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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA Dimensionamento de Elementos de Estruturas de Aço

Departamento de Engenharia Civil Capítulo 5


CIV 353 – Estruturas Metálicas Dimensionamento de Barras Submetidas a
Momento Fletor e Força Cortante
Versão: 2017A

5
Dimensionamento de Barras Submetidas a
Momento Fletor e Força Cortante

Índice

5.1. Considerações preliminares


5.2. Relação momento x curvatura para vigas
5.3. Introdução ao cálculo plástico das estruturas metálicas
5.3.1. Comparação entre o método elástico e o método plástico
5.3.2. Propriedades plásticas do aço
5.3.3. Flexão na região elasto-plástica
5.3.4. Fator de forma
5.4. Verificação dos estados limites últimos
5.5. Flambagem local de barras submetidas a momento fletor
5.6. Flambagem lateral de barras submetidas a momento fletor
5.7. Momento fletor resistente de cálculo
5.8. Flambagem local pela força cortante
5.9. Força cortante resistente de cálculo
5.10. Verificação dos estados limites de serviço
5.11 Deslocamentos excessivos
5.12 Vibrações excessivas
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Dimensionamento de Barras Submetidas a
Momento Fletor e Força Cortante

5.1 Considerações preliminares

As vigas são elementos estruturais destinados a suportar cargas aplicadas em ângulo


reto (transversais) ao eixo longitudinal.

As vigas ocorrem com grande freqüência nas estruturas metálicas e são geralmente
usadas como elementos horizontais de transmissão de cargas para os pilares ou outras vigas.

Tem-se duas formas básicas de vinculação das vigas numa estrutura:


• Viga ligada através de uma ligação simples que resiste apenas ao esforço cortante.
• Viga ligada através de uma ligação rígida que resiste ao esforço cortante e ao
momento fletor.

Em geral as vigas em estruturas metálicas são constituídas por perfis laminados tipo I
ou W ou soldados tipo VS, que possuem momento de inércia em relação ao eixo x (Ix)
significantemente maior que o momento de inérica em relação ao eixo y (Iy).

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5.2 Relação momento x curvatura para vigas

De acordo com a Resistência dos Materiais, pode-se calcular a curvatura (k) de uma
seção transversal em função do momento fletor atuante (M) por meio da seguinte expressão:

M
k
EI

Admitindo-se que o material apresenta um comportamento elástico-linear, pode-se


calcular a tensão normal () em um ponto qualquer da seção transversal mediante:

 k E y

onde:
y distância da linha neutra da seção transversal à fibra considerada

Substituindo-se a curvatura (k) da expressão anterior pela relação dada em função do


momento fletor atuante (M), tem-se:

M y

I

onde:
I momento de inércia da seção transveral em relação ao eixo segundo
o qual se dá a flexão.

A tensão normal máxima na seção transversal submetida à flexão é dada por:

M C M M
máx   
I I / C  W
onde:
C distância da linha neutra da seção transversal à fibra mais afastada;
I
W módulo elástico resistente da seção transversal.
C

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5.3 Introdução ao cálculo plástico das estruturas metálicas

5.3.1 Comparação entre o método elástico e o método plástico

5.3.1.1 Teoria elástica de dimensionamento

De acordo com a teoria elástica de dimensionamento, a maior tensão atuante () em


qualquer ponto de uma seção transversal não pode ultrapassar o valor da tensão admissível do
material (adm ). Se a tensão atuante for maior que a tensão admissível, diz-se que o elemento
estrutural já não cumpre o critério de segurança:

máx  adm
No caso de estruturas de aço, geralmente se considera a tensão de escoamento (fy) como
limite de resistência do material. Para garantir a segurança contra o escoamento do aço, utiliza-
se no cálculo o conceito de tensões admissíveis, que são obtidas dividindo-se a tensão de
escoamento do aço por coeficientes de segurança adequados. Como as tensões admissíveis
ficam dentro do regime elástico, todas as verificações de segurança são efetuadas com as
fórmulas usuais da Mecânica dos Sólidos (Resistência dos Materiais).

O método é elástico é caracterizado por quatro aspectos:


a) a resistencia de uma seção transversal deve ser calculada em função de uma
distribuição de tensões, onde somente a fibra mais solicitada atinge o limite elástico
do material;
b) o cálculo dos esforços solicitantes é feito em regime elástico e não se considera a
redistribuição de momentos fletores causada pela plastificação de uma ou mais
seções da estrutura;
c) as cargas atuantes são consideradas com seus valores nominais (sem coeficientes de
ponderação);
d) a margem de segurança da estrutura fica embutida na tensão admissível adotada
para cada tipo de solicitação.

Os resultados experimentais obtidos por diversos autores ao longo do tempo mostram


que o aparecimento de tensões iguais ao limite elástico, em determinadas seções transversais,
não levam à ruptura parcial ou total de estruturas constituídas de materiais plásticos. Portanto,
a consideração da plastificação das seções transversais pode levar a uma importante economia
no dimensionamento de vigas de aço, sem prejuízo da segurança.

5.3.1.2 Teoria plástica de dimensionamento

De acordo com a teoria plástica de dimensionamento, uma seção transversal submetida


a momento fletor atinge a sua capacidade resistente quando todas as fibras da mesma estão
sujeitas a uma tensão correspondente ao limite elástico do material.

