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GEOMORFOLOGIA

Jhonatan dos Santos Dantas


Aplicações da
geomorfologia
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Listar características do ensino de geomorfologia no âmbito da geografia.


 Desenvolver materiais didáticos sobre geomorfologia e sua aplicação
geográfica.
 Analisar ferramentas lúdicas para alunos do ensino fundamental.

Introdução
A geomorfologia representa a área do conhecimento que estuda o for-
mato da superfície da Terra, sua origem e estrutura. A aplicação dos con-
teúdos geomorfológicos é fundamental para o planejamento ambiental,
para o uso e ocupação do espaço e para o ensino escolar. No ensino
escolar, o aluno cria a percepção das formas de relevo e a consciência
sobre o processo de formação e uso da superfície terrestre, importantes
para a análise integrada da paisagem e de outros fenômenos da natureza
que devem ser vistos de forma indissociável.
Nesse sentido, criar ferramentas didáticas para o ensino de geo-
morfologia no ambiente escolar é fundamental para uma educação de
qualidade e inclusiva. A escolha da metodologia, dos materiais e o uso
diversificado e inovador de práticas de ensino podem conduzir a uma
aprendizagem significativa dos temas geomorfológicos, contribuindo
para a compreensão integral dos conteúdos geográficos.

Características do ensino de geomorfologia


no âmbito da geografia
Os estudos geomorfológicos compreendem uma gama de assuntos ligados
aos variados processos que influenciam a formação, estrutura e modelagem
2 Aplicações da geomorfologia

da superfície terrestre. Esses estudos são fundamentais para a compreensão


da dinâmica da natureza e de processos associados à formação de solos e
rochas. Ao mesmo tempo, permite o entendimento das diversas feições que
adquire a superfície da Terra (BERTOLINI; VALADÃO, 2009). Transmitir
esses conhecimentos e aplicá-los na educação é um grande desafio para a
formação do aluno. De acordo com Bertolini e Valadão (2009, documento
on-line):

Pensar no relevo em termos geográficos é pensar em como acontece a percepção


da paisagem vivenciada pelos alunos. É aproximá-los das ideias que possuem
a respeito da natureza e das atitudes de cada um em relação ao meio ambiente
e, por conseguinte, contribuir para a formação de pessoas comprometidas com
as preocupações ambientais. Dessa forma, os conhecimentos geomorfológicos
tornam-se um instrumento da geografia através do qual os estudantes apre-
endem como o relevo está associado às mais diversas atividades humanas.

No contexto escolar, o ensino da geomorfologia ocorre, principalmente, na


matéria de geografia. A geografia é o campo do conhecimento científico que
preocupa-se em analisar a relação existente entre a sociedade e a natureza.
É interesse da geografia compreender a dinâmica dos fenômenos naturais
(entre eles os geomorfológicos) que resultam em processos distintos de
apropriação do espaço geográfico. A geomorfologia é uma área vinculada às
ciências da terra, e garantir que os conteúdos trabalhados sejam vinculados
a outras temáticas do contexto geográfico, envolvendo demais elementos da
natureza e aspectos sociais é fundamental.
Para que a ciência geográfica seja ensinada no âmbito escolar, existem
diretrizes que orientam os conteúdos curriculares para cada ano/série com o
intuito de possibilitar maior organização no ensino, garantindo uma aprendi-
zagem gradual dos temas que envolvem a geografia. Desse modo, o currículo
escolar é organizado para possibilitar uma aprendizagem integral e progressiva
dos diversos temas e conceitos trabalhados. O currículo escolar direciona
os conteúdos geográficos de cada ano/série, permitindo que o aluno possa
construir conceitos, aplicá-los e revê-los de diferentes formas ao longo da
jornada escolar. Esse conjunto de conteúdos trabalhados de forma gradativa é
fundamental para a construção crítica da análise do espaço geográfico e seus
temas adjacentes. No Quadro 1, é possível verificar como são organizados
os conteúdos curriculares de geografia durante o ensino básico (fundamental
II e médio).
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Quadro 1. Organização curricular da disciplina de geografia

Série Ensino
Conteúdos curriculares
Fundamental II

6º ano  Elementos cartográficos e mapas


 Formação e modelagem do relevo terrestre
 Rochas e solos
 Vegetação e biomas
 Clima
 Hidrografia
 Conceitos geográficos

7º ano  Construção do território brasileiro


 População no Brasil
 Urbanização e indústria do Brasil
 Espaço agrário do Brasil
 Relevo do Brasil
 Biomas e vegetação do Brasil
 Clima e hidrografia do Brasil

