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ISSN: 2525-8761
RESUMO
Dada a importância cultural e econômica dos licores artesanais, em especial os de frutas
com possibilidade de aproveitamento de safras, foram observadas as características de
licores artesanais de frutas comercializados em Aracaju/SE. Foi realizada pesquisa in loco
no Mercado Municipal de Aracaju, sendo escolhidas cinco marcas (A, B, C. D e E) com
maior relevância comercial e os dois sabores mais vendidos por cada marca (ameixa,
ABSTRACT
Given the cultural and economic importance of artisanal liqueurs, in particular those of
fruit with possibility of harvesting, the characteristics of artisanal fruit liqueurs marketed
in Aracaju/SE were observed. An on-site survey was carried out in the Municipal Market
of Aracaju, with five brands chosen (A, B, C. D and E) with greater commercial
relevance and the two best-selling flavors for each brand (plum, jenikkaba, jabuticaba
and tamarind). Two batches of each brand/flavor were assessed for labeling, mold and
yeast count, moisture, dry extract, pH, total soluble solids, total titratable acidity, density,
alcohol content, total phenolic content and DPPH. The appropriateness of the labeling
varied between 17.55% (E mark) and 58.82% (A and D marks). The A brand was the
only one that did not show any contamination by molds and yeasts. The second batch of
the other brands had less fungal contamination. The physicochemical and antioxidant
characteristics varied according to taste and brand. Humidity was the largest component
(63 to 88%). The pH (1.43 to 2.88) classified the liquor as a very acidic drink (pH<4.0)
and with sweetness (12.54 to 30.52ºBrix), with adequate legislative requirements, being
classified in fine and cream (30g of sugar/l). Only brands B, C and D fully respected the
alcohol content defined in specific legislation (15 to 54%). The liqueurs showed a
density greater than water (1.03 to 1.11), due to the presence of sugars, pulps and alcohol.
The tamarind flavor (mark D) had greater antioxidant activity. There was a great
variation in the standard of liqueurs, the most sought after being that of genipap.
Supervision and professionalization of producers are needed to guide production.
1 INTRODUÇÃO
A ingestão de bebidas alcoólicas é uma prática comum à socialização humana
devido às suas propriedades psico-comportamentais (ARAÚJO, 2022). No Brasil, estima-
se que o consumo médio anual esteja em torno de 7,8 litros de álcool puro, valor 1,2 litros
acima da média mundial (FREITAS; STOPA; SILVA, 2023). Dentro dessa categoria, há
o licor. O licor é uma bebida alcoólica não fermentada, obtida por mistura, caracterizada
pela quantidade elevada de açúcar, com percentual mínimo de trinta gramas por litro
(BRASIL, 2009, 2010; PENHA, 2006). A quantidade desse ingrediente na bebida
determina sua classificação em categorias: seco (30 a 100g/L), fino ou doce (>100 a
300g/L), creme (>300 a 500g/L), escarchado ou cristalino (>500g/L, provocando
saturação da mistura e formação de açúcar cristalizado) (BRASIL, 2009; 2010). Na
composição do licor, ainda há o álcool etílico (15 a 54%), a água, usada para
homogeneização do açúcar para obtenção de xarope, além da possível presença de
extratos ou substâncias aromatizantes, saborizantes, corantes e/ou demais aditivos
(BRASIL, 2009; CHAGAS, 2020; PENHA, 2006).
Esses últimos componentes podem ter seu papel desempenhado pelas frutas, em
especial as típicas, agregando características sensoriais atrativas, valorizando e escoando
a produção local de maneira refinada (PENHA, 2004; SILVA; MACHADO; GOMES,
2018). Assim, além do sabor adocicado devido à concentração de açúcares, as frutas
contêm não-nutrientes, provenientes do metabolismo secundário dos vegetais, que podem
atuar como antioxidantes e conservantes devido à estrutura química favorável (NELSON,
COX, 2014; ORNELLAS, 2011; SANTOS; MACHADO; GOMES, 2018). Entre os não
nutrientes, pode-se ressaltar os compostos fenólicos, que atuam como antioxidantes
devido à estrutura química favorável.
