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LIÇÃO Nº 4 – A TENTAÇÃO DE JESUS

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adautomatos 22 de abril de 2015

Jesus foi tentado, mas, ao contrário do primeiro casal, venceu o diabo.

INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo do evangelho segundo Lucas, estudaremos o relato sobre a


tentação de Jesus.

– Jesus foi tentado, mas, ao contrário do primeiro casal, venceu o diabo.

I – O BATISMO E A GENEALOGIA DE JESUS

– Na sequência do estudo do evangelho segundo Lucas, o nosso comentarista faz hoje


estudo dos primeiros treze versículos do capítulo 4 daquele evangelho, que relata a
tentação de Jesus.

– No entanto, para que possamos ter uma visão mais abrangente deste evangelho, que
é o tema deste trimestre, iniciaremos este estudo enfocando o relato lucano do batismo
de Jesus.

– Depois de ter descrito pormenorizadamente o “princípio” de todas as coisas, que eram


o anúncio do nascimento e o nascimento de João Batista e de Jesus, o evangelista
Lucas, fiel a seu propósito, começa a falar a respeito do ministério de João Batista, que,
dentro de seu compromisso de historiador, é fixado como tendo início no décimo quinto
ano do reinado do segundo imperador romano, Tibério César, sendo Pôncio Pilatos
presidente da Judeia e Herodes, tetrarca da Galileia e seu irmão Felipe, tetrarca da
Itureia e da província de Traconites e Lisânias, tetrarca de Abilene, sendo Anás e
Caifás sumo sacerdotes (Lc.3:1).

Diante de tamanha precisão, podemos definir que o início do ministério de João Batista
se deu por volta do ano 29 d.C.

– Lucas é bem claro que o ministério de João Batista começa porque a Palavra de Deus
veio sobre João no deserto e ele, então, começou a percorrer toda a terra ao redor do
Jordão, pregando o batismo do arrependimento, para o perdão dos pecados, o que era o
cumprimento daquilo que havia sido profetizado por Isaías (Lc.3:3-6).

– Mais uma vez, Lucas mostra que toda a ação que daria início a um novo tempo no
plano da salvação da humanidade era completamente dirigido por Deus. João começou
a pregar porque a Palavra de Deus veio a ele.

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João não agia movido por um impulso próprio, mas, sim, porque se trata de um homem
cheio do Espírito Santo, como o próprio evangelista já havia dito no relato tanto do
anúncio do nascimento de João a seu pai Zacarias pelo anjo Gabriel como também pelo
encontro entre Isabel e Maria, instante em que João, ainda dentro do ventre da mãe, foi
cheio do Espírito Santo.

– Por não ser o tema de nossa lição, não iremos aqui analisar a descrição que Lucas faz
do ministério de João Batista, mas o evangelista, como os demais evangelhos, faz
questão de mostrar que João nunca disse ser o Cristo, mas, sim, o Seu precursor
(Lc.3:15-17).

– Após ter anunciado que João foi preso por Herodes, tetrarca da Galileia, Lucas se
volta, então, para relatar o início do ministério de Jesus e o faz a partir do episódio que
dá início a tal ministério, que é o Seu batismo por João.

– Lucas é bem sucinto com relação ao batismo de Jesus por João.

Diz o evangelista que todo o povo se batizava, respondendo favoravelmente à pregação


de João Batista e Jesus, de igual modo, foi também batizado por João (Lc.3:21).

Notamos aqui, ainda que de forma sucinta. Lucas mostra toda a humanidade de Cristo
que, inserido no meio do povo que se arrependia de seus pecados, também acolhe
favoravelmente a mensagem de João Batista e é batizado por ele.

– Neste simples relato, Lucas mostra que Jesus era realmente homem, havia Se
humanizado e Se encontrava no meio do povo e, como era um homem submisso à
vontade de Deus, responde favoravelmente à pregação de um homem de Deus e aceita
ser batizado.

– Como afirma John Nelson Darby (1800-1882): “…É com o verso 21 {Lc.3:21 –
observação nossa] que começa esta maravilhosa história, plena de graça e de verdade.

Deus tinha chamado ao arrependimento o Seu povo, por intermédio de João Batista — e
os que escutavam a Sua palavra, vinham para serem batizados.

Era o primeiro sinal da nova vida e da obediência. E como grandes multidões acorriam
para serem batizadas, Jesus, perfeito em vida e em obediência, vem em graça para o
Remanescente de Seu povo.

Toma lugar com esse Remanescente e é batizado com o batismo de João, do mesmo
modo que o Remanescente o tinha sido também.

Que maravilhoso e comovente testemunho! Jesus não Se limita a amar de longe e


nem somente a perdoar! Vem, pela Sua graça, colocar-Se ali, onde o pecado do Seu
povo os tinha lançado!…” (Estudos sobre a Palavra de Deus: Lucas-João. Trad. de Dr.
Martins do Vale, pp.35-6).

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– Lucas registra, ainda, que, enquanto era batizado, Jesus estava a orar, demonstrando,
uma vez mais, que se estava diante de um homem que tinha plena comunhão com
Deus, que vivia em oração.

Tanto assim foi que, enquanto era batizado e orava, o céu se abriu e o Espírito Santo
desceu sobre Ele em forma corpórea, como uma pomba, sendo, então, ouvida uma voz
do céu que dizia que Aquele que era batizado era o Filho amado em quem o Pai Se
comprazia (Lc.3:21,22).

OBS: “…Jesus, tendo tomado essa posição e orando, ocupa o lugar do homem piedoso,
dependendo de Deus.

E o Seu coração, elevando-Se até Deus (expressão da Sua perfeição nessa posição!) vê
o Céu abrir-se-Lhe! Pelo batismo, Jesus toma o Seu lugar com o Remanescente.

Orando, mostrava a Sua perfeição nas Suas próprias relações com Deus, no lugar que
Ele tinha assim tomado.

A dependência de Deus e o movimento do coração para com Deus, como as primeiras


coisas que ali surgem, e a expressão da Sua existência, por assim dizer, são a perfeição
do homem neste mundo.

E, neste caso especial, do homem nas circunstâncias em que ele se encontrava nas
suas relações com Deus — e Jesus com ele.

Aqui o Céu pode abrir-se! E note-se que não é o Céu abrindo-se para procurar alguém
que estava afastado de Deus, nem a graça abrindo o coração à consciência desse
afastamento; mas é a graça e a perfeição de Jesus que faz abrir o Céu…” (DARBY,
John Nelson. op.cit., p.37).

– No relato do batismo de Jesus por João em Lucas vemos reafirmada a humanidade de


Jesus, um homem de oração, que respondia favoravelmente à Palavra de Deus e que,
por isso, veio para ser batizado, mas, ao mesmo tempo, um homem diferente, que tinha
plena comunhão com Deus, tanto que, no momento de Seu batismo, faz com que o céu
se abra e que, a exemplo do próprio João, recebe a unção do Espírito Santo e tem,
ainda, reafirmada a Sua divindade pelo próprio Pai.

– Um homem que agrada a Deus é um homem de oração, um homem que tem


sempre os céus abertos e que tem o Espírito Santo sobre Si, alguém que é declarado
como agradável ao Senhor.

Este mesmo quadro vemos em Atos quando Lucas fala do primeiro mártir do
Cristianismo, Estêvão, que, também, vê os céus abertos, estava cheio do Espírito
Santo e que agrada a Deus, a ponto de o próprio Filho ficar em pé aguardando a sua
chegada ao céu (At.7:8,56-60).

Lucas, assim, no evangelho, mostra o paradigma que deveria ser seguido por todo
discípulo de Cristo. Será que temos correspondido a tal modelo?

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Será que temos sido cheios do Espírito Santo, homens de oração e que têm os céus
abertos para nós em virtude nossa comunhão com o Senhor? Pensemos nisto!

– A seguir, então, Lucas vai falar a respeito da genealogia de Jesus, mostrando que se
tratava, mesmo, de um ser humano, de Deus que havia Se feito homem para redimir a
humanidade.

É elucidativo que, após ter testemunhado a divindade de Cristo proclamada pelo Pai,
Lucas vá demonstrar a condição de Jesus como homem, como descendente de Adão,
como o último Adão.

– A genealogia de Jesus segundo Lucas difere da de Mateus, o que suscitou muitos


debates ao longo dos séculos.

Todavia, não há qualquer contradição entre as duas genealogias, que, por terem intuitos
diferentes, seguem linhas diversas, inclusive se complementando, a fim de que a Bíblia
Sagrada dê um quadro completo a confirmar a humanidade de Cristo.

– Mateus preocupa-se em mostrar que Jesus era filho de Davi e filho de Abraão, a
fim de que os seus leitores ficassem bem esclarecidos a respeito do cumprimento das
duas principais promessas messiânicas feitas ao povo de Israel, a promessa feita a
Abraão de que na sua semente todas as famílias da terra seriam benditas (Gn.12:1-3) e
a promessa feita a Davi de que o Messias seria de sua descendência e estabeleceria um
reinado sem fim (II Sm.7:12-16).

