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ALIMENTADOR MODELO ROSO PARA ABELHAS NATIVAS SEM FERRÃO

Desenvolvido por Vanerlei Mozaquatro Roso (Zootecnista e Meliponicultor)

Artigo publicado na Revista Mensagem Doce Nº 147 da APACAME, Julho de 2018.

INTRODUÇÃO
A alimentação complementar das abelhas sem ferrão, especialmente nos períodos de
entressafra, é uma prática cada vez mais comum entre os meliponicultores. A receita mais
conhecida consiste numa mistura (xarope) de água e açúcar na proporção de 1:1 (1 litro de
água para 1 kg de açúcar), podendo ser acrescido algum produto que contenha aminoácidos,
sais minerais e vitaminas. O alimento pode ser fornecido às abelhas de diversas formas.

A forma mais difundida entre os meliponicultores consiste em copinhos com alguns palitos de
madeira ou lâminas de cera (ou cerume) colocados no interior da colmeia. A necessidade de se
abrir cada colmeia para fornecer o alimento e monitorar o consumo resulta num aumento
significativo da mão-de-obra, especialmente nos meliponários com grande número de
colmeias.

Em determinadas situações o alimento pode ser fornecido às abelhas por meio de


alimentadores coletivos, que são muito práticos e requerem pouca mão-de-obra. O grande
inconveniente desse tipo de alimentador, entretanto, é que não se tem um controle efetivo
sobre as espécies de abelhas que terão acesso ao alimento. Em alguns meliponários é comum
os alimentadores coletivos serem tomados por abelhas com ferrão (Apis mellifera) poucos
minutos após o fornecimento do alimento, colocando em risco a segurança das pessoas e dos
animais.

Existem ainda os alimentadores semi-internos, com destaque para o alimentador Pernambuco,


usado com sucesso na alimentação da abelha jandaíra, especialmente na região Nordeste.
Nesse tipo de alimentador o abastecimento é externo, mas o acesso ao alimento ocorre na

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parte interna da colmeia. O alimentador tipo Pernambuco apresenta algumas dificuldades de
uso em espécies de abelhas mais propensas à deposição de geoprópolis no interior da colmeia,
como é o caso da mandaçaia. Trabalhando com a abelha mandaçaia anthidioides (Melipona
quadrifasciata anthidioides), Sampaio e colaboradores (2013) relataram que essas abelhas
depositavam geoprópolis no local de acesso ao alimento e que eram dispendidos
aproximadamente 10 min por alimentador para deixá-lo em condições de ser usado
novamente.(file:///C:/Meliponicultura/Alimentacao/Avaliação%20de%20alimentadores%20pa
ra%20abelha%20mandaçaia%20(Melipona%20quadrifasciata%20anthidioides).pdf).

Diante das limitações e dificuldades práticas observadas com os diversos tipos de


alimentadores disponíveis para as abelhas sem ferrão, fui levado a pensar e desenvolver uma
alternativa que reunisse o maior número características desejáveis sob o ponto de vista das
abelhas e do meliponicultor. Foi assim que surgiu o ALIMENTADOR MODELO ROSO. Esta
denominação foi sugerida pelo professor e meliponicultor Marco Aurélio Silveira Torres,
profundo conhecedor e divulgador desta atividade apaixonante que é a meliponicultura.

DESCRIÇÃO DO ALIMENTADOR MODELO ROSO


As principais características do alimentador modelo ROSO são sua simplicidade, praticidade e
funcionalidade. O alimentador é composto por apenas duas peças: uma base de madeira e
uma garrafa de plástico (ou vidro) transparente. A base de madeira possui dois furos, um para
acesso das abelhas à colmeia e outro para acoplar a garrafa que contém o alimento liquido. A
tampa da garrafa possui um furo de dois mm de diâmetro. A base de madeira é instalada na
entrada da colmeia formando o túnel de entrada. É por meio deste túnel que as abelhas
alcançam o alimento.

30 mm

12 mm

Figura 1. Detalhes do alimentador modelo ROSO, composto por uma base de madeira, uma
garrafa de plástico transparente e dois parafusos para fixação na colmeia. A base de madeira
possui dois furos, um para acesso das abelhas à colmeia (túnel de entrada) e outro para
acoplar a garrafa que contém o alimento liquido. A tampa da garrafa possui um furo de 2 mm
de diâmetro.

