suspendeo ; e toda a familia, estava nomeada
parou q, p.a
as acompanhar, está outra vez mettida em Serviço, como

d'antes.

O Fisico Mór, Manoel Vieira, esteve Sacramentado e

Ungido, causa de húa constipação ; mas escapou, e sahe


por já
fóra.

No l.°*d«ste mez chegou aqui o Navio Oceano, e no Do-

mingo me enviou a m.a casa Ferreira, Porteiro da Secret.a


José
dos Neg.os Estr.08 e da Guerra, hüa Carta de V. M.ee, con-
q.
tinha duas Cartas do P,e Carreira o Palmeirim e Visconde
p.a
de Barbacena, assim como hum Requerim.40 do Cap.am
José
Figueira de Almeida, em o Habito de Aviz. A
q. pede Carta

o Palmeirim foi na 2.a fr.a mim entregue a elle, re-


p.a por q. a

cebeo e me recebeo com toda a cortezia, desfazendo-se em

agradecimentos e recommendações : o Visconde de Barbacena

tem estado sempre fóra da terra, aqui chamão


quasi q. pelas
Rossas a fazer revista á Cavalleria de Milicias, e ensiná-la ; e

poucas vezes aqui vem, e dias. Elle agora


por poucos está em
Irajá, e eu lembro-me remetter-lhe a Carta
por qualq/ portador
de sua Casa : o Documento, vinha incluso no Requerim.1"0
q.
não estava sellado, conforme a Ley, e foi
preciso q. eu o man-
dasse sellar ; e só hoje de manhã tive occasião de o entregar ao
— 245 —

Marquez de Aguiar. Das noticias relativas a estes Papeis darei

a V. M.^ logo as souber, e estimarei o P.e Carreira


parte, q. q.

fique servido, assim como o Afilhado do S.r Marquez de Sa-

bugosa.

Os dous Officiaes de Marinha intrigados de


pelo patife

Rodrigo Lobo, e aqui me trouxerâo hüa Carta do S.r D.or


q.

Farinha, creio nada alcanção, e o melhor será se callem, e


q. q.

acceitem o Perdão, se lhes concede, do á


q. q. q. justificar-se

virga ; os valedores de Rodrigo Lobo são m.to


ferrea por q. po-

derosos, e estão assás dispostos a faze-lo sobresahir a todos os

ataques, se lhe oppozerem.


q.

Agradeço a V. M.c£ todas as suas expressões de amizade

na sua ultima Carta se digna dispensar com nosco : eu e


q.

Anna as acceitamos com todo o reconhecimento, e nos reco-

mendamos mui affectuosam.ta a V. M.ce, á Mãy, Mana, e Tia,

a desejamos a de saúde : e não


quem posse perfeita querendo
nunca desmereceu-o favor da sua benção e da Mãy, tenho a

honra de ser

De V. M.^

Filho m.to obd.e e obg.mo C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaq.m

CARTA N.° 92

Rio de 15 de
Jan.ro

Novembro de 1815.

Meu Pay e S.r do C. Dando cumprimento


prezadissimo

ao ultimo artigo da Carta de V. M.^ de 23 de Maio, em


q.

me ordena lhe remetta com toda a brevidade todos os papeis

relativos ao Negociante do Porto sobre a do Habito


pertensão

de Christo ; e vendo esta mesma requisição me he feita com


q.

a mesma efficacia via do Cónego M.e Eschola da Capella


por

Real, da Rocha Couto Ribeiro, residente em


José (ou João)

Casa dos Monsenhores Almeida e Miranda ; não de-


quero
— 246 —

morar semelhante remessa, esta faço, advertindo a V.


q. por

M.ce, o communicar a competir, a outra Cópia,


p.a quem que

em Pública Fôrma, dos Documentos (á está adjunta a de


qual

Monteiro Mór de Brunhide) existe na Secretaria de Estado,

donde se não haver á mão ; regra e ordem nova-


pode pela

mente estabellecida Marquez de Aguiar, de se restituirem


pelo

somente aos Pertendentes os Documentos Originaes, e não as

Publicas Fôrmas : o d.° Marquez diz he obviar ao abuso


q. p.a

dos Pertendentes, até Tendas, e escadas da Se-


q. pelas pelas

cretaria formavão Requerimentos, e depois de receberem da

m."^ Secretaria os Documentos de outros idênticos, lhes ha-


q.

vião sahido Escusados, os encaixavão naq.les trazião feitos,


q.

multiplicando desta sorte inutilmente o trabalho da Secretaria ;

mas cá os de fóra, e também são expertos, affirmão isto


q. q.

he feito com o fim de se augmentar o interesse do Direito do

Sello, e consequencia o dos Tabelliães, multiplicidade


por pela
de Cópias, em razão daquella he necessário fa-
q. prohibição

zer-se e sellar-se. Poreste motivo suspendi e larguei logo de

mão a toda a diligencia/^, havia intentado se alcançar,


p.a pois
não he bem eu me empenhe neste depois de ser tão
q. ponto,
mofado Pertend.te antes com e agora com vi-
pelo promessas,

lezas.

Entreguei finalmente o Requerimento do P.e Carreira ao

Visconde de Barbacena, a não fallei, mandar recebe-lo


q.m por
da m.a mão, á da rua, hum Granadeiro ; o não me
porta por q.
admira, ser mui rara a civilidade nesta de
por qualidade gente.
Do resultado, de o futuro eu haver conhecimento,
q. p.a possa
darei assim como farei toda a diligencia de fique ser-
partè, q.
vido o Cap.am Figueira de Almeida, V. M.ce logo o
José p.a
communicar ao S.r Marquez de Sabugosa. Chegou aqui

agora de Bengala o Navio S. Fama command.te o Cap.am


José
Ten.e Desiderio Manoel da Costa, a V. M.ce o anno
q.m
ahi entregou hum masso de Papeis mim, e
passado grosso p.a q.
eu não recebi. Ando agora na diligencia de Iho apanhar, e está

incumbido dessa empreza o Guarda Mór da mesma Alfandega,

ser mais idoneo esse fim ; o d.° Desiderio he


por p.a pois geral-
mente reputado, e seus Collegas marítimos avaliado
pelos por
máo homem. O d.° Officio de Guarda Mór d*Alfandega he

presentemente servido Libano, foi ahi Mestre de Prim,as


pelo q.
Letras, e agora está aqui bem arranjado ; enviuvou, e cazou

segunda vez.
— 247 —

Ha tempo foi o Núncio sacramentado, estar em


pouco por

de vida moléstia ; mas creio está melhor.


gran-perigo por q.

No ultimo Paquete Inglez, aqui entrou neste mez,


q. já

veio hum Of£.al de SecretA dizem, enviado Antonio de


q. por

Saldanha, e com Papeis S. A. R. assignar. O seu objecto


para

he tão misterioso e de segredo, nada até agora se tem rompi-


q.

do, o na verdade causa surpreza.


q.

Na viagem da S/a Princeza D. Carlota com Suas Filhas

não se falia, nem se em nada relativo.


já pensa

Desejo m.to a V. M.ee a de hüa saúde, e con-


posse perfeita

tinuadas felicid.65 : Anna faz a V. M.('e iguaes ;


protestações

e depois de lhe rogar o favor da sua benção, de espero ser


q.
sempre merecedor, não deixarei de mostrar sou com o maior
q.

respeito

De V. M.06

Filho m.to obd.e e obg.m° C.

dos S.1065 Marrocos


^^Luiz Joaq.m

CARTA N.° 93

Rio de 15 de
Jan.ro

Novembro de 1815.

Minha Mana do C. Tenho a tua Carta de 3 de


presente

muito estimei assim m.mo ser de como me


Julho, q. por garatujas,

dizes, não he da letra se deve fazer esti-


pois pela qualid.® q.

mação da ; eu te agradeço todas as expressões me


pessoa q.
diriges, e me affirmas serem nascidas de amizade, o sin-
q. q,

ceram.te creio, e assegurar-te serem minha bem re-


posso pela
ccimpensadas.

Até ao não me tenho dado mal com o meu novo


presente

estado, e espero tal não succeda razões, ahi isso


q. pelas que
me resolverão : desejava só não ter augmento de família,
por
não nem esse fim me cazei. Anna não se esquece
q. gósto, p.a

de te escreva, attire com ella ti, o não


pedir-me, quando q. p.a q.
estar longe : mas estar certa do seu bom co~
posso, por podes
— 248 —

ração, he sem refolhos e cheio de sincerid.e. Aqui tem che-


q.

a Tropa mui arrogante e valentona, e isso estão em


gado por

separação da Tropa daqui, sendo aquartelada na margem

d'além do rio : e está em tudo disciplinada á Ingleza, e dizem

em costumes á Franceza : e isso toda a se desvia


q. por gente

de tomar conhecim.to com elles.

Sou com toda a cordealidade

Teu Mano affect.0 e V.or

Luiz

CARTA N.o 94

Rio de 22 de
Jan.ro

Novembro de 1815.

Meu Pay e S.r do C. Havendo escripto a


prezadissimo

V. M.°!e mais extensamente em outras, esta serve só de


partici-

o dizer ao S.r Marquez de Sabugosa, o seu Afi-


par, para que

lhado, Cap.am Figueira de Almeida, foi despachado no dia


José

20 com a Mercê do Habito de Aviz. Estimei ter mais esta

occasião de mostrar a M.a vontade de servir ao S.r Marquez,

segundo o seu
gosto.

Nada ha de novo ainda a respeito do Despacho do S.r P.e

Francisco Carreira.
José

Fallei, depois de difficuld.08, ao Cap.am do Navio,


grd.®3

S. Fama, Desiderio Manoel da Costa, o me desen-


José qual

não sabia de semel.6 encomenda, V. M.^ me affir-


ganou q. q.

ma ter-lhe entregado ; e consequencia deo-lhe consumo.


por

Sou com o maior respeito

De V.

Filho m.to obed.e e C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaq.m
CARTA N.° 95

Rio de 23 de
Jan.™

Novembro de 1815.

Meu Pay e S.r do C. Deixei de


prezadissimo proposito
ultimo lugar a m.a resposta aos artigos das Cartas de V.
p.a

fechando os olhos a todas as considerações favoraveis e

desenvolve hum fogo arrebatado, destruidor e nada


generosas,

compatível com as suas anteriores expressões de affecto e tão

extremosa amizade. Os motivos, eu vejo allegados nas suas


q.
Cartas, e'q. V. M.ae me serem a causa da süa
quer persuadir
Censura, reduzem-se a affirmar-me não ter eu cumprido os

meus deveres, com a do meu Casamento,


prévia participação
não o devendo em obra, sem a resposta da sua approvação
pôr

e licença, negando isso a m.a Carta de 23 de Dezembro de


por
1813, e caracterizando-me de vil, e incivil, faltando-lhe ao res-

como Africano rombo, e Americano. He


peito, prezumido
muito V. M,ce não engulir os bocados, sem os
justo q. queira
mastigar, como me affirma ; mas também não he essa
justo q.
cautela seja exclusiva, fazendo eu os engula : e sou
q. portanto
obrigado a desfazer os seus argum,108, sahindo igualmente a

Campo, como V. M.f'e diz, não duèlo, mas só me defen-


p.a p.a
der, o até nos Tribunaes de he licito a todo e
q. Justiça qualquer
indivíduo, ainda o mais criminoso ; e respondendo igualmente

este meio a tudo, de sou V. M/*6 arguído, com aquella


por q. por
Lógica, de suas lições aprendi, o me dará desde li-
q. p.a q. já
cença, e aquellas expressões, não forem análogas á
perdoará q.
dignidade da sua Pessoa, só como nascidas de algum desacor-

do meu.

Quer V. M.ce a falta de existencia da m,11 Carta


provar
de de 23 de Dezembro de 1813 com o se lê nas
participação q.
outras m.as Cartas seguintes ; oq. na verdade me causa a

maior extranheza indifferença, V. M.ce tem tido no


pela q.
meu costume inalteravel em todo o circulo da m.a correspon-

dencia. Não estou tão affastado da applicação e do trato de

intelligentes não deixe de saber a regra epistolar,


pessoas q.
— 250 —

todos de não confundir objectos de confidencia


por praticada,

e áegredo com couzas triviaes e domesticas ; não só se dar


p.a

o devido valor ao negocio, de se trata, com a cautela, elle


q. q.

exige ; mas se communicar outro objeto a


p.a poder qualquer

outra sem se arriscar o segredo daquelle; o não


pessoa, q.

effeituar-se, se estivessem incluídos na m.a Carta : e


poderia
daqui vem nunca se costumão formar 2.as e 3.as Vias a
q. quasi

não ser em especulações de Comercio, com o titulo de Seguran-

ça, e em alguns Despachos de tarifa de Secretaria ; nem se

costuma nas outras Cartas consecutivas formar extractos na-

negocio anterior, se haja tratado em confidenci


quelle q. pela
razão de ser hum objecto inteiramente separado.

De tudo isto bem combinado se segue sendo o meu ca-


q.
samento húm objecto mim da maior consideração mo-
p.a pelos
tivos, a V. M.í,e expunha, e não erão de communicar-se a
q. q.
outrem, deveria ser tratado em differente Carta, e com a maior

circunspecção ; e não ser confundido com outros objectos,


q.
V. M.ce a cada fazer ver aos seus Amigos ou
passo pode pes-
soas interessadas : estas m.mas circunstancias tenho eu
prati-
cado muitas outras vezes, se tem offerecido, com V. M.(<e e
q.
com outras com me correspondo ; e he o eu
pessoas, quem q.
vejo alguns, neste me servem de mo-
praticar-se por q. ponto
delos. He esta m.ma razão as m:as tres Cartas
por q. posterio-
res, V. M.^ offerece confirmação, não referem, nem de-
q. p.a
vião referir nada relativo á m.a d.a Carta de 23 de Dezembro ;

se esta se não erão escusadas repetições, e


por q. perdesse,
se não era objecto de Comercio, se formar
quando perdesse, p.a
2.il e 3.a Via, mas supprir-se a sua falta com hüa Copia da Carta

original, o As outras duas ultimas observações,


q. pratiquei.
V. M/*® appelida faltas, em não cahe o mais rombo
q. por q.
Galleziano, não vejo lugar se lhes responder ; sem
p.a por q.
embargo de V. M.^ as ver desempenhadas logo na m.a
querer
Carta, eu, não antevia este seu desejo, o reservei
primeira q.

p.a quando tratei com meudeza da historia do meu Casamento

em Carta de 3 de Abril seguinte ; sendo mim creio


p.a (e q.
os outros) hum axioma innegavel as Cartas devem ser
p.a q.
feitas ao e á vontade de as escreve.
geito quem
Havendo segundo me respondido cabalmente
pois, parece,
aos reparos, V. M.qe me faz, mostrando este modo
q. por ser

o meu de não a m.a resolução


justo procedimento participar em

Carta mesclada de outros objectos, nem fazer delia repetição

nas outras seguintes; devo expôr á attenção de V. M.ce


— 251 —

os argumentos me lembrarem, ser verdadei-


q, p.a provar-lhe

ra a m.a Carta de 23 de Dezembro de 1813, e em nada


q.

incorri na sua Tendo-me a Providencia feito che-


perda.

ao estado natural de liberdade, não só em razão de m.a


gar
idade, mas, m.mo do meu Emprego, especialmente neste Paiz

ha 4 5 annos, fóra de todo o abrigo ; e tendo


p.a paterno

outro lado sido sempre o meu, capricho de regular as


por
acções de m.a vida auxilio dos seus conselhos e
pelo preceitos,

o tn.mo daqui vezes tenho directa e


q. por positivamente pratica-

do ; segue-se na a V. a m.a re-


q., questão'de participar

solução, ninguém me obrigaria a faltar a este dever ; nem tinha

nada a temer da sua bondade, a m.a Carta não


quando passava
de hüa Consulta, formando com ella hum acto do maior respei-

to, humiliação e cortezia. Portanto, se o Matrimonio não


pode
essencialmente contrahir-se, sem a circunstancia da
principal

sua motivo me induziria a occulta-lo


publicidade; que querer
do seu conhecimento, era hum acto impraticável e im-
q.âo quasi
? Que conseqüências eu temer em meu damno,
possível poderia

emanadas da sua Pessoa, eu hum dever, annun-


q.d0 praticasse
ciando a V. M.ce as m.as disposições melhor arranjo e com-
p.a
modid.e m.a, e talvez a obviar hum futuro calamitoso ? Espe-

raria eu talvez V. M.ce se afferrasse a huma negação abso-


q.

luta, eu lhe mostrasse a m.a e as utilidades de


quando precisão,
assim o cumprir ? Seria o odio, a inveja, ou alguma outra
paixão,
ás vezes nos cega, movesse a V. M.ce a fazer-me con-
q. quem

tinuar a soffrer os males e a em outros


passados, precipitar-me
novos ? Só hum refinado hüa obstinada cegueira, e
pirronismo,
hüa barbara malevolencia serião capazes de obrar dessa sorte ;

e he o felizmente sou obrigado a confessar não ter encontrado


q.

estas de V. M.ce comigo, em todo o do


qualidades p.a período
meu tratamento na sua companhia até ao ; antes
presente pelo
contrario foi hüa das suas lembranças a
principaes possibilida-
de de aqui tomar novo estado, e fazer-me nas Paro-
proclamar
chias, me achar aqui desembaraçado, isto succedesse.
p.a q.do
Tudo isto mostra nada havia, me embargasse os
q. q. pas-
sos a a V. M.ce a resolução, tinha, de tomar novo
participar q.
estado ; e por consequencia vem a ser fantastica a sua negativa

Ha existencia de tal Carta de 23 de Dezembro de 1813 accres-

centando eu náo tinha essas vistas : não as havia


q. por q.
de ter ?

Se eu de necessidade havia de depois de me


participa-lo
cazar, razão não havia de antes ? Seria
por q. participa-lo o
— 252 —

meu intento fugir com a mulher algúa remota do


p.a parte

Mundo ? Temeria V. M.ce viesse, ou mandasse aqui, a


q.

impedimentos, ou arrebatar-ma das ? Não he


pôr-me garras

suscitar até são de hüm espirito


justo quimeras, q. jmproprias

sublime.

Quer V. M.ce a falta de existencia da d.a m.H Ca.r«


provar

ta de com a falta da sua recepção ; a isso devo


participação

dizer : Eu sou responsável todas as m.as Cartas até ao mo-


por

mento, em as vou, ou mando lançar na Caixa do Correio


q.

Geral, onde todos as lanção ; e bem succeder húa ou


pode q.

outra Carta não chegue ás mãos da a se escreve,


pessoa, q.m

ou esquecimento, ou traficancia dos Empregados no m.mo


por

Correio, ou inda m.mo Ordem Superior, apezar de ser aquelle


por
hum Depósito da Fé Publica, ou m.^8 outras causas. Por-
por

tanto se a de hüa Carta servir de se negar


perda pode prova p.a

a sua existencia ; vezes não ter V. M.ce ne-


quantas poderia

a existencia de m.1*® outras, vezes lhe tenho daqui


gado q. por

enviado, e V. M.ce não tem recebido ? E de outras


q. quantas

não eu ter igualmente duvidado, apezar de V. M.ce


poderia

affirmar tê-las escripto ? Querer V. M.ce revestir-me do ca-

racter de mentiroso e embusteiro, e na m.ma occasião, em lhe


q.

faço a m.a verdade, he fora de todos os sen-


patente julgar-me

timentos de honra, incapaz de tratar com de


gente probidade,

e consequencia hábil todas as desordens nascidas da-


por p.a

duas fontes ; ou outro modo, he a luz da


quellas por julgar
verdade tão sombria e limitada, se torne inaccessivel e impra-
q.

ticavel a como eu( he V. M.ce reputado Afri-


quem, por por
cano rombo, ou estúpido e Galleziano : devo
grosseiro pois
affirmar a V. M.ce desde sei entender-me, não dei ainda
q., q.

provas de ser adornado dessas ; e hoje, á


qualidades graças
Providencia, longe de exceder as balizas da m.a representação,

sei conhecer os meus Direitos e a m.a Se eu devia re-


Justiça.
a m.a Carta em 2.a e 3.a Via, também se dizer, e era
petir podia
mais acertado, eu devia segura-la no Correio ; desse
q. pois
modo só o Navio, se as Cartas ; ou ao
perdendo-se perdem
menos remette-la Portador : mas estes argu-
por particular
mentos serião de se agora existisse outro Solista Pro-
pezo,

tagoras.

Reduzindo tudo, tenho dito acima, a hum


pois quanto
breve Corollario ; digo com aquella verdade, sempre cara-
q.
cterisou as m.as acções, e sem remorso da m.a consciência,
por
sua candidez e sinceridade : logo resolvi mudar de es-
que q.
— 253 —

tado, foi o meu objecto a V. M.ce as m.as


primeiro participar

tenções, e não dár sem a sua resposta, hum acto


passo por po-

litico e respeitoso : 9 mezes, sem eu receber Carta


passarão-se

algüa relativa á m.a de 23 de Dezembro de 1813 ; e quem po-

deria tirar-me da idéa o scisma, de V. M.ce, ou desprezo,


q. por

ou descuido, ou outra razão estava longe de


por por qualquer

responder-me, como outras vezes tinha feito ? Não me


por

era esperar mais tempo, se terem mediado com so-


possível por

bejo mil occasiões de me dar a sua solução ; e neste desengano

effeituei o meu Casamento a 22 de Setembro de 1814. Se nesta

m.a determinação aliás mui séria, e demorada,


politica, pode

considerar-se algúa sombra de vileza, incivilid.e e falta de res-

; deixo essa investigação á sua constituído


peito perspicacia,

meu Juiz imparcial, e despido daquella acrimonia e transporte

fürioso, com me escreveo a sua Carta de 23 de Maio : e


q.

. espero attendidos os meus argumentos anteriores, ou tam-


q.

bem, o meu de nunca lhe desagradar, me faça a


gênio Justiça,
mereço.
q.

O silencio e suspensão, V. M.ce neste


q. quer pôr ponto,
não azedar mais, segundo o me diz em Carta de 3 de
por q. Ju-
lho, não me contenta de modo algum, eu só attendo á sua
por q.
satisfação inteira ; e isso me tendo V. M.ce
por parece justo q.
mais a dizer a este respeito, não deixe de continuar o seu desa-

fogo, expondo-me tudo de conservar em depó-


quanto queixas
sito ; só se decobre e apura a verdade ; e
pois questionando

mesmo m.a honra não devo approvar a reserva eterna,


por q.
V. M.0"5 se o futuro, e contra o sempre cia-
propõe p.a qual
marei; alem de ser nascida de más intenções, me sup~
por q.

aos olhos de todos hum homem reprehensivel e cri-


põe por
minoso.

Não me agradão igualmente as expressões irônicas, de


q.
V. M.ce uza na sua Carta de 3 de taes como : a sua Es~
Julho,
a S.ra D. Anna & ; de amor e veneração ;
posa predicados pri-
mor em virtudes exhuberantes ; de numerosa ;
propagação prole
& &, e especialmente o singular e improprio tratamento, me
q.
dá, de — V. — bem
M.ce claro e alongado, não deixar de
p.a
reparar-se ; cujas expressões são mais de hum Pane-
próprias
do de hüa Carta : e nisso bem se a falta de
gyrico, q. patentêa
sinceridade, com sou tratado.
q.

Quando se me offereça occasião de dirigir a V. M.ce

algumas outras não só neste mas em


justificações, ponto, qual-
circunstancia de m.a vida e sistema, estou sempre
quer
prompto
— 254 —

com as razões, Deos me ajudar : e


a satisfazer a V. M.ce q.

V. M.ce segunda vez rae desculpe toda


entre tanto rógo a

ou for incompetente á dignidade


aquella expressão, período, q.

involuntária e não dita, sobre o faço desde


da sua Pessoa, q.
por

Protestação igualm.te não deixe de favo-


hüa solemne ; q.

sua benção, e de m.a Mãy, sempre imploro,
recer-me com a q.

na segurança do meu maior respeito e sincera cordialidade,

por ser

De V. M.ce

Filho m.to obd.e e obg.mo C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaquim

CARTA N.° 96

Rio de 23 de
Jan.ro

Novembro de 1815.

Minha Mana do C. Respondo á tua Carta de 23 de Maio

com aq.1* brevid.6, o tempo, tenho me consente.


q. pouco q.

Remettendo ao silencio as tuas de me applicâres os ada-


graças
— comprar — e dei desculpas
de Quem desdenha, quer q.
gios

de máo as não serem nascidas de máo


pagador, por q. julgo

animo, mas da liberdade, he da nossa amizade : Só


q. própria

te digo, não deves confundir-te com a occupão


q. gentalha, q.

o seu tempo em fazer relações de casamentos, e estão á espreita

do cada hum faz em sua casa, serem os em


q. p.a prim.ros ga-

nharem as alviçaras : tanto se torcem e inclinão vigiar as


p.a

acções alheas, não reparão os outros lhe estão vendo o cú


q. q.

descoberto : dessa ha muita ahi Sitio, e he desgraça


gente pelo

ser aqui a se tem mais estão de


q. portado pessimam.1*, por q.

aberta. Á imitação da tiverão em o


porta pressa, q. participar

meu casamento, talvez se tenhão regalado de communica-


q.

rem com toda a a desgraça, succedeo agora a hum


pressa q.

Criado do Paço, ahi do Sitio, esta semana foi aqui


q. publica

e vergonhosam.1# ladrão, e toda a familia de hüa casa,


prezo por

mais de 12 era toda a e onde se achou o


pessoas, q. quadrilha,
— 255 —

calix de hüa Igreja, a lampada de outra, alem de m.tas outras

cousas.

Á vista disto não tem cabimento os teus reparos, de eu não

o meu casamento, se não depois de elle feito ; accres-


participar

centando foi feito de noute e ás escuras, como se o Povo fosse


q,
surdo e cego. Nada disto tem resposta, cada hü arran-
por q.

como e como lhe convém, nem eu tenho obrigação


ja-se quer,

de dar satisfações ao Povo, vai á Igreja, como se fosse a hum


q.
Theatro. Neste acto fiz estava do meu dever em dar
quanto
as necessárias m,to a tempo, foi hum anno
participações q. quasi
antes de me casar : e se não receberão as m.'as Cartas, ou que-
rem fingir as não receberão, me mortificarem, não tenho
q. p.a
forças abrandar Só digo ahi se o tempo
p.a pedras. q. passa
em descanço e regalo, e isso se occupão, em ninherias, e eu
por
estou aqui trabalhando de dia, e de noute, merecer o
p.a q.

ganho. Sou com todo o


gosto

Teu Mano do C.

Luiz

CARTA N.° 97

Rio de 6 de
Jan.ro

Fevereiro de 1816.

Meu Pay e S.r Com a chegada


prezadissimo do Bergan-
tim Vulcano em 28 de recebi
Janeiro passado, a de V. M.00 de
18 de Outubro, a foi entregue na
qual Livraria Piloto
pelo
daquelle Navio, e diz ser desse
que bairro : Estimei summa-
mente ter as boas noticias da saúde de V. M.ce, da Mãy, Mana,
e Tia, a muito me recommendo
quem ; pois ha m.to tempo
que
essas me não chegavão alguns
por Navios aqui tem aportado.
q.
Desde fim de Novembro
passado estou incumbido da
que
traducção franceza de hum Tractado de Policia de Saúde
para
os Exércitos e Armadas, ha de vir
q. a servir como hum Corpo
de Instrucções e Regulamentos : esta obra me tem assás fati-

gado, pela pressa q, me foi dada : desde então não sei o he


q.
— 256 —

dormir com descanço, estar firmado á banca, de dia e noute,


por

sem sahir fóra, nem ainda ouvir Missa ; e he esta a razão


para

ha tanto tempo não escrevo a V. M.ce. No de


por q. principio

acabei a d.a traducção : e logo, depois de a


Janeiro principiei

corrigir alto, hüa copia em limpo S. A. R. ver, e depois


pelo p.a

de ha de ser mandada examinar este Sapientissimo Corpo


por

Medico — Político, se lhe fazerem as alterações e mudanças


p.a

na fôrma das applicações, seg.d0 os nossos usos. Ouço dizer

ha de ser remettida á Impressão Regia de Lisboa, ser


q. para

impressa conta do Estado, serem ahi as impressões mais


por por

asseadas ; e se assim for, hei de fazer a diligencia


para que

V. M.ce faça a revisão das e ao mesmo tempo algüa


provas,

outra emenda ; nem isso me dão occasião, ter de


pois para por

dar esta Copia até 15 deste mez.


prompta

Estamos todos com o maior susto moléstia de S.


pela

Mag., ha 15 dias hüa dyssenteria de sangue,


q. quasi padece

acompanhada com febre, vômitos, fastio, &c. A maior


parte

das lha assistem, desconfião de sua vida ; e na


pessoas, que

verdade a sua figura cadaverica nos inculca esse termo : em

fim a Providencia dar-nos esse lastimoso nunca


quer golpe,

assás chorado e verdadeiram.^ sentido.

Agradeço a V. M.0** a remessa dos Papeis curiosos, im-

e manuscriptos, de vai relação aqui adjuncta, e sobre


pressos q.

alguns delles farei outra occasião algüas reflexões. Re-


p.a

metto também as Gazetas notáveis daqui, me


q. parecerão
dignas de V. M.ce as ler ; e outra vez irão as Prelecções
p.a
Filosoficas de Silvestre Pinheiro. Com mais vagar responderei

aos artigos desta sua Carta o futuro Navio. Sou com todo
p.H

° resPeito De
V. M.ce

Filho m.to obed.6 e C.

Luiz dos S.tos Marrocos


Joaq.m
P. S.

Anna agradece a sua lembrança, e se recommenda, como

deve.

a esta carta, encontra-se um de com o


junto pedaço papel
seguinte :

Titulo da m.a traducção.

Tractado da Policia de Saúde, terrestre e marítima, ou

Hygiene Militar e Naval : extrahido das Obras de Medicina


— 257 —

Legal e Hygiene Publica, de M.r F. E. Foderé, Doutor em

Medicina, ultimamente em Paris, no ano de 1813.


publicadas

Dividido em 4 Partes (41) .

Natura recti sigillum

CARTA N.° 98

Rio de 23 de
Jan/°

Fevereiro de 1816.

Meu Pay e S.r do C. Não fóra


prezadissimo julguei que,

do meu costume, houvesse tanta demora em fazer a resposta á

Carta de V. M.ce, ultimamente recebida, e com data de 18 de

Outubro ; mas ha muitos dias dei a V. M.0* a devida


passado

satisfação desse motivo em outra Cartinha mui breve, e devia


q.

servir de a esta : com effeito cessou a causa desse meu


prelúdio

embaraço, e consequencia dirigir a outros


por posso penna p.a

objectos, como me ainda a m.a Receando


permitte perturbação.

m.u de m.a memória, couzas, tenho a


principiarei por q. parti-

cipar a V. M.ce, (das algüas merecem a nossa


quaes principal
attenção) relativas a este canto do Brasil ; depois me referirei

aos artigos da d.a sua Carta, devendo tudo manifestar


prim.ro q.
a V. M.ce os meus vivos desejos da sua saúde, e igual-
perfeita
mente de m.a Mãy, Tia, e Mana, a todos me offereço
quem
m.to affectuoso como devo.

Dous são os ora nesta Corte trazem


pontos principaes, q.
suspensa a expectação : 1.° a moléstia de S. Mag.e; 2.°
geral

o embarque e de S. A. R. a S.ra D. Carlota, com Suas


partida
Altezas as S.ras Infantas D. Maria Izabel, D. Maria Francisca,

e D. Anna de Maria.
Jesus

(41) Foderé Emmanuel) — Traité de Médecine Légale et d'Hy-


(François
giène Publique, ou de Police de Santé, adopté aux Codes de VImpire Frartçais, et
aux connaissances actuelles. ¦— Paris, de rimprimerie de Mame, 1813, — 5 tomos
in - 8.°.
A tradução de Santos Marrocos não foi impressa.
— 258 —

Quanto ao 1.° ; talvez em Lisboa hajão algumas no-


q. já

ticias deste triste acontecimento ; ha mais de hum mez


pois q.

a Rainha N. S.ra se acha enferma : de dia em dia


q. gravemente

a sua moléstia se tem aggravado m.10, huma


principiando por

dyssenteria, febre, e fastio ; e daqui tem a hüa in-


prosseguido

sensibilidade notável da cintura baixo, inchação de e


p.a pés

mãos, e olhos sempre fechados. Tem tido algúas occa-


quasi

siões de allivio ; este, carrega-lhe novo ataque


porem, passado

destes simptomas com mais força : e apezar das diligencias e

disvelo dos facultativos com os soccorros da Medicina, nada

até agora nos tem dado motivos da algua esperança de sua


per^

feita cura. Todavia não deixão de a levantar sempre da

Cama, e dentro de hüa cadeirinha he conduzida todos os dias

dentro do Paço em fôrma de o sem duvida lhe


por passeio, q.
he mui ; e ultimo ha idéas e votos de a fazerem
proveitoso pojç

tomar novos áres em hum Sitio distante daqui, a cha-


pouco q.

mão Mata-porcos, onde foi a residencia do fallecido Conde

das Galveas. Não exprimir vivamente o sentimento


posso ge-
ral, em todos tem causado este triste acontecimento, e D.s
q.

se suspenda hüa fatalidade incalculável, contra o


permitirá q.

actual e commum pensar.

A de S. A. R. Hespanha (ou Lisboa)


partida para para
não he objecto de dúvida : os são decisivos em
já preparos
todos os ramos relativos a este : toda a Familia, assim
ponto

das Senhoras, como de Criados, está : dérão-se a


prompta

todos as competentes ajudas de custo; 1:000$000 r.s á Ca-

mareira Mór, 400$000 r.s ás Açafatas, e assim os mais em


pro-
vindo a terminar com as de 80$000 r.s a Varredores e
porção,

Moços de Quarto : ha tenção de ser a sahida a 20 de Março,

e em Quarta feira de Cinza será a Desobriga Não


geral. posso
explicar a V. M.ce o fervor e a com se está embar-
pressa, q.
cando o trem respectivas Repartições ; e vejo Caixões,
pelas
custão a carregar-se 20 negros : a Náo S. Sebastião
que por

está mui linda, sendo renovada e assim como a Fra-


pintada,

Hespanhola do Vigodet : e S. S. A. A. tem ido a


gata jantar
bordo muitas vezes : affirmão as mais Embarcações de
q.

Guerra, forão conduzir a Tropa a S.ta Catharina, devem


q.

acompanhar, assim como certos Navios marcantes, creio de re-

frescos ou mantimentos. Apezar de todos estes preparos pú-


blicos e indubitaveis, ha muitas apostas e
questões particulares
sobre a conclusão desta empreza ; mas de certo nenhum fun-

damento ha estas dúvidas, senão as reflexões


para políticas, q.
— 259 —

faz suggerir a actual moléstia de S. Mag.e, não com-


podendo
binar-se no meio deste inconveniente, a retirada
politicamente,

daq.Ias Senhoras, m.mo S. A. R. este motivo não afiei-


q.do por
tuou agora a Sua costumada de S.ta Cruz neste mez,
Jornada
a nunca tem faltado, Sua Saúde, obrigando-se isto
q. por por
a hüa continua e vigilante attenção da moléstia de S. Mag.e.

Mas o tempo nestas reflexões, sem ser Sebastia-


perde-se q.,
nista, ouso affirmar sahirão aos duvidosos. S. À. R.
goradas
condecorou o Vigodet com hüa Grão Cruz da Torre e Espada,

e terá a honra de acompanhar S. S. A. A. na m.ma Náo S. Se-

bastião : o Medico da Camara e Fisico Mór das Armadas,

Vicente Antonio de Azevedo, irmão do Barão do Rio Secco,'

tem feito diligencias obter sua Commenda,


grandes por p.a
chegar mais distincto ao Lugar do Dezembarque ; mas até

agora o Marquez de Aguiar não lhe tem dado ouvidos, apezar

de ter sido o seu Medico.

No dia 11 deste mez morreo desastradamente afogado o

Conde do Barreiro no Lago da Tejuca, daqui 5 léguas, de hüa

apoplexia, o attacou, estando dentro do Lago com o Conde


q.
de Avintes, tomando banho, como tinhão de costume ; e no

m.mo dia, em completava 3 mezes de casado : o Sogro, Mar-


q.

quez de Vallada, ficou interinamente servindo o Officio de

Vedor das R. Cosinhas, em não chega de Lisboa o filho


q.*0
mais velho do Marquez de Borba, dizem ter 19 annos, e
q. q.
havia tempos S. A. R. mandara chamar esta Corte.
p.a Os

Cosinheiros todos chorão a falta daq.Ie seu Chefe, e a Viuva

mais inconsolavel a Casa, em razão de não haver


por perder
demonstrações de descendencia : S. A. R. mandou continuar-

lhe o m.mo ordenado do marido, são 2:400$000 r.s, certos


q. e

rendimentos das Ordens, de elle álem da ração.


q. gozava, sua

O dito Marquez de Vallada se tem feito o maior basbaque,

depois intentou cazar com hüa filha da Marqueza


q. de Bellas,

havendo-lhe também ha morrido a mulher :


pouco depois de
cazar as tres filhas, e ficando
primeiras ainda hüa solteira,

falta-lhe hum filho, sirva de sucessor á Casa,


q. esta não ir
p.a
encorporar-se, sua falta, com a do Marq.z de
por Olhão, Mon-

teiro Mór ; e isso, apezar das raivas cfa filha solteira,


por e da
velhice delle, está fervoroso se cazar outra vez,
por e se fir-

marão as escripturas do estilo.

A 2.a filha da l.a mulher de Egidio


José aqui casou ha
tempos com o Negociante Luiz de Sousa Dias,
que tem créditos

de rico : Egidio continua a sua vida


José com osten-
particular
— 260 —

tação, e como membro de hü Tribunal tem a representação,


q.

lhe he : he m.*0 intimo do Conde da Barca, e tem em


própria

casa roda Diplomatica ; mas eu ingnénuamente confesso,


q.

vejo e tenho de longe observado alli certas maneiras, de não


q.

gosto.

O futuro casamento do filho de D. Francisco de Almeida

com a filha mais velha da Condeça da Ponte tem tido


preparos

espantosos em ordem de Casa : a maior dos moveis


parte

forão comprados e trazidos de Inglaterra, e nada D. Francisco

exceder a espectação dos : elle tem feito


poupa para parentes

sobre aposentadorias.
proezas
Hum Picadeiro novo e húa Cadêa nova são os últimos

se vão em execução ; o 1.° he reputado em 50


planos, q. pôr

mil cruzados, se farão logo ; e o 2.° foi desti-


q. promptos p.a

nado o de hum dia de Beneficio no Theatro desta


producto

Corte, servir de de despezas : não tardará se


p.a principio q.

não arme hüa nova Loteria ajjida delia. Entretanto a Obra


p.a

nova do R. Thesouro ficou no esqueleto, havendo-se alli con-

sumido cima de 700 mil cruzados : e ciaram.te


p.!l parou, por q.

se via a despeza crescia, e a obra não subia.


q.

S. A. R. a S.ra Princeza D. Carlota com Suas Filhas e as

competentes Criadas forão hum dia inteiro ao Palacio


passar

novo do Visconde de V.a N.a da R.a, no Sitio de Botafogo,


por
convite do m.mo Visconde ; e foi a maior se tem ob~
pompa, q.

servado, a mesa e recreio obsequiar a S. S.


pelo q. pertence p.

A. Pode imaginar-se a de todo o trem -


A- grandeza Ser-
p.a

viço das m.mas Senhoras, e igualm.10 affirmar-se nada


pode q.

deste m.mo Serviço foi de fóra. A excellente orquestra vocal e

instrumental, Dança, refrescos, e tudo o mais deveria so-


q.
leirinizar aq.Ie dia, de tudo o d.° Visconde lançou mão se
p.a
distinguir mais do Conde da Louzã ; e findou o divertimento

3 horas da madrugada do dia seguinte. S. A. R. se dignou


pelas

conferir-lhe a Nova Ordem Hespanhola de S.u Izabel Ameri-

cana : e dias renovou a sua Visita, com a dif-


passados poucos
ferença de não levar Criadas, e foi igualmente Servida com a

m.ma magnificência. Succedeo isto o Conde da Louzã


por q.
se encheo de inveja, e começou a clamar ; sendo hum Veador
q.

da m.ma Senhora, e recebendo a honra da sua Visita ha


prim.r0

muito tempo, alem de ser na superior ao Visconde,


gerarquia

devia elle ao menos ser condecorado com a mesma Ordem de

S.ta Izabel Americana ; e entrou isso a dispensar-se


por querer
de acompanhar S. S. A. A. na Sua viagem, allegando a sua ve-
— 261 —

lhice e moléstias : não se fez caso de seus ditos, e irá, e


porem

tornará a ir. Este m.mo Conde esperava sahir Mordomo Mór

da m.ma Senhora, em lugar do Marquez de Vallada, não


q.

vai mas se sabe ha de ser nomeado hum Criado, dos


; já q. q.

residem em Lisboa, antigo, e com Serviços : alguns ser


julgão

escolhido o S.r Visconde de Santarém, mas eu não me confór-

mo, esse Emprego se complicar com os elle exerce. Es-


por q.

dizer S. A. R. revestio também a Viscondeça de


quecia-me q.

V.a N.a da R.a da Ordem Portugueza de S.^ Izabel, na m.ma

occasião, em fez igual mercê ao Visconde. Em razão da


q.

mudança deste o seu novo Palacio, vai a transferir-se o


para

R. Thesouro as Casa elle larga ; e essa he a razão,


para q.

estou na diligencia de viràn a ser incorporados na Livra-


por q.

ria os Manuscriptos, de estou encarregado como sempre es-


q.

tiverão, e dar fim á falsa do Visconde de os reputar


persuasão

Corpo do R. Thesouro na Repartição do Infantado (erro q.

lhe communicou Fr. Antonio de Arrabida) : e agora com

maior razão, ter chegado a Livraria a hum auge de explen-


por

dor, e como talvez se não encontre em m.tos Tribu-


grandeza,

naes da consideração do Reino.


primeira
A estabilidade e firmeza, com forão feitas, e hoje
pouca q.

se achão as Casas antigas desta Cidade, tem sido a origem de

muitas desgraças succedidas, ora cahindo subitam.1* as


paredes,

ora as mesmas Casas inteiras sobre os seus habitantes ; e


jul-

os entendedores a irregularid.® das estações, aqui se


gão que q.

experimenta, de hum calor excessivo a hum frio igual


passando

com tormenta espantosa de chuvas e heo único


grossas pezadas,

motivo destes tristes acontecimentos. No dia 18 deste mez

cahio de repente hüa não de e abobada


parte pequena parede

com os lhe estavão annexos e superiores, neste Paço,


quartos, q.

e formavão a habitação de algüas das Criadas de S. Mag.e


que

mas ninguém soffreo algum. Em razão disto,


perigo proje-

ctou-se hüa Inspecção, Chefe o Arquitecto da Costa,


José para

fazer vestoria a todos os Edifícios da Cidade, e obrigar aos

Proprietários ricos a demolir todas as Casas antigas, amea-


que

çarem ruina, e reedifica-las de novo ; e aos Proprietários sem

maiores cabedaes, a escorar as suas. He incrível o cabedal,


q.
occultamente se tem offerecido e dado aps indivíduos da d.a

Inspecção, os Proprietários se livrarem a estas Obras e des-


p.a

e o Intendente os não obrigue, seg.d0 as informa-


pezas, p.a q.

ções dos Inspeccionistas, o tudo estes tem re-


q.. paulatinam.te
colhido, e com tem assás avultado.
q.
— 262 —

Os Corpos de Artilheria e Cavalleria, chegarão de Lis-


q.

boa, forão enviados o Rio Grande, com escala S.1®


já p.il por

Catharina : até agora se tem muito bem, e á satisfação


portado

de todos, de maneira merecerão estimação ; antes


q. geral pelo
contrario tem sido mal correspondidos da Tropa bravia deste

Paiz e mal remunerados com o lhe he devido ; tirando


q. porem,
hüa ou outra dissenção em elles sempre mostrão
particular, q.
são Portuguezes valentes e não Brazileiros cobardes, o
que geral
tem sempre mostrado socego, moderação, e até boa
prudência,
conducta. Affirma-se o Corpo de Caçadores, está a
q. que
chegar, he composto de Trasmontanos esforçados e escolhidos

dos mais se distinguirão na Batalha de Talavera.


q.

Pelas Gazetas, ultimamente remetti a V. M.ce, lhe será


q.
constante o brado, aqui se ouvio, elevação destes Es-
q. pela
tados a Reino, incorporando-se aos de Portugal e
parallelam.te
Algarves (42) ; e as Funções houverão esse motivo. O
q. por
Senado, em tudo se distinguir, em tudo dá a co-
que quer
nhecer he Senado do Brazil ; e isso fez a Função mais
q. por
eu não esperava ver Em despique á mes-
porca, q. (43).
do Senado, o Corpo do Commercio, todo basofia,
quinhez

(42) A Carta de Lei de 16 de Dezembro de 1815, o Príncipe Re-


pela qual
gente elevou o Estado do Brasil à graduação de Reino, ioi publicada na Gazeta do
Rio de Janeiro, de 10 de Janeiro de 1816. Dispunha :
"I
~ Que desde a desta Carta de Lei o Estado do Brasil elevado
publicação seja
á dignidade, preeminencia, e denominação de Reino do Brasil.
"II
— Que os Meus Reinos de Portugal. Algarves, e do Brasil formem d'ora
em diante hum só e único Reino debaixo do Titulo de Reino-Unido de Portugal, e
do Brasil e Algarves.
"III
— Que aos Titulos inherentes á Corôa de Portugal, e de que até agora
Hei feito uso, se substitua em todos os Diplomas, Cartas de Lei, Alvarás, Provisões,
e Actos Públicos o novo Titulo de Príncipe Regente do Reino-Unido de Portugal,
• e do Brasil, e Algarves d aquem e d'alem Mar, em África de Guiné, e da Conquista,
Navegação, e Commercio da Ethiopia, Arabia, Pérsia, e da índia, 6c."
No
preâmbulo dessa Carta de Lei o Príncipe alude à consideração manifes-
tada aos seus domínios do Brasil, pelos Plenipotenciários das Potências que formaram
o Congresso de Viena.

(43) No dia 28 de Dezembro de 1815 o Rei recebeu o Senado da Câmara


do Rio de
Janeiro, incorporado e acompanhado de alguns cidadãos. Nessa ocasião
o Presidente, Desembargador Luiz Joaquim Duque Estrada Furtado de Mendonça,
dirigiu uma fala a S. M., a qual se lê na Gazeta do Rio de Janeiro, de 10 Janeiro
de 1816.
A mesma Gazeta, de 24 de Janeiro de 1816, publicou o seguinte :
"O
Senado da Camara desta Corte, querendo pôr em execução o Acordão de
28 de Dezembro, Ordenou que nos dias 20, 21, e 22 do corrente estivesse a Cidade
illuminada; e destinou o segundo dos referidos dias para dar a Deos as devidas

graças pela exaltação do Brazil á Dignidade de Reino.


"Havendo-se
S. A. R. Dignado de Assistir a aquelle acto de Religião, se trans-
Estado para a Igreja de S. Francisco de Paula.
portou do seu Regio Paço em Grande
Cinco soberbos coches puxados a seis, compunham aquelle apparato, inclusive o que
conduzindo o Porteiro da Camara, na forma do costume. O
precedeu algum tempo,
— 263 —

reserva depois de Pascoa a sua Função, allusiva ao m.m0


para

objecto, e em o maior apparato e á


q. promettem grandeza,

imitação das Festas Reaes de Lisboa, o se acha actual-


p.a q. já

mente em cofre.de depósito mais de 100 contos de reis, finta

se vai recebendo de todos Negociantes aq.lei fim (44).


q. p.a

Quanto a mim, o extremo também he vicio.

Não exprimir a V. M.ce a satisfação, tive, com


posso q.

a elevação do Principal Freire a Patriarcha de Lisboa, e em


q.

S. A. R. reconhecer a distincção do seu merecimento.


quiz

Príncipe Regente
Nosso Senhor foi precedido por quatro batedores, e accompanhado

por huma grande guarda de Cavallaria, com hum Capitão e dois Subalterno* A esta
se seguia o coche de Estado, e depois os dois, dos o primeiro conduzia os
quaes
Camaristas, e o 2." os Guardas-Roupas de S. A. R., rematando com hum luzido accom-

panhamento de carruagens. Estavam as janellas ornadas de cortinas de sedas de


varias cores e qualidades, que faziam hum engraçado matiz, occupadas por pessoas
de ambos os sexos elegantemente vestidas, as quais, querendo dar hum sensível teste-
munho do seu amor á Augusta Pessoa
A. R., assim como do júbilo, que alvoro- de S.

çava seus corações, lançavão sobre


que conduzia o Nosso Amável, Soberano,o coche,

grande numero de flores, que juncavão as ruas, e perfumavão a athmosfera com o


cheiro mais agradavel. S. A. R. Deu os mais visíveis signaes de satisfação, e
Dignou-se de receber com a Sua Costumada Affabilidade estas provas do affecto
mais bem merecido.
"Chegado
á Igreja, celebrou a Missa em pontificial hum dos Monsenhores da
Real Capella, cantada pelos Músicos da Real Camara e Capella, e dirigida por For-
tunato Mazzioti. Acabada a Missa, recitou o Padre Mestre Fr. Francisco de Sampaio
huma eloqüente Oração, na qual mostrando o que foi o Brazil, e o que virá a ser.
encheu os corações dos seus ouvintes das mais lisonjeiras esperanças. Concluído o
Sermão, cantarão os mencionados Músicos o Te Deum. A estas cerimonias religiosas
das pessoas mais distintas sua nobreza e dignidades,
concorreu grande numero
hum por

que compunhão o mais luzido ajuntamento".

"Havendo
(44) o Corpo do Commercio desta Praça escolhido alguns dos
mais notáveis Negociantes dentre si,
para hirem aos pés do throno render as devidas

graças pela singular Mercê da deste Estado do Brasil á preeminência de


elevação
Reino. Houve S. M. por bem aprazar o dia 26 de Janeiro do corrente anno, para
receber as homenagens de huma Corporação, que o Mesmo Augusto Senhor tem
constante e especialmente protegido- Nesse dia tíverão a honra de serem para esse

effeito admittidos á Real Presença de S. M. os Negociantes abaixo nomeados:


O Commendador Fernando Carneiro Leão.
O Commendador João Rodrigues Pereira de Almeida.
O Commendador Amaro Velho da Silva.
O Commendador Luiz de Souza Dias.
O Commendador Joaquim José de Sequeira.
O Commendador Geraldo Carneiro Belens.
O Commendador José Marcelino Gonçalves.
O Commendador José Luiz da Motta. ^
Matheus Pereira de Almeida.
Por parte dos Negociantes, que estavão presentes, e de todos os mais da

Praça desta Capital, teve então o Commendador Fernando Carneiro Leão a honra de
acatadamente offerecer a S. M., alem de outras demonstrações da sua gratidão e

applauso, huma subscripção voíuntaria para se formar hum Capital, cuio rendimento
annual seja empregado a bem da educação — Gazeta do Rio de
publica." Janeiro,
de 3 de Abril de 1816.
Ao diretor-presidente do Banco do Brasil expediu aviso o Marquês de Aguiar,

em 5 de Março de 1816,
para que a oferta dos negociantes fosse empregada em ações
do Banco, cujo rendimento anual devia ser
privativa e perpetuamente aplicado par*
estabelecimentos, que promovessem a instrução nacional.
— 264 —

He m.*0 natural V. M.Ce o tenha de


q. já procurado para-

bens esta agradavel noticia, e outra, he de esperar,


por pela q.

e lhe he annexa, como a de Cardeal. Seria fortuna, se elle,


q.
como Amigo e agradecido aos seus obséquios, e outras mais
por

circunstancias, eu decerto ignoro, conferisse a V. M.ce algum


q.

dos bons Officios da Mitra, de maior lote, e ser ser-


q. podêtn

vidos Seculares. Creio esta Serventia, sendo lucrosa e


por q.

decente, não era incompatível com os seus trabalhos actuaes.

Cipriano Ribeiro Freire, em Inglaterra, foi ultimamente in-

cumbido de saccar das unhas de Strangford os dous Livros,

ás R. Bibliothecas, com elle daqui sahio, abu-


pertencentes q.

sando da franqueza de S. A. R. em lhos conceder, os ler.


para

Respondendo agora aos artigos da ultima Carta de V.

M.ce, devo dizer em 1.° lugar : he falsa e inteiram.te falsissima

a incumbência, ahi espalhar o tal Cirurgião, houvera


q., quiz

de mim, fallar a V. M.1* ; antes contrario, a não ser


p.a pelo

hü de lisonja a meu respeito eu o incapaz),


passo (de q. julgo

foi certam.te curiosid.e excessiva conhecimento da familia,


p.a

e consequencia a maroteira mais descarada, e elle he


por p.a q.

só feito e hábil. Dou a razão de eu assim : Este Ci-


pensar
rurgião chama-se Domingos Rodrigues da Costa, natural
José

de Coimbra, e m.to da amizade e introducção do Miranda Re-

lojoeiro, e das Tias Leocadia e Margarida : seu caracter


por
brejeiro fez. actos em namorações com as S.ras m
grandes

Primas, Mathildes, e Pulcheria, assim em Coimbra nas suas

sortidas e chanfanas, em era eminente, e de tirava o fructo,


q. q.
sempre intentava, como também nas suas Lisboa,
q. jornadas p.a
em sempre associava, como membro de casa, e lhe
q. pelo q.
era concedida toda a liberd.®, elle como taful sabia aprovei-
q.
tar. Estas cousas, e outras mais, eu não digo decencia,
q. por
me referio elle em historia vaga de suas rapaziadas, no tempo

em vínhamos de viagem, e a eu, como simples estudante de


q. q.
Coimbra, me mostrei empenhado, saber com miudeza,
p.af
occultando sempre o meu com ellas, e affirmando-lhe
parentesco

só as conhecia de vista e fama : Considére V. M.ce o eu


q. q.
lhe não e o elle não diria ! Em razão deste co-
perguntaria, q.
nhecimento viagem em elle me tratou sempre com toda
pela q.
a attenção, me servi algüas vezes delle nos meus ataques de

cabeça, cujo trabalho lhe sempre ; e álem disso lhe fiz


paguei
vários obséquios, diligenciando-lhe o do seu Serviço
pagam.t0

pela occasião da Conquista de Cayenna, como alcançando-lhe


— 265 —

Licenças, elle ser Cirurgião do N. da Brigada R. da Mar.a,


por

cuja demissão lhe ficou aqui hum Requerim.to


p.a pendente.

Igual conhecim.40 tomou com Felicianno e Anna do Cabo,


por

haver tratado viagem de sua Sobrinha, D. Maria, vinha


pela

com hüa maligna. Ha mais de hum anno, elle daqui sahio,


q.

embarcado na Charrua S. Magnanimo, levava S.4*


João q. p.a

Catharina a Artilheria de cavallo, desta Corte : alli receberão

ordem ir em lastro a Pernambuco a carregar de madeira,


p.a p.a

conduzir ao Arsenal de Lisboa. Segue-se disto a


q., quando

Charrua daqui sahio S.^ Catharina, nem o Cirurgião nem


p.a

eu sabíamos havia de ir a Lisboa, e consequencia não


q. por

eu dar-lhe a incumbência, elle ahi assoalhou. Igual


podia q.

maroteira fez elle em Pernambuco, sabendo alli existem


pois q.

os Pays e família da Sobr.a de Anna do Cabo, e aq.Ia tinha


q.

alli mais irmãs, intentou introduzir-se-lhes em Casa, fingindo

recomendações e incumbências da Filha e da Tia, ignorando

estas a d.a Charrua chegava a Pernambuco, do tudo


q. que

chegarão aqui noticias a ellas, de não Vai agora


q. gostarão.

hüa reflexão m.a : Logo elle chegou a Lisboa, he natural


q. q.

elle continuasse a freqüentar a m.ma antiga familiarid.6 com as

duas meninas, e he m.40 natural ellas lhe


q. perguntassem por

hum Primo &c, tem no Rio de ; e subindo a curiosid.e


q. Janeiro

delle a conhecer os Pays, Tia, e Irmã, e introduzir-se-lhes


querer

em Casa, como em Pernambuco, veio a succeder


quiz praticar

tudo o mais, V. M.ce refere na sua Carta. Á vista disto devo


q.

dizer ; não de incumbir de re-


q. gósto portadores particulares

comendações dadas á tôa, e houvesse de faze-lo, sempre


q.d0

escolheria mais capaz, e com Carta m.a ; cuja falta


pessoa por

desta ultima circunstancia se fazia evid.te logo a tratantice do

indivíduo. Eu aqui o espero. -

Rendo a V. M.ce as devidas noticia do Officio


graças pela
do Guarda Mór da Alfandega do Porto, Bento Gomes Delga-

do Alvo ; mas como não veio Documento algum, lhe fosse


q.
relativo, e authenticasse o essencial do Requerimento, he esse
q.

o maior obstáculo a conferir-se-me a supravivencia dellê, sem

ser Consulta do Conselho da Fazenda de Lisboa, o


por qual,

sciente da l.a Consulta, fez a favor de outro a Re-


já q. já p.a
nuncia do Proprietário, de certo se ha de referir áquella, como

todos costumão : isso tudo leva demoras em idas e


praticar
vindas, álem das delongas do d.° Tribunal, e entretanto he de-

cidida a l.a Consulta, e eu fico olhando o ar. A este res-


p.a
— —
266

desejava V. M.ce me fizesse a de obter do S.r


peito q. graça

Visconde de Santarém hüa Attestação, fizesse certo ter eu


q.

sido mandado o Rio de Ordem Superior, commu-


p.a Jan.ro por

nicada a bem do R. Serviço, e sendo este fim incumbido da


p.a

2.a remessa dos Livros das R. Bibl.as esta Corte ; he factível


p.a

o d.° S.r Visconde a não sem estai^autorizado


q. queira passar,

com o Despacho dos Governadores do Reino isso ; e he essa


p.a

a razão remetto a V. M.ce a minuta de hü Requerim>w


por q.

aos d.os Governadores, servir, no caso de haver aq.la duvida.


p.a

Eu nelle só aq.ies artigos, o d.° S.r Visconde em


peço q. pode
verd.® attestar, e nada me refiro ao ramo scientifico,
por perten-

cer o conhecim.1* desse ramo ao S.r Alex.e Antonio das Neves :

entretanto V. M.ce cortará e emendará na d.a Minuta o lhe


q.

parecer vai feita sem reflexões. Nada


justo, por q. quasi posso
ainda dar em resposta a V. M.ce do me incumbe a respeito
q.

do Cavalheiro Anselmo Corrêa Henriq.68, dahi se ausen-


José q.
tou com o Agostinhaida : Se elle veio esta Corte
poema p.a
com as vistas de Secretario de Estado, ainda aqui não he co-

nhecido, e desenganar-se não faz vantagens com as


pode q.

suas ; álem de estarem os Lugares cheios,


pertenções por q.

o não estivessem, ha outros meninos mais bonitos, cuja


quando

sombra occupa mais terreno. Só me tem chegado a noticia ser

elle mui Principal Menezes dessa S.ta Igr.a,


protegido pelo q.
a todos o inculcar hum raro, e de século.
quer por gênio

Já era aqui sabida a morte do Monsenhor Inspector An-

tonio Pedro Garcia ; e S. A. R. approvou, seg.do me consta, a

escolha do Beneficiado Lúcio de Gouvea, o seu Lugar.


José p.a

O Cirurgião da Camara, Ant.° Martins, de V.


João quem

M.00 deseja saber as maneiras, em nada offerece motivos novos

me occupar delle. Está m.t0 a mas


p.a gordo, q. passa poltrão,

não falta diariamente ao Paço, falla-me e trata-me com m.*®

agrado e familiarid.e : de sua familia nada sei, existe mui


por q.

dist.e de m.a casa, e não me communico com ella, nem tenho

informações.
procurado

Silvestre Pinheiro, no tempo em esteve suspenso de seus


q.

Lugares, occupou-se em ensinar Filosofia hum methodo mui


por

amplo e abrangia todos os seus ramos :


generico, q. julgo q.

suas intenções lhe sahirão mais difficeis na do havia


pratica, q.

concebido, em fim são á Franceza. Tem


por q. proposições
— 267 —

alguns folhetos de suas Prelecções, e não sei


publicado (45),

se ainda continuará, de cuja Collecção remetterei a V. M.ce

hum exemplar, como me recommenda ; e na introducção se

conhece a verd.61 do digo acima. Não sei, se seri erro meu


q.

em dizer Silvestre Pinheiro he daq.les homens, tem a ha-


q. q.

bilid.^ de infundir veneração scientifica ; e inculcando-se Co-

rifêo encyclopedico, hum ouvem suas


grangêa partido, q. pa-

lavras soltas, como vozes de Oráculo. Poucas vezes o tenho

ouvido fallar ; até nisso se misterisar ; na


por q. quer porem

roda, o segue, vem á Livraria, considero fracos


q. q.do quão

.somos, nos arrasta a opinião I O P.e Da-


quando Joaquim

mazo (por elle ser seu Collega Congregado) mo inculca sem-

superior a todos, nos tempos actuaes, em luzes e co-


pre por

nhecimentos ; e eu; ao contrario, vejo nas suas Prelecções


-por
impressas Definições e Theoremas, sua ostentação de
q.
novid.e só me causão riso, ou nojo ; apezar da illustrada Ana-

lise, lhes fazem os Redactores do Investigador Portuguez,


q.

ellevando-as ás nuvens.

Do Monsenhor Machado nada sei de novo, in-


q. possa
formar a V. M.ce, de todo deixei de Não
pois q. procura-lo.
delle, e depois do 1.° anno da m.a residencia
gósto principalm.te
nesta Corte, remetti em outra occasião a V. M.ce a
Já papelada

de Antonio Francisco Monteiro Guimarães, existia em meu


q.

O Requerimento, eu havia mettido a Despacho,


poder. q.
antes de se me de Lx.a a d.a e de cujo
pouco pedir papelada,
empenho (por esse. nada civil) fui obrigado a
procedimento

abrir mão, sahio dahi a indeferido. Remetto ao esque-


pouco
cim.t0 as despezas, fiz ; sou mais brioso e honrado, do
q. por q.
elle : sinto não serem as m.a8 cumpridas
q. porem promessas
com aq.les, a havia incumbido o negocio, munido com as
p.a q.m

Cartas de V. M.00, me affiançavão o seu e anteci-


q. prompto

pado desempenho. Pode elle desenganar-se, não tem


q. quem
merecim.108, se colher, ha de semear ; aliás, he vox cia-
quizer

mantis in deserto.

(45) Prelecções philosophicas sobre a theória do discurso e da linguagem, a


esthéticfí. a diceósgna, e a cosmologia. — Rio de na Impressão Regia, 1813,"
Janeiro,
:n 4.n. — E' dividida em duas e compreende trinta A obra não ficou
partes preleções.
concluída, e posto que começada em 1813, ainda em 1816 saiu a 23." preleção, em 1818
da 26.® à 29.° e em 1820 apareceu a 30." e última impressa. À medida que eram publi-
cadas em fascículos, as Prelecções eram anunciadas nos Auísos da Gazeta
philosophicas
do ao 120 a 800 réis, à venda nas Lojas da
Rio de Janeiro preço que regulava de
Gazeta e de Francisco Luiz Saturnino.
— 268 —

Causou notável sentimento a noticia, V. M.ce me dá, da


q.

\riste situação do Tio Major, Luiz Fernandes : as alter-


Joaq.m

nativas da sua vida, he de espantar lhe tenhão


q. permittido

chegar áq.la avançada idade. Admiro-me a Prima D. Maria,


q.

attendendo ás suas circunstancias, não deixão de ser melin-


q.

drosas, se affoute a viver do modo, V. M.ce me refere, sem


q.

ao menos o auxilio e abrigo de algum


procurar parente.

Fico sciente do me diz a respeito das Tias Leocadia e


q.

Margarida, assim como dos Primos Mathildes, Pulcheria e Por-

firio, decerto havião de achar difficuld.68 extremas em


q. passar

illesaa de insultos da nossa Tropa essas estradas e esta-


por

lagens do caminho, ainda cheirando a defuntos ! Nosso Se-

nhor as abençoe com as suas mãos de e habilid.e.


primor

Devo dar a V. M.ce os agradecimentos remessa dos


pela

e livrescos curiosos, cuja lista foi remittida em


papelinhos já

outra m.a Cartinha anteced.1®. O Sermão, traduzido do Hes-

ha m.10 aqui se vende, mas eu ainda o não havia visto.


panhol, q.

No Investigador Portuguez tenho lido m.tas Memórias e


pró

contra as Companhias do Algarve e Porto, cujas tem


questões

feito hoje muito celebres ; e felizm.te ainda não tinha lido as

duas, V. M.ce me enviou (obra de mestre), apezar de saber


q. já

existião. A Dedicatória e a Recapitulação do Poema dos


q.

Burros de Agostinho merecem no meu conceito hü lugar


José

distincto, apezar do seu bregeiral e immundo objecto (46).

He o mais se dizer em tão e no


q. pode poucas palavras,
ramo da maledicencia he até onde chegar o desaforo. O
pode
homem não só se faz celebre suas virtudes ; e nos nossos
por
tempos temos viciosos mais acrédores ao nosso espanto. He

a sua lhe offusque os seus talentos, não


pena q. presumpção q.
negar-se-lhe ; e elle elevar-se aos
podem quando pertende
outros ostentação do seu Ministério, caia na baixesa de
pela

em Por causa do tratante Cap.am de


questionar puerilid.68.

Navio, Desiderio Manoel da Costa, fiquei sem ver o Poema dos

Burros, V. M.oe affirma então me enviára.


q.
Parece-me não he extensa a Cartinha, e V. M.06
q. pouco
tem em a. entreter-se hüa boa hora. Por este m.mo motivo me

desculpará de nãò escrever agora á Mãy, tenho razão


por q.

• Os —
(46) Burros, ou o Reinado da Sandice, heróico-satirice. José
poema
Agostinho de Macedo o compôs primeiro em quatro cantos, em 1812, acrescentando
mais dois intercalados e 5.°), em 1814. — A
(4.° primeira edição foi feita ainda em
vida do autor, Paris, 1827. — E' uma virulenta sátira, uma monstruosidade moral e
literária contra seus colegas na Arcádia, — definiu Mendes dos Remédios, História da

Literatura Portuguesa, ps. 466, Coimbra. 1914.


de estar cançado ; mas sempre advirto haver escripto
já por

duas vezes, depois recebi as ultimas da Mãy e Mana, e


q.e por

isso não dizer estão á espera de resposta, ha


podem q. por q.

m.10 a terão recebido. Sou com todo o respeito


De V. M.ce

Filho m.10 obed.e e C.

Luiz dos S.10® Marrocos


Joaq.m

P. S.

Agora me affirmão S. A. R. mandou augmentar as


q.

Ajudas de Custo aos Criados, q, a acompanhão.

2.° P. S. Fui obrigado a fazer essa resposta m.mo6


pelos

consoantes ao Tio Cónego, Manoel Antonio Marrocos ; por

não tendo respondido a duas Cartas m.as de attenção e ci-


q.

vilid.e, agora desabafa com essa Carta de recomendação de

fabrica nova. Não sei se faço bem em responder assim ; mas

todo o homem tem direito a não consentir


persuado-me q. que

seja bigodeado outro, apezar da superioridad.e da sua


por ge-

rarquia. Se não for do seu agrado, rasgar a d.a m.a


queira

Carta, se fôr, fecha-la, e deita-la no Correio


porem queira p.a

Braga, remettendo-se ao depois a do Tio, he digna de con-


q.

servar-se.

3.° P. S. Anna não deixa occasião de eu sicjni-


perder q.

fique a V. M.06, á Mãy, Maila, e Tia, os seus votos sinceros

do seu affecto, humiliação e respeito, certificando-lhe o seu vivo

desejo e de cumprir os seus ; e lhe agradece as


gosto preceitos

suas recomendações com todo o reconhecimento.

(Junto a esta carta, encontra-se um com o se-


papel

:)
guinte

No dia 14 de de 1816 sahirão S.ta Catharina,


Janeiro para

carregadas com os Corpos de Artilharia e Cavalleria dos Vo-

luntarios Reaes do Príncipe ; as Embarcações seguintes :


— —
270

Fragata Graça

D.a Príncipe D. Pedro

Charrua V oador

Brigue Lebre

D.° Providente

D.° Atrevido (47)

CARTA N.° 99

Rio de 30 de
Jan.1,0

Março de 1816.

Meu Pay e S.r do C. Haverá mais


prezadissimo pouco

de hum mez escrevi a V. M.ce a ma ultima, assás extensa,


q.

em fazia menção da moléstia de S. Mag.e, a S.ra D. Maria


q.

Ia totalmente desesperada dos Facultativos : agora cumpro

o triste dever de communicar a V. M.** aquelle fatal aconte-

cimento, se temia, e a cada hora se esperava (48). As Ga-


q.

zetas inclusas darão a V. M.ce hüa idéa succinta (ainda de


q.

mais) das suas honras fúnebres ; a mim faltão-me expres-


q.

sõés descreve-las com acerto.


p.a

(47) Das Notícias Marítimas da Gazeta do Rio de Janeiro, de 17 de Janeiro


"Sahidas
de 1816 : do dia 14 — Para Santa Catharina : Fragata Graça, Comman-
dante o Capitão de Mar e Guerra Francisco Antonio da Silva Pacheco; fragata
Príncipe Dom Pedro, Fragata Tristão Pio dos -Santos ;
Commandante o Capitão de
charrúa Voador, Commandante o Capitão de Fragata João Affonsc Neto; Brigue
Lebre, Commandante o Capitão de Fragata Antonio Maria Furtado de Mendonça ;
Brigue Providente, Commandante o 2." Tenente José da Costa Couto; Brigue Atre-
vido, Cotnmandante o Capitão Tenente João Antonio dos Santos."

(48) "A Rainha Fidelissima, a Senhora D. Maria I., falleceu das conse-

quencias de huma extrema debilidade, em o dia 20 do corrente pelas 11 horas e hum

quarto da manhã, com 81 annos, 3 mezes e 3 dias de idade.


