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Copyright ©2017MarianaRosa Nome da Obra: O Beijo da Morte Autora:

Mariana Rosa
Capa: Gabriel Casanova
Todos os direitos reservados. A violação dos direitos autorais é crime
estabelecido na lei n 9610/98 pelo artigo 184 do código penal.

I look and stare so deep in your eyes


I touch on you more and more every time
When you leave I'm begging you not to go
Call your name two or three times in a row – Crazy in love Beyoncé

I–
Ela não sabia o porquê fazia isso. Talvez existisse algum tipo de botão que quando
acionado todo o seu corpo entrava em estado automático. Nada fazia ela parar.
Matar já fora mais excitante. Até mesmo um pouco divertido, ela confessava a si
mesma. Era como uma brincadeira de gato e rato. Sabia o momento de atacar, esperando sua
presa ficar confusa e à beira da desistência. Algumas delas até mesmo saboreavam serem
mortas por ela. A sedução de longe era sua arma preferida. Para Seryn Sevina tudo era uma
diversão, ao menos antes era assim.
Hoje era mais um dia qualquer para Seryn, não sentia absolutamente nada, já estava
cansada e entediada em se sentir assim. Nem a fagulha que se acendia após sentir o frescor do
sangue da pessoa em seus caninos, escorregando facilmente pela sua língua a animava mais.
O vermelho sempre atraiu a vampira.
Ela estava sentada na poltrona de couro marrom com a postura excepcional. A coluna
reta com suas longas pernas cruzada e seus braços relaxados. Suas mãos acariciavam uma
cabeça que jazia já sem vida em suas coxas. Apenas dois furos no pescoço. Era o suficiente
para matar. O sangue do homem morto fora todo drenado de seu misero ser. Tinha certeza
disso, pois, por mais de 600 anos esse ritual acontecia ao menos três vezes na semana.
Seryn não era o tipo de vampiro que gostava de chamar atenção, nunca fora seu feitio
mostrar suas presas como troféu, ela fazia a bagunça e limpava. Ultimamente vampiros
começavam a querer se expandirem cada vez mais, mas ela não. Não tinha medo de problemas,
mas gostava de ser reservada.
A população de vampiros estava começando a crescer de maneira um pouco
preocupante em sua visão. Como rainha da Ordem dos Altos, ela tinha sempre que ficar com
os sentidos aguçados e firmes nas regras, entretanto ela sentia que as coisas estavam
começando a sair de mão.
Seryn odiava os humanos. Não pelo o que eles representavam – ela tentava seriamente
respeita-los- ou por suas armas ou até mesmo por estarem cada vez mais perto da descoberta
de sua espécie. Havia um pequeno burburinho crescendo no setor norte que alguns seletos
humanos, começavam a caçá-los e isso a irritava seriamente. Pois vampiros relaxados e
desajeitados estavam começando a estragar o que sua espécie conservava por séculos, a
discrição. Seryn já recebera notícias de vampiros importantes sendo mortos por humanos.
Além de novos vampiros inexplicavelmente começavam a atacar a própria espécie, Seryn
acreditava fielmente que talvez, esses mesmos humanos e vampiros estivessem trabalhando
juntos. Pois eles conseguiam encontrar as famílias de vampiros e os ninhos e para isso ser
feito, só era possível com ajuda de um vampiro.
Seryn chamava esses vampiros de híbridos, uma escarnia nojenta que andava pela terra.
Eles não eram vampiros por completos, pareciam não ter qualquer sanidade.
Mas o que mais fazia a respirar fundo – o que não era necessário já que estava morta - e
contar alguns segundos para restabelecer sua calma é que ela sabia que dependia dos humanos
para sua sobrevivência. A única maneira de um vampiro sobreviver era consumindo sangue e
quanto mais velho ficasse mais sangue era preciso.
Obviamente que tinham animais, muitos animais, mas a única coisa que ela odiava mais
além dos humanos, era sangue de animal. Poderia perguntar a qualquer vampiro – que não
esteja desesperado por comida-, sangue animal era a pior coisa que existia e Seryn como uma
boa sedenta por sangue colocara apenas uma vez o sangue animal em sua boca. Logo no
começo de sua transformação. Tudo bem, isso era uma mentira, talvez algumas vezes, poucas
vezes. Dava para contar nos dedos.
Ela empurrou com seus delicados dedos a cabeça do homem morto para o chão
causando um baque surdo. Levantou-se e com uma passada de perna maior do que seu costume
atravessou o homem morto. Seus saltos pretos batiam firmemente contra o chão de madeira.
Seryn se virou para o espelho imenso pendurado na parede ao lado da porta e se fitou. Seu
cabelo castanho estava um pouco bagunçado e seus lábios cheios pintados levemente de
vermelho, que escorria um pouco pelo seu queixo. Ela passou o indicador pela sua pele oliva e
o trouxe para boca limpando a área. Ajeitou a gola de sua blusa e viu que seus olhos já não
estavam mais azuis safiras e sim da sua cor original, um castanho bastante escuro. Sua
aparência se fosse passar por uma humana era como estivesse 40 anos, aliás fora mais ou
menos a idade que fora transformada, já não se lembrava mais.
Chegou a até a porta, levando sua mão esguia a maçaneta, tirou do bolso da calça de
couro o cartão magnético e o fixou no dispositivo. O hotel em que estava era administrado por
um vampiro de sua Ordem, então eles limpariam a bagunça.
Ouviu um pequeno clique da porta destravando e a abriu, ao fazer isso agradeceu por
sua ter habilidades tão formidáveis, pois uma enorme estaca de prata vinha em sua direção.
Seu reflexo impecável salvou sua existência. Sua mão direita fechou em volta da estaca
segurando-a no ar, a palma de sua mão na hora foi queimada e ela grunhiu de dor.
Automaticamente suas presas clicaram e seus caninos se alongaram.
A mão do seu assaltador segurava a estaca e fazia uma pressão cada vez mais forte na
tentativa de perfurá-la. Seus olhos se transforaram e de castanhos escuros, novamente
tornaram-se azuis safiras, miravam seu mais novo inimigo. Um homem alto, sim, era um
humano, pois ela conseguia ouvir o coração dele bater através de seu peito.
O homem era forte e seus músculos saltavam, pois, a força que usava para tentar feri-la
era grande. Porém Seryn apenas olhava para um local, as veias sobressaltadas em seu pescoço.
Despertando a vontade da vampira de se alimentar novamente.
Quem ousava atacar a rainha dos Altos, quem ousava querer finalizar com a existência
de Seryn Savina.
Um repulsivo ser humano.
– Morra!! – O homem agora usava duas mãos para fazer mais força contra a vampira.
Ela sorriu friamente e passou sua língua pelas suas presas. Seryn estava sentindo sua
mão queimando e o cheiro de chamuscado já era possível sentir pairando no ar, mas ver
alguém assim procurando a morte quase fazia aquela fagulha se acender.
O piloto automático iria ser acionado a qualquer momento.
Melhor dizendo, a besta que vivia dentro dela tomaria forma.
– Eu já estou morta. – A voz de Seryn era eroticamente rouca e gélida, poderia fazer
qualquer se arrepiar. – Você, meu lindo verme, irá morrer agora.
Com uma habilidade formidável e rapidez fora de qualquer olhar humano Seryn puxou
o homem para dentro do quarto, fechando com a outra mão o punho do seu agressor. Ela
torceu fortemente sentindo e ouvindo os ossos se romperem.
Ela sorriu ao ouvir um grito esganiçado solto pela boca do homem. Ela o jogou
fortemente contra o espelho e o vidro se despedaçou por inteiro atrás da cabeça de sua nova
presa. Seryn soltou o pulso do homem e também à estaca, colocou sua gélida mão contra a
mandíbula quente do humano e a outra no ombro. Puxou para trás, esticando o espaço da pele
do pescoço, expondo o pulso. Então ela voou com suas presas e rompeu a pele sensível
drenando o sangue. Ela chupou com uma força sobrenatural, fazendo uma sucção em suas
bochechas. A vampira engoliu uma grande quantidade de primeira, mas o sangue veio em
grande fluxo e ele acabava por descer pelo o pescoço, ombro e a mão direita de Seryn.
Entretanto imediatamente quando ela engeriu a primeira porção de sangue, sentiu sua
cabeça rodar e seu corpo vacilar Mas que diabos...
Ele tinha injetado a droga.
Seryn há alguns meses atrás ouvira da boca do rei da Ordem dos Mutanos que esse
seleto grupo de humanos parecia ter desenvolvido um tipo de droga que poderia paralisar um
vampiro ou dependendo do tempo da idade, acabar com sua existência.
Ela soltou o homem e com um golpe simples com as pontas dos dedos, rasgou toda a
sua jugular. Ele tentou segurar o ferimento e Seryn desviou rápido para não se sujar, ela
assistiu a luta do homem pela sua patética vida.
Seryn escorou uma de suas mãos na parede, onde seus dedos pintaram o papel de parede
quadricular de vermelho Sim, ela estava com raiva. Muita raiva. Fora enganada por
principiantes. Ela, que não admitia qualquer tipo de deslize. Calculista e fria. Era assim como a
rainha dos Altos era conhecida. A vampira que todos queriam ser.
Sobre tropeços, saiu andando pelo o corredor do andar, desceu as escadas segurando
firmemente o corrimão, se embolando entre as pernas uma ou duas vezes. Foi quando Seryn
viu a recepção, estava um verdadeiro pandemônio. Reconheceu na hora humanos e vampiros
caídos no chão. Como ela não ouvira isso tudo? Lembrou-se que além da música relativamente
alta na recepção os quartos eram muito bem isolados acusticamente, ninguém queria ouvir o
que um vampiro fazia com sua presa.
Ela pôs-se a correr, mas seus movimentos estavam lentos para um vampiro, se sentiu
inútil, pois sua velocidade chegava a ser praticamente imperceptível nos olhos humanos.
Seryn saiu do hotel vitoriano de dois andares em direção do pequeno bosque a frente,
seu motorista não chegaria nas próximas horas e seu celular fora deixado dentro do carro. Não
gostava de ser interrompida quando estava se alimentando.
Estava se sentindo cada vez mais fraca. Seu olhar azul safira passeou entre as árvores a
procura do acostamento da estrada.
Seryn viu – mesmo com a visão confusa - um pequeno camundongo entre os galhos e se
lançou esticando a mão e rapidamente quebrou o pescoço do animal. Merda, ela iria realmente
ter que se alimentar disso. Precisava recobrar suas forças, limpar seu sistema da droga. Ela
levou o camundongo na boca e furou seus caninos no seu corpinho, sugou fortemente, sentindo
momentaneamente um pouco melhor. Ao menos sua mente parecia clarear.
Então mais três homens apareceram entre as árvores na noite sem estrelas.
Porque ela não ficara em sua mansão hoje?
Seryn parou e percebeu que estava cercada, balançou a cabeça tentando recuperar sua
consciência. Porém, sua visão ainda estava um pouco turva, ela consumira muito sangue do
homem.
– Droga. - Murmurou.
Eles seguravam correntes, muitas delas. Certamente de prata.
Sem hesitarem os três jogaram as correntes sobre ela. Mesmo de qualquer jeito e
bastante destreinados, foi o suficiente para ao menos uma delas acertarem Seryn e levá-la ao
chão barrento do bosque.
Sentia sua pele queimar e o cheiro era horroroso, de podridão. Doía, Deuses, como
aquilo doía. Talvez em toda sua existência Seryn nunca sentira tanta dor, estava envergonhada
por em 600 anos de existência ser enganada assim tão facilmente e tudo isso por causa de sua
gula desnecessária e unicamente por sangue.
Ela caiu no chão de joelhos e sentiu seu o corpo inclinar para frente.
De repente tudo estava preto.

