Você está na página 1de 11

Estudo de Caso

Ausência de vendedores nos postos de trabalho:


alguma relação com fatores de risco ergonômico?

Elaine Alcantara Freitas Peixoto

RESUMO
A empresa Rodrigues – Autopeças e Produtos Automotivos atua há vinte anos no ramo varejista
de peças e produtos automotivos e iniciou suas atividades sob direção de um grupo familiar,
mantendo-se assim até os dias de hoje. A preocupação com o gerenciamento financeiro é
presente e constante e a empresa busca sempre fornecer os melhores preços e facilidades
de pagamento para os clientes. Já alguns aspectos relacionados à saúde dos funcionários
parecem ser negligenciados e a ausência constante dos empregados para ida a consultas
médicas está preocupando os administradores da empresa, que se veem obrigados a pagar
horas extraordinárias aos funcionários que são solicitados a ampliar seus horários para suprir
ausências. A empresa está contratando um ergonomista, seguindo orientação do médico do
trabalho que realizou os exames periódicos. A empresa busca, por meio de medidas a serem
recomendadas pelo ergonomista, a redução das faltas e ausências parciais dos empregados
durante o expediente, e a consequente redução dos gastos com horas extras, evitando assim
possíveis processos trabalhistas.

PALAVRAS-CHAVE
Ergonomia Cognitiva; Ergonomia Organizacional; Saúde do Trabalhador.

Introdução

A Rodrigues – Autopeças e Produtos Automotivos é uma empresa que comercializa peças


e produtos para veículos no varejo, tanto para proprietários de veículos quanto para
profissionais que realizam serviços de mecânica, funilaria, pintura e auto elétrico.

Para atender à recomendação do médico do trabalho e coordenador do Programa de


Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), a Rodrigues – Autopeças e Produtos
Automotivos está contratando seus serviços como Ergonomista.

1
Para compreender a necessidade da empresa, você é chamado para uma reunião,
conduzida por José Rodrigues, diretor da Rodrigues e sócio proprietário da empresa, da qual
também participa Mario A. P. Rodrigues, responsável pelo setor de Recursos Humanos. Eles
te apresentam a empresa:

• A Rodrigues foi fundada há mais de 20 anos. Se mantém no mercado com o aumento


crescente do seu número de clientes e, atualmente, conta com duas lojas na cidade de
São Paulo, em bairros distintos e distantes, cerca de 20 km uma da outra.

• Srs. José Rodrigues e Mario A. P. Rodrigues, são pai e filho, sendo sócios proprietários da
empresa e com funções nesta, como já mencionado.

• Sobre a empresa, José Rodrigues relata que, como estratégia para atrair os clientes,
a Rodrigues tem uma página na internet que apenas indica quais são os produtos
comercializados. Para adquirir um produto específico, o cliente pode se dirigir
diretamente à loja física na localização que melhor lhe atenda ou, antes, ligar na
Central de Atendimento e confirmar se o produto desejado encontra-se disponível na
unidade de interesse. Em caso positivo, poderá reservar a mercadoria para adquiri-la
pessoalmente na loja.

• A empresa iniciou suas atividades com uma única loja, na zona norte da cidade – Loja 1,
e depois de cinco anos de funcionamento, a segunda loja foi inaugurada na zona oeste –
Loja 2. Em virtude da localização das lojas em vias de fácil acesso, elas atendem tanto à
população vizinha de cada estabelecimento como a outros interessados que se deslocam
por grandes vias da cidade, chegando com facilidade ao estabelecimento de interesse.

José Rodrigues explica que tem havido aumento das vendas e clientes, consequência do
aumento dos serviços de manutenção em automóveis nos últimos dois anos, em comparação
ao que ocorreu no período de 2015 a 2019. A Rodrigues faz algumas pesquisas junto aos
clientes que relatam serem sempre bem atendidos.

