Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Sollo
Todos os direitos reservados. Qualquer
semelhança com fatos é mera coincidência.
Copyright© J.M. Sollo 2020
DIAS ATUAIS
E sempre estive
Sem confronto
(Salt - Tinashe)
ra impossível que ele ainda mexesse comigo
E
daquele jeito. Uma coisa era imaginar o homem
frio e indiferente, que eu jurei que encontraria
naquela festa, mas outra bem diferente era tê-lo me
salvando, me levando para sua casa, colocando suas
mãos em mim e me encurralando na parede daquele
jeito. Pior de tudo era sentir sua preocupação, seu
ciúme e sua resignação em conhecer a nossa filha.
Minha cabeça estava mais do que confusa, e eu
não estava com ele – ao menos acordada – nem há
uma hora.
O que aconteceria se ficasse ali por mais
tempo? Será que iria sucumbir a tudo que consegui
evitar durante o último ano? Será que meus
sentimentos, que tanto lutei para enterrar no fundo
do meu coração, se manifestariam novamente e me
tornariam fraca?
A quem eu estava querendo enganar? Levaria
poucos dias se eu permitisse.
Mas não estava disposta a permitir.
Ele tinha me deixado sozinha há uma meia-
hora, com indicações para que eu tentasse
descansar. Ou ordens – sim, provavelmente era
uma escolha melhor de palavras. Assim era Bruno,
afinal. Tudo e todos estavam sempre ao seu dispor.
Só que nunca foi dessa forma comigo. Naquela
noite eu até poderia ter acatado algumas das suas
ideias, mas era só porque eu estava assustada e
porque sabia que também tinha errado com ele.
Nós dois tínhamos cometido equívocos muito
grandes naquele relacionamento, e só isso me dava
a completa certeza de que, talvez, nunca
poderíamos nos recuperar daqueles golpes. Sempre
seriam um fantasma a nos assombrar.
Até tentei dormir um pouco, mas sentia-me
agitada demais para isso, então, rapidamente peguei
meu celular, que estava dentro da minha bolsa, que
Bruno deixara sobre a mesinha de cabeceira, e vi as
inúmeras ligações de Robson.
Meu Deus! Como pude ser tão negligente com
ele?
Apressei-me em retornar a chamada, recebendo
uma exclamação desesperada do outro lado da linha
como saudação.
— Meu Deus, Mariana! Mas que merda
aconteceu? Por que não voltou para casa e por que
não avisou? — ele quase guinchou, fazendo minha
cabeça, que já não estava em muito bom estado,
latejar.
— Robbie... me desculpa, por favor. É uma
longa história... — mal consegui terminar de falar e
fui interrompida.
— Você está bem?
— Sim, estou. Estou bem. — Porque eu estava,
não estava? Um cortezinho de nada na cintura, um
tornozelo enfaixado e dolorido... Estava um pouco
fraca também, mas isso tinha uma explicação. Uma
que eu ainda não tinha contado para Bruno, mas ele
já estava assustado o suficiente para surtar ainda
mais. Eu iria sobreviver, mas poderia jurar que
alguém me dopara.
— Ah, meu Deus! Que bom. Então espero que
essa longa história envolva um homem bem gato e
você na cama dele, porque já estava mais do que na
hora. Se for isso, eu até perdôo, embora eu tenha
surtado e ligado para alguns hospitais. Estava
prestes a ligar para a polícia, mas você me poupou
o trabalho.
Engoli em seco.
— A história, de fato, envolve um homem
bonito, e eu estou mesmo na cama dele.
— Nua? — Robson indagou, animado.
Abaixei a cabeça para olhar para mim mesma.
— Com uma blusa dele, serve?
— Depende... o quão gato ele é? O quão
cheiroso e o quão bom de cama? — Robson
começava a voltar ao normal. Ainda bem, porque
eu odiava preocupá-lo.
Cheguei a suspirar, pensando no quanto aquela
situação era complicada.