"Esta
Augusta Soberana, que parecia somente sustentar o Sceptro, que cm-

punhãrão as Mafaldas e as Isabeis, para imitar suas virtudes, será sempre numerada
nas paginas da Historia como o epílogo de todas as excellentes qualidades, que em
diversas épocas tem honrado os Thronos. Podemos com ufania gabar-nos de haver-
mos sido huma Mãi carinhosa, que procurava desvelada a prospe-
governados por
ridade de seus filhos, e que teve a fortuna de consegui-la em hum reinado prudente
leme do Governo
e dilatado. Se attentamos á profunda sabedoria, com que meneou o
entre as horríveis convulsões, que abalavão a Europa ; se admiramos a constancia,

com apezar dos annos e das enfermidades se expoz ás fúrias dos ventos, e aos con-
que
tinuos perigos do mar. se finalmente nos edifica a exemplar paciência, exercida com
tantos annos de soffrimento; estes poderosos motivos nos dão a plena confiança
— 271 —

No dia 21 sahio o Bando do Senado, o luto


publicando

espaço de hum ano, seis mezes rigoroso, e seis ali-


geral por

viado : e no dia 27 se a Ceremonia do Que~


praticou publica

bra-escudos Senado, em se fizerão e inde>-


pelo q. porcarias

cencias. EIRey N. S.r está na maior desolação de


possível

magoa e de saudade : o comer, e ainda em


perdeo persiste

continuo Em razão de sua saúde não houve hum


pranto.

mez de nojo, elle desejava, mas só 8 dias : e hontem,


q. q.

Ia vez sahio fóra, se dirigio manhã á Igreja da Ajuda


pela pela

a ouvir Missa, e lançar agua benta ao tumulo de S. Mag.e, q.

D.s haja. Em razão do clima dispensou as meias de seda em

luto rigoroso ; e logo ao havia dispensado o rigor


principio

da Pragmatica de 1746 a
quanto pessoas pobres.
Dizem-me a Acclamação deve ter lugar tres mezes
q.

depois do fallecimento de S. Mag.e D.s haja, cujo Acto


q.

será de hum Creio nãò o


publico prazer geral. q. presen-
ciarei, como me succedeo no dia do enterro e nas duas

"dias
sahidas do Senado dos 21 e 27, o trabalho, de
por q. q.
me incumbirão, não me deixa resfolegar ; e apenas tive 15

dias de descanço do antecedente.

Rompeo-se o véo, encobria o mistério. As S.res


q.
Infantas D. M.a Isabel e D. M.a Fran.®8 cazarão-se em Hes-

panha no dia 4 de Novembro do anno ; e na Fragata


passado

He que o Justo Juiz. pondo termo á carreira dos seus padecimentos, a chamou para
resíítuir-Jhe a coroa de justiça, em prêmio de huma Juta tão continuada. Se nos não
incumbe o árduo empreçro de recordarmos a Sua Piedade, Resignação, e
Justiça,
todas virtudes, que habitavão ao Seu Real Coração
as outras (o que todavia fariamos
do melhor
grado), o nosso silencio será supprido pelos monumentos, que transmittirão
á Posteridade o seu Illustre Nome.
"O
Ceo, que derramou liberalmente sobre Sua Magestade tantas benções, não
podia negar-lhe o dote mais precioso, hum Filho Sábio, a alegria
que faz de seus
Pais. Para amaciar a nossa dor, alias inconsolavel, reparar huma tão
para perda
sensivel. a Providencia nos enriqueceu com hum Digno Successor, seguindo as
que
pégadas da Melhor das Mãis.
primeiro que o Throno dos herdou Affonsos e Dinizes
a imitação das suas
Tantos sublimes
annos de huma experiencia-afor-
qualidades.
tunada. as doçuras de hum Governo
paternal. que havemos constantemente saboreado,
são os únicos motivos, que podem mitigar a nossa amarga saudade, affiançando-nos
os bens. de que temos gozado, ainda no centro das calamidades das outras nações.
Emquanto as angustias, que rasgão o Seu Maqnanimo Coração se manifestão pelas
mais expressivas demonstrações do amor filial mais fino, e mais bem merecido, fôra
temeridade lembrar aquellas mesmas virtudes, que avivarião a sua dor pela falta do
Seu Augusto Exemplar. Portanto, suspendendo a nossa deixamos ã magoa
penna,
e á saudade dos Portugueses hum mudo, porém o mais eloqüente elogio, que a lisonja
não mareia, e que os tempos não podem apagar.
"Apenas
se divulgou a infausta noticia, fechárão-se as Secretarias, e Tribunaes,
e começarão as demonstrações de luto, atirando as fortalezas e navios do porto de
dez em dez minutos, e estando effectivamente a meio páo as bandeiras das ditas."
— Gazeta do Rio de Janeiro, de 23 de Março de 1816. Na Gazeta de 27 de Março,
vem a descrição minuciosa das honras fúnebres tributadas â Rainha D. Maria I.
— 272 —

Benjamim, daqui sahio ha mezes, forão as Procurações


q.

competentes : a sua está disferida depois da Ac-


partida pa
clamação de S. Mag.e, a hão de assistir, e cujo fim estão
q. pa

promptas as embarcações. Affirma-se mais com certeza,

estarem cazarem mais duas Infantas, a saber : a


justas para
S.1* D. Isabel Maria com o Duque de Berry, em França, e

a S.ra D. Maria d Assumpção com o filho d'ElRey de Napo-

les : alguns mudão, dizendo ser este ultimo a S.ra Prin-


pa
ceza D. Maria Thereza, sem embargo de sua viuvez, e seu

Filho, o S.r Infante D. Sebastião, estar a ser resti-


proximo
tuido á Casa ; lhe compete em Hespanha.
q.
Agora está entrando o Comboy, traz a ultima Tropa
q.
de Lisboa me dizem ser de 10 Embarcações ; e todos
(49), q.
esperão elles se tão bem, como os outros. Foi
que portem
admiravel o com se mandou vir este soccorro
pretexto, q.
do Nosso Exercito de Portugal, todos ser o
q. julgavão
destino da do Sul; mas tudo foi urdido em segredo
guerra

causa dos Inglezes. O destino verdadeiro me


por (seg.do
tem chegado á idéa) de toda esta Tropa he e for-
guarnecer
tificar magistralm.te a nossa Ilha de S.^ Catharina,
q. por
sua situação vantajosa, e mais circunst.®5 há muito
grandeza
tem sido o fixo das da Inglaterra, em
q. ponto pertensões
da sua ; terem neste lugar do Mundo tam~
questão posse pa

bem seu de terra extenderem e conservarem


palmo pa perpe-
tuam.te o seu Commercio, e talvez outros fins, eu
pa q.
ignoro. A do nosso Ministério neste tem sido
política ponto
assás sublime, assim como o foi com o Casamento das S.raa

Infantas.

Não tenho mais ora, em me alargar. Desejo a


por q.
V. M.ce, Mãy, Mana, e Tia, saúde mperfeita, recebendo de

Anna iguaes expressões e sentim,*08: e sou com todo o respeito

De V. M.ce

Filho M.t0 obed.e e obg.°

Luiz dos Santos Marrocos


Joaq.m

(49) Quinta_feirn 4 do corrente, desembarcárão as tropas, ultimamente che-


gadas de LísHoe, tendo á sua testa o Illustrissimo e Excellentissimo Tenente General
Carlos Frederico Lecor, accompanhado do seu Estado Maior Pessoal, e dos perten-
centes ao Quartel Mestre General: marcharão em columnas tendo a
por pelotões,
primeira Brigada á sua frente o Brigadeiro Jorge de Avillez, e a segunda o Brigadeiro
Pizarro. com seus Ajudantes de Campo : forão-se mettendo em linha de batalha, e
formarão em esquadria pelo terreno assim o Feitas as continências a Suas
permittir.
Magestades e AA. RR., mandou o Excellentissimo Tenente General metter em co-
— —
273

CARTA N. 100

Rio de 18 de
Jan.ro

Abril de 1816.

Meu Pay e S.r do C. Depois recebi


prezadissimo q.
a ultima Carta de V. M,ce, tenho escripto duas ; hüa mui

breve, outra mui longa, apezar de serem de data antiga,
q.

creio irão ha dias no Navio Rectidão, o Io


q. poucos q.
desafferra deste depois do fallecimento da S.ra D. M.a
porto
Ia Deos haja ; e he isso não será o Io a levar
q. por q. julgo

essa triste noticia a Lx.a, onde chegará Embar-


primeiro por
cações Inglezas, ou inda m.mo outras dos diversos
por portos
deste Reino. Esperava receber Carta de V. M.66 estes
por
Navios, aqui chegarão carregados de Tropa no dia 3Q
q.

de Março, e de certo me espantou V. M.06 não se lembrasse


q.
de mim em occasião tão opportuna, ninguém deixaria
quando

talvez de escrever os seus e amigos aqui residen-


pa parentes

tes, como se observou no extraordinário rendi-


geralmente

mento do Correio.

A mudança de estação tem sido funesta


presente pelas
moléstias tem attacado os habitantes, especial-
q. geralmente
mente mortes repentinas, e damnação de o horro-
pessoas, q.
risa. repetidos acontecim.tos destes, chegando a tal ex-
pelos

cesso só n hum dia morrerão no Hospital 7 homens


q.

damnados.

No dia 24 do mez se ha de fazer na Capella


presente

Real o Officio Alma de S. Mag.e, D.s haja,


grande por q.
com a maior cuidando-se ha m.108 dias no
pompa possível,

arranjamento do mausoléo e armações de dia e de noute, e

trabalhando effectivam.te nessa obra mais de 200


pessoas.

lumna, unir, e passárão as tropas em continência por defronte das janellas, em que
estavão SS. MM. e voltarão aos seus lugares. Mandou então o dito tirar barretinas,
e chapeos. e disse tres vezes : Viva El Rei ; o que foi repetido por toda a tropa,
que logo depois embarcou, passando os Generaes e Officiaes a terem a honra de beijar
a Mão He S. M.
"Tudo
isto se executou na melhor ordem, accompanhado de excellente musica ;
e as tropas Portuguezas mostrárão pelo seu ar marcial que erão os illustres vencedo-.
res da Península." — Gazeta do Rio de Janeiro, de 6 de Abril de 1816.
— 274 —

As Inscripções Latinas, hão de ornar a Igreja e o d°


q.

mausoléo, são feitas Fr. Antonio d'Arrabida; obra


por

muito e ridícula, não com a mão, os seus


porca q. quadra q.

P.0S tanto divinizar : merece !


querem palmatória

He falsa a noticia, communiquei a V. M.ce na ma


q.

ultima, do casamento da filha de Egidio com o Nego-


José

ciante Comendador Luiz de Sousa Dias : he verd.e o


q.

negocio estava ajustado e a effeituar-se, havendo o d°


quasi

Dias dispendido cabedal até com o preparo do enxoval


grd.e

da menina em França ; mas não sei o houve de mais


que

e occulto, e só o dizer-se he de repente


particular q. pode q.

o d° Dias desfez o ajuste, e mandou-a á tabúa.

Pelas Gazetas inclusas verá V. M.ce como foi a entrada

e recebimento da nossa Tropa, a todos os Brazileiros fez


q.
a maior espectação, nunca terem visto Caçadores, nem
por

a sua differente disciplina. A sua viagem foi muito feliz,

e só 3 homens, isto he, dous de febres, e hum


perderão q.

cahio de noute bêbado ao mar : o me foi communicado


q.
Auditor da Divisão, Antonio Gerardo Curado de Mene-
pelo

zes, aqui tem contrahido amizade comigo. Achão-se


q.

aquartelados no m.mo Sitio da Praia Grande onde estiverão

alojados os e crê-se aqui até depois


primeiros, q. persistirão

da Acclamação de S. Mag.e o S.r D. VI, talvez será


João q.

no dia 24 de ; e elles isso farão o dia mais brilhante.


Junho por

Mandarão-se com brevidade algüas embarcações de


preparar

devem sahir pa Lisboa, dizem, a buscar outra


guerra, q.

Divisão de 6 mil homens, são aqui necessários


q. para guar-

nição de alguns Lugares mais importantes deste Reino.

Conclui ha dias outra traducção Franceza, mais


pequena
a de hüa interessante Obra de Gymnastica Me-
q. prim.ra,

dicinal, como verá do incluso ; ainda não


papelinho porem

a a limpo, me achar entretido com a revisão da


passei por

Corografia Brazilica, se está imprimindo, e he feita (2


q.

tomos de 4.°) hum Clérigo meu amigo, e m.t0 instruído


por

neste ramo de sua applicação. Estou ao mesmo tempo for-

mando hum, como Diccionario, ou Lista dos termos Brazilicos

actuaes, e servem de objecto notável na da obra, o ha


q. q.
de ser addicionado no fim, como eu vejo em m.1133 obras,
por

exemplo, a Vida de D. de Castro.


João

Desejo muito V. M.00 de saúde, e


que goze perfeita

igualmente a Mãy, Mana e Tia, a me offereço m.to


quem
— 275 —

affectuoso, recebendo de Anna iguaes demonstrações e sen-

timentos : e tendo a satisfação de receber a sua benção e da

Mãy, me igualm.te de ser com todo o respeito


prézo

De V. M.oe

Filho m.tw obed.6 e obg.do C.

Luiz dos S.tos Marrocos


Joaquim

a esta carta, encontra-se um com o se-


(Junto papel

guinte:)
Tractado

da Gymnastica Medicinal

extrahido

do Tractado d'Hygiene Appli-

cada á Therapeutica B.
por J.

G. Barbier, Doutor em Mediei-

na

&c. &c. 6c.

Publicado em Paris no anno de

1811 (50).

CARTA N.o 101

Rio de 22 de
Janeiro

Maio de 1816.

Meu Pay e S.r do C. Com as datas de 19


prezadissimo

de e 13 de Fevereiro tive o de receber duas


Janeiro gosto

Cartinhas de V. M.06 aqui chegadas com dias de in-


poucos

tervalo de hüa a outra ; a vou responder, não fazendo


que já

menção de outras antecedentes daqui tenho di-


próximas, q.

rigido a V. M.ce, e de espero a sua resposta : A Ia das


que

suas Cartas incluia hum Requerim.to do P.e Francisco Pimenta

do Carmo e hüa Carta o P.e Eloy, dizia acompanhar


p.1 José q.

(50) Barbier G.) — Traitê d'Hggiène appliquè à la Therapeutique.


(J-B. '2
Paris, MéquignoQ-Marvis, 1811, .— vols. ia-8.®.
O trabalho de Santos Marrocos não foi impresso.
— 276 —

outro idêntico Requerimento : esta foi logo entregue, segundo

a sua recomendação, m.mo na Capella R., e o d° P.e Eloy


José

tem e teve mil objecções acceitar o d° Requerim.t0 não só


pa

não conhecer o Clérigo, de elle não dar a


por quem, podia

S. Mag.e informação algüa, mas estava escandali-


por q. já

sado de outros muitos, tinha aqui e em conse-


q. protegido;

havia não se incumbir, se não dos Papeis


quencia protestado

remettidos Expediente relativos ao serviço da Igreja,


pelo

e mais nada : Ponhamos de as rabuges da velhice,


parte q.
não lhe são extranhas na verd.e, mas devo dizer em
já q.

tem razão no falia e nisto seria eu m.to


p.te q. geralm.te,

extenso em dar os motivos, não são este lugar. Em fim


q. pa
- será o d° Requerimento mettido a Despacho, mas he natural

ahi tórne a informar : o outro veio remettido a mim,


q. q.

só servir no caso de aquelle, o não he


pode perder-se q. pro-

vavel, e nem he duplicarem-se Requerim.*08 na Secre-


preciso

taria de Estado.

O objecto da 2a Carta de V. M.00 he relativo


principal

á Mercê de S. Mag.e, conferindo-lhe a Insígnia da Ordem

Militar de Christo, a sua repugnancia em


participando-me

acceita-la, e traze-la, 3 razões, Ia aborrecer a da In-


por por

signia hoje tanto, d'antes a ; 2a


quanto prezava por querer

com ella ornar hum futuro esposo da Mana ; 3a haver


por

necessid.e de Dispensa, completos os 60 annos da sua idade.

Respondendo com brevidade, ao Io, digo christãmente:


quanto
mais vil e indigno seja o em se ache
por q. peito, q. pen-

dente aq.a Insígnia ; a Ordem não nisso receber vili-


pode

algum, ser em si essencialm.te veneravel, antes


pendio por pelo

contrario honra e distingue aquelles, são a ella admittidos ;


q.

mui respeitável seria aquella Ordem Religiosa, cuja


pouco

distincção natural e dependesse da dos


primitiva qualidade
indivíduos, a compuzessem ! Politicamente accrescento ;
que

a idéa dos merecimentos he mui relativa e vária ;


pessoaes

ser applicada a todo o objecto dependente da indus-


pois pode

tria, talento e de segundo a sua


gênio qualquer pessoa, pro-

fissão : álem disto, se a Ordem tem condecorado a muitos

máos, deixará de condecorar aos benemeritos ? Ou o mere-

cimento destes ficará obscurecido com a indignidade da-

?
quelles

Ponderando a 2a reflexão, não a admissível ;


julgo por

Mercês daq.a são muito difficultosas, e raras no


q. qualidade

tempo ; e se vamos a discorrer por outro modo, digo,


presente
— 277 —

V. M.0*3 não deve concorrer a infelicid.e da Mana,


q. pa jul-

lhe faz benefícios ; ser certíssimo


gando q. por q. quantas

maiores honras e tem a mulher communicar a


privilégios pa

seu futuro marido, mais triste e errada he a sua es-


quanto

colha : não nos afoguemos em agoa tão ; e melhor


pouca

será ao depois sobre o facto, do entreter as nossas


julgar que

imaginações, realizar hú ente


querendo quimerico.

Quanto ao 3o há da sua hum engano mani-


ponto, parte

festo; de toda a idade se ser Cavalleiro da


pois q. pode

Ordem de Christo ; aliás, seria necessário Certidão


juntar-se

de idade ao Requerimento da Mercê, e nesse caso o Soberano

não condecorar a hum Vassallo, maiores fos-


poderia por q.

sem os seus merecimentos, e logo fosse sexagenario, o


q. q.
he hum : Distingo a da Dispensa he só
paradoxo porem, q.
necessária aq.les, tendo 60 annos de idade,
pa que já perten-

dem e na Ordem, os não são


professar fazer progressos quaes
admittidos sem Dispensa de idade.

Apezar destas minhas reflexões, não intento oppôr-me á

sua vontade, hüa vez V. M.ce se me declara violentado


que
e constrangido a uzar da Insígnia, nem devo escandalizar-me

essa repulsa, basta a razão de V. M,** não requerer


por pois

aq.*0. Mercê, mas sim eu dos meus attenua-


por gloria passos

dos e fracos, e mS* mais honra e minha, na ex-


por gratidão

tincção das calumnias e intrigas antigas. Agradeci, como

a S. Mag.e a Mercê, me fez, com essa demonstração


pude, q.
da Sua Bondade ; communiquei a V. M.ce» como devia, quan-

to interessava a hum e a outro ; o resto está sujeito á sua de-

cisão, neste caso nada mais me


por q. pertence.

A respeito dos Papeis do Negociante do Porto, em


q.

V. M.^ nesta sua ultima me falia, eu logo respondi a V. M.ce

com a remessa dos d.*5 Papeis, como V. M.06 me ordenava,

isto he ; eu recebi duas Cópias em Pública Fôrma daq.les

Documentos, e hüa d.a de certo Titulo de Monteiro Mór de

tal : esta, e hüa daq.^ Cópias forão ultimam.1® mettidas a

Despacho mim, cançado de esperar é de ser enganado ;


por já

com a ordem da arrebatada remessa dos referidos


porem

Documentos, ahi haver melhor arranjo de negocio, enviei


por

a V. M.00 a outra Cópia, existia em meu~"poder,


q. (pois q.
a Ia nunca sahe da Secret.a de Estado, ordem es-
jámais por

tabelecida todo o Documento em Pública Fôrma), e dirigi


pa

logo os meus a declarar a ma demissão de semelhante


passos

a dahi a dias sahio indeferida. Agora


pertensão, qual poucos
— —
278

V. M.ce falia em dinheiro depositado, devo dizer


q. q. quando

ha esses ajustes, sempre o dinheiro está á vista do agente do

negocio, e depositado a seu e satisfação, e não na dis-


gosto
tancia de 700 legoas, e em mão nunca declarada ; por q.

as aq.le fim, não tinhão obrigação de


pessoas, q. procurei pa

acreditar as m.as contra o estilo, nem eu na ma


promessas

vida dar em deixe de honrado,


quero passo, q. parecer por

sei o he o Mundo e as suas tramas. Eu e Anna


q. já q.

aproveitamos esta occasião de expressar á V. M.ce os nossos

sentimentos fervorosos na da sua boa saúde, e da


posse

Mãy, com a continuação de suas bênçãos ; e nos recomen-

damos não menos a Mana e Tia, na certeza de nosso cordial

affecto. Sou

De V. M.06

Filho m.to obed.® e obg.do C.

Luiz Joaquim dos Santos Marrocos

CARTA N.o 102

Rio de 25 de
Jan.ro

Maio de 1816.

Minha Mana do C. Eu devia esta Carta


principiar

contando-te huma historia daquellas, com se adormentão


q.

as crianças, visto tem dado em historia o teu cuidado ao


q.

menos em responder ás minhas Cartas ; nem a mim


porem

me lembrão esses contos, nem te considero em idade,


já pa

elles sejão applicaveis ; e alem disto em nenhum de nós


q.

ha de contar e ouvir : todas estas se en-


paxorra prelengas

cerrão em duas vem a saber ; as tuas noti-


palavras, q. q.

cias custão muito aqui a chegar.

Estimo muito tenhas saúde, ahi


q. gozado perfeita q.

he mais de esperar, do neste desterro, onde de continuo


q.

ando tremendo ; felizmente tenho excepto


porem passado

algüa refrega de em a as nossas velhas


quando quando, q.
— 279 —

chamão macacôas. Anna me a recomende a todos de


pede

casa, e ainda está esperando noticia de se haverem recebido

ahi as suas Cartas. Vai-se approximando o tempo, que ella

está temendo, e de antecipadam.te tem os in~


q. já padecido

commodos do costume. Sou Deveras

Teu Mano do C.

Luiz

P. S.

Recomendações áq.Ias com conservarem


pessoas q.m

amizade.

CARTA N.° 103

ade
Rio 28
Jan.ro

de Maio de 1816.

Meu Pay e S.r do C. Com data de 22


prezadissimo

deste mesmo mez comecei a responder ás duas Cartas,


que

de V. Mrecebi, datadas de 19 de e 13 de Feve-


Janeiro

reiro ; e agora se offerece occasião de sahida próxima


q.

de Navio, não deixo de continuar com aquelles artigos,


q.

tinha a dizer, e não tive tempo naq.la ma anteced.e Carta,


pa q.

Até agora ainda he aqui desconhecido aq.le sugeito das

Ilhas, em V. M.ce me faliou em hüa Carta mais antiga,


quem
o se chama Anselmo Corrêa Henriques, e dahi
qual José q.

sahio com hum Papel seu, relativo ao P,e Agostinho.


José

Tenho feito as diligencias, e á vista dellas até chego


possíveis

a duvidar elle se haja transferido esta Corte :


q. p.a queira

V. M.ce indagar ahi, se lhe for cómmodo, o nome ou


quali-

dade da elle aqui dirigir-se fim


pessoa, pa q.m pertendia pelo

de sua residencia, ou inda m.mo algum se os tiver


parente,

aqui, ou amigo de mais nomeada ou conhecimento, &c. &c.

Isto creio se ahi obter de algua de sua casa ;


poderá pessoa

sem esses soccorros me mui difficil descobri-lo.


pois parece

Todavia continuarei nas m.as diligencias, e logo appareça,


q.

darei
parte.
— 280 —

A respeito de V. M.ce dizer-me ainda não tinha rece-


q.

bido a ma Carta, hia Segura com as Portarias, ter


q. por

chegado ahi a Fragata Benjamim sem Mallas ; devo dizer,

segurei a ma Carta no Correio, segundo me lem-


que quando

bro, ou não havia outro Navio a sahir Lisboa, senão a


pa

da Fragata, ou era ella a Prima a sahir, motivo a es-


por que

colhi o fim de levar a ma Carta segura. Espalhou-se de-


pa

a vóz de ella hia em direitura a Cadix, o na reali-


pois q. q.

dade aconteceria, se aq.Ie não se offerecesse a sahida


pa porto

mais e mais cómmoda de hum Navio Hespanhol,


próxima q.

foi em seu lugar com Officios do Vigodet e do celebre Fr.

Ciryllo. Á vista disto creio como se havia Ordem


q., passado

a ja Fragata não levar mallas, em razão de sua commissão,


pa

ficou existindo a m.ma Ordem em seu vigor, e sahio ella só

com a malla do Expediente. Porem nada disso me assustou,

apezar de não ter removido o Seguro da ma Carta outro


pa

Navio, ser hüa inalteravel no Correio, nestes ca-


por pratica

sos, enviarem-se as Cartas seguras no immediato Navio a

sahir o m.mo ; no estão de acordo os Administra-


pa porto q.

dores do Correio de cá e de lá, valendo as m."1^ Cautelas,


por

assim estar advertido entre elles.

S. Mag.e.e toda a Família R. se achão ha hum mez no

Sitio de S. Domingos, distante do Sitio da Praia Gran-


pouco

de, assim como ahi he o Sitio da Mouta, álem do rio ; tem

havido repetidos exercícios dos Caçadores, aqui chegarão


q.

do Exercito de Portugal, representando-se aquellas batalhas,

em se tem feito famosos. Tem recebido muitas honras,


que

e elles se tem muito bem, de sorte tem merecido


portado q.

o agazalho de todos. Esta semana tornão a embarcar todos,

e se dirigem a desembarcar em Maldonado, a fim de attaca-

rem com vigor aos Hespanhóes do Rio da Prata, tem


q. já

as nossas fronteiras, e tem feito estragos nos nossos


passado

Militares. Neste Arsenal se tem feito hüa


prim.ros postos

infinidade de de elles levarem, como são,


petrechos guerra pa

escadas, machados, forquilhas, ôc. Logo elles saião, sahe


q.

também o Marechal Beresford Lisboa, com as Ordens


pa

competentes ahi organizar outra Divisão de 6:000 homens,


pa

e dizem são destinados das duas Cid.68


q. pa guarnição prin-

cipaes, Rio de e Bahia ; a Tropa daqui he


Janeiro pois q.

Tropa de Theatro.

O embarque das duas Noivas está segundo


proximo,

consta ; aqui derão beija-mão aos Hespanhóes no dia 19



— 281 —

e hão de levar muitos Criados Hespanha : não se me daria


pa
acompanha-las, se me mandassem, e talvez alli me corres-
q.
se melhor a fortuna.

Dizem-me a Acclamação não se faz ainda, sem che-


q.
as DeputaçÕes dos Reinos de Portugal e Algarves, em
garem

razão de não haver dos Tres-Estados : não sei se isto


Junta
he supprimento de Cortes, mas hum muito
parece-me passo
acertado, não haverem ao depois não ser
para questões, por
feita a Acclamação na Sede da Monarquia : e não se
por q.
fará lá ? Dicant Paduani.

Causou aqui sentimento a noticia dos dous tremores de

terra ultimamente em Lisboa, assim como a noticia


padecidos
de alguns incêndios,, entre estes hum maior todos em hüa
q.
Carvoaria da Boa Vista, durou 10 dias. Não sei se será
q.
verd.6, são noticias vem avulsas nos Navios, dahi
pois q. q.
chegão, e dizer o
q. podem q. quizerem.

Já aqui sabia também da morte de hum filho do Vis-

conde de Santarém ; e he faltasse hü moço de tão


pena q.
boas e esperanças. O mais velho, aqui existe,
qualid.es q.
Manoel Francisco, he hum moço assás louvável seu es-
pelo
tudo e applicação sendo dos frequentão a Li-
profunda, q.
vraria com a maior curiosidade e interesse litterario.

Estimarei summam.te V. M.06 continúe a saúde


q. gozar

perfeita, como sincera e devidam.^ lhe appeteço, e esperando

o favor de sua benção, repito os de ser


protestos

De V. M.06

Filho m.t0 obed. e C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaq.m

CARTA N.° 104

Rio de 10 de
Jan.ro

Julho de 1816.

Meu Pay e S.r do C. A ultima tive a


prezadissimo q.
honra de receber de V. M.ce, foi datada de 11 de Fevereiro,

e logo respondi a ella em duas successivas, com o accrescimo


— 282 —

das novidades, então corrião e communicar-se :


q. q. podião

desde então não tenho sido favorecido com algüa outra Car-

tinha, dos Navios, aqui tem


por qualquer q. posteriorm.te

chegado : e neste respeito he muito maior a divida


para

comigo da Mãy e Mana, ha muito não respondem ás mi-


q.

nhas assás repetidas : todavia não he eu exija couza


justo q.

de tanto trabalho, na verdade assim deve considerar-se


q.

ha outros objectos de maior importancia, occupão a


q.d0 q.

sua attenção : contento-me só não seja nunca a falta de


q.

saúde a causa deste silencio, a desejo tão


pois q. geralm.te

vigorosa e como a mim servindo-me assim


perfeita, proprio,

de summa satisfação. Esta não me tem sido favora-


quadra

vel, e tem a todos de ma casa ; a mim com o


palpado quasi

flagello de hemorrhoydas, neste Paiz são mais activas do


q.

em Portugal ; Anna, está no 8o de sua não


q. q. prenhez,

soffre menos com a sua situação ; e de resto me morrerão

dous negros, ambos de bexigas, apezar de serem ainda


q.

novos, me fazião interesse: não ha remedio, senão con-


solar-me com estes Deos me depara, em sima de


golpes, q.

outros hei soffrido ! Largarei a face do triste, referir


q. pa

a V. M.ce as novidades mais importantes, ora me occorre-


q.

rem, e de me não terá V. M.ce noticia outra via.


q. parece por

Havendo S. S. Mag.es e Altezas assistido mais de hum

mez no Sitio de S. Domingos na Praya Grande


pa presen-

ciarem os exercícios da Divisão dos Voluntários R.a d'ElRey,

finalm.te no dia 29 de Maio embarcou a da Divisão os


pa

Navios, lhe estavão destinados, e toda a R. Família se re-


q.

colheo esta Cidade. No dia 30 de S. Fernando)


pa (dia

houve na Capella R. Te Deum em Acção de Graças pelos

felices Desposorios áe S. Altezas, as S.as Infantas D. Maria

Izabel e D. Maria Francisca, celebrados na Corte de Madrid

no dia 13. A Capella R. abrio-se então Ia vez, depois


pela

havia sido toda e dourada, em se só 19


q. gessada q. gastarão

dias, e se dispendeo somma de mil cruzados. Houve


grande

depois Beija-Mão de durou até ás 3


publico parabéns, q.

horas da tarde. EIRey condecorou nesse dia ao Ten.e Gen.^

Vigodet com Húa Grão Cruz da Torre e Espada, e S. Mag.e

Catholica a S.ra D. Maria Izabel, condecorou igualmente


por

sua mão a todos os Officiaes Hespanhóes, aqui se


própria q.

achavão, com a Insígnia da Ordem de Christo.


— 283 —

No mesmo dia á noute entrou hüa Fragata France"


quasi
za com o Duque de Luxemburg, Embaixador de França :
(51)
O Conde de Avintes foi nomeado o hir buscar a bordo, e
pa
estava hum estado de dous Coches ricos
preparado grande
e muitas seges da Casa R. Dizem vir tratar da restituição

de Cayenna. No dia 9 de foi a Publica Audiência do


Junho
d.° Embaixador : foi admittido a ella Marquez de Aguiar,
pelo
e forão Conductores o Marquez de Vallada e o Conde de

Belmonte: o cortejo do Embaixador consistia de 5 pessoas,


isto he, de hum Secretario d'Embaixada, de hum Cavalleiro

de Embaixada, de hum Ajudante de Ordens do Embaixador,

de hum Guarda de Corpo, e de hum Off.ai Superior das ditas

Guardas.

Na noute do m.mo dia 9 observou-se nesta Cid.e hum

eclipse total da lua : começou ás 8 horas e meia, e acabou aos

doze minutos depois da meia noute.

No dia 12 sahio S.ta Catharina a Expedição, con-


pa q.
dúzia os Batalhões de Caçadores da Divisão dos Volunta-

rios R.s dEIRey, commandada General Lecor : dias


pelo (52)
antes e depois, sahirão outras embarcações com de
petrechos
como se verá do incluso.
guerra, papel
No dia 23 S. Mag.e Sua Mão o Barrete Cardi-
pôz pela
nalicio ao Núncio Apostolico aqui residente : a Ceremonia

dessa função se verá na Gazeta inclusa Nesse mesmo dia


(53).

(51) A fragata francesa L'Hcrmione, transportava o Duque de Luxem-


que
bourg. embaixador da França em missão especial junto à corte do Brasil, entrou no
porto do Rio de Janeiro no dia 1 de Junho de 1816. Saira do porto de Brest a 1 de
Abril. Na comitiva do embaixador veio Auguste de Saint-Hilaire. famoso natura-
lista e viajante, permaneceu no Brasil até os
que primeiros dias de Agosto de 1822,
e escreveu a relação de suas viagens, que sob o
título geral de Voyages dans Vinte-
rieur du Brésil, publicou em Paris, 1830-1851. oito volumes, in 8.". alem da Voyage à
Rio Grande do Sul (Brésil), publicação póstuma. Orleans, 1887. in 8.° gr.

(52) "No dia 12 partio deste


porto a expedição que em numero de quatorze
vellas entre navios de guerra e mercantes transporta as Tropas, que se achavão nesta
Cidade, e que fazem parte da Divisão dos Voluntários Reaes d'El Rei, destacada do
exercito de Portugal, e commandada Exm." General Lecor." — Gazeta do Rio
pelo
de Janeiro, de 19 de Junho de 1816.

(53) "Havendo chegado no di3 16 do corrente mez o Senhor Marquez


D. Francisco Nunes Sanches Peres Vergueiro (Oriundo Portuguez), e Guarda Nobre
de Sua Santidade, para trazer ao Monsenhor D. Lourenço, dos Condes Caleppi, Ar-
cebispo de Nisibi, e Núncio Apostolico nesta Corte, a noticia official de have-lo o
Santissimo Padre
promovido ao Cardinalado em o Consistorio de 8 de Março, Sua
Magestade El Rei Nosso Senhor determinou o dia de Domingo passado (23 do cor-
rente) para põr-lhe pela Sua Real Mão o Barrete Cardinalicio. havendo sido desti-
nado o Monsenhor Nobrega, Deão da Real Capella, a exercer nesta cerimonia as
funções de Delegado Apostolico. Com effeito. no mencionado dia forão á Residen-
cia do novo Cardeal tres coches da Caza Real. puchados cada hum a seis, e com
— 284 —

de tarde se casou o Marq.z de Vallada com a filha do

Marq.z de Lavradio, havendo sido regeitado húa


prim.ro por
filha da Marqueza de Bellas.

No dia 2 do corrente mez as S.ras D. M.a Izabel, Rainha

d'Hespanha, e D. M.a Francisca, embarcarão logo de manhã

na Nau S. Sebastião, e suas Criadas, 3 Açafates, as Criadas

destas, duas Retretas, 2 Moças de Quarto, e duas


pretas, pa
ficarem em Hespanha ao Seu Serviço ; e acompanhadas
pelo
Marquez de Vallada, a Marqueza sua mulher, húa filha delle

ainda solteira, a Condeça de Linhares Môr) e a


(Camareira

criados da mesma Caza, vestidos de fardas encarnadas, e entrárão nelles, além do


dito Cardeal, e Delegado Apostolico. os Juizes do Tribunal da Legada, que exercem
Cargos particulares, e mais pessoas empregadas no serviço do mesmo, juntamente
com o mencionado Marquez Nunes : ao que seguirão-se duas carruagens do dito
Cardeal, e outras de distintas pessoas. Chegando Sua Eminência ao Paço. foi alli
recebido á porta por dois Grandes do Reino, a saber o Exm.° Marquez de Bellas,
Capitão da Guarda Real. e o Exm.° Conde de Belmonte, Porteiro Mór, os quaes o
introduzirão até o Gabinete de Sua Magestade Fidelissima, com o qual o Cardeal
fevc a honra de conversar até passarem a huma das Salas, onde estava armado hum
Altar para se dizer Missa, e onde Sua Magestade mandou entrar também todas as

pessoas pertencentes á Legacia. Ouvirão a Missa El Rei e o Cardeal, ambos de

joelhos, e de almofadas, sendo cada hum assistido d'hum Mestre de Cerimonias da


Real Capella, que nas occasiões competentes derão respectivamente a beijar o Evan-

gelho, e a Paz. Acabada a Missa Sua Magestade e o Cardeal ficárão em pé no


meio diante do Altar, e então o Monsenhor Delegado appresentou sobre huma salva
o Breve Pontifício, que declarava a Commissão, de que elle era encarregado por
Sua Santidade, e que El Rei mandou ler por elle mesmo, cuja leitura acabada, tornou
o dito Monsenhor a appresentar a Sua Magestade sobre outra salva o Barrete Car-
dinalicio, e nesta occasião fez huma falia a Sua Magestade analoga á circunstancia,
elogiando as grandes virtudes de Sua Santidade, a Religião e Piedade d'El Rei Nosso
Car-
Senhor, e as qualidades, e dilatados serviços feitos á Igreja pelo novo
distintas
Sua Magestade e o poz na Cabeça do
deal; e finda esta falia, pegou no Barrete,
Cardeal, o qual immediatamente o tirou, ficando com o Solideo encarnado, e com

breve discurso agradeceu a Sua Magestade a honra, que acabava de fazer-lhe, mos-

trando nas suas expressões, e no modo. com as pronunciou, o quanto o seu animo
que
estava commovido. Retirou-se então El Rei para o Seu Gabinete, e o Cardeal para
hum lhe havia sido expressamente despir os Hábitos de
quarto, que preparado para
cor roxa, com tinha hido o Paço, e vestir os encarnados com a Purpura. e
que para
Introductores á Sala do Throno.
deste modo foi conduzido pelos ditos dois Exmos.
em estava Sua Magestade coberto, assim como toda a Corte. Entrando o Cardeal
que
na dita Sala, também elle coberto com o Barrete, tirou-o tres vezes, correspondendo

da mesma sorte El Rei e a Sua Corte, e chegando ao pé do


a este comprimento
Throno Sua Magestade encontra-lo tres avante, e ouvio a sua falia de
foi passos
comprimento : a acabada, assentou-se El Rei, e cobrio-se com toda a Corte,
qual
o Cardeal coberto e assentado. Ao retirar-se praticou-se o mesmo
ficando também
Cerimonial; e havendo-se El Rei recolhido Seu Quarto, foi o Cardeal successi-
para
com a mesma etiqueta a Sua Magestade a Rainha Nossa Se-
vãmente appresentado
S. A. R. a Senhora Princeza Dona Maria Benedicta, havendo então assis-
nhora, e a
do Throno também as Damas do Paço. Ao sair foi o Cardeal acompa-
tido na Sala
mesmos Exmos. Introductores, e restituio-se á sua
nhado até a porta do Paço pelos
acima descrito." — Gazeta do Rio de
Residencia com o mesmo acompanhamento

de 29 de Junho de 1816.
Janeiro,
— 285 —

Condeça do Barreiro, Viuvas Os Criados não tinhão


(54).

destin ode ficarem em Hespanha, menos aq.les as d.as S.ras


q.
alli fiquem, levão licença somente nesse
quizerem q. paoq.

caso : foi igualmente o Medico Azevedo, irmão do Barão do

Rio Secco. Depois de hir o Bispo a bordo benzer a Nau,

e haver Beija-Mão de despedida, ao foi immenso


publico qual
Povo, a se dava entrada na Nau sem excepção de
q. pessoa,
sahirão no dia seguinte, 3 manhã com bom vento : forão
pela
acompanhadas da Fragata Príncipe D. Pedro, em hia o
q.
Marechal Beresford, se offereceo acompanha-las, e da
q. pa
Fragata Hespanhola, em hia o Ten.e Gen.al Vigodet, En-
q.
carregado da Commissão. Parece o rumo he Cadix,
que para
e dalli Lisboa. A sua sahida foi muito vistosa, mas
p.a pran-
teada. A Rainha, havendo estado no dia anteced.e sempre

a bordo até ás 10 horas da noute, foi também ao bóta-fóra,

não levando nunca as outras S.ras Infantas comsigo. EIRey

esteve a bordo só hum de hora, e retirou-se logo


quarto pa
o Paço.

O acto de separação foi ternissimo com seu Pay, nem


pa
descrever-se, assim como o animo varonil de sua Mãy,
pode

sem lagrimas exteriores mostrou o seu disvelo em seus


q.

preparos ; e ainda depois de vir do bóta^fóra, foi acompa-

nhando-as terra até á Praia Vermelha, lugar o mais re-


por

"No
(54) dia 2 do corrente ás 9 horas da manhã embarcarão a bordo da
Nau S. Sebastião as Sereníssimas Senhoras Infantas de Portugal, D. Maria Izabel,
Rainha de Hespanha, e D. Maria Francisca, Esposa do Sereníssimo Senhor Infante
de Hespanha D. Carlos Maria Izidro, accompanhadas pelos Excellentissimos Viadores
Marquez de Vallada, e Visconde de Asseca ; dos quaes o primeiro accompanhou
S. M. e A. Concorrêrão a bordo da dita Nau muitas pessoas distinctas de todas as
classes, precedendo a todas a Rainha Fidelissima Nossa Senhora, que se demorou a
bordo até ás 10 horas da noite. _ No dia seguinte, ás 8 horas da manhã, largou a
Nau, tendo arvorado o Estandarte Real, salvou a Ilha das Cobras e successivamente

todas as fortalezas e navios de guerra tanto nacionaes, como estrangeiros surtos neste
rematando na Praia Vermelha. A Rainha Nossa Senhora seguio a Nau até a
porto,
barra, retirando-se dalli á Praia Vermelha, donde chegou ao Real Paço ás 11 e meia.
"He
inexplicável a saudade e a dor de S. Magestade Fidelissima El Rei Nosso
•. Fami-
Senhor não temos expressões para as demonstrações de dor de toda a Real

magoa, Portuguez falta de tão Augustos Ramos da


lia, e da que sentio o povo pela
Real Família, que fazião as suas delicias e consolação.
"Na
Fragata Príncipe D. Pedro, accompanhou a Náu, transportou-se
que
igualmente o Excellentissimo Marquez de Campo-Maior, Marechal General do Exer-

cito Portuguez, e na Hespanhola Soledade o Excellentissimo General Hespanhol

Vigodet.
"Não de
seremos mais extensos nesta narração, só cumpriria á saudade
que
— Gazeta do Rio de Janeiro, de 10 de
escrever, e não á nossa penna grosseira."

Julho de 1816.
—'286 —

moto avistar Navios. Nos dias depois de sua


pa prim.ros
sahida receberão S. Mag.^ Cartas de Suas Filhas Na-
por
vios, encontravão no mar, e se dirigião este
q. q. para porto.

A 13 de casou-se a filha de Egidio com o


Junho José
Commerciante e Commendador Luiz de Sousa Dias : fizerão-

se as e eu vi da função, ser Egidio meu


pazes, parte por José
visinho.

Continuão os Officios Alma de S. Mag.e a S.ra D.


por
Ma Ia. Eu havia intentado fazer hiüa Collecção das Ins-

cripções Sepulcraes ; mas suspendi esse trabalho, não ter


por

proporções pa obte-las de toda a nem também merecião


parte,
essa fadiga.

Concluo a rogando a V. M.0** o favor da sua


presente,

benção, e igualmente da Mãy, e recomendando-me a todos

com a maior vont.e sou

De V. M.Ce

Filho m.to obed.e e obg.do C.

Luiz Joaquim dos Santos Marrocos

CARTA N.° 105

Rio de 21 de
Jan.ro

Setembro de 1816.

Meu Pay e S.r do C. Acabo de receber


prezadissimo

a sua Carta de 23 de com toda a satisfação, como devia


Julho
succeder recepção das suas noticias, depois de tempo
pela
dilatado da falta de sua correspondência. Duplicou-se o

meu V. M.ce me não annunciar motivos de mo-


prazer, por

lestia, a Deos Sua bondade se dignará desviar de


qual por
toda a casa e familia, inteiro complemento de minha for-
para
tuna. Ha tempos eu e todos desta Casa temos
q. quasi pa-

àeciào mais ou tronos nesta estação &e epSAemvas, tem


q.

toda a Cidade, e cujo motivo tem feito as-


grassado por por

sustar a mortandade diaria, se ha observado.


geralmente q.
— 287 —

Anna foi a contagiada, cahio, e eu o segundo, ella


prim.ra q.

levantou-se, e eu fiquei durando na cama 17 dias, depois delia,

em razão das febres continuárão aq.le tempo de


q. por

sorte sendo o Medico chamado hüa doente, augmentou-


q. p.a

se-lhe aqui em casa o n° a cinco, comigo, fui o mais aggra-


q.

vado, ainda me conservo em uso de remedios, convales-


pa

cença. Dou a Deos de me não falecer ninguém daq.la


graças

epidemia, apezar de me haverem anteriorm.^ morrido dous

sempre era testemunha dos freqüentes enter-


pretos, por q.

ros toda a e ser a ma rua infeliz nesse


por parte, ponto, por

em todas as-casas o contagio, e em m.Us dellas levou


q. provou

á sepultura. Os Facultativos e os Parrocos concor-


pessoas

dão em chamar a esta moléstia Catharro maligno, e eu creio

vem a ser o m.mo contagio, Bahia,


q. q. primeiro grassou pela

Maranhão, e Pernambuco contei a V. M.ce em hüa


(seg.^0

Carta ma anteced.4®) alli diminúia, a


pois quando principiava

sentir-se nesta Cidade, e agora vai aqui diminuindo, já


q.

consta informações a experimentar-se nas terras mais do


por

Sul. S. Mag.6 tem expedido as Ordens se ata-


precisas pa

lhar este contagio, na verdade he assustador o


por q. pro-

com tem affligido este Continente : e V. M.00 ahi


gresso, q.

terá noticias outra via mais meudas, em ora não


por q. por

allongar-me.
posso

No dia 8 do corrente foi Deos Servido Anna désse á


q.

luz, 7 horas da manhã, hum menino com toda a felici-


pelas

dade : no dia 15 fui obrigado a baptiza-lo em Casa, em razão

do mal de embigo, com foi attacado ao 5o dia, e veio áq.le


q.

fim o Coadjutor da Capella R., os nomes de Luiz


pondo-lhe

Francisco do Nascimento Morrócos : no dia 19 ás 7 horas

da noute deixou o Mundo e foi o Ceo, sendo hontem se-


para

no Convento do Carmo. Com estas e semelhantes


pultado

mortificações do fisico e do espirito ha mais de mezes


quatro

tenho sido convidado sensivelmente; e a


persuado-me q.,

continuarem de igual modo, em tempo darei hum dia


pouco

de festa aos meus inimigos, as forças se achão mui


por q. já

attenuadas.

Agradeço d'ante mão, e como a V. M/* os


já posso,

bons officios e a meu beneficio, relativam.te á Attes-


passos

tação do Visconde, certamente será mim hum Do-


q. para

cumento da maior e valor ; e desde conto com


preciosidade já

elle na fôrma e vigor, mais favoravel me seja


quella q. posto
— —
288

nunca me affastando da verdade, nem exigindo seme-


q.

lhante injustiça ; he o meu intento mostrar a S. Mag.e,


pois

se não ter a honra de o servir como devo, ao menos


posso

tenho-a de o servir o melhor V. M.^ se dignará


q. posso.
de extender estas minhas idéas ao melhor fim
possível, pois
com razão conhece a fundo a ma singeleza.

Talvez ahi seja notorio o ajuste do casamento entre

Manoel Francisco de Barros, f.° do Visconde, e a filha mais

velha da Condeça da Ponte, chamada D. Maria Amalia.

Esta he a m.1*1* esteve ajustada com o filho de D. Fran-


q.

cisco de Almeida, e em bem tempo se desvaneceo.


q. pouco

O Visconde de Va Na da Rainha tem sido o auctor e favonea-

dor deste ajuste e enlace, com o maior desagrado da Viscon-

deça, sua Tia, e com razão ; (aqui nós sóm.te)


por que pa

Manoel Francisco só vai alli achar formosura e maior dis-

tincção ou mas tem contrabalanço a má criação


grandeza, por
e seus effeitos.
perniciosos

Ainda aqui não chegou o Navio Princeza do Brazil, aonde

V. M.oe me affirma remetter-me hum volume de


grosso pape-
ladas e Cartas mão do Piloto. Logo elle chegue, farei
por q.
as diligencias a fim de have-lo á mão, não
precisas, para q.
venha a succeder^me, o m.mo o tratante Desiderio,
q. praticou

Cap.am do Navio Fama : entre tanto dou a V. M.06 os agra-

decimentos remessa curiosa, estimarei m.t0, me


pela q. pois
serve de único entretenimento.

Hontem sahio deste a Fragata Franceza com o


porto

Duque de Luxembourg, e levando comsigo sua irmã a Du-

de Cadaval, e seus Sobrinhos Duque de Cadaval e


queza

Marquezes D. Sigismundo e D. dos os dous


Jayme, quais
vão effeituar seus casamentos com as duas filhas do
prim.ros

Duque de Lafões. Ahi farão sua entrada em Lisboa,


pomposa

o levão Licença de dous annos : e há dias


para q. poucos

também daqui sahio hü Brigue Francez Cayenna com


para

Ordens a sua restituição á França (55). A con-


p.a prim.ra
dução da casa da Duqueza de Cadaval sahio daqui há hum

mez em outro Navio, acompanhada de seu Cunhado


pateta.
Tenho sentido não ter em m.a mão Requerim.to algü do

P.e Fran.00 Pimenta do Carmo nova de algúa


pa pertensão

(55) Das Notícias Marítimas da Gazeta do Rio de Janeiro, de 18 de Setem-


bro de 1816 :
"Saida
do dia 16 do corrente : Brigue Francez Hussard, commandante t>
Conde de Arrod, com prego."
— 289 —

Igr.a, lhe fizesse conta, se tem dado ultimam.1® algüas


q. pois

de bom rendimento, e como a de Caparica ; visto o


perto, q.

seu Requerim.to ficou indeferido em 18 de


prim.ro Junho, pela

razão de estarem dadas todas as Igr.®*, então como


já q. pedia,

em outra tenho communicado a V. Depois de me en-

comendar na sua benção, continuo os de ser com o


protestos

maior resp.to

De V. M.06

Filho m.to ob,e e Çr. obg.°

Luiz dos Santos Marrocos


Joaq.m

(à margem da última
página)

Está-se edificando hum Palacio a Duqueza de


grd.e pa

Cadaval aqui no Sitio das Larangeiras. Ella e seus filhos

lançarão as nos alicerces. O Arquitecto he


prim.1"®* pedras

Francez, e affirmão-me todos os Mestres também o são


q. (56).

(56) Santos Marrocos não se refere à chegada da missão artística, que


noticiou deste modo a Gazeta do Rio de Janeiro, de 6 de Abril de 1816 :
"Em
o navio Americano Calphe, chegarão do Havre de Grace a este porto
as pessoas abaixo nomeadas (a mór das são Artistas de e
parte quaes profissão)
que vem residir nesta Capital :

Joaquim Le Breton, Secretario perpetuo da classe das Bellas Artes do Instituto


Real de França, Cavalleiro da Legião de Honra.
Taunay, Pintor, Membro do mesmo Instituto, trazendo sua mulher e 5 filhos.
Taunay, Escultor, e traz comsigo hum. aprendiz.
Debret, Pintor de historia e decoração.
Grandjean de Montigny, Architecto, traz sua mulher, 4 filhas, 2 discípulos, e
hum criado.
Pradier, Gravador em pintura e miniatura, trazendo sua mulher, huma criança,
e huma criada.
Ovlde, Maquinista, trazendo em sua companhia hum Serralheiro com seu filho,
e hum Carpinteiro de Carros.
Neukhomm, Compositor de Musica, excellente Organista e Pianista, e o mais
distinto discípulo do celebre, Haydn.

João Baptista Levei, Empreiteiro de obras de ferraria.


Nicoláo Magloire Euout, Official Serralheiro.
Pilit, Curador de pelles, e Curtidor.
Fabre, o mesmo.
Luiz José Roy, Carpinteiro de Carros.
Hypolite Roy, Filho do antecedente, e do mesmo mister."
— 290 —

CARTA N.° 106

Rio de de
Jan. (2

Fev.ro de 1817.

Meu Pay e S.r do C. Esta serve dar


prezadissimo para

a V. M.ce noticias minhas, como me a minha situação,


permitte

visto me lembro do dia, em lhe houvesse escripto a


que já que

minha ultima, aproveitando-me desta minha


possibilidade, que

ainda Deos he servido conceder-me fazer esta. Nos


p.a prin-
cipios de Dezembro fui attacado de huma' febre biliosa compli-

cada com hüa outro nome, Hemiplegia.


parlezia parcial, por
Havia mais de hü mez curtia de húa febre, era con-
que já pé q.
tinua com fastio de morte, mas aggravando-se esta a
pouco

cheguei á margem da sepultura. Fiquei leso e insensível


pouco,

do lado esquerdo do corpo, e surdo do ouvido esquerdo total-

mente, e com mui vista do olho do mesmo lado. Os


pouca pri-
meiros sete dias forão assás tormentosos de ancias e afflicções

de tal auge, fui advertido Medico a Sacramentar-me


que pelo
10 horas da noute, estava mui a delírio e
pelas pois proximo
tresvarío ; mas felizmente ao outavo dia entrou a moléstia a de-

clinar, e a ceder aos remedios. O espaço de 17 horas, com

intervallos de minutos, em vomitar matérias bi-


poucos gastei
líosas, a todos fez expectação, e ainda maior veio esta a
que

ser,, agüentando o meu corpo hum durou nove


purgante, que
dias successivos com as noutes, e chego a affirmar os seus
q.
effeitos ainda durão. Fiquei no ultimo abatimento, mas
graças
a Deos, fiquei limpo do veneno em mim se formou, e seria
q. que
a origem da minha morte, se não houvesse força e
providencia
atalhar o seu No de levantei-me
p.a progresso. principio Janeiro
dá cama, mesmo causa do intenso calor da estação, e co-
por
mecei a tomar tônicos e cáusticos, causa do ouvido e olho
por ;

na nuca levei cinco cáusticos, na fonte e á roda do ouvido levei

muitos, os erão só de dés minutos, não causar inflam-


quaes por
mação, mas só formar estimulo nas affectadas soffri
partes ;

muitas fricções de espirito de vinho, vinagre aromatico, e outras,

alem do martírio de conservar hüa bola de canfora dentro do


— 291 —

ouvido, e de algodão humedecido em óleo can-


presentem.1*

forado ; mas tudo tem sido frustrado, delle fiquei e estou


por q.

surdo, e me delle não ouvirei mais. Quasi no meado


parece q.

de a tomar os banhos do mar, no tenho acha-


Jan.ro principiei q.

do incommodo, difficuldade no andar, mas tenho


grande pela

achado me terem dado mais vigor no


grande proveito, por

hombro e cotovello ; e este se tem augmentado gra-


joelho,

dualm.1,6 com os de manhã cedo e de tarde á


passeios quasi

noute, levando todavia muitas ruas, apezar de


quedas pelas

sahir acompanhado de meu Cunhado, e de hum que


preto,

me carregavão em braços a mas hoje não,


quasi principio, que

me firmar na bengala, e segurar melhor a no


já posso perna

chão. Tem diminuído as e vagados da cabeça,


perturbações

consequencia do abatimento, mas não tenho deixado de ser

mortificado de dores de cabeça, agora correm o de


q. periodo

seis dias com differença, e tem tomado o caracter de


pouca

cesões. Os remedios, actualmente estou tomando, vem a ser ;


q.

Ora cosimento de raiz de Valerianna, e flor de Arnica ; ora

cosimento de folhas de laranja, e folhas de malva ; misturado

hum e outro com da me mandarão especialid.e


quina, qual por

hü bom da mais ; e havendo d'antes to-


presente preciosa já

mado a d'Huxon, como tonico activissimo. Ainda estou


quina

assistido de Medico, me obriga a tomar 40 a 50 banhos, e


que

me affirma não achar melhoras do ouvido e olho, se não


poderei

de 20 cima. Deixando outras mais circunstancias,


p.a pare-

ce-me isto he bastante dar a V. M.ee hüa idéa da minha


q. p.a

situação, e da m.a vida ; ainda tenho hoje melhoras,


pois q.
temo ámanhã outra repetição ; as das nesta terra
q. parlezias
são de esperar ; e agora o Marcos está em convalescença de

segunda : e ainda eu me considero feliz, escre-


por q. já posso
ver algüa couza, apezar da debilid.e da cabeça e vista, mas só

me custa aparar a não segura-la na mão es-


penna, por poder
: tenho muito, e tenho muito dinheiro
querda padecido gasto
com o meu curativo, foi hü muito e sensível
que golpe profundo
no arranjo da m.a vida : mas Deos, me dá estas e outras
que
occasiões de m.a mortificação, e apezar dellas me concede
que
a conservação de m.a existencia, sem duvida me destina
para
outros ataques mais fortes e subidos, em de todo se extinga
que
a minha força e resistencia fisica.

Quando recebi a ultima Carta de V. M.ce, cuidei logo no

Despacho do Requerimento do P.e Ant.° Cândido, e como


José

d Marq.z de Aguiar se achava com novo ataque, e S. Mag.®


— 292 —

com a moléstia do olho, estava de todo o Expediente :


parado
medeou-se m.10 tempo, cahi eu enfermo, e eu me levantei,
q.*0
e a convalescer, morreo o Cardeal Núncio
principiei (57), o

Esmoler Mór, o Padre Eloy, é o Marquez de Aguiar


José

(58), o não morrer, sem nos convidar com este D es-


qual quiz
de 12 de Dezembro — Ajunte
pacho Attestação do Ordi-
nario, as causas, tem residencia.
que justifique que para Á

(57) O Eminentíssimo Cardeal Caleppi, Núncio Apostolico junto á Sua Ma-


gestade El-Rei do Reino Unido de Portugal, do Brazil e dos Algarves, Nosso Senhor,
falleceu nesta Côrte no dia 10 do corrente. Este digno Purpurado nasceu em Cervia,
Cidade dos Estados Pontifícios, em 29 de Abril de 1741, de huma família muito íllus-
tre; depois de varias commissões, foi nomeado Auditor Nundatura
da Apostolica em
Varsovia. onde se achou no tempo da
primeira divisão daquelle Reino em 1772 ; dalli
passou na mesma qualidade para Vienna dAustria, onde se demorou 10 annos, dos
5
em tempo do Imperador
quaes José II., que fez tantas innovações religiosas; e alli
se achava quando o Santíssimo Padre Pio VI visitou aquella Capital. Accompa-
nhando ao Papa o Núncio Garampi na volta para a Itália, ficou o Auditor Caleppi
em Vienna Internuncio. Voltando para Roma em 1785, foi no anno seguinte en-
carregado por Sua Santidade de tratar com a Corte de Nápoles dos negócios Eccle-
siastícos, que havia. Foi depois incumbido da Presidencià dos Emigrados
Francezes Ecclesiasticos e Seculares,
que forão recebidos nos Estados Pontifícios no
tempo da Revolução de França. No anno de 1796 foi mandado por S. S. a Florença
a tratar com os Commissarios Francezes Saliceti e Garrau, e no de 1797 a Tolentino,

juntamente com hum Cardeal, e dois grandes Fidalgos para tratar com Bonaparte a
paz, que se concluio. Sendo novamente mandado a Nápoles em 1796 na occasião da
morte, que se fez em Roma, do General Dufot, fez alli os maiores serviços á
Santa Sé. e ultimamente occupando os Francezes o Reino de Nápoles, pôde com o
seu zelo' e actividade salvar a bordo da Esquadra Portugueza, que alli se achava,
commandada pelo Exm.° Marquez de Niza, muitos Cardeaes, que se havião retirado
a Nápoles.

Transportando-se elle mesmo á Scicilia, e depois a Veneza, assistio ao Con-


clave celebrado Pio
pela morte de Pio VI; e depois de eleito o Santíssimo Padre
VII. e de servir vários empregos, foi nomeado em Fevereiro de 1801 Arcebispo de
Nisibi e Núncio Apostolico junto á Sua Magestade Fidelissima.. Depois desta no-
meação foi encarregado por S. S. de ir tratar com o General Murat, que então
ameaçava a nova occupação do Reino de Nápoles, e posteriormente foi nomeado
Núncio ò novo Rei e Rainha
Extraordinário para comprímentar em nome de S. S.
de Felismente transportou-se onde chegou a 21 de Maio de
Etruria. para Lisboa,
1802. Qual foi o seu comportamento naquella Corte ainda em época tão melindrosa,
e manhas do General Francez,
qual a sua constancia e prudência contra os insultos
os trabalhos do seu transporte, e as outras particularidades da sua vida publica são
tão conhecidas, como o seu extremo desinteresse, a bondade do seu coração, a affa-
em
bilidade de suas maneiras, prontidão em soccorrer aos pobres,
a valer aos desam-
— de
parados, e em summa a pratica constante de todas as virtudes." Gazeta do Rio
de 15 He Janeiro de 1817.
Janeiro,

Illustrissimo e Excellentissimo D. Fernando de Portugal, Pri-


(58) "O José
meiro Marquez de Aguiar, do Conselho de Estado, Ministro Assistente ao Despacho,
Secretario Estado dos Negocios do Reino, Encarregado dos Negocios
Ministro e de
da Guerra, Presidente do Real Erário, do Conselho da Fazenda, e da
Estrangeiros e
do Provedor das Obras da Caza Real, Grão Cruz das Or-
Real Junta Commercio,
de S. Bento de Aviz, da Torre e Espada, e da Ifespanha de Izabel Catholica,
dens
Camara de Sua Magestade, &c., &c., £>c. falleceu a 24 do corrente
Gentil Homem da
noite de huma anazarca; com 64 annos, 1 mez e 19 dias dé idade.
pelas 8 horas da
Ministro empregou a maior da sua vida no Serviço do Estado, já
Este digno parte
— 293 —

vista do estado da m.a moléstia, não me deixava lembrar,


q.

senão da m.a vida ou da m.a morte, não vim a saber daq.le

Despacho, se não ha dias, em mandei saber, e me


poucos que

faz com outros a este respeito : e ainda


parar quaesq.r passos
inútil remetter assim m.mo o Requerim.*0, mas só es-
q. julguei

aqui d.a Attestação ; todavia como V. M.ce me or-


perar pela

denou lho remetesse, fosse o seu Despacho, assim


qualquer q.

o faço, só cumprir a sua Ordem.


por

Ha muito tempo não recebo hüa Carta de V. M.ce nem


que
noticias modo,- apezar dos muitos Navios, me
por qualquer que
dizem ter aqui chegado, o me causa summo sentimento,
que pois
alem das noticias, sempre de ter, de toda a Casa e
que gósto
família, esperava, segundo a sua a Attestação ou
promessa,
Documento, sobre eu lhe mandei, ha tempo, o favor
q. pedir
de obter do Visconde de Santarém, o V. M.ce me facilitou
que ;

mas esta falta da sua remessa me córta toda a esperança de me

animar a algüa couza nesta festivid.e da Coroa-


pedir próxima

Cão de S. Mag.e, de certo será época de muitas Mercês :


q.

paciência ; queixo-me da m.a fortuna.


pouca

nos lugares de Magistratura no Porto, e na Supplicação de Lisboa, nos importan-



tissimos Governos da Bahia e desta Capitania, tendo regido a 14 annos. e
primeira
gozado da dignidade de Vice-Rei mais de 4 ; teve depois a Presidencia do Conselho
Ultramarino em 1807, e nessa critica época foi nomeado Conselheiro de Estado:
accompanhou a S. M. na Sua retirada
para este Reino do Brazil, tendo a satisfação
de gozar da confiança do seu Augusto Soberano, sustentou o
pezo dos negocios du-
rante o tempo, que S. M. se demorou na Bahia. Chegado a esta Corte, e sendo
revestido das Altas Dignidades, que ficão mencionadas desempenhou o
plenamente
grande conceito, que os seus conhecimentos e as suas virtudes lhe tinhão grangeado.
Zeloso da Gloria do Monarca, e da prosperidade dos Vassallos, sacrificou o seu des-
canço. e até mesmo a sua existencia ás suas ponderosas occupações, e cheio das
bênçãos dos seus Concidadãos terminou a sua carreira, na constante pratica de todas
as virtudes, assim civis como Christãs.
A's 5 horas x/i da tarde do Nau Rainha
dia 28 se poz a em funeral, dando tiros
de quarto em quarto de hora.
Huma Brigada Commandada pelo Coronel do 2." Regimento de Infantaria de
Linha Antonio Lopes de Barros. e composta do dito Regimento, da Cavallaria da Po-
licia, e hfum parque de 4 peças de artilharia, se postou qa rua da caza da residencia
do Fallecido, e deu trez descargas, ao sahir o Corpo sendo as salvas de artilharia de
19 tiros cada huma.
Precedia o fúnebre apparato huma partida de cavallaria do Exercito, comman-
dada por hum Subalterno, hum inferior, e seis soldados ; e acompanhava-o o Regi-
mento de cavallaria do Exercito.
0
Huma brigada Commandada pelo Marechal de Campo Francisco de Paula
Magessi, e composta do 1." Regimento de Infantaria de Linha, do da Policia, 2 com-

panhias do Regimento de cavallaria, e- hum parque de 4 peças, estava postada no


largo de S. Francisco de Paula, e depois chegou o Cadaver, e se lhe fizerão as
gue
cerimonias do estilo, fez as mesmas honras quando o seu cadaver se deu a sepultura ;
assistindo a este acto fúnebre hum numerosissimo concurso pessoas das
mais distin-
tas. Então rematárão estas honras por huma salva de 19 tiros dada pela Nau
Rainha." — Gazeta do Rio de de 29 de Janeiro de 1817.
Janeiro,
— 294 —

Á se me forem augmentando as forças do


proporção q.

e da cabeça, irei sendo mais freqüente na escripta, o


pulso q.
hoje não nem extender-me a escrever separada-
posso praticar,

mente á Mãy, como desejava, com esta tenho o


pois gastado
dia inteiro. Desejo a V. M.ce saúde m.*0 e não
quasi perfeita,
menos á Mãy, Tia e Mana, a muito me recommendo, e
quem

recebendo a sur. benção, e da Mãy, me confesso ser sempre

De V. M.ce

Filho m.to obed.0 e obg.do

Luiz Joaq.m dos Santos Marrocos

CARTA N.° 107

Rio de Jan.r° 9 de

Maio de 1817.

Meu Pay e S.r do C. Havendo decorrido


prezadissimo
alguns mezes, tenho deixado de escrever a V. M.ce e a
que
outras mais no mez de Fevereiro escrevi a
pessoas, julgo que
e a única a V. M.ce, referindo como a historia
primeira podia
de minha moléstia, e dilatada, depois de chegar-me
grave que
ao desengano desta vida, me deixou sempre tristes signaes,
para

para minha memória. Desde aquelle mez, ainda não escrevi

mais ninguém, excepto, se bem me lembro, hüa ao nosso


para

Comp.® Simões, e brevíssima, nas vesperas da m.a


partida para
fóra da terra, a continuar a m.a convalescença, relativa áquella

primeira borrasca.

Graças a Deos, estou muito melhor ; mas com o desconto

de ficar surdo do ouvidcr esquerdo, e em tal debilidade de ca-

beça, me não uzar delia com desembaraço


gue permitte ; de
sorte se na rua me he voltar
que, preciso para traz, o lado,
para
ou cima, sou obrigado a
para primeiro parar, e depois com todo
o vagar fazer com a cabeça o movimento,
primeiro indo este
logo acompanhado do resto do corpo : e se não deste
pratico
— 295 —

modo, falta-me a igualdade da vista e o equilíbrio, me faz


que

cahir.

Actualmente ainda estou em uso de remedios, e applican-

do freqüentes vezes cáusticos na nuca, me vejo amea-


quando

çado de dores de cabeça, estas haverem degenerado em


por

vertigens ; alem de ter sido sangrado tres vezes com sangui-

sugas no lugar das hemorrhoydas. Com esta complicação vou

curtindo amargamente os meus dias, louvando sempre a Deos,

ainda me dá algum na
que geito para pegar penna.

Sei agora tem sahido muitos Navios Lisboa, e


que para

tem entrado outros ; mas no estado, em me tenho visto,


que q.
não me importava a entrada dos Navios, o arranjo de
quando

minha Casa ficou transtornado com a m.a moléstia, e com o

idiotismo, se lhe seguio ; e não naufragio


quasi q. padeceo por

vigilancias de Anna.

Recebi a sua ultima Carta, de foi o Sobrinho


que portador
do P.6 Evangelista, e igualmente a collecção de
João papeis
curiosos impressos, e a dos Retratos de Varões e Donas ;
(59)

do tudo dou a V. M.ce os meus devidos agradecimentos


que

lembrança e remessa, assim como ser incluído na Lista


pela por
dos Subscriptores ; o tanto não era de exigir..
gratuitamente que
Pela! Gazeta inclusa V. M.ce ver a noticia de estar
poderá já
aqui também a Subscripção a dita Obra e
pública para (60),

que sufficiente só em tres Lojas, estas serem as mais


julguei por
conhecidas, e freqüentadas. Alem destas tenho na Livraria

humá folha de Subscripção, de me fez favor de encarre-


que

(59) Retratos, c Elogios dos Varões, e Donas, que illustraram a Nação Por-
tugueza em virtudes, letras, armas, e artes, assim nacionaes, como estranhos, tanto
antigos, como modernos. Oferecidos aos Portugueses. —• Tomo I
generosos (único).
— Lisboa M. DCCCXVII. — Na Officina de Simão Thaddeo Ferreira. — Com.
licença da Meza do Desembargo do Paço.
^ Um dos exemplares, a Biblioteca Nacional, da Real Bi-
que possue procede
blioteca. Seria o que subscreveu o Padre Joaquim Damaso, como consta da relação
dos subscritores da obra. que lhe vem anexa. O índice dos retratos nesse volume

é escrito letra se não é do próprio punho de Santos Marrocos, é extraordi-


por que,
nariamente semelhante, como se pode ver de manuscritos de sua lavra pertencentes a

Biblioteca Nacional.