– Eii... - Uma voz aveludada a chamou.


Sentiu uma mão apertá-la levemente o seu ombro, fazendo-a recobrar um pouco dos
seus sentidos.
– Você não está morta, está? Vamos, acorde. – Novamente o toque quente apertando
levemente o ombro de Seryn. A voz melódica fazia com que a ajudasse a recobrar cada vez
mais sua consciência.
– Por favor...- A voz falhou, parecia implorar por sua existência.
Isso fez com que Seryn se arrepiasse levemente. Era algo que há muito tempo não
sentia.
Alguém parecia estar preocupada com ela.
Então abriu os olhos vagarosamente e a primeira coisa que eles encontraram foi um
olhar cauteloso e preocupado.
Um excêntrico par de olhos, um era pintado de verde claro e o outro um azul também
igualmente claro. Mesmo sob a madrugada a iluminação dos postes da estrada e dos faróis do
carro foi possível enxergar essa tal excentricidade.
– Você está muito ferida – A mulher falou fracamente tocando levemente o pescoço
gelado de Seryn.
Um barulho de protesto ficou preso na garganta da vampira. Estava sentindo muita dor,
estranhamente as correntes não estavam mais em volta de seu corpo, mas estava ferida por
onde elas passaram. Não fazia idéia de como parara ali, para dizer a verdade não queria
realmente saber. Seryn estava com sua existência intacta e isso que importava.
Estava intrigada com a mulher ruiva de olhos excêntricos, nunca tinha visto algo assim
antes. Aliás, que mulher pararia no meio da madrugada em uma estrada para socorrer alguém?
Isso era raro hoje em dia. Ainda mais no mundo que viviam.
Seryn a olhou tentando entender a situação, Deuses, tinha muita vida ali, um brilho, uma
fagulha estranha recheada de energia. Tinha tanta vida. Sim, ela já vira outros milhares de
humanos essas caracteristicas nos olhos. Mas não como os da ruiva.
Era intenso demais.
Sua língua passou levemente pelos lábios e sentiu o sangue seco em sua boca. Suas
presas estavam recolhidas. Isso era um ótimo sinal.
– Eu preciso ajudar você, está queimada, quem fez isso com você? Preciso te levar para
hospital. – A humana fez menção de ajudar Seryn a levantar, mas com a pouca força que tinha,
a impediu, segurando o antebraço da moça.
Colocou-se sentada e encarou os olhos cheio de vida.
– Leve-me para sua casa, agora. - Sua voz estava rouca, mas ainda assim perigosamente
fria.
– O que? – A ruiva franziu o cenho, confusa.
Seryn respirou fundo mostrando um pouco de impaciência. Mesmo quase mortalmente
ferida, a paciência da vampira sempre fora curta independente qual fosse a situação.
A garota continuava a encarar a vampira, tentando compreender toda a confusão e na
situação que se metera.
A vampira então se concentrou e canalizou seu resto de energia em seu olhar. Vampiros
eram altamente manipuladores, ao menos os Altos eram assim, pode-se se dizer que era uma
espécie de ―poder‖ que se usasse bastante concentração poderia manipular a pessoa em atender
qualquer que fosse seu pedido.
Por um lado, ela sentiu uma grande dificuldade em se concentrar, de focalizar seus
olhos sobre os olhos da ruiva, pareciam que eles fugiam, que eram densos demais para serem
manipulados.
Pela primeira vez ela se sentiu desconfortável, se concentrou ainda mais. Ela tinha que
fugir dali, não poderia arriscar em ser encontrada de novo pelos humanos e se ela fosse para o
hospital, bem... vampiros e hospitais simplesmente não combinam.
- Eu preciso que você me leve para sua casa. – Insistiu falando ainda mais baixo e
sedutoramente.
Pedi-la para levar para sua mansão não podia, não sabia que horas eram e tinha certeza
que levaria ao menos umas duas horas para chegar até lá.
– Ok. – A humana assentiu fortemente com a cabeça, ainda meio confusa.
A ruiva ofereceu um sorriso mais inocente do que qualquer criança poderia oferecer.
Isso fez com que Seryn contraísse o maxilar.
– Ajude-me a levantarA Rainha dos Altos piscou quebrando o contato visual com a
ruiva. Fazendo com que a humana sacudisse a cabeça e franzisse o cenho mais uma vez.
Prestativamente a moça ajudou. Foi então que Seryn percebeu onde estava.
Encontravam-se nesse momento em uma avenida secundaria a uns 20 minutos do centro. Sabia
que não passava muita gente por ali. Os humanos poderiam facilmente deixá-la para morrer ali.
Provavelmente, se não fosse a menina de olhos verdes e azuis sua existência chegaria ao fim.
Juntas caminharam até o carro cautelosamente.
–Você tem um nome, não tem? – A vampira perguntou com seu tom gélido.
–Alex.
Seryn se inclinou mais em direção de Alex e sentiu seu cheiro.
"Deuses... Ela tem um cheiro único". Pensou.
Era um cheiro que antes nunca tinha sentindo, era como se ela cheirasse a sol, não que
Seryn tivesse um dia sentindo o odor da estrela, mas tinha essa sensação.
Imaginou por um segundo a sabor de seu sangue, causando-lhe água na boca.
Entretanto, a parte racional de seu cérebro voltou a funcionar, poderia ser perigoso. Seu cheiro
era diferente demais, o gosto do seu sangue também poderia. Seria arriscado prova-la, ao
menos no estado que estava.
Seryn deveria ter ficado na mansão e pedido sua refeição lá mesmo.
Ela teria que manipular a garota, até a amanhã à noite. Esperava não ser difícil.
– E eu poderia saber o seu? - Alex com bastante dificuldade conseguiu com uma das
mãos abrir a porta de seu jipe.
Sua estatura não ajudava muito, ela era baixa ao se comparar com Seryn. Pois a vampira
era mais alta do que Alex.
Seryn entrou calmamente no banco de carona e antes que Alex pudesse fechar a porta
ela falou com um sorriso nos lábios.
– Humana estranha.
As duas se olharam e a Vampira fitou os olhos da menina de coloração diferentes, a vida
ali era escandalosamente grande, queria muito prová-la, mas de novo era arriscado demais.
Seryn por alguns segundos esqueceu-se da enlouquecedora dor que sentia em seu corpo.
Engoliu em seco e tinha certeza que até amanhã à noite sua convivência com a ruiva seria
bastante complicada.
Mesmo com queimaduras e o sangue seco espalhado pelo seu corpo, parecia não
atrapalhar a beleza de Seryn Savina.
A vampira acompanhava com o olhar o andar da humana circulando a frente do carro
até a porta do motorista Ela analisou mais uma vez Alex e brotou um sorriso malicioso em
seus lábios...
Alex.
Ela era então a minha salvadora.
II –
Alex Solis ainda estava confusa e contrariada, se perguntava como tinha deixado se convencer
a permitir uma mulher estranha ir para sua casa.
Obviamente ela jamais iria negar ajuda, mas ficou surpresa ao dizer sim para uma coisa que
certamente diria não.
Não seria a primeira vez que Alex levaria uma mulher para sua casa, mas era a primeira vez
que levaria sob essas erronias condições.
Logo o dia ia amanhecer, sairá de seu bar, fechando as portas dele perto das 4h da manhã.
Estava cansada e sonolenta, não era fácil administrar um negócio.
Só que a adrenalina da situação ainda estava percorrendo em suas veias, ela apertava os dedos
em volta do volante fixando o olhar na estrada. Apenas uma vez durante o caminho inteiro
tentou de soslaio olhar a mulher. Sua madrugada realmente estava ficando confusa.