No entanto, José Rodrigues e Mario Rodrigues relataram que tem aumentado o número
de ausências dos vendedores nos últimos seis meses sob justificativa de idas ao médico, o
que vem sobrecarregando aqueles funcionários que estão presentes durante o expediente,
criando situações de horas extraordinárias para cobrir as jornadas dos funcionários ausentes.
A ausência dos empregados está ocorrendo nas duas lojas, com maior frequência na Loja 1,
que será objeto deste estudo.

A respeito do funcionamento das lojas, J. Rodrigues apresentara os seguintes dados:

a) A loja da zona norte tem 161 funcionários e a da zona oeste 160. Ambas funcionam das
7h às 23h, 7 dias por semana. A central de atendimento – teleatendimento – funciona de
segunda a sexta-feira das 7h às 19h e aos sábados das 7h às 13h; está localizada na Loja
2, a 500m de uma estação do metrô.

b) Segundo a Classificação Nacional de Atividades Econômicas – CNAE, cada loja é


classificada como: Comércio de peças e acessórios para veículos automotores – grau
de risco 2. Para o dimensionamento dos Serviços Especializados em Engenharia

2
de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT), de acordo com a NR 4 - Serviços
Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho da Portaria n.
3214/ 1978, considerando a quantidade de funcionários, tanto a Loja 1 como a Loja 2
não são obrigadas a constituir Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e
em Medicina do Trabalho (SESMT). Assim, a empresa, quando julga necessário, contrata
os serviços de empresa de Segurança e Medicina do Trabalho para cumprir os requisitos
legais, como é o caso da renovação do Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros ou a
realização dos exames periódicos, admissionais e demissionais de seus empregados.

c) Sr. J. Rodrigues lembra que em 2007, devido à inclusão do Anexo II - trabalho em


teleatendimento/telemarketing na NR-17, a empresa adotou medidas para cumprir os
requisitos relativos ao trabalho em teleatendimento. Na mesma ocasião, substituiu e
adaptou o mobiliário dos postos de trabalho das duas lojas, tendo mantido o mobiliário em
condições de uso, sob manutenção constante. Também observa que fornece apoio para os
pés para aqueles que trabalham sentados em postos além da central de teleatendimento.

d) Por estes fatos apresentados, Sr. J. Rodrigues considera-se cumpridor das exigências de
saúde e segurança e não entende as ausências dos vendedores para idas ao médico, já
que todos foram avaliados como “aptos” nos exames periódicos da empresa.

e) Sr. J. Rodrigues considera que se resolver as ausências dos vendedores de balcão da loja
1, já terá automaticamente obtido dados para resolver situação similar na loja 2.
Você esclarece que precisa avaliar a situação nas duas lojas, mas Sr. Rodrigues quer
contratar os serviços para resolver o problema na loja 1 inicialmente.

Loja 1

Em dia e horário agendados, iniciando sua atuação como Ergonomista na loja 1 , você
efetua levantamento de dados relativos à loja para compreender o funcionamento e outros
aspectos associados, inclusive a atuação dos vendedores de balcão.

A loja funciona das 7h às 23h para comercialização de produtos. Vendedores, operadores


de caixa e demais funcionários que atendem aos clientes trabalham em dois turnos: das 7h
às 16h e das 14h às 23h; nestes períodos há sempre um gerente responsável pela loja. Existe
um outro turno (3. Turno) que atua na manutenção predial e serviços gerais (limpeza).

Diferentes equipes garantem o funcionamento da loja:

• Administração do negócio/ loja


• Auxiliares de serviços gerais
• Manutenção predial e instalações
• Vendedores na loja
• Vendedores no balcão
• Suporte aos vendedores do balcão
• Caixas/ entrega produtos vendidos
• Serviços de instalação de apenas alguns produtos comercializados

3
Os serviços de administração englobam a administração do negócio e administração da loja.
Estes profissionais atuam assessorando o empregador: são responsáveis pela administração
financeira do negócio e das duas lojas, são os responsáveis pelas compras e pagamentos,
havendo um profissional responsável pelos recursos humanos. Na loja 1 ficam os proprietários
e os responsáveis pelo negócio.