OBS: “…Será bom notar que a genealogia de Jesus é aqui traçada não apenas até Davi
ou até Abraão, a fim de que ele seja herdeiro das promessas segundo a carne, mas até
Adão, para mostrar que Jesus é o verdadeiro Filho de Deus — homem neste mundo,
onde o primeiro Adão tinha perdido o seu título, tal como ele o possuía.

O último Adão, o Filho de Deus, estava ali, aceite pelo Pai, e Se preparando para tomar
sobre Si todas as dificuldades em que o pecado e a queda do primeiro Adão tinham
colocado aqueles que, de entre a sua raça, se aproximavam de Deus pela influência da
Sua graça.…” (DARBY, John Nelson. op.cit., p.39).

– Lucas, no entanto, estava a escrever um evangelho voltado aos gentios e, por isso,
sua preocupação não era a de reafirmar as promessas feitas a Israel, mas, antes, a de
confirmar o cumprimento do “protoevangelho”, da mensagem que o próprio Deus havia
dado ao primeiro casal no Éden de que “da semente da mulher” viria Aquele que reataria
a amizade entre Deus e o homem.

Por isso, ao contrário de Mateus, Lucas segue uma linha ascendente na genealogia,
partindo de José, o pai social de Jesus, e indo até Adão, o primeiro homem.

OBS: “…São Mateus quis representar o Senhor descendendo a nossa mortalidade, por
isso se refere a gerações desde Abraão até Cristo. São Lucas, pelo contrário, não 0
conta as gerações desde o princípio, senão desde o batismo de Cristo e não

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descendendo, mas ascendendo. Enfim, para designar melhor o Pontífice, que há de
apagar os pecados do mundo, parte do lugar em que João dá testemunho, dizendo:

‘Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo’ (Jo.1:29) e, subindo chega a Deus,
com quem, limpos e purificados, nos reconciliamos” (AGOSTINHO. De cons, Evang,,
lib.2, cap.4. In: Catena áurea, n.9323. Cit. Lc.3:23. Disponível em:
http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 23 fev. 2015) (tradução
nossa de texto em espanhol).

– Além disso, Lucas segue a linha materna da genealogia, o que explica a disparidade
de nomes entre a genealogia de Lucas e a genealogia de Mateus até Davi.

Enquanto Mateus seguia a linha paterna, para enfatizar a realeza de Cristo e a sua
descendência de Abraão, Lucas enfatiza a “semente da mulher”, o homem perfeito, o
último Adão.

E, graças a ambos os evangelistas, temos a genealogia completa de Jesus, a reforçar a


Sua humanidade e a Sua condição plena de ser o Salvador da humanidade.

Assim, Heli, que é dado como pai de José, seria, na verdade, o seu sogro, enquanto que
Jacó, citado em Mateus, seria o pai biológico de José.

OBS: “…Mas Lucas, desejando mostrar que Cristo era a semente da mulher, que feriria
a cabeça da serpente, traça a sua genealogia retrocedendo ate Adão, e começa com Eli,
que foi o pai, não de Jose, mas da virgem Maria.

E alguns sugerem que o fragmento que os nossos tradutores inserem aqui não esta
correto, e que não deveria ser interpretado assim, ou seja, que José era o filho de Eli,
mas sim Jesus; Jesus era o filho de Jose, de Eli, de Matate, etc., e Ele, isto e Jesus, era
o filho de Sete, de Adão, de Deus, v. 38.

A diferença entre os dois evangelistas na genealogia de Cristo sempre foi um obstáculo


para os incrédulos que criticam a palavra, mas ela foi removida pelos esforços de
homens instruídos, tanto nos primeiros tempos da igreja, quanto posteriormente, nos
quais nos baseamos.

Mateus traça a genealogia a partir de Salomão, cuja descendência natural terminava em


Jeconias, sendo os direitos legais transferidos a Salatiel, que era da casa de Natã, outro
filho de Davi, cuja descendência Lucas segue aqui, deixando de fora todos os reis de
Judá.…” (HENRY, Matthew. Comentário bíblico Novo Testamento – Mateus a João –
edição completa. Trad. de Degmar Ribas Júnior, pp.544-5).

– Dentro de seu propósito de mostrar toda a humanidade de Cristo, Lucas nos dá a


idade de Jesus quando do Seu batismo, ou seja, quase trinta anos (Lc.3:23).

Tratava-se, portanto, de uma personagem histórica, de alguém de carne e osso, não um


mito ou uma lenda.

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Jesus tinha quase trinta anos quando começou Seu ministério, ministério que exigiu a
assunção da condição humana, através da submissão ao batismo de João, embora não
tivesse pecado, como também a unção do Espírito Santo.

Jesus dá-nos, pois, o exemplo para que possamos estar aptos para exercer o
ministério que Deus nos dá, seja ele qual for:

submeter-se a Deus por intermédio do cumprimento de Suas ordenanças, arrependendo-


se dos pecados e receber a unção do Espírito Santo.

II – AS CIRCUNSTÂNCIAS DA TENTAÇÃO DE JESUS

– Depois de relatar o início do ministério de Jesus por meio do batismo e Sua unção pelo
Espírito Santo, não deixando de reafirmar a Sua humanidade e Sua condição de
“semente da mulher” e de “último Adão”, Lucas, então, passa a relatar a tentação de
Jesus.

– O primeiro ponto a enfatizar é que Lucas diz que Jesus estava cheio do Espírito Santo
e, ao voltar do Jordão, foi levado pelo Espírito ao deserto (Lc.4:1).

Jesus, como homem, não poderia iniciar Seu ministério se não fosse cheio do Espírito
Santo.

Não se pode fazer a obra de Deus sem que, antes, sejamos cheios do Espírito Santo,
como o próprio Lucas retrata no livro de Atos, ao mostrar que o próprio Cristo diz que
Seus discípulos deveriam ser revestidos de poder (At.1:8).

Sua vitória sobre o pecado e sobre o diabo dependia desta plenitude do Espírito
Santo.

– Lucas faz questão de frisar que esta plenitude do Espírito Santo se deu quando de Seu
batismo, pois diz que Ele voltou do Jordão e, então, foi levado pelo Espírito ao deserto.
Indica-nos, pois, que, quando Ele voltou do Jordão, estava cheio do Espírito Santo.

– Ao voltar do Jordão, porém, o Espírito Santo leva Jesus para o deserto. Temos aqui um
fato que também é registrado por Mateus (Mt.4:1) e por Marcos (Mc.1:12).

Jesus, após ser cheio do Espírito Santo, passa a ser conduzido por este mesmo Espírito,
passa a seguir a direção e orientação do Espírito.

Tal circunstância não é peculiar a Jesus, mas é o que Cristo quer que ocorra em todos os
Seus discípulos. Jesus mesmo disse que mandaria o Espírito Santo para que Este
guiasse os cristãos (Jo.16:13).

– Ser um verdadeiro e genuíno cristão é ser alguém que é guiado e dirigido pelo Espírito
Santo, pois os que são guiados pelo Espírito são filhos de Deus (Rm.8:14).

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Temos de ter uma vida de oração e de comunhão com Deus para que sempre façamos a
Sua vontade, o que significa dizer que devemos ser sempre guiados e dirigidos pelo
Espírito Santo.

O próprio Lucas registra o que Pedro disse na casa de Cornélio a respeito do ministério
de Jesus, dizendo que Ele fora ungido com o Espírito Santo e com virtude e que andou
fazendo bem, curando a todos os oprimidos do diabo (At.10:38).

Somente se pode fazer bem quando se está sob a direção do Espírito Santo, quando se
é guiado por Ele.

– Deus dissera a Caim que se ele fizesse bem, haveria aceitação para ele (Gn.4:7), mas
Caim, que era do maligno (I Jo.3:12), preferiu antes sair da presença do Senhor
(Gn.4:16), construindo toda uma civilização alheia à vontade de Deus e acabou sendo
destruída pelo dilúvio.

Jesus, porém, como homem perfeito, fez o bem, porque era dirigido e guiado pelo
Espírito Santo.

Nós, também, temos a oportunidade de escolher entre o caminho do maligno e o


caminho de Cristo, e, para sermos aceitos por Deus, é imperioso que escolhamos ser
guiados e dirigidos pelo Espírito Santo.

– Entretanto, para surpresa de todos, ao ser guiado pelo Espírito Santo, Jesus é
conduzido para o deserto e não para um lugar de delícias.

Ao contrário do primeiro Adão, que foi posto por Deus no jardim que o Senhor havia
formado para ele no Éden, onde se tinham ótimas condições de sobrevivência, Jesus, o
último Adão, é levado para um local inóspito, onde tudo contribuía para a morte, onde a
vida é rara e extremamente difícil.

– Lucas mostra-nos, assim, que o segredo da vitória sobre o mal está em ser guiado pelo
Espírito Santo, não nas circunstâncias que possam cercar o homem neste mundo. Jesus
foi para o deserto, mas era guiado pelo Espírito Santo e isto é o que importa.