Seryn mantinha os olhos fechados durante todo o trajeto, tentava se controlar um pouco, o
cheiro de Alex realmente era único, para dizer a verdade, quase intoxicante. Mas ainda assim,
achou perigoso se arriscar ali e agora. Sentia que faltava pouco para o sol nascer e se a sua
curiosidade vencesse e provasse o sangue daquela menina, seria arriscado demais.
Apelaria novamente para os animais, era só esperar alguma loja de animais abrir e manipular a
garota, poderia ser difícil, mas não impossível.
- Seryn. – A vampira murmurou ainda com os olhos fechados sentindo o coração da menina
bater nervosamente contra o peito.
Alex a olhou rapidamente, apertando ainda mais seus dedos no volante até que ficassem
brancos.
- O que? – A garota perguntou confusa.
Seryn abriu um pouco os olhos e observou a sua salvadora. Ela tinha traços finos e
harmônicos, uma mandíbula bem marcada, seu nariz era pequeno e arrebitado, sua boca era
carnuda e logo acima do seu lábio superior uma pequena pinta marrom clara. Seus olhos eram
grandes cada um de uma cor o esquerdo era azul e o direito era verde claro -aquilo era
realmente era incomum - estavam carregados de um esfumaçado preto que os deixavam ainda
mais marcados e intrigantes.
- Meu nome é Seryn. – A Rainha dos Altos por fim acabou por dizer, não sabendo ao certo
porque dera essa informação.
Uma coisa que aprendeu em sua Ordem era que os Vampiros Altos eram extremamente
educados, elegantes e corteses. Até mesmo com suas vítimas, sejam elas humanas ou não. A
não ser que claro, elas apresentassem algum tipo de perigo.
- Está bem... Seryn... – Alex a olhou incerta, acenando com a cabeça.
Novamente o silêncio se instalou, porém, não demorou muito para que a humana desacelerasse
o carro e virasse à esquerda. Logo a estrada fora substituída por uma rua com pequenas e
charmosas casinhas com organizados jardins.
Alex estacionou o carro na frente de sua garagem e respirou fundo antes de desatar seu cinto,
ela olhou para frente e fechou os olhos momentaneamente. Ela ainda tentava se lembrar como
dissera sim para aquela situação, mas agora não tinha muito o que fazer, não era verdade?
Ela por fim deu de ombros e abriu a porta do carro, deu a volta pela frente e abriu a porta do
passageiro.
- Eu posso te ajudar? – Alex não sabia ao certo se aquilo era uma pergunta ou uma afirmação,
mas pelos ferimentos da mulher achou certo dizer aquilo.
Seryn a estudou e se fixou no olhar da mulher, por fim apenas sacudiu a cabeça.
A vampira apoiou seu braço nos ombros de Alex para buscar apoio, suas pernas estavam
extremamente doloridas.
Seryn saiu do carro e assim que fez isso sentiu o braço de Alex contornar sua cintura. Ambas
pararam e se olharam. A vampira sentiu a pulsação das artérias de Alex, trazendo o seu cheiro
ainda mais forte em suas narinas. Ela não conseguiu evitar em inspirar fortemente, juntando o
saboroso odor. Deuses, o cheiro da humana era muito bom. Seryn mordeu o lábio inferior
tentando o máximo não deixar que suas presas clicassem e se alongassem.
- Pronta? – A voz de Alex saiu tremida com aproximação da mulher mais alta contra o seu
corpo compacto.
Seryn não disse nada, apenas pôs se a dar uma passada. Foi então que assim, passo após passo
percorreram o caminho de pedras quadradas até a porta da casa de Alex.
Ao chegarem á porta depois de minutos admiráveis, Alex pegou a chave de sua casa que ficava
no mesmo molho que a do seu carro e a introduziu na fechadura. Ela rodou duas vezes e abriu
com um pouco de dificuldade a porta, empurrando-a com a mão espalmada na madeira.
- Alex? – A voz de Seryn estava baixa e rouca.
Alex trancou o maxilar ao ouvir seu nome saindo pela boca da mulher ferida.
Por que ela dizia o seu nome daquela maneira? Alex se perguntou.
A humana a olhou e novamente Seryn trabalhou em sua manipulação, desta vez se
concentrando mais do que o normal, percebeu que Alex tinha algo que não deixava ser
manipulada tão facilmente.
- Eu preciso que você me convide para entrar. – Seryn disse seriamente fitando os olhos
coloridos de Alex.
A humana balançou a cabeça confusa e piscou algumas vezes, novamente aquele sentimento
de automação estava se apoderando dela, ela queria dar uma resposta, mas a sua cabeça
mandava ela dizer outra.
- O que? Por... – Alex tentou rebater, mas foi interrompida.
- Apenas faça o que eu mando. – Seryn disse perigosamente baixo.
Alex abriu a boca e se espantou com a própria sua própria resposta.
- Gostaria de entrar, Seryn?
Seryn deu-se por satisfeita e relaxou novamente, apenas um pouco. Sentiu a base da sua nuca
doer, a manipulação com essa humana realmente era algo mais difícil que o usual.
Ela então deu um passo para frente entrando na casa da humana.
Vampiros em geral, tinham que pedir permissão para entrar na casa de humanos, Seryn até
hoje não sabia ao certo porque, mas era uma regra que era posta desde os primórdios e todos
respeitavam. Oli uma vez comentara que a casa de humanos eram como santuários sagrados e
igrejas, simplesmente não eram aceitos. Apenas por um convite.
Alex com dificuldade colocou Seryn no sofá e a mesma grunhiu de dor.
A garota acendeu a luz de sua sala e Seryn conseguiu olha-la ainda melhor. Alex era baixa,
estava vestindo um vestido preto, que delineava seu corpo, uma jaqueta de couro e botas de
cano baixo. Se Seryn estivesse de fato boa e não tão arredia com o cheiro que essa mulher
emanava certamente seria um ótimo banquete.
Na realidade, Seryn Savina, em seus 600 anos de existência, sempre preferiu suas caças e
amantes mulheres. Algo extremamente sensual no corpo feminino fazia a vampira despertar.
Seryn a estudou ainda mais um pouco, Alex deveria ter uns 25 anos. Mais do que 23 e
certamente não passava dos 28. Ela conhecia bem a fisionomia humana.
A sala de Alex era confortável, acoplada com uma cozinha americana com uma pequena ilha
que fazia a divisória. No canto sala havia uma mesa de metal com vidro e quatro cadeiras
pretas estofadas. Um sofá da mesma cor que as cadeiras, onde Seryn estava e logo na frente
uma mesinha baixa de madeira. Fixada na parede uma televisão e embaixo um rack branco
com alguns livros descartados de qualquer maneira e um laptop.
- Alex. – Seryn a chamou novamente.
E obviamente a garota olhou, claro que ela iria olhar. O poder da rainha dos Altos era fatídico,
por mais que com essa humana seja um pouco mais difícil do que o normal.
- Sim...- A voz da ruiva saiu novamente tremida.
- Tenho dois pedidos para você. Escute bem. – Seryn falou relaxando um pouco os seus
braços, sentindo seus músculos doloridos.
Alex sacudiu a cabeça e fitou a vampira.
- Preciso que você me coloque em seu quarto, feche todas as janelas e por hipótese alguma as
abra durante amanhã. Até mesmo a porta, a claridade não pode chegar a mim. – Seryn
desenrolava as informações pausadamente para Alex.
A garota se aproximou cautelosamente e sentou na mesinha em frente a Seryn.
- Claridade? O quê? – Alex tentou argumentar, sentindo-se estranha ela sabia que iria acatar as
regras, mesmo não entendo o porquê, algo dizia que ela deveria fazer tal coisa.
- Não faça eu repetir. – A voz rouca de Seryn saiu perigosamente rouca.
- Está... está bem. – Alex por fim concordou. – E o que seria o outro pedido?
- Preciso que você compre roedores. – Seryn sentiu-se patética por pedir esse tipo de coisa.
A rainha da Ordem dos Altos, sentiu-se quase humilhada, provar Alex era arriscado demais. Já
tinha agido sem pensar essa noite, não poderia errar pela segunda vez.
Seryn viu a dúvida instalar na feição da humana, Alex tentou abrir a boca duas ou três vezes,
mas nada ela sabia no que argumentar.
- Apenas faça o que eu disse, assim que as lojas de pet shop abrirem você vai. Escutou garota?
– Seryn fitou novamente os olhos da humana manipulando-a a fazer tal coisa.
- Okay....
- Para onde fica os seus aposentos? – Seryn perguntou.
Alex apontou para um pequeno corredor com duas portas.
- É a da direita. – Alex se levantou e estendeu a mão para a vampira.
Seryn a olhou desconfiada, era raro alguém ser assim com ela. Sabia que a manipulação fazia
com as pessoas a ajudassem sem pestanejar, porém, os movimentos eram mais automatizados e
robóticos, como se fossem programados para fazer aquilo por um espaço curto de tempo.
Mesmo que Alex estivesse sendo manipulada, algo genuíno aparecia em seu traço, a
verdadeira intenção de ajudar.
Por fim acabou por aceitar a mão da garota.
Quando os dedos se tocaram, Alex cortou a respiração, surpresa com o toque de Seryn. Mas
não foi apenas o toque que influenciara a menina. A vampira também ficara surpresa, seus
dedos eram convidativamente mais quentes do que o normal.
- Você está com frio? – Alex perguntou atônita.
- Não. – Seryn respondeu friamente.
- Está gelada.
- Sim.
Seryn dedilhou levemente com seus dedos sujos de sangue seco a pele quente da garota,
realmente desfrutando da sua quentura.
Deuses, como queria prova-la.
Já no quarto, Alex com grande dificuldade deixou Seryn subir em sua cama, ela tratou de
fechar bem as janelas e os blackouts. Verificando mais de uma vez se tudo estava bem
fechado.
Foi até o banheiro da suíte fechando o basculante inconscientemente, ele era de vidro afinal e
acabou por fechar a porta do banheiro.
- Seryn, você está ferida. Eu tenho bandagens em algum lugar e remédio. – Alex ofereceu sua
ajuda, enquanto andava para perto da cama.
- Não precisa, apenas faça o que eu disse. Traga para mim o que pedi.
Alex assentiu.
As duas ficaram se olhando.
Alex ainda não acreditava que estava fazendo tudo isso por uma estranha.
Por outro lado, Seryn se perguntava como caíra na cama de uma humana com um cheiro e
olhar tão excêntrico.
A Rainha da Ordem dos Altos, iria causar grande comoção amanhã pelo seu desaparecimento,
mas seria algo que lidaria depois. O que a vampira poderia fazer agora era apenas descansar e
recobrar as forças, aguentaria mais algumas horas de dores, até que as lojas de animais
estivessem abertas.
Para então, quando estivesse boa, começar a investigar e matar cada um que tentara acabar
com sua existência. Ela faria isso com prazer.
- Eu.... Eu vou dormir ali no sofá, qualquer coisa é só chamar. – Alex disse tirando Seryn de
seus pensamentos.
Seryn não disse absolutamente nada, apenas a encarou de volta.
- Okay, então... – Disse a garota sem jeito. – Eu vou indo...
Ela se virou para porta, porém, antes de fecha-la atrás dela, olhou a última vez para a mulher
que estava deitada em sua cama e com um sorriso mínimo nos lábios ofereceu algo que a
muito tempo a vampira não ouvia.
- Durma bem.
Vampiros não dormiam.
Alex saiu do quarto e foi até a cozinha, abriu a geladeira e pegou um jarro de água. Direto do
gargalo levou até sua boca e bebeu uma grande quantidade de água. Depositou novamente o
jarro dentro da geladeira e fechou a porta.
Apoiou um dos cotovelos na ilha da cozinha e com outro braço estivou para alcançar sua bolsa,
tirou de lá seu celular. Apertou o botão de destravar em cima do aparelho e o brilho da tela
iluminou seu rosto.
5h00 da manhã.
Automaticamente seus dedos foram no aplicativo do despertador e colocou para as 9h00. Era
hora que normalmente as lojas abriam.
Tentou não pensar na loucura de comprar roedores amanhã. Essa madrugada estava sendo
quase que um delírio, tentou isolar isso para fora de sua cabeça. Iria ajudar a mulher, mas
queria que aquilo acabasse o quanto antes. Fez uma nota mental de nunca mais ajudar pessoas
no meio da madrugada. Esperava não estar se metendo em nenhum tipo de confusão.
Uma mentira que ela mesma tentava enfiar na sua cabeça, pois sabia que já havia se sujado.
Alex levou o celular com ela até o sofá e se jogou nele, sentindo a maciez relaxou rapidamente
soltando um grunhido de prazer. Enfiou uma almofada embaixo de sua cabeça e depositou o
celular na mesinha baixa.
Ela sabia que mil coisas estavam passando em sua cabeça, mas estava pesada demais para
pensar naquilo. Alex só queria dormir, ela precisava dormir. Seu corpo inteiro gritava com
isso.
A única coisa que não esperava era sonhar com uma linda mulher de cabelos negros e olhos
castanhos, com um sorriso malicioso nos lábios assombrando seus sonhos.
III -
- Hmmm... – Alex apertou os olhos e colocou a almofada em cima de sua cabeça, para abafar o
barulho do despertador.
Ela esperou o toque acabar, mas ele era insistente, não iria parar enquanto ela não o
desativasse. Por fim, logo após uns poucos minutos, estendeu o braço e bateu na mesinha com
a mão algumas vezes até sentir o celular na superfície. Alex o pegou e olhou a tela brilhante.
9h05.
Ela piscou uma vez e chupou o ar fortemente com a boca. Lembrou-se o porquê deveria ter
acordado as 9h00.
Se levantou rapidamente e catou sua bolsa, lá pegou uma calcinha que sempre guardava de
reserva e foi para o banheiro.
Tomou um banho rápido e escovou o dente no banheiro de visitas. Colocou o short jeans e
camiseta branca que usara ontem à tarde, antes de ir para o trabalho. Elas estavam descartadas
em cima do cesto de roupas e as vestiu. Calçou suas botas e jogou a jaqueta preta por cima dos
ombros. Saiu correndo pela sala parando apenas para pegar a carteira dentro da bolsa.

Seryn estava ouvindo a movimentação de dentro do quarto, a garota murmurava algumas


coisas, evidentemente com pressa. Sua dor estava mais administrável, mas ainda estava se
sentindo fraca, só pediu silenciosamente para que Alex não demorasse com os animais.
A vampira olhou em volta, o quarto estava escuro, porém através das frestas das portas a
luminosidades do sol era possível ver alguma coisa. Ela virou a cabeça para o lado e viu um
pequeno abajur de bambu em cima do criado mudo e o acendeu, mas algo curioso ao lado do
abajur chamou sua atenção.
Um porta-retratos transparente com armações pretos simples.
Nela haviam 3 pessoas, sendo uma delas uma criança.
Um homem de meia idade com um sorriso bondoso nos lábios, com cabelos ruivos e
cavanhaque.
Uma mulher com um sorriso largo como se estivesse gargalhando, seus cabelos eram louros,
seu nariz arrebitado e seus olhos eram coloridos, um azul e o outro verde.
Como as de Alex.
E a terceira pessoa era uma criança, ruiva, com os olhos coloridos, presa no colo da mãe. Ela
deveria ter mais ou menos 5 anos.
Sua salvadora.
Seryn virou o porta-retratos e viu um pequeno texto escrito com uma caligrafia pequena e
redonda.
As ameaças sempre serão constantes, mas sempre estaremos com você, nossos espíritos
viverão junto a você.
Sinto muito, por você enfrentar o mundo sozinha.
Você é o nosso Sol, Alex.
Amamos você.
Mamãe – 1994
Alex era órfã?
A vampira se perguntou, colocando novamente o porta-retratos no criado mudo.
Uma humana excêntrica sem família por perto. Seryn chegou à conclusão que a vida de Alex
não tinha sido fácil.
Sua pele latejava constantemente, fechou os olhos tentando administrar o que estava sentindo.