1817; vem o seguinte Aviso:


(60) Nesta Gazeta, de 7 de Maio de
"Faz-se
Collecção de Retratos de Varões e Donas
publica a subscripção para
Poctuguezas, com Memórias Históricas de suas vidas, feita em Lisboa, e da qual sé
o tomo 1.°. em 4.°, nas lojas de Saturnino, rua d'Alfandega; de Ma-
acha completo
noel Mandillo, rua Direita; e de Manoel da Silva Porto, rua da Quitanda;
Joaquim
onde se verá o Prospecto da dita obra, com as condições competentes."
— —
296

o P.e Damazo, e na suas diligencias já


gar-se Joaquim qual por

se assignarão mais de 16 assim litteratos, como da


pessoas, pri-

meira alli concorrem ; e se espera augmentar


grandeza, que

este numero consideravelmente, não só huns servem de


por que

estimulo aos outros, mas tem á vista o exemplar, que dahi se

me remetteo, e sem o disfructar, tenho-o alli esse fim


que para

depositado. Se houvessem mais alguns Exemplares á vista,

talvez mais facilidade haveria em adquirir Subscriptores, por

nem todos assignão, sem fazerem idéa da Obra.


que primeiro

Hum Religioso Carmelita, amigo meu, se incumbio de


grangear

assignaturas dos Religiosos da sua Ordem, e depois disso


pe-

direi iguaes favores nos Conventos dos Benedictinos e Arrabi-

dos, existem nesta Corte.


que

Tenho também outra folha, com ella dili-


prompta para

outras assignaturas avulsas do modo


genciar particulares, que

me for assim do Serviço do Paço, como de


possível, por pessoas

outras ; o interesse do conhecimento desta Obra he


por que

igual, e deve chegar a todos. Com estes ficou mais


preparos

diminuto o numero dos Annuncios de 4.°, dahi vierão ; e


que
isso só 60 forão distribuídos Assignantes da Gazeta,
por pelos

este anno chegarão a 200. Diz-me o P.e Damazo


que Joaquim

ser muito dahi se remetta sem demora huma


preciso que porção
dos Exemplares dessa Obra, se contentar hüa
para já grande

parte dos Subscriptores, e com esta satisfação desafiar a von-

tade dos outros ; estive no risco de ficar sem o meu


pois que já
Exemplar, logo e levarem-no ; e isto me
por quererem pagar,

parece muito mais acertado, do esperar-se ahi rela-


que pelas

ções dos Subscriptores, como V. M.ce me diz, o vem a exi-


que

gir mS0 tempo.

Nãcfposso ser mais efficaz, também o meu estado de


por q.
saúde mo não consente. E encomendando-me na sua benção,

sou com todo o respeito

De V. M.ce

Filho m.to obed.e e C.

Luiz dos S.toS Marrocos


Joaq.m

P. S.

Consta este vol.e de 3 Cartas m.as, 3 d.as de Anna, e

a Gazeta N.° 37.


— 297 —

CARTA N.° 108

Rio de 28 de
Jan.ro

Setembro de 1817.

Meu Pay e S.r do C. Tenho em vista hüa


prezadissimo

Carta de V. M.00 com data de 23 de Maio do corrente anno, em

depois de expressar o seu cuidado falta de


que, grande pela

noticias minhas, assegura ser o motivo de a escrever a recom-

mendação e especial empenho a favor e beneficio do P.e Fran-

cisco Pimenta do Carmo, requeria a Abbadia de S.1* Eula-


que

lia de S.u Valha no Bispado de Bragança.

Devo tudo dizer a V. M.ce nos fins do


primeiro que que

anno estive no risco de á eternidade, com hum


passado passar
tremendo ataque de chamada
paralysia parcial, propriam.**
Hemyplegia, e esta complicada com hüa febre biliosa ; e depois

de hum curativo trabalhoso e delicado, me deixou surdo do

ouvido esquerdo, alem de hum abatimento incrivel. Tenho

depois disto muito, e dispendido mais do


padecido que podião
as m.as forças ; de sorte ainda hoje soffro, e tremo de algüa
que
recahida, sentir em mim não vestígios daquella
por pequenos
temível e aqui mui freqüente moléstia. Retirei-me duas
por
vezes da Cidade o Campo, onde mandei alugar hüa Chácara
p.a

p.a tomar áres, e fortificar-me da excessiva debilidade, a


q.
fiquei reduzido, dando falta de equilíbrio, me
quédas pela que
maltratavão e ferião : alem dos banhos de mar, applicarão-

se-me sanguisugas no lugar das hemorrhoydas duas vezes,


por
e agora tórno aos banhos e choques electricos ao ouvido.

Esta m.ma relação, com mais oü menos meudeza, fiz a V.

M.Qe logo na não me lembrando agora


que pude pegar penna,
em data foi; e dahi a tempos, tornei a escrever com maior
que
extensão, e adjuntas varias Cartas de Anna e essa occa-
; por
sião lhe avivava a remessa dos Exemplares dos Varões
prompta
e Donas, se contentarem huns Subscriptores e estimularem
p,a
outros, na demora esfria o appetite. Receio muito
por que que
essas Cartas não lhe chegassem á mão, causa da desgraça
por

q. succedeo ao Navio Grão-Pará, visto igualmente me não


q.
— 298 —

recordo se forão nesse Navio ou ém cutro : mas isto serve só

mostrar a V. M.ce apézar do meu estado calamitoso, não


p.a que

a diligencia de enviar a V. M.ce noticias minhas, tanto


perdi
me era contrario não acho em
quanto possível; quando pelo

V. M.Ce assiduidade em me dar noticias suas e de nossa família,

excepto recomendar algum seu amigo, como


quando quer

nesta vejo.

Do P.e Francisco Pimenta do Carmo recebi tres Cartas,

hüa com data de 23 de Maio, e duas com a data de 2 de Junho,

hüa dellas vinda do Porto, e adjuntos dous Requerim.103 do-

cumentados a referida, más depois


p.a pertensão prevenindc-me

a suspender os meus ser falsa a morte do Abb.e


passos, por

actual. Espanto-me da sofreguidão, com estes P.68 correm


q.

a requerer o não sabem, nesta


q. julgando que pressa ganhão

terreno : e esta mesma falta de reflexão acho nos sobrescriptos

das Cartas, elle me escreveo; devendo a


q. pois perguntar

V. M.(;e era o titulo do meu Emprego nas R. Bibl.aa, e o


qual

único de me ; fôrma e arranja outro arbitrado, como


que prézo
me honrava m.to -— Ao Serviço
lhe q. pondo
pareceo, julgando

das R. Bibl." — não se lembrando este titulo he


q. generico,

e não só he applicavel aos Serventes, mas até aos Negros,


q.

fazem a liq^peza da Casa.


q.
Presentem.te as dos Ecclesiasticos devem vir
pertensões

emanadas seus recursos competentes, em execução da Lei,


pelos

deve sempre andar em vista delles, o se as


q. p.a que passarão

Ordens necessarias, assim á Mesa da Consciência, como ao

Prelado Diocesano : e assim não caminhar agora,


quem perde

o seu tempo. Nos de estando eu fóra da


princípios Julho,

terra, recebi hüa Carta do P.e Joaq.m Damazo, ém me


q. parti-

cipava indo dar os a Thomaz Antonio, sua


que parabéns pela

Nomeação de Ministro de Estado, elle lhe*perguntára mim,


por

e me não via mais de cinco ànnos, aconselhando-me


q. já por

eu deveria neste caso visita-lo. Como aluguei hüa


que pude,

sege, e a dar-lhe os não se extendendo a


procurei-o parabéns,

mais a m.a visita, do a desculpar-me com as m.aa moléstias


que

ausência de tanto tempo, assim como eu havia


pela praticado

com todas as mais Depois de ser delle mui bem rece-


pessoas.

bido, retirei-me, e não tornei mais ; inesperadam.te


quando

acabo agora de receber aqui em minha casa a Portaria da m.a

nomeação de Official da Secretaria de Estado dos Negocios

do Reino, trazida hü dos Ajud.tes do Porteiro da m.ma Se-


por

cretaria. Hontem fui agradecer-lhe, assim como a S. Mag.,


— 299 —

esta Mercê não nem merécida : e recebi também


pertendida,

idéas de ficar com o meu Emprego e Ordenado das R. Bibl.aS,

álem do da Secretaria.

Rogo a Deos me ajude nesta nova lida, e a V. M.ce o


q.

favor de me continuar com a sua benção, ser com todo o


por

respeito De
ce
y M

Filho m.*0 obed.6 e obgd.0 C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaquim

P. S.

Anna se recommenda a V. M.Ce com toda a espe-

cialid.e. Rógo a V. M.ce o favor de mandar entre-

essas Cartas, depois de fechadas, a são


j gar quem

dirigidas.

(junto a esta carta, encontra-se um de com


pedaço papel
° se9uinte)-. (a)
Em de 1817.
Julho

S.r Luiz Joaq.m

Estimo bem. Fiz hontem entrega. + +)


passasse ( vere-

mos o resultado. Thomaz Antonio me V. M.ce,


proguntou por
e assim não ser desacertado V. M.ce o
julgo que procurasse.
— —
As horas melhores se lhe fallar são das 4 4 5.
para 3^
s
a D
Damàzo
Joaq.m
+) do novo Regulam.*0
(a) (+

da Livraria-
(a) N. B.

Havia cinco annos eu não o nem lhe fal-


q. yisitava,
lava : e esta lembrança foi a me> obrigou a hir
q.
dar-lhe os Deixei hü mez, e fui
parabéns. passar
depois fallar-lhe com hum Requerim.10 se me
p.a
o se me devia : dahi a foi a m.a
pagar q. pouco
Nom.*1111. He de advertir o Requerim.*0, de
q. q.
acabo de fallar, ácerca do se me devia, e sobe
q. q.
a 2:400$000 r.s, á Secreta dos Neg.08
pertencia
Estr.os; e a m.a consistia no empenho de
pertensão
Thomaz Ant.° falíasse mim a Paulo Be-
q. por João
zerra, deste modo se me facilitasse o
p.a q. pagam.10,
á vista dos exemplos de meus Companheiros; e

foi esta a razão fallei com o d.° Requerim.*0 a


por q.
Thomaz Antonio. Athé hoje ainda se me não
pagou
aq.la assás me servio de atrazamento.
quantia, q.

(a) Ê escrito de Luiz Marrocos.


pelo punho
— —
300

CARTA N.° 109

Rio de 21 de
Jan.ro

Outubro de 1817.

Meu Pay e S.r do C. Por hum dos Navios,


prezadissimo

conduzam a este Continente a 2.a Divisão de Tropa de


que

Portugal, acabo de receber hüa Carta de V. M.ce com a data

de 12 de Agosto em me refére haver só recebido


passado, q.

hüa Carta minha com data de 2 de Fevereiro deste anno, a


pri-

meira depois fui atacado da em Dezembro passado,


q. paralysia

e cuja moléstia relatava, inda brevemente, não


q. por poder

então alargar-me minha situação. Por ella vejo não haver


pela

ainda recebido as outras minhas Cartas e de Anna, n'hum


q.

volume e de hüa só vez lhe dirigia ; mas, a não hirem no

Grão Pará (no não tenho certeza) forão em outro,


q. qualquer

ao escrever da sua não tinha ahi aportado. No fim do mez


q.

escrevi outra a V. M.ce alem das mais inclusas, e me


passado

irião no Navio Harmonia, (sahio a 11 deste mez)


parece que

ultimo até hoje tem daqui sahido : nella referia a V. M.ce


q.

o meu Despacho de Official da Secretaria de Estado dos Ne-

do Reino, inopinadam,1® recebi da Grandeza de S.


gocios que

Mag.e e da amizade e beneficencia do S.r Thomaz Antonio,


q.
não concedendo esta Mercê a tantos e tão estupendos
perten-
dentes a requerião e suspiravão; foi desenterrar-me
q. por q.
do escondrijo, onde eu respirava com a m.a família, me
para
honrar e engrandecer, não lho merecendo. Tenho
praticado,

me tem sido os actos de e reconhecim.t0 ;


q.10 possível, gratidão

e elle com a sua sã e recta filosofia me deo ideas de ficar


grd.*8
também com o meu Emprego e Ordenado das R. Bibl.ae ; pois
me tem ordenado conserve as chaves do Arquivo dos Ma-
q.
nuscriptos, de há seis annos fui encarregado S. Mag.e,
q. por
não ter mandado ainda o contrario : O certo he nas
por que
R. Bibl.as tenho tido até hoje o m.mo exercício, d'antes, sem
q.
novidad.e, e não se falia, nem se em o meu Emprego
pensa q.
esteja alli vago; ao se tal succeder, me devo oppôr com
q.

energia, m.tos exemplos da m.ma Repartição. Desde o dia


pelos
— 301 —

3 do corrente tenho exercício na Secretaria, desde as 9 horas


q.
da manhã até ás 2 da tarde, sem ora ter falta ; e a
por peço
Deos me dê vigor supportar estas duas tarefas sem es-
que p.a
candalo e com desempenho de meus deveres.

Inclusa nesta ultima Carta de V. M.ce recebi a Attestação

do S.r Visconde de Santarém, em há tempos tinha fallado a


q.
V. M.06, de cujo favor dou a V. M.ce os devidos agradecimen-

tos, e faço os m.mo& separadam.1* ao d.° S.r Visconde,


pelo
muito nella me abona, honra e distingue. Eu a estimo
q.
summam.te ser de he; e o futuro ainda me
pcfr q.m q.do para
não seja urgente valer-me delia algüas inten-
p.a pertensões, q.
te; he hum Documento me enche de satisfação coroar
q. por
os meus trabalhos antigos, e dar de mim boa idea ao Soberano,

a eu mais aspiro.
q.

Os Navios da Tropa vão entrando, e ainda não chegarão

a avistar-se os dous últimos e a Fragata, sem a não de-


qual
sembarcão estes ; vindo a ser todos os
(ou que puderem)
aquartelados no famoso edifício do Lazareto, no Sitio de S.

Christovão, e á Real Quinta da Boa Vista. Todos


proximo
aqui suspirão nossos valorosos Soldados Portuguezes ; e
pelos
toda a reina húa affeição ao seu heroísmo, e hú desejo
por parte

de os receber e Ha todo o fervor nos


gazalhar. preparativos
a recepção de S. A. R. a Seren.ma S.ra Princeza
para pomposa
D. Carolina Leopoldina, de se receberão noti-
Josefa quem já
cias de ser mui a sua chegada Ha de desem-
próxima (61).
barcar no Caes dío Arsenal R., e baixo de Arcos
passar por
triunfaes, receber as Bênçãos na Capella R. e Te Deum, ha-

vendo depois Serenata no Paço, de se tem feito ensaios nas


q. já
Sallas das R. Bibl.as. Como V. M.ce me falia na celebre Lega-

taria, devo dizer hüa vez me ella em casa de Feli-


q. procurou
ciano a horas, em eu costumava alli apparecer e depois de
q. ;

me elogiar a e diligencia do seu novo Procurador,


promptidão
tirou da algibeira hum onde vi hua relação das
papel, quantias,
os P.es ahi tinhão dado a differentes Procuradores seus, entre
q.

os estava hüa de 150$000 r.s V. M.ce rece-


quaes parcella por
bida. Envergonhou-me semelhante acção e apenas tive o desa-

(61) Notícia de Viena (16 de Outubro de 1816):


"M.
o Marquez de Marialva, Embaixador Extraordinário de Portugal, deve
chegar a 20. S. Ex. mandou conservar por seis mezes huma caza magnífica. A Ar-

quiduqueza Leopoldina, destinada ao Príncipe Real de Portugal, tem ao presente hum


mestre de lingua Portugueza. Sua Alteza Imperial falia o Italiano e o Francês com
facilidade." — Gazeta do Rio de de 25 de de 1817.
grande Janeiro, Janeiro
— —
302

fogo de dizer á velha verdadeira aquella relação, já es=


q. fosse

taria embolçada daq.la no momento em ma offerecia ;


quantia q.

e ella ser só me bastava o antigo dos P.es,


q. p,a falsa procedim.to

em cujo V. M.ce se mostrara repugnante ; e se ella


presagio q.

achava singularid.e no seu novo Procurador, eu não lha desço-

bria, visto até aq.le tempo nada tinha delle recebido; e


q. q.

como ella tinha a ousadia de aq.la acção, maculando


praticar

aq,m não a tinha ou lhe assegurava ella desça-


procurado, q.

radam.t€ me mentia, o não mostrava cunho algum


pois papel

de verdade, isso m.mo era hum talvez


por q. feito por frade, q.

não a conhecesse ; e logo ella me mostrasse a sua authen-


q.

ticid.e, seria mim sem demora satisfeita; inda tinha


por por q.

dinheiro até a comprar, apezar de ser branca, inda velha


p. q.

e tola. Não me fallou mais, e eu lhe no mesmo.


paguei

Lopes Saraiva morreo de repente em Pernambuco em


José

acção de tomar hum copo de dentro de hum Botequim ;


ponche

e tinha ido alli com a Expedição Militar, no numero dos


p.a

Feitores de Viveres, requereo escondidam.te.


que

Não tendo ora mais a dizer, rógo a V. M.ce me con-


por g.

tinúe o favor da sua benção, e de m.a Mãy, a assás me re-


q.m

commendo, assim como á Mana, e Tia ; e Anna faz os m.mos

deveres. Sou com todo o respeito

De V. M.ce

Filho m.10 obed.e e obg.d0 C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaq.m

P. S.

Rógo a V. M.ce o favor de mandar entregar essas Cartas,

depois de fechadas, a se dirigem. — Esta vai Navio


quem pelo

Fenix deve sahir a 25.


que

CARTA N.° 110

Rio de 1.° de
Jan.ro

Novembro de 1817.

Meu Pay e S.r do C. Por estar a


prezadissimo próxima

deste Navio, aproveito a occasião lhe enviar noti-


partida para

cias minhas, e dizer-lhe lhe tenho dirigido outras ultimamen-


q.
— —
303

te nos fins de Setembro, e meado de Outubro : talvez estas


q.

Cartas venhão todas a reunir-se em hum só Navio, he o


pois

succeàe estão a sahir em maior numero e ao mesmo


q. quando

tempo ; e isso não deve a V. M.ce causar admiração ou ex-


por

tranheza receber estas Cartas ao mesmo tempo, e não as rece-

ber algum outro Navio, se seguir ; ser esta varieda-


por q. por

de e incerteza a consequencia das viagens de mar.

Eu tenho este^ tempos melhor de saúde, me


passado por

ser mui favoravel o tempo fresco e chuvoso, o felizmente tem


q.

succedido ha semanas : e temo sempre os effeitos,


poucas q.

em mim o tempo calmoso e secco, ainda verda-


produz q.

deiram.te aqui não se observa completa seccura, ser este


por

Clima muito humido, e o m.mo calor he humido, fatal


principio

todo o vivente. Em hüa de minhas Cartas antecedentes


para

dizia a V. M.ce me continuar a servir e a


q. parecia provável

do meu Emprego e Ordenado das R. Bibl.as, sem embargo


gozar

de estar feito Official da Secretaria de Estado dos Negocios

do Reino : he verd.e ainda alli não ha novid.e nem Ordem


q.

em contrario, e eu sirvo como d'antes ; mas tenho


q. grande

desconfiança deixarei de continuar, menos o espere,


q. q.40 por

ha hüa Personagem, fechando os olhos á injustiça e ultra-


q. q.

ge, se comigo, trabalha efficazmente me esbu-


q. praticará para

Ihar daq.Ie Emprego, ser dado a hum afilhado e


p.a protegido

seu ; argumentando o meu Emprego da Secret,a he assás


q.

rendoso, e tanto me he escusado o das R. Bibl.as. Darei


por

a V. M.06 do se a este respeito, mas he muito


parte q. passar

justo q. V. M.00 nisto segredo ; e só digo esta Per-


guarde q.

sonagem tem doze Empregos, e não sei como servir al-


pode

gum delles.

Dos Navios da Tropa ainda falta hum, de ha a noticia


que

de ter arribado em Santos : todos os mais entrarão, assim


como a Fragata ; e S. Mag.6 tem dado a toda a tropa bom con-

vite de comer e dinheiro no dia do seu desembarque, á


propor-

ção tem entrado e desembarcado, de sorte he elles


q. q. para

hü dia de S. Martinho : o serviço do Palacio de S. Christovão,

onde S. Mag.e reside effectivam.te, he feito elles exclusiva-


por

mente ; e em todo o Povo está cheio de com a sua


geral prazer
chegada, ideas vantajosas tem de seu valor e discipli-
pelas q.

na. Entrou ha dias o Núncio de S. Santid.e, e hoje teve Au-


— 304 —

diencia Publica de S. Mag.Pno Palacio de S. Christovão (62).

São immensos os o recebimento de S. A. R. a


preparativos para

Seren.ma S.ra Princeza D. Carolina Leopoldina, cujo


Josefa por

motivo serão mui solemnes o Desembarque e o Cortejo, cujo

Plano he magnífico.

Não tendo ora mais a dizer, rógo a V. M.C9 o favor


por

de sua benção e da Mãy, aq.m me recomendo, assim como á

Mana e Tia : e sou

De V. M.00

Filho obed,e e obg.*10 C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaq.m

CARTA N.® 111

Rio de 12 de
Jan.ro

Novembro de 1817.

Meu Pay e S.r do C. Por me faltar o tempo


prezadissimo

a alongar^me nesta Carta sobre o objecto da chegada de S. A.

R. a Seren.ma S.ra Princeza D. Carolina, faço a remessa das

Gazetas, q. lhe dizem respeito, e supprem o eu


que q. poderia
referir (63) ; accrescentando esta Carta ás mais, estes
q. por

dias tenho escripto a V. M.ce.

(62) "No dia 27 do corrente chegou a este porto na Galera Princeza do


Brasil, o Exm.° Monsenhor João Francisco Compagnoni Marefoschi, Arcebispo de
Damieta, Núncio Apostolíco junto a Sua Magestade Fidelissima El Rei Nosso Senhor,
o qual desembarcou no dia seguinte e foi transportado para a Casa, destinada para
a sua residencia, nos Coches da Casa Real, na forma do estilo na recepção dos Fm-
baixadores, sendo seu Conductor o Exm.° Conde de Avintes." <— Gazeta do Rio de
de
Janeiro, "El 29 de Outubro de 1817.
Rei Senhor,Nosso
Querendo não demorar, apezar do incommodo, que
ainda soffre na
perna, a primeira Audiência
Sua de apresentação ao novo Núncio
Apostolico, o Exm.° Arcebispo de Damieta, Houve por bem destinar o dia 1.° do
corrente mez para esta Audiência, que com effeito teve lugar pela huma hora e
meia da tarde do referido dia, no Palacio da Real Quinta da Boa Vista, sendo os
Introductores os Excellentissimos Marquez de Vallada, e Conde Porteiro Mor, e
assistindo a Sua Magestade os Seus Camaristas e os Officiaes Mores da Caza,
segundo o estilo nasAudiências publicas, apezar de não ser esta em todo o rigor da
etiqueta, tanto peloincommodo de Sua Magestade, como pela circunstancia de se
"Gazeta
achar naquella Quinta." do Rio de Janeiro, de 5 de Novembro de 1817-

Em 22 de Janeiro de 1819, D. João VI condecorou o Arcebispo de Damieta com a

grã-cruz honorária da Ordem de Cristo. — Gazeta citada, de 25 de Janeiro de 1819.


em 5 de Novembro de 1817.
(63) A descrição da chegada ao Rio de Janeiro,
de Sua Alteza a Princesa Real do Reino Unido de Portugal, do Brasil e dos Algarves,

Carolina Leopoldina, ocupa quasi toda a Gazeta do Rio de Janeiro, de 8 de


Josefa
Novembro. As demonstrações continuaram a ser noticiadas nos números seguintes.
— —
305

vez terá V. M.ce bastante ler, e talvez mais


Por esta q.

aproveitando eu esse fim o tempo mais


do esperasse, para
q.

bonançoso, me o meu estado de saúde ; supposto q.


q. permitte

me acho actualmente cingido de dores corpo, em


pelo princi-

de constipação, aqui se se não esperão.


pio q. ganhão, quando

Não houverão Despachos ; e se reservão a


julgo q. p.a

época da Acclamação, está mui : S. Mag.e acha-se


q. próxima

em curativo da sua o impede também de fazer a Fun-


perna, q.

de Igreja relativa ao Casamento actual de S. A. R., o


ção que

disferio estiver delia restabellecido. A Seren.ma S.ra


p.a q.do

D. Carolina tem agradado em extremo a todos : mui discreta,

desembaraçada, e communicavel ; falia, alem de sua Lingua

o Francez, o Inglez, e Italiano ; alguns conhecimentos


pátria,

de Bellas Letras, e não menos de Botanica, álem daq.las pren-

das são em húa Senhora, em dizem ser eminente :


q. próprias q.

mui fértil na conversação, e mui aguda em respostas ; mestra

na arte de agradar e fazer-se estimavel ; e ser mais notável,


p.a

até tem medo de trovoadas. Na Ilha da Madeira demorou-se

tres dias, donde trouxe de macacos, pa-


grd.e quantidade

& (64).
pagaios,
Anna se recomenda a V. M.ce, á Mãy, e a todos de casa

affectuosam.16, e eu não menos faço os m.mos deveres, seguros

no favor de suas bênçãos : sendo com todo o respeito

De V. M,ce

Filho m.t0 obed.6 e V.or obg.do

Luiz dos Santos Marrocos


Joaq.m

(64) D. Leopoldina era eximia na arte venatória. Um brasileiro devoto de


S. Hubecto (Varnhagen) in A Caça no Brasil, ps. 102-/103, Rio, 1860, escreveu a
"Era
esse propósito : a nossa primeira Imperatriz, que Deos Haja, mãí do Sr. D. Pe-
dro II, que hoje felizmente impéra, muito affeiçoada a caçar, e não deixava de atirar
bem. Falando com ella uma vez o seu veador Tedim a respeito da caça do veado,
e observando-lhe ella a timidez do animal, pelo que não era fácil alcança-lo perto,
respondeu Tedim que tudo dependia dos cães e dos batedores ; e que elle se offere-
çia apreparar-lhe uma caçada, em que o veado lhe havia de entrar pela barraca
dentro. Effectivamente, e Tedim, que conhecia bem o districto ve-
aprazou-se o dia.
natorio onde
preparava a caçada, nas vizinhanças de Jacarepaguá, mandou armar
uma barraca no sitio que era justamente a única sahida que tinha certo veado que
ali havia, quando perseguido pelos cães dos lados oppostos. Armou-se no meio da
barraca a competente mesa de ramagem para se almoçar, e, a titulo de se buscar
melhor ventilação, deixou-se aberto o fundo da barraca opposto á entrada. Estava
S. M. acabando de almoçar, quando os latidos da cachorrada mui perto deram signal
do veado; e mal tomava a Augusta Archiduqueza a espingarda, quando viu com
sorpresa o veado entrar-lhe pela barraca, e saltando ppr cima da mesa, e quebrando
copos e pratos, varar pelo fundo da mesma barraca, onde logo adiante veio a cahir
morto pelo tiro que lhe dirigiu a filha dos Césares."
— 306 —

CARTA N.o 112

Rio de 25 de
Jan.ro

Novembro de 1817.

Meu Pay e S.r. Estando horas a


prezadissimo por par-

tida do Navio Fenix, vou meio desta a V. M.ce


por participar
lhe tenho dirigido alguas Cartas com as noticias ultima-
que q.
mente aqui occorrerão, e me ser o Navio Caridade o
parece

dellas ; agora tenho a dizer a V. M.ce foi nesta


portador q.

Corte grande o alvoroço de alegria noticia da Chegada


pela
da Nau Vasco da Gama ao de Lisboa, todos lamen-
porto por
tada como : e continuão igualmente as demonstrações
perdida

do chegada da Seren.ma S.ra D. Carolina


publico prazer pela
Leopoldina, aquém ha dias S. Mag.e a Rainha
Joséfa poucos

N. S.ra brindou com hum explendidissimo e mui delicado


jan-
tar ; e se vêm e encontrjo os dous Noivos em e com
já passeio,
estado separado.

Em razão do meu novo exercício na Secretaria, devo ad-

vertir a V. M.ce me não escreva nunca Saccos do Ex-


q. pelos
desse Governo esta Corte, mas sim e só
pediente p.a pelas
malas de Correio simplesmente ; destas sou logo entre-
pois q.
e daquellas nem sempre o serei, motivos me são
gue, por q. pa-
tentes ; e faço isto desvanecer idea, V. M.ce
p.a qualquer q.
tenha, de maior brevidade, com a sua remessa Expediente
pelo
da Sècret.a, de certo he o contrario. Sou com todo o
quando

respeito

De V. M.ce

Filho m.,to obed.® e obg.do

Luiz dos Santos Marrocos


Joaquim

P. S. Não nesta alongar-me não ter tempo, nem


posso por
escrever separadm.^ ã Mãy, a V. M.ce me fará a m.60 de
q.m
me recomendar, como a V. M.ce mui certo no favor de suas

bênçãos ; assim também á Mana e Tia, ha m.to


q. me não

escrevem.
— 307 —

Anna faz iguaes recomendações, e agora se acha assás

incommodada com o trabalho de sua assás adian-


gravidez

tada &.

(junto a esta carta, encontra-se um com o seguinte:)


papel

Em Nov.bro de 1817. (pelo de


punho

Luiz Marrocos)

Amigo ; ontem he teve lugar hüa conversa bem miúda


que

sobre o nosso caso ; e Thomaz Antonio toma a afronta, como

feita a elle, e mandou certificasse a V. M.ce se não affli-


q. q.

com o cazo ; diz elle, com V. M.ce não he nada ;


gisse por q.,

e isso me apresso a communicar-lho, como seo verdadeiro


por

amigo, he
q.

Damazo*
Joaq.m

(a) N. B.

He esta a mais authentica da m.a honra contra a in~


prova

triga calumniosa, me formar o Visconde de V.a N.a


q. quiz

da Rainha. j

(a) escrito de Luiz Marrocos


pelo punho

N.° 113
CARTA

•Rio de 31
Janeiro

de de 1818.
Janeiro

Meu Pay e S.r do C. Pelo Navio Fenix


prezadissimo

escrevi a V. M.0** algumas Cart?s em resposta da havia


que

de V. M.ce recebido na data de 12 de Agosto do anno


pas-

sado, tendo feito outras com a do meu


já participação pro-
ximo Despacho Official da Secretaria de Estado dos Ne-
para

do Reino ; tratando nellas igualmente de outros obje-


gocios

ctos, servião então de a minha correspondência.


que preencher

Desde essa época até ao apezar de terem chegado a


presente,

este vários Navios, não tenho elles recebido Carta


pòrto por

alguma de V. M.06, bem contra as minhas esperanças, obser-


— 308 —

cuidado, V. M.ce na sua noticia da


vando o que patentêa, pela

minha moléstia em fins do anno de 1816, da fiquei


grave qual

surdo do ouvido esquerdo, e causando-me extranheza


grande"

não me haver ainda a recepção de outras Cartas


participado

assim anteriores, como áquella minha moléstia,


já posteriores

e as incluião outras de Anna, de injustamente se


que quem

como esquecida e descuidada. Tudo isto fôrma hum


queixão

Plano de confusão e scisma, me submerge em mil refle-


que

xões, não descobrindo o contrario algum motivo, me


para que

satisfaça.

Ha mezes tenho exercido o meu novo Em-


quatro que

com muita satisfação, inda não trabalho, assim


prego que pouco

distancia de minha casa á Secretaria, como assidui-


pela pela

dade inalteravel do mesmo exercício. Em sacrificio á verdade

devo confessar-me mui obrigado a todos os mais Officiaes,


que

me honrão, e me obsequeião, estando á


grandemente porfia

a insinuar-me no he mim ainda desconhe-


promptos que para

cido ; e álem de ser da maior acho nelles


gente probiíade,

huma simpathia de inda mesmo o Serviço, faz


gênio, para q.

nascer entre nós mutuamente hüa agradavel familiaridade.

Não devo também deixar em silencio a decidida do


protecção

Ex.mo S.r Thomaz Antoriio em meu beneficio, não só mi-


pela

nha Nomeação, feita de seu motu sem dé mim ser


proprio,

lembrada ou requerida, não lhe tendo fallado espaço^de


por

cinco annos, mas também obséquios delle


pelos públicos, que

tenho dçpois disso recebido, mandando-me chamar vezes


por

ao seu Gabinete, me occupar em cousas do Serviço, e


para

convidando-me a com elle ; obséquio este ultimo,


jantar que

ainda não acceitei, assim meu natural acanhamento, como


por
não de figurar no Mundo meio de impostu-
por que góstp por

ras ; fugindo talvez do vejo muitos desejão e


que que

procurão.

O Requerimento do seu afilhado Vicente Luiz de Fidelli,

ha muito existia na Secretaria mettido a Despacho,


que parece

estava destinado a ser desenvolto do seu lethargo meio


que por

de meus cuidados Como veio desabrigado de Do-


pessoaes.

cumentos alguns, servissem de abono á sua


que perteação,

nella recahir a Graça de S. Mag.e, he forçoso


para que prece-

da a competente Informação, alem de isso ser estilo em Reque-

rimento, complicão entre a dependencia do Serviço e a


que

sua remuneração. Por tanto á vista do incluso Aviso,


que
vai de minha letra, e elle deve entregar
que pessoalmente, pode
— —
309

tempo empregar a sua efficacia e rogativas, quando


ao mesmo

e a razão muitas vezes sue-


lhe não sirva só a justiça, (o que

vir favoravel a Informação do Inspector ; e desse


cede) para
ficará servido na Graça, supplica, ou em
modo que que
julgo
Neste meu lhe será a dili-
outra equivalente. passo patente

faço, elle ser despachado, vista a


gencia, que para protecção,

V. M.ce me declarou a seu respeito. Outro semelhante


que

Aviso remetto ao P.e Evangelista, Cura da Patriarchal,


João

sobre a tem nesta Secretaria d'Estado, e a


pertensão, que

informar aos Governadores do Reino. Como he nosso Ami-

lancei mão do dito Requerimento, o obsequiar por


go, para

este modo, ser o mais breve e aliás ter


por prompto, podendo

aqui mais demora. Elle vai Expediente com direcção ao


pelo

Official da Secretaria, filho do fallecido Payzinho, o tal-


qual

vez obséquio lho enviará a sua Casa, ou á Igreja al-


por por

Correio mas será mais o dito P.e vá


gum ; prudente que pes-

soalmente recebe-lo á Secretaria. O V. M.ce fará o favor


que

de lhe tiver isso opportunidade.


participar, quando para

Advirto fim ambos estes Avisos vão abertos a sello


por que

volante, a devem ser fechados antes da sua entrega.


que

Ha dias tive o encontro com hum Clérigo, mim des-


para

conhecido, mas se me ostentou de antigo conhecimento de


que

minha meninice. Declarou-se-me dos Peres, dando-


parente

me delles recommendações ; e especialmente de V. M.ce, de

affirmou haver-se despedido na vespera de sua sahida,


quem

encontrando-se acaso com elle no Largo da Patriarchal.


por

Não fazer injustiça ao seu inculcado caracter, nem ás


quero

apparencias de seriedade, com me fallou ; e isso me


que por

mostrei mui agradecido, offerecendo-lhe a minha Casa e o meu

desejo de servi-lo : mas como elle não me trouxe Carta alguma

de V. M.ce, nem V. M.ce me deo ainda delle anticipação algu-

ma ; devo dizer não dou credito a estas recommendações


que

vocaes, e dadas na rua ao acaso ; tenho sido freqüentes


pois

vezes mordido destes enganos, a titulo de alguma impertinen-

cia. O dito Clérigo não veio ainda a minha Casa até hoje,

como lhe offereci, nem mais o tenho visto.

Por dias se espera aqui o Conde dos Arcos, Governador

e Capitão General da Bahia, a foi render o Conde de


quem
Palma (65), vir tomar conta, como Ministro de Estado,
para

(65) D. Francisco de Assiz Mascarenhas, Conde da Palma, foi nomeado


por carta réqia de 7 de Julho de 1817, tomou posse em 25 de Janeiro de 1818 e go-
vernou até 10 de Fevereiro de 1821. —• Varnhagen, História Geral do Brasil, V,
ps. 310.
— 310 —

da Repartição da Marinha e Dominios Ultramarinos ; assim

como o Conde de Palmella, a Repartição dos Negocios Es-


para

trangeiros e da Guerra, demorando-se este todavia mais tempo,

em razão de suas ultimas Commissões em Inglaterra. E na ver-

dade bem se faz a chegada destes dous Ministros


que precisa
de Estado, aliviarem, cada hum no lhe toca, ao S.r
para que

Thomaz Antonio, tão sobrecarregado se tem visto com o


que

Expediente de todas as Secretarias de Estado, sendo todavia

espantar o nelle se ha observado, á custa


para progresso, que

de suas excessivas fadigas, e do inexplicável trabalho, em


que,
como nenhum outro, se disvéla. Quanto a mim, anciosamente

desejo a vinda dos dous ; no em este vai,


pois passo, que
assim vencer o atrazamento antigo, causado moles-
para pelas
tias do Marquez de Aguiar e Conde de Barca como
(66), para
satisfazer aos objectos importantes, tem feito memorável
que
esta época ; he impossível hum homem só
presente política que
não fraquêe, mais robusto e mestre seja.
por que

O dia 22 deste mez foi nesta Corte mui festivo, assim

como os três, ou dias seguintes. S. A. R. a Seren.ma


quatro

S.ra D. Carolina conheceo bem o todos


gosto geral, que pa~
tenteavão com o Seu Anniversario, o vez
qual pela primeira
se fez distineto meio das Funções e apparato, referido nas
por

Gazetas inclusas. S. Mag.e Se Dignou abrilhanta-lo mais

(66) O Excellentissimo Antonio de Araújo de Azevedo, I. Conde da Barca,


do Conselho de Estado, Ministro e Secretario d'Estado dos Negocios da Marinha e
"Dominios
Ultramarinos, Grão Cruz das Ordens de Christo e da Torre e Espada ; da
Ordem Hespanhola de Izabel Catholica, e da Pranceza da Legião de Honra, falleceu
no dia 21 do corrente, de idade de 65 annos, 1 mez e 7 dias, de huma febre nervosa,
que acabou sua existencia já muito tempo debilitada, sendo estimado Seu
por El Rei
Amo, respeitado dos estrangeiros, querido dos Portuguezes, deixando eterna saudade
ao Reino do Brasil." — Gazeta do de
Rio Janeiro, de 25 de Junho de 1817.
O Conde da Barca deixou opulenta livraria, riquíssima sobretudo em sua
seção iconoçjráfica. Esso livraria foi levada à praça para pagamento da execução
que a seu herdeiro movia o Conselheiro Antônio Fernando Pereira Pinto. Em 22 de
Abril de 1R22, depois de terem corrido mais de três praças sem ,se apresentar licitante
algum, foram de novo trazidos a público pregão de venda e arrematação os bens do
Conde, que andavam em praça pela execução daquele Pereira Pinto, e nessa occasião
apresentou-se o P.e Joaquim Damaso, Bibliotecário da Real Biblioteca, dizendo que,
por ordem de S. Alteza Real o Príncipe Regente do Brasil, vinha arrematar para a
mesma Biblioteca a livraria, posta novamente em praça, pelo preço da avaliação, se
não Houvesse quem mais desse : de- feito, não aparecendo outro licitante, foi a livra-
ria, depois de
preenchidas as formalidades do estilo, arrematada pelo Governo por
Rs. 16:730$970. em que fora avaliada, com a obrigação de entrar o arrematante com
essa quantia para o Banco do Brasil, no prazo de três dias.
Em seguida foi incorporada
a livraria
aos próprios na- do Conde da Barca
cionais Acordão do Tribunal da Casa de Suplicação do Rio de Janeiro de 28
por
de Setembro de 1822, mandado executar por sentença civil do Juizo dos Feitos da

Fazenda de 26 de Novembro do mesmo ano. — Veja Catálogo de Cimelios da Bi-

bliotcca Nacional, ps. 565/567.


•— 311 —

com os Despachos, conferio, e V. M.ce ver das


que que pode

mesmas Gazetas, certamente ninguém se ex-


que julgava que

tendesse a todas as classes. O máo tempo, sempre occor-


que

ria das tardes as noutes, impedio a S. Mag.** e Altezas


para

Reaes o do divertimento da Opera, estava desti-


gozarem que

nado no R. Theatro de S. desta Corte. A mesma S.ra


João

tem desfructado muito boa saúde, sem extranhar o Clima,

nem o seu novo estado, em com satisfação se sabe ter


que já

dado a conhecer a sua fecundidade. Passêa muito e com apro-

veitamento, mostrando nestes recreios não só hum methodo

singular, nascido de húa regular educação, mas o estudo


que

tem tido em Sciencias Naturaes ; o da mesma sorte


que pra-

ticou (por ser a applicação do seu nesse tempo,


gênio) pouco

se demorou na Ilha da Madeira.


que

S. Mag.e espaço destes últimos cinco mezes


por padeceo
incommodos de huma o do seu
grandes perna, que privou
diário, tão importante á sua saúde, e bem assim das suas
giro

de Santa Cruz, annualmente como


jornadas que praticava»
exercício análogo á sua constituição. Porem actualmente

se acha bom de todo, sahir aos seus


quasi podendo passeios,
e vindo isso da Sua R. Quinta da Boa Vista á Cidade
por

a assistir ás Funções da Sua Capella R.: não de


querendo
modo algum, inda na maior força de seus incommodos, sus-

pender ou disferir o Seu Despacho, nem faltar ás Audiências

do costume, e no dia repetidas. Sem embargo do seu resta-

belecimento, o máo tempo ha impedido S. Mag.e fizesse


que

agora a sua digressão a S.te Cruz, como intentava ; e até


para
ver e mostrar a S. A. R. o Palacio, alli foi ultimamente
que
edificado com accommodações toda a Família Real,
para pela
direcção do Barão do Rio Secco. Mas supprio aquelle in-

conveniente, transportando-se a Ilha do Governador, onde


para
estes dias de Entrudo.
passa

Estamos ao dia universalmente desejado da Fe-


proximos
liz Acclamação de S. Mag.e, e tanto tempo aqui demorado,
por
sem embargo çle se haver effeituado nas outras
já partes-do
Reino e Domínios. O dia 6 de Fevereiro, dedicado ás Cha-

de Christo, he o S. Mag.e destinou essa Função


gas que para ;
e a este fim não se vê toda a outra couza mais, do
por parte

que preparativos de festas e illuminações, em este Povo


que
entre si á exceder-se. Sentirei muito de não
pertende porfia
estar a este Acto, inda não visto, mas alem de me
presente
— 312 —

faltar isso huma decente commodidade, he que


para provável

me ache em Casa, descançando das fadigas, a se deo


que já

e irão chegando á maior effervescencia,


principio, que quanto

mais se for aproximando esse dia memorável. Darei a V.

M.ce as noticias, lhe forem relativas, e logo me for


que que pos-

sivel communicar-lhe. Como fico esperando resposta de V.

M.ce a outras minhas Cartas mais antigas, não se me offerece

ora objecto a alongar-me mais nesta ; restando-me só asse-


por

a V. M.ce com singular veneração serão sempre


gurar quanta

de mim acceitas as suas determinações, com a certeza da sua

saúde, em cuja correspondência esperó merecer de V. M.ce

a continuação da sua benção ; ser com todo o respeito


por

De V. M.ce

Filho mJto obed.e e obg.do V.or

Luiz dos Santos Marrocos


Joaquim

CARTA N.o 114

Rio de 31
Janeiro

de de 1818.
Janeiro

Meu Pay e S.r Serve esta de a


prezadissimo prevenção

V. M.0*3 lhe Expediente desta Secre-


para participar que pelo
taria de Estado lhe remetto huma Carta de volume, com
grosso

sobescripto ao nosso Amigo Antonio Pereira de Fi-


primeiro

ao recommendo o favor de lha fazer entregar


gueiredo, qual

em Casa Correio da Secretaria, se V. M.ce se


por qualquer

demorar em ir ou mandar busca-la a Casa delle.

Este meio me seguro, houver de enviar


parece quando
a V. M.0*5 algumas Cartas mais importantes, e muito
principal-
mente me ser isso agora de toda a commodidade.
por

Sou com todo o respeito, na certeza do favor da sua

benção,

De V. M.ce

Filho obed.e e obg.mo C.

Luiz Joaq.m dos S.*0® Marrocos


— 313 —

CARTA N.° 115

Rio de 31
Janeiro

de de 1818.
Janeiro

Minha Mana do C. Eu tinha adoptado hum sistema

recebido, e, até ti mesma de


quasi geralmente por praticado,

não escrever segunda Carta, sem receber resposta da ;


primeira

mas ninguém dizer, desta agoa não beberei, os


pode por que

mais fortes mais depressa se Depois


juramentos quebrão.

de receberes algumas Cartas minhas, sem te mover a curiosi-

dade, ou a amizade a responderes a ellas ; ainda esta me obri-

a continuar com as demonstrações, no meio das


ga presentes

minhas lidas e trabalhos, successivamente me occupão e


que

distrahem : mas deixando estas reflexões, de nenhum


que

modo agradão, estimo só a falta das tuas Cartas não nasça


que

da falta de saúde, em mim não he espantar. Como


que já para

a consolação dos velhos he aliviar o dos annos com idéas


pezo

da sua mocidade ; eu, vou com largos a entrar


que já passos

a velhice, será modére essas tristezas com as


para justo que

mesmas idéas, recordando-me do então me recreava : e


que
isso desejo me dês noticias das moças do nosso Páteo
por que

e fóra delle, isto he, das filhas e sobrinhas da Thereza, e das

do Luiz de Anna, assim como das da Viuva do de


José

S.ta Anna, e de todas as mais do nosso conhecimento, e das de

eu não conservo lembrança. As vierão aqui,


que já que para

todas tem degenerado, não digo, ser esta ou aquella, mas


quasi

he verdade a maior com o seu máo tem


que parte procedimento
desacreditado a boa fama das Snr.as de Lisboa, tendo
pois
vindo esta terra, se chamar com muita razão
para que pode
a terra dos vicios e da tem attrahido si a má
perdição, para
reputação, contrario em Lisboa se divulgava das Bra-
que pelo
zileicas. Não afirmo isto tenha a humas e
por paixão que
ódios a outras ; álem de não esperar-se isto de hum
por que

Compatricio, e eu detestar o vicio onde elle ne-


geralmente
e a virtude onde ella brilha ; sobre tudo à
greja, prezar prática

pessoal de seis annos, ás minhas observações


junta partícula-
— 314 —

res a respeito de humas e outras, me tem feito conhecer com bem

mágoa minha os desgraçados effeitos de huma ôca


presumpção
de de Lisboa, manchada torpemente com os mais des~
filhas
carados vicios e laxidão, as constitúe mais
que propriamente
do Inferno.
filhas

Bastará de Sermão ; ninguém mo encommendou,


por que
nem mo : e remate darás recommendações á Coma-
paga para
dre, á Mãy da Comadre, á Prima da Comadre, e ao marido da

Comadre ; não esquecendo, nos livrar-mos de


para quebranto,
todas, as mais velhas, nos causticarem. Sou deveras
que

Teu Manno aff.° e sinc.°

Luiz

P. S.

Anna se recomenda m,10

CARTA N.M16

Rio de 24
Janeiro

de Fevereiro de 1818.

Meu Pay e S.r do C. Continúa a minha


prezadissimo
expectação com a falta das suas Cartas, tão ancioso es-
que
á chegada do Navio Carlota em 12 do corrente
perei próxima
com 47 dias de Viagem : e este sentimento mais se augmenta

na razão de não descobrir meio algum o motivo e a causa


por
deste silencio. Rógo tanto a V. M.ce se não esqueça de
por
me enviar sempre em todos os Navios, dahi sahirem, duas
que
regrinhas não alongar-se) com a
(quando possa participação
da sua saúde, da Mãy, Mana, Tia, ôc.; e isto só he bastante

me livrar de cuidados, aliás me amofinão sem cessar :


para que
e como na vida, em entrei, me he notoria a sahida de
que qual-
Navio deste esse não deixo de escre-
quer para porto; jámais
ver a V. M.ce me o tempo, ou seja
quanto permitia pela mala

avulsa do Correio, ou Expediente da Secretaria


pelo com di-
recção ao nosso Amigo Antonio Pereira de Figueiredo, como

já pratiquei neste ultimo Navio, Cidade de Damão, daqui


que
— —
315

sahio a 19 do corrente mez, levou as minhas ultimas


(e que

Cartas, anteriores ao dia da Acclamação de S. Mag.e), o


que

ficará a V. M.ce de lembrança o. futuro : e me


para parece que

desta sorte fica certa e regular a nossa correspondência,


que

só* moléstia ser interrompida da minha ou


por pode parte, quan-

do succeda a sahida de hum Navio juntamente.

Effeituou-se felizmente o desejado e apparatoso Acto da

Acclamação de S. Mag.e no dia 6 do corrente, e do modo mais

tocante e expressivo, imaginar-se ; o V. M.ce


que pode que

ver das noticias transcriptas nas Gazetas inclusas (67);


poderá

devo advertir nellas há muita falta de exacção, e muita


que

mentira, não desculpar ; narrando com enthu-


que posso pois

siasmo couzas não existentes, ou dando valor a ninherias, cahe

no absurdo, ou talvez no desaforo, de não factos e


publicar

circunstancias ainda as mais essenciaes daquelle Acto. O

Redactor, apezar de ser Engenheiro, devia tomar outro Officio ;

neste não inculca ; o não seria nelle de es-


pois geito (68) que

tendo sido meu Condiscipulo no Latim na Aula


panto, por que

do Maia, era elle Minorista.

Eu nada vi da Função ; tendo sido mandado nessa


por que
manhã a Casa do Conde de Vianna, a levar-lhe, segundo o

estilo da Secretaria, a Mercê da sua Grão Cruz da Torre e

Espada ; logo cheguei a minha Casa, me recolhi á cama,


que
attacado de huma febre, depois se declarou biliosa, da
que qual
me vêr livre, ser levantando-me da cama
pude por passageira,
no dia 15 e sahindo a vez no dia 17a beijar a Mão de
primeira
S. Mag.e Mercê do Habito de Christo, veio ta-
pela que por
rifa : e foi esta moléstia a causa de não communicar a
poder
tempo a V. M.ce estas noticias dito Navio, daqui sahio
pelo que
a 19. Foi nesse mesmo dia 6 constrangido vesti e estreei
que
a minha Farda de Official de Secretaria, havendo-me im-
que

portado de 120$000 r.8 com todas as suas bonecrices


perto
adjuntas, me encheo de vergonha, hum Falperra,
julgando-me
sempre tive negação e odio a enfeites e
pois peralvilhices.

(67) A descrição do
ato da aclamação de D. João VI, em 6 de Fevereiro de
1818, com todos os seus pormenores, ocupa a Gazeta extraordinária do Rio de Ja-
neiro, de 10 do referido mês, seguida da .Relação dos Despachos,
publicados na Corte,
pela Secretaria de Estado dos Negócios do Reino naquele faustissimo, e continuados
os das outras Secretarias nas Gazeías de 11, 12, 14, 18, 20 e 24. Na Gazeta de 16
vem nova e mais detalhada descrição Ho ato-
(68) O redator da Gazt-.ta, de 1813 a 1821, foi o brigadeiro Manuel Ferreira
de Araújo Guimarães, natural da Baia, antigo oficial do Corpo de Engenheiros e
lente da Academia Militar. Escritor notável, deixou também muitas obras de mate-
mática. Nasceu em 1777 e faleceu no Rio de Janeiro em 1838.
— 316 —

Conde dos Arcos chegou a esta Corte na noute do dia


O

mui felizmente de sorte apezar dos incommodos da


5 (69), que

viagem, teve a de assistir ao Acto da Aclamação de


sua gloria

S, Mag.e, inda sem figurar mais, no Corpo da Corte,


que que

não haver tempo de em tão horas,


por prevenção poucas que

mediavão, e estar tudo disposto em Formulário, sem se contar

com elle. tomou da Secretaria d'Estado dos Nego-


Já posse

cios da Marinha e Domínios Ultramarinos, como Ministro com-

aliviando desse ramo ao Snr. Thomaz Antonio.


petente,

Consta nesta Corte estar o casamento da filha do


justo

Visconde do Rio Secco com o Barão de Neveu, Austríaco, e

Conselheiro de Embaixada, veio na occasião do transporte


que

de S. A. R. a Seren.mil Snr.a D. Carolina. O Visconde ao

repugnou áquelle ajuste ; mas S. Mag.6 lhe mostrou


principio
lhe deveria ser honroso aquelle enlace de sua filha com
quanto

o dito Fidalgo, Primo do Príncipe de Metternich. Ignoro se

o negocio virá a effeituar-se, mas sei o dito Barão todos os


que

dias se apresenta com o maior explendor e apparato em Casa

do Visconde, fazer Corte á menina (70) .


para

Antehontem S. Mag.e, restabellecido dos incommodos


da sua fez a sua a Real Fazenda de S.1*


perna, jornada para

Cruz, acompanhado de Suas Altezas os Snr.03 e Prin-


príncipe

ceza Reaes, Princeza D. Maria Thereza, e Infantes D. Mi-

e D. Sebastião : e hoje lá o S.r Thomaz An-


guel partio para

tonio, assistir ao Despacho. He incerto seja a


para quando

vinda, mas he de conjecturar seja no dia 7 de Março, An-


que
•niversario
da sua chegada a esta Corte.

Finaliso esta fazendo a V. M.ce os meus desejos


patentes
conservação da sua saúde e da Mãy, recebendo com todo
pela

(69) "O IUustrissimo e ExceJIeníissimo Conde dos Arcos, Gentil Homem da


Camara de Sua Magestade, Ministro e Secretario de Estado dos Negocios da Mari-
nha e Dominios Ultramarinos, ftc., £jc., £jc., chegou a esta Corte no dia 5 do corrente."
— Gazeta do Rio de de 7 de Fevereiro de 1818.
Janeiro,

(70) "Guilherme José. Barão de Neveu, Commendador da Ordem de Christo,


Camarista effectivo de S. M. I. e R. Ap., Seu Enviado Extraordinário e Ministro
Plenipotenciario junto de Sua Magestade Fidelissima, na idade de 36 annos. foi
attacado de huma pleurisia a 20 do corrente,
violenta cujas conseqüências lhe cha-
'Terminou
márão huma febre nervosa, que com o seu fallecimento a 26 do corrente,
ás 4 horas e meia da manhã." — Gazeta do Rio de Janeiro, de 27 de Fevereiro de 1819.
O Barão de Neveu havia chegado ao Rio de Janeiro, como encarregado de

negócios da Áustria, em 14 de Julho de 1817. com o Barão de Hugel, secretário da em-

baixada, o Conde Schouteld, o Conde Pacity e três de ciências. O erabai-


professores
xador havia ficado vir com a Arquiduquesa. — Gazeta do Rio de Janeiro, de 16
para
de Julho de 1817.
— 317 —

o respeito as suas bênçãos, e enviando iguaes demonstrações

de affecto á Mana e Tia : e sou

De V. M.ce

Filho m.10 obed.e e obg.do V.°r

Luiz dos Santos Marrocos


Joaquim

Anna cumpre igualmente com os seus deveres.

P. S. Rógo a V. M.ce o favor de mandar entregar as

Cartas adjuntas, depois de fechadas, ás Pessoas, a


quem

pertencem.

CARTA N.° 117

Rio de 11
Jan,°

de Março de 1818.

Meu Pay e Snr. do C. Esta he feita com


prezadissimo

a maior e mesmo na Secretaria, se determinar a


pressa, por
sahida deste Navio Flor do Tejo sem de tempo, reser-
perda
vando outra occasião a extender-me mais em seus artigos :
para

e isso me antecipo a referir a V. M.ce havendo escripto


por q.
hüa Carta em volume ir Expediente no Navio
grosso p.a pelo
anterior, succedeo este, não ser demora-lo, nem
q. por prudente
enviar elle o m.mo Expediente, sahio sem as malas
possível por
desta Secretaria, e consequencia sem a d.a m.a Carta,
por q.
era dirigida com o sobscripto de fora a Ant.° Per.a de*Fig.do,

p.a este a entregar a V. M.ce, como anteriorm.te.


já pratiquei
E este modo veio V. M.ce a receber somente Correio
por pelo
a Cartinha de aviso avulsa, como costumo, o a V. M.ce ser-
q.
viria de cuidado, e a mim de m.ta zanga inconveniente sue-
pelo
cedido : mas he o se acha sujeito a estas alternativas de
q.
viagens. Agora V. M.ce receberá a d.a Carta volumosa, e esta

pelo Correio, lhe serve de aviso ; e rógo a V. M.ce se não


q. q.
descuide no em tenho o maior cuidado,
que pode julgar q. pois
com a chegada de alguns Navios não tenho recebido Carta

alguma de V. M.ee.
— —
318

Em não faço com a devida formalidade, me


quanto por

não agora a occasião ; a V. M.ce, rogando-


permittir participo

lhe o favor de o fazer sciente em Casa, no dia 7 do cor-


que

rente 2 horas da madrugada foi Deos Servido que


pelas %
Anna desse á luz huma menina mui linda, e com a maior feli-

cidade. Queira V. M.ce acceitar as m.as expressões de res-

e affecto, relativas a esta sua neta, felicitando-a com as


peito

suas bênçãos, e reconhecendo nella mais hum tributo de vene-

ração á sua Pessoa nesta distancia, nos affecta. A Mãy


q.

muito bem, e envia a V. M.ce iguaes votos aos meus, di-


passa

rigindo-os não menos á Mãy, Mana, e Tia, a terei o cui-


quem

dado de escrever separadam.te na occasião, como acima


prim.ra

prometto.

Estando muito certo no favor de sua benção, sou com o

maior respeito, depois de os meus desejos na sua


protestar-lhe

melhor saúde, como devo,

De V. M.ce

Filho m.10 obed.e e obg.do C.

Luiz dos S.tos Marrocos


Joaq.m

CARTA N.M 18

Rio de 11 de
Janeiro

Março de 1818.

Meu Pay e Snr. do C. Depois de escrever


prezadissimo
a V. M.ce hoje na Secretaria hüa Cartinha, em
q. participava
a remessa de outra Carta volumosa, intentada mas não verifi-

cada Navio S. Baptista, fim veio a sahir sem


pelo João q. por
mala do Expediente desta Secret.a' dEstado, este ser m.to
por

grande e não então desembaraçar-se; e cuja Carta vo-


poder
lumosa era com sobscripto dirigida a Ant.° Per.a de Figueiredo

ser entregue nas mãos de V. M.ce : fazia eu hoje, como


para

digo, aquelle aviso na idea de ser dirigido Navio Flor


pelo
do Tejo, como V. M.ce verá da d.a Carta ; mas depois de re-

mettida ao Correio, chegou á m.a noticia o Navio Despique


q.
— 319 —

com elle : e como nesta concorrência não


partia juntamente

he mim certo dos dous levará a mala da Secret.a e


para qual

consequencia a d.a minha Carta volumosa ha de


por (pois

leva-la o Capitão daq.le apparecer a busca-la), e


q. primeiro

assim como he natural hum delles chegue a Lisboa ;


q. primeiro

faço esta de cautela e a todos os artigos, hoje


prevenção q.

mesmo na outra dirigia V. M.ce, nesta confusão de


,a para q.

Navios não lhe sobreviesse cuidado algum falta de vera-


pela

cidade nas ditas remessas : e he com o fim de não faltar ao

me faço a diligencia esta vá


que propuz, que possivel para q.

Navio Despique, a outra vai designada o Na-


pelo pois q. p.a

vio Flor do Tejo.

Nada mais tenho ora a accrescentar, nem mais me


por p.a
dá lugar o tempo, reservando occasião de algum descanço
p.a

o discorrer com largueza, o dever e as cir-


quanto permita
cunstancias.

Ficando muito certo no favor de suas bênçãos, tenho a

honra de ser com todo o respeito

De V. M.ce

Filho m.to obed.e e obg.do C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaquim

CARTA N.ü 119

Rio de 12
Janeiro

de Março de 1818.

Meu Pay e Snr. do C. Havendo escripto a


prezadissimo
V. M.ce nesta occasião Navios Despique, e Flor do Tejo,
pelos
não deixo de fazer o mesmo Navio Aurora, apezar de ser
pelo
a sua mesmos dias dos antecedentes
partida quasi pelos ; pois
como nelle vai o Marquez de Castello Melhor com sua família,

não tem outro motivo de demora.

Estimo V. M.ee tenha saúde,


que gozado perfeita que
sempre lhe desejo vigorosa : eu, depois no dia 6 de Fe-
que
vereiro fui attacado de húa febre biliosa, como
já participei,
— 320 —

tenho soffrivelmente; á excepção dos incommodos,


passado

se do intensissimo calor
que geralmente padecem, procedidos

desta de ordinário he a origem do maior numero de


quadra, q.

moléstias actuaes, tendo em modo de epidemias levado muita

á sepultura. Deos refrescar o tempo,


gente queira para promo-

ver e vigorizar a saúde e a mim, conhecendo


geral; quanto

este clima me he assás avesso e fatal,


perfeitamente quanto

sempre me traz mais ou menos doente, e me faz soffrer


pois q.

cada anno, menos, duas moléstias e de ir de ca-


pelo graves,

beça abaixo ; confesso ingenuamente se não fosse casado,


que,

e temendo os incommodos se seguirião da minha separação,


q.

teria requerido Licença de hum ou com dous annos ir a


já para

Lisboa respirar os ares mais saudaveis, e tomar novas forças

com o uso das caldas.

Ha 6 dias Anna teve o seu successo muito feliz, de


que
se está restabellecendo ; o a V. M.06 : e
q. que já participei
a menina se acha muito boa, nutrindo-se do leite da Mãy,
q.
não negra a crie, como aqui he costume. Eu estimo
quer que

isso muito ; me mais natural e decente a criação


pois parece q.
delia seja feita Mãy, do negras, me causão
pela q. pelas q.
nojo e asco.

Para os dias da Pascoa seja baptizada, e


pertendo q. já
tenho Licença do Bispo o baptismo ser em Oratorio
para par-
ticular da ha de servir de Madrinha, a me obse-
q. qual, por

quiar, ostentar nesse Acto


quer grande pompa.

O Barão de S.to Amaro alcançou Licença de S. Mag.e

se retirar a sua Fazenda no Rio Grande, e alli re-


para para
sidir com toda a sua familia espaço de annos :
pelo quatro
causou-lhe desgosto tirar-se do numero dos Officiaes
grande
de Secretaria, onde nunca entrou, nem trabalhou ; e como tinha

outras vistas maiores, não acceitar o Lugar de Official


quiz
Maior, como mais antigo, aqui se estabellecerão as
quando
Secretarias de Estado. Não nos causa nem saudade
pena, ;
assim como elle em nada honrou, nem Repartição
pugnou pela ;
chegando o seu egoísmo a desconhecer os Collegas.
proprios

S. Mag.e e toda a Real Familia ainda se achao na R. Fa-

zenda de S.ta Cruz, onde bem : he incerto


passão se virão aqui

assistir aos Officios da Semana Santa e da Pascoa, assim como

não vierão á Função annual do dia 7 deste mez. Despacho


O

continúa com a mesma activid.e, apegar da


grande distancia :

e a V. M.ce será ahi constante o Decreto de


perdão aos rebel-
— —
321

des de Pernambuco alem do Perdão todo o


(71), geral por

Reino Unido ; sem duvida acção mui digna de hum


grande

Rey, e com a matizar o Seu feliz Reinado.


q. principia

Depois de lhe rogar o favor da sua benção, continúo a

a singularid.® e resp.to com sou


protestar-lhe q.

De V. M.66

Filho m.*0 obed.^ e obg.do C.

Luiz dos S.^8 Marrocos


Joaquim

CARTA N.° 120

Rio de 13
Jan.ro

de Abril de 1818.

Meu Pay e Snr. do C. Com a sahida


prezadissimo pro-
xima deste Navio Princeza tenho occasião de dirigir esta a

V. M.ce manifestando-lhe continua o meu cuidado com a


q.
falta de suas letras e noticias de toda a nossa familia, com es-

"Tendo-se
(71) Àcto da Minha celebrado
Acclamação e Exaltação o ao
"demonstrações
Throno destes Reinos, e Conhecendo
do Meu Povo, da No-
pelas vivas
breza, e dos Representantes das Camaras, e Corporações, que a ella concorrerão a
prestar o juramento de preito e homenagem, o amor e lealdade, que tem á Minha Real
Pessoa, á Monarquia, e ao nome Portuguez : Querendo demonstrar-lhes me
quanto
forão agradaveis estes fieis :
sentimentos Hei por bem, que as devassas, a que se
estava procedendo cm Pernambuco, ou em outras quaesquer terras, pelos crimes, que
alguns malvados, trazendo de longe o veneno de opiniões destruidoras, e que-,
rendo inficionar a Nação Portugueza, que Acabo de ver que se acha
illeza, commetterão contra o Estado, conspirando-se e rebelando-se contra elle,
cessem no seu proseguimento e se hajão por fechadas, e concluidas ; para se pro-
ceder sem outra demora a julgar os culpados,
pordo que
ellas já constar, e se-

gundo as suas culpas merecerem, pois que não permitte a Justiça que crimes tão
horrorosos fiquem impunidos. Não se procederá consequentemente a prender, ou
seqüestrar a mais nenhum réo. ainda que pelas mesmas devassas já se lhe tenhão
formalisado culpas, excepto tendo sido dos cabeças da rebellião. Os que tiverem
sido ou seqüestrados depois da data deste dia, serão soltos, e relaxados os
prezos,
seqüestras ; he Minha Tenção que a Justiça somente prosiga contra aquel-
pois que
)es que já se achão e todos os mais
perdoados, fiquem
ainda que tenhão
prezos,
commettido culpa á excepção somente dos sobreditos já exceptuados. A
provada;
Meza do Desembargo do Paço assim o tenha entendido, e execute pela parte que lhe
toca : E aos Juizes da Alçada e mais Authoridades, a quem compete, Mando expe-
dir as Ordens necessarias. Palacio do Rio de Janeiro, em seis de Fevereiro de mil
oitocentos e dezoito.
Com a Rubrica de El Rei Nosso Senhor." Gazeta do Rio de Janeiro, de 14
de Março de 1818.
— —
322

da Mãy, Mana e Tia. He mim incrível


pecialidade para q.

V. M.ce haja formado o sistema de me tratar com esta


quali-

dade de indifferença e abandono, não occupar algum


querendo

tempo na de escrever-me ; e he isso não deixo


pensão por q.

de aproveitar as occasiões, se me offerecem, descobrir


q. para

o motivo desta falta, ou talvez descaminho das suas Cartas ;

não formar idéas, mim as mais desagradaveis.


por querer para

Continúo no meu trabalho e exercício da SecretA e com

acceitação de todos, me obsequeião. Por este


q. geralmente

Expediente tenho enviado a V. M.ce algumas Cartas volumò-

sas, com direcção ao nosso Amigo, Antônio Pereira ;


primeira

e V. M.ce, aproveitar-se da m.ma commodidade


querendo, pode

do Expediente dessa Secretaria esta ; ainda eu ao


p.il pois, q.

lhe lembrei não tomasse aquella resolução, ces-


principio q. já

sou o motivo, eu lhe fiz a d.a advertencia.


por q.

No dia 7 de Março deo Anna á Luz huma menina com

toda a felicidade ; e no dia 31 foi baptizada no Oratorio da

Madrinha, os nomes de Maria Thereza de Sou-


pondo-se-lhe

sa Marrocos, Provisão do Bispo Capellão Mór. Foi Pa-


por

drinho, seu Tio de Sousa Mursa, Negociante no Rio


João

Grande, e Madrinha D. Maria Angélica de 01iv.ra Gonçal-

ves, Viuva do Commendador e Sarg.to Mór de Mafta, Thomaz

Gonçalves, Negociante desta Cid.e, cuja Casa hoje continúa

com o titulo de — Viuva Gonçalves e Filho, — se chama


que
Marcellino Gonçalves, e he também Commendador da
José

Ordem de Christo. Por Delegação do Cura da Capella Real

ministrou este Sacramento á menina outro seu Tio, o P.e Clau-

dio de Sousa, Prégador Regio, foi Frade do Carmo, e


José q.
hoje se acha secularizado. Portanto mui tênue e insignificante

offerecimento será o meu dedicando ao seu serviço hüa inno-

cente, de nada serve ; na verdade mais necessita


q. quando

de suas bênçãos felicitar-se em seu crescimento ;


para porem
se este decida mais ainda da singularid.e de meu affecto
passo

e obediencia, com a maior vontade o em nun-


ponho pratica, p.tt
ca desmerecer no seu conceito.

No dia 8 deste mez se fez o Officio Anniversario alma


pela
de S. Mag.e a Snr.a D. Maria l.\ na Igreja do Convento de

N. S.ra d'Ajuda, fazendo-se-lhe de novo hum mausoléo de

madeira na sua e competentes ornatos.


preciosa qualidade,
S. Mage e Altezas Reaes assistirão desde Matinas ; se
por
terem ha dias recolhido da Real Fazenda de Santa Cruz.
— 323 —

Antehontem effeito de huma trovoada terrível, em


por

cujo tempo estamos, cahio hum raio nç Palacip do Visconde

de Villanova da Rainha, onde fez estragos na sua


grandes

farta e copa, e no Oratorio, e incommodou algüa gente ;


prenhe

mais descuidados e alegres se achavão solemnizando


quando

os annos da Viscondessa de Magé.

Queira ao S.r Marquez de Sabugosa S. Mag.e


participar q.

foi Servido resolver em seu favor a Consulta da Mesa do De-

sembargo do Paço, fez subir, sobre o aforam.to de huns bens


q.

vinculados : e este Navio vai remettida ao Go-


julgo q. por

verno, se ahi os Despachos necessários : do lhe


p. passarem q.

dou os e me felicito de ser núncio de boas novas.


parabéns,

Dando fim a esta Carta, espero merecer de V. M.ce o fa-

vor de suas bênçãos, e da Mãy, a muito me recommendo


quem

respeitoso, assim como o maior affecto á Mana e Tia, de


quem

fico esperando respostas. E sou com todo o respeito

De V. M.ce

Filho m.to obg.do e obed.e ; V.or e C.

Luiz dos S.tos Marrocos


Joaquim

CARTA N.° 121

Rio de 20 de
Jan.ro

Abril de 1818.

Meu Pay e S.r Ha dias escrevi


prezadissimo poucos que

a V. M.ce a minha ultima, aproveitar a occasião da sahida


para

do Navio Princeza, o ainda hoje se acha neste ; e


qual porto

como está annunciada amanhã a sahida do Navio Castor,


p.a

elle envio esta dar e saber noticias ; agora mesmo


por para pois

aparece no Castello desta Cidade o Signal do Telegrafo, de

Navio de Lisboa ; esperando isso desta vez receba algu-


por q.

ma Carta, visto desde muito tempo as não recebo.


q.