Os gerentes da loja, cada um em seu expediente, são integrantes do setor de


administração e reportam-se aos sócios proprietários da empresa, atendendo os clientes em
situações específicas e coordenando o atendimento ininterrupto destes durante o horário de
funcionamento do estabelecimento. Atrasos e ausências de empregados são identificados e
são adotadas providências que podem ser redistribuição das tarefas do empregado ausente
aos demais presentes, ou solicitação para que outro empregado faça hora extra no lugar do
que se ausentou, ações para que o cliente seja atendido no prazo mais curto possível. Os
gerentes realizam breves reuniões com os empregados sob sua responsabilidade, no início do
turno, geralmente uma vez por semana, às segundas-feiras, e efetuam outras orientações no
decorrer do dia, conforme o andamento do expediente.

Os auxiliares de serviços gerais são responsáveis pela limpeza da loja, sanitários, vestiários,
refeitório, estacionamento e área para troca e instalação de peças adquiridas pelos clientes.
Atuam em três turnos garantindo a limpeza do estabelecimento. Durante o turno noturno
ocorrem os serviços que envolvem lavagem de sanitários, vestiários e refeitório, limpeza com
produtos especiais do piso da área de instalação de peças adquiridas, por exemplo, e durante o
período diurno são efetuadas tarefas para manter estes locais livres de resíduos e higienizados.

A equipe de manutenção predial e instalações atua na substituição de lâmpadas,


instalação e manutenção das redes de energia elétrica, telefonia e dados, pequenos reparos
na edificação em sua parte externa e interna, limpeza e manutenção da caixa d’água.
Trabalha em três turnos garantindo o funcionamento das instalações prediais e consequente
funcionamento da loja.

Os vendedores dividem-se em dois grupos: aqueles que atuam na loja e aqueles que
efetuam vendas no balcão para onde os clientes se dirigem.

• Vendedores que atuam na loja trabalham junto às estantes dos diferentes produtos
comercializados para esclarecer dúvidas dos clientes, tais como: qual produto utilizar
para limpeza de bancos de tecido para o automóvel marca/modelo “X”, ou qual palheta
para limpador de para-brisa é indicada para um determinado modelo de automóvel.
Estes vendedores fornecem esclarecimentos aos clientes, que decidem se vão adquirir o
produto, pegam o produto na estante e dirigem-se ao caixa para efetuar o pagamento;

• Vendedores que atuam no balcão trabalham da seguinte maneira: recebem os clientes


no balcão para venda de peças de veículos. As peças não ficam expostas, o cliente
solicita a peça. O vendedor consulta no sistema, informa disponibilidade da mesma e
valor, e se o cliente for adquiri-la, o vendedor efetua registro no sistema e cadastra o
produto numa comanda numerada, que o cliente apresentará no caixa para efetuar o
pagamento e em seguida retirar a peça no balcão de retirada de produtos vendidos;

Os vendedores de balcão são auxiliados pelos profissionais “suporte aos vendedores do


balcão”: estes permanecem no estoque e acompanham pelo sistema as peças/produtos
solicitadas pelo cliente no balcão, separando a peça e levando-a ao balcão de retirada de
produtos vendidos, segundo o número da comanda que é impressa num tíquete.

4
Os operadores de caixa registram as vendas e recebem o pagamento, considerando as
diferentes possibilidades disponíveis ao cliente e, havendo na venda produtos que foram
adquiridos no balcão é emitido, além da nota fiscal, um tíquete com o número da comanda
para retirada do produto pelo cliente no balcão de retiradas. Para determinados produtos
comercializados, há a possibilidade de instalação na própria loja, como palhetas de limpador
de para-brisas, bateria, pneus e havendo interesse por parte do cliente de ter a peça ou
produto instalado, o caixa questiona e informa o valor da taxa de instalação, emitindo outra
comanda ao cliente que deve, depois de retirar seu produto no balcão, dirigir-se à área de
instalação; a comanda determina a ordem de atendimento no setor de serviços de instalação.

