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AQUECIMENTO GLOBAL: REFLETIR PARA AGIR

SOLANGE C. MAZZONI-VIVEIROS

A forma como o ser humano tem se relacionado com o ambiente bem como seus
reflexos — por exemplo, a poluição, o desmatamento, a destruição da camada de
ozônio, o efeito estufa, o aquecimento global — têm sido exaustivamente discutidos e
publicados em diferentes meios de comunicação, acadêmicos e populares. Nota-se,
porém, que o esforço do meio científico e da mídia em esclarecer os mecanismos
envolvidos nessa crise e alertar sobre possíveis desastres, embora gere conscientização,
resulta em poucas ações por parte de cada indivíduo que demonstrem real convicção de
que é preciso mudar de estilo de vida.

A emissão de gases de efeito estufa, que retêm o calor do sol junto à superfície terrestre
e, quando em grande quantidade na atmosfera, causam o aquecimento global, é um
exemplo dessa consciência desvinculada da prática. Poucas pessoas estão dispostas a
abrir mão de facilidades e confortos para reduzir tais emissões e minimizar seus efeitos
sobre o clima do planeta, seja do carro à base de petróleo como meio particular de
transporte, do alto consumo de energia não renovável, da utilização de produtos
descartáveis não biodegradáveis, entre outros.

O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, em seu relatório de 2007, afirma


que 90% das alterações ocorridas no meio ambiente são resultado da ação humana.
Ressalta, ainda, que aquecimento global não significa apenas alteração na temperatura
atmosférica e troposférica, com efeitos no clima e no padrão de distribuição das chuvas
e ventos, causando desertificação, derretimento de geleiras, aumento de ciclones
tropicais. O aquecimento global resulta, também, em alterações significativas no
funcionamento dos sistemas terrestres, com previsão de perda de biodiversidade e
aumento na ocorrência de doenças e catástrofes.

A palavra de Deus alerta que a fé sem obras é morta (Tg 2.17-26), que a convicção não
pode estar desvinculada da prática. Seria muito mais fácil se pudéssemos ficar somente
com a primeira! Porém, o Deus em quem cremos é Jesus Cristo (Hb 1.3a), o Verbo
encarnado, que se humanizou para salvação do ser humano e de toda a criação (Jo 1.14;
Rm 8.1-2), que partiu para a ação visando à restauração integral do homem e da
natureza. A igreja, por ser o corpo de Cristo, deve se parecer com ele e, como ele,
transformar o caos atual através do amor e da misericórdia. Como filhos de Deus,
devemos refletir o seu caráter, como novas criaturas que acreditam na ressurreição
integral, por meio de Jesus Cristo. Devemos fazer diferença hoje e, assim, anunciar
nossa esperança no futuro (1Pe 1.3). Isso é missão integral, boas novas que envolvem
ação e restauração do relacionamento com Deus, com o próximo e com a criação. Deus
confiou sua criação ao homem, para que ele a guardasse e cuidasse (Gn 2.15); cumpre
ao novo homem retomar seu projeto original (2Co 5.17-20).

Discorrer sobre aquecimento global ou qualquer assunto relativo aos impactos


ambientais no meio cristão é necessário. No entanto esse conhecimento desvinculado da
consciência de que há uma dívida de amor com o próximo (Rm 13.8) e uma
responsabilidade com a criação (Rm 8.19-23) não trará resultado algum. Somente o
amor a Deus, ao próximo e à criação pode transformar nosso egoísmo em ações de
misericórdia, que mudam condutas e costumes para a glória de Deus e para a garantia de
vida em abundância desta e de futuras gerações (Cl 3.12-17). A igreja só cumprirá sua
missão integral quando refletir e agir, cumprindo o papel de mordomo (Gn 1.27- 2.1;
Gn 2.15) e de sacerdote (1Pe 2.9) para que o mundo conheça o verdadeiro Deus a quem
servimos (Jo 17.22-23; Ef 5.1-2; Sl 19.1-4).

“E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor
Jesus, dando a Ele graças a Deus Pai” (Cl 3.17).

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