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A maior parte do seu corpo não é


humana - e é nova aposta de
cientistas para vencer doenças
James Gallagher
Repórter de Saúde e Ciência da BBC

11 abril 2018

Ilustração simula o que seria um corpo-bactéria

Mais da metade do seu corpo não é humano, dizem cientistas.

As células humanas constituem apenas 43% da contagem total de células do corpo. O resto são micro-
organismos.

Entender essa parte escondida de nós mesmos - o chamado microbioma - está transformando
rapidamente a compreensão de doenças que vão desde alergias até mal de Parkinson.

Esse campo de pesquisa está inclusive questionando o que significa ser "humano" e levando a novos
tratamentos inovadores como resultado.

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"Eles (os micro-organismos) são essenciais para a sua saúde", diz a professora Ruth Ley, diretora do
departamento de microbiologia do Instituto Max Planck. "Seu corpo não é apenas você".

Não importa o quão bem você se lavar, quase todos os cantos do seu corpo estão cobertos de criaturas
microscópicas.

Isso inclui bactérias, vírus, fungos e arquea (organismos que eram classificados de forma equivocada
como bactérias, mas de características genéticas e bioquímicas diferentes). A maior concentração dessa
vida microscópica está nas profundezas de nossos intestinos, onde há pouca presença de oxigênio.

Para pesquisador, "o que nos torna humanos é a combinação do nosso próprio DNA com o DNA dos nossos
micróbios intestinais"

O professor Rob Knight, da Universidade da Califórnia em San Diego, disse à BBC: "Você é mais
micróbio do que humano".

Originalmente, pensava-se que para cada célula humana havia outras 10 não-humanas no nosso corpo.
"Isso foi ajustado para muito mais próximo de 1 para 1, então a estimativa atual é de que você é 43%
humano se contarmos todas as células", diz ele.
"Mas geneticamente estamos em desvantagem
ainda maior."

O genoma humano - o conjunto completo de


instruções genéticas para um ser humano - é
composto de 20 mil instruções denominadas genes.

Mas se você juntar todos os genes de nosso


microbioma chegará a um número de entre 2
milhões a 20 milhões de genes microbianos.

Sarkis Mazmanian, microbiologista do Instituto de


Tecnologia da Califórnia, argumenta: "Nós não
temos apenas um genoma, os genes do nosso
microbioma apresentam essencialmente um
segundo genoma que expande a atividade de nosso
próprio genoma".
BBC Lê
"O que nos torna humanos é, na minha opinião, a Podcast traz áudios com reportagens selecionadas.
combinação do nosso próprio DNA com o DNA dos
nossos micróbios intestinais." Episódios

Seria ingênuo pensar que carregamos tanto material


microbiano sem que ele interaja ou tenha algum efeito em nossos corpos.

A ciência está descobrindo rapidamente o papel que o microbioma desempenha na digestão, regulando
o sistema imunológico, protegendo-o contra doenças e produzindo vitaminas vitais.

"Estamos descobrindo como essas minúsculas criaturas transformam totalmente nossa saúde de
maneiras que nunca havíamos imaginado, até recentemente", disse o professor Knight.

É uma nova forma de pensar sobre o mundo microbiano. Pois nosso relacionamento com os micróbios
tem sido, em grande parte, o de inimigos em uma guerra.

Campo de batalha microbiano


Antibióticos e vacinas têm sido as armas lançadas contra doenças e agentes como varíola,
Mycobacterium tuberculosis (bactéria causadora da tuberculose) ou MRSA (um tipo de bactéria
resistente a vários antibióticos amplamente utilizados).

As conquistas nessa luta têm sido significativas e salvaram um grande número de vidas.

Mas alguns pesquisadores estão preocupados por que esse ataque constante a "vilões" causadores de
doenças também trazem danos incalculáveis às nossas "boas bactérias".

"Nos últimos 50 anos, fizemos um ótimo trabalho na eliminação de doenças infecciosas", disse a
professora Ley.

"Mas temos visto um enorme e assustador crescimento em doenças autoimunes e em alergias.

"É aqui que entra o trabalho no microbioma, é em ver como as mudanças no microbioma - que
ocorreram como resultado do sucesso que tivemos combatendo patógenos - têm contribuído agora
para todo um novo conjunto de doenças com as quais temos de lidar."

O microbioma também está sendo ligado a doenças como mal de Parkinson, doença inflamatória
intestinal, depressão, autismo e ao funcionamento de drogas contra câncer.

A obesidade é outro exemplo. O histórico familiar e as escolhas de estilo de vida desempenham


claramente um papel nesse aspecto, mas e os micróbios intestinais?

Uma dieta à base de hambúrgueres e chocolate, por exemplo, afeta tanto o nosso risco de obesidade quanto o tipo
de micróbios que crescem no nosso tubo digestivo.

Em busca de uma resposta, o professor Knight realizou experimentos usando ratos nascidos em um
ambiente totalmente higienizado - e viveram toda sua vida completamente livre de micróbios.

"Fomos capazes de mostrar que se você pegar fezes de humanos magros e de humanos obesos, e
transplantar as bactérias em camundongos, você pode tornar o camundongo mais magro ou mais
gordo, dependendo de qual microbioma usou", diz Knight.

"Isso é incrível, mas a questão agora é saber se isso será traduzível para humanos."

Esta é a grande esperança neste campo de pesquisa, de que os micróbios possam ser uma nova forma
de medicamento.
Mina de ouro da informação
O cientista Trevor Lawley, do Wellcome Trust Sanger Institute, está tentando cultivar o microbioma
inteiro de pacientes saudáveis e o de doentes.

"Quando se está doente, pode haver micróbios faltando, por exemplo. A ideia é reintroduzi-los".

Lawley diz que há evidências crescentes de que restaurar o microbioma de alguém "pode realmente
levar à melhora" em doenças como a colite ulcerativa, um tipo de doença inflamatória intestinal.

E acrescenta: "Acho que para muitas doenças que estudamos, serão definidas misturas de micróbios,
talvez 10 ou 15, que serão introduzidos no paciente".

A medicina microbiana está em seus estágios iniciais, mas alguns pesquisadores acham que o
monitoramento do nosso microbioma em breve se tornará algo cotidiano capaz de fornecer uma mina
de ouro de informações sobre nossa saúde.

"É incrível pensar que cada colher de chá de suas fezes contém mais dados do DNA desses micróbios do
que poderia ser armazenado em uma tonelada de DVDs", diz Knight .

"No momento, toda vez que você libera esses dados no banheiro, você está mandando toda aquela
informação descarga abaixo."

"Parte de nossa visão é que, num futuro não tão distante, assim que você der a descarga, algum tipo de
leitura instantânea será feita e lhe dirá se você está na direção certa ou errada."

"Isso eu acho que será realmente transformador."

Ilustrações: Katie Horwich

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