O fato de se estar num lugar extremamente hostil à sobrevivência humana, num lugar
em que tudo contribuía à morte não foi o fator que fez a diferença, mas, sim, o fato de ter
sido levado para lá pelo Espírito Santo.

OBS: “…’Cheio do Espírito Santo’. E, então, levado ‘para o deserto’ para ser tentado.
Vocês não esperariam isto. Mas é coisa mais triste ser levado para um deserto quando
não se está cheio do Espírito Santo e uma coisa mais triste ser tentado quando o Espírito
Santo não está em vocês.

A tentação de Nosso Senhor não foi uma exposição atrevida de Si mesmo. Ele foi
‘levado pelo Espírito ao deserto’. O Espírito de Deus pode nos levar onde nós teremos
de suportar a provação.

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Se Ele faz assim, nós estamos seguros e sairemos vencedores assim como nosso
Mestre…” (SPURGEON, Charles Haddon. Exposição de Lc.4:1-15 – apêndice ao sermão
Satanás partindo, anjos servindo, p.7. Disponível em:
http://www.spurgeongems.org/vols37-39/chs2326.pdf Acesso em 23 fev. 2015) (tradução
nossa de texto em inglês).

– Nos dias em que vivemos, valorizamos muito o ambiente em que vivemos, damos
muito peso às circunstâncias que nos cercam, esquecidos de que, se vivemos em um
mundo que está no maligno (I Jo.5:19), isto não nos impede de servir a Deus e fazer-Lhe
a vontade, desde que sejamos cheios do Espírito Santo, desde que nos deixemos guiar
por Ele.

– Jesus foi para o deserto, depois que deixou o Jordão, depois que havia recebido o
próprio testemunho do Pai de que Lhe era agradável e fora ungido pelo Espírito Santo.

Abandonou uma belíssima companhia que seria João Batista, grande profeta de Deus,
para ir para o deserto, onde, solitário, teria de enfrentar o diabo. Entretanto, este
ambiente totalmente hostil não o fez perder a comunhão com Deus, não O impediu de
Se fortalecer.

– Precisamos, amados irmãos, abandonar esta mentalidade de que o ambiente é


decisivo na determinação da conduta das pessoas, uma ideia que foi grandemente
reforçada pelas correntes filosóficas do século XIX, com destaque para o marxismo.

Tais correntes, diversas entre si, têm um ponto em comum, qual seja, a ojeriza à sã
doutrina, a oposição à Bíblia Sagrada.

Por isso, dizer que “o homem é fruto do meio” é uma inverdade que, lamentavelmente,
tem impregnado muitas mentes entre os que cristãos se dizem ser. Lucas mostra-nos
que o ambiente não pode influenciar um homem que é dirigido pelo Espírito Santo, que
resolve servir a Deus.

Jesus, apesar de ser mandado ao deserto, não fraquejou em Sua vida espiritual a
despeito da hostilidade do ambiente em que passou a viver, mas, bem ao contrário, lá
venceu o maligno, porque era dirigido e guiado pelo Espírito Santo.

– John Nelson Darby, aliás, bem afirma ao dizer que “…Jesus sofreu essa tentação nas
circunstâncias em que nós nos encontramos — e não naquelas em que se encontrava
Adão — quer dizer, em todas as dificuldades da vida da fé.

À parte o pecado, Ele a sentia em tudo, porque ‘Ele foi tentado em todas as coisas, à
nossa semelhança, mas sem pecado’ (Hb.4:15). Note-se que não se trata aqui da
escravatura do pecado, mas sim do combate.

Quando se trata da escravatura, trata-se da libertação — e não do combate. Israel


combateu em Canaã; mas o Senhor o tinha libertado do Egito.

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Ali não se tratou de combate. Há, portanto, uma certa diferença entre libertação e
combate.…” (op.cit., p.40) (destaques originais).

OBS: “…A tentação que Mateus relata como sendo a terceira é apresentada por Lucas
como a segunda tentação. Essa inversão provavelmente se deve ao fato de que Mateus
descreve os ataques em ordem cronológica.

Lucas, por seu turno, presumivelmente observa uma seqüência gradativa dos locais: o
deserto, a montanha, a cidade santa.…” (RIENECKER, Fritz. op.cit., p.65) (destaques
originais).

– O Espírito Santo, assim como mandou Jesus para o deserto, também pode nos levar
para ambientes hostis e onde as circunstâncias são adversas para a nossa vida.

No entanto, devemos sempre ter em mente que, quando Deus assim age, isto é para o
nosso bem, para que cresçamos espiritualmente, para que sejamos vencedores sobre o
mundo, sobre a carne e sobre o diabo.

Todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam a Deus e são chamados
pelo Seu decreto (Rm.8:28).

OBS: “…Ele estava cheio do Espirito Santo, que havia descido sobre Ele como uma
pomba. O Senhor Jesus tinha agora medidas maiores de dons, graças e consolações do
Espirito Santo do que antes. Note que aqueles que estão cheios do Espirito Santo e que
estão bem armados contra as tentações mais fortes.

Ele havia retornado do Jordão recentemente, onde foi batizado, e reconhecido por uma
voz do céu como sendo o Filho Amado de Deus; e assim Ele foi preparado para este
combate.

Note que, quando tivermos a mais consoladora comunhão com Deus, e as descobertas
mais claras de Seu favor a nós, podemos esperar que Satanás nos ataque (o navio mais
rico é o prêmio do pirata), e que Deus permitirá que ele faça isso, para que o poder de
Sua graça possa ser manifestado e exaltado.…” (HENRY, Matthew. op.cit., p. 545).

– Outro ponto interessante do relato de Lucas é que o evangelista diz que Jesus foi
tentado pelo diabo por quarenta dias (Lc.4:2) e não apenas nas três oportunidades em
que o diabo falou diretamente com Ele.

Como diz Fritz Rienecker: “…As tentações que o Senhor Jesus teve de superar aqui no
deserto eram muito mais graves que as dos primeiros seres humanos.

Eles se encontravam no esplêndido paraíso, eram visitados por Deus e não sabiam nada
a respeito das terríveis tribulações e dos assédios de Satanás.

Jesus estava no inóspito deserto, onde havia apenas areia e pedras. Foi
ininterruptamente perseguido pelo diabo durante quarenta dias e noites. Era imensa a
tensão em seu íntimo, de modo que ele se esqueceu de beber e comer por quarenta

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dias.…” (RIENECKER, Fritz. Evangelho segundo Lucas: comentário Esperança. Trad. de
Werner Fuchs, p.63).

– O diabo perseguiu a Jesus durante todos os quarenta dias, a confirmar o que disse o
escritor aos hebreus que Jesus em tudo foi tentado. Diante desta tentação contínua, o
Senhor, estando em circunstâncias extremamente adversas, recorreu ao jejum e à
oração, para se manter em comunhão com Deus. Como diz Ambrósio de Milão (340-
397):

“Três coisas há que aproveitam para a salvação do homem: o sacramento, o deserto e o


jejum. Ninguém é coroado senão peleja bem e ninguém é admitido ao combate da
virtude se não é consagrado pela graça celestial, lavado de todas as manchas do delito”
(In Lucam 1,4 praefat. In: Cátena áurea, n. 9401. Cit. Lc.4:1-13. Disponível em:
http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 23 fev. 2015) (tradução
nossa de texto em espanhol).

– Não basta receber o Espírito Santo, é preciso, também, manter uma vida de oração e
recorrer ao jejum nos momentos de adversidade, como um reforço à oração, para que se
possam vencer as dificuldades e, sobretudo, a tentação. Se para expulsar certos
demônios, faz-se necessário recorrer ao jejum e à oração (Mt.17:21; Mc.9:29), que dirá
para enfrentar Satanás, o próprio chefe dos demônios.

– Jesus, sendo o homem perfeito, era um homem de oração, mas, também, de jejum. O
Senhor nos ensina, portanto, a necessidade de recorrermos a este expediente para que
enfrentemos as maiores dificuldades de nossas vidas. Jesus, também, ao jejuar durante
quarenta dias, também nos mostra que precisamos tirar vantagem das próprias
adversidades.

Se foi impelido ao deserto, lugar inóspito e onde a alimentação era difícil, aproveita esta
situação para jejuar. Como dizia o saudoso pastor Severino Pedro da Silva, precisamos
ter a habilidade de do limão fazer uma limonada.

Obs: “…Ele ganhou alguma vantagem para si durante este jejum de quarenta dias no
deserto. Podemos supor que o Senhor estava totalmente concentrado em sua própria
consagração, e em consideração a sua tarefa, e a obra que Ele tinha diante de si; que
Ele passou todo o Seu tempo em uma conversa imediata e intima com o Seu Pai, como
Mois´ss no monte, sem qualquer desvio, distração, ou interrupção.

De todos os dias da vida de Cristo na carne, estes parecem ter se aproximado mais da
perfeição da vida angelical e da vida celestial, e isto o preparou para os ataques de
Satanás. Aqui o Senhor Jesus foi fortalecido contra eles.…” (HENRY Matthew. op.cit., p.
546).

