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Autoria
Breno Giordane dos Santos Costa - brenogsc@gmail.com
Programa de Pós-Graduação em Administração – PPGA / PUC Minas - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Resumo
Este artigo realiza uma conceitualização a partir da introdução da obra do geógrafo brasileiro
Milton Santos aos estudos da consumer culture theory (CCT) em sistemas de práticas e
espaço. Além do trabalho teórico, o texto apresenta uma discussão relativa à pesquisa
empírica que demonstra a utilidade dos construtos criados, demonstrando como é possível
identificar direcionalidades de práticas (horizontais, verticais ou indiferenciadas), que se
desdobram em três padrões de consumo: solidários, estrangeiros e antropofágicos. Enquanto
os lugares do Norte exportam suas técnicas, os lugares do Sul podem resistir com práticas
predominantemente horizontais e consumos solidários ou importar práticas
predominantemente verticais com consumos estrangeiros. As práticas de direcionalidade
indiferenciada derivam consumos antropofágicos, pois estes são essencialmente híbridos.
Identificar a direcionalidade das práticas e os padrões de consumo derivados traz relevantes
contribuições para pesquisadores de países subdesenvolvidos por demonstrar uma dinâmica
de poder global, desvendando imposições entre lugares e formas de resistência.
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RESUMO
Este artigo realiza uma conceitualização a partir da introdução da obra do geógrafo brasileiro
Milton Santos aos estudos da consumer culture theory (CCT) em sistemas de práticas e espaço.
Além do trabalho teórico, o texto apresenta uma discussão relativa à pesquisa empírica que
demonstra a utilidade dos construtos criados, demonstrando como é possível identificar
direcionalidades de práticas (horizontais, verticais ou indiferenciadas), que se desdobram em
três padrões de consumo: solidários, estrangeiros e antropofágicos. Enquanto os lugares do
Norte exportam suas técnicas, os lugares do Sul podem resistir com práticas
predominantemente horizontais e consumos solidários ou importar práticas predominantemente
verticais com consumos estrangeiros. As práticas de direcionalidade indiferenciada derivam
consumos antropofágicos, pois estes são essencialmente híbridos. Identificar a direcionalidade
das práticas e os padrões de consumo derivados traz relevantes contribuições para
pesquisadores de países subdesenvolvidos por demonstrar uma dinâmica de poder global,
desvendando imposições entre lugares e formas de resistência.
Introdução
Devido ao caráter eclético da Consumer Culture Theory (CCT) (Arnould & Thompson,
2005; 2007), seus pesquisadores acabaram se interessando por assuntos diversos e, dentre eles,
os estudos do espaço. Há diversos trabalhos que se debruçam sobre o consumo no e do espaço
(e.g. Castilhos, 2019; Castilhos & Dolbec, 2018; Moraes, et al., 2017; Warnaby & Medway,
2013; Visconti, et al., 2010) e, consequentemente, o viés não cartesiano que esteve na origem
conflituosa do campo favoreceu uma leitura de lugares, regiões e territórios para além da mera
materialidade geográfica. Nesse rincão de pesquisa o espaço é entendido como um fenômeno
complexo, vívido e que depende também das ações individuais para ter significado. Castilhos,
Dolbec and Versiu (2017) já trabalharam nesse sentido, categorizando os tipos de lugares, que
são formas de manifestação do espaço.
Outro campo que acabou também se aderindo às pesquisas de CCT foi o da teoria da
prática, cujo marco foi a publicação de Warde (2005) no Journal of Consumer Culture, que
desencadeou uma edição especial sobre o tema no ano de 2011. O tipo de teoria da prática que
se disseminou no campo do consumo é principalmente daquela cuja origem remete à virada
cultural dos anos 1970 e que tem importantes marcos com a publicação de Schatzki (1996) e
Reckwitz (2002). A teoria da prática que trabalhamos, portanto, tem uma ontologia
fundamentalmente wittgensteiniana e, consequentemente, não cartesiana.
Ora, chegamos à interseção de três abordagens teóricas de mesmo fundo
ontoepistemológico. Vamos chamar essa interseção de estudos de consumo, práticas e espaço.
