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A EMBALAGEM, A ARMAZENAGEM E A LOGÍSTICA

Introdução
A embalagem se tornou item fundamental da vida de qualquer pessoa e principalmente das
atividades de qualquer empresa.
O desenvolvimento da embalagem, acompanhou o desenvolvimento humano, da necessidade
inicial do homem de armazenar água e alimentos em algum recipiente, visando à sobrevivência
própria, até o inicio das atividades comerciais, e disseminação do uso das embalagens.
Atualmente estão presentes em todos os produtos, com formas variadas, e funções variadas,
sempre com a evolução das tecnologias utilizadas, que as tornam cada vez mais eficientes e
estratégicas. Para a logística, a embalagem é item de fundamental importância, possui
relacionamento em todas as áreas, e é essencial para atingir o objetivo logístico de
disponibilizar as mercadorias no tempo certo, nas condições adequadas ao menor custo
possível, principalmente na distribuição internacional. Para se ter uma idéia da
representatividade da embalagem na economia, segundo Moura e Banzato (2000), os gastos
com embalagem representam aproximadamente 2% do PNB. E o Brasil perde entre 10% e
15% da sua receita de exportação por causa de embalagens deficientes.

Estudos realizados – GELOG-UFSC


GRUPO DE ESTUDOS LOGÍSTICOS
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
Embalagem : Funções e Valores na Logística
Gabriela Juppa Pedelhes, gabijuppa@gmail.com

Conceito e Classificação
Dependendo do foco em que está sendo analisado, o conceito de embalagem pode variar.
Para um profissional da área de distribuição, por exemplo, a embalagem pode ser classificada
como uma forma de proteger o produto durante sua movimentação. Enquanto que para um
profissional de marketing a embalagem é muito mais uma forma de apresentar o produto,
visando atrair os clientes e aumentar as vendas, do que uma forma de protegê-lo. Um conceito
mais abrangente proposto por Moura e Banzato (2000) faz referência à embalagem como:
“Conjunto de artes, ciências e técnicas utilizadas na preparação das mercadorias, com o
objetivo de criar as melhores condições para seu transporte, armazenagem, distribuição, venda
e consumo, ou alternativamente, um meio de assegurar a entrega de um produto numa
condição razoável ao menor custo global”

Neste conceito os autores tentam abranger tudo que envolve a concepção da embalagem: arte
(design, cores, formatos); técnicas (de produção); e ciências (novos materiais e tecnologias).
Bem como suas funções: a de proteção da mercadoria, durante as atividades de logística, e a
de exposição ao consumidor, como meio de aumentar as vendas. Sem deixar de considerar os
custos envolvidos na produção e no transporte de mercadorias. Quanto à classificação, a mais
referenciada é a que classifica de acordo com as funções em primária, secundária, terciária,
quartenária e de quinto nível.
a) Primária: é a embalagem que está em contato com o produto, que o contém. Exemplo: vidro
de pepino, caixa de leite, lata de leite condensado.
b) Secundária: é aquele que protege a embalagem primária. Exemplo: o fundo de papelão, com
unidades de caixa de leite envolvidas num plástico.É geralmente a unidade de venda no varejo.
c) Terciária: São as caixas, de madeira, papelão, plástico.
d) Quaternária: São embalagens que facilitam a movimentação e a armazenagem, qualquer
tipo de contenedor. Exemplo: Contêiner
e) Embalagem de Quinto nível: é a embalagem conteinerizada, ou embalagens especiais para
envio a longa distância.

Outra classificação proposta por Bowershox e Closs classifica as embalagens em dois tipos:
embalagem para o consumidor, com ênfase em marketing, e embalagem industrial, com ênfase
na logística.

