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Paulo Vinicius

Resenha: "A Menina


Submersa" de Caitlin R.
Kiernan
India Morgan Phelps tenta contar os
eventos que aconteceram em sua vida e
que envolvem um estranho quadro
chamado A Menina Submersa e uma
mulher misteriosa chamada Eva
Canning. Mas, no meio disso tudo, ela
se dá conta de que ela não sabe mais
separar o que é real do que é sua
imaginação.

Sinopse:

India Morgan Phelps - Imp para seus


amigos - é esquizofrênica. Ela não pode
mais confiar em sua própria mente,
convencida de que suas memórias tem
alguma coisa que a trai, forçando-a a se
questionar sobre sua própria
identidade.

Lutando com suas percepções de


realidade, Imp deve descobrir a
verdade sobre um encontro com uma
terrível sereia, ou um lobo inofensivo
que veio até como uma garota
selvagem, ou alguma coisa que não era
nada dessas coisas, mas algo muito,
mas muito mais estranho...

A estranha e
esquizofrênica mente de
Imp

Esse livro é uma pílula bem difícil de


engolir. Digo isso porque ele depende
muito da forma como você o coloca em
sua meta de leituras. Ele não é feito
para ser lido rapidamente por conta de
seu grau de dificuldade elevado. Admito
que eu peguei para ler em um momento
errado com o propósito errado e paguei
o preço por isso. No entanto, preciso
ressaltar a extrema habilidade da
autora de empregar ferramentas
avançadas de escrita criativa e
conseguir o seu propósito final:
confundir a cabeça do leitor
combinando precisamente com a mente
da protagonista da história.

"Nenhuma história tem


começo e nenhuma história
tem fim. Começos e fins
podem ser entendidos como
algo que serve a um
propósito, a uma intenção
momentânea e provisória,
mas são, em sua natureza
fundamental, arbitrários e
existem apenas uma ideia
conveniente na mente
humana. As vidas são
confusas e, quando
começamos a relacioná-las,
ou relacionar parte delas, não
podemos mais discernir os
momentos precisos e
objetivos de quando certo
evento começou. Todos os
começos são arbitrários."

Vou tentar resumir em poucas frases e


depois desenvolver as ideias básicas
sobre a escrita da Kiernan: imaginem
uma personagem esquizofrênica com
dissociação lógico-temporal. Ah, e
estamos diante de uma metanarrativa.
Sim, essa é só a ponta do iceberg que é
A Menina Submersa. A narrativa é
escrita do ponto de vista da Imp, o que
é péssimo para a cabeça do leitor. Ela
sofre de esquizofrenia e precisa tomar
vários remédios controlados. Por conta
disso, Imp tem muita dificuldade de se
relacionar com outras pessoas. Sua
doença é hereditária e ela conta como
foi sua relação com sua mãe e sua avó
que fazem parte de sua formação. Ela
perdeu sua mãe ainda jovem, vítima de
sua condição. A partir daí, nossa
personagem tenta narrar a história de
sua fixação com o quadro A Menina
Submersa e um estranho encontro que
ela teve com uma mulher chamada Eva
Canning, que ela encontrou em um lago
nua, parecendo ter saído de um lago.
Só que Imp já era seguida por situações
bem estranhas as quais ela não
consegue exatamente explicar.

Uma das grandes dificuldades na leitura


de A Menina Submersa é que Imp não é
uma narradora confiável. Ela conta
histórias que aconteceram, que ela acha
que aconteceram e que nunca podem
ter acontecido. O uso de remédios fez
com que a sua memória não tivesse uma
linearidade cronológica clara. Pior:
frequentemente ela se lembra de coisas
que nunca aconteceram. Então é bem
comum na narrativa ela se contradizer
em vários momentos. Ou ela tentar criar
referências a coisas que nunca
aconteceram ou pelo menos não na
ordem em que ela se lembra. Isso dá um
nó na cabeça do leitor que faz uma
leitura desatenta. Estamos programados
para confiar naquilo que a narradora
escreve. Ou pelo menos a desconfiar de
gestos ou posturas. Não a desconfiar o
tempo inteiro.

