Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
resistentes a sismos
Concepts to be clarified from the NBR 15421 code – Design of seismic resistant structures
Petrus Gorgônio B. da Nóbrega (1); Sergio Hampshire de C. Santos (2); Selma H. Shimura da
Nóbrega (3); Eduardo Marques V. Pereira (4)
Resumo
Quando da publicação da NBR 15421, em 2006, o conhecimento nacional sobre o projeto de estruturas
resistentes a sismos era (e, na verdade, ainda é) incipiente. Como o Brasil apresenta uma atividade sísmica
relativamente baixa, a moderada, apenas edificações especiais tiveram sua concepção, seu
dimensionamento e sua construção considerando particularidades inerentes a esta ação excepcional.
Desde então, diversos estudos foram feitos acerca do perigo, da vulnerabilidade e do risco sísmicos, além
de análises e avaliações estruturais de acordo com a NBR 15421, considerando esta ação. Todavia,
percebe-se que alguns conceitos e aspectos definidos pela referida norma ainda não foram completamente
compreendidos pela comunidade técnica nacional e, desta forma, eles ainda podem causar alguma dúvida
nas suas aplicações. Este artigo constitui-se em um estudo avaliativo, que discute diversos pontos
importantes da norma, apresenta sua fundamentação teórica e explicações adicionais, além de exemplos de
aplicação ilustrativos, os quais não são viáveis de serem incluídos no texto original da norma. O momento é
oportuno para este artigo e sua contribuição, dado que o processo de revisão e atualização da NBR 15421
iniciou recentemente.
Palavra-Chave: Sismos, Edifícios de concreto, Análise sísmica, Dinâmica das estruturas.
Abstract
At the time of NBR 15421 issuing, in 2006, the national knowledge about the design of seismic resistant
structures was (and, truly, still is) incipient. As Brazil presents a relatively low to medium seismic activity, only
special buildings had their conceptual design, dimensioning and construction addressing issues concerned
with this accidental load. Since then, several studies have been made about seismic hazard, vulnerability
and risk, besides structural analyses and assessments according to NBR 15421, considering that action.
However, it can be realized that some concepts and topics defined by the mentioned code were not still fully
understood by our technical community and therefore they still cause some doubt in their application. This
work is an explanatory paper related to relevant parts of the code, providing a variety of background
information, additional explanation, and illustrative application examples that cannot possibly be included in
the original text of the code. The moment is opportune for this paper contribution because the revision and
updating process of NBR 15421 has started recently.
Keywords: Earthquake, Concrete buildings, Seismic analysis, Structural dynamics.
Figura 1 – Mapa da aceleração sísmica horizontal característica da NBR 15421 (ABNT, 2006)
Desta forma, mesmo para as estruturas “usuais” (conforme termo da própria norma),
independente da importância de suas funções, estar-se-ia dispensada a consideração das
ações sísmicas. Embora, historicamente, tenha havido razões não-técnicas para a
definição desta premissa, ela é uma posição criticável do ponto de vista da engenharia,
pois nos prédios de operação especial e uso coletivo, que devam ter sua operação
mantida em condições adversas extremas, como hospitais, quartéis de polícia e do corpo
de bombeiros, sedes de governo, centrais de comunicação, de segurança e de operações
em emergência, estações de tratamento de água e esgoto, por exemplo, deveria haver
maior rigor de análise, necessitando uma adequada discussão acerca do risco sísmico
admitido, e das providências necessárias visando mitigar a vulnerabilidade destas
estruturas. Ademais, destaca-se que exatamente na zona sísmica 0 encontram-se as
maiores edificações (de pontes e viadutos a túneis) e os prédios mais altos do Brasil.
Neste contexto, sendo o engenheiro não requerido a aplicar a NBR 15741, uma porção
significativa da comunidade técnica desconhece seus conceitos e métodos ou os utiliza
de maneira equivocada pela sua pouca prática. Este artigo constitui-se em um texto
avaliativo, que discute diversos pontos importantes da norma, apresenta sua
fundamentação teórica, sempre se baseando em exemplos de aplicação e fazendo
comparações com normas estrangeiras quando pertinentes. O momento é de especial
oportunidade, dado que a revisão da NBR 15421 encontra-se em vias de ser iniciada.
PINTO (2020) admitiu a estrutura estar em uma localização geográfica onde a aceleração
sísmica horizontal característica é igual a 15% g e o solo do local é do tipo rocha (classe
do terreno “B”). O espectro de resposta a ser aplicado à estrutura é ilustrado na Figura 4,
já com os valores de aceleração em m/s 2, sendo os fatores de amplificação sísmica do
solo Ca e Cv iguais a 1,0.
Na próxima seção expõem-se e discutem-se pontos importantes da NBR 15421, sendo as
conclusões numéricas elaboradas a partir das aplicações com o referido modelo.
Tabela 2 – Comparação dos períodos naturais para os modelos com diferentes pesos.