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5.3.2 Propriedades plásticas do aço

Na Figura 5.1 apresenta-se o diagrama Tensão x Deformação simplificado para o aço


ASTM A-36, no qual se observa a magnitude da região plástica, característica dos aços
estruturais.

f y  250 MPa
f u  400 MPa
E  200.000 MPa

y  0,12 %
f  1, 8 %
f  15  y

Regiões: A - região elástica


B - região plástica
C - região das grandes deformações

Figura 5.1 - Diagrama Tensão x Deformação simplificado para o aço ASTM A-36.

5.3.3 Flexão na região elasto-plástica

Considere uma seção duplamente simétrica solicitada por um momento fletor "M",
como se mostra na Figura 5.2. Para cálculo na região elasto-plástica admite-se a mesma hipótese
formulada para o cálculo na região elástica, ou seja, que as seções planas permanecem planas
após a deformação (Hipótese de Navier-Bernoulli)

Limitando a tensão normal máxima na seção transversal dada pela expressão


apresentada no item 5.2 à tensão de escoamento do aço (fy), o momento My que provoca o início
do escoamento da seção (Figura 5.2-b) é dado por:

M y = fy W

onde:
W módulo elástico resistente da seção transversal;
fy tensão de escoamento do aço.

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Figura 5.2 - Distribuição de tensões normais em uma seção duplamente simétrica


sujeita à flexão simples, em diferentes etapas do carregamento.

Quando a seção crítica da peça atinge o momento My, a tensão na fibra mais externa da
seção transversal corrresponde à tensão de escoamento (fy) (Figura 5.2-b). Se a partir deste
instante o momento fletor atuante continuar aumentando, as fibras mais internas também
atingirão à tensão de escoamento (fy) (Figura 5.2-c), até o ponto em que toda a seção transversal
estará submetida à mesma tensão (fy) (Figura 5.2-d). Quando isto ocorrer, diz-se que a seção
está completamente plastificada, o que conduz ao máximo momento fletor que uma seção
transversal pode resistir.

O momento resistente plástico (Mpl) de uma seção transversal corresponde à situação em


que toda a seção encontra-se plastificada, ou seja, em qualquer ponto desta seção a tensão
atuante corresponde à tensão de escoamento do aço (fy). Na Figura 5.3 apresenta-se uma seção
transversal de um perfil I completamente plastificada. O momento resistente plástico (Mpl) pode
ser calculado em função de uma distribuição simplificada de tensões na seção transversal, dada
por dois retângulos de ordenada fy.

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Figura 5.3 - Distribuição de tensões normais em uma seção transversal de um perfil I


completamente plastificada.

De acordo com a Figura 5.3, as resultantes de compressão (C) e de tração (Ft) na seção
transversal são dadas por:
C  Ac f y
Ft  At f y

O momento resistente plástico (Mpl) da seção transversal pode ser calculado em função
das resultantes de compressão (C) e de tração (Ft):

M pl  C yc  Ft yt
M pl  Ac f y yc  At f y yt
M pl  f y ( Ac yc  At yt )

Na expressão de Mpl pode-se separar os parâmetros que dependem exclusivamente das


características geométricas da seção transversal:

Z  ( Ac yc  At yt )

onde:
Z módulo plástico resistente da seção transversal

Daí, pode-se escrever:


M pl  f y Z

5.3.4 Fator de forma

A relação Mpl / My é denominada fator de forma e depende exclusivamente das


características geométricas da seção transversal:
M pl Z
f  
My W

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No Quadro 5.1, apresentam-se valores do módulo plástico e do fator de forma para


algumas seções usuais.

Quadro 5.1 - Módulo plástico resistente (Z) e fator de forma (f) de algumas seções usuais
Seção Módulo plástico resistente (Z) (f = Z / W)

bh 2
h
4 1,5

y
bf

(Eixo x-x) b f t f h  t f   t w
h2
tf
4  1,12
x x
h d b 2f t f h t w2
tw
(Eixo y-y) 
2 4  1,55
y

h3 1,70
h 6

h3   2 t   16  1  1  2 t h  
3 3

1  1     
6   h   3   1  1  2 t h 4 
t h
t h 2 (t  h) 1,7 (t  h)

tf

 1,12
b h2   2 tw   2 t f 
2

1  1   1   
b  
tw h
4   h  

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5.4 Verificação dos estados limites últimos

Os estados limites últimos aplicáveis ao dimensionamento de barras prismáticas sujeitas


a momento fletor e força cortante são os seguintes:
a) flambagem local dos elementos componentes da seção transversal
causada pela superposição de tensões normais e de cisalhamento;
b) flambagem lateral da barra como um todo, por flexo-torção;
c) plastificação total de uma seção;
d) início de escoamento;
e) ruptura da seção líquida por cisalhamento.

Este trabalho abrange o dimensionamento de barras prismáticas com pelo menos um


eixo de simetria. Para esse tipo de seção não é necessário superpor as tensões normais (efeito
do momento fletor) com as tensões de cisalhamento (efeito da força cortante). A determinação
das resistências ao momento fletor e à força cortante é feita para cada um dos dois esforços
isoladamente.

Considerando os estados limites últimos relacionados anteriormente, no


dimensionamento de barras prismáticas submetidas a momento fletor e força cortante a
ABNT NBR 8800:2008 prescreve que devem ser atendidas as seguintes condições:

M Sd  M Rd

VSd  VRd

onde:
MSd é o momento fletor solicitante de cálculo;
MRd é o momento fletor resistente de cálculo;
VSd é a força cortante solicitante de cálculo;
VRd é a força cortante resistente de cálculo.