– Por isso, o próprio Jesus disse aos fariseus que Seus discípulos haveriam de jejuar
quando Ele Se ausentasse deles fisicamente (Mt.9:14,15; Mc.2:18-20; Lc.5:33-35), a
demonstrar a extrema necessidade do jejum em nosso combate espiritual enquanto
estivermos neste mundo, que é um verdadeiro “deserto” para todos nós.

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Como diz Basílio de Cesareia (329-379): “…Jejuou para nos demonstrar que o jejum é
necessário ao que se quer preparar ao combate das tentações” (Cátena áurea, n. 9401.
Cit. Lc.4:1-13. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm
Acesso em 23 fev. 2015) (tradução nossa de texto em espanhol).

– Jesus passou aqueles quarenta dias em jejum e oração, sendo impiedosamente


perseguido pelo diabo, mas, como diz Fritz Rienecker, “…Provavelmente, após o
decurso destes quarenta dias, Jesus tenha ficado mortalmente debilitado, e foi esse
momento que o tentador aproveitou para a última e decisiva investida…” (op.cit., p.64).

Assim, o que costumamos denominar de “as três tentações do diabo contra Jesus” são
tão só o momento final de todo um processo que teve de ter suportado pelo Senhor.

Aliás, há mesmo quem diga que as tentações não escritas tenham sido as maiores
enfrentadas por Nosso Senhor e Salvador.

OBS: É o pensamento de Orígenes de Alexandria (185-253): “Jesus foi tentado pelo


diabo durante quarenta dias no deserto. Não sabemos quais foram estas tentações; as
que acaso foram omitidas, porque eram mais do que as que podiam ser escritas” (In
Lucam, hom.29. In: Cátena áurea, n.9401. Cit,. Lc.4:1-13. Disponível em:
http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 23 fev. 2015) (tradução
nossa de texto em espanhol).

– Entendem alguns que o embate direto do diabo com Jesus somente se deu após os
quarenta dias, pois foi neste instante que Jesus teve fome. Até então, Jesus não havia
comido coisa alguma, nem desejado fazê-lo, já que estava totalmente envolvido no jejum
e na oração.

Como afirma Basílio, “…Conhecia o diabo que jejuava e não tinha fome e, por isso, não
se atrevia a se aproximar, pelo que segue: ‘não comia coisa alguma naqueles dias’ etc.”
(Cátena áurea, n. 9401. Cit. Luc 4:1-13. Disponível em:
http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 23 fev. 2015) (tradução
nossa de texto em espanhol).

OBS: Devemos aqui registrar que Basílio é taxativo ao dizer que Jesus não foi tentando
durante quarenta dias, afirmação com a qual não podemos concordar já que contraria o
texto literal das Escrituras. Não houve um embate direto, mas o diabo já perseguia a
Cristo desde o início da quarentena.

– Mesmo após estes quarenta dias de jejum e de oração, Jesus, por ser homem, teve
fome, apresentou-se, como diz Fritz Rienecker, mortalmente debilitado, a demonstrar
toda a Sua humanidade e é neste momento, então, que Satanás vem ao Seu encontro,
que se inicia o embate direto entre Jesus e Satanás.

Vemos, pois, como o diabo é submisso à divindade, como não age senão diante das
fraquezas humanas, senão diante da própria permissão divina.

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Por isso, devemos confiar em Deus e sempre Lhe pedir que não nos deixes cair em
tentação mas que nos livre do mal (Mt.6:13; Lc.11:4), porque o Senhor jamais permitirá
que sejamos tentados além de nossas forças (I Co.10:13), se, à evidência, a exemplo de
Cristo Jesus, sempre nos mantivermos em comunhão com o Senhor, buscando a Sua
face em jejum e oração.

III – O PRIMEIRO EMBATE ENTRE JESUS E O DIABO

– Lucas relata pormenorizadamente os três embates havidos entre Jesus e o diabo no


deserto, que muitos, como Matthew Henry, entendem ter sido o deserto de Horebe ou
deserto do Sinai, pois foi ali que tanto Moisés quanto Elias também jejuaram por
quarenta dias e quarenta noites.

Neste passo, repete Lucas o que faz Mateus, que, também, descreveu estes três
embates, enquanto que Marcos apenas mencionou a tentação de passagem, de forma
muito sucinta (Mc.1:13).

– No entanto, a ordem dos embates é diferente em Lucas e em Mateus. Com efeito,


embora o primeiro embate relatado por ambos seja o do desafio diante da fome, Mateus
relata em segundo lugar o embate referente ao transporte de Jesus ao pináculo do
templo, enquanto que Lucas põe como tendo sido o segundo embate o transporte a um
alto monte, onde Satanás oferece os reinos do mundo a Cristo.

Haveria, então, uma contradição entre os evangelistas?

– John Nelson Darby bem elucida a questão:

“…No Evangelho segundo S. Lucas, as tentações são relatadas segundo a sua ordem
moral. Assim, em primeiro lugar, encontramos o que as necessidades do corpo exigem;
depois vêm as exigências do mundo e, finalmente, a sutileza espiritual.…” (op.cit., p.40).

Como afirma Russell Norman Champlin: “…pequenas diferenças e discrepâncias


favorecem sua historicidade, porque vemos nisso que a igreja primitiva não harmonizou
propositalmente os documentos originais entre si, fazendo-os concordar em tudo.

A ausência de ‘manuseio’ assegura-nos que podemos confiar no que foi escrito, ainda
que surjam pequenos problemas, ocasionalmente…” (O Novo Testamento interpretado
versículo por versículo, v.2, com. Lc.4:8, p.47).

– Começou, pois, o diabo o seu embate com Jesus no ponto mesmo da fraqueza
apresentada por Nosso Senhor, qual seja, a fome que sentiu após quarenta dias e
quarenta noites de jejum. Vemos, pois, que o diabo sempre nos ataca no “ponto fraco”, a
demonstrar que é mesmo, como dizem as Escrituras, “ a mais astuta das alimárias do
campo” (Gn.3:1).

– Por isso, precisamos ter uma vida de ininterrupta comunhão com Deus, porquanto é
em nossos “pontos fracos”, em nossos “momentos de fraqueza”, que o diabo virá nos
tentar. Se vivermos em comunhão com Deus, cumprir-se-á aquilo que disse o apóstolo

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Paulo:

“Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições,
nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando estou fraco, então, sou forte” (II
Co.12:10).

OBS: “…o assassino de almas sempre utiliza o momento propício, o lugar apropriado e
as circunstâncias oportunas. Ele está a postos quando estamos sós, quando uma aflição
nos tortura e dores nos oprimem, ou quando retornamos de um estudo bíblico.…”
(RIENECKER, Fritz. op.cit., p.64).

– Sabendo da fraqueza de Jesus, não porque fosse onisciente, mas porque é um ser que
“compreende as coisas dos homens” (Cf. Mt.16:23), podendo, facilmente, pelos gestos e
atitudes do ser humano entender seu estado anímico, o diabo se aproxima do Senhor e
lhe diz: “Se Tu és o Filho de Deus, dize a esta pedra que se transforme em pão” (Lc.4:2).

– Como bem explica o pastor Antônio Sebastião da Silva, da Assembleia de Deus –


Ministério de Santo André (Santo André/SP), o que queria Satanás é que Jesus
abandonasse a Sua humilhação, o Seu aniquilamento e fizesse uso de Seus atributos
divinos, aceitando a sugestão satânica e transformando pedra em pão para poder se
alimentar.

Se assim fizesse, Jesus não poderia vencer o mal e o pecado enquanto homem, o que
O impediria de morrer em nosso lugar e nos ganhar a salvação.

OBS: “…Satanás O convidou para fazer um milagre de um modo impróprio para Seu
próprio benefício, mas Jesus não fez milagre algum para Ele próprio.…” (SPURGEON,
Charles Haddon. Exposição de Lc.4:1-13 – apêndice ao sermão Satanás partindo, os
anjos servindo, p.7. Disponível em: http://www.spurgeongems.org/vols37-39/chs2326.pdf
Acesso em 23 fev. 2015) (tradução nossa de texto em inglês).

– Jesus, enquanto homem, fora cheio do Espírito Santo e deveria, portanto, seguir-Lhe a
orientação, que era a de suportar a provação, de se manter fiel e obediente ao mandado
do Senhor e não de recorrer à glória divina para saciar uma necessidade humana.

Jesus tinha de suportar aquilo que Deus, pela pessoa do Espírito Santo, havia
determinado e, deste modo, não poderia aceitar a sugestão de Satanás.

OBS: Como anota Matthew Henry: “… Ele o tentou a não confiar no cuidado de Seu Pai
em relação a Ele, e a agir por conta própria, e a ajudar-Se a Si mesmo provendo o
sustento de uma maneira que o Seu Pai não havia designado…(op.cit., p. 546).

– “…Jesus foi tentado na área dos apetites carnais — o que certamente é a principal
área de fraqueza da humanidade. Notemos que Jesus estava realmente com fome e,
portanto, em ‘necessidade’ real.