Nosso objetivo com este trabalho é inserir mais uma complexa obra a essa mistura, realizando
uma conceitualização potente e que possa servir para mostrar a pesquisadores fenômenos um
pouco esquecidos. Nos referimos à obra do premiado geógrafo brasileiro Milton Santos. Mais
do que uma série de conceitos ou uma teoria, Milton Santos criou uma escola de pensamento
robusta (Melgaço, 2017). Cabe salientar que se tornará claro ao fim da leitura deste artigo que
trazer a obra miltoniana ao campo dos estudos do consumo, práticas e espaço lança luz sobre
questões importantes para quem realiza pesquisa em países subdesenvolvidos. Conflitos entre
regiões do mandar e do fazer (Santos, 2013) e o papel perverso das criações técnicas, por
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exemplo, passam ao largo das discussões que já foram realizadas no campo. Precisamos,
enquanto pesquisadores do Sul, de realizar conceitualizações que nos auxiliem a enxergar
fenômenos outrora esquecidos. Será que estamos lendo coisas demais sobre, por exemplo, o
consumo e as práticas de ski (Woremann e Rokka, 2015) ou sobre o consumo e as práticas do
nordic walking (Shove e Pantzar, 2005)?
Nosso argumento é o seguinte: se a obra miltoniana contribui com construtos relevantes
para o campo, então devemos trazê-la e explorá-la, definitivamente. Ao demonstrar, como
fizemos, a relevância empírica da conceitualização a partir da obra miltoniana, por dedução
lógica, confirmamos a relevância deste trabalho para o campo dos estudos em consumo, práticas
e espaço, dando início a uma linha de pesquisa apta a explorar fenômenos em países
subdesenvolvidos.
Os construtos que criamos a partir dessa reflexão seguem duas direções. Primeiramente,
revelamos uma dimensão da prática antes esquecida: a direcionalidade. A direcionalidade da
prática aponta para o local de sua origem. Se ela foi criada longe do seu local de performance,
dizemos que se trata de uma prática predominantemente vertical; caso tenha sido criada em seu
próprio local de performance, tratamo-la como predominantemente horizontal. Por outro lado,
e em segundo lugar, a direcionalidade da prática se desdobra em padrões de consumo. Práticas
de direcionalidade predominantemente vertical manifestam padrões de consumo estrangeiros;
práticas de direcionalidade predominantemente horizontal manifestam padrões de consumo
solidários; e práticas sem direcionalidade clara manifestam um padrão de consumo
antropofágico.
Para além do exercício intelectual envolvido nesse processo de conceitualização,
realizamos também um trabalho empírico para poder demonstrar nosso esforço. Foi realizada
uma pesquisa em uma comunidade rural que obteve recente acesso à internet de qualidade e
que, com isso, testemunhou o surgimento de uma série de práticas e padrões de consumo. O
fenômeno da complexidade do espaço se revelou, bem como a direcionalidade das práticas e os
padrões de consumo relacionados.
As teorias da prática possuem origens diversas, remetendo até mesmo aos estudos do
jovem Marx (Nicolini, 2012). Contudo, a corrente que se inicia com a virada cultural dos anos
1970 ganha detalhes a partir da obra de Schatzki (1996). Este autor dá contornos bem definidos
à prática a partir da delimitação de seus elementos. Dessa forma, todas as práticas que
constituem o mundo social são compostas por nexos de fazeres e dizeres.
Segundo o autor (Schatzki, 1996, 2002, 2009, 2012), fazeres e dizeres são atividades.
Atividades são ações realizadas por meio do corpo dos indivíduos. Porém, os dizeres se
configuram como uma subclasse de fazeres, pois são atividades que dizem respeito a alguma
coisa. Contudo, a prática só se forma se fazeres e dizeres estiverem “grudados”, ou seja,
formarem um nexo. Isso só é possível se eles manifestarem os mesmos entendimentos, regras
e estrutura teleoafetiva. Vejamos.
Os entendimentos podem ser práticos ou gerais. Os entendimentos práticos dizem
respeito a saber executar, reconhecer e responder a ações dentro de uma prática. Já os
entendimentos gerais agem conforme um etos e podem orientar cadeias gerais de práticas
(Welch, 2020). Em seguida, as regras são normas e procedimentos explícitos dentro de uma
prática e, por fim, a estrutura teleoafetiva se configura como uma cadeia de projetos, objetivos,
fins, emoções e humores compartilhados pelos praticantes.
Em uma discussão ontológica, que muito nos auxilia para a construção deste trabalho,
Schatzki (2002; 2016a; 2019) argumenta que o mundo social é constituído por um plenum de
práticas, pois o fenômeno social, onde quer que ele se manifeste, é constituído, de um lado, por
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arranjos materiais (que são os artefatos criados pelo homem, o próprio corpo do homem,
organismos e objetos da natureza) e, de outro, por práticas. Dessa forma, manifestações desse
plenum são, necessariamente, um feixe de práticas e arranjos materiais. Esse é o esquema
ontológico do autor que, como argumentamos, é muito similar à “natureza do espaço” de Milton
Santos que discutimos na seção seguinte.