As prescrições da ABNT NBR 8800:2008 para determinação dos esforços resistentes


de cálculo de barras prismáticas submetidas a momento fletor e força cortante são estabelecidas
nos seguintes itens:
- Item 5.4 - Barras prismáticas submetidas a momento fletor e força cortante
- Anexo G - Momento fletor resistente de cálculo de vigas de alma não-esbelta
- Anexo H - Momento fletor resistente de cálculo de vigas de alma esbelta

A ABNT NBR 8800:2008 permite determinar o momento fletor resistente de cálculo e


a força cortante resistente de cálculo para a flexão relativa a cada um dos eixos principais de
inércia da seção transversal (flexão normal). Quando o eixo de flexão do elemento não for um
eixo principal de inércia (flexão oblíqua), o carregamento externo deve ser decomposto em duas
partes, considerando-se a flexão normal com relação a cada um dos eixos principais de inércia
separadamente.

5.8
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5.5 Flambagem local de barras submetidas a momento fletor

As seções transversais dos elementos estruturais de aço submetidos a momento fletor


são compostas por placas de pequena espessura, que se encontram sujeitas a tensões normais
de compressão e de tração. As tensões normais de compressão podem causar instabilidade
destas placas, o que se denomina flambagem local dos elementos que compõem a seção
transversal.

Para impedir a flambagem local dos elementos comprimidos de uma seção transversal
impõem-se limitações geométricas às placas que compõem os perfis, de tal maneira que a tensão
atuante não alcance à tensão crítica de flambagem da placa considerada. Se a esbeltez de uma
placa comprimida for suficientemente alta, a capacidade resistente desta placa será dada pela
carga de flambagem elástica da mesma.

Para efeito de cálculo, só se admite que uma seção transversal atinja o momento
resistente plástico (Mpl) quando as chapas que a compõem não sejam susceptíveis à flambagem
local.

Para verificação das peças fletidas à flambagem local, as normas internacionais


classificam as seções transversais das vigas em classes (1, 2, 3 ou 4), de acordo com a relação
largura/espessura () de seus elementos componentes sujeitos à compressão uniforme ou não.
O significado dessas classes é dado no Quadro 5.2. Na Figura 5.4 apresenta-se uma
interpretação gráfica do conceito de classes, associadas aos respectivos momentos fletores
resistentes.

Quadro 5.2 - Classes de seções transversais


Classe Significado Momento nominal (Mn)
1 Seções super-compactas (utilizadas na análise plástica): são as Mpl = fy Z
que permitem que seja atingido o momento de plastificação (Mpl) e
a subsequente redistribuição de momentos fletores.
2 Seções compactas: são as que permitem que seja atingido o Mpl = fy Z
momento de plastificação (Mpl), mas não necessariamente
subsequente redistribuição de momentos fletores
3 Seções semi-compactas: são as que permitem que seja atingido Interpolação linear entre
o momento correspondente ao início do escoamento (My), incluindo Mpl e Mr
ou não tensões residuais.

4 Seções esbeltas: são as que estão sujeitas à flambagem local de Mcr = W fcr
um de seus elementos comprimidos
Nota:
fcr tensão de flexão determinada pela flambagem local da mesa ou da alma do perfil.
Mr momento resistente nominal para a situação limite entre as classes 3 e 4

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M
M pl
CL2 CL1
My CL3
CL4

d
Figura 5.4 - Momento fletor resistente para cada classe de seção transversal, de acordo com o
critério de flambagem local dos elementos componentes

As expressões para cálculo dos valores limite da relação largura/espessura () dos
elementos que compõem as seções transversais para efeito de definição das classes são dados
pela Tabela G.1 do Anexo G da ABNT NBR 8800:2008. Os parâmetros de esbeltez pl, p e r
dependem das condições de apoio das chapas que compõem as seções transversais. Em função
destes parâmetros de esbeltez se definem as classes das seções transversais:

Classe 1 - seções super-compactas 0     pl


Classe 2 - Seções compactas  pl     p
Classe 3 - Seções semi-compactas  p    r
Classe 4 - Seções esbeltas   r

Deve-se verificar o estado limite de flambagem local de vigas em duas etapas distintas:
a) Flambagem local da alma (FLA)
b) Flambagem local da mesa comprimida (FLM)

Vigas I esbeltas são aquelas nas quais  > r para o estado limite último de flambagem
local da alma (FLA). Segundo a ABNT NBR 8800:2008, estas vigas devem ser verificadas de
acordo com as prescrições do Anexo H.

A título de exemplo, de acordo com a Tabela G.1 do Anexo G da


ABNT NBR 8800:2008, para seções I e H com dois eixos de simetria e seções U não sujeitas a
momento de torção, fletidas em relação ao eixo de maior momento de inércia, os parâmetros de
esbeltez () para classificação das seções transversais e verificação do momento fletor resistente
são dados no Quadro 5.3.

5.10
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Quadro 5.3 - Parâmetros de esbeltez para seções tipo I ou H com dois eixos de simetria
Estado Limite Parâmetro de esbeltez p r
()
FLM b E E
t 0,38
fy
0,83
f y  r  para perfis laminados
E
0,95
f y  r / k c para perfis soldados
FLA h E E
tw 3,76 5,70
fy fy

5.6 Flambagem lateral de barras submetidas a momento fletor

Uma viga fletida pode ser vista como um perfil tracionado e comprimido ao mesmo
tempo (Figura 5.5). A parte hachurada da seção transversal da viga representada na Figura 5.5
funciona como uma coluna contida lateralmente pela parte tracionada.