Nada ha ora de novo, communicar-se, se não


por q. possa

S. Mag.e Se dignou ao Marquez de Loulé,


q. perdoar prezo
— —
324

na Fortaleza de S.til Cruz, o se acha livre e solto, apezar


qual já

de ser ahi e sentenciado, e m.mo executado (seg.do


processado

me dizem). Seria bem desejar se acabasse a época da


p.a q.

intriga.

Serei extenso outra vez, em haja dizer de respos-


p.a q. q.

ta ás suas : e entretanto, confiado sempre no favor de suas

bênçãos e da Mãy, a me recomendo e á Mana e Tia ; tenho


q.m

a honra de ser

De V. M.ce

Filho mA0 obed.e e O.

Luiz dos S.108 Marrocos


Joaq.m

CARTA N.° 122

Rio de 12
Jan.ro

de Maio de 1818.

Meu Pay e S.r Depois de húa tão


prezadissimo prolon-

falta de Cartas suas, como nas minhas antecedentes assás


gada

tenho ; a 23 de Abril entrou neste o Navio


ponderado porto

D. Pedro de Alcantara, finalmente me trouxe a sua de 14


q.

de Fevereiro, e com ella a minha satisfação e socego da desor-

dem de idéas funestas, com até alli me via assaltado. Nella


q.

vejo e respeito as expressões honrosas, com V. M.ce se


que

dignou bemdizer a m.a inexperada Nomeação esta Secre-


p.a

taria de Estado, o de tal sorte influio na m.a sensibilidade,


que

me apresso a enviar a V. M.ee os meus votos de agradeci-


que

mento, me a distancia e as difficuldades de


quanto permitte

húa correspondência. Igualmente se dirigem estas


prompta

m.mas demonstrações de e reconhecimento a minha Mãy,


prazer

Mana e Tia, tomão em m.as fortunas, acceitando


pela parte, que

estas m.aS expressões de sentimentos e constantem.te


puros,

affectuosos. Não menos envio os meus respeitosos cumprim.10®

de a todos aquelles, me obsequiarão, e continuão


gratidão que
a obsequiar-me, congratulando a V. M.ce este meu Despa-
por
cho ; e com toda a especialid.6 e a S. Ex.a o S.r Prin-
primazia
— 325 —

cipal Freire, Patriarcha Eleito ; singular excesso de ser


pelo

o lhe annunciou aq.la agradavel me-


primeiro, q. pessoalm.te

tamorfose, acceitando com respeito os com


profundo parabéns,

he servido honrar-me, e rogando-lhe se me he


q. persuada q.

mais fácil conceder verdadeiros sentimentos, com fique sua-


q.

vemente a m.il obrigação ; do faze-los cabalmente


gravada que

conhecidos, serem mui superiores aos termos, com se


por q.

explica.

He verdade tenho sido tratado na Secretaria com o maior


q.

agrado e affabilid.e e com aquella


possível, gravidade própria

de tão respeitável Corporação ; mas não sendo do meu


gênio

forrar-me a trabalhar, especialmente vendo assim o exigem


q.

as circunstancias, me acho todavia cançado e exausto de



forças, e o he, das intellectuaes, desgostos, contra-
peior pelos

tempos e moléstias, assás me tem adelgaçado o fio da exis-


q.
tencia : hoje mesmo raro se conta o dia, em me não sinto
que

débil e perplexo de cabeça, sahir ao meu trabalho ; e como


p.a
me acharei, com sete horas de continua applicação diaria, desde

as 8 da mánhã, vir ás cinco da tarde ? Nesta convi-


p.a jantar

vencia, em me vejo, a minha distracção he apparente,


q. por
lhe ser opposta ; e confesso mais sublimes vir
q. por q. possão
a ser os degráos de minha fortuna, nenhuma impressão me
po-
derão causar, o meu coração se acha tão offendido
pois q. já
dos elle tem nenhum sente com
golpes, q. por passado, q. prazer
esta variedade, alem daquelias demonstrações, ou a
q. gratidão,
ou a condescendencia obrigão a não se confun-
patentear, por
dir com huma estoicidade reprehensivel.

Na Livraria ainda sou considerado actual Empregado,

como d antes, e os mais se honrão muito disso ; mas desde


q.
sou Official da Secretaria ainda não cobrei dalli Ordenado,

apezar de não haver Ordem de S. Mag.e se me não


p.a q. pa-
O Visconde de V.a N. da Rainha he o meu maior inimi-
gue.

deliberou-se a não me mais, e no meio da horrorosa


go, pagar
intriga, com fazer-me desgraçado, não tem de
q. pertende pejo
dizer a todos, me conhecem, ha de crucificar-me. Os
q. que
motivos desta intriga, elle ha muito urdir contra
q. pertendeo
mim, e agora em referirei a V. M.ce em outra Carta,
pôz pratica,

por serem assás extensos, e nesta ser-me voltar a outro


preciso
objecto da.minha actual e maior attenção; a V.
ponderando
M.06 eu de me declaro a respeito do d.° Visconde,
q. proposito

sem disso me arrependa em meu inimigo, nem


q. publica-lo por
— —
326

ache nisso matéria de segredo ; he m.t0 natural elle haja


pois q.

dilatado e extendido a sua intriga até essa Corte com aq.las


p.a

honrão a M.a ausência. Esses dous bilhetinhos do


pessoas, q.

P.e Damazo servirão entretanto illustrar a narra-


Joaq.m para

eu houver de fazer ao d.° respeito.


ção, q.

Por Decreto de 6 de Maio de 1814 Foi S. Mag.e Servido

Fazer Mercê do Emprego de Chronista da Casa de Bragança

a Bernardo de Andrade Coelho, Vice Reitor do R. Colle-


José

dos Nobres, fallecimento do P.e de Foyos : mas


gio por Joaq.m

esta Mercê não chegou a verificar-se, o P.e Foyos, se-


por q.

me dizem, era Chronista de outra Repartição, e


gundo parece

nem este Lugar foi então conferido ao d.° Vice Reitor, em


q.

troca da Mercê : ainda hoje aqui revive em seu


prim.ra pois

favor a recomendação dos Governadores do Reino elle ser


p.u

empregado no da Casa de Bragança, succedesse


quando q.

vagasse, visto se lhe frustrou então aq.Ia Mercê. He esta


q.

a espinha, existe sobre o Requerim.to, V. M.ce


principal q. q.

enviou relativo ao m.mo objecto, conforme se me respondeo a

. meus empenhos, conhecendo eu todavia os desejos de


grandes

me satisfazerem, forão innumeraveis os Requerimentos,


pois q.

aqui chegarão a mesma Á vista de tudo isto, vai o


p.a pertensão.

d.° Requerim.t0 os Governadores do Reino informarem, sendo


p.a

Aviso da m.a letra, deixando-se a elles a decisão aqui se ve-


p.a

rificar. Parece-me os Ex.mos Snr.es Patriarcha Eleito e Sal-


q.

ter, com V. M.ce com antecedencia se combinou na remes-


quem

sa, não repugnarão com os mais inclinar-se, informando a seu

favor, visto concorrem todas as circunst.as attendiveis ; e


q.

conhecendo-se nisto a Benignid.e de S. Mag.e, apezar de haver

a razão acima referida ácreca do outro. V. M.ce fará a diligen-

cia a informação dos Governadores do Reino, álem de ser


p.a q.

na fôrma, deseja, venha com brevidade ; e então ficará a


q.

meu Cargo também a brevidade da Resolução de S. Mag.e.

A respeito do Off.aI Maior não tenho nada a recear,


por

álem de ser de conhecida e honra, me faz


q. pessoa probidade
m.to obséquio, e foi elle o veio fallar-me a este res-
q. primeiro
declarando-me haver recebido Carta ahi de hum Mon-
peito,

senhor seu Amigo ou Parente : eu lhe sou m.to obrigado


pela
amizade, com me trata, e todas as circunst.as, o fazem
q. por q.
estimavel. Por todas estas razões só V. M.ce o cuidado,
ponha
em os Governadores do Reino dêm o seu favoravel,
que parecer
com o S. Mag.e Costuma Conformar-se ; e como esta in-
q.1
— 327 —

formação não vir em mão diligenciará saber


pode particular,

mesmo Governo he remettida ; e me avisará logo ;


quando pelo

eu me incumbir do seu Despacho.


para

Vejo a Cartinha do Conde dAlmada, e a outra de


parti-

cipação de Bern.d" : eu escrevi a este, elle haver


João por pra-

ticado o m.mo comigo, foi nomeado .dos Residuos ; e


q.do Juiz

aqui só obrou a civilid.e. Elle me respondeo, desfazendo-se


com elogios, e talvez eu me nutro dessa no


julgando q. palha,

se engana, Lourenço ainda me não respondeo, nem


que João

desejo esse motivo se incommode, tem muito a


q. por pois

fazer. Porem recebi Cartas do nosso Comp.e Simões e de seu

filho, do nosso Amigo, e meu obsequioso Collega Ant." Per.a

de Figueiredo, a hei de responder em agradecim.to a tudo


q.m

me refere, e com me honra : Meu Tio Conego também


q. q.

me escreveo, não de mas mui attenciosam.te, cujas


parabéns,

expressões assás me cativão, e desejarei satisfaze-lo na incum-

bencia do negocio, me ; m.tô me interessa de


q. pede pois q.
todo se desvaneça o orgulho e inimizade entre Parentes de

criação, e especialm.1® brilhando nelles, ou a instrucção


grave

ou o discernimento ; o he mais feio e indecoroso.


q.

Leio as expressões, me dirige na sua Carta o S.r D.or


q.
Farinha, e singularmente agradeço : notando as suas
q. porem
bem fundadas sobre o esquecim.t(> em vive ;
queixas politico, q.
V. M.ce me fará o favor de lhe asseverar eu terei m.t;l honra
q.
de diligenciar as suas logo elle me insinue o
pertensões, q. q.
eu faça em sua vantagem ; tendo sempre a
quer q. presente
insufficiencia de meus esforços.

Finaliso esta, rogando a V. M.ce me continúe o favor de

suas bênçãos e da Mãy, a me recomendo respeitosam.te,


q.m
não esquecendo a Mana e Tia : e sou, como devo

De V. M.ce

Filho m.to obed.e e C.

Luiz Joaq.m dos S.t('s Marrocos

P. S.

Anna cumpre os seus deveres com recomendações, achan-

do -se agora entretida com a sua morgada, he mui


que galante.

N. B. Por este m.mo Navio recebi hüa Carta de hú P.e

Fr. de Maria, não conheço, remettendo-se-me


João Jesus q.
hum Caixote com 50 Exempla da Obra dos Varões Illustres,

aqui se distribuírem seus Subscriptores. Ainda o não


p.M pelos
— —
328

recebi, apezar de haver essa diligencia ao d'Alfan-


pedido Juiz

dega, nem eu ter tido hü momento de meu. cuidar nisso


p.a

pessoalmente.

CARTA N.° 123

Em 15 de Maio

Meu Pay : Hoje me chega da Alfandega o Caixote dos

livros dos Varões Illustres, como respondo na Carta adjunta ;

e tirando-os fóra do Caixote achei a exacta conta dos


p.a q. p.a

50 exemplares há a falta de hum Anteprimeiro, ficando isso


por

os Cadernos restantes só se venderem a


proprios p.* pessoa q.
não seja Subscriptor. Como agora vivo mais o P.e
pensionado,
Damazo me faz o favor de incumbir-se dessa venda
Joaq.m

Subscriptores, há, e elle he o Caixa do seu


pelos q. producto,
será depois remettido.
q.

Recebi também os dous Cadernos 14 e 15 a m.a Colle-


p.a
cção, de os S.res Editores me fazem favor : como he de Li-
q.
vros, não regeito, antes agradeço m.to essa lembrança.

Julguei ao concorressem mais Subscriptores ;


principio q.
mas vejo finalmente com bem magoa aqui reina maior
q. pai-
xão Livro de 40 folhas, ou estes Periodicos de novid.es,
pelo por
em são enfronhados estes Sábios da nossa idade. Esta lição,
q.

se lhe offerece, féde-lhes ; e folhêão ; ou criticão do


q. q.do
buril, ou da fidelid.6 da copia, ou da concisão da historia, ou do

rançoso da linguagem, ou da exorbitância do E he o


preço.
se encontra fructo dos suores e disvelos em colligir estes
q. por
monumentos.
preciosos

Resta inda húa folha de Despachos do dia 6 de Fever.°,

remetto, e vai também a de 13 deste mez, relativa ás Secret.30


q.

de Reino e Guerra. Sou

De V. M.ce

Filho do C.

Luiz.
CARTA N.° 124

Rio de 18
Jan/°

de Maio de 1818.

Meu Pay e S.r Com a data de 12 do cor-


prezadissimo

rente escrevi a V. M.ce húa longa Carta, em resposta á


mez

sua ultima, e enviando hum Aviso S. Ex.a mandou passar


q.

sobre seu Requerimento, em o Emprego de Chro-


o q. pedia

nista da Casa de Bragança, os Governadores do Reino


para

informarem e então dava todos os motivos desta resolução,


;

segundo eu alcançar no meio de minhas diligencias. Es-


pude

timarei esta Informação venha logo, antes se atravesse


q. q.

algum de forças superiores, e me isso não será de


parece q.

difficuldade, vista a singular amizade, V. M.ce dis-


grande q.

fructa com S. Ex.a o S.r Principal Freire Patriarcha Elleyto, o

com a alta consideração da Sua Dignidade Ecclesiastica e


qual

Civil influirá a dita Informação venha separada da turba


p.a q.

multa dos outros Requerimentos ; e isso he também o


por q.

mandei separado e em Carta fechada, e não foi em relação.

V. M.ce se dignará avisar-me, logo se lhe offerecer occasião


q.

isso, eu me nos lhe forem concer-


p.a para governar passos, q.

nentes.

A dita minha Carta foi Expediente desta Secretaria


pelo

de Estado dirigida ao nosso Amigo Antonio Pereira de Figuei-

redo, ir mais segura e ser mais a entrega : e como


p.a prompta

aqui se achão alguns Navios a sahir, farei a diligencia


promptos

todos levem Carta minha, apezar da difficuldade de se


que

repartirem todos.
por

Fiquei entregue do Caixote de Livros dos Varões Illustres,

como na minha antecedente a V. M.06, e não me


já participei

sendo cuidar na sua extracção, me


possível pessoalmente por

sobrar tempo do dia, livre de minhas obrigações da Se-


pouco

cretaria ; incumbi a outros essa diligencia : entretanto os Edi-

tores fiquem na certeza de haver neste negocio toda a


pontuali-
dade e capricho de honra. Por ora tem-se achado falta de hum

folheto Anteprim.ro, de hum N.° 8.°, e de hum N. 13. ; e


— 330 —

n'hum folheto 4.° achou-se a estampa do Architecto Matheus

Fernandes duplicada, faltando isso huma das outras do


por

mesmo folheto.

No dia 15 deste mez chegou aqui o Navio Asia Grande,

não recebi Carta algüa de V. M,ce.


pelo qual

Há dias falleceo a Condeça da Figueira ; e achão-


poucos

se sem esperança de vida o Conde de Vianna, e a filha da

Condeça da Ponte, casada com Manoel Francisco de Barros

e Sousa, filho do fallecido Visconde de Santarém, a Se-


qual

nhora deo á luz há dias húa menina com a maior diffi-


poucos

culdade, achando-se esta todavia viva e m.10 bem.

Rógo a V. M.ee o favor de me fazer m.t0 recommendado á

Mãy, de cujas bênçãos me confio, e assim também á Mana e

Tia, há muito me não satisfazem com duas regras, ficando


q.

sempre na certeza da m.a especial amizade. Anna se esmera

não menos em fazer-se recomendada, enviando com o maior

sinceras demonstrações de verdadeiro affecto. Minha


gosto

filha vai-se criando bem aos olhos da Mãy, se encanta com


q.

as suas meninices : ellas e eu esperamos sempre nos continue

o favor da sua benção, e tenho isso toda a honra em ser


por

De V. M.ce

Filho obed.6 e obg.1"0 C.

Luiz dos S.tos Marrocos


Joaquim

CARTA N.° 125

Rio de 26
Jan.ro

de Maio de 1818

Meu Pay e S.r Havendo escripto a V. M.ce


prezadissimo

as minhas ultimas Náo S. Sebastião, deste largou


pela q. porto

a semana e Navio Santiago, destinado a sahir


passada, pelo
hoje, se o tempo lhe ; faço esta Cartinha a
permittisse para
dirigir Navio Lusitano, deo de sahir amanhã,
pelo q. parte par-
ticipando nada mais de novo se me offerece dizer a V. M.Ce,
q.

alem do nas outras tenho referido : e tendo distribuído


q.
— 331 —

Livreiros os Folhetos da Obra dos Varões Illustres,


pelos

consta-me terem concorrido alguns Subscriptores a sua ex-


p.u

tração. O P.e Damazo fez hüa remessa delles ao Bispo


Joaq.m

do Pará, e eu fazer outra a Cid.e de S. Paulo,


pertendo p.!1

onde tenho alguns amigos : veremos a affluencia tem esta


q.

de volumes, se regularem os outros em


primeira porção p.u pro-

não sobeje. V. M.ce terá a bonde de combinar com


porção, q.

os Editores, se me declarar a devem ser remettidos os


p.a quem

desta venda, he m.t0 natural eu aqui


productos q. q. proporcio-
"
ne esse ahi se fazer Secret.a de Estado, no
pagamento, p.a pela

encontro das remessas dos Emolumentos, se envião esta


q. p.fl

do Rio de : e sem esta declaração não se mandar


Jan.ru podem

daqui as ordens se auctorizar a esse fim o Official


precisas p.u

de Secret.u, achando-se encarregado das d.as remessas, haja


q.

de effeituar o d.°
pagamento.

Meu Tio Conego me escreveo agora segunda Carta, dan-

do-me os m.u Nomeação de Off.al de Secretaria,


parabéns pela

e tratando-me mui attenciosamente com as expressões mais li-

songeiras e affectuosas, me constituem n'húa viva e sincera


q.:l

obrigação. A 15 deste mez entrou neste o Navio Asia


porto

Grande, e a 20 entrou a Galera Ulysses ; e nenhum delles


por

V. M.ce me escreveo : igual admiração me causa não receber

Cartas da Mãy, e da Mana, inda m.mo só fossem em res-


q.

ás eu daqui lhes tenho escripto : lonye de ser mo-


posta que

lesto, he o meu tenho noticias directas dos mais


prazer q.do q.
me ; e até nisto se inclúe algüa de m.!,s
pertencem julgo q.

obrigações.

Não verificou até hoje a sahida do Barão de S.t0 Amaro

o Rio Grande : estando embarcado com toda a família, e


p."

a sahir barra fóra ; esteve aqui em risco, tomou medo,


pela

voltou, e desembarcou até agora.

Conclúo esta, reiterando a V. M.ce os da m.a


protestos

humiliação e respeito, mui certo no favor de sua benção, e da

Mãy, a muito me recomendo : e sou


q.m

De V. M.ce

Filho obd.e e V.or obg.do

Luiz dos S.í<>s Marrocos


Joaq.m
— 332 —

CARTA N.° 126

Rio de 8 de
Jan.rü

de 1818.
Junho

Meu Pay e S.r do C. A 28 do mez passado


prezadissimo

daqui o Navio Santiago, e no 1.° de^te mez sahio o Ber-


sahio

Lusitano, tenho escrito sempre a V. M.ce,


gantim pelos quaes

não faltando a hum só, não alterar o fim, e fio da minha


para

correspondência, no me ; e continuarei
que principio propuz

em breves Cartas, não haja motivo de alongar-me, os


q.do para

Navios, se achão annunciados, são os seguintes : Re-


que q.

ctidão, Carolina, Gratidão, Esperança, Guilherme, D.


Joaq.m

Miguel Forjaz, Grão Pará.

Estimo V. M.oe tenha saúde, e a me-


que gozado perfeita

lhor disposição, segundo as informações, aqui me tem dado


q.

algumas dahi tem chegado, as me affirmão


pessoas, q. quaes

todas eu inculco hüa idade mais avançada, e huma appa-


q.

rencia acabrunhada, em á V, M.06 ostenta de


proporção q.

saúde, robustez e lhe faz esconder 62 annos,


jovialidade, que

depois d amanhã completa. Eu me alegro summam.te com


q.

estas noticias, tenho recebido, as me diminuem o des-


q. quaes

do mim tem desde 1811, e com razão


gosto q. por passado q.

me fez coalhar a cabeça e barba de cans, ao con-


pertendendo

trario desmentir os 37 de m.a idade. Continuão as m.as


queixas

falta de Cartas da Mãy e Mana, há muito me não es-


pela q.

crevem, nem ao menos respondendo ás minhas.

Ana vai-se entertendo com a sua morgada, hontem


que

completou tres mezes, boa idade, em a fazer vac-


que pertendo

cinar de bexigas ; tem sido aqui esta moléstia, mui fatal a


pois

e
grandes pequenos.

O Conde de Vianna restabelleceo-se da sua moléstia, de

fiz sciente a V. M.00, e igualmente a mulher do novo Vis-


q.

conde de Santarém. Não são freqüentes estes restabellecim.*09,

e isso causão espanto, succedem ; neste


por quando por que

terrível Paiz, assim como se não tem observado experien-


por
cias verdadeiros contágios de febres, assim também ao con-
— 333 —

trario, e em retribuição, estas febres atacão a indi-


q.do qualquer

viduo, ou inteiram.te, o levão logo á sepultura,


prostrão-no q.

ou deixão-no em tal estado, nunca mais sabe o he saúde.


q. q.

Há agora aqui a de m.tos ladrões. No mez


perseguição

de Abril fizerão-se 28 mortes violentas : e a 6 deste mez forão

a enforcar dois negros, matarem seu Senhor.


por

Acabo esta. rogando a V. M.ce o favor da sua benção, e

da Mãy, aq.m m.to me recomendo : e sou

De V. M.ce

Filho obed.e e obgdo C.

Luiz dos S.toS Marrocos


Joaq.m

CARTA N.° 127

Rio de 17
Janeiro

de de 1818.
Junho

Meu Pay e Snr. do C. Pelo Navio Recti-


prezadissimo

dão, daqui sahio a 12 deste mez, escrevi a minha ultima a


que

V. M.ce com a brevidade, he nascida da falta de objectos


que

novos de correspondência ; receando sempre apezar dos


que,

meus cuidados em escrever todos os Navios, aqui se


por q.

annuncião, não venha a succeder as minhas Cartas


juntarem-se

n'hum, e irem os outros sem ellas ; o todavia não he ainda


que
o mal, não aconteça
peior quando perderem-se.

Estimo sobretudo V. M.ce continúe a desfructar


que
saúde muito e da mesma sorte a Mãy, Mana, e Tia,
perfeita,
o bello tempo, ahi he da estação actual, e
gozando q. proprio
neste Paiz se experimenta, ser sempre irregular, e
q. jamais por
isso máo. Nestas circunstancias considero mui raro aquelle
por
dia, em me acho inteiramente bom, sendo muitos e mui
que pois
variados os motivos de sempre me acompanhão, se
queixa, q.
de huns me restabellecido, resta, ou logo sobrevêm outro
julgo
de novo flagello. Anna continúa a sua tarefa cem
principio

outra novidade, sentir-se débil, o não he de admirar


que q. por
causa da criação da menina, a expôr-se com coragem ;
q. quiz
— —
334

e segundo as forças, a esta vai communicando, me


q. parece

serei obrigado a tomar casa Ama, a fim de acabar a


que para

criação. Ella me sempre eu escreva a V. M.ce, a


pede, que

recommende muito nas minhas Cartas, e a todas as Pessoas,

me devem o maior respeito ; manifestando-lhe o de-


q. grande

sejo, tem, de se transferir a Lisboa, a segundo as in-


que qual

formações he os do Brasil a Terra de Promissão.


para queixosos

O Snr. Infante D. Miguel acha-se curando de huma febre,

o obrigou a estar alguns dias de cama : S. A. R. também


que

mesmo incommodo, mas bom. Trata-se


passou pelo julga-se

aqui agora dos arranjos relativos ás Festas Reaes,


próximas

em se vê o firme ardor, empenho, e concorrência notável do


q.

Senado da Camara. De algumas das Capitanias confinantes

tem chegado a esta Corte numero de insignes


grande pessoas,

Cavalleiros, figurarem e brilharem nas Cavalhadas, de


para

começarão os ensaios, a tem ido assistir inúmero


que já que

Povo, menos eu : assim como se mandarão vir mana-


grossas

das de touros escolhidos em força e braveza, com se


q. perten-
de dar boas tardes a uns, e boas noites a outros. Ouvirei

contar, se entretanto chegar a essa época memorável.


pudér

Pela chegada do Navio Leal Portuguez, hontem entrou


q.
esta barra, esperava V. M.ce me brindasse com huma
por que
Carta sua, hoje com ella celebrar os meus 37 annos ; mas
para
sahirão-me frustrados os meus desejos, fiquei em bran-
por que
co, assim como successivamente tenho experimentado outros
por
Navios, aqui chegados anteriormente. Com effeito entre

outras recebi huma de Lourenço, em notavelmente
João que
me obsequêa com as suas attenciosas expressões ; e ellas
por
conheço ainda ahi não chegou a maligna influencia da in-
que
triga e calumnia, com toda a certeza será daqui fulminada
q.
abominavel inimigo meu e de todos ; mas deveras sentirei
pelo

que ella encontre almas tão fracas, não saibão discernir a


que
força do hálito de tão venenosa só se nutre das des-
peste, q.

graças e sangue alheio, donde deriva a sua fortuna. Por muitas

vezes tenho intentado communicar ao Mundo inteiro com meu-

deza o ardiloso de com este malvado tem


plano perseguição, q.
ultimam.te, insultar-me, desacreditando-me na opi-
pertendido
nião dos me honrão ; mas reprimo-me, e me remetto ao
que

silencio nos momentos de ardor e raiva, a tenho chegado


que ;

por desta sorte me dou mais valor á


que persuado que pruden-
cia, com o Ceo me favorece ; faço mais amplo argumento
q.
— —
335

aos abonão o meu caracter ; e desprezo os com


que golpes, q.

este me attaca, desmentindo-o com o meu


preverso procedi-

mento. Queira V. M.ce uzar de disfarce e circunspecção, não

communicando a outrem estas minhas reflexões ; ser


pois pode

com effeito sejão destituídas dos motivos, lhes dou.


que que

Por Decreto de 15 do corrente foi S. Mag.e Servido No-

mear a José Bernardo de Andrade Coelho, Vice Reitor do R.

Collegio dos Nobres, o Lugar de Chronista do Reino,


para
vago fallecimento do P.e dp Foios ; e em conse-
pelo Joaquim

das ultimas informações dos Governadores do Reino


quencia

sobre o engano, como certifiquei a V. M.ce.


primeiro já

Fico muito certo de V. M.ce me continúe o favor de


q.
sua benção, sempre desejo mercer, assim como da Mãy,. a
q.

quem assás me recommendo com as mais vivas demonstrações

¦de respeito sendo sempre como devo


;

De V. M.ce

Filho obed.e e obg.mo C.

Luiz dos S.tos Marrocos


Joaquim

CARTA N.° 128

Rio de 4 de
Jan.rf'

de 1818.
Julho

Meu Pay e Snr. do C. Tenho escrito a


prezadissimo

V. M.ce todos os Navios, d'aqui tem sahido, sendo a


por que
ultima Navio Guilherme ; e como V. M,ce me
pelo Joaquim
não tem a sua recepção aqui chegarão,
participado pelos que já
estou em balanços essa incerteza. Queira Deos não tenhão
por
soffrido algum extravio, como tem succedido outras ve-
já por
zes, não he affligir.
que pouco para

Estimo V. M.ce continúe a de saúde,


que gozar perfeita
e igualmente a Mãy, Mana e Tia, a me fará o favor de
quem
me recommendar com toda a especialidade : os mesmos rum-

primentos tem a honra de lhes fazer esta minha Santa Costela,


— 336 —

nâo cessa de lembrar-me esse artigo, me vê


que quando pegar
da ; eu o cumpro com todo o especialmente
penna gosto, por
ver he merecedora de toda a estimação.
q.

Há dias na Secretaria me hum Sugeito


que procurou para

me entregar hum masso volumoso, V. M,ce me remettia, e


q.

de recommendação de Bento da Cunha Vianna, mas sem


José

Carta alguma de V. M.ce : vi então se compunha da Col-


que
lecção do Espectador Portuguez, Periodico ahi
publicado pelo
P.e Agostinho, chegando na continuação ao do
José principio
4.° Semestre ; dois Bilhetes impressos de Aviso da Irmandade

do Sacramento da Patriarchal; hum Annuncio impresso do 5.°

tomo das Obras de Bocage ; e hum Folheto 13.° da Obra dos

Varões Illustres .• agradeço a V. M,ce esta remessa,


preciosa

q. assás estimo, e assás me tenho recreadocom a sua leitura, no

tempo, me deixão ter de descanço ; mas sempre sinto


pouco q.

entre estes Papeis V. M.ce me não escrevesse duas regras.


q.

Desta Obra dos Varões Illustres se tem achado muitos Fo~

lhetos com erros, ou nas Estampas, ou na inteira repetição dos

mesmos Folhetos. O P.e Damazo, a a


Joaquim quem pedi
incumbência de sua extracção, tem examinado isso com toda a

meudeza, e depois de ajustados os se ajustar, se


que puderem
verá no fim os ficão incompletos ou desmantelados, se
que p.a
lhes dar o remedio competente : e então eu avisarei. Em outra

recommendei a V, M.Ce me mandasse declarar a


já q. pessoa
se devem mandar fazer os nessa Corte, do
pagamentos pro-
dueto da dita venda, sem essa declaração não se re-
pois pode
solver nada a esse respeito. Exigindo as circunstancias actuaes,

com Deos nos tem favorecido, e concorrendo felizmente


que

muitos motivos não só ao decoro da sua Pessoa, como


políticos,
á consideração da nossa Familia, V. M.ce seja condeco-
que
rado dignamente na Ordem de Christo, de S. Mag.e lhe
que
fez Mercê : e sendo dé razão e se affastem da nossa
justiça q.
alma reflexões tristes e desagradaveis, firmando-se n'huma
q.
base filosofica, combatem cegamente os mais respei-
princípios
taveis da Política, nos ligão mutuamente na Sociedade, e
q. até

chegão a tratar com mofa a nossa Religião desviando-se


; por
este modo o Cidadão da vereda, onde trilha o homem
por de

bem, e constituindo-se isso mais nocivo,


por que proveitoso ao

Estado e á Patria ; em conclusão de tudo isto, he muito


preciso

que V. M.ce mostre ao Publico acceitou e está


que gozando
daquella Mercê de S. Mag.e ; e eu lhe remetto agora o Deere-
— 337 —

to, S. Mag.e o Dispensa das suas Habilitações,


pelo qual p.a

logo o Suppondo V. M.ce ainda não appareceo


professar. que

com o Habito de Christo, então será melhor, até colorar


(e para

com essa desculpa a demora e a repugnancia de o trazer) es-

hum dia assignalado, como exemplo, o dia 12 de


perar p.a por

Outubro, apparecer com elle ; e logo tratar de fazer a sua


p.a

Profissão, como S. Mag.e alli Ordena ; e desde eu me


obrigo a toda a despeza, V. M.ce fizer esse Acto


pagar q. p.

solemne, V. M.ce diligenciará se lhe abone, o não tenha,


que q.do

mandando-me logo declarar, eu daqui mandar


p.a pagar por

m.a conta a lho tiver emprestado. Este torno a dizer,,


q.m passo,

he muito V. M.ce logo decida, e em effeito, e


preciso q. ponha

terá o incommodo de mo mandar dizer com todas as suas cir-

cunstancias ; achando-me eu igualmente nas diligencias de

effetuar a m.a Profissão na Capella Real desta Corte. Pare-

ce-me V. M.06 combinará comigo nesta resolução, e dei-


que

xando no silencio outras razões mais não devo


poderosas, q.

confiar do convém contemporizemos, não


papel, que para que

se contumacia o he simples indifferença : e se V. M.ce


julgue que

em outro tempo extranhava de eu não ser enfeitado com hüa

apariríha de França, agora ambos a temos motivos bem


q. por

e sérios, he V. M.ceobrigado (permitta-me a expressão)


graves

a facilitar da sua os meios o futuro estabellecimento


parte para

de nossa Familia, concordando com os agradaveis


princípios,

Deos nos concede nosso bem. Se m.a Mana faz o


q. p.a prin-
cipal objecto das suas vistas ; eu, não menos desejo cor-
que
responder a esse fim, me declaro sempre disvelado a favor de

tudo nos Fico contando os dias saber a re-


q.10 pertence. p.a
solução, V. M.ce toma sobre este meu empenho, e
que p.a por
ultimo conhecer o valor e attenção, V. M.ce ao
q. presta, q.
lhe
peço.

Recebendo com o devido respeito a sua benção e da Mãy,

continúo a os meus votos de singular affecto e ve-


protestar
neração, com me lisongeio de ser, como devo
q.

De V. M.ce

Filho m.t0 obed.e e obg.do C.

Luiz Joaq.m dos S.tos Marrocos

P. S. As suas bênçãos agora devem ser mais amplas, e

com mais Indulgências, comprehenderem os


por
Pays, 6 a filha.
CARTA N.° 129

Rio de 6
Jan.ro

de de 1818.
Julho

Meu Pay e S.r do C. Faço esta a toda a


prezadissimo

hir deste a esse Navio Esperança, des-


pressa para porto pelo
hoje sahir ámanhã ; e receio não vá a tem-
pachado p.a que já
bem contra o meu desejo.
po,

Tenho-me alongado nas m.as Cartas anteced.68, mais, ou

menos, conforme occorrião objectos, de tratasse, visto V.


q. q.
M.ce me não tem escrito últimos Navios aqui chegados,
pelos
de nas outras me tenho : desejarei essa
que já queixado q.
falta não da falta de saúde, de todos he o maior
proceda que
mal, e Deos conceder-lhe sempre a m.ma disposição vi-
queira

como ha mister, nossa satisfação e :


gorosa, p.a gosto perfeito
estes bens igualmente desejo a m.a Mãy, a m.to me re-
quem
commendo, e não menos á Mana e Tia.

S. Mag.e solemnizou o dia 4 do corrente com m.tos Des-

e mui importantes, dos não remetto agora a Lista,


pachos quaes
não se achar ainda impressa, o farei rio 1.° Navio, logo
por q.
esteja : e dellas d'antemão estar o
que p.a principio participo
Principal Cunha eleito Patriarcha de Lx.a, em lugar do Prin-

cipal Freire. Não tenho mais tempo. Sou com todo o respeito

De V. M.ee

Filho m.40 obed.e e obg.do C.

Luiz dos Santos Marrocos.


Joaq.m

CARTA N.° 130

Rio de 11 de
Jan.ro

Julho de 1818.

Meu Pay e S.r do C. Por todos os Navios


prezadissimo

proximamente sahidos deste tenho dirigido a V. M.ce as


porto
minhas Cartas avulsamente Correio, e á excepção
pelo do Na-
— 339 —

vio Grão Pará, vai com os Despachos desta Secretaria de


que

Estado, e leva huma mais volumosa V. M.ce, com sobres-


p.a

cripto de fóra ao nosso Amigo Antonio Pereira de Figueiredo,

de a receberá : e creio esta maneira não tenho


quem que por

faltado ao me logo de apezar de serem


que propuz principio,

algumas breves, e concebidas em termos concisos.

Também agora escrevo ao S.r Alexandre Antonio das

Neves, de Mercê, S. Mag.e acaba de fazer-


parabéns, pela q.

lhe, com o Emprego de Provedor da Casa da Moeda ; e em


outra occasião lhe escrevi também de M.ce de


parabéns pela

Cavalleiro da Ordem de N. S.ra da Conceição de Villa Viço-

sa, remettendo-lhe a Portaria dentro da m.a Carta, lhe ser


para

ahi entregue Off.al da Secret.a, filho do,Off.al Maior Pay-


pelo

sinho. Queira V. M.ce fazer-me o favor de ao nosso


pedir

Am." Ant.° Per.a veja se saber do seu Collega, f.° do


q. pode

Paysinho, se entregou, ou não, a d.u m.a Carta, a foi dentro


qual

de outra de M.el Corrêa Picanço.

O S.r Infante D. Miguel se acha melhor do desastre,


lhe succedeo na mão direita, rebentando-lhe húa bomba, na


q.

vespera de S. e lha despedaçou : Foi o


João, que quasi geral

susto, isto causou, assim como a admiração, va-


q. pelo grande

lor, teve, soffrendo em silencio as cruéis dores da


q. procedidas

operação Cirúrgica, se seguío áquelle desastre, arranjando


q.

e em seu lugar as deslocadas : e finalmente tem


pondo partes

sido muito feliz a cura, vai em


que progresso.

Veio a verificar-se o meu lembrado a ;


projecto principio

S. Mag.e Ordenou dos Livros dobrados da Sua R. Bi-


pois q.

bliotheca se fizesse fornecimento de hü exemplar de cada Obra

a Bibliotheca Publica da Bahia, combinando-se estes com


para

os do Cathalogo, dalli veio de sorte não viessem a


q. (72), q.
duplicar-se, consistindo a remessa dos alli não hou-
porem q.
vessem. lá forão 20 Caixotes, somente comprehendem
Já p.a q.
o ramo de Theologia : e vai-se continuando.

{72) Catalogo dos liucos que se achão na Bibliotheca Publica da Cidade da


Bahia. — S. 1. n. d. Typographia de M. A. da Silva Serva, 1818) in 8.°, de
(Bahia,
54 pp. — Foi o catálogo de livros de biblioteca se imprimiu no Brasil.
primeiro que
A livraria baiana contava então 5.361 volumes de obras completas e 426 truncadas.
A Biblioteca Nacional, alem desse cimélio, possue o próprio manuscrito, origin?.!
48 ff. inumeradas, de 18 x il, Seção de Manuscritos, Cod. I — 1, 1, 28.
— 340 —

Fico m.to certo no favor da sua benção, e de m.a Mãy, a

m.to me recommendo, assim como á Mana e Tia ; sendo


q.m

com todo o respeito

De V. M.ce

Filho m.*0 obed.e e obg.do C.

Luiz dos S.toS Marrocos


Joaquim

CARTA N.° 131

Rio de 2 de
Jan.ro

Setembro de 1818.

Minha Mana de toda a minha estimação : eu me


achava meio desconfiado com a falta de tuas Cartas, sem em-

bargo de minhas diligencias em todas as dirigia ao Pay ;


q.

de certo, e sem lisonja não desvaneceo de minha lem-


pois que

brança todas as de nossa família, sempre me avivão


pessoas que
continuas saudades ; no meio de tanto scismar e
quando pa-
rafuzar recebo esta ultima me diriges com as boas noticias,
q.

sempre desejo e estimo. Agradeço-te os teus


q. parabéns pelo
meu Despacho, Deos me deparou Sua bondade, e
q. por q.
apezar de ser lucroso, ora não me luzir, as
por pode por q.
m.as doenças estragarão-me a mim e a toda a m.a Casa,
graves

e ha de m.to tempo eu levantar cabe-


passar primeiro q. possa

ça, se entretanto ella não fôr de todo abaixo, á vista do


pois

q. mim tem nada me serve de conforto ou espe-


por passado,
rança de melhores futuros. Anna se te recommenda m.10 ás

tuas expressões de amizade, a cordialmente retribúe ainda


q. ; e

se acha á espera de receber a tua Carta, como


promettes, e não

cumpres : tua Sobrinha vai crescendo em corpo e galantaria,


e depressa virá a multiplicar os meus cuidados.

Vejo o me dizes a respeito da Casa de


q. Tiburcio, e
José
da D. he chegar a tão lamentavel
Josefa, q. pena estado : os

dois filhos, aqui se achão, e são Moços


q. q. da Camara, tem
— —
341

diligenciado fortem.^ serem Officiaes de Secretaria, que


p.a

não tem obter ; e o mais velho finalm.te casou, não sei


podido

com nem circunstancias, ter ouvido fallar da


quem, por q. por

noiva m.108 e diversos modos.


por

Agradeço á S.ra Thereza o cuidado e lembrança, de


que

mim tem, e o m.mo a suas filhas e Sobrinha, e lhe dirás eu


q.

não lhe escrevo, ainda estou esperando a sua resposta


por q.

a húa Carta minha, lhe dirigi, tempo depois cheguei


q. pouco q.

a esta terra, e até agora não tem tido o cuidado de respon-


q.

der-me, e he isso estou muito zangado com ella.


por q.

Pela Carta, escrevo adjunta á Mãy, saberás q. morreo


q.

o Feliciano, Servente da Livraria, apezar de ser velho, se


q.

achava com m.^ forças, e m.*0 agil o trabalho, mas he o


para

os desgostos e amofinações de espirito, são


q. produzem q.

mais as moléstias fisicas. S. Mag.8 mandou-lhe


perigosas q.

os seus Médicos melhores da Camara, e hum tratamento o mais

cuidadoso não lhe valeo, não tendo nem húa só dor, nem
por q.

febre, nem ataque de cousa algüa visível, não lhe aproveitarão

os remedios tomava lhe tirar o fastio, e morreo com todos


q. p,a

os seus sentidos e intelligencia, no m.mo momento, em eu lhe


q.

entrava dentro a visita-lo, tendo elle acabado de


pela porta

mim, haver estado doente, sem o ir visitar


perguntar por por

no espaço de vinte dias. Tive sua morte,


grande pena pela

ser muito seu amigo, e conhecer nelle a tn.ma amizade


por por

e em me servir no o occupava. A viuva Anna


promptidão q.

do Cabo ficou bem despachada, mandando S. Mag.e dar-lhe

Húa Pensão de cincoenta moedas anno, Folha


por paga pela

da Casa Real ; mas eu desconfio m.to delia, a vejo m.to


por q.

doente, deixando-a aquelle no maior transtorno e amar-


golpe

e muito mais vendo continuar a origem da morte de seu


gura,

marido, era a de hú seu Sobrinho, aliás honrado.


q. prizão

Há muito tempo não tenho noticias da Feli-


q. Joaquina

zarda, do marido e das filhas, assim como das duas famílias

do S.ta Anna, viuva e filhas, o desejo saber, e de todas as


q.

mais do nosso conhecimento, te lembrarem ;


pessoas q. pois

eu tenho occasião de me recordar das


gosto quando pessoas

desse alto Sitio, he muito natural tenha havido mudança ou


q.

novo acontecimento em tanto' correr de annos.

Recommenda-me muito á Tia, sinto tenha soffrido in-


q.

commodos, não isso escrever-me : eu lhe desejo


podendo por
— 342 —

saúde, e me offereço muito ao seu serviço,


perfeita prompto

m.to lhe sou obrigado. E remate desta, me


pelo q. para q. pa~
rece não ser me resta só lembrar-te de não sejas
pequena, q.

tão descuidada em na não he falso te


pegar pena, pois q.do

affirmo sou com toda a especialidade


q,

Teu Mano m.to am.te e obg.d0

Luiz.

CARTA N.ü 132

Rio de 8 de
Jan.ro

Setembro de 1818.

Meu Pay e S.r. A ultima de V. M.ce, a


prezadissimo q.
não tenho dado resposta falta de occasião de sahida de Na-
por

vio, he datada do dia 10 de Abril do corrente anno, a cujos ar-

tigos mais essenciaes havia satisfeito anteriormente em seu



objecto, Navios ordem successiva daqui sahirão.
pelos q. por
Depois da recepção desta sua entrarão neste os Navios
já porto
seguintes : a 14 de Agosto o Berg.m Feliz Vencedor, a 22 o

Berg.m Voluntário, e a 26 o Berg.m Elisa ; a 2 de Setembro o

N. Commerciante, e a 3 o Novo Paquete : e sendo cinco


por
todos, nenhum delles me trouxe mais huma Carta de V. M.ce,

pelas sempre suspiro, e tal falta conheço evidente-


quaes por
mente não sou bem corrspondido á e cuidado,
que promptidão
com me disvelo em escrever todos. Todavia seja o
q. por que
for, e voltando-me ao conteúdo da dita sua Carta, estimo so-

bremaneira as noticias, me communica, da sua saúde, e da


q.
Mãy, e mais Familia, inda não livre dos incommodos e
q. pe-
nalidades das circunstancias actuaes. Eu vou ten-
próprias

teando a vida com as alternativas, de costume não extra-


q. já
nho, disposto sempre a deffender-me de humas, e a esperar
por
outras, como meudamente tenho em outras referido : Anna,

como Brazileira, nada tem de do Paiz, ser
que queixar-se por
sua Patria, apezar do todos os mais e
que praguejão, ella não
— 343 —

deixa de sentir : e minha filha vai crescendo e apurando as

suas sem novidade considerável : no dia 6 deste mez


graças

consegui vaccina-la, vencendo as teimas e temores da Mãy, e

se observa, aproveitou a vaccina em todas as in-


pelo q. quatro

cisões, se lhe fizerão nos braços.


q.

Talvez ahi será constante o experimentado


já prodigio,

ultimamente, da'Grandeza de Coração e Piedade de S. Mag.e,

não só a Pena ultima a o Marquez de Loulé foi


perdoando q.

condemnado Sentença dada em Lisboa a 21 de Novembro


por

de 1811, e mandando-o soltar da desta Corte, em


prizão q.

esteve espaço de 13 mezes, andar livremente


por para pelo

Reino, tudo Decreto de 20 de Março do corrente anno;


por

mas também, em consequencia daquelle Indulto, rehabilitando-o,

e concedendo-lhe as Honras, Mercês, e Bens, de em


q. gozava,

estava no R. Serviço, ficando em esquecimento o facto,


quanto

e sem effeito a dita Sentença ; salvas todas as aliena-


porem

tiverem havido, e aquillo, em houver de


ções, que q. prejuizo

terceiro, tudo Decreto de 29 de Agosto passado. Nesse


por

dia foi convidado assistir á Função da Degolação de


já p.a

S. Baptista na Capella da R. Quinta da BoaVista ; e no


João

dia 5 deste mez entrou de semana, como Camarista.

Fr. de S. Confessor de S. Mag.e, tevê a


Joaquim José,

infelicidade de huma na R. Fazenda de S.13,


quebrar perna,

Cruz, occasião desta ultima talvez effeito de al-


por jornada,

travessura de cavallo. vai sendo feliz na sua


guma Julgo q.

cura, inda esteve a cortar-se~lhe a


q. proximo perna.

O Musico Capranica morreo de repente, estava


quando

em vesperas de ir su terra : despejou-nos o beco dif-


para por
ferente modo ; e nem assim nos ficou o m.to elle deixou ;
q.
morrendo ab intestato, e constituindo-se outro tal,
por q. q.

Chiconi, seu Testamenteiro, elle assim o disse, obte-


por por q.
ve especial a isenção das do dos De-
por graça garras Juízo

funtos e Ausentes, e lá o está comendo á saúde do defunto, e


"chupou.
de nós todos, de elle Grande circunstancia
quem

acompanha aos Castrados, nem na vida, nem na morte deitão


q.
chorume !

A 3 de Agosto falleceo Feliciano Servente


passado José,
da Livraria, huma affecção dalma, mais de
por q. padecia por
6 mezes, e com 26 dias de cama, sem dôr nem febre, mas só

com fastio e tristeza. A dilatada nesta Corte, de hum


prizão,
Sobrinho, era Command.te do Forte do Mar no Recife de
q.
— —
344

Pernambuco, e não sendo incurso naq.la revolta, antes sendo


q.

expulso do Forte sua e não querendo


pela própria guarnição,

submetter-se aos rebeldes, foi á Bahia ao Conde dos


participar

Arcos, o mandou a esta Corte receber as R.s Ordens'


q. p.a

sobre o seu destino, e se acha desde então na Fortaleza da

Conceição, esperando decisão da Alçada, alli existe, a


pela q.

bem da sua ; tudo foi origem da morte do velho,


justificação

em vão se esforçava o em liberd.e, e soccorrer sua


q. p.a pôr

numerosa família. S. Mag.e concedeo á Viuva, Anna do Cabo,

a Pensão annual de 240$000 r.s Folha da Casa Real.


paga pela

Desta R. Bibl.a se tem mandado 37 Caixões de Livros do-

brados a Livr.a Publica da Cid.e da Bahia.


p.a

Concluo rogando a V. M.ce me continúe o favor da sua

benção, e sou com todo o respeito

De V. M.ce

Filho m.to aff.° e obg.do V.01"

Luiz dos Santos Marrocos


Joaquim

CARTA N.» 133

Rio de 25
Janeiro

de Setembro de 1818.

Meu Pay e S.r do C. Ficando ámanhã de-


prezadissimo

sembaraçado este Navio Princeza, -para sahir no seguinte,


dia

me aproveito delle a V. M.ce haver sido a minha


para participar

ultima remettida Navio Caridade, e alongando-me nella


pelo

me o seu objecto, escrevendo igualmente á


quanto permittia
Mãy e Mana com extensão e meudeza.

Agora esta he breve, e depois de nella lhe significar os

meus ardentes desejos sua. vigorosa e feliz saúde, e da


pela
Mãy, Mana e Tia, tenho o desgosto de lhe communicar não

ter ainda recebido Carta alguma de V. M.ce estes últimos


por
seis Navios, aqui tem chegado ; não se offerecendo agora
q.
— —
345

motivo ser mais extenso, nem noticioso ; servindo esta só


p.a

não faltar ao intento de escrever todos os Navios.


para por

Ficando sempre muito certo no favor de sua benção e da

Mãy, tenho a honra de ser

De V. M,ce

Filho aff.° e obg.do C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaq.m

CARTA N.° 134

Rio de 27 de
Jan.ro

Outubro de 1818.

Meu Pay e S.r do C. A 2 do corrente mez


prezadissimo

escrevi a minha ultima a V. M.ce Navio Príncipe Real,


pelo

ainda brevemente, não se offerecer objecto de maior


que por

extensão, consistindo o meu cuidado em saber da sua


principal

saúde, e da Mãy, Mana e Tia, e satisfazendo ao fim de dar

noticias minhas em todos os Navios, daqui ; mas


que partem

com desgosto não faltei na continuação áquelle sistema,


pequeno

não escrevendo dois Navios, sahirão no dia 9,


pelos q. juntos

e erão Novo Paquete, e Feliz Vencedor ; desde dias


q. pois

antes até hoje se tem tornado esta Casa hum Hospital,


princi-

mim, com tremendas catarraes de decidir, de cuja


piando por
moléstia he agora nesta terra epidemia : minha filha está
geral

com esperança de lhe resistir, se lhe ajuntou a


pouca por q.

força dos dentes, e causa delia aqui todos hum


por padecem

incommodo incrível : irá o irmão, foi adiante.


paciência, para q.

Remetto a V. M.ce as Listas dos Despachos dos dias 12 e

19 e Relação das Festas do Senado, indevidam.te chamadas

Festas Reaes, inauguradas há hum anno, e soffrerão mil


q.

obstáculos ao fim de se apromptarem. Àpezar de serem, as

Secretarias de Estado contempladas com os Tribunaes na dis-

tribuição de Camarotes, eu nada vi, estar doente, e inda


por q.
não tivesse esse motivo, não me moveria a curiosidade a ver

espectaculos, na m.a opinião são de nenhum valor.


que
— 346 —

Aqui me tem o Líbano o fim de suas


procurado p.a perten-

sões. Depois de servir o Lugar de Guarda Mór desta Alfan-

dega, donde sahio não sei motivo, deseja recolher-se


por que

a Lisboa, empregado em algum Officio de ou Fazenda,


Justiça

em ficar arranjado, está sem arrumação algúa, e


q. possa pois

ainda não tem obtido cousa alguma. Ficando aqui viuvo, cazou

segunda vez, e me este segundo casamento o tem


parece que

transtornado. Eu desejarei muito elle consiga o


q. q. pertende,

me faz ver soçobrado hum homem na boa carreira,


por q. pena

em se via.
q.

Concluo esta fazendo a V. M.ce constantes os meus votos

sua saúde, e não menos da Mãy, a agora não


pela quem posso

escrever ; e sendo igualmente sinceras as mesmas demonstrações

e sentimentos a respeito da Mana e Tia, a cordialmente me


q.m

recommendo. E depois de encommendar-me na sua benção,

ser
protesto
De V. M.ce

Filho aff.° e obg.do C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaq.m

CARTA N.° 135

Rio de 13 de
Jan.ro

Novembro de 1818.

Meu Pay e Snr. Na mingua de noticias


prezadissimo

dessa Corte falta absoluta de Navios, e especialmente


pela

do Navio Fenix, aqui consta haver dahi ha muito,


que partido

em todos cresce a expectação, e em mim o maior cuidado


pelo
mais me toca e deve de attenção, ter experimentado
que por

ainda mui anteriormente a falta das Cartas de V. M.ce,


que
em todas as occasiões com a maior ancia esperava. Neste

estado de couzas appello a Providencia, a fim de


pois para
amaciando os mares e refrescando os ventos de feição,
q.,
conduza a este as Embarcações o demandão, e
porto, q. q.
serenão os nossos cuidados com as noticias, desejamos,
que
da sua saúde, da Mãy, Mana e Tia, de continuo são o
que
— 347 —

objecto de nossas lembranças e Ha tempos


pensamentos. q.

esta Casa se tem figurado hum Hospital com febres catar-

raes e sarampo, não trabalho tem dado, soffrendo


que pouco

a familia toda, mim, fui o da


principiando por q. primeiro

esfrega. Minha filha esteve morrendo com tres repe-


quasi

tições da catarral, a reduzio a hum abatimento e magreza


q.

considerável, mas escapou, não he vantagem :


q. pequena
o meu muleque antigo também esteve a findar com hum res-

sarampo, o na figura de hum bixo medonho.


peitavel q. pôz
Mas, a Deos, vou vendo o fructo de nossos cuida-
graças já
dos, serenando a tempestade com o restabelecimento dos doen-

tes, e fim seremos, eu e Anna, os mais cahir


por queixosos, por
sobre nós a maior carga de trabalho e disvelo no seu trata-

mento, nos deixou bem fatigados.


q.

Em hum dos volumes, há a Academia Real das


q. pouco
Sciencias dos seus trabalhos historicos, vi com admi-
publicou

ração o elogio de agradecimento, a mesma Academia me


q.
faz, trabalho, tive, da Copia e remessa da Obra de
pelo q.
Francisco Dolanda, fiz minha mão A esse tempo
q. por (73).
ainda a Academia não tinha recebido a bella e Col-
preciosa
lecção dos Desenhos relativos á mesma Obra, também ao
q.
depois lhe mandei, fazerem a mais delia,
por parte principal
e não forão logo, ser isso impraticável ; e creio ella
q. por q.
estará há muito entregue dos ditos Desenhos, forão diri-
que
á mesma Academia serem entregues ao Snr. Ale-
gidos para
xandre Antonio das Neves.

S. Mag.e no dia 10 fez a sua a R. Fazenda


jornada para
de SM Cruz, donde se não espera antes de : e desta
Janeiro
vez creio irei até áquelle Sitio, apezar de ser em distan-
que
cia de 12 legoas, se offerecerem agora algúas commodid.es
por
meio de coches de ultimamente se estabellece-
por posta, q.
rão alli, e o Sitio de S. Christovão.
pa para

(73) discurso No
proferido Secretario Bonifácio de Andrada e
pelo José
Silva, na sessão
pública da Academia, em 24 de Junho de 1815, Historia e Memórias
da Academia Real das Sciencias de Lisboa, tomo IV, II XXIII
parte ps. (Lisboa,
1816), lê-se o seguinte :
"Em
primeiro lugar mencionaremos a copia, que de Ordem de Sua Allez* Real,
com intervenção do Exm.° Snr. Marquez de Aguiar, nosso consocio. se
nos enviou do
Rio de Janeiro do Manuscrito de Francisco d'Hollanda, intitulado : Da
precioso
fabrica que fallece à Cidade de Lisboa. Fôra incumbido da Academia o
por parte
Snr. Luiz Joaquim dos Santos Marrocos, Ajudante das Reaes Bibliothecas do Paço.
de supplicar a S. A. R. esta mercê,
que nos concedeo seu benigno coração. Pertencem
a esta obra, que já temos copiada com todo o mimo pelo Snr. Marrocos, muitos riese-
nhos. que devem ser enviados logo que estejão acabados ; e certo he de esperar que
sejâo tirados com todo o bom gosto e fidelidade." — Conf. nota 80.
— 348 —

Remetto a V. M.('e as Relações dos Despachos


publica-

dos nos dias 26 de Outubro, e 4 deste mez ; e somente


por

estes e os anteriores Despachos se conhecerá evidentem.te a

vantagem, tem havido, na marcha do Expediente, tão atra-


q.

zada moléstias dilatadas dos Ministros de Estado ante-


pelas

dedentes.

Talvez V. M.ce saberá ahi ha de chegar Pedro


que já q.
de Mello Breyner, despachado Enviado Extraordinário
para
e Ministro Plenipotenciario Roma, conservando-se-lhe os
pu

seus Lugares na da Administração do Tabaco, Conselho


Junta

da Fazenda e Estado, e mais Repartições, em era empre-


q.

; e alem disso leva hum filho figurando na mesma Missão.


gado

Em huma das Gazetas antecedentes, remetti a V.


que
M.ee com Carta minha Navio Feliz Vencedor, se
pelo
annuncia o dia das sahidas dos Correios deste esse :
para porto
mas está tão mal arranjado o dito annuncio, elle se en-
q. por
tende haverem tres Correios em cada mez, ou 27 cada anno ;

a verd.6 he haver só hum Correio mez, ou 9


quando por por
anno ; o de certo he m.^ Em razão disso remetto
q. pouco.
esse de lembrança dos d.0® Correios, se acha mais
papelinho q.
clara, e tira toda a duvida.
q.

Ficando muito certo no favor de sua benção e da Mãy,

a summam.te me recomendo, não deixo de


q.m protestar q.
sou com todo o respeito

De V. M.ce

Filho m.to aff.° e obg.do C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaq.m

CARTA N.° 136

Rio de 19 de
Janeiro

Novembro de 1818.

Meu Pay e S.r do C. Esta serve somente


prezadissimo

para participar nesta Escuna Leopoldina, sahe ama-


que que
nhã infalivelmente, vai hüa Carta minha, escrevi a V.
que
— 349 —

M.ce com data de 14 do corrente, mais extensa, e acompanha-

da das Relações dos Despachos nos dias 26 de


publicados

Outubro, e 4 deste mez : Que hontem recebi com a maior

satisfação húa Carta de V. M.ce, a vinhão adjuntas outras


q.

da Mãy e Mana mim e Anna, ás todas reservo


para quaes

responder com mais vagar, no Io Navio, se seguir a este,


q.

me não chegar isso agora o tempo, tenho ; e


por para q.

estas Cartas vierão de Cabo Verde, onde arribou e ficou con-

demnado com agoa aberta o Navio, tinha com ellas sahido


q.

de Lisboa aqui, e ouvi dizer chamarse Felicidade : Que


pu q.

também aqui chegarão outras Cartas de Lisboa, as quaes

trouxera hum Navio, dahi sahira a Bahia,'e da Bahia


q. para

forão aqui remettidas outro Navio, constando desde


pa por

então ser esta demora dos temores dos Corsários


procedida

dos Insurgentes Americanos, e espera dos Comboys, se


q.

estavão aprestando esse fim : Que com esta remetto a V.


pa

M.ce a Relaçãosinha dos Despachos do dia 15 deste mez, dia

de S. Leopoldo.

Não chega mais o tempo, e ficando m.*0 certo no


para

favor de suas bênçãos, me lisongeio de ser

De V. M.ce

Filho m.10 aff.° e ofog.*10 C.

Luiz dos S.to8 Marrocos


Joaquim

CARTA N.° 137

Rio de 8
Janeiro
Fevereiro de 1819.

Meu Pay e S.r do C. Tenho recebido ul-


prezadissimo

timamente duas Cartas de V. M.^ com as datas de 4 e 18 de

Agosto do anno não responder a ellas


passado, pude pelo
Correio Maritimo, sahio no Io de deste anno,
q. Janeiro q.
foi a Charrua Bom Successo, acompanhada do Berg.m Treze

de Maio ; nessa occasião me achava doente com huma


pois q.

das minhas antigas refregas. Desde então inda se não


pro~
— 350 —

a sahida de algum outro Navio esse


porcionou para porto,

não só em razão de commercio, como da


pelo perigo pirataria,

cobre esse mar ; e Deos escapar delia o Berg.TO


que queira

Falcão, a 10 do corrente sahe em Correio Marítimo. Não


q.

tenho recebido, depois daquellas, outra alguma Navios,


pelos

se tem seguido com entrada neste são : em De-


q. porto, q.

zembro, a 2 o Navio S. Fenix, e o Visconde de Monte-


José

alegre, e a 17 o Berg.m Lusitano : em a 23 o Navio


Janeiro,

Princeza do Brazil, e a 25 o Novo Paquete, e S. Nicolau Au-

; e neste mez entrou dahi hü Navio Russiano afretado


gusto

Governo. Por aquelles chegou aqui a triste


pelo primeiros

noticia da dos Navios S. João Baptista, Príncipe D.


perda
Pedro, e D. Miguel Forjaz. O Paquete Inglez igualmente

a tomada do Navio Princeza Real, cuja tripulação


participou

encontrárão em Tenerife, e havia tempo daqui sahira


q. para

Lisboa : e há dias consta haver-se refugiado em Per-


poucos

nambuco o Navio, comprado aos Inglezes, onde hia


grande

o nosso Embaixador Roma, Pedro de Mello ; assim como


para

a do Brigue Gavião, aquelle acossado, este tomado


perda pelos
Corsários, tem a maior astucia de escaparem ás diligencias
q.
dos nossos cruzadores.

Depois de estimar summamente a continuação de sua

saúde, e a boa disposição e vigor supportar as lidas e


para

caminhadas diarias, no meio de tantas calmas, o arranjo


para

e classificação da Livraria do Convento de S. Domingos e do

Conde d'Almada, como na sua de 4 de Agosto me refere ;

fico sciente de todos os mais objectos, comprehende, espe-


q.

cialmente sobre a sua de Chronista, desejando muito


pertensão

venha a Informação se ultimar ; vejo não só


que para pois q.

he de importancia e honra este Emprego, sempre se


grande q.

tem conferido a homens benemeritos, mas o seu Ordenado,


q.

tenue algum tanto seja, avulta com o em


por q. q. já goza,

Deos não descobre arranjo melhor ; e sempre accresce


quanto

o motivo de Emprego Publico ; a opinião vulgar


justo pois q.

de ordinário segue a confusão, e não attende ás causas e mo-

tivos no de cada hum.


particulares procedimento

A respeito da em V. M.ce me falia, em


Jubiíação, que
faz consistir a sua „principal idea, não descubro caminho,
que

onde ella se alcance, isto he, caminho decente, inda ex-


por q.

traordinario : tenho aquelles, influir


palpado que poderião

esse fim, mas inutilizou meu trabalho razões, me


para pelas q.
— 351 —

; excepto sugeitando-se ao da de
ponderarão parecer Junta

Directoria, a o Requerimento ha de ser remettido


quem para

Consultar, o de nenhum modo he conveniente ; como


q. pois,

me affirmarão, ella ha de referir-se ao mesmo


parecer, q. já

deo, em outra Consulta a este mesmo respeito, fez subir, e


q.

se acha registada nessa Secretaria de Estado, V.


q. quando

M.ce a requereo há annos, e de cuja Resolução V, M.013


pode

obter dahi huma Certidão. Nestes termos, mais acer-


julgo

tado desviar a sua idea de semelhante todos


pertensão, q.

me tem assegurado nenhum modo lhe compete, alem do


por
de terceiros; do occasião de se expor
prejuízo q. procurar

a hum deferimento negativo e desagradavel.

Os Subscriptores da Obra dos Varões Illustres tem des-

animado inteiramente, verem a falta de remessa na conti-


por
nuação de seus folhetos, há hum anno : ninguém
quasi quer
subscrever mais, e os subscreverão, murmurão
poucos, que
deste esquecimento, dando motivo áquelles a negar-se, depri-

mindo seus Editores.

Tenho a honra de ser com todo o respeito e veneração,

felicitando-me sempre com a sua benção :

De V. M.ce

Filho m.to aff.° e obg.do C.

Luiz dos S.tos Marrocos


Joaq.m

P. S. Anna se recomenda m.40 a V. M.ce recebendo com

todo o as suas obseq.as expressões.


prazer

CARTA N.° 138

Rio de 10
Janeiro
de Fevereiro de 1819.

Meu Pay e Snr. do C. Pelo Brigue Fal-


prezadissimo
cão, sahio hoje esse em Correio Marítimo, escre-
q. para porto
vi a V. M.oe com data de 8 em resposta ás duas ultimas,
que
V. M.ce me enviou, de 4 e 18 de Agosto do anno
proximo pas-
sado : agora se acha a sahir
q. prompto o Navio S.
José
Fenix no dia 13, faço esta na fôrma do meu costume, a fim
de continuar a minha resposta áquellas, e supprir a falta da
devia ir Correio Marítimo de
q. pelo Janeiro.
— —
352

17. e 18 de se fizerão as Preces


Nos dias 16. Janeiro

o feliz Successo de S. A. R., e af firma-se


do costume para
mez começão as Preces successivas até a
no dia 16 deste
q.
e isso he de suppôr a m.ma Snr.-a
occasião do ; por q.
parto
na sua G he certo he com
está m.^ adiantada prenhez. q. q.

edificando o novo Quarto o futuro


todo o fervor se está pa

em continuação do Palacio de S. Chris-


Neto de S. Mag.e,

Visconde V> N.a da R.a tem Ordem R.


tovão : o pa pelo
q.
tapessar, e mobiliar : e S. Mag.e
Thesouro o preparar, q.

N. S.ra deo igualmente as suas Ordens o novo


a Rainha pa

Enxoval.

a noticia da morte do Marquez de Penalva :


Aqui chegou

cordatos dizem foi a causa húa febre biliosa ; o


os q. povo

affirma morrera doudo, em consequencia da Analise,


porem q.

no Correio Braziliense se a hüa Censura delle


q. publicou,

ao Espectador Portuguez do P.e Agostinho, espraiando-


José

se contra os Pedreiros Livres. O Io filho de sua 2a mulher,

chamado Antonio Telles da Silva, Camarista de S. MagA

aqui me obsequeia, e tem contrahido amizade comigo ; tendo

29 annos, hum velho, e sua sisudeza bem mostra sua


parece

boa Educação, me dizem ser hüa boa circunstancia da Casa


q.

de seu Pay.

Também consta haver morrido o Bandeira, e a Casa,


q.

Ordem do Governo, manejada outro Irmão, continua


por por

a em seu nome.
girar

Manoel Sarmento aqui se acha nesta Corte, onde


José

entrou com o direito : apezar de ficar assustado á sua che-


achar fallecido o Ex,mo Conde da Barca, em


gada, por q.

trazia fundadas as suas esperanças, e custando-lhe ao


prin-

cipio tomar vento de feição, todavia tem-lhe soprado tal vira-

me ficará mais emprôado, do no tempo do


ção, q. parece q.

Ex.mo Luiz de Vasconcellos : ahi constará miúdo o


por q.

não devo ora aqui explanar, apezar de não ser matéria de


por

segredo.

Farão ahi expectação os Casamentos das duas Per-


grande
sonagens representantes das Casas de Lafões e Cadaval reci-

com os 2.os filhos das mesmas Casas, se


procamente pois que

achão todos os seus Papeis; fazião (ou se


já promptos q.

figurar ser) a causa da demora daquelles ajustes.


pretendia

Ha dias falleceo a Viscondeça de Magê, não


poucos po-
dendo sua extrema ; fazendo-se-lhe
parir por gordura pois q.
— 353 —

a operação, logo espirou, salvar a criança, achou-se a


q. pa

cellular do mais fino da barriga com hum e dois dedos


palmo
de toucinho, e a criança também morta. Esta Viscondeça era

irmã da Ia Viscondeça, igualmente morreo de com


q. parto,
a differença de ser a morte a elle. Será
posterior justo q.
o Visconde se caze agora com a Mãy dellas extinguir a
para
raça, e depois se metta Frade.

V. M.ce na sua, refere o nome de minha filha,


quando
me diz haver morrido h-üa de m.as Tias, sendo hua dellas cha-

ínada Maria Thereza. Inda não sei dellas he a falle-


q. qual
cida, nem he a casada ou solteira, nem igualmente he
qual qual
o nome da outra m.a Tia, todavia me foi sensível aquella no-

ticia motivo de tão apezar nunca


por proximo parentesco, q.
houve occasião de tratamento ou familiarid.e.

Pelo Correio Marítimo, hoje daqui sahio, escrevi ao


q.
nosso Amigo Lourenço, de Despacho de
João parabéns pelo
seu filho a S. Mag.e houve bem conceder a de
q.m por quantia
20$000 r.s mez, serviço, em se emprega, como Aju-
por pelo q.
dante de s.eu Pay : e esqueceo-me annunciar-lhe S. Mag.e
q.
também Se dignou approvar a Nomeação delle fi-
q. (Pay)
zerão os Governadores do Reino Superintend.6 do R. Con-
pa
vento de Mafra. O me communicar-se-lhe, se
q. parece justo
a V. M.ce não dér isto incommodo.

Finalizo esta assegurando a V. M.ce me interesso


quanto
na sua saúde, da Mãy, e mais família, e muito certo na conti-

nuação do favor de suas bênçãos, sempre


protésto ser

De V. M.ee

Filho obed.e e obg.mo C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaq.m

CARTA N.° 139

Rio de 4 de
Jan.ro

Março de 1819.