Alex abriu a fresta da porta do quarto com muito cuidado, para que a iluminação não entrasse
no cômodo. Estava com uma caixa de papelão media nas mãos e lá dentro havia 3 ratos
brancos.
Ela entrou com cuidado e fechou a porta com o quadril. Fitou Seryn deitada na cama, com as
costas apoiada na cabeceira. Praticamente a mesma posição que Alex a tinha deixado na
madrugada. Seus olhos estavam fechados e o seu peito inflava sob a camisa colada em seu
corpo.
Alex se aproximou silenciosamente, o único barulho que se ouvia no quarto era o som dos
pequenos ratos dentro da caixa.
- Eu não estou dormindo. – Seryn disse roucamente com os olhos ainda fechados.
Alex então andou em direção da cama e se sentou na beirada, colocando a caixa de papelão nas
coxas da vampira.
A menina estudou mais um pouco a mulher misteriosa que usufruía de sua cama.
Ela era uma mulher realmente linda, com traços já maduros. Seu pescoço era longo e bem
desenhado, seu busto era cheio e suas pernas longas. Sua boca carnuda e no canto dela parecia
dar uma pequena voltinha, como se constantemente ela tivesse um sorriso malicioso nos
lábios. Sua sobrancelha era muito bem delineada e seu nariz era salpicado com sardas.
Seryn abriu os olhos e pegou Alex em flagrante, admirando-a. Rapidamente a menina desviou
o olhar e sentiu suas bochechas esquentarem, certamente tinha ficado com as bochechas
vermelhas.
A vampira sentiu água na boca, quando viu que Alex a fitava, o cheiro dela estava mais forte
ainda do que ontem. Mais do que nunca depois de 600 anos, finalmente parecia estar sentindo
o calor do sol.
Sentiu a transformação inevitável se instalando em seu corpo, seus caninos estavam coçando
para descer, seus olhos ardiam e ela percebeu que Alex tinha percebido. Pois a menina olhava
para os seus olhos com interesse relevante.
- Eu trouxe... O que você pediu. – Alex falou quebrando o silêncio.
A garota aguardou sentada estranhamente esperando alguma ordem. Mas nada veio, a vampira
colocou as mãos na tampa da caixa e abriu apenas pela metade. Foi o suficiente para ver dois
corpinhos brancos passeando no espaço exprimido.
Seryn olhou com desgosto. Estava frustrada em ter que tomar sangue animal, perguntava-se
como a Ordem dos Mortorios conseguiam encarar isso.
A vampira adentrou com a mão na caixa de papelão e segurou um deles, sentiu a pulsação do
roedor em seus dedos e o frescor da vida daquele animal.
Seu corpo de repente ficou tenso. Soltou um grunhindo que estava preso em seu peito, quando
notou o toque quente da humana em seu pescoço. Era um toque intenso, como se de alguma
maneira estivesse sendo tocada por raios solares. Dedos curiosos dedilhavam sua pele fria e
ferida.
- Isso está feio. – Alex falou baixinho.
Foi o suficiente para Seryn despertar.
Seus caninos estalaram e a sua íris transformaram-se em azuis safiras.
Alex arregalou os olhos assustada, seu corpo pendeu para o lado e ela deu um pequeno salto da
cama, mas suas pernas se atrapalharam.
- O que? – Alex balbuciou. – O que é isso?
Deuses, isso não era para ter acontecido. A vampira pensou irritada com seu descuidado.
Mas com o toque da humana fora inevitável.
Seryn se manteve calma e estagnada como uma peça de mármore na cama, são se preocupando
em puxar mais o ar pelo pulmão.
Fitou a menina assustada jogada no chão, paralisada.
- Alex. – Seryn disse calmamente.
- Não! – Alex disse fechando os olhos, apertando-os fortemente. Não queria olhar para aquela
mulher.
Seu corpo estava sem ação, ela queria levantar, mas não conseguia. Estava assustada com a
situação que se envolvera, Alex já tinha visto muita coisa, mas isso era inédito.
- Alex, olhe para mim. – A vampira exigiu com um tom mais pertinente.
- Não! – A ruiva repetiu firmemente, porém com um tom baixo, quase como um miado.
Arrastou-se levemente para trás, tentando se pôr em equilíbrio e levantar.
- Eu quero que você olhe para mim agora, Alex! – Seryn pediu sem paciência, sentindo seus
impulsos dispararem.
Seria fácil exterminar todos aqueles roedores e simplesmente matar Alex, entretanto, seu
interesse pela garota de olhos coloridos aumentava. Seu cheiro de sol. Sem contar também que
estava em dívida com Alex, e em sua Ordem, eles levavam isso muito a sério.
Alex ouviu a voz rouca de Seryn a chamando, mais uma vez, sabia que se olhasse, seus
movimentos e suas ideias iriam se confundir. Tornando-se autônoma nos pedidos de Seryn. Só
que ela não conseguia evitar a voz da mulher deitada em sua cama. Era tentador demais não
olhar.
Então ela se levantou com cuidado e devagar, encontrando os olhos azuis safiras de Seryn.
Ela engoliu seco nervosa, tomando um passo de cada vez para se aproximar apenas um pouco.
- Eu não irei te machucar, confie em mim. – Seryn disse as últimas três palavras piamente.
Alex a olhou, sentindo seu coração acelerar ainda mais e isso deixou os instintos da vampira
borbulhantes. Por reflexo acabou apertando o corpo do roedor forte demais quebrando o seu
pescoço.
A menina tentava acreditar fielmente em Seryn, algo em seu ser sabia que era verdade.
- Alex. – A Rainha dos Altos a chamou com uma voz sedutora.
Ao ouvir seu nome sentiu um arrepio na base de sua nuca. Seus olhos caíram um pouco e
miraram os caninos projetados para fora da boca de Seryn.
- Aproxime-se. – A vampira ordenou, mas desta vez ela não precisou manipular Alex.
A ruiva se aproximou ainda mais, totalmente tensa e ereta ficando ao lado da mulher deitada
em sua cama.
Seryn inclinou a cabeça e novamente procurou os olhos coloridos da humana.
- Eu não irei te machucar, apenas não saia correndo. – A vampira disse ameaçadoramente.
Não foi necessário pedir duas vezes, Alex apenas concordou acenando positivamente.
Seryn voltou sua atenção para o rato já morto, jazido em sua mão e o tirou da caixa de papelão.
Ela o levou até seus lábios e os seus caninos afundaram na pelagem do animal.
Assim que a vampira provou o gosto do sangue, escorrendo pela sua língua e descendo
livremente pela sua garganta, sentiu-se rapidamente mais revigorada.
Alex por outro lado evitou olhar a cena em sua frente. Uma mistura de nojo e curiosidade
passou por ela, mas achou aquilo intimo demais para ser compartilhado. Era melhor realmente
não ver, talvez pelo seu bem.
Mas que diabos está acontecendo? A ruiva pensou, mordendo o lábio inferior.
Suas pernas tremeram levemente e sua têmpora estava fazendo uma pressão terrível, isso
acontecia quando ela era colocada sob estresse.
Alex viu-se praticamente dentro de um sonho, que sua imaginação fértil pregara, ela desejou
estar dormindo e acordar assustada com tudo isso, mas nada veio.
Seryn terminou de drenar todo o sangue do roedor e o depositou o cadáver dentro da caixa.
Fechou com a tampa e colocou a caixa de papelão ao seu lado.
Limpou sua boca com as costas da mão e fechou os olhos, inclinando a cabeça para trás,
sentindo sua energia voltar como pequenas marolas. Mesmo odiando o sangue animal, não
podia negar, que a alimentação veio em ótima hora, que já estava um pouco mais forte.
- O que você é? – A voz aveludada de Alex preencheu os ouvidos de Seryn, tirando-a do torpor
que se encontrava após degustar o sangue.
Seryn sempre contemplava seus pós refeição, ficando reclusa em seus próprios pensamentos,
sentindo seu corpo inteiro funcionar em função de sua alimentação. Gostava de aproveitar esse
momento, mas sabia que com a humana ali isso não seria possível.
- Você é uma garota esperta, vamos lá, você sabe a resposta dessa pergunta. – Seryn sorriu
maliciosamente.
Era obvio que todo mundo sabia sobre o mito que envolvia vampiros, mas assim como todos
sabiam de lobisomem ou de fadas. Existiam só em livros ou em filmes. Claro que Alex era
aquela que acreditava em tudo, não era só porque ela não via que não existia. Mas isso era
loucura.
- Não é possível. Isso só pode ser brincadeira, não é? – Alex riu nervosamente, afastando a
ideia ridícula que estava se formando em sua cabeça.
Presas.
Pele fria.
Olhos que mudavam de cor.
A escuridão absoluta.
- Ache o que você quiser. – Seryn falou com desdém. – Você sabe o que eu sou.
Alex reuniu forças para falar aquilo que parecia obvio.
- Você é uma vampira. – A ruiva afirmou envergonhada do que acabara de dizer, sentindo suas
orelhas esquentarem e suas têmporas doerem um pouco mais.
Tem ideia de quão idiota essa frase soa em voz alto?
Seryn sorriu maliciosamente, fitando os olhos de Alex, acenando positivamente com a cabeça.
- Mas.... Como? – A garota voltou a falar esperando o seu estupor inicial passar.
Alex não sabia o que sentir nesse momento ainda confusa, atônita e principalmente curiosa
com tudo o que estava acontecendo.
Realmente havia uma vampira deitada em sua cama.
Alex sentou na cama beirada da cama e respirou fundo.
- Isso, minha querida, é uma história muito longa e complexa.
Elas se olharam mais uma vez, uma estudando a outra e foi nítido mais uma vez a tensão
crescendo no quarto.
Alex estava com a pele mais quente e com o calor fez com que ela tirasse sua jaqueta de couro
e a descartasse no pé da cama.
Seryn observou o colo, braços e ombros de Alex, sua pele era branca com pintas salpicadas
harmonicamente de marrom claro. E claro, o tentador pescoço de Alex, perfeitamente
desenhado para encostar seus lábios e queixo.
Alex era apetitosa.
- Incrível. – A ruiva falou um pouco mais confiante dessa vez.
A Rainha ficou tensa mais uma vez, quando os dedos quentes da humana a tocaram, seus
dedos passavam pela lateral do pescoço de Seryn calmamente, parecia que seu susto inicial
estava passando.
- Está curando. – Alex falou perplexa e um pouco animada com a recuperação nítida da
vampira.
Seryn a olhou e percebeu a proximidade de ambas.
- Garota, pelo seu próprio bem, não faça isso. – A Rainha resmungou, levando sua mão em
volta do punho de Alex, para se livrar do toque.
A humana deu um pequeno pulo, não apenas pelo susto de ter seu pulso preso e de repente ser
pega desprevenida, mas pelo toque gélido que lhe trouxe um agradável arrepio com a diferença
das temperaturas corporais.
Alex se deu conta que havia uma vampira em sua casa. Uma vampira suja de sangue, fria e
incrivelmente linda.
Alex Solis sabia que estava totalmente perdida.
IV –
Seryn já se sentia incrivelmente melhor, mas obviamente não poderia sair dali. Não até o sol se
pôr, sua saída era ficar com a garota de olhos coloridos que a fitava tão curiosamente. A
vampira conseguia sentir o cheiro de Alex ainda mais forte, era realmente inebriante seu
cheiro. Algo que nunca antes experimentara.
Controle-se, parece uma adolescente cheia de hormônios. O que Oli iria dizer perante a sua
fraqueza. Seryn repreendeu-se.
Quando voltou a si, percebeu que Alex sentara do outro lado da cama vagarosamente. Ela
colocou a perna dobrada no colchão e ficou um pouco de lado. Seus olhos se fixaram no corpo
de Seryn e passearam até o rosto simetricamente perfeito da Rainha dos Altos. Sentiu suas
bochechas ruborizarem e suas orelhas esquentarem quando descobriu que fora pega em
flagrante ao observar tão descaradamente e com interesse evidente.
- Isso não é sensato. – Seryn indicou perigosamente.
- O que não é sensato? – Alex indagou tentando não olhar para a vampira.
- Me olhar dessa maneira. Você não sabe garota, a libido dos Altos é extremamente grande e
seu cheiro.... Não está ajudando. Mas eu tenho que manter minha palavra. Nós Altos temos
palavras. Eu tenho palavra.
Alex se assustou e ficou confusa ao mesmo tempo, eram informações demais sendo jogada ao
mesmo tempo e desde que conhecera Seryn fora a maior fala que soltara.
- Palavra? – Alex resolveu começar pelo o assunto mais fácil, ela sabia que não arrancaria
qualquer informação da vampira. Poderia estar perdida, poderia estar num sonho louco, mas
sabia que pessoas assim que se achavam superiores a tudo e a todos eram bastante reservadas e
irritadas.
- Sim, eu tenho palavra. Você me salvou, se não fosse isso provavelmente agora minha
existência teria findado. – Seryn se ajeitou na cama colocando sua coluna ainda mais apoiada
na cabeceira da cama e ajeitou a gola de sua camisa que ficara presa em sua pele por conta do
sangue seco que antes havia expelido.
- Eu não sei se isso é um obrigada ou não, mas de qualquer forma eu não poderia deixar
alguém naquele estado na rua. – Alex deu de ombros despreocupadamente.
Ela realmente não deixaria alguém assim.
- Não é um obrigada, você tem sorte por eu ter palavra, outros vampiros de Ordens diferentes
acabariam com você assim que tivessem a oportunidade. – Seryn falou rigorosamente fitando a
menina que não parecia se abalar com o que acabara de dizer, entretanto algo a traiu. O
coração de Alex bateu fortemente contra o peito e Seryn escutou.
- Outras ordens? – Alex tentou encontrar mais respostas desse mundo novo que estava
entrando, mesmo que fosse apenas por algumas horas. Ela não contaria para ninguém.
- Outras ordens, vampiros são divididos em 7 ordens a minha é a ordem dos Altos. Eu sou a
Rainha deles. – Seryn não pode deixar de sorrir ao falar sua colocação social.
- Rainha? – Alex piscou algumas vezes sem acreditar no que ouvira.
Isso tudo era realmente uma loucura, Alex Solis salvara uma vampira no meio da madrugada
não uma vampira qualquer, Seryn era uma rainha de sua ordem. Seja lá, o que significava isso.
Para Alex tudo estava confuso, mesmo ela suprimindo toda as informações.
Por outro lado, Seryn não acreditava o porquê soltava tantas informações que para a garota não
faria diferença nenhuma. Ou pior, porque ela estava dando esse tipo de assunto para a humana.
Talvez, fosse seu cheiro que deixasse Seryn assim, mais receptiva ou simplesmente por há
muito tempo não ver alguém genuinamente interessada nela. Sem querer algo em troca,
pessoas e vampiros em seu redor sempre queriam algo. Menos Oli, o vampiro da Ordem dos
Mutanos parecia aquilo mais próximo de que ela poderia chamar de amigo.
- Sou a rainha dos Altos. Todas as ordens têm reis ou rainhas, ou os dois. – Seryn soltou mais
uma vez uma outra informação que não faria a mínima diferença para Alex.
- Uau. Você é incrível. – Alex balançou a cabeça, olhando para sua coxa um tanto
envergonhada pelo o que acabara de dizer.
A garota não tinha um filtro como as pessoas normais tinham. Sua cabeça e sua boca tinham
uma ligação direta, nunca fora ensinado a ela a pensar para depois dizer. O que a fazia ser
imprevisível, um grande exemplo fora o que ela fez. Salvar uma estranha ensanguentada no
meio da estrada. Sua falta de filtro já a colocara em muitas enrascadas, entretanto, começava a
reaver se o que acontecera hoje fora geral algo totalmente ruim.
Alex ficou em silêncio por alguns segundos até ouvir um pequeno som, era uma risada baixa
presa pelos lábios de Seryn. Isso fez com que a garota olhasse para a vampira.
- Eu já ouvi muitos adjetivos sobre mim, mas esse realmente é inédito. Você é uma garota
diferente. - Seryn disse sinceramente.
A vampira lambeu os lábios e sentiu seus caninos coçarem, ela sentiu que a corrente sanguínea
da garota voltara a ficar mais rápida, juntamente com a temperatura corporal elevar. Tornando-
se seu cheiro ainda mais provocativo. Seryn queria saber o porquê de Alex ter esse cheiro tão
voraz, que aguçava o seu animal adormecido. Obviamente que Seryn ficava alvoroçada ao
encontrar um sangue bom, mas nada como aquilo.
Seryn soltou um som, como um grunhindo animal que ficara preso em seu peito e isso pegara
ambas de surpresas.
Elas se olharam e Seryn pode reconhecer um fio de um interesse diferente que ela estava
acostumada, que suas presas sempre tinham por ela. A curiosidade do desejo.
Ah garota... A vampira deleitou-se com o pensamento fugaz que ocorrera em sua mente. Alex
era uma mulher atraente, instigante e com os olhos mais interessantes que já vira em toda sua
existência. Sem contar seu cheiro e seu tentador pescoço chamando por atenção.
Alex Solis limpou a garganta, a garota começava a sentir sua influência libidinosa acender.
Isso não era bom. Mas ter uma mulher, vulgo vampira, deitada em sua cama, com os cabelos
negros desgrenhados e sua pele oliva pintada de vermelho era realmente tentador. Sensações
talvez não muito bem-vindas, mas ótimas de ser sentidas se instalaram dentro da humana.
- Por que... – Alex se apavorou com sua própria voz e voltou a fechar boca. Achou que era
melhor se levantar, talvez assim pudesse se recompor melhor. – Por que você não toma um
banho?
- Como eu iria fazer isso? Se o banheiro está claro? – Seryn apontou o obvio também tentando
assim como a humana isolar a libido para trás.
- Eu tenho um lençol preto, eu posso dobra-lo e colocar bem fixado no basculante. Eu posso te
emprestar uma roupa, você é maior do que eu, mas um vestido pode ser o suficiente. – Alex
tentou ser prestativa, não sabia o que fazer direito nessa situação, todavia sabia que se
continuasse ali por mais tempo com essa tensão entre as duas, as coisas sairiam de mão.
- Tudo bem. - A vampira limitou-se a dizer.
Alex fez o prometido, foi até seu armário e nas ultimas prateleiras pegou seu lençol preto. Pela
sua estatura teve que ficar na ponta de seus pés, isso fez com que seu bunda arrebitasse um
pouco e Seryn que estava observando todos seus movimentos não pode deixar de perceber
esse.
Manter minha palavra realmente está sendo quase impossível de se manter. A mente da
vampira a traiu e inconscientemente lambeu os lábios.
Com cuidado para não abrir muito a porta do banheiro, esgueirou-se lá dentro e fez o possível
para que através do basculante não filtrasse os raios de sol. A sorte era que hoje o dia
amanhecera um pouco nublado, então não havia aquele calor insistente e muito menos o brilho
do sol. Mas isso não fez com que Alex fosse menos meticulosa, ela tentou tampar todo espaço
possível.
Não queria ser a culpada pela a morte de uma rainha, certamente no dia seguinte bateriam em
sua porta e sua vida também estaria no fim.
Outra pergunta passou em sua cabeça.
Ela era uma rainha, como ninguém deu falta dela?
Alex passou a mão na testa tentando afugentar esse pensamento, ela não queria ficar mais
confusa do que já estava. Ela iria apenas ajudar a vampira e rezar para que a mesma cumprisse
com sua palavra e não a matasse.
Após alguns minutos colocou-se no meio do banheiro e com um sorriso orgulho e com as mãos
na cintura olhou para sua mais nova obra. Sim, estava ótimo. Não perfeito, mas o suficiente
para que Seryn tomasse um banho.
Alex retornou para o quarto deixando a porta do banheiro aberta. Seryn não se moveu, mesmo
preocupada com resultado teve que admitir que a garota fizera um bom trabalho.
Alex novamente foi para o armário e pegou um vestido preto que batia em seus joelhos e
provavelmente iria pairar quase no meio das coxas da vampira. Uma calcinha que nunca usara,
sempre mantinha para visitas e uma toalha.
Alex foi até a vampira e entregou tudo perfeitamente empilhado, primeiro a toalha, logo em
cima do vestido e pôr fim a calcinha. Seryn pegou e se sentou na cama colocando os pés no
chão.
Era estranho, depois de horas deitada, sentir seus pés contra o assoalho do quarto. Eles estavam
quentes e isso fez com que a vampira respirasse fundo e desnecessariamente.
Seryn foi se levantando com cuidado, mas sentiu ainda a fraqueza rodeando seu corpo, não
esperava por isso. Por sua sorte ainda havia mais 2 ratos.
Para sua surpresa sentira Alex em sua volta, uma mão em seu cotovelo e outra escorando suas
costas.
Seryn estava se sentindo quase humilhada, uma humana que não deveria passar dos seus 25
anos ajudando uma vampira com 600 anos de existência.
- Eu estou bem. – A Rainha disse secamente tentando sair do toque da humana.
Por teimosia ela deu mais um passo, mas acabou por vacilar um pouco e Alex apertou seu
corpo contra o corpo de mármore de Seryn.
- Estou vendo. – Alex falou com um tom sarcástico. – Você pode ser a rainha dos Altos, o ser
mais incrível que eu tenho certeza que é, mas eu posso te ajudar. Eu prometo não contar a
ninguém, muito menos seus inimigos.
Ambas se olharam e Alex não pode deixar de perceber que minimamente um sorriso nascendo
nos lábios de Seryn. Não um sorriso libidinoso ou maliciosa, mas um sorriso genuíno do que
gostara do que ouvira.
Seryn não estava acostumada a gargalhar ou rir de maneira mais relaxada. A garota tinha
humor que pegara a vampira despreparada e ela gostou disso. Era mais um ponto para Alex.
Além do cheiro, da beleza, do corpo e do incrível pescoço, seu humor fora acrescentado no
interesse de Seryn.
Com cuidado, as duas se dirigiram para o banheiro, cada passo que a vampira dava mais forte
se sentia, mais firme seus pés tocavam o chão. Ela estava ficando boa, isso era ótimo.
- Bem, eu vou deixar você á vontade. Eu tenho que fazer algumas coisas lá na sala. Daqui
pouco eu volto, para ver como está indo. – Alex tirou as mãos de Seryn com cautela, na
realidade ela não queria soltar a vampira, mas ela tinha que fazer.
- Tudo bem.
Alex se virou, mas sentiu os dedos gelados da vampira em volta de seu punho e isso a fez virar
novamente.
Elas se entre olharam por alguns segundos, nenhuma das duas disse absolutamente nada.
Seryn abriu a boca, tentando dizer algo, para que aquele silêncio incomodante acabasse, mas
ela hesitou, algo que muito tempo não acontecia. Os olhos coloridos a fitando daquele jeito não
a ajudavam nenhum um pouco.
Alex por outro lado sentiu-se dominada pelo olhar castanho da vampira. Desejou por alguns
segundos vê-los azuis safiras, eram incrivelmente belos e combinava com Seryn. Ela queria
saber mais sobre a vampira, não podia negar. Queria saber mais de tudo, o filtro de Alex não
funcionava bem.
- Eu sei.... De nada. – A garota falou num murmúrio quase inaudível, se Seryn não tivesse uma
audição aguçada e amplificada certamente ela não iria ouvir.
Seryn largou o pulso da menina e virou-se de costas onde começou a desabotoar sua camisa de
seda preta. Alex queria ficar ali, observar algo que era inédito, obviamente que já tinha visto
um corpo feminino nu antes. Mas aquilo era diferente, era um corpo de uma vampira. Um
corpo de mármore, forte e esguio. De uma rainha.
Mas Alex balançou a cabeça e rodou os calcanhares para sair do banheiro, deixando a Rainha
sozinha.
- O que essa garota está fazendo comigo? – Seryn sussurrou consigo mesma, frustrada com
suas ações não coordenadas.
V–
Alex Solis saiu do quarto com as pernas bambas, ela tentava firmar um pé depois do outro em
direção da sua pequena cozinha.
Sua próxima missão era ligar para seu sócio de seu pub, arranjar alguma desculpa mirabolante
para faltar o trabalho hoje. Basicamente, ela ficava responsável pelo bar, Alex gostava disso.
Dali ela poderia ver tudo, conversar com pessoas interessantes, principalmente moças
interessantes e mais ainda ganhava incríveis gorjetas. Ela e Lucius compraram o pub caindo
aos pedaços ha alguns anos atrás, quando a suas economias que seus pais deixaram estavam
acabando.
Alex nunca se encaixara em nenhum trabalho que era considerado ―normal‖, então em uma
única cartada comprara o bar com seu amigo e juntos montaram a taverna: Final do arco-íris.
Sim o nome era bastante brega, mas virou o principal point gay da cidade. Logo, em poucos
meses o lucro viera de uma maneira surpreendente e desde então Alex se vira entre trabalhar a
noite e cuidar de sua falta de vida pessoal de manhã.
Ela alcançou o celular que estava na pequena ilha na cozinha e desbloqueou o telefone.
Procurou o número de Lucius, mas na última hora resolveu mandar uma simples mensagem.
Seria muito mais fácil do que simplesmente ligar, seu amigo amava fazer interrogatórios e ela
não era boa mentirosa.
Digitou rapidamente com os polegares: “Tô um pouco doente, mas estou bem, não se
preocupe. Não irei hoje.
Segure as pontas para mim.
Beijos. ”
Ela largou novamente o celular na ilha e tratou de pegar algo para comer, fizera um sanduiche.
Um delicioso sanduiche com frango desfiado, com molho de mostarda e mel e alface. Eram
sobras que encontrara dentro da geladeira, mas seria o suficiente para matar a fome que
percebera que estava crescendo a cada minuto.
Mordiscou seu sanduiche e viu seu celular acender duas vezes, ela apertou o botão no inferior
do aparelho e viu a mensagem brilhar.
“ Tá tudo bem?
Olha, qualquer coisa me liga. Pode deixar, que me viro aqui.
Beijo.”
Alex Solis resolveu não responder e novamente se viu em direção de seu quarto. Ela tinha a
estranha sensação de querer ficar perto da vampira. Ela tinha desejo de conhecer ainda mais a
Rainha que ali ficava.