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Os homens falam de suas ‘necessidades’ como a do sexo em busca de certo bem-estar
e isso é legítimo em seu devido lugar. Porém, até mesmo em profunda ‘necessidade’,
Jesus não cedeu à tentação acerca dos apetites carnais…” (CHAMPLIN, R.N. op.cit., v.2,
com. Lc.4:3, p.46).

– O primeiro embate entre Jesus e o diabo foi a área dos apetites carnais, ou seja, das
necessidades surgidas em nosso corpo, que, por causa da natureza pecaminosa que
herdamos de Adão, leva-nos à “concupiscência da carne”, ou seja, ao desejo
incontrolado motivado pelas necessidades geradas pelos instintos que temos.

– Jesus teve fome, precisava alimentar-se depois daquele prolongado e miraculoso jejum
e é neste instante que o diabo se apresenta, querendo que Jesus transformasse uma
pedra que ele mesmo apresenta (e, quem sabe, tivesse até formato de pão, para aguçar
ainda mais a fome de Cristo…) em pão para saciar a Sua fome.

– Nesta oferta satânica vemos, ainda, o verdadeiro caráter, ou antes, a verdadeira falta
de caráter do tentador. Por primeiro, numa atitude de covardia, somente ataca
diretamente quando verifica uma fraqueza em Jesus; por segundo, mostrando ser um
ente intrinsecamente mau oferece uma pedra para alimentação de Cristo, algo que nem
os homens maus fazem (Mt.7:9).

Como diz Orígenes: “…O pai a quem o filho pede pão não lhe dá uma pedra, mas este
(como adversário burlão e falaz) lhe dava por pão uma pedra…” (In Lucam, hom,29. In:
Cátena áurea, n.9401. Cit Lc.4:1-3. Disponível em:
http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 23 fev. 2015) (tradução
nossa de texto em espanhol).

– Quando agimos pela “concupiscência da carne”, agimos egoisticamente, pensando


apenas em nós mesmos e, em razão disto, deixamos de lado a vontade de Deus para
fazer a nossa própria vontade.

Era isto que o diabo queria fazer com Jesus, mas, “…Os dons e poderes que Deus nos
confiou, porém, não nos foram dados com finalidade egoísta, mas como meio para um
fim.

Satanás queria induzir Jesus a aplicar seus poderes milagrosos, concedidos para edificar
o reino de Deus, com um fim egoísta, e não como meios para essa edificação.

Ao fazer isso, Jesus teria anulado arbitrariamente as condições da vida humana às


quais havia se submetido voluntariamente.

Teria abandonado sua humilhação, sua encarnação, voltando a apoderar-se de sua


filiação divina (i. é, a onipotência e onisciência) e anulando assim, por meio de
grandiosos feitos milagrosos, toda a miséria terrena, sem que o pecado (a real e
verdadeira causa de toda a miséria) tivesse sido eliminado.

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Com isso teria inviabilizado o programa de sua vocação. Contudo, Jesus não tinha a
intenção de apegar-se à filiação divina, pois havia se despojado dela, i. é, renunciado a
ela. Era vontade de Deus que ele deixasse sua provisão e proteção físicas inteira e
exclusivamente nas mãos do Pai celestial.…” (RIENECKER, Fritz. op.cit., p.64).

– Jesus, porém, não cede aos apetites carnais, mas, antes, responde ao tentador com a
Palavra de Deus, dizendo: “Escrito está que nem só de pão viverá o homem, mas de
toda a Palavra de Deus” (Lc.4:4).

– Jesus, na tentação, recorre à Palavra de Deus, mostrando-nos que esta é a única arma
de ataque que podemos ter quando estivermos em embate com o inimigo de nossas
almas.

É com a espada do Espírito (Ef.6:17) que conseguimos atacar as hostes espirituais da


maldade, resistindo no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes (Ef.6:13).

Muitos têm trocado a Palavra de Deus pelo “crucifixo” ou qualquer outro amuleto para
enfrentar o maligno, mas é a Palavra de Deus a arma com que vencemos o mal, como
nos ensina o Senhor Jesus.

– “…A Sagrada Escritura é a expressão da vontade, da bondade e da autoridade de


Deus, aplicáveis a todas as circunstâncias do homem, tal como ele é. Ela nos mostra
que Deus Se interessa por tudo o que diz respeito ao homem.

E por que motivo havia de agir o homem de moto próprio, sem olhar a Deus e à Sua
Palavra? Mas, ai! Falando aos homens em geral, eles preferem fazer uso da sua própria
vontade. Submeterem-se e estarem na dependência de Deus é de tudo o que eles
menos querem. Estão em demasiada inimizade com Deus para se confiarem a Ele e só
a Ele.

Mas era justamente essa submissão, essa obediência que distinguia o nosso Bendito
Salvador. O poder de operar um milagre, Deus podia conferi-lo a quem Ele quisesse.

Mas um homem obediente, sem nenhum querer de fazer o que quer que fosse onde a
vontade de Deus não estivesse bem expressa; um homem que vivia da Palavra e na
mais completa dependência de Deus; um homem tendo esta perfeita confiança, que não
exige outra prova de fidelidade de Deus, além da Sua Palavra; um homem sem nenhum
outro meio de certeza de que Deus quer intervir, a não ser a Sua promessa de o fazer.

Um homem que confiava absolutamente na intervenção de Deus, em tudo o que fosse a


Sua vontade — eis o que era mais que simples poder: era a perfeição do Homem na
posição em que se encontrava!

Era o Homem, não simplesmente inocente (porque a inocência não tem necessidade de
se confiar em Deus través das dificuldades, das penas, das questões suscitadas pelo
pecado, do conhecimento do bem e do mal), mas uma perfeição colocando Aquele que
assim era ao abrigo de todos os taques que Satanás contra Ele desencadeasse.

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Com efeito, que poderia Satanás contra Aquele que não Se desviava da vontade de
Deus e que tinha, nessa vontade, o Seu único motivo de ação? O poder do Espírito de
Deus estava com Ele e Ele agia nesse espírito de obediência.

Assim, a simples obediência, dirigida pela Sagrada Escritura, parece-nos ser a única
arma empregada por Jesus. Esta obediência exige a dependência de Deus e plena
confiança em Deus para a cumprir.

Jesus vive da Palavra de Deus — e a Sua dependência está ali. Ele não quer tentar
Deus, isto é, não quer pô-l’O à prova, para ver se Ele é fiel.

E aqui temos a Sua plena confiança. Age quando Deus quer, faz o que Deus quer — e
porque Ele o quer. O resto deixa-o com Deus.

É assim a perfeita obediência. E, note-se, não se trata aqui de uma obediência ou


submissão à vontade de Deus por não haver alternativa, mas sim de uma obediência
onde a vontade de Deus era o único motivo para agir.

Nós somos santificados pela obediência de Cristo. Satanás está vencido e impotente
perante o último Adão…” (DARBY, John Nelson. op.cit., pp.41-2).

– Ainda hoje, o diabo está a apresentar pedra querendo que nós a transformemos em
pão. Satanás tentou lançar um desafio ao Senhor Jesus, pondo em dúvida a Sua
divindade, a fim de que Ele usasse de atributos divinos e, deste modo, Se
descredenciasse para a obra da redenção.

De igual modo, o diabo tenta nos lançar no campo da dúvida, querendo que nos
atribuamos direitos que não temos, que, como “filhos de Deus”, queiramos que Deus
faça o nosso querer.

É a velha artimanha satânica de querer que nós nos ponhamos no lugar de Deus, que
ajamos independentemente da vontade d’Ele.

Se Eva aceitou este desafio e desobedeceu ao Senhor, Jesus, bem ao contrário, fez uso
da Palavra de Deus para mostrar que o pão material não é exclusivo, mas que devemos
dar prioridade à alimentação espiritual, cumprindo a Palavra do Senhor.

– Ao citar Dt.8:2,3, o Senhor Jesus mostrava que a humilhação tem seu lado educativo e
contribui para o nosso crescimento espiritual.

Assim como Deus humilhou o povo de Israel no deserto, deixando-o ter fome, para lhe
dar de comer ao maná, pão vindo do céu, também nós devemos entender que as
necessidades materiais por que passamos é uma grande lição para que entendamos que
somos dependentes de Deus e que, por isso, devemos depender d’Ele, dependência
esta que nos leva a buscar primeiro o reino de Deus e a justiça, sabendo que todas as
coisas nos serão acrescentadas (Mt.6:33).

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– Deus nos faz passar por necessidades relativamente às coisas terrenas para que nós
nos lembremos que precisamos d’Ele e que, por isso mesmo, o mais importante é o
espiritual, pois, quando nos alimentamos espiritualmente, quando reconhecemos que
dependemos de Deus, podemos, assim, ter plena satisfação, tanto das necessidades
espirituais quanto das materiais.

– Este primeiro embate do diabo com Jesus também nos faz perceber quão daninha e
satânica é a teologia da prosperidade, porquanto a proposta dada a Jesus pelo diabo é a
mesma que hoje apresentam aos que cristãos se dizem ser as teologias gêmeas da
prosperidade e da confissão positiva.