— Ele é o mais gato, mais cheiroso e,
definitivamente, o melhor na cama, mas eu não
transei com ele ontem.
— Como assim?
— Estou na cama do Bruno, Robbie.
O silêncio do outro lado da linha me dizia
muitas coisas.
— Bruno “Filho da Puta” Fazolatto? O babaca
que te abandonou e que te deixou com uma filha?
Aquele que não podemos nomear?
— Ele mesmo.
— Mas que porra, Mariana! Qual foi a merda
que você bebeu ontem à noite para um revival da
pior qualidade desse?
— Eu disse que era uma longa história, não
disse?
— Estou ouvindo.
Contei tudo a Robson, sem esconder nenhum
detalhe. Desde nosso encontro na festa de Vanessa,
até o embate por causa do meu tornozelo e o fato de
ele ter me salvado. Meu melhor amigo ouviu tudo
calado, e eu podia ouvir os sonzinhos de Cecília do
outro lado da linha, sabendo que ele deveria estar
trocando a fralda dela ou alimentando-a.
Por mais que eu odiasse deixar minha filha para
sair – o que raramente acontecia, a não ser para
motivos de trabalho –, eu confiava plenamente em
Robson para cuidar dela. Eles se amavam, e ela
quase nem reclamava pela minha ausência.
— Mas... garota! Que história louca é essa?
Bruno disse que você está em perigo? Isso é... —
ele hesitou. — Eu nem sei que palavra usar.
— Aparentemente é isso mesmo. Ele ficou de
me contar a história com mais detalhes, mas quer
conhecer Cecília. Disse que vai enviar um
motorista de confiança para buscar vocês dois.
— Ah, porra, Mari! E agora? O que esse cara
vai querer com vocês? Não confio nele depois do
que fez. Você deveria pegar suas coisas e voltar
para casa.
Enquanto ouvia Robson falando, lancei minhas
pernas para fora da cama, para me levantar, mas
assim que pisei no chão, meu pé falhou, pela
torção, e eu caí sentada sobre o colchão.
— Eu nem consigo andar direito, Robbie. Estou
nas mãos dele.
— Ele não é nem louco de te manter aí contra a
sua vontade. Chego nessa casa enorme com polícia
federal, o exército, helicótero, SWAT, FBI,
Interpol, Scotland Yard, CSI e... — ele fez uma
pausa quase teatral. — CSI existe mesmo ou é só
na televisão?
— Não vem ao caso. Só, por favor, faz o que
ele pediu. Arruma a Cecília, apronta duas malas
para nós, espera o carro e vem para cá.
— Vai obedecer ao Poderoso Chefão, Mari?
Respirei fundo.
— Acho que neste caso eu não tenho escolha.
Ele disse que Cecília pode ser afetada também, e eu
não vou ser louca de negar proteção de um homem
que tem recursos para isso, estando a vida da minha
filha em jogo. Não posso colocar meu orgulho
acima da segurança dela.
Ouvi Robson fazer o mesmo que eu e também
puxar o ar com força.
— Tudo bem, amada. Eu vou arrumar a Ceci
bem bonitinha para conhecer o merdão do papai
dela.
— Obrigada... eu...
Estava prestes a dizer mais alguma coisa, mas
um barulho na porta me fez parar.
— Falo com você depois, querido. Preciso de
um banho, esfriar a cabeça e está na hora de ter a
fatídica conversa com ele — enfatizei o pronome
com certo desdém.
— Tá ok. Qualquer coisa grita. Vou esperar
aqui com a neném.
— Tudo bem, amigo. Te amo.
— Também te amo, encrenqueira.
Sorri ao desligar e ergui a voz para que a pessoa
do outro lado entrasse. Arrumei-me ao máximo,
porque já me sentia vulnerável demais só com
aquela blusa, sabendo que não era minha e que
estava sem sutiã, e não queria que Bruno visse
partes do meu corpo que eu não estava a fim de
mostrar. Embora ele conhecesse todas muito bem.