Profissionais do setor de serviços de instalação: todos os profissionais efetuam diferentes


serviços de instalação dos produtos comercializados. Em linhas gerais, esta instalação refere-
se à substituição de peças/produtos sem a necessidade de outros serviços mais complexos
e demorados; os serviços mais demorados oferecidos pela loja referem-se à substituição de
pneus para os quais pode haver a necessidade de balanceamento e alinhamento.

Segue o quadro de funcionários da Loja 1:

Quadro de funcionários da Loja 1 – quantidades de funcionários por turno


Serviços gerias
Atendimento aos clientes
e manutenção
Turno: 7h às 16h Turno: 14h às 23h Turno: 22h às 6h
Administração do negócio/ loja 5 4
Auxiliares de serviços gerais 6 6 5
Manutenção predial e instalações 3 3 5
Vendedores na loja 15 15
Vendedores no balcão 10 10
Suporte aos vendedores do balcão 5 5
Caixas/ entrega produtos vendidos 12 12
Serviços de instalação 20 20

Dando continuidade ao levantamento de dados, associado à observação geral do ambiente


de trabalho, você prossegue na observação, mas agora observação sistemática ou fechada do
vendedor de balcão. A observação sistemática, segundo Ollay e Kanazawa (2016) tem como
objetivo selecionar os aspectos pontuais da tarefa, ou seja. É uma observação minuciosa,
verificando a realização dos detalhes das atividades.

Segundo Ollay e Kanazawa (2016) o pré-diagnóstico ergonômico baseia-se em resultado


de análise de tarefas prescritas e reais. Para que o Ergonomista tenha certeza do pré-
diagnóstico, inicia a observação sistemática para análise das atividades e meios adotados
para sua realização.

5
Você, então, iniciou a observação de um dos vendedores de balcão, aquele que se encontra
no guichê de n.5, e anotou tudo o que foi observado.

Observação

A observação sistemática começou a ser realizada por volta das 10h30, na quarta-feira da
última semana. O vendedor do guichê n.5 acabou de atender um cliente, ficando disponível
para novo atendimento. O vendedor trabalha sentado num assento alto com encosto, junto
ao balcão, no qual há instalado: um micro ligado em rede para acesso a banco de dados
dos produtos disponíveis nas lojas, uma impressora, um leitor de código de barras para as
comandas, uma caixa para as comandas ainda não utilizadas. Há também apoio para os pés
para ser utilizado pelo vendedor, espaço para utilização de folha de papel e caneta.

1. O primeiro cliente da fila aproxima-se do balcão e pergunta se a peça de seu interesse


é adquirida ali, pois alega que outro vendedor da loja o orientou a ir até lá. O vendedor
responde afirmativamente ao cliente e pergunta de qual produto exatamente este precisa.

2. O cliente solicita a peça de seu interesse e o vendedor faz outros questionamentos para
melhor esclarecimento sobre o produto, para identificar a peça de interesse do cliente,
como modelo e ano do veículo.

3. Identificada a necessidade do cliente, o vendedor consulta no sistema se a peça/produto


está disponível naquela loja ou na outra e informa disponibilidade e preço da peça ao cliente.

4. O cliente solicitou informações sobre formas de pagamento, possibilidade de


parcelamento do valor da compra e o vendedor respondeu aos questionamentos.

5. Neste caso a peça está disponível na outra loja; assim o vendedor verifica se o cliente
vai querer adquiri-la e se quer que seja reservada, informando que a reserva vale por 24
horas. O cliente confirma seu interesse. Neste momento, o vendedor pede que o cliente
aguarde, pois vai encaminhar providências de reserva da peça na outra loja; também
orienta o cliente a aguardar nos assentos disponíveis em frente aos guichês.

6. O vendedor desloca-se para um posto fora do balcão de atendimento, no qual há um


computador, uma impressora e um aparelho de telefone. O vendedor, de posse dos dados
da peça solicitada pelo cliente e anotados manualmente numa folha de papel, liga para
a outra loja e solicita a reserva da peça. O atendente efetua a reserva no sistema; feito
isso, o cliente precisa ir até a outra loja no prazo de 24 horas para adquirir a peça.

