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Liebe: Was uns noch zur Entrückung fehlt

Copyright © 2011 por Verlag Mitternachtsruf


Tradução: Arthur Reinke
Revisão: Célia Korzanowski, Camila Z. C. Reinke,
Sérgio Homeni
Edição: Arthur Reinke
Capa e Layout: Roberto Reinke
Passagens da Escritura segundo a versão Almeida
Revista e Atualizada (SBB), exceto quando indicado em
contrário: Nova Versão Internacional - NVI, Almeida
Corrigida e Revisada Fiel – ACF ou Almeida Revista e
Corrigida – ARC.
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Índice

Introdução

1. O Amor Como Preparação Para a Volta de Jesus

2. Amar a Sua Vinda

3. O Amor Como Avaliação na Volta de Jesus

4. Julgados Pelo Amor

5. O Amor Fraternal

6. A Eterna Dívida: Amar

7. O Amor Livra do Medo

8. O Amor Está Acima de Tudo

9. O Amor Guarda

10. Não Existe Nada Maior

Para Terminar

Notas
Se todos os mares
fossem repletos de tinta
e o céu um imenso rolo
de papel, se cada haste
sobre a terra fosse uma
caneta e todos os
homens fossem hábeis
escrivães, mesmo assim,
para descrever o amor
de Deus os oceanos
secariam e o rolo de
papel do firmamento não
conseguiria conter as
palavras necessárias,
mesmo que se
estendesse de uma
extremidade à outra do
céu.
(extraído do hino “O
Amor de Deus”, do autor
americano F.M.Lehmann)
Introdução

Sabemos que Jesus voltará e temos esperança que Ele


venha logo. Por isso também queremos estar preparados
quando Ele vier.
Nessa preparação, lembramo-nos de todas as coisas
importantes possíveis, como:
- a santificação pessoal;
- a vigilância;
- o reconhecimento dos sinais;
- a oração intensiva;
- o entusiasmado estudo da Bíblia;
- a luta pela Verdade.
Poderia ser, no entanto, em meio a tantas coisas
importantes, que o mais importante de tudo seja esquecido,
mas que está no topo dos requisitos no preparo pela Volta
de Jesus: O amor!
Por que podemos afirmar com certeza que é o amor que
nos falta para o Arrebatamento? Porque nós sempre somos
devedores em matéria de amor:
“A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor
com que vos ameis uns aos outros; pois quem ama o
próximo tem cumprido a lei” (Rm 13.8).
O amor de Deus, com o qual Ele nos amou, é
imensuravelmente maior do que nós poderíamos amar. Por
isso somos sempre devedores perante o amor de Deus.
É marcante a quantidade de vezes e a clareza com que o
amor é mencionado na Bíblia em relação direta à Volta de
Jesus.
Queremos examinar algumas dessas passagens bíblicas
para que nos deixemos contagiar pelo amor.
“A maciez é mais forte do
que a dureza, a água é
mais forte do que a
rocha, o amor é mais
forte do que a violência”.
(Hermann Hesse, escritor
laureado com Prêmio
Nobel)
1

O Amor Como
Preparação Para a
Volta de Jesus

“Pois minha testemunha é Deus, da saudade que tenho


de todos vós, na terna misericórdia de Cristo Jesus. E
também faço esta oração: que o vosso amor aumente mais
e mais em pleno conhecimento e toda a percepção, para
aprovardes as coisas excelentes e serdes sinceros e
inculpáveis para o Dia de Cristo” (Fp 1.8-10).
O amor quer levar-nos ao ponto de estarmos sem
qualquer embaraço para o Dia de Cristo. O amor deve
impregnar nossa capacidade de reconhecimento e de
julgamento. Reconhecer e julgar sem amor tem efeito de
dureza e de condenação. A NVI coloca a passagem acima
nos seguintes termos:
“Deus é minha testemunha de como tenho saudade de
todos vocês, com a profunda afeição de Cristo Jesus. Esta é
a minha oração: Que o amor de vocês aumente cada vez
mais em conhecimento e em toda percepção, para
discernirem o que é melhor, a fim de serem puros e
irrepreensíveis até o dia de Cristo”.
Para um casamento, onde o homem e a mulher se
encontram, o amor é o fator primordial. Há muitas coisas
importantes a providenciar. A moradia, por exemplo, e a sua
instalação, o vestido da noiva, a festa, o cumprimento das
determinações legais. No entanto, tudo isso não significaria
nada se faltasse o amor.
É lindo observar quando dois jovens se encontram e,
unidos pelo amor, se preparam e se alegram para a vida em
comum com o mesmo sentimento e com alegria. Ainda mais
belo é ver que o amor entre ambos cresce com o decorrer
do tempo. Talvez assuma outras formas, mas ele se torna
mais íntimo.
Quando Jesus voltar e nós formos ao Seu encontro para
estarmos unidos com Ele na Eternidade, então o amor será
o critério mais elevado. Por isso é tão importante que o
amor em nós aumente desde já.
Em hipótese alguma podemos separar o amor a Jesus do
amor aos nossos concidadãos. Quem ama a Jesus também
ama ao seu próximo. Quem ama ainda mais a Jesus também
amará ainda mais ao seu próximo. Alguém que ama a Jesus
não pode odiar nada mais além do pecado.
Estamos inclinados a que nosso amor “aumente mais e
mais” já que não conseguimos amar o suficiente? Isso tem
se tornado uma necessidade, um desejo, um esforço e um
anseio íntimo e sério, como era para o apóstolo Paulo?
Um ditado diz: “O amor é igual ao sol que brilha sempre,
mas pode ser encoberto pelas nuvens”.
Por isso deveríamos estar preocupados em afastar de nós
tudo aquilo que possa entristecer nosso próximo. Nada deve
encobrir o nosso amor. Toda nossa vida deveria ser
determinada pelo amor, pois quem o faz se resguarda de
pecar contra o seu próximo.
“A única coisa importante
na vida são os rastros de
amor que deixamos para
trás enquanto andamos”
(Albert Schweitzer).
2

Amar a Sua Vinda

“Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a


fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o
Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a
mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda” (2
Tm 4.7-8).
Algumas interpretações dessa passagem dão ênfase ao
final do versículo 8, acima, com o sentido de:
- “Esperar com amor por Sua vinda”;
- “Aguardar a Sua vinda com ansiedade”;
- “Todos os que esperam por Sua vinda cheios de amor
(Roland Werner);
- “Com certeza, e não somente para mim, mas para todos
que dirigiram todo o seu amor para a Sua vinda” (Moule).1
William Kaal escreveu:
Há três parábolas no sermão sobre o Fim dos Tempos, proferido por
nosso Senhor que mostram as falsas reações que podem acontecer
sobre a aparente vinda dEle. Uma delas fala do servo mau que esbanja
em festas e até maltrata os demais servos; outra de um servo
preguiçoso que se nega a trabalhar. A parábola das dez virgens, ao
mencionar as que adormeceram, indica que a dormência talvez seja o
maior perigo ao esperarmos pelo nosso Senhor. Não seria, contudo, falta
de amor e doloroso esquecermos a vinda anunciada de nosso Amado? O
drama pós-guerra Draussen vor der Tür, escrito por Wolfgang Borchert,
apresenta uma visão consternada sobre os sentimentos de alguém que
voltou, mas cuja volta não era mais esperada. Não há nada pior do que
ser considerado como morto nos corações daqueles que se ama. Por
isso, tanto mais Jesus tem consideração por aqueles que anseiam pela
Sua volta!2
Qual é o contrário ao amor pela vinda de Jesus? Ele é
mencionado na sequência:
“...mas também a todos quantos amam a sua vinda.
...Porque Demas, tendo amado o presente século, me
abandonou e se foi para Tessalônica; Crescente foi para a
Galácia, Tito, para a Dalmácia” (2 Tm 4.8-10).
Aqui não se trata de um tropeço ocasional nos laços do
mundo onde, na verdade, não nos sentimos em casa. – De
alguma maneira isso seria pecado, não é desculpável, mas
é perdoável. – No entanto, trata-se de amar o mundo dessa
época, de voltar ao mundo e sentir-se muito à vontade nele.
Quem ama o mundo e as coisas do mundo perde o amor
pela Volta de Jesus na mesma proporção. Sim, talvez até
tenha receio e se defenda contra ela.
Devemos nos questionar e examinar nosso coração, no
qual se encontra o perigo de amar o mundo e o
mundanismo, sendo que talvez já fomos novamente
alcançados por esse mundo e caímos em suas presas.

A orientação de Paulo
O apóstolo Paulo coloca o seguinte contexto:
“Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a
fé. ...e não somente a mim, mas também a todos quantos
amam a sua vinda” (2 Tm 4.7-8).
Após o seu renascimento, a vida de Paulo – seu serviço,
sua dedicação, sua luta e seu empenho, sua fé – era
direcionada e motivada em vista da Volta de Jesus. Paulo
ansiava por isso, se dedicava a ela. Era o que movia seu
serviço e sua vida. Ele estava apaixonado pela Volta de
Jesus.
Quando alguém se apaixonar por algo, isso o dominará,
seja o amor por uma causa (hobby, moto, uma campanha,
etc.) ou o amor por uma pessoa (namorado ou cônjuge).
Isso ocupará bastante essa pessoa, ela se lembrará dia e
noite, se dedicará e se esforçará. – Nós podemos nos
apaixonar pela Volta de Cristo.
“Pode-se cortar lenha,
moldar telhas ou malhar
ferro sem ter amor. Mas
sem amor não se pode
lidar com as pessoas”
(Leo N. Tolstoi).
3

O Amor Como
Avaliação na Volta de
Jesus

“Que o Senhor faça crescer e transbordar o amor que


vocês têm uns para com os outros e para com todos, a
exemplo do nosso amor por vocês. Que ele fortaleça o
coração de vocês para serem irrepreensíveis em santidade
diante de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus
com todos os seus santos” (1 Ts 3.12-13 – NVI).
Este texto fala sobre várias coisas:
1) O amor aos cristãos;
2) O amor a todas as pessoas;
3) O amor como meio de santificação;
4) O amor como critério de avaliação na Volta de Jesus.