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Figura 2. Alimentador modelo ROSO para abelhas nativas sem ferrão. A garrafa é acoplada “de
cabeça para baixo” na base do alimentador. As abelhas alcançam o alimento liquido, que está
na garrafa, por meio do túnel de entrada. O vácuo formado dentro da garrafa não permite que
o alimento liquido escorra.

Figura 3. Detalhe da fixação do alimentador modelo ROSO em colmeia de abelha guaraipo


(Melipona bicolor schenky). As abelhas passam por dentro do alimentador, pelo túnel de
entrada, para ingressar na colmeia.

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CARACTERÍSTICAS DESEJÁVEIS DO ALIMENTADOR MODELO ROSO
Apesar de sua simplicidade, o alimentador modelo ROSO possui uma série de características
desejáveis, compatíveis com as boas práticas da meliponicultura moderna, dentre elas:

1. Praticidade: para alimentar as abelhas basta substituir as garrafas vazias por garrafas
cheias, sem a necessidade de abrir as colmeias. Em poucos minutos pode-se fornecer
alimento para um grande número de colmeias.
2. Funcionalidade: as abelhas alcançam o alimento de maneira muito fácil, por meio do túnel
de entrada. Em pouco tempo o conteúdo da garrafa é transferido para os potes
localizados no interior da colmeia.
3. Ausência de propolização: não se perde tempo removendo geoprópolis do alimentador,
pois não ocorre fechamento após o consumo do alimento. Isto acontece porque o acesso
ao alimento se dá no túnel de entrada, local de trânsito das abelhas. As abelhas não
depositam geoprópolis nesse local.
4. Não expõe as abelhas às condições de clima adverso, já que não há necessidade de abrir a
colmeia. Isto é especialmente importante para a região sul do Brasil, onde o inverno
apresenta ventos frios e temperaturas muito baixas.
5. Não ocorre pilhagem: o túnel de entrada, por onde as abelhas alcançam o alimento, é
uma região protegida pelas abelhas guardiãs. Em condições normais elas não permitem a
entrada de intrusos interessados em “roubar” o alimento.
6. Controle do consumo: a garrafa transparente, que compõe o alimentador, possibilita o
controle da quantidade de alimento consumido por cada colmeia.
7. Facilidade na confecção: qualquer pessoa com conhecimentos mínimos de marcenaria
terá condições de fabricar o alimentador. As ferramentas necessárias são apenas um
serrote, uma furadeira comum e algumas brocas. Maior rendimento poderá ser obtido na
fabricação do alimentador, entretanto, se uma serra e uma furadeira de bancada forem
empregadas para confeccionar a base do alimentador.
8. Baixo custo: o material utilizado na confecção do alimentador consiste numa base de
madeira, uma garrafa de plástico e dois parafusos (ou dois pregos) para fixação do
alimentador na caixa. O custo estimado para fabricação de um alimentador com uma base
de eucalipto de 4 x 6 x 12 cm, uma garrafa tipo coquinha de 100 ml, adquirida no ML, e
dois parafusos para fixação é de aproximadamente R$ 1,50 na data de hoje (13-03-2018).
9. Ecologicamente correto: o alimentador pode ser fabricado com sobras (tacos) de madeira
e garrafinhas recicláveis de refrigerante, contribuindo para com o meio ambiente.
10. Versatilidade: com o simples aumento do furo da garrafa e a introdução de um refil, o
alimentador pode ser usado para fornecer alimento proteico, na forma de uma pasta ou
na forma sólida. O alimentador permite outras possibilidades como, por exemplo, o
fornecimento de água para aumentar a umidificação em colmeias de abelhas que
necessitam de mais umidade para um bom desempenho (Marco Aurélio Silveira Torres,
informação pessoal).
11. O fornecimento de alimento não atrapalha o fluxo das abelhas.