Com efeito, estas duas teologias defendem que nós “ponhamos Deus contra a parede”,
“exijamos os nossos direitos de filhos de Deus”, exatamente como fez Satanás neste
primeiro embate, querendo que Jesus, na condição de Filho de Deus, fizesse a Sua
vontade e não a do Pai, pusesse Deus a serviço do homem. Tomemos, pois, irmãos,
muito cuidado com estes falsos ensinos.

IV – O SEGUNDO EMBATE ENTRE JESUS E O DIABO

– Vencido no primeiro embate, o diabo não se deu por vencido. Como dizia o saudoso
pastor Severino Pedro da Silva: “o diabo insiste, persiste e não desiste” de nos tentar.

– Já que Jesus não transformou a pedra em pão, Satanás o levou a um alto monte,
mostrando-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo, dizendo que lhe daria
todo aquele poder e glória, porque a ele havia sido entregue e daria a quem quisesse,
desde que Jesus o adorasse (Lc.4:5,7).

– Neste relato deste embate, vemos aqui a humanidade de Jesus sendo mais uma vez
evidenciada por Lucas. O diabo levou Jesus a um alto monte, a nos mostrar que,
humanizado, Jesus foi feito pouco menor que os anjos (Hb.2:7,9), que é, precisamente, a
condição humana na ordem cósmica (Sl.8:5). Assim, embora fosse Filho de Deus, pôde
ser levado pelo diabo.

– Isto nos ensina que somos inferiores ao diabo e que, portanto, não podemos ser
atrevidos em relação a ele. Muitos, inadvertidamente, levados por um triunfalismo que
não tem qualquer respaldo bíblico, confundem a ousadia que temos de ter na batalha
espiritual com atrevimento e irresponsabilidade.

Não podemos lutar de igual para igual com o diabo, porque fomos feitos pouco menores
do que os anjos e aqui não se está a falar apenas dos anjos fiéis, mas de todos os anjos,
inclusive os que se rebelaram contra Deus na eternidade passada.

– Em parte alguma das Escrituras Sagradas está dito que somos maiores que os anjos
ou que podemos enfrentar o inimigo de nossas almas com nossas próprias forças.

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Muito pelo contrário, a Bíblia está repleta de passagens que nos mandam ter cuidado
para não sermos enganados pelo diabo, para não sermos envolvidos em suas astutas
ciladas.

O diabo é apresentado, na vez primeira que surge nas Escrituras, como sendo o ser
mais astuto que Deus criou e, por isso mesmo, não queiramos vencê-lo com nossas
próprias forças.

– Jesus, sendo Deus, não tendo pecado, não pôde impedir que o diabo o levasse a um
alto monte, precisamente porque havia Se humanizado e, como tal, não poderia se
contrapor aos poderes de Satanás.

Da mesma forma, não podemos ignorar os ardis do tentador (II Co.2:11) e, por
conseguinte, nos refugiarmos em Cristo para que, então, aí sim possamos enfrenta-lo,
pois maior é o que está conosco do que o que está no mundo ( I Jo.4:4).

– Vemos, portanto, como são totalmente antibíblicos os espetáculos que se fazem em


muitos lugares com entrevista com demônios, com atrevimentos em relação a demônios
diante de pessoas supostamente possessas, como a querer mostrar que os filhos de
Deus podem fazer do diabo ou de seus anjos um joguete, um brinquedo.

Nada disso tem respaldo bíblico. Devemos, isto sim, nos precaver e estar cientes de que
podemos vencer o maligno, desde que estejamos em Cristo Jesus e por causa de Jesus
Cristo, pois somos inferiores às hostes espirituais da maldade, mas por Nosso Senhor e
Salvador, somos feitos mais do que vencedores (Rm.8:37).

– Como se isto fosse pouco, Lucas faz questão de mostrar que o diabo, usando de seus
poderes, decorrentes de sua natureza angelical, foi capaz de mostrar, num momento de
tempo, todos os reinos do mundo.

Alguém poderá dizer como isto era possível, mas devemos observar que se estava numa
dimensão espiritual e não, material. Portanto, com a permissão divina, conseguiu o diabo
mostrar todos os reinos do mundo a Jesus num “momento de tempo”.

Não podemos, pois, subestimar o adversário, estando sempre fortes em Cristo Jesus.
Como disse Lutero em seu conhecido poema sacro, somente podemos enfrentar o
inimigo quando estamos em nosso “castelo forte”, que é o nosso Deus.

– Este “momento de tempo”, também, como ensina Ambrósio, indica “… a fragilidade


passageira do poder, mais rápida que um olhar. Pois todas as coisas passam assim em
um momento e, com frequência, a glória do mundo desaparece mais prontamente do
que quando vem…” (Cátena áurea, n. 9405. Cit. Lc.4:1-13. Disponível em:
http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 23 fev. 2015) (tradução
nossa de texto em espanhol).

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– Lucas afirma-nos que o diabo prometeu dar todo o poder e a glória dos reinos do
mundo se Jesus o adorasse, porque estes reinos lhe tinham sido entregues e ele, então,
podia dar a quem quisesse.

Com base nesta afirmação, muitos defendem que o mundo foi entregue ao diabo e que,
portanto, o mundo a ele pertence, tem ele “legalidade” para governar o mundo.

– Tal ensino, que é bastante enfatizado pela teologia da confissão positiva, não nos
parece ter respaldo bíblico. Não podemos nos esquecer que o diabo é o pai da mentira e
que, quando mente, fala daquilo que lhe é próprio (Jo.8:44).

Assim, o fato de o diabo ter dito que o mundo lhe fora entregue e que ele podia dar a
quem quisesse não é suficiente para que creiamos que isto realmente ocorreu.

– Na verdade, o salmista diz que do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e


aqueles que nele habitam (Sl.24:1), de modo que não é verdadeiro que o mundo tenha
sido entregue a Satanás. Tudo continua pertencendo a Deus e Deus, em momento
algum, perdeu o controle e o senhorio sobre o Universo.

– Com o pecado, o homem não entregou o mundo ao diabo por um simples motivo: Deus
não entregou o mundo ao homem e, por isso, o homem não podia dar aquilo que nem
sequer havia recebido.

O que ocorreu com o pecado é que a humanidade entrou em inimizade com Deus e em
amizade com o diabo e o diabo, ante esta comunhão estabelecida entre ele e o homem
por causa do pecado, veio a oprimir e subjugar o homem, pois quem comete pecado
torna-se escravo do pecado (Jo.8:34).

– Com o pecado, criou-se o “mundo espiritual”, um sistema organizado dominado pelo


maligno, onde o diabo é o príncipe (Jo.12:31; 14:30; 16:11), mas um sistema espiritual
que nada tem que ver com o mundo físico, com a soberania divina sobre o Universo.

Satanás, portanto, mente a Jesus quando diz que o mundo lhe havia sido entregue e
que poderia dá-o a quem quisesse. Satanás queria, isto sim, submeter Jesus ao seu
senhorio, queria oprimi-lo como fez com relação a toda a humanidade, uma vez que
sabia que o Senhor não pertencia a este mundo espiritual, já que nunca havia pecado
(Jo.17:16).

– Haverá um que aceitará esta sugestão satânica e que adorará o diabo para ter todos
os reinos do mundo, o seu poder e glória, que é o Anticristo, mas, ao longo da Grande
Tribulação, o Senhor mostrará claramente que tudo não passou de uma mentira de
Satanás, pois, embora “entronizado” pelo diabo sobre todos os reinos do mundo, o
Anticristo verificará que o mundo físico nunca lhe foi dado, tanto que as pragas
constantes das trombetas e das taças da ira de Deus, relatadas no livro do Apocalipse,
mostrarão efetivamente de quem é o mundo e aqueles que nele habitam.

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– O diabo é um perfeito estelionatário, prometendo dar aquilo que nem sequer recebeu.
É fraudulento e mentiroso. Pôde, sim, mostrar todos os reinos do mundo e o seu poder e
glória, mas não podia dá-los a quem quisesse pelo simples fato de que isto não lhe havia
sido entregue.

Lembremos sempre disto para que não sejamos também levados a aceitar ofertas
similares de Satanás e que têm derrubado muitos em nossos dias.

OBS: “…Mentiu em ambas as coisas; nem o tinha, nem podia dar aquilo de que carecia.
De ninguém tinha poder, é só adversário abandonado ao combate…” (TITO
BOSTRENSE. In Cat. graec. Patr. In: Cátena áurea, n. 9405. Cit Lc.4:1-13. Disponível
em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 23 fev. 2015)
(tradução nossa de texto em espanhol).

– Orígenes vê aqui uma luta entre dois reis: o diabo, que reinava sobre os pecadores e
Cristo, que reinava sobre os justos e que procura, então, seduzir a Jesus, dando-lhe uma
“alternativa” para que, de uma forma mais “simples”, pusesse fim ao reinado do diabo,
qual seja, a tomada do império do diabo através de uma entrega “pacífica” por parte do
próprio diabo, desde que houvesse uma adoração a Satanás.