1. O amor aos cristãos


O amor entre cristãos (“uns para com os outros”) deve
acontecer de maneira crescente. Ele deve crescer e
transbordar. Transbordar significa que não há uma medida
completa. William MacDonald escreve: “...existe sempre a
possibilidade de ainda melhorar o que é bom”.
O último e maior mandamento que o Senhor Jesus
entregou para Seus discípulos levarem em seu caminho foi
a exortação para o amor:
“Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos
outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis
uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus
discípulos: se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13.34-35).
Infelizmente observamos que o amor entre os cristãos
tende a diminuir com o decorrer do tempo, ou não?

2. O amor a todas as pessoas


Não devemos amar apenas àqueles que nos amam, aos
que são do nosso grupo, mas a todas as pessoas, também
aos de fora e aqueles que não nos demonstram amor, até
aos nossos inimigos.
O amor é o maior argumento do Cristianismo, que tem o
maior poder de penetração, o melhor meio de persuasão e é
uma arma que nenhuma outra religião ou ideologia oferece.
As armas do amor já conquistaram vitórias maiores e mais
expressivas do que seria possível com dureza sem amor.
Um criminoso que cumpria pena em uma prisão era
visitado regularmente por um conselheiro espiritual. O
delinquente mostrava-se implacável, reservado e violento.
Após 17 anos, ele finalmente desmoronou e, com lágrimas
nos olhos, confessou: “Durante 17 anos eu me portei como
um demônio e o senhor sempre me tratou como gente.
Agora desejo tornar-me gente”. Nós não discordamos de
uma condenação justa e proporcional ao crime, mas o amor
conseguiu fazer o que a prisão e as grades não
conseguiram.
O jornal suíço de circulação gratuita 20 minuten (Vinte
minutos) relatou o seguinte, sob a manchete Der
Lebensretter vom Todesfels (“O salva-vidas da rocha fatal”,
em tradução livre):
Don Ritchie tem 84 anos de idade. Há quase 50 anos ele reside perto
de uma rocha chamada The Gap (A Lacuna). Esse lugar em Sidney não é
conhecido além fronteiras apenas pela bela paisagem que se pode
apreciar de lá. The Gap é principalmente como um magneto que atrai
pessoas desiludidas. De acordo com a página express.de, mais de
cinquenta pessoas saltam desse lugar para a morte anualmente, à
frente da casa de Ritchie. (...) Ele naturalmente não deixa isso acontecer
sem fazer algo. Toda vez que ele observa um pretenso candidato ao
suicídio, ele calça seus sapatos e caminha alguns passos em direção à
rocha. Sua tática: sorrir para a pessoa em desespero e convidá-la para
tomar uma xícara de chá em sua casa. Nesses 50 anos, o método já
funcionou 160 vezes. Mesmo assim, Ritchie não se considera um herói,
pois “vi muito mais pessoas saltando do que consegui salvar”, diz com
tristeza. Apesar de tudo, ele continua tentando salvar vidas.3
Esse artigo poderia receber o título de “O que o amor
consegue fazer”. Nós queremos salvar pessoas para a vida
eterna! Ritchie nos ensina algumas coisas: ele não usa
placas, gritarias ou ameaças para os desesperados, mas
sorrisos, uma xícara de chá e palavras amigáveis.
Atribui-se a C.H. Spurgeon as seguintes palavras: “Quem
não consegue demonstrar amizade e amor deveria tornar-se
coveiro, pois não tem nenhuma influência sobre os vivos”.
Certamente ter amor não significa desculpar ou tolerar o
pecado... As pessoas, no entanto, já sofrem muita rejeição.
Imaginemos o que seria possível alcançar se, ao invés de
virarmos as costas com indiferença aos nossos vizinhos,
colegas de trabalho e demais pessoas, os convidássemos
para uma xícara de café? Isso já serviu para derreter
corações gelados que, por causa de meros conselhos
piedosos, haviam esfriado ainda mais.

3. O amor como meio de santificação


O amor age para a nossa santificação:
“Que ele [o amor] fortaleça o coração de vocês para
serem irrepreensíveis em santidade diante de nosso Deus e
Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus com todos os seus
santos” (1 Ts 3.13 – NVI).
“Para confirmar os vossos corações, para que sejais
irrepreensíveis em santidade diante de nosso Deus e Pai...”
(1 Ts 3.13 – ACF).
É interessante observar que Deus coloca o amor prático e
gerado pelo Espírito Santo em nossos corações para que
sejamos fortalecidos, aperfeiçoados e santificados. A
santificação sem amor é algo inconcebível. O amor é a
coroa da santificação. O amor também é descrito como o
“vínculo da perfeição”.
“acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo
da perfeição” (Cl 3.14).
O amor solidifica o caráter, o amor impulsiona para a
dedicação, o amor conduz ao discipulado, o amor escuta, o
amor compartilha, deseja comunhão e comunicação. O
amor jamais quer entristecer. O melhor de tudo: o amor nos
torna mais semelhantes a Cristo.

4. O amor como critério de avaliação


Isso tudo será um importante critério de avaliação no Dia
de Jesus Cristo. 1 Tessalonicenses 3.13 diz:
“...na presença de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso
Senhor Jesus, com todos os seus santos”.
Isso significa que deveremos esperar nesse mundo até
que Jesus retorne com os Seus Santos, ao final da
Tribulação? Não acho que seja assim. Em 2 Tessalonicenses
1.7-8 lemos:
“e a vós outros, que sois atribulados, alívio juntamente
conosco, quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com
os anjos do seu poder, em chama de fogo, tomando
vingança contra os que não conhecem a Deus e contra os
que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus” (2
Ts 1.7-8).
Aqui é usado o verbo “manifestar”, como revelação
(Apocalipse). Paulo explicava aos crentes perseguidos de
outrora que eles viriam juntos com os demais crentes e os
anjos das milícias do Senhor, no final do Apocalipse, com
Jesus. Isso se refere aos acontecimentos descritos em
Apocalipse 19.11-16. Podemos comparar as palavras “em
chama de fogo, tomando vingança” (2 Ts 1.8), com:
“Os seus olhos são chama de fogo... Sai da sua boca uma
espada afiada, para com ela ferir as nações...” (Ap
19.12,15).
Em 1 Tessalonicenses 3, no entanto, o assunto não é o da
revelação (Apocalipse), mas da Volta de nosso Senhor Jesus
Cristo, com todos os Seus Santos “na presença de nosso
Deus e Pai”:
“...no amor ...a fim de que seja o vosso coração
confirmado em santidade, isento de culpa, na presença de
nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus, com
todos os seus santos” (v.12-13).
Parece tratar-se da Vinda de Jesus para o Arrebatamento,
quando os tessalonicenses e todos os outros santos serão
levados para o lar paterno, na presença de Deus Pai. Isso
combina com a afirmação de Jesus:
“Na casa de meu Pai há muitas moradas...” (Jo 14.2).
O que acontecerá no Arrebatamento para o lar paterno?
Então seremos colocados para o julgamento diante do
Tribunal de Cristo (2 Co 5.10, Fp 1.10). Paulo se referiu a
isso no capítulo anterior:
“Pois quem é a nossa esperança, ou alegria, ou coroa em
que exultamos, na presença de nosso Senhor Jesus em sua
vinda? Não sois vós?” (1 Ts 2.19).
Jesus voltará para nos buscar e levar ao lar paterno, onde
os santos da Igreja de todos os tempos serão revelados e
julgados e depois disso retornaremos com Ele, juntamente
com todos os santos. Nesse julgamento, o amor é um alto
padrão como ponto de partida para nossa santificação.
Será que então ouviremos que o amor de Deus gerado
pelo Espírito em nós foi escasso? Se verificará que houve
conhecimento, capacidade de avaliação, resistência ao
pecado e muitos esforços bem intencionados, mas falta de
amor?
“E também faço esta oração: que o vosso amor aumente
mais e mais em pleno conhecimento e toda a percepção,
para aprovardes as coisas excelentes e serdes sinceros e
inculpáveis para o Dia de Cristo” (Fp 1.9-10)
“O amor me dá tudo e
onde ele não existe, ali
eu jogo palha ao vento”
(Johann Wolfgang von
Goethe).
4

Julgados Pelo Amor

“Ao anjo da igreja em Éfeso escreve: Estas coisas diz


aquele que conserva na mão direita as sete estrelas e que
anda no meio dos sete candeeiros de ouro: Conheço as tuas
obras, tanto o teu labor como a tua perseverança, e que
não podes suportar homens maus, e que puseste à prova os
que a si mesmos se declaram apóstolos e não são, e os
achaste mentirosos; e tens perseverança, e suportaste
provas por causa do meu nome, e não te deixaste
esmorecer. Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu
primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-
te e volta à prática das primeiras obras; e, se não, venho a
ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te
arrependas” (Ap 2.1-5)
As cartas às igrejas estão estreitamente relacionadas com
a Volta de Jesus. E o amor de novo é o tema central.
Quem abandona o primeiro amor:
- tem a oposição de Deus (v. 4);
- perde a capacidade de brilhar (isto é, a força para
testemunhar por Jesus: “e moverei do seu lugar o teu
candeeiro” – v. 5).
A séria advertência de Jesus mais tarde se tornou em
amarga realidade em Éfeso. Essa cidade ficava na atual
Turquia. Ainda há ruínas remanescentes dela. Nessa região,
há o domínio político e religioso do Islã. Com o abandono do
primeiro amor e a resistência ao arrependimento, essa
igreja, na qual Paulo, João e Timóteo trabalharam, perdeu
tudo.

O que é o primeiro amor?