Com os olhos, mãos, boca, língua...
Ai, Mariana! Este é exatamente o tipo de coisa
no qual você não pode pensar!
Mas a cabecinha de cabelos grisalhos que
surgiu pela fresta da porta não era de Bruno, mas de
Norma.
Aquela coisinha doce, que era como uma mãe
para Bruno e que me tratara como uma filha no
período em que morei naquela casa, sorriu para
mim, e meus olhos se encheram de emoção.
— Norminha! — exclamei feliz, e ela veio até
mim. Pousando algo que trazia nos braços sobre a
cômoda, tomou-me em um abraço apertado, que
quase me desmontou.
Quando concordei em ir morar com Bruno,
depois de um ano de relacionamento, minha vida
atingiu um patamar que nunca imaginei. Eu
trabalhava muito duro, tinha uma condição
financeira razoável, mas a fortuna dele era
incalculável. Desde o momento em que pisei
naquela casa, ele me tratou como uma rainha em
todos os sentidos. Roupas, joias, jantares,
conforto... tudo o que alguém poderia almejar.
Qualquer um seria hipócrita se negasse o quão
rápido nos acostumamos com o que há de melhor,
mas no momento em que fui dispensada da forma
mais cruel possível, o luxo que Bruno me ofereceu
foi o que menos senti falta. O homem que eu
amava, é claro, foi o que mais doeu, mas aquela
mulher...
Ela era a mãe que eu não tinha há muito tempo,
já que a minha havia morrido há pouco mais de seis
anos, antes de eu conhecer Bruno. Norma entrara
no meu coração sem muito esforço, não apenas pela
forma como me tratara desde o início, mas pelo
quanto amava Bruno e o quanto preenchera a
solidão da vida dele com amor.
Bruno pudera ter muitas mulheres em sua cama
no passado, mas ele era um solitário, que não
deixava que ninguém escalasse os muros altos de
seu coração. De acordo com Norma, eu fui a
primeira. Mas nem mesmo eu consegui ficar por
tempo suficiente.
— Minha menina linda, como você está? — ela
perguntou, doce como sempre.
— Estou bem. Estava com saudades — falei
baixinho, ainda aninhada em seu peito. Era uma
mulher alta e corpulenta, com o melhor abraço que
já senti na vida. Assim como acontecia com muitas
pessoas, eu era pequena perto dela.
— Eu também, querida. — Afastou-me um
pouco, levando ambas as mãos ao meu rosto. —
Fiquei tão preocupada quando o menino chegou
carregando você daquele jeito. Meu coração quase
saiu pela boca. — Não pude conter um sorriso,
porque era bom saber que ela se preocupava tanto
comigo. — Apesar das circunstâncias, gosto de ter
você aqui.
— Eu não queria estar — confessei. Não havia
segredos com ela.
Suspirando, ela acariciou meu rosto, com uma
expressão de compaixão muito doce.
— Não fique assim. O menino me contou toda
a história, e nós duas sabemos que ele seria capaz
de qualquer coisa para te proteger.
— Ele me deixou, Norma. Você sabe como as
coisas aconteceram.
— E também sei que vocês precisam conversar.
— Um sorriso enorme surgiu em seu rosto. —
Quero conhecer a garotinha. Nem posso acreditar
que meu menino tem uma filhinha.
Meu menino... Era bonitinha a forma como ela
se referia a um homem grande, feito e que mais
parecia um armário. Norma era querida a esse
ponto.
— Ela vai te amar tanto, Norma. É uma
menininha tão doce — falei, cheia de orgulho.
— Vinda de você, não poderia ser diferente. —
Ela sorriu mais um pouco, olhando para mim, e se
afastou, voltando para perto da cômoda, trazendo
até mim o embrulho que tinha em mãos quando
entrou. — Bruno mandou isso para você. Ele pediu
que eu fosse comprar. Disse que te espera para
almoçar.
eguei o pacote e percebi que se tratava de um
P
vestido. Caríssimo, a julgar pelo embrulho da loja.