Além disso, o processo de fabricação artesanal de licores é de fácil reprodução no
ambiente doméstico e em pequenas indústrias, requerendo pouca tecnologia (PENHA,
2004). Apesar dos Padrões de Identidade e Qualidade (PIQ) estabelecidos na legislação,
que poderiam balizar a produção em pequena escala, a fabricação artesanal permite pouco
controle técnico sobre o produto final, resultando em variações de teores dos componentes
e abrindo procedência para riscos biológicos aos consumidores. Por exemplo,
considerando o principal agente de conservação do produto, o álcool, a ausência de
padronização na elaboração do produto pode acarretar variações na proporção adequada,
afetando a eficácia da atuação e, consequentemente, a qualidade microbiológica
(CHAGAS, 2020).
Assim, o presente trabalho objetivou avaliar licores de fruta artesanais,
comercializados em Aracaju/SE, no que se refere à rotulagem e às características físico-
química, antioxidante e microbiológica.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
A coleta dos dados foi realizada entre agosto de 2021 e agosto de 2022.
2.3 ROTULAGEM
Para a verificação das informações presentes nos rótulos dos licores, foi elaborado
um checklist adaptado de múltipla escolha, contemplando as opções conforme, não
conforme e não se aplica (DIVS/SC, 2017), tendo como referência as seguintes
legislações sobre rotulagem: Resolução nº 259, de 20 de setembro de 2002 (BRASIL,
2002a); Portaria nº 157, de 19 de agosto de 2002 (BRASIL, 2002b); Decreto nº 6871, de
4 de junho de 2009 (BRASIL, 2009); e Resolução n° 429, de 8 de outubro de 2020
(BRASIL, 2020).
O checklist continha questões sobre a classificação do licor, denominação de
venda, identificação do lote, data de envasamento e de validade, nome empresarial,
registro no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) ou no Cadastro Nacional de
Pessoa Física (CPF) e endereço do estabelecimento envasador ou do responsável pelo
produto. Além disso, de acordo com a legislação específica (BRASIL, 2020), o rótulo
deve ser de fácil visualização e de difícil remoção, com informações corretas, claras,
precisas e em língua portuguesa, sem utilização de termos ou expressões que induzam o
consumidor ao erro quanto à origem e qualidade do produto e ingredientes.
Fonte: Autora
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 AVALIAÇÃO DOS RÓTULOS
As marcas A e D apresentaram os maiores percentuais de adequação (58,82%),
considerando todos os requisitos verificados. As marcas B e C tiveram percentual de
adequação de 41,18% e, com a menor proporção de atendimento às normas legislativas,
a marca E obteve apenas 17,65% de conformidade.
Em relação às informações obrigatórias, a marca C foi a única a não apresentar a
denominação de venda do produto. Apenas as marcas A e D continham a lista de
ingredientes. O conteúdo líquido foi expresso nas embalagens das marcas A, B e D. Não
houve registro de declaração de aditivos ou informação nutricional, pois, segundo a
legislação, não há obrigatoriedade para bebidas alcoólicas (BRASIL, 2020).
Dentro da identificação de origem, as marcas A, C e D apresentaram a razão
social, sendo as duas últimas as únicas a conterem endereço no rótulo. As marcas A, C e
Marca E – amostra 4 Ameixa 3,0 x 10³ (estimado) < 1,0 x 10³ (estimado)
Marca E – amostra 5 Ameixa 9,0 x 10³ (estimado) 5,6 x 10⁴
Fonte: Autora
determinados por Marinho et al. (2013), de 42 a 48º Brix, e Gomes et al. (2022), de 36,0
a 36,4º Brix. De acordo com a legislação brasileira (BRASIL, 2009; 2010), e com base
nos SST, as marcas A, B, D e E são classificadas como licores do tipo fino e a marca C
como do tipo creme. A variação de SST reflete o processo de fabricação, tempo de
infusão, filtração e quantidade de matéria-prima utilizada por cada marca, levando a
diferenças na concentração de açúcar na bebida (CHAGAS, 2020). Assim, infere-se que
licores derivados da mesma fruta, podem possuir características sensoriais distintas a
depender do processo de produção.