A teoria da prática criada por Schatzki foi reinterpretada posteriormente pelos trabalhos
de Shove e colegas (Shove & Pantzar, 2005; 2007; Shove, Pantzar e Watson, 2012), que acabou
desencadeando uma série de pesquisas com forte inclinação empírica para a investigação de
consumos envolvidos com práticas cotidianas. Contudo, o trabalho de Warde (2005), como
mencionamos anteriormente, acabou sendo um marco para trazer a teoria da prática schatzkiana
de vez para o campo do consumo.
Para Milton Santos, o estudo do espaço deve considerar seus dois elementos básicos: o
sistema de objetos e o sistema de ações (Santos, 1997). O sistema de objetos é a parte material
de sua ontologia, sendo que todas as coisas tendem a se tornar objetos a partir do momento em
que o homem os utiliza como seu sistema de referências. Já o sistema de ações configura o
espaço como uma entidade viva e dinâmica. Esses dois elementos, juntos, são o que formam o
espaço. Observe que esses dois elementos constituintes do espaço são bem semelhantes ao
“lugar do social” de Schatzki, com suas entidades materiais e práticas. De um lado, a
materialidade, do outro, ações e atividades humanas.
Até este ponto a mera similaridade entre os esquemas ontológicos de Schatzki e Milton
Santos não seria suficiente para advogar a inserção do geógrafo aos estudos de consumo,
práticas e espaço. O que torna a obra miltoniana singular e relevante para nosso campo de
estudos é o papel que o geógrafo dá às técnicas e aos objetos técnicos em um contexto global.
Para o autor, os objetos técnicos são verdadeiros cavalos de Tróia (Santos, 1977), pois invadem
os países carregados com sua programação técnica. Explicamos.
Milton Santos argumenta que a técnica é a grande questão da geografia (Santos, 1997),
pois na configuração global os grandes centros industrializados do Norte, que são mais densos
em técnicas, exportam essas técnicas para os locais menos densos do Sul. Nesse movimento, as
intenções que os objetos técnicos carregam – pois toda técnica é um programa para ação
(Santos, 2013) –, e as próprias técnicas, induzem ações nos países subdesenvolvidos. Dessa
forma, os países subdesenvolvidos acabam importando técnicas e ações que são estranhas, pois
não foram criadas e desenvolvidas em seu próprio território. O espaço, como um híbrido repleto
de técnicas, nos países do sul, tende a privilegiar as técnicas da “razão”, produzidas no Norte,
em detrimento das técnicas da “emoção”, orgânicas do Sul (Santos, 1997). As técnicas
“atrasadas”, que continuam existindo nestes países, são chamadas por Santos de “rugosidades”.
Neste ponto, faz-se necessário estabelecer a distinção entre espaço e lugar. O espaço
deve ser entendido como uma categoria analítica, e não pode ser delimitado ou confundido com
cidades, estados, regiões e países. Já a categoria de lugar, quando a utilizamos, estamos nos
referindo ao lugar vivido pelos indivíduos, em sua forma mais tangível possível. Os lugares são
onde a vida acontece efetivamente.
Voltando à dinâmica do movimento de técnicas pelo globo, chega-se a hora de expor o
que Milton Santos chama de verticalidade e de horizontalidade.
As segmentações e partições presentes no espaço sugerem, pelo menos, que se admitam dois
recortes. De um lado, há extensões formadas de pontos que se agregam sem descontinuidade,
como na definição tradicional de região. São as horizontalidades. De outro lado, há pontos no
espaço que, separados uns dos outros, asseguram o funcionamento global da sociedade e da
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Dessa forma, quando analisamos um fenômeno utilizando essa lente, estamos querendo
enquadrar o local de origem das técnicas. O gosto cosmopolita cultivado em países
subdesenvolvidos é essencialmente uma verticalidade, como é o caso das comunidades de
pilotos de Harley Davidson no Brasil ou da publicação em redes sociais de vídeos de
“dancinhas” realizadas pelos moradores da Comunidade do Quilombo. Por outro lado, a prática
de saúde comunitária praticada por lá, como veremos, é essencialmente horizontal, pois seria
impraticável em locais de grande densidade técnica e de razão sistematizada.
A obra de Milton Santos vem, portanto, se agregar a um arcabouço de contribuições
sobre o entendimento do espaço nos estudos do consumo e marketing. Trabalhos como os de
Chatzidakis, et al. (2018) e de Giovanardi e Lucarelli, (2018) têm demonstrado a complexidade
do espaço, bem como suas subjetividades, em pesquisas realizadas nesse campo. Até mesmo
na geografia autores têm concordado que o mercado não se constitui como um mero espaço
para a troca de commodities (Cohen, 2018).
