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Capítulo III

Neste capítulo apresentam-se as virtudes de alguns peixes em particular. O primeiro exemplo


referido é o do peixe de Tobias, cujo fel serviria para curar a cegueira, enquanto o coração
seria usado para expulsar os demónios. Tobias confirmou o poder curativo das entranhas do
peixe: seu pai, que era cego, recuperaria a visão, depois de, a conselho do anjo S. Rafael, lhe
ter sido aplicado um pouco de fel extraído do peixe; o coração, depois de queimado, expulsou
um demónio que já tinha matado sete maridos a Sara. Sara e Tobias casaram e o demónio
“nunca mais tornou”. Vieira retorna à figura do santo, referindo que as suas palavras tinham o
mesmo poder que as vísceras do peixe, uma vez que, se os homens lhe abrissem os seus
corações, António tirar-lhes-ia as cegueiras e livrá-los-ia dos demónios. Em seguida, Vieira
apresenta outro exemplo, o da rémora, um peixe que, quando se cola ao leme das naus da
Índia, consegue, apesar do seu diminuto tamanho, mudar-lhes o rumo. Também as palavras de
Santo António foram uma rémora na terra, porque conseguiram “domar a fúria das
paixões humanas”. Vieira continua o seu discurso alegórico, apresentando exemplos que
confirmam a afirmação anterior:
- a nau Soberba, com as velas inchadas de vento, não se desfez nos rochedos, porque
as palavras de António a salvaram;
-a nau Vingança, repleta de ira e de ódio, encontrou a paz através das palavras do santo;  a
nau Cobiça, sobrecarregada com uma “carga injusta”, foi salva das garras dos corsários pela
ação de Santo António;
-a nau Sensualidade, perdida na cerração e na noite, iludida pelos cantos das sereias,
encontrou a salvação, seguindo a luz das palavras do santo.
O exemplo seguinte é o do torpedo, peixe que produz descargas elétricas, que fazem tremer o
braço do pescador que o tenta capturar; a descarga elétrica simboliza a palavra de Deus, que
deveria abalar a consciência dos homens. O último exemplo que o pregador apresenta é o do
quatro-olhos, peixe que, nadando à superfície das águas, apresenta dois pares de olhos: um
par permite-lhe defender-se das aves, enquanto o outro o protege dos peixes predadores. O
capítulo encerra com novos louvores aos peixes, porque:
são eles que alimentam as Cartuxas e os Buçacos (ordens religiosas), “que professam a mais
rigorosa austeridade”;
são eles que ajudam os cristãos “a levar a penitência das quaresmas”;
são eles que foram escolhidos por Cristo para festejar “a sua Páscoa, as duas vezes que comeu
com os seus discípulos depois de ressuscitado”;
são os “companheiros do jejum e da abstinência dos justos”;
são o alimento que pode ser comido todos os dias da semana;
são “criaturas daquele elemento (a água), cuja fecundidade entre todos é própria do Espírito
Santo”.
Finalmente, Vieira enfatiza o facto de Deus ter abençoado os peixes para que eles crescessem
e se multiplicassem, podendo, assim, ser o alimento dos pobres. O exemplo mais claro deste
facto são as sardinhas que o Criador multiplica “em número tão inumerável”, porque são
“sustento dos pobres”, enquanto “Os Solhos, e os Salmões, são muito contados porque
servem à mesa dos Reis, e dos poderosos”.

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