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Este documento foi gerado em 14/03/2022 às 09h:49min.

INFORMAÇÃO CAGE/DEO 08/2022

Processo: 21/1244-0011441-9 (para visualização do documento original, clique no nº do processo)

Origem: Departamento Estadual de Trânsito (Detran/RS)

Assunto: ISSQN. Retenção. Profissionais Credenciados.

Data: 04 de março de 2022.

Trata o presente expediente de questionamento oriundo do Detran/RS acerca da necessidade de efetuar a retenção do
Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) incidente sobre o serviço prestado pelos profissionais autônomos médicos, psicólogos
e intérpretes de LIBRAS credenciados pela Autarquia.

A solicitação de esclarecimento sobre como proceder na situação em epígrafe teve origem na Folha de Informação nº
145/2021 (páginas 273 a 275), elaborada pela Coordenadoria de Contabilidade da Divisão Financeira e Contábil nos seguintes termos:

"Diante do exposto, sugerimos que o tema seja direcionado à SEFAZ/RS – CAGE/DEO para análise e orientações
sobre como o Detran/RS deve proceder na substituição tributária de ISSQN e na comprovação de regularidade
cadastral dos profissionais autônomos Médicos, Psicólogos e Intérpretes de LIBRAS credenciados (do município
de Porto Alegre-RS e também de outros municípios)."

Em seguida, o feito foi remetido à Assessoria Jurídica da Autarquia, que se manifestou por meio da Informação nº
ASSEJUR/0138/2021 (páginas 285 a 297). Tendo por base a legislação de caráter nacional que rege o assunto e as normas locais do
município de Porto Alegre, a ASSEJUR opinou pela desnecessidade de que seja efetuada a retenção do ISSQN nos serviços prestados na
localidade. Argumentam, ademais, que, de acordo com a legislação local, é necessária a comprovação da regularidade cadastral junto à
Fazenda Municipal porto-alegrense dos profissionais credenciados.

Por fim, a Coordenadora Setorial do Sistema de Advocacia do Estado junto ao Detran/RS, conforme documentado nas
páginas 307 e 308, acolheu a manifestação da Assessoria Jurídica, recomendando que o processo fosse direcionado à Contadoria e Auditoria-
Geral do Estado para avaliação da regularidade e legalidade das sugestões apresentadas.

É o breve relatório.

Inicialmente, é preciso destacar que a norma de caráter nacional que estabelece as principais diretrizes acerca do ISSQN é
a Lei Complementar nº 116/2003, que, em seu art. 6º, caput, prevê o seguinte:

"Art. 6º Os Municípios e o Distrito Federal, mediante lei, poderão atribuir de modo expresso a responsabilidade
pelo crédito tributário a terceira pessoa, vinculada ao fato gerador da respectiva obrigação, excluindo a
responsabilidade do contribuinte ou atribuindo-a a este em caráter supletivo do cumprimento total ou parcial da
referida obrigação, inclusive no que se refere à multa e aos acréscimos legais."

De acordo com o mandamento legal, cada município da Federação, no exercício de sua competência tributária, pode
estabelecer que ocorra a substituição tributária em relação a determinados serviços, ou seja, os entes municipais podem prever em suas
respectivas legislações que o tomador dos serviços seja o responsável por efetuar a retenção do imposto, recolhendo-o posteriormente aos
cofres públicos.

Além de estabelecer a regra geral acima, o § 2º do mesmo dispositivo previu a obrigatoriedade de substituição tributária
em relação a determinados serviços, não deixando a definição da responsabilidade tributária, apenas em tais casos, a critério do legislador
municipal, in verbis:

"§ 2º Sem prejuízo do disposto no caput e no § 1o deste artigo, são responsáveis:

I – o tomador ou intermediário de serviço proveniente do exterior do País ou cuja prestação se tenha iniciado no
exterior do País;

II – a pessoa jurídica, ainda que imune ou isenta, tomadora ou intermediária dos serviços descritos nos
subitens 3.05, 7.02, 7.04, 7.05, 7.09, 7.10, 7.12, 7.16, 7.17, 7.19, 11.02, 17.05 e 17.10 da lista anexa a esta
Lei Complementar, exceto na hipótese dos serviços do subitem 11.05, relacionados ao monitoramento e
rastreamento a distância, em qualquer via ou local, de veículos, cargas, pessoas e semoventes em circulação ou
movimento, realizados por meio de telefonia móvel, transmissão de satélites, rádio ou qualquer outro meio,
inclusive pelas empresas de Tecnologia da Informação Veicular, independentemente de o prestador de serviços
ser proprietário ou não da infraestrutura de telecomunicações que utiliza;

III - a pessoa jurídica tomadora ou intermediária de serviços, ainda que imune ou isenta, na hipótese prevista no
§ 4o do art. 3o desta Lei Complementar;

IV - as pessoas referidas nos incisos II ou III do § 9º do art. 3º desta Lei Complementar, pelo imposto devido
pelas pessoas a que se refere o inciso I do mesmo parágrafo, em decorrência dos serviços prestados na forma do
subitem 15.01 da lista de serviços anexa a esta Lei Complementar."