Uma conceitualização
Práticas Práticas
Práticas com direcionalidade
predominantemente predominantemente
indiferenciada
horizontais verticais
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Práticas que são criadas Nessas práticas nem as Práticas que são
Descrição em seus próprios lugares horizontalidades nem as externas ao seu lugar
de performance verticalidades são predominantes de performance
Padrão de
Consumo solidário Consumo antropofágico Consumo estrangeiro
consumo
Metodologia
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O corpus de pesquisa é composto principalmente pelo registro das doze entrevistas, que
totalizam 8 horas, 11 minutos e 50 segundos de gravações que, transcritas, somam 81 páginas
e mais de 53 mil palavras. Triangulando com este núcleo principal de dados temos 18 conversas
arquivadas do aplicativo WhatsApp, contendo imagens, mensagens de áudios e textos trocados
com alguns informantes. Além disso, as sete visitas a campo (que foram realizadas entre os dias
13 de setembro de 2021 e 21 de dezembro de 2022) tiveram suas impressões registradas em um
diário de campo em arquivo de Word que contém 10 páginas e 4.224 palavras. Há também
prints das redes sociais Facebook e Instagram que continham conversas, vídeos, imagens e
textos produzidos por moradores e frequentadores da comunidade. Armazenamos também a
página da Web da Diocese de Divinópolis que continha uma breve história sobre a formação
da Comunidade do Quilombo enquanto comunidade rural.
Para a análise, utilizamos a análise de discurso de origem francesa (AD) (Orlandi, 2005)
por entender que os discursos se manifestam no como se movimentam os dizeres das práticas
(Schatzki, 2016b). Acessando a materialidade dos discursos podemos percorrer o caminho até
o plenum de práticas, descortinando como elas se constituem. Mais especificamente, vamos
tentar enquadrar por esse caminho as verticalidades e horizontalidades de nexos de práticas.
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Análise e discussão
Permeabilidade do espaço
Hoje em dia, se parar, fica pra trás, não pode parar, tem que acompanhar, né? O mundo invém
trazendo as coisas então e, se parar, fica na beira do caminho. (Seu Vaqueiro).
O que o Seu Vaqueiro quer dizer com “fica pra trás” ou “na beira do caminho”? E
com “o mundo invém trazendo as coisas”? Essas seleções lexicais podem se tornar a fresta pela
qual olhamos um horizonte amplo. Nesse horizonte estão os elementos que vão permitir ilustrar
o que quero dizer com a permeabilidade do espaço e como esses pontos permeáveis transportam
técnicas e práticas.
Para ficar “pra trás” é necessário ter algo que passe à frente. Mas o que estaria à frente?
Seu Vaqueiro, no mesmo fragmento discursivo, dá a resposta e diz que o “mundo invém
trazendo as coisas”. O “mundo” a que Seu Vaqueiro se refere parece ser uma entidade externa
que despeja coisas à frente e que precisam ser acompanhadas pois, se assim não for, resta estar
à “beira do caminho”, à margem. Mas à margem de quê? Vejamos. O fragmento discursivo
anterior foi uma resposta ao questionamento se ele gostava de ver a Comunidade do Quilombo
conectada à internet. Depois de afirmar que sim, o informante relatou o sentimento de estar à
margem quando não se consegue absorver em sua rotina todo um aparato técnico despejado por
esse “mundo” externo. Por fim, o fragmento discursivo como um todo demonstra uma relação
entre um mundo mais lento (onde o Seu Vaqueiro vive) e um mundo mais rápido que o
ultrapassa.
Nessa fresta aberta pela AD, é possível abordar o universo miltoniano. O mundo externo
que despeja técnicas concorrentes que deixam outras “pra trás” é a camada do espaço mais
cosmopolita, densa e veloz. As técnicas oriundas dessa camada transportam os elementos
organizadores (entendimentos, regras e teleoafetividades) que vão criar no local da
Comunidade do Quilombo novas práticas. Foi possível observar na casa de Seu Vaqueiro um
aparato tecnológico montado em sua sala para reforçar a segurança de sua singela moradia.
Uma imagem que, de certa forma, contrastava com a paisagem (categoria analítica miltoniana
para se referir à uma configuração de objetos) do entorno. Ele próprio relatou que o sistema foi
sugerido por seu neto eletricista. O sistema de segurança, consequentemente, alterou a forma
com que ele recebe convidados ou dispensa suspeitos e entregadores.
