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III.

DISCUSSÃO DOS FENÔMENOS DE TRANSE DA


SRA. PIPER.

I. — POR FRANK PODMORE.

Ao considerar os fenômenos apresentados pelos transes da Sra. Piper, não me proponho a


seguir o Dr. Hodgson em suas especulações sobre o verdadeiro significado das elocuções de
transe. Não porque tais especulações possam ser consideradas ilegítimas, ou mesmo prematuras.
De fato, é difícil debater o conteúdo dessas elocuções, exceção feita à forma dramática em que se
dão; e seria ridículo fingir que a inevitável hipótese, evocada pelo transe da Sra. Piper, de uma
personalidade alienígena — personalidade essa frequentemente incorporada com surpreendente
fidelidade — representasse fato sem absolutamente nenhum peso comprobatório. Mas antes de
adentrar os difíceis problemas sugeridos por essas personificações dramáticas, há uma questão
preliminar a ser perguntada — pergunta essa que o próprio Dr. Hodgson e os outros membros da
Sociedade cuja familiaridade com os transes da Sra. Piper deu-lhes o melhor direito a formar
uma opinião (a saber, o Professor William James, o Professor Oliver Lodge, o Sr. Frederic
Myers e o Dr. Leaf), já ofereceram a resposta que acreditaram ser satisfatória. Porém, talvez seja
bom, em vista da importância das problemáticas que agora claramente veem-se envolvidas, que
esta questão preliminar deva ser, uma vez mais, inequivocamente declarada, e que a resposta já
fornecida, como indicado acima, seja revista. Em suma, há certeza absoluta de que estamos
lidando necessariamente com uma faculdade supranormal — como a telepatia, no mínimo? Não
seria concebível que a totalidade das informações prestadas nos transes pudesse haver sido
adquirida por meios normais, quer pela elaboração inconsciente de pistas involuntariamente
fornecidas pelo consulente, ou por um sistema deliberado de investigação privada?
Aqui a óbvia observação preliminar é que a Sra. Piper não trabalha sozinha. Ela é membro de
uma grande classe. Médiuns clarividentes de um tipo ou de outro têm aparecido de forma
numerosa desde os dias de Mesmer. E, de modo geral, as alegações por eles (ou em seu nome)
apresentadas foram as mesmas que as afirmações ora realizadas pela Sra. Piper — o poder de
diagnosticar e medicar doenças, até mesmo de pessoas ausentes; de ver acontecimentos e lugares
à distância; e de se comunicar com o mundo dos espíritos.

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Mas na tentativa de comparar as elocuções da Sra. Piper com as de médiuns anteriores,
encontramos logo de início uma grave — e, na maioria dos casos, insuperável — dificuldade de
registros (à míngua, diga-se). De alguns videntes, sem dúvida, essa deficiência não pode ser
afirmada; de fato, dir-se-ia insaciável o estudante que exigisse maior desdobramento da Arcana
Cœlestia, ou que desejasse a adição de mais volumes aos já existentes da Great Harmonia. Mas
seja qual for o valor filosófico ou teológico das mensagens passadas por Emanuel Swedenborg e
Andrew Jackson Davis — e ao elencar conjuntamente os dois nomes como membros da mesma
classe, não se pretende com isto fazer comparação entre eles, nem julgar seus respectivos
sistemas —, resta claro que seus escritos oferecem poucas evidências externas capazes de
comprovar suas alegações de inspiração. Com efeito, diz-se que houve algumas ocasiões em que
Swedenborg, por meio da clarividência, tornou-se ciente de acontecimentos à distância; mas
dificilmente valeria a pena no presente momento investigar a suficiência das provas. E não estou
ciente de que as alegações de Davis quanto a obter informações adquiridas supranormalmente
foram alguma vez comprovadas em casos concretos. Outra vez, muitos foram os alemães
extáticos nas primeiras décadas do século atual, de quem a Vidente de Prevorst pode ser tomada
como o tipo cuja esquematização das esferas espirituais, viagens à lua e aos espaços
interestelares, entre outros, preenchem muitos volumes de letra pequena. Aqui, porém, uma vez
mais, as provas de clarividência terrestre, embora não totalmente ausentes, dificilmente seriam
suficientes para serem levadas a sério por si próprias. Assim, à parte dessas exceções, que são de
pouca valia para o nosso presente propósito, os registros de clarividência são, em sua maior
parte, tanto escassas quanto esporádicas; de modo que não temos como julgar o quanto do dito
sucesso decorre de informações sub-repticiamente obtidas dos próprios assistentes no momento
das sessões; nem em que proporção as declarações feitas em cada sessão estavam corretas, nem
quais eram imprecisas ou irrelevantes; nem, por fim, temos todos os dados para estimar a
proporção de sessões bem e mal sucedidas. Naturalmente, as “boas” sessões é que são
registradas; o resto é esquecido. Além disso, um elemento adicional de incerteza é introduzido
pelo fato de que os relatos são frequentemente fornecidos sem data, sendo, em muitos casos,
certamente feitos meses ou anos após os acontecimentos. Em alguns poucos casos, no entanto,
parecem ter havido registros bastante completos das sessões de determinado médium, com base
em anotações contemporâneas. Com efeito, inexistem casos, pelo que sei, em que o registro
professe abordar, com exatidão ou completude, a série — praticamente na íntegra — de
relatórios editada pelo Dr. Hodgson. Mas em alguns casos — entre os quais estão os mais
conhecidos do Sr. Stainton Moses, Alexis Didier e Adèle Maginot — os relatos feitos são
suficientemente completos e parecem ter sido preparados com cuidado o bastante para admitir
que certa comparação útil seja realizada.

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Assim, proponho fornecer breve descrição de cada uma dessas séries de elocuções de transe em
sua dimensão meramente probatória, e verificar até que ponto as informações exibidas podem
plausivelmente ser atribuídas a fontes normais.
Certo relato das supostas comunicações espíritas feitas pelo médium Stainton Moses —
baseado quase que exclusivamente em suas próprias declarações sobre o que ocorreu — é dada
pelo Sr. Myers em Proceedings, Vol. XI., pp. 24-113. Aos comentários feitos pelo Sr. Myers
devo acrescentar um detalhe importante, a saber: verificou-se que todas as informações
referentes a nomes, idades e datas de falecimento dos três filhos de Jones, fornecidas na sessão
de 10/02/1874, já haviam aparecido na coluna de obituário do Times londrino em 04/02/1874,
seis dias antes da sessão.1 No artigo referido, são enumerados 38 espíritos como havendo se
comunicado pelo médium Stainton Moses, ou por batidas ou por escrita automática. Destes 38
comunicadores, oito ou nove eram personagens de alguma importância histórica; 13 eram
indivíduos sem qualquer distinção especial, aparentemente desconhecidos —até mesmo pelo
nome — ao Sr. Moses e a todos no círculo; o restante tratava-se de conhecidos pessoais do
médium ou da família Speer, representando os consulentes habituais. Os personagens históricos
por vezes assinavam seus nomes em caligrafia, a qual foi tida como mais ou menos
característica, e por vezes comunicavam fatos de sua história de vida que poderiam ser apurados,
e que, de fato, foram verificados consultando-se suas biografias; as pessoas desconhecidas deram
seus nomes, suas datas de óbito e as doenças que as vitimaram, em muitos casos reproduzindo
literalmente o obituário publicado pouco antes nos jornais diários. Dentre os amigos pessoais,
um era um amigo da Sra. Speer, de quem o Sr. Moses escreve que ele jamais ouvira falar; os
únicos fatos oferecidos foram as iniciais e o sobrenome completo — A. P. Kirkland. Outro era
irmã do Dr. Speer, falecida ainda bebê, antes de seu nascimento; três nomes próprios e um
sobrenome, além de informações específicas quanto à morte, por fim foram fornecidas. Outros
parentes de Speers deram seus nomes e relacionamento corretamente; a avó do médium e outros
amigos conversaram com ele, fornecendo-lhe particularidades de incidentes por ele conhecidos
ou posteriormente verificados.
Por fim, em um dos cadernos do Sr. Moses, foram descobertas, após sua morte, comunicações
do Presidente Garfield e de uma conhecida senhora a quem o Sr. Myers chamava “Blanche
Abercromby”, comunicações essas que alegavam terem sido realizadas algumas horas antes que
a notícia da morte chegasse ao Sr. Moses por canais normais.
Deixando de lado os dois últimos fatos — para os quais não temos nenhuma outra prova que
não a própria declaração do médium — não há nada que

1
Veja Proceedings, Vol. IX, pp. 75-90.

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proíba a hipótese de que a totalidade das informações prestadas nessas sessões tenha sido a
reprodução de fatos consciente ou inconscientemente adquiridos pelo médium através de jornais
diários, livros ou conversas com seus amigos.
Tampouco as supostas comunicações, é interessante notar, guardam, na maioria dos casos,
qualquer semelhança marcante com aquelas realizadas através do organismo da Sra. Piper. Além
da diferença inicial de que os espíritos do Sr. Moses comunicavam-se principalmente por
batidas, e, quando escreviam, faziam-no não raro por meio de uma mão que simulava a caligrafia
característica do suposto comunicador, é preciso lembrar que os nomes, datas e outras
especificidades obituárias, informações essas que os “espíritos” oferecem praticamente em sua
integralidade a título de natureza comprobatória, são, nas mensagens sob transe da Sra. Piper, de
todos os detalhes, precisamente aqueles menos patentes; enquanto que, inversamente, o Dr. e a
Sra. Speer não parecem haver sido agraciados com nenhuma das características de personagens,
das descrições pessoais, das estranhas estórias antigas de família etc., etc., todas tão
curiosamente sutis, sempre usadas para formar a base da comunicação vindoura da médium.
Houve inúmeros expoentes na Inglaterra da clarividência “viajante”, especialmente na década
de 1840-1850. Mas os registros são, na maioria dos casos, fragmentários e esporádicos, ou não
trazem quase nenhum detalhe. De um certo médium clarividente desse período, entretanto, temos
vários registros razoavelmente completos, feitos por observadores competentes; e o fato de que
esse clarividente foi bem pago por suas apresentações, e ainda o fato de alguns de seus
fenômenos, em todo caso, serem quase sem dúvida explicados pelo exercício normal de sua
visão, tornam seu caso valioso para nossos propósitos atuais.
Alexis Didier era um jovem francês, trazido a este país no verão de 1844 e exibido por um
certo Marcillet, a quem Elliotson e outros atestaram como sendo um cavalheiro de alto caráter e
inquestionável integridade. Em um primeiro momento, aparentemente Alexis caiu em profundo
transe; seus olhos foram então enfaixados, de forma geral como aqui se descreve: um retalho de
couro foi colocado sobre cada olho, e em seguida, dois lenços foram amarrados diagonalmente
sobre ambos os olhos; sobre estes dois lenços, um terceiro foi amarrado horizontalmente, sendo
os interstícios preenchidos com algodão. Assim disposto, ele prosseguia, jogando écarté2 com
grande habilidade e rapidez; e sabia não apenas suas próprias cartas, mas frequentemente
também aquelas nas mãos de seus adversários. Era capaz de jogar corretamente com as próprias
cartas, postas sobre a mesa e viradas para baixo; e frequentemente, a pedidos, apontava qualquer
carta que lhe dissessem, estando o baralho inteiro voltado para baixo. Além disso, era capaz
ainda — embora geralmente com os olhos sem os enfaixes e apenas cerrados — ler palavras
escritas em envelopes lacrados, descrever o conteúdo de pacotes fechados e ler palavras e frases
constantes de páginas localizadas muito após aquelas iniciais de qualquer livro a ele apresentado.