Mo Mo
x x

y
Figura 5.5 - Viga sujeita ao momento fletor constante (M0)

Quando uma barra é submetida à flexão com relação ao eixo de maior momento de
inércia, para uma certa magnitude da carga aplicada pode ocorrer flambagem da barra como
um todo, caracterizada por deslocamentos perpendiculares ao plano da carga. O processo de
flambagem envolve uma flexão lateral (perpendicular ao plano da carga) e uma torção. A este
fenômeno denomina-se flambagem lateral com torção (FLT). Na Figura 5.6 ilustra-se
qualitativamente o fenômeno de flambagem lateral com torção de manera esquemática.

5.11
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a)

y,v
x,u

Mo

-u


Mo
z,w
b)
Figura 5.6 - Representação esquemática do fenômeno de flambagem lateral com torção

A flambagem lateral com torção é um estado limite último das barras sujeitas à flexão,
pois estas sofrem colapso total quando submentidas ao carregamento que provoca este
fenômeno.

5.12
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Para uma barra prismática com Ix >> Iy , onde x e y são os eixos principais de inércia
da seção, sujeita a um momento fletor constante relativo ao eixo x (M0), o momento fletor de
flambagem lateral elástica de uma viga de comprimento L é dado por:

2 4
M cr  E I y G J  E I y E Cw
L2 L4

onde:
G módulo de elasticidade transversal do aço;
E E
G   0,385 E
21  v  21  0,3
J constante de torção da seção transversal;
Cw constante de empenamento da seção.

No Anexo C apresentam-se as expressões para cálculo das propiedades mecânicas à


torção de alguns perfis comumente utilizados como viga.

O diagrama uniforme de momentos fletores (M0) provoca a situação mais desfavorável


para a flambagem lateral com torção, uma vez que a mesa comprimida se estende ao longo de
todo o vão L , com uma tensão constante.

Para a flambagem lateral com torção de uma viga sujeita a dois momentos de
extremidade (M1 e M2) e uma distribuição não uniforme de momentos, como mostrado na
Figura 5.7, pode-se considerar o fator Cb, proposto por Salvatory (1956).

M1 M2

M =0 M1 M2
M1 = 0 2

M3 M3

Figura 5.7 - Momentos fletores de extremidade

Segundo Salvatory (1956), o momento fletor de flambagem lateral elástica de uma viga
é dado por:

2 4
M cr  Cb E I y G J  E I y E Cw
L2 L4

5.13
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onde:

Cb Fator de modificação para diagrama de momento fletor não uniforme;

2
M  M 
Cb  1,75  1,05 1   0,30 1   2,3
 M2   M2 

onde:

M1 é o menor e M2 é o maior momento fletor de cálculo (em valor absoluto),


nas extremidades do trecho não contido lateralmente. A relação M1/ M2 é
positiva quando esses momentos provocarem curvatura reversa, e negativa em
caso de curvatura simples.

Na Figura 5.8 ilustram-se os casos de curvatura reversa (b) e de curvatura


simples (c), onde Lb é a distância entre duas seções contidas à flambagem lateral com torção
(comprimento detravado).

Lb Lb
Lb
M2

M M2
M1 1
M2 M1
seções contidas
lateralmente

(a) (b) (c)


Figura 5.8 - Distribuição de momentos fletores em um trecho de viga (a)
e respectivas curvaturas: (b) curvatura reversa e (c) curvatura simples

O fator Cb (Cb  1) age como um multiplicador do momento fletor de flambagem lateral


elástica (Mcr) correspondente a uma distribuição uniforme de momentos fletores, de maneira a
levar em conta (de forma aproximada), a variação do momento fletor dentro de um trecho entre
dois pontos de contenção lateral (Lb).

De acordo com a ABNT NBR 8800:2008, o fator Cb deve ser determinado para os
seguintes casos:

a) em todos os casos, exclusive o descrito no item b) a seguir:

12,5 M máx
Cb  Rm  3,0
2,5 M max  3M A  4 M B  3 MC

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onde:

Mmax é o valor do momento fletor máximo solicitante de cálculo, em módulo, no


comprimento destravado;

MA é o valor do momento fletor solicitante de cálculo, em módulo, na seção ituada


a um quarto do comprimento destravado, medido a partir da extremidade da
esquerda;

MB é o valor do momento fletor solicitante de cálculo, em módulo, na seção central


do comprimento destravado;

MC é o valor do momento fletor solicitante de cálculo, em módulo, na seção


situada a três quartos do comprimento destravado, medido a partir da
extremidade da esquerda;

Rm é um parâmetro de monossimetria da seção transversal, igual a


 
0,5  2 I yc I y para seções com um eixo de simetria, fletidas em relação ao
2

eixo que não é de simetria, sujeitas à curvatura reversa, e igual a 1,00 em todos
os demais casos;

Iyc é o momento de inércia da mesa comprimida em relação ao eixo de simetria


(como a curvatura é reversa, esse momento de inércia refere-se à mesa de
menor momento de inércia);
Iy é o momento de inércia da seção transversal em relação ao eixo de simetria;

Na Figura 5.9 apresenta-se um exemplo de variação de momentos fletores dentro de um


trecho entre dois pontos de contenção lateral (Lb), tendo em conta as posições necessárias para
determinação do fator Cb .

