Você está na página 1de 8

PEARSON, Joanne E. Wicca. In: JONES, Lindsay. (org.). Encyclopedia of religion, 2ª ed., v .

14. Thomson Gale (2005), p. 9728-9732. Tradução: Fábio L. Stern.

WICCA. A Wicca surgiu na década de 1940 na Inglaterra como uma tentativa de recriar o que se
acreditava ser um sistema religioso indígena antigo da Bretanha e da Europa, caracterizado pela
veneração da natureza, politeísmo e o uso de magia e ritual. Foi fortemente influenciada pelo
reavivamento do ocultismo no final do século dezenove, incluindo sociedades secretas e mágicas
como a Ordem Hermética da Aurora Dourada (estabelecida em 1888), o notório mago Aleister
Crowley (1875-1947), a Maçonaria, e o Espiritismo. A redescoberta das ideias clássicas da natureza
e da divindade na literatura romântica e na arqueologia forneceu as fontes adicionais, assim como o
estudo “antropológico” da folclorista britânica e egiptóloga Margaret Murray (1862-1963) sobre a
bruxaria na Europa, The Witch-Cult in Western Europe1 (1921).
Esses tópicos foram tecidos na Wicca primitiva por Gerald Brosseau Gardner (1884-1964), um
funcionário público britânico que passou grande parte de sua vida trabalhando no Extremo Oriente e
tinha uma paixão pelo folclore e arqueologia, visitando diversos locais de importância arqueológica
em viagens pelo Oriente Médio. Gardner retornou à Inglaterra quando ele se aposentou em 1936,
vivendo em Londres e em New Forest antes de se mudar para a Ilha de Man em 1954. Depois de
voltar à Inglaterra, Gardner, já um maçom, entrou na Sociedade Folclórica, na Co-Massonaria, na
Ordem dos Druidas, e na Sociedade Rosacruz de Crotona. Esse último grupo, segundo ele, continha
um grupo escondido, interno de bruxas hereditárias que o iniciou em 1939. Eles também teriam
permitido a Gardner publicar seus rituais em forma de ficção em seu romance High Magic's Aid
(1949), o qual ele escreveu sob o pseudônimo de Scire. Gardner não pôde publicar artigos mais
abertos de bruxaria sob seu nome real até a Lei de Bruxaria de 1736 ser revogada em 1951 e
substituída pela Lei dos Médiuns Fraudulentos, o que deu liberdade aos indivíduos praticarem a
bruxaria desde que nenhum mal fosse feito a pessoas ou propriedades. Livre de uma lei que
subjugava qualquer um que alegasse ter poderes mágicos à prossecução, Gardner escreveu Witchaft
Today (1951), que contém uma introdução de Margaret Murray, seguido de The Meaning of
Witchcraft (1959), levando ele mesmo e a bruxaria ao centro das atenções públicas.
Em Witchcraft Today Gardner expôs sua convicção de que a bruxaria não apenas foi a
religião indígena original da Grã-Bretanha, que data da Idade da Pedra, mas que ela tinha
sobrevivido à perseguição da Grande Caça às Bruxas no início da Europa Moderna, continuando em
segredo mas agora ameaçada de extinção. Tais alegações seguiam de perto a tese de Murray de que
uma antiga religião envolvendo a adoração de um deus chifrudo que representa a fertilidade da
natureza sobreviveu à perseguição e existiu em toda a Europa Ocidental. Murray argumentou que o
culto das bruxas foi organizado em covens que se reuniam de acordo com as fases da lua e as
mudanças das estações, realizando rituais que envolviam dança, banquetes, sacrifícios e sexo ritual