2
Popular jogo francês de baralho. Pronuncia-se “ê cartê”. (N. T.)

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A partir das descrições detalhadas dessas performances, fornecidas por diversos observadores
no próprio Zoist3 e também na literatura periódica daquele tempo, podemos reunir muitos
indícios de que o poder exercido por Alexis era perfeitamente normal. Em qualquer caso, o
enfaixe tal como descrito não poderia ter sido aceito como satisfatório. E um escritor do Morning
Chronicle4 nos diz que ele próprio, sendo enfaixado por um amigo da mesma forma, conseguia
ler perfeitamente. Além disso, vários foram aqueles que perceberam que Alexis contorcia seu
rosto durante e após o processo de enfaixe; que frequentemente tocava e mexia nas ataduras; que
punha os objetos que lhe eram dados em ângulos curiosos, muitas vezes mudando suas posições,
como se tentasse obter melhor visão; envelopes lacrados e embalagens de papel fechadas seriam
levados, por exemplo, até o estômago ou ao cocuruto. Além disso, o jogo de cartas parece ter
sido a única forma de teste a mostrar sucesso uniforme; e mesmo aí havia muitas falhas, sendo
que elas parecem ter prevalecido sobre os sucessos em outros casos. Ele parece ter escolhido os
pacotes que deveria ler entre um grande número a ele apresentado; não se permitia que o
conteúdo dos envelopes lacrados fosse lido por um cético — o selo devia ser quebrado e os
conteúdos mostrados a uma testemunha que lhe fosse simpática. Marcillet esteve presente no
local durante toda a execução. De todos os feitos, aquele da leitura de palavras em livros a
muitas páginas de distância das primeiras foi o mais fortemente sugestivo de trapaça. Isto não
parece ter sido tentado, em regra, até que Alexis já houvesse lido algumas palavras na página de
abertura, o livro em sua mão, com o texto coberto por um pedaço de papel ou lenço ali colocado
pelo próprio. Alexis então separava um determinado número de páginas, de 10 a 150, segurando-
as pelas pontas bem à sua frente, e punha-se a ler algumas palavras de uma parte específica de
uma passagem várias páginas à frente. Nenhum registro achei que informasse se era Alexis ou o
público quem escolhia o local específico da página; mas o certo é que Alexis não era capaz de
indicar com exatidão sequer aproximada quantas páginas havia pulado. Em um caso, as palavras
lidas foram encontradas 80 e 150 páginas adiante, respectivamente.
Se isso era tudo o que Alexis tinha para mostrar, só nos resta admirar tamanha simploriedade
por parte das inúmeras testemunhas — advogados, médicos, membros do Parlamento Europeu,
entre outros — citadas no Zoist, que aprovava suas performances. Mas há duas considerações
que nos forçam a refletir. Em primeiro lugar, embora fosse difícil prová-lo

3
O “The Zoist: A Journal of Cerebral Physiology & Mesmerism” era um influente periódico britânico dedicado
à promoção de teorias e práticas de hipnotismo e frenologia — ele coletava e divulgava relatórios do uso dessas
práticas. O nome do jornal deriva da palavra grega “ζωή” (zoí, “vida”). O periódico foi publicado trimestralmente,
sem interrupção, durante 15 anos (de março de 1843 a janeiro de 1856). (N. T.)
4
O “The Morning Chronicle” era um jornal londrino. Existiu de 1769 a 1862. (N. T.)

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mesmo à época, e, claro, hoje não mais havendo como prová-lo, existem indícios de que seu
transe era genuíno; e sendo genuíno, seria admissível supor que, embora o conhecimento por ele
mostrado claramente tenha sido adquirido pelo exercício dos sentidos normais, ele próprio teria
sido inocente, não havendo lançado mão de fraude. Em segundo lugar, em todas as sessões,
juntamente com esta exibição de malabarismo, fosse ela consciente ou inconsciente, ocorreram
casos de “clarividência viajante” e de leitura de pensamento, que, se não genuínos, envolveram
uma fraude de natureza mais perigosa e complexa. Claro, fraude é a primeira explicação em
casos deste tipo. Alexis era um profissional — recebia cinco guinéus por sessão. Não há grandes
improbabilidades na premissa de que o respeitável M. Marcillet fosse um cúmplice; e, talvez, a
mais provável (embora não necessariamente correta) explicação de suas apresentações com
cartas de baralho seja a de fraude deliberada. Mas nos casos a seguir, selecionados de numerosos
outros relatos constantes de periódicos da época aparentemente relatados com o devido cuidado,
a fraude deve ter sido de um tipo diferente. O primeiro relato foi compilado de anotações feitas
por Lord Adare, com base em uma sessão com Alexis realizada no dia 02/07/1844, na casa de M.
Dupuis, na rua Welbeck. Um relato correspondente, mas mais completo e dramático do
incidente, foi fornecido pelo Rev. G. Sandby em uma carta ao Medical Times, datada de 8 de
julho.

O Cel. Llewellyn, que, acredito eu, era assaz cético, ofereceu uma “mala do Marrocos” — algo como
um estojo para instrumentos cirúrgicos. Tomando-a para si, Alexis colocou-a sobre o próprio estômago
e disse: “o objeto é uma substância dura, não branca, cerrada em algo mais branco que ele próprio; é um
osso retirado de um corpo maior; um osso humano — o vosso. Ele foi separado e cortado de modo a
mostrar um lado plano”. Alexis abriu a mala e, retirando um pedaço de osso embrulhado em papel prata,
disse: “a bala [de canhão] acertou esta posição; com efeito, era uma bala extraordinária; vós sofrestes
três lesões distintas ao mesmo tempo; o osso foi quebrado em três partes; feristes-vos no início do dia,
durante a investida contra o inimigo”. Descreveu ainda a vestimenta dos soldados, estando correto em
todos esses detalhes. Isto provocou o espanto de todos os presentes, em especial do galante coronel.
Esse relato foi elaborado não apenas a partir de minhas próprias anotações, mas também da declaração
do Coronel Llewellyn, realizada após a sessão, e também de um relato escrito dado a mim por uma
senhora que se sentara ali perto. — (Zoist II., pp. 510-11.)

Se considerarmos a hipótese de que a informação foi obtida por meios normais, então o Cel.
Llewellyn seria um velho cavalheiro assaz gárrulo, que revelou seu segredo a alguém na sala
naquele momento; ou então Marcillet ou Alexis de algum modo antecipadamente tomaram
conhecimento de seu passado e de sua intenção em participar da sessão. Nenhuma das duas
hipóteses pode ser vista como completamente improvável.

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O próximo caso foi retirado de uma carta do Dr. W. B. Costello, que aparece na edição do
Medical Times do dia 27/07/1844. O Dr. Costello explica que, embora pessoalmente
desconhecesse Marcillet, havia conseguido que este lhe fosse apresentado (aparentemente por
intermédio de um amigo), e assim achava-se ali, mostrando o cartão de Marcillet para participar
da sessão realizada em uma casa particular. Pode-se supor, portanto, que Marcillet estava ciente
da intenção, por parte do Dr. Costello, de se fazer presente, o que lhe daria a oportunidade de
preparar seu dossiê. Após relatar duas descrições de “clarividência” envolvendo casas e cenas
distantes dadas a outros convivas, aparentemente reconhecidas como substancialmente corretas,
prossegue o Dr. Costello:

A sessão já chegava ao fim quando [...] pedi permissão para fazer uma pergunta acerca de um fato
que não me saía da cabeça desde a manhã da segunda-feira. Afirmei que estava ciente de que, dirigindo-
me até ali sob os auspícios do mesmerizador, e, além disso, padecendo da desvantagem de não ser por
ele conhecido, eu conseguiria muito bem entender que, se fosse a resposta satisfatória, só poderia sê-la
para mim; mas se fosse doutra forma, eu o diria em alto e bom tom, sem hesitação. Uma vez que a
permissão foi cortesmente concedida, tomei Alexis pela mão e pedi-lhe que descrevesse as pessoas, o
ambiente e o ato em que me encontrava envolvido na manhã da segunda-feira. Respondeu-me, após
breve devaneio: “Encontras-te em um quarto com mais alguém, não em uma cama, mas em um beliche;
essa pessoa viveu profundos sofrimentos; algo fazias a sua cabeça — há outra pessoa ali também. E há
instrumentos com parafusos dispostos sobre a mesa (des objets mécaniques et à vis 5)”. Enquanto falava,
movia as mãos à frente de sua pessoa, até chegar à parte inferior do abdômen, quando repentinamente
exclamou: “Tiens, vous l’operez aussi au bas ventre, vous operez pour la pierre”6. Muito me
espantaram a minúcia e veracidade de sua descrição. Perguntei-lhe se o paciente era jovem ou velho.
“Jovem”, respondeu. A verdade era que eu encontrava-me realizando a operação de litotripsia em um
cavalheiro, não jovem, mas de 80 anos de idade, em Clifton, na manhã daquele dia, e o quarto, o sofá e
a posição da mesa sobre a qual jaziam meus instrumentos haviam sido descritos tão corretamente que
ele parecia haver estado presente. Além disso, muito singular era o fato de que o paciente possuía uma
ulceração atrás da orelha, cujo curativo era posto por seu criado. Com isto, encerrou-se a sessão. Por
óbvio que a exatidão das respostas de Alexis para mim não exerceram influência sobre a opinião do Sr.
——. É possível, no entanto, que elas tivessem-no deixado perplexo, como me deixaram, caso ele me
conhecesse tão bem quanto, acredito, conhece-me o resto dos membros de minha própria profissão.

O próximo relato foi extraído de uma longa carta, escrita em “Mon Loisir, Lausanne”7, em
25/11/1851, pelo Rev. Chauncey Hare Townshend e endereçada ao Dr. Elliotson, contendo
minuciosa descrição de uma sessão com Alexis em que Marcillet não se encontrava presente.
Townshend relata haver feito uma visita surpresa a Marcillet quando passava por Paris no mês
anterior; apresentara-se como um amigo de Elliotson, e descobriu que tanto seu nome quanto o
fato de haver escrito um livro sobre mesmerismo eram dados desconhecidos por Marcillet. Este
último, a fervoroso pedido de Townshend, enviara um mensageiro a Alexis, que

5
Traduzido do francês: “objetos mecânicos e parafusos”. (N. T.)
6
Do francês: “bem, vós o operais também o baixo ventre, por causa da pedra”. (N. T.)
7
Do francês: “A meu bel prazer, Lausanne” (cidade suíça). (N. T.)

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o trouxe ao hotel de Townshend algumas horas mais tarde. Assim que Alexis entrou em transe
“mesmérico”, Marcillet saiu da sala.