MA Mmax MB MC

DMF

Lb / 4
Lb / 2
3 Lb / 4
Lb

Figura 5.9 - Distribuição de momentos fletores em um trecho de uma viga, entre dois pontos
de contenção lateral (Lb).

b) em trechos em balanço, entre uma seção com restrição a deslocamento lateral e à


torção e a extremidade livre:

Cb  1,0

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Em seções com um eixo de simetria, fletidas em relação ao eixo que não é de simetria,
sujeitas à curvatura reversa, a verificação à FLT deve ser feita para as duas mesas (cada mesa
terá um momento fletor resistente de cálculo, que deve ser igual ou superior ao máximo
momento solicitante de cálculo que causa compressão na mesma). Nos demais casos, o
momento fletor resistente de cálculo é constante ao longo do comprimento destravado e deve
ser igual ou superior ao máximo momento solicitante de cálculo (positivo ou negativo) nesse
comprimento.

A ABNT NBR 8800:2008 prevê ainda uma outra situação para determinação do fator
Cb . Nas vigas com seções I, H e U, fletidas em relação ao eixo central de inércia perpendicular
à alma, e seções caixão e tubulares retangulares fletidas em relação a um eixo central de inércia,
simétricas em relação ao eixo de flexão, em um comprimento destravado (Lb) no qual uma das
mesas encontra-se livre para se deslocar lateralmente e a outra mesa possui contenção lateral
contínua contra esse tipo de deslocamento, o fator de modificação para momento fletor não-
uniforme é dado por:

a) quando a mesa com contenção lateral contínua estiver tracionada em pelo menos
uma extremidade do comprimento destravado:

2 M1 8 M2
Cb  3,00  
3 M 0 3 M 0  M 1 

onde:

M0 é o valor do maior momento fletor solicitante de cálculo, tomado com sinal


negativo, que comprime a mesa livre nas extremidades do comprimento
destravado;

M1 é o valor do momento fletor solicitante de cálculo na outra extremidade do


comprimento destravado. Se esse momento comprimir a mesa livre, deve ser
tomado com sinal negativo nos segundo e terceiro termos da equação. Se
tracionar a mesa livre, deve ser tomado com sinal positivo no segundo termo da
equação e igual a zero no terceiro termo;

M2 é o momento fletor solicitante de cálculo na seção central do comprimento


destravado, com sinal positivo se tracionar a mesa livre e sinal negativo se
tracionar a mesa com contenção lateral contínua.

b) em trechos com momento nulo nas extremidades, submetidos a uma força


transversal uniformemente distribuída, com apenas a mesa tracionada contida
continuamente contra deslocamento lateral:

Cb  2,0

5.16
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c) em todos os outros casos:

Cb  1,0

Segundo o AISC (2005), o valor do fator Cb pode ser tomado conservadoramente igual
a 1,0, exceto em alguns casos de vigas sem pontos de contenção lateral entre apoios e carregadas
transversalmente a partir da mesa comprimida.

O momento fletor de flambagem lateral elástica (Mcr) dado anteriormente, pode ser
representado em função do comprimento Lb entre dois pontos de contenção lateral, conforme
se mostra na Figura 5.10.

Figura 5.10 - Variação do momento fletor de flambagem lateral elástica (Mcr) em função do
comprimento Lb entre dois pontos de contenção lateral.

Para vigas com contenção lateral contínua (Lb = 0) ou para vigas contidas em intervalos
pequenos (Lb < Lp), a equação de Mcr apresentada anteriormente superestima a resistência
nominal à flexão que é dada por Mn = Z fy para a seções Classe 1 e 2 ou
Mn = W fy para as seções Classe 3. A equação de Mcr só se aplica à região de flambagem
elástica, quando não houver nenhuma plastificação da seção transversal.

Para que a plastificação da seção transversal não ocorra, é necessário que a tensão de
flexão por flambagem elástica (fcr), somada com a tensão residual (r), não ultrapasse a
resistência ao escoamento do aço (fy):

fcr + r < fy

5.17
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A tensão de flexão por flambagem elástica (fcr) é dada por:

M C 2 4
f cr  cr  b E I y G J  4 E I y E Cw
Wx Wx L2 L

Substituindo a expressão da tensão fcr na equação anterior, tem-se:

Cb 2 4
E I y G J  E I y E Cw   r  f y
Wx L2 L4

A partir da equação anterior pode-se determinar o comprimento Lr, a partir do qual se


dá a flambagem elástica:

2 E I y G J  2 E I y G J 
 
2

  4.
 f y   r   4 E I y G Cw
2

.
Wx2  Wx2  Cb2 Wx2
 
Lr 
2  f y  r 
2

Cb2

No Anexo G da ABNT NBR 8800:2008 apresentam-se expressões para cálculo dos


parâmetros de esbeltez p e r, relacionados a Lp e Lr respectivamente, assim como para
determinação do momento fletor de flambagem elástica (Mcr) para o estado limite de
flambagem lateral com torção, para diferentes tipos de seções transversais e eixo em torno do
qual se dá a flexão.

A título de exemplo, para o caso de seções I e H com dois eixos de simetria e seções U
não sujeitas a momento de torção, fletidas em relação ao eixo de maior momento de inércia,
tem-se:

E
 p  1,76
fy
1,38 I y J 27 Cw 12
r  1  1
ry J 1 Iy

onde:
1 
f y   r  Wx
E J

5.18
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onde:

r é a tensão residual de compressão nas mesas, que deve ser tomada


igual a 30% da resistência ao escoamento do aço (fy);

Para este grupo de seções transversais, o momento fletor de flambagem elástica é dado
por:
Cb 2 E I y Cw  J L2b 
M cr  1  0,039 
L2b Iy  Cw 

O comprimento entre duas seções contidas lateralmente (Lb) é o parâmetro de


comparação para a definição do regime de trabalho da viga. Lb coincide com o vão da viga
quando a contenção lateral existe apenas nos apoios. Para vigas com contenção lateral contínua
da mesa comprimida, Lb = 0 e não existe possibilidade de flambagem lateral.