Seria o amor que se tem por Jesus logo após a conversão,
no início da vida cristã? Seria o amor emocional e o fervor
dos primeiros tempos?
Quando Jesus reconhece o entusiasmo dos efésios Ele
mostra claramente que não se trata desse amor emocional
pós-conversão. E por que não? Porque eles demonstravam
ter esse fervor, o esforço, o labor, as obras e a
perseverança: “...não te deixaste esmorecer” (Ap 2.3).
Olhando sob perspectiva espiritual, sabemos que é
possível amar mais a Deus, decorridos trinta anos de vida
cristã, mesmo que não seja do mesmo modo emocional
como após a conversão, nem por isso esse amor agora é
menor do que antes. Se partirmos da ótica da vida
intermediária, também observaremos que o amor após uma
vida conjugal de vinte anos não diminui em relação ao seu
início, mas apresenta-se de maneira diferente. O amor se
mostra distintamente e, com o passar dos anos, se
manifesta de outra maneira do que na juventude.
Será que isso tem a ver com o ranking, com a prioridade
que damos ao amor a Jesus em nossa escala, em relação a
todos e a tudo o mais que amamos?
A prioridade na escala do amor certamente é da maior
importância. O amor a Jesus precisa estar absolutamente
em primeiro lugar (ver Mt 10.37). No entanto, no texto de
Apocalipse não há nenhuma indicação de que os efésios não
estivessem observando essa prioridade. Pelo contrário, está
escrito que eles faziam tudo “por causa do meu [Jesus]
nome” (v.3). Pelo visto, todas as suas atividades eram
primeiramente por amor a Jesus.
Esse primeiro amor parece estar se referindo a outra
coisa. A quê? Onde encontrar uma possível resposta?
Nesse contexto, é muito esclarecedora a ligação do
primeiro amor com as primeiras obras. Obviamente
formam um conjunto:
“Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro
amor. ...arrepende-te e volta à prática das primeiras
obras...” (Ap 2.4-5).
O que são as primeiras obras, em relação ao primeiro
amor? As primeiras obras se referem obrigatoriamente aos
primeiros dias do Cristianismo. Assim voltamos ao princípio
da Igreja para buscarmos a resposta à nossa questão.
Depois que Pedro negou a Jesus por tres vezes e de ter
chorado amargamente por isso (arrependimento), Jesus o
recompôs espiritualmente através de uma tríplice pergunta.
Em cada uma delas, tratava-se da combinação entre amor
e obras.
A primeira, em João 21.15:
“Depois de terem comido, perguntou Jesus a Simão Pedro:
Simão, filho de João, amas-me mais do que estes outros?
[amor] Ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo.
Ele lhe disse: Apascenta os meus cordeiros” [obras].
A segunda, em João 21.16:
“Tornou a perguntar-lhe pela segunda vez: Simão, filho de
João, tu me amas? [amor] Ele lhe respondeu: Sim, Senhor,
tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Pastoreia as minhas
ovelhas” [obras].
A terceira, em João 21.17:
“Pela terceira vez Jesus lhe perguntou: Simão, filho de
João, tu me amas? [amor] Pedro entristeceu-se por ele lhe
ter dito, pela terceira vez: Tu me amas? E respondeu-lhe:
Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo.
Jesus lhe disse: Apascenta as minhas ovelhas” [obras].
Com estas palavras, Pedro foi designado como tutor da
primeira Igreja. Ele se tornou a peça chave para a fundação
da Igreja em Pentecoste (At 2). Ele foi auxiliado por João
para transmitir o Espírito Santo em Samaria (At 8.14-17).
Finalmente, através dele o Evangelho chegou a Cornélio
como sinal que Deus chama também os gentios para a Sua
Igreja (At 10). Em todas as ocasiões, Pedro era a primeira
pessoa e praticava as primeiras obras. Podemos dizer que
ele conduziu as primeiras obras nos primórdios do
Cristianismo.
- Pedro foi o líder da primeira Igreja;
- Ele foi o orador e o orientador (At 2.14-15, 37; 4.8; 15.7);
- Ele zelava pela comunhão na primeira Igreja (At 5 –
Ananias e Safira; At 8.18-24 – Simão, o mágico);
- Ele viajava para dar assistência às primeiras reuniões
das igrejas:
“Passando Pedro por toda parte, desceu também aos
santos que habitavam em Lida” (At 9.32).
E como eram essas primeiras obras na Igreja primitiva,
onde Pedro era a pessoa-chave?
A Igreja se reunia, os membros oravam em conjunto e
intercediam uns pelos outros. Eles intercediam por Pedro,
proclamavam o Nome de Jesus, permaneciam firmes na
doutrina dos Apóstolos, eram unidos, ajudavam uns aos
outros, repartiam seus bens com os necessitados. Naqueles
primeiros dias, Barnabé, o filho do consolo, foi um homem
notável que se preocupava com os outros de maneira
exemplar. Com o crescimento da Igreja foram instituídos os
diáconos para os serviços diários de assistência.
Mais adiante, em Atos 20.17-38, Paulo lembra aos efésios
de como serviu aos convertidos, de casa em casa, dia e
noite, durante os três anos em que viveu entre eles. Ao
despedir-se deles, exortou os anciãos:
“Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o
Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a
igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio
sangue” (At 20.28).
Parece que estamos ouvindo as palavras de Jesus: “Tu me
amas? ...Apascenta as minhas ovelhas”. O primeiro amor se
manifestou nas primeiras obras, na primeira Igreja.
Quando Jesus diz aos efésios: “abandonaste o teu
primeiro amor. ...arrepende-te e volta à prática das
primeiras obras...”, Ele não faz uma ligação com a época da
fundação da Igreja? Significa: “Vosso amor não é mais como
foi no início!”
O primeiro amor, combinado com as primeiras obras, é
igual a zelar pelo rebanho, estar disponível para os outros,
cuidar um do outro, carregar um ao outro, esforçar-se pelo
próximo. Os primeiros capítulos de Atos dos Apóstolos nos
dão um tremendo testemunho disso.
- “E perseveravam ...na comunhão...” (At 2.42);
- “...unânimes, levantaram a voz a Deus...” (At 4.24);
- “Da multidão dos que creram era um o coração e a
alma” (At 4.32);
- “tudo... lhes era comum” (At 4.32);
- “Pois nenhum necessitado havia entre eles...” (At 4.34);
- “Mas, irmãos, escolhei dentre vós sete homens... aos
quais encarregaremos deste serviço” (At 6.3).
O primeiro amor nessa primeira Igreja ficou evidente
através dessas primeiras obras e justamente isso se perdeu
mais tarde!
É interesante observar que essas primeiras obras da
comunhão estavam faltando em Éfeso:
“Conheço as tuas obras, tanto o teu labor como a tua
perseverança, e que não podes suportar homens maus, e
que puseste à prova os que a si mesmos se declaram
apóstolos e não são, e os achaste mentirosos; e tens
perseverança, e suportaste provas por causa do meu nome,
e não te deixaste esmorecer. ...arrepende-te e volta à
prática das primeiras obras...”(Ap 2.2-3,5).
Éfeso tinha muitas qualidades, mas faltava-lhe o mais
importante. Faltavam as primeiras obras da comunhão e,
com elas, faltava o primeiro amor. O caráter da Igreja
primitiva praticamente se evaporou após a era apostólica.
Os efésios davam muita importância para o estudo
bíblico, a doutrina, o discernimento de espíritos, a
assiduidade, o nome de Jesus, a luta espiritual. Tudo isso é
muito importante e Jesus também o reconheceu neles, mas
tudo isso perde o valor se o cristão for negligenciado
individualmente.
Uma igreja está à mercê de dois perigos:
- O primeiro: Que a Palavra seja sufocada pela atividade.
Dá-se uma grande ênfase à assistência social, mas o
Evangelho é escasso. Franklin Graham, o filho do conhecido
evangelista Billy Graham, disse:
Não importa o quanto de bom você faz – se você não preparar as
pessoas para comparecerem diante de Deus, então está perdendo o seu
tempo.4
- O segundo: Que as ações de amor ao próximo não
recebam a devida importância. A Bíblia nos ensina que
aquele que somente prega, mas não ajuda, perde sua
credibilidade e sua capacidade de testemunhar. Nesse caso,
o candeeiro cai:
“Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que
tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé
salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de
roupa e necessitados do alimento cotidiano, e qualquer
dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos,
sem, contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é o
proveito disso? Assim, também a fé, se não tiver obras, por
si só está morta” (Tiago 2.14-17).
“Porque, assim como o corpo sem espírito é morto, assim
também a fé sem obras é morta” (Tiago 2.26).
O filósofo Sören A. Kierkegaard (1813-1855) escreveu:
“Jesus não instituiu docentes, mas discípulos”.
O que faz com que sejamos reconhecidos como discípulos
de Jesus? Não é nosso rosto radiante, nem as palavras que
pregamos, nem os hinos que cantamos ou o estudo bíblico
que fazemos. O que nos torna conhecidos como discípulos
do Senhor é o amor que demonstramos, que praticamos.
Em outras palavras: Não é apenas a palavra que nos
identifica como discípulos, mas o amor.
“Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se
tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13.35).
Confissão, mensagem e argumentos os outros também
têm, mas o que lhes falta é o amor de Deus pela ação do
Espírito Santo. Este é o argumento mais significativo dos
cristãos para a Verdade de Jesus e do Seu Evangelho. Quem
perde esse amor, perde o poder de brilhar. Onde a luz se
apaga no interior, externamente ela também desaparece. O
nosso amor a Jesus se torna visível no amor que
demonstramos ao nosso próximo.
Acontece com frequência, por exemplo, que o pastor e a
liderança da igreja são criticados ou censurados. Sabe-se
mais do que eles e muitas coisas deveriam ser feitas de
modo diferente. Surgem muitas fofocas e intrigas, não há
disposição para cooperar, nenhum apoio, nenhuma palavra
encorajadora, mas apenas muita crítica. Sob o ponto de
vista doutrinário, avalia-se tudo cuidadosamente, mas
perde-se pelo caminho aquilo que o Senhor considera como
o bem maior e sobre o qual Ele lança o Seu olhar. Por outro
lado, também o pastor pode se descuidar disso. Wilfried
Plock escreveu:
Em seu livro Mit Liebe leiten, Alexander Strauch relata sobre um
pastor que possuía um conhecimento bíblico inacreditável, mas
conseguia melindrar muitas pessoas com a sua maneira arrogante de
sempre ter a razão. Ele causava constantes cisões em sua igreja até
que, finalmente, acabou ficando só. Sua teologia era clara como o gelo,
mas duplamente gelada. Ele era uma pessoa sem amor.
Amor, o que é isso? Nossa visão foi criada para a luz, nosso ouvido
para o som, nosso coração para o amor. Com dinheiro pode-se construir
as mais belas casas, mas um lar se forma somente com amor.5
Um querido amigo, que era da liderança de uma igreja,
contou-me que um dos superiores teve uma atitude muito
grosseira, em função da sua posição eclesiástica. Ele falou a
um dos irmãos da igreja, que havia sofrido um acidente há
mais de trinta anos e como consequência teve sua mão
esquerda amputada, que se tornara inútil para o serviço de
Deus e o desligou do rol de colaboradores. Sobre isso, o
amigo me escreveu o seguinte: “Este irmão, agora com 74
anos de idade, me procurou e, soluçando, repetiu algumas
vezes: ‘Ele me disse que sou inútil. Não tenho mais nenhum
valor. Ele cortou mais uma vez a minha mão amputada’”.
Permita-me lançar uma provocação: Existem muitos
lugares com possibilidades de participar de inúmeros
estudos bíblicos, mas não há disposição para o trabalho,
para participar das reuniões de oração, para procurar
alguém e ajudá-lo a carregar o fardo, para se empenhar na
prática. A palavra e a ação, no entanto, formam um
conjunto! Há irmãos muito adiantados em conhecimento
teológico, porém, muito atrasados em termos de
demonstração prática de amor.
Nossa relacionamento com o próximo é o espelho de
nosso relacionamento com Deus. Simplesmente não
observamos que o mandamento de amor ao próximo está
no mesmo grau de importância do mandamento de amar a
Deus.
“Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de
todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu
entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O
segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como
a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei
e os Profetas” (Mt 22.37-40).
E, por ser assim, lemos na ordem inversa:
“Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é
mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem
vê, não pode amar a Deus, a quem não vê” (1 Jo 4.20).
Certamente a grande maioria conhece as meditações dos
Irmãos Morávios, hoje publicadas em mais de 50 idiomas. O
que poucos sabem, no entanto, é que houve um período
muito conturbado naquela igreja, com muitas intrigas entre
os irmãos. O periódico fest und treu (“Firme e fiel” em
tradução livre) noticiou que havia muita probabilidade de
uma total desagregação da comunidade. O fundador da
irmandade, Nikolaus Ludwig Graf von Zinzedorf (1700-
1760), encontrava-se em Dresden. Enquanto isso, em
Herrnhut, surgiu uma falsa doutrina que arrastou muitos e
causou grandes estragos. Havia um desentendimento geral
e houve até cisões. Fest und treu informou que havia
pessoas, “que estavam com toda sua existência
transtornada por causa de uma frase bíblica mal
compreendida e interpretada”. Naquela ocasião, um pastor
amigo de Zinzendorf lhe escreveu: “Parece que em Herrnhut
o Diabo está tentando derrubar tudo com um só golpe”.
Esse recado fez com que Zinzendorf voltasse
imediatamente para Herrnhut. Com muita paciência, amor e
dedicação, ele iniciou a tarefa de reunir novamente a igreja
repleta de intrigas e separações, de apaziguar as ondas da
inimizade. Ele foi de casa em casa para falar com cada
família, com cada pessoa individualmente. Foi novamente
celebrada a Ceia do Senhor, em que houve muitas orações
em conjunto, com arrependimento e reconciliação.
Então ocorreu uma grande mudança: voltaram as orações,
a leitura da Bíblia, a vida em comunhão, o serviço dos
diáconos e as ações missionárias.
Aconteceu um grande avivamento e aquela comunidade
quase extinta tornou-se uma grande obra missionária que,
em um período de trinta anos, enviou 312 missionários para
o exterior. Alguns cristãos se dispuseram a serem vendidos
como escravos a fim de alcançar outros escravos. Na ilha de
São Tomé e áreas vizinhas, houve quase 13.000 conversões,
segundo relata fest und treu: “ainda antes que qualquer
outras organizações missionárias ou igrejas pensassem em
iniciar um trabalho por lá. Em seguida iniciaram-se
trabalhos no Suriname (América do Sul), ao sul da África (na
costa dourada), entre os índios da América do Norte, entre
os esquimós na Groelândia, na Pérsia, entre os lapões e
samoiedos, na Escandinávia e Rússia”.
Através de arrependimento e da prática do amor foi
restabelecida a luz do candelabro.
“Somente a ação
proporciona força ao
amor”
(Johann Wolfgang von
Goethe).
5