Comecei então a testar a clarividência de Alexis quanto a enxergar lugares distantes. Perguntei-lhe se
poderia visitar minha casa (em pensamento). Imediatamente perguntou-me: “Qual? Pois tens duas. Tens uma
casa em Londres e uma no interior. A qual hei de ir primeiro?”
Respondi-lhe: “A casa no interior”.
Após uma pausa, disse Alexis: “J’y suis!”8 e, em seguida, para minha surpresa, esbugalhou os olhos e
deteu-se, olhando ao redor. Percebi, no entanto, imediatamente, que ele mostrava o fixo e rígido olhar de um
sonâmbulo. Pelo que pude perceber, jamais alterou a fixa posição de suas pálpebras durante todo o tempo em
que esteve sob a clarividência distante. Sua pupila parecia dilatada e mortiça, sem qualquer movimento de
atividade consciente.
“Bem”, perguntei-lhe, “o que vês?”
“Je vois”, respondeu, “une maison d’un moyen apparence. C’est une maison, pas un château. II y a un
jardin autour. A côté gauche il y a une maison, plus petite, sur la propriété.”9
Tudo isso foi dito de forma ofegante, com certo esforço, e com um suspiro precipitado, por assim dizer,
entre cada frase. Eu próprio surpreendi-me com a exatidão da descrição de minha casa próxima a Lausanne,
em especial com a menção à casinha do lado esquerdo, onde, seguindo o costume suíço, habita minha
senhoria. Representava, de fato, característica marcante do local, impossível de ser adivinhada por um
estranho, o que, como tal, trouxe-me profunda convicção. “Agora”, disse eu a Alexis, “que tipo de vista
enxergas?” “De l’eau, de l’eau”10, respondeu apressadamente, como se houvesse visto o lago que de fato se
espraiava ante minhas janelas. Em seguida, “il y a des arbres en face tous près de la maison”11 (tudo
verdade). “Pois bem”, disse eu. “Entraremos na sala de visitas” (salon). “O que vês?” Ele olhou em volta e
disse (nos casos em que falhe minha memória em fornecer as palavras exatas, concentrar-me-ei no sentido
que tinham): “Tens um bom número de quadros nas paredes. Mas isto é curioso — são todos modernos,
exceto dois”.
“E esses dois”, disse eu, “consegues visualizar suas temáticas?”
“Ah, por certo que sim! Um é uma cena marítima; o outro é un sujet religieux”12.
Verdadeiramente senti que tremia frente a tão extrema exatidão. O quanto me surpreendi então quando
Alexis passou a descrever minuciosamente o “sujet religieux”, um quadro que eu havia recentemente
comprado de um refugiado italiano, com muitas peculiaridades marcantes. Disse-me imediatamente: “Há três
figuras no quadro — um velho, uma mulher e uma criança. Seria a mulher a Virgem? (Perguntou-se
retoricamente, pensativo) Não! É de idade demasiado avançada (prosseguiu ele, respondendo à própria
pergunta, enquanto eu permanecia em perfeito silêncio). A mulher guarda um livro sobre o colo, e a criança
aponta com o dedo para algo no livro! Há uma roca no canto”. Efetivamente, a imagem representava Sta.
Ana ensinando a Virgem a ler, e todos os detalhes a ela relacionados estavam corretos.
Perguntei-lhe: “Sobre que material pintou-se o quadro?”
Alexis respondeu: “Nem sobre tela, nem em cobre (metal). É sobre uma curiosa substância”. Após pensar
um pouco, começou a bater na mesa com os nós dos dedos, como se a tentar determinar a natureza da
substância. Por fim, gritou “C’est sur pierre”13. (A imagem encontra-se, de fato, sobre mármore

8
Do francês: “Ali estou”. (N. T.)
9
Do francês: “Vejo uma casa de aparência mediana. É uma casa, não uma mansão. Há um jardim em volta. Do
lado esquerdo, há uma casa, menor, na propriedade”. (N. T.)
10
Do francês: “A água, a água”. (N. T.)
11
Do francês: “há arvores na frente, próximas à casa”. (N. T.)
12
Do francês: “um tema religioso”. (N. T.)
13
Do francês: “é sobre pedra”. (N. T.)

57
negro).
“Agora”, disse ele, “eu estou olhando a parte de trás. É de uma cor curiosa, entre noirâtre et gris14 (a cor
exata que está por trás). E também é áspero atrás. Et tiens”, acrescentou. “C’est bombé”15.
Esta última peculiaridade teria convencido até os mais incrédulos. Havia sido dificílimo encontrar uma
moldura para a imagem, feita de uma urdidura ou curva na pedra. (Zoist IX., pp. 405-6.)

Alexis, em seguida, pôs-se a dar uma descrição igualmente detalhada da casa de Townshend
em Norfolk Street, Londres; das criadas que lá se encontravam, dos cavalos nos estábulos etc.;
fornecendo várias outras provas de clarividência.
A observação óbvia em um caso deste tipo é que Townshend era um conhecido escritor sobre
mesmerismo; era praticamente certo que em algum momento ele tentaria conhecer Alexis; e que
provavelmente valeria a pena para Alexis e seus agentes “fazer o levantamento” da maior
quantidade possível de fatos a ele pertinentes, a fim de proporcionar prova convincente de suas
faculdades supranormais. Que a descrição das criadas na casa em Londres, e do cavalo cinzento
no estábulo com feridas nos flancos, colocada em prática com exatidão ao tempo da sessão, só
seria capaz de provar, nesta hipótese, que a “equipe de inteligência” de Alexis encontrava-se
atualizada. É verdade que esta explicação torna-se mais e mais difícil, uma vez que precisa ser
aplicada a um círculo cada vez mais amplo. Porém, embora as descrições dos casos de
clarividência que obtiveram sucesso pareçam ter sido fornecidas em todas as sessões, os relatos
que possuímos são, em sua maioria, de segunda mão ou insuficientemente detalhados, e os
nomes das pessoas envolvidas frequentemente não são fornecidos. Como as “sessões” de Alexis
parecem ter sido uma espécie de reunião de visitantes com o comparecimento de cerca de 30 ou
40 pessoas, resta claro que Alexis teria chances consideráveis de utilizar todas as informações
por ele sub-repticiamente adquiridas; e a suposição de que sua demonstração de aparente
clarividência pudesse, de fato, ser assim explicada, embora certamente implique a presença de
confederados altamente treinados e uma sorte singular nos consulentes que se lhe apresentavam,
talvez não deva ser sumariamente rejeitada. Interessante observar que o próprio Alexis negava
expressamente a existência de ajuda por parte de espíritos neste quesito.
As revelações dos dois clarividentes até agora considerados pouco se assemelham às da Sra.
Piper. Nosso próximo vidente é de uma categoria diferente, e representa, até onde sei, o paralelo
mais próximo que qualquer outro registrado na literatura espiritualista posterior à clarividente
estadunidense.
Alphonse Cahagnet descreve-se como um simples ouvrier16. Ele era, de fato, como afirmou
um confiável relato do Journal du Magnetisme17, originalmente um marceneiro itinerante que
posteriormente assumiu o comércio de restauração de móveis antigos. Em janeiro de 1848,
publicou em Paris o primeiro volume de sua Arcanes de la vie

14
Do francês: “entre negro e cinza”. (N. T.)
15
Do francês: “pois bem, é bojuda”. (N. T.)
16
Do francês: “operário”. (N. T.)
17
Vol. XIII, p.340.

58
future devoilés, em que relata as comunicações recebidas por meio de oito sonâmbulos, as quais
diziam-se provir de 36 pessoas de várias posições sociais, falecidas em épocas diferentes, alguns
delas há mais de dois séculos. As sessões aconteceram ao longo de alguns anos. Este primeiro
volume continha “revelações” habituais do tipo pós-swedenborgiano sobre a constituição das
esferas espirituais, as ocupações dos falecidos, a bem-aventurança da vida após a morte, e assim
por diante, acompanhadas de mais mensagens pessoais provenientes de amigos falecidos dessas
pessoas, de quem Cahagnet admitiu testemunhar as manifestações. Mas há pouco ou nada que
mostre que as ditas comunicações não emanaram exclusivamente da imaginação do médium, de
forma que dependemos unicamente da boa-fé e da competência de Cahagnet para estabelecer a
exatidão dos relatórios narrados. Cahagnet, entretanto, parece ter sido um homem de sinceridade
e capacidade de aprendizado assaz incomuns. As críticas a seu trabalho anterior mostraram-lhe
as falhas nas provas que apresentara; e nas sessões posteriores, descritas em seu segundo volume,
publicado em janeiro de 1849, ele parece haver empenhado o máximo de si a fim de estabelecer
a autenticidade das ditas comunicações espíritas, mediante a aquisição, sempre que possível, de
atestados por escrito por parte dos demais presentes. A médium utilizada em todas essas sessões
posteriores fora uma jovem mulher chamada Adèle Maginot, a quem já conhecia há muitos anos.
Sonâmbula natural desde a infância, ela permitira que Cahagnet a “magnetizasse”, a fim de
conseguir pôr um fim aos ataques espontâneos que lhe prejudicavam a saúde. Ele logo viu nela
uma excelente clarividente, especialmente em questões de diagnóstico e tratamento de
enfermidades.
Em sessões posteriores, no entanto, as quais ocorreram no segundo e terceiro trimestres de
1848, Adèle foi consultada principalmente por pessoas desejosas de obter contato com amigos
falecidos. Cahagnet elaborou uma declaração sobre as comunicações feitas em cada uma dessas
sessões, e pediu aos consulentes que assinassem a declaração, indicando o quanto os detalhes
fornecidos eram verdadeiros ou falsos. Essas declarações, com os atestados assinados, foram
publicadas. Nos raros casos em que os nomes não são fornecidos por completo, Cahagnet explica
que, por razões pessoais, os consulentes expressaram desejo no sentido de ter seus nomes
retirados do conhecimento do público em geral, permanecendo privadamente, porém, à
disposição daqueles que investigassem por conta própria a veracidade dos relatos. É claro que
tais relatos, não afirmando serem narrativas literais, tampouco mostram que tipo de indicações o
vidente pode haver recebido como resultado de perguntas capciosas ou de sugestões fornecidas
involuntariamente pelos consulentes.
Cahagnet, de fato, parece admitir ter editado seu texto em certo grau. Em suas próprias
palavras:

“Cet ouvrage est loin d’offrir l’intérêt du roman par son style forcément coupé, accidenté. Aussi
conviendrait-il mieux aux amateurs de la science

59
qu’aux lecteurs passionnés des descriptions poétiques de nos romans du jour. J’ai cherché à rendre le
style le plus clair possible en le dépouillant de cet entourage de questions, de scènes étrangères à ce
genre de révelations. Je tiens moins à bien écrire qu’à bien persuader… Je suis resté dans les limites de
l’austère vérité, du rôle impartial de l’historien, prèsentant à la philosophie du jour, des faits dans toute
leur nudité, mais aussi dans toute leur sincérité.”18 (Vol. II., p. 233).

Mas de qualquer maneira, resta evidente, pelos relatos fornecidos, que muitos dos consulentes
mostravam-se céticos, mantendo postura defensiva contra farsas. E, em alguns casos, fica
evidente que nenhuma das sugestões fornecidas pelos consulentes poderia proporcionar
informações, como no caso de Rostan, citado abaixo. Outra possível falha comprobatória é que,
embora Cahagnet nos diga haver registrado todos os erros da sonâmbula, bem como todas as
suas declarações corretas (Vol. II. p. 126), ele jamais afirma expressamente haver publicado os
registros de todas as sessões. No entanto, como temos os registros numerados de 46 sessões
percorrendo o intervalo entre a impressão do primeiro volume, no terceiro trimestre de 1847, e o
final de agosto de 1848 — 28 delas havendo tomado lugar entre os dias 6 de março e a data
anteriormente citada —, é perfeitamente possível, creio eu, supor que as sessões aqui registradas
representam, no mínimo, uma proporção substancial daquelas que realmente ocorreram. Por fim,
para completar a enumeração das falhas comprobatórias mais proeminentes, pouquíssimas datas
são fornecidas. Ainda neste quesito, entretanto, o segundo volume mostra um marcante
progresso em relação ao primeiro. Dentre as 96 sessões ali registradas, dificilmente se vê uma
única data. Dentre as sessões posteriores, contudo, várias são datadas, enquanto que as restantes,
a julgar por indícios endógenos, parecem haver sido impressas em ordem cronológica. De minha
parte, impossível prestar maior elogio a M. Cahagnet do dizer que, em seu conjunto, ele parece
ter sido o que mais se aproximou do padrão comprobatório que os pesquisadores da S.P.R., após
longos anos de trabalho, elaboraram por conta própria, do que qualquer outro operário dessas
obscuras regiões.
A seguir encontram-se alguns registros representativos do que expus:

No. 129.19 — M. Petiet20 pergunta por M. Jérôme Petiet. Adèle vê um homem jovem, com cerca de
24 ou 26 anos de idade (ele tinha trinta), não tão alto quanto seu irmão aqui presente; cabelos ruivo-
claros um tanto compridos; testa visível, sobrancelhas arqueadas e bastante pronunciadas, olhos
castanhos e um pouco fundos, nariz um pouco longo, muito bem formado; compleição saudável, tez
muito branca e delicada, boca mediana, queixo com covas arredondadas. “Ele padecia de uma
debilidade no peito; teria sido muito forte, não fosse por isso. Veste um colete cinza desgastado, botões
com colchetes que não são mais usados. Não acredito que sejam de bronze, nem do mesmo material que
o colete. Não me parecem muito brilhantes. Suas calças são de cor escura, e ele usa sapatos de calço
baixo sem a parte do peito do pé.