8º ano  Divisão Internacional do Trabalho


 Imperialismo e grandes guerras
 Continente americano (características físicas-territoriais
e naturais – formação territorial, população, economia
e cultura)
 Continente africano (características físicas-territoriais e
naturais – formação territorial, população, economia e
cultura)

9º ano  Globalização
 Continente Europeu (características físicas-territoriais e
naturais – formação territorial, população, economia e
cultura)
 Continente asiático e Oriente Médio (características
físicas-territoriais e naturais – formação territorial,
população, economia, cultura e conflitos)
 Questões ambientais e organizações internacionais
 Oceania (características físicas-territoriais e naturais –
formação territorial, população, economia e cultura)
 Regiões polares

(Continua)
4 Aplicações da geomorfologia

(Continuação)

Quadro 1. Organização curricular da disciplina de geografia

Série Ensino
Conteúdos curriculares
Médio

1º ano  Elementos cartográficos e sistemas de informação


geográfica
 Ciência geográfica e conceitos geográficos
 Formação e modelagem do relevo
 Rochas e solos
 Clima
 Vegetação e biomas
 Hidrografia
 Meio ambiente

2º ano  Demografia
 Urbanização mundial
 Agropecuária mundial
 Urbanização do Brasil
 Espaço agrário brasileiro
 Economia e desigualdades sociais no Brasil
 Desigualdades regionais do Brasil
 Complexos regionais do Brasil

3º ano  Globalização
 Capitalismo e consumo
 Crises econômicas e desigualdades socioespaciais
 Grandes guerras e mundo bipolar
 Blocos econômicos
 Degradação ambiental e políticas ambientais
 Desenvolvimento sustentável
 Conflitos internacionais

Fonte: Adaptado de Brasil ([2002?], [2017?]).

Dentro desses conteúdos, a geomorfologia é trabalhada de modo seccionado


ao longo das séries, e cada ano/série vai incorporar no currículo uma temática
diferente dos assuntos envolvendo geomorfologia. No Quadro 2, é possível
verificar como os temas de geomorfologia são inseridos em cada ano/série.
Aplicações da geomorfologia 5

Quadro 2. O ensino e os conteúdos de geomorfologia por ano/série

Série Ensino
Conteúdos envolvendo geomorfologia e geologia
Fundamental II

6º ano  Agentes internos — vulcanismo e tectonismo


 Agentes externos — erosão e intemperismo
 Formas de relevo
 Relação entre relevo e hidrografia
 Relação entre relevo e clima
 Relação entre o relevo e a forma de uso e ocupação
do espaço
 Rochas e solos

7º ano  Características do relevo brasileiro


 Terrenos cristalinos e bacias sedimentares no Brasil

8º ano  Características do relevo da América


 Formação das grandes cadeias montanhosas na
América
 Falhas e movimentos tectônicos na América
 Relevo da África
 Falhas e movimentos tectônicos na África

9º ano  Características do relevo da Europa


 Formação das grandes cadeias montanhosas na
Europa
 Falhas e movimentos tectônicos na Europa
 Características do relevo asiático
 Formação das grandes cadeias montanhosas na Ásia
 Falhas e movimentos tectônicos na Ásia
 Características do relevo na Oceania
 Formação de ilhas do Pacífico

(Continua)
6 Aplicações da geomorfologia

(Continuação)

Quadro 2. O ensino e os conteúdos de geomorfologia por ano/série

Série
Conteúdos envolvendo geomorfologia e geologia
Ensino Médio

1º ano  Agentes internos — vulcanismo e tectonismo


 Teoria da deriva continental
 Movimentos tectônicos (orogênese, epirogênese,
convergente, divergente e transformante)
 Falhas geológicas e formação de cadeias montanhosas
(estudo do processo)
 Intemperismo químico, físico e biológico
 Erosão de solo em ambiente urbano e rural
 Tipos de erosão
 Formação de cânions
 Formas de relevo e ocupação humana
 Bacias sedimentares
 Tipos de rochas e perfil de solo
 Riquezas subterrâneas, minérios e minerais
2º ano Não aborda a temática
3º ano Não aborda a temática

Fonte: Adaptado de Brasil ([2002?], [2017?]).

