Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Classificação: cristologia
O NOME DA EPÍSTOLA
"Hebreu" era o nome dados aos israelitas pelas nações vizinhas. Talvez tenha
derivado de Éber ou Héber, que significa "homem vindo do outro lado do rio"
(Jordão ou Eufrates) (Gn.10.21,24; 11.14-26; 14.13 Js.24.2). Abraão foi chamado
de "hebreu".
OS DESTINATÁRIOS
A epístola aos hebreus nos mostra que seus destinatários eram judeus cristãos. Ao
mesmo tempo em que o autor está se dirigindo a pessoas convertidas a Cristo
(Hb.10.19), ele dá a entender que elas tinham um passado de vínculo com o
judaísmo. Tais irmãos pertenciam a uma igreja, cujos líderes são anonimamente
referenciados no capítulo 13 (versos 7, 17 e 24). A localização de tal igreja é objeto
de especulação por parte dos estudiosos e comentaristas. As sugestões mais
comuns são: Roma, Jerusalém, Antioquia, Cesaréia e Alexandria. Como se vê, as
possíveis cidades eram grandes centros. Jerusalém e Cesaréia eram cidades da
Judéia. Nas outras localizavam-se grandes colônias judaicas. Naturalmente, em
todas elas havia igrejas locais que contavam com a presença de muitos judeus
cristãos.
AUTORIA
A epístola não apresenta o nome do seu autor. Muitos são os que atribuem a Paulo
sua escrita. Em alguns manuscritos antigos encontra-se o título: "Epístola de Paulo
aos Hebreus". Evidentemente, o título traz a conclusão de algum copista ou
autoridade religiosa, visto que não faz parte do texto. Alguns "pais da igreja"
atribuíam a autoria a Paulo sem dificuldades. Os defensores dessa hipótese,
utilizam as palavras de Pedro em sua segunda epístola (3.15). A passagem nos
informa que Paulo escreveu aos judeus. Contudo, isso não encerra a questão, pois
tal escrito pode ter sido a chamada carta aos hebreus, mas pode também ter sido
outra. A referência que o autor faz a Timóteo (Hb.13.23) também é usada como
argumento. Além disso, a epístola está dividida em dois blocos: doutrinário
(capítulos 1 a 11), e prático (capítulos 12 e 13). Isso nos lembra o método paulino.
No texto prático do capítulo 13, temos uma lista de admoestações curtas, à
maneira de Paulo. A doxologia (13.20-21) e a bênção final (13.25) também
reforçam a tese.
DATA
A carta aos Hebreus liga o Velho e o Novo Testamento de modo brilhante. Temos
na obra os seguintes confrontos:
- Símbolos X realidade
TEMA
ESBOÇO
4 - A glória da fé - 11.1-40.
Lendo a epístola, podemos delinear o problema que deu ensejo à sua produção. Os
hebreus, a quem a carta foi destinada, eram judeus que, tendo se convertido ao
cristianismo, se sentiam tentados a recuar, retornando ao judaísmo. Estavam em uma
situação de paralisação espiritual. Viviam em um dilema e, com isso, não cresciam
espiritualmente (Hb.5.11-14). O autor escreveu para mostrar a esses irmãos que eles
estavam livres da antiga aliança. Tal propósito era de grande envergadura. Se já era
difícil provar aos gentios convertidos que eles não precisavam observar a lei, quão árdua
seria a tarefa de demonstrar o mesmo princípio para judeus cristãos! Eles estavam
presos ao passado, assim como acontece hoje com alguns cristãos que querem obedecer
a lei de Moisés. As realidades da graça já eram presentes. Contudo, ainda se
encontravam no futuro para aqueles que hesitavam em relação à apropriação das
mesmas.
Símbolos Realidades
Sombras Realidades
O visível O invisível
Aparência Essência
Material Espiritual
Transitório Permanente
Temporário Eterno
Figura Verdadeiro
A situação dos hebreus foi ilustrada através de uma etapa de sua própria história.
O autor demonstra que, assim como seus antepassados estavam no deserto,
hesitando diante de Canaã (Hb.4.1), os hebreus estavam hesitantes diante da
graça de Deus e seus benefícios. O livro admoesta radicalmente a respeito dos
riscos representados pelo retrocesso, pela apostasia (Hb.4.1; 6.1-6; 10.38-39). O
desvio encontra-se relacionado à incredulidade, desobediência e rebelião (Hb.2.1-3;
3.12,16-19; 4.11). Em lugar do desvio, os hebreus são aconselhados a avançar
com ousadia (Hb.10,19).
