Você está na página 1de 8

Amor imorredouro

Clarice aborda, ainda inexperiente em sua nova função de escrever crônicas, refletindo
sobre a escolha de temas. Em uma conversa com um amigo, surge a percepção de que o
que mais interessa às mulheres é o homem. A autora explora diferentes facetas do
relacionamento com os homens, destacando sua complexidade e influência na vida das
mulheres. O relato de um taxista espanhol, que vive com a saudade intensa de um amor
perdido, adiciona uma dimensão emotiva à narrativa. O texto termina com uma
reviravolta inesperada quando o taxista convida a autora para sua casa, revelando sua
sinceridade e a dificuldade de superar o passado amoroso.

A favor do medo

Clarice relata uma experiência em que, ao ser convidada para um passeio por um
homem civilizado, sentiu um medo profundo e inexplicável. Ela explora a ideia de que,
ao longo da história, as mulheres foram maltratadas pelo amor de homens, remontando
à idade da pedra. O convite para um "passeíto" desencadeia uma reação de terror,
levando-a a refletir sobre o significado dessa palavra e sobre como o medo, muitas
vezes, é uma reação instintiva. A autora expressa sua preferência pelo medo, alegando
que certos medos têm uma raiz inextirpável e proporcionam uma realidade
incompreensível. Ela questiona se o medo em relação a passeios está enraizado na idade
da pedra ou se foi uma neurose adquirida na própria época das cavernas. A narrativa
sugere uma apreciação do medo como uma forma de sabedoria instintiva, apesar das
contradições com os fatos diretos da vida cotidiana.

Uma Revolta

No texto, aborda a ideia de que, quando o amor é excessivamente grande, torna-se


inútil, perdendo sua aplicabilidade, pois a pessoa amada não tem a capacidade de
receber tal quantidade de afeto. Ela expressa surpresa e perplexidade ao perceber que,
mesmo no âmbito do amor, é necessário ter bom senso e senso de medida. A autora
ironicamente comenta sobre a natureza burguesa da vida dos sentimentos, sugerindo que
até mesmo as emoções estão sujeitas a limites e convenções, assim como aspectos mais
práticos da vida.

A Descoberta Do Mundo

compartilha experiências de sua infância e adolescência, destacando a dualidade entre


sua precocidade em alguns aspectos e seu atraso em outros, especialmente em relação
aos "fatos da vida" e à compreensão do amor entre homens e mulheres. Ela relata como,
mesmo sem compreender completamente a realidade, instintivamente flertava com os
meninos. A revelação de sua ignorância a uma amiga íntima resulta em um choque
traumático, levando-a a jurar que nunca se casaria, embora posteriormente esqueça o
juramento e continue com seus pequenos namoros. Com o tempo, ela passa a apreciar e
considerar delicado o processo de união entre homem e mulher, mas lamenta a falta de
orientação e cuidado por parte de adultos responsáveis que poderiam ter facilitado sua
compreensão da vida e de seus mistérios. Apesar de conhecer os detalhes, ela enfatiza
que o mistério da vida permanece intacto, e, mesmo com pudor, expressa sua convicção
de que a vida é bonita.

Ao Que Leva O Amor

O texto é uma breve conversa ou reflexão interna sobre o amor próprio. A pessoa
expressa seu amor por si mesma, questiona se esse amor é o que a define, e
gradualmente se reconhece e se vê como um retrato de corpo inteiro. O diálogo destaca
a idéia de autocompreensão e aceitação, revelando um processo de descoberta e amor
próprio ao longo do texto.

Quem Escreveu Isto

O texto relata ter encontrado uma folha antiga com linhas em inglês que havia copiado
devido à sua beleza. Entretanto, não anotou o nome do escritor. Ele tenta traduzir as
linhas e expressa incerteza sobre a capacidade da tradução em preservar a intensidade
que o tocou. As linhas descrevem um momento em que dois personagens se perdem na
escuridão, tornando-se mais sombrios do que as árvores ao redor. A narrativa destaca a
profundidade desse instante, no qual a protagonista, olhando para o outro, reconhece seu
amor por ele.