No Quadro 1, é possível observar que os conteúdos sobre relevo são tra-


balhados em quase todas as séries, mas os processos e dinâmicas associados
a formação, estruturação, origem e modelagem da superfície, das rochas
e dos solos são trabalhados de forma mais abrangente no 6º ano do ensino
fundamental e 1º ano do ensino médio. É possível verificar também que os
temas relacionados ao relevo terrestre são trabalhados com certo predomínio
dentro do currículo escolar. Entretanto, é importante salientar que:

Os conhecimentos sobre o relevo não dispensam outros tipos de conhecimentos,


tais como aqueles expressos, por exemplo, pela botânica, geologia, pedologia
e física. Isso evidencia a importância de se entender que a abordagem geo-
morfológica é solidária a outros campos do conhecimento. Reconhecer isso,
em termos de ensino, pode levar o aluno a um aprendizado do relevo baseado
na criatividade e na comunhão de saberes necessários à formação cidadã que,
espera-se, possa contribuir mais efetivamente para o equilíbrio das relações entre
sociedade e natureza (BERTOLINI; VALADÃO, 2009, documento on-line).
Aplicações da geomorfologia 7

O papel da geografia enquanto disciplina escolar é fundamental para


a construção cidadã do respeito à natureza, ao mesmo tempo que procura
estabelecer uma profunda compreensão entre temáticas sociais e naturais.
A geografia é a ponte entre esses dois campos do conhecimento, permitindo
um ensino reflexivo que leve o aluno a compreender a relação entre sociedade
e natureza em termos de uso, apropriação, dependência e degradação.
É interessante apontar que, de acordo com a Base Nacional Comum Curricular
(BRASIL, [2017?]), esse campo do conhecimento aplicado à educação é impor-
tante para desenvolver um conjunto de habilidades e competências essenciais
para a formação do alunado. Entre essas habilidades, estão o respeito à natureza,
a compreensão das formas de uso e apropriação dos recursos naturais, além da
compreensão sobre as diferentes formas de espacialização dos fenômenos naturais.

Elaborada por especialistas de todas as áreas do conhecimento, a Base Nacional


Comum Curricular é um documento completo que corresponde às demandas dos
estudantes brasileiros. Para ter acesso ao texto, clique no link a seguir (BRASIL, [2017?]).

https://qrgo.page.link/ZfZEZ

Os conteúdos geomorfológicos permitem, entre outros pontos, a apropriação


de um conhecimento relacionado à dinâmica da natureza a fim de compreender
os modos de utilização da superfície terrestre e o impacto nas transformações
do relevo propiciadas pela sociedade. Nesse sentido, a geomorfologia é uma
subárea da geociência que pode ser aplicada para controle e monitoramento
de erosão do solo, classificação, taxonomia e compartimentação do relevo,
estrutura e origem. Também contribui para a delimitação de áreas de proteção
ambiental e mapeamento geomorfológico (BERTOLINI; VALADÃO, 2009).
No que tange ao ensino básico sobre temáticas geomorfológicas, para que
a compreensão dos fenômenos e processos ocorra de maneira significativa e
contribua para a formação consciente e esclarecida sobre os processos natu-
rais e socioambientais decorrentes da geomorfologia, é necessário que sejam
utilizadas diversas ferramentas pedagógicas/didáticas. Dessa forma, alunos de
diferentes faixas etárias podem obter e construir esses conhecimentos de modo
que haja aprendizagens associativas e transversais de cunho crítico e cidadão.
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Materiais didáticos sobre geomorfologia


e sua aplicação geográfica
O ensino de geomorfologia é trabalhado como subárea da geografia na edu-
cação básica, sendo importante para a construção de diversos conhecimentos
envolvendo a sociedade e a natureza. Contudo, para a condução de um ensino
de qualidade, construtivo e comprometido com a reflexão crítica (papel da
geografia escolar) é necessário que a metodologia da aula seja adequada aos
objetivos de aprendizagem (BERTOLINI; VALADÃO, 2009).
A metodologia de ensino é o conjunto das práticas adotadas envolvendo
os procedimentos, materiais e rumos definidos para se chegar a um objetivo
(educacional) específico e pré-definido (SILVA; PLOHARSKI, 2011). A me-
todologia direcionará e conduzirá a aula e as práticas educacionais adotadas.
Escolher a metodologia representa uma etapa crucial para um ensino de qua-
lidade. Dessa forma, Silva e Ploharski (2011, documento on-line) citam que:

[...] a metodologia de ensino pode ser compreendida como um conjunto de


ações desenvolvidas pelo professor visando alcançar os objetivos propostos,
e não como um roteiro prescritivo que busca promover uma ação docente
mecanizada a qual desconsidera o contexto em que o aluno está inserido.
Por isso, é fundamental que o professor tenha clareza do que, para que, como
e a quem está ensinando, para, a partir daí, utilizar uma metodologia que
contemple as necessidades educacionais do aluno.