Portanto, uma redução da distância entre seções contidas lateralmente (Lb) implica em
um aumento do momento fletor resistente ao estado limite de flambagem lateral com torção
(Figura 5.10). Na Figura 5.11 mostra-se o caso de uma viga com contenção lateral no meio do
vão, para a qual Lb = L/2.

Lb M2

Lb

x
M1
L

x
y

Figura 5.11 - Viga com contenção lateral no meio do vão.

Exceto nos casos de análise plástica, a contenção lateral de uma seção transversal
situada entre os extremos de uma viga pode ser feita impedindo sua torção ou o deslocamento
lateral da mesa comprimida, ou ainda, impedindo ambos efeitos. Na Figura 5.12 mostram-se
alguns tipos de contenção lateral que podem ser utilizados no projeto de vigas de aço.

5.19
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Figura 5.12 - Tipos de contenção lateral aplicáveis ao projeto de vigas de aço.

Quando a contenção lateral é feita com auxílio de outros elementos estruturais, a análise
que determina se a rigidez e a resistência de tais elementos são suficientes para subdividir o
comprimento destravado inicial é feita considerando-se apoios intermediários deslocáveis.

O valor de Lb para um trecho de viga em balanço é igual ao comprimento do mesmo,


caso a extremidade livre seja contida lateralmente. Caso isto não ocorra, o valor de Lb é maior
do que o comprimento do balanço.

5.20
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As expressões de Mcr apresentadas anteriormente só são válidas se as almas dos perfis
não forem susceptíveis à flambagem local sob a ação de momento fletor (  r). Caso esta
condição não se cumpra, a ABNT NBR 8800:2008 prescreve o uso do Anexo H (Momento
fletor resistente de cálculo de vigas de alma esbelta), que prevê apenas o dimensionamento de
vigas de seção I ou H de alma esbelta.

5.7 Momento fletor resistente de cálculo

De acordo com o Anexo G da ABNT NBR 8800:2008, se determina o momento fletor


resistente de cálculo de vigas de alma não-esbelta (  r) para os estados limites de FLA, FLM
e FLT, em função do parâmetro de esbeltez () adequado a cada caso, conforme se mostra a
seguir.

Para os tipos de seção e eixos de flexão indicados na Tabela G.1 do Anexo G da


ABNT NBR 8800:2008, para o estado-limite de FLT, o momento fletor resistente de cálculo é
dado por:

Variação do parâmetro de esbeltez () Momento fletor resistente de cálculo

  p M pl
M Rd 
 a1

Cb   p  M pl
 p    r M Rd   M pl  ( M pl  M r ) 
 a1  r   p   a1

  r M cr M pl
M Rd  
 a1  a1

Na Figura 5.13 apresenta-se a variação do momento fletor resistente de cálculo (MRd)


em função em função do parâmetro de esbeltez () para o estado-limite de FLT, para tipos de
seção e eixos de flexão indicados na Tabela G.1 do Anexo G da ABNT NBR 8800:2008.

5.21
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Figura 5.13 - Determinação do momento fletor resistente de cálculo (MRd) para o estado-limite
de FLT, para tipos de seção e eixos de flexão indicados na Tabela G.1 do Anexo G da
ABNT NBR 8800:2008, em função do parâmetro de esbeltez ().

Para os estados-limites de FLA e FLM, o momento fletor resistente de cálculo se calcula


conforme indicado a seguir, para tipos de seção e eixos de flexão indicados na
Tabela G.1 do Anexo G da ABNT NBR 8800:2008:

Variação do parâmetro de esbeltez () Momento fletor resistente de cálculo

  p M pl
M Rd 
 a1

1   p 
 p    r M Rd   M pl  ( M pl  M r ) 
 a1   r   p 

  r M cr
M Rd 
 a1

Na Figura 5.14 apresenta-se a variação do momento fletor resistente de cálculo (MRd)


em função em função do parâmetro de esbeltez () para os estados-limites de FLA e FLM, para
tipos de seção e eixos de flexão indicados na Tabela G.1 do Anexo G da
ABNT NBR 8800:2008.

5.22
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Figura 5.14 - Determinação do momento fletor resistente de cálculo (MRd) para os estados-
limites de FLA e FLM, para tipos de seção e eixos de flexão indicados na Tabela G.1 do
Anexo G da ABNT NBR 8800:2008, em função do parâmetro de esbeltez ().

Quando a determinação dos esforços solicitantes for feita com base em uma análise
elástica, o momento fletor resistente de cálculo (MRd) deve ser limitado a:

1,50 W f y
M Rd 
 a1

onde:

W é o módulo de resistência elástico mínimo da seção transversal da barra em


relação ao eixo de flexão.

No Anexo G da ABNT NBR 8800:2008 apresentam-se também outras expressões para


determinação do momento fletor resistente de cálculo (MRd) para outros tipo de seções
transversais.

5.23
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5.8 Flambagem local pela força cortante

De acordo com a Resistência dos Materiais (Gere & Timoshenko, 1994), em uma barra
de altura constante solicitada por força cortante, a tensão de cisalhamento fv que ocorre em um
ponto da seção transversal é dada por:

VS

b I

onde:

V força cortante na seção analisada;


S momento estático da área da seção transversal entre a borda e o ponto onde se
mede a tensão, referido ao centro de área da seção bruta;
I momento de inércia da seção transversal em relação ao centro geométrico;
b largura da seção transversal na linha em estudo.