Vida Noturna

Clarice descreve um momento no Rio em que uma mulher se encontra em um lugar com
lareira, surpreendida pela generosidade do ambiente. Enquanto chove lá fora, ela reflete
sobre o mundo atendendo às suas necessidades, mesmo aquelas que ela não sabia que
tinha. Seu companheiro cuida da lareira, uma tarefa que ela considera natural para ele.
A mulher, apesar de ser ativa e curiosa, deixa essa responsabilidade para o homem, pois
é o papel que a sociedade espera dela. Ela, consciente de seu desejo pela mão do
homem, reluta em tomá-la, sabendo que já possui tudo de que precisa. A narrativa
explora a efemeridade das emoções, ressaltando que o que se sente sempre acaba, mas
ela se entrega ao momento, vivendo intensamente enquanto o fogo da lareira arde e sua
paixão se inflama.

Homem Se Ajoelha

O texto destaca a gratificação de ser bom para o homem, especialmente porque a mulher
reconhece o impacto positivo que tem sobre ele. Este bem-estar surge após longas
jornadas e batalhas, quando o homem finalmente compreende a necessidade de se
render diante da mulher.

Por Não Estarem Distraídos

Descreve a alegria e a leve embriaguez de um casal que caminha junto, compartilhando


risos e conversas, enquanto antecipam o ar à frente deles. A sede que sentem é a própria
água que sacia. No entanto, quando tentam buscar essa alegria deliberadamente, tudo se
transforma em desencontros e erros. A narrativa destaca o desencanto que surge quando
tentam forçar a espontaneidade, perdendo a magia da distração. A busca por algo que já
possuem resulta em desilusão e aspereza, revelando a importância da distração na
apreciação das pequenas alegrias da vida.

O Primeiro Beijo

O texto narra o início de um namoro, onde um casal compartilha a experiência inicial do


amor. Durante uma excursão de ônibus, o rapaz, sedento e sem água disponível,
enfrenta uma sede avassaladora. Ao avistar um chafariz, ele corre para saciar sua sede,
mas, de olhos fechados, acaba beijando uma estátua da mulher esculpida que jorra água.
Esse beijo acidental provoca uma intensa transformação nele, e ele percebe que se
tornou homem, uma descoberta que o enche de susto e orgulho. O texto explora a
metáfora do beijo inusitado como um rito de passagem para a maturidade masculina.

Viagem De Trem

A autora relembra duas viagens marcantes de trem em sua infância. A primeira, quando
ainda era uma recém-nascida, de Ucrânia para a Romênia e depois para Hamburgo, sem
recordações específicas. A segunda, aos 11 anos, de Recife a Maceió, na companhia de
seu pai. Durante essa jornada, ela se lembra de um jovem de 18 anos, bonito e de olhos
verdes, que pediu permissão ao pai dela para conversar com ela. Em Maceió, durante
uma festa em homenagem ao pai, outro episódio inusitado ocorre. Um garoto
considerado marginal, de 13 anos, a convida para passear, mas ela recusa. Mesmo
inocente, ela compreende instintivamente algo e, posteriormente, recebe um cartão
postal com palavras de amor do garoto. O cartão e o amor se perdem, mas a memória
persiste. Na volta, algo acontece na estação, mas ela não consegue lembrar exatamente o
que foi.

Desencontro

Nesse conto Clarice demonstra que ela oferece algo a a outtra pessoa sempre que a mais
como buscasse algo em alguém.

A Comunicação Muda

O texto sugere que a salvação da solidão reside na solidão individual de cada pessoa.
Mesmo quando duas pessoas estão juntas e se comunicam verbalmente, o que realmente
se comunica silenciosamente entre elas é o sentimento compartilhado de solidão.

O Presente

O texto questiona se o amor seria o ato de presentear o outro com a própria solidão,
considerando-a como a dádiva mais íntima e profunda que alguém pode oferecer de si
mesmo.
Mas Há A Vida

Ela destaca a importância de viver intensamente e experimentar o amor sem reservas,


sem medo, enfatizando que o amor não é algo que cause dano, mas sim uma experiência
que deve ser vivida até a última gota.

Dar-Se Enfim

O texto expressa o prazer de liberar sem avareza o conteúdo pleno e vazio que estava
sendo avidamente retido. Há um susto inicial ao perceber que, ao abrir as mãos e o
coração, não se perde nada. O autor adverte sobre o perigo do coração estar livre, mas
eventualmente reconhece que há uma segurança peculiar nesse ato. A mensagem final
enfatiza a importância de não ser avarento com esse vazio-pleno e, em vez disso, gastá-
lo para vivenciar o prazer.