Seja o neto eletricista ou o neto que sugeriu a instalação da internet na casa para
melhorar a comunicação com o avô, ambos proporcionaram pontos de permeabilidade no
espaço e realizaram, efetivamente, importações de técnicas e práticas. É muito comum que os
moradores da Comunidade do Quilombo transitem entre as cidades do entorno e,
principalmente, visitem o centro urbano de Divinópolis com certa frequência. As crianças da
comunidade podem estudar durante o ensino fundamental na zona rural ao serem matriculadas
na escola municipal da comunidade vizinha, chamada Comunidade do Choro. Contudo, caso
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Só vejo o vídeo e faço [...]. No Google. [Digita o que?] Digito como fazer um tapete redondo
de crochê, aí aparece lá um monte de vídeo, aí eu escolho um lá que eu acho o mais bonito pra
fazer, aí bate lá e explica direitinho como que faz. (Giovana).
Esse fragmento torna explicita a transmissão de fazeres e regras de uma prática – crochê
– por meio da plataforma YouTube. Vimos no referencial teórico que uma prática é composta
por um nexo de fazeres e dizeres, organizada também por regras explícitas. O fragmento
discursivo, além de demonstrar mais explicitamente o desenvolvimento da prática de crochê
por meio da transmissão de regras e fazeres, há também um elemento que faz referência à outra
prática. Quando a entrevistada diz “[d]igito como fazer um tapete redondo de crochê, aí
aparece lá um monte de vídeo, aí eu escolho um lá” ela está manifestando o elemento
entendimento relativo à prática de realizar pesquisas na internet. Como discutido anteriormente,
os entendimentos de uma prática permitem que as pessoas simplesmente saibam como executar
uma ação. Essa seleção lexical é exatamente a demonstração de como a prática de realizar
buscas no Google já faz parte da realidade da entrevistada. Dessa forma, a internet torna
possível a criação de pontos de permeabilidade no espaço, por onde transitam elementos
diversos, transportados por técnicas.
Outros elementos relativos à infraestrutura de técnicas – além da chegada da internet –
também emergiram do campo – de acordo com a percepção dos entrevistados – como
catalizadores dessa permeabilidade entre recortes do espaço. Informações coletadas entre
alguns moradores e confirmadas pelo site da Diocese de Divinópolis dão conta de que a
comunidade foi fundada principalmente por um patriarca e sua família, o senhor Antônio
Francisco Soares. Assim, há um grau de parentesco entre muitos moradores e, até mesmo entre
alguns entrevistados, é possível observar traços comuns, como olhos azul-claros bem
marcantes. Dessa forma, a comunidade, que em seus primórdios foi mais homogênea, se
diversificou cultural e antropologicamente com o tempo e, para isso, a infraestrutura técnica
parece ter sido fundamental.
Sobre a evolução técnica da comunidade alguns entrevistados relatam que a
pavimentação da rodovia que passa a pouco mais de um quilômetro de lá levou certos benefícios
como o contato facilitado com a área urbana, mas, também, uma preocupação com a segurança.
A chegada da energia elétrica também foi relatada como um ponto de inflexão na história da
comunidade e sua evolução. A internet é apenas o conjunto técnico mais recente de diversos
outros que foram se sobrepondo na história da Comunidade do Quilombo. O conjunto de
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técnicas, importadas ou não, portanto, também é responsável por tornar o espaço mais
permeável a outras importações e, além disso, a novos afluxos de moradores, como é o caso de
relatos sobre um contingente recente de pessoas oriundas do norte de Minas.
Não era asfalto ainda não. Era uma estradinha. Mas era uma estradinha estreitinha E meu pai
liberou isso aqui, aí que foi que evoluiu, quando o meu pai liberou essa estrada aqui. Aí a
comunidade melhorou. Que onde você passou ali era um atoleiro. Não passava nem a cavalo.
(Renato).
Quando abriu a estrada veio mais gente. Quando veio a luz, iluminação pública, você
ligar seu padrão, aí já aumentou as casas... Aí drobou! (Renato).
Veja que para que uma prática possa existir em um determinado espaço é preciso uma
infraestrutura material adjacente. O espaço da Comunidade do Quilombo não é tão permeável
assim, apesar de haver vários pontos de permeabilidade. Uma estrutura material mais densa ou
até mesmo uma maior proximidade com as áreas urbanizadas poderiam solucionar o
“problema” da informante.
