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Maceió, 12 de abril de 2014.

Ilustre irmão Paulo César, boa tarde!

Estes são os versículos citados em tua mensagem, os quais iremos


analisar hoje:
“Ora, quanto ao que está enfermo na fé, recebei-o, não em contendas
sobre dúvidas. Porque um crê que de tudo se pode comer, e outro, que é fraco, come
legumes. O que come não despreze o que não come; e o que não come não julgue o
que come; porque Deus o recebeu por seu. Quem és tu que julgas o servo alheio?
Para seu próprio senhor ele está em pé ou cai; mas estará firme, porque poderoso é
Deus para o firmar. Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os
dias. Cada um esteja inteiramente seguro em seu próprio ânimo. Aquele que faz caso
do dia, para o Senhor o faz.” Romanos 14:1 a 5.

A chave do nosso estudo é a expressão ENFERMO NA FÉ. O que isso


significa? O assunto que é tratado em Romanos 14:1 encontra um paralelo em I
Coríntios 8:1. E não pode ser de outro jeito. Reflita: quando o apóstolo menciona o
vocábulo CARNE, no texto epigrafado, não se deve nem imaginar que ele estaria
falando de vegetarianismo, ou de carne imunda, como a de porco, por exemplo. E
por que não? Nos idos dos apóstolos a lei dos animais limpos e imundos, a qual
encontramos em Levítico 11, era sagrada tanto para os judeus como para os
cristãos. Isso não era tema para debates entre eles. Erroneamente alguns entendem
que Paulo ao declarar que “bom é não comer carne” estaria asserindo
categoricamente que o vegetarianismo deveria ser o estilo de vida do cristão.
Entrementes, a frase não termina aí. Ela não pode ser considerada fora do contexto.
O enunciado em sua íntegra diz assim: “Bom é não comer carne, nem beber vinho,
nem fazer outras coisas EM QUE TEU IRMÃO TROPECE, OU SE ESCANDALIZE, ou se
enfraqueça.” Romanos 14:21. Nota que o objetivo é não provocar um tropeço para o
irmão. Agora comparemos esse verso com I Coríntios 8:13: “Pelo que, se o manjar
escandalizar a meu irmão, nunca mais comerei carne, PARA QUE MEU IRMÃO NÃO
SE ESCANDALIZE.” Por que Paulo está afirmando que não mais comeria carne?
Percebes que é a mesma matéria?
Alguns cristãos entendiam que se determinada alimentação tivesse
sido sacrificada aos ídolos, ela por si só era considerada amaldiçoada ou algo do
gênero. O apóstolo Paulo explica que a carne, verbi gratia, ainda que tivesse sido
sacrificada ao ídolo não conteria maldição alguma em sua essência. Ela era como
outra qualquer. Mas aí, àqueles que comungavam com o seu pensar, ele adverte
para não comê-la aleatoriamente em virtude da consciência, não daquele que tinha
esse conhecimento e desfrutava de uma fé sólida nesse sentido, todavia da
consciência do que acreditava no contrário. A este Paulo se refere como ENFERMO
NA FÉ. Tal indivíduo deveria ser tratado com carinho e respeito por aqueles que
tinham domínio sobre o assunto. Assim, se num determinado banquete houvesse
carne, ou outra coisa qualquer que tivesse sido sacrificada aos ídolos, e legumes, o
enfermo na fé comeria legumes, visando não se contaminar.
Nada tem a ver o assunto tratado em Romanos e I Coríntios com o
vegetarianismo. Aliás, ser vegetariano é um ato de inteligência e não de fraqueza ou
opção, em face da abstinência daquilo que já foi por demais comprovado pela
ciência como nocivo à saúde, máxime em nossos dias, onde o capitalismo investe
poderosamente, alterando a composição do que é natural.
Paulo não abandonou aquilo que ainda está em vigor. E ele sabia que
a lei que faz distinção entre os animais limpos e os imundos não fora abolida com a
morte de Cristo. O próprio Salvador teria claramente se expressado sobre tal
assunto após Sua ressurreição, se isso julgasse necessário. E Ele esteve com os