Ele nunca foi de economizar em seus presentes.
— Tudo bem, Norminha. Avise a ele que vou
tomar um banho e já desço.
Tentei levantar novamente, senti a dor me fazer
estremecer, mas consegui pisar com muito esforço.
— O menino avisou que, se quiser, ele vem
aqui para te levar lá para baixo, já que está com o
pé machucado.
— Estou bem, Norma. Não vou demorar.
Ela assentiu, e eu me inclinei para beijá-la no
rosto. Contente, a mulher adorável deixou o quarto,
e eu fui mancando até o banheiro para me aprontar
e encarar a fera.
Aquele dia prometia ser bem caótico, e estava
apenas começando.
CAPÍTULO OITO
Estou cansado de todas as mentiras
Desta vez
(Lovetalk – Mothica)
quela merda vinha acontecendo há dias. Uma
A
semana, para ser mais exato. Toda noite, Mariana ia
para a minha cama, sorrateira, depois que toda a
casa ia dormir – inclusive Cecília –, transávamos
como loucos, ela pegava no sono e, no meio da
madrugada, saía do meu quarto como uma ladina.
Naquela noite não foi diferente. Eu sempre a
deixava partir, porque não podia obrigá-la a ficar,
mas, naquela manhã, quando desci para tomar o
café e a encontrei sozinha, apenas com Cecília –
sentada em seu colo –, inclinei-me para beijá-la na
boca e sussurrei em seu ouvido:
— Um dia desses vou te deixar amarrada na
cama para que não fuja no meio da noite.
Ela apenas riu, levando uma uva à boca. Estava
brincando com fogo.
— Concorda comigo que eu posso estar
começando a te perdoar, mas uma punição você
merece? Um ano e meio de mágoa vale que você
precise penar um pouco para me ter de volta por
completo.
— Acho que eu tenho metido bastante
ultimamente. — Não pude perder o jogo de
palavras, e gostei quando Mariana não conteve a
risada. Quando dei por mim, estávamos os dois
sorrindo, e Cecília nos imitava.
Isso apertou meu peito.
Minhas. Elas eram minhas. Minha mulher e
minha bebezinha. Mariana podia se esquivar e
tentar ser escorregadia, mas em breve estaria com
minha aliança no dedo.
— Precisamos conversar, Mariana. Eu tenho
coisas a te dizer — falei, enquanto me sentava de
frente para ela, tentando não soar contrariado
demais, mas a verdade era que tínhamos voltado a
nos dar muito bem no sexo, é claro, mas ela
continuava arisca quando se tratava de qualquer
outra coisa.
Sua explicação era extremamente justificável –
ela queria que eu penasse, que implorasse, corresse
atrás dela e me desesperasse. Tinha que lhe dar
algum crédito, porque estava conseguindo tudo
isso. Cada vez que acordava sem ela do meu lado,
depois de termos passado horas juntos, da forma
mais plena possível, tinha vontade de sair
marchando até o quarto ao lado e me deitar em sua
cama só para provocá-la. Mas Mariana estava certa.
Eu era o errado da história. Sempre seria, até que
ela resolvesse me perdoar por completo.
— Vamos conversar, Bruno. Quando eu achar
que é a hora. — Sorrindo, levantou-se, levando
Cecília consigo, dando a mísera conversa por
encerrada.
Eu poderia aceitar e lhe dar o tempo que me
pedia, é claro. Só que não era tão simples.
Enquanto ela não me deixasse abrir meu coração de
verdade, falar sobre meus planos e realmente pedir
perdão pelo que acontecera, as coisas continuariam
do mesmo jeito.
Eu só queria uma chance.
E como o homem determinado que era,
precisava fazer qualquer coisa que estivesse ao meu
alcance. Era assim nos negócios e seria assim na
minha vida pessoal. Mariana não era uma empresa,
era a mulher da minha vida, então o jogo era ainda
mais valioso.