O Amor Fraternal

“No tocante ao amor fraternal, não há necessidade de que


eu vos escreva, porquanto vós mesmos estais por Deus
instruídos que deveis amar-vos uns aos outros; e, na
verdade, estais praticando isso mesmo para com todos os
irmãos em toda a Macedônia. Contudo, vos exortamos,
irmãos, a progredirdes cada vez mais” (1 Ts 4.9-10).
Na sequência do texto acima (v. 13-18), o apóstolo
escreve sobre a esperança e o consolo do Arrebatamento.
Assim temos novamente o amor ligado diretamente à Volta
do Senhor.
Ludwig Graf von Zinzendorf disse: “Uma das
manifestações mais evidentes da vida com Deus é o amor
fraternal”.
Vamos definir que sob irmão e irmã consideramos a
comunhão fraternal de homens e mulheres crentes em
Jesus.
Elia Morise, um locutor egípcio, relatou um acontecimento
ocorrido no Cairo que é um exemplo de amor fraternal.
Os cristãos de lá haviam orado por muito tempo, tinham
clamado com lágrimas por uma gráfica. Certo dia, abriu-se
uma porta e eles a conseguiram. Um dos auxiliares
contratados, chamado Wasfi, tinha doze anos de idade e era
responsável também pela limpeza. O diretor da gráfica era
um médico que morava bem próximo a esta e era
conhecido pela sua maneira polida e amorosa de tratar as
pessoas.
Certo dia, o menino se descuidou e deixou cair um
pequeno retalho de pano entre os rolos em movimento. Ele
optou em não tirá-lo com a mão, pois isso seria perigoso e
utilizou um espanador que, por sua vez, se prendeu entre as
engrenagens e causou um dano considerável. Quando os
outros empregados viram o acontecido, xingaram o menino
aos gritos, destratando-o asperamente. Disseram que ele
era um inútil e que havia estragado a impressora que tinha
sido adquirida após muitas orações e com grande sacrifício.
Logo chamaram o diretor e lhe relataram o incidente. Um
pouco mais tarde, o diretor foi até o local, levando em mãos
uma barra de chocolate, deu-a ao garoto e, abraçando-o,
lhe disse: “Lágrimas ainda temos, ainda sabemos orar e o
nosso Deus tem rios de dinheiro, mas seria uma perda
muito grande se agora faltasse o seu braço. Eu estou feliz
que não lhe aconteceu nada”.
Atualmente, o garoto de outrora é o diretor da gráfica que
hoje é consideravelmente maior.
A 1ª carta aos Tessalonicenses foi escrita em 51 d.C. e
pertence às primeiras cartas do Novo Testamento
(juntamente com a carta aos Gálatas – 49 d.C). Nessa época
o primeiro amor ainda estava presente, principalmente
entre os tessalonicenses.
“Agora, porém, com o regresso de Timóteo, vindo do
vosso meio, trazendo-nos boas notícias da vossa fé e do
vosso amor, e, ainda, de que sempre guardais grata
lembrança de nós, desejando muito ver-nos, como, aliás,
também nós a vós outros” (1 Ts 3.6).
Paulo enaltecia o amor fraterno dos tessalonicenses. Cito
novamente a passagem de 1 Tessalonicenses 4.9-10, na
Nova Versão Internacional:
“Quanto ao amor fraternal, não precisamos escrever-lhes,
pois vocês mesmos já foram ensinados por Deus a se
amarem uns aos outros. E, de fato, vocês amam todos os
irmãos em toda a Macedônia. Contudo, irmãos, insistimos
com vocês que cada vez mais assim procedam”.
Podemos extrair pelo menos quatro lições desse texto:
1 – “Quanto ao amor fraternal, não precisamos escrever-
lhes”. Os tessalonicenses não necessitavam de nenhuma
exortação para o amor, porque eles o praticavam de forma
abrangente. Sim, eles eram realmente esforçados. Paulo
pode lhes escrever:
“Lembramos continuamente, diante de nosso Deus e Pai,
o que vocês tem demonstrado: o trabalho que resulta da fé,
o esforço motivado pelo amor e a perseverança proveniente
da esperança em nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Ts 1.3 –
NVI).
Como esse esforço em amar se mostrou na prática? Eles
demonstraram seu amor ajudando os necessitados da Igreja
de Jerusalém.
“Porque aprouve à Macedônia e à Acaia levantar uma
coleta em benefício dos pobres dentre os santos que vivem
em Jerusalém” (Rm 15.26).
Além de Filipos, a Macedônia abrangia também
Tessalônica (At 16.9,11-12; 17.1).
A igreja de Corinto havia resolvido ajudar no sustento de
outros e Paulo escreveu a eles afirmando que com isso eles
dariam prova da autenticidade do seu amor:
“Também, irmãos, vos fazemos conhecer a graça de Deus
concedida às igrejas da Macedônia; porque, no meio de
muita prova de tribulação, manifestaram abundância de
alegria, e a profunda pobreza deles superabundou em
grande riqueza da sua generosidade. Porque eles,
testemunho eu, na medida de suas posses e mesmo acima
delas, se mostraram voluntários, pedindo-nos, com muitos
rogos, a graça de participarem da assistência aos santos. E
não somente fizeram como nós esperávamos, mas também
deram-se a si mesmos primeiro ao Senhor, depois a nós,
pela vontade de Deus; o que nos levou a recomendar a Tito
que, como começou, assim também complete esta graça
entre vós. Como, porém, em tudo, manifestais
superabundância, tanto na fé e na palavra como no saber, e
em todo cuidado, e em nosso amor para convosco, assim
também abundeis nesta graça. Não vos falo na forma de
mandamento, mas para provar, pela diligência de outros, a
sinceridade do vosso amor” (2 Co 8.1-8).
2 – Observamos que a prática do amor é resultado do
espaço que eles deram para o agir de Deus em suas vidas:
“pois vocês mesmos já foram ensinados por Deus a se
amarem uns aos outros”.
E como isso aconteceu? Através da unção!
“E vós possuís unção que vem do Santo e todos tendes
conhecimento... e não tendes necessidade de que alguém
vos ensine...” (1 Jo 2.20,27).
O verdadeiro filho de Deus é constrangido à prática do
amor: “Pois o amor de Cristo nos constrange” (2 Co 5.14).
Outras religiões e ideologias incentivam à violência, ao
egoísmo, à autoafirmação, à autopromoção ou à
autorealização. Somente Jesus constrange ao verdadeiro
amor.
Recebemos esse constrangimento através da atuação do
Espírito Santo:
“...o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo
Espírito Santo, que nos foi outorgado” (Rm 5.5).
“Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são
filhos de Deus” (Rm 8.14).
Se nos faltar esse incentivo dado pelo Espírito Santo,
então deveríamos questionar o nosso cristianismo.
3 – Aprendemos que os tessalonicenses demonstraram
seu amor além dos limites de sua igreja, beneficiando os
irmãos na fé de toda a Macedônia. Eles tinham um horizonte
amplo e não estavam fixados em si mesmos: “...estais
praticando isso mesmo para com todos os irmãos em toda a
Macedônia”.
Os raios do seu amor brilhavam como um farol para todos
os cristãos daquela época e se falava disso em todos os
lugares. Dificilmente haverá um testemunho melhor para
uma igreja do que o testemunho do amor de Cristo em nós.
4 – Vemos que o amor sempre tende a crescer. Os
tessalonicenses tinham o testemunho do amor fraternal
genuíno, sincero e prático e assim não precisavam de mais
nenhuma instrução. Esse testemunho os tornou muito
conhecidos. Mesmo assim, o Espírito Santo os incentivou a
que crescessem ainda mais nessa área: “...vos exortamos,
irmãos, a progredirdes cada vez mais” ou, “o vosso amor
nunca será grande demais”. Alguém disse certa vez: “O
amor não tem feriados”.
“...que o vosso amor aumente mais e mais...” (Fp 1.9).
“e o Senhor vos faça crescer e aumentar no amor uns
para com os outros e para com todos...” (1 Ts 3.12).
Existem coisas que são boas e saudáveis quando usadas
ou consumidas adequadamente, mas podem ter efeitos
nocivos quando aproveitadas em exagero. Nesse caso,
podem até ter efeitos contrários. Pode-se exagerar na
comida, na bebida, na prática de esportes, no trabalho.
Pode-se viver desmesuradamente.
Para o amor, no entanto, não existe medida excessiva. O
amor não tem limites, não tem exageros. Não há efeitos
nocivos em caso de prática exagerada de amor. Nunca se
consegue amar demais, o amor precisa ser praticado
constantemente, não existe pausa nem término no amor. “O
amor jamais acaba” (1 Co 13.8).
Nosso amor, no entanto, chega rapidamente aos seus
limites, mas devemos amar sem visar a interesses próprios,
nem impondo condições. Assim não se deve primeiramente
esperar pelo amor dos outros, mas devemos ser os
primeiros a praticar o amor. É muito fácil criticar a falta de
amor dos outros sem antes fazer uma autoanálise. Como
está o amor em mim? Como ele se manifesta? O que eu
faço pelo meu próximo na prática? Ainda permito que o
Espírito Santo governe em mim? Se não pratico o amor, o
que me falta para começar a fazê-lo?
O sol está para a natureza assim como o amor está para o
coração: ele derrete o gelo. O frio no coração é sinal da falta
dos raios aquecidos do amor.
Desta maneira, por exemplo, a princesa Eugênia, da
Suécia (1830-1889) foi conduzida a Cristo por uma de suas
aias. Ela não se casou por causa de sua saúde debilitada e
então resolveu dedicar seu amor e recursos aos pobres e
enfermos. Seu amor estava em constante crescimento. Ela
vendeu a maior parte de suas jóias e, com os fundos
arrecadados, construiu orfanatos, hospitais e asilos. A
princesa visitava as pessoas e orava nominal e
exaustivamente por elas. Alguns, com isso, chegaram à fé
em Jesus Cristo.
O amor é a característica mais importante do
Cristianismo.
“Uma gota de amor vale
mais do que um oceano
de inteligência”
(Blaise Pascal).
6

