Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Carvalho Monteiro,
ajudado pelo arquitecto italiano Luigi Manini, dá à Quinta de 4 hectares, o palácio,
jardins luxuriantes, lagos, grutas e edifícios enigmáticos, lugares estes que escondem
significados relacionados com a alquimia, Maçonaria, Templários e Rosa-cruz.
Modela a quinta em traçados que evocam a arquitectura românica, gótica,
renascentista e manuelina.
O célebre “Monteiro dos Milhões” nasceu no Rio de Janeiro em 1848, filho de pais
portugueses, que cedo o trouxeram para Portugal. Licenciado em Leis pela
Universidade de Coimbra, Monteiro foi um distinto coleccionador e bibliófilo,
detentor de uma das mais raras camonianas portuguesas, homem de cultura que
decerto influenciou, se não determinou mesmo, parte bastante razoável do misterioso
programa iconográfico do palácio que construiu para si, nas faldas da serra de Sintra.
Os capitéis dos
colunelos enrolam longas folhas de acanto. E lá no fundo, a carga dramática acentua-
se. Gravada em embutidos de mármore, sobressai uma cruz templária, aliada a uma
estrela de oito pontas, afinal o emblema heráldico de Carvalho Monteiro. As galerias
conduzem-nos, em autênticos labirintos, pelo mundo subterrâneo, aqui e além
porventura povoado de morcegos. De construção artificial, na sua maioria, estas
galerias aproveitam, no entanto, as características geológicas da mancha granítica da
Serra de Sintra. No interior, a abóbada divide-se entre os maciços de rocha mãe, de
um granito granular médio, geralmente de cor rosada ou parda, e zonas preenchidas
com pedra importada da orla marítima da região de Peniche. É esta pedra, desgastada
pelo mar e pelo tempo, que vai contribuir, sobremaneira, para a sugestão de um
mundo submerso.
Nas cocheiras, sinais de Alquimia voltam a estar presentes, em duas esculturas que
formam símbolos clássicos da Arte de Hermes: a serpente que morde a cauda,
simbolizando a Unidade, origem e fim da Obra, e a luta entre as duas naturezas, aqui
representada por dois dragões, cada um mordendo a cauda do outro. Igualmente
susceptível de uma leitura alquímica é a gruta ogival, onde Leda, segurando uma
pomba na mão, aparece numa escultura à beira de um pequeno lago, enquanto Zeus,
disfarçado de cisne, a fecunda bicando-a na perna. Trata-se de uma alegoria pagã ao
mito, ou mistério, da Imaculada Conceição, ou concepção, que decorre num lugar
escuro e húmido.
A alquimia tem por objectivo a transmutação real ou simbólica dos metais em ouro e
por fim último a salvação da alma. As operações alquímicas são realizadas num
Atanor, ou seja, num forno alquímico de combustão lenta, com um cadinho e um
balão nos quais se pretende espiritualizar a matéria e materializar o espírito. Este
propósito essencial da Alquimia operativa, executada em laboratório, é a obtenção da
Pedra Filosofal, simbiose entre matéria e espírito, da qual poderia resultar, segundo os
alquimistas, além da transmutação dos metais em ouro, a realização de um dos desejos
ancestrais da humanidade: o elixir da longa vida, capaz de proporcionar saúde e eterna
juventude. Neste sentido, há quem considere a procura alquímica como uma metáfora
da condição humana. A Alquimia assumiu, depois do século XVIII, um carácter
manifestamente religioso, dedicando-se sobretudo ao estudo das relações espirituais e
energéticas entre o homem (microcosmo) e o universo (macrocosmo). A partir de um
trabalho erudito de equivalências e analogias, aceita-se que o universo nos engloba e
nos interpela num só movimento existencial – ele é ao mesmo tempo transcendência
(Outro) e nós próprios.
Parece evidente que a concepção religiosa do mundo que preside à Regaleira assenta
no Cristianismo, mas num Cristianismo escatológico, que tem a ver com o fim dos
tempos. Quer recorramos à lição da escatologia cósmica, que prenuncia o fim do
universo e da humanidade, quer nos atenhamos à escatologia individual, que assenta
na crença da sobrevivência da alma depois da morte, é a mesma ideia obsessiva que
encontramos. É também um Cristianismo gnóstico, apoiado em discursos míticos e em
conhecimentos sagrados que prometem a salvação dos fiéis e o retorno dos espíritos.