Alguns pontos dá sinal, mas é muito instável. Por exemplo, se eu chegar ali na praça, no rumo
de uma arvorezinha, o telefone dá 4G, entendeu? Mas se eu sair dali pra mim ligar eu tenho que
ficar no viva voz pra conversar uma conversa assim normal, porque se eu colocar no ouvido a
ligação já cai, aí você tem que ficar com ele aqui pertinho assim, não pode tremer, não pode
mexer, não pode fazer nada. Aí você liga e consegue. Eu tenho Wi-Fi na minha casa. Então
quando eu tenho que resolver alguma coisa eu resolvo em casa e já saio. Aí quando as pessoas
precisam de me mandar mensagem eu só recebo quando eu tenho acesso à internet. (Tamara).
Eu acho que eu tenho a senha de todo mundo lá. Então, tipo assim, quando eu chego lá meu
telefone já tá vibrando. Porque fica captando Wi-Fi. Eu saio de um e pego o Wi-Fi de outro, e
fica captando. (Tamara).
Esta seleção lexical exemplifica a naturalização desses jeitinhos para vencer a carência
de uma infraestrutura técnica no local. Esses jeitinhos podem ser considerados pequenas
modificações em elementos de práticas e nas configurações de seus complexos em um nível
interpráticas. Por exemplo. Em um centro urbano não seria necessário ter salvas em seu
smartphone as senhas de Wi-Fi de vários moradores de um bairro. Dentro da prática de se
comunicar por mensagens em um centro urbano, salvar senhas de vizinhos não é necessário.
Porém, há uma pequena modificação na prática de se comunicar por mensagens quando ela é
realizada em um local como a Comunidade do Quilombo. Schatzki (1996) alertara para esse
fenômeno ao traçar distinções entre práticas integrativas e práticas dispersas. Práticas
integrativas são aquelas mais complexas que estão presentes por toda a vida social, como são
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as práticas de dirigir, cultivar um alimento ou escrever um artigo. As práticas dispersas têm esse
nome justamente por estarem emaranhadas a outras práticas e difusas pelo plenum. Schatzki
dispensa um capítulo inteiro à essas práticas em seu livro de 1996 e, inclusive, dá como exemplo
das práticas dispersas descrever e reportar. As práticas dispersas exercem um papel fundamental
na organização do mundo social. Ora, nesse sentido, se comunicar por mensagens é também
uma prática dispersa. Por ser naturalmente difusa e se entrelaçar a outras práticas, a prática
dispersa deve ser mais flexível do que a prática integrativa. É exatamente isso que vemos no
caso da prática dispersa de se comunicar na Comunidade do Quilombo e que está ilustrada pelo
fragmento discursivo anterior.
Ainda de acordo com Schatzki (1996) só raramente as práticas dispersas são organizadas
pelos elementos regras e estrutura teleoafetiva. Veja como a observação em campo é bem
ilustrativa da teoria schatzkiana. É justamente a ausência de regras e de objetivos e tarefas
(telos) na prática de se comunicar por mensagens que dá essa flexibilidade necessária para a
adaptação à Comunidade do Quilombo. A regra implícita no meio urbano de não compartilhar
senhas Wi-Fi com profissionais para que estes possam executar suas atividades laborais não se
aplicaria no meio rural com carências de infraestrutura técnica. Ou seja, a prática dispersa, ao
transitar entre espaços de maior ou menor densidade técnica, consegue se adaptar para se
ajustar. Esse ajuste ou, esse jeitinho, é o que identificamos na Comunidade do Quilombo. Este
exemplo é uma ilustração possível da potencialidade de uma abordagem conjunta das teorias
de Milton Santos e Theodore Schatzki. Veja também que a domesticação de práticas que
Pantzar (1997) discute é encontrada nesse exemplo – e também em outros.
Um dos informantes, com pseudônimo Andreia, também falou sobre suas estratégias
para utilizar internet na área rural. Mas no momento da entrevista em que foi abordada a
diferença entre o Quilombo e o centro urbano de Divinópolis, ela disse o seguinte:
Eu acho que se não tivesse internet aqui [na Comunidade do Quilombo] eu tava morando
lá [em Divinópolis]. Por causa de facilidade. Tudo que eu faço hoje eu preciso de
internet. (Andreia).
Porque antes aqui era uma roça, roça mesmo. Não tinha lazer, não tinha nada... Hoje você já
consegue acessibilidade mais fácil pra isso. Antes aqui era roça. Hoje não. Hoje o Quilombo
não pode falar assim. É uma roça que não é roça. A gente tem internet fibra ótica. Tem posto de
saúde ali com atendimento com coisas mais simples, muito bom. Tem açougue, tem bar, tem
lanchonete, tem tudo. Então imagina isso há 25 anos atrás. Não tinha. Tinha uma vendinha ali
só... Só vendia pinga e cerveja... Aí foi evoluindo e a comunidade evoluiu com o processo de
evolução do mundo. (Danilo Pedro).