O aspecto cerimonial da velha aliança era algo grandioso. Como exemplo, podemos
citar a grandeza do templo e os belos trajes sacerdotais. Diante de tudo isso, a
igreja aparece como algo muito simples. Ela não precisa de um templo, embora
possa utilizá-lo. Seus ministros não precisam de belas vestes para a direção do
culto. A igreja do Senhor Jesus encontra-se onde estiverem dois ou três reunidos
em nome do Senhor. É tudo tão simples que poderia parecer vazio aos olhos dos
hebreus. Eles ainda estavam apegados ao templo judaico, mas precisavam se
acostumar a viver sem ele, pois sua destruição estava bem próxima (Hb.8.13 ?).
Os hebreus estavam muito apegados aos aspectos visíveis do judaísmo. Aliás, o ser
humano, em geral, tem essa tendência. Por isso é que muitos objetos acabam
sendo incorporados à prática religiosa que, em princípio, é essencialmente
espiritual. Na igreja, podemos usar recursos visíveis, uma vez que a Bíblia nos dá
exemplos disso. Os lenços de Paulo curavam (At.) Contudo, precisamos ter cuidado
para não elaborarmos doutrinas e condicionamentos para a nossa fé.
No Velho Testamento, Deus usa recursos visíveis com restrições. Ele mandou fazer
a arca da aliança, a serpente de bronze e outros objetos, mas proibiu a fabricação
de imagens de escultura como representação de Deus ou de deuses (Dt 4.12, 15-
19).
Deus pode usar o visível, mas "bem-aventurados os que não viram e creram" (João
20.29). A experiência de Tomé, ao ver o Senhor Jesus ressuscitado, foi autêntica,
maravilhosa, importante, mas melhor seria se ele não tivesse dependido disso. Sua
fé não foi suficiente.
Em Mateus 8.5-10, temos o elogio de Jesus ao centurião que não dependia nem da
presença física do Mestre para que seu servo fosse curado. Jesus disse que nem em
Israel havia encontrado tanta fé. Quanto mais dependentes nós formos de
elementos visíveis para sermos curados ou abençoados, menor é a nossa fé.
Recursos, tais como objetos ungidos, podem até ser importantes para os neófitos
na fé, mas devem ser abandonados na medida em que vai se chegando à
maturidade espiritual. Não podemos fazer de um objeto ungido um amuleto.
O autor aos hebreus se esforçava por conduzi-los a um novo nível, em que não
dependeriam de objetos sagrados, lugares físicos ou sacerdotes terrenos.
O autor coloca em destaque: a fé. O capítulo 11, tão utilizado quando se estuda
sobre a fé, ali está com esse objetivo: mostrar aos hebreus que até mesmo seus
antepassados, os pais, juízes e profetas, viveram e serviram a Deus e venceram
pela fé e não por vista. Portanto, convinha que os hebreus seguissem tal exemplo e
se desvencilhassem de toda dependência visual contida no cerimonial judaico.
O mundo espiritual é invisível para nós hoje, mas um dia poderemos vê-lo. Hoje,
podemos falar apenas de uma "visão espiritual", como acontecia com os patriarcas
(Hb.11.13,26,27). Pela fé, "vemos" o cumprimento das promessas. Um dia porém,
Cristo aparecerá (Hb.9.28). Então, o invisível se tornará visível.
TERRA E CÉU
Utilizando os termos "terra" e "céu", o autor tenta fazer com que seus destinatários
"mudem o foco" de sua espiritualidade.
A realidade celestial
Para o escritor aos hebreus, o céu não é um lugar vazio, envolto em névoa branca.
Ele fala de uma cidade celestial, de um santuário celestial e coisas celestiais, as
quais se constituem em mistério para nós. Em destaque está o santuário celestial, o
qual foi visto por Moisés no monte e serviu de modelo para a construção do
santuário terreno. Portanto, os hebreus não deveriam ficar apegados ao terreno,
mas sim ao santuário celestial, onde Cristo entrou depois de oferecer sua própria
vida como sacrifício.
A SOLUÇÃO
O problema dos hebreus consistia no apego a algo bom. Como disse o apóstolo
Paulo em Romanos 7, "a lei é santa e o mandamento é santo, justo e bom". O
apego ao que é bom pode nos privar daquilo que é melhor. A epístola vem mostrar
"o melhor" para os hebreus. Esta é a palavra chave da carta. As expressões
"superior", ou "tão superior", ou "maior" ou "mais excelente", variando conforme a
tradução, também são freqüentes e demonstram o pensamento do autor no seu
esforço por apresentar a superioridade de Cristo e do evangelho no confronto com
a lei e a velha aliança.
