Você está na página 1de 6

Questionário de Métodos em História –

Respostas

1. Como concebe a “objectividade” nos métodos em história?

Em métodos em história, a objectividade concebe-se como um produto de


um consenso social, cultural e histórico da comunidade científica. Também
assenta no facto de poder ser subjectivamente submetida á critica e assim
resistir a estes testes e provas. A objectividade é várias vezes produzida e
reconstruida pois várias hipóteses sugerem mais verificações, o que leva a
várias validades de objectividade. Além disso, necessita de um consenso
para não haver um antagonismo e não haver desadequação e
conflitualidade. A teoria tem de suportar uma concepção e explicitação
operatória, garantida por uma coerência formal que permite uma
compreensão e objectividade, sendo, logo, um registo de memória.

2. É possível alcançar a verdade na escrita histórica?

Nenhuma verdade histórica é completamente incontestável, já que a


história não é uma ciência dedutiva e demonstrativa, o que leva á longa
ideia de fé histórica onde tudo pode ser verdade ou pode tudo ser mentira.
Acontece que esta mesma figura, graças ao carácter plástico da fé histórica,
comporta em si um paradoxo: ele tanto pode ser um indivíduo com ideias
mal fundamentadas e retiradas de fontes sem fundamento, como pode ser
um indivíduo com uma teoria completamente dentro dos limites da razão
que defende de forma igualmente acérrima. Ainda assim, em ambos os
casos, é rapidamente desprezado pela comunidade científica. O historiador
não pode simplesmente demonstrar como ele está errado, porque a história
não é uma ciência exacta. Está no âmbito do possível.

3. Como se intende a relação entre a história e o documento?

Segundo Marrou, a historiador não estuda o documento por si mesmo, mas


sim começa por colocar um problema e depois leva a cabo um movimento
dialéctico de conhecimento do documento, em que o sujeito, o historiador,
pretende conhecer o objecto, tornando-se parte dele. O historiador formula
uma hipótese, estuda-a e depois volta a reformular caso descubra que não
estava correta, este é o processo de conhecer os documentos para se
perceber se é verdade ou não o passado humano expresso nos documentos.
O documento expressa o pensamento de determinado individuo ou uma
realização artística. Tudo está no documento, o historiador é que tem de ter
a capacidade de o interpretar.

4. O que entende por método crítico enquanto método histórico?

O historiador deve ter precauções quando leva a cabo a sua intervenção e


investigação pois os testemunhos que estuda podem não ser verdadeiros. A
informação que o historiador pode retirar depende apenas da sua habilidade
de formular perguntas e retirar do documento a informação correta para o
seu estudo. O historiador passa do simples documento para uma realidade
que observa, por isso deve ler os documentos e critica-los na medida em
que estes por si só não podem comprovar se um determinado testemunho é
verdadeiro. Apenas depois de recolhidas as testemunhas acreditadas e
analisando se as suas afirmações são convergentes ou não, é que o
historiador saberá que está perante um conhecimento rigoroso.

5. Realidade histórica e conhecimento histórico têm o mesmo


significado?

A realidade histórica e o conhecimento histórico têm significados diferentes.


O conhecimento histórico parte a partir de um documento ou fonte, a partir
da qual surgirá a crítica e a validação deste mesmo. A partir daqui forma-se
um problema e uma hipótese ou várias que iram ser reformuladas á medida
que se analisa mais profundamente o documento, para depois assim se
chegar a uma solução. Então, o conhecimento histórico é obtido através da
análise crítica dos documentos e da sua veracidade depois de confrontado
com outras testemunhas.
Já a realidade histórica, apesar de também partir de um documento, o seu
objectivo é apenas o de reconstituir uma determinada realidade a partir de
factos, e reconstituir a experiencia passada, sendo algo mais objectivo
enquanto o conhecimento histórico é algo mais subjectivo que depende
muito do historiador e da sua análise. O objectivo do historiador é
reconstruir a realidade e não interpreta-la.
1
6. Que especificidades encontra o género literário histórico?

Além dos principais géneros literários (poesia, narrativa e drama), há uma


classificação mais específica para obras: históricos géneros literários. Esta
classificação é estabelecida em alguns períodos da história, geradas pelas
maneiras de escrever relativamente fixas, que vieram a ser géneros com
características próprias. Normalmente, a escrita é assumida num
determinado contexto que está directamente relacionado com as
circunstâncias históricas e culturais que existiam na época. Os géneros
literários históricos entendem-se como formas específicas dos grandes
géneros e que são um critério útil para classificar um conjunto de obras com
traços comuns entre si. Então desenvolvem-se durante um determinado
período histórico. Como exemplo temos os textos épicos, a tragédia grega,
os autos da idade média, etc.

7. Como é que se processa metodologicamente a construção do


conhecimento histórico?