Assim, é necessário escolher uma metodologia que compreenda as espe-


cificidades do conteúdo e as demandas do aluno. A partir disso, a escolha
dos materiais didáticos que darão suporte e subsídio didático para o enca-
minhamento das aulas é fundamental. Também é necessário que existam
objetivos de aprendizagem bem definidos para que a metodologia e os mate-
riais didáticos possam subsidiar as aulas com o intuito de atingir o objetivo
de aprendizagem selecionado. Conforme elucida Souza (2007), os materiais
didáticos representam importantes ferramentas para facilitar o processo de
ensino-aprendizagem, contribuindo para melhoria da qualidade da aula, mo-
tivação do aluno e exemplificação de diversos temas. Nas palavras da autora:

O material a ser utilizado deve proporcionar ao aluno o estimulo à pesquisa


e a busca de novos conhecimentos, o propósito do uso de materiais concretos
no ensino escolar é o de fazer o aluno adquirir a cultura investigativa, o que
o preparará para enfrentar o mundo com ações práticas sabendo-se sujeito
ativo na sociedade (SOUZA, 2007, documento on-line).
Aplicações da geomorfologia 9

O recurso didático serve para facilitar a transmissão de conteúdos e melhorar


o desempenho de aprendizagens. Por meio do uso de recursos diversificados e
atrativos, é possível engajar os alunos no processo de ensino-aprendizagem. Assim,
os recursos didáticos também podem servir para motivar a aprendizagem, como
um aliado do professor na hora de ensinar (CASTOLDI; POLINARSKI, 2009).
Quando se trata do ensino de geomorfologia, uma série de atividades pode
ser desenvolvida, possibilitando maior contextualização e melhorando o desem-
penho dos alunos. Para que essas atividades ocorram, é necessária uma definição
de metodologias específicas que corresponda à aprendizagem dos conteúdos
e temas geomorfológicos atrelados à escolha dos recursos necessários para o
suporte didático das aulas. Nesse sentido, o uso de imagens pode representar
uma importante ferramenta didático-pedagógica para a compreensão de diversos
assuntos geomorfológicos. Elas podem ser utilizadas, por exemplo, para abordar
temáticas como: agentes formadores do relevo (Figura 1a), processos erosivos
(Figura 1b) e formas de relevo (Figura 1c).

Figura 1. (a) Agentes formadores do relevo. (b) Erosão de solo. (c) Formas
de relevo.
Fonte: (a) História e Geografia (2019, documento on-line); (b) Caapuãetê ([2016?],
documento on-line) (c) Enem Universia ([2015?], documento on-line).
10 Aplicações da geomorfologia

A partir do uso de imagens, os conteúdos podem ser exemplificados,


representados e explicados, facilitando a compreensão dos processos e do
mecanismo que envolve os conteúdos citados. Compreender as feições que a
superfície da terra adquire a partir do uso de imagens, sejam representadas
por meio de desenhos ou fotografias, é importante para a distinção e clas-
sificação das formas do relevo. Ao mesmo tempo, compreender a dinâmica
geomorfológica e os conteúdos que envolvem a formação e modelagem do
relevo terrestre com o uso de imagens é imprescindível e necessário.
Outra prática interessante para a fixação de conteúdo e melhoria da apren-
dizagem é a utilização de vídeos explicativos. Os vídeos representam uma
importante ferramenta didática e podem servir para a mesma finalidade das
imagens, representar os processos envolvendo formas, origem, estrutura e
classificação do relevo terrestre. Essas práticas também podem ser adotadas
para o ensino de temas correlatos, como solo e rochas.
A confecção de maquetes também representa um importante instrumento
educativo para o conteúdo de relevo. As maquetes podem demonstrar as
diversas feições do relevo terrestre e devem ser construídas pelos próprios
alunos, motivando-os a trabalharem unidos e de forma cooperada, aguçando
sua criatividade e permitindo que aprendam, na prática, as diferentes formas
que a superfície da terra pode obter. Ao realizar trabalhos com maquetes, é
interessante separar a sala em grupos, para que cada grupo confeccione uma
maquete que represente uma forma de relevo específica. Após a confecção,
os grupos podem apresentar a maquete para a turma explicando os processos
que permitem aquela configuração representada na maquete.
Outra maquete que pode ser realizada com um objetivo interessante é
um perfil de solo. O perfil de solo conduz a uma aprendizagem prática sobre
temas envolvendo rochas, solos e processos de intemperismo e erosão. Esse
perfil permite evidenciar a diferença entre solo maduro e solo em formação,
além de possibilitar o trabalho com diferentes tipos de materiais (silte, areia,
argila, outros materiais granulados e diferentes tipos de rochas). Esse perfil
pode ser construído com o uso de uma garrafa pet ou de uma caixa de vidro,
conforme mostram as Figuras 2a e 2b.
Aplicações da geomorfologia 11