Melhor: Hb.1.1-4; 6.9; 7.4,19-22; 8.6; 9.23; 10.34; 11.16; 11.35; 11.40; 12.24;
As expressões "tão superior" e "mais excelente" contém uma ênfase muito forte.
Bastaria dizer que Cristo é superior ou excelente. Contudo, o autor utiliza uma
terminologia que demonstra a insuperabilidade do Senhor Jesus.
A palavra de Deus nos convida à excelência (I Cor.12.31). Não devemos, pois, ter
uma atitude comodista, mesmo que nossa situação espiritual seja boa. "Quem é
santo, seja santificado ainda." (Ap.22.11). Avance, suba, progrida. Não existem
limites para a nossa experiência com Deus.
Mostrar algo melhor para um povo que já tem um pacto com Deus é um desafio
muito grande. Contudo, o autor se saiu muito bem na produção de sua apologia.
Seu argumento central é a apresentação da pessoa de Jesus. É verdade que ele
estava escrevendo para cristãos, pessoas que já conheciam a Cristo. Porém, ainda
não haviam compreendido plenamente sua personalidade e sua obra.
Para que o impasse dos hebreus se resolvesse, eles deveriam entrar na nova
realidade apresentada por Cristo: a nova aliança com Deus. A nova realidade é
acessada por meio da fé. De fato, sendo judeus convertidos, eles criam em Cristo,
mas ainda não usufruíam de todos os recursos da graça.
Quando Pedro andou sobre as águas, seu passo de fé estava firmado na palavra de
Jesus que lhe disse: Vem! O mesmo ocorreu na pesca milagrosa. Pedro disse:
"Sobre a tua palavra lançarei as redes." (Lc.5.5).
Muitas pessoas dizem crer em algo apenas porque isso corresponde ao seu desejo
pessoal. Se tal realização estiver no âmbito das possibilidades humanas, então
pode mesmo acontecer, mas se depender de uma ação de Deus, então precisa
estar fundamentada na palavra de Deus. Além da palavra escrita na Bíblia, Deus
pode nos falar de modo específico, visando situações particulares da nossa vida.
Quando se faz um exercício de fé sem uma palavra de Deus como base, o resultado
pode ser a frustração.
Havendo fé na palavra dita por Deus, ainda cabe, em muitos casos, a ação humana
coerente com a palavra. É a obediência. Algumas profecias divinas são absolutas e
incondicionais. Vão acontecer de qualquer forma. Outras vêm acompanhadas de
uma ordem ou mandamento e estão condicionadas à obediência. Por exemplo, a
promessa de Deus a Abraão estava ligada a uma ordem: "Sai da tua terra e da tua
parentela." Sobre esta palavra, Abraão depositou sua fé e acrescentou a
obediência. Abraão saiu sem saber para onde ia. Desse modo, "o que se espera"
(Hb.11.1) vem. "O que há de vir virá e não tardará." (Hb.10.37). Se, por outro
lado, formos incrédulos e desobedecermos à palavra, estaremos também juntando
elementos que trarão o castigo, que também é um cumprimento da palavra de
Deus. Contudo, sempre há um tempo para o arrependimento e a retomada do
rumo certo.
Seu fundamento é rocha ou areia? Jesus comparou sua palavra à rocha (Mt.7.24).
A obediência, que pressupõe fé, seria a construção sobre a palavra. A
desobediência também seria um tipo de construção, destinada a ruir sobre o seu
construtor.
Muitos citam Mateus 6.33 da seguinte forma: "Buscai primeiro o reino de Deus e a
sua justiça e as outras coisas vos serão acrescentadas." Desse modo, poderíamos
esperar de Deus tudo o que pudéssemos pedir e imaginar. Essa distorção às vezes
acontece quando se fazem músicas com os versículos. Para encaixar na melodia, o
versículo é mudado. Então as pessoas aprendem dessa forma. Contudo, a Bíblia
diz: "Buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão
acrescentadas." O significado é bem mais restrito do que normalmente se diz.
"Estas coisas" são as que Jesus mencionou no versículo 25: comida, bebida e
vestuário. É verdade que Deus pode nos dar infinitamente mais. Contudo, o
versículo não está prometendo isso. Não podemos ver ali casas luxuosas, carros,
navios, empresas, etc. Seria muita criatividade da nossa parte.