Seus discípulos durante quarenta dias, antes de deixar este planeta e subir aos
céus. É um considerável interlúdio, não é verdade? E o que dizer da visão de Pedro,
encontrada no Livro de Atos? Não seria aquele episódio o fim da lei de Levítico 11?
Muitos asseguram que, pelo fato de Deus ter dito “não chames tu comum ao que
Deus purificou”, uma oração sincera tornaria uma carne de porco aceitável aos
Seus olhos. Seria isso mesmo? Vamos deixar que Pedro responda a essa
indagação: “E [Pedro] disse-lhes: Vós bem sabeis que não é lícito a um varão judeu
ajuntar-se ou chegar-se a estrangeiros; mas Deus MOSTROU-ME que A NENHUM
HOMEM CHAME COMUM OU IMUNDO.” Atos 10:28. Então, pergunto: quando foi que
Deus mostrou isso a Pedro? Só e unicamente na visão, pois é a ela que Pedro se
refere. E não vislumbramos nenhum ser humano naquela visão, porém somente
animais. Os animais eram simbólicos; eles representavam indivíduos, e indivíduos
gentios. Deus usou uma verdade, a verdade de Levítico 11, para trazer à baila um
terrível pecado que Pedro, e muitos de seus irmãos, praticavam com os olhos
vendados pela ignorância: a acepção de pessoas. Tiago 2:9. Agora convicto, disse
ele: “RECONHEÇO, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas”. Atos 10:34.
O verbo RECONHEÇO é a mais firme verdade de que o apóstolo não entendeu a
mensagem da visão como muitos no presente insistem em asseverar.
Vamos raciocinar um pouco! Suponhamos que decerto nós podemos
isolar o texto “Bom é não comer carne.” Se assim for, também podemos isolar a
afirmativa seguinte: “Nem beber vinho.” Lembra-te que NEM é uma conjunção
aditiva, ou seja, ela adiciona, acrescenta; OU é uma conjunção alternativa, ela
obviamente alterna. Se Paulo tivesse formulado cada assertiva em separado, ele
teria escrito assim: Bom é não carne; bom é não beber vinho; bom é não fazer
outras coisas. Teríamos regras distintas e insociáveis. Contudo ele emprega
conjunções (NEM e OU) não apenas para evitar uma enfadonha repetição, mas
associar cada pensamento com um motivo apresentado no final do enunciado. Se
não fosse assim, Paulo estaria dizendo pra nós que não é bom nem uma coisa nem
outra, independentemente. E isso criaria um tremendo impasse. Qual? Contradição.
O azo é bem simples: em sua primeira carta a Timóteo, Paulo recomenda ao seu
discípulo que ele deve fazer uso do vinho, e não somente de água. E dá o motivo: o
problema estomacal e as frequentes enfermidades de Timóteo. Eis suas palavras
“Não bebas mais água só, MAS USA DE UM POUCO DE VINHO, por causa do teu
estômago e das tuas frequentes enfermidades.” I Timóteo 5:23. Paulo estaria
fazendo uma exceção aqui? Claro que não. Em caso positivo, Paulo suscitaria um
sério problema para a comunidade cristã. A advertência prevista em Romanos
14:21 focaliza exclusivamente o bem estar espiritual do enfermo na fé.
É incorreto dizer que o vinho citado em Romanos 14:21 é qualquer
vinho. Jamais se poderá generalizar ou isolar o que está escrito nas Sagradas
Escrituras, sob pena de incorrer num extremo e grave delito contra a própria alma. O
isolamento de texto é um dos sofismas do diabo, pois destrói o verdadeiro sentido
da mensagem divina. O vinho de Romanos 14:21 é o mesmo de I Timóteo 5:23. Se
fosse o vinho escarnecedor, ou seja, o que contém álcool em quantidade além do
normal, que provoca alteração psíquica, o texto seria assaz específico. Lembremos
que o evangelho anunciado pelos apóstolos tinha como base os escritos do Velho
Testamento. Portanto, a ideia central de Provérbios 23:31 a 35 estava inclusa, e
isso já era cediço.
Cada vez que formos estudar as Escrituras, sempre será bom
relembrarmos que devemos seguir a orientação do profeta Isaías (Isaías 28:10) e
