quatro anos, o nível de ocupação de Mondragón cresceu 55%. Ela é o mais completo exemplo de uma economia solidária que não é intersticial, mas possuidora de sua própria dinâmica. Ao con- trário das cooperativas de produção na França, na Grã-Bretanha e também no Brasil, que surgem majoritariamente da quebra de empresas capitalistas, o agrupamento cooperativo de Mondragón surge de um processo autônomo de acumulação, que se inicia na comunidade católica de Mondragón e passa a se alimentar das sobras reinvestidas pelas cooperativas e do financiamento pela Caja Laboral Popular, a qual torna o cooperativismo desta região da Espanha efetivamente independente da intermediação financeira capitalista. Os dados disponíveis indicam que a mcc está em constante processo de transformação e que a prática autogestionária se encontra sob pressões que se originam do gigantismo e do bu- rocratismo, que se manifestam cada vez mais no funcionamento do grupo. Não obstante, a cultura da economia solidária persiste e possivelmente se enriquece em Mondragón, que se tornou paradigma para cooperadores e estudiosos do mundo inteiro. O exemplo de Mondragón vem inspirando outras iniciativas em outras partes da Espanha e nos Estados Unidos.
8. Clubes de troca
Os clubes de troca são uma inovação recente na economia soli-
dária. Eles foram inventados mais ou menos ao mesmo tempo no Canadá, na ilha de Vancouver, e na Argentina, em Bernal, em meados da década de 1980. São, em ambos os casos, respostas ao desemprego e à queda da atividade econômica provocada por recessões. Os clubes de troca reúnem pessoas desocupadas que têm possibilidades de oferecer bens ou serviços à venda e
precisariam comprar outros bens e serviços, mas não podem
fazê-lo porque para poder comprar têm antes de vender e no seu meio não há quem tenha dinheiro para poder comprar sem ter vendido antes. Em outras palavras, a falta de dinheiro inibe a divisão social do trabalho. Estas situações são muito comuns em localidades atingidas por grande perda de empregos. O clube de troca resolve o impasse pela criação de uma moeda própria, que recebe um nome que em geral exprime a ideolo- gia do clube: green dollar, real solidário, hora de trabalho etc. O clube escolhe democraticamente – um voto por cabeça –, determina a taxa de câmbio de sua moeda com a do país, o valor total da emissão de sua moeda e sua repartição por igual entre todos os membros. Com esta moeda local os membros do clube começam a comprar bens e serviços uns dos outros. Para facilitar o intercâmbio, os clubes promovem reuniões e feiras de troca periodicamente, em que cada membro se apresenta aos demais, descreve o que tem para vender e o que precisa comprar. Ao fim das apresentações, os membros se encontram e efetuam as trocas, usando a moeda do clube como meio de pagamento. Também se recorre a jornais im- pressos e eletrônicos para divulgar as ofertas e as demandas entre os membros. O clube de troca gera assim um mercado que só havia ante- riormente em potencial. Economicamente, há vantagens para todos: os que estavam parados passam a trabalhar e a ganhar, os que estavam carentes satisfazem necessidades. Há, além destas, vantagens culturais que todas as formas de economia solidária proporcionam. Pessoas há tempo sem trabalho se isolam socialmente, entram em crise familiar e pessoal. O clube de troca favorece novos contatos, o início de novas amizades, traz oportunidades de trocas não-econômicas de afetos, favores, gentilezas. Em sua dinâmica, o clube atrai
novos membros e permite que vários se associem em outros
empreendimentos solidários, tais como cooperativas de pro- dução, de crédito, de compras e vendas. Todas as transações do clube de troca são registradas por sua direção e são divulgadas aos membros periodicamente, o que dá total transparência à vida do clube. Pessoas desejosas de com- prar serviços de alta responsabilidade, como cuidar de bebês ou de pessoas doentes, podem se informar com outros membros que já os adquiriram quanto aos diferentes provedores. A dire- ção do clube pode detectar membros que só compram mas não vendem, ou vice-versa, o que lhe permite intervir para abrir estes pontos de estrangulamento da circulação do dinheiro do clube. Ela pode, por exemplo, comprar dos que nada vendem serviços para o próprio clube ou sugerir a eles que passem a oferecer bens ou serviços que têm mais demanda. Quando o clube cresce e se torna economicamente significativo, comer- ciantes das imediações tendem a se associar, aceitando a moeda do clube e usando-a para assalariar eventualmente membros desocupados. Desse modo, cresce o nível de ocupação e se enriquece a vida comunitária. Há hoje clubes de troca na América do Norte, na Europa Ocidental, na Oceania (nos países de língua inglesa são chamados de lets (Local Exchange Trade System – sistema local de intercâmbio) e na América Latina, em particular na Argentina, onde eles atingiram dimensões inéditas. Calcula-se que mais de meio milhão de argentinos estão em clubes de troca, que se organizaram em rede, dentro da qual circulam as moedas dos clubes, uns aceitando a moeda dos outros. A grande expansão dos clubes de troca na Argentina se expli- ca pela peculiaridade do sistema monetário do país, que só permite a emissão de pesos (a moeda oficial) se houver a entrada no país de dólares. Como estes se tornaram arredios,
a Argentina está em recessão desde 1998, com sua economia
literalmente estrangulada pela falta de meios de pagamento. Num ambiente como este, o papel econômico dos clubes de troca se torna crucial, pois suas moedas locais suprem a falta da oficial.