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Vamos lá, para o nosso módulo número 03. Vamos dominar as regras do
jogo! Agora que a gente já falou sobre a estrutura do emprego e a do candidato,
vamos abordar sobre a estrutura da entrevista de emprego.
Uma entrevista de emprego nada mais é do que a medida, é um cabo de guerra,
entre quem contrata e quem é contratado. Você tem que entender que não é
como as tiazinhas do RH defendem. “Ai, o empregador e o empregado devem
dar as suas mãos. Eles querem ser felizes e um ajuda o outro. O colaborador
ajuda a empresa e a empresa ajuda o colaborador”. Isso é verdade, mas é um
cabo de guerra. É onde você quer ganhar o maior salário possível versus a
quantidade mais razoável de trabalho que eles te passem, de serviço que eles
te passem, e o empregador está defendendo a posição dele. Ele quer te passar
o maior volume de trabalho possível versus o menor salário possível.
“Não, Ícaro! Não é assim. Nem todo mundo quer pagar o menor salário...”. É o
menor salário que ele estiver disposto a pagar! Ponha uma coisa na cabeça:
você não está disposto a pagar mais pela cerveja que você prefere, pelo biscoito
que você prefere, do que o preço que está indicado no mercado! Imagina o
seguinte: vamos supor que você adore chocolate Alpino e que esse seja o seu
preferido. Você vai no mercado, olha a tag de preço e o chocolate está por 10
reais. Você não fala “Ah, na verdade, eu gosto tanto desse chocolate que eu vou
pagar 15 reais nele!”. Ninguém faz isso. Se alguém está disposto a contratar
outra pessoa, está disposto a contratar por um salário que seja justo, que
mantenha a pessoa trabalhando, mas ele não vai falar nunca “Você é tão bacana
que eu vou te pagar o dobro do que estava pensando antes!”.
A estrutura de entrevista de emprego é uma estrutura de controle, onde, logo no
início, é estabelecido quem possui esse controle. E onde está boa parte desses
problemas? Numa entrevista de emprego a postura do empregado já tende a ser
uma postura passiva. “Não, quem paga tem o controle. Tudo bem que você
atrasou duas horas...é, quanto eu quero ganhar? Ér..ér...não, eu quero
trabalhar...quero dar resultado. Depois a gente vê esses detalhes, né?!”. E se o
cara disser que vai pagar 50 reais, você aceita? Então, se o cara der o salário
que ele quiser daqui a 30 dias, vai ficar satisfeitinho? Só quer a oportunidade de
trabalhar? Se o cara te mandar trabalhar às 4 horas da manhã lá no Acre, você
vai? Se mudaria para Brasília?
Qual é a diferença quando você, desde cedo, se dispõe como quem quer assumir
o controle do negócio? Você nunca vai assumir todo o controle, a não ser que
você seja, dos trabalhadores, o que esteja entre os melhores dos melhores da
tua área. Se você é um dos 5 melhores programadores do Brasil, aí sim, você
tem como dominar todo o ambiente. Sabe que as pessoas irão pagar o que
puderem pagar por você. A questão não é tanto se eles querem ou não, mas se
podem pagar o preço que você vai dar. Se você é o melhor confeiteiro do Brasil,
é você quem dita quanto custa a sua mão de obra. Se você é o melhor
marceneiro da sua cidade, é você quem dita e quem controla isso daí. Mas,
numa estratégia normal, numa situação normal de pressão, você tem que tomar
parte do controle.
O que é tomar parte do controle numa entrevista de emprego? Demonstrar amor-
próprio, objetividade, facilidade em falar em número, dinheiro e metas,
predisposição a assumir decisões e riscos, liderar pessoas (estes dois últimos,
os dois grandes vetores), muito conforto na hora de falar em valores, não ceder
a tudo imediatamente — ainda que depois você ceda —, e dizer que você está
disposto sempre a realizar esforços além do acordado para receber
remunerações além da fixa. Isso demonstra o quê? Demonstra um cara que está
disposto a produzir mais do que foi acordado, desde que ele receba uma
pequena parcela em troca disso. No nosso caso, “pequena parcela” significa uma
remuneração justa.
O simples fato de você sentar e exibir postura, decisão, falar sobre dinheiro,
valores, responsabilidades, tudo isso de maneira natural, já muda tudo. Já muda
tudo!