Seryn se secava com a toalha e sentia-se bem, os resquícios de ontem agora começava a virar
memorias que iria certamente enterrar no fundo de sua mente. Seu objetivo principal nesse
momento era ficar boa para a noite sair daquela casa. Ficar ali estava ficando cada vez mais
difícil, tudo na humana era curioso demais e Seryn tinha palavra não faria o que estava louca
para fazer.
Ela vestiu o vestido, que ficara um pouco apertado, seus seios ficaram pressionados contra o
tecido e a barra da saia batia na metade de suas coxas. Olhou no espelho e se viu sem
maquiagem e com um vestido simples. Há muito tempo não se vira assim, seu guarda-roupa
basicamente era composto de couro, preto, vermelho, bordo e roxo.
Realmente, cada hora que passava se sentia mais humilhada, mas em contraponto
teimosamente não negava que estar ali causava algo estranhamente familiar.
Seryn saiu do banheiro e viu a humana fechando a porta do quarto com um sanduiche na mão.
Alex parou momentaneamente de mastigar e virá a vampira vestindo suas roupas, ela tentou
ignorar o fato que mesmo sem maquiagem ou com roupas mais simples. Sua beleza parecia
incrivelmente realçar.
Deus.... Você poderia ser um pouco menos lésbica, não é? Alex se censurou com certa raiva
de si mesmo.
Alex forçou a engolir o pedaço do sanduiche em sua boca e fez uma careta.
- Você está melhor? – Alex perguntou sinceramente preocupada. – Quero dizer, mesmo sendo
uma vampira acho que um banho faz bem para todo mundo.
Seryn quase rodou os olhos irritada com a garota, mas ao todo achou sua colocação um tanto
quanto boa.
- Você tem razão, o banho realmente... – Ela parou jogando o cabelo negro para trás. – Como
dizem vocês humanos, renovam as energias.
- Sim... – Alex sorriu mexendo a cabeça dando um passo em direção a vampira.
Seryn voltou a sentar na cama e Alex sem entender fez o mesmo.
O silêncio se instalou no quarto e Alex se sentiu um pouco incomodada, ela tentava comer o
sanduiche em paz. Entretanto ela podia sentir o olhar de Seryn pairando sob ela, seu corpo
queimava de ansiedade.
- Por que.... – Alex tentou dizer, mas ao levantar a cabeça viu o olhar que a vampira
direcionava a ela.
- Por que? – A voz fria de Seryn bateu nas orelhas da humana causando-lhe um arrepio.
Alex forçou-se a comer o ultimo pedaço de sanduiche e respirou fundo.
Seryn esperava pacientemente o que a garota iria perguntar, ela deveria cortar esse tipo de
perguntas e conversas. Mas como a vampira ao passar do tempo mais se intrigava com a
pequena humana resolvera responder, mas de suas indagações.
- Você disse algo sobre o meu cheiro... O que isso quer dizer? – Alex disse meio incerta
tentando fitar os olhos da vampira.
Seryn respirou fundo mesmo não sendo necessário e ergueu uma de suas sobrancelhas.
Essas perguntas.
- Alex... – Seryn disse o nome da humana em um sussurro sensual causando um arrepio
agradável em ambos os corpos dentro do quarto. – Você não deveria perguntar esse tipo de
coisa.
Alex a olhou e se aproximou mais um pouco, talvez um pouco próximo demais.
- O seu cheiro. – Seryn cruzou os braços para inutilmente se afastar da humana. – Ele é
diferente, todos os humanos têm um cheiro. Não é um cheiro simplesmente da pele, mas do
sangue. – A vampira abaixou a voz sentindo seus caninos coçarem um pouco.
Alex ficou parada em seu lugar, não sabia como reagir em uma situação dessas. A vontade dela
era instigar mais a Rainha, mas sabia que não seria sábio fazer isso. Ela deveria pensar em
prezar por sua vida. Deveria.
- Talvez seja melhor eu terminar com o último roedor. – Seryn retomou a dizer alcançando a
caixa e rápido demais suas presas estalaram.
Sua boca formigou e seu lábios tocaram ferozmente o corpinho do rato, novamente ela sentira
nojo, entretanto momentaneamente imaginou como seria ser experimentar o sangue da sua
salvadora. Isso lhe causou um ruído prazeroso em sua garganta e de repente o animal parecia
ter um gosto melhor do que imaginara.
- Desculpe se estou fazendo sua vida um inferno. – Alex se desculpou sem saber ao certo
porque, era como se quisesse ser mordida.
Devo estar louca, só pode. Alex pensou olhando para a vampira que acabara com a vida do
camundongo.
Seryn limpou a boca com as costas da mão e estudou a menina de olhos coloridos. Ela
descartou o ultimo camundongo na caixa e o colocou no chão.
- Você não deveria se desculpar, eu estou lhe fazendo praticamente um favor. – Seryn disse
secamente. – Sua sorte é que sou de uma ordem respeitável.
- Isso pode soar clichê ou ridículo, não me entenda mal. Não quero ser aquelas menininhas
deslumbradas. – Alex se deitou de lado na cama tomando a liberdade de entrar um pouco mais
perto de Seryn. – Mas seu mundo deve ser incrível, quero dizer você é uma vampira, rainha de
uma ordem. Deve haver outras ordens certamente e regras. Vocês vivem em um mundo dentro
de outro mundo.
Seryn arqueou as sobrancelhas e por fim decidiu relaxar mais contra a cabeceira da cama.
Olhou para o lado e viu o interesse evidente que Alex Solis tinha em seu mundo. A vampira
cruzou os braços sob os seios, tentando impedir que um sorriso nascesse em seus lábios. Era a
primeira vez que um humano tinha a possibilidade de entender esse mundo, ao menos que ela
soubesse. Mas também era a primeira vez que via que alguém realmente estava interessada no
sistema vampiresco, pois nem mesmo a sua própria espécie tinha. Era por isso que os números
da ordem dos Insolentes cresciam cada vez mais.
- É interessante, se por assim dizer, e também um tanto complexo. – Seryn se viu falando
facilmente para a humana ao seu lado, sentiu-se confortável em dizer coisas. Talvez porque
poucas pessoas estavam interessadas em conversar com uma rainha.
Seryn restringia suas amizades a dois vampiros. No seu mundo sua espécie era perigosa até
para eles mesmo.
- Então quer dizer que existem sereias ou fadas, essas coisas. Já que vocês existem. – Alex
falou um tanto animada.
A Rainha rodou os olhos sutilmente e bufou.
- Não seja ridícula, garota, você sabe que essas coisas não existem. – Seryn apontou o obvio
olhando para os olhos de Alex que pareciam se entristecer, apenas um pouco.
- Mas vocês existem. Até ontem eu pensava que vampiros só existiam em livros de faz de
conta.
Seryn reprimiu uma risada baixada, travando os maxilares.
- Você tem razão. – A vampira limitou-se a dizer.
- Acho que você não pode me contar nada sobre seu mundo, não é mesmo? – Alex disse um
pouco desanimada, parecendo se espremer contra o colchão.
- Não.
Silêncio.
- Mas você pode me contar sobre o seu. – Seryn retornou a dizer depois de alguns segundos.
A vampira estava interessada na menina de olhos coloridos. Talvez alguma explicação sua
pudesse dizer o porquê de seu cheiro ser tão delicioso.
- Eu não tenho muito para contar. – Alex deu de ombros agora realmente parecendo triste. –
Minha vida não deve ser emocionante como a sua, mas já que não temos nada para fazer....
Aqui vai. Meus pais morreram quando eu tinha 5 anos de idade. Eu estava voltando da creche
com a vizinha que quase sempre me apanhava e quando virei a esquina vi que minha casa
estava em chamas. Eu queria salvá-los, queria correr e tentar abrir a porta, mas minha vizinha
não deixou. Ela me recolheu nos braços e me afastou para o outro lado da rua. Os bombeiros
chegaram, só que já era tarde demais. Alguém prendera meus pais lá dentro, eles foram
assassinados. Nunca encontraram o paradeiro do assassino.
Alex Solis estava séria, a menina de olhos verdes e azuis agora tornava-se sóbria e um pouco
dura. As imagens ainda tão vividas do seu desespero passava em sua cabeça.
Seryn tentava se pôr como expectadora, mas sentira a dor palpável da garota. A Rainha já fora
filha, mesmo que muitos e muitos anos atrás. E sabia muito bem como era a dor de perdê-los.
Os pais de Seryn não foram mortos, ela teve que se afastar, pois tinha se tornado vampira.
- Então, eu virei órfã.... Sozinha. – A voz de Alex falhou momentaneamente. – A única coisa
que eu tenho deles é esse porta-retratos e um cordão, com o formato de um sol.
Concidentemente ou não é o que meu sobrenome significa. – Alex disse com um sorriso triste
formando em seus lábios. – Eu tenho medo de usá-lo e perder. Mas eu o guardo na primeira
gaveta do criado mudo, logo abaixo do porta-retratos.
Seryn virou a cabeça para o outro lado momentaneamente e novamente viu a foto que estava
ali.
Essa garota tinha sofrido o inferno. A vampira não pode deixar de pensar.
- Até meus 18 anos eu fui criada por essa vizinha, Claudia o nome dela. Que infelizmente
morrera há dois anos atrás. Ela foi minha segunda mãe, cuidou bem de mim. Agora, cá estou
eu sozinha. Não tenho mais nenhuma família, ao menos que eu saiba. Depois da morte dos
meus pais ninguém apareceu para me buscar. Então creio que eu sou a única Solis restante no
mundo. Mas minha vida não foi uma merda no geral.
Seryn bufou, era sinal de outra risada fraca reprimida.
- Eu abri um pub e agora é o mais frequentado pelo o público gay na cidade. Gosto do meu
trabalho, isso faz com que eu não tenha tempo para me preocupar com minha vida social. –
Alex riu baixinho e se ajeitou no travesseiro, sentindo uma pequena sonolência invadindo
devagar sua cabeça.
Alex estava de repente se sentindo muito cansada, talvez seria o fato de ter dormido pouco a
noite passada. A adrenalina no seu corpo já passara do 0 e agora faltava em seu reservatório,
seus olhos pesaram.
Seryn a observou estudou os olhos coloridos se fechando e resolveu não atrapalhar o momento
intimo da garota, não sabia o porquê, mas essa cena era reconfortante. Fazia anos desde que
observara alguém cair no sono, a vampira já nem mais se lembrava da sensação.
- Eu nunca tinha contado isso para ninguém, nem mesmo para Lucius, o meu amigo, sócio do
pub. – Alex abriu teimosamente os olhos mais uma vez para entrar nos da vampira que a
estudava por todo o seu rosto. – Promete não me matar...
Seryn franziu o cenho até entender o que Alex estava querendo dizer.
- Prometo. – Limitou-se a dizer.
Um sentimento inédito brotara no peito de Seryn.
Empatia.
VI –
Seryn ficou por observar Alex até que ela pegasse no sono. Já havia se passado algumas horas
e a humana estava ainda dormindo pesadamente e nesse tempo todo a vampira apenas a
contemplava. Era realmente uma paz que a menina dormia, sentiu quase inveja por ter a
necessidade de sentir isso novamente.
Por que diabos eu estou assim? Perguntou-se.
Eu tenho que sair daqui, ela é perigosa para mim. Concluiu um pouco desesperada dentro de
si.
Seryn não estava gostando da sensação que a garota causava sob ela. Gostava menos ainda do
que estava sentindo.
O sol já estava indo embora. Essa era a oportunidade perfeita de ir deixá-la e fazê-la acreditar
que tudo fora um sonho.
Era isso que Seryn iria fazer.
Ela se inclinou sobre a humana e se aproximou de sua orelha, suas presas estalaram sem algum
tipo de controle. O pescoço de Alex estava amostra e o cheiro estava ainda mais forte. De
repente a vampira teve vontade de não apenas cravar suas presas ali, mas também lamber e
beijar para provar a pele da humana.
Ela isolou esse pensamento e seus lábios quase tocaram a orelha de Alex.
- Tudo foi um sonho. Eu nunca existi. Alex? Seryn é um fruto da sua imaginação. – Seryn
disse num sussurro baixo e meloso.
Repetiu essa fala por mais três vezes e distanciou um pouco, mas antes que pudesse sair da
cama algo a deteve.
Seus lábios ainda com as presas a mostra roçaram levemente no pescoço quente de Alex e
Seryn sentiu uma incrível descarga elétrica passeando livremente pelo seu corpo.
Deuses, essa humana é deliciosa.
Levantou-se por fim, recompondo-se. Clicando suas presas para cima.
Calçou suas botas com cuidado para não acordar a humana e se agachou para pegar a caixa
com os roedores cadáveres.
Abriu a porta do quarto e observou que já estava escuro lá fora, era início da noite. Se estivesse
90 % em forma com sua velocidade, chegaria na mansão em poucas horas.
Seryn virou a cabeça e olhou mais uma vez a humana que estava ressonando pesadamente na
cama. Seus cabelos ruivos espalhados por todo o travesseiro e seus braços dobrados na altura
da cabeça. Seu semblante estava calmo, como nada daquilo que ela tinha passado não dessa
noite, mas de sua vida, não tivesse acontecido.
Os pés de Seryn travaram no chão, era como se a mente dela gritasse para sair dali, mas algo
dizia que ela poderia ficar. Ficar ali e conhecer um pouco mais dessa humana estranha de
cheiro delicioso e olhos coloridos.
Talvez em outra vida eu pudesse ficar.
Seryn fechou a porta com cuidado e dirigiu-se a saída sem de novo olhar para trás.