Meu Pay e S.r do


prezadissimo C. A Carta, V.
q.
M.ce acaba de dirigir-me com a data de 25 de Dezembro
pro-
ximo Navio Aurora,
passado pelo e em mão de hum Sugeito
— 354 —

desconhecido, foi mim de summa consternação, tristeza


para

e afflicção, V, M.ce me faz das criticas cir-


pela pintura que

cunstancias, em se acha, e toda a nossa Família, como igual-


q.

mente desagradavel noticia do fallecimento de minha Avó


pela

na idade de 88 annos. Como eu manifestar a V. M.ce


poderei
razões convincentes de consolação e conformidade, se os mes-

mos vínculos da natureza, lhe fazem sentir tão


q. grande gol-

são os mesmos, em mim iguaes effeitos ? De


pe, q. produzem

modo se considere tão irreparavel succum-


qualquer q. perda,

bem a razão, a filosofia, e a mesma ; e se a Religião


prudência

não tivesse forças nos suspender na carreira de senti-


para

mento, este a hum excesso incrível. Como V. M.ce


passaria

me não o motivo da sua morte, sou obrigado a ajui-


participou

zar ella seria em consequencia da falta de minha Tia, mais


q.

sensível ainda, viver na sua companhia.


por

Não menor impressão me causou o artigo da Carta de

V. M.ce relativo aos trabalhos contínuos, a se vê ligado, e


q.

aos apertados lances, tem experimentado, escassez e


q. pela

do tempo ; estando agora isso mais empenhado


penúria por

sobre a da Cadeira de Filosofia. Pelo Navio Fenix,


jubilação

daqui sahio a 18 do mez de Fevereiro, escrevi a V. M.ce


que já

sobre este objecto, depois de ter aqui todos os


por palpado

meios, conseguir o fim


q. julguei proporcionados pa principal

da empreza, isto he, sem intervenção do da da


parecer Junta

Directoría, ser isso o mesmo cahir debaixo do cutéllo


por q.

do Algoz, e muito mais existindo o Io Aresto na Secretaria de

Estado nessa Corte; referia igualmente as razões, se me


q.

não emprehender tal ser fóra


propuzerão píl pertensão por

de toda a razão e e degenerando em contumacia, não


justiça,
— —
me sendo airoso receber hum Informe a he o
Junta q.
— —;
mesmo hum Não ha deferir adoptando eu então
q. q.

estes conselhos, me se confor-


que parecerão judiciosos, por

marem.com o eu experimentei logo no em 1811.


q. principio

Também me fez convencer a lembrança de estar ainda


pendente

de decisão o Requerimento, V. M.ce fez, o Lugar


q. pedindo

de Chronista da Casa de Bragança, do ainda aqui não


qual

chegou a Informação dos Governadores do Reino ; sendo cer-

to em se não decide huma, não tem lugar a outra.


q. quanto

Sem embargo de tudo isto, dar a V. M.ce todas as demons-


p!1

trações de meu disvello, no interesse tenho da boa fortuna


q.
— 355 —

e de toda a nossa Família, a dedico húa


prosperidade q.

de minhas obrigações ; vou sem de tempo


grande parte perda

arranjar hum novo Requerimento documentado sobre a mesma

modificando esta (com o fim de


jubilação, porem pertensão

desvia-lo da com huma Pensão de igual com


Junta) quantia,

sobrevivência ma Mãy e Mana repartidam.£e, e com a 2a


píl

sobrevivência de hü a outra ; ainda vá a informar


para pois q.

aos Governadores do Reino sobre esta segunda circunstancia,

como estes mandão ouvir ao Dez.or Alex.e Ferr.a Castello,


J.e

ou ao Dez.or Ant.° Guião, como Fiscal das Mercês, de-


J.e pa

se conformarem com o seu ; não he isso este


pois parecer por

caminho tão espinhoso, V. M.ce ahi terá cuidado de appla-


q.
nar, fallando a hum ou outro. Eu fallarei nisso a S. Ex.a, como

lhe fallei do Chronistado, e terei d'antemão ao meu Off.al


pelo

Maior, de tenho a certeza de ser m.t0 capaz de obsequiar-


q.

me, ser meu amigo ; mas nem a rectidão do Io nem o offi-


por

cio do 2o se torcem a nada, o negocio nem equidade


quando

admitta.

Sobre o valimento inculcado do Sarmento com S. Ex.a,


p.a
em q. V. M.ce na sua me falia, he historia , ou fabula, faz
q.
riso : he verd.e tem conseguido couzas lá das suas
q. grd.es
dependencias com a Companhia do Porto, mas assim costuma

succeder só se ouve húa das Partes, e não a outra


quando ;

desta só se lêm Representações, está ausente, e daquella


por q.
lêm-se Representações e Memórias, ouvem-se expressões de

compungir mármores, e vêm-se lagrimas de crocodilo, e altos

suspiros, chegão á da rua. Estando confiado no fa-


q. porta
vor de sua benção e da Mãy, sempre ser
protesto

De V. M.ce

Filho m.í0 obed.e e obg.da

Luiz Joaq.m dos S.tc,s Marrocos

Supplemento

P. S.

Por hum Cunhado meu mandei logo entregar ao Viscon-

de do Rio Secco o Requerimento e Carta de Luiz Francisco,


— —
356

V. M.ce me remetteo inclusa. Elle a recebeo, e depois dós


q.

cumprimentos do estilo, me mandou dizer me mandaria a


q.

resposta, estivesse deferido, eu com ella satisfazer


quando p"

ao
pertendente.

Parece-me o Bispo intitulado Coadjutor do Arcebispo


q.

de Évora deve desistir de sua ser velha a


pertensão. por já

elle sustenta de ser o não ser.


questão q. querer q. pode

Aqui há muitos Papeis delle, e agora m.mo chegou outro Re-


delle, húa 2a Via, não tem ainda a


querimento pedindo quando

Ia. O P.e Lúcio ahi esteve incumbido desse negocio,


já q.

largou não lhe achar caminho nem atilho, e he loucura


por pro~

curar outra vereda, a cousa está tanto em vista. O Arce-


q.d0

bispo D. Fr. Manoel do Cenaculo Coadjutor, estar


pedio por

velho e cego : morto elle, acabou a Coadjutoria, e foi isso


por

Fr. de S.ta Clara o não não


q. Joaq.m quiz, por q. precisava

delle, nem elle estar ainda confirmado S. Santid.e, nem


por

(aqui nós) a sua Nomeação estar valida, S. Mag.e


pa por q.

não he nomêa Bispos in Partibus.


q.m

Pelo m.mo Sugeito, me trouxe a Carta de V. M.ee,


q.

recebi hum embrulho com 3 Livros de hum


Jurisprudência, pa

S. Mag.e, outro S. Ex.a; e outro mim : aquelles dois


pa pa

vinhão acompanhados com Requerimentos, e este com húa

Carta de Ant.° de Gouvêa Pinto, sobre a recepção da


Joaqu.m

importancia dos seus Livros, daqui lhe mandei entregar,


q.

depois de ter essa causa transtorno, em razão da


por grande

Ia remessa frustrada : e me annuncia as suas novas


perten~

sões. Os d.08 dois Livros e Requerimentos se entregarão,


não tenho o sistema de demorar Papeis na ma mão, e se


pois

tiver occasião de o seu bom êxito, o farei, visto


promover q.

elle se mostra agradecido Io obséquio, enviando-me as


pelo

suas expressões de civilid.e e


polidez.

Anna se recomenda m.t0 a V. M.ce, á Tia, e Manna,


Mãy,

rogando-lhes a conservem sempre na sua amizade e benevolen-

cia, e eu igualm.te as suas bênçãos a bem desta sua Neta,


peço

fallar, e correr, e he o meu único divertim.10 suas


q. já quer por

galantarias, e nunca me larga. &.


por q.

No dia 21 de Fevereiro chegou aqui o Navio Despique.


1
CARTA N.° 140

Rio de 22
Janeiro

de Abril de 1819.

Meu Pay e S.r do C. Tendo escripto a


prezadissimo

V. M.ce Navios Fenix e Novo Paquete, daqui sahirão


pelos que

a 1*8 de Fevereiro e 11 de Março desejando adiantar as


(74),e

minhas noticias começadas naquellas Cartas, e continuar a

responder sobre objectos, em ainda havia tratar ; fui


que que

incòmmodado cruelmente huma inflammação na região


por

hemorrhoidal, veio acompanhada de hum tumor no mesmo


que

lugar, me impedia o sentar-me e ter o corpo direito ; se-


que
depois húa debilidade de estomago, a ainda até
guindo-se qual

hoje se não extinguio de todo, sendo esta a origem de indiges-

tões successivas e diarias, seja o meu alimento :


por pouco que

todas estas moléstias são endemicas neste Paiz, e essa


por

causa fui obrigado a ficar de cama espaço de sete dias, e a


por

cuidar de meu restabelecimento com mais seriedade, conservan-

do-me ainda hoje no uso de chá de com


quassia pequena porção

de Vinho chalibeado ; não isso escrever naquelle


podendo por

espaço de tempo Navios Visconde de Monte alegre e


pelos
Estrella, despachados a 18 e 20 do mesmo mez de Março;

succedendo também igual interrupção nos Navios Pastora do

Lima, e S. e Charrua Calipso, inda estes não leva-


Jorge, que

rão Saccos da Secretaria, largando desta barra a 3 do


pas-
sado, e 3 e 20 do corrente. Por tanto esta serve de supprir

(74) Nessa carta de 11 de Março, que não aparece aqui, havia de ter ido
a notícia da morte do Conde das Galveas, D. Francisco, acontecida dois dias antes,
conforme a Gazeta do Rio de Janeiro, de 13 de Março de 1819.
"O
Illustrissimo e Excellentissimo D. Francisco de Almeida de Mello e Castro,
Conde das Galveias, do Conselho de Sua Magestade, Commendador na Ordem de
Christo, Alcaide Mór da Villa de Borba, Senhor Donatario do solar da Villa Nova
do Príncipe, Couteiro Mór da Real Tapada de Villa Viçosa, e das mais Coutadas da
Sereníssima Caza e Estado de Bragança, Aposentador Mór da Caza Real, Corte, e
Reino, e Deputado da Meza da Consciência e Ordens de Lisboa, fa'ieceu na Praia
Grande a 9 do corrente, ás 11 horas da noite de huma catarral, de i.lade de 58 annos,
11 mezes e 3 dias. No dia seguinte foi o Corpo transportado daquelle sitio para a
Igreja de S. Francisco de Paula desta Corte, onde foi sepultado com as honras com-

petentes."
— 358 —

todas as Cartas, devião ir naquelles Navios, cuja falta na-


que

turalmente causaria a V. M.ee algum cuidado, ficando sempre

certo ou moléstia, ou embaraço deixar


que por grande poderei

de escrever, como sempre tenho feito.

Estimo muito V. M.ce tenha boa saúde, livre


que gozado

da afflictiva tristeza, de na sua ultima de 25 de Dezembro


que

V. M.(:e me asseverava achar-se tão aterrado, cuja circuns-

tancia assás me transtornou, fazendo viva impressão no meu

sistema nervoso : da mesma sorte estimarei minha Mãy


que

tenha mais aliviada dos seus incommodos antigos e


passado

flagellantes ; e minha Mana e Tia a melhor e mais


que possúão

disposição ; recebendo todos as Boas Festas, o


perfeita que

tempo actual offerece, envolvidas em huma inextinguivel sau-

dade, o mais sincero affecto, respeito e


qual podem produzir

Ànna se disvéla meio destas expressões em se


gratidão. por
mostrar reconhecida a todas as suas lembranças e obséquios :

minha filha na sua tenra idade de nossos vivos dese-


participa

; e todos igualmente esperamos a continuação de suas ben-


jos

çãos nossa inteira satisfação e


para prazer.

No dia 19 de Março entrou neste a Escuna Leo-


porto
a 6 deste mez o Bergantim Princeza Leopoldina, e a
poldina,

9 hum Navio Dinamarquez com as malas do Governo ; e


por
nenhum destas Navios tive o de receber Cartas de V.
gosto
M.cc, depois daquella sua ultima de 25 de Dezembro mencio-

nada, o todavia me não causa maior cuidado, costume,
que pelo
em V. M.oe me tem sendo tão raras as vezes,
que posto, que
me escreve, o eu, mais tudo, atribuo á fadiga e falta de
que que
tranqüilidade em sua vida e arranjo doméstico.

Por huma das Gazetas inclusas verá V. M.ce a noticia

agradavel do Feliz Parto de S. A. R. no dia 4 deste mez


pelas
5 horas da tarde, cujo sucesso a todos causou extrema
(75)

(75) Domingo.. 4 do corrente, pelas 5 horas da tarde, os fogos de artificio,


as salvas das fortalezas e dás embarcações de guerra, e os repiques dos sinos, annun-
ciárão que o Ceo em prêmio das singulares virtudes de Sua Magestade, EI-Rei Nosso
Senhor, Concedera ao Seu Augusto Syccessor as da feliz íecundidade de
primicias
S- A. R. a Princeza Real do Reino Unido de Portugal, do Brasil e Algarves, que
naquelle afortunado momento, e com o mais successo, déra á luz huma
prospero
Princeza. Apenas aquelles alegres indicios fizerão conhecer o feliz acontecimento,
que com a maior satisfação acabamos de memorar, começárão instantaneamente as
costumadas demonstrações de publico regosijo, ás quaes succedeu huma brilhante
ílluminação, assim nos edifícios públicos, como nos sobresahindo a todas
particulares ;
a da Real Quinta da Boa Vista, pela sua elegancia e profusão de luzes ; e precedendo
e terminando a dita illuminação huma salva de 21 tiros da fortaleza da Ilha das Cobras.
Immediatamente mandou Sua Magestade expedir os Despachos, que devião
annunciar aos Seus Fieis Vassallos de Portugal, assim como á Corte de Vienna
— 359 —

alegria ser mui desejado ; e mim me servio, alem disso,


por para

de excessivo trabalho, apezar de ser Domingo de Ramos ;

segundo he costume, recolhendo-me á Secretaria áquella


pois,

hora, a fim de se expedirem todas as Ordens e


participações,

assim este Continente, como Portugal, cujo fim


para para para

estava a Escuna Leopoldina, sahio logo no dia


já prompta q.

seguinte de madrugada, largámos o trabalho, dando-lhe fim

5 horas da manhã do mesmo dia 5, sendo a íadiga de 12


pelas

horas successivas, e as mais incómmodas, serem as horas


por

do somno. A Princeza recem nascida vai bem, e consta


que

será baptizada a 2 de' Maio, dia da Maternidade de N. Snc.ar

chamando-se D. Maria da Gloria ; e então se os


publicarão

Despachos, todos anhelão, mas maiores


grandes por que por

sejão, sempre restão descontentes. Por aquelle motivo


que

de trabalho, falta de tempo, e a dita Escuna


grande por que
não levou mais os Despachos das Secretarias de Estado,
que

e hü Expresso Alemão, das Cartas Vienna


portador para
d'Austría, não escrever a V. M.ce naquella occasião
pude para
as alviçaras, ao eu não esq.uivar-me com
ganhar que pude para
o Moço das Ordens, veio a minha Casa a toda a brida
que
trazer-me esse bilhetinho, vai incluso.
que
Tratando agora do objecto do Requerimento, V. M.ce
que
me recommendou fizesse em seu nome, com os Documentos,

existião em meu e tendo a V. M.ce


que poder, já participado
os motivos, não convinha requerer a sua
por que Jubilação,
segundo as minhas diligencias, ser essa huma
produzirão por
Graça, modo nenhum S. Mag.e lhe concedia, enten-
que por
dendo não lhe competir : evitar o desgosto de ver lavrar-
para
se hum Escusado á minha vista essa, aqui denominada,
por
tenacidade e contumacia, ficando illudidos e frustrados meus
os

passos ; resolvi fazer esse Requerimento, a Pensão,


pedindo
V. M.ce nelle verá, com a Sobrevivência minha
que para Mãy

e Mana, e arranjando a historia, segundo me offerecião as

d Áustria, esta
gratíssima noticia, de que foi portador o Tenente Coronel d'Artilharia,
addido ao
Estado Maior do Exercito Guilherme Christiano Feldner ; estando para
esse fim aparelhada a Escuna Leopoldina, se fez á vela seguinte." —
que no dia
Gazeta do Rio de Janeiro, de 7 de Abril de 1819.
No dia seguinte 5 de Abril sahio deste Porto o de Lisboa a
[1819] para
Escuma Leopoldina, levar os despachos, El Rei Nosso
para que Senhor mandou,
expedir, annunciando aos seus fieis Vassallos do Reino de Portugal a
gratíssima noti-
cia do Nascimento da nova Princeza nesta Corte do Reino do Brasil ; e igualmente
ordenou Sua Magestade que o Portador dos mesmos Despachos, o Tenente Coronel
Guilherme Christiano Feldner passasse á Côrte de Vienna ao Augusto-
para participar
Imperador da Áustria este tão alegre, como interessante acontecimento." — L. Gon-
çalves dos Santos, Memórias citadas, II, 345.
ps.
— 360 —

minhas ideas, supprindo do melhor modo a falta de Documen-

tos essenciaes e authenticos ; V. M.ce bem saberá


pois que

Attestações e não tem de ordinário credito


graciosas pedidas

algum, antes contrario succede muitas vezes fazer


pelo perder

o credito, o Recorrente só si mereceria. Nestes ter-


que por

mos ajuntei-lhe os Documentos, me análogos á


que parecerão

sem com tudo no Requerimento fazer menção dos


pertensão,

últimos, serem Attestados de outros Professores ; e tendo


por

resolveo a esse respeito informassem os


pedia, que primeiro

Governadores do Reino, S. Mag.e Deferir como lhe


para pare-
cesse á vista da Informação. Por tanto ahi vai o Re-
justo,

querimento, cheio de bênçãos e deprecações, com o competente

Aviso, V. M.ce diligenciar com a sua natural actividade os


para

meios de vir com huma boa Informação, na certeza delia


que
depende a sua sorte e bom deferimento : Lembra-me
porem
accrescentar se o dito Requerimento não for ao seu
que gosto,
ou inda conforme ao rigor da verdade alguma circunstancia
por
ou de me não seja conservar a memória
período, que possível
fresca, e em não duvido haver algum engano meu,
que pode
V. M.ce altera-lo, e a seu accrescentando ou mu-
pô-lo geito,
dando, como bem lhe agradar, com tanto se não altere a
que
essencia da e reduzi-lo a limpo, fechando-o de modo
pertensão,

que não contrafeito. Também he muito necessário


pareça

que V. M.ce lhe accrescente Documento huma Certidão


por
extrahida da Secretaria de Estado, do Decreto ultimo de
Ja-
neiro de 1805 foi V. M.ce nomeado Professor
pelo qual de Fi-

losofia, delle se faz menção no Requerimento,


pois e he onde

mais se firma a sua : assim como seria bom


pertensão que o Io

Documento fosse reduzido a Certidão extrahida da Mesa do

Dezembargo do Paço, ou daquella Repartição, onde foi


para
transferido o Cartorio da Mesa Censoria, especificando o
tempo, em V. M.ce começou o seu Magistério;
que por ser
essa circunstancia mui essencial; e igualmente outra Certi-
dão do seu Acto vago e expontâneo de Filosofia em 1794 ex-
?Mesa
trahida dos Livros da mesma do Dezembargo do Paço ;
e nada de Attestações
graciosas, excepto as vão no Requê-
que
rimento, são dos Professores
que do Collegio das Artes da
Universidade de Coimbra, serem auctorizadas
por com o Des-

pacho do Vice Reitor. V. M.ce não repare nestas minhas


meudezas, talvez lhe intempestivas
que pareção ou
pueris, pois
são só dirigidas a affastar o cutelo dos Ministros informantes
— —
361

do Governo, os naturalmente se aproveitão


por parte quaes

de circunstancia escusarem nas suas Informa-


qualquer para

succedendo muitas vezes o contrario do o


ções, julgarem que

espera ; e isso he estar munido de


pertendente por preciso

todas as clarezas sobre os objectos, de trata o Requeri-


que

mento. Seria muito desejar V. M.ce não esfriasse


para que

também sobre a de Chronista, alem de, sem


pertensão por que

duvida, ser Emprego distinctissimo e mui honroso, accresce em

seu o Ordenado, lhe compete : e nada vejo,


proveito que que

se lhe opponha, se a esse respeito V. M.ce não affrouxar, e

obtiver boa informação. Eis aqui como Deos com a Sua vi-

Providencia nos facilita os caminhos, meio


gilante para por

delles a nossa vida mais cómmoda, mostrando-


procurar-mos

nos o engano de nossas reflexões !

A respeito do Requerimento de Antônio de Oliveira,


José

Bispo Eleito in e Coadjutor do Arcebispado de Évora,


partibus,

V. M.ce me remetteo, na minha antecedente dei algumas


que já

razões, no momento me sufficientes não ter


que parecerão para

lugar semelhante : agora em satisfação ao


pertensão porem

empenho, V. M.ce na sua me declarou, o êxito,


que para que

accrescento dever-se notar, seu descargo, a in-


procura, para

coherencia, em outro tempo houve, de nomear S. Mag.e


que

Bispos in não se conhecer então á razão,


partibus, por por que

S. Mag.e nomêa os dos seus Reinos e Dominios, e os de Terras

de Missões : he verdade este assim foi nomeado, mas não


que

se lhe Carta d'Apresentação ou Rogatoria, como de-


passou

veria ser, na fôrma, hoje se : como elle no


que pratica porem

seu Requerimento, offereceo, diz se vão a as


que que passar
Bullas, o Regio Beneplácito ; este nunca se se
pede já passa,
não á vista das mesmas Bullas, a fim de se conhecer se ellas

sem inconveniente ser executadas. Alem disto, como


podem
se hão de as Bullas, sem a Rogatoria de S. Mag,e e
passar

sem Carta ? E razão veio elle requerer aqui, e não


por que

requereo aos Governadores do Reino, sempre estiverão


que
auctorizados os Beneplácitos dos Bispos de Portu-
para passar

e Algarves ? Lembro-me talvez elle, munido com o


gal que
Aviso de fizesse directamente a supplica a S.
participação,

Santid.e, e Este lhe tenha deferido : Seja o for. Por


quê que
todas as razões Ordenou S. Mag.e elle represente a Bulla.
que
se lhe o Beneplácito ; o V. M.ce se dignará
para passar que
de lhe fazer até não dar motivo de entender-
participar, para
se haver obrepção neste negocio.
— —
362

Devendo responder ás observações, V. M.ce faz, a


que

respeito do Decreto de Dispensa de Habilitação o Habito


para

de Christo, há tempos lhe remetti, digo em 1° lugar, o


que que

meu offerecimento satisfazer a despeza da sua Profissão,


para

não era condicional, mas sim real ella ter effeito, se fos-
para

se esse o motivo de.V. M.ce não uzar da Insígnia, sem


querer

logo á sua Profissão : em 2° lugar ; o dito Decreto


proceder

não he tão inútil, como V. M.ce nem elle he lavrado


julga, para

evitar S. Mag.e não tira os Emolumentos a


gastos, pois quem

são devidos : elle serve dispensar todos aquelles Titulos,


para

os Estatutos ordenão se apresentem, e o Cavalleiro não


que que

ou não lhe fica bem diligencia-los ; exem-


pode produzir, por

: ficaria decente a V. M.ce andar Cíveis e


pio pelos Juízos

Crimes a diligenciar a sua Folha Corrida ? Quando o


porem

Cavalleiro se acha de ante mão com os ditos Titu-


preparado

los, e os apresenta, não tem lugar então a Dispensa do Decreto :

mas elle tem maior applicação he o artigo das


para que para

Inquirições, (Definições da Ordem Part. Ia Tit. 19. §§ 10 e

11.), a chama Provanças e Habilitações, nas a


que quaes

Mesa da Consciência espréme o lhe cahe nas


pobre, que gar-

ras sem esta defesa, o deixa em e depennado,


que jejum por
ser impraticável satisfazer ao dito artigo, não
quasi geralmente

haver nelle matéria de suspeição, mas trabalho de


por pelo
sua enfadonho e interminável : e assim, se não
justificação
fosse o Decreto, se dispensa no objecto das ditas
pelo qual
Provanças e Habilitações, ficarião irrisórias as Mercês de

S. Mag.e, as confere a apezar de bene-


quando pessoas, que,
meritas se não achão nas circunstancias e de sa-
possibilidade
tisfazer ás condições dos Estatutos. Eis aqui a
plenamente
razão, eu me antecipei com o dito Decreto, a fim de
por que

servir conviesse.
quando

Pela Gazeta, vai inclusa, será constante a V. M.ce


que

a publicação, aqui houve no dia 15 o Luto, em senti-


que para
mento da morte da Sn.ra D. Maria Izabel, nossa Infanta e

Rainha de Hespanha ; cuja desgraça se sabia há muito,


(76) já
mas se conservava em segredo evitar algum incommodo a
para

(76) A Gazeta do Rio de Janeiro, de 17 de Abril de 1819, noticia o faleci-


mento de S. M. Católica, a Senhora D. Maria Isabel, rainha das Esparvhas e das ín-
dias, filha de D. JoSo VI, no dia 26 de Dezembro do ano antecedente. D. VI
João
determinou que se cumprissem as demonstrações fúnebres da — El Rei
pragmática-
determinou que sua Corte e os Tribunais trouxessem luto por seis meses, sendo este
pesado nos três e aliviado nos seguintes. — Gazeta citada, de 21 de
primeiros,
•Abril de 1819.
— —
363

S. A. R., se achava ao seu Parto. S. Mag.e


que próxima

recolheo-se oito dias, inda não suspendendo o Despa-


por que

cho, e sahindo a occultamen.te, e da mesma sorte todá


passeio

a Familia Real, isto he, sem estado, nem comitiva, nem conti-

nencias. Segundo a Ley será este Luto seis mezes a


por para

Corte ; mas he de se extenderá a mais tempo,


presumir q.

visto se verifica a morte dos Soberanos de Hespanha, Pays


que

de Fernando 7o e de S. Mag.e a Rainha N. S.ra.

No dia 9 do corrente sahio deste esse o Vis-


para porto

conde de Santarém com as demonstrações exteriores de ir


para

o seu destino, como Conselheiro de Legação, mas supponho

não terá effeito, segundo ouvi a algumas de sua


que pessoas

especial familiaridade. Eu sempre me desviei de lhe fallar,

e muito menos de o visitar, não sou enfunado de con-


por que

trahir amizade com Grandes ou semi-Grandes, e dou-me bem

com esse sistema, me ter achado mal com o opposto. Huma


por

vez me encontrou na Livraria, onde era freqüente


que para

extrahir Copias do inculcava entender, e não eu


que podendo

escapar-lhe, me embaraçou de tal sorte com o exigia de


que

mim, me livrar disso, foi necessário fingir-me doente,


que para
ser a sua contraria á exacção de minhas obri-
por pertensão

gações.

S. Mag.e em 16 de Março Foi Servido Conce-


passado
der Licença ao P.e Francisco Carreira impetrar da Sé
José para
Apostolica o Breve de Confirmação da Renuncia, lhe fa2
que
Antonio de Mello, filho do Marquez de Sabugosa, do
José

Beneficio Simples da Collegiada de S.to Maria de Povos, do

Patriarchado de Lisboa : o V. M.ce, tepdo occasião, fará


que
o favor de lhe elle a nessa Secreta-
participar, para que procure
ria de Estado, onde vai este Expediente.
para por

Ainda está indeciso sobre o dia do Baptismo de S. A. a

S.ra Princeza da Beira recemnascida ; SS. AA. RR.


por que
seja no dia 2 de Maio, em se celebra a Mater-
querem que que
nidade de N. S.ra e se recorda a memória da B. Máfaida, In-,

fanta de Portugal; e S. Mag.e se inclina seja a 3 do


para que
mesmo mez, dia da Invenção da S.u Cruz ; havendo reciproca-

mente huma delicada condescendencia em não torcer as tén-

ções ou suas devoções fazem nascer esta in-


particulares, que
decisão. Outra duvida corre a respeito do Luto actual,
que
S. Mag.6 só limitou a Corte ; e a má intelligencia das suas
para
Ordens, até chegou á Gazeta, tem causado em
q. questões
— —
364

não obrigou aos Tribunaes a


muitas Repartições. S. Mag.e

só ás Secretarias de Estado, estão


cobrirem-se de luto, mas q.

a alguns Membros de
na ordem da Corte ; concedeo porem

lhe trazerem luto, assim


Tribunaes, Licença q. pedirão para

em tempo e occasiões fora do


como concedeo ao Corpo Militar

e não obrigação, e
Serviço, mas tudo isto he obséquio por
por
o trazer. Ámanhã,
deste modo todo o Povo, querendo, pode

Audiência de Pezames, em conclusão do


23, S. Mag.e ha de dar

seu encerramento.

Visconde do Rio Secco me não mandou


Por ora inda o

Requerimento de Luiz Francisco, como me prometteo,


deferido o

na Secretaria, tomar conta delle.


nem eu o tenho visto para

seguio hüa via differente da


Receio se perca, por que que
q.

devia tomar.

Tenho a honra de ser com todo o respeito e cordialissimo

affecto

De V. M.ce

Filho m.to obed.*6 e obg.do C.

Luiz dos S>8 Marrocos


Joaquim

P. S.

Agora Telegrafo chega noticia de apparecerem ao


pelo

Sul do Cabo Navios de Lx.a, digo, ao Norte do Cabo de S.to

Agostinho.

CARTA N.° 141

Rio de 30
Janeiro

de Abril de 1819.

Meu Pay e S.r do C. Serve esta de


prezadissimo partici-

a V. M.ce Navio Princeza do Brazil, ainda se


par que pelo q.

acha neste escrevi a m.a ultima mais extensamente, re-


porto,

mettendo o seu Requerimento com hum Aviso os Governa-


p.a

dores do Reino, sobre cujo objecto he m.t0 V. M.ce se


justo q.

digne responder-me antes, eu ficar mais descan-


quanto para
— 365 —

de novidade, menos o Baptismo de


Por ora nada he
çado.
Beira, destinado o dia 3 de Maio,
S. A. a S.ra Princeza da para

esse dia de Despachos.


(77), esperando-se para grande porção

a V. M.ce os meus votos constantes


Depois de assegurar

Mana e Tia, e ficando muito certo no


sua saúde, da Mãy,
pela
bênçãos ; conclúo ser sempre
favor de suas protestando

De V. M.ce

Filho m.to obed.e e obrig.d0 C.

Luiz dos S.toS Marrocos


Joaq.m

P. S.

deste Correio no dia d'amanhã, e do


A certeza da sahida

a horas, são os motivos de ser esta


seu despacho daqui poucas

o não he costume ; e V. M.ce


Carta tão breve e lacônica, q. por

bem o sabe &.

CARTA N.° 142

Rio de 22 de Maio »
Janeiro

de 1819.

Meu Pay e S.r do C. A ultima, dirigi a


prezadissimo q.

V. M.ce, foi Correio Marítimo Princeza Real, daqui


pelo q.

sahio no 1.° deste mez ; e fui então muito breve, nada


por q.

havia de novo, dizer, depois de o haver feito mui extensa-


q.

mente outro Navio anterior, tendo sahido nos fins de Abril


por

o Navio Princeza do Brazil, sem levar Carta minha. No

dia 21 do mesmo mez de Abril entrou neste o B. Espe-


porto

rança ; a 7 deste mez os Navios S. Thiago Maior, e Treze de

Maio, e a 10 o Navio Caridade ; e nenhum destes me trouxe

(77) O solene batismo da Princesa realizou-se no dia 3 de Maio de 1819, e


vem pormenorizadamente noticiado na Gazeta do Rio de Janeiro, de 5. Na Gazeta,
de 15, aparece esta declaração, que retifica o nome dado a Princesa :
"Na
Gazeta N.° 36 demos com alguma differença o Nome da Sereníssima Se-
nhora Princeza da Beira ; e hoje com Authoridade declaramos, que S. A. R.
Superior
Houvera o Nome seguinte : D. Maria da Gloria, Carlota, Leopoldina, da
Joanna,
Cruz, Francisca. Xavier de Paula, Izidora, Micaela, Gabriela, Rafaela. Gonzaga."
— —
366

Cartas de V. M.ce, o costume me não surprehende,


que pelo já

visto V. M.ce não attende nem á frequencia de minha es-


que
-lhe tenho
cripta, nem aos vivos desejos, tantas vezes
que por

manifestado de ver e ler as suas Cartas. Creio estas


q. queixas

me são nem V. M.ce se deve offender isso, sen-


permittidas, por

do aliás huma consequencia ou demonstração de respeito, amor,

e interesse, consagro á sua Pessoa, há mais de 8 annos não


q. q.

tenho o de ver e communicar, tendo só a vantagem de


gosto

conserva-la na minha idéa.


presente

Estimarei muito V. M.ce tenha boa saúde,


que gozado

descanço e satisfação, e dos mesmos bens tenhão mi-


gozado

nha Mãy, Mana e Tia, igualmente me tem faltado com


pois que

as suas noticias. Posso affirmar a V. M.ce sem exaggeração,

nem falsidade, ser objecto de admiração em todas as


geral pes-

soas, me conhecem, e comigo tratão, a falta me succede


q. que

da sua correspondência, em contraposição ao meu cuidado de

escrever ; de maneira como cousa de á entrada de


q. prodígio,

Navio, sou interrogado huns e outros se recebi


qualquer por

Cartas de meus Pays, ou se tenho delles noticias ? e attribuin-

do cada hum a dita falta, aos motivos mais facilmente


q. qua-

drão á sua idéa, todos concordão em ser effeito da ausência ou

do tempo.

Pelas Gazetas adjuntas verá V. M.ce os objectos, tem


q.

sido aqui de maior expectação e solemnidade, e os Despachos

motivos tão se tem tres Se-


q. por plausíveis publicado pelas

cretarias de Estado, e incrível trabalho successivamente


que

hão não apezar de


produzido, pertencendo-me pequena parte,
meu estado fraco e enfermo. He esse motivo não re-
por que
firo aqui meudamente esses festejos, inda então teria lugar
que

hum accrescimo de minhas notas criticas, em taes casos não


q.
dispensaria.

A minha saúde, como digo e V. M.ce sabe, he mui


preca-
ria, e assim me vou inveterando. Actualmente me acho mui

attacado de defluxão, hontem foi necessário applicar hum


q.
cáustico volante sobre o e repeti-lo hoje, mitigar a
peito, para
suffocação me causava ; mas felizmente abrandou, e
q. já

agora me sinto melhor. Anna vai sem novidade, e minha filha

continúa o seu. trabalho e incommodo dos dentes. Assim

mesmo vamos fazendo todas as diligencias resistirmos aos


para
contratempos, nos offerecem a terra e a estação, de
que que
eu, mais todos, me vejo muito mal tratado.
q.
— 367 —

Ficando m.*0 certo 110 favor de sua benção e de minha

Mãy, tenho a honra de ser

De V. M.C9

Filho m,to obed.e e obg.d° C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaquim

CARTA N.° 143

Rio de 8
Janeiro

de de 1819.
Junho

Meu Pay e S.r do C. Estando annunciado


prezadissimo

sahir a 10 do corrente o Correio Maritimo Treze de Maio,


para

faço esta Cartinha a a V. M.ce a minha ultima


participar que

foi Bergantim Lusitano, em eu me de V. M.ce


pelo q. queixava

-a V. M.ce mesmo falta das suas Cartas ; e desde então


pela

até agora não chegou ainda algum outro Navio, e conse-


por.

nada occorre de novo a accrescentar nesta.


quencia

Desejo V. M.ce continue a saúde, e


que gozar perfeita

igualmente minha Mãy, Mana e Tia, a muito e muito nos


quem

recommendamos. Nós sem novidade, excepto mi-


passamos

nha filha, soffre muito dos dentes, vão nascendo com


q. q.

força. Ficando muito certo no favor de suas bênçãos,


grande

e de m.a Mãy, continuarei sempre a ser


protestar

De V. M.ce

Filho m.to obed.e e obg.mo C.

Luiz dos S.toS- Marrocos


Joaquim

P. S.

Peço a V^M.1^ o favor de mandar entregar a inclusa ao

nosso Compadre, Antonio Simões.


CARTA N.° 144

Rio de 19
Janeiro

de de 1819.
Julho

Meu Pay e S.r do C. Aproveitando o pouco


prezadissimo

me resta de minhas fadigas, não faltar com a


tempo, que para

á sahida do Correio Marítimo, está destinado o


presente q. para

dia de ámanhã, vou dizer a V. M.ce tive sumrao em


que gosto

receber a sua do 1.° de Março de 1819, a serve de resposta


qual

a muitas daqui tenho enviado a V. M.ce, sabendo ella


que por

V. M.ce continua sem novidade no estado vigoroso de sua


que

saúde, inda mortificado circunstancias criticas do


q. pelas pas-

sadio da nossa familia : eu tómo huma do seu


grande parte

sentimento tanto incommodo, e fico tão consternado com


por

taes considerações, confesso a V. M.ce com toda a abertura


q.

e singeleza do meu coração, tomando todo o á efficada


q. pezo

das suas expressões e amizade, e olhando a boa face da


para

minha situação, com Deos he servido favorecer-me, e


que q.

a ser vistosa, inda não menos honrada e decente ;


principia q.

eu maior circunstancia de minhas fortunas


julgaria por que

V. M.ee dirigisse as suas vistas futuras em se. transportar com

toda a nossa familia este Continente e minha companhia, e


p.a

aqui fixar o seu estabellecimento com maior solidez, e até mais

descanço, e ainda me animo a dizer livre de apertos ver-


que

tão humilhantes o nosso brio, e nocivos a


gonhosos para para

sua idade e de m.a Mãy e Tia. He esta huma idea, eu


que

conservo há muito^tempo, depois a es-


principalmente q. perdi

de voltar a Lisboa, e depois tenho observado torna-


perança q.

rem-se mui favoraveis todas as diligencias e dos


pertensões q.
a sua residencia neste Paiz : he verdade os in-
procurão que

commodos dos e viagem são temíveis, mas esses são


preparos

; e se em 1811 não era o transporte de toda a


geraes possível
nossa familia, não só da saúde de m.a Mãy, como
pelo perigo

falta de arranjo e de meios com a chegada a hüa terra es-


pela

tranha ; esta segunda não merece consideração,


parte já por
— —
369

aqui me acho desfazer esses temores ; e á


que para q.to pri-

meira, vejo m.a Mãy, continuando ahi a viver, não tem


q. gò~

zado melhoras ; este clima, talvez se ache


q. passando para q.

melhor com a novidade e diversidade de ares, os são


quaes

m.10 benignos a idosa ; e álem disso concorrem


para gente que

muitas mais razões de commodidade e de interesse,


políticas, q.
-tomando
cada vez maior força espero fação desvanecer ideas
q.

funestas e desagradaveis do tempo antigo. Em deixo


quanto

á sua considerar com effeito sobre estas m.as


penetração poucas

razões, eu occasião discorrer com V. M.ce mais


procurarei p.a

largamente sobre este negocio importante ; em logo a


q. peço

sua decisão.

Quanto ao P.e Francisco Pimenta do Carmo, a


participo

V. M.ce a Abbadia de S. Thiago da Cruz, no Arcebispado


q.

de Braga, e da Apresentação da Casa de Bragança, foi dada

ao P.e Decreto de 3 de Maio


João"Dias, por proximo passado.

Quanto ao filho do Laureano, nada ora sei de suas


por perten-
soes, mas logò o saiba, a V. M.ce lhe fazer
q. participarei p.a
sciente. A respeito do Bispo eleito Coadjutor d'Evora, eu

respondi a V. M.ce em outras occasiões sobre o indeferimento

teve : eu acho-lhe muita razão, elle não tem culpa


q. por q.
dos erros alheios ; mas o se lhe ha de fazer ? oxalá elle
q. q.

.só fosse o e eu sanar isso : he melhor


queixoso, q. pudesse q.
. elle outro Beneficio, visto não se lhe verificar a Mercê da
peça

tal Coadjutoria.

Nós vamos bem, a Deos, sendo esta


passando graças qua-
dra do Inverno mais favoravel a minha constituição
para pela
frescura, se experimenta; Anna se acha mui
que já próxima
a ter o seu sucesso, eu ter mais me haja de distrahir
para quem
de m.8* melancolias. Como não conveniente ella
julguei q.
criasse mais filho nenhum, incommodos experimenta,
pelos q.
como se vio com esta ; comprei d'antemão huma
primeira preta
com leite servir de ama, de 179$200 r.s, e man-
para pelo preço
dei buscar ao hospital dos Expostos hum menino engeitado
p.a
m.a casa, a fim de ir conservando o leite á d.H até se
preta, que
verifique o de Anna, a soffre incommodo
parto qual grd.e pela
inchação das o seu estado de lhe tem cau-
pernas, q. prenhez
sado. Minha filha agora muito bem, de todas as
passa goza

graças da meninice, e me serve da maior doçura e alivio nas

m.as
preoccupações.

«
— 370 —

Digne-se V. M.ce abençoar a ellas e a mim, como


pois

firmem;16 confiamos do seu especial affecto, e de m.a Mãy,

sendo com todo o respeito e affecto

De V. M.ce

Filho m.*0 obed.® e obg.dí> C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaquim

P. S. Remetto essa Gazeta dos Despachos do dia 24 de

Junho.

N. B. A Filha do Visconde do Rio Secco, D. Maria

Magdalena de Azevedo, acha-se a cazar com Antão


justa José

de Saldanha e Albuquerque, filho do ex-Conde da Ega,


Joaq.m

e Viador da Rainha N. S.ra Eu lhes lavrei os Alvarás de

Licença o d.° Casam.to &.


p.a

P. S. As reflexões, V. M.ce na sua Carta, a res-


q. junta

do Tio Conego, dando-me a entender haver-me elle cons-


peito

tituido herdeiro do Chamado vinculo de Lanhelas, me causa a

maior expectação, affligindo-me em extremo o ver V.


quanto

M.ce faz laborar a sua imaginação no meio de tanta illusão e

falsidade. Desde a sua ultima Carta de 30 de Maio de 1818

remetto V. M.ce ver, ainda me não escreveo mais,


que p.f

tendo-lhe eu aliás respondido a todas as suas anteced.®8 e


por

ultimo o indeferimento da Representação


participado (muito

do Cabido de Braga contra o Conego Go-


justa) José Joaq.m

mes da S.a e Mattos, s^ acha nesta Corte levando bona vita,


q.
e comendo com delles. Esta he antiga,
pezar pertensão já pois
V. M.ce he sabedor delia, mas sempre foi tratada de resto ; e

agora se occasião de ser o Cabido attendi-


que proporcionava
do, toda a diligencia, faltar á d.a Representação
gorou-se por
a circunst.a de ser assignada m.mo Cabido ; tornando-se
pelo
desta sorte hum Papel apocrifo e injurioso, só ser anonimo.
por
Em elle me não escrever, não repetir as
quanto julgo prudente
minhas Cartas, não me elle até
principalmente participando
agora o fallecimento de m.a avó, D.s haja, com cuja espinha
q.
fiquei desde essa época, e sabendo elle há muito eu não cedo
q;
á sua inculcada delicadeza. Todavia assás me entre
penalisa q.
e tão hajão estas opposições e inimizades,
parentes, próximos,

quando o meu maior he ver brilhar a harmonia entre


gosto
todos, sem caprichos nem intrigas. Por tanto, vivo alheio do tal

negocio da herança, de nada sei, e he necessário a esse


q. q.
— 371 —

respeito V. M.ce faça não devendo capaz de


justiça, julgar-me

deslizar-me dos meus deveres.

Desde fui nomeado Official de Secret.a, ainda não re-


q.

cebitcouza algúa dos meus Ordenados da Livr.a, cujo Empre-

todavia continuo a exercer, Ordem de S. Ex.a, apezar


go por

de o Visconde tem feito força me esbulhar delle*


q. grd.e p.a

encaixando no meu lugar os seus afilhados, com outros tem


q.

sido immensos os reputando o Emprego vago. Não


pertend.es,

sei acabará esta nem as intenções de S. Ex.a a


q/*0 guerra,

este respeito, segue o sistema de fazer as cousas ca-


pois pela

lada, e se não espera. &.


q.do

N. B. Sobre a remessa da importancia da Venda dos

Varões Illustres, não agora responder, ser


posso por preciso

fazer a colheita dos Livreiros, não sei a terá


prim.ro q. quanto

subido, e o P.e Damazo he se acha mim incumbido


Joaq.m q. por

dessa diligencia, eu não ter esses


por geito p.a precatorios.

Na l.a occasião concluirei esse negocio, como V. M.ce me

recommenda. &.

N. B. O celebre ex-Juiz de Fora de Torres está de todo

mim abandonado, seg.do o V. M.ce me refere sobre as


por q.
suas &.
qualid.s

CARTA N.° 145

Rio de 30
Janeiro

de de 1819.
Julho

Meu Pay e S.r do C. A minha ultima,


prezadissimo que

dirigi a V. M.ce ; foi Correio Marítimo, a Escuna de


pelo

Guerra, Infanta D. Izabel Maria, sahio deste a 20 do


que porto

corrente ; tendo entrado de Lisboa neste mesmo mez tres Na-

vios, isto he, a 2 o N. Oceano, a 17 a Galera Nina, e a 18 d.a

Luiza, me deixarão em branco ; aproveitando agora a sahida


q.

deste Navio Ulysses, sahe ámanhã com outros mais


q. para
diversos a fim de manifestar a V. M.ce, me
portos, quanto

o tempo, o meu incessante cuidado em no-


permitte procurar

ticias da sua saúde, de m.a Mãy, Manna, e Tia, em mais


q. q.
— 372 —

tudo me interésso, e communicar igualmente as nossas noticias,

confio muito lhe sejão agradaveis. Nós sem no-


q. passamos

vidade de incommodo, menos m.H filha, estando há tempos


q.

com a continua batalha dos dentes, há dias tem tido febres


q.

mais fortes, ella, apezar da sua meninice, soffre com toda


q.

a o será causado dentes caninos, a


paciência, q. julgo pelos q.

vulgarmente chamão de todos são os mais custosos.


prezas, q.

Anna está o tempo da sua cuja


preenchendo gravidez, para
occasião se com os seus temores do costume, e com
prepára
isto vejo Deos se não esquece de mim, ser o augmento
que por

da familia huma evidente demonstração de suas bênçãos e be-

neficios.

Até hoje não tenho encontrar nenhum Requeri-


podido
mento de Manoel de Sousa, filho do Laureanno, con-
Joaquim

forme a recommendação V. M.ce me faz, e estou


q. persuadido
elle ainda não foi mettido a Despacho ficou delle
q. por quem
incumbido : he verdade achei nesta Secretaria de Estado
q.

dois Requerimentos do mesmo nome, mas se


pelas pertensões
conhece serem diversas ; hum versa sobre Lu-
pessoas pois q.
de Letras, e outro sobre Commutação de Degredo. Assim
gares

V. M.ce ao Pertendente nada há aqui a seu


pode participar q.
respeito, não deixando de ser mim logo executada a sua
por
recommendação, mas logo appareça algúa
q. participarei, q.
cousa, lhe diga respeito.
q.

Pode V. M.ce ao R.00 Antonio de Oliveira,


participar José
eleito Bispo Coadjutor do Arcebispo d'Évora, o seu nego-
que
cio se acha hoje com melhores-vistas, tendo-se conseguido apla-

car a tempestade desfeita contra elle S. Mag.e He


; pois Ser-

vido Àttende-lo aquella fôrma, he coherente


por que com a

razão e com o Direito lhe compete. Como elle não


q. apre-

senta as Bullas se lhe lavrar o Beneplácito, como


para se lhe

recommendou, e só falia dellas alto, não se offerece


pelo outro
meio o favorecer, senão o seguinte :
para Se he verdade
q.
elle, fóra de toda a expectação, conseguio lhe fossem
q. expe-
didas as Bullas, em attenção simplesm.te ao Aviso de Nomea-

ção, ou antes de Participação ; será daqui remettido hum Aviso

aos Governadores do Reino com especial recommendação,

auctorizando-os extraordinariam.te visto ser este hum caso não


esperado, o Beneplácito ás
para passarem d.as Bullas : E se
não houverem taes Bullas, como firmemente se crê ; então
torna o negocio ao seu e consequencia
principio, por em termos
— 373 —

legaes se caminhar com mais segurança ; isto he, re-


para

mette-se huma Carta Rogatoria de S. Mag.e, S. Santid.e


para

confirmar aquella Nomeação, sem a fica nulla, ser


qual por

do m.mo S.to Padre a regalia de nomear Bispos in


privativa

Partibus infidelium ; e alem desta Carta Rogatoria, expede-se

hum Aviso, ou Carta Commendaticia ao nosso Embaixador em

Roma cuidar das Bullas. Quando isto estiver desembara-


p.il
remetterei ou a remessa, q.do
çado, particularm.te, participarei

for Expediente ; não louvando a lembrança do d.° P.e em


pelo

multiplicar os seus Requerimentos, de nada servem, se não


q.

de accumular Papeis nesta Secret.11 de Estado, e isto m.mo

elle conhecer da resposta meu Collega Picanço envia


pode q.

ao S.r Payzinho, teve mais attenção e civilid.e, do o P.e,


pois q.

não metter-se neste negocio, visto eu tratava delle.


querendo q.

Sou com todo o respeito

De V. M.ce

Filho m.to obed.e e obg.do C.

Luiz Joaquim dos S.tos Marrocos

CARTA N.° 146

Rio de 5
Janeiro

de Agosto de 1819.

Meu Pay e S.r do C. Tendo escripto há


prezadissimo

dias a V. M.ce estes últimos Navios, em resposta a


poucos por

vários artigos de recommendação sua, e especialmente sobre a

do Bispo Coadjutor d'Evora, Antonio de Oli-


pertensão José

veira ; e tendo a V. M.ce tudo o a este respeito


participado que
se tem ; remetto agora adjunto o Aviso, em se
passado que

auctoriza de S. Mag.e aos Governadores do Reino,


por parte

o Beneplácito ás Bullas do d.° Bispo in Partibus, visto


para q.
mostrou haverem-se ellas expedido Sé Apostolica, segun-
pela
do assevera Pedro de Mello, e até me dizem ter este objecto

servido de artigo da nossa Gazeta de Lisboa. Esti-


publico

marei elle fique satisfeito com este expediente, e V. M.ee


q. que
— 374 —

se descançado no empenho, em seu favor me commu-


julgue q.

nicára. Ainda este Navio não ir a Ordem sobre o


por pode

da Obra dos Varões Illustres, o P.e


producto por q. Joaquim

Damazo, se incumbio dessa venda, inda não tratar


q. pode

dessa diligencia falta de tempo e de saúde dar esses


por para

; mas creio, segundo me affirma, está apurada a


passos que

respectiva o Navio, daqui sahir, e eu


quantia para primeiro que

o estimarei muito, me affligem as demoras desse em-


por que

bolço, depois V. M.ce me enviou a sua re-


principalmente q.

commendação dos Editores.


por parte

Depois da minha ultima nada há de novo, se offereça


que

a dizer ; excepto a noticia, hoje aqui voga de estar S.


q. por

Alteza, a Princeza Real, com demonstrações novas da sua fe-

cundidade : não sei se nisto há falsidade. Nós sem


passamos

maior incommodo, e só á espera de hum dia. . . . Minha filha

acha-se melhor das suas febrinhas : e cúmulo da nossa sa-


p.a

tisfação esperamos aos nossos desejos correponda a


q. perfeita

saúde de V. M.ce, da Mãy, Mana e Tia, a m.to nos re-


quem

commendamos ; e mui certo do favor de suas bênçãos sou

De V. M.ce

Filho m.to obed.e e obg.do C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaquim

CARTA N.° 147

Rio de 17 de
Jan.ro

Agosto de 1819.

Meu Pay e Snr. do C. Aproveitando esta


prezadissimo

occasião da sahida do Navio Nina, serve esta de a


participar

V. M.ce sexta feira 13 do corrente, 9 horas


que passada, pelas
da manhã, foi Deos servido Anna désse á luz huma menina
q.

com a maior felicidade ; e eu tenho todo o de offerecer


gosto
ao Serviço de V. M.ce esta sua nova neta, a ainda
qual que
vem augmentar os meus cuidados, estes se suavisão com a cer-

t
— 375 —

teza de em seu favor se dirigirão as bênçãos de V. M.ce,


que

deixarei de acreditar como hum signal evidente da


que jamais

sua especial amizade.

Hontem chegou aqui o Navio Novo Paquete, não trou-


q.

xe Cartas e tendo eu escripto as m.as ultimas Navio Ca-


; pelo

ridade, me acho escrevendo mais largam.te sobre objecto de

toda a import.a Sou

De V. M.ce

Filho m.to obed.e e obg.do C,

Luiz dos S.tos Marrocos


Joaquim

P. S.

Anna róga este modo a V. M.ce ljie acceitar


por queira

m.as expressões hum novo testemunho das suas attenções.


pelas

CARTA N.° 148

Rio 24 — Soli omninò —


de Janeiro

de Agosto de 1819.

Meu Pay e S.r do C. Devendo responder


prezadissimo

a V. M.ce com mais extensão sobre o artigo da sua ultima Carta

do 1.° de Março do corrente anno, na me communica as


qual

tristes circunstancias, em se considera com toda a nossa fa~


q.

milia, e a falta absoluta de recursos necessários obstar a


para
huma desgraça totalmente me assusta e horrorisa ;
próxima, q.
e tendo em maior a execução e exemplar
ponderação pratica
dos meus deveres, a fim de concorrer, em mim haja,
quanto

affastar da nossa família a a vergonha, e tudo


para penúria,

aggravar a nossa honra e brio, applicando


quanto pode para
isso aquellas forças e meios, Deos me concede : vou
q. por
esta rogar a V. M.ce attender ás minhas reflexões,
queira q.
são huma continuada e séria meditação Sobre
produzidas por
tão importante objecto ; he com a maior influencia e ardor
pois

do meu coração, livre de caprichos, nunca me


q. possuirão, q.
aproveito esta occasião mostrar a V. M.ce me in-
para quanto
— 376 —

teressa e se me faz apreciavel o seu descanço, satisfação e


paz

de espirito, e com estes bens a fortuna, socego, e estabilidade

de toda a nossa familia, especialmente na avançada idade e mo-

lestias de minha Mãy, e na martellada fadiga, em V. M.ce


q.

ha annos se tem consumido, debaixo de oppressões,


gemendo

intrigas e affrontas.

Por huma desgraçada experiencia terá V. M.oe observado

o seu Estabellecimento nessa Cidade tem


q. padecido progres-

sivamente notável atrazo, tornando-se nullo, e á


proporção q.

V. M.ce ha as suas diligencias melhorar de con-


proposto para

dição, as tristes circunstancias, tem occorrido desde os ulti-


q.

mos annos, o submergirão n'hum estado e irre-


precário quasi

mediavel : nestes termos, lado, V. M.ce volte a


por qualquer q.

sua consideração, não acha meio, lhe os bens, de


q. produza

tanto, e agora mais necessita, e sua falta mantenhão


q. q. por

aquelles, lhe sobreviverem ; e sendo huma verdade innega-


q.

vel esse Paiz se vai tornando cada vez mais desgraçado em


q.

todos os seus ramos, havendo os maiores motivos de se


julga-
rem desvanecidas as esperanças de elevar-se tão cedo ao seu

estado antigo e florente : he forçoso e conforme a toda a razão

V. M.ce, fechando os olhos a attrahir as suas


q. quanto possa
attenções nesse Continente, dirija estas a facilitar os meios de

se transportar com toda a nossa familia esta Corte, onde


para
tenho bem fundadas esperanças de se melhorar a nossa Sorte,

concorrendo todos os em nosso favor, e todas as


princípios
razões V. M.ce conseguir mais facilmente hum estabelle-
para
cimento solido, cheio de recursos favoraveis, e mais
q. prospe-
ros se tornarão volver do tempo. He claro V. M.ce
pelo q.
não nessa Cidade de outro artigo de commodídade mais,
goza

do as Casas de habitação nesse triste Pateo da Opera, mas


q.

essa mesma commodidade se torna de valor n hum Paiz,


pouco
onde os alugueis não escandalizão ; alem de estar V. M.ce

sempre no risco de ser dellas expulso, a leve Ordem


qualquer
de arranjo, se no edifício o Real Serviço,
q. projecte, para como

tem succedido a outros. A respeito do seu Ordenado, não


me he accrescentar cousa alguma ás expressões,


preciso de
q.
V. M.ce se serve, formar o da sua miséria, assim
para quadro
no atrazamento dos como na de
quartéis, qualidade moeda, co-

nhecendo-se o rápido curso, vai tomando, de


q. para todo aca-

barem os seus Tudo o mais de interesse,


pagamentos. V.
q.
M.ce conseguir, os seus cançados
possa para passar dias, e
*•
— 377 —

supprir ás diarias e indispensáveis da familia,


para precisões
vejo e considero álem de ser muito escasso e incerto, he ad-
q.
no meio de mil trabalhos, humiliações e soffrimentos.
quirido

sendo estes degráos mui custosos huma alma revestida


para
de nobres sentimentos. Que resta haja de merecer as
pois, q.
suas attenções ? Serão os Amigos ? As boas com
qualidades,
se huns, servirão adquirir outros, sem com
q. grangearão para
tudo se transgredirem as Leis da amizade com os
para primei-
ros, inda na maior distancia ; e se attende ás razões da
quando
familia, respeita-se a mesma amizade. Será a Patria ? Alem

de ser esse hum frivolo de caduca, e cheia de


pretexto gente

preoccupações, ella tem sido muito ingrata a lhe há consa-


quem

grado desde os annos o fructo de todos os seus estu-


primeiros
dos e applicações. Tudo o mais, se imaginar digno
q. possa
de attenção e saudade, não he desse Paiz, antes con-
privativo
sistindo em recursos a todos se fazem indispen-
genéricos, q.
saveis, huma alternativa dos tempos, tem estes aqui
por pros-

perado, á ahi íocão na sua ultima decadencia.


proporção q.

Por tanto servindo-me de auxilio e interprete a sua illus-

trada com as maduras reflexões, lhe ófferece


penetração, que
a sua longa experiencia, desenvolver com energia hum
para
negocio de tanta importancia, como he a futura subsistência de

toda a nossa família com mais solidez, satisfação e descanço, e

até com mais decência, e explendor nesta Corte,


gravidade,
do nessa, onde só encontra desgostos, e toda a opposição
q.

ás suas vantagens ; vou indicar a


premeditadas V. M.ce como

princípios verdadeiros, e si espontaneamente se


q. por justi-
ficão, todos os recursos, attendiveis.,
q. julgo para V. M.ce

delles se aproveitar sem de tempo, ser nisto


perda por a dilação

do tempo mui desagradavel e de nenhum


proveito.

A minha companhia e a de minha mulher tenho todo o

gosto de offerecer a V. M.ce, como o artigo da sua


primeiro
acceitação, assistindo commumente com nosco nestas Casas,

onde habitamos, as sendo de sobejo nós, são


quaes para ainda

sufficientes V. M.ce, minha Mãy, Manna,


para Tia, sem de
q.
modo algum soffrão, ou causem incommodo : nellas acha
V. M.ce a nós ambos, nos disvelaremos
q. primeiro no seu ser-
viço, e á nossa imitação todos os escravos, fazem corpo desta
q.
familia, e todos são de boas
q. qualidades. Quanto a alimento,

passamos muito bem, sendo com abundancia forneci-


por q. o
mento diário desta Casa, todos os escravos são Cosinheiros, e
— —
378

o meu antigo he alem disto o Comprador, merecendo


preto

muito a minha estimação, não ter vicios alguns. Temos


por

Lavadeira escrava de Casa, de duas em duas semanas vai


q.

ao Rio lavar a nossa roupa, e temos em Casa duas negrinhas

mocambas, são costureiras e engommadeiras, e huma dellas


q.

he também rendeira : a mesma Lavadeira he também


preta

Compradora naquillo, lhe compete e todas ellas cumprem


q.

o serviço, não só de cosinha, como de Salla, succede


quando

ser este Por estes tres artigos de Casa, roupa, e ali-


preciso.

mento, nesta Cidade são de maior despeza, verá V. M.ce


que

nenhuma circunstancia nos causar detrimento a


q. por pode

sua companhia, nem a V. M.ce servir a nossa.de cuidado, por

não soffrer a esse respeito despeza alguma ; conhecendo-se

aliás este decantado incommodo, se


quanto q. geralmente quer

inculcar neste Paiz, sobre o 2.° e 3.° artigo, he mais


procedido

do desmazelo ou da falta de arranjo de cada hum, do da es-


q.

cassez dos mesmos artigos, de se O sitio destas


q. queixão,

Casas he magnífico, e talvez o melhor da Cidade, não só


por

ser lavado de bons áres, mas em huma rua mui larga e asseada,

tendo no hum formoso Chafariz, e no fim o Passeio


principio

Publico, tudo obra do fallecido Luiz de Vasconcellos ; temos

tres Igrejas, e duas Capellas, huma Praça de hor-


próximas

talice, e o Matadouro com açougue, alem de mil outras commo-

didades, talvez se não achem a favor da maior


q. juntas parte

das Casas desta Cidade ; sendo de não menos vantagem a

do mar limpeza e despejo da Casa, o recreio


proximidade para

do nosso a familia, e a commodidade ter


quintal para para

creações em soccorro de moléstia, contando minha


qualquer já

mulher numero de objecto do seu diverti-


grande galinhas,
mento. Os benefícios, com a Providencia me tem favorecido
q.

em tão tempo, desde sou Official de Secretaria, tem


pouco que
sido tão notáveis e freqüentes, eu não sei de modo algum
q.

como deva render-lhe as em reconhecimento de tão


graças,
rasgo da sua Misericórdia, distinguindo-se esta não
grande

menos em me revestir de sentimentos honrados, fazer bom


para
uzo dos interesses, me concede : tenho isso toda a satis-
q. por
fação em me livre de dividas e de vexames alguns, e
julgar
tenho igual em não dar extravio ao me rende o meu
prazer q.
Emprego, applicando-o todo a beneficio da minha Casa e fa-

milia. Neste estado vivo tranqüilo, cuidando em me reformar

de todas as cousas e de elevar a nossa decencia a hum


precisas,
— 379 —

equivalente á nossa situação, não entrando nisto nunca


gráo

o luxo nem a impostura. Rendendo-me a Secretaria três


para

mil cruzados annuaes, temos com sem


quatro que passarmos

vergonha, e se obtiver a continuação do meu Ordenado da

Livraria, como espero, mais favoravel fica a nossa sorte.

Suspendendo agora as nossas considerações este lado,


por

me e voltando-as diz respeito á sua Pessoa,


q. pertence, pelo q.

estando certo de não admittir temores a sua subsistência


nesta Corte e'na nossa companhia; resta-me affirmar a V.

M.ce, com todos os de huma


princípios judiciosa probabilidade,

o seu estabellecimento aqui ha de ser mais favoravel, do


que q.

não tem sido em Lisboa, e consequencia, sem ser exagge-


por

ração, espero V. M.ce aqui o resto de seus dias mais


que passe

alegre e mais tranquillo. Offerece-se-lhe a vantagem


grande

de apparecer e fallar todos os dias a S. Mag.e, summamen-


q.

te se alegra observa estas demonstrações de amor nos


quando

seus vassallos ; tem toda a occasião de a seu


promover geito
as suas e Despachos, os Ministros de
pertensões procurando

Estado, e todos aquelles sobre ellas tiverem influencia ;


q.
todos dos seus deferimentos não hão de soffrer demora na

Secret.a de Estado, eu alli me acho. O seu Ordenado ha


por q.
de ser mais.prompto, não correndo aqui as Apólices de
por q.
Portugal, fazem-se os em metal ou Notas do Ban~
pagamentos
co do Brazil, he mais commodo, não ter desconto ; sendo
q. por
certo as Repartições da Casa Real não soffrem
q. grandes
atrazamentos, e se os ha, nunca de dois mezes : e não
passão
mencionando mil e outras vantagens, não ser diffuso, lem-
por
bro só a natural de S. Mag.e em attender com espe-
propensão
cialidade, e beneficiar aquelles o largando as suas
q. procurão,
Casas e arranjos nas suas terras, lhe significarem
para quanto
a tudo he o amor ao Soberano e isso he sempre
preferível ; por
de notar todos os o seu dever este modo,
q. q. praticão por q.
tanto lhe agrada, são felizes, e experimentão sempre a sua
pro-
tecção e benefícios.

Não V. M.ce aqui a ou ás


querendo propor-se pertensões,
mesmas, ahi tem, ou a outras novas e agradando-lhe
q.e já ; o

exercício do seu Magistério ; esse mesmo he aqui muito mais

interessante, do em Lisboa ainda hajão


q. ; pois q. estabelle-

cidas Aulas Publicas dos Estudos


primeiros preparatórios,
com tudo na extensão desta Cidade há famílias
grande mui

graves e distinctas, antes os Mestres vão


q. preferem q. a
— 380 —

suas Casas, do mandarem seus filhos ás Aulas,


q. para q.

se não destrua o sistema da sua educação. E V. M.ce


quando

antes abraçar huma vida filosofica, dirigindo as suas


queira
vistas somente ao seu socego, e applicando-se ao estudo do seu

; tem V. M.ce no eu fiz arranjar nestas Casas, in-


gabinete q.
dependente do trafico da familia, todos os meios de em
pôr

uso essa deliberação escrever e trabalhar como for seu


para

; e tem alem disto o recurso de freqüentar a R. Biblio-


gosto

theca, se acha hoje mui rica e respeitável importantes


q. pelas
acquisições e compras, tem tido, estando toda classificada
q.

em Sallas ; sendo de apreciar não menos a amizade


grandes
do P,e Damazo, homem alem de instruído, virtuoso, e
Joaquim

a sou summamente obrigado.


quem

Sendo todas estas razões não só merecedoras


ponderadas
da attenção e approvação de V. M.ce, mas dignas áe se
jul-

garem como hum desafogo e lenitivo ás suas tristes oppressões

e hum agradavel da sua ven-


passadas, prelúdio projectada
tura ; me da sua só se offerecer
persuado q. parte poderão
tres obstáculos, o embaracem de se resolver
q. promptamente

a transportar-se com todas as da nossa familia


pessoas para
esta Corte, como o tem executado milhares de famílias,
q.
aqui se achão melhoradas segundo as suas circunstancias : o

Io he sem duvida a moléstia e abatimento de minha Mãy ;

o 2o a translação do seu Ordenado a respectiva Folha


para
nesta Corte ; e o 3o a commodidade do transporte de toda a

nossa familia. Quanto ao Io, he o e o de mais


q. principal
circunspecção nós todos, devo dizer a V. M.ce. e com a
para

opinião de muitos, a tenho consultado, longe de ima-


quem q,

ginar as moléstias de minha Mãy se aggravem com a via-


q.

e transporte desse este Paiz ; contrario confio


gem para pelo
tanto na Bondade Divina, espero venha a considéra-
q. gozar
veis melhoras com a da mesma viagem, e continua-
gymnastica
da respiração de novos áres ; o decididamente he
q. grande
refrigerio e alivio nas moléstias chronicas : alem disto, sendo

as successivas considerações do estado da familia hum


precário
constante desgosto minha Mãy, de necessidade
para padece o

seu moral e o físico neste labirintho de idéas, cujo mal forçosa-

mente diminuirá, tirando-se-lhe a sua causa : e finalmente ac-

cresce este Paiz he mui favoravel as idosas,


q. para pessoas
sabem regulasse, vendo-se a cada individuos de
q. passo se-

culo de idade : e não he isso de admirar minha


por q. Mãy
— 381 —

se veja livre do rheumatico, ahi tanto a


q. persegue, quando

outras moléstias endemicas só são aqui adquiridas irregu-


pela

laridade dos annos. Donde conclúo o se reputar


poucos q. q.

hum sacrifício em minha Mãy, condescendendo


por grande
com nosco a transportar-se esta Corte, talvez, e com muita
para
razão, venha a conhecer-se ser hum desígnio benefíco da Pro-

videncia inda mesmo no he relativo á sua saúde e conser-


q.
vação. O medo do mar he huma nascida da fra-
preoccupação
do entendimento, a si não merece attenção :
queza qual por
assim como a antecipada aversão a este Paiz, desgraçada-
q.
mente flagella o coração de algumas fazendo o
pessoas, q.
Inferno vomite aqui tudo o tem de máo, he outro
para q. grande
erro, de há muito tempo me considero despido, obrigando-
q.

me a minha razão a empregar neste vistas mais filosofi-


ponto

cas. O 2o e 3o obstáculo não envolvem tanto cuidado,


por
não haja difficuldade em se desvanecerem,
que julgo q. grande

dependendo somente de huma Graça de S. Mag.e, a se


qual
dignará de Conceder, logo Permitir a Licença V. M.ce
que para
se transferir a esta Corte com a nossa familia. Eis aqui
pro-
á sua mais seria contemplação o Plano, á vista das
ponho q.,
suas ultimas Cartas, me tem suscitado a minha fantasia, sem-

disvelada em tudo o a V. M.ce, e a toda a nossa


pre procurar q.
familia haja de servir de descanço e de satisfação. Confesso

a V. M.ce nunca o meu coração se revestio de tanta candu-


q.
ra, nem se exprimio com tanto ardor e efficacia, como agora

mesmo, em rogo a V. M.ce com a mais


q. queira ponderar

profunda madureza sobre o de huma subsistência mais


projecto
tranquilla, feliz e segura, inclinando-se sempre ao cumprimento

dos meus incessantes desejos, e não ás


precipitadas persua-
sões de outras intentarem dissuadi-lo,
pessoas, q. pois q. por
mais sejão as suas razões em contrario, nunca
ponderosas q.

poderão ser abonadas interesse de cada hum de


pelo pessoal
nós, timbre da nossa honra, responsabilidade das
pelo pela nos-

sas famílias, e todos aquelles motivos,


por em o sangue e a
q.
natureza influem e dominão,
garantindo huma resolução a mais

acertada, e indispensável em tanto


prudente conjuncto de cir-

cunstancias.

Resta ainda dirigir-mos a nossa attenção


para outro
objecto da maior importancia, o
qual já mais tem deixado de
occupar os meus cuidados, e vem a ser a futura sorte de minha
Manna. Será ella seja tão desgraçada,
possível q. q. por
— 382 —

causa da triste situação, em a íamilia se acha, não chegue


q.

a de hum acerto feliz, tanto merece, e a se destina ;


gozar q. q.
ou esse motivo, ralada de trabalho, e consummindo a
q. por

sua boa disposição, ajudar a manter a Casa com os soe-


para
corros de suas mãos, veja terminar a flor dos seus annos no

centro da amargura, vendo-se isso na necessidade de acceí-


por

tar hum estado menos conforme ás suas boas ou


qualidades,
de todo renuncia-lo ? Á ahi se lhe difficultão
proporção q.
os meios de vir a ser feliz na escolha, fazer, se se
que pertenda
dirigir a tomar novo estado ; aqui nesta Corte se lhe facilitão

todas as de completar a sua felicidade e o nosso


proporções
cujo fim deve concorrer hum bom Pay de família,
gosto, para

se disvela na boa sorte de seus filhos.


q.