7. O vendedor imprime um tíquete que será entregue ao cliente com a denominação da


peça/ código de cadastro.

8. O vendedor orienta o cliente para que, chegando a outra loja, dirija-se a um determinado
guichê com o tíquete para formalizar o pedido e concretizar a compra.

9. Após estas ações, o vendedor pergunta se o cliente precisa de algum outro produto para
saber se deverá efetuar venda ou orientá-lo a obter o produto nas estantes da loja.

10. O vendedor do guichê n. 5, tendo concluído o atendimento, menciona ao colega que


precisa parar, deixa seu posto e dirige-se ao sanitário.

6
11. Do momento da saída ao retorno passaram 16 minutos.

12. Retornando ao guichê n.5, o vendedor retoma o atendimento aos clientes.

13. Outro cliente, que está em primeiro lugar na fila, dirige-se ao guichê e cumprimenta
o vendedor. Em seguida, solicita duas peças apresentando um papel no qual as
denominações -estão anotadas. O vendedor consulta o sistema, informa que as peças
estão disponíveis na loja e informa também o valor de cada uma.

14. O cliente responde que vai adquirir as duas peças, assim, o vendedor indica isto no
sistema, clicando no código de cada uma.

15. O vendedor questiona se a compra será de uma unidade de cada peça, o comprador confirma.

16. O vendedor pergunta se o cliente vai precisar de alguma outra peça a ser solicitada no
balcão; o cliente pergunta sobre outro produto e o vendedor informa que está na parte
das estantes da loja.

17. O cliente diz, então, que dos produtos do balcão já solicitou todos.

18. O vendedor encerra a compra no sistema, pega uma comanda na caixa sobre o balcão,
observa o número ali registrado, digita no teclado, efetua a leitura do código de barras
da comanda (precisa posicionar corretamente a comanda para que a leitura seja
efetuada), o valor da compra é registrado, o vendedor clica para encerrar a compra no
balcão e a comanda é entregue ao cliente.

19. O vendedor orienta onde é o caixa e informa que as peças serão retiradas no balcão de
retirada dos produtos vendidos depois do pagamento.

20. Finalizada a compra, o comprador verifica se precisa organizar alguma coisa no balcão
e chama o próximo cliente.

21. Este vendedor teve suas tarefas observadas no mesmo dia a tarde, por três horas e na
sexta-feira pela manhã, por mais três horas.

22. O que foi observado nestes outros períodos da última semana (quarta-feira a tarde e
sexta-feira de manhã) é muito similar ao que está aqui registrado.

23. Organizados os dados levantados, na segunda-feira seguinte, você realiza conversa com
o vendedor para apresentar os aspectos observados.

Inicialmente você explica ao vendedor, João T.S., até agora mencionado como o vendedor
que ocupa o guichê n. 5, a necessidade desta conversa e apresenta detalhadamente o que
observou. João confirma os fatos observados e ainda apresenta:

a) Há dias em que há necessidade de atender os clientes mais rapidamente, quando


observa-se a fila mais extensa, quando há mais de dez clientes.

b) As vezes o papel da impressora termina e aí é necessário chamar alguém para substituí-lo.

c) João relatou que às vezes alguns clientes não identificam as peças corretamente,
obrigando o vendedor a identificar sobre qual produto o cliente está se referindo. Como
um exemplo pode-se mencionar: o cliente solicita alavanca de pisca-pisca, sendo que

7
este conjunto é denominado conjunto chave de seta. Assim, o vendedor deve efetuar
tantas perguntas quantas necessárias até que identifique a peça que efetivamente o
cliente quer. Relata ainda que esta situação ocorre preferencialmente quando o cliente
é o proprietário do veículo, por exemplo; quando são profissionais que atuam em
serviços e reparos de veículos como: mecânicos, eletricistas, funileiros, pintores, estes
geralmente denominam corretamente as peças/produtos de interesse.