Figura 2. (a) Perfil de solo com garrafas pet. (b) Perfil de solo com caixa de vidro.
Fonte: (a) Geografia Hi7.Co ([201–?], documento on-line); (b) Basso (2011, documento on-line).

Esse tipo de maquete, além de possibilitar o envolvimento direto dos


alunos na construção do perfil, garante a aprendizagem de diversos temas
relacionados a geomorfologia, geologia e pedologia, podendo explicar diver-
sos processos que modelam a superfície da Terra. Assim, o intemperismo
químico, físico e biológico pode ser exemplificado utilizando esse perfil,
além de possibilitar explicações sobre perda do solo e erosão a partir do solo
exposto (sem cobertura vegetal), permitindo a classificação de diferentes
tipos de rochas e materiais presentes no perfil. Além de uma metodologia
dinâmica e contextualizada, esse tipo de prática garante uma aprendizagem
ativa, proporcionando ao aluno a possibilidade de participação e interação
direta na construção do conhecimento.

O silte corresponde a um detrito de rocha menor do que a areia e maior do que a argila.
A areia é constituída por um conjunto de detritos também oriundos da decomposição
e compartimentação de rochas com tamanho pouco maior que o silte. Já a argila
corresponde ao material resultante da degeneração de rochas e caracteriza-se por ser
um material terroso, menor que o silte e com grande capacidade de absorção de água.
12 Aplicações da geomorfologia

Apesar de as práticas descritas possibilitarem uma série de aprendizagens


significativas em sala de aula, o trabalho de campo é uma prática fundamental
para a aplicação e o ensino de geomorfologia (VENTURI, 2009). O trabalho de
campo permite uma verificação empírica e prática dos processos e fenômenos
estudados teoricamente em sala. É uma metodologia rica e indispensável no
processo do ensino da geomorfologia. A partir do trabalho de campo, todos
os temas relacionados aos processos geomorfológicos podem ser estudados e
analisados, desde a formação da superfície e estrutura de rochas e solos, até
os processos de degradação, erosão, perda de solo e intemperismo. Também
pode ser analisada uma série de outros processos correlatos como: hidrografia,
hidrogeomorfologia, bacias hidrográficas, deslizamentos, assoreamento dos
rios, entre outros. O trabalho de campo também permite analisar o relevo
a partir da paisagem, uma prática que possibilita a análise integrada dos
fenômenos naturais e sociais combinados a partir da paisagem.

Ferramentas lúdicas para alunos


do ensino fundamental
Para a obtenção de um ensino de qualidade, são necessárias práticas contex-
tualizadas e dinâmicas que dialoguem com a realidade dos alunos e tragam
para eles experiências significativas relativas às aprendizagens adquiridas em
determinados temas. Os conteúdos geomorfológicos podem ser transmitidos
e ensinados a partir da adoção de uma série de práticas e materiais relevantes
para o processo de ensino-aprendizagem, principalmente, quando esses alunos
encontram-se no ensino fundamental. É nessa faixa etária que ocorre a cons-
trução de aprendizagens específicas para o desenvolvimento de habilidades
e competências essenciais para a formação de um cidadão crítico, reflexivo,
com visão global da realidade que o cerca (BRASIL, [2017?]).
Assim, é necessária a aplicação dos conteúdos geomorfológicos a partir
de práticas lúdicas que permitam a inclusão de todos os alunos, facilitando a
compreensão dos temas listados anteriormente. Alternativas metodológicas
e didáticas que possibilitem uma aprendizagem plena e integral de todo o
alunado são essenciais, compreendendo diferentes conhecimentos e formas
de assimilação de conteúdos. Atividades lúdicas não precisam e nem devem
restringir-se apenas ao ensino infantil ou fundamental I. O desenvolvimento
Aplicações da geomorfologia 13