Funções da Embalagem
As principais funções da embalagem são: conteção, proteção e comunicação. A conteção
refere-se à função de conter o produto, de servir como receptáculo, por exemplo, quando
ocorre do produto vazar da embalagem, esta função não foi cumprida. O grau de eficiência da
embalagem nesta função depende das características do produto. Uma mercadoria perigosa,
inflamável, deve sempre ter 100% de eficiência, realizando o investimento necessário para tal.
Enquanto que um fabricante de um material de menor valor, como sal, por exemplo, pode
permiti-se utilizar uma embalagem com menor grau de eficiência nesta função, o mesmo ocorre
com relação à função de proteção.
A função de proteção, possibilita o manuseio do produto até o cunsumo final, sem que ocorra
danos na embalagem, e/ou produto. Também com relação a esta função deve-se estabelecer o
grau desejado de proteção ao produto. Alguns dos principais riscos aos quais a embalagem
está submetida são: choques, aceleração, temperatura, vibração, compressão, oxidação,
perfuração, esmagamento, entre outros.

E a função de comunicação é a que permite levar a informação, utilizando diversas


ferramentas, como símbolos, impressões, cores, RFID1. Nas embalagens primárias, esta
função ocorre diretamente com os consumidores finais, trazendo informações sobre a marca e
produto. E nas embalagens ditas industriais, relacionadas à logística, a comunicação ocorre na
medida em que impressões de códigos de barra nas embalagens, marcações, cores ou
símbolos permitam a localização e identificação de forma facilitada nos processos logísticos de
armazenagem, estoque, separação de pedidos, e transporte.

Planejamento da Embalagem
A interação da embalagem com as operações logísticas, deve iniciar-se no planejamento da
embalagem, pois nesta etapa são definidos aspectos fundamentais, que irão influenciar todo o
processo, como: dimensões, tipo de material, design, custo e padronização das embalagens.
Estes aspectos são fundamentais para o planejamento e eficiência no armazenamento e
transporte dos produtos, caso a embalagem não seja planejada de acordo com os recursos
existentes (máquinas movimentação, espaço físico, modal transporte), será necessário
adequar todos os recursos à embalagem. Há um conflito no planejamento da embalagem, por
interferir em diversas áreas da empresa, e ter grande representatividade nos custos. Neste
sentido, Moura e Banzato (2000) estabelecem cinco critérios básicos para desenvolver uma
embalagem: função, proteção, aparência, custo e disponibilidade. Tem-se prioridades
diferentes de acordo com o tipo de produto que será acondicionado, e do tipo de embalagem,
se para consumo ou industrial (transporte). Entretanto para ambas é essencial que se verifique,
nesta etapa do planejamento, quais serão as condições de manuseio, armazenagem e de
transporte a que serão submetidas.

A falta de planejamento, ou um planejamento deficiente podem levar a ocorrência de graves


problemas, desde o aumento do custo por um superdimensionamento da embalagem, que
torna o transporte e armazenagem mais cara, até à deterioração da embalagem e/ou produto. 1
RFID – Radiofrequency Identification Data ou Identificação via radiofreqüência.

Um exemplo de como cada detalhe no desenvolvimento das embalagens, se traduz em


grandes impactos nos números da empresa é o caso da Nestlé Brasil. Os maiores ganhos da
companhia hoje, segundo reportagem publicada na Revista Exame, não vêm das fábricas, mas
de mudanças no design das embalagens. No ano passado, a empresa economizou 6,3 milhões
de reais com adaptações nas embalagens. As novas curvas na lata de leite Moça, por exemplo,
tem além da intenção de chamar a atenção doconsumidor, a de reduzir custos.

Padronização
A padronização das embalagens geralmente ocorre nas secundárias e terciárias, que protegem
e acondicionam as embalagens primárias. Segundo Moura & Banzato (2001) ao se falar em
padronização de embalagens, na maioria das vezes refere-se à padronização das dimensões,
e não do material. Isto porque são estas as características que influenciam mais a capacidade
do equipamento de movimentação, e não o tipo de material utilizado na fabricação. A redução
da variabilidade de embalagens facilita o armazenamento, manuseio e movimentação dos
materiais, reduzindo o tempo de realização destas tarefas, por proporcionar uma padronização
destes métodos, dos equipamentos de movimentação, e de armazenamento. Além da redução
do tempo, outra vantagem da padronização é a redução de custos. Um exemplo da redução de
custos pela padronização dos materiais é o caso apresentado na Revista Tecnologística, do
Grupo Behr Brasil, pertencente do segmento de autopeças, produzem radiadores e ar
condicionado, enviam seus produtos para vários paises e tem como principal cliente suas
próprias fábricas. O grupo sentiu a necessidade de padronizar seus processos logísticos,
especificamente a embalagem, devido a alta necessidade de movimentação e transporte.
Antes utilizavam embalagens descartáveis, entretanto estas ocasionavam grande volume de
descarte, custos com mão-de-obra, avarias durante o transporte e aarmazenagem, má
utilização do espaço físico no estoque e centros de distribuição. A solução foi à contratação de
um agente especializado, este agente é proprietário das embalagens e responsável por toda a
gestão destas, aluguel, recolhimento dos equipamentos nos pontos finais de entrega, limpeza,
reparos, e manutenção. Após a adoção deste sistema, com um modelo único de embalagem, o
contêiner plástico desmontável, a empresa obteve os seguintes resultados: redução de 15%
mãode-obra, custo embalagem caiu 20% no fluxo Alemanha e Brasil e 5% no fluxo inverso,
aumentou sua capacidade de armazenamento em 15%, permitiu um empilhamento
maior e redução do abastecimento (kanban).