Sem Aviso

O texto reflete sobre diversas descobertas e experiências da narradora. Ela comenta


sobre a intensidade do sol e o ritmo seco da vida, além de mencionar a surpresa de se
ver sombreada por asas de águia, simbolizando ameaça e risos. A narradora aprendeu,
por conta própria, a contradição entre suas respostas orgulhosas sobre o amor na
adolescência e suas emoções reais. Ela também aborda o perigo das mentiras que
começaram como precaução, evoluindo para uma prática compulsiva. A narrativa
culmina na revelação de que, após tanto mentir, ela passou a dizer a verdade de maneira
crua e direta.

Uma Historia De Tanto Amor

O texto narra a história de uma menina que, desde a infância, estabelece vínculos
afetivos com suas galinhas. Ela desenvolve um entendimento intuitivo das aves,
cuidando delas e até mesmo tentando tratá-las quando doentes. A narrativa aborda a
relação complexa da menina com as galinhas, incluindo o momento difícil em que ela
descobre que uma delas foi comida pela família. Ao longo do tempo, a menina cria uma
conexão mais realista e menos romântica com uma galinha chamada Eponina. Quando
chega o momento de Eponina ser consumida, a menina, lembrando-se das palavras de
sua mãe sobre absorver os seres amados ao comê-los, faz isso de maneira simbólica e
quase ritualística. O texto sugere uma transição da infância para a adolescência,
marcada pela compreensão mais complexa das relações humanas, incluindo aquelas
com os animais e, finalmente, com os homens.

Nossa Truculência

No poema, reflete sobre a paradoxal relação humana com a violência e a alimentação.


Ao contemplar a alegria voraz ao comer galinha ao molho pardo, o poeta reconhece a
truculência inerente à natureza humana, destacando sua incapacidade pessoal de matar
uma galinha, embora aprecie vê-las vivas. Surge a indagação sobre se deveríamos
respeitar a vida animal e abster-nos de consumir carne e seu sangue, mas a resposta
aponta para a inevitável condição canibalística da humanidade. A falta de coragem para
o ato de matar contrasta com a aceitação de consumir a carne morta, gerando
perplexidade. O autor argumenta que a vida humana é intrinsecamente truculenta, desde
o nascimento, simbolizado pelo corte do cordão umbilical com sangue, até a morte de
muitos com derramamento de sangue. Em última análise, o poema sugere que a
truculência é uma faceta complexa que abrange tanto a violência quanto o amor, e que a
aceitação dessa dualidade é essencial para compreender a natureza humana.

Amor, Quati, Cão, Feminino E Masculino

Ela faz referência a um texto anterior intitulado "Amor" e relembra uma história em que
testemunhou um homem transformando um quati em um cachorro, colocando-lhe
coleira e tudo mais. O quati fica confuso em relação à sua própria identidade devido a
essa transformação. O autor destaca que, se o quati visse outro de sua espécie,
reconheceria sua verdadeira natureza. O autor então pede ao quati para não julgar o
homem responsável pela transformação, alegando que ele fez isso por carência de amor.
No entanto, o autor revela que, após o quati descobrir sua verdadeira identidade, é
deixado livre para seguir seu caminho, indicando que, uma vez conhecida a própria
essência, não há retrocesso.
Clarice Lispector
Clarice Lispector (1920-1977) foi um dos maiores nomes da literatura brasileira do
Século XX. Com seu romance inovador e com sua linguagem altamente poética, sua
obra se destacou diante dos modelos narrativos tradicionais. Seu primeiro livro, “Perto
do Coração Selvagem”, recebeu o Prêmio Graça Aranha.

Clarice Lispector nasceu na aldeia de Tchetchelnik, na Ucrânia, no dia 10 de dezembro


de 1920. Era filha de Pinkouss e Mania Lispector, casal de origem judaica que fugiu de
seu país diante da perseguição aos judeus durante a Guerra Civil Russa.

Ao chegarem ao Brasil, fixaram residência em Maceió, Alagoas, onde morava Zaina,


irmã de sua mãe. Clarice tinha apenas dois meses de idade. Por iniciativa de seu pai,
todos mudaram o nome. Nascida Haya Pinkhasovna Lispector, passou a se chamar
Clarice.