Nas vigas de alma cheia, geralmente constituídas por perfis I e U, simples ou compostos,
quase a totalidade do esforço cortante é absorvido pela alma (Figura 5.15). As mesas
contribuem com uma parcela quase insignificante na resistência ao esforço cortante.

y
bf y

tf

d x G=O x x O G
h x
d
tw
tw

 
y b

y
Figura 5.15 - Tensões de cisalhamento em almas de perfis I e U

Para seções típicas de estruturas de aço (Figura 5.15), o diagrama de tensões de


cisalhamento apresenta duas particularidades:
a) uma variação brusca da tensão de cisalhamento na transição da mesa para a alma,
proporcionada pela variação da largura da seção;
b) os valores da tensão cisalhante nas mesas são muito baixos, quando comparados aos
da alma.

Portanto, para estas seções transversais, quase toda força cortante é absorvida pela alma,
com uma distribuição muito próxima à uniforme ao longo da sua altura. Devido a isto, a
ABNT NBR 8800:2008 substitui o diagrama de tensões de cisalhamento clássico da

5.24
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Resistência dos Materiais por um diagrama de valor uniforme, correspondente a uma tensão
de cisalhamento média na alma, dada por:
V
med 
Aw

onde:
V força cortante na seção analisada;
Aw área da alma;

Para seções I, H e U fletidas em relação ao eixo perpendicular à alma (eixo de maior


momento de inércia), a ABNT NBR 8800:2008 define:

Aw  d t w

onde:
d é a altura total da seção transversal;
tw é a espessura da alma.

A ruína de uma viga por ação do esforço cortante pode se dar em função de duas causas:
escoamento ou instabilidade da alma. A ruína por escoamento ocorre quando a área da seção
efetiva de cisalhamento atinge a tensão τy :

V pl  Aw 

onde:
fy
y  tensão de escoamento por cilhamento (segundo Von Mises)
3

Substituindo τy na equação anterior, obtem-se:

V pl  0,60 Aw f y

A ruína por escoamento, entretanto, ocorre apenas em perfis de alma compacta (h/tw
pequeno). Perfis de alma esbelta (h/tw grande) sofrem flambagem antes que o escoamento (Vpl)
seja alcançado. Nesse caso ocorre a ruína por instabilidade.

Para o estudo da flambagem local devido às tensões de cisalhamento, toma-se como


base um modelo de uma placa apoiada em quatro bordas, sujeita a tensões de cisalhamento
constantes em todo o contorno (Figura 5.16).

5.25
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d 

# tw


a

Figura 5.16 - Placa apoiada em quatro bordas sujeita a tensões de cisalhamento constantes ().

Nas estruturas metálicas a condição de placa é reproduzida através da colocação de


chapas soldadas perpendicularmente à alma dos perfis, denominadas enrijecedores, que alteram
a capacidade resistente da placa que compõe a alma do perfil e podem ajudar a impedir a
flambagem da mesma.

Os enrijecedores transversais podem ser colocados em pares (um de cada lado da alma)
ou somente de um lado da alma. Além de dividir a alma da peça em painéis, os enrijecedores
também servem de apoio para as cargas concentradas introduzidas nas vigas.

5.9 Força cortante resistente de cálculo

A força cortante resistente de cálculo é determinada de acordo com o item 5.4.3 da


ABNT NBR 8800:2008 em função do parâmetro de esbeltez () conforme se mostra a seguir.

Para seções I, H e U fletidas em relação ao eixo central de inércia perpendicular à alma


(eixo de maior momento de inércia), a força cortante resistente de cálculo (VRd) é dada em
função do parâmetro de esbeltez ( = h/tw):

Variação do parâmetro de esbeltez () Momento fletor resistente de cálculo

  p V pl
VRd 
 a1

 p V pl
 p    r VRd 
  a1

  r   V
2

VRd  1,24  p  pl
    a1

5.26
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onde:
h
 tensão de escoamento por cilhamento (segundo Von Mises)
tw

kv E
 p  1,10
fy

kv E
r  1,37
fy

Vpl é a força cortante correspondente à plastificação da alma por cisalhamento;

a é a distância entre as linhas de centro de dois enrijecedores transversais


adjacentes;

h é a altura da alma, tomada igual à distância entre as faces internas das mesas
nos perfis soldados e igual a esse valor menos os dois raios de concordância
entre mesa e alma nos perfis laminados;

tw é a espessura da alma.

O coeficiente k das equações anteriores é dado:

kv  5 para almas sem enrijecedores transversais,


para a/h >3 ou
2
 260 
para a / h   
 h t w  
5
kv  5  para todos os outros casos
a h 2

Na Figura 5.17 apresenta-se a variação da força cortante resistente de cálculo (VRd) em


função em função do parâmetro de esbeltez () de acordo com o estabelecido na
ABNT NBR 8800:2008.

5.27
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Figura 5.17 - Determinação da força cortante resistente de cálculo (VRd) em função do


parâmetro de esbeltez ().

5.10 Verificação dos estados limites de serviço

Os estados-limites de serviço aplicáveis a barras fletidas são os deslocamentos


excessivos e as vibrações excessivas a que o elemento estrutural pode estar sujeito.

De acordo com o disposto no Anexo C da ABNT NBR 8800:2008, para a verificação


dos estados-limites de serviço, o responsável técnico pelo projeto deve decidir quais
combinações de serviço devem ser utilizadas, conforme o elemento estrutural considerado, as
funções previstas para a estrutura, as características dos materiais de acabamento vinculados à
estrutura e a sequência de construção. Portanto, dependendo desses aspectos pode-se alterar as
combinações de serviço comumente utilizadas, desde que justificado.