Desejo com a maior impaciência V. M.ce me envie


pois q.
a resposta, lhe merecer o conteúdo desta minha Carta,
q. pela
fico anciosámente esperando, na firmeza de se dirija
qual q.
ao complemento da minha felicidade : eu, tendo
q" perdido
todas as esperanças de tornar outra vez á sua e de
presença,
da sua companhia nessa Cidade, razões invencíveis
gozar pelas
e incontrastaveis, aqui me ; consolação
q. prendem q. poderei
ter maior, do ver a V. M.ce e a toda a nossa família
q. parti-
cipar comigo neste Paiz dos bens, Deos me ha dado, resti-
q.
tuindo-os ao descanço, á satisfação e de tanto neces-
prazer, q.
sitão ; empregar-me no seu serviço, e no cumprimento do seu

; occupar-me em tudo o cauzar-lhes alegria e


gosto q. possa ;
merecer sempre a sua amizade e bênçãos ? me restará
Que

m ais ? Morrer contente.

Logo intervenha a sua approvação se


q. para effeituar

esta de tanta importancia eu me


providencia ; proporei a
pedir
a Sua Mag.e Licença V. M.ce vir com toda família
para a
para
esta Corte a empregar-se no Serviço, o mesmo Senhor hou-
q.
ver bem destinar-lhe, ou lhe conceder em
por q. suas
perten-
sões ; igualmente o transporte seja
pedindo q. por conta do
Estado e na embarcação de
primeira guerra, q. aqui se
para
dirigir; e em consequencia disto, seu
q. o Ordenado se lhe
continue a nesta Corte mesma Folha
pagar pela do Particular

de S. Mag.e, satisfazendo-se-lhe ahi tudo o se lhe deve de


q.
seus atrazados ; tudo em verificação da Ordem, se
q. passou
em 1811, e do se a meu respeito.
q. praticou Confio muito

q. o Snr. Thomaz Antonio ha de influir


para S. Mag.e
q.
me conceda esta Mercê ; e eu tenha
quando essa fortuna, re-
— 383 —

metterei logo as competentes Ordens ás mãos de V. M.ce,


para

em virtude dellas tratar dos necessários sem algum


preparativos

temor ; e eu aqui ficarei contando os dias, até chegue a


q.

ter a satisfação de ver entrar esta barra o Navio, a cujo


por

bordo não hum momento de hir receber e


perderei procurar,

conduzir as Pessoas, forão sempre o objecto da minha vene-


q.

ração, amor e respeito, e ultimo vem servir de base a todo


q. por

o meu contentamento. Nem V. M.ce duvide mais dos ter-


mos decisivos e claros desta minha asserção ; sendo-


por que

me em todo o tempo a sua Companhia util e necessaria todas


por

aquellas razões, a união dos filhos aos Pays ;


que justificão

nunca me seria esta mais indispensável e vantajosa, do nas


q.

circunstancias, me cercão, e em me vejo actualmente. A


q. q.

tristeza, me flagella ; a saudade, me consome ; e o estado


q. q.

enfermo, a a minha constituição me tem reduzido, acharão


q.

novo refrigerio, consolação e alivio : a minha Casa terá mais

hum apoio seguro, em firme o seu arranjo inda nascente :


que

a minha familia das vantagens da sua direcção, eco-


gozará

nomia, e boa ordem : e eu finalmente terei a satisfação de con-

siderar amparados a todos os me deixando na


q. pertencem,

sua vigilancia e amizade hum saudavel recurso,


protecção, q.

lhes faça a minha morte menos sensível.

Meu Pay, he este o momento de decidir. Trata-se de hum

negocio da maior importancia, he a futura subsistência da


qual
nossa familia, no meio de mil commodidades. Os primeiros

passos este temíveis e mui difficultosos,


para projecto parecem

mas nem huma, nem outra cousa são, álem de deverem ser re-

momentâneos. As circunstancias, se offerecem,


putados q.
todas são favoraveis e concorrentes este fim : e alem des-
para
tas razões externas e attendiveis, se apresentão outras inter-

nas, existem em nós mesmos, as serem respeita-


q. quaes, para
das, cada vez avultão mais entre as nossas reflexões.

Saia V. M.ee de hum lethargo tão desgraçado, em


pois q.
há tantos annos tem vivido e : deixe
gemido huma terra,
q.
lhe não he e o tem feito recúar
prospera, q. na sua carreira :

e venha de dias mais descançados


gozar e mais alegres, des-

fructando tudo o seu appetecer.


quanto gênio possa Dêmos

as mãos n huma empreza, nos dá e façamos


q. gloria ; reciprò-

camente húa obra nós util, e


para para Deos agradável.
— —
384

Concluo esta, reiterando a V. M.ce a firmeza, com que

espero me continúe o favor de suas bênçãos, e a sinceridade

inalteravel, com sou sempre


que

De V. M.ce

Filho m.10 obed.te e obg.do C.

Luiz dos S.tos Marrocos


Joaquim

CARTA N.° 149

Rio de 24 de
]an,ro

Agosto de 1819.

Minha Manna do C. Ainda sinto cançada a mão-


q. já

de escrever mais extensamente ao Pay e á Mãy na


presente

occasião, se me offerece, da sahida deste Navio;


q. próxima

com tudo estou tão soffrego de completar inteiramente a minha

correspondência, vou desprezando o cançasso, em me


q. q.

vejo, te dirigir estas regrinhas, servem de resposta á


para q.

tua ultima Carta.

Não tracto aqui de outro objecto, senão do


pois que

occupa todos os meus cuidados, e vem a ser, empregar as


pos-

siveis diligencias a fim de transportar a nossa família esta


para

Corte, e na minha companhia todo o seu descanço


procurar-lhe

e satisfação. A energica o Pay me tem feito, do


pintura, q.
'
triste estado, a se acha reduzida toda a Casa, e do abati-
q.

mento, vai falta de meios


q. gradualmente padecendo, pela

indispensáveis a subsistência da família : a mesma repre-


para

sentação, tantas vezes me tens exposto, não só da total


q. por

mingoa de recursos viverem commodamente, mas da me-


para

lancoliça scena, tem diante dos olhos, e o desgosto tem


q. q.

coberto de todo o seu horror : estes tem


golpes profundado

tanto o meu coração, todo o seu empenho se dirige, apezar


q.

das maiores difficuldades, a o descanço de nossos


promover

Pays, e concorrer a tua alegria, e boa fortuna, a deves-


para q.
aspirar, em cumprimento aos nossos desejos.
— 385 —

tanto leias a Carta, escrevo ao


Recommendo-te por q. q.

Pay as razões, alli refiro, servem todos em ge-


; pois q. para

ral; e não esperando deixes de approvar huma deliberação


q.

e razoavel, só temo estejas com o


tão ^usta q. preoccupada

scisma da não reflecte, a respeito do mar ; e sobre


gente, q.
historia : — Hum barco
este objecto contar-te huma
quero

carregado de navegava de hum Cáes de Lisboa


gente para

Aldea Gallega : em certa altura o Barqueiro, tirando o chá-

os mais — Hum P. N. com huma A. M.


disse pela
péo, para

alma de meu Pay, morveo aqui affogado. Em outro sitio


q.

tornou a .— Hum P. N. com huma A. M. alma de


pedir pela

Mais adiante repetio —


meu Tio, aqui morreo affogado.
q.

Hum P. M. com huma A. M. alma de meu Avô,


pela q.

nesta morreo affogado. Grita-lhe hum dos Passa-


paragem
— Ó besta, tu ainda te expôes ao mar, tendo teu
geiros pois

Pay, teu Avô, e teu Tio morrido affogado ? Respondeo o Bar-

— Pay ? — Diz-lhe o Passageiro —


Onde morreo seu
queiro

Na cama. Torna o Barqueiro — E onde morrerão seu Avô,

Bisavô, e seus Tios ? Diz-lhe o outro — Todos morrerão


seu

muito bem descançados nas suas camas. Grita-lhe o Bar-

— Õ Diabo, tu não tens medo de te metteres na


queiro pois

cama, tendo nella espichado todos os teus ?


parentes

Deixo á tua o trabalho de tirares a


penetração precisa

moralidade deste exemplo, te offereço, o apezar de


q. qual,

ser algum tanto rústico, não deixa de servir ao caso


presente.

Nessa consideração vivo seguro a teu respeito, e só se dirigem

as minhas esperanças a ver-te com toda a mais família na minha

companhia, vivendo commumente em e satisfação,


paz gozando

das commodidades, a Providencia nos concede, e espero


q. q.

continue a liberalizar-nos. Então conversaremos larga-


q.

mente sobre o objecto das tuas ultimas Cartas, visto


principal

não he conveniente eu tracte disso em : e fica sem-


q. q. papel
na certeza a minha amizade he sempre inalteravel, e
pre q. q.

ha de em todo o tempo esmerar-se em te mostrar me


quanto
sinto reconhecido aos teus obséquios, e isto na mesma igualda-

de, não tenha entre os cuidados da minha


quando preferencia,
familia.

Anna estima-te muito, e huma fortuna a


julga grande
união das duas famílias, mutuamente se auxiliarem no
para q.
huma da outra depender ; e eu, deixando mais e
preâmbulos,
contando com a tua boa vontade ao fim tão importante, em
q.
— 386 —

se empregão todas as minhas vistas, fico ancioso esperando a

resposta a estas minhas Cartas, com a unanime resolução de

todos, a fim de tractar das Ordens ella se effei-


precisas para
tuar ; conseguindo eu esse meio a satisfação,
por quella q.
resultar da nossa restituição tão e tão
pode geral precisa
desejada.

Não fallo aqui separadamente da Tia, estando a sua


pois
sorte unida, amizade e suas circunstancias, á abraçar
pela q.
o restante da familia, estou certo ella se conformará com
q.
a vontade
geral.

Sou com a maior e sinceridade


predilecção

Teu Manno m.to do C.

Luiz.

CARTA N.® 150

Rio de 31 de
Jan.ro

Agosto de 1819.

Meu Pay e Snr. do C. Faço esta Cartinha


prezadissimo

a fim de a V. M.ce de Seguro do Correio envio


prevenir q, pelo

a V. M.ce outra Carta volumosa, V. M.ce terá o incommodo


q.

de somente a receber, leva também


procurar para por q. pago

o ; e não vai Sacco do Expediente da Secretaria,


porte pelo

o segredo do seu objecto exigia fosse separada-


por que q.

mente, não ir ter a outras mãos.


por

No dia 13 do corrente foi Deos Servido dar-me outra

filha, nasceo mfelizmente. Logo o meu cuidado se di-


q.

rigio a a V. M.ce, á Mãy e Manna este beneficio,


participar q.
acabei de receber ; e como talvez haja extravio na Carta,
q.
fiz sobre esse objecto, repito agora a mesma ac-
participação,
crescentando a menina e a mãy vão muito bem ;
q. passando
e for baptizada, direi a V. M.^o seu nome. Digne-se
q.do pois
V. M.ce incluir esta sua nova neta no numero dos tem di-
que
— 387 —

reito á sua amizade, e repartir também com ella o beneficio de

suas bênçãos, como eu igualmente espero, sendo com todo o

respeito

De V. M.ce

Filho m.*0 obed.te e obg.do C.

Luiz Joaq.m dos S.tos Marrocos

CARTA N.° 151

Rio de 6
Janeiro

de Setembro de 1819.

Meu Pay e S.r. Serve esta de a


prezadissimo prevenir

V. M.ce de este mesmo Navio vai huma recommenda-


que por

ção ao S.r Antonio da Silva Freire de Andrade Payzinho, Of-

ficial da Secretaria de Estado dos Negocios do Reino,


para

entregar a V. M.ce, ou a V. M.ce estiver auctorisado,


quem por

a em metal de sessenta mil reis ; remessa,


quantia primeira que

haver á mão, do da venda da Obra dos Varões


pude producto
Illustres, a foi directamente exigida mim, visto o
qual por q.
P.e Damazo não tem concluir esse obséquio
Joaquim podido

se achar doente; e logo eu receber outra


por que qualquer

a remetterei da mesma forma, e delia descontarei as


quantia,

despezas, tenho feito, e a Commissão dos Livreiros, ainda


q. q.
não está satisfeita, e não descontar desta
q. quiz primeira
remessa, ser tão
por pequena.

Eu fiz ao melhor idéa desta empreza, mas en-


principio

; com este conheci


ganei-me por q. primeiro passo q. pouco
se tem vendido, e até muitos dos subscreverão, não
que qui-
zerão a Obra, souberão do seu ; he certo
quando preço pois
tudo o de 480 ou 800 r.s he difficultoso achar
q. q. passa quem
dispender este modo, excepto se toma o
queira por quando

trabalho de andar casas de cada hum, como es-


pelas pedindo
mola de concorrer a Subscripção, o não he mim,
para q. para
não tenho tempo nem
q. geito.
— —
388

Por esta mesma occasião escrevo ao P.e Fr. de


João Jesus

Maria, em resposta á sua Carta de 6 de Março do anno


pas-

sado, sobre este mesmo objecto, a Sociedade fique


para q.

sciente do estado désta Venda fazendo-me descargo das re-

messas, daqui se forem verificando; he de toda


q. pois q.

a razão se vá diminuindo a m.a responsabilid.e, em nun-


q. q.

ca de viver, com com não


gostei principalmente pessoas, quem

estou ligado em relações : não se me devendo imputar as fal-

tas, V. M,ce diz a da Sociedade, aqui não


q. padecer quando

dcha lucros.

As minhas ultimas, dirigi a V. M.ce, forão no Correio


que

Marítimo, Inf.e D. Sebastião, sahio deste no 1.° do


que porto

corrente, e levavão a data de 24 do mez : e


proximo passado
desde a sua ultima do 1.° de Março deste anno, ainda não tive

o de receber mais.
gosto

Repito as minhas affectuosas recommendações á Mãy,

Manna e Tia, dsejando-lhes saúde m.to ; e continúo


perfeita

a na certeza de suas bênçãos, ser com todo o respeito


protestar,

De V. M.ce

Filho m.*0 obed.te e obg.do C.

Luiz dos S.108 Marrocos


Joaquim

P. S.

Declaro as m.as ultimas Cartas, de acima fallo,


q. q.

forão seguras no d.° Correio ; e rógo a V. M.Qe com toda a

instancia á sua leitura se siga logo a sua resolução, nellas


q. q.

pertende.

S. Mag.e Houve bem Nomear ao Snr. Principal Freire


por

Deão da S.to Igreja Patriarchal, sem embargo de não intervir

algum Requerimento seu, antes ser aquella Dignidade sollici-

tada outro. Eu me alegro m.^ em dar a V. M.ce esta


por

noticia ter occasião de lhe dar os devidos em


para parabéns,

V. M.ce me fará o favor de incluir com muita especialidade ;


que

e me delibero a accrescentar será muito acertado S.


que q.

Ex.u não recusasse esta M.ce de S. Mag.e, dá isso muito


pois

na consideração de todos.
CARTA N.° 152

Rio de 15 de
Janeiro

Outubro de 1819.

Meu Pay e Snr. do C. Pelo Navio Tra-


prezadissimo

sahio a 10 do corrente, e com a data de 24 de Agosto


jano, que
escrevi a ma ultima a V. M.ce
proximo passado, participando

a Ordem, mesmo Navio vai o S.r Antonio da S.a


q. pelo para

Freire de Andrade Payzinho dar a V. M.ce ma conta a


por

em metal de 60$000 r.s, a fim de V. M.ce haja de


quantia que

fazer delia entrega aos Editores da Obra dos Varões Illus-

tres ; e logo eu for recebendo mais alguma como


que quantia,

da venda daq.la Obra, irei fazendo as competentes


producto
remessas, em beneficio da da Sociedade. Anteriormente havia

eu escripto outra muito extensa sobre objecto do nosso com-

mum interesse e mais séria contemplação, remettendo a da Car-

ta segura no Correio Marítimo Inf.e D. Sebastião, daqui


q.

sahio no Io de Setembro não me lembrando agora a


passado,

sua data, creio também ser de 24 de Agosto. Não tenho


q.

sido todavia feliz com a vinda de alguns Navios, tem che-


q.

desse a este me não trazerem Cartas nem no~


gado porto, por

ticias de V. M.ce nem da nossa familia, o sendo tempo


q. por

aturado, me causa summa inquietação e cuidado : recebendo

somente, entre outras alhêas, huma do Tio Conego de Braga,

com a data de 20 de sobre o objecto da sua antiga re-


Julho,

commendação.

No dia 10 deste mez foi baptizada ma 2a filha, nasceo


q.

a 13 de Agosto, e se lhe os nomes Maria Luiza d'As~


pozerão

sumpção Marrocos : foi seu Padrinho o Marquez de Torres

Novas, e Protectora N. S.ra d'Assumpção. Com esta se du-

os meus cuidados objecto da sua criação, sendo


plicão pelo

obrigado a comprar huma este destino. Queira


preta, para

V. M.ce contar mais esta innocente ao abrigo de suas ben-*

çãos, me suavizar de algum modo com esta certeza no


para

meio de tantos motivos de desgosto, de continuo me cercão.


q.
— —
390

Causou-me a maior semsaboria a noticia, aqui chegou,


q.

de não ter V. M.ce a fez subir á Pre-


promovido pertensão, q.

de S. Mag.e sobre o Emprego de Chronista da Casa de


sença

Bragança, desde 11 de Agosto do anno em


passado, q. por

esse Governo se expedio Aviso á daq.le Seren.mo Estado


Junta

e Casa, consultar a esse respeito o dos Direitos Reaes :


para Juiz

em consequencia disto sem embargo


participando-se-me que,

das diligencias do Procurador do Estado, e demoras, em-


q.

sobre a m.ma decisão, relativa ao outro recorrente Fran-


pregou,
cisco Nunes Franklin, V. M.ce não comparecerá naq.la
jámais

verificar o seu merecimento e superiorid.e áquelle,


Junta para

a fim de ella consultasse com verdade e S. Mag.e


q. justiça.

uzando da sua natural benignidade, não resolveo nada


porem,

sobre este objecto, reservando-o outra occasião.


para

Como V. M.ce me não tem o êxito das


participado perten-

sões do S.r D,or Farinha, relativas ao Seminário de Santarém,

sempre não se ter em cousa alguma


persuadi-me providenciado

seu beneficio, me interessar muito toda a sua fortuna :


pa por

mas copia inclusa dos dois Avisos, remetto, verá V.


pela q.

M.ce não estava este negocio em tanto esquecimento; e


q.

será sentir elle se não tenha aproveitado desta Mercê


para q.

de S. Mag.6, nelles se declara, ou ignorancia ou


que por por

falta das ordens competentes ; o sendo assim, inda tem re-


q.

médio. OSnr. Infante D. Miguel tem muito de lom-


padecido

brigas : vezes repetidas tem deitado varas e varas da lom-


por

briga chamada Ténia, vulgarm.te Solitaria, e se acha com in-

dicios de conservar inda dela, se trata de a


grande porção q.

fazer expellir (78). A Snr.a Princeza da Beira, D. Maria da

Gloria, foi vaccinada, mas sem fructo, a matéria vaccina


por q.

não produzio.

(78) A cura da tenta já era preconizada pelo seguinte Aviso, publicado na


Gazeta do /?ío de Janeiro, de 16 de Novembro de 1814 :
"Em
Junho de 1813 reconheceo D. Pedro de Menezes e Alarcão, que nutria
huma Tenia, (lombriga chamada Solitaria), por cuja cauza consultou alguns faculta-
tivos dos mais sábios, e de mais bem merecida reputação, desta Corte, que se dignarão
de lhe applicarem apropriados remedios, e conseguirão fazer expulsar varias porções
do dito Verme, (sendo huma de 15
palmos); porém os rápidos estragos que sofreo,
e a summa debilidade, a que chegou, o impossibilitárão da continuação dos dras-
ticos, que uzava : até que proximamente o cirurgião Joaquim José de Carvalho lhe

administrou huma bebida de sua composição, e que apenas conservou no estomago 2

horas ; o que não obstante teve a satisfação de expellir, dentro de 4 horas, a refe-

rida Tenia. F. como desgraçadamente esta terrível moléstia, dizem, he uzual nestes

climas, se faz este annuncio, tanto por gratidão, como a bem da humanidade."
— 391 —

ahi será constante o Despacho da mulher do Aguilar,


apezar do nenhum conceito elle tinha na sua Arte, teve


q. q.

a fortuna de S. Mag.e olhasse com benignid.e a sua


q. pa

família. Queira V. M.ce continuar-me o favor de suas ben-

çãos, e sou

De V. M.ce

Filho m.to obed.'to e obg.do C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaquim

CARTA N.° 153

Rio de 18
Janeiro

de Novembro de 1819.

Meu Pay e S.r do C. Pela Fragata Sue-


prezadissimo

cesso, e mão do Capitão Tenente Cândido, depois de


por José

huma tão interrupção da sua correspondência, ti-


prolongada

ve o de receber a Carta de V. M.çe com a data de 19 de


gosto

do corrente anno, á tendo dado o apreço


Julho qual justo por

todo o seu conteúdo, e especialmente noticias, de tão


pelas que

nos respeitão, de toda a nossa familia, vou responder com


perto

aquella brevid.e, a me obriga o tempo, há a


que pouco q. para

sahida deste Correio.

Sinto me he minha Mãy tenha


quanto possível q. passado

tão mal das suas dores rheumaticas, como V. M.oe me refere,

esperando de todo o alivio e refrigerio, tanto


q. góze q. pre-

cisa, e eu com tanto fervor desejo inteira satisfação


q. para

nossa; sendo-me m.to agradavel V. M., a Mana e Tia


q.

tenhão experimentado o beneficio de saúde constante e vigoro-

sa, resistindo talvez aos effeitos da intemperie da ultima es-

tação, ahi se ha observado e soffrido. Também me foi


q.

sensível a noticia da morte de minha Prima D. Maria ; não



resta em fim mais alguma daquella desgraçada familia !
pesoa

Sendo admirar o transtorno, em tão annos so-


para q. poucos

breveio áquella Casa.


— 392 —

Nós temos sem novid.e em saúde, mas com incom-


passado

modos, com o nascimento de ma segunda filha, Maria


por q.

Luiza, em 13 de Agosto como tenho informado a


passado, já

V. M.ce, nos crescerão os trabalhos sobre os arranjos da sua

creação, sempre seja e decente : sobre-


q. procuro q. grave

veio-lhe a erupção da cabeça, a chamão uzagre, durou


q. q.

dias, e espero ficar mais descançado depois se vac-


poucos q.

cinar, o será daqui a hum mez. Tem V, M.ce duas netas


q.

mui formosas, e a mais velha tem suas de


já presumpções que-

rer com suas bacharelices, não me dei-


parecer gente grande

xando me vê em casa : a ma sinceridade me


jámais, quando

obriga a confessar estou feito hum basbaque com este entre-


q.

tenimento, e ás vezes me lembro de Esopo entre os rapazes

a concara.
jogando

Pelo Navio Trajano, sahio deste a 10 de Outu-


q. porto
bro foi daqui ordem ao Off.al da Secret.a Antonio da
passado,

Silva Freire de Andrade Payzinho, dar a V. M.ce a


pa quantia
de 60$000 r.s, a no momento, em V. M.ce receba esta,
qual q.
lhe terá sido entregue. Agora vai outra ordem ao mesmo,

a fim de fazer segunda entrega da de 100$000 r.s,


q.tia para
cuja recepção terá V. M.ce o incommodo de o Sinto
procurar.
muito tenha havido tanta demora na remessa destas
q. quan-
tias, são o da venda da Obra dos Varões Illus-
q. producto

tres, ainda vai continuando, mas foi necessário na occa-


q. q.
sião, em eu diligenciava o seu conhecesse clara-
q. producto,
mente este atrazamento não só da falta de con-
q. procedia
correncia de Subscriptores, mas também do desmazelo ou ne-

dos Livreiros em os adquirir e ; de sorte


gligencia promover q.
aquelle meio só se alcançarão 6 Subscriptores no espaço
por

de anno e meio.
quasi

Á vista disto, e corresponder ao obséquio,


querendo q.
me os Editores, de novo agradeço a remessa
prestão (a quem
dos N.os 16 e 17 recebi) resolvi-me a Subscripções
q. procurar
mesmas Casas, incumbindo desta diligencia hum Sugeito,
pelas
a seu trabalho tenho de Commissão
quem por pago os m.mos

10 100 . aos Livreiros, se se continuassem


por q pagaria alli a

vender, de cujo expediente tem resultado maior extracção, inda

que jámais isenta de algúas repulsas, como v. do Marquez


gr.
de Vallada, do Conde de Belmonte &. &. A relação dos

Subscriptores, como V. M.ce me adverte agora, e tem advertido

em outras, não se fazer antecipada, ninguém


pode por q. as-


— 393 —

signa sem receber o Exemplar ao m.mo tempo, e consequen-


por

cia nunca há assignaturas de mais ; sendo certo se ha-


q. por

ver tomado ao esta deliberação se muitas as-


principio perderão

signaturas, muitos se arrependerão. Nestes termos


por q.

se os Editores continuar a mandar mais alguma


quizerem por-

continuar-se-há a venda este meio, deixo dito, q.


ção, por q.

he o mais acertado e o mais : e se tiverem


prompto quando

extrahido estes 50 Exempl.es vierão, irá a relação


q. primeiro

dos Subscriptores adquiridos e o Balanço do seu pu


producto

meu descargo : e bem entendido se exceptuarão os Exem-


q.

defeituosos, se não ; inda delles


pl.es q. poderem passar q.

tenho conseguido assim m.mo vender alguns. Rógo


já por

fim a V. M.ce o favor de fazer entrega destas te-


quantias, q.

nho mandado, e das mais, se seguirem, aos Editores de


q.

maneira, se vá diminuindo a ma responsa-


q. progressivamente

bilid.e, exigindo este effeito toda a clareza.


para

Foi mim de summa consolação a noticia, V. M.ee


para q.
me dá de se achar com exercício na Cadeira de Filosofia desse

Bairro de Bellem, em verificação da Mercê, S. Mag.e lhe


que
fez, da Propried.e de hüa das Cadeiras da Corte, Decreto
por
de 2 de de 1805. Alem do interesse, dahi lhe
Jan.ro q. pro-
vêm, compet.e Ordenado, ha de e serve
pelo q. perceber, q.
de auxilio, unido com o da Livraria ; mais ainda me ale-
grd.e

motivo de cessar hum objecto, tem servido de curió-


gra pelo q.
sidade a muitos daqui, sabem mais dos outros de si, e
q. q.
no auge de sua auctorid.e e representação me
que perguntavão
—' E seu Pay Lisboa
que faz em ? Ao só me restava res-
q.
: —' Faz sem interesse o
ponder muitos com elle não tem
q.
barbas — Por tanto lhe
para fazer. eu dou os devidos
para-
bens, e não esmoreço a respeito do Lugar de Chronista da Casa

de Bragança, será mais outro auxilio, se se conseguir)


(q.

sobre o estado de cuja informei a V. M.ce em


pertensão já
outra Carta, á agora me refiro. Porem com este novo
qual
acontecimento do exercício da Cadeira me acertado sus-
parece

pender outra sobre remuneração de Ser-


qualquer pertensão
viços, isto ora ; e só ter cabimento o tratar-
por julgo poder
se de se effeituar o do respectivo Ordenado de Pro-
pagamento
fessor de Filosofia desde a data da Mercê até ao
pres.te, q.
são ao todo annos e meio não
quatorze ; pois parece justo que
causa de caprichos de Auctorid.es inferiores fique illuso-
por

ria huma Graça do Soberano.


— —
394

O Requerimento do Criado do S.r D.or Farinha,


Jacinto,

foi logo remettido Despacho, e estimarei tenha bom


para q.

deferimento, o mais notável se fará, visto o extraordinário


q.

numero de Requerimentos, aqui de achão com idênticas


q. per-

tensões, os estão reservados. Lembra-me o dito de D.


quaes

Francisco de Almeida, affirmando nunca vira Casa com


q.

tantos varredores, e tão mal varrida. Quanto á Collecção de

Painéis, o S.r D.or Farinha offerece a S. Mag.e, tenho com-


q.

binado com o P.e Damazo os se devem dar


Joaq.m passos, q.
immediatamente com S. Mag.e, a fim da Sua obsequiosa
pa
acceitação, com aq.las demonstrações de agradecimento, são
q.
do Seu Real Animo : he todo o meu empenho
próprias pois

elles fiquem na R. Bibliotheca, sem algum outro lhes


q.e q.

lance as com o de serem o R, Thesouro :


garras pretexto pa

e de certo não ter melhor destino, nem serem tra-


q. poderão
tados com maior melindre e estimação, do na R. Bibliotheca,
q.

onde há huma cada dia se vai augmen-


já preciosa galeria, q.
tando. Na minha mão existião há annos as Representações

originais do m.mo S.r D.or Farinha, feitas em 1809 a respeito

do Collegio de Santarém (com as Cartas Egidio), e


para José
onde há hum artigo relativo ao d.os Painéis, as obtive em
quaes
consequencia do nenhum uso ou attenção, naq.le tempo se
q.
havia dellas feito ; e me servem agora as diligencias,
para q.
se vão empregar neste negocio. Não sigo o meio, V. M.ce
q.
me aponta, sobre a intervenção e influencia do S.r Thomaz

Antonio este fim, em razão de infinitos negocios,


pa por que
haveria nisto mais demora ; e este modo he mais breve e
por
decisivo. Participarei a V, M.ee o resultar a este respeito.
q.

Remetto hum Aviso dirigido ao Collegio Patriarchal, e

relativo ao Requerimento de Manoel de Souza, sobre


Joaq\m

q. V. M.ce me escreveo com toda a recommendação ; o


qual,
se offereça a V. M.ce occasião, mandar entregar
quando pode
ao Pertendente, ou ao nosso Amigo Lourenço, visto
João q.
nisso se interessa. E não repito agora o V. M.ce deseja
q.
saber, como na sua Carta me affirma, relativo ao Tio Conego

de Braga, á intriga do Visconde contra mim, e ao meu Orde-

nado da Livraria ; em outras antecedentes tenho re-


por q. já
ferido a V. M.^6 com toda a extensão, e de a esta hora
q. es-

tará V. M.ce inteirado.


S. Alteza a S.ra Prince2a da Beira foi m.10 feliz na se-

gunda tentativa, se fez, sobre a vaccina, não tendo esta


q.
— —
395
i

na e sahirão-lhe só tres bexigas. Este bom


prím.ra ;
pegado
vai ahi a animar a todos a seguirem
resultado publicar-se, pa

exemplo, na verd.e de todo o beneficio sua


este por prodigiosa

descoberta.

Em Aviso de 23 de do corrente anno, dirigido ao


Janeiro

interino da Patriarchal Lucío de Gouvea, se


Inspector José

mandou informar o Requerimento de Vicente Luiz Fidelli, q.

V. M.ce há tempos me remetteo ; e em consequencia de outro

requerimento idêntico do mesmo Sup.6, e aq.le Inspector


q.

enviou informado Expediente da Santa Igr.a Patriar-


já pelo

chal, foi outro Aviso, com a data de 21 do d° mez e anno,

expedido daqui P.e Antonio Escudeiro, encarregado


pelo José

desse mesmo expediente, e ora fallecido, no Aviso S.


qual

Mag.e fazia Mercê ao referido Musico de mais 5$000 r.s


por

mez sobre os 30$000 r,s tem de Ordenado. Pelo á


q. já que,

vista da Informação, aquelle Inspector deo esta Secre-


q. por

taria de Estado, em virtude do d° Aviso de 23 de re-


Janeiro,

solveo S. Mag.e se désse deferido o Requerimento do


q. por

Sup. com aquella Mercê, lhe havia feito.


q. já

Parecem-me muito acertados e até necessários os


passos,

V. M.ce dar, haver á mão o lhe


q. pertende para q. pertence pelo

fallecimento de m.a Avó, e fazer liquidar todos os rendimentos,

ficarão em ser de meu Avô, os tem sido só úteis


q. pelo quaes

aos ficarão em Casa. He evidente V. M.ce todas as


q. q. por

razões deve sollicitar a divisão de não só ser o


partilhas, por

único Herdeiro, se acha com descendencia, mas não


q. por q.

tem motivos de reconhecimento, deva


q. praticar generosam.te

com os lá se achão, os sempre tratarão de comer e de


q. quaes

aproveitar talvez daquillo, não era seu, não tendo demons-


q.

trações algúas com V. M.ce sobre o desinteresse, até aqui


p.a q.

tem Estou antevendo nada disto se ha de obter


praticado. q.

sem litígios, ou hão de sonegar o ou inculcar a


pois q. puderem,

Casa m.to e endividada, ou lhes fique o me-


pobre pertender q.

lhor e o mais lucroso ; isso me adianto a advertir a V.


por já

M.ce esteja a estes e outros subterfúgios ;


q. precavido por q.

alem dever-se achar o Tio Conego dispor as cousas


presente p.a

a seu modo, eu o muito experto e mui versado a chicana


julgo

do foro contencioso ; e talvez seja agora occasião, em elle


q. q.
se desforre, allegando enormes despezas em bemfeitorias, &.

Não mais ; e o tempo,


posso parece-me que para pouco

tinha fazer esta, escrevi de sobejo.


que para
— —
396

'de
os nossos votos de respeito e
Queira V. M.ce acceitar

devemos, honrando-nos com as suas


singular affecto, como

favor da May, a muito nos


bênçãos, e esperando o m.mt> q.m

assim como á Mana e Tia : e sou


recommendamos,

De V. M.ce

Filho m.10 obed.e e obg.do C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaq.m

P. S.

V. M.ce me falia, a remetterei sem fallen-


A Quina, em
q.
occasiao : e Anna ficou m.to con-
cia, logo se me offereça
q.
da sua Carta, relativo ás sementes de flores,
tente com o artigo

esse o seu vicio dominante, e deseja ver semeadas ;


ser q. já
por
Deos de sua neta se no solta, e sem
mas livre q. pilhe jardim

ter a vigie ! vai tudo razo !


quem

CARTA N.° 154

Rio de 26
Janeiro

de Dezembro de 1819.

Meu Pay e S.r do C. A ultima tenho


prezadissimo que

recebido de V. M.ce he datada de 19 de e vinda


Julho passado,

mão de Cândido, hum dos Officiaes de da


por José guarnição

Fragata Successo : a ella logo respondi na forma do meu cos-

tume, e não com menor extensão, no muitas vezes receio


que

causar-lhe fastio. Agora sahe no 1.° de futuro o


q. Janeiro

Correio Marítimo 13 de Maio, faço esta em satisfação de meus

cuidados e deveres, desejando a V. M.ce ; á Mãy, Tia e Manna

mui vigorosa saúde, e mui felices Festas com e tran-


prazer

; taes como lhes convém, e o meu singular affecto in-


quilid.6

cessantemente lhes augura. Nós sem novidade, me-


passamos

nos as suas netas, com os incommodos da sua idade


q. proprios

nos entretêm de continuo, mas, a Deos, não


graças padecem

cousa, nos afflija.


q.
— 397 —

Por hüa Carta, recebi do nosso Compadre Antonio Si-


q.

mões sobre hum Aviso relativo a seu filho, tive a assustadora

noticia de o S.r D.or Farinha se achava mmal e em


q. perigo

de vida, e V. M.ce estava com elle effectivamente esse


q. por

motivo. Por m.*** e consideráveis razões me seme-


penaliza

lhante noticia, como V. M.ce esperando todavia


pode ponderar,

elle consiga melhoras e hum cabal restabellecimen-


q. perfeitas

to. O negocio, lhe dos Painéis vai m.to adiantado,


q. pertence,

e vão a expedir-se as Ordens competes a sua remessa,


para

assim como huma Carta de agradecim.to de S. Mag.e


por parte

sua offerta, a vai dar o maior apreço, man-


pela generosa q.

dando-a collocar na Sua R. Bibliotheca do Pu-


para proveito

blico.

S. Mag.e mostrou nada sabia de anterior sobre este ob-


q.

sendo-lhe isto tudo novidade, conservando aliás mui


jecto,

frescas as idéas da do S.r D.or Farinha, e conhecen-


pessoa

do-se o tem em mui distinta consideração, no elle


q. q. pode

estar descançado. Á vista disto devem os d.08 Painéis estar

desde arranjados com a melhor commodidade se não


já p.a

deteriorarem, a fim de serem logo transportados conforme

se insinuar ; sendo a despeza desses conta da R.


preparos por

Bibliotheca, ahi mandará ao m.mo S.r D.,)r Farinha, se


q. pagar

elle assim o houver bem.


por

Remetto hum rol dos Subscriptores a Collecção dos


para
Varões Illustres Portuguèzes, se obter até hoje, de-
q. puderão
vendo advertir desde 23 de Novembro não se tem
q. passado

algum, ter despedido o Agente, a tinha incumbi-


jogo por q.m
do sollicitar os Subscriptores suas Casas, não
por próprias por

traficancias, mas maltratar os folhetos, e receando eu


por q.
elle me rasgasse as Estampas ; verei se me apparece outro, de

me confie, continuar a venda este modo ; Li-


q.m p.a por pois
vreiros são todos tratantes, e hum delles, em vez de
promover
a venda, desacreditava a Obra, não bastando o desdém dos

Compradores, de tudo murmuravão. Lembro mais ser mui


q.

preciso os Editores mandem sem de tempo igual


q. perda por-

ção dos folhetos, tem accrescido até agora, serem en-


q. p.a
tregues aos Subscriptores, receberão os os
q. já primeiros, quaes
me importunão, e increpão o desmazelo e falta de
pontualid.e
dos Editores na d.a remessa, depois da sua em Lis-
publicação
boa. Eu nada sei responder-lhes, e antes acho mui essa
justa
censura, nada esfria mais a concorrência n'húa Subscri-
pois
— 398 —

em Paiz remoto. Em 10 de Outubro foi daqui ordem


pção

se entregar a V. M.ce 60$000 r.s e em 20 de Novembro


para

outra igual 100$000 r.s, cujas e as mais, daqui


para quantias q.

eu remetter, são o da venda da sobred.a Obra, e V.


producto

M.ce as irá entregando a competir, fazendo-me descargo


quem

dellas com a mensão expressa de sua applicação nos recibos


q.

for O expediente de se fazerem as entregas destas


passando.

com o dinheiro dos Emolum.10® desta Secret.a creio ser


quantias

o mais acertado, não só se faz o á vista, e todo


pois pagamento

em metal, mas com este meio se faz desnecessária a imperti-

nencia das Letras, na forma da Ley, com certo desconto


pagas

o Saccador, e nem todos as saccar serem satis-


p.a querem p.a

feitas á vista, mas com tempo de espera. Ficando m.t0 certo no

favor de suas bênçãos e da Mãy, continúo a ser


protestar

De V. M.ce

Filho m.10 obed.e e obg.do C.

Luiz dos S.*0® Marrocos


Joaq.m

Rol a esta carta se refere :


que

Subscriptores da Obra dos Varões Illustres Portuguezes

Antonio de Abreu Fróes

Antonio Maria de Abreu

Antonio Francisco Leal — Pay

Antonio Nascentes Pinto

Antonio Pereira de Carvalho

Antonio Luiz Pereira da Cunha

Amaro Velho da Silva

Barão de Santo Amaro

Cláudio Pereira da Costa


José

Conde da Ribeira Grande

Conde de Cavalleiros

de Sousa Mursa — No Rio Grande


João

José Joaquim de Sousa Lobo

José Marcellino Gonçalves

Fr. Doutel, Esmoler Mór


José

Bernardes de Castro
José

José de Oliveira Pinto Botelho Mosquera

Damazo — Para a Real Bibliotheca


Joaquim
— 399 —

Brusco
João

Luiz de Carvalho e Mello


José

Manoel da Silva Pacheco

Maximiano José Coelho

Marquez do Lavradio

Marquez de Torres Novas

Narcizo Nepomuceno da Silva

Nicolau Viegas de Proença

Romualdo de Sousa Coelho, Bispo do Pará


^ Pará
Raimundo Antonio Martins

Rainaldo da Silva
José

Sabino Joaquim da Silva Neves

Silvestre Pinheiro Ferreira

Visconde de Mirandella

Visconde do Rio Secco

Visconde de Villa Nova da Rainha

CARTA N.° 155

Rio de 5 de
Jan.ro

Março de 1820.

Meu Pay e Snr. do C. Com o mais vivo


prezadissimo

sentimento li na sua Carta de 30 de Novembro a triste


passado
relação do insulto de minha Mãy no fatal
paralisia, q. padeceo
dia 28 de Outubro, com todas as circunstancias, com tem
que

até aquella data : Tem sido muito forte a impres-


progredido

são, me causou aquella assutadora noticia, com razão


que pois
me ainda dos effeitos de huma semelhante moléstia, na
queixo

me valerão as forças da m.a idade, e não ser complicada,


qual

não succumbir logo. A todos os momentos tremo de re-


para

ceber a continuação de taes no conservo a minha


golpes, que
imaginação em continua desordem, do somno, e
privando-me
até vomitando tudo o recebo de comida, transtorno,
que pelo
em se acha o meu estomago ; apezar da flagellação
q. porem
necessariam.te me causa tão triste consideração, rógo a V.
q.

M.ca não deixe de me em todos os Navios os


q. participar
— 400 —

naturalm.te vai dando essa moléstia, e os alívios


passos, q. que

espero minha Mãy ha de ter com o seu curativo, e tratamento,

segundo me consta, decide na força da sua


pois q., primeira

crise, e assim não succede, declina com o tempo. Estas


quando

esperanças são as me alentão no meio dos meus temores ;


que

e V. M.ce do me he sensível não


queira persuadir-se quanto

ser ahi ajudar com as minhas forças nos


presente, para poucas

trabalhos, com he assistir-lhe, e a o meu dever


que preciso q.

e obrigação tão especial me chamasse. São iguaes ás minhas

as expressões de Anna, não menos avalia os de tão


q. perigos

repentinos ataques, e os disvelos devem empregar-se


que para

vencer os seus terríveis


progressos.

em outras eu havia a V. M.ce ser-me cons-


Já participado

tante a moléstia do S.r D.r Farinha, V. M.ce me affirma lhe


q.

sobreviera nos fins de Agosto, caracterizando-a de hydropezia

de ; e sentindo muito elle haja tão afflictivo


peito que padecido

incommodo, a V. M.ce effectivamente lhe assistira, estimarei


q.

tenha experimentado melhoras, e em breve consiga o seu


q. q.

restabellecimento.
perfeito

Por esta occasião faço a V, M.ce a 3.a remessa do produ-

cto da venda da Obra dos Varões Illustres, consiste na


que
de 142$630 r.s, a V, M.ce terá o incommodo de ir
quantia qual

receber da mão do S.r Paysinho, a vai ordem effei-


quem para
tuar a dita entrega. Pela Carta,, remetto, verá também V.
que
M.ce tenho satisfeito neste artigo, não ficando na minha mão
q.

dinheiro algum ; e serião mais freqüentes e repetidas estas re~

messas, se as fazer de o nós


quizesse pequenas quantias, q. p.a

todos era incommodo e fastidioso, multiplicidade de re-


pela
cibos, e complicação de Ordens as respectivas entregas.
p.a
Assim espero V. M.ce satisfaça logo aos desejos da Socied.e,
q.

de alguns membros recêa V. M.ce segundo me affirma, lhe


q.

abocanhem o seu credito ; não reparando elles na responsa-

bilid.6, em se achão, com os Subscriptores,


q. p.a pelo q. per-
tence á remessa dos dois últimos N.os, ha tanto tempo ahi
q.
correm impressos, faltando deste modo ao nas
q. prometterão
arrogantes expressões do seu Prospecto, com todos os dias
q.
aqui me ensaboão o rosto, e a não sei responder. Na Lista
q.
dos Subscriptores, vai inclusa, vai hum de mais, do se via
q. q.
na l.a Lista, daqui enviei a V. M.ce Correio Marítimo
q. pelo
Treze de Maio, daqui sahio no 1.° de e em Carta de
q. Janeiro,
29 de Dezembro do anno ; e também se acha notado o
passado
— 401 —

Conde da Ribeira Grande, falleceo mas


que já (79), parece-me

se faça memória delle na Lista se respecti-


justo q. q. publicar,

va ao 2.° tomo ; e se a Condeça Viuva acceitar os N.os, fo-


q.

rem sahindo, troca-se o futuro o nome delle delia. Se


p.a pelo

eu tivesse aqui capaz e desembaraçada sollicitar


pessoa para

Subscriptores, estou certo se mais de 500 ou 600,


q. grangearião

e todos o faria augmentar o credito da


pessoas graúdas, que

Obra ; mas tendo mandado á tabúa aq.le até aqui nisto me


q.
servio, apezar da sua agilid.e, não sabia
grande por q. pegar
em Livros, nem em Papeis ; eu o não fazer
posso pessoalm.tp,
nem tenho nem tempo isso, e alem de me não
pois geito para
ser isso decente nas circunstancias em me acho, também não
q.

tenho olhos ver arreganhar os dentes a huns, e torcer o


para
nariz a outros.

Fico sciente de todo o mais me e a irei


q. participa, que
respondendo : e ficando na certeza do favor de sua benção e

da Mãy, a muito recommendo, assim como á Mana e Tia,


q.m
sou com todo o respeito

De V. M.ce

Filho m.to obed.e e obg.do C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaq.m

Lista dos subscriptores a esta carta se refere :


que

Subscriptores á Obra dos Varões Illustres Portuguezes.

Antonio de Abreu Fróes

Antonio Maria de Abreu

Antonio Francisco Leal, Pay.

Antonio Nascentes Pinto

Antonio Pereira de Carvalho

Antonio Luiz Pereira da Cunha

Amaro Vèlho da Silva

Bispo do Pará, Romualdo de Sousa Coelho. No Pará

Barão de Santo Amaro

"O
(79) I13m.° e Exixi.*" D. José Mania Antonio da Camara, VII Conde da
Ribeira Grande, Viador da Sereníssima Senhora Princeza D. Maria Francisca Bene-
dieta. Grão Cruz da Ordem de Nossa Senhora da Conceição da Villa Viçosa. Com-
mendador na de S. Bento de A vi z, Coronel addido ao Estado Maior do Exercito,
falleceu nesta Corte no dia 13 do corrente, de uma febre maligna, em idade de 35
annos. Foi sepultado na Igreja dos Religiosos de Santo Antonio, com as honras
competentes.'' — Gazeta do Rio de Janeiro, de 16 de Fevèreiro de 1820.
— 402 —

Cláudio Pereira da Costa


José

Conde da Ribeira Grande

Conde de Cavalleiros

Diogo Duarte Silva

de Sousa Mursa. No Rio Grande do Sul.


João
de Sousa Lobo
José Joaquim

Marcolino Gonçalves
José

Fr. Doutel, Esmolér Mór.


José

Bernardo de Castro
José

de Oliveira Pinto Botelho Mosquera


José
Damazo, a Real Bibliotheca
Joaquim para

Brusco
João

Luiz de Carvalho e Mello


José

Marquez de Torres Novas

Maximiano Coelho
José

Marquez do Lavradio

Manoel da Silva Pacheco

Narciso Nepomuceno da Silva

Nicolau Viegas de Proença

Raimundo Antônio Martins. No Pará

Rainaldo da Silva
José

Sabino da Silva Neves


Joaquim

Silvestre Pinheiro Ferreira

Visconde de Mirandella

Visconde do Rio Secco

Visconde de Villa Nova da Rainha

Em 29 de Fevereiro de 1820.

CARTA N.° 156

Rio de 17 de
Jan.ro

Março de 1820.

Meu Pay e S.r do C. Pelo Navio Lusitano,


prezadissimo

daqui sahio há mui dias, escrevi a V. M.ce a minha


q. poucos

ultima em resposta á sua de 30 de Novembro do anno


passado,
e ella lhe recommendava tivesse o incommodo de
por q. pro-

curar ao S.r Paysinho, delle receber a de 142$630


p.a quantia
— 403 —

reis, era a ultima remessa do dos Varões Illusties ;


q. producto

e na supposição de V. M.ce teria recebido as duas


que já pri-

meiras remessas das de 60$000 r.s, e de 100$000 r.8,


quantias

serem V. M.09 entregues á Sociedade Philopatrica. E


p.a por

como naquella Carta referia a V. M.ce tudo o se me offerecia


q.

a esse respeito, agora não tenho mais accrescentar.


q.

S. Mag.e ainda não decidio sobre a de Bonifa-


pertensão

cio Gomes de Carvalho, V. M.ce tanto me recomenda : e


q.

sinto muito ter accrescentar o não lhe achar bom Caminho


q.

o deferimento, ; serem invenciveis os


p.a q. pede por quasi

obstáculos se apresentão. As Licenças impetra anti-


q. p.a

e nesse Reino erão de tarifa, huma vez se apre-


gam.te que

sentasse a Certidão do Ordinário, isto he, a Attestação ; por

na Cúria Romana se fazia o Processo ao Pertend.*e antes


q.

se lhe expedissem as Bullasmas neste Reino findou essa


q.

tarifa mil motivos, e a cada he isso objecto de


por passo grd.68
informações. V. M.ce bem saberá a Concordata estabele-
q.
cida entre Portugal e a Cúria Romana não dá liberd.e a
qual-

requerer ao S.to P.e, senão a Licença de


quer p.a precedendo

S. Mag.e, especialm.te sobre a apresentação dos Benefícios e

Igrejas, e sobre as Collações dos Bispos ; inda se con-


pois que

cordou no modo da apresentação, a chamão Alternativa,


q.

com tudo a d.a Licença, foi hum freio o Soberano lançou


q. q.
a lhe faz conservar, inda indirectam.te, o Direito da
qualq.r, q.

Apresentação, da sua Soberania : tanto, affas-


proprio por
tar-se deste caminho he ir contra as Ordens de S. Mag.e, e

tudo o se obtém esse modo, he nullo ; não he de-


q. por pois
cente sem Licença do Soberano se recebão M.cee de
q. proprio

Soberano estrangeiro, e isso não se concede Beneplácito


por
ás Bullas, são obtidas sem Licença de S. Mag.e.
q.

Fico sciente da nova dos Casacas do Palacio da


promoção
Ajuda, de sabia o Emprego de Domingos de Moraes,
q. já q.
aqui tem Requerimentos. Agora chegou outro Requerim.*0 de

Manoel de Sousa sobre a sua antiga ; e sinto


Joaq.m pertensão
fosse escusado o do Filippe, Apontador Geral, como ahi
q.

virá a saber. Constitui-me Procurador devoção de todas


por
as desse Bairro, de conservar lembrança
pessoas quem posso

ou conhecim.to, lhes fazer expedir logo os seus deferimen-


p.a

tos ; creio em miséria vivem essas famílias : e desta vez


pois q.
lá vão 31 Requerimentos deferidos os Governadores do
já p.a
Reino. O Braço forte ficou aposentado, e com 480 r.s dia.
por
— 404 —

Quando aqui chegar o Navio Aurora, cujo Piloto,


José

Francisco, V. M.ce affirmame trará a encommenda das flores ;

me resolverei a enviar rn.mo Piloto a V. M.ce a sua encom-


pelo

menda da Quina, aqui tenho há muito tempo


q. já prompta já

encaixotada, e me será mais de huma arroba. Por


parece q.

ter receio a furtem, ou a dizimem, he não a tenho remettido


q. q.
desconhecida.
por pessoa

Tórno esta a rogar a V. M.ee me continue em


por para q.

todos' os Navios, dahi sahirem, a dar noticias de minha Mãy,


q.

espero tenha conseguido melhoras, o nosso


q. perfeitas pois
cuidado não nos deixa momentos affastar a nossa fantasia
por

do estado da sua moléstia, e de todas as afflicçÕes da nossa

família.

Nós sem novid.e, mas nunca livres de cuidados :


passamos

as suas netas vão bem ; Maria Thereza tem vencido os incom-

modos da sua meninice, e vai crescendo e fallando ;


prim.r:1

Maria Luiza he hum ferro e hum raio, de forte e experta ; e

com sete mezes tem sete dentes : Servem de meu desen-


fado, inda me fazem mais velho e basbaque ; e eu desjaria


q.

o Avô deste divertimento, sempre o co~


q, participasse pois q.
nheci com affecto a crianças.

Queira V. M.ce continuar-nos o favor de suas ben-


pois

çãos, e igualm.te da Mãy, recomendando-nos muito á Mana e

Tia : e sou

De V. M.ce

Filho m.t0 obed.6 e obg.d0 C.

Luiz dos S.*043 Marrocos


Joaquim

CARTA N.° 157

Rio de 18 de
Janeiro

Março de 1820.

Meu Pay e S.r do C.: Tendo


prezadissimo escripto a

V. M.ce este mesmo Navio com a data de


por hontem, serve
esta de lhe o Requerimento de Bonifácio
participar que Gomes
de Carvalho, V. M.ce me enviou com a
que sua ultima Carta,
— 405 —

sahio escusado, como eu logo : o Arcedia-


premeditei pois que

de Oriola he hum dos Benefícios, hão de ser suppri-


gado que

midos servirem os seus rendimentos ao augmento das


para

Congruas dos outros Benefícios de Villa Viçosa, como há

muito se acha determinado ; e alem disto o Sup.e não mostra

Serviços relevantes, nem ainda ordinários, lhe ser confe-


para

rido aquelle Beneficio, com o transtorno do áquelle respei-


que

to foi estabellecido. Em consequencia disto, V. M.ce


pode

mandar este resultado ; ficando-me o sentimento


participar-lhe

de não servir, como V. M.ce desejava, a este seu Amigo,


poder
não ter a sua cabimento algum. Sou com todo
por pertensão

o respeito

De V. M.ce

Filho m.t0 obed.e e obg.do C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaq.m

CARTA N.? 158

Rio de 30 de
Jan.ro

Março de 1820.

Meu Pay e S.r do C. Depois de V. M.ce


prezadissimo

receber esta Correio, terá o incommodo de ao


pelo procurar
d° e
r p Domingos Vicente, da Congregação do Oratorio, e re-

sidente na Casa do Espirito Santo, ao Chiado, o lhe ha


qual
de entregar outra Carta minha, daqui lhe envia o P.e
q. Joa-
Damazo ; e segundo as recommendações deste, concor-
quim

dará com V. M.ce sobre os objectos, de trata a mesma Carta


q.
e os Avisos a acompanhão. A sua sobre o Lugar
q. pertensão
de Chronista da Sereníssima Casa de Bragança fica de ne-

nhum effeito ; requerendo eu a S. Ex.a V. M.ce


por q. para q.
ficasse nelle, sem embargo de ter a consultado
provido Junta
somente sobre o.Requerimento de Franklin ; resolveo S. Ex.a

nem hum, nem outro ; o seu he este Lugar


q. por q. parecer q.
não deve ser mais e haja de deverá
provido, quando prover-se,
ser no Brazil ; e S. Mag.e conformou-se com isto. He isto
por
eu desejara V. M.ce me remettesse sem de tempo
que q. perda
o seu Requerimento sobre o Lugar de Bibliothecario da Santa
— 406 —

Igreja Patriarchal, em me fallou na sua ultima, se apro-


q. p.a

veitar a occasião, em existe a lembrança de não


quanto poder

aq.le Despacho : assim como desejo m.to


effeituar-se prim.ro

V. M.ce me remetta hiüa Certidão do seu Decreto do Lugar


q.

de Professor Regio de Filosofia da Corte em 1805, e outra

Certidão da Provisão da o exercício da Cadeira no


Junta p.il

anno ; com estes Documentos me acer-


passado pois q. parece

tado requerer o do seu respectivo Ordenado daq.les


pagamento

14 annos intermedios, e talvez S. Mag.e se digne mandar


q.

satisfazer-lhe, inda seja segundo as circuns-


q. por prestações,

tancias até ultimo


permittirem, pagamento.

Sahio escusado hum Requerimento de Manoel


Joaquim

de Sousa, em o Lugar de Architecto da Patriarchal,


q. pedia

idêntico a outro ahi foi ha a informar. Não he


q. pouco por

isso conveniente repetir os Requerimentos sobre a mesma


per-

tensão, sahindo hum escusado, he arriscado


pois que qualquer

outro o seja também, inda venha com boa Informação.


q.

No Discurso Historico, se acha no da l.a Par-


q. principio

te do Tomo 6.° da Historia e Memórias da Academia, vi com

satisfação a Nota da remessa, eu fiz, da Collecção de Dese-


q.

nhos á Obra de Francisco Dolanda (80),


pertencentes que

também lhe havia remettido, cuja mensão se faz no 5o Tomo.


Estou sempre na esperança de V. M.ce me continúe


que

todos os Navios a dar noticias das melhoras de minha Mãy,


por

depois de me ter o ataque de com


participado grande paralisia,

(80) Lê-se
no discurso recitado pelo Secretário José Bonifácio de Andrada
e Silva na pública da Academia, realizada em 24 de Junho de 1818, e inserto
sessão
in Historia e Memórias da Academia Real das Sciencias de Lisboa, tomo VI, parte I

(Lisboa, 1819), XVIII/XIX, o seguinte:


"Começarei ps.
pelo precioso mimo dos numerosos desenhos, que faltavão para
possuirmos completa a rarissima obra de Francisco d'OIanda, Da fabrica que fallece à
Cidade de Lisboa, Ordem e beneficencia de Sua Magestade fez copiar o
que por
Snr. Luiz dos Santos Marrocos. Ajudante das Reaes Bibliothecas do Paço do Rio de
e os enviou ao nosso consocio o Snr. Alexandre Antonio das Neves Portu-
Janeiro,
gal. A Academia tem resolvido imprimir esta obra com todo o primor que merece,
fazendo gravar os desenhos pelos nossos melhores Artistas, logo que as circunstancias
pecuniarias lho permittão."
— Conf. nota 73.
Francisco de Holanda, ou d'01anda, foi o célebre iluminador, pintor, arquiteto

e escritor português, que viveu entre 1518 e 1584.


As cópias de Santos Marrocos, a que se referem estas notas, não foram publi-
cadas Academia Real das Ciências, como José Bonifácio desejara.
pela
O Conde A. Raczynski, Les Arts en Portugal, ps. 58/73 (Paris, 1846), sob

o título Des monumens oui manquent à la ville de Lisbonne, traduziu, conforme ma-

nuscrito da Biblioteca de o tratado Da fabrica que fallece à cidade de Lisboa.


Jesus,
Uma edição critica e comentada desse tratado, e Da Sciencia do Desenho, do mesmo

autor, fez de Vasconcelos, na coleção Renascença Poctugaeza, n. IV, Porto,


Joaquim
1879.
— 407 —

foi accomettida no mez de Outubro : e V, M.ce


que poderá

reconhecer os meus ardentes desejos de tenha sido feliz no


q.

seu curativo e tratamento satisfação e descanço de toda a


para

familia. São iguaes os sentimentos de Anna, tem todo o


q.

de serem fora do nosso alcance os meios de se


pezar precisos

mostrar interessada no seu restabellecimento.


pessoalmente

Confiado nas suas bênçãos, e recommendado-me com es-


pois

á Mana e Tia, continuo a sou


pecialid.e protestar q.

De V. M.ce

Filho m.to obed.e e obg.do C.

Luiz dos S.tos Marrocos


Joaq.m

P. S.

Tendo vindo dahi de Monteiro da


participação q. José

Rocha fizera o seu Testamento a 16 de. Julho do anno


passado,

em deixava a sua Livraria a S. A. R., e fallecera a 10 de


q. q.

Dezembro ; tendo sido encarregado da arrecadação da d.a Li-

vraria o S.r Alexandre Antonío das Neves ; terá ahi che-


a Ordem ser a referida Livraria transportada


gado para para

aqui, acompanhada de Forte Saraiva, Reposteiro da Ca-


José
mara, e Criado foi do d.° Monteiro da Rocha : a fim
q. José

de ser entregue a S. A. R.

CARTA N.° 159

Rio de 30
Janeiro

de Abril de 1820.

Meu Pay e S.r do C. Pelo Navio Mina,


prezadissimo

sahio deste a 27 do corrente, respondi á Carta, V.


q. porto q.
M.ce me dirigio em data de 2 de Fevereiro ; e não
passado por

deixar sahir este, sem escrever a V. M.ce, aproveito a occasião

lhe enviar a Relação dos Despachos do dia 25, talvez


para q.
ahi não causem novidade, demora aqui teve o dito
já pela q.
Navio Mina depois daq.Ie dia.

Tenho sentido m.t0 V. M.ce me não remettesse Pi-


q. pelo
loto do Navio Aurora, como me havia d antes annunciado, a

Historia de Portugal Damião Antonio, aqui ser entregue


por p.a
ao Conego Cura da Capella Real, Antonio Pedro Teixeira, o
— —
408

desde Outubro ou Novembro do anno me anda


qual já passado

ella, em occasião da chegada de Na-


perseguindo por qualquer

vio ; hú seu Amigo lhe tem desde então


por q. participado q.

a d.a Obra V. M.ce me foi dahi remettida. Sendo este


já por

Clérigo hum indivíduo, de cujo caracter não e de cuja


gósto,

amizade fujo, como não estarei eu zangado com este compro-

mettimento ? inda sua Carta, em me


pois q. pela q. participa

havia de remetter-me a d.a Obra, e d.° Piloto, aqui se


pelo q.

acha, eu me de não ter recebido ; com tudo tenho o


justifique

disgosto de a murmuração venha a cahir sobre V. M.ce, o


q. q.

mim ainda he mais offensivo ; conheço affiado


p.a pois quanto

he o da sua lingua.
gume
me engano em ter dito acima Outubro ou
(Parece-me q.

Novembro; o d.° Conego começou a


por q. perseguir-me por

occasião da remessa, V. M.ce me fez, dos dois últimos Fo-


q.

lhetos da Obra dos Varões Illustres, cuja remessa ser


julgo

mais antiga.) S. Mag.e não tem bem da sua : e


passado perna

a Princeza Real, tendo duas vezes desmanches,


por padecido

estando pejada, acha-se agora em uso de banhos de mar.

Fico muito certo na continuação de suas bênçãos, e da

Mãy, a desejo melhoras, e me recommende á


q.m perfeitas

Manna e Tia : e sou

De V. M.ce

Filho m.to obed.e e obg.d0 C.

Luiz dos S.tos Marrocos


Joaquim
P. S.

Anna faz iguaes recommendações.

CARTA N.° 160

Rio de 2 de
Janeiro

Maio de 1820.

Meu Pay e Snr. do C. Tefido escripto a V.


prezadissimo

M.ce todos os Navios, daqui tem sahido, sendo o ul-


por que

timo destes o Correio Marítimo Leopoldina, sahio hontem ;


que

aproveito esta occasião do Navio Novo Paquete, sahe


que
— 409 —

amanhã, a V. M.ce Charrua de Guer-


para participar que pela

ra, S. Magnanimo, ha de sahir logo depois do Dia


João que

dos Ànnos de S. Mag.e remetto a V. M.ce hum Caixote de

com marca : — Marrocos —, e vai entregue a Fran-


Quina, a

cisco Melitão Barbosa, Escrivão da mesma Charrua, a


José

V. M.ce terá o incommodo de receber o


quem procurar para

dito Caixote ; o dito Escrivão seu Lugar não


pois que pelo

ter occasião de hir a terra, a conducção daquella


pode para

encommenda, se não depois de fazer a descarga do Navio.

João Emygdio, Porteiro da Secretaria de Estado dos Negocios

Estrangeiros e da Guerra, e intimo Amigo deste Sugeito,


pode

dar a V. M.ce noções a respeito delle, e sobre a sua residencia

a bordo, ou em terra, logo ahi chegue a dita Charrua.


que

Quando se offereça outra occasião favoravel, hei de re-

metter a V. M.ce huma de Quina meuda, finíssima e


porção
no ultimo se conhecer a Quina Bra-
preciosa gráo, para quanto

zilica he superior á Peruviana, tem havido hum


pela qual par-
tido de superstição, em ruina da nossa, cuja utilidade está de-

cididamente verificada ensaios, a se tem e


pelos q. procedido,

pela pratica em se acha adoptada em todo o Brazil.


geral, q.
Não tenho tempo mais, esta he feita á na
para pois pressa
Secretaria : Portanto recommendando-me em suas bênçãos e

da Mãy, cujas melhoras tanto desejo, sou

De V. M.ee

Filho m.t0 obed.e e obg.do C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaq.m

CARTA N.° 161 .

Rio de 19
Janeiro

de Maio de 1820.

Meu Pay e S.r do C. Tendo chegado a este


prezadissimo
Porto a Nau Vasco da Gama a 15 de Abril apenas
passado,
hontem na Secretaria me foi entregue huma Carta do P.e Car-

reira, em me annunciava a remessa de huma encommenda,


q.
— 410 —

V. M;ce lhe e de se encarregara o filho do Mar-


q. pedira, q.

de Sabugosa : em consequencia desse Aviso e a diligen-


quez

cias minhas recebi hoje a d.a encommenda, em V. M.ce me


q.

remette avultada de sementes de flores, satisfazendo


porção

ao de Anna, ficou muito contente ornar o seu


peditorio q. para

e comigo agradece a V. M.ce não só o mimo, com


jardim, que

nos mas a impertinencia e trabalho serião in-


q. presentêa, q.

dispensáveis colher tanta Veremos se se


para quantid.e. po~

dem aproveitar todas, o me difficil, vindo m.to


q. parece por q,
boas as sementes miúdas, estão embrulhadas nos
q. papeis, pelo
contrario tudo o são raízes chegou coberto de bolor, o he
q. q.

signal de humid.e ; e ver se as aproveitar, hão de ser


p.a posso

lavadas e limpas do bolôr não apodrecerem, e fazer uso


para

dellas, depois de serem bem seccas ao Sol. Da Ilha da Ma-

deira também me mandarão de huma enorme


presente porção
de sements de flores, dizem ser muito lindas e delicadas, as
q.

tem sido levadas Inglezes, e transplantadas na-


quaes pelos

Ilha : sendo indígenas de hum Paiz frio,


quella porem julgo q.
como he a Inglaterra, não neste, nessa
podèm prosperar q. qua-
lidade he o àvêsso; e he isso da sementeira, fiz ha
por q. q.
hum mez, nada tem ainda nascido, apezar de estar-mos na es-

tação mais fria. Dentro da d.a caixinha vinhão, a Carta de

V. M.ce de 9 de Fevereiro, com hum seu Requerim,to o


para
Lugar de Bibliothecario da Patriarchal, e duas Cartas mais,

huma Manoel Wenceslau, Conego Fabriqueiro desta Real


p.a

Capella, e outra o D.or Leal, Tio de Anria : ambas serão


para

entregues ámanhã ; e aos artigos da Carta de V. M.°® e ao

mais tenho a dizer-lhe, responderei com mais vagar


q. pela
Charrua S. Magnanimo, está a sahir, e não
João q. próxima q.
tem medo de Corsários ; deste Navio Esperança,
pois q. por
envio esta, não me fio, não ser seguro, e he .isso
quem por por
também não leva Despachos desta Secretaria.
q.

Pelo Navio Novo Paquete, sahio daqui a 4 deste mez,


q.
a V. M.ee d.a Charrua remettia a V. M.06
participei q. pela
hum caixote com Quina, entregue ao Escrivão da m.ma Char-

rua, Francisco Melitão Barbosa, amigo do Porteiro da


José

Secretaria João Emygdio : há dias o d.° caixote se acha re-


q.
colhido a bordo no seu Camarote com toda a recommendação

o da humid.e : tem de comprimento 4


para preservar palmos
largos, de largura 1/3 de huma vara, e de altura 2 e
palmos ;

tem a marca — Marrocos —•* Eu nesta Alfan-


queria pagar
— 411 —

dega toda a despeza de Direitos, livrar a V. M.ce desse


para

incommodo, mas não me foi não ser estilo paga-


possível, por

rem-se á entrada, mas á sahida, e foi esse motivo o d.°


por q.

Caixote nem Alfandegà, mas foi do Arsenal con-


passou pela

duzido bordo : em consequencia disso me advertio o d.°


p.a

estando V. M.ce antecipadam.te e não


portador q. prevenido,

sujeitar o d.° Caixote á entrada dessa Alfandega


querendo p.a

o dos Direitos, era acertado V. M.ce, logo lhe


pagamento q. q.

conste a d.a Charrua está a entrar barra, sendo-lhe


que pela

a vá encontrar á vella ; elle immediatamente


possível, pois q.

lhe faz a entrega, fazendo-lhe baldear da Charrua o bote,


para

em V. M.ce for ; ser certo não irem os Guardas da Al-


q. por

fandega bordo, em o Navio não dá fundo. Mas


para quanto

eu não convenho nisso, ser mui arriscada empreza, na


por qual

se tudo, e soffrer mil incommodos de tristes con-


pode perder

sequencias : tanto V. M.ee me mandará dizer a despeza


por

disso houver, eu lha mandar ahi entregar.


q. p.u

Causa-nos desconsolação a noticia da continuação


grande

da moléstia de minha Mãy : Deos conceder-lhe todas


permitta

as melhoras lhe desejamos, e m.to confiamos com a beni-


q. q.

da estação, ahi he mui suave e creadora.


gnidade presente q.

Queira V. M.ce fazer-lhe const.es os nossos sentimentos, e

nos he apreciavel a sua amizade e lembrança no meio


quanto

de tanta amargura : e estando certos na continuação de suas

bênçãos, continúo a sou como devo


protestar q.

De V. M.ce

Filho m.to obed.e e obg.do C.

Luiz dos S.t(>s Marrocos


Joaq.m

P, S. Muitas recommendações á Mana e á Tia.

CARTA N." 162

Rio de em 30
Janeiro

de Maio de 1820.

Meu Pay e Snr. do C. Tendo recebido a


prezadissimo

19 do corrente a sua ultima de 9 de Fevereiro, acompanhada

da encommenda das flores, foi servido remetter-me mão


q. por
— 412 —

do filho do Marquez de Sabugosa, havendo a Nau Vasco da

Gama, o transportou, chegado a este a-15 de Abril;


que porto,

apenas annunciar a V. M.ce Navio Esperança a re-


pude pelo

cepção da dita Carta, ter havido tanta demora na entrega


por

delia, e estar tão a sahida do dito Navio, com


próxima que

effeito se verificou no dia 22 do corrente : agora


porem que

a occasião me dá lugar responder aos artigos da dieta


para

sua Carta, o farei com a extensão, cada hum ; sen-


q. pedir

tindo em lugar a continuação da moléstia de minha


primeiro
Mãy, V. M.ce me refere n'hum estado tão critico e deplo-
que
ravel, e cuja razão só attribuir á benignidade da
por posso

estação aquelle allivio, anciosamente desejamos


presente que

haja de concorrer o seu inteiro restabellecimento.


para

Sinto também a triste noticia, V. M.ce me dá, a respeito


que
do Snr. Farinha, continua a ; e lhe agradeço muito
que padecer

a favoravel lembrança, inda tem de mim. Ser-me-hia de


q.

satisfação e se acaso eu estivesse em considera-


grande gloria,

ções de valimento, fazer conhecido e respeitável o seu mereci-

mento da maneira lhe he devido, mas com bem mágoa


que

minha lhe o conservar em rigoroso segredo,


participo, para que
a única Pessoa, nesta Corte tem ideas vantajosas a seu
que
respeito, e dá valor aos seus serviços e trabalhos, he Sua
q.