1
N.T.: Lançado no Brasil como O culto das bruxas na Europa Ocidental pela editora Madras (2003).
em honra ao deus chifrudo. Mais tarde, em The God of the Witches2 (1933), Murray traçou o
desenvolvimento desse deus da vegetação e introduziu a ideia de uma deusa da fertilidade no culto.
A fé absoluta de Gardner nisso e a perpetuação do argumento de Murray levou muitos dos
primeiros wiccanos a acreditar que estavam continuando essa antiga tradição de bruxaria, embora os
estudiosos tenham rejeitado a validade do uso dos registros de julgamentos, visto que desde que
The Witch Cult foi publicado pela primeira vez a maioria de suas evidências foi refutada com o
tempo. A maioria, porém não todos, os wiccanos de hoje reconhece que há poucas evidências para
uma tradição indígena contínua de bruxaria pré-cristã na Europa Ocidental, mas o objetivo de
Gardner de reviver o que ele acreditava ser uma religião agonizante parece ter sido cumprido. Suas
numerosas aparições na mídia trouxeram a Wicca à atenção do público durante a década de 1950,
período no qual ele encorajou as pessoas a criarem covens operando de acordo com os esboços de
seus livros e iniciou muita gente na Wicca. Uma delas foi Dorren Valiente (1922-1999), uma das
figuras-chave na Wicca moderna. Ela trabalhou com Gerald Gardner como sua alta sacerdotisa e
revisou o Livro das Sombras, um livro de rituais, informações e conhecimento pelo qual ele alegou
origens ancestrais, mas que ela achou ser muito influenciado pelos escritos de Alester Crowley.
Valiente finalmente deixou seu coven em 1957, após se desentender com ele sobre sua busca cada
vez maior por publicidade, e periodicamente desistiu da face pública da Wicca ao longo de sua vida.
Ela foi, contudo, consistente em seu apoio ao que chamou de as religiões pagãs antigas: em 1964
foi presidente da Witchcraft Research Association, foi um dos membros fundadores da Frente Pagã
em 1971, e em novembro de 1998 ela falava na reunião anual da conferência da Federação Pagã
em Londres. Sua vida dentro da Wicca, da bruxaria e do paganismo está documentada em muitos de
seus livros, incluíndo The Rebirth Of Witchcraft (1989), Witchcraft for Tomorrow (1978), e
Witchcraft: A Tradition Renewed (1990, com Evan Jones).
Outra figura central é Patricia Crowther (1932-...), que foi iniciada por Gerald Gardner em
1960 e estabeleceu covens em Yorkshire e Lancashire. Ela era uma atriz e dançarina cujo marido,
Arnold Crowther, era um velho amigo de Gerald Gardner. Patricia Crowther é autora de uma série de
livros de bruxaria, incluindo Lid Off the Cauldron (1981) e sua autobiografia, One Witch's World3
(1998), publicado como High Priestess: The Life and Times of Patricia Crowther (2000) nos Estados
Unidos. No início do século vinte e um, ela continuou a manter um coven em Sheffield, e foi um
ex-membro de seu coven, Pat Kopanski, que foi fundamental na iniciação na Wicca de Alex
Sanders (1926-1988), quem desenvolveu uma segunda vertente da Wicca nos anos 1960.
Sanders era um residente de Manchester que clamava uma ancestral bruxa de Snowdonia,
em Gales do Norte. Sua vertente de Wicca era baseada nos traços gardnerianos, mas a Wicca
Alexandrina, como viria a ser conhecida, era mais fortemente influenciada pela magia ritual,
cerimonial – Sanders trabalhou para a biblioteca John Rylands em Manchesters, onde leu os textos