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[...] hoje você fica sabendo da fofoca instantaneamente. E antes você tinha que ir no boteco pra
buscar ela. (Lucas).
[..] tem um grupo que é da questão da segurança, que chama base comunitária rural, que
é da Polícia Militar, que faz aquela rede de vizinhos protegidos. A gente comunica. Tem
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um sinal, que um vizinho pode emitir, que é um sinal sonoro, tipo uma corneta que tem
o número de vezes que a gente tem que entender que tá passando por uma dificuldade
que precisa de um tipo de ajuda. Aí o outro vizinho conecta a polícia. Se estiver
acontecendo um assalto na minha casa, por esse sinal sonoro o vizinho consegue acionar
a polícia sem o ladrão perceber [...] e a comunidade toda se mobiliza pelo WhatsApp
até a chegada da polícia. (Lucas).
Pode-se dizer que a comunidade criou uma estratégia mista para se proteger. Ao mesmo
tempo que possuem um grupo no WhatsApp para alertar os vizinhos sobre a segurança da
comunidade, se utilizam de um equipamento “rudimentar” – uma buzina a gás – para compor
o esquema de segurança. Esse é um exemplo claro de técnicas convivendo e se organizando no
espaço. A buzina que emite um sinal sonoro é uma rugosidade. Um remanescente técnico no
espaço.
De toda forma, a estratégia de proteção adotada pela comunidade busca, por meio do
acesso à internet, inserir um número maior de ações em um espaço de tempo menor. O objetivo
é fazer com que a polícia e os vizinhos sejam acionados com mais rapidez do que poderia ser
feito “antes”.
Um elemento tangencial, mas que faz referência à diferentes temporalidades no espaço,
é a citação à comunidade vizinha da Mata dos Coqueiros por alguns entrevistados que, segundo
Seu Vaqueiro, “ficou pra trás”. A Mata dos Coqueiros é uma comunidade que tem uma
infraestrutura, segundo a visão dos entrevistados, atrasada em relação à Comunidade do
Quilombo. Por motivos que devem ser contingenciais e não podem ser explicados na pesquisa,
a comunidade da Mata dos Coqueiros experimenta uma temporalidade lenta. Em uma análise
possível, se recortarmos a zona rural de Divinópolis como uma unidade do espaço, poderíamos
dizer que se trataria de um espaço onde convivem temporalidades distintas. A Mata dos
Coqueiros e a Comunidade do Quilombo, pertencendo ao mesmo espaço de análise, teriam
tempos, técnicas e densidades distintos.
A chegada da internet acarretou a configuração de uma nova prática de vigilância
comunitária. Muito similar ao que foi demonstrado pelo circuito da prática de Magaudda
(2011), onde a chegada de um objeto técnico gerou uma reação em cadeia na configuração de
uma nova prática, a chegada da internet à Comunidade do Quilombo acarretou a criação de uma
prática integrativa, com suas regras – muito claras e definidas –, teleoafetividades e
entendimentos. A difusão da internet e dos smartphones proporcionou a consolidação de uma
nova prática de vigilância, mas que convive com objetos de práticas anteriores. A nova prática,
se estamos discutindo temporalidades, tem seu próprio tempo, que é mais rápido e, por isso,
diminui o tempo de ação em caso de alguma ocorrência policial. Cada técnica tem seu tempo;
cada espaço tem seu tempo; cada prática tem seu tempo; e tudo convive nesse lugar “banal”,
que é o espaço.
A nova temporalidade do fluxo de informações trocadas por moradores da comunidade
torna a vida mais confortável. Nesse sentido, veja o fragmento discursivo a seguir.
Uai, eu tenho um negócio pra resolver, igual essa pinga que eu tenho de Cláudio. Eu vou buscar
em Divinópolis. Se eu chegar lá e a mulher não tiver lá pra me vender a pinga, eu perco a viagem.
Eu faço outras coisas, mas eu perdi a minha pinga. Eu [hoje] já pego aqui [o smartphone], mando
uma mensagem pra ela [...]. Imagina uma viagem de caminhonete ou de carro daqui em
Divinópolis, lá no bairro São José. (Renato).
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indivíduos experienciam o tempo. Vê-se pelo fragmento discursivo anterior que o entrevistado
já ajustou a sua rotina e a sua arquitetura de práticas de uma forma a entender que qualquer
desajuste desses elementos pode levar a uma “perda”: “Se eu chegar lá e a mulher não tiver lá
pra me vender a pinga, eu perco a viagem”.