Mas, por falar em trabalho, saí para o meu,
chegando na empresa a tempo para a minha
primeira reunião do dia.
Assim que esta terminou, fechei-me na minha
sala, pedindo à minha secretária para não ser
interrompido, porque tinha alguns contratos para
analisar, de duas empresas com quem iria trabalhar.
Com um deles eu precisava ser bem minucioso,
porque era uma empresa que tinha muitas dívidas,
mas um enorme potencial mal aproveitado. Iria
assumir todas aquelas pendências, por isso,
precisava estar respaldado em contrato para
qualquer eventualidade.
Peguei-me concentrado por um bom tempo até
que meu celular tocou, anunciando uma mensagem.
Eu normalmente teria ignorado, mas era de
Mariana. Definitivamente não queria negligenciar
nada que tivesse a ver com ela. Ou com minha
filha, como era o caso.
Um sorriso curvou meus lábios quando vi do
que se tratava. Não havia nenhuma mensagem da
mulher, apenas um vídeo, mostrando Cecília
engatinhando pelo gramado do meu quintal. Ela
seguia em direção a Norma, que a aguardava,
agachada no chão, emocionada como uma avó
estaria. Mas era mais ou menos isso, não? Aquela
era a minha família.
Assisti ao vídeo umas três vezes, sentindo-me
sensibilizado. Não apenas pela cena em si, que era
a coisa mais adorável do mundo, mas por Mariana
tê-lo me enviado. De alguma forma me senti parte
do momento, mesmo longe.
Uma lágrima deslizou pelo meu rosto.
Costumava me considerar um cara durão, mas essa
fachada era derrubada quando tinha a ver com a
mulher que eu amava. E isso começava a incluir
também minha filhinha. Por elas meu coração se
derretia por inteiro.
Sem conseguir me conter, chamei o número de
Mariana, não querendo responder àquela
mensagem sem ouvir sua voz.
— Alô? — ela atendeu ainda ofegante em meio
a uma gargalhada. Ao fundo, a voz de Norma se
misturava aos sonzinhos irresistíveis de Cecília, e
eu me peguei sorrindo novamente.
— Ei... obrigado pelo vídeo. Foi a primeira vez
que ela engatinhou assim?
— Foi! — Mariana respondeu animada. —
Meu Deus, você tinha que ter visto. Nós a
incentivamos com comida, é claro. Uma das
rosquinhas deliciosas de Norma, e ela saiu
desembestada. Essa menina é muito comilona.
Era delicioso ouvir coisas sobre o
desenvolvimento da minha bebezinha, saber sobre
cada detalhe de seu crescimento, estar presente.
Perguntava-me como tinha vivido a vida inteira
sem aquela menininha. O sentimento era grandioso.
Já não me importava o quão poderoso eu fosse nos
negócios. Meu objetivo a partir daquele momento
era ser o melhor pai possível para minha filha.
— É uma menina esperta. Garantindo
sobrevivência.
Mariana gargalhou. O som reverberou dentro
do meu coração.
— Na segunda tentativa, que foi a que eu
filmei, ela foi até Norma e agarrou a mão dela em
busca de outro biscoito. Quando não achou nada
fez o biquinho mais fofo que eu já vi. Podemos
tentar de novo quando você chegar em casa e... —
ela se interrompeu. Provavelmente tinha percebido
a mesma coisa que eu.
Quando você chegar em casa...
Era impressão minha ou se parecia muito com
algo que uma esposa diria a um marido?
— Tentaremos — respondi, sentindo minha voz
embargar um pouco. — Ouça, Mari... posso falar
com a Norma por alguns minutos?
Foi uma ideia que me bateu subitamente, mas
algo que eu precisava fazer. Eu precisava arrebatar
aquela mulher para mim. De uma vez por todas.
— Claro!