Alex acordou em solavanco, seus olhos abriram por inteiro e demoraram a focalizar. Ela se
virou e estendeu o braço estranhamente esperando encontrar alguém ali do seu lado.
Demorou algum tempo para organizar seus pensamentos, olhou para o porta-retratos dos seus
pais e respirou fundo.
Se levantou da cama e um pouco enjoada escorou sua mão na parede. Levou a outra em sua
testa e apertou sutilmente, tivera um sonho tão real que pensara que realmente tivera vivido.
Riu baixinho, sacudindo a cabeça e saiu do quarto a procura do seu celular.
Quando o pegou em cima da ilha de sua cozinha viu que o relógio digital marcava 4:15, não
sabia por quanto tinha dormido. Julgando pelo seu corpo, sabia que tinha sido muitas horas.
Percebeu que seu celular estava com a bateria praticamente zerada, mas antes disso viu que a
caixa de mensagem marcava o número 2.
Ela clicou com o dedo no aplicativo e rezou para que a bateria aguentasse.
Era mensagem de Lucius. Perguntando se ela estava bem, reafirmando a pergunta de cima. Ele
pareceu realmente preocupado e ameaçou até aparecer hoje caso ela não respondesse. Alex
franziu o cenho com a pergunta estranha e rolou a conversa um pouco para cima e viu que ela
mandara ontem de manhã uma mensagem que não estava bem.
Não lembrava o porquê mandara essa mensagem, em sua cabeça ontem ela estava bem.
Deveria ser por isso que dormira tanto.
Mandou um simples.
“ Eu estou bem melhor. Hibernei horrores.
Beijos, te vejo hoje. ”
Alex tentou se lembrar o que sentira ontem, mas nada vinha em sua memória. Aliás nada sobre
ontem vinha em sua cabeça, por mais que ela se esforçasse.
- Calma, hoje é um novo dia.– Alex disse batendo uma palminha tentando isolar o pensamento
de ontem e da mulher misteriosa que se mostrou em sonho.

