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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE CIENCIAS HUMANAS E FILOSOFIA


LICENCIATURA EM CIENCIAS SOCIAIS
POLÍTICAS PÚBLICAS PARA EDUCAÇÃO
PROF CARLOS SÁVIO GOMES TEIXEIRA
ALUNO: LUCAS DE BRITO MUNIZ

Resenha
A proposta deste texto é realizar uma apresentação em formato de resenha sobre
as seguintes obras: “A política educacional do governo Fernando Henrique Cardoso” de
Eunice Durham (2010) e “Educação: um novo patamar institucional” de Maria
Aparecida Abreu (2010). Primeiro, são apresentadas os argumentos e uma descrição de
como e quais foram as políticas publicas traçada para educação em cada governo,
depois é sintetizado um parágrafo final de caráter mais comparativo, demonstrando os
pontos de convergência e divergência de ambos os trabalhos.
A análise comparativa de Durham apresenta as principais contribuições e
políticas educacionais adotadas durante as gestões executivas de Fernando Henrique
Cardoso (PSDB) (1994-2002) e as gestões de Lula (PT) (2003-2010), apontando para a
qualidade como o principal desafio e problema enfrentado pela educação brasileira. O
argumento principal da autora gira em torno das novas ênfases administrativas
implementadas pelo governo FHC, que buscaram alterar as tendencias históricas que
guiavam as políticas públicas para a educação: centralização federal com base em
decreto e leis, ausência de autonomia de estados e municípios na execução de recurso e
a utilização indevida e ineficiente desses recursos tanto pelo governo federal quanto
pelos governos subnacionais e locais. A hipótese da autora indica que essas iniciativas
permitiram um diagnóstico da educação brasileira, onde a realidade da baixa qualidade
foi a principal contribuição, além de manter ampliar o número de matrículas no ensino
fundamental e médio. Logo, os resultados apresentados a partir do governo Lula
(diminuição do ritmo de crescimento das matrículas no ensino fundamental e médio e a
persistência dos baixos índices na qualidade do ensino e no desempenho dos alunos),
indicariam a descontinuidade das medidas formuladas no governo FHC que explicariam
os avanços nos indicadores entre 1995 e 2005. Enfatizando os objetivos e diretrizes
formuladas pela LDB (1996), a autora discorre sobre as iniciativas do governo FHC em
três características principais: financiamento, avaliação e formação, expressas de formas
diferentes nos quatro níveis de ensino (fundamental, médio, superior e técnico) e
resguardadas nas diretrizes gerais de autonomia, descentralização e flexibilidade da
LDB.
Durham coloca que essas diretrizes gerais da LDB (1996) implicaram em
organizar o financiamento da educação a partir do estabelecimento do FUNDEF,
institucionalizando os mecanismos de financiamento da educação básica por parte da
União, com base na transparência dos recursos repassados, medidas a partir do número
de matriculas, evitando a gestão do fundo em bases político-partidárias de caráter
clientelistas; na autonomia de Estados e municípios na execução dos recursos,
respeitando obrigatoriedades de uso no pagamento das folhas salariais dos profissionais
da educação; e na desburocratização, ao permitir que Estados e municípios utilizassem
os recursos desvinculados diretamente na melhoria das infraestrutura das escolas,
compartilhando as responsabilidades pela desenvolvimento educacional entre União,
estados e municípios. Com relação a avaliação, a autora chama atenção para o caráter
inovador e paradigmático de inserção do Brasil nas avaliações do PISA e da formulação
do SAEB para avaliar o ensino básico, clarificando a condição da baixíssima qualidade
da educação brasileira. Para o ensino superior, destaca-se a construção do chamado
Provão, como forma de avaliar o desempenho de alunos provenientes do ensino superior
e o reconhecimento das universidades privadas como entidades lucrativas, que
indiretamente abriu a possibilidade de classificá-las, hierarquizando-as qualitativamente
em termos de oferta e procura no mercado educacional.
Por fim, a formação priorizaria um caráter flexível e específico dos currículos a
serem ofertados. Buscando articular a formação dos cursos de pedagogia e as
necessidades da educação básica, foram criados os Cursos Normais Superiores com o
objetivo de formar profissionais aptos a exercerem especificamente a função de
professores para o ensino básico e infantil, o que sanaria as deficiências de aprendizado
nos primeiros anos escolares. Para o ensino técnico, a dissociação entre o ensino
propedêutico e técnico-profissionalizante buscou reorientar a função que essas escolas
cumpriam, de escolas de alta qualidade que formavam alunos para disputarem uma vaga
nas universidades públicas, para uma escola de fato formadora de mão de obra
qualificada para seguir no mercado de trabalho, o que alteraria o público atendido por
essas escolas.
Já o trabalho de Abreu (2010) versa sobre as políticas públicas educacionais
formuladas no governo de Lula (PT) (2003-2010). Apesar de também esboçar uma
comparação com o governo FHC, sua proposta tem um escopo menor que a de Durham
(2010), onde acaba priorizando mais as novidades apresentadas pelo governo Lula. Seu
argumento geral assinala que a proposta de educação do governo apresentou um caráter
sistêmico, onde o PDE (2007) atuou como um arranjo institucional que pudesse lanças
as bases para uma reforma educacional que ultrapassasse os limites temporais do
mandato. A hipótese da autora reside no fato de que os baixos índices em termos de
qualidade apresentados repousa nas decisões do governo FHC em expandir a educação
fundamental sem valorizar os profissionais da educação, e os estímulos ao ensino
superior privado, notadamente de pior qualidade que o público. A autora parte de uma