18
Do francês: “Este trabalho está longe de oferecer o interesse do romance por seu estilo fortemente cortado,
acidentado. Assim, convém muito mais aos amadores da ciência que aos leitores apaixonados pelas descrições
poéticas encontradas em nossos romances atuais. Tentei reproduzir o estilo da forma mais clara possível ao eliminar
dele as questões que o acompanhavam, as passagens estranhas ao seu gênero de revelações. Almejo menos bem
escrever que bem persuadir [...]. Permaneci dentro dos limites da austera verdade, do papel imparcial do historiador,
apresentando a filosofia do dia, os fatos em toda a sua nudeza, mas também em toda a sua sinceridade.” (N. T.)
19
Vol. II, pp. 170-2. As sessões são enumeradas em uma única série abarcando os dois volumes: o Vol. II
começa com a sessão nº 98.
20
O “M.” é abreviação de “Monsieur” (“Senhor”, em francês). (N. T.)

60
“Este homem possuía temperamento obstinado, egoísta, desprovido de qualquer sentimento
enobrecido; tinha um olhar sinistro, não era muito comunicativo, sem candor, e havia pouquíssimas
pessoas na Terra por quem sentia alguma afeição, que ainda assim era diminuta. Sofria do coração. Sua
morte foi natural, mas repentina. Morreu asfixiado”. Adèle engasga como esse homem se engasgava, e
tosse como ele o fazia. Ela diz que “provavelmente emplastros ou moxas eram colocados em suas
costas, isso explicaria as chagas que nelas vejo. Não padecia de nenhuma doença, contudo, nesta parte.
Sua coluna era sã. Aqueles que lhe aplicavam o remédio desconheciam o local da doença. Sua postura é
péssima. Suas costas têm enorme arqueamento, sem, contudo, ser corcunda”.
M. Petiet nada encontra que alterar nesses detalhes, vez que são de grande exatidão, e confirmam-lhe
sua crença de que a aplicação do emplastro, aconselhado por um homem que não era médico, trouxe a
morte de seu irmão, ocorrida quase que de súbito.
“Subscrevo o presente relatório como sendo de profunda exatidão.
PETIET,
19, Rue Neuve-Coquenard.”
Nota: os botões que Adèle não conseguiu descrever eram de metal, da cor de barro e rodeados por
um círculo azul. Nesta aparição há um fato notável a ser observado — a saber, que Adèle incorporou o
mesmo tipo de doença que esse homem. Fui obrigado a libertá-la do transe, pois sofria terrivelmente.

Na sessão que se descreverá a seguir, o M. du Potet, famoso escritor sobre o Magnetismo


Animal e, à época, editor do Journal du Magnetisme em Paris, trouxera consigo o príncipe
Kourakin, descrito como sendo o “Secretário do Embaixador da Rússia”. O príncipe desejava o
contato com a cunhada, e a marcante descrição de sua pessoa fornecida por Adèle foi
reconhecida pelo príncipe segundo ouviram M. du Potet e duas outras testemunhas, para ser
exato. Infelizmente, a confirmação expressa com a assinatura do príncipe não foi obtida de
imediato; ele prometera vir novamente, mas — como Cahagnet delicadamente coloca — “les
événements survenus en France l’ont forcé de partir”21, e o testemunho prometido nunca foi
obtido. Após a aparição da princesa russa, todavia, o registro continua:

No. 117.22 — O M. du Potet deseja, por sua vez, chamar o M. Dubois, um médico e amigo seu
falecido 15 meses antes.
Adèle disse: “Vejo um homem de cabelos grisalhos, com pouquíssimo cabelo na parte frontal da
cabeça; a testa é nua e proeminente nas têmporas, fazendo sua cabeça parecer quadrada. É possível que
tenha cerca de sessenta anos de idade. Tem duas rugas de cada lado do rosto e um vinco sob o queixo,
fazendo com que pareça duplo; seu pescoço é curto e atarracado; possui olhos pequenos, nariz grosso, a
boca bem grande, o queixo achatado e mãos pequenas e finas. Não me parece ser tão alto quanto o M.
du Potet; se não for mais robusto, tem ao menos os ombros mais largos. Veste uma sobrecasaca marrom
com bolsos laterais. Vejo-o

21
Do francês: “circunstâncias supervenientes na França o forçaram a partir”. (N. T.)
22
Vol. II, pp. 118-120.

61
retirar uma caixa de rapé de um deles e dar uma pitada. Tem o caminhar bastante estranho, com péssima
postura e pernas fracas; ele deve ter padecido de algum mal delas proveniente. Usa as calças bastante
curtas. Ah! Ele não limpa os sapatos todos os dias, pois estão cobertos de lama. Considerando-se todos
os elementos, ele não se apresenta bem vestido. Tem asma, pois respira com dificuldade. Vejo, além
disso, que tem um inchaço no abdômen, e traz algo para apoiá-lo. Disse-lhe eu que o M. du Potet o está
chamando. Ele fala comigo sobre magnetismo com incrível loquacidade; fala de tudo de uma só vez;
mistura tudo; não consigo entender absolutamente nada; tudo isso o faz cuspir saliva”.
M. du Potet pede que se pergunte à aparição por que não aparecera a ele antes, como havia
prometido? Ele responde: “Espera até que eu descubra meu paradeiro; acabo de chegar, ponho-me a
estudar o que vejo. Desejo contar-te tudo quando aparecer, e muita coisa terei para dizer-te”.
“Que dia me prometeste fazer isso?” “Em uma quarta-feira”. Adèle complementa: “Este homem
deve ser alguém muito esquecido; tenho certeza de que era muito distraído”. M. du Potet faz-lhe outra
pergunta: “Quando aparecerás para mim?” “Não poderia dar um tempo preciso, tentarei fazê-lo em seis
semanas.” “Pergunta-lhe se gostava dos jesuítas?” À menção desse nome, ele dá um salto no ar de tal
forma, estendendo os braços e gritando “Os jesuítas!”, que Adèle apressadamente recua, assustando-se
de tal maneira que não se atreve a falar com ele novamente.
M. du Potet declara que todos esses detalhes são de exatidão tão profunda que sequer alteraria uma
única sílaba. Afirma ele que os poderes de comunicação desse homem eram inesgotáveis; que misturava
todas as ciências às quais se dedicava, falando com tal loquacidade que, como diz o clarividente,
chegava a faiscar. Dava pouca importância a sua própria aparência; era tão distraído que às vezes
esquecia-se de comer. Quando alguém lhe mencionava os jesuítas, saltava como Adèle descrevera.
Estava sempre coberto de lama, como se fosse um cão da raça spaniel. Não surpreende que o
clarividente o visse com sapatos lamacentos. Ele prometera, de fato, ao M. du Potet que lhe apareceria
na quarta-feira ou no sábado. M. du Potet reconheceu a exatidão dessa aparição na edição nº 75 do
Journal du Magnétisme.

Com efeito, na edição de 10 de agosto do mesmo ano, ao analisar o primeiro volume, du Potet
presta um colorido testemunho à natureza da personificação, “si bien que je croyais le voir moi-
même, tant le tableau en était saisissant. Bientôt cette ombre s’est enfuie en effrayant la
somnambule; un seul mot avait causé cette disparition subite, et mon étonnement en fut porté a
son comble, car ce même mot le mettait toujours en fureur”23. Mas du Potet, não obstante tudo
isso, encontra-se propenso a atribuir o fenômeno à transmissão de pensamentos, provenientes de
sua própria mente;24 e alguns meses mais tarde,25 ao analisar o segundo volume, aproveita a
ocasião para divulgar o resultado de suas

23
Do francês: “de modos que pensei que eu mesmo o via, frente às batidas na mesa. Rapidamente esta sombra se
foi, assustando a sonâmbula; uma só palavra havia causado tal súbito desaparecimento, e meu estarrecimento
alcançou seu apogeu, vez que esta mesma palavra sempre causava-lhe fúria”. (N. T.)
24
Journal du Magnétisme, Vol. VII, p. 89.
25
Journal du Magnétisme, Vol. VIII, p. 24.

62
investigações adicionais referentes a essa sessão. De forma geral, a descrição detalhada da
aparência pessoal, bem como outras especificidades que se encontravam prontamente acessíveis
na própria mente de du Potet naquele momento, estavam corretas; outros detalhes que foram
corretamente fornecidos, du Potet poderia ter ouvido falar, mas certamente não se recordava
deles naquele momento. Verificou, no entanto, com a ajuda da viúva e dos filhos, que o Dr.
Dubois não usava tabaco; jamais possuíra um redingote da cor descrita; não sofria de hérnia, e,
consequentemente, não usava curativo algum. Além disso, a aparição prevista jamais aconteceu.
Du Potet, contudo, acrescenta expressamente que o Dr. Dubois em vida desconhecia Cahagnet e
também sua sonâmbula.
A explicação por telepatia torna-se um pouco mais difícil na sessão espírita citada a seguir. O
consulente deste relato, Dejean de la Bastie, representante do governo da Ilha de Bourbon,
chegara alguns dias antes e recebera uma descrição pessoal de seu pai, que reconheceu ser exata
com exceção de alguns insignificantes pormenores, juntamente com excelentíssimos conselhos
paternos.

Nº 141.26 — M. Dejean de la Bastie, já citado na Sessão 138, deseja outra aparição. Ele deseja o
contato com M. Marie-Joseph-Theodore de Guigne. Adèle vê um homem de cerca de quarenta anos de
idade, relativamente alto, de cabelos castanhos. M. Dejean interrompe Adèle, dizendo que essa
descrição não confere com o da pessoa por quem ele pediu. Vemos que este cavalheiro deseja
informações de perfeita exatidão. Ao ouvir as palavras “relativamente alto, de cabelo castanho”, ele diz:
“Ele era alto e não tinha cabelos castanhos”. Adèle responde que a pessoa cuja aparência está
descrevendo deve ter o mesmo nome e pertencer a sua família — que ela está ciente disso; mas ele pede
novamente para chamar o cavalheiro em questão, e uma segunda pessoa aparece. A primeira permanece.
“O recém-chegado”, diz ela, “tem trinta anos de idade ou mais; é alto e magro, tem o cabelo como o
linho negro, rosto pálido, olhos meigos de cor azul escura; nariz longo, boca mais alargada que pequena,
queixo longo. Vejo que veste um tipo de sobretudo grande, tal como já não se usa mais. Não é de todo
elegante; assemelha-se a um roupão, ainda que não o seja; é azul escuro ou preto. Este traje lhe
evidencia ser um homem de alguma ordem — um sacerdote ou algo do tipo. Tem o semblante austero.
Deve ter tido queixas de problemas no peito. Vejo que seus pulmões encontram-se inflados de sangue.
Já encontra-se enfermo há muito tempo. Está muito enfraquecido. Creio que seja o resultado de
privações que tornaram seu peito tão delicado. Não vejo, contudo, germes de nenhuma doença fatal, o
que me faz acreditar que sua morte tenha sido acidental, violenta e inesperada. A mão é grande e fina.
Vejo uma medalha no peito, do tamanho da palma de uma mão. Ele usa sapatos de corte baixo, tal como
não se usam mais. Ele não fala comigo, portanto concluo que não falava francês”.
As seguintes observações precedem a assinatura de M. Dejean: — “Esta pessoa era de disposição
mais gentil e bondosa que de gravidade. Morreu de uma febre maligna, acompanhada de delírio com
duração de vários dias,

26
Vol. II, p. 219-220.

63
e atribuída, pelo médico, às necessidades de uma constituição vigorosa frustrada por uma absoluta
continência”.
“Reconhecem-se esses detalhes como exatos.
(Assinado) DEJEAN DE LA BASTIE,
Neste 25 de agosto de 1848. 18, Rue Neuve de Luxembourg.”