UTILIZAÇÃO DO ALIMENTADOR MODELO ROSO


O alimentador modelo ROSO foi desenvolvido em maio de 2017 e vem sendo usado desde
então com muito êxito para fornecer alimentação suplementar no Meliponário Roso,

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localizado em Porto Alegre-RS, onde são mantidas cerca de 100 colônias de abelhas nativas
sem ferrão das espécies mandaçaia (Melipona quadrifasciata quadrifasciata), guaraipo
(Melipona bicolor schenky), bugia (Melipona rufiventris mondury), jataí (Tetragonisca
angustula), mirim droriana (Plebeia droryana) e mirim guaçu (Plebeia remota). A expectativa é
que este modelo de alimentador possa ser utilizado com sucesso na maioria das espécies de
abelhas nativas sem ferrão.

Figura 4. Colmeias de abelha mandaçaia (Melipona quadrifasciata quadrifasciata) sendo


suplementadas com alimento liquido por meio do alimentador modelo ROSO.

Figura 5. Colmeias de abelha guaraipo (Melipona bicolor schenky) sendo suplementadas com
alimento liquido por meio do alimentador modelo ROSO.

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Figura 6. Colmeia de abelha jatai (Tetragonisca angustula) sendo suplementada com alimento
liquido por meio do alimentador modelo ROSO.

Figura 7. Garrafas cheias de alimento liquido, prontas para serem oferecidas às abelhas por
meio do alimentador modelo ROSO.

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FAÇA VOCÊ MESMO, É MUITO FÁCIL.
O alimentador modelo ROSO pode ser confeccionado de maneira muito fácil e rápida.

1. Corte uma peça de madeira de 4 x 6 x 12 cm para formar a base do alimentador. Essas


medidas podem ser alteradas conforme a disponibilidade de madeira na propriedade.
Sobras (tacos) de madeira utilizada na construção das caixas podem ser usadas.
2. Faça o furo (túnel) de entrada no meio da peça de madeira, no lado que contem 4 cm.
O diâmetro da broca utilizada deve ser compatível com a espécie de abelha a ser
alimentada. Para as abelhas mandaçaia, guaraipo e bugia, por exemplo, pode ser
usada uma broca com 12 mm de diâmetro.
3. Faça o furo onde será acoplada a garrafa, no meio da peça, no lado que contem 6 cm.
Para isto pode-se usar uma broca tipo Forstner ou uma broca chata com 30 mm de
diâmetro. Tenha cuidado para que este furo chegue até o túnel de entrada, pois é
através dele que as abelhas alcançarão o alimento.
4. Faça dois furos para os parafusos (ou pregos) de fixarão do alimentador na colmeia.
5. Providencie uma garrafa de plástico transparente e faça um furo de 2 mm no centro
da tampa. A tampa deve ter 28 mm de diâmetro para que encaixe perfeitamente no
furo de 30 mm da base do alimentador.

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Figura 8. Alimentador modelo ROSO confeccionado com sobras de madeira utilizada na
construção das caixas e garrafa pet de refrigerante.

FORNECIMENTO DE SUPLEMENTO PROTEICO


O alimentador modelo ROSO também pode ser utilizado para fornecer suplemento proteico às
abelhas. Basta fazer um furo de aproximadamente 12 mm na tampa da garrafa e introduzir um
refil com o suplemento, na forma de uma pasta ou na forma sólida. A pasta deve ser
suficientemente firme para não escorrer e bloquear o túnel de entrada. O refil pode ser
confeccionado a partir de um pedaço de conduíte corrugado. Ele deve ser fechado com uma
rolha na parte superior para que as abelhas não subam para o interior da garrafa após
consumir todo o alimento.

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Rolha

Figura 9. Detalhes do alimentador modelo ROSO para fornecimento de suplemento proteico às


abelhas. O suplemento proteico, na forma de uma pasta, é colocado dentro do refil.

Figura 10. Alimentador modelo ROSO montado para fornecimento de suplemento proteico às
abelhas. O refil contendo alimento é introduzido na garrafa. Da mesma forma que no
fornecimento de alimento liquido, as abelhas acessam o suplemento proteico por meio do
túnel de entrada.

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Figura 11. Colmeia de abelha guaraipo (Melipona bicolor schenky) recebendo suplemento
proteico por meio do alimentador modelo ROSO.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O alimentador modelo ROSO é uma ferramenta inovadora que conseguiu combinar de
maneira muito simples uma série de características desejáveis para um bom sistema de
suplementação das abelhas nativas sem ferrão. Sua praticidade e versatilidade o qualificam
como importante aliado dos meliponicultores no momento de alimentar as abelhas.

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