É, enfim, um Cristianismo imbuído de ideais neo-templários, associados ao Culto do
Espírito Santo, que encontramos na tradição mítica portuguesa.
Pontos de interesse
Carvalho Monteiro tinha o desejo de construir um espaço grandioso, em que vivesse
rodeado de todos os símbolos que espelhassem os seus interesses e ideologias.
Conservador, monárquico e cristão gnóstico, Carvalho Monteiro quis ressuscitar o
passado mais glorioso de Portugal, daí a predominância do estilo neomanuelino com a
sua ligação aos descobrimentos. Esta evocação do passado passa também pela arte
gótica e alguns elementos clássicos. A diversidade da quinta da Regaleira é
enriquecida com simbolismo de temas esotéricos relacionados com a alquimia,
Maçonaria, Templários e Rosa-cruz.
Bosque
O bosque ou mata que ocupa a maioria do espaço da Quinta, não está disposta ao
acaso. Começando mais ordenada e cuidada na parte mais baixa da quinta, mas, sendo
progressivamente mais selvagem até chegarmos ao topo. Este disposição reflecte a
crença no primitivismo de Carvalho Monteiro.
Poço Iniciático
Uma galeria subterrânea com uma escadaria em espiral, sustentada por colunas
esculpidas, por onde se desce até ao fundo do poço. A escadaria é constituída por nove
patamares separados por lanços de 15 degraus cada um, invocando referências à
Divina Comédia de Dante e que podem representar os 9 círculos do inferno, do
paraíso, ou do purgatório. Segundo os conceituados ocultistas Albert Pike, René
Guénon e Manly Palmer Hall é na obra ‘A Divina Comédia’ que se encontra pela
primeira vez exposta a Ordem Rosacruz. No fundo do poço está embutida em
mármore, uma rosa dos ventos (estrela de oito pontas: 4 maiores ou cardeais, 4
menores ou colaterais) sobre uma cruz templária, que é o emblema heráldico de
Carvalho Monteiro e, simultaneamente, indicativo da Ordem Rosa-cruz.
O poço diz-se iniciático
porque se acredita que era usado em rituais de iniciação à maçonaria e a explicação do
simbolismo dos mesmos nove patamares diz-se que poderá ser encontrada na obra
Conceito Rosacruz do Cosmos.
A simbologia do local está relacionada com a crença que a terra é o útero materno de
onde provém a vida, mas também a sepultura para onde voltará. Muitos ritos de
iniciação aludem a aspectos do nascimento e morte ligados à terra, ou renascimento.
O poço está ligado por várias galerias ou túneis a outros pontos da quinta, a Entrada
dos Guardiães, o Lago da Cascata e o Poço Imperfeito. Estes túneis, outrora habitados
por morcegos afastados pelos muitos turistas que visitam o local, estão cobertos com
pedra importada da orla marítima da região de Peniche, pedra que dá a sugestão de um
mundo submerso.
No interior, no altar-mor vê-se Jesus depois de ressuscitar a coroar uma mulher que
pode ser Maria ou Madalena (de uma maneira mais contraditória). Do lado direito
Santa Teresa e Santo António repetem-se, desta vez em painéis de mosaico. Do lado
oposto um vitral com a lenda do sítio da Nazaré. No chão estão representados a Esfera
Armilar ou Globo Celeste e a Cruz da Ordem de Cristo, rodeados de pentagramas
(estrelas de cinco pontas).
A Torre da Regaleira
Foi construída para dar a quem a sobe a ilusão de se encontrar no eixo do mundo.
O Palácio
O edifício principal da quinta é marcado pela presença de uma torre octogonal. Toda a
exuberante decoração esteve a cargo do escultor José da Fonseca.
A Maçonaria em Portugal
A Cruzada dos Descobrimentos
Pensamentos, Sensações e Emoções de um Aprendiz
O Templo de Salomão