d) João também conta: às vezes há necessidade de oferecer explicações adicionais como


forma de pagamento, possibilidade de instalação na loja, se existe possibilidade de
reservar a peça/produto para ser adquirida na outra loja, quando o objeto de interesse
do cliente não está disponível na loja em que se encontra.

e) Há ainda relato sobre a ligação de telefone realizada para a outra loja: durante a ligação o
cliente pode aguardar em assentos destinados aos clientes, próximos ao balcão, conforme
orientação do vendedor, mas há aqueles que se mantém junto ao balcão e perguntando
aos demais vendedores sobre o vendedor que o está atendendo, se vai demorar a
retornar, se houve algum problema com sua solicitação, e estes questionamentos acabam
por interromper o atendimento a outro cliente. Geralmente, estes questionamentos
são efetuados por clientes proprietários de veículos, que esporadicamente dirigem-
se à loja, desconhecem a rotina de serviços do estabelecimento e querem resolver
tudo em brevíssimo espaço de tempo. Os profissionais que atuam com reparos de
veículos, parecem ser mais organizados, solicitando as peças/produtos de interesse
pela denominação correta, indicando com precisão a quantidade, e, aparentemente, na
maioria das vezes, já conhecem a rotina da loja.

f) Continuando, João informa que existem períodos ao longo do dia e da semana em que
a quantidade de clientes aumenta: no início do expediente em que os profissionais que
atuam com serviços para automóveis se dirigem à loja para aquisição de peças para
executarem os serviços contratados; no período após as 18h, a maior frequência é de
proprietários de veículos para adquirirem as peças/produtos de seu interesse, sendo
que a presença destes proprietários também aumenta aos finais de semana.

g) João ainda relata como dificuldades: para os vendedores tanto de balcão como de loja,
só há estipulado um período de pausa para refeições. Os funcionários usufruem do
período conforme escala, para que sempre haja vendedores na loja durante seu horário
de funcionamento. No entanto, outras pausas que também sejam necessárias para os
funcionários ao longo do expediente são livremente escolhidas pelos funcionários. Os
vendedores de balcão observam se há clientes na fila única, se podem se ausentar do
balcão, se há outro funcionário que já está ausente do balcão e decidem se vão usufruir
de uma pausa para ida ao sanitário, por exemplo. Os vendedores do balcão reclamam
que muito dificilmente não há clientes na fila e assim, quando efetuam pausas para ir ao
sanitário, não podem escolher o horário livremente, postergando sua pausa até que seja
inadiável; para outras pausas para ida ao setor administrativo ou algo assim, a situação
se repete. Alguns vendedores de balcão bebem água, disponível em garrafas de água
que, por iniciativa individual, são levadas ao posto de trabalho, pois na loja há água
potável para os empregados no refeitório apenas.

h) João reforça: os vendedores que atuam no balcão devem conhecer as peças e produtos
comercializados para compreender a solicitação do cliente e dar andamento à venda.
Devem também atender os clientes com cordialidade e presteza, conforme instruções
da gerência, mas há situações em que os clientes tratam os vendedores com rispidez.

8
Há ainda dados sobre o ambiente: O nível de iluminamento na área do balcão está em
conformidade com a Norma de Higiene Ocupacional nº 11 (NHO 11) da Fundacentro - Avaliação
dos Níveis de Iluminamento em Ambientes de Trabalho Internos, estabelecida pela NR17-
Ergonomia, estando a avaliação expressa no Programa de Prevenção de Riscos Ambientais
(PPRA) e a loja é climatizada.

Segundo João, as jornadas de trabalho dos vendedores de balcão desta loja produzem
cansaço excessivo aos mesmos em virtude da grande quantidade de atendimento aos clientes
por expediente e por haver necessidade de interagir com os clientes que apresentam
comportamentos variados: da cordialidade à aspereza. Assim, cada atendimento apresenta
uma particularidade.

Verificando sobre as exigências definidas aos vendedores do balcão a empresa informa:


os empregados, em sua maioria, se deslocam até a Loja 1 de transporte público, levando
em torno de 2 horas por deslocamento, tanto na ida como na volta do trabalho. Este é dado
obtido junto ao setor de Recursos Humanos da empresa.