Depois, a família mudou-se para a cidade do Recife, onde Clarice passou sua infância
no Bairro da Boa Vista. Aprendeu a ler e escrever muito nova e logo começou a
escrever pequenos contos.

Foi aluna do grupo escolar João Barbalho, onde fez o curso primário. Estudou inglês e
francês e cresceu ouvindo o idioma dos seus pais, o iídiche. Ingressou no Ginásio
Pernambucano, o melhor colégio público da cidade.

Com 12 anos, Clarice mudou-se com a família para o Rio de Janeiro indo morar no
Bairro da Tijuca. Ingressou no Colégio Sílvio Leite onde terminou o ginasial. Era
frequentadora assídua da biblioteca.

Em 1941, Clarice ingressou na Faculdade Nacional de Direito e empregou-se como


redatora da "Agência Nacional". Depois, passou para o jornal "A Noite". Em 1943
casou-se com o amigo de turma, Maury Gurgel Valente. Em 1944 formou-se em direito.

Primeiro livro

Em 1944, Clarice publicou seu primeiro romance, Perto do Coração Selvagem, que
retrata uma visão interiorizada do mundo da adolescência, que abriu uma nova
tendência na literatura brasileira.

O romance provocou verdadeiro espanto na crítica e no público da época. Sua narrativa


quebra a sequência de começo, meio e fim, assim como a ordem cronológica, e funde a
prosa à poesia.

A obra Perto do Coração Selvagem teve calorosa acolhida da crítica e, no mesmo ano,
recebeu o Prêmio Graça Aranha.
Viagens e novas publicações

Ainda em 1944, Clarice Lispector acompanhou seu marido – diplomata de carreira, em


viagens fora do Brasil. Sua primeira viagem foi para Nápoles, na Itália. Com a Europa
em guerra, Clarice ingressou, como voluntária, na equipe de assistentes de enfermagem
do hospital da Força Expedicionária Brasileira.

Em 1946, morando em Berna, Suíça, publicou O Lustre. Em 1949 publicou A Cidade


Sitiada. Nesse mesmo ano, nasceu seu primeiro filho, Pedro. Dedicou-se a escrever
contos e em 1952 lançou Alguns Contos.

Depois de seis meses na Inglaterra, em 1954, o casal foi para Washington, Estados
Unidos, onde nasceu seu segundo filho, Paulo. Nesse mesmo ano, seu livro Perto do
Coração é publicado em francês.

Última Publicação Em Vida

Em 1977, Clarice Lispector escreveu Hora da Estrela, sua última obra publicada em
vida, no qual conta a história de Macabéa, uma moça do interior em busca de sobreviver
na cidade grande.
A versão cinematográfica desse romance, dirigida por Suzana Amaral em 1985,
conquistou os maiores prêmios do festival de cinema de Brasília e deu à atriz Marcélia
Cartaxo, que fez o papel principal, o troféu Urso de Prata em Berlim em 1986.

Características da obra de Clarice Lispector

Clarice Lispector fez parte da “Terceira Geração Modernista” ou “Geração de 45” -


época de renovação das formas de expressão literária na prosa e, principalmente, nos
gêneros conto e romance.
Em busca de uma linguagem especial para expressar paixões e estado da alma, a
escritora utilizou recursos técnicos modernos como a análise psicológica e o monólogo
interior.
Clarice Lispector é considerada uma escritora intimista e psicológica, mas sua produção
acaba por se envolver também em outros universos, sua obra é também social, filosófica
e existencial.
As histórias de Clarice raramente têm um começo meio e fim. Sua ficção transcende o
tempo e o espaço, e os personagens, postos em situações limite, são com frequência
femininas, quase sempre situadas em centros urbanos.
Clarice Lispector nunca aceitou o rótulo de escritora feminista. Apesar disso, muitas de
suas obras, romances e contos têm como protagonistas personagens femininas, entre
elas: Joana, de Perto do Coração Selvagem, Virgínia, de O Lustre, Lucrécia Neves, de A
Cidade Sitiada e Macabéa, de A Hora da Estrela.
Faculdade Luso Brasileira
Professora: Samuel Lira de Oliveira
Aluno: Joaldo Gomes da Silva

Comunicação
e
Expressão

Você também pode gostar