A ATT foi maior na marca C (0,37±0,10g de ácido acético/100mL), havendo
grande discrepância estatística entre as demais. Não houve diferença estatística entre as
marcas A, D e E (Tabela 2). Considerando a média de ATT nos licores de jenipapo, os
valores estão próximos ao encontrado por Chagas (2020) e por Marinho et al. (2013),
com variações entre 0,03 e 0,17g de ácido acético/100mL. Cabe ressaltar que a ATT
possui relação direta com as características sensoriais, aceitabilidade e a estabilidade do
produto (CHAGAS, 2020).
Em relação à densidade, as marcas D e E não diferiram estatisticamente entre si
(p>0,05). A amplitude observada foi entre 1,05 ± 0,01g/mL (marca B) a 1,13 ± 0,01g/mL
(marca C) (Tabela 2), próximos a densidade de licor de jenipapo observada por Chagas
(2020), 1,07 a 1,13g/mL. Contudo, a densidade foi inferior ao observado em produções
paraenses, 1,26 a 1,27g/mL (GOMES et al., 2022), e superior a maranhenses, 0,87 a
0,99g/mL (MARINHO et al., 2013). É importante ressaltar que licores com menor
densidade apresentam melhor estética em virtude do líquido mais cristalino, característica
decorrente do processo de filtração, reduzindo a borra no produto final e aumentando a
aceitabilidade pelos consumidores (CHAGAS, 2020; PENHA, 2006).
O TA não variou entre as marcas C, D e E (Tabela 2). De acordo com a legislação
brasileira (BRASIL, 2009; 2010), apenas a marca A foi inadequada, apresentando
quantitativo inferior ao padronizado (6,50± 2,74ml/100ml), entre 15 e 54% do conteúdo.
Os valores encontrados foram superiores aos determinados em licores de jenipapo do
Pará, com 16% (GOMES et al., 2022), e do Maranhão, com 9 a 14% (MARINHO et al.,
2013).
As marcas C e D apresentaram maior atividade antioxidante diante do radical livre
DPPH (Tabela 3). As diferenças, observadas na análise da capacidade antioxidante, são
decorrentes da sensibilidade dos compostos antioxidantes, suscetíveis à oxidação e
consequente perda de função, assim, a diferença decorre da manipulação em toda a cadeia
Marca B* Marca D*
Parâmetros
(n = 6) (n = 6)
4 CONCLUSÕES
De acordo com os resultados encontrados, verifica-se que há grande variação na
qualidade dos licores avaliados, decorrente da ausência de rigor e padronização na
preparação das bebidas. A adequação dos rótulos de todas as marcas não atingiu 60%,
demonstrando desconhecimento sobre as normas legislativas ou negligência na
elaboração do produto. Do ponto de vista microbiológico, observou-se que, na maioria
das amostras, não houve crescimento de bolores e leveduras, sendo o lote 2 o que
apresentou menor contaminação. Assim, infere-se que ausência de padronização no
preparo da bebida leva à diferença na qualidade final do produto. No que se refere ao
sabor, o licor de jabuticaba foi o menos contaminado.
Dentre os sabores analisados, observa-se uma preferência maior pelo licor de
jenipapo, uma vez que, todas as marcas produziam esse sabor. Quanto ao PIQ, observa-
se que a maioria dos licores respeitaram o teor de açúcar e álcool, preconizados pela
legislação brasileira. Diante disso, nota-se a necessidade de criação de legislações que
apresentem mais padrões de qualidade para o produto, assim como, sejam realizadas mais
fiscalizações e intervenções educacionais junto aos produtores de licores artesanais, para
que assim os produtos aumentem sua qualidade e possam ter competitividade com marcas
industrializadas comercializadas no mercado.
REFERÊNCIAS
DAMIANI, E.; BACCHETTI, T.; PADELLA, L.; TIANO, L.; CARLONI, P. Antioxidant
activity of different white teas: Comparison of hot and cold tea infusions. Journal of Food
Composition and Analysis, v. 33, p. 50-66, 2014.