Seryn já estava com suas roupas típicas de couro e seda, obviamente e predominantemente
pretos. Ela estava sentada em sua câmara, encarando algum ponto fixo e imaginário entre a
estante embutida lotadas de livros e sua lareira. Sua cabeça ainda passeava nos acontecimentos
da noite anterior. Ela ainda não conseguia acreditar que estabelecera um contato com uma
humana, não qualquer humana, Seryn sabia disso. Seu cheiro ainda permanecia fixado na
vampira, assim como o quase gosto de sua pele. Ela não queria se enganar, mas seria mentira
se não dissesse que queria ver Alex novamente. Com seus olhos verdes e azuis Com um cálice
de vidro nas mãos Seryn rodava-o para que o liquido vermelho lá dentro se misturasse. Ela o
levou até a boca e bebericou, entretanto, não achara graça alguma experimentar aquele sangue,
não depois de sentir o cheiro de sua salvadora.
Ontem, quando chegara na mansão, descobriu que o local estava um verdadeiro pandemônio,
os vampiros de sua ordem estavam reunidos e gritando. Estavam fazendo um mutirão para
encontrar sua rainha, porém, quando abriu as portas da mansão para o salão principal, todos se
calaram e olharam para Seryn Savina. Como se ela fosse uma verdadeira estranha, ou melhor,
era como se tivessem visto um fantasma.
A vampira ouviu duas batidas fortes na porta. Ela se endireitou e cruzou as pernas. A porta se
abriu e mesmo de costas para ela sabia exatamente quem era. Sua cadeira de metal ficava no
centro da sala, na frente da grande lareira que quase sempre ficava ligada, mesmo nos dias
quentes. Embaixo da cadeira de metal um grande tapete vermelho redondo, quase da cor de
sangue, apenas um pouco mais aberto.
- Oli. – A voz gélida de Seryn fez com que os passos parassem momentaneamente.
Oli Biezus era seu amigo da Ordem dos Mutanos, ele era um dos dois que ela poderia
considerar ter algum elo dentro desse mundo vampiresco.
Oli era um homem de praticamente de dois metros de altura com mãos grandes demais. Ele
tinha um corpo atlético com verdadeiros passos de pluma. Seu cabelo era longo, batia na altura
dos seus ombros, tinha os olhos azuis e sempre usava grandes e pesados sobretudos. Pois em
suas costas ele guardava asas.
A Ordem dos Mutanos era conhecida por praticamente morarem em florestas e com o passar
dos anos eles acabavam por desenvolver algum tipo de características animal. Por sorte, Oli
sempre pode esconder sua peculiaridade, sendo capaz de transitar mesmo que estranhamente
pelos os humanos.
- Soube do seu desaparecimento. Creio que agora esteja tudo bem. – A voz melódica de Oli
cantou nos ouvidos de Seryn e logo ela pode vê-lo em sua visão periférica.
- Sim. – Limitou-se a dizer antes de bebericar o sangue sem graça que jazia no cálice.
- Como você sobreviveu? O hotel ao que me disseram estava acabado. – O vampiro Mutado
retomou a fala.
Seryn trincou os dentes e respirou fundo desnecessariamente. Ela virou seu rosto para Oli e se
endireitou na cadeira, ficando meio de lado.
- Uma humana me salvou.
Oli levantou uma de suas sobrancelhas e estudou a face de Seryn como se quisesse saber mais
de alguma confissão.
- Salvou? Isso é inédito.
- Muitas coisas nos últimos dias foram inéditas. – Seryn revelou tediosamente.
- Perdão? – Oli se aproximou pegando o cálice das mãos de Seryn e ele mesmo pôs se a beber
do sangue.
O Mutano era o único que podia tomar essa liberdade com ela.
- A humana.... Oli... – Seryn bufou e jogou os cabelos castanhos para trás.
O vampiro sabia que aquilo era um sinal implícito de nervosismo vindo de Seryn.
- Ela... Eu não a matei. – Confessou. – Eu não pude, não apenas pelo trato por ela ter me
salvado. Sabe como nós Altos funcionamos. Mas, eu simplesmente não pude. Algo nela. –
Seryn esfregou o opositor contra o indicador e o dedo do meio alguma vezes. Ela estava
querendo buscar a palavra certa, só que nada parecia vir em sua cabeça.
- Você poderia me contar essa história desde o início. – Oli disse se pondo na frente de Seryn.
Tirou o pesado sobretudo e suas asas cinzas se espalharam livremente. Elas bateram até que
Oli tirou os pés do chão cruzando-as e sentando no ar.
Seryn pacientemente contou absolutamente tudo, sem tirar qualquer detalhe. Para ele, ela podia
contar, sem reter segredos.
Contou sobre a dificuldade da manipulação, a história que fora contada a ela sobre a infância
de Alex e principalmente do cheiro, o cheiro que parecia ser o sol.
Após algumas horas de conversa, onde na realidade apenas Seryn quem falou. Oli apenas
sacudiu a cabeça algumas vezes e oferecia um sorriso sábio para a amiga, por uma vez ou outra
o cálice passava nas mãos dos dois.
- Agora que já falou tudo, é a minha vez de falar e você ouvir. – Oli cruzou os braços e fitou
Seryn. – Primeiro, temos que realmente tomar cuidado com esses humanos, eles estão
descobrindo coisas demais, eu tenho influência com os Anciões irei falar com eles sobre o que
podemos fazer contra essa droga.
- Concordo. Devemos ter mais cuidado agora, não podemos deixar que os humanos
desconfiem da gente. Não depois de tanto tempo. Não queremos uma guerra desnecessária.
- Segundo... – Oli olhou para os castanhos gélidos de Seryn e sorriu maliciosamente. – Quanto
a sua humana.... Seryn, você sabe que a ordem dos Altos são os que mais tem a proximidade
real com humanos. Vocês gostam da cultura e da sociedade deles. Não é à toa que você é
considerada a Rainha. Mesmo que os usemos para nos alimentar, você sempre os respeitou
quando não faziam parte do seu banquete. É mais fácil um vampiro da sua ordem sentir um
pouco mais do que desejo pelos os humanos, é quase um apego...
- Eu não sou uma cadela que me apego a um dono. – Seryn cortou Oli contrariada.
- Não foi isso que eu quis dizer. Escute, esqueça o que eu disse. Sua humana, Alex, ela é
realmente excêntrica. Não se bastasse pelos os olhos, que devem ser realmente algo lindo, mas
seu cheiro e provavelmente seu gosto devem ser algo único. – Oli não pode deixar de lamber
os lábios, se Seryn realmente falara desse sentimento real de luz e sol, então ela não estava
mentindo.
Mas ele não faria nada, essa humana era de Seryn isso já estava estampado em todo o rosto da
vampira.
- Eu já ouvi dizer sobre humanos assim. Com gosto de luz e de sol. Eles são raros e de alguma
forma especiais, a lenda diz que eles podem dar habilidades novas para vampiros. Eu nunca
esbarrei por um mesmo sendo milenar, talvez você tivera a sorte, ou não, já que você não a
experimentou. – Oli apontou o obvio.
O vampiro sabia que o cheiro não era a única coisa que prendera a atenção de Seryn na
humana.
- Então se eu provasse ela, nada aconteceria comigo?
- Eu não sei ao certo, mas nunca na história ouvi um vampiro que morrera ao provar um
sangue humano. Mas dizem que a sensação é única, talvez o sangue realmente ofereça algo de
diferente.
- Talvez. – Seryn tentou parecer ser indiferente.
Na realidade, a vampira queria voltar naquela casa e mais do que nunca provar o sangue de
Alex, não apenas provar, mas queria ter a menina como há muito tempo não desejava alguém.
Seryn mesmo confusa e aborrecida com os sentimentos adversos que Alex causava, tinha que
admitir que a vampira gostava. Há muito tempo que essas sensações estavam adormecidas
dentro de Seryn e quando foram despertadas aos poucos ela realmente sentira aquela excitação
de como tudo fosse a primeira vez.
- Ela pode estar em perigo. – Oli disse com a voz um pouco carregada.
- O que? – Seryn olhou para o vampiro Mutano que a despertou de seus devaneios.
- Sim, ela pode estar em perigo... Seryn e se alguém seguiu vocês? Se algum vampiro soubesse
que você passara a noite com humana e não a matou. Isso acenderia a curiosidade de alguns,
por que não matar a humana se você estava ferida?
- Mas os Altos têm honra. – Seryn tentou se justificar com a melhor resposta que viera na
cabeça.
- Os Altos podem ter, mas se o seu estado estava do jeito que eu imaginava. Então nem isso
faria você concordar em mantê-la viva. E se chegarem perto dela e sentirem o seu cheiro, você
sabe que ela está perdida, não sabe? A menos que você não se importe com isso. – Ele deu de
ombros, fingindo não se importar com a situação da humana.
Oli sabia que Seryn não conseguiria mentir na frente dele.
- Merda... – A vampira fechou os punhos com raiva e bateu nos braços da cadeira.
Ninguém iria provar o sangue de Alex antes dela. Melhor, ninguém iria machucar a humana
que salvara sua vida.
- Você pode observá-la ao longe já que você a manipulou para esquecê-la. A não ser que você
queira que ela se lembre de você. – Desta vez Oli sorriu maliciosamente. – E nem me olhe com
essa cara, eu te conheço ha 600 anos, eu sei que você a manipulou.
- Eu irei observar ela por 3 dias, se alguma coisa acontecer eu interfiro.
- E se esses três dias passarem e nada acontecer. O que você irá fazer? Dara as costas para a
humana ou fazer aquilo que você quer fazer? Nós dois sabemos que não é apenas o sangue
dela que você quer, quer algo a mais, não apenas o sexo. Seryn, admita, você quer sentir
alguma coisa e ela fez você sentir isso, não foi?
Seryn não tinha uma resposta para isso.
Tudo o que ela podia pensar nesse momento era nos 3 dias, depois ela tomaria a decisão
correta.
VII –
- Vai sair, majestade? – Filipe anunciou parando no meio do batente da porta dos aposentos de
Seryn.
A vampira terminava de fechar o zíper de seu vestido vermelho escarlate, onde um de seus
ombros ficava desnudo enquanto o outro era feito de manga comprida. Extremamente colado
que delineava todo o seu corpo esguio. Seus cabelos desciam livremente pelas costas e seu
rosto estava perfeitamente maquiado, com os olhos bastante marcados e com os lábios pintados
de vermelhos.
A rainha se virou e encarou seu motorista. Filipe era um vampiro grande como um armário
com pele morena e careca. Um perfeito brutamontes para espantar pessoas e vampiros, mas
quem o conhecia sabia que era um tanto quanto delicado.
Ele amava a literatura humana e sempre que podia invadia museus durante a madrugada para
ficar horas e horas a olhar uma pintura ou escultura.
Seryn queria ser grossa com ele, mas estava compenetrada demais com a imagem de Alex na
sua cabeça. Mesmo passando apenas um dia desde a última vez que a viu a humana parecia
uma lembrança distante no seu pensamento. A única coisa que ficava realmente vívida em sua
memória era os olhos coloridos da humana e obviamente seu cheiro.
- Você irá me levar para o centro. – Seryn ordenou andando em direção a saída do seu quarto,
Filipe por sua vez acabou por saindo de sua frente colocando-se de lado.