A Eterna Dívida: Amar

“Não devam nada a ninguém, a não ser o amor uns pelos


outros, pois aquele que ama seu próximo tem cumprido a
Lei. Pois estes mandamentos: “Não adulterarás”, “Não
matarás”, “Não furtarás”, “Não cobiçarás”, e qualquer outro
mandamento, todos se resumem neste preceito: “Ame o seu
próximo como a si mesmo”. O amor não pratica o mal
contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento da Lei.
Façam isso, compreendendo o tempo em que vivemos.
Chegou a hora de vocês despertarem do sono, porque agora
a nossa salvação está mais próxima do que quando cremos.
A noite está quase acabando; o dia logo vem. Portanto,
deixemos de lado as obras das trevas e revistamo-nos da
armadura da luz” (Rm 13.8-12 – NVI).
Novamente vemos o amor em estreita ligação com a Volta
de nosso Senhor e somos exortados: “Façam isso,
compreendendo o tempo em que vivemos... Chegou a
hora...”.
Os acontecimentos em nossos dias não nos falam com
linguagem clara? Na introdução a esse tema, em seu livro
Die Schatten der Nacht (“As Sombras da Noite”, em
tradução livre), Carl Görsch escreve:
Diz-se que os grandes eventos antecipam a projeção de sua sombra.
O mesmo acontece com os últimos acontecimentos na História mundial.
Não enxergamos os fatos propriamente ditos, mas o seu prenúncio. Isso
nos deixa intranquilos e com razão. As sombras que se erguem aos
nossos olhos anunciam uma noite escura. (...) Em breve veremos o sol
da Graça se pondo sobre o belo mundo novo em que vivemos. As
sombras se estendem e o clima esfria. É tempo de sairmos à busca de
um abrigo.6
Somos exortados: “revistamo-nos das armas da luz”
(ARA). O amor é uma dessas armas. Com ele foram
conquistadas mais vitórias do que com guerras.
Um exemplo disso é o da missionária Gertrud que
trabalhou entre os ciganos em Hamburgo. Um jovem amigo
cigano que se converteu contou-me algo sobre ela. Ela foi o
instrumento que Deus usou durante as décadas de 1960 e
1970 para promover um avivamento espiritual entre o
grupo sinti. Hoje ela está com mais de 90 anos. Tive o
privilégio de conhecê-la pessoalmente. No início de seu
trabalho missionário, seus opositores, entre eles os ciganos,
jogavam pedras contra as vidraças de sua casa. Ela guardou
todas as pedras e colocou uma frase ou versículo bíblico em
cada uma delas, por exemplo: “Deus é amor” ou “Jesus te
ama”. Foram em torno de 70 pedras recolhidas. Essa foi a
sua reação diante dos seus inimigos. O amigo contou-me
que, mais tarde, todos os ciganos que jogaram pedras
aceitaram a Jesus Cristo pela fé. Que grandiosa vitória!
O amor é a maior dívida em nossa vida:
“Não devam nada a ninguém, a não ser o amor uns pelos
outros”.
Ter uma dívida é sempre algo aborrecedor e deprimente.
Dívidas podem sufocar, oprimir e até causar enfermidades.
Você pode se imaginar tendo uma dívida ou culpa da qual
não precisa se arrepender? Pelo contrário, uma dívida pela
qual deveríamos impreterivelmente responder? Uma dívida
que alivia e livra, que dá asas à vida e que é saudável, que
ajuda, edifica e traz fruto?
Cada um de nós tem essa dívida e ninguém consegue se
livrar dela, mesmo que trabalhemos constantemente.
Por isso, um dos meus amigos missionários usa o seguinte
título em suas cartas circulares: “Somos devedores”.
“A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com
que vos ameis uns aos outros, porque quem ama aos outros
cumpriu a lei” (Rm 13.8 – ACF, ARC)
O apóstolo João conclui:
“Amados, visto que Deus assim nos amou, nós também
devemos amar uns aos outros” (1 Jo 4.11 – NVI).
O diretor de uma organização assistencial em uma cidade,
após 40 anos de atividades, ao ser indagado por que havia
dedicado toda sua vida a mendigos imundos, infestados de
piolhos, embriagados e ateus, respondeu: “Eu apenas estou
devolvendo um pouco do amor com que Deus me
presenteou”.
Mesmo que eu ame muito, muito mais do que as outras
pessoas, a minha dívida ainda ficaria a mesma. Ela nunca
chegará ao ponto no qual eu poderia dizer: “Agora eu amei
o suficiente”.