Se Jesus tivesse aceitado tal oferta, reinaria sobre os homens mas de um modo que o
diabo reinaria sobre Ele, ou seja, em vez de destruir o império da morte, perpetuá-lo-ia. É
por isso que o escritor aos hebreus diz que o império da morte seria apenas aniquilado
pela morte, jamais por um acordo com o diabo (Hb.2:14).

OBS: “…São dois reis que querem reinar: o diabo, rei do pecado, sobre os pecadores e
Cristo, rei da justiça, sobre os justos. O diabo, sabendo que Cristo tinha vindo para pôr
fim a seu reino, mostra-lhe todos os reinos do mundo.

Não o reino dos medos e persas, senão seu reino. E como ele reina no mundo — isto é,
uns são governados pela fornicação, outros pela avareza — faz-lhe ver, em um
momento, isto é, na duração do tempo presente, que é o que obtém, e o põe em paralelo
com a eternidade.

Não necessitava o Salvador que Lhe mostrasse por mais tempo o estado deste mundo,
senão que apenas levantou os olhos para contemplá-lo, viu o reino do pecado e os que
eram governados pelos seus vícios.

Então o diabo lhe disse: ‘Vieste a disputar-me o império? Adora-me e toma o reino que
tenho. Mas o Senhor quer reinar, mas com a justiça, sem pecado.

Quer que as nações Lhe sejam submetidas para que sirvam à verdade. Não quer reinar
sobre os outros, de uma forma que o diabo reine sobre Ele, donde se segue: ‘Jesus lhe
respondeu: Está escrito: Adorarás ao Senhor teu Deus etc.’ ( ORÍGENES. In Lucam,
hom, 30. In: Cátena áurea, n. 9405. Cit. Lc.4:1-13. Disponível em:
http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 23 fev. 2015) (tradução
nossa de texto em espanhol).

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– O diabo continua a agir do mesmo modo. Propõe aos discípulos de Cristo uma
“trégua”, um “acordo amigável”, um “caminho mais fácil” para atingirmos os objetivos
preconizados por Deus para nós.

Não quer que “soframos” ou “enfrentemos a morte ou o sofrimento”, dizendo que


podemos conquistar aquilo que Deus quer de nós por um modo mais “palatável”, mais
“suave”.

Entretanto, aprendamos com o Senhor Jesus: não há outro caminho senão o da vontade
de Deus, ainda que seja ele mais doloroso e sofrido. Jesus, somente pela morte,
aniquilaria o império da morte, jamais através de uma concessão a Satanás.

– Diante de tal oferta, que caracteriza o que João chama de “concupiscência dos olhos”
(I Jo.2:16), pois tentava o diabo seduzir a Cristo mediante a visão de todo o poder e
glória de todos os reinos do mundo, Jesus responde, uma vez mais, com a Palavra de
Deus, dizendo que estava escrito que só ao Senhor se pode adorar e somente a Ele
servir (Lc.4:8), o que é uma citação tanto de Dt.6:13 quanto de Dt.10:20.

– “…Como o nosso Senhor Jesus triunfou sobre esta tentação. Ele deu à tentação uma
repulsa terminante, e a rejeitou com veemência (v. 8): ‘Vai-te, Satanás, não suporto a
menção disto. O que? Adorar o inimigo do Deus a quem eu vim servir? e do homem a
quem eu vim salvar?

Não, Nunca farei isto.’ Uma tentação como esta não era para ser analisada, mas
recusada imediatamente; o assunto foi liquidado com uma única palavra,’ Está escrito:
Adorarás o Senhor, teu Deus, e só a Ele servirás; e não somente isto, mas somente a
Ele adorarás; a Ele e a nenhum outro.

Portanto, Cristo não adorará a Satanás, e quando tiver os reinos do mundo entregues a
si por Seu Pai, como espera em breve receber, jamais permitirá que qualquer adoração
ao diabo continue neles.

Onde quer que chegue o Seu Evangelho, tudo o que for maligno será perfeitamente
arrancado e abolido. Cristo não fará nenhum acordo com o diabo.

O politeísmo e a idolatria deverão sucumbir, quando se levantar o reino de Cristo. Os


homens devem se converter do poder de Satanás para Deus, do culto aos demônios
para o culto ao único Deus vivo e verdadeiro.

Esta é a grande lei divina que Deus restabelecerá entre os homens e, por Sua santa
religião, reduzirá o homem à obediência:

só Deus deve ser adorado e servido; portanto, qualquer que toma qualquer criatura como
objeto de culto religioso – mesmo que seja um santo ou um anjo, ou a própria virgem
Maria – frustra diretamente o desígnio de Cristo, e cai no paganismo.…” (HENRY,
Matthew. op.cit., p. 548).

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– Fritz Rienecker traz uma outra faceta deste segundo embate entre Jesus e o diabo.
Segundo este comentarista bíblico, com sua oferta, o diabo quis que Jesus acolhesse a
“…dimensão satânica da imagem política universal do Messias (…).

O assédio sedutor de Satanás na segunda tentação, portanto, consistia em que Jesus


deveria ceder, no curso de sua obra, aos desejos messiânicos terrenos do Israel carnal.

Desse modo ele conquistaria o favor do povo e a cooperação dos líderes religiosos (os
fariseus e escribas). Então colheria um triunfo após o outro, levando, pois, à gloriosa e
esplendorosa realização e execução das promessas do AT acerca de Israel e seu
Messias. Essa era a interpretação satânica da Bíblia.…” (op.cit., p.66).

– E aqui vemos como é igualmente satânica a teologia da libertação, que tem


influenciado algumas vertentes da teologia da missão integral, que defende que a
redenção deva passar por uma esfera política, que antepõe uma dimensão terrena do
reino de Deus antes da libertação do pecado.

Jesus, bem ao contrário, mostra que, antes do estabelecimento de um reino de justiça e


paz na Terra, torna-se necessária a libertação do pecado, a conversão a Deus e à
adoração exclusiva ao Senhor.

III – O TERCEIRO EMBATE ENTRE JESUS E O DIABO

– Diante de mais esta resistência de Jesus a suas sugestões, o diabo, então, novamente
demonstrando que a humanidade é substancialmente inferior à natureza angelical, leva
Jesus para Jerusalém e o põe sobre o pináculo do templo.

– O pináculo do templo era o local mais alto do templo, havendo discussão que lugar
seria este, entendendo alguns que seria o local mencionado por Flávio Josefo como
sendo um outeiro pedregoso muito áspero, do lado do oriente do templo, onde Salomão
havia construído um muro, que foi reconstruído e ampliado por Herodes.

Outros acham que era o o topo do pórtico de Salomão, um dos grandes pórticos que se
puseram nos quatro lados do templo, precisamente o pórtico oriental; outros, ainda,
acham que era o telhado do templo e, ainda outros, o local mais alto do prédio em que
se reunia o Sinédrio, construído no templo, no pátio dos sacerdotes.

OBS: Eis o trecho em que Josefo menciona este lugar: “…Havia um outeiro pedregoso
muito áspero e inclinado, mas que pendia em descida, mais suave, na direção da cidade,
do lado do oriente e Salomão foi o primeiro que, pela ordem recebida de Deus, rodeou o
seu vértice de muralhas.

Herodes fez rodear por outro muro todo o sopé desse montículo, abaixo do qual, do lado
do sul, há um profundo vale.

Esse muro, construído com grandes pedras ligas com chumbo, via até a extremidade em
baixo do montículo e o rodeia por inteiro. É de forma quadrangular, tão alto e tão forte,
que não se poderia contemplá-lo sem admiração.

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As pedras de tamanho extraordinário, fazem frente para fora e estão ligadas entre si, por
dentro, com ferro, para poderem resistir a todas as injúrias do tempo. Depois que este
muro foi erguido, tão alto quanto o vértice do montículo, encheu-se todo o vazio que
havia dentro dele.

Formou-se assim uma plataforma, cujo perímetro era de quatro estádios, pois cada uma
das frentes tinha um estádio de comprimento e havia um grande pórtico, colocado no
meio dos dois ângulos.…” (JOSEFO, Flávio. Antiguidades Judaicas XV, 14. In: História
dos hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v.2, p.107).

– Após ter agido nos apetites carnais e nas exigências do mundo, o diabo tenta agora
Jesus na “soberba da vida”, sua terceira arma, o terceiro elemento que caracteriza o
mundo espiritual governado por Satanás, como o declara o apóstolo João (I Jo.2:16).

– Não é à toa que o diabo põe Jesus na área mais elevada do templo. “…o inimigo O
levou sobre o pináculo do templo de Jerusalém, a obra mais importante para o povo
judeu, o artefato mais sagrado que sobrou do povo hebreu, algo que foi devastado e
depois novamente erguido sobre muito sangue, dor e sofrimento (…)e eu creio que
aquilo mexeu com meu Cristo porque Ele estava sobre tudo aquilo que ele lutou e
inspirou e deu forças para o seu povo guerrear e lutar para ser construído e de repente
Ele é tentado a ficar bem em cima dele e ouve uma voz para que se atire lá de cima para
que Deus envie anjos para o salvar…”(MARTINS, Danilo. No pináculo do templo.
Disponível em: http://www.ovelhamuda.com.br/news/no-pinaculo-do-templo/ Acesso em
23 fev. 2015).