Da análise da lista acima, observa-se que não estão incluídos os serviços prestados por médicos, psicólogos e intérpretes
de LIBRAS. Assim, em tese, haveria margem para que cada município definisse se o tomador dos referidos serviços seria ou não responsável
pela retenção e recolhimento do ISSQN.

Conforme detalhado na manifestação da Assessoria Jurídica do Detran/RS, a legislação municipal de Porto Alegre, por
exemplo, dispensa a retenção do ISSQN quando se trata de serviço prestado por profissional autônomo, nos termos do art. 41, I, do Decreto
Municipal nº 15.416/2006.

Nesse ponto, é importante destacar que a razão de tal dispensa por parte do ente municipal não é meramente uma opção
do legislador local, mas deve-se à observância de regra nacional que determina que o ISSQN dos profissionais autônomos está sujeito a uma
modalidade especial de tributação, conhecida como "ISS-Fixo". Nessa sistemática, a cobrança não é feita com base no preço do serviço a cada
operação, mas mediante pagamento de um valor determinado pelo município tributante em periodicidade também por ele especificada. Essa é
a interpretação que decorre da dicção do art. 9º, §1º, do Decreto-Lei nº 406/1968, in verbis:

"Art 9º A base de cálculo do impôsto é o preço do serviço.

§1º Quando se tratar de prestação de serv iços sob a form a de trabalho pessoal do próprio contribuinte,
o imposto será calculado, por meio de alíquotas fixas ou variáveis, em função da natureza do serviço ou de
outros fatores pertinentes, nestes não compreendida a importância paga a título de remuneração do próprio
trabalho. (grifou-se)"

Em que pese tratar-se de norma editada no ano de 1968, o dispositivo acima, segundo entendimento sumulado do
Supremo Tribunal Federal, foi recepcionado pela Constituição de 1988 e permanece em vigor mesmo após o advento da citada Lei
Complementar nº 116/2003, conforme a Súmula nº 663, aprovada em 24 de setembro de 2003, cujo enunciado prevê que "os §§ 1º e 3º do
art. 9º do Dl. 406/68 foram recebidos pela Constituição."

Nesse sentido, como o recolhimento do tributo não é feito a cada prestação de serviço, mas periodicamente, a eventual
retenção de tributo derivada de substituição tributária revelar-se-ia incompatível com a modalidade de tributação privilegiada definida pela
legislação nacional acerca do tema. É por tal razão que, sempre que o próprio contribuinte prestar o trabalho de forma pessoal, as retenções
não devem ser feitas, sob pena de violação do disposto no Decreto-Lei nº 406/1968.

Pelo exposto, recomendamos que o Detran/RS não efetue retenção tributária de ISSQN por ocasião do pagamento do
serviço prestado pelos profissionais autônomos médicos, psicólogos e intérpretes de LIBRAS credenciados pela Autarquia.

Em relação à comprovação de regularidade cadastral junto aos fiscos municipais, é necessário observar a especificidade da
legislação de cada ente municipal, o que impossibilita a formulação de uma orientação geral sobre a questão. Não obstante, destacamos que,
nos termos do exposto anteriormente, as normas de caráter nacional não condicionam o acesso ao regime tributário privilegiado a qualquer
critério relacionado à higidez cadastral junto aos municípios.
Nesse ponto, em que pese o anteriormente exposto, visando a conferir maior segurança jurídica aos atos administrativos
da Autarquia, sugerimos que o Detran/RS exija periodicamente dos seus credenciados certidão de regularidade junto aos respectivos fiscos
municipais.

Por fim, no que tange à existência de procedimentos padronizados para toda a Administração Pública, destacamos que a
presente situação não possui previsão nas normas editadas pela CAGE, devendo ser observada a legislação anteriormente exposta.

É a Informação.

À consideração superior.

CAGE/DEO, em 08 de março de 2022.

HUGO ALBERTO SIMÕES PENHA,


Auditor do Estado.

De acordo. À deliberação do Senhor Contador e Auditor-Geral do Estado.

CAGE/DEO, em 08/03/2022.

LUIZ FELIPE CORREA NOÉ,


Chefe da Divisão de Estudos e Orientação.

De acordo. Retorne o expediente ao Departamento Estadual de Trânsito - Detran/RS.

ROGERIO DA SILVA MEIRA,


Contador e Auditor-Geral do Estado.

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