2
N.T.: Lançado no Brasil como O Deus das Feiticeiras pela editora Gaia (2002).
3
N.T.: Lançado no Brasil como O Mundo De Uma Bruxa pela editora Bertrand Brasil (2000).
clássicos sobre magia ritual, e foi treinado como médium através de visitas a um centro espírita
com sua mãe durante a infância. Em 1961, Sanders supostamente escreveu aos wiccanos locais
que vira na televisão, mas eles pegaram uma antipatia por ele, e aparentemente não antes de 1963 ele
foi iniciado na Wicca por uma sacerdotisa em Derbyshire. Sanders seguiu como alto sacerdote de
um coven em Nottinghamshire, mas o grupo de dissolveu em 1964, foi quando ele conheceu
Arline Maxine Morris (1946-...) de então dezessete anos. Eles começaram um coven juntos em 1965,
foram descobertos por um jornal local, e passaram a manipular a mídia a tal ponto que se tornaram
os bruxos mais famosos do mundo em 1966. Tal atenção da mídia atraiu muitas pessoas e levou a
toda uma rede de covens surgindo à sua volta, embora os já estabelecidos wiccanos gardinerianos
denunciassem Alex como um charlatão. Assim como Gardner, Sanders buscou publicidade para a
Wicca, muitas vezes de caráter sensacionalista, e por volta de 1970 ele ficou conhecido como o Rei
das Bruxas.
Em 1967 Alex e Maxine Sanders se mudaram para Londres, e em 1969 Alex Sanders foi
divulgado sensacionalmente em um artigo de jornal. Esse artigo levou a muitas aparências na
mídia, a uma biografia romanceada, King of the Witches, de June Johns (1969), e a um filme,
Legend of the Witches (1969), como resultado do crescimento exponencial da Wicca Alexandrina. Em
1973, o relacionamento entre Alex e Maxine terminou, e eles se divorciaram em 1982 mas
continuaram amigos. Enquanto Maxine continuou a liderar o coven, Alex afastou-se dos holofotes
para Sussex, onde continuou a ensinar a Wicca até a sua morte por câncer de pulmão na véspera do
Beltane de 1988. Ele também foi um iniciador prolífico, e muitos covens na Alemanha, na Holanda
e outros países do norte da Europa surgiram de suas visitas durante esse período.
Uma série dos iniciados por Sanders – particularmente Stewart Farrar (1916-2000), Janet
Farrar, e Viviane Crowley – foi responsável por escrever livros extremamente influentes sobre a
Wicca. Stewart conheceu Alex e Maxine Sanders enquanto trabalhava como jornalista em 1969 e
foi iniciado por Maxine em 1970. Ele e Janet mantiveram seu próprio coven em Londres, casaram
em 1974, e subseqüentemente se mudaram para a Irlanda em 1976. Lá, eles continuaram a treinar e
iniciar pessoas na Wicca e se tornaram autores wiccanos profícuos cujos muitos livros incluem
What Witches Do: A Modern Coven Revealed (1971), Eight Sabbats for Witches (1981), The
Witches’ Way (1984), The Witches’ Goddess (1987), The Witches’ God4 (1989), Spells and How They
Work (1990), e, com Gavin Bone, The Pagan Path (1995) e The Healing Craft (1999). The
Witches' Way contem o volume de rituais gardnerianos contemporâneos e foi publicado com o
auxílio ativo de Doreen Valiente, quem escreveu a maioria deles e disponibilizou uma grande
quantidade de material em seu livro de 1978, Witchcraft for Tomorrow. Assim, os textos e rituais
essenciais da Wicca Gardneriana tornaram-se acessível para todos. Após a morte de Stewart, Janet
casou-se com Gavin Bone, e eles continuam a iniciar, escrever e falar em conferências pagãs.

4
N.T.: Lançado no Brasil como O Deus dos Magos pela editora Siciliano (1999).
A sacerdotisa wiccana, psicóloga e professora universitária Vivianne Crowley foi iniciada
tanto na Wicca Gardneriana quanto na Alexandrina, e em 1979 fundou um coven wiccano que
combinava as duas tradições. Em 1988 ela fundou o Wicca Study Group com seu marido, Chris,
que é hoje a maior organização de ensinamentos wiccanos da Europa. Ela é um membro do
conselho da Federação Pagã, servindo como secretária honorária (1988-1994), coordenadora da
capelania prisional (1991-1995), e coordenadora interconfessional (1994-1996). Crowley possui um
doutorado em psicologia e foi treinada em terapia transpessoal pelo Centro de Psicologia
Transpessoal em Londres. Seus livros incluem o best-selling Wicca: the Old Religion in the New
Millenium (1989; 1996), Phoenix from the Flame: Pagan Spirituality in the Western World (1994),
Principles of Paganism (1996), Principles of Wicca (1997) e A Woman's Guide to the Earth
Traditions (2001).
A Wicca não está, contudo, confinada ao noroeste da Europa. Ela se tornou um fenômeno
global que pode ser encontrado na maioria dos países povoados por pessoas de descendência
europeia, incluindo os Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia e a África do Sul. Ela se espalhou
através de pessoas como Raymond Buckland5, um iniciado de Gerald Gardner que emigrou aos
Estados Unidos subsequentemente em 1967, levando a Wicca Gardneriana consigo. Buckland
posteriormente se desiludiu com a hierarquia percebida na Wicca Gardneriana e passou a formar
uma tradição de Wicca mais igualitária, a qual ele chamou de Seax Wicca, ou Wicca Saxônica. Ele é
o autor de inúmeros guias faça-você-mesmo de Wicca, incluindo The Tree: Complete Book of Saxon
Witchcraft (1974). A explosão dos livros de Wicca de como fazer desde a década de 1980 e, mais
recentemente, sites da Internet se tornaram os principais meios pelos quais a Wicca se espalhou e
cresceu, evoluindo e as vezes mudando de forma bastante dramática.
Durante o final da década de 1970 e os anos 1980, por exemplo, um desenvolvimento mais
importante realizou-se na Wicca conforme o movimento da consciência feminista influenciou o
surgimento da Wicca e da bruxaria feminista na América do Norte. A ativista feminista húngaro-
americana Zsuzsanna Budapest foi uma das forças motrizes por trás do desenvolvimento da
bruxaria feminista, formando o coven exclusivamente feminino Susan B. Anthony, mantendo uma
loja chamada The Feminist Wicca na Califórnia, e publicando independentemente The Feminist
Book of Light and Shadows (1978). O livro era uma reformulação da já disponível Wicca Gardneriana,
o qual excluía todas as menções aos homens e deidades masculinas e incluía seus próprios rituais,
feitiços e conhecimentos. Ele foi mais tarde expandido e publicado como The Holy Book of Women's
Mysteries em 1986.
Starhawk (Miriam Simos) (1951-...) é uma das mais proeminentes ativistas do paganismo
feminista nos Estados Unidos. Seu ativismo feminista na década de 1970 a levou ao movimento da
Deusa, e ela estudou a bruxaria feminista com Budapest e a Faery Wicca com Victor Anderson.