Em alguns casos, com o objetivo expresso de excluir a transferência de pensamento, o


consulente vinha armado com o nome de alguma pessoa morta de quem nada sabia — como no
caso seguinte. M. l’Abbé A——, mencionado no início do registro, obtivera sucesso em uma
experiência do mesmo tipo em sessão anterior (nº 112).

N. º 122.27 — O Pastor Rostan, cuja referência na sessão anterior se fez em conexão ao M. l’Abbé A
—, desejava presenciar uma aparição. Buscava o contato com alguém que desconhecia, cujo nome lhe
havia sido informado; mas uma falha ocorreu durante a transmissão dessa informação, e em
consequência apareceu alguém cuja descrição foi feita, mas que não pôde ser reconhecida. Ao menos
essa é a versão deste senhor, que não imagino tenha-me sido imposta. Sugeri-lhe uma segunda sessão,
principalmente por sua insistência em contatar alguém que lhe fosse inteiramente desconhecido, a tal
ponto de haver sido influenciado pelos argumentos de M. Hebert. Pediu então a sua criada que lhe desse
o nome de um de seus conhecidos já há algum tempo falecido; apareceu de posse do nome em questão e
pediu o contato com Jeannette Jex. Respondeu Adèle: “Vejo uma mulher que não é alta, pode ter entre
trinta e quarenta anos de idade; se ela não é corcunda, deve ter as costas muito arqueadas, pois tem
péssima postura. Não consigo fazê-la se virar. Seu cabelo é ruivo, aproximando-se do vermelho; tem
pequenos olhos cinzas e um nariz grosso. Ela não é bonita. Tem queixo saliente, boca inexpressiva,
lábios finos; usa um vestido caipira. Vejo que carrega uma touca com duas faixas lisas, arredondada
sobre as orelhas. Ela deve ter padecido de um fluxo sanguíneo em direção à cabeça, pois tinha
indigestão. Vejo que possui um inchaço no abdômen, do lado esquerdo, e nas glândulas de um seio. Já
encontra-se enferma há muito tempo.”
M. Rostan entregou o relatório a sua criada, devolvendo-mo após acrescentar sua assinatura e as
seguintes observações:
“A informação supra está correta no que diz respeito a estatura, idade, vestimenta, porte, doença e
aspecto deformado.
(Assinado) J. J. ROSTAN.”

Mas enquanto M. Rostan deixou-se afetar pelo resultado desse teste, seus amigos
aparentemente continuaram a atribuir os resultados à transferência de pensamentos, cedendo
espaço para Cahagnet tecer comentários sobre o assunto.
Existem, de fato, se pequena divagação do assunto principal nos for permitida, indicações de
que ao menos algumas das ditas aparições eram subjetivas — inspiradas, explique-se, pela
imaginação da médium e ocasionalmente complementadas pelas correntes telepáticas do
consulente.

27
Vol. II, p. 142-144.

64
Provavelmente não estaríamos errados se supuséssemos — haja vista a ausência de provas que
corroborem sua realidade — que os relatos do Céu e dos espíritos que o ocupam, fornecidos no
primeiro volume, originaram-se de fonte não mais remota que a mente da própria médium, cujo
funcionamento sem dúvida era dirigido ora por memórias das lições aprendidas na infância, ora
por influência da filosofia swedenborgiana recebida pelo próprio Gahagnet.
Aqui, por exemplo, está um relato de uma visão celestial imputada a Bruno, primeiro
extasiado de Cahagnet, um jovem de 27 anos com disposição suave e educação aparentemente
limitada.

Nº 10.28 — Bruno encontra-se em profundo êxtase; entra no céu pela primeira vez e lá vê seu pai,
sentado em frente a uma pequena mesa, lendo. “Que livro é aquele que teu pai segura?” “É como o
nosso, mas a impressão não é igual.” “Como ela é?” “Tem letras em forma de ‘D’ e depois outras em
forma de pequenos ganchos e crescentes. Sequer consigo descrevê-lo. Meu pai fecha o livro e diz que
não conseguiríamos entender nada deste escrito. Se mo permites, voltarei ao céu por um momento.”
Após um quarto de hora ele acorda, olha para a cama com desprezo e exclama: “Ah! Entendo por que os
mortos não se arrependem da Terra. Quem desejaria vegetar neste monturo lamacento depois de ver o
que vi?” “O que viste, então?” “O céu.” “Sim, pois bem. E como é o céu?” “Ah! Encontrava-me em um
lugar sem nenhum horizonte, iluminado por soberba luz. Perante mim encontrava-se um ser que,
acredito, era Deus, sentado em um trono; sua cabeça estava coberta por um turbante brilhante, e sua
barba era cinza. Creio que seu braço descansava sobre o braço da cadeira. Trajava um hábito talar de
veludo carmesim cravejado com lis douradas. Seu semblante era majestoso; falava com seus ministros,
seis ou oito em número. Não os contei. Estavam todos sentados nos degraus do trono, vestidos do
mesmo material e com a mesma cor que o manto de Deus; mas creio que neles não havia nenhum
bordado dourado. Por toda a sua volta, a perder de vista, caminhava uma multidão de seres. Ah! Como
são feios os homens da Terra em comparação àqueles rostos bonitos, àquelas peles claras! Um cachecol
tipo gaze cobria-lhes um dos ombros, e, além disso, vestiam uma saia curta feita deste mesmo tipo de
gaze transparente, de forma que se viam todos os membros do corpo com fácil distinção. Seus pés
estavam calçados com sandálias, amarradas com grossos cordões (cothurnes): mas, ah, Deus! como era
bonito! Fui levantado no ar, contemplei a terra sob meus pés e todos esses homens pequeninos, tão
vangloriosos, o quanto me pareciam desagradáveis e miseráveis ao lado daqueles seres divinos à minha
volta.

Em sessão posterior, observe-se, foi revelado a Bruno que a forma sentada ao trono era o
anjo Gabriel.
E aqui estão alguns trechos das visões do céu por parte de Adéle. Louise, sua sobrinha em
espírito, vem a Adèle, que se achava em transe, para anunciar-lhe a aparição de seu segundo
irmão [o primeiro aparecera em sessão anterior].

28
Vol. I, p. 18-19.

65
Nº 40.29 — “De qual irmão se trata?” “É Jean-Marie; ele também morreu na África há três anos.”
Adèle olha com alegria para os três membros de sua família; o último também usa um uniforme de
dragão30; como em sessões anteriores, ela conversa com eles por bastante tempo sem me informar
acerca do conteúdo do falatório. “Que fazem teus irmãos no céu?” “Divertem-se, perambulam por ali.”
“Será possível que a eternidade seja gasta em perambulações sem rumo, andando para cima e para
baixo, sem nada mais a fazer que divertir-se despropositadamente?” “Ah! Eles tocam música, estudam
as ciências; têm ocupações melhores e mais prazerosas que as nossas.”

Nº 41.31 — “Aqui estão”. “Parecem-te alegres em ver-te?” “Sim, de fato assim me parece.”
“Acompanha-os tua sobrinha?” “Não.” “Estão felizes por estarem mortos?” “Quem não estaria feliz?
Eles estão muito felizes. Disseram-me que verei minha mãe.”
Adèle espera um momento, e de repente estica os braços, parece abraçar a mãe; seu coração bate
violentamente, seu rosto toma um aspecto emotivo e ela fica muito alegre, pondo-se a chorar. “Parece-te
tua mãe tão feliz em ver-te quanto tu em vê-la?” “Certamente!” “Que faz ela no céu?” “Está com meu
pai, meus irmãos, minha irmã, em resumo, com toda a família; sente-se muito ansiosa em relação a
mim, está muito feliz; ela lê e diverte-se ouvindo meus irmãos tocarem.” “Então há livros no céu?”
“Sim, certamente, e não são romances como os da Terra.” “O que contam eles? “Contam dos mistérios
de Deus, da ciência; mas não são escritos como os da Terra, de acordo com minha mãe.”

* * * * * *

Nº 45.32 — “Todos os teus parentes estão contigo?” “Quatro deles estão. “Algum outro virá?
“Aguardo minha irmã, que também está morta e ainda não vi. Ah, lá está ela; como é linda! Ah, Deus!
Como nos tornamos belos após a morte!” “Como está vestida?” “Veste suas roupas de noivado; ela
morreu na véspera da data marcada para seu casamento; está vestida de branco, o cabelo puxado para
trás; está descalça como minha sobrinha; que curioso!” “Pergunta-lhes por que não têm sapatos?”
“Minha mãe responde que onde estão não existem pedras.” “Sobre o que repousam seus pés agora?
“Uma linda relva verde.” “Pelo que estão cercados?” “Por um vasto e lindo horizonte azul.” “Que tipo
de luz têm eles?” “Uma luz muito pura que só posso comparar à luz do final de um belo dia de verão.”

* * * * * *

Nº 49.33 — Segunda aparição do pequeno afilhado de Adèle. Ela parecia demonstrar extremo
interesse nesta pequena criatura, e quando o viu ir embora, pareceu-lhe que ele iria cair; ela o seguiu,
entrando depois em estado de completo êxtase, do qual não foi fácil tirá-la; ela mostrava seu
descontentamento dizendo-me, como o fizera antes: “Por que me obrigar a voltar para este mundo de
lama e a vileza? Estava tão feliz seguindo essa pequena criatura com suas lindas asinhas brancas, como

29
Vol. I, pp.89, 90, 91.
30
Soldado da infantaria montada. (N. T.)
31
Vol. I, pp.96, 97.
32
Vol. I, pp. 96, 97.
33
Vol. I, p. 107.

66
M. Bruno a viu. Eu é que estava errada a este respeito.” 34 “Até onde foste?” “Subi até elevadíssimas
alturas; depois atravessei um grande arco, ao final do qual havia jardins muito bonitos, e ali tudo era
notável por sua graça e frescor. Havia muitas pessoas andando em suas aleias; alguns liam, outros
tocavam música; todos pareciam muito felizes. Tão perfeita harmonia parecia existir entre eles que seria
impossível não querer estar em sua presença. Ali vi meu pai, minha mãe, toda a minha família, que é
muito grande. Quis permanecer, mas minha mãe e tua vontade me obrigaram a descer.” “Como se vestia
toda essa gente?” “Todos vestiam um tipo de roupão rendado, mas em todos os tipos de cores; sua
fisionomia era bem diferente, mas facilmente reconheci meus parentes — apesar de que, se aparecessem
para nós trajados desta forma, não seriam facilmente reconhecíveis.”

Mas há relatos outros que, embora apontem para o uso de telepatia, são extremamente
difíceis de conciliar com a teoria do elo espiritual realizada pelo registrante.
Em duas ocasiões, pediu-se a Adèle para buscar um parente do consulente, há muito
desaparecido. Em ambas as ocasiões, ela encontrou o homem vivo e conversou com seu
espírito.
M. Lucas, carteiro (messager) proveniente de Rambouillet, apresentou-se, desejoso de
saber que fim levara seu cunhado, desaparecido após uma rixa cerca de 12 anos antes.
Adèle, em transe, encontrou o homem imediatamente, informando que estava vivo e que
ela o vira em um país estrangeiro, onde havia árvores como aquelas encontradas na
América, e que se mostrava ocupado recolhendo sementes de pequenos arbustos com
pouco menos de 1m de altura. Ele não respondia sua pergunta, e ela pediu para ser
acordada, pois tinha pavor de feras selvagens. 35 M. Lucas voltou poucos dias depois,
trazendo consigo a mãe do sujeito desaparecido.