Segundo Marrou, o conhecimento histórico processa-se através do estudo


do documento mas não começa nele. Com base no documento, o historiador
começa por colocar um problema e depois leva a cabo um movimento de
dialéctica do conhecimento histórico do documento, em que o sujeito
objectiva-se. O historiador formula uma hipótese, estuda-a e depois volta a
reformula-la caso descubra que não estava correcta. A percepção do
passado centra-se na ideia que o historiador quer apreender o passado, ou

1 Não sei se é isto a resposta porque não percebi muito bem o objectivo
desta pergunta.
seja, documentos que expressem o pensamento de determinado individuo
ou de uma realização artística. Está tudo no documento, o historiador é que
tem de ter a capacidade de o perceber. No entanto, o conhecimento
histórico é também resultado de um processo critica pois depende de
testemunhos que podem comprovar ou não a veracidade dos documentos
pois o historiador tem de ter sempre provas que contenham informação
correta, formulando perguntas. No entanto, o conhecimento histórico terá
de se referir também aos factos, aos acontecimentos da época e não
apenas á mentalidade dos que nela viveram e ao ambiente de época. O
historiador passa do simples documento a uma realidade que observa,
emitindo um juízo sobre o puro rigor com que a situação deve ser estudada.
Deve ler os documentos critica-los para garantir que um testemunho é
verdadeiro. Apenas depois disto, depois de ter recolhido testemunhos
acreditados e os ter comparado e garantido que as suas afirmações são
convergentes, é que se saberá que o historiador está perante um
conhecimento histórico rigoroso. Apesar disto, o conhecimento histórico
também se deve basear na fé que se tem em relação á veracidade de um
testemunho, o que se acredita ser verdadeiro.

8. Como se processa a verificação histórica?

A fonte histórica é o único contacto possível com o passado que permite


formas de verificação. A reconstrução do passado assenta na seriedade e no
rigor do conhecimento, que deve constituir uma estrutura logica. O processo
de verificação faz-se através dos documentos, do historiador, dos
instrumentos do conhecimento, das testemunhas e da reflexão. Só depois
deste processo de verificação é que o historiador sabe que está perante um
conhecimento fidedigno, e poderá apresentar problemas, hipóteses e
soluções.

9. O que é “validar” em história?

Segundo Popper, a lógica de descoberta começa e acaba pela colocação de


problemas, que se caracterizam pelo florescimento de hipóteses. Esta lógica
assenta numa justificação de validação, ou seja, numa lógica explicativa
para a realidade histórica. A validação passa por: discussão das propostas
que estão em causa e comparação entre elas, a confrontação de vários
pontos de vista e várias hipóteses, e a pertinência da teoria.

10. Qual o papel da controvérsia critica para a metodologia


histórica?

Popper atribui um significado relevante á controvérsia crítica no crescimento


científico salientando o caracter conjuntural da teoria. A legitimação do
discurso e objectividade dos dados deriva de teorias de observação e dos
instrumentos de análise e supõe a consequência doas resultados pela
comunidade cientifica que aceita ou não este ou aquele tipo de observação
ou de verificação, e que incorpora ou não aspectos de conflito entre teorias.
A partir da controvérsia nasce a objectividade, produto de um consenso
social, cultural e histórico da comunidade científica. A confrontação de
teorias submete-as á crítica e permite que as hipóteses sejam produzidas e
reconstruidas. Então, uma teoria para ser objectiva necessita de consenso,
de antagonismo e de conflito.
11. Que papel atribui aos conceitos para a narrativa
histórica?

Segundo Paul Veyne, a história não se reduz ao campo de aplicação das


ciências, tendo “núcleos” de cientificidade. Deste modo, os conhecimentos
conseguidos pelas ciências humanas podem conseguir ajudar á percepção
da história, mas nunca serão de facto história. Então o objectivo final da
história será o da conceptualização, ou seja, o esforço de tentar criar
vocábulos operativos que passam a ser utilizadas para definir o confuso e o
multifacetado real onde se desenvolve a acção. Segundo o mesmo autor, “o
talento do historiador consiste em inventar conceitos”, ou seja, o historiador
tem de conseguir ler e interpretar os documentos retirados das mesmas
realidades que não estão exactamente expressas. A historiografia é a única
que consegue ler e interpretar os documentos de modo a criar conceitos
equivalentes em relação ao que está escrito. O historiador é mais do que
um conhecedor da história, ele consegue perceber o que aconteceu na
mesma além de conseguir explicitar que é uma história não-factual, que não
se limita a narrar as fontes e sim a criar conceitos.

12. O que entende por conceptualização do discurso


histórico?