5
N.T.: No texto original grafado como “Ray Buckland”, corrigido para “Raymond Buckland” na tradução.
Após praticar como uma solitária, Starhawk formou o Compost, seu primeiro coven, com
participantes de um curso noturno de bruxaria e, em seguida, um segundo, Honeysuckle, apenas para
mulheres. Ela foi eleita presidente do Covenant of the Goddess em 1976-1977, e é uma das
fundadoras do Reclaiming Collective em São Francisco em 1980. The Spiral Dance6 provou ser um
volume sempre popular desde sua primeira publicação em 1979, vendendo mais de 100.000 cópias
em seus primeiros dez anos de publicação. O livro é baseado na tradição fadárica de Anderson,
mas incorpora princípios estritamente feministas na bruxaria moderna, princípios que foram
expandidos em seus livros posteriores Truth or Dare (1987) e Dreaming the Dark (1988). Starhawk
combina a veneração à natureza, política, ativismo, psicologia e o culto à Deusa em uma
tentativa de curar as divisões espirituais e políticas na sociedade e nos indivíduos. Tais temas
aparecem com ainda mais força em seus dois romances, The Fifth Sacred Thing7 (1993) e Walking
to Mercury (1997). A postura dos wiccanos europeus para o redirecionamento da bruxaria para o
ativismo político por Starhawk tende a ser cautelosa. Recentemente, Starhawk valorizou ativamente
suas raízes judaicas, bem como ser uma bruxa, uma exploração que lhe levou a se referir a si mesma
por vezes como uma jewitch8.
A religião descrita por Gardner e desenvolvida desde a década de 1950 posiciona a natureza
no centro por meio de divindades que representam a natureza e rituais associados com a mudança
das estações, e pela crescente preocupação com o meio ambiente desde os anos 1970. Ainda que
algumas versões de Wicca feministas foquem-se exclusivamente na divindade feminina, as
percepções da deidade na Wicca são diretamente ligadas à natureza e são geralmente consideradas
como aptas tanto aos homens quanto para as mulheres, visto que eles incluem tanto deusas quanto
deuses. Por exemplo, A Grande Carga9, reescrita por Doreen Valiente das versões iniciais, foca-se
especialmente na Deusa como a personificação da natureza, e é um dos textos litúrgicos mais bem
conhecidos da Wicca. Ele descreve a Deusa como a beleza da terra verde, a lua branca entre as
estrelas, o mistério das águas e como a alma da natureza que dá vida ao universo. Sua contraparte é o
Senhor das Folhas Verdes, o Rei do Sol, o Rei do Milho, o Líder da Caça Selvagem, o Senhor da
Morte, um deus intimamente conectado com a natureza representado através dos festivais de
mudanças sazonais.
A cada ano a maioria dos wiccanos celebra oito festivais, conhecidos como sabbats; eles
formam um ciclo de rituais conhecido como a Roda do Ano. Quatro rituais principais são
celebrados nos quatro festivais sazonais descritos por Murray como os sabás das bruxas e baseados no
ano agrícola. Eles são o Candlemas em 1º de fevereiro, o Dia de Maio em 1º de maio, o Lammas em
1º de agosto, e o Hallowe’en no dia 31 de outubro. Durante os anos 1980 esses festivais sofreram
celtização como um resultado da mudança de Farrar à Irlânda e do interesse norte americano
6
N.T.: Lançado no Brasil como A Dança Cósmica das Feiticeiras pela editora Gaia (2003).
7
N.T.: Lançado no Brasil como A Quintessência Sagrada pela editora Nova Era (2005).
8
N.T.: Do trocadilho em inglês jewish (judeu) e witch (bruxa).
9
N.T.: Mais conhecida como “Carga da Deusa”.
pela ancestralidade celta; eles assim tendem hoje a ser conhecidos como Imbolc, Beltane,
Lughnasadh, e Samhain respectivamente. Os outros quatro festivais que formam a Roda são
posicionados astrológicamente: os solstícios de inverno e verão por volta de 21 de dezembro e 21
de junho, e os equinócios da primavera e outono por volta de 21 de março e 21 de setembro. O
solstício de inverno é comumente chamado Yule e, particularmente na América do Norte, o solstício