5.11 Deslocamentos excessivos

Os deslocamentos elásticos verticais, usualmente tratados como flechas, devem ser


limitados com a finalidade de evitar a ocorrência de deslocamentos que não conseguem ser
absorvidos pelos fechamentos, desconforto estético, dentre outros aspectos.

No Anexo C da ABNT NBR 8800:2008 são prescritos valores máximos para os


deslocamentos de barras da estrutura e de conjuntos do elementos estruturais, incluindo pisos,
coberturas, divisórias, paredes, etc.

5.28
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No Quadro 5.5 apresentam-se algumas expressões pára cálculo do deslocamento


vertical máximo em vigas simplesmente apoiadas, para diferentes casos de carga.

Quadro 5.5 - Deslocamento vertical máximo em vigas simplesmente apoiadas

Caso Flecha máxima


q 5 qL 4
 máx  para x  L / 2
384 E I
L
P P L3
 máx  para x  L / 2
48 E I
L/2
L

 
P P Pa
 máx  3 L2  4 a 2
24 E I
a b para x  L / 2
L
P 3
Pb  L2  b 2 
 máx   
3E I L  3 
x
a b  L2  b 2 
L para x   
 3 

5.12 Vibrações excessivas

Em sistemas de piso com grandes vãos e amortecimento reduzido, as vibrações podem


causar desconforto à realização de atividades humanas normais ou causar prejuízo ao
funcionamento de equipamentos.

No Anexo L da ABNT NBR 8800:2008, apresentam-se algumas diretrizes para a


realização de avaliações precisas e simplificadas de sistemas de piso em estruturas de aço e
mistas de aço e concreto. Nesses casos, as vibrações transientes devidas ao caminhar de pessoas
podem ser um fator determinante no dimensionamento dos elementos estruturais.

Em outros casos, deve-se avaliar também as vibrações produzidas por equipamentos


mecânicos. Uma boa alternativa consiste em isolar o equipamento que possa produzir vibração
contínua indesejável, de forma a reduzir ou eliminar a transmissão de tais vibrações para a
estrutura.

A ABNT NBR 8800:2008 fornece ainda algumas diretrizes básicas para verificação das
vibrações devidas ao vento no Anexo M.

5.29
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A ABNT NBR 8800:2008 permite realizar uma avaliação simplificada das vibrações
em sistemas de pisos causadas pelas atividades humanas normais. O texto da norma alerta que
o projetista deve ser capaz de julgar a adequação ou não desta avaliação simplificada, visto que
a mesma pode não constituir uma solução adequada para o problema.

A avaliação simplificada consiste basicamente na determinação da frequência natural


do sistema de piso e comparação com uma frequência mínima adequada ao tipo de atividade
prevista para o mesmo.

Para a avaliação do estado-limite de serviço de vibrações excessivas, devem-se utilizar


as combinações freqüentes de serviço. Em nenhum caso a freqüência natural da estrutura do
piso pode ser inferior a 3 Hz.

A frequência natural de una viga de seção uniforme pode ser estimada por:

EI
f  CB
m L4

onde:
EI rigidez da viga à flexão
m masa da viga, por unidade de comprimento, ao longo do vão
L vão da viga
CB coeficiente que depende das condições de contorno e das condições
de carga

Para cargas uniformemente distribuídas, de acordo com as condições de contorno da


viga, o coeficiente CB assume os seguientes valores:

viga simplemente apoiada CB = /2


viga engastada / apoiada CB = 2,45
viga biengastada CB = 3,57
viga em balanço CB = 0,56

Para una viga simplemente apoiada sujeita a uma carga uniformemente distribuída, CB
= /2 e a flecha máxima (máx) devido ao peso da massa (m) é dado por:

5 m g L4

384 EI
onde:
g aceleração da gravidade ( 9,81 m/s2 )

5.30
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A partir da expressão anterior pode-se obter massa (m) em função da flecha máxima
(). Sustituindo m y CB na expressão da frequência natural, se obtém:

17,75 18
f  
 

onde:
 flecha máxima instantânea da viga (em milímetros) para o peso próprio e
outras cargas permanentes do sistema de piso, mais um percentual da
sobrecarga de utilização, que pode ser considerada de caráter permanente

De acordo com o Anexo L da ABNT NBR 8800:2008, nos pisos em que as pessoas
caminham regularmente, como os de residências e escritórios, a menor freqüência natural não
pode ser inferior a 4 Hz. Essa condição fica satisfeita se o deslocamento vertical total do piso
causado pelas ações permanentes, excluindo a parcela dependente do tempo, e pelas ações
variáveis, calculado considerando-se as vigas como biapoiadas e usando-se as combinações
freqüentes de serviço, não superar 20 mm.

Nos pisos em que as pessoas saltam ou dançam de forma rítmica, como os de academias
de ginástica, salões de dança, ginásios e estádios de esportes, a menor freqüência natural não
pode ser inferior a 6 Hz, devendo ser aumentada para 8 Hz caso a atividade seja muito repetitiva,
como ginástica aeróbica. Essas condições ficam satisfeitas, respectivamente, se o deslocamento
vertical total do piso causado pelas ações permanentes, excluindo a parcela dependente do
tempo, e pelas ações variáveis, calculado considerando-se as vigas como biapoiadas e usando-
se as combinações freqüentes de serviço, não superar 9 mm e 5 mm.

5.31

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