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CAPÍTULO III

Neste capítulo, Padre António Vieira continua os seus louvores aos peixes, particularizando-os.
O exemplo que apresenta baseia-se na história do Santo Peixe de Tobias, celebrado na Escritura:

1 - Relato do episódio bíblico referente a este peixe: quando Tobias lavava os pés no rio,
surge um peixe "com a boca aberta em ação de que o queria tragar”. O Anjo S. Rafael
recomenda-lhe que apanhe o peixe e lhe retire as entranhas, pois estas possuíam
propriedades regeneradoras:

a) o fel - para curar a cegueira (e assim Tobias curou a de seu pai);

b) o coração - para afastar os demónios (e assim Tobias os afastou de sua casa).

"Certo que se a este peixe o vestiram de burel e o ataram com uma corda, parecia o retrato
marítimo de Santo António." Esta comparação estabelecida entre o peixe e o Santo procura
enaltecer as pregações do Santo António, demonstrando que estas também tinham
propriedades benéficas, senão vejamos:

Peixe de Tobias Santo António

a) "... investe um grande Peixe com a boca a) "Abria Santo António a boca contra os hereges..."
aberta..."

b) "... o fel era bom para sarar da b) "...lhe vísseis as entranhas... havíeis de achar e
cegueira..." conhecer claramente nelas que só duas cousas
pretende de vós: uma é alumiar e curar as vossas
cegueiras…”

c)"... o coração para lançar fora os c) ) "... e outra lançar-vos os Demónios fora de
casa."
Demónios."

COMO REAGIRAM OS HOMENS FACE A ESTAS VIRTUDES?

"Pois a quem vos quer tirar a cegueira, a quem vos quer livrar dos Demónios, perseguis vós?! Só
uma diferença havia entre Santo António e aquele Peixe: que o Peixe abriu a boca contra quem
se lavava, e Santo António abria a boca sua contra os que se não queriam lavar."

O autor joga, aqui, com o significado do verbo lavar. Quando se refere a Tobias, o verbo assume
o seu sentido denotativo, mas quando se refere a Santo António e aos seus ouvintes, Vieira
atribui um sentido conotativo ao mesmo verbo de forma a ironizar o facto de os homens não
se quererem evangelizar, purificar através da sagrada palavra de Deus.

1
Seguidamente, o orador vai referir a rémora (peixe pequeno cuja cabeça funciona como
ventosa, o que lhe permite fixar-se a peixes maiores ou a embarcações). Este peixe
quando se agarra ao leme dos navios tem força para impedir que eles naveguem à sua
vontade, tornando-se ela mesma o guia do navio. Simboliza o poder que a palavra do
pregador tem como guia das almas.

Analogia com Santo António – a sua língua teve a força para dominar as paixões
humanas; foi freio do cavalo porque impediu muitas pessoas de caírem em desgraça,
travando o mal; também segurou os soberbos, os vingativos, os cobiçosos e os sensuais.
(Nau Soberba, Nau Vingança, Nau Cobiça e Nau Sensualidade).

O torpedo (peixe parecido com a raia, capaz de produzir pequenas descargas elétricas).
Este peixe simboliza o poder que a palavra de Deus tem de fazer tremer os pecadores
que pescam na terra tudo o que apanham.

Analogia com Santo António- com as suas palavras também fez tremer os homens (22
pescadores tremeram quando ouviram as palavras do santo e converteram-se).

O “quatro-olhos” é um peixe que anda à superfície das águas e tem a particularidade


de ter um par de olhos que lhe permite ver para baixo e proteger-se dos outros peixes
e outro par que lhe permite ver para cima e proteger-se das aves. Simboliza o dever que
os cristãos têm de afastar os olhos da vaidade terrena, olhando para o céu sem esquecer
o inferno. Vieira lamenta que existam peixes com tantos instrumentos de visão e tantos
homens que sofrem de cegueira metafórica.

2
Analogia com o pregador- este peixe ensinou o pregador a olhar para o céu (para cima)
e para o inferno (para baixo).

Este capítulo termina com um louvor generalizado aos peixes:

• Ajudam à abstinência na Quaresma (Jejum);


• Sustentam as Cartuxas, Os Buçacos (ordens religiosas) e suas santas famílias,
• Com os peixes festejou Cristo a Páscoa;
• Ajudam a ir para o céu;
• Multiplicam-se rapidamente (aqueles que são consumidos pelos pobres).

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