E quais são os quatro grandes erros que você vai cometer que podem destruir a
tua entrevista de emprego? Isso daqui eu te garanto. Porque sempre que
aconteceu comigo ou com amigos meus que contratam, a entrevista vai ladeira
à baixo. Quais são esses erros?
Esse primeiro vem lá da sua avozinha, que é a de achar que você não é capaz
de negociar o seu salário. Você está procurando empregos, distribuindo
currículos, patrocinando lá no Linkedin, na Catho, e de repente alguém te chama.
Você vai pedir conselho para a tua mãe, para a tua tia, para o teu marido que é
funcionário público e se encontra feliz do jeito que está — não que tenha mal
algum nisso, mas ele não entende essa dinâmica de cabo de guerra por salário
—, e fala que tem uma entrevista de emprego. Todo mundo já comemora. Mas...
se você comemora uma entrevista, é porque já está pronto para ceder em
qualquer coisa. Para você, ser contratado é o objetivo, e não ser bem contratado.
Isso está errado!
E como a maior parte das pessoas pertencem ao que nós chamamos de
manada, a maioria vai achar que você nunca é capaz de negociar um salário.
Nunca! Eu virava para a minha esposa, que não é uma pessoa de mercado, e
dizia para ela “Putz! Eu estou trabalhando demais. Vou pedir o dobro para o meu
cliente X”. Ela falava: “Nossa, mas vocês assinaram o contrato há dois meses...”.
Eu concordada, mas dizia eu estava trabalhando o dobro do acordado, então
teria que receber duas vezes mais do que o acordado. “Não, mas você já vai
pedir um aumento?”. Eu dizia: “É, já! Eu não estou trabalhando mais do que foi
acordado previamente desde o mês retrasado? Então, está na hora de pedir
aumento”.
Então, as pessoas acham que você não é capaz de negociar o seu salário. Elas
acham que vão entrar numa entrevista de emprego e o chefe vai falar “Dois mil
reais. E é isso e acabou! É só isso” e que a você cabe apenas dizer sim ou não.
Quando, na verdade, não é assim. É plenamente possível subir de 10 a 25% do
seu salário sem grandes esforços. Simplesmente aplicando duas ou três
técnicas que são muito eficientes e que iremos falar mais na frente. É possível
aumentar 30% do salário antes de começar a trabalhar, no momento da
negociação. É mais difícil? É! Mas 10 a 25% é bem factível. Por quê? Porque as
pessoas nunca dispõem de 100% da sua grana para contratar alguém. Quando
você precisa de um vendedor novo, você pode pagar 10 a 15% a mais do que
você vai pagar para ele na proposta inicial.
“Ah, Ícaro, então por que não pagam?”. Simples: porque não pagam. Imagine
que você vai ao posto de gasolina e todo dia, todo mês, e abastece o seu carro
a R$ 3,30. Aí você chega nesse posto e agora está R$ 3,15. Você diz para o
frentista “Nossa, mas todo a vez eu pago R$3,30 e essa gasolina é ótima. Quero
pagar R$ 3,30 mesmo”. Não! Você aproveita a situação. Você tem 10, 15, 20%
a mais para pagar para o cara? Tem, mas ele não vai pedir. Se ele não pede,
você não dá.
Agora, se você perceber que ele é a peça exata que você busca, se você
perceber que ele tem elementos que são diferenciados, uma postura
diferenciada, você tem 10, 15, 20, 25% para dar, porque esse dinheiro existe.
Ninguém contrata com 100% do dinheiro. Ninguém contrata com 100% do caixa.
“O único dinheiro que existe no caixa da minha empresa é para contratar apenas
esse funcionário”. Não, existem outros dinheiros.
Segundo ponto é você achar que basta trabalhar duro que as pessoas te darão
aumento. “Não, se eu vier todo dia, se entregar tudo, se fizer tudo, terei
aumento”. Muita gente fala isso. Muita gente acha que por trabalhar muito duro
o chefe vai perceber. Não! Sabe o que vai acontecer? O teu chefe vai achar
ótimo, e só. Porém, a lógica é a do chocolate: ele continua satisfeito em pagar
10 reais no Alpino, mas se aumentarem ele paga 15 porque ele vai querer
continuar comendo o chocolate.