Observe-se, ademais, que isto também altera o cálculo dos esforços e deslocamentos da
estrutura, frente às ações sísmicas, pois diferentes valores de períodos estão associados
a diferentes acelerações no espectro de resposta (Figura 4). A princípio tem-se uma
relação: períodos naturais maiores implicam em menores acelerações do espectro, e daí
esforços menores.
A Tabela 3 ilustra o somatório das forças totais nos apoios considerando
independentemente um sismo na direção “x” (horizontal em planta) e “y” (vertical em
planta, não no sentido de altura). Conforme já dito, as diferenças ocorrem pelas
alterações dos períodos naturais da estrutura, mas também porque o próprio peso se
alterou, agora para maior, o que causa, isoladamente, maiores acelerações (força é igual
à massa vezes a aceleração). No presente caso, a influência do aumento da massa no
modelo (diretamente associada às forças finais na estrutura) foi superior à influência do
decréscimo da aceleração espectral associada aos períodos naturais maiores.
Tabela 3 – Comparação da reação total para os modelos com diferentes pesos.
Figura 5 – Modelo de pórtico espacial com as lajes Figura 6 – Modelo de pórtico espacial sem as lajes
A seção 8.7.3 da NBR 15421, que dispõe sobre a modelagem da estrutura, estabelece
que no caso desta apresentar certas irregularidades, um modelo 3D deve ser utilizado.
Este é o usual em qualquer projeto e o utilizado neste artigo, destacado que o modelo de
pórtico espacial possui 6 graus de liberdade por nó.
“Caso a estrutura apresente irregularidade estrutural no plano dos tipos 1, 2 ou 3,
conforme definido na tabela 7, um modelo tridimensional deve ser utilizado. Neste
modelo, cada nó deve possuir ao menos três graus de liberdade, duas translações
em um plano horizontal e uma rotação em torno de um eixo vertical.”
Acerca das lajes, a mesma referida seção expressa:
“Quando os diafragmas não forem classificados como rígidos ou flexíveis, de acordo
com 8.3.1, o modelo deve incluir elementos que representem a rigidez destes
diafragmas.”
Por sua vez, menciona a seção 8.3.1:
“Diafragmas de concreto que tenham uma relação entre vão e profundidade menor
do que 3,0 e não apresentem as irregularidades estruturais no plano definidas na
tabela 7 podem ser classificados como rígidos.”
Tem-se que o exemplo em questão pode ser considerado como diafragma rígido, embora
isto não acarrete em maiores ou menores consequências. Apenas se o diafragma fosse
tido por flexível é que se deveriam seguir algumas diretrizes em relação ao carregamento.
1,719 s 1,561 s
01 1,625 s
(erro = +5,6%) (erro = -4,1%)
1,141 s 1,061 s
02 1,099 s
(erro = +3,8%) (erro = -3,5%)
0,972 s 0,919 s
03 0,948 s
(erro = +2,5%) (erro = -3,1%)
0,566 s 0,515 s
04 0,536 s
(erro = +5,4%) (erro = -4,1%)
0,329 s 0,300 s
05 0,313 s
(erro = +5,1%) (erro = -4,2%)
0,288 s 0,275 s
06 0,299 s
(erro = -3,7%) (erro = -8,0%)
10.128 kN 11.220 kN
Fx 10.644 kN
(erro = -4,8%) (erro = +5,4%)
14.067 kN 15.119 kN
Fy 15.085 kN
(erro = -7,3%) (erro = +0,2%)
Observe-se que os períodos naturais para o modelo sem lajes sempre são menores, o
que, por óbvio, significa que as frequências naturais são maiores (ou seja, mantida a
massa constante, a rigidez é superior). Provavelmente, nestes casos, este fato decorre
das hipóteses de modelagem para a consideração do diafragma do edifício sem lajes
feitas pelo programa utilizado, que aparentemente são até mais rígidas do que a
modelagem das lajes, em si.
Por outro lado, como as diferenças de resultados não são relevantes (em torno de 4%),
inclusive com relação ao cálculo do somatório das reações, pode-se concluir que o
modelo de pórtico espacial sem lajes é satisfatório para a análise estrutural. Desta
maneira, a partir dos itens seguintes somente será considerado este tipo de modelo.
Tabela 8 – Comparação da reação total para os modelos com e sem redução da rigidez.
Somatório das Modelo com rigidez Modelo com NLF
Reações nos Apoios integral aproximada
8.691 kN
Fx 11.220 kN
(diferença = -22,5%)
12.847 kN
Fy 15.119 kN
(diferença = -15,0%)
∑ ∑
(Equação 1)
∑ ∑ (Equação 2)
Observe-se que cada ação possui seu devido coeficiente de ponderação (), e as ações
variáveis são ainda reduzidas pelo coeficiente (0). Nos casos mais comuns de
edificações, quando a carga variável de utilização não supera 5 kN/m2, tem-se:
a) = 1,2 para as ações permanentes e efeito desfavorável, (segundo a seção 5.4 da
NBR 15421, em sintonia com a tabela 2 da NBR 8681 e com a tabela 11.1 da NBR 6118);
b) = 1,0 para as ações variáveis (segundo a seção 5.4 da NBR 15421, em sintonia com
as tabelas 4 e 5 da NBR 8681 e com a tabela 11.1 da NBR 6118);
c) = 1,0 para a ação excepcional de sismo (segundo a seção 5.4 da NBR 15421, em
sintonia com a seção 5.1.4.3 da NBR 8681), ou basta perceber que nas equações
anteriores a ação excepcional não é multiplicada pelo coeficiente de ponderação (ou seja,
entra com seu valor não majorado);
∑ [ ∑ ] (Equação 3)
O último parágrafo da seção 5.1.3.2 da NBR 8681:2003 expressa que se a ação principal
tiver um tempo de atuação muito pequeno (caso do sismo), pode ser tomado
com o correspondente .