O amor é o cumprimento da lei


“A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor
com que vos ameis uns aos outros; pois quem ama o
próximo tem cumprido a lei” (Rm 13.8).
Tiago classifica o amor como a “lei do Reino”:
“Se vocês de fato obedecerem à lei do Reino encontrada
na Escritura que diz: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’,
estarão agindo corretamente” (Tg 2.8 – NVI).
O apóstolo João menciona a palavra amor mais de 80
vezes em suas cartas. Ele também é denominado o
apóstolo do amor. Provavelmente morreu por volta de 98
d.C. Jerônimo, um dos anciãos da Igreja, escreveu que João
precisava ser carregado para participar das reuniões na
igreja de Éfeso, no final de sua vida.
As palavras que se ouviam constantemente de seus lábios eram:
“Meus filhos, amem uns aos outros”. Quando lhe perguntaram a razão
de estar sempre repetindo isso, ele respondeu: “É o mandamento do
Senhor e se cumprirem apenas isso, será suficiente”.7
O que torna o amor tão singular?
1 – O amor é o maior
Ele está acima de tudo. O amor tem o tamanho de Deus.
“Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor
procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus
e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a
Deus, pois Deus é amor” (1 Jo 4.7-8).
Se Deus é amor e se o amor vem de Deus,
obrigatoriamente ele é o maior.
“Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor,
estes três; porém o maior destes é o amor” (1 Co 13.13).
Lembremo-nos: O maior não é a fé, nem a esperança, mas
é o amor. Em nossa escala, não consideramos a fé como
mais importante do que o amor? E não julgamos a
esperança superior ao amor? Desejamos ser heróis da fé,
mas é melhor ser herói do amor.
De acordo com Efésios 3.19, o amor de Cristo excede a
todo o entendimento. Como nos esforçamos para
crescermos em conhecimento! Deveríamos antes crescer no
amor.
“e conhecer o amor de Cristo, que excede todo
entendimento, para que sejais tomados de toda a plenitude
de Deus” (Efésios 3.19).
Na carta aos Colossenses lemos:
“...acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o
vínculo da perfeição” (Cl 3.14).
Em um convite de casamento, li a seguinte interpretação
para esse versículo: “O amor é mais importante do que
qualquer outra coisa. Se vocês o tiverem, não lhes faltará
nada. Ele é o laço que vos une”.
2 – O amor é o novo mandamento de Cristo
Jesus diz:
“Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos
outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis
uns aos outros” (Jo 13.34).
E qual afinal é a novidade no mandamento do amor?
“...amarás o teu próximo como a ti mesmo” não era um
novo mandamento, pois já o lemos em Levítico 19.18:
“Não te vingarás, nem guardarás ira contra os filhos do
teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu
sou o Senhor”.
O novo mandamento consiste em nos amarmos
mutuamente, assim como Jesus nos amou. Nosso parâmetro
é o amor de Jesus. Tudo o que Jesus fez e falou, cada passo
ou marca em Sua vida trazia o selo do amor de Deus.
Como Jesus demonstrava amor aos Seus discípulos? Ele
não lhes fazia admoestações, nem guardava rancor. Ele não
os castigava, mas os esperava. Ele os acompanhava, se
importava por eles, os exortava, ensinava com seriedade, os
edificava, os carregava. Ele os segurava quando o
abandonaram e foi buscá-los. Ele lhes perdoou, os reergueu,
os comissionou, morreu por eles e lhes deu nova esperança.
Na cruz, Ele ainda intercedeu pelos seus inimigos.
Por quanto tempo Jesus amou?
“...tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os
até ao fim” (Jo 13.1).
Este novo mandamento não é apenas um conselho, mas é
uma ordem; não é um pedido, mas um mandamento. Se
não o cumprirmos, todo o restante também se perde.
3 – O amor é eterno
Porque Deus é amor e o amor vem de Deus, por isso o
amor é eterno, jamais perece. O amor é como Deus é.
“O amor jamais acaba [“O amor nunca perece”– NVI];
mas, havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas,
cessarão; havendo ciência, passará” (1 Co 13.8).
Não deveríamos começar a praticar o amor?
“...de sorte que o cumprimento da lei é o amor. E digo isto
a vós outros que conheceis o tempo: já é hora de vos
despertardes do sono; porque a nossa salvação está, agora,
mais perto do que quando no princípio cremos. Vai alta a
noite, e vem chegando o dia. Deixemos, pois, as obras das
trevas e revistamo-nos das armas da luz” (Rm 13.10-12).
Praticar o amor significa deixar todas “as obras das
trevas”. As obras das trevas compreendem tudo o que lança
sombra sobre o amor.
Por acaso há alguma sombra sobre o seu próximo? Você
quase não a percebe, mas ela está aí e lhe atrapalha.
Há pessoas que dizem: “Eu não consigo amar”. Wilhelm
Busch escreveu uma história a respeito:
No século passado residia um comerciante de couros em Wuppertal,
na Alemanha. Ele era um perfeito conselheiro espiritual. Um certo jovem
chegou-se a ele e disse: “Se Jesus me perguntar: ‘Você me ama?’, eu
não posso responder-Lhe. Meu coração está muito frio”. O comerciante
lhe respondeu: “Amigo, então inverta a situação. Pergunte a Jesus: “Tu
me amas?’”
Após ficar calado por um momento, subitamente o rosto do jovem
ficou radiante. Ele se deu conta do amor que Jesus tem por nós. Isso fez
arder o seu coração.8
“Amar significa dar
alguma coisa e não
significa recebê-la”
(Bertold Brecht).
7

O Amor Livra do Medo

“E nós conhecemos e cremos no amor que Deus tem por


nós. Deus é amor, e aquele que permanece no amor
permanece em Deus, e Deus, nele. Nisto é em nós
aperfeiçoado o amor, para que, no Dia do Juízo,
mantenhamos confiança; pois, segundo ele é, também nós
somos neste mundo. No amor não existe medo; antes, o
perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz
tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no
amor. Nós amamos porque ele nos amou primeiro. Se
alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é
mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem
vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. Ora, temos, da
parte dele, este mandamento: que aquele que ama a Deus
ame também a seu irmão” (1 Jo 4.16-21).
Palavras referentes a amor e a amar aparecem 14 vezes
nesses poucos versículos. Vejam a importância que neles é
dada ao amor!
Certa vez recebi um folheto em uma de minhas viagens
que dizia:
Somente o amor é vida,
Você consegue dedicar-lhe o coração?
Então Deus lhe dará de tudo
E o mundo será sua possessão.
(Autor desconhecido)
Como está o mundo no qual fomos inseridos para
demonstrar amor?
Li um relato sobre uma senhora que vivia sozinha em
Berlim e que não gostava de cães, porque havia sido
mordida por um deles. Mesmo assim ela se acostumou a
sorrir para eles, quando os encontrava na rua. Quando
indagada do porquê disso, ela respondeu: “É uma estratégia
que eu tenho. Dessa maneira eu às vezes também recebo
um sorriso amistoso dos donos dos cães, até algumas
palavras cordiais. Eles são amáveis comigo quando dou um
sorriso para os seus cães de estimação”.
Que situação triste! Essa mulher faz de tudo para receber
um olhar amistoso, ser alvo da atenção de alguém e para
que alguém converse com ela.
O que observamos no texto acima?

1 – O amor está diretamente ligado com a


Volta de Jesus
Novamente vemos: “para que, no Dia do Juízo,
mantenhamos confiança...”.
Em Romanos 14.10 lemos também nesse sentido:
“Tu, porém, por que julgas teu irmão? E tu, por que
desprezas o teu? Pois todos compareceremos perante o
tribunal de Deus”.
A falta de amor será um dos critérios avaliados diante do
Tribunal de Cristo.

2. Quem crê no amor de Deus se esforça


em praticá-lo
“E nós conhecemos e cremos no amor que Deus tem por
nós. Deus é amor, e aquele que permanece no amor
permanece em Deus, e Deus, nele. (...) Ora, temos, da parte
dele, este mandamento: que aquele que ama a Deus ame
também a seu irmão” (1 Jo 4.16,21).
Aquele que:
- reconhece o amor de Deus,
- crê no amor de Deus,
- ama a Deus,
se empenhará ao máximo para amar os seus irmãos. Caso
contrário, lemos:
“Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é
mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem
vê, não pode amar a Deus, a quem não vê” (1 Jo 4.20).
O periódico Perspektive (Perspectiva) trouxe o seguinte:
Nós só praticamos tanto quanto cremos da Bíblia. Se não
conseguirmos cumprir o mandamento mais importante – “...amarás o
teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19.18) – então de nada adianta
cumprirmos os pontos menos importantes da Palavra de Deus. Os
fariseus incorriam fundamentalmente no erro de dedicar os maiores
esforços nas coisas secundárias e negligenciar nos assuntos decisivos.
Eles transgrediam justamente o mandamento que acreditavam estar
defendendo.9
Há cristãos que seguem uma legislação própria e não
bíblica baseada somente em algumas passagens da Bíblia,
mas não em todas as instruções da Escritura sobre o tema.
Eles se preocupam unicamente em descobrir aquilo que o
próximo não cumpre, de acordo com suas leis. Estão
constantemente voando sobre as igrejas como fazem as
aves de rapina em busca de suas presas. Quando
descobrem alguma coisa, então mergulham sobre ela.
Fazem observações impertinentes, deixam um bilhete ou
um livrete, colocam algo na caixa de correspondência,
enviam e-mails desaforados ou nos interpelam com
grosserias. À sua maneira errônea, pensam estar cumprindo
a Palavra de Deus. Não lembram que eles mesmos estão
falhando e que algum dia terão que prestar contas disso.
Seu fruto consiste em atemorizar, espantar e afugentar ao
invés de reunir. Seu livro particular de mandamentos é a
falta de amor, a insensibilidade. Eles são os fariseus do
Cristianismo (ver Rm 14).
3. O amor afasta nosso medo diante de
Deus
“E nós conhecemos e cremos no amor que Deus tem por
nós. (...) Nisto é em nós aperfeiçoado o amor, para que, no
Dia do Juízo, mantenhamos confiança; pois, segundo ele é,
também nós somos neste mundo. No amor não existe
medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o
medo produz tormento; logo, aquele que teme não é
aperfeiçoado no amor. Nós amamos porque ele nos amou
primeiro” (1 Jo 4.16-19).
A partir de quando o amor foi ignorado? Desde o pecado
original. Com ele surgiu o medo diante de Deus e o prejuízo
no conhecimento dEle. Quando Deus nos procurou através
de Jesus Cristo, no entanto, conseguimos um novo
relacionamento com o Pai.
Esse amor gerado pelo Espírito Santo é um sinal que a
pessoa é regenerada desde sua base e assim não precisa
mais temer o juízo de Deus. O amor gera confiança e afasta
o medo por causa do julgamento.
Quem ainda teme o julgamento de Deus tem medo do
castigo. Isso ocorre porque ele ainda não está reconciliado,
ainda não experimentou o amor de Deus em Jesus e ainda
não está abrigado nEle. Vejam as palavras de Volker Kauder,
líder da bancada da CDU/CSU no Parlamento da Alemanha:
“O contrário da fé é o medo. Muitas pessoas têm medo
porque não possuem uma âncora na qual podem firmar sua
vida”.
Quem ama a Deus não pode, ao mesmo tempo, se
esconder dEle com medo. Quem teme o castigo ainda não
vive plenamente no amor. Se alguém teme pelo castigo é
porque ainda vive em pecado e não recebeu o perdão. O
amor modifica tudo: o relacionamento com Deus e, em
consequência, o relacionamento com o próximo.
Um dos meus amigos, psicanalista, psicoterapeuta e
especialista em Medicina Interna, disse:
Através de um tratamento psicoanalítico, que durou mais de mil
sessões, tentei me modificar e me realizar com a ajuda do psicoanalista
e com esforço próprio... Meu maior anseio – conseguir amar sincera e
profundamente – não foi alcançado com ele. Somente quando dei
abertura ao amor de Deus é que comecei a sentir que me tornei capaz
de amar sem reservas. (Dr. Markus Bourquin).
“O amor não só tem
direitos, mas ele sempre
tem a razão”
(Marie von Ebner-
Eschenbach).
8