"Lamento que você tenha


cometido um erro tolo e
terrível, India Morgan Phelps,
decidindo contar esta história
de fantasmas tal como você a
lembra, como duas narrativas
separadas, como uma
partícula e uma onda, o diabo
e o mar azul mais profundo
em vez de limitar-se a uma
única narrativa isenta de
paradoxo e contradição."

O segundo problema vem do fato de


termos três vozes narrativas. India, Imp
e a Imp-escritora. É frequente India
conversar com Imp e vice-versa. É uma
demonstração dos caminhos tortuosos
que a mente dela percorre para dar
uma lógica ao mundo que a cerca.
Frequentemente ela busca trazer India
de volta à narrativa quando ela divaga
demais sobre um determinado tema.
Fora que a psicóloga de Imp recomenda
que ela coloque suas memórias
conflitantes em contos. E vemos dois
desses contos espalhados pelo livro,
configurando uma metanarrativa. Isso
significa que temos a voz da India, a
menina que sofre de esquizofrenia e
quer uma normalidade em sua vida; a
voz de Imp, e sua obsessão com o
quadro e com Eva Canning; e a
escritora que deseja pôr no papel as
suas angústias. Não há uma separação
clara entre estas três vozes e só nos
damos conta disso quando ela se
autorreferencia.

Kiernan emprega também fluxo de


pensamento. É comum a narradora
começar um parágrafo, por exemplo,
falando de cenouras e terminando o
mesmo parágrafo falando sobre ciência
espacial. Seguir a linha de raciocínio
da protagonista é bem complicado e
exige o máximo de atenção. Fiz
diversas anotações para poder me
recordar depois do que ela havia
comentado capítulos antes. Mesmo
assim, é preciso destacar que o livro é
repleto do emprego de símbolos. Cada
um deles representando uma sensação,
uma emoção ou uma esperança da
protagonista. Por exemplo, o fato de ela
imaginar estar sendo encantada por
uma sereia envolve sua incapacidade
de lidar com o mundo real e se afogar
em um mundo fantástico que não é o
dela. Ou ela receber a visita de um lobo
indefeso, envolvendo a necessidade de
Imp de ser útil para alguém. Ou do sexo
latento entre ela e Eva, que envolve uma
fragilidade dela e uma necessidade
também de ser amada. É uma
personagem com várias camadas.

Não posso me esquecer de Abalyn e o


quanto ela faz a história ser mais
interessante. Os dilemas de Abalyn por
ser uma transsexual e como ela e Imp se
envolveram. Abalyn é uma mulher
decidida, quase um complemento para
a fragilidade inerente de Imp. A relação
entre as duas funciona bem e elas tem
uma química muito forte. Quando Eva
Canning chega e abala o que as duas
tem, o leitor sente o impacto junto de
Imp. Aliás, em vários momentos eu
cheguei a achar que a invenção do
sobrenatural por parte da protagonista
se tratava de uma justificativa para ela
ter traído Abalyn. Mas, a gente vai se
convencendo que não se trata
exatamente disso, e mais da mente
fragmentada de Imp. A autora usa
algumas boas páginas para nos mostrar
o dilema de Abalyn, sua relação com
seus pais e por que ela decidiu fazer a
cirurgia de mudança de sexo. É tocante
no sentido de que provavelmente já
ouvimos falar de casos como o dela.
Nesse sentido, Imp é bem decidida
acerca de sua homossexualidade. Ela
não tem dúvidas de que gosta de
mulheres. Claro, direto e preciso, sem a
necessidade de problematizar.

"Dualidade. A mutabilidade da
carne. Transição. Ter de
esconder o seu eu
verdadeiro. Máscaras.
Segredos. Sereias,
lobisomens, gênero. As
reações que podemos ter
diante da verdade das coisas,
diante da expressão mais
sincera de alguém, diante de
fatos que ocorrem contra as
nossas expectativas e os
nossos preconceitos.
Confissões. Metáforas.
Transformação. Por isso, é
muito relevante."