Palavra(s) - Hb.1.3; 2.2; 4.2,12; 5.13; 6.5; 7.28; 10.28; 11.3; 12.19,27; 13.7,22.
Temos nessas passagens, quase sempre, a palavra de Deus. Aparecem também as
palavras dos anjos, das testemunhas e do próprio autor da carta.
Creia - Hb.11.6.
Esperando - Hb.6.15
Esperando - Hb.10.13.
Esperava - Hb.11.10.
Expectação - Hb.10.27.
Incredulidade - Hb.3.12,19
Obediência - Hb.5.8.
Para os irmãos do primeiro século, a palavra escrita de Deus era apenas o Velho
Testamento. A carta aos hebreus está bem fundamentada nessa porção das
Escrituras. Afinal, não pretende negar o Velho Testamento, e sim mostrar o seu
cumprimento em Cristo e no evangelho.
1.6 ?
É digna de destaque a leitura messiânica que o autor faz dos textos citados. Temos,
portanto, sólida base, para ver Cristo no Velho Testamento. É bastante forte a
expressão do autor ao escrever: "Assim, pois, como diz o Espírito Santo." (3.7-11).
As palavras seguintes são do Salmo 95, escrito por Davi. Notamos então que o
autor reconhecia e declarava claramente que o salmo foi inspirado pelo Espírito
Santo, ou podemos até dizer, "ditado" por ele. Tal reconhecimento é óbvio, mas é
bom sabermos que o texto está mostrando isso, de modo que temos uma prova
inequívoca de tal afirmação.
EXORTAÇÕES
Do mesmo modo, a epístola contém exortações que podem ser agrupadas da seguinte
forma:
Aproximemo-nos - Hb.10.22
Guardemos - Hb.10.23
Consideremo-nos - Hb.10.24
Corramos - Hb.12.1
Prossigamos - Hb.6.1
Sirvamos - Hb.12.28
Ofereçamos - Hb.13.15
Conservemos - Hb.4.14
Retenhamos - Hb.12.28
Apeguemos - Hb.2.1
Seja qual for a sua situação, "não abandone a congregação", "nem endureça o
coração". Pior do que cair é desistir de caminhar. Não fique indiferente, como se
nada estivesse acontecendo. Pelo contrário, reconheça sua posição de risco e
"tema" pelo mal que pode vir. Até agora, estamos tratando com atitudes.
Observadas tais admoestações, outras atitudes devem ser tomadas. Existe um
passado a ser deixado. O pecado e o embaraço precisam ser abandonados a fim de
que, livres de todo peso, possamos avançar na direção que o Senhor nos
apresenta. Os hebreus precisavam sair de uma situação indesejável e entrar na
nova realidade proposta.
A observação dos verbos mencionados, seu tempo, modo e pessoa, muito nos
ensina. A maioria dos verbos se encontra conjugada na primeira pessoa do plural.
Isso mostra que o autor se inclui em quase tudo o que diz, em quase todas as
propostas que faz. Temos aí uma nota de humildade. Ele não apenas aponta o
caminho e o trabalho, mas se coloca em posição de também fazer tudo o que está
sendo comandado. É uma atitude desejável para os que pregam, ensinam ou
lideram.
BIBLIOGRAFIA
SÁNCHEZ, Tomás Parra, Os Tempos de Jesus - Ed. Paulinas.
GONZÁLEZ, Justo L., Uma História Ilustrada do Cristianismo - Volume 1 -
Ed. Vida Nova.
PACKER, J.I., TENNEY, Merril C., WHITE JR., William, O Mundo do Novo
Testamento - Ed. Vida.
TURNER, Donald D., Introdução do Novo Testamento - Imprensa Batista
Regular.
CULLMANN, Oscar, A Formação do Novo Testamento - Ed. Sinodal.
GIBERT, Pierre, Como a Bíblia Foi Escrita - Ed. Paulinas.
ELWELL, Walter A. , Manual Bíblico do Estudante - CPAD.
HOUSE, H. Wayne, O Novo Testamento em Quadros - Ed. Vida
JOSEFO, Flávio, A História dos Judeus - CPAD
DOUGLAS, J.D., O Novo Dicionário da Bíblia - Ed. Vida Nova
Bíblia de Referência Thompson - Tradução de João Ferreira de Almeida -
Versão Contemporânea - Ed. Vida