Ademais, na própria NBR 8681 existe uma possibilidade de simplificação deste fator de
redução que não encontra paralelo na norma de sismo ou na de projeto de estruturas
de concreto. A sua tabela 6 traz como observação (3) a seguinte frase:
“Para combinações excepcionais onde a ação principal for sismo, admite-se adotar
para o valor zero” (grifo nosso)
Assim, isto afeta não apenas a ação de vento, onde o fator corresponde a zero, de
fato, mas também permitiria desprezar (tornando nula) a ação variável de utilização.
Configura-se então uma situação de não conformidade com a NBR 15421 e NBR 6118.
Observa-se, entretanto, que esta conduta é uma possibilidade, pelo uso do verbo “admite-
se”, mas não uma obrigatoriedade, e que a alteração dos resultados finais pode ser até
desprezível pela relação das grandezas entre as ações permanentes e a de sismo com a
carga variável de utilização. É importante mencionar, todavia, que tal possibilidade não
encontra amparo nas normas ASCE/SEI 7-16 (seção 2.3.6) e Eurocode 0 (seção 6.4.3.4).
De todo modo, observe-se que esta previsão da NBR 8681 não guarda nenhuma relação
com a definição e discussão do peso efetivo feita no item 3 anterior. O peso considerado
na estrutura serve como variável para o cálculo dos parâmetros modais e a determinação
dos esforços devido à ação sísmica. No presente item a discussão gira em torno da
combinação das diferentes ações.
9 Conclusão
A NBR 15421:2006 é a norma de projeto de estruturas resistentes a sismos, cuja
aplicação é relativamente pequena no Brasil em função de seu próprio escopo (que
abrange as estruturas “usuais”, excluindo diversos sistemas estruturais) e da dispensa de
seus requisitos em uma área majoritária do território nacional.
ANAIS DO JUBILEU DE OURO IBRACON – 2022 15
Diante de uma perspectiva real de revisão e atualização da NBR 15421:2006, este artigo
buscou discutir alguns pontos não completamente esclarecidos pela norma, apresentando
diversos exemplos de análises como ilustração.
Um dos aspectos mais importantes, que merece ser objeto de reflexão da NBR 15421,
refere-se à consideração da não linearidade física do concreto e a flexibilização das
ligações. Estes dois fatores possuem uma forte capacidade de alteração dos parâmetros
modais e da resposta da estrutura. Por outro lado, a consideração explícita das lajes no
modelo numérico, bem como a influência das cargas variáveis de utilização, demonstrou
pouca influência nos casos analisados.
10 Referências
AMERICAN SOCIETY OF CIVIL ENGINEERS. ASCE/SEI 7-16: Minimum design loads
and associated criteria for buildings and other structures. Reston: ASCE, 2016.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8681: Ações e segurança
nas estruturas - Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2003.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15421: Projeto de
estruturas resistentes a sismo - Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2006.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118: Projeto de
estruturas de concreto - Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2014.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9062: Projeto e execução
de estruturas de concreto pré-moldado. Rio de Janeiro: ABNT, 2017.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6120: Ações para o
cálculo de estruturas de edificações. Rio de Janeiro: ABNT, 2019.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7187: Projeto de pontes,
viadutos e passarelas de concreto. Rio de Janeiro: ABNT, 2021.
EUROPEAN COMMITTEE FOR STANDARDIZATION. Eurocode: Basis of structural
design (EN 1990:2002+A1 :2005:E). Brussels: CEN, 2005.
EUROPEAN COMMITTEE FOR STANDARDIZATION. Eurocode 8: Design of
structures for earthquake resistance - Part 1 : General rules, seismic actions and
rules for buildings (EN 1998-1:2004:E). Brussels: CEN, 2004.
GHOSH, S. K.; FANELLA D. A. Seismic and wind design of concrete buildings (2000
IBC, ASCE 7-98, ACI 318-99). 3rd ed. International Code Council, 2003.
PINTO, J. H. D. S. Estudo comparativo de normas de projetos de estruturas
resistentes a sismos. 2020. 134 f. Dissertação (Mestrado em Projeto de Estruturas) –
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Programa de Projeto de
Estruturas, Rio de Janeiro, 2020.
SANTOS, S. H. et al. Comparative study of international major codes for the seismic
design of buildings. In: IABSE Symposium, 2020. Wroclaw: IABSE, 2020.