Nº 993.36 — Adèle, assim que dormiu, disse: “Consigo vê-lo.” “Onde o vês?” “Aqui.” “Dá-nos
novamente uma descrição dele e também do lugar onde está.” “É um homem de pele clara, bronzeada
pelo calor do sol; é muito robusto, seus traços são assaz regulares; olhos castanhos, boca grande; parece
soturno e meditativo. Está vestido como um trabalhador braçal, em uma espécie de blusa curta. No
momento, ocupa-se, como da última vez, na coleta de sementes, que se parecem com grãos de pimenta,
mas não creio que se trate pimenta; são maiores. Esta semente cresce em pequenos arbustos de cerca de
um metro de altura. Junto a ele há um negrinho, em igual ocupação.” “Tente obter alguma resposta
desta vez. Faz com que te diga o nome do país onde o vês.” “Não me responde.” “Dize-lhe que sua boa
mãe, por quem nutria grande afeto, encontra-se contigo e pede por notícias suas.” “Ah! À menção de
sua mãe, virou-se e disse-me: ‘Minha mãe! Não morrerei sem antes vê-la novamente. Conforta-a e dize-

34
Em ocasião anterior, Adèle discordara de Bruno — outro ponto abordado por Cahagnet — quanto à existência
de asas na criança.
35
Vol. II, pp. 32-33.
36
Vol. II, pp. 34-37.

67
lhe que sempre penso nela. Não estou morto!’” “Por que não lhe escreve?” “Ele mandou-lhe uma carta,
mas a embarcação sem dúvida naufragou — ao menos assim supõe, vez que ele jamais recebeu resposta.
Diz-me que está no México. Seguiu o imperador, Dom Pedro; ficou preso por cinco anos, sofreu
muitíssimo e lançará mão de todos os esforços para voltar à França; eles o verão novamente.” “Poderia
ele nos fornecer o nome do lugar em que vive?” “Não; o local é em um interior muitíssimo remoto,
esses locais afastados não têm nomes.” “Ele mora com um europeu?” “Não, com um homem de cor.”
“Por que parou de escrever à sua mãe?” “Porque os navios não chegam no lugar onde está. Ele não sabe
a quem recorrer. Além disso, antes mal sabia escrever; agora já quase se esqueceu. Não há ninguém
próximo a ele capaz de prestar-lhe este serviço; ninguém fala a sua língua; quando consegue se fazer
entender, é apenas com profunda dificuldade. Além do que, jamais teve disposição comunicativa, nem
de falador. Ele parece ser um sujeito um pouco carrancudo. É dificílimo arrancar-lhe estas poucas
palavras. Não seria difícil crer que se trata de um néscio.” “Em suma, como escrever para ele ou ter
notícias suas?” “Ele desconhece um modo. Só é capaz de dizer estas três coisas: estou no México; não
estou morto; eles me verão novamente.” “Por que abandonou os pais dessa maneira, sem nada dizer-
lhes, estando feliz em casa?” “Este homem era muito reservado; quase nunca falava. Amava muito a
mãe, mas não tinha o mesmo afeto pelo pai, um homem impetuoso, ranzinza e que amiúde tratava-lhe
com brutalidade. A última gota já havia caído há muito. Não foi a discussão insignificante que teve com
seu pai um dia antes de sua partida que o fez decidir ir embora; essa decisão já havia sido tomada há
certo tempo. Nada disse a ninguém a respeito. Foi-se embora às escondidas. Beijando-os a noite
anterior, procedeu à fuga no dia seguinte, sem dizer uma única palavra. Não vos inquieteis, madame;
Vê-lo-eis novamente!” Esta bondosa senhora desatou a chorar, reconhecendo a verdade de cada detalhe
fornecido por Adèle. Nada falho encontrou na descrição. O caráter, a educação e a partida do filho eram
o que lhe dissera Adèle; mas a probabilidade acerca do relato da clarividente é maior quando se toma o
fato de que seus parentes já imaginavam que ele se alistara no exército de Dom Pedro, de forma que
procederam a tomar as medidas necessárias para apurarem a verdade. M. Lucas contou-me esse detalhe
em uma viagem que depois fez a Paris. Não havia como obter, no entanto, nenhuma dessas informações.
O que não menos contribuiu para o espanto desta bondosa mulher, de M. Lucas e dos demais presentes
nesta curiosa sessão, foi ver Adèle colocar a mão no lado esquerdo do rosto, na tentativa de proteger-se
dos ardentes raios solares próprios desses países, parecendo sufocar-se com o calor; mas a parte mais
extraordinária desta cena foi perceber que ela contraíra uma grave insolação que transformara todo esse
lado do rosto, da testa ao ombro, numa cor azulada, vermelha, ao passo que o outro lado permaneceu
completamente pálido. Esta coloração escura não começou a desaparecer até vinte e quatro horas mais
tarde. No momento, o calor fora tão grande que não era possível sequer encostar-lhe a mão.

Esta simulação, pela consciência subliminar, dos efeitos de graves insolações, sem dúvida
não é mais incrível que a produção, sob hipnose, dos estigmas crísticos. Tais efeitos físicos da
imaginação,

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malgrado raros, já foram reiteradamente validados. Mas caso a última frase de Cahagnet refira-se
ao calor da pele da médium, receio termos de admitir que a imaginação do registrante possa
haver exercido papel relevante tanto naquele prodígio quanto no paciente.
Logo após essa ocorrência, M. Mirande, diretor da editora que imprimiu o primeiro volume
do Arcanes, veio ter com Cahagnet, pedindo-lhe uma sessão. Ele ficou muito impressionado com
o que viu e ouviu, e por fim...

Nº 105.37 — ...implorando a Adèle pelo contato com seu irmão, que, acreditava, morrera na
campanha russa. Como Adèle não o encontrara no mundo espiritual, declarou que não estava morto, que
o vira na Terra, assim descrevendo-o: “Vejo um belo homem de grande porte, cabelos castanhos, olhos
negros, brilhantes e bonitos, e de expressão suave; boca mediana, dentes bons, nariz bem
proporcionado, bochechas de cor saudável; ele é cortês e animado. Parece-me contar cerca de trinta anos
de idade, sendo pouco mais alto que M. Mirande. Seu uniforme é o de um praça (creio eu), pois vejo
uma única dragona, um casaco azul, calças azuis com trançado vermelho, uma barretina de coroa baixa;
no todo, trata-se de um homem bonito.” “Pergunta-lhe em que país está.” “Não sabe ou não me pode
dizer. Ele responde que sofreu muito. Tornou-se prisioneiro, sendo enviado ao interior da Rússia, em
uma parte que faz fronteira com a China, creio eu; diz que seu irmão há de vê-lo novamente.” “Por que
não me escreveu?” “Ele o fez, mas as cartas foram perdidos ou destruídas.” “Por que não escreve
mais?” “Ele não sabe se seu irmão ainda vive.” “Dize-lhe que está vivo e que agora faz de seu propósito
de vida descobrir seu paradeiro.” “Ele responde que ele não me pode dar essa informação, mas que vive
na esperança de surpreender seu irmão algum dia.” “O que faz ele aí?” “Está muito feliz, possui terras
de sua propriedade, que cultiva, e emprega muita gente. Se houvesse encontrado os meios de se livrar
deles, vendendo-os, já teria retornado à França, mas ali não se acha com facilidade quem os compre
como aqui acontece; ele não sabe quando será capaz de fazer isso.” “Pede-lhe que escreva para seu
irmão.” “Não há como. Crês que seja fácil; ele está longe do mar e se mostra ansioso por surpreender o
irmão, retornando como homem rico e feliz. Ele não é egoísta, possui bom coração, mas tem ambição na
vida, sempre o teve. O único sonho de sua vida era terminar seus dias como homem rico, e alcançou o
auge de seus desejos.” “Ele é casado?” “Sim; mas não tem filhos. Da próxima vez, pedir-lhe-ei que me
deixe ver o interior em que vive e também sua casa e sua esposa.” Adèle está cansada e deseja ser
despertada. M. Mirande pede algumas informações adicionais sobre o uniforme do irmão. Adèle repete
o que já dissera, acrescentando que ela acredita ter visto algum tipo de laço — o que chamamos de
brandebourg38 — no peito, e também que carregava paramentos brancos no casaco. M. Mirande
reconheceu que todos os detalhes de seu físico eram muito precisos, bem como aqueles referentes a sua
disposição, e a ambição de seu irmão por fortuna, sua natureza bondosa,

37
Vol. II, pp. 60-63.
38
O que em português costuma chamar-se “galão” ou “alamar”. (N. T.)

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vivacidade, seu afeto etc., eram todos muito verdadeiros. Ele não consegue lembrar-se claramente dos
detalhes do uniforme; no entanto, mostra-se satisfeito por a descrição estar substancialmente correta. O
irmão deste cavalheiro servira na guarda departamental antes da campanha russa. M. Mirande acredita
que este era o uniforme da guarda, exceto que nunca ouviu dizer que ele era praça. Mostra-se muito
surpreso pelo irmão, que, devendo ter 56 anos, parece ter apenas trinta. Adèle adverte-o que o vê no
momento de sua saída da França. “À época ele tinha somente 21 anos aproximadamente”, responde M.
Mirande. “Se o vês com cerca de trinta anos de idade, sem dúvida a fadiga por que passou deve tê-lo
envelhecido demasiadamente.” Responde Adèle: “Enquanto só o conhecias como um soldado de 21
anos de idade, ele aparece-me como oficial, e mais velho. Vários anos podem ter se passado entre
aquele tempo e o tempo em que o vejo, isto é bastante aceitável. Se eu o visse com 21 anos, dir-se-ia
que vejo a imagem de tua mente. Se, pelo contrário, visse-o em sua idade atual de 56, seu irmão não o
reconheceria, fato que M. Mirande bem compreende. Ele de maneira alguma duvida que é seu irmão
quem apareceu. Sequer consegue recompor-se do espanto.”

Infelizmente, não temos nenhuma corroboração da veracidade das afirmações feitas acerca
daquelas duas pessoas. Um terceiro volume do Arcanes foi publicado alguns anos depois,
ganhando uma segunda edição em 1860, e talvez seja justo supor que, se houvesse notícia de que
qualquer das pessoas desaparecidas ainda estivesse viva e houvesse vivenciado as experiências
descritas por Adèle, Cahagnet não teria perdido a oportunidade de tornar público a seus leitores
testemunho tão marcante. Segue-se, então, que nessas duas sessões espíritas, tudo o que podemos
dizer é que Adèle foi capaz de adivinhar com — admitamos — singular precisão as ideias
presentes nas mentes de seus interlocutores. Foi um marcante exemplo de telepatia; mas não
temos nenhum tipo de prova de que se tratasse de algo mais, e, a julgar pela evidência interna,
parece muito improvável que efetivamente fosse algo mais. Haja vista nossa total ignorância
acerca de todas as condições e limitações, talvez seja justo dizer que a suposição de que os
espíritos dos mortos estejam prontos para atender, a qualquer momento, o chamado dos vivos
não constitua, de per si, um obstáculo adicional à aceitação dos relatos das sessões em geral de
Adèle como prova do contato com espíritos. Mas a questão é outra quando temos que lidar, como
nos dois casos ora em tela, com os espíritos dos homens que ainda vivem. Como Adèle
conseguiu descobrir o paradeiro dessas duas pessoas? E mais: de que artifícios lançou mão para
que eles lhe falassem, especialmente em um momento tal que um deles encontrava-se não só
plenamente acordado, mas também empenhado em ganhar a vida em pleno trabalho manual? E
estaria o poder de Adèle, de se comunicar com os espíritos dos vivos, restrito àqueles que
partiam rumo a plagas distantes para fugir dos parentes? Se Adèle, ou qualquer outro clarividente
de Cahagnet, realmente possuía o poder de conversar com os vivos à