– “…Ele [Satanás] convidava Jesus para o ‘Pináculo do Templo’, para aquele lugar de
onde o ‘Querubim da Guarda’ foi derrubado, tornando-se Diabo e Satanás.
Figurativamente, Satanás tenta colocar Jesus acima do Pai, no Pináculo de Sua
Habitação!

Essa é a tentação de todos aqueles que desejam se afirmar acima de sua vocação e que
desejam se tornar independentes de Deus no ‘lugar sagrado’.

E pior: é a tentação dos que confundem Deus com o ‘lugar sagrado’, que rejeitam sua
situação de criaturas, que pensam que possuem autossuficiência para cumprir sua
própria missão e que se enganam pensando-se detentores da chave da vida, ou do
significado pessoal de suas próprias histórias — baseados em suas próprias virtudes —,
sendo que, na maioria das vezes, tomam para si também a prerrogativa de juízes na
Terra.…” (GONÇALVES, Juber Donizete. A tentação no pináculo do Templo. Disponível
em: http://juberdonizete.blogspot.com.br/2009/09/tentacao-do-pinaculo-do-templo.html
Acesso em 23 fev. 2015).

– Vemos aqui como o diabo, da mesma forma que operara com Eva, tenta fazer com que
Jesus Se considere igual a Deus, desprezando a Sua humanidade e, assim, querendo
agir independentemente da vontade tanto do Pai quanto do Espírito Santo.

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É posto num lugar estratégico, em que Se sentisse como Deus, para, deste modo,
usurpar Sua deidade e negar a humilhação a que havia Se submetido ao encarnar.

– “…A terceira tentação nos revela um terceiro lado da “fé de Jesus Cristo”, sendo
também aqui a fé vista como genitivo subjetivo, i. é, como traço essencial da pessoa de
Jesus.

Essa última tentação no deserto constitui um estímulo para a exacerbação ou


agudização da essência da fé. Por se tratar, nessa tentação, da exacerbação da fé, o
diabo recorre pessoalmente à palavra de Deus, citando o Sl 91.11s. ‘Está escrito:

Aos seus anjos ordenará por tua causa que te guardem, e eles te carregarão nas mãos,
para não tropeçares nalguma pedra.’ O diabo havia notado que Jesus desembainhara
duas vezes uma palavra da Escritura como espada do Espírito.

Então o diabo tenta também utilizar a mesma arma. Sua arguição tem como base uma
conclusão a fortiori (rumo ao elemento mais forte): ‘Se Deus é capaz de proteger dessa
maneira o justo comum, quanto mais ele o fará contigo, que és seu Filho!’

É significativo que Satanás, nesta terceira tentação, cite uma grande palavra de fé da
Escritura, do Sl 91, o salmo de fé do AT, a fim de desviar o Senhor.…” (RIENECKER,
Fritz. op.cit., p.67) (destaques originais).

– Uma vez levando Jesus até o pináculo do templo, um local em que poderia agir
psicologicamente sobre o Senhor, fazendo com que Ele Se sentisse superior, o diabo
lança mão das Escrituras e, citando o Salmo 91, manda que Jesus Se lançasse dali
abaixo, pois, certamente, os anjos O ajudariam, como estava escrito.

– Vemos aqui como a própria Bíblia Sagrada pode ser utilizada para nos desviar dos
caminhos do Senhor. Basta que seja citada fora do contexto ou de modo distorcido e, se
nós acolhermos isto, seremos vencidos por Satanás.

Tendo sido o diabo duas vezes resistido pelas Escrituras, ele próprio faz uso delas, ainda
que de modo indevido e errôneo, para tentar enganar o Senhor.

– Assim, continua o diabo a proceder com os discípulos de Cristo. Quando verifica que
os cristãos têm estudado a Palavra de Deus, dominam-na, o inimigo imediatamente traz
falsos ensinos, falsas doutrinas para tentar fazer tropeçar o servo de Deus.

Daí porque ser importantíssimo absolutamente necessário que sempre estejamos a


estudar a Palavra do Senhor, a conhecê-la, para que não sejamos levados por qualquer
vento de doutrina (Ef.4:13,14).

– O diabo fez uma citação deliberadamente distorcida do Sl.91:11, pois ali o salmista diz
que os anjos guardariam o Senhor em todos os Seus caminhos, ou seja, haveria
proteção da parte de Deus enquanto Cristo andasse nos caminhos de Deus.

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Entretanto, o caminho proposto para Jesus não era o de Deus e, sim, o do diabo. Fora o
diabo que levara Jesus até o pináculo do templo e se Jesus Se lançasse dali para
abaixo, estaria a trilhar um caminho traçado pelo inimigo e, deste modo, jamais os anjos
O acudiriam.

– Na verdade, como bem diz Matthew Henry, “…Ele[Satanás] queria que Cristo buscasse
uma nova prova de que era o Filho de Deus, como se a prova que o Seu Pai havia lhe
dado, pela voz do céu, e a descida do Espírito sobre Ele não fossem suficientes.

Isto seria uma desonra para Deus, como se Ele não tivesse escolhido o meio mais
adequado de lhe dar esta garantia; e teria sido uma falta de confiança de que o Espírito
habitava nele, o que era a maior prova e a prova mais convincente de que o Senhor
Jesus era o Filho de Deus, Hebreus 1.8,9.

Ele queria que Cristo buscasse um novo método de proclamar e anunciar isto ao
mundo.…” (op.cit., p.548).

– A “heresia” nada mais é do que isto: uma escolha feita pelos homens, que aceitam a
sugestão maligna, para um outro meio, uma outra forma de servir a Deus que não a
indicada pelo Senhor em Sua Palavra. O diabo queria que Jesus fizesse a Sua própria
escolha para Se mostrar como o Messias e não a forma como havia sido determinada
pelo Pai.

– Jesus, então, mais uma vez, recorre à Palavra de Deus e mostra ao diabo que não se
deveria tentar a Deus, em mais uma citação das Escrituras, desta feita com Dt.6:16.

Ao contrário do que havia feito tanto o povo de Israel quanto Moisés e Arão em Massá e
Meribá (Ex.17:7; Nm.20:7-13) e, por isso, tinham perdido a oportunidade de entrar na
Terra Prometida (Nm.20:24; 27:14), Jesus não contende contra Deus e, assim, sai
vitorioso também deste terceiro embate contra o diabo.

– Ante esta terceira vitória, o diabo se ausenta de Jesus por algum tempo (Lc.4:13) e,
com esta expressão, Lucas quer mostrar que, apesar da vitória alcançada pelo último
Adão, não se tratava de uma vitória definitiva, pois, como homem, Jesus haveria de ser
tentado a todo tempo até o final de Sua existência terrena. Por isso, o escritor aos
hebreus irá dizer que Jesus em tudo foi tentado, mas sem pecado (Hb.4:15).

– Este “algum tempo” não é explicado por Lucas, mas entendemos que tenha sido o
tempo em que Jesus foi servido pelos anjos, como registra Mateus (Mt.4:11). Este
serviço angelical foi necessário porque, como diz Charles Haddon Spurgeon, “…como
Homem, Ele estava especialmente exausto.

Ele estava faminto, como nos é dito, e isto prova a exaustão…” (Satanás partindo, anjos
servindo. Sermão pregado no Tabernáculo Metropolitano em Newington na noite de
quinta-feira, dia 15 de agosto de 1889, p.4. Disponível em:

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http://www.spurgeongems.org/vols37-39/chs2326.pdf Acesso em 23 fev. 2015)
(destaques originais) (tradução nossa de texto em inglês). Isto nos prova que Deus não
permite que sejamos tentados além de nossa capacidade de suporte (I Co.10:13).

– No entanto, não se tratava ainda da vitória final. Jesus, em Sua humanidade,


continuaria a ser tentado pelo inimigo ao longo de Seu ministério e foi só por um instante
que isto cessou, para que Jesus, restabelecido em Sua humanidade, pudesse prosseguir
a Sua jornada.

– “…Amados irmãos, temos muito que aprender da tentação de Nosso Senhor. Ele foi
tentando em todos os pontos, como nós. Se vocês estudarem a tentação de Cristo, não
serão ignorantes dos ardis de Satanás.

Se virem como Ele derrotou o inimigo, aprenderão que armas usar contra este grande
adversário. Se virem as conquistas de Nosso Senhor durante toda a batalha, aprenderão
que, mantendo-se perto d’Ele, serão mais do que vencedores por Aquele que os amou.
…( SPURGEON, Charles Haddon. (Satanás partindo, anjos servindo. Sermão pregado
no Tabernáculo Metropolitano em Newington na noite de quinta-feira, dia 15 de agosto de
1889, p.1. Disponível em: http://www.spurgeongems.org/vols37-39/chs2326.pdf Acesso
em 23 fev. 2015) (tradução nossa de texto em inglês).

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco

Site: http://www.portalebd.org.br/files/2T2015_L4_caramuru.pdf

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