Mag.e, he de reflectir no estado, em hoje o


posto que que q.
considera, não o apto couza alguma : entre
julga para porem
tantas ahi o communicavão e delle se aproveita-
pessoas, q. q.
vão, (e algumas talvez em elle firmava espe-
quem grandes
ranças) nenhuma se acha nesta Corte, a ao menos seja
quem
conhecido e agradavel o appelido de — Farinha —, reputando-o

apenas hum indivíduo estranho, nullo, e de esteril recor-


por
dação. Eis aqui o o tempo, e o a ingratidão,
q. pode q. produz
se abraça o sistema de tratar com desprezo e affronta
quando

aquelles mesmos, a muitas vezes se deve mais do aos


quem q.
Pays : e he este desgraça nossa o sentir da Poli-
proprios por
tica moderna, ou, como diz o P.e Vieira, da ignorancia e in-

corrigibilidade.

A respeito dos seus Painéis, fiz o estava a meu alcan-


que
ce, suscitando idéas, ninguém tinha, e valendo-me do monu-
q.
mento, há annos conservava em meu a fim de S.
que poder,
Mag;® elle resolver o lhe agradasse consolação
por que para
de hum Velho, estava a deste Mundo, e a
q. partir para quem
do seu Soberano era o único a aspirava
graça prêmio, que
— 413 —

nestes seus últimos dias. Tendo S. Mag.e acceitado a Offerta

com o especioso e mui honroso destino de serem collocados na

Sua Real Bibliotheca instrução do Publico, foi-me


para per-
mittido fazer o Aviso de agradecimento á minha vontade, com

todas as expressões de elogios, me


q. parecessem proprios, para
o certificar da distincta consideração, em S. Mag.e sempre o
q.
conservou, e conserva. E tendo feito o dito Aviso, com outro

mais, dirigido a V. M.ce ; succedeo a desgraça sabida ao



Correio Marítimo, Infante D, Sebastião, os levava ; sendo
q.
expedir 2.as Vias, forão, segundo me lembra, no
preciso que
Navio Conde de Peniche : á vista de tudo o referido, estimarei

que este negocio, aqui me deo bastante trabalho, seja feliz


que
na sua conclusão, e venha tudo a salvamento, como S. Mag.e
que
espera. Teve a mesma sorte e a mesma repetição a informa-

ção, dei a V. M.ce, sobre a do seu Amigo, Conego


que pertensão
de Évora, Bonifácio Gomes de Carvalho, como V, M.ce
já es-

tará sciente : e sinto me seja incumbido o despacho de


que per-
tensões taes, em nem eu satisfazer aos seus empe-
que posso
nhos, serem de alto calibre, nem talvez com o
por p.a perten-
dente ficar bem, segundo o estado de suas reflexões sobre
posso
a sua ; ao menos não se negar
pertendida justiça porem pode
a vantagem, se tira, em se evitar delongas.
que

A respeito da sua ao emprego de Chronista


pertensão da

Casa de Bragança, respondi a V. M.ce largamente


já sobre o
seu êxito, não foi favoravel a nenhum dos
que pertendentes :

agora remetto a V. M.ce a Minuta do Requerimento,


porem
q.
havia formado, e me servio decidir a
que para duvida, em
que
fiquei, sobre a reserva, S. Mag.e ordenou
que, a respeito da

Consulta, alcançado o motivo não foi


por que resolvida nem

expedida. Com a dita Minuta vai a Copia da onde


papeleta,
V. M.ce verá a reflexão de S. Ex.a, a decisão de S. Mag.e ; por
que a original não devendo ir, serve-me
papeleta também
p.a
com ella me oppôr em tempo
qualquer ao deste
provimento
Emprego a favor de algum outro
pertendente, appareça ;
que
pois a em Portugal,
prover-se quem primeiro vai á fonte,
primei-
ro deve encher.

Recebi o seu novo Requerimento a respeito do Emprego de


Bibliothecario da Patriarchal,
para o entregar a S. Ex.a e tra-
tar do seu despacho mas desde
; estou temendo este não
já que
seja favoravel, segundo o
que pela pratica tenho alcançado,
conhecendo agora o meu engano de fallecido o Bene-
julgar
— —
414

ficiado Botelho Torres, como entendi do V. M.ee me


João que

annunciava em huma sua Carta anterior : e tanto estando


por

elle vivo, vem o negocio a reduzir-se a huma Sobrevivência, q.

maior inconveniente nem ao menos he requerida dito


para pelo

Beneficiado : hoc opus, hic labor est. V. M.ce não ignora


que

as Sobrevivencias em são odiosas e em Di~


geral prohibidas

reito ; e se acaso houve tempo, em algumas se conce-


por que

dião, agora de nenhuma sorte ; excepto as circunstan-


quando

cias fazer excepções, exemplo, em Officios,


permittem por

os Pays, são Proprietários, os requerem seus


quando que para

filhos ; em Igrejas, os Parochos Coadjutorias


quando pedem

com futura successão, ou inda mesmo nas Renuncias de Be-

neficios, assistem causas legitimas aos renunciantes &.


quando

contrario não se achão nesta ordem as Sobrevivencias e


pelo

Expectativas sollicitadas outrem, e muito menos as se


por q.

chamão determinadas, escandaloso motivo de começar a


pelo

sua com a extincção do antecessor : e o regular he


posse pro-

verem-se os Lugares depois de succeder o fallecimento do Pro-

o he conforme com a razão, e Christianis-


prietario, que justiça,

mo. Com esta antecipada noção me aventuro ao Despacho do

dito seu Requerimento, ao dér e vier, e será


preparado que

fortuna se mande a informar, não levar in limi-


grande que por

ne hum Escusado.

A respeito do outro seu Requerimento, V. M.c® me ha


q.
de remetter, o do seu Ordenado do tempo in-
para pagamento
termedio, tem decorrido, desde a sua Nomeação de Pro-
que
fessor Regio de Filosofia até começou a ter exercício ; esti-
que
marei muito a sua remessa tratar do seu deferimento,
para que
me de muita ; inda não entrarei nessa empre-
parece justiça que
za, sem se ultime a do Lugar de Bibliothecario,
que que julgo
mais difficultosa : bom seria em lugar de Publicas
porem que
Formas V. M.ce documentasse o dito Requerimento com Cer-

tidões originaes extrahidas da Secretaria de Estado, e dos com-

petentes Tribunaes ; serem aquellas destituídas de todo o


por
credito este fim, apezar de apparecerem munidas com a fé
para

do Tabellião : e esta deve sempre regular a V. M.ce


prevenção
em emprehenda o futuro, assim
qualquer pertensão, que para
como de se não servir mais de Àttestações
já graciosas, que
até são Regimento das Mercês. Em lugar
prohibidas pelo
do Real annualmente Subsidio Litterario,
porem Juro pago pelo
V. M.ce lembra, e hoje se não concede, farei no Re-
que que
— 415 —

a mudança se arbitrarem annuaes


querimento para prestações

a segundo o as circunstancias ;
pagas quartéis, permittirem pois

de outro modo arrisca-se a tudo. Com estas tentativas


perder

e outras, forem lembrando, seria do meu maior ver


que prazer

a V. M.ce em hum estado florescente, livre de amofinações e

dependencias, o resto da vida com descanço e sa-


para passar

tísfação ; e eu me bem de todos os meus traba-


julgaria pago

lhos, se elles conseguisse o bom êxito de meus e


por passos

diligencias actuaes. Passando agora ao objecto da Sociedade

dos Editores da Collecção dos Varões Illustres, estimarei


que
estejão embolçados de todo o da dita Obra, da
já producto

remetti Ordem a ultima de 142$630 reis a 12


qual para quantia

de Março Navio Lusitano, e repeti com 2.a Via ; ficando


pelo

sciente da reserva, V. M.ce eu com


que quer que pratique para

o Frade, o só agora V. M.ce me communica, e he


que q. para
mim muito extranho; eu auctorizado neste
pois julgando-o

negocio, segundo o me deixa entender da Carta, me


que que
dirigio, vierão os folhetos, com aquella since-
quando procedi
ridade e franqueza, devia, ultimo lhe respondi a
q. quando por
ella, communicando-Ihe o estado da venda, e o interesse
que

produzio, o continuei a outra vez,


que praticar por quando pela
demora das suas Cartas entrei a duvidar V. M.ce tivesse
que
recebido as minhas se espalharem aqui tristes
participações, por
noticias de tomadias de Navios Corsários, e
pelos julgando
eu isto as em todos dirigia a V. M.ce, o a
por perdidas que q.
cada momento me affligia. Por tanto não V. M.ce mal
julgue
dado este meu em communicar ao Frade a remessa do
passo,

dinheiro ; sendo elle hum dos Socios, deve sabe-lo, e


por que

por ser o teve a civilidade de me escrever, a mesma


que pedia
civilidade lhe respondesse : alem disto não a
que pertencendo
nós o metter-mo-nos nas contas alheias, não attribuir
posso a

Figueiredo algum receber o dinheiro


(81) privilegio para sem

consentimento da Sociedade em e sua delegação


geral, como

Procurador ou Thesoureiro e se acaso ella lhe


; por deve, ou

tem comido delle, a ninguém he licito o


pagar-se por suas mãos,

mas com aquella verdade e rectidão, de


proceder q. o ca-
julgo

paz pertencendo somente a nós o ficarmos isentos de res-

ponsabilidades. O dito Frade me escreveo ultimamente,


par-

(81) Pedro José de Figueiredo, de cuja pena são as biografias dos Varões e
D°nas na maior Entraram também
parte. na empresa Luiz Duarte Vilela, Frei Con-
ceição Veloso (até sua partida
para o Brasil em 1807). José da Cunha Taborda, e
outros. — Conf. Inocêncio, Diccionacio Bibliographico
tomo VII. ps. 140.
— —
416

ticipando-me a recepção dos 60$000 reis, Navio,


quando pelo

se seguio, me forão remettidos os recibos de ambas as


que quan-

tias ; e foi agora fiquei sciente do motivo, V. M.ce


que por que

não entregou na mesma occasião os 100$000 reis, recebeo


que

com aquelles. *

Pelo a Antonio de Lemos Seixas


que pertence Joaquim

Castellobranco, a V. M.ce confiou huma Carta de re-


quem

commendação mim, ainda me não appareceo, nem delia


para

fui entregue ; e não obstante a sua o trate


prevenção para que

de resto, devo dizer a V. M.ce o negocio do Monte Pio (a


que

não ser o Litterario) de elle vem incumbido, não


que pertence

a esta Secretaria de Estado, mas sim á de Guerra, com aqual

não tenho correspondência.

O Piloto do Navio Aurora também ainda não me appa-

receo, nem e consequencia não me he


procurou, por possível

em seu favor aquelle agrado e offerecimentos,


praticar que

V. M.ce deseja. Há cumprimentos, há dependencias ;


quando

acabadas estas, não te conheço.

Por esta Charrua remetto a V. M.ce hum caixote de Quina

com a marca — Marrocos — mão do Escrivão da mesma


por

Charrua, Francisco Melitão Barbosa, o dar a


José qual pode

V. M.ce algumas informações de mim, e de minha Casa,


por

ser meu visinho nesta rua ; inda eu com elle não tenha ami-
q.

zade, mas só conhecimento de visinhança : e elle me fez este

favor, obséquio a Anna do Cabo, Viuva de Feliciano, em


por

razão do seu e amizade reciproca com Emygdio.


parentesco João

Elle me affirmou levava o dito Caixote com toda a reserva


que

da humidade, e dentro do seu Camarote ; mas advertio-me


que

a V. M.ce sobre a diligencia de o ir buscar a bordo,


prevenisse

elle o não entregar em terra em


por que podia pessoalmente,

razão do Cargo, tem no Navio, lhe não sahir,


que que permitte

sem elle descarregue.


que

Nós, a Deos, com saúde ; e suas netas


graças passamos

vão crescendo em corpo, em forças, e em travessura : ambas


me dão trabalho ; e esta Carta he feita aos intervallos, ser


por

necessário acudir ás suas caramunhas carregar com ellas.


para

Anna se recommenda muito, como deve ; e todos nós confia-

dos na sua amizade e bênçãos, e iguaes deveres


praticando para
— 417 —

com minha Mãy, continuamos a os nossos votos de


protestar

humiliação e respeito ; e eu com toda a especialidade sou

De V. M.ce

Filho m.t0 obed.e e obg.do C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaquim

P. S.

He muito necessário V. M.ce me o destino,


q. participe q.
teve a de 150$000 r.s, ou o he, recebeo
quantia q. quer q. que
dos Frades de Bellem, dos ao dinheiro de
juros pertencentes
Anna como V. M.ce sabe ; tendo ella falleci-
Joaquina, por q.
do há dias, o Testamenteiro, aqui existe, vai a liqui-
poucos q.
dar esses dinheiros, os applicar aos Legados, ella dei-
pára q.
xou : e he muito natural elle me em consequen-
que procure,
cia da lembrança, os ditos Frades aqui mandarão, e do
q. para
recibo, hão de ter na sua mão.
q.
Bom he estejamos a esse respeito acautelados, sa-
q. para
tisfazer mos com verdade ao se exigir de nós.
q.

a esta carta, encontra-se um com o seguinte :


Junto papel

Collecção da Obra dos Varões IUustres Portuguezes

Por 27 Exemplares vendidos a 9$720 R.s . . 262$440

Por 8 Ditos Dito .... 77$760

Somma 340$200

DESPEZAS

Frete do Pacote, de Lisboa o Rio de


para

Janeiro 3$270

Despezas na Alfandega 3$ 150

Conducção mar e terra 1


por por $600

Annuncios na Gazeta 2$400

Ao Distribuidor dos Annuncios em 4.°


pelos
Assignantes da Gazeta $960

Commissão dos 27 Exemplares acima a 970

reis cada hum 26$ 190

37$570

Differença 302$630
— 418 —

N. B.

Em 10 de Outubro de 1819 remetti a


quan-

tia de 60$000 R.a

Em 20 de Novembro Dito 100$000

Em 2 de Março de 1820 . 142$630

Para Lisboa 302$630

Rio de 2 de Março de 1820


Janeiro

Luiz dos S.tos Marrocos


Joaquim

CARTA N.° 163

Rio de 2
Janeiro

de de 1820.
Junho

Meu Pay e Snr. do C. Inda hoje não tinha


prezadissimo

tenção de dirigir a V. M.ce esta Carta, es-


por que pertendia
crever-lhe Correio ; mas de tarde sahia a
pelo quando para
Livraria, inesperadamente e com o maior espanto me encontrei

com o Snr. Anacleto, nosso visinho do Sitio da Boa Hora,


q.
de companhia com o Conego Catão se me deo a conhecer, e
q.
então me haver chegado a esta Corte na Nau Vasco
patricipou

da Gama. Supposta a amizade me he constante existir entre


q.
V. M.ce e elle, fiquei assás admirado de V. M.ce nem
que por
elle me escrevesse, nem outra, recebi mão do filho
pela q. por
do Marquez de Sabugosa, me annunciasse a sua vinda :
porem
como elle deliberadamente me disse levava em de
que gosto
levar Carta minha V. M.ee, e sahia Lisboa a 10
para q. para
do corrente ; me aproveitei de tão bella occasião escrever
para
estas regrinhas tão seguro e obsequioso Portador, álem
por q.
da Carta, dará a V. M.ce noticias individuaes a meu respeito,

e as daria também de minha família, se se vir a m.a


propuzesse
Casa.

Pela Charrua S. Magnanimo escrevo a V. M.ce com


João
alguma extensão, ser Navio de Guerra e mais seguro, e
por por
— 419 —

ella vai a Encommenda da Quina, e huma Cartinha separada-

mente mão do Escrivão delia, Francisco Melitão Bar-


por José

bosa, he o Portador da dita Encommenda : e nesta só me


q.

occorre dizer a V. M.ce entreguei a S. Ex.a o Requeri-


q. já

mento o Lugar de Bibliothecario da Patriarchal; mas foi


para

necessário transtorna-lo da forma, vai na Minuta a


que junta,

fim de ver se o deferimento sahe conforme ás nossas


pertendido
intensões, como V. M.ee conhecer, lendo-o e ninguém
pode

mais.

Fico com o m.mo cuidado a respeito da moléstia de minha

Mãy, se desvanece de m.a lembrança : e rogo in-


q. jamais

cessantem.te a Deos lhe dilate os seus dias e a V. M.ce, como

muito desejo, me felicitarem e a este meu rebanho com a


para
frequencia de suas bênçãos ; recommendando-nos m.to affe-

ctuosam.te á Mana e Tia : é sou como devo

De V. M.ce

Filho m.to obed.e e obg.d0 C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaquim
P. S.

Não se esqueça de me mandar a Hista de Portugal, de

Damião Antonio, aqui ser entregue ao Conego Cura da


para
Capella Real, cuja lingua he viperina.

CARTA N.° \6i

Rio de 10
Janeiro

de de 1820.
Junho

Meu Pay e Snr. do C, . Por esta mesma


prezadissimo

Charrua escrevo a V. M.ce mala do Correio com a exten-


pela

são, me foi em segunda resposta á sua ultima Carta,


q. possível,

inclusa na Caixa das sementes, me entregou Antonio de


q. José

Mello, filho do Marquez de Sabugosa. Agora esta,


porem q.
he feita no seu dia anniversario, será entregue a V. M.ce
por
Francisco Melitão Barbosa, Escrivão da dita Charrua, e
José

da encommenda da Quina, he hum Caixote com á


portador q.
— 420 —

— Marrocos —, o estimarei chegue ás suas


marca qual q.

mãos livre da humidade, e em bom estado.

Ahi será também entregue a V. M.ce outra Carta minha

nosso visinho Anacleto, do Sitio da Boa Hora, hoje


pelo q.

sahio no Correio Marítimo, e acaso encontrei no dia 2


q. por

do corrente. Não me tendo elle nem avisado da


procurado,

sua chegada, não me animei a visita-lo ; e devendo aquelle

encontro ao acaso, foi talvez esse motivo elle se despe-


por q.

dio de mim no dia 7 a horas de Secretaria, onde lhe agradeci

aquelle seu attencioso : com tudo tendo-se-me offerecido


passo

a levar V. M.ce Carta minha, não a boa occasião,


para perdi

escrevendo-lhe com data do mesmo dia 2, cuja Carta lhe re-

metti a Casa do seu Irmão Raynaldo, onde elle residia, com

hum bilhete de recommendação a respeito da sua entrega.

Quando tiver opportunidade de e Navio seguro,


portador

enviarei a V. M.ce huma de aqui tenho


porção papel, q. junto,

V. M.ce se servir delle me escrever, me


para quando pois pa-

rece he semelhante falta V. M.ce se não extende nas


q. por q.

suas Cartas, ou se não tem escrever-me com mais


q. proposto

frequencia ; bem entendido elle não aos Emolu-


q. pertence

mentos da Secretaria, como V. M.ce suppõe, ser mui regu-


por

lar o fornecimento desta Repartição : sendo ainda menos ver-

a< sua de haver aqui Official, escreva —


dadeira affirmativa q.

De Creto -, eq. sem merecimento lucre com os interesses da

mesma Secretaria ; devo dizer a V. M.ce em abono da


pois

verdade, em nenhuma outra tem havido huma escolha tão


q.

rigorosa de Officiaes, como nesta, onde eu


(exceptuando-me

e outro não digo) todos são tão dignos e hábeis,


q. q. podem

sem occupar Lugares ainda mais distinctos;


preferencia

accrescendo outra o viverem com toda a seriedade, e


por parte

honra, e decencia, fazendo-se respeitar a si e aos seus Empre-

Seria mais e acertado aquella nota se di-


gos. pois justo que

rigisse a outra onde talvez se achasse melhor appUcação.


parte,

O nosso Amigo e meu Collega Antonio Pereira ha muito

me não escreve, em resposta a algumas Cartas minhas, o


q. q.

sinto : e apezar do trabalho, lhe supponho nessa Se-


grande q.

cretaria, e em empregue de tempo, com tudo


q. grande parte

sempre lhe sobejaria algum arranjar hüa Cartinha ; sendo


para

certo me dá nisso muito


q. gosto.
— 421 —

Finalizo esta desejando a V. M.ce saúde, e a mi-


perfeita

nha Mãy continuas melhoras o seu completo restabelle-


para

cimento, e ficando m.to certo na continuação de suas bênçãos :

e me recommendo affectuosamente á Mana e Tia. Sou

De V. M.ce

Filho M.to obed.e e obg.d0 C.

Luiz dos S.tos Marrocos


Joaquim

CARTA N.M65

Rio de 15 de
Jan.ro

Junho de 1820.

Meu Pay e S.r do C. O trabalho, em


prezadissimo q.

tenho estado envolvido estes últimos dias, não me deo lugar

escrever a V. M.ce Navio Viajante, sahio a 12


para pelo que
,do corrente ; e agora mesmo, tendo a noite toda a es-
perdido
crever, apenas fazer esta brevíssima, remettendo a V.
posso
M.ce o Aviso incluso com o seu Requerimento o Lugar de
p.a
Bibliothecario da Patriarchal, teve bom êxito, e V. M.ce
q.
conhecerá acertei com o arranjo do Requerimento, da forma
q.
vai, assim era Deos lhe a virtude ; e
q. pois preciso. ponha
o caso ajudará com a Informação favoravel.

Por esta mesma Charrua escrevo a V. M.ce outra mais

extensa, avulsa Correio ; alem de outra, vai mão


pelo q. por
de Francisco Melitão Barbosa, Escrivão da d.a Charrua,
José

e portador do Caixote da Quina.

Pode ao Professor Manoel Francisco de Olivei-


participar

ra, a Consulta da da Directoria dos Estudos a seu


que Junta
respeito veio contraria e negativa á sua ; e S. Mag.e
pertensão
conformou-se com o da fundando-se a Sua Re-
parecer Junta,
solução em não se lhe deve conferir a Propriedade da Cadei-
q.
ra, sem o Proprietário ou morra, ou seja tudo na
q. jubilado ;

forma dos artigos especificados na sua Provisão : e isto mes-


— —
422

mo se havia tratado em outra Consulta mais antiga, cuja


data me não lembra.

Não mais. Sou


posso

De V. M.ce

Filho m.to obed.e e obg.do C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaquim

CARTA N.° 166

Rio de 6 de
Janeiro

de 1820.
Julho

Meu Pay e Snr. do C. Depois da chegada


prezadissimo

da Nau Vasco da Gama no dia 15 de Abril, recebi


pela qual

a ultima Carta de V. M.ce, tem entrado neste mais alguns


porto

Navios, sem elles se tenhão satisfeito as minhas espe-


que por

ranças, nem diminuído o meu cuidado : huma Carta de


pois

Antonio Simões recebida há dias, dando-me noticia de


poucos

toda a nossa familia, e especialmente de algumas melhoras da

Mãy, apenas me tirou da total ignorancia, em me conser-


que

vava, a naturalmente me inclina a attribuir a escassez


qual

das suas Cartas á falta de saúde.

Pela Charrua S. Magnanimo, daqui sahio a 17


João que

de escrevi a V. M.ce mui extensamente sobre objectos


Junho,

importantes ; e sem embargo de ser ella remettido o novo


por

Despacho do Snr. Principal Freire, como verá de huma das

Gazetas inclusas, com tudo não me adiantei a fazer


participa-

alguma dito Navio, ser matéria de segredo naquella


ção pelo por

occasião, e ser conveniente lhe chegasse a noticia via


que por

do Governo, antes ; e assim se


que por qualquer pessoa pra-

ticou com alguns outros Despachos, com este se remet-


que

terão, os estavão ahi : foi esse motivo


quaes já públicos por

ficou em silencio aquelle objecto na minha ultima Carta,


que

ao vou agora supprir, rogando a V. M.ce dar ao


que queira

dito Snr. Principal Freire com os seus os meus


parabéns, por

ter mais esta occasião de ficar certo da distincta Benevolencia

de S. Ma.g.e, e singular consideração sua Pessoa.


pela

423

Também me alegro muito com o Despacho do P.e Fran-

cisco Carreira, a V. M.ce se dignará de dar da mi-


José quem

ilha os devidos também


parte parabéns, participando-lhe que

ainda aqui não chegou a Consulta, lhe diz respeito, sobre


que

o Beneficio de Povos, segundo as informações, tenho. A


que

Carta Regia, lhe vai remettida Expediente,


que pertence, pelo

e deve na Secretaria ; não tempo


procura-la pois quiz perder

em o servir aproveitar este Navio : e sua causa, assim


para por

como de outros conhecidos do Bairro, me incumbi de aprom-

o Despacho inteiro da Patriarchal e Basílica, se redu-


ptar q.

zio a 35 Cartas Regias.

V. M.oe terá a bondade de entregar o Aviso incluso ao

nosso visinho Anacleto, do Sitio da Boa Hora, o na oc-


qual,

casião de despedir-se de mim, me rogou a expedição


prompta

dos seus Requerimentos ; e neste V. M.ce certifi-


ponto pode

ca-lo da minha boa vontade em o obsequiar : alem de o


pois
•achar
muito velho e acabado, me a sua de
parece pertensão
toda a
justiça.

Creio será ahi de muita satisfação tudo o faz objecto


que

do Alvará de 30 de Maio de remetto incluso hum


(82), que

exemplar, beneficio delle resulta ; havendo toda


pelo geral, que
a esperança de apoz estas ora se dão,
que providencias, que
irão a succedendo outras, melhorem cada vez
pouco pouco que

mais as nossas circunstancias ; o estado actual das


já que
cousas não esta metamorfose, se não
permitte gradualmente,
com muita e não dar brado. O dito
parcimônia prudência, por

Alvará ficou muito errado, como V. M.ce verá, apezar de estar

exacto o original de minha letra ; e não foi remettido


pela
Charrua, se achar na impressão, sem embargo de ter a
por
data mais anterior.

Nós temos com algum incommodo, em razão de


passado
defluxos, tem havido nesta Casa ; e á excepção das suas
q.
duas Netas, todos tem sido attacados, e eu mais todos
q. ; po-
rem, a Deos, vamos resistindo, e nunca o mal seja
graças,

(82) José Paulo de Figueiroa Nabuco Araújo, Legislação Brasileira, tomo


III, ps. 81/82. Tomava providências sobre a entrada de vinhos estrangeiros, aguar-
dente, azeite, cereais, sal,, peixes, etc., ampliando o alvará de 25 de Abril de 1818 ;
determinava que a aguardente de consumo nas cidades, vilas e povoações do Brasil
pagasse mais um direito de 8$000 por pipa de 180 medidas, excetuadas dessa impo-
sição as províncias do Rio Grande de São Pedro, Santa Catarina, São Paulo e Mato
Grosso; e abolia a imposição chamada subsidio militar de 640 réis por cabeça de
gado vacum, que se pagava nas Províncias do Ceará, Rio Grande do Norte. Paraíba
e Pernambuco.
— 424 —

maior. Anna agradece muito as suas recommendações, e re~

tribúe igualmente, como he seu dever, fazendo comigo, e


parte

com toda a familia ao fim de receber-mos as suas bênçãos e

da Mãy, a desejamos melhoras : sendo da


quem perfeitas

mesma sorte mui especial a nossa recommendação com a


para

Mana e Tia, de sempre affectuosamente nos recordamos.


quem

Sou com todo o respeito

De V. M.ce

Filho m.to obed.e e obg.d0 V.or

Luiz dos Santos Marrocos


Joaquim

CARTA N.° 167

Rio de 20 de
Jan.ro

Julho de 1820.

Meu Pay e S.r do C. Pelo Navio Carida-


prezadissimo

de, sahio deste a 16 do corrente, escrevi a V. M.ce;


q. porto
e não escrevi infeliz Correio Marítimo, Infante D. Se-
pelo
bastião, sahio hoje, não haver matéria nova, de tão
q. por q.

proximo occorresse ; agora faço esta, ha de ir no


porem q.
Navio Aurora, a V. M.ce não ter recebido Carta
participando
alguma sua Paquete Inglez, aqui chegou no mesmo dia
pelo q.
16 com escala Lisboa, trazendo dahi Despachos do Gover-
por
no e Mallas do Correio ; continuando mim a este respei-
para
to as mesmas trevas, de me tenho a V. M.ce
q. já queixado
desde 15 de Abril.

Desejo V. M.ce tenha saúde,


q. gozado perfeita e
que
minha Mãy se haja restabellecido com o beneficio da estação

mais benigna e saudavel ; não diminuir-se


pois q. pode jámais
o meu cuidado, á vista de tão razões, continuam.te
poderosas q.
o trazem inquieto : e folgarei muito de a Mana e Tia des-
q.
fructem da melhor disposição, mui certas da minha constante

amizade. Nos menos mal, no meio de huma


passamos con-

tenda de defluxos, nas idades menores tem sido menos


q. com-
— 425 —

felices não de remedios


plicados, julgando-nos por passarmos

caseiros : eu vejo-me em circunstancias,


porem peiores pois

sendo-me necessário, em razão do meu temperamento sangui-

neo-bilioso, tomar vomitorios de seis em seis mezes, ou


pelo

menos, de anno a anno ; não sou senhor de mim ficar em


p.a
casa e furtar-me ao trabalho hum de dias, a fim de
por par

evitar meio deste alguma repetição


por preservativo paralitica,
menos me levará o outro ouvido, me não faça
q. pelo quando

estrago maior.

Ficando muito certo no favor de suas bênçãos, e da Mãy,

continúo a sou
protestar q.

De V. M.ce

Filho m.to obed.e e obg.do V.or

Luiz Joaq.m dos S.toS Marrocos

CARTA N.° 168

Rio de 19
Janeiro

de Agosto de 1820.

Meu Pay e Snr. do C. Recebi com data de


prezadissimo
2 de a sua ultima Carta, na me
Junho passado qual participa
não ter respondido a algumas das minhas, depois da sahida

da Nau Vasco desse se dignou remetter-me a


porto, pela qual
caixinha das flores mão do filho do Marquez de Sabugosa,
por
a cujo respeito respondi a V. M.ce ; e agora tórno a agrade-

cer. Também me haver recebido a ultima,


participa quantia

para a qual daqui mandei ordem a Payzinho e me serve de


;

a irregularid.e V. M.ce me diz notára no Bi-


grande pezar que
lhete, aqui dei a meu Companheiro Picanço, e de costume
q. q.
se regista no Livro da sua correspondência, cujo fim só
para
serve, sendo-me mui extranho se fizesse remessa delle,
q. tão

inútil, como imprópria, e da só então fui sciente,


qual re-
q.do
cebi a sua Carta ; ser certo áquelle respeito só era
por q. res-

ponsavel a Picanço, a aquelle titulo, e não a Pay-


q.m passava
zinho, lhe não servir de nada, o remetteo outra vez.
q. por Se
— 426 —

V. M.ce entende a mencionada irregularid.e consiste em fal"


q.

tar no d.° Bilhete a — O Snr. —, sem hum só


palavra perder
momento vou este modo, não de outro, dar a
por já q. posso
V. M.ce a satisfação devida, e desculpa da
pedindo-lhe perdão
dita falta, ser involuntária e mui alheia de sinistro sentido ;
por
não só huma continua observação me fazia
pois q. persuadir
nada resultar de deslustre, humiliação, ou falta de res-
q. pode

á a se dirige o tratamento, mas menos ad-


peito pessoa, q.m q.
missivel de reparo he esse uso nos feitos em ausência
papeis
da mesma e apparecer em ou na
pessoa, q. podem publico,
de S. Mag.e : he tanto em sentido contrario
presença por q.
me improprio e incompetente o tratamento de — Snr. —,
parece

V. M.ce me dá nos seus recibos, se conhece com eviden-


q. pois
cia ser aq.la trazida á força e arrastada, adulterando
palavra

talvez a singeleza, deve suppor-se nas suas expressões ;


q.
sendo certo mais me honra hum — tu —
q. proferido sua
pela
bocca, inda seja á vista do Mundo inteiro, ser esta a lin-
q. por
do coração, e o tratamento só conhece o Amor
guagem q. pa-
terno, do hum — V. M.ce — secco
q. e esteril, inteiramente
q.
repugna á boa intelligencia de Pay e filho, e a natureza a
q.
seu respeito desconhece. Não mencionando aqui as reflexões,

se me suscitarão, a respeito da desculpa, V. M.ce deo ao


q. q.
Clérigo, se achava e este objecto será
q. presente, p.a quem
talvez ainda mais complicado, do o será a intelligencia
q. do

seu Breviario ; bem como a respeito do V. M.ce me commu-


q.
nica relativo ás maldições do Snr. Rey D. IV; resta-me
João
só fazer certa a V. M.oe a minha satisfação estar
por inteira-

mente embolçada a Sociedade Philopatrica do


producto da sua

Obra, como V. M.ce me nesta sua ultima


participa Carta. He

mim mui sensivel e triste a noticia, recebo, da


para q. continua-

ção da moléstia de minha Mãy, eu esperava diminuísse algum


q.
tanto com a influencia da estação mas V.
passada, q. M.ce me

faz considerar n'hum extremo de augmento,


ponto e fóra de

toda a esperança de cura : Deos conhece a força de meu sen-

timento ; e dar-lhe o seu valor até me falta


para a força da ex-

presão. Também sinto a Mana continúe a


q. padecer os in-

commodos, V. M.ce me refere, desejando-lhe


q. hum
perfeito
restabellecimento ; e me admiro de V. M.ce não désse a ver-
q.
dadeira intelligencia ao eu a seu respeito
q. disse na m.u ex-

tensa Carta de Agosto do anno


passado ; não me
pois parti-
cipando ella nada relativo a seus trabalhos, forão as m.ma&
— 427 —

expressões e idéas nascidas da minha amizade, e reconheci-

mento ao aturado íncommodo, comigo tinha ; sendo-me sem-


q.
agradaveis as suas fortunas.
pre

V. M.ce se dignará de dar os meus sentimentos ao Snr.

Dor Farinha continuação da sua moléstia ; em fim


pela q.
se vive sem o soccorro da Medicina, não he
quando pequena
ventura ; basta ser Sciencia fundada em
pois probabilidades.
A 22 do mez aqui me finalmente
passado procurou Joaq.m
Antonio de Lemos Seixas Castello Branco, e me entregou a

sua Carta, tem a data de 18 de : aqui o tenho ser-


q. Janeiro

vido como na expedição de seus Papeis, toda-


posso prompta q.
via me mui fóra de em alguns artigos.
parecem proposito

Nós sem novidade, e nos encommendamos m.to


passamos
na sua amizade e bênçãos, bem como da May, a
protecção,

incessantem.te desejamos completas melhoras, e nos fa-


quem

zemos mui lembrados á Mana e Tia com affectuosas saúda-

des. E sou

De V. M,ce

Filho m.t0 obed.e e obg.do C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaq.m
P. S.

Rógo a V. M.ce o favor de fazer entregar o Aviso adjun-

to ao nosso Compadre Simões, fazendo-lhe saber eu recebi


q.
a sua Carta de 3 de de cujo conteúdo fico sciente, e a
Junho, q.
não respondo agora não tenho tempo
por q.

CARTA N.° 169

Rio de 30 de
Jan.ro

Agosto de 1820.

Meu Pay e S.r do C. Pelo Navio Lusitano,


prezadissimo
sahio deste a 23 do corrente, escrevi a V. M.ce a
que porto
minha ultima em resposta á V. M.ce também ultimo me
que por
dirigio ; acompanhando hum Aviso relativo ao nosso Com-

Simões : e tendo há tres dias sahido daqui hum Bri-


padre

gue, denominado Visconde de S. Lourenço, tão rapidamente,

nem eu tive com antecipação noticia alguma da sua sahida,


q.
— 428 —

nem mesmo esta se soube na Secretaria, se mandarem


para
elle Despachos do costume; não escrevi, como tenho de
por

não interromper a minha correspondência.


prevenção, para

Estimo V. M.ce saúde, e minha Mãy


que góze perfeita q.
tenha resistido á de suas moléstias ;
gravidade pois quando
Deos não o seu inteiro restabellecimento, se dignará
permitta

dar-lhe forças supportar e vencer esse flagello, conser-


para
vando-a com vida e conformidade : desejo também minha
q.
Mana se ache melhor, e me recommendo muito, assim como a

minha Tia, com affectuosas saudades. Nós vamos


passando
menos mal, ha tempos vivo aliviado de meus antigos e
pois q.
costumados incommodos : suas netas também vão crescendo,

e com saúde, e a mais caminha solta, apezar da sua


pequena já
curta idade, ter completado hum anno a 13 do corrente.
por

Remetto a V. M.ce essas Gazetas, se fazem importantes


q.

pelas relações dos Despachos, contêm, os se


q. quaes publicão

por esse modo, serem constantes aos


para pertendentes, quan-
do talvez outro meio não lhes chegar á noticia com
por possão
mais brevidade ; e he o mesmo ahi d'antes se
q. praticava.
Ficando muito certo no favor de suas bênçãos, e da May :

continúo a sou com todo o respeito


protestar q.

De V. M.ce

Filho m.t0 obed.e e obg.do C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaq.m

P. S. Hontem chegou hum Navio de Lisboa, com 83 dias

de viagem. Ainda lhe não sei o nome ; mas só sei foi rou~
q.
bado dos Corsários, e tanto nem Cartas trouxe.
por

CARTA N.° 170

Rio de 3 de
Jan.ro

Setembro de 1820.

Meu prezadissimo Pay e S.r do C. Pelo Correio Mari-

timo, Princeza Real, sahio no 1.° deste mez, escrevi a V.


q.

M.ce ; e agora aproveito a occasião da sahida desta Escuna

Confidente, affirmão ser m.t0 veloz, a V.


q. participando

•v
— 429 —

no dia 29 do mez chegou a este o Ber-


M.ce q. passado porto

S. Voador, com a longa viagem de 83 dias, o


gantim José qual

sem embargo de ser roubado hum Corsário de Buenos


por

Ayres, salvar a mala das Cartas, mas não trouxe alguma


pôde

de V. M.ce.

Nada se offerece de novo a communicar a V. M.ce se não

se acha S. A. a Princeza Real, a Deos não tenha


q. gravida q.ra

algum transtorno, como varias vezes lhe tem succedido :


por

S. Mag.e acha-se melhor do incommodo da sua onde


perna, por

esta vez espaço de tempo.


padeceo por grande

Estamos á espera do Conde de Palmella tomar


(83), p.a

conta da Secretaria de Estado, lhe compete ; apezar


que pois

da incessante fadiga, a se dá o S.r Thomaz Antonio


que para

conservar em dia o Expediente, com tudo não se negar ser


pode

o trabalho em duas Repartições, onde a mui-


quasi-invencível

tiplicid.e e de negocios se vão augmentando a


gravid.e ponto

incrível. Remetto a V. M.ce essa das minhas Propinas,


porção

V. M.ce ir ajuntando ás suas Collecções, e os Navios,


p.a para
. forem sahindo, irei remettendo mais em
q. pequenas porções,

misturando as modernas com as antigas, eu aqui conservara ;


q.

assim como as Gazetas, onde se relações de Des-


publicarem

pachos.

Desejo a V. M.ce saúde, á Mãy todas as melho-


perfeita
ras, com o favor das suas bênçãos ; e á Mana e Tia iguaes

bens, com a certeza da nossa const.e amizade : e sou

De V. M.ce

Filho m.t0 aff." e obg.do C.

Luiz dos S.tos Marrocos


Joaq.m

"No
(83) dia Sabbado 23 do corrente mez entrou neste Porto a Corveta de

guerra Austríaca, Carolina. Commandante o Capitão de Fragata Paltel, com 40 dias


de viagem de Gibraltar, tendo tocado de passagem na Ilha da Madeira, e na Bahia :
esta Corveta, que se destina para a China, para onde leva o Cônsul Austríaco o Se-
nhor Wats. trouxe-nos não só o Senhor Barão de Sturmer, que vem residir nesta
Corte com o caracter de Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciario de Sua
Magestade o Imperador de Áustria, mas também o Excellentissimo Conde de Pai-
mella já nomeado por Sua Magestade El-Rei Nosso Senhor, Seu Ministro e Secretario
de Estado dos Negocios Estrangeiros e da Guerra, Sua Excellencia havia sahido de
Lisboa a 6 de Outubro. | aliás Novembro] passado no Paquete Mohtagu. mas esta
embarcação, abrindo agora alguns dias depois da sua sahida, foi obrigada a arribar
a Gilbraltar, onde Sua Excellencia passou para a Corveta Carolina, que obsequiosa-
mente lhe foi alli offerecida o transportar a esta Corte." — Gazeta do Rio de
para
Janeiro, de 27 de Dezembro de 1820.

v
— —
430

CARTA N." 171

Rio de 15 de
Jan.r°

Setembro de 1820.

Meu Pay e S.r do C. Pela Charrua Prin-


prezadissimo

cipe Real, sahio daqui antehontem, escrevi a V. M.ce


q. pela

mala do Correio a minha ultima, inda breve, acompanha-


q.

da de Papeis, enviava a V. M.ce ajuntar ás suas Col-


q. para

lecções, e cujas remessas irei continuando a


pouco pouco, por

não avultar muito nos Correios. Tem chegado a este


porto

vários Navios, V. M.ce se não tem dignado escre-


pelos quaes

ver-me, e tivemos o desgosto de vermos entrar o Berg.m S.

Voador roubado, segundo creio a V. M.ce.


José q. já participei

Estimarei tenha ahi chegado o Navio Conde de Peni-


q. já

che, hia muito importante, e elle enviava eu a V. M.oe


q. por

huns Avisos 2.as Vias, de summa consequencia ;


já por pois

tendo sahido deste o d° Navio muito bem, correo noti-


porto

cia de ter arribado ao Maranhão com agua aberta : fico m.*0

certo V. M.ce me responderá logo sobre os objectos lhe


q. q.

erão dirigidos, eu aqui satisfazer ao se me incumbio.


para q.

Estimo V. M.ce tenha feliz saúde, e ma


q. gozado q.

Mãy vá sentindo todas as melhoras, lhe desejamos,


q. pois

estamos muito certos da sua amizade, e hão de continuar


q.

a favorecer-nos com as suas bênçãos : recommendamo-nos

m.to á Mana e Tia, a igualmente desejamos a melhor saúde :


q.m

e nós, tendo sem novidA nos offerecemos ao seu


passado

serviço ; sendo

De V. M.<e

Filho m.t0 obed.® e obg.^ C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaq.m

P. S. Muitas recommendações ao S.r D.or Farinha.


CARTA N.° 172

Rio de 17
Janeiro

dé Setembro de 1820.

Meu Pay e Snr. do C. Tendo escripto


prezadissimo já

a V. M.ce este mesmo Navio outra Cartinha avulsa na


por

mala do Correio, me resolvi accrescentar mais esta com os

Papeis adjuntos, aproveitando a opportunidade do Sacco dos

Despachos da Secretaria ; inda V. M.ce se de


pois q. queixa

receber as minhas Cartas, vão este expediente, com


q. por

demora de dias, não deixar servir-me algu-


grande posso ^le
mas vezes de semelhante meio, assim o exige a impor-
por q.

tancia das mesmas Cartas, assim mais segurança ;


procurando

o não succede se remettem avulsas Correio,


q. quando pelo

não he ellas responsável, excepto vão seguras :


q. por quando

eu recommendei ao nosso Am.0 Antonio Pereira todo o


cuidado em mandar entregar as Cartas a V. M.ce sem


perda

de tempo, com suas vistas he me utilizo do Sacco da


pois q.

Secretaria ; e á despeza, V. M.ce me refere, ter


quanto q.

feito com os devo dizer a V. M.ce ser isso effeito


portadores,

da sua os Correios das Secretarias devendo


generosidade, pois

estar o Serviço, a forem mandados, não de-


promptos para q.

vem isentar-se de servir em a Official, ten-


particular qualquer

do certo de taes obséquios depende muitas vezes a for-


por q.

tuna e contemplação dos mesmos Correios : eu não sei o cos-

tume introduzido ahi nas Secretarias a este respeito ; mas aqui

ou os Ajudantes do Porteiro, ou as Ordenanças (q. são Sar-

de Cavallo ás ordens das Secret.as de Estado) não só


gentos

servem no ao Expediente das Ordens da Secreta-


q. pertence
ria, mas a dos Officiaes em tudo os chama-
qualquer para q.
rem, o devendo-se reputar obséquio, está introduzido como
q.

das suas obrigações.


parte

Li há em huma das Gazetas de Lisboa estarem


pouco já
24 Números da Obra dos Varões Illustres, o total-
públicos q.
mente me admirou, V. M.ce há muito^tempo esse
por passar
objecto em silencio, sabe o nisso me interésso :
quando quanto
— 432 —

estimo as importâncias daqui remettidas tenhão servido


q. para

o augmento da Obra, nenhum modo deve ; e


q. por paralizar

se os últimos exemplares, aqui existem,


quando passarem q.

remetterei esse resto.

Hontem de madrugada falleceo repentinamente o Núncio,

Arcebispo de Damieta tinha resolvido não tornar


(84), q. jà

mais a Roma, inda S. Santid.!* o elevasse ao Cardinalato,


q.

e nesse intuito andava cuidando no estabelecimento de sua

Casa nesta Corte.

Amanhã faz annos o S.r Thomaz Antonio, cujo mo-


por

tivo Rodrigo Pinto Guedes faz hum explendido banquete,


para

o se acha convidada muita gente


qual graúda.

S. A. a Princeza Real acha-se com mezes da sua


quatro

nos dá boas esperanças de terminar felizmente


gravidez, q.

cuidado, com se está tratando, sendo certo os ante-


pelo q. q.

riores desmanchos forão da falta de cautella e


procedidos

regularidade.

Nós sem novidade, e suas netas vão crescen-


passamos

do consideravelm.1*1: Maria Thereza diz não ser Ca-


q. quer

rioca, e ir a Lisboa ver o Avô, e a maninha ha de


q. quer q.

ficar com Mamãy. Continuo a a V. M.ce a ma


protestar

obed.a, mui confiado em suas bênçãos e da Mãy, desejando-

lhes muito feliz saúde, e recommendando-me como devo, ser


por

De V. M.ce

Filho m.t0 rever.tel e obg.d0 C.

Luiz dos S.tos Marrocos


Joaq.m

"O
(84) Excellentissimo e Reverendissimo Monsenhor João Francisco Com-

pagnoni Marefosíhi, das Excellentissimas Cazas do& Duques de Boyana, e Condes


de Villa Magna, de Possulano e Ponte Curone, Prelado Doméstico de Sua Santidade,
Assistente ao Solio Pontifício, Referendario de Ambas as Assignaturas, Protonotario
Apostolico, Grão Cruz da Ordem de Christo, Cavalleiro da de S. João de Jerusalem,
Arcebispo de Damieta, e Núncio Apostolico de Sua Santidade nestes Reinos e Se-
nhorios, com poderes de Legado de Latere, falleceu a I hora e 25 minutos da Manhã

do dia 17 do corrente, de huma apoplexia, que o attacou ás 3 horas da tarde do dia

e lhe administrassem os Sacramentos da Pe-


antecedente, que apenas permittio que se
nitencia e Extrema Unção. de idade de 63 annos menos 5 dias. Era Prelado ha 43

annos. Foi Ministro de varias Congregações de Roma, e ultimamente Clérigo da

Camara, e Prefeito dos Arquivos. A sua vida politica foi sempre distinta por cons-
tantes de virtude. No Numero seguinte descreveremos o seu funeral, por
provas
não caber no tempo ser referido neste.' — Gazeta do Rio de ]aneiro, de 20 de Setem-

bro de 1820. — Na Gazeta de 23 de Setembro ocorre a descrição bastante desenvol-

vida dos funerais do Núncio Marefoschi.


CARTA N.° 173

Rio de 27 de
Jan,ro

Setembro de 1820.

Meu Pay e S.r do C. Estando sahir


prezadissimo para

deste ámanhã a Escuna Nynfa, não deixo de me apro-


porto

veitar da occasião, dirigir a V. M.ce estas negrinhas,


para par-

ticipando chegou aqui ultimamente o Navio Visconde de


q.

Monte Alegre sem me trazer Cartas de V. M.ce, as


quaes já

me faltão há muito tempo : esta razão continuão as minhas


por

e ainda vivo opprimido de muito trabalhar, faço


queixas, q.

toda a diligencia me não escape Navio algum, sem


para q. q.
leve Carta minha, sendo o objecto dar e receber no-
principal
ticias. Estimo V. M.ce saúde, e minha
q. góze perfeita q.
Mãy se ache melhor da sua moléstia ; a Mana e
grande que
Tia também disfructem o mesmo bem. Nós menos
passamos
mal, se não contem certos incommodos, ou hum ou
quando q.
outro dia se e costume se não extranhão. To-
padece, q. pelo
dos nos recommendamos muito, ficando mui confiados na sua

amizade e bênçãos, assim como da Mãy ; sendo com toda a

veneração

De
V. M.ce

Filho m.to obed.161 e obg.do C.

Luiz dos S.tos Marrocos


Joaq.m
P. S. Remetto as Gazetas ultimas mais importantes.

CARTA N.° 174

Rio de 26 de
Janeiro

Março de 1821.

Meu Pay e Snr. do C. Tendo-me V. M.00


prezadissimo

privado totalmente da satisfação das suas Cartas, e noticias

de toda a nossa familia, e isso de todo aban-


julgando-me por
— 434 —

donado da sua lembrança, sem saber a causa de tão extraordi-

nario ; tenho suspendido algum tempo a


procedimento por

minha correspondência ; visto esta se fazia inútil, por


que

não ter merecido de V. M.ce a mais breve consideração as


para

suas respostas : e entregando-me todo ás minhas reflexões,

de nada me tem accusado a minha consciência no he rela-


que

tivo ao cumprimento de minhas obrigações ; ficando-me o sen-

timento inexplicável de V. M,ce haja remettido ao desprezo


q.

todos os objectos, a se referião as minhas ultimas Cartas,


que

sem outro resultado mais a minha vergonha, e talvez


que que

a minha responsabilidade. Neste estado tenho


permanecido

e continúo a viver, confuso nas minhas ideas, e suspenso nas

minhas resoluções, esperando só V. M.ce algum dia ter-


que

mine este meu desgosto, até se augmentá mais com a se-


que

mim da maior violência.


guinte participação, para

Remettendo-me Fr. de Maria a continuação


João Jesus

da Obra dos Varões Illustres, me escreveo em data de 10 de

Agosto do anno dizendo-me V. M.ce só lhe havia


passado, que

feito entrega de 60$000 reis do da Venda da dita


producto

Obra nesta Cferte : demorei a minha resposta, esperando


que
V. M.ce me explicasse esse enigma ; mas não recebendo mais

Carta alguma de V. M.ce desde 2 de do anno


Junho passado,

e chegando agora ás minhas mãos outra Carta do dito Padre,

fiquei abatido de desgosto, me repetir V. M.ce nada


por que

mais havia entregue. Neste caso tão melindroso do


julguei
meu dever o obstar a opiniões desagrada-
justificar-me, para
veis, offendessem a minha honra e verdade; e isso
que por
enviei ao dito Padre os tres Recibos, o Off.al da Secret.8,
que
Payzinho, me remetteo, relativos ás entregou a
quantias, que
V. M.ee, e erão destinadas a Sociedade : e com esta
que para
intelligencia V. M.ce como for satisfa-
procederá justo para

ção daquellas
quantias.

Suspendendo agora, não desagradar mais a V. M.cef


por
o tratar de tantos outros objectos, V. M.ce sabe, e não
que que
são de menos importancia ; desejo V. M.ce
que possúa perfeita
saúde, e minha Mãy tenha melhoras : nós sem
que passamos
novidade, e nos encommendamos nas suas bênçãos, sendo como

devo com todo o respeito

DeV. M.ce

Filho m.to obed.ft e obg.ã° C.

Luiz dos Santos Marrocos


Joaquim
— 435 —

P. S. Aproveito esta occasião a V. M.ee


para participar

S. Mag.*1 Houve bem o Lugar de


que por promover-me para

Encarregado da Direcção e Arranjamento das Suas R. Biblio-

thecas, com o Ordenado annual de 500$000 r.s.

CARTA N.° 175

Minha Mana do C. Serve esta de a


participar-te q,.

10 deste mez, dia de S. Francisco de Borja, se baptizou tua

sobrinha na Freguezia de S. desta Cidade, e foi seu Pa-


José

drinho o Marquez de Torres Novas, e Protectora N. S.ra

d Assumpção. Como ella nasceo a 13 de Agosto, anteves-

do dia, em se festeja este Mistério da S.ra, e em hum


pera que

dos dias da sua Novena, acertado os


julgou-se pôrem-se-lhe

nomes de Maria Luiza d'Assumpção Marrocos : he


preciso

te advirta sendo aquelle acto celebrado com toda a de-


q. q.

cencia e fausto, todas as despezas forão mim suppridas,


por

sem intervenção de aftjuma alheia, em


generosidade q. jámais

consinto.

Tenho esperado Carta tua em algum dos muitos Na-


por

vios, aqui tem chegado, mas inúteis são as minhas esperan-


q.

ças, sendo certo o meu cuidado e diligencia em escrever,


q.

apezar de meus trabalhos, não ser outro excedido.


pode por

Estimo m.1'0 a tua saúde, e sou m.*0 deveras

Teu Mano .am.^ e obg.do'

Luiz.

Acceita vivas recommendações de Anna.


x

CARTA N.° 176

Minha rica Manna do meu C.

Eu bem dividir-me em bocadinhos agradecer a


quizera pa
todas as os favores, me fazem ; mas he tal a minha
pessoas q.
situação, até me falta o tempo cumprir com o devo.
q. pa q.
— 436 —

Fallo assim ; não estou nas circunstancias de formar


por q.

hüa Carta, como a tua tem ; bem entendi-


paxorra produzido

do eu m.t0 e m.10 dellas, e até andou aqui mãos de


q. gostei por

algüas Senhoras bem de Doutoras. Huma destas,


presumidas

a eu mostrei hüa das tuas Cartas, ficou de cahido


quem queixo

ao le-la ; e depois de acabar, disse-me : He toda boa ! Esta

Nhánházinha esptime-se muito bem ! E eu logo lhe respondi :

Sim, minha Senhora, expréme-se com toda a Não


facilidade.

te esqueças de me mandar alguns desses Testamentos, mas

não crêas eu sou Manoel Braz Chegou o tem-


q. Çapateiro.

dos maiores calores, me fazem vestir no dia 3 e 4 cami-


po q.

zas, e todas as besbelhoteiras destas Cariocas não se tirão das

a banharem-se a meudo, apagarem as chammas,


gamellas pa

em ardem. Eu ando tão enfrascado nesta fedentina,


q. q.

até tènho catinga, e tomára carid.^ me dei-


julgo q. já q. por
tassem daqui fóra Lisboa. Quando eu tiver tempo cuidar
pa pa

em couzas taes, hei de mandar-te húa Collecção de Modinhas,'

aqui cantão estas Sinházinhas com todos os requebros e ma-


q.

caquices de tal casta.

Manda-me dizer como está D. Marianna Victoria : eu

escrevi-lhe búa Carta, dando-lhe resposta do ella me in-


q.
cumbio, e não sei se lhe foi entregue.

Sou de todo o coração >

I.r m.1® am.te

Luiz.

CARTA N.° 177

Minha Mana do C. Há muito tempo não vejo letras


q.
tuas em resposta ás minhas, de em daqui
q. quando quando
tenho enviado, e de certo não são Tenho visto
q. já poucas.
com razão ellas te são importunas, e taes não merecem
q. por
a ou a civilid.6 de resposta. Parece estou ouvindo as
pena q.
tuas expressões ao ler as m.as e na maior força do teu
queixas,
desafogo, romperes nestas :
palavras
"Estou
marimbando ! Quer agora o S.r eu esteja de
"paxorra q.
armada escrever-lhe, e aturar as suas imper-
pa pa
— 437 —

"tinencias
! Não me tem feito favor algum, nem me alcançou
"a
Tença, lhe mandei lembrar, comò tem os filhos de fulano
q.
"e
sicrano ; não me tem alcançado o foro de Criada do Paço,
"nem
mim tem dado algum ; e eu esteja
por passo quer q.
"com
a sécca de escrever-lhe ! Pois não ? Tenho mais
que
"fazer,
e tenho outros cuidados, a devo attender mais. Re-
q.
"gale-se
lá, e não tenha o incommodo comigo".
por

Sentirei muito de ser a causa desta tua conclusão ; pois

nunca foi intento meu mortificar alguém ; e vendo entretanto o

teu dilatado silencio, sou obrigado a suspender com as m.as

Cartas a impertinencia, a violentam.te te has dado.


q.

Desejo-te a melhor saúde e as maiores felicidades : e sou

com a estima poâsivel

Teu aff.° Mano do C.

Luiz.

CARTA N.° 178

Minha Manna de todo o meu C. Tenho ulti-


querida

mamente recebido duas Cartas tuas de 22 e 23 de Novembro

lido hum milhão de vezes sem me fa-


passado,4iavendo-as já
tigar. Considera, alma devota, tal he o fatacaz de ami-
que
zade, me atravessa de meio a meio ? Agradeço-te todas
que

as tuas finezas, e as bem claras demonstrações do se


quanto
emprega à tua affeição em obsequiar-me, ficando na certeza

de não serão frustradas, logo a ma fortuna me


q. q. permittir
ser-te util.

Recebi a tua encommenda do maço de linhas, assim como

os novelos vierão adjuntos : agradece á Mãy da ma


que parte
o seu mimo, e deste agradecimento reserva ti aquella
para
te he devida, teu trabalho, lembrança e ;
parte, q. pelo paxorra
receio muito em razão deste obséquio ficassem em des-
pois q.
arranjo. As tuas linhas dei-as de á D. Anna do
presente
Cabo ; lhe sou muito obrigado, me trata a mH roupa
pois por q.
muito bem, e muito barato de Lisboa, e tudo o
pelo preço q.
he costura não me leva dinheiro algum, antes he de não
graça,
obstantes as m.as diligencias em : e eu em re-
querer pagar
— —
438

tribuição ensino a Sobrinha delia a ler e escrever, vai


q. já

muito adiantada : ella tem tido aqui alguma fortuna,


pelo

muito tem a fazer.


q.

A respeito das encommendas, enviar-me se


q. queres pa

venderem aqui, ficar na certeza de cuidarei muito


podes q.

na sua extracção ; tudo o são enfeites de Senhoras


pois q.

tem aqui muita sahida, ha muito luxo ; mas advirto-te q.


pois

não mandes chapeos ou toucados semelhantes, he de


por q.

incommodo o seu transporte, ser couza de


grande por pouco

e muito volume : e essa razão deves meditar na es-


pezo, por

colha dos enfeites, como são ramos de flores, anneis,


grinaldas,

brincos, e tudo o mais de enfeites, for


pulseiras, q. preparado

de seda, ou outra de volume, como


qualquer'droga pouco por

exemplo, laços chapeos de todas as azues e ver-


pa grandezas,

melhos, e também todos destes uzão até os Cie-


pretos, por q.

rigos ; e também dos laços feitos de destes se


panno, por q.

a uzar agora : manda também meias feitas, linha em


principia
meada, ou novelos, ou negalhos. Hum amigo meu trouxe de

Lisboa hüa condeça cheia de de fittas Francezas, e


peças pe-

dindo-me lhas Senhoras do Paço, encarre-


q. passasse pelas

da sua venda, e tendo-lhe feito mais de cin-


guei-me ganhar
coenta moedas. Daqui as tuas encommendas.
podes julgar
Alem disto íleves acautelar-te no modo de encaixtrtar tuda;

menor volume, melhor ; e se o Pay obter


por q. quanto podér

algum Capitão traga isso como fato seu, será melhor


q. q.
tudo, se livrar dos Direitos da Alfandega. Também ha
para
mais couzas ahi de custo, se vendem aqui bem, como
pouco q.
são nozes, amêndoas, figos e de uvas,
passados, passas q.
tudo isto aqui he estimado e m.*0 caro. Se chegar a
puderes
isso, manda, eu serei o vendedor. Mas não mandes couza
q.

algüa, sem trazer os seus mais baixos, eu aqui cal-


preços para
cular com os da terra, e faze-los subir o mais for
q. possível.
Parece-me nada mais he dizer-te a este respeito, e
q. preciso
fica na certeza da ma boa vontade, esperando D.s nos
q.

Ajudará.

Sou com toda a amizade teu

Manno m.10 am.te e obg.do

Luiz.

P. S. Entrei agora na Loteria com 3 Bilhetes, associado

com outro Amigo. Queira D.8 não a despeza.


perca
CARTA N.° 179

Minha riquinha Bernardina do meu C. Como a Sorte

me obrigou a ser di cá, lá vai o Sinhor di lá. Leve o Diabo


semelhante lingua hum Páiz, onde reina a moleza e'a


; pois

até no fallar ha somno!


preguiça,

O estimo he tenhas bem, e não


que q. passado que queiras

ser carioca, na ma opinião o mesmo ser o Diabo em


pois jie q.

carne. Eu aqui estou aturando requebros e desdens, eu


q.

curava com mas aqui até o sonhar he crime.


quatro pontapés,

Creio tenho melhores obras e também creio


q. q. palavras,

não és capaz de me na mesma moeda, de


q. pagares porem

modo fica certa da minha amizade, não he menor


qualquer q.

do tu julgar.
q. podes

Aqui chegou Conrado na Fragatinha Benjamim, com


José

agoa aberta, mas com 51 dias de viagem : tomára eu hum disso

Lisboa : o mesmo Conrado trouxe-me hüa Carta do


pa José

Compadre Simões : Dá lembranças a elle e diz-lhe eu não


q.

me esqueço do seu neg.°, e tudo se faz com tempo.


q.

A Comadre, o meu afilhado, e a Ignez não fiquem no

tinteiro. Sou deveras

I.r m.t0 am.te

Luiz.

Dá saud.6*5 á Medéa.

CARTA N.° 180

13 de Novembro.

Minha Manna do C. Faço esta com muita raiva contra

ti; vejo não tens de branca :


por q. que palavra gente pois

na ultima, me escreveste ha tantos annos, escre-


que promettias
ver-me mais a meudo em todos os Navios, dahi sahissem ;
q.
— —
440

e fim tem sido tantas as tuas occupações, as


por q. promessas

ficarão no tinteiro, e eu fiquei a esperar até hoje.

dia 8 do corrente mez, em completaste os teus 25


No q.

não deixei de os solemnizar com segundo cópo de vinho,


annos,

e mandei dar ao meu muleque saltos e marradas


quatro quatro

na : elle se com o seu vestido domingueiro,


parede preparou

rapou a carapinha, limpou os dentes, engraixou o focinho, e

ficou tão bonito, o Diabo.


q. parecia

Entre muitas Cartas, o Tio Major Luiz Fer-


q. Joaq.m

nandes me tem escrevido, sem ver húa só minha, me affirma

n'híúa a Tia Mauricia tinha ido com tigo ficar a sua Casa
que

huns de dias verem a Procissão do Corpo de


poucos para

Deos. Fez-me expectação tal visita, e falsa, elle


julguei-a por

ser costumado a mentir.

Saudades a todas as raparigas do nosso conhecimento ;

as daqui não : e olha sem ser brincadeira sou


pois prestão q.

Teu Manno do C.

Luiz.

CARTA N.o 181

Minha Manna do C. Pelo Navio Aurora recebi


querida

hüa tua dada á luz no Palacio da Casa e signal


grande por q.

era couza borrada, conforme te exprimes ; ainda eu sempre


q.

tive. o costume de affastar as minhas letradices de taes pre-

sentes, logo me offendem o nariz.


pois

Fico sciente de me communicas assim como de


quanto

noticias e reflexões, e com estes carinhos eu, tendo


poderia

formar hü bom de tomos ao Baculo Pastoral,


paxorra, par por

ser obra de monstruosidades místicas e curiosas, e não ficarião

no tinteiro os milagres do S.t0 Bispo e seus Confrades Vene-

raveis.

Dizes-me se espalhára ahi noticia de me ter cazado :

melhor sorte me dê Deos !. Pois só duas razões cahirei


por

nesse pego, isto he, ou interesse, ou bestial


por grandíssimo pcv
cegueira, e neste caso, meu ensino, dou a todos licença me
pa
— 441 —

azorraguem sem alma nem consciência. Por duas vezes se

me tem offerecido essa desgraçada vantagem, e eu com ár


de respondi acceitava o offerecimento


graça q. promptamente

só com hüa condição uzada há muito em Portugal com as Cria-

das de servir, isto he, vir a futura Consorte minha casa


para

o mez a contento ; e se me agradasse no fim do


primeiro jus-

tado tempo, concluir-se a empreza. São tão asnos, não


q.

concordar comigo, e eu fico isso com sen-


querem por grande

timento ; de outro modo, estou velho e calvo, sem


pois já

dizer das bogas.

Não acabar esta Carta sem te dar hüa interessante


quero

noticia, e he dar-te a ti, e ao Pay a respeito


que já posso quináos

de saber tomar a meias ; tem sido tal o meu estudo


pontos pois

e trabalho, estou constituído Mestre nesse ramo


q. jubilado

economico doméstico. Se o Pay visse hum tomado


pontinho

minha benta unha, e assentado com o nariz esborrachado


pela

do meu Preto, exclamaria : Oh tempo das amoras ! Quem

dissera em dia da maior na Corte do Rio de


q. gala Janeiro

se ha de apresentar entre hum fedelho com calças


gente grossa

de meia apontoadas ! Não tenhas inveja,


primorosamente por

nos virmos, eu te ensinarei esse importante segredo.


q. quando

Não me extender mais, tenho medo de re-


posso por q.

bentar. Sou com todo o affecto

De V. R."13

Manno e Manninho

L.

CARTA N.° 182

Minha Mana do C. Há dias recebi hüa tua, adjunta ás

do Pay e Mãy, estimei muito todo o seu conteúdo.


que por

Se me não engano, no mez de Fevereiro escrevi hüa Carta ao

Pay, não então escrever mais, depois da tormentosa


por poder

moléstia, me sobreveio em Dezembro, e estava ori-


que que já

dous ou tres mezes antes, cuja relação lhe fiz como


ginada pude,

e não sei se lá chegaria, até nisso o infortúnio me


por que per-

segue. Agora mais tenho a dizer, ainda me acho


pouco pois
— —
442

surdo do ouvido esquerdo ; e os Médicos me consolarem,


para

me dizem como eu não estou ainda em idade avançada, he


que
muito de esperar recobre o ouvir delle com o volver do
que
tempo : vista do olho esquerdo, e essa muito convulsa,
pouca

e vigor no mesmo lado do corpo, na ca-


pouco principalmente

beça, ainda sinto agora mais algum, do ao


que que principio.
No Io dia de Março tive húa vertigem, me fez cahir na
que
rua, e fiquei como morto, e com a ferido no braço es-
quéda

; continuando estas, ainda nem sempre tão


querdo que gran-
des : e ultimo tenho soffrido tres sangrias baixas, de cada
por
vez com seis sanguisugas, e custando-me cada húa destas a 960

r.s, de cujas sangrias sahio sangue negro, e da de


grossura
melaço.

Suspendendo o fio deste triste da minha saúde e


quadro
situação, deixo á tua reflexão combinares a ma alma
quanto
tem com fisicos e moraes, há huns de
padecido golpes poucos
mezes. Sinto-me muito abatido, e aborrecido de ma vida,

tem sido tão amofinada, e me tira todo o socego e


que que
desaffogo cuidar no me cumpre e desejo.
para que

Não tenho ora mais occasião de me alongar nesta


por
Carta, em te asseguro, como devo, os da ma ami-
que protéstos
zade sincera, sem reservas, e sem os termos superficiaes da

móda, como deveras

Teu Ir. affect.0 e obg.d0

Luiz.

CARTA N.° 183

Minha Mana do C. Depois de correr espaço de


grande

tempo, sem receber Carta alguma tua, finalm.te hum navio,


por

aqui não chegou, veio ter á minha mão, menos es-


q. quando

esta, a respondo agora, agradécendo-te a sinceri-


perava, q.

dade de tuas expressões, acreditando os motivos da tua


justos

falta de escrita, e correspondendo igualmente com aquellas-

demonstrações, sempre conheces-te, de minha amizade.


que
— 443 —

Há tempos nesta Casa carregarão mais as moléstias,


que

como ao Pay nas m.as ultimas ; sendo cousa notável


já participei

nunca se disfructa aqui saúde em ao mesmo


que geral, pois

tempo se no diário com a comida, dispende-se não


q. gasta

menos com a Botica ; e ainda de semana em semana se


que

sinta algum alivio, não he este duradouro, mas hum


prelúdio

se experimentar outra refrega, ou igual, ou Tua


para peior.

Sobrinha esteve a morrer com febres catarráes, mas


próxima

escapou, e agora se acha batalhando com os dentes, o nos


q.

dá muito trabalho sua rabugem. Finalmente ha muito, em


por

nos entretamos, mas me alegre, e dê satisfação ;


q. pouco que

e só digo não mentio affirmou o Rio de


que quem que Janeiro

se acha collocado em sima do Inferno, de cujos horrores está

continuamente fazem a nossa destruição.


participando, q.

Fico sciente de todas as noticias, me das


que participas,

algumas aqui forão constantes, inda referidas


quaes q. por

muitos e differentes modos, cumprindo-se nisso o nosso adagio.

Anna recebeo com m.to a tua Carta e a da Mãy, a


prazer q.

responderá na occasião, e entretanto agradece os


prim.ra para-

bens, lhe dás, nosso augmento de familia, e não menos


q. pelo

o conselho do não tenho até en-


pandeiro, para q. geito, pois

forquei a : recommendando-me também te


guitarra pa q. peça

me mandes algum seguro huma de semen-


por portador porção

tes de flores, das vires são bonitas, e em venhão


q. q. q.

algúas raizes de flores de ella semear e dispor


quaresma, para

no destas casas, não he feio, e faz o seu recreio.


jardim q. q.