O elemento fantástico está nas


afirmações de Imp sobre o que ela
presencia em sua realidade. O grande
problema está em acreditar ou não no
que a protagonista está colocando para
os leitores. Mesmo tendo terminado o
livro, não sei me decidir o quanto todo
o envolvimento de Imp com sereias,
lobos e A Menina Submersa são fatos
ou produtos da imaginação
esquizofrênica da protagonista. Cabe
aqui dizer que a gente pode seguir as
duas linhas de raciocínio. A autora
apenas oferece pistas levando aos dois
lados. Se optarmos pelo lado fantástico,
temos uma outra personagem para
analisar: Eva Canning. Uma mulher
misteriosa e manipuladora que se
aproxima da vida de Imp e consegue
fasciná-la com seus encantos. Sua mera
presença consegue distorcer a forma
como a protagonista enxerga aquilo
que a cerca. Mesmo as descrições
sexuais envolvem vários elementos
lisérgicos onde o que dá prazer a Imp é
a irrealidade de tudo. Desde o primeiro
parágrafo do livro que não temos
dúvidas de que ela ama Abalyn. Mas,
sua relação com Eva leva a um outro
nível de estranhamento.

Se formos para o lado real, como


definir as ilusões de Imp? Abalyn
funciona como o apoio da protagonista.
Mesmo sacrificando parte de seu
sossego, ela entende o quanto é
importante para sua parceira. Além
disso, ela mesma admite para si que
precisa também de Imp, que a aceita
sem restrições. São duas pessoas
destruídas pela vida que encontram uma
na outra uma razão de viver. Sendo
contraditórias, são complementares. E
só se complementam por serem
contraditórias. Imp é uma reclusa, que
não tem contato com a sociedade lá
fora. Sua fixação por suas obsessões a
levam a criar um mundo fantasioso que
existe em sua mente. Um mundo que ela
busca representar em seus quadros. Já
Abalyn é uma mulher que sofreu e sofre
diariamente com o preconceito e a
incompreensão.

A Menina Submersa é uma leitura


difícil, porém recompensadora. Vai te
levar aos limites da compreensão e
exigir atenção e capacidade de
interpretar cada linha colocada. Temos
uma protagonista repleta de camadas e
que nos conta uma narrativa de
aceitação, confusão e a necessidade de
ser amada. Ao final, talvez sejamos
capazes de entender como Imp pensa.
Ou não. Mas, certamente a personagem
vai ter deixado parte de si entre nós.

Ficha Técnica:

Nome: A Menina Submersa


Autora: Caitlin R. Kiernan
Editora: DarkSide Books
Tradutoras: Carolina Caires Coelho e
Ana Resende
Número de Páginas: 320
Ano de Publicação: 2015