de atividades lúdicas, como jogos e brincadeiras, possibilita ao aluno do ensino


fundamental II e médio maior engajamento nas aulas, promovendo interesse
e curiosidade pelas temáticas trabalhadas. O uso de jogos e brincadeiras pode
possibilitar interação, participação e ânimo no momento de aprender. Desse
modo, os resultados podem ser bastante satisfatórios no processo de ensino-
-aprendizagem (MORAES; CASTELLAR, 2018; VERRI; ENDLICH, 2009).
Um dos jogos que podem ser utilizados como prática lúdica que permite
verificação e avaliação de aprendizagem é o jogo com dados. Para isso, é
necessário montar um tabuleiro com casas. O aluno, conforme joga os dados
e pula as casas, recebe perguntas diferenciadas sobre o relevo. Caso o aluno
acerte as perguntas, ele avança as casas de acordo com o número que saiu no
dado. Quando o aluno erra, ele permanece estacionado. Ganha o jogo quem
chegar primeiro na última casa. O jogo pode ser realizado em duplas ou com
mais alunos, mas é necessário que o objetivo seja bem repassado aos alunos.
Esse tipo de jogo permite tirar as dúvidas, fixar o conteúdo de modo
descontraído, além de verificar o nível de conhecimento dos alunos sobre
os temas trabalhados. Esse tipo de prática, somado a outras metodologias e
ferramentas pedagógicas, é essencial para a qualidade do ensino de geografia
e suas subáreas – a exemplo dos conteúdos geomorfológicos. Contudo, o deli-
neamento de estratégias e planos deve ser realizado previamente para permitir
a aplicação dos conteúdos geomorfológicos utilizando práticas diferenciadas
e que correspondam ao objetivo proposto pelo docente.
Outra prática que possibilita interação da turma, revisão de conteúdos
e avaliação parcial da aprendizagem é o trabalho com jogo da memória.
O jogo da memória deve ser construído de forma associativa, interligando,
por exemplo, a forma do relevo e o fenômeno principal interferente. O jogo
pode ser criado a partir de uma imagem (forma do relevo) e o nome de algum
fenômeno associativo, como erosão, por exemplo. Desse modo, é possível
obter uma imagem do Grand Canyon e o processo que deu origem a essa
formação (erosão) — em uma outra imagem, a cordilheira dos Andes e o
nome do processo (soerguimento de placas tectônicas), e assim por diante.
Práticas contextualizadas como essas aguçam a criatividade do aluno e
criam um ambiente de aprendizagem interessante para um ensino de quali-
dade. Também promovem inclusão e cooperação entre os alunos, permitindo
a fixação de diversos conteúdos. Assim, a utilização e a aplicação dos temas
geomorfológicos são fundamentais para:
14 Aplicações da geomorfologia

a) monitoramento e avaliação de processos erosivos;


b) compreensão das características do relevo;
c) análise de declividade de terreno;
d) análise das áreas de ocupações humanas e extração de recursos naturais;
e) análise de áreas de degradação ambiental;
f) formação da paisagem e outros fenômenos naturais, como vulcanismo
e atividade sísmica.

No âmbito do ensino, faz-se necessária a transmissão de todos esses conte-


údos descritos. Entretanto, para que esse conjunto de conteúdos seja ensinado,
são fundamentais estratégias didáticas e pedagógicas que possibilitem ao aluno
adquirir amplo conhecimento sobre as temáticas, interligando-as com outras
áreas do conhecimento referentes às dinâmicas da natureza e da sociedade.
Dessa forma, o currículo escolar é organizado para possibilitar uma estrutura
de conteúdos a serem trabalhados ano a ano para que, ao final do período letivo
do ensino básico, o aluno tenha construído esses conhecimentos articulados a
uma concepção crítica, ética e cidadã. Para que ocorra uma aprendizagem plena
e integral, é necessário adotar práticas contextualizadas que correspondam:

a) ao conteúdo do currículo;
b) à realidade dos alunos e da escola;
c) ao objetivo da ciência geográfica e objetivo do professor.

Para que essa aprendizagem ocorra, é necessário adotar metodologias


específicas e diversificadas para atender aos objetivos de ensino, além de
elencar materiais e recursos didáticos capazes de dar o suporte necessário para
o desenvolvimento das aulas e das aprendizagens. Nesse contexto, a utilização
de práticas lúdicas, do trabalho de campo, de metodologias ativas e de recursos
didáticos variados permite a aplicação dos conceitos geomorfológicos no ensino
de modo a construir no aluno amplo interesse pela temática, possibilitando
uma aprendizagem integral e plena referente aos conteúdos listados.
Aplicações da geomorfologia 15

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