Como eu sei ahi não haverá difficuldade em se alcançarem


q.

as d.®8 sementes sua abundancia em toda a isso


pela parte, por
te importuno com esta encommenda ; não, fazia ouvi-
quando

dos de mercador : aqui há dellas tanta se faz


pois penúria, q.

grande estimação das flores, ahi nascem á tõa campo,


q. pelo
e de,q. se não faz caso, com os Devem vir
pizando-as pés.

m.*0 resguardadas, não receberem a humid.e do mar.


pa

Sou deveras

Mano m.t0 aff.° e obg.do

Luiz.
— 444 —

CARTA N.° 184

Minha Mana do C. Não sei te escrevi a ultima


quando
Carta, haver dirigido depois delia algumas simplesmente
por

ao Pay ; e he isso de em repito estas


por q. quando quando
regras dar e receber noticias. Acabo de sahir da cama
para
iscado da epidemia, ha de 3 mezes tem affligido esta
q. perto
Cid.e; e os mais desta ainda não tanto,
Çasa padecerão, que
não terem motivo de blasonarem.
para

Anna deo á luz, no dia 8 do corrente, hum menino,


q.
seíndo baptizado no dia 15 faleceo a 19 do mal, chamão
q.
mal de sete dias, ou corrupção do embigo, era m.10 lindo, e foi

pena nascer carioca : eu destinava-o ser o desfastio da


para
Tia, mas agora nós o estamos sendo delle.

Não explicar-te a abundancia e fartura das fazen-


posso
das, e Francezas, tem inundado esta Cid.e,
quinquiJherias q.
fazendo negaças ao dinheiro : se não vê fazendas Inglezas,

todas tem sido abandonadas, e toda a se vê ataviada
q. gente
ao Francez, menos eu sou Portugal Velho, e ninguém
gosto q.
me tira desta scisma. Este se vê coalhado de Navios
porto
Francezes, só no mez entrarão 29 carregados de
q. passado
bugiarias : creio evitar esta enxorrada
porem q., pa perniciosa,
vão a levantar-se os Direitos d' Alfandega de todas as merca-

dorias extrangeiras a 40 cento do seu valor real. Há


por dias

se fez húa tomadia a hum Francez de fazendas saccadas


que

occultam.te aos Direitos, avaliados em 80 mil cruzados, e se-

gundo a Ley, he obrigado a tres vezes o seu valor mas


pagar ;
ha de ter a felicid.1® de se lhe esta condemnação,
perdoar por
ser extrangeiro.

Ainda estou esperando respostas tuas a algúas Cartas,

daqui te tenho enviado, incluídas nas do Pay,


q. e estou há
muito tempo com as desconfianças de se
q. hajão
perdido;
nem tenho recebido as ditas respostas a ellas, nem
pois o Pay

me aponta have-las recebido, se não outras mais antigas.

He o se segue de húa distancia immensa, há


que q. entre
nós, e da desordem,-em existem os Correios
q. desta e dessa

Cidade.
— 445 —

Desejo-te saúde. e leres estas


perfeita, pachorra para

arengas, he o desafogo de vive desterrado, e oppri-


q. quem

mido de injustiças, só conto algúa felicid.e em haver ser-


pois

vido a outrem.

Sou deveras e com o maior


gosto.

Teu Mano m.to aff.° e obg.do

Luiz.

P. S.

Saud.es m.to vivas e affectuosas á Tia Mauricia, de


quem

estou também esperando resposta.

CARTA N.° 185

Minha Mana do C. Depois tive o ataque de


que paraly-

zia com huma febre biliosa, no fim do anno duas


passado, por
vezes somente tenho escripto ; a ao Pay, e a segunda
primeira
a toda a nossa família, acompanhada com outras de Anna,
que
fazia em resposta ás ultimas, dahi vierão. De nénhúa
que

dellas ainda tive resposta, e não sei se a minha segunda ahi

chegaria, não me lembro se foi Navio Grão Pará,


por que pelo

infelizmente cahio na mão de Corsários, ainda não são


que que
Argelinos, são Argentinos ; e se assim foi, com
perdeo-se
as mais.

Por causa da minha convalescença e residencia fora da

terra, não tenho repetido as minhas Cartas, e devo affirmar-

te ainda não estou bom de todo, alem de ficar


que por que
surdo sempre do ouvido esquerdo, fiquei muito debilitado
para

da cabeça, e isso vou agora a enter segunda vez nos ba-


por
nhos de mar. Apezar de todo o meu transtorno, sempre me

offereço ao trabalho, e agora com mais empenho, até de todo

me desampararem as forças, vista a Mercê recebi ha dias,


que
sem a esperar nem de Official da Secretaria de Es-
pertender,
tado dos Negocios do Reino. Desejo
que possuas perfeita
saúde, e vivas na certeza, ainda mal acreditada, de
que que que
sou com todo o affecto

Teu I.r am.te e obg.110

O Luiz
— —
446

P. S. Recebe saud.0*5 de Anna, e £U as mando igualm.te

aos nossos conhecimentos, e visinhanças.

CARTA N.° 186

Minha Mana do C. Serve esta de como se


participar-te,

fosse huma visita de cumprimento, no dia memorável sete


q.

do corrente, em nesta Corte se celébra a Chegada da R.


q.

Família, chegou a este Mundo, sem vir do outro, húa menina,

Anna deo á luz felizmente. Com effeito as bocas crescem


q.

nesta Casa, mas não vejo verificado o adagio das velhas, de

nascendo hum filho, apparece mais hum ; não


q. pão pois

se come, se se não compra.

Tenho feito os meus cumprimentos, e me não


parece q.

estão fóra de : estou cançado, e ainda estou á es-


proposito

da resposta de outras anteced.tes, te tenho escripto, e


pera q.

a não tens dado novas de ti.


q.

Sou com todo o


gosto
Teu Mano aff.° e V.or

Luiz.

P. S.

Recommendações á Tia, e recebe-as também de Anna.

Terminam, com esta, as cartas existentes na Biblioteca da

Ajuda, escritas Luiz dos Santos Marrocos a sua


por Joaquim

familia.
NOTA

No decorrer da leitura destas copias, encontram-se bas-

tantes escritas fôrmas diversas, taes como :


palavras por

Pachorra e — Castello Branco e Castellobranco


paxorra

— — e Extrangeiros ¦— cousas
Manna e Mana Estrangeiros

— ¦— algxias e algumas — Snr.


e couzas e
paralyzia paralisia

e S.r ¦— e muitas outras, alem da assinatura vezes apa-


que por

rece com os nomes de e Santos em abreviatura e


Joaquim por

extenso. E' assim está nas cartas originais.


que

Faz-se esta referencia a hipótese de st^supôr


prevendo-se

falta de cuidado na copia das ditas cartas.


ÍNDICE
— 108. Almeida, Mateus Pereira de — 263.
Abbiati

Abrantes, Frei Antônio Batista •— 145. Almeida Malheiros, Bacharel Lourenço

147. Arrochela Vieira de —• 41.

Abrantes e Castro, Dr. Bernardo José Almeida de Melo e Castro, D. João


de -— 42. de — V. Galveas, Conde das.

Abreu. Antônio Maria de — 398, 401. Alvarenga — 148.

Abreu Frõis, Antônio de — 398, 401. ¦—


Alvarenga, Patrício 216.
Acciayoli — 71.
(Monsenhor) Alvares, Pedro — 144.
José
Acioli de Cerqueira e Silva, Inácio —
Álvares, Manuel — 159.
(Cirurgião)
54, 190. —
Álvares de Almeida, José Egidio
Afonso Neto, Capitão de Fragata João V. Santo Amaro, Barão de.
— 270.
Alves, Manuel 225.
Aguiar, Conde e Marquês de — 35, 39,
Alvito, Marquês de .— 71.
48, 64, 71, 77, 87, 89, 96, 98, 103,
Anadeto - 418, 420, 423.
104, 107, 122, 131, 142, 143, 144,
Anadia, Visconde de 232.
145, 148, 161, 176, 181, 184, 189,
Andrada e Silva, Bonifácio de «—
José
193, 224, 225. 232, 241, 245, 246,
347, 406.
259, 263. 283, 291, 292. 310, 347.
Andrade, Lourenço de — 114.
— João
Aguiar, Marquesa de 201.
Andrade Coelho, Bernardo de —
- 130, 155, 198, José
Aguilar 71, 105, 196,
326, 335.
202.
Andrade Paizinho, Antônio da Silva
Alamiré, Barão de V. Portugal, Mar-
Freire de - 339, 373, 387. 389, 392,
cos Antônio.
400, 402.
Albuquerque e Amaral, Desembargador
Angeja, Marquês de — 39, 57, 133, 184.
Domingos Monteiro de — 161.
— Angeja, Marquesa de — 207.
Alcântara. Pedro de 121.
— Ana do Cabo - 91, 127, 139, 164,
Alegrete. Marquês de 173, 212.
¦— 165, 198, 265, 341, 344, 416. 437.
Alexandrino, João Pedro 36.
— Maria, Infanta D. —
Almada. Conde de 327, 350. Ana de Jesus

Almeida — 245. 239, 257.


(Monsenhor)
D. Francisco de —• 128, 129, Antônio, Infanta D. .— 235, 237.
Almeida,

138, 148. 176, 181, 207, 211, Antônio, Padre — 214.


137,

216. 260, 288, 394. Antônio (Cirurgião da Câmara)


João
- 32.
Almeida, Comendador João Rodrigues
Antônio Cândido, Padre — 291.
Pereira de ¦— 263. José

Almeida, Figueira de — 244, 246, Araújo Guimarães. Brigadeiro Manuel


José
Ferreira de — 315.
248.
-452 —

Arcos, Conde dos — 53, 63, 150, 181, Beresford, Lord Guilherme Carr — 101.

316. 108, 130, 224, 229, 238, 239. 242,

Arganil. Bispo Conde de — 81. 243, 280, 285.

Arrabida, Frei Antônio de — 37, 95, Bernadotte — 101.

97, 261, 274. Bernafdes, Manuel — 233.


(Médico)
Arrod, Conde de •— 288. —
Bernardino, Frei 126, 156.
Asseca. Visconde de «— 285. <—
Bernardo, Frei (de Belem) 42, 148,
Aveiras, Conde de — V. Vagos, Mar- 182.

quês de. Berry, Duque de — 272.

Aviller, Brigadeiro de — 272. —


Jorge Bertrand (Mme.) 78.

Avintes, Conde de — 259, 283, 304. —


Bexiga 157.

Azevedo. Conselheiro Joaquim José de Bezerra, —


João Paulo 128, 129, 181,
V. Rio-Seco, Barão e Visconde de.
232, 299.
Azevedo, D. Maria Madalena de —
Bispo Capelão Mor — V. Sousa Cou-
370. tinho, D. Caetano de.
José
Azevedo, Vicente Antônio de — 259.
Bocage — 158, 336.
285. —
Bonaparte 229, 231, 235. 244.
Azevedo de Araújo, Antônio de —• V.
Borba. Marquês de — 162, 168, 259.
Barca, Conde da. —
Borel (Livreiro) 56, 78.
Azevedo Coutinho, Marco Antônio de —
Borges — 60, 131.
99, 113. —
Borgmeier, Frei Tomaz, O. F. M. 47.
Bandeira, Manuel Martins ^ 115, 120.
Bourgeois, Roberto — 70, 161, 192.
João
Barbacena, Visconde de 244, 246.
Brito, Dr. Rodrigues de — 41.
João
Barbier, •— B. G. — 275.
J. •—
Brito, Luiz José de 71.
Barbosa, Francisco Melitão — 409,
José
Brito, Pedro Francisco Xavier de — 70,
410, 416, 419, 421.
95, 100, 134.
Barbosa Machado, Diogo — 99.
Brusco, — 399, 402.
— 39, 66, 79, 98, 103, João
Barca, Conde da
Buonaparte, Luiz — 61.
181, 185, 188, 191, 193, 208, 229,
Cabinda, Manuel Luiz — 74.
232, 233, 235, 238, 260, 310, 352.
Cadaval, Duque de — 288.
Barreiro, Conde do — 207, 259.
Cadaval, Duquesa de — 159, 166, 167,
Barreiro, Condessa do — 285.
— 288, 289.
Barros, Coronel Antônio Lopes de
Caetano, D. Frei 72.
293.
— Câmara. D. Manuel da •— 71.
Barros, Manuel Francisco de 208,

281, 288, 330. Câmara Coutinho, D. Gastão Fausto da

Bartolini, Antônio — 73, 78, 81, 88, 108. - 160.

Bartolozzi — 108, 130, 155. Cambiacci — 56.

Bastos, Francisco de Paula Xavier de Campo-Maior, Marquês de •— V. Be-

118. resford, Lord Guilherme Carr.

Bastos, Leonardo Gonçalves — 118. Canning. Lord <— 229.


José

Belas, Marquês de — 67, 75, 137, Cantagalo, Padre Manuel Carmelo

207, 284. Raimundo — 211.

Belas. Marquesa de — 163, 237, 259, Maria Isidro, Infante D. — 285.


Carlos

284. Carlota D. — 63, 72, 97, 111,


Joaquina,
Belens, Comendador Geraldo Carneiro 128. 130, 147, 165, 188, 189, 194,

263. t 208, 216, 227, 229, 233, 237, 239,

Belmonte, Conde de — 148, 162, 173, 242, 244, 247, 257, 260, 285, 306.

283, 284, 392. Capranica — 60, 343.


(Músico)
-453 -

Francisco Pimenta do Costa Cardoso, Bacharel João Xavier


Carmo, Padre

369. da - 41.
275, 288. 298,
— Costa Vasconcelos Maia, Plácido An-
Carneiro de Campos, José Joaquim
tônio Coelho da — 131, 142.
107.
Coutinho, Lino ~ 47.
Carneiro Leão, Comendador Fernando José
Cunha, D. Luiz da — 99, 113.
~ 50, 131. 263.
Cunha Barbosa, da — 192.
Carolina Leopoldina, D. Januário
Josefa (Àrqui-
Cunha Taborda, da — 415.
duquesa de Áustria e Princesa Real) José
Cunha Viana, Bento da — 336.
301. 304, 305, 306, 310, 316, 358. José
Custódio, Frei — 201.
374. 429, 432.
Damaso, Padre — 34, 35, 40,
'73, Joaquim
Carreira, Padre Francisco —
José
41, 71. 77, 98, 109, 128, 137, 267, 295.
88, 89, 114, 122. 134, 189, 244. 2%5,
296, 298, 299, 307, 310, 326, 328, 331,
246. 248. 363, 423.
336, 370, 374, 380. 387. 394, 398.
Carvalho. Antônio Pereira de — 398.
402, 405.
401.
Damião Antônio — 407, 419.
Carvalho, Bonifácio Gomes de — 403,
Dantas, Maria — 163.
José
404, 413.
Debret (Pintor) 289.
Carvalho, Vaz de — 190.
João —
Delgado Alvo, Bento Gomes 265.
Carvalho, Cirurgião de —
Joaquim José Dias, ¦—
Bento José 142.
390. —
Dias, Padre João 369.
Carvalho, Manuel Pinto de — 175,
José Dionisio — 56, 78. 158.
181.
Domingos Vicente, Padre — 405.
Carvalho e Melo, Henrique de. —
José Doutel, Frei — 398, 402.
José
V. Pombal, Marquês de. Dupot — 292.
(General)
Carvalho e Melo, Luiz de —
José Ega, Conde da 128, 148, 370.
399. 402. Escudeiro, Padre Antônio — 395.
José
Carvalho Quiroga, Domingos de — 124.
Euout, Nicolau Magloire ¦— 289.
Castro, D. de — 120. Farinha, — 114, 135.
João Dr. 51, 122, 133,

Castro, Bacharel de — 4. 169, 177, 189, 327, 390, 394. 397,


Joaquim José 245,

Castro, Bernardes de ¦— 48, 398, 400. 427, 430.


José
402. Feldner, Tenente Coronel Guilherme

Catão — 60. Cristiano — 359.

Cavalheiros, Conde de — 130, 142, 143, Feliciano — 100, 234.


(Barbeiro)
144, 162, 181, 208, 398, 402. Feliciano da Real Bi-
José (Servente
Cenáculo. D. Frei Manuel do — 356. blioteca) ~ 108, 123, 164, 194, 265,

Chiconi — 343. 341, 343. 416.

Cirilo, Frei — 280. Felix Cação — 158.


(Alfaiate)
Coelho, Maximiano —• 399, 402. Fernandes, Luiz — 117, 118.
José Joaquim
Conceição Veloso, Frei José Mariano da 268. 440.

46, 47, 166, 415. Fernandes Viana. Paulo — 95.

Visconde de — 216. Fernando 7.° - 200, 210, 212, 216, 235,


Condeixa,

Costa; Desidério Manuel da — 246, 237. 363.

248. 268, 288. Ferrão Castelbranco, Pedro Gomes

Costa. Domingos Rodrigues da <— 53.


José
264. Ferreira, •— 244.
José

Costa, Hipólito da — 42. Ferreira Castelo, Desembargador Ale-

¦— 261. xandre José — 355.


Costa. José da 163,

da — 270. Fidelli, Vicente Luiz de — 308, 395.


Costa Couto, 2." tenente José
454

Figueira, Condessa da •— 330. Gouveia, Tomaz Lui2 de — 131, 142.


Figueiredo (Organista) — 115. 144.

Figueiredo. Pedro Josí de — 415. Gouveia Pinto, Antônio de •—


Joaquim
Figueiroa Nabuco Arauio, Paulo 161, 169. 171, 175, 184, 185, 186,
José
de - 110. 423. 191, 356.
Foderé, François Emmanuel — 257. Guião. Desembargador Antônio ¦—
José
Fonseca, Antônio Isidoro da — 99. 355.

Forjaz, D. Miguel Pereira — 78. Guilherme Cipriano —


(Oficial-Maior)
Fortunato, Frei — 201. 66, 181.

Foyos. Padre Joaquim de •— 326. Guimarães, F. — 151.


Fragoso. Rodrigues — 175. Haydn (Músico) — 289.
José
Franklin. Francisco Nunes — 390. Henríques, José Anselmo Correia — 266.
França, Clemente Ferreira — 79, 164. 279.

Francisco de Paula — 117. Herrera, D. Nicolas — 102.

Fránzini — 103. Hugel, Barão de — 316.

Freire, Bernardim — 196, 198, 202. Inácio, Padre — 63.

Freire, Cipriano Ribeiro — 76, 78, 264. Inocêncio [Francisco da Silva] — 415.

Freire — 182, 263. 325, 329, Isabel Maria. Infanta D. — 272.


(Principal)
338, 388, 422. Isabelona — 41.

Freitas. ~ — 114. 394.


José Joaquim de 181. Jacinto

Funchal, Conde do — 103, 162, Jaime, Marquês D. 288.


173,
181. Jesus Maria, Frei de — 327, 388,
João
434.
Furtado de Mendonça, Capitão de Fra-
João, D. (Príncipe Regente e Rei) —
gata Antônio Maria — 270.
«^35-38, 40-42, 44, 45, 47, 49, 50. 52,
Furtado de Mendonça, Luiz Joaquim
54, 61. 63. 66, 71, 77, 80-84, 89, 92,
Duque Estrada — 262.
93, 95-97, 100, 102, 103, 108, 111. 112,
Galveas, Conde das — 76, 78, 80, 90x
116, 117, 122-124, 128, 132. 137,
.162, 184, 232, 233, 258.
143-145, 147, 148, 150, 159-163, 166,
Galveas, Conde das (D. Francisco de
172, 183, 185, 187, 193, 196, 199,
Almeida de Melo e Qastro) —- 357.
203, 204, 206, 208, 215, 216, 225,
Galveas, Condessa das — 216.
232. 235, 239, 240, 242, 244, 256.
Gama, Bacharel Miguel Marcelino da
259, 260-264, 266. 274. 276. 280,
— 41.
282-285, 291, 303, 304, 310, 311, 315.
Garampi (Núncio) — 292.
316, 320-322, 326, 336, 337, 339, 341,
Garcia, Monsenhor Antônio Pedro ~ '
343, 347, 358, 360, 362-364, 373, 382.
114, 234, 266.
390, 391, 395, 412, 413, 426. 429.
Garrau (Comissário francês) ~ 292.
Bernardo — 31,
João (Desembargador)
Garrocho, Pedro Antônio — 71, 88, 97,
33, 71. 73, 75. 78, 81. 120. 327.
99, 109, 135, 205.
de Deus — 88.
João (Músico)
Getrudes Contrabandista — 84.
João Diogo 37, 77.
Gonçalves, Comendador Marceli-
José ¦—
João Emídio 31, 40. 409, 410.
no — 47. 263, 322, 398, 402.
Evangelista, Padre — 295.
João
Gonçalves, Tomaz ~ 322.
Felipe — 71.
João
Gori — 60.
Lourenço — 89, 122, 154, 158, 189,
João
Gouveia, José Lopes de 69, 86, 130, 221, 334, 353, 394.
228. —
Joaquim, Frei 216.
Gouveia. Beneficiado Lúcio de ¦— Anselmo — 105, 140,
José Joaquim 145, 176,
131, 144, 169, 200, 266, 356, 395. 197.
— 455 —

Joaquim Felizardo — 31, 341. Machado —


(Monsenhor) 33, 38. 72,
José II (Imperador) — 292. 77, 207, 267.
José Antônio — 80, 84, 87, 90, 121. Magé, Viscondessa de — 323, 352.
José Antônio, Padre — 158. Magessi, Marechal Francisco de Paula
José Cândido (Capitão Tenente) 293.
391, 396.
Mandilo, Manuel — 295.
José Conrado — 59, 60, 64, 65, 91, 439. Manuel Braz Sapateiro — 436.
José Elói, Padre - 114. 275, 276, 292. Manuel Francisco (Professor) 73,
José Firmino — 45.
171.
José Francisco (Piloto) •— 404. Manuel da Gama] —
Jacinto [Nogueira
José ~ 206, 207.
Justino 107.
José Manuel — 204. —
Manuel Luiz (Médico) 67, 191, 233.
José Maria — 32. Manuel Venceslau, Cônego .—410.
José Tomaz — 31, 70, 76, 81. Marefoschi, Monsenhor Francisco
João
José Tibúrcio — 196, 205, 206, 340. X^ompagnoni, Núncio Apostólico, Car-
Jourdan, Dr. Antônio 130, 131, 142, -
deã* 304, 432.
144. —
Maria I, D. (Rainha) 80, 97, 132,
Junot (General) — 138. *> 258, 270, 271, 273, 286, 322.
Lacombe, Luiz —• 160. —
Maria Amália, D. 288.
Lafões, Duque de — 57, 159, 288. Maria'da Assunção, Infanta D. 272.
Lage, Camilo Martins •— 225. Maria Benedita, Infanta D. — 284.
Lavradio, Marquês de — 43, 207, 284, Maria Francisca, Infanta —
D. 216,
399, 402. 237, 239, 257, 271. 282, 284, 285.
Leal (Pai), Antônio Francisco — 398, Maria Francisca Benedita, Infanta D.
401. 143, 147, 207, 401.

Leal, Bacharel Francisco — 41. Maria da Glória. D., Princesa da


João Bei-
Le Breton, .— 289. ra — 359, 363, 365, 390,
Joaquim 394.
Lecor, Tenente General Carlos Frede- Maria Isabel, Infanta D. — 39, 168,
rico .— 272, 283. 188, 194, 237, 239, 257, 271, 282,
Lemos Seixas Castelobranco, 284, 285, 362.
Joaquim
Antônio de — 416, 427. Maria — 184.
Jacinta
Levei, Batista — 289. Maria Santíssima, Frei Bernardo de —
João
Libano — 65, 246, 346. 122. 129.

Lima (Jesuita) — 96. Maria Teresa, Infanta D. — 44, 52,


Lineu — 46. 70. 83, 111, 188, 229, 272, 316, 432.
Linhares, Conde de .— 66, 78, 84, 147, Marialva, Marquês de — 301.
181, 204, 232. Mariana, Infanta D. — 108, 128, 132,
Linhares, Condessa de — 67, 284. 133, 136. 143.

Lobo, Rodrigo — 245. Mariana Vitória, D. .— 436.

Loulé, Marquês de — 323, 343. Marrocos, Cônego Manuel Antônio —

Louzan, Conde da — 74, 260. 269.

Loyson (General francês) «— 121. Martin, Paulo — 71, 159, 161, 185.

Luiz 18." - 200, 229, 244. Martins, Cirurgião Antônio — 266.


João
Luiz, Padre — 49. Martins, Raimundo Antônio — 399, 402.
Luiz Carpinteiro — 34. Matos, Xavier de —• 214.
João
Luiz Francisco — 355, 364. Matos — 144, 176.
(Cônego)
Luxembourg, Duque de ¦— 283, 288. Mazzioti, Fortunato — 263.

Macedo, Padre Agostinho de — Mazzoni, Padre — 108, 137, 148,


José João
366, 268, 279, 336, 352. 164.
— 456 —

Melitão Álvares da Silva) — 31. Niza, Marquês de — 292.


(José
89, 98, 102. 104, 107, 108, 131, 162, Nóbrega ~ 73, 138, 283.
(Monsenhor)
241. Nolasco, Dr. Vicente Pedro de 42.

Melo, D. Francisco de — 111. Noronha e Camões, D. de — V.


José
Melo, Antônio de — 363. Ângeja, Marquês de.
José
Melo, Pedro de - 138, 226, 232. Oeiras, Conde de — V. Pombal. Mar-

Melo Breyner, Pedro de — 348, 373. de.


quês
Mendes dos Remédios — 268. Olanda, Francisco de .— 193, 347, 406.

Meneses •— 266. Olhão, Marquês de .— 259.


(Principal)
Meneses, Antônio Gerardo Curado de — Oliveira, Antônio de eleito
José (bispo
274. de Évora) — 361, 372, 373.
Meneses Alarcão, D. Pedro de — 390. Oliveira. de — 165. 194.
Joaquim
Meneses Corte-Real, Nuno da Silva Oliveira, Bach^l Luiz de — 41.
José
Telo de. — V. Vagos, Marquês de. Oliveira, Manuel Francisco de — 421.
Metternich, Príncipe de .— 316. Oliveira Gonçalves, D. Maria Angélica
Miguel, Infante D. — 143. 148, 162, de — 322.

169. 316, 334, 339, 390. Ovide ^Maquinista) — 289.

Miguel Luiz (Capitão) — 121. Pacity, Conde 316.

Miquelini, D. Ana «— 104. Paiva, Dr. Manuel Henriques


Joaquim
Miranda (Monsenhor Pedro Machado de — 42, 43.

de Miranda Malheiros) — 98, 103, Palmeirim — 244.


122, 245. Palmela, Conde de — 310, 429.

Mirandela, Visconde de — 399, 402. Paltel de Fragata) — 429.


(Capitão
Montalti, Conde — 56. Pantaleão, Frei •— 226.

Monteiro, Tobías — Í13. Pedro II, D. ^ 305.

Monteiro Guimarães, Antônio Francisco Pedro de Alcântara, Príncipe D. 160,


- 158, 175, 200, 267. 235, 305, 310, 334.

Montigny. Grandjean de — 289. Pedfro Carlos de Bourbon e Bragança,

Morais, Domingos de — 403. Infante 44, 52. 70, 80, 87 85.

Moreau (General) .— 102. 86, 89, 91, 92, 102.

Moreira Dias, Antônio — 120. Pedroso, Romão — 48, 89, 139.


José
Moreira Dias, Joaquim Inácio — 120. Penalva, Marquês de — 352.

Mosquera, José de Oliveira Pinto Bo- Pereira, Padre Antônio — 81.

telho - 398. 402. Pereira da Costa, Cláudio — 398,


José
Mota, Comendador Luiz da — 263. 402.
José
Mota de Azevedo, Bacharel da — Pereira da Cunha, Antpnio Luiz — 398.
José
41. 401.

Murat (General) .— 292. Pereira de Figueiredo, Antônio — 56,

Napion, General Carlos Antônio — 208. 73, 75, 78, 81, 89, 105, 114. 135, 312.

Napoleão — 101, 182. 314. 317, 318, 322, 327, 329. 339,

Neukhomm (Compositor de Música) — 420, 431.

289. Pereira Pinto, Conselheiro Antônio Fer-

Neves, Alexandre Antônio das — 32, 33, nando — 310.

49, 53, 55. 56, 81, 97, 193, 266, 339, Peres, Lourenço — 121.
José
347. 406, 407. Picanço, Correia — 143, 159, 339.
José
Neves, José Acúrcio das <— 159. Pilit •— 289.
(Curtidor)
Neves Portugal, Frei Inocêncio Antônio Pinheiro Ferreira, Silvestre — 96, 100.

das — 32, 147. 105. 133, 134, 256, 266, 267, 399,

Neveu, Barão de — 316. 402.


— 457 —

Pinto, Antônio Nascentes — 398, 401. Rodrigues Veloso, Dr. Antônio — 41.

Pinto Brandão, Tomaz — 93. Rosa. Ana — 105, 124, 126,


Joaquina
Pinto Guedes. Rodrigo — 432. 140, 146, 156, 220, 417.

Pio VI — 81. 292. Roy, Hipolite — 289.


(Papa)
Pio VII - 292. Roy. Luiz — 289.
(Papa) José
Pitaluga — 108. Sabugosa. Marquês de •— 130, 142. 144,
(Desembargador)
Pitt (Ministro inglês) — 113. 245, 246, 323, 363, 412, 418.

Pizarro — 72. Saint-Hilaire, Auguste de — 283.


(Brigadeiro)
Plácido — 102, 162. Saldanha e Albuquerque, Antão José
Pombal. Marquês de — 39, 67, 71, 75, de «— 370.
Joaquim
80, 83, 84, 90. Saldanha da Gama. Antônio de [depois
Pombeiro. Conde de — V. Belas, Mar- Conde de Porto Santo] — 162, 208,

quês de. 247. j


Ponte, Conde da — 207, 216. francês) — 292.
Saliceti (Comissário
Ponte. Condessa da — 207, 216, 260, Salter — 72.
288, 330. — 73.
Salvagem- (Cônego)
Portugal, D. Fernando de — V. Frei Francisco de — 263.
José Sampaio,
Aguiar, Conde e Marquês de. Ana, de — 228.
Santa Joaquim José
Portugal. D. Manuel de — 131, 144. de — 313.
Santa Ana, José
Portugal, Marcos Antônio — 42, 73, 89, de *— 313.
Santa Ana, Luiz
93, 103, 159, 160, 161, 162, 291. de — 356.
Santa Clara, Frei Joaquim
Portugal, Simão — 159. Chagas
Santa Teresa, Francisca das
Pradier (Gravador) — 289. - 218, 219.
de
Prihcipy, Carlos — 41. Visconde de — 88, 99. 114,
Santarém,
Proença, Nicolau Viegas de — 399, 402. 154. 208, 224, 261. 266, 281, 288.

Quintela (Vice-Almirante) ¦— 91. 293, 301, 330, 363.

Quiroga - 81. 117, 124, 156, 191. 197. Ana Maria de —


Santiago Sousa,
Raczynski, Conde A. — 406. 247, 253.
218/ 219, 234. 245,
Rademacker, Tenente-Coronel .— de 78, 89, 103,
João Santo Amaro. Barão
102. 191. 241, 259, 274, 286,
104, 185,
Rademacker, Bacharel Manuel Leocá- 320, 331. 394, 398, 401.
dio — 41. Ribeiro dos ^ 46.
Santos, Dr. Antônio
Redondo, Conde de. V. Borba. Mar- Santos. Capitão Tenente Antônio
João
quês de. dos ¦— 270.
Réu (Cônego) <— 131, 142. Santos, dos — 118, 174.
José
Ribeira-Grande, Conde da — 207, 398, Padre Luiz Gonçalves dos —
Santos,
401. 402. 239, 359.

Ribeiro. Inácio Antônio — 158. Santos, Capitão de Fragata Tristão Pie

Rio-Seco, Barão e Visconde de — 35, dos — 270.

39, 41, 64, 103, 104, 107, 109. 111, Frei de •— 36, 66.
São José, Joaquim
114, 154, 157. 172. 194, 207, 216, 343.

239. 242, 259, 285, 311. 316, 355, 364, Leopoldo, Visconde de — 102
São

370, 399. 402. São Lourenço, Barão de — 39, 64, 107.

Rocha, Monteiro da — 103, 407. Saraiva, Forte — 407.


José José
Rocha Couto Ribeiro, ou — Saraiva. Lopes (Servente da Real
José João José
245. Biblioteca) - 43, 49, 53, 164. 165, 189,

Rocha Lima. Manuel da — 190. 194, 302. '

Rodrigues Leitão, Padre Batista — Sarmento, Manuel — 352, 355.


João José
77. 120. 122, 149. Saturnino, Francisco Luiz — 267, 295.
— 458 —

Schouteid, Conde •— 316. Sousa Caldas, Dr. Padre Antônio Pe-

Scribot, Aleixo Nicolau — 81. reira de •— 192.

Seabra, de — 158. Sousa Coelho, Romualdo de (Bispo do


José
Seabra da Silva, de ~ 133. Pará) — 399, 401.
José
Sebastião, Infante D. — 52, 63, 83, Sousa Coutinho, D. Caetano de
José
109, 272, 316. 31, 42, 52, 322.

Sequeira, Comendador de Sousa Coutinho, D. Rodrigo de. — V.


Joaquim José
263. Linhares, Conde de.

Sequeira Freire, Ascenso de Sousa Coutinho Castelo — Branco e


(Governa-
dor da Ilha da Madeira) — 36, 135. Meneses, Tomé de — V. Bor-
£saé
Serra (Padre) - 32, 2-11. ba, Marquês de.

Serra, Francisco da •— 99. Sousa Dias, Comendador Luiz de —-


José
Sidney Smith (Almirante inglês) 182, 259, 263, 274, 286.

199. Sousa Lobo. Joaquim de — 398,


José
Sigismundo, Marquês D. .— 288. 402. '

Silva, Comendador Amaro Velho da Sousa Mursa, João de ¦— 219, 322, 398,
263, 398, 401. 402.

Silva, Antônio Teles da — 352. Sousa Mursa, José de 218, 219.

Silva, Diogo Duarte — 402. Sousa e Queiroz, Bernardo de —


José
Silva, Procópio da ~ 42. 160.
João
Silva, Manuel da — Stockler, Francisco de Borja Garção —
Teodoro 51.
Silva. Narciso Nepomuceno da — 399, 96, 159.

402. Strangford, Lord — 100, 163, 171, 181,


'
Silva, Rainaldo da 399, 402. 224, 225, 229. 264.
José
Silva Barros, da — 64. Stuart 56, 61.
José ^
Silva e Matos, Cônego Sturmer, Barão de — 429.
José Joaquim
Gomes da •—¦ 121, 370. Suchet (General) — 190.

Silva Neves, Sabino da — 399, Tamagnini, Dr. — 238.


Joaquim
402. Targini — V. S. Lourenço, Barão de.

Silva Pacheco, Capitão de Mar e Guer- Taunay (Escultor) — 289.

ra Francisco Antônio da — 270. Taunay (Pintor) ~ 289.

Silva Pacheco, Manuel da — 399, 402. Tedim — 305.


(Veador)

Silva Porto, Manuel da — 295. Teixeira, Padre — 166, 167.


Joaquim
Silva Ribeiro, Antônio Pedro da — 211. Teixeira, Padre Antônio Pedro — 73,

Silva Serva, Manuel Antônio da •— 48, 176, 407.

53, 339. Teixeira Lima, Domingos — 36,


José

Silveira, Matias da — 51. 45, 58,. 59. 60, 62. 65, 89.
José
Simões, Antônio — 33, 34, 57, 75, 115. Tadeu Ferreira, Simão — 31, 48, 70,

168, 180, 184, 228, 367, 397, 422, 427, 71, 161, 392, 295.

439. Teotônio, Beneficiado ¦— 121.

Soult — 190. Teresa - 114, 117, 134, 313, 341.


(General)
Sousa — 171, 192. Tintim — 56.
(Principal)

Sousa, D. Antônio Caetano de — 99. Torres — 148.

Sousa, Cândido de — Torres, Beneficiado Botelho — 434.


José 219. João
Sousa, Padre Cláudio de — 219. Torres Novas. Marquês de — 76, 389,
José
322. 399, 402, 435.

Sousa, Guilherme Cipriano de — 66, 70. Vagos, Marquês de .— 57, 67, 138, 145,

Sousa, Manuel de — 372, 394. 162. 172. 184.


Joaquim
403, 406. Valadares, Conde de — 162.
— 459 —

Valadares, D. Miguel — 155. 163. Vicente Paulino — 148.

Vale, Gomes do — 69. Vitória, Duque da — 161.


João
Vale, João Manuel Nunes do — 70. Viegas, Frei Gregório — 34, 60,
José
Vale, Luiz do — 100. 147.
José
Vale Cabral, A. do — 48, 159. Vieira, Manuel Mor) — 39, 51,
(Físico
Valença, Marquesa de — 98. 70, 103, 233, 244.

Vaiada, Marquês de — 181, 207, 259, Vigodet (Tenente General) — 212, 237,
261, 283. 284, 285, 304. 392. 244, 258, 259, 280, 282, 285.
"^Tomaz
Vaiada, Marquesa de — 284. Vila Nova Portugal. Antônio
Varejão, Álvares — 104, 176. de - 41, 71, 97, l|l, 298, 299, 300,
João
Varnhagen, F. A. de — 43, 54, 113, 307, 308, 310, 316, 382, 394, 429,
148, 150, 208, 305. 432.

Vasconcelos, Bernardo de — 122. Vila-Nova da Rainha, Visconde de —

Vasconcelos, Joaquim de — 406. 32, 37, 55, 57, 64, 95, 103, 108, 114,
Vasconcelos, Luiz de — 352, 378. 128, 138, 154, 155, 194, 203, 207,
Vasconcelos Barbosa de Magalhães, 216, 221, 260, 261, 288, 307, 323,

de Matos e — 158. 325, 352, 399, 402.


João
Vasconcelos e Sousa. de — V. Vilela, Luiz Duarte — 415.
José
Belas, marquês de. Wats (Cônsul austríaco) — 429.

Vergueiro, Marquês D. Francisco Nu- Wellesley —• 108.

nes Sanches Peres — 283, 284. Wellington, Lord — 196, 212.


Viana, Conde de — 193, 315. 330. 332. Willdenow alemão) — 46.
(Botânico
Vicente — 73. Wilson — 52.
(Cônego) (Inglês)
A BIBLIOTECA NACIONAL

EM 1934

RELATÓRIO

QUE AO

txmo. Sr. Dr. Gustavo Capanema, Ministro da Educação

e Saúde Pública apresentou em 15 de Fevereiro de 1935

0 DIRETOR

Rodolfo Garcia
Sr. Ministro

Em observância ao determina o artigo 7.°, alínea 27


que

do Regulamento da Biblioteca Nacional, tenho a honra de

apresentar a V. Ex. o relatório do movimento desta re-

durante o ano de 1934.


partição

PESSOAL

Nomeações

Agenor Gomes de Araújo foi nomeado servente


por
Decreto de 29 de Outubro.

Designação de contratados

Por Portarias de 24 de Abril, do Sr. Ministro da Edu-

cação e Saúde Pública foram designados o serviço de


para
conservação de livros : Djalma Pinto, Balbino Pinheiro,
José

e José Francisco Maurício. Djalma Pinto foi sorteado e

convocado, tendo se apresentado ao comando do 1»° R. I..

em 15 de Novembro.

Promoções

No decorrer do ano verificaram-se as seguintes


promo-

ções : Alfredo Mariano de Oliveira a Bibliotecário, Diretor

da 2.a Seção, Decreto de 30 de e outro De-


por Janeiro por
creto da mesma data Adolfo Câmara da Mota a Sub-biblio-

tecário, tendo ambos tomado em 2 do citado mês.


posse
Dispensa de Funções

Por ter sido a sub-bibliotecário, o oficial


promovido
Adolfo Câmara da Mota, foi de 17 de Feve-
por portaria
reiro, dispensado das funções de Tesoureiro.

Aposentadorias

Por Decreto de 24 de Setembro, e de acordo com o n.u 3

do artigo 170 da Constituição Federal, foram aposentados

Eugênio Teixeira de Macedo, Diretor da 3.* Seção ; José

Champion, mecânico eletricista e o Francisco


guarda José

Barreto.

Por Decreto de 10 de Dezembro, o Bibliotecário Diretor

da 2.a Seção Alfredo Mariano de Oliveira.

Por Decreto de 24 de Setembro, e invalides, o


por guar-
da Firmino da Silva Ramos.

Designações de serviço interno

Por de 31 de foi designado o Bacharel


portaria Janeiro,
Carlos Mariani, Diretor da l.a Seção, substituir o Di-
para

retor Geral nos seus impedimentos temporários.

Por de 17 de Fevereiro foi comissionado nas


portaria

funções de Tesoureiro o oficial Adolfo Martins Pe-


Jacome

reira Filho.

Por de 9 de Abril foram designados le-


portarias para
cionar no Curso de Biblioteconomia: o sub-bibliotecário

Emanuel Eduardo Gaudie Ley a cadeira de História Lite-

rária aplicada à Bibliografia, e o oficial Bacharel Bar-


José

tolo da Silva a cadeira de Paleografia e Diplomática.

Para chefiar a 3.a turma de serviço de domingo foi desig-

nado o sub-bibliotecário Adolfo Câmara da Mota,


por porta-
ria de 19 de Abril.

Para a concorrência do serviço de en-


presidir pública
cadernação, foi designado o sub-bibliotecário Bacharel Luiz

Corte-Real de Assunção, de 14 de Maio.


por portaria
\

-5-

Por outra de igual data foi designado o amanuense Álva-

ro Freitas dos Santos servir de secretário na concor-


para

rência acima mencionada.

O oficial Floriano Bicudo Teixeira foi designado,


por

de 10 de Outubro, lecionar a cadeira de Icono-


portaria para

ter sido aposentado o Diretor da 3." Seção.


grafia, por

Transferências

Augusto Cruz Machado, a turma do dia


guarda, para

e Artur Dias, a da noite. Portaria de 2 de


guarda, para

Janeiro.

Pedro Álvares Coutinho, oficial, da l.a Seção a


para

Secretaria. Portaria de 2 de Janeiro.

Adolfo Câmara da Mota, sub-bibliotecário, da Secreta-

ria a 4.a Seção. Portaria de 17 de Fevereiro.


para


Manuel d'Avila Godinho, auxiliar, da 4.a Seção
para

a Secretaria. Portaria de 21 de Fevereiro.

Rafael Lopes Ferraz, servente a turma do dia, e Ar-


para

mando Simeão dos Anjos, a da noite. Portaria de 24


para

de Fevereiro.

Carlos Moreira Guimarães, oficial, e Nunes


João José

Vieira, auxiliar, da 4.a turma de domingo a 5.a e Hugo


para

Capeto da Câmara, amanuense, desta aquela. Porta-


para

ria de 27 de Fevereiro.

Fernando de Oliveira, da Portaria


Justino guarda, para

a 3.a Seção e Augusto Cruz Machado desta aquela.


para
Portaria de 7 de Março.

Silvério ascensorista, da turma do dia a


Janiques, para

da noite. Portaria de 18 de Maio.

Tito Lívio de Matos, ascensorista da turma da noite

a do dia. Portaria de 18 de Maio.


para

Laudelino Pedro de Campos, auxiliar, da turma da noite

a do dia. Portaria de 9 de
para Junho.

Vicente Bretas Cupertino, servente, da turma da noite

a do dia. Portaria de 11 de
para Junho.
\
— 6

Antônio dc Sousa, servente, da turma do dia a da


para
noite. Portaria de 2 de
Julho.

Armando Simeão dos Anjos, servente, da turma da noite

a do dia. Portaria de 2 de
para Julho.

Asgal de Medeiros, amanuense, da 4.a Seção a l.\


para
Portaria de 12 de Julho.

Pedro Álvares Coutinho, oficial, da Secretaria a 1 .a


para
Seção. Portaria de 12 de
Julho.

Paulo de Toledo Castro, auxiliar, da l.a Seção a


para
Secretaria. Portaria de 4 de Dezembro.

a
Renato Paulo de Melo Barreto, amanuense, da I Se-

ção a 4.® Portaria de 6 de Dezembro.


para

Interinidade

Fernando Luiz Travassos, sub-bibliotecário, serviu de

Bibliotecário interino a de 1.° de Novembro


partir próximo

passado.

Elogios

Pelo Diretor Geral foram expedidas as seguintes por-

tarias de elogios :

Por de 23 de e determinação do
portaria Janeiro por
Sr. Ministro, ao Diretor da 1/ Seção, bacharel Carlos Ma-

riani, ao sub-bibliotecário Emanuel Eduardo Gaudie Ley

e ao oficial Floriano Bicudo Teixeira, muita


pela proficiência

com lecionaram as respectivas cadeiras do Curso de Bi-


que
blioteconomia, no ano de 1933.

Pela de 19 de Fevereiro ao sub-bibliotecário Adolfo Câ-

mara da Mota, ao deixar as funções de tesoureiro, exer-


que

ceu em comissão, durante 20 anos.

Pelas de 9 de Outubro ao Diretor da 3.a Seção, Sr. Eu-

Teixeira de Macedo ocasião de sua aposentadoria,


gênio por
inestimáveis serviços durante mais de 40
pelos prestados
anos ; ao mecânico eletricista Champion, também apo-
José

sentado, maneira com sempre se houve no desem-


pela que
de suas funções durante mais de 20 anos.
penho
Licenças

A Diretoria Geral concedeu as seguintes:

Ao auxiliar Paulo de Toledo Castro, de


por portarias
9 de Março e 6 de Agosto, ambas tratamento de saúde,
para

de 30 dias cada uma ;

ao amanuense Renato Paulo de Melo Barreto, de 90 dias,

para tratamento de saúde, de 2 de Maio ;


por portaria

ao servente Antônio de Sousa, 30 dias, tratamento


para
de saúde, de 6 de ;
por portaria Junho

ao servente Vicente Bretas Cupertino, 30 dias, sem

vencimentos, tratar de seus interesses, de


para por portaria
16 de ;
Junho

de 28 de Setembro do Senhor Ministro da


por portaria

Educação e Saúde Pública, ao servente Mário Correia Câ~

mara, 6 meses sem vencimentos, tratar de seus in-


para

teresses.

Falecimento

Em 6 de Setembro faleceu o servente Batista de


José

Sousa.

Férias

Sem o serviço da Biblioteca Nacional os


prejuízo para

seus funcionários, à exceção do Diretor Geral, as


gozaram

férias regulamentares de 4 de Agosto a 28 de Dezembro,

em 5 turmas.

Direitos autorais

Para da literária e científica foram


garantia propriedade

lavrados 152 termos de números 5.480 a 5.632.


OBRAS REGISTRADAS

Percentagem

História 5 3,29

Ciências ........ 34 22,37

Literatura 15 9,87

Didáticas 21 13,81

Periódicos 22 14,47

Músicas 2 1,32

Peças teatrais .... 4 2,63

Cartas 5 3,29
geográficas

Diversos assuntos 44 28,95

152

Em 1933 foram registradas 165 obras, isto é, mais 13

obras do em 1934.
que

Requereram registro 133 autores e 19 secionários.

Serviços de internacionais
permutações

O Serviço de PermutaçÕes Internacionais manteve o in~

tercâmbio bibliográfico com 221 bibliotecas estrangeiras.

Efetuou 5 remessas, constando.de 59 em


publicações

22.253 exemplares e 3.294 inclusive uma especial


pacotes,

de 34 obras em 936 volunfies 26 Bibliotecas da América.


para

Remeteu diversos destinatários estrangeiros, a


para pe-

dido do Departamento de Estatística e Publicidade do Estado

de Minas Gerais, 333 de


pacotes publicações.

Destinadas às Bibliotecas e repartições nacionais em

número de 149, foram enviadas 14 em 2.565


publicações

exemplares e acondzcionadas em 583


pacotes.

Recebeu dos Ministério da Agricultura, Educação, Ex~

terior, Instituto Histórico e Geográfico, Revista Marítima

Brasileira, Imprensa Naval, Departamento Nacional de Sau-

de Pública, Universidade do Rio de Prefeitura do


Janeiro,

Distrito Federal, Arquivo Municipal, Clube de Engenharia,

Escola de Educação Física do Exército, Inspetoria de Obras

Contra as Secas, Arquivo Nacional, Seção de Informações

e Propaganda da Educação Sanitária, inclusive a doação

do Sr. Otávio Barbosa Carneiro, no total de 32 obras em

18.968 exemplares.
Atendendo aos de bibliotecas e repartições na-
pedidos

cionais e estrangeiras, remetemos as seguintes obras : Gra-

mática do Padre Anchieta, Anais da Biblioteca Nacional,


J.

Documentos Históricos, Inconfidência da Baía, Boletim Bi-

bliográfico, Relatórios da Biblioteca Nacional, Revista do

Instituto Histórico, História do Paraguai, Inventário dos

Documentos relativos ao Brasil, Diário da e Oficial,


Justiça

no total de 260 volumes.

Procedentes de bibliotecas e repartições científicas es-

trangeiras, recebemos 60 caixas e 77 encomendas postais,

contendo alem dos destinados a esta Biblioteca, distribuídos

às respectivas Seções, mais 5.630 diversos es-


pacotes para

tabelecimentos e destinatários desta Ca-


públicos particulares

e dos Estados.
pitai

Paises enviaram à Biblioteca Nacional, caixas e en-


que

comendas durante o ano findo :


postais

Procedência Caixas Encomendas

Alemanha 32

América do Norte 30 5

Bélgica —

Chile 1

China —

Colômbia 1

Egito 1

França —

Espanha 16

Holanda í . 3

Hungria 1

Inglaterra 1

Itália —

Polônia 5

Portugal 12 —

Riga (Letônia)

Suécia 1

Suissa 9

Tchecoslováquia —

Total 60 77
-10-

CONTRIBUIÇÃO LEGAL

Deram entrada, contribuição legal, 2.291 obras em


por
2.389 volumes, alem de 151 músicas.

A contribuição legal em 1933 foi superior, elevou-


pois
se a 2.755 volumes e 269 músicas.

Movimento de entradas:

Percen-

tagem

Distrito Federal ... 1.360 obras em 1.444 vols. 59,36


603 25,97
Sao Paulo 595
78 3,40
Minas Gerais 78
94 "
Rio Grande do Sul . 88 3,84

Rio de 56 56 2,45
Janeiro
10 0,43
Parana 10
21 "
Baia 21 0,92
60 "
Pernambuco 60 2,61
0,17
Mato 4
grosso

Santa Catarina .... 1 0,05

Espirito Santo .... 0,09


0,35
Ceara 8
1
Amazonas 1 0,05
0,13
Maranhao 3
. 0,05
Alagoas 1 1
0,13
Sergipe 3

2.389 "
2.291

Continua sendo muito burlada a lei da contribuição legal,

apesar dos esforços empregados o seu melhor cumpri-


para

mento, em relação aos Estados. Pelo mo-


principalmente

vimento acima descriminado se depara Estados.


que quatro
Pará, Piauí, Rio Grande do Norte e Goiaz, e o Território

Nacional do Acre não enviaram nem sequer uma obra, e ou-

tros Estados como Amazonas, Alagoas e Santa Catarina en-

viaram apenas uma. Urge Sr. Ministro, tomar


pois, pro-

vidências a lei da contribuição legal seja respeitada.


para que
Sala de pedagogia

Por aviso desse Ministério, n. 486, de 12 de Dezembro

último, foi suprimida a Sala de Pedagogia, incorporando-se

os respectivos livros ao acervo O local a ser


geral. passou

ocupado Conselho Nacional de Edu-


provisoriamente pelo

cação.

CONSELHO CONSULTIVO

Reuniu-se uma vez em 8 de Março, afim dè estabelecer

o horário e os do Curso de Biblioteconomia.


programas

PUBLICAÇÕES

Foram este ano volumes dos Documen~


publicados quatro

tos Históricos, de números XXV a XXVIII.

O volume XLVI dos Anais da Biblioteca Nacional, acha^

se terminado, devendo ser distribuído estes dias


quasi por

mais
próximos.

DOAÇÕES

Entre as várias doações recebeu esta Biblioteca no


que

ano findo devo destacar às seguintes :


principalmente

Uma importante e selecionada coleção de livros cons-

tante de 187 obras em 207 volumes, de literatura, história,

direito e educação, todos em inglês e encadernados,


política,

doada Institute of International Education, de New York,


pelo

seu diretor assistente E. R. Murrow.


por

Foi intermédio do Dr. Carlos Delgado de Carva-


por

lho o Sr. Murrow nos fez esta doação.


que

A segunda foi recebida intermédio do Sr. Major


por

Roberto Carneiro de Mendonça, ex-interventor federal do

Ceará, e consiste esta importante doação em uma cópia dati-

lografada da Nobiliarquia Pernambucana, de Antônio


José

Vitoriano Borges da Fonseca. Dessa genealogia,


preciosa

vale os Estados do Norte o mesmo a de Pedro


que para que

Taques os Estados do Sul existia apenas uma cópia em.


para
~ 12 —

poder do Barão de Studart,


que a cedeu ao Arquivo Público
do Estado do Ceará, Dessa cópia foi extraída a
que, por
cuidados do diretor daquele Arquivo, Dr. Eusébio Neri AI-
ves de Sousa, veio enriquecer a Seção de Manuscritos desta
Repartição.

Curso de biblioteconomia

Este Curso funcionou com toda a regularidade no ano


findo. Lecionaram as respectivas cadeiras no ano letivo,

que começou em Abril e terminou em 30 de Novembro, os


seguintes :
professores

Bacharel Carlos Kiariani, diretor da l.a Seção, a cadei-


ra de Bibliografia o
; oficial bacharel Bartolo
José da Silva,
a cadeira de Paleográfia e Diplomática, ter solicitado
por dis-

pensa de a lecionar Diretor o da 2.a Seção ; Eugênio Tei-


'3."
xeira de Macedo, Diretor da Seção, até o fim de Setem-
bro, e o oficial Floriano Bicudo Teixeira, em Outubro e No-
vembro, a de Iconografia ; o sub-bibliotecário Emanuel Edu-
ardo Gaudie Lei, também
por ter solicitado dispensa de a
lecionar, o diretor da 4.fl Seção, a cadeira de História Lite-
rária aplicada à Bibliografia.

Matricularam-se no 1.° ano do Curso sete alunos, a


saber:

Vera Barbosa de Oliveira

Marina Pena
Javes
Maria Antonieta Mesquita Barros

Beatriz Mesquita Barros

Sílvio Armando Fioravanti Pires Ferreira

Sílvio de Alvim Botelho

Francisca Buarque de Almeida Filha

Desses sete alunos só 4 fizeram as


quatro provas par-
ciais de cada uma das duas cadeiras do 1.° ano, cujas médias
foram as seguintes :

Vera Barbosa de Oliveira 7


Maria Antonieta Mesquita Barros 7,5

Beatriz Mesquita Barros 7,5


Francisca Buarque de Almeida Filha 6,5
Pires Ferreira e Rui Afon-
Os alunos Sílvio Fioravanti

último matriculado no 2" ano, porém


seca de Alencar, este

virtude do Decreto n. 23.508,


as cadeiras do 1.° em
cursando

1933, modificou a seriação das


de 28 de Novembro de que

de fazer as de História
cadeiras do Curso, deixaram provas

tendo apenas feito as pro-


Literária aplicada à Bibliografia,

as seguintes médias :
de Iconografia, nas obtiveram
vas quais

Ferreira 5
Sílvio Fioravanti Pires

5
Rui Afonseca de Alencar

Alvim Botelho deixou de comparecer


O aluno Sílvio de

às aulas e às
provas.

ano 11 alunos, a saber :


Matricularam-se no 2.°

Pedro Álvares Coutinho.

Alzira Cabral Barreira Cravo

Heloísa Cabral da Rocha Werneck

Abdon de Carvalho Lima

Duarte Ribeiro
Jorge

Celuta de Hanequim Gomes

Lila Cavalcanti de Caracas

Carlota Ozório de Almeida

Galcindo Fernando de Sá
Iberê

Hugo Capeto da Câmara.

fazem do dos
Desses onze alunos só dois parte quadro

Biblioteca, a saber :
funcionários da

Pedro Álvares Coutinho

Hugo Capeto da Câmara.

cursar as cadeiras do 2."


Dos dez alunos deviam
que
das duas ma-
só seis fizeram todas as provas parciais
ano,
nas duas cadeiras :
tiveram as seguintes médias
térias, os quais

Abdon de Carvalho Lins 6

Alzira Cabral Barreira Cravo

Hanequim Gomes ^
Celuta de
e
Cabral da Rocha Werneck 7,875
Heloísa

Fernandes de Sá 6,75
Iberê Galcindo

de Caracas 7,968
Lila Cavalcanti
~ 14 —

Deixaram de fazer as
provas das outras cadeiras os res-
tantes 4 alunos sendo
que os alunos Duarte Ribeiro
Jorge e
Carlota Osório de Almeida, deixaram também de compare-
cer à mor das aulas.
parte

Consulta
pública

Durante o ano de 1934 solicitaram e obtiveram cartões-


de ingresso 6.697 leitores.

A freqüência foi a seguinte :

Percentagem

Janeiro 6.689 leitores 8,28

Fevereiro 5.641 6,94

Março 6.640 *' s!l7

Abril 6.585 8,12,

Maio 7.208 8,87

Junho 7.211 8,88

Julho 7.519 9,26

Agosto 6.658 8,20

Setembro 6.327 7,79

Outubro 6.456 7,95

Novembro 7.533 9,27

Dezembro 6.760 8,32

81.227

Tendo sido a de 1933 de 75.586 leitores houve em 1934r


um acréscimo de 5.641, ou sejam, 7,47 % a mais. Se compa-
rarmos a freqüência do ano findo com a de 1932, mais sensi-
vel ainda se torna esse aumento, nesse
pois, ano o número de
leitores foi de 60.384, havendo assim um superávit de 20.843*
leitores, ou sejam 34,517 a mais.
%

Funcionou a Biblioteca durante 352 dias.

A Seção foi
primeira (Impressos) freqüentada
por
71.402 leitores, consultaram 91.972
que obras em 107.213

volumes, obras essas em relação ao assunto


que assim se
classificam :
6

-15-

Per-

CLASSES Obras em Vols. cen-

tagem

Agricultura, comercio e industria 1.227 1.363 1,334

Belas artes 1.205 1.324 1,310

Bibliografia 1.594 1.798 1,733

Corografia e historia do Brasil. 2-266 2.572 2,464

Direito, legislagao e jurispru-


dencia 5.942 7.019 6.461

Economia 1.177 1.404 1,280


politica

Enciclopedia e 4.231 5.113 4,600


poligrafia
Geografia 1.831 2.089 1,991

Historia 2.091 2.525 2,275

Jogos e desportos 504 584 0,548

Literatura 21.267 23.978 23,123

Literatura brasileira 17.112 20.103 18,606

Ocultismo, teosofia e espiritismo 569 631 0,619

Pedagogia 494 595 0,537

Filologia e linguistica 4.208 5 013 4.575

Filosofia 2.093 2.478 2,276

Fisica e 3.921 4.561 4,263


quimica
Politica e administragao 893 1.030 0,971

Religiao 598 682 0,650

Ciencias matematicas 4.660 5.643 5,066

Ciencias medicas 7.529 8.949 8,186

Ciencias naturais ... 5.318 6.365 5,782

Sociologia ! .- 1.242 1.394 1,350

91.972 107.213

Tais obras classificam-se aos idiomas :


quanto

Percen-

LiNGUAS Obras em Vols. tagem

Alemao 217 244 0,236

Espanhol . . . 2.608 3.062 2,835

Frances 5.354 6.574 5,827

Grego 28 31 0,030

Ingles 3.939 4.631 4,283

Italiano 2.194 2.628 2,384

Latim 444 515 0,483

Portugues 77.094 89.429 83,823


»

— 16-

A segunda Seção
(Manuscritos) foi freqüentada
por
768 leitores, consultaram
que 27 códices em 41 volumes, dos

quais 18 em 5 em espanhol
português, e 4 em tupi, e 212.906
documentos avulsos, sendo 175.487 em 37.391
português,
em espanhol, 16 em francês e 12 inglês.
em

Quanto ao assunto dos códices assim se classificam :

História Argentina 4 obras em 8 volumes


" "2
História do Paraguai 1
" "
Língua Tupi 4
4
" "26
Nobiliarquia 17
" "
Poesia
1 1
r

O assunto dos documentos avulsos versou sobre 137,845

autógrafos e os restantes 75.061 referiram-se na sua maioria


à História e Geografia do Brasil Repúblicas
e do Prata.

Foram também consultadas 51 obras impressas em 54


volumes, assim classificadas :

Obras Volumes

Bibliografia 1

Caligrafia 5

Epigrafia 4

História 4

Paleografia 40 40

Total '51 54

Sendo em :

Francês 36 36

Inglês 5

Italiano 6

Latim 2

Português 5

Total 51 54

Teve a Seção 176 visitantes.

A terceira Seção e Cartas Geográficas) foi


(Estampas
freqüentada 977 consultantes, manusearam 51 estam-
por que
avulsas e 582 coleções com 56.761 459 cartas
pas peças, geo-
gráficas avulsas e 166 atlas ou coleções com 23.085 e
peças
466 obras especiais em 732 volumes, distribuídos nas seguintes

línguas :

Alemão 22 obras em 37 volumes


"
Espanhol 52 60

Francês 249 403

Holandês . . " 1

Inglês 33 35

Italiano 46 106

Português 63 r" 90

" "
Total 466 732

A Seção e Revistas) foi freqüentada


quarta (Jornais

8.080 leitores consultaram 21 .641 volumes e 8.128


por que

avulsos, assim descriminados aos assuntos :


quanto

Percentagem

Volumes Avulsos dos volumes

Almanaques 695 3,212

Anais 588 2,720

Calendários 14 0,065

Leis, decretos, etc. 1.572 7,270

Mensagens 38 0,175

Relatórios 149 0,688

Revistas 5.746 26,550

Jornais 12.839 8.128 59,320

Total.. 21.641 8.128

Quanto aos idiomas, assim se classificam :

Percentagem

Volumes Avulsos dos volumes

Alemão 110 0,508

Espanhol 26 0,120

Francês 510 2,357

Inglês 255 1,178

Italiano 21 0,097

Português 20.719 8.128 95,740

21.641 8.128
— 18 ~

ENCADERNAÇÃO

Por motivos de ordem administrativa, unicamente em


22 de Novembro,
poude a Biblioteca Nacional remeter ao
Instituto Nacional de Surdos Mudos, afim de serem encader-
nados, 1.204 volumes, ainda não devolvidos. Pelo serviço
executado, deverá a Biblioteca Nacional a importância
pagar
de 3:809$000.

Elevado é o número de livros, na Secretaria, aguar-


que
dam oportunidade
para ser remetidos às OficíÀas de encader-
nação daquele Instituto, sendo morosa a devolução dos enca-
dernados, o muito
que prejudica a sua entrega à consulta
pú-
blica, havendo nesse sentido número de reclamações.
grande

Secretaria e Contabilidade

Alem dos serviços mencionados


já de registro de direitos
autorais, e de internacionais,
permutas expediu a Secretaria
às diversas seções 477
guias, sendo 203 de contribuição le-

gal, 108 de doação, 18 de transferência, 49 de compra e 99


de internacional.
permuta Quanto à correspondência ex-

pedida constou esta de 379 ofícios, 95 cartas, 8 13 edi-


guias,
tais e 43 e extraiu
portarias, entre outras certidões, 152 de di-
reitos autorais.

Na contabilidade foram
processadas 79 faturas
prove-
nientes de diversos fornecimentos feitos à Repartição. Fo-
ram extraídos 69 recibos de renda o da Bi-
para patrimônio
blioteca, na importância total de 1:370$000 da venda
produto
de e de 50
publicações % do valor de certidões fornecidas

pela Secretaria. Desta


quantia, 452$000 foram recolhidos à
Tesouraria Geral do Tesouro Nacional e 917$900 à Tesou-
raria Geral do Ministério da Educação e Saúde Pública. A
renda extraordinária foi de 1:455$000
proveniente da taxa
de Matrícula, de diplomas e de certidões do Curso de Bi-
blioteconomia, dos foram
quais recolhidos à Tesouraria Ge-
ral do Tesouro Nacional 1:405$000 e à Tesouraria Geral do
Ministério da Educação Saúde
e Pública, 50$000 réis.
~ 19 ~

AQUISIÇÃO DE LIVROS

No decorrer do ano de 1934 adquiriu esta Biblioteca


para a 1. Seção 3.424 obras em 4.337 volumes e 301 peças
musicais sendo
por compra 265 obras em 458 volumes ; por
ohras™ S0? volumes ; por internado-
1 S2 l permuta
nal 366 obras em 476 volumes ; contribuição
por leqal 2.181
obras em 2.600 volumes.

Para a 2/ Seção
(Manuscritos) entraram 100
peças ma-
nuscritas sendo oitenta compra,
por dezesseis doação
por e
quatro por transferência da 1." Seção. Entraram também
para essa beçao 3 obras impressas, sendo uma
por compra,
uma doaçao
por e uma
por permuta internacional.

P1ar?..t,Seção
de EstamPas e Cartas
¦ Geográficas adqui-
riu esta Biblioteca 16 estampas avulsas e 2 coleções com 69
peças, num total de 85
peças, sendo 35 doação
por e 50
por
contribuição legal.
Quanto à nacionalidade, 55 são brasi-
eiras e 30 estrangeiras. 98 cartas
geográficas avulsas e 12
atlas ou coleçoes com 383 mapas. Das 98 avulsas, 19
peças
toram adquiridas
por doação, 10 contribuição
por legal e 69
por permuta internacional. Dos atlas 1 com 98 mapas foi
por compra, 1 com 103 mapas, doação, 5
por com 123 mapas
por contribuição legal, 3 com 30 mapas
por permuta interna-
cional e 2 com 29 mapas
por transferência de Seção.

Para a Seção de e Revistas


Jornais entraram 494 re~
vistas, 713 12
jornais, almanaques, 15 anais, 8 mensagens, 35
relatórios, 43 exemplares de leis e decretos, todos
por contri-
buiçao legal ; 4 revistas em 15 volumes, 2
jornais em 9 volu-
mes e 4 avulsos, 13 exemplares de leis decretos,
e 36 relatórios
e J5
publicações periódicas, todos doação
por ; finalmente
por compra foram adquiridas 7 revistas em 37 volumes e uma
publicação periódica em 3 volumes.

O número de revistas e jornais novos recebidos durante


o ano elevou-se a 187, assim discriminados em relação aos
listados no seguinte
quadro:

ESTADOS
Jornais Revistas Total

Capital Federal . .. 23 18 41
Acre . 3
Alagoas
Amazonas 1

Baia 12

Ceara 8

Espirito Santo .. 5

Goiaz ... 1

Maranhao 6

Mato Grosso 5

Minas Gerais 13 16

Para 5

Paraiba 3

Parana 8

Pernambuco 11

Piaui 1

Rio Grande do Norte 2

Rio Grande do Sul 18 22

Rio de Janeiro 10

Santa Catarina . 5

15
S. Paulo 11 4

Sergipe 2

139 48 187

Principais aquisições

Entre os manuscritos adquiridos alem da Nobiliarquia

Pernambucana mencionada, devem também ser destacados


28 autógrafos ao espólio do Brigadeiro Francis-


pertencentes

co Róscio, referentes à sua atuação militar e administra-


João

tiva no Rio Grande do Sul em fins do século XVIII e prin-

cípios do XIX.

Principais aquisições a Seção de Impressos,


para por

compra :

— dei Diritto corredato delle


VIGNALI, Giovanni Corpo

note di Dionisio Gotofredo, e di C* E. Freiesleben. . . Napoli,

— 17 in-4.°.
Vincenzo Pezzuti, 1856-1862 vols.
presso

LAROUSSE DU XX.6 SIÈCLE en six volumes. Pu-

blié sous la direction de Paul Augé. Paris, Librairie Larous-

se, s. d. 6 vols. in-4.°. illustr.


— Enciclopédia dei Diritto penale
PESSINA, Enrico

. Milano, Societá Edi-


di monografie. .
italiano. Raccolta

1905-1913. 15. vols. in-8.°.


trice Libraria,

— Ma-
Théodore 6> Marquardt
MOMMSEN, Joachim

1 allemand sous la
romaines traduit de
nuel des antiquités

Paris, Ernest Thorin,


de M. Gustave Humbert.
direction
19 tomos em 20 vols.
Fontemoing, 1893-1907.
Albert

in-8.°.

— dei Códice di
Domenicantonio Commentario
GALDI,

Nuova Edizione. Na-


civile dei Regno d Italia.
Procedura
Torino, Unione Tipo-
Stab. Tip. di Nicola Jovene.
poli,
1887-1894, 8 vols. in-4.°.
Editrice,
grafice

—'C,, — Manuel du Bibliophile


LONCHAMP, F.

Librarie des Bi-


Paris et Lausanne,
français. (1470-1920)

1927, 4 vols. in-8.°. illustr.


bliophiles,

DE L'ACADEMIE FRANÇAISE.
DICTIONNAIRE
— G. Librairie
Tome A (Paris)
Huitiême édition. premier

Hachette, 1932. in-4-°.

di Scienze, lettere ed
ENCICLOPÉDIA ITALIANA

di S. M. il Re dltalia.
Publicata sotto 1'alto patronato
arti.
Edizioni Instituto G.
Milano Treves-Treccani Tumminelli.

illustr. Vols. XVII, XVIII,


1933. 3 vols. in'-4.°.
Treccani.

XIX.

— Traité de
P., et L. Babonneix.
NOBÉCOURT,

et Cie., ed. 1934, 5


enfants. Paris. Masson
médécine des

vols. in-8.° illustr.

PREUSSISCHEN BI-
DER
GESAMTKATALOG

1934. 2v. in-4.\ Volumes


Berlin, 1933,
BLIOTHEKEN.

IV e V.

— Chimie minérale. Paris,


PASCAL, Paul Traité de

1931-1934. 12 vols. in-8.° illustr.


Masson et Cie.,
— 22 —


STENDHAL Texto établi et annoté
Journal. par
Henry Debraye et Louis Royer, Tomes IV e V. Paris, Libr.

anc. Honoré Champion, 1934. 2 vols. in-8.° illustr.

VIDAL DE LA BLACHE, P., et L. Gallois. - Géo-

universelle. Paris, Armand Colin, 1933-1934. 2


graphie

vols. in-4.° illustr. Vols. III et VII (l.a p.).

PASTELLS, Pablo, — História la


de Compania de Jesús

en la Província dei Paraguay. Madrid. Vitoriano Suarez,

1912-1933. 5 vols. in-8.#.

São estes, Sr. Ministro, os fatos ocorridos


principais

nesta Biblioteca durante o exercício de 1934.

Saúde e Fraternidade.

O Diretor Geral

Rodolfo Garcia

AS. Ex. o Sr. Dr. Gustavo Capanema, Ministro da

Educação e Saúde Pública.

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