70
distância, não vejo como duvidar de que Cahagnet, no decurso de seus muitos anos acumulando
tais experimentos, teria sido capaz de apresentar-nos alguma prova de que tal poder não era
meramente hipotético. Nada seria tão fácil de provar. Postulo que o fato de que jamais foi
apresentada tal comprovação é forte suspeita de que Adèle não possuía esse poder e de que as
conversas aqui detalhadas eram puramente imaginárias, sendo os detalhes — autênticos ou
plausíveis que continham — furtados telepaticamente das mentes que ali se encontravam. A
curiosa semelhança dos dois relatos também indica este caminho. Ambos os homens professam
ter escrito a seus familiares, mas perderam-se suas cartas. Nenhum deles pode escrever no
momento, pois ambos estão longe do mar, no interior. Ambos sofreram muito; ambos foram
presos; ambos protestam que seus parentes voltarão a vê-los antes de morrer; nenhum deles,
contudo, mostra a mínima pressa em voltar; e nenhum deles está disposto a descobrir o nome de
seu atual local de residência.
Supor, como fê-lo o registrante, que tais narrativas são autênticas revelações obtidas em
conversas reais com os espíritos de homens que vivem em localidades cujo nome é desconhecido
e — como Cahagnet explica detalhadamente — que provavelmente sequer têm nome,
localizadas no interior do México ou da Rússia asiática, é forçar a ingenuidade do leitor ao ponto
do escárnio. Mas se essas duas narrativas não são o que parecem ser, o que poderíamos dizer das
outras narrativas do livro, expressas na mesma forma dramática, contendo detalhes semelhantes,
que se harmonizam com as expectativas e memórias dos interlocutores? Se não são autênticas
mensagens dos vivos em terras remotas, exigimos alguma garantia para a suposição de que
tratar-se-iam de autênticas mensagens provenientes dos espíritos dos mortos. Consideradas em
conjunto com as visões quase certamente subjetivas do céu e de companheiros mortos que
caracterizavam os transes anteriores, estas sessões posteriores certamente apontam para uma
origem exclusivamente mundana.
Porém, no final das contas, inquirir com demasiada curiosidade acerca de como as
informações fornecidas por Adèle chegavam a sua obscura consciência — se por via das mentes
dos mortos ou dos vivos — mostra-se pouco ou nada pertinente ao nosso presente propósito.
Basta, aqui, salientar que todas as testemunhas citadas por Cahagnet parecem ter se mostrado
satisfeitas com a hipótese de que nada menos que uma transferência de pensamentos explicaria
as revelações, e que qualquer leitor sincero agora deve achar difícil resistir à mesma convicção.
Voltemos agora à análise das elocuções de transe da Sra. Piper. O primeiro item a ser
levantado é que a abundância do material, o detalhamento dos registros, a vigilante supervisão
exercida sobre a própria médium no decorrer dos anos e o extraordinário e quase uniformemente
elevado nível de sucesso tornam esses registros muito mais notáveis que qualquer relato anterior
desse tipo. Α plenitude e exatidão dos registros praticamente justificam nossa total
desconsideração de certas fontes de erro que viciam em grande

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extensão qualquer conclusão que pudesse estar baseada até mesmo nos conjuntos de documentos
que já citei, e que tornam quase inúteis a abundante quantidade de narrativas semelhantes
presentes nos escritos do século passado. De qualquer maneira, é de clareza razoável que o
sucesso da Sra. Piper não possa ser plausivelmente atribuído à reprodução inconsciente de
conhecimentos normalmente adquiridos; nem à hábil manipulação de informações extraídas dos
próprios consulentes naqueles momentos; nem à deturpação e ao exagero quanto ao que
realmente foi dito nas sessões; nem — se é que podemos confiar na honestidade do Dr. Hodgson
— à escolha das sessões classificadas como “boas”, nem à supressão daquelas consideradas
falhas. Com efeito, pode-se supor com alguma razoabilidade que a tentativa de obter
informações, como o Dr. Leaf apontara nove anos antes, tenha em certa medida se operado nas
sessões realizadas até então neste país; mas é manifestamente insuficiente para explicar até
mesmo minúscula fração dos registros posteriores. Nossa escolha agora parece claramente
definida entre a fraude deliberada e sistemática, por um lado, e as faculdades supranormais, por
outro.
Agora, em matéria de fraude, naturalmente que inexiste uma improbabilidade a priori
envolvida em tal suposição. A posição da Sociedade em tais investigações sempre foi a de que
enquanto não se deve necessariamente imputar desonestidade ao médium, todas as precauções
possíveis devem ser tomadas contra ela; e que nenhum experimento deve ser considerado
conclusivo enquanto existirem condições capazes de permitir que a honestidade ou a
desonestidade do médium tenham o poder de influenciar o resultado desse mesmo experimento.
O simples fato de a Sra. Piper haver sido paga — ao equivalente, na data desta publicação, a 10
dólares por sessão — não afetou sobremaneira as precauções tomadas. O motivo para a
desonestidade em tais questões, como já sabemos por extensa experiência, não é necessariamente
a antecipação de recompensa pecuniária. As precauções tomadas no caso da Sra. Piper não foram
elevadas porque a Sra. Piper foi paga, nem deveriam ser relaxadas se prestasse seus serviços
gratuitamente. Não obstante, o fato de a Sra. Piper haver recebido pagamento no montante de
cerca de £ 200 anuais por cerca de cinco anos tem sua importância, pois o tipo de fraude aqui
suposto — emprego de agentes de investigação privada — envolveria necessariamente despesas
consideráveis.
Se voltarmos nossa atenção ao caso dos três outros médiuns citados, vemos que a intenção de
fraude era mais forte prima facie no caso de Alexis Didier, que recebia uma bela quantia por suas
performances, do que no de Stainton Moses, cuja recompensa certamente não era do tipo
substancial, e cuja carreira inteira seria difícil de conciliar com a hipótese de desonestidade.
Novamente, se considerarmos, no tempo presente, as provas internas oferecidas pelas
elocuções de transe, a presunção de fraude no caso de Alexis Didier, baseada no caráter
extremamente duvidoso de suas demonstrações de clarividência quando vistas de perto é, como

72
mostrado, esmagadoramente forte; e o fato de que as comunicações espíritas de Stainton Moses
estiveram associadas a fenômenos físicos de um tipo cuja produção já se conhecia por
fraudulenta devido a outros casos permitirá a alguns supor fraude igualmente nas elocuções de
transe também. Inexiste tal presunção nos casos de Adèle Maginot e da Sra. Piper.
Há, de fato, três argumentos preliminares contra a tese de desonestidade por parte da Sra.
Piper, ao qual se deve conceder certo peso: (1) A Sra. Piper gerou em quase todos os que com ela
entraram em contato — mesmo naqueles (cf., p. ex., Relatório, p. 524) predispostos a considerá-
la uma impostora — a impressão de transparente honestidade. (2) Por um consenso quase
universal de opiniões, seu transe é genuíno, e a combinação da condição de transe genuíno com
prévia intenção de fraude do tipo aqui suposto seria incomum, para não dizer completamente
sem precedentes. Decerto faríamos bem em acrescentar que, enquanto não possuímos nenhuma
prova sólida e independente acerca da natureza do transe de Stainton Moses, as descrições
fornecidas parecem indicar que, no caso de Alexis Didier, seu transe era genuíno, e as contorções
observadas tanto na entrada quanto na saída do estado de transe parecem não ter sido de todo
diferentes daquelas observadas na Sra. Piper. Aparentemente, não há motivo algum para duvidar
da genuinidade do estado sonambúlico do caso de Adèle. (3) Em todos esses anos — treze ou
mais — a Sra. Piper tem permanecido sob estrita observação, primeiro do Professor William
James e depois do Dr. Hodgson e de outros indivíduos competentes — embora ela tenha sido
também secretamente seguida por detetives, e seus itens pessoais, como nos disse o Professor
Lodge, tendo sido revistados, suas correspondências lidas e suas idas e vindas mantidas sob
estrita observação —, durante todos estes anos sequer a menor indicação com o poder de afetar
sua honestidade veio à luz. Certamente não há outro médium que tenha sido exposto a provação
tão rigorosa. Quanta importância deve ser dada a considerações gerais deste tipo é difícil dizer,
mas haja vista especialmente o fato de que as pesquisas do próprio Dr. Hodgson e de
investigadores muitos menos competentes conseguiram trazer à luz acusações de desonestidade
abarcando tantos médiuns profissionais, o fato de esta médium ter passado pelas investigações
mais profundas e extensas sem sequer um único boato acerca da exposição ou descoberta de uma
única circunstância suspeita é fato merecedor de certa importância.
Consideremos agora o quanto será possível explicar a respeito de suas várias elocuções de
transe sem recorrermos a supostas fontes supranormais de informação. No tocante a Stainton
Moses, o caso parece-me bastante claro. Praticamente todas as informações que seus “espíritos”
forneceram eram nomes, datas e outros fatos concretos que poderiam ser obtidos de periódicos
de circulação diária, biografias publicadas e

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conversas com amigos. De fato, não haveria dificuldade alguma em explicar o conjunto dessas
comunicações, com duas exceções, dada a hipótese de haverem meramente reproduzido fatos já
presentes em sua memória subconsciente. As duas exceções — o registro das comunicações
provindas dos espíritos do Presidente Garfield e de “Blanche Abercromby” em um momento em
que suas mortes mal poderiam ter sido conhecidas por meios normais — parecem excluir essa
explicação simplista, forçando-nos a escolher, ao menos nestes dois casos, entre a faculdade
supranormal e a fraude deliberada. Na completa ausência de provas corroborativas, nada nos
indica que devêssemos optar pela primeira explicação.
O problema apresentado por Alexis Didier é mais difícil. É verdade que o tipo de informações
fornecidas — a descrição de locais, o exterior e interior de casas e, ocasionalmente, as ocupações
recentes dos consulentes — não se encontram além da competência de um inteligente agente
investigativo; e as circunstâncias eram indubitavelmente favoráveis. Quase sempre havia uma
multidão de pessoas presentes nas sessões; sem dúvida ele e Marcillet poderiam construir,
antecipadamente, suposições bastante astutas a respeito de alguns dentre aqueles consulentes; e
provavelmente Alexis punha-se livre para escolher, em cada sessão, dentre os trinta ou quarenta
esperançosos por contato, os dois ou três sobre quem teria mais a dizer. Porém, seu sucesso
frequente e conspícuo torna esta explicação extremamente difícil. Se a fraude é realmente a
explicação para a clarividência à distância de Alexis, creio que devamos considerá-la como o
marco definitivo da conquista nesta linha de trabalho.
Em relação à Adèle Maginot, damos um passo além. Já não nos preocupamos meramente com
nomes e datas; nem apenas com descrições de casas e parques; nem a médium encontra-se livre,
dentro de amplas limitações, para escolher que informações dará, nem a quem. Adèle, como já
vimos, possuía apenas um ou dois assistentes por vez; e teve ainda que submeter-se às provas a si
prescritas. E os detalhes fornecidos como resposta aos pedidos de seus consulentes — descrições
pormenorizadas da aparência pessoal, as doenças, a personalidade, e assim por diante, de pessoas
muitas vezes falecidas já há muitos anos, inclusive às vezes de pessoas desconhecidas até mesmo
dos próprios consulentes — eram de tal natureza que nenhum agente investigativo conseguiria
tê-las descoberto, supõe-se, sem grave risco de detecção; mesmo as sessões marcadas
antecipadamente, e todas as demais circunstâncias favoráveis à realização de tais investigações.
Em geral, não obstante as várias falhas do registro já enumeradas, creio ser quase impossível
duvidar de que o êxito de Adèle devia-se a algum tipo de faculdade supranormal.
Mas voltando à Sra. Piper, notamos que as condições do experimento são, em seu caso,
incomparavelmente mais rigorosos que o de qualquer outro clarividente. Não lhe era permitido
proporcionar informações de próprio