Segundo Veyne, um conceito tem de ser convencionalmente operativo para


ser aceite, além de ter de constituir prova decisiva para estabelecer a
verdade, e tem de ter a capacidade de verificação. A análise/interpretação e
a crítica histórica/construção discursiva pressupõem o domínio dos
conceitos. O uso dos conceitos é um elemento básico para a obtenção do
conhecimento histórico, de modo a ajusta-lo ao real. A comunicação com o
conhecimento histórico faz-se através de conceitos, mas estes têm de ter
adaptabilidade, sendo uma construção logica estabelecida de acordo com
um quadro de referências. Adquirem significado de acordo com um
esquema de pensamento em que são formuladas. As construções de
conceitos expressam-se por conjuntos de factos que se encontram
relacionados e constituem um facto complexo e expressam manifestações
desses factos. Seja o contexto de mudança significativa para o conceito no
seu desenvolvimento histórico, que podem adquirir novos significados em
vários períodos de tempo em que já não têm o mesmo significado. Se isto
acontece, e se forem utilizados num novo meio, podem-se tornar
anacrónicos (inadaptados/desajustados).

13. O que é “provar” em história?

Para o historiador, provar é confirmar que está perante um conhecimento


histórico fidedigno de veracidade, e para isso as provas têm de ser
pertinentes e verdadeiras. O documento de onde é retirado o testemunho,
para ser considerado prova tem de passar por testes críticos e diversas
comparações. Apenas depois de ter recolhido testemunhos acreditados e de
os ter comparado e garantido que as suas afirmações são convergentes, é
que se saberá que o historiador está perante uma prova histórica.

14. Que problemas se colocam ao uso de conceitos em


história?
A conceptualização deve ser efectuada com prudência de modo a que não
se criem duas situações: impressionismo e falta de fluidez da história. O
impressionismo dá-se quando um conceito se torna tao abrangente que
deixa de ser operativo, ou seja, quando começa a descrever tantas
realidades que deixa de ser operativo e de ter interesse para referir
qualquer uma delas. Um historiador que tente que um conceito sirva para
todo o tipo de realidades, apenas vaia acabar por nada descrever, acabando
por ter um discurso confuso e generalizado. Em relação á falta de fluidez, o
historiador tenta entender demasiados lados de uma determinada
realidade, de modo a que esta se torne confusa e acabe por não deixar o
discurso histórico progredir. Caso o historiador tente a profundar
determinado assunto em demasia, vai levar a que o seu discurso deixe de
ser história para ser a simples definição de um conceito. O estudo deve de
ser profundo mas manter a fluidez da história, ou seja, deve deixar que o
discurso progrida, criando conceitos operativos que abranjam as várias
faces de uma realidade complexa.

15. Como se processa o conhecimento histórico?

O conhecimento histórico baseia-se na fé que temos em relação á


veracidade de um testemunho, aquilo que acreditamos ser verdadeiro. O
conhecimento totalmente racional é completamente inaceitável e nunca
conseguiria ter resultados positivos. A filosofia crítica tem de reconhecer a
fé como parte integrante do conhecimento do homem, mesmo que não seja
completamente provado por um processo dedutivo. Mas o ato de fé histórica
não deve ser arbitrário, já que a razão está subjacente á fé que depositamos
num determinado testemunho e documento, e essa fé não é pura
arbitrariedade nem é algo que prenda a inteligência e o pensamento
racional.

16. Que papel desempenha a hipótese na construção do


conhecimento histórico?

A partir de determinado documento, o historiador encontra um problema e


formula hipóteses. Estas hipóteses irão ser estudadas e depois novamente
reformuladas caso se descubra que não estão corretas. É o historiado que
faz a ponte entre o documento e as hipóteses, pois este além de ler o
documento, analisa, interpreta e critica o seu conteúdo de modo a obter
uma problemática e a resolve-la com várias propostas de hipótese.
17. O conhecimento histórico não é imediatividade, porquê?

O conhecimento histórico não é imediato, ou seja, quando o historiador se


confronta com um documento e começa a lê-lo e a colocar problemas e
hipóteses, no entanto ainda não adquiriu conhecimento histórico. Para isso,
o sujeito tem que reflectir e analisar criticamente sobre o que leu no
documento. O conhecimento histórico adquire-se validando o documento,
pela discussão de perspectivas, legitimação do discurso e pertinência da
teoria. Então o conhecimento histórico adquire-se não imediatamente, mas
sim por teorias de observação e instrumentos de análise, não bastando a
leitura do documento.

18. Que valor atribui às periodizações para o conhecimento


histórico?
As periodizações dão um sentido aos acontecimentos ao curso real do
tempo. Também são fundamentais para a história quer esta estude a
sociedade, o estado, a cultura, a economia. Os conceitos como “formação
económico-social”, “modo de produção”, “civilização”, “renovação”, “crise”,
estão presentes e ligadas a uma periodização.
A periodização canónica contínua actual: antiguidade tardia, época
medieval, tempos modernos. Consoante as análises, ensaiam-se as
periodizações: antiguidade tardia, antigo regime, absolutismo e Proto
dinástico

19. O que se entende por “facto histórico”?

Facto histórico não é sinónimo de historiografia, e pode ser traduzido como


sendo relacionado aos eventos políticos, festas, heróis nacionais, sendo
assim isolados do contexto histórico. São eventos que pertencem ao
passado mais próximo ou distante, de caracter material ou mental, que se
destacam mudanças permanentes ocorridas na vida colectiva.

Você também pode gostar