Ouvi Mariana chamando Norma,
provavelmente passando o telefone para ela e
depois alguns sons dela brincando com a neném. O
que arrancou outro sorriso de mim.
— Fala, meu filho... — Norma me atendeu.
— Eu queria te pedir uma coisa, Norminha.
Uma coisa para me ajudar com essa coisinha
teimosa aí, a sua menina.
— Você sabe que eu faço qualquer coisa para
ajudá-los — ela baixou a voz a um sussurro,
parecendo conspiratória, o que era engraçado.
— Ótimo. Um jantar bem romântico. Mas
primeiro quero que compre um vestido bem bonito
para ela. Vou me encarregar de providenciar as
flores e uma joia. Tire um bom vinho da adega
também. Vou dar a noite de folga para vocês e
pedir que aquele amigo dela leve Cecília só por
hoje. Pode me ajudar conseguindo o telefone dele?
— Mas que pergunta, menino. Claro que sim. E
gosto demais da ideia. Vou colocar a equipe toda
para trabalhar.
— Ótimo, mas seja discreta. Quero que seja
surpresa.
— Pode deixar! — No final das contas, Norma
parecia mais animada do que eu. Sabia que poderia
contar com ela.
Desligando, voltei ao meu trabalho, tentando
acelerar as coisas para sair um pouco mais cedo.
or volta das cinco, deixei a empresa e fui
P
direto ao shopping. Passei na loja de joias onde
sempre comprei presentes para Mariana e escolhi
um colar delicado. Sabia que ela não gostava de
nada extravagante, então, sempre optava por peças
discretas. Aproveitei para comprar um belo anel de
noivado. Este não seria entregue ainda, mas queria
deixá-lo guardado para a ocasião certa.
Comprei flores também – um enorme buquê de
rosas de cores variadas, harmoniosas e bem abertas,
porque conhecia o gosto de Mariana para tudo.
Imaginava que o vestido já estivesse comprado,
então, corri para casa para terminar de preparar
tudo.
Quando cheguei, entrei pela porta dos fundos,
reunindo-me com Norma na cozinha para
prepararmos o que restava. Escrevi um bilhete,
passei algumas instruções de como queria que as
coisas acontecessem e parti para meu quarto para
me arrumar.
Tomei um bom banho e escolhi uma roupa
elegante, já que o momento pedia o melhor de mim.
Fiz a barba, penteei o cabelo, passei minha colônia
e ouvi o celular sinalizar uma mensagem.
Como já estava pronto, peguei-o, deparando-me
com um número desconhecido.
Havia fotos de Mariana saindo de um prédio
comercial, onde eu sabia que ela tinha ido a um
compromisso de trabalho, no dia anterior.
A mensagem era assustadora e clara:
(Addicted – Totem)
Se estou vivendo
Sem você
E se eu for embora,
Por favor siga-me.
(If I walk away – Josh Groban)
FIM
Playlist
Hands – Blaise Moore
Rihanna – Cold Case Love
Take a Bow – Leona Lewis
Here for you – Devin Williams
You ruin me – The Veronicas
Expectations – Lauren Jauregui
Salt – Tinashe
Secrets – One Republic
Sweeter Place – Svrcina
Favorite Scar – Leona Lewis
Dangerously – Charlie Puth
Run, baby run – The Rigs
World’s on fire – The Braves
Walk away – Christina Aguilera
Physical – Dua Lipa
Lovetalk – Mothica
Help myself – Liz Lokre
Down in flames – Daughter Jack
Addicted – Totem
Save room for us – Tinashe
Mysterious ways – Eva & The Heartmaker
Tell me you Love me – Demi Lovato
Space – Maren Morris
Brain on Love – K. Michelle
Kamikaze – Night Argent
It’s you – Ali Gatie
Sweet Love – Anita Baker
Never tear us apart – Bishop Briggs
I found – Amber Run
If I walk away – Josh Groban
My beloved – The Banner Days