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arbítrio; tampouco podia, mesmo dentro dos limites mais restritos, escolher seus consulentes; e
— se admitirmos que as precauções tomadas foram eficazes para esse fim — ela sequer sabia
seus nomes. Por óbvio que, praticamente, a prova de seus poderes supranormais depende, em sua
maior parte, da eficácia das precauções em garantir o anonimato dos consulentes nas primeiras
sessões — e não proponho aqui a consideração de nenhuma outra. Quanto a que precauções
foram essas, isto está descrito em termos gerais no Relatório. Os preparativos para as sessões
foram feitos por carta ou verbalmente junto ao Dr. Hodgson; a correspondência e o diário de
compromissos foram mantidos em uma mesa trancada no escritório do Dr. Hodgson. As sessões
eram marcadas às vezes a cada duas semanas, às vezes apenas com dois ou três dias de
antecedência; as datas eram por vezes alteradas; houve certo caso, por exemplo, (p. 527, Dr. P.
H. K., Illinois), em que uma sessão foi marcada com apenas dois ou três dias de antecedência,
vindo o consulente de um estado distante e sendo desconhecido até mesmo do Dr. Hodgson.
Além disso, uma série de sessões foi realizada em Cambridge (E.U.A.), sob a direção do
Professor James; outra em Nova Iorque, sob a do Dr. Thaw; e precauções semelhantes foram
tomadas para impedir que os nomes dos assistentes fossem revelados naquele país; em
Liverpool, pelo Professor Lodge; em Cambridge (Inglaterra), pelo Sr. Myers; em Londres, pelo
Dr. Leaf. Que em uma ou outra dessas ocasiões tais precauções tomadas tenham se mostrado
insuficientes; que cartas possam haver sido deixadas à vista; escrivaninhas deixadas abertas;
chaves falsas aproveitáveis — enfim, que algum descuido ou acaso maligno possa ter dado
espaço à fraude é, por óbvio, concebível. Mas seria muito difícil supor que tal espaço tenha sido
sempre deixado em aberto, ou que tal acaso maligno tenha favorecido a Sra. Piper por nove anos
de forma tão pontual que as sessões descritas como fracassadas não cheguem a 10%. Essa
posição, nesse sentido, poderia facilmente ser reforçada; na Inglaterra, por exemplo, houve
vários consulentes que obtiveram êxito nas sessões que apareceram conforme a oportunidade,
sendo apresentados sem o menor aviso prévio. E é no mínimo interessante comentar que
justamente a série de sessões onde teria sido menos difícil antecipar os nomes dos prováveis
consulentes e prever seu advento — os conhecidos professores de Harvard, que vieram quando a
Sra. Piper estava sob a direção dos Professor James — foi uma dentre as de menor êxito aqui
registradas.
Mas dispensemos a dificuldade inicial e suponhamos que Sra. Piper, por habilidade própria,
por estultícia dos investigadores ou por algum incrível acaso, houvesse se mantido informada,
por todos estes anos, acerca dos nomes dos consulentes e de suas datas de vinda. Neste caso, ela
se encontraria na mesma posição que Adèle Maginot. Porém, se acharmos difícil acreditar que a
informação dada por Adèle pudesse ter sido adquirida por meios normais, o que diremos das
muito mais detalhadas revelações íntimas da Sra. Piper? Há duas maneiras

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em que detalhes do tipo fornecido poderiam, concebivelmente, ser obtidas: ou de outros médiuns
ou, diretamente, mediante investigações realizadas com este expresso propósito. Vale indicar que
indubitavelmente permite-se a camaradagem entre médiuns profissionais, o que leva a um
contínuo intercâmbio de informações úteis sobre as pessoas que têm o hábito de recorrer a
clarividentes. Há provas da existência de um sistema dessa natureza. E o caso é que vários dos
consulentes mencionados no Relatório do Dr. Hodgson já haviam anteriormente visitado outros
médiuns profissionais. Pelo que podemos julgar, porém, isso se aplica somente a uma pequena
parte dos consulentes; e, de qualquer forma, isso não forneceria uma explicação completa acerca
da questão. A superioridade inquestionável da Sra. Piper em relação a todos os outros médiuns
profissionais é, por si mesma, prova suficiente de que ela não dependia exclusivamente de fontes
ordinárias de informação. Somos conduzidos, então, em última análise, à suposição de que a Sra.
Piper possui, em seu emprego, um ou mais agentes de investigação ou detetives particulares.
Suponha-se, então, que o agente da Sra. Piper, armado de nome e endereço em algum estado
distante, ponha-se a continuar a busca de informações sobre um determinado consulente. Ele não
encontraria nenhuma dificuldade em apurar fatos externos de grande exposição, como a
localidade da casa, a natureza do negócio, a posição social etc. Os jornais locais, os registros
públicos, o lote da família no cemitério, os boatos dos comerciantes locais, tudo isso lhe
forneceria detalhes adicionais. Digamos que, sob o disfarce de um vendedor ambulante, do tipo
que vai de porta em porta, ele conseguisse obter acesso à casa dos consulentes, tornando-se,
portanto, competente para fornecer descrições precisas de salas de estar e quartos dos criados. A
conversa com uma aia simpática capacitar-lhe-ia conhecer detalhes mais pessoais — nomes,
idades, aparência, disposição etc. das crianças, de parentes próximos ou de amigos íntimos da
família, além de acidentes, doenças ou mortes recentes entre eles. Pelo processo mais perigoso
de subornar criados para ler cartas e abrir escrivaninhas, e assim por diante, ele poderia, em
alguns casos, sem dúvida obter detalhes mais íntimos acerca de problemas familiares, amigos
distantes, parentes mortos há anos. Porém, claro está que quanto mais lança mão de tais métodos
em suas investigações – supondo-se que o tempo o permita — tanto maior seria o risco (que, na
média de tantos casos, equivaleria a uma certeza) de, por fim, ser descoberto. Além disso, tal
procedimento seria caro, e seus resultados, muito incertos.
Voltemo-nos agora ao conteúdo das mensagens. O primeiro ponto de saliência é que a Sra.
Piper é fraca precisamente onde Stainton Moses era forte — em nomes e datas. Datas parecem
ser fornecidas muito raramente. Nomes, é claro, aparecem com frequência; mas, via de regra, dá-
se antes o primeiro nome; e nome e sobrenome emergem frequentemente de modo fragmentado,
e obviamente a um esforço considerável. Essa hesitante exposição de informações importantes
foi naturalmente considerada nas primeiras sessões como circunstância suspeita, indicativa de
“pesca”;

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e, verdade seja dita, imagino que a má reputação de Phinuit assenta-se principalmente sobre esta
característica. Mas até onde se baseia esta circunstância, tal reputação aparentemente é
desmerecida. Pois essa mesma emergência hesitante e fragmentada de nomes próprios aparece
nas sessões mais detalhadamente relatadas com a razoável certeza de que nenhuma dica foi
fornecida, e mesmo naquelas sessões onde a comunicação foi feita inteiramente por escrito. De
modo que agora se pode instar razoavelmente que o uso econômico de datas e a dificuldade em
se obter nomes próprios são argumentos contra a fraude — contra o único tipo de fraude, frise-
se, que se pode razoavelmente presumir que haja tomado lugar.
De fato, existem vários casos mencionados no relatório anterior do Dr. Hodgson (Vol. VIII.,
pp. 37-42, p. 104 etc.) em que as informações oferecidas durante a inteligência de transe (sem
qualquer referência, ou apenas uma referência indireta, ao consulente) foram tais que poderia
facilmente haver advindo de jornais, inscrições em lápides etc. É o caso de Porter Brewster,
William N—, Gracie X— e do Rev. Robert West. Aqui é interessante notar que, nesses casos,
não foram fornecidas datas exatas; a data aproximada fornecida em um caso tem um erro de
quatro anos; nomes e outros detalhes do primeiro caso encontram-se irremediavelmente
desordenados e incorretos; enquanto no segundo caso, o “espírito” só consegue indicar o local de
sua morte como “alguma cidade ocidental”. O comentário óbvio é que os “espíritos-guias” de
Stainton Moses eram muito melhores nesse tipo de atividade.
Novamente, em marcante contraste, não apenas a Alexis Didier, mas à grande maioria dos
clarividentes, a Sra. Piper, em comparação, raramente fornece descrições de localidades
distantes, casas, quartos e assim por diante; e seu sucesso nessas áreas, quando tentativa houve,
parece não ter sido conspícuo.
É pouco necessário salientar que as elocuções de transe da Sra. Piper incluem: descrições
pessoais detalhadas de pessoas falecidas, suas doenças e causa mortis, suas características morais
e intelectuais; representações dramáticas e realistas de tais pessoas, seu modo de falar, sua
atitude e relação com outros ainda vivos, referências a posses pessoais de grande estima,
conversas sobre diversos assuntos íntimos e privados; revitalização de estórias de família já
esquecidas; e assim por diante.
E em meio a esse enorme amontoado de informações despejadas por alguém que — na
suposição de fraude — as vê como nada mais que detalhes indiferentes aprendidos de cor, não
encontramos nenhum indício de contradição. Suas dramáticas imitações são quase
uniformemente consistentes; as relações complexas e atitudes variadas são mantidas distintas.
Com efeito, existem, sim, irrelevâncias e incoerências, mas estas não possuem o condão de
sugerir confusão entre histórias diferentes de família, nem a ligação de informações à pessoa
errada — tampouco qualquer dos inúmeros erros de

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omissão e comissão em que um impostor, inevitável supor-se, deveria necessariamente incorrer.
Na hipótese, quase inconcebível, de que Sra. Piper tenha obtido todas essas informações de
forma fraudulenta, não podemos evitar o espanto frente a sua contenção artística no uso dos
nomes próprios; sua reticência magistral no tocante a datas e descrições de casas e demais
questões concretas, representantes da mercadoria por excelência do clarividente comum; a
habilidade consumada que lhe permitiu caracterizar centenas de personagens diferentes, sem
jamais confundir um único desses papéis, a utilizar as muitas levas de informações tão
laboriosamente adquiridas sem nunca trair o segredo de sua origem. Em suma, se as elocuções de
transe da Sra. Piper forem inteiramente baseadas no conhecimento adquirido por meios normais,
deve-se admitir que esta senhora inaugurou um novo marco referencial na arte da fraude. Nada
que se aproxime disso foi feito antes. Partindo-se do princípio de que todos os ditos clarividentes
são fraudes, já testemunhamos o máximo a ser alcançado pela fraude no passado, e mesmo na
visão mais generosa, este máximo sequer chega perto das conquistas da Sra. Piper. Neste ponto,
isso, em si mesmo, requer uma explicação. Algo sabemos acerca das condições e dos limites da
fraude, e se todos os clarividentes não passam de malandros, necessário explicar por que a Sra.
Piper é tão incomparavelmente superior a todos os seus colegas de profissão. Quaisquer que
sejam as diferenças nas condições e oportunidades, note-se que são diferenças que devem ter
operado em desfavor da Sra. Piper. Na suposição de fraude, o enorme oceano entre ela e eles é
um obstáculo quase intransponível. Por outro lado, caso admita-se que a Sra. Piper tem poderes
supranormais genuínos, tal reconhecimento de modo algum obstaculiza a admissão em favor de
poderes semelhantes, em grau muito inferior, em outros reputados videntes. Pois malgrado
conheçamos algo da fraude, nada sabemos acerca dos limites nem das condições em que tais
faculdades supranormais precisam para operar.

Referência original: Podmore, Frank. Discussion of the trance-phenomena of Mrs. Piper.


Proceedings of the Society for Psychical Research 14 (1898-9), 14, pp. 50-78.

Traduzido por Haggen Kennedy e revisado por Vitor Moura Visoni


em 16 de novembro de 2015.

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