O Amor Está Acima de


Tudo

“Ora, o fim de todas as coisas está próximo; sede,


portanto, criteriosos e sóbrios a bem das vossas orações.
Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com os
outros, porque o amor cobre multidão de pecados” (1 Pedro
4.7-8).
Com o advento do fim dos tempos, quando o amor
esfriará em muitos (Mt 24.12), o amor deveria dominar
ainda mais os cristãos. Visto sob aspecto da Medicina,
sabemos que as partes do corpo humano mais distantes do
coração demoram mais tempo para ficarem curadas,
principalmente na velhice. Por exemplo: os pés muitas
vezes não recebem a circulação de sangue adequada e, em
consequência, as feridas neles saram mais lentamente ou
nem curam.
Quanto mais afastados vivermos do amor, mais
dificilmente serão curadas as feridas. O perdão acontece
com mais dificuldade, antes somos rancorosos e
intolerantes. Quanto mais próximos estivermos do Coração
do Amor, tanto mais facilmente conseguiremos perdoar e
sarar as feridas. “...porque o amor cobre multidão de
pecados” (1 Pe 4.8).
Otto Stockmayer disse: “O amor consegue dizer coisas
que, sem amor, não seriam possíveis de falar”.
Emil Frommel expressou: “É necessário ter amor para
dizer uma boa palavra – às vezes é preciso um amor ainda
maior para calar”.
É interessante observar que temos a inclinação para
considerar mais importante do que o amor aquilo que na
verdade deveria estar subordinado a ele.
Exemplo: Devemos exortar, alertar, orientar e também
não precisamos aceitar tudo! Com certeza isso está correto,
mas é totalmente errado usá-lo como desculpa para amar
menos. Acima de tudo, devemos amar e nunca esquecer
que o amor é maior do que tudo. Jesus não tolerou o
pecado, mas Ele foi o primeiro a amar. Ele não destruiu, mas
restaurou; Ele não afugentou, mas reuniu; Ele não
desprezou, mas carregou sobre Seus ombros. “Acima de
tudo, porém, tende amor intenso uns para com os outros”.
Antes de qualquer outra coisa, devemos aprender a amar.
Antes de empregarmos qualquer coisa, devemos praticar o
amor. Para tudo que fizermos ou dissermos, devemos ser
impelidos pelo amor. Tudo deve estar subordinado ao amor.
“Sigam o caminho do amor...” (1 Co 14.1 – NVI).
“Todos os vossos atos sejam feitos com amor” (1 Co
16.14).
Se o meu amor nunca for correspondido por alguém, isso
significa o fim? O fim de quê, do amor? “O amor jamais
acaba” (1 Co 13.8).
O amor não precisa respeitar, tolerar ou aceitar tudo. O
amor não precisa acompanhar tudo. O amor não pode ser
inconsequente, mas também precisa educar, também pode
exortar, mas nunca deve deixar de ser amor. Não preciso
concordar com tudo que o meu próximo faz. É possível que
seus costumes, sua maneira de ser, não me agradem, mas
também não preciso gostar dos seus costumes. Deus
igualmente não se agradou de nossos costumes e nosso
modo de vida foi tudo menos simpático aos Seus olhos, mas
mesmo assim Ele nos amou.
Muitas vezes nos falta o tato, o sentimento e a empatia,
porque nos falta o amor. Sabemos julgar e condenar, temos
um faro para certos perigos e sabemos como nos prevenir.
Limpamos as minúsculas ervas daninhas e, enquanto isso,
pisamos nas flores.
O sentido e a sensibilidade para o amor se perderam ou
nunca existiram. Mesmo assim, o amor ainda é o mais
eficiente e o que nos identifica como filhos de Deus, como
nascidos dEle. O amor é o que consegue avançar mais e
que produz mais frutos. A primeira característica do fruto do
Espírito é o amor (Gl 5.22).
Em nosso tempo de criança, andávamos de esqui no
inverno e nessas ocasiões gostávamos de chupar gelo ou
porções de neve. Cada vez que me proibiam de fazê-lo, eu
esperava que os adultos se afastassem e então o fazia
novamente. Havia um senhor simpático muito respeitado
em nosso bairro, que era representante comercial de
guloseimas. Certa vez, ele se aproximou de mim, colocou
sua mão no meu ombro e disse: “Norbert, se você parar de
chupar esse gelo imundo eu lhe dou uma caixinha de goma
de mascar”. Desde aquele dia, não pus mais gelo ou neve
na boca, mesmo que não houvesse adultos por perto.
“Se o amor governasse o
mundo, as leis seriam
desnecessárias”
(Aristóteles).
9

O Amor Guarda

“...guardai-vos no amor de Deus, esperando a


misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo, para a vida
eterna” (Jd 21).
A vida eterna se tornará visível com a Volta de Jesus.
Deveríamos manter nossa esperança focada nisso. Como
Igreja, podemos nos abrigar no amor de Deus.
“Guardai-vos...”: “O que eu estou fazendo pelo amor?” e
não: “O que espero dos outros!”
O que estou fazendo para manter a união da família, pela
união da comunidade, pela sua edificação e proteção?
Participamos apenas com críticas sarcásticas e temos
palpites a dar sobre tudo e sobre todos ou praticamos um
amor que abriga e serve para a edificação da comunidade?
A história a seguir pode ilustrar isso. Duas pessoas foram
alcançadas por uma tempestade de neve no Tibet. Eles
corriam o risco de ficar presos e congelar. No caminho, se
depararam com um homem caído na neve, imóvel, vítima
da queda de um penhasco. Um dos dois decidiu salvá-lo e o
outro discordou: “Nós mesmos estamos correndo perigo de
vida e, se nos ocuparmos com ele, os três acabarão
morrendo”. Dizendo isso, ele foi adiante. O que permaneceu
conseguiu andar lentamente e com dificuldade, carregando
o acidentado sobre seus ombros. Com o seu esforço acabou
sentindo calor e o seu calor se transmitiu também para o
que havia caído, de modo que este recuperou os sentidos.
Ambos agora seguiram juntos e mais adiante encontraram o
corpo daquele que os havia abandonado. Ele foi vencido
pelo cansaço, caiu e morreu congelado. Mais tarde, o que
havia parado para socorrer o que caíra do penhasco disse:
“Minha intenção era salvar uma pessoa e acabei salvando
minha própria vida”.
“O amor é como um
círculo:
ele não tem fim”.
10

