Neste capítulo apresentam-se as virtudes de alguns peixes em particular. O primeiro exemplo
referido é o do peixe de Tobias, cujo fel serviria para curar a cegueira, enquanto o coração seria usado para expulsar os demónios. Tobias confirmou o poder curativo das entranhas do peixe: seu pai, que era cego, recuperaria a visão, depois de, a conselho do anjo S. Rafael, lhe ter sido aplicado um pouco de fel extraído do peixe; o coração, depois de queimado, expulsou um demónio que já tinha matado sete maridos a Sara. Sara e Tobias casaram e o demónio “nunca mais tornou”. Vieira retorna à figura do santo, referindo que as suas palavras tinham o mesmo poder que as vísceras do peixe, uma vez que, se os homens lhe abrissem os seus corações, António tirar-lhes-ia as cegueiras e livrá-los-ia dos demónios. Em seguida, Vieira apresenta outro exemplo, o da rémora, um peixe que, quando se cola ao leme das naus da Índia, consegue, apesar do seu diminuto tamanho, mudar-lhes o rumo. Também as palavras de Santo António foram uma rémora na terra, porque conseguiram “domar a fúria das paixões humanas”. Vieira continua o seu discurso alegórico, apresentando exemplos que confirmam a afirmação anterior: - a nau Soberba, com as velas inchadas de vento, não se desfez nos rochedos, porque as palavras de António a salvaram; -a nau Vingança, repleta de ira e de ódio, encontrou a paz através das palavras do santo; a nau Cobiça, sobrecarregada com uma “carga injusta”, foi salva das garras dos corsários pela ação de Santo António; -a nau Sensualidade, perdida na cerração e na noite, iludida pelos cantos das sereias, encontrou a salvação, seguindo a luz das palavras do santo. O exemplo seguinte é o do torpedo, peixe que produz descargas elétricas, que fazem tremer o braço do pescador que o tenta capturar; a descarga elétrica simboliza a palavra de Deus, que deveria abalar a consciência dos homens. O último exemplo que o pregador apresenta é o do quatro-olhos, peixe que, nadando à superfície das águas, apresenta dois pares de olhos: um par permite-lhe defender-se das aves, enquanto o outro o protege dos peixes predadores. O capítulo encerra com novos louvores aos peixes, porque: são eles que alimentam as Cartuxas e os Buçacos (ordens religiosas), “que professam a mais rigorosa austeridade”; são eles que ajudam os cristãos “a levar a penitência das quaresmas”; são eles que foram escolhidos por Cristo para festejar “a sua Páscoa, as duas vezes que comeu com os seus discípulos depois de ressuscitado”; são os “companheiros do jejum e da abstinência dos justos”; são o alimento que pode ser comido todos os dias da semana; são “criaturas daquele elemento (a água), cuja fecundidade entre todos é própria do Espírito Santo”. Finalmente, Vieira enfatiza o facto de Deus ter abençoado os peixes para que eles crescessem e se multiplicassem, podendo, assim, ser o alimento dos pobres. O exemplo mais claro deste facto são as sardinhas que o Criador multiplica “em número tão inumerável”, porque são “sustento dos pobres”, enquanto “Os Solhos, e os Salmões, são muito contados porque servem à mesa dos Reis, e dos poderosos”.