análise institucional para compreender as mudanças promovidas pelo governo Lula,
expressas a partir do PDE (2007), traçando as diversas metas e propostas que foram
apresentadas para o ensino fundamental, médio, superior e técnico, demonstrando como
essas medidas explicam os resultados alcançados durante esse período.
Segundo Abreu (2010), o principal objetivo do PDE foi estruturar um conjunto
de ações que integrassem todos os níveis de ensino, visando a mitigação de
desigualdades regionais e territoriais, pautada na autonomia do indivíduo, onde o MEC
teria a responsabilidade de ser o agente promotor da educação, incluindo-a em um
projeto mais amplo de desenvolvimento econômico e social de caráter nacionalizado.
Para o ensino fundamental e médio, a autora chama a atenção para o “Compromisso
Todos pela Educação”, que buscou implementar ações e convênios pela via de um
regime de colaboração entre os diferentes níveis de governo (União, estados e
municípios) potencializadas pelo estabelecimento do SIMEC e por um sistema de
avaliação da educação de divulgação pública, o IDEB. Outra iniciativa pautada nesse
sentido de nacionalização dos parâmetros foi o estabelecimento de um piso nacional
salarial para os profissionais da educação, que contribuiria para solução da desigualdade
regional na educação, além da transformação do FUNDEF no FUNDEB, que
ampliariam o escopo de uso dos recursos para o ensino infantil e médio.
Referente ao ensino superior, as principais medidas se deram no sentido de
ampliação do número de vagas ofertadas tanto pelo setor público quanto pelo privado.
Com relação ao primeiro, o estabelecimento do REUNI implementou programas de
financiamento para as universidades aderentes e criando unidades no território nacional.
Já para o setor privado, o ProUni criou condições institucionais de abertura de novas
vagas por parte das universidades privadas para jovens de baixa renda, impulsionadas
pelos desembolsos do FIES.
Por fim, sobre o ensino técnico e profissionalizante, Abreu (2010) chama a
atenção para as modificações institucionais que revogaram a dissociação do ensino
técnico e propedêutico com a reformulação dos CEFETs em IFETs e da expansão da
rede dessas instituições. Com relação as escolas de caráter técnico e privado, o governo
priorizou novas demandas junto ao Sistema S, introduzindo a exigência de abertura de
cursos gratuitos para jovens de baixa renda se profissionalizarem.
Comparativamente, Abreu (2010) e Durham (2010) estão realizando o mesmo
diagnostico do principal problema na educação brasileira: a baixa qualidade do ensino.
Todavia, a interpretação das causas dessa persistência são divergentes. Para Durham
(2010), a baixa qualidade atestada nos anos do governo FHC não podem ser atribuídas a
suas políticas pura e simplesmente, tal como defendida por Abreu (2010). Sendo um
problema de longa data na educação brasileira, o que o governo FHC permitiu foi a
possibilidade de atestar esse fato, pela via dos sistemas de avaliação. Durham (2010)
indica que, na verdade, os indicadores de desempenho tiveram melhorias menos
significativas no governo Lula, tanto no numero de matrículas do ensino médio e
fundamental quanto nas avaliações de desempenho. Segundo ela, a decisão de encerrar a
experiencia do Curso Superior Normal enterrou a possibilidade de tornar mais acessível
a formação de professores preparados para o exercício do magistério no ensino básico,
com a melhoria da formação desses profissionais. Todavia, Abreu (2010) reorienta a
discussão para o contingenciamento de recursos para a educação durante o governo
FHC, demonstrando que houve sucessivos aumentos do orçamento da pasta do MEC.
Logo, segundo ela, a prioridade do governo FHC esteve mais no fortalecimento da
expansão do ensino fundamental sem o aumento de recursos, levando a piora dos
índices de qualidade, além de uma maior participação do ensino superior privado.
De forma geral, pode-se concluir que se Durham (2010) afirma que as propostas
do governo Lula para educação tiveram um caráter centralizador, esvaziando a
autonomia e impossibilitando a realização das metas estabelecidas devido às
dificuldades fiscais de estados e municípios – caso da decisão de estabelecer um piso
nacional para o magistério. Já Abreu (2010) aponta que essas medidas indicaram a
construção de um arranjo institucional – na figura do PDE – que permitisse a
continuidade de políticas publicas para gestões posteriores, onde o governo federal
estimulasse um regime de colaboração, com a função de formular e fiscalizar as
medidas adotadas, em uma visão sistêmica de educação. Se há algo em que as autoras
compartilham é que houve uma descontinuidade nas medidas adotadas pelo governo
Lula em relação ao governo FHC, todavia ambas discordam dos efeitos dessa
descontinuidade. Em termos essenciais, as políticas públicas educacionais revelam o
pano de fundo político-ideológico que guiaram ambos os governos, onde o governo
FHC priorizou construir uma agenda pró-mercado, reorientando o papel do Estado por
via de reformas administrativas que o tornassem mais eficiente e menos centralizador, o
que permitiria uma maior desburocratização dos serviços públicos. Por outro lado, o
governo Lula se notabilizou por pensar o Estado como agente promotor do
desenvolvimento econômico e social e como mitigador de problemas estruturais, tal
como a pobreza, introduzindo novas rodadas de investimento público.
Referências Bibliográficas
ABREU, M. A. A. Educação: um novo patamar institucional. Novos Estudos. Cebrap,
87, pp. 131-143, jul. 2010.
DURHAM, E. A política educacional do governo Fernando Henrique Cardoso. Novos
Estudos. Cebrap, 98, pp. 153-179, nov. 2010.

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