Ao descer as grandes escadas da mansão, pode ver alguns vampiros da Ordem sentados
conversando sob murmúrios, bebericando em seus cálices. Entretanto, todos pararam ao ver
Seryn descer, era um sinal de respeito. Após um aceno com a cabeça, os mesmos vampiros
voltaram a os seus distintos afazeres.
- Majestade, vejo que vai sair. Tem certeza que é uma boa ideia? – Um dos vampiros levantou-
se da cadeia e com a cabeça baixa perguntou para a vampira.
- Eu tanto sei que é uma boa ideia que irei agora.
O vampiro olhou rapidamente para ela concordando com a cabeça rapidamente, antes de
novamente por seus olhos no chão e se retirar de ré.
Seryn odiava Pascal. Era um vampiro preguiçoso que conseguia seus objetivos pelas custas dos
outros. Ainda se perguntava como ele viera parar na Ordem dos Altos.
Filipe abriu as grandes portas da mansão e abriu espaço até a Mercedes que já ficava de
prontidão sempre que algum vampiro precisasse. Entretanto, apenas Seryn tinha um motorista
particular.

- Gostaria de um Dry Martini, por favor. – A mulher se pendurou no balcão do bar em direção
a Alex.
- Claro. Um segundo que já sai. – Alex sorriu para a mulher loura na sua frente, enquanto
pegava a coqueteleira.
Ela pegou o gin e despejou o liquido dentro da coqueteleira de metal, juntamente com vermute
seco. Tampou e começou a sacudir de um lado para o outro.
Quando por fim acabou colocou um copo em cima do balcão em frente da mulher que pedira a
bebida. Abriu a coqueteleira e colocou a mistura dentro do copo.
- Agora o toque final. – Alex disse.
Colocou pequenas raspas de limão na bebida e espetou duas azeitonas em um longo palito para
enfim mergulhar no copo.
A loura olhou para o copo em sua frente e com os longos dedos o pegara. Ela levou a borda do
copo a boca, usando o indicador para travar o palito e deu a primeira golada. Seus olhos o
tempo inteiro passeavam pelo o rosto de Alex.
- Está realmente delicioso. – A mulher loura sorriu e se inclinou mais uma vez no balcão e
fitou os olhos de Alex. – Eu aposto que já disseram isso, mas você tem olhos lindos, sabia?
Alex sorriu timidamente e colocou uma mecha do cabelo dela atrás da orelha. Ela jogou o pano
no ombro esquerdo para espantar o nervosismo.
- Ainda por cima tímida. – A mulher riu e novamente bebeu um pouco do Dry Martini.
Alex não podia deixar de notar a beleza da mulher que estava em sua frente. Vestia uma calça
preta justa de cintura alta, uma blusa leve acompanhada de um blazer azul. Ela era certamente
uma mulher de negócios.
Alex por outro lado estava com calças jeans uma blusa branca de alça que mostrava um pouco
do seu decote e botas de cano baixo e pretos. Seu cabelo ruivo estrava em uma trança embutida
e sua maquiagem leve, porém totalmente harmoniosa. Ela estava como uma moça que
trabalhava atrás de um bar.
Obviamente que ela gostava de se arrumar, gostava de colocar um vestido e chamar atenção,
mas hoje era um dia corriqueiro. Um dia em que a casa não iria encher.
A mulher estava flertando com ela, isso era normal em um bar gay. Normalmente Alex iria
adorar esse tipo de assalto. Uma mulher atraente querendo puxar assunto, mas se sentia
estranha. Era como se Alex procurasse alguma característica nessa mulher em sua frente
naquela que sonhara.
Seryn...
- Conte-me você trabalha aqui? – A mulher sentou no banquinho alto do balcão e procurou os
olhos da menina.
- Sim. Eu sou dona do estabelecimento. – Alex sorriu educadamente, enquanto tirava o pano
branco dos ombros e começava