A Embalagem e a Logística
A embalagem tem interação com todas as funções da logística, armazenamento, manuseio,
movimentação de materiais, e transporte. Desta interação com as funções
logísticas, pode-se conseguir redução de custos, de tempo na entrega final do produto,
redução de perdas, e aumento do nível de serviço ao cliente. Na movimentação de materiais,
dentro dos armazéns, e na troca de modal de transporte, é onde a embalagem sofre os
maiores impactos, que podem causar danos a embalagem primária, e produto, e onde os
impactos da falta de planejamento podem ser percebidos, seja pelo alto número de perdas,
e/ou adaptação dos equipamentos de transporte, seja pelo aumento do custo decorrente
destas perdas, e impossibilidade de padronização dos métodos e equipamentos de
movimentação, que acabam por aumentar a necessidade de mão-de-obra e reduzir a
eficiência. Neste sentido Moura & Banzato (2000) citam alguns pontos a serem analisados: até
que ponto a embalagem para Matéria-Prima e para produtos acabados facilita as operações de
recebimento, descarga, inspeção, movimentação; até que ponto as unidades de movimentação
como caixa, paletes e contenedores facilitam a estocagem, e até que ponto a embalagem
facilita o descarte e a reciclagem?

A embalagem proporciona a proteção necessária ao produto durante o processo de


armazenagem, assegurando sua integridade, pode proporcionar melhor utilização do espaço
nos armazéns, e facilitar a identificação e separação dos produtos, evitando retrabalho com
correções. Na definição do tipo de transporte deve-se verificar o ambiente ao qual os produtos
serão submetidos, cada modal tem características próprias, que exigem cuidados específicos.
Os maiores riscos durante o processo de transporte são: alterações clima, impactos com
aceleração, vibrações, choque, humidade. Além das condições é necessário conhecer as
limitações de cada modal quanto a peso e dimensões.

Conclusões
O objetivo deste trabalho foi de apresentar a embalagem como integrante importante do
sistema logístico, demonstrar a sua influência nas diversas funções da logística, na eficiência
na prestação de serviços logísticos, na produtividade, e nos custos. A embalagem é
responsável principalmente por proteger seu produto até o consumo final, qualquer agregação
de valor será totalmente perdida, se a embalagem não for capaz de garantir sua função de
proteção. Muitas vantagens podem ser exploradas a partir de uma boa gestão de embalagens,
seja por redução de tempo, aumento de produtividade, eficiência na utilização dos
equipamentos e espaços, eficiência no transporte e manuseio, e na comunicação interna e
externa. Os profissionais de logística e embalagem, entendendo a importância desta integração
com a logística, podem utilizar todos os benefícios de um planejamento adequado deste
recurso.

Bibliografia

MOURA & BANZATO Estudos realizados – GELOG-UFSC


GRUPO DE ESTUDOS LOGÍSTICOS
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
BOWERSOX Donald J.; CLOSS David J. LOGÍSTICA EMPRESARIAL: O processo de
Integração da
Cadeia de Suprimento. Atlas, São Paulo, 2001.
MOURA, Reinaldo A.; BANZATO José Maurício. Embalagem Unitização & Conteinerização.
IMAM,

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