Link de compra:
https://amzn.to/33UZji0

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Anexossex., 14 de out. 13:41 (há 5 dias) para mim Traduzir mensagem
Desativar para: inglês ---------- Forwarded message --------- De: Pedro
Serrão Date: sex, 14 de out de 2022 13:03 Subject: Re: Parceria
publicitária no ficcoeshumanas.com.br To: Ficções Humanas Olá Paulo
Tudo bem? Segue em anexo o código do anúncio para colocar no
portal. API Link para seguir a campanha:
https://api.clevernt.com/0113f75c-4bd9-11ed-a592-cabfa2a5a2de/ Para
implementar a publicidade basta seguir os seguintes passos: 1. copie o
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código antes do último no final da sua page source. 4. Guarde e
verifique a publicidade a funcionar :) Se o website for feito em
wordpress, estas são as etapas alternativas: 1. Open dashboard 2.
Appearence 3. Editor 4. Theme Footer (footer.php) 5. Search for 6.
Paste code before 7. save Pode-me avisar assim que estiver online
para eu ver se funciona correctamente? Obrigado! Pedro Serrão
escreveu no dia quinta, 13/10/2022 à(s) 17:42: Combinado! Forte
abraço! Ficções Humanas escreveu no dia quinta, 13/10/2022 à(s)
17:41: Tranquilo. Fico no aguardo aqui até porque tenho que repassar
para a designer do site poder inserir o que você pediu. Mas, a gente
bateu ideias aqui e concordamos. Em qui, 13 de out de 2022 13:38,
Pedro Serrão escreveu: Tudo bem! Vou agora pedir o código e
aprovação nas marcas. Assim que tiver envio para você com os passos
a seguir, ok? Obrigado! Ficções Humanas escreveu no dia quinta,
13/10/2022 à(s) 17:36: Boa tarde, Pedro Vimos os dois modelos que
você mandou e o do cubo parece ser bem legal. Não é tão invasivo e
chega até a ter um visual bacana. Acho que a gente pode trabalhar
com ele. O que você acha? Em qui, 13 de out de 2022 13:18, Pedro
Serrão escreveu: Opa Paulo Obrigado pela rápida resposta! Eu tenho
um Interstitial que penso que é o que está falando (por favor desligue o
adblock para conseguir ver): https://demopublish.com/interstitial/
https://demopublish.com/mobilepreview/m_interstitial.html Também
temos outros formatos disponíveis em: https://overads.com/#adformats
Com qual dos formatos pensaria ser possível avançar? Posso pagar o
mesmo que ofereci anteriormente seja qual for o formato No aguardo,
Ficções Humanas escreveu no dia quinta, 13/10/2022 à(s) 17:15: Boa
tarde, Pedro Gostei bastante da proposta e estava consultando a
designer do site para ver a viabilidade do anúncio e como ele se
encaixa dentro do público alvo. Para não ficar algo estranho dentro do
design, o que você acha de o anúncio ser uma janela pop up logo que o
visitante abrir o site? O servidor onde o site fica oferece uma espécie
de tela de boas vindas. A gente pode testar para ver se fica bom.
Atenciosamente Paulo Vinicius Em qui, 13 de out de 2022 12:39, Pedro
Serrão escreveu: Olá Paulo Tudo bem? Obrigado pela resposta! O meu
nome é Pedro Serrão e trabalho na Overads. Trabalhamos com
diversas marcas de apostas desportivas por todo o mundo. Neste
momento estamos a anunciar no Brasil a Betano e a bet365. O nosso
principal formato aparece sempre no topo da página, mas pode ser
fechado de imediato pelo usuário. Este é o formato que pretendo
colocar nos seus websites (por favor desligue o adblock para conseguir
visualizar o anúncio) : https://demopublish.com/pushdown/ Também
pode ver aqui uma campanha de um parceiro meu a decorrer. É o
anúncio que aparece no topo (desligue o adblock por favor):
https://d.arede.info/ CAP 2/20 - o anúncio só é visível 2 vezes por
dia/por IP Nesta campanha de teste posso pagar 130$ USD por 100
000 impressões. 1 impressão = 1 vez que o anúncio é visível ao usuário
(no entanto, se o adblock estiver activo o usuário não conseguirá ver o
anúncio e nesse caso não conta como impressão) Também terá acesso
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Apenas necessito de ver o anúncio a funcionar para pedir o pagamento
ao departamento financeiro. Vamos tentar? Obrigado! Ficções
Humanas escreveu no dia quinta, 13/10/2022 à(s) 16:28: Boa tarde
Tudo bem. Me envie, por favor, qual seria a sua proposta em relação a
condições, como o site poderia te ajudar e quais seriam os valores
pagos. Vou conversar com os demais membros do site a respeito e te
dou uma resposta com esses detalhes em mãos e conversamos
melhor. Atenciosamente Paulo Vinicius (editor do Ficções Humanas)
Em qui, 13 de out de 2022 11:50, Pedro Serrão escreveu: Bom dia
Tudo bem? O meu nome é Pedro Serrão, trabalho na Overads e estou
interessado em anunciar no vosso site. Pago as campanhas em
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