A temporalidade do espaço da Comunidade do Quilombo parece depender de todos os
elementos analíticos presentes em Milton Santos e Schatzki. Não há como pensar em uma nova
experiência de tempo deixando de lado o papel dos objetos, das técnicas, da paisagem, dos
arranjos materiais e das práticas, com seus elementos corporais ou dispositivos organizacionais.
Além disso, a noção de tempo também pode ser “acelerada” pela capacidade do espaço em
permitir a entrada de elementos “estrangeiros” oriundos de camadas cosmopolitas, que possuem
pontos de contatos com áreas globais de grande densidade técnica.
Uma questão que chamou atenção no campo foi a noção de velocidade da internet.
Lentidão para carregar páginas ou ver vídeos foi uma reclamação constante. Antes dessa
investigação chegar ao campo havia apenas um provedor de internet, que prestava o serviço via
rádio. Porém, em março de 2022, um provedor concorrente chegou, prestando o serviço via
fibra ótica. Este serviço obteve algumas adesões, mas outros moradores preferiram ficar com o
provedor anterior.
Hoje apareceu essa outra, a Fibra, né? Aí a gente até trocou. Essa outra [via rádio] é meio
devagar, aí como a antena é lá em cima na casa que tem lá a energia acaba e acaba a internet,
né? (Magda).
Se no espaço da comunidade, até pouco tempo, era preciso visitar as casas para
transmitir recados, ou ir ao boteco para saber das fofocas, como relatou o informante, por
dedução lógica, posso afirmar que havia ali uma temporalidade distinta da do meio urbano de
grande densidade técnica. Como seria possível as pessoas ficarem ansiosas com relação a um
meio que, apesar de apresentar problemas, acelerou o tempo comunicacional da comunidade?
Argumentamos que a internet e o conteúdo existente na rede trouxeram com eles suas próprias
temporalidades, uma instantaneidade inerente de quando são consumidos em meios urbanos. O
espaço aqui se manifesta com suas verticalidades, horizontalidades, rugosidades, técnicas e
materialidades.
curtos com “dancinhas”. As imagens que arquivamos ilustram muito bem a característica
híbrida do espaço, atravessado de verticalidades e horizontalidades; um espaço repleto de
rugosidades e técnicas avançadas. A prática de utilização de redes sociais é essencialmente
vertical e, quando chega ao espaço, se “mistura” com algumas horizontalidades. Imagine, caro
leitor, uma usuária do Instagram performando uma prática de gosto urbano com elementos
cosmopolitas (uma música e uma dança) e, de fundo, compondo a cena, uma pastagem.
Por fim, acreditamos que a prática de vigilância comunitária corrente na Comunidade
do Quilombo tem direcionalidade indiferenciada e o consumo de internet envolvido,
consequentemente, se caracteriza como antropofágico. Ora, nessa prática há diversos elementos
envolvidos, sejam eles técnicas importadas, como é o uso do aplicativo Whatsapp, ou
rugosidades, como é o caso da buzina a gás utilizada para alertar a vizinhança. É uma prática
complexa, que também se utiliza, além de objetos técnicos, de laços de proximidade já
existentes entre os moradores da região. Ao conhecerem a rotina aproximada da vizinhança,
fica muito mais fácil se ater a atividades incomuns na comunidade. Por ser difícil categorizar a
direcionalidade dessa prática como horizontal ou vertical, como como fizemos com as duas
práticas anteriores, classificamo-la como indiferenciada.
Considerações finais
com que estes resistam aos ditames do customer relationship management (CRM)? Como fazer
com que organizações da sociedade civil, como no caso investigado por Lacerda (2021) na
favela da Papua, no Rio de janeiro, resistam às imposições de práticas verticais em sua forma
orgânica de gestão?
Para operacionalizar esta pesquisa, limitamo-nos a uma pequena área rural, mesmo
sabendo que existiam outras comunidades semelhantes na cidade de Divinópolis. Dessa forma,
foi mais fácil “recortar” nosso campo empírico para demonstrar a conceitualização. Nada
impede que pesquisadores interessados possam “testar” outros campos semelhantes ou ir, até
mesmo, para o espaço urbano investigar rugosidades.
A obra de Milton Santos é vasta e nos utilizamos apenas de parte dela neste artigo.
Encorajamos outros pesquisadores a explorar o universo miltoniano para avançar a partir daqui
ou, até mesmo, corrigir possíveis falhas que tenhamos cometido. Afinal, enquanto
pesquisadores do Sul, ter um ponto de referência que nos ajude a lidar com nossas
especificidades é uma das justificativas pela qual advogamos a relevância deste trabalho,
criando um proeminente nicho de pesquisa (e quem sabe uma escola de pensamento?).
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