também do apóstolo Paulo (II Coríntios 2:13).
E quanto aos dias serem iguais ou não? O que o apóstolo pretendeu
estabelecer em Romanos 14:5? Estaria ele concordando que todos os dias,
inclusive o sábado, são iguais? Uma coisa nós precisamos deixar bem claro, antes
de adentrarmos no assunto propriamente dito: o apóstolo Paulo julgava a lei de
Deus, a mesma lei que Deus escreveu no Sinai, como íntegra e imutável. Como já
afirmei aqui, o sábado não era questão de debate, como hoje em dia. Tanto judeus
como cristãos reconheciam-no como o dia do Senhor. A contrafação do sábado só
viria no século 4, ainda no futuro. E como podemos testificar isso sem medo de
errar? Paulo ao escrever para os crentes em Roma, disse: “ANULAMOS, pois, a lei
pela fé?” Sua resposta é categórica e incisiva: “De modo NENHUM; antes
ESTABELECEMOS a lei.” Romanos 3:31.
De Gênesis ao Apocalipse nenhuma referência existe que autorize a
mudança do dia de guarda. A mudança de uma lei é a indicação de que o seu autor
também sofreu mudança, caso contrário haveria uma tremenda patologia de
identidade moral: o legislador muda as suas regras, mas pensa o contrário.
Seria um caos gigantesco. No tocante a Deus as Escrituras Sagradas são muito
determinantes: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai
das luzes, EM QUEM NÃO HÁ MUDANÇA, NEM SOMBRA DE VARIAÇÃO.” Tiago 1:17.
Se Deus não muda, os dez mandamentos não sofreram mudança. Na verdade, Ele
é a própria lei; a lei é o transunto do Seu caráter. A mudança de um é o efeito da
alteração do outro. E isso é impossível. Se Deus é imutável, a Sua lei também é
imutável.
Se fizéssemos um pequeno esforço mental descobriríamos sem muito
vagar que Hebreus 4 é uma das provas irrefutáveis de que o apóstolo Paulo
observava o sétimo dia, segundo o mandamento, porquanto ali ele demonstra o
mesmo vínculo que se nos apresenta em Ezequiel 20:12, entre o sábado e a
santificação. Hebreus 4:4 e 5 e Ezequiel 20:12 identificam o sábado como o sinal
de que o crente foi liberto do pecado e entrou no descanso de Deus. O sábado é o
sinal do poder santificador do Todo-Poderoso, na pessoa do Espírito Santo.
Daí, caro irmão, o apóstolo Paulo não nivelaria, sob hipótese alguma, o
sábado com os demais dias da semana, restando-nos entender que o mote em
questão consistia dos dias de festa que os judeus tinham ainda como sagrados e
pressionavam os novos cristãos a aceitarem tal ideia como dogma religioso. Creio
que alguns dos judeus mesmo convertidos ao cristianismo ainda respeitavam esses
dias, inclusive a circuncisão, pela força da maciça cultura do judaísmo. A disposição
e a desenvoltura dos escritos de Paulo aos cristãos na Galácia nos revelam isso. Foi
ali que Pedro foi repreendido por Paulo, em face da forte influência do judaísmo.
Os textos contidos em Romanos 14:1 a 5, irmão Paulo César, não
representam mudança alguma na lei de Deus, nem comparação alguma entre o
sábado e os demais dias da semana, muito menos alusão ao estilo de vida – se
vegetarianismo ou carnivorismo. Não existe no Livro Sagrado obrigação alguma em
ser vegetariano, assim como também não há obrigação alguma em aceitar a
salvação declinada por Deus. Entretanto, cada coisa tem o seu efeito próprio. Deus
nos dá inteligência e dispõe para nós o que há de melhor, mas a escolha final é
nossa. A lei da vida é esta e continua de pé: “Não erreis: Deus não se deixa
escarnecer; porque tudo o que o homem semear, ISSO TAMBÉM CEIFARÁ.” Gálatas
6:7. O vegetarianismo, reitero, é uma questão de inteligência; a salvação, de
sabedoria. O nosso destino somos nós mesmos que definimos, e não Deus.
Que Ele nos abençoe ricamente!
Irmão Edson.

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