Na empresa não existe documento em que sejam registradas por função as atribuições
e responsabilidades de cada empregado de modo detalhado, apenas as denominações das
funções. Os empregados recebem orientações verbais das chefias imediatas que relatam
conjuntos de peças inseridas na lista de produtos a serem vendidos pela loja, orientações
sobre o atendimento, conforme o expediente ou período do ano ou semana.

O Setor Recursos Humanos apresenta os registros de ida ao médico são efetuados por
atestados de consulta médica e em outros casos de afastamentos no dia da consulta. Nos
últimos três meses os afastamentos e idas ao médico estão ocorrendo às segundas-feiras, pois
aos domingos há funcionários que usufruem de folgas semanais, ao mesmo tempo em que
há mais clientes se deslocando para as lojas. O médico do trabalho, que efetuou os exames
periódicos no último mês em 50% dos empregados da Loja 1, relatou à empresa que de 10
vendedores de balcão submetidos ao exame, 7 informaram estar se tratar com medicação
para melhorar a concentração, o raciocínio e receberam orientação para realização de
atividades físicas de modo regular e que, nos últimos dois meses, 5 outros vendedores de
balcão submetidos aos exames periódicos tiveram pelo menos dois dias de afastamento do
trabalho cada um.

O problema

Existem alguns pontos sobre os quais deve haver reflexão, levando a propostas de resolução
dos problemas apontados.

A empresa parece crer que tem atuado no sentido de garantir a saúde e integridade
dos empregados, de acordo com Sr. Rodrigues, pois menciona contratar serviços de saúde
e segurança para resolver exigências relacionadas às medidas de prevenção e combate a
incêndio junto aos Bombeiros do Estado, e em 2007, implantou soluções para os postos de
teleatendimento, tendo efetuado adaptações e substituições no mobiliário das lojas e nos
últimos meses efetuou exames periódicos.
A empresa busca resolver a questão das ausências com a contratação de um ergonomista, a
partir dos achados que o médico responsável pelos exames periódicos apresentou. A empresa
parece procurar a redução ou eliminação de gastos adicionais como pagamentos de horas
extras e possíveis indenizações trabalhistas.

9
Reflita: a administração financeira de uma empresa é fator importante para que esta
mantenha-se no mercado, mas seria este fator único para continuidade do negócio?

A empresa aposta que a sua contratação como ergonomista vai resolver a questão das
ausências dos vendedores de balcão por meio de medidas a serem implantadas.

Considerando o levantamento de dados efetuadas e a análise dos mesmos, você desenvolverá


as Recomendações que serão implementadas pela organização. Para demonstrar sua atuação
nesta situação, você deverá elaborar relatório contendo os seguintes itens:

a) Levantamento dos motivos pelos quais os fatores de riscos ergonômicos são o objeto de
estudo deste relatório.
b) Para tornar a empresa ciente das medidas a serem implementadas, conforme as
Recomendações que você apresentará, você deverá explicar detalhadamente os fatores
ergonômicos cognitivos e organizacionais presentes na situação de trabalho em análise,
apresentando suas causas e efeitos para o trabalhador e para a organização, sendo estes
possíveis justificativas às Recomendações.
c) Apresentação das Recomendações para a situação em análise, apresentando a
fundamentação técnica e legal para as mesmas.
d) Apresentação de possíveis indicadores que permitam confirmar a assertividade das
medidas propostas após a implementação das recomendações.
e) Apresentação das Referências consultadas para elaboração do relatório.

Agora é com você!

10
REFERÊNCIAS

ABRAHÃO, J. et al. Introdução à ergonomia: da prática à teoria. São Paulo: Blucher, 2009.

BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Manual de aplicação da Norma Regulamentadora


nº 17. 2. ed. Brasília: MTE, SIT, 2002.

OLLAY,C.D.; KANAZAWA, F. K. Análise Ergonômica do Trabalho: Prática de transformação das


situações de trabalho. São Paulo: Andreoli, 2016.

11

Você também pode gostar