Não Existe Nada Maior

“Ora, o intuito da presente admoestação visa ao amor que


procede de coração puro, e de consciência boa, e de fé sem
hipocrisia” (1 Tm 1.5).
É possível pesquisar o amor? Pesquisadores alemães
acompanharam 279 homens e mulheres desde a infância
até à fase adulta, isto é, do terceiro ao décimo nono ano de
vida. Os resultados coletados foram surpreendentes. Os
cientistas visitavam as crianças em casa e as observavam
em seu ambiente familiar. Eles registravam a reação dos
pais quando as crianças choravam ou gritavam e quando
não queriam comer ou dormir. Quase ao término da
pesquisa, foi analisado o sangue dos jovens. Os cientistas
constataram que os jovens, cujos pais na infância eram
ásperos, frios e impacientes com eles, não desenvolveram
duas substâncias no sangue e que protegem contra infartos
ou AVCs. Nos outros, que foram tratados de maneira
amorosa, essas substâncias estavam presentes em doses
consideráveis. Um tratamento amoroso dispensado às
crianças também contribui para que se tornem mais
receptoras de hormônios antiestresse. Os que foram
cuidados com carinho pelos pais, ao chegarem à meia
idade, também apresentaram menores índices de
perturbações psicológicas (como o medo) e dificilmente
demonstraram atitudes hostis e agressivas, além de
conseguirem lidar melhor com situações de pressão.10
A frase de maior emoção que o mundo talvez conheça é:
“Eu te amo!” Se essa frase for aplicada na prática, ela não
somente toca os corações, mas os transforma, anima,
consola, reergue, produz alívio, aceita agressões, concede
confiança e esperança. Amar não significa desconsiderar o
pecado ou deixar de julgar a maldade, mas o que é decisivo
é nossa maneira de agir com as pessoas, como as apoiamos
e lhes prestamos auxílio.
Deus diz pessoalmente para cada pessoa: “Eu te amo!” e
prova isso através de Jesus:
“Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus,
nosso Salvador, e o seu amor para com todos, não por obras
de justiça praticadas por nós, mas segundo sua
misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e
renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós
ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador” (Tt
3.4-6).
O amor de Deus nos trouxe toda a Sua graça e
misericórdia. Deus não manteve a nossa culpa pelo pecado,
porém, a perdoou com o sacrifício do amor de Jesus. Deus é
amoroso, misericordioso e de boa-vontade.
Assim podemos considerar que os cristãos devem dar
mostras com todo o ser desse amor e dessa misericórdia
que eles mesmos experimentaram, sim, eles devem amar
os irmãos e as demais pessoas. Por isso, Friedrich von
Bodelschwingh falou: “Permita que a compreensão
misericordiosa de todas as coisas seja a vocação de sua
vida”. Ao invés disso, no entanto, justamente os cristãos
que querem ser os mais piedosos se inflam com sua justiça
própria. Muitos sequer demonstram graça; ao invés de
serem misericordiosos, mostram dureza, batendo com leis e
mandamentos. São dominados por um “espírito julgador”
que reflete de tudo, menos o amor do Espírito de Deus. Tais
cristãos sabem apontar para todos os erros, são excelentes
em exortar, acham que sabem mais do que os outros e,
além de tudo, se consideram muito piedosos. A sua falta de
amor, no entanto, demonstra quão pouco possuem do
genuíno espírito cristão. A revista evangélica ideaSpektrum
publicou uma entrevista com o Pastor Reinhard Holmer. O
seu pai Uwe Holmer e sua esposa abrigaram Erich Honecker
e sua esposa Margot em seu lar após a derrocada do regime
socialista na antiga DDR – a República Democrática da
Alemanha. Isso foi um exemplo legítimo de amor ao inimigo
(Mt 5.44), pois Honecker era o ex-Chefe de Estado e do
partido daquele governo e os Holmer, por serem cristãos,
foram muito prejudicados pelo regime ateu. Reinhard
Holmer destaca que a maioria das críticas recebidas eram
provenientes de cristãos.
Um ancião de minha igreja perguntou-me como a igreja poderia fazer
algo assim. Eu lhe fiz outra pergunta: Como a igreja poderia pregar
sobre o Bom Samaritano se nós afirmamos: “Isso vale para qualquer um,
menos para os Honecker?” Foi interessante verificar que os não-cristãos
não acharam isso tão desprezível. Um amigo ateu me disse: “Reinhard,
eu consigo entender que seu pai agiu assim. Se vocês não quiserem
somente falar, mas quiserem confirmar as palavras com ações, vocês
não podem fazer diferente disso”. A entrevista com Reinhard Holmer
continuou: “Se temos um Deus de amor, não podemos agir sem amor
com aqueles que nos ofendem”.11
Na edição seguinte da Idea, apareceu a carta de um leitor
dando razão ao ancião da igreja que criticou a atitude dos
Holmer. Isso mostra uma vez mais quão pouco alguns
cristãos entendem a respeito da amorosa misericórdia de
Deus. Não seria o caso de irmos ao encontro dos inimigos
do Cristianismo, demonstrando amor e misericórdia, na
esperança que através disso eles reconheçam a graça de
Deus, abrandem seus corações e consigam tomar também
para si a misericórdia em Jesus Cristo? Deus demonstra Sua
graça aos pecadores antes que eles se arrependam:
“Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo
fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda
pecadores” (Rm 5.8).
Não é justamente essa graça e bondade que conduz ao
arrependimento?
Damos pouca atenção ao fato de que “o objetivo da
instrução é o amor”. Não se trata de condenar, excluir,
fechar e destruir, perseguir, destratar e criticar, mas trata-
se de instruir em amor, edificar, apoiar, conduzir e educar.
Muitos filhos criados em lares cristãos se desviaram, porque
o cristianismo ali era praticado somente com rigor e não
com amor. O Novo Testamento diz claramente:
“E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-
os na disciplina e na admoestação do Senhor” (Ef 6.4).
Isso também pode significar que não se deve levar os
filhos à irritação. Por isso Paulo diz em Colossenses 3.21:
“Pais, não irriteis os vossos filhos, para que não fiquem
desanimados”.
As cisões que ocorrem nas igrejas nem sempre são
causadas por diferentes interpretações de doutrinas, mas
pela falta de amor. Doutrinariamente parece estar tudo
bem, para cada caso há uma passagem bíblica
correspondente, mas para o maior aspecto doutrinário – o
amor – não se dá a devida importância: “...o fim do
mandamento é o amor” (1 Tm 1.5 – NVI).
É fácil imaginar que, ao final da nossa vida, seremos
oprimidos principalmente pela falta de amor com que
agimos e que a questão do amor será da maior importância
diante do Tribunal de Cristo.
Como observamos, é notável a frequência com que o
amor é mencionado em relação à Volta de Cristo.
No dia 15 de agosto de 1944, o diplomata e jurista Hans
Bernd von Haeften foi condenado à morte pelo júri popular
em Berlim e enforcado algumas horas depois do
julgamento. Ele tinha 38 anos de idade e pertencia à Igreja
Confessante Alemã. Logo após a sentença de morte, ele
escreveu a última carta para sua esposa, onde aparece o
que pesava em seu coração:
Minha querida esposa, minha bondosa Bárbara!
Creio que em poucas horas estarei caindo nas mãos de Deus. Assim
desejo me despedir de você e dos filhos (...) Faça com que os filhos
memorizem muitas passagens bíblicas e hinos, para que os tenham em
seu coração quando estiverem em perigo. Haverá tempos de dúvidas e
de afastamento, mas a vida trará os filhos de volta para uma base sólida
quando ela for estabelecida na juventude. Jesus Cristo é o Caminho, a
Verdade e a Vida (João 14.6).
Creio que o versículo base de nosso casamento (“Deus é amor”)
ficaria bem na lápide do túmulo. Bárbara, nessas semanas de prisão eu
silenciei diante do julgamento de Deus, reconheci e confessei minha
culpa diante dEle. Obedecer aos mandamentos de Deus, praticar o amor
e ser humilde diante de Deus: esta é a regra que eu transgredi.
Querida esposa, eu morro consciente do perdão de Deus. Tenho a
esperança de que Deus vos conduzirá com as Suas mãos paternas
através dos caminhos terrenos e finalmente vos levará para Si. Ele
também terá compaixão e trará alívio para a sua dor e acalmará o seu
pesar (...) Minha bondosa Bárbara, eu agradeço do fundo do meu
coração por todo o amor e todas as bênçãos com que você me
presenteou durante esses 14 anos de matrimônio. Por favor, perdoe-me
por minha falta de amor. Eu tenho muito mais amor do que eu lhe
demonstrei. Temos, no entanto, uma eternidade diante de nós para
demonstrarmos mutuamente nosso amor. Que esse pensamento seja
um consolo na tribulação da sua viuvez. Tenho certeza que nós dois
estaremos novamente unidos, juntamente com todos os nossos queridos
na paz inominável de Deus. (...) Já aqui na Terra você pertence ao Corpo
de Cristo, no qual Ele reúne todos os Seus – quer estejam antes ou
depois da grande transformação. Orem o Salmo 126 por mim, pois foi
esse a base do último sermão, no dia em que fui preso. Meu último
pensamento, minha querida esposa, será o de vos entregar à graça do
Salvador e colocar meu espírito em Suas mãos. Assim morrerei na feliz
esperança. (...) Saúdo-vos, meus queridos, com a antiga palavra:
“Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: alegrai-vos! E a paz de
Deus guarde os vossos corações e sentimentos em Cristo”. Seu
Hannis.12
Se o amor pode ter um significado tão grande no fim de
uma vida, então ele hoje já deveria ocupar um espaço maior
em qualquer circunstância e determinar nossas ações. Para
que possamos proporcionar alguma transformação
abençoada, talvez seja necessário que antes nós mesmos
sejamos transformados. Se de fato quisermos amar,
precisamos dar morada ao Senhor em nós e permitir que Ele
demonstre o Seu amor através de nós.
“Ora, o intuito da presente admoestação visa ao amor que
procede de coração puro, e de consciência boa, e de fé sem
hipocrisia” (1 Tm 1.5).
“Deus nos ama assim
como somos, mas Ele
nos ama demais para nos
deixar assim como
somos”.
Para Terminar

O amor certamente foi o tema mais importante que Jesus


abordou em Sua mensagem de despedida antes da Sua
Paixão. Essas palavras de Jesus sobre o amor proferidas
antes da Sua crucificação contêm um sentimento muito
profundo. Elas se encontram nos capítulos 13 a 17 do
Evangelho de João.
Quem se deixa vencer pelo amor, vive na vitória. Não
existe nada mais libertador do que poder amar.
É possível que você esteja com dificuldades no
relacionamento com algum irmão. Decida-se pelo amor e
você será liberto!
“Portanto, eu lhes recomendo que reafirmem o amor que
têm por ele” (2 Co 2.8 - NVI).
Quem se decide pelo amor, decide-se por Deus e quem se
decide por Deus, decide-se pelo amor.
Em 2 Tessalonicenses lemos que a humanidade será
condenada por um motivo bem específico no fim dos
tempos: ela rejeitou o amor à verdade.
“Ele fará uso de todas as formas de engano da injustiça
para os que estão perecendo, porquanto rejeitaram o amor
à verdade que os poderia salvar” (2 Ts 2.10 – NVI).
Como podemos entender isso? Parece ser assim:
- Deus é amor (1 Jo 4.16);
- Jesus é a Verdade: “...a graça e a verdade vieram por
meio de Jesus Cristo” (Jo 1.17) e “Todo aquele que é da
verdade ouve a minha voz” (Jo 18.37b);
- Jesus, a Verdade, nos revelou o amor de Deus e, por
outro lado, o amor de Deus nos revelou Jesus como a
Verdade. Isso quer dizer: o amor de Deus se revela somente
através da Verdade, personificada em Jesus.
“Nisto se manifestou o amor de Deus em nós: em haver
Deus enviado o seu Filho unigênito ao mundo, para
vivermos por meio dele” (1 Jo 4.9, ver tb. Jo 1.18).
Quem rejeita o único meio de salvação na verdade rejeita
o amor de Deus. Ele diz não ao amor de Deus
transformando em mentira a Verdade revelada do amor de
Deus e não aceita o amor da Verdade para sua salvação. E
quem diz não e resiste ao amor de Deus, perde o eterno
amor de Deus e nunca terá parte nEle. Por isso, está escrito:
“Se alguém não ama o Senhor, seja amaldiçoado. Vem,
Senhor!” (1 Co 16.22 – NVI).
Como está o nosso amor? Sentimos sua falta?
Martinho Lutero escreveu:
Continuaremos tendo uma carência entre nós, de não conseguirmos
fazê-lo com a perfeição de Cristo. Ele é o Sol límpido e brilhante em que
não há névoas; ao passo que nossa luz parece apenas uma palha acesa
diante desse Sol. Lá está um forno aceso repleto do fogo do perfeito
amor; mesmo assim, Ele se satisfaz se acendermos pelo menos uma
pequena vela e nos posicionarmos para com ela projetar a luz do
amor.13
“Todas as pessoas precisam de mais amor do que
merecem”.
Notas

1 De Was die Bibel lehrt, sobre 2 Tm 4.8, p. 281


2 fest und treu, Nr 3/2010, p. 8-9
3 20 Minuten Online, 14 de junho de 2010
4 ideaSpektrum, Nr 04.2011, p. 13
5 factum, Nr 1/2008, p. 43
6 Carsten Görsch, Die Schatten der Nacht, CLV, p. 9-10
7 John MacArthur, Zwölf ganz normale Menschen, p. 134
8 Wilhelm Busch, Wie in einem Spiegel, vol. 4
9 Perspektive, Nr 3/2011, p. 9
10 Informações de PM: Fragen und Antwortern, Nr 8/2011, p. 42
11 ideaSpektrum, Nr 32, 10 de agosto de 2011, p. 19-20
12 Id, p. 14
13 Meditações, 16 de março de 2011.

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