de verão tende a ser chamado de Litha, com os equinócios conhecidos como Ostara (primavera) e
Mabon (outono).
A cada um dos festivais, deidades são visadas em aspectos apropriados a estação. Por
exemplo, no Hallowe’en ou Samhain, Deuses e Deusas associados com a morte e o submundo
como Hécate, Hades, Rhiannon ou Anúbis podem ser visados, já que os wiccanos celebram a morte
como uma parte do ciclo da vida e buscam se preparam para os meses do inverno escuro por vir. Os
sabbats wiccanos são destinados a aprofundar a compreensão dos participantes sobre o ciclo de
vida, morte e renascimento conforme revelado nas mudanças evidentes na natureza, já que
divindades, seres humanos, e o mundo natural são vistos como interligados. Por causa disso muitos
wiccanos que vivem no Hemisfério Sul reverteram os festivais. Por exemplo, os rituais do
solstício de verão acontecem no dia 21 de dezembro para celebrar a plenitude da vida refletida na
natureza naquele mesmo momento do ano em países como a Austrália, Nova Zelândia e a África do
Sul.
A maioria dos wiccanos mora em áreas urbanas, e os rituais que celebram a natureza e
veneram deidades da natureza ajudam-lhes a se sentir mais em contato com o mundo natural. Isso,
além do aumento na preocupação ativa pelo meio-ambiente desde a década de 1970, tem sido o maior
motivo para o crescimento da popularidade da Wicca e do neopaganismo em geral em toda segunda
metade do século XX e no século XXI. Entretanto, wiccanos demonstram uma gama de atitudes
perante a proteção do mundo natural, do ambientalismo radical e protestos diretos a visões mais
abstratas derivadas de uma natureza idealizada do Romantismo ou do esoterismo ocidental. Nesse
último, a natureza é um reflexo de uma realidade divina maior, sendo ao mesmo tempo um
intermediário entre a humanidade e o divino e sendo imbuída com a divindade em si. Assim, o
ativismo ambientalista não necessariamente deriva de um engajamento espiritual ou ritual com a
natureza, embora comumente esse seja o caso na Wicca norte-americana conforme praticada e
ensinada por Starhawk, por exemplo. A natureza, e a compreensão dos wiccanos sobre ela, são
extremamente complexas; não se pode assumir que a Wicca e o ambientalismo andem de mãos dadas.
Essa complexidade é evidente na diversidade de tradições wiccanas que emergiram ao
redor do mundo. Práticas emprestadas dos nativo-americanos foram adotadas e adaptadas por
wiccanos na América do Norte, por exemplo, enquanto muitos wiccanos europeus voltaram-se às
tradições saxônicas, célticas ou germânicas, buscando inspiração na suposta tradição indígena do
norte da Europa. As culturas pagãs clássicas da Grécia, Egito e Roma também são exploradas para
inspiração. A bruxaria feminista tem tido um grande impacto na Wicca na América do Norte, a
qual então se espalhou para a Nova Zelândia e Austrália, mas tem sido menos influente na Bretanha,
onde as tradições gardneriana e alexandrina continuam fortes. Não obstante, o grande número de
derivações norte-americana da Wicca – incluindo o Reclaming de Starhawk, a Faery Wicca, a
Wicca Diânica e a Seax Wicca – cruzaram de volta à Europa, e a versão de Starhawk em particular
cresceu em popularidade por causa do seu esforço em ações políticas e ambientais.
A Wicca não tem uma estrutura institucional centralizada, e os wiccanos possuem poucas
crenças às quais todos aderem. Tais incluem a Wiccan Rede ou Lei – Faça o que quiser desde que
não prejudique ninguém – e a Lei Tríplice, que afirma que tudo o que uma pessoa faz, para o bem
ou para o mal, retornará triplicado. A inexistência de uma estrutura organizacional central permite
um nível enorme de variedade, e a Wicca no início do século XXI parece provavelmente manter a
sua complexidade e se diferenciar ainda mais conforme continua a se espalhar e crescer.

VEJA TAMBÉM Alesteir Crowley; Maçonaria; Neopaganismo; os Rosacruzes; Espiritismo.

BIBLIOGRAFIA
ADLER, Margot. Drawing Down the Moon: Witches, Druids, Goddess-Worshippers, and Other
Pagans in America Today. 2d ed. Boston, 1986. Um estudo detalhado do neopaganismo
na América do Norte no início da década de 1980.
CROWLEY, Vivianne. Wicca: The Old Religion in the New Millennium. London, 1996. Oferece
dados da tradição que combina a Wicca Alexandrina e Gardneriana, com uma forte pitada de
visão junguiana.
GARDNER, Gerald B. Witchcraft Today. London, 1954.
GARDNER, Gerald B. The Meaning of Witchcraft. London, 1959. O segundo dos dois relatos
baseados em fatos da Wicca por seu fundador.
GREENWOOD, Susan. Witchcraft, Magic and the Otherworld: An Anthropology. Oxford, 2000.
Um estudo antropológico da magia moderna como praticada pelos pagãos britânicos.
HANEGRAAFF, Wouter J. New Age Religion and Western Culture: Esotericism in the Mirror of
Secular Thought. New York, 1998. Um amplo exame crítico das relações entre a Nova Era
e as Tradições Esotéricas Ocidentais.
HARVEY, Graham. Listening People, Speaking Earth: Contemporary Paganism. London, 1997.
Uma ampla introdução ao conjunto de tradições pagãs modernas e suas expressões.
HUTTON, Ronald. The Triumph of the Moon: A History of Modern Pagan Witchcraft. Oxford,
1999. A primeira história acadêmica da Wicca e seu desenvolvimento desde meados do
século XIX.
LUHRMANN, Tanya M. Persuasions of the Witches’ Craft: Ritual Magic in Contemporary
England. Basingstoke, 1994. Um relato etnográfico dos grupos rituais mágicos em Londres
no início dos anos 1980, que explora a natureza da crença.
MURRAY, Margaret A. O culto das bruxas na Europa Ocidental. São Paulo: Madras, 2003. Um
texto-chave no desenvolvimento da Wicca, que influenciou diretamente Gerald Gardner.
PEARSON, Joanne E., ROBERTS, Richard H. SAMUEL, Geoffrey, eds. Nature Religion Today:
Paganism in the Modern World. Edinburgh, 1998. Um exame do paganismo como "religião
da natureza", com contribuições de estudiosos em uma ampla gama de disciplinas.
PEARSON, Joanne E. A Popular Dictionary of Paganism. London, 2002. Um pequeno dicionário
englobando os termos e ideias comumente encontrados dentro do paganismo e fornecendo
informações sobre personalidades principais e o desenvolvimento histórico.
PEARSON, Joanne E., ed. Belief Beyond Boundaries: Wicca, Celtic Spirituality and the New Age.
Aldershot, 2002. Um livro didático que explorar formas de espiritualidade que incluem o
paganismo, a espiritualidade celta, a apropriação das práticas dos povos indígenas nativos, e
a New Age.
STARHAWK. A Dança Cósmica das Feiticeiras. São Paulo: Gaia, 2003. Um clássico sobre a Wicca
feminista e a Faery Wicca.

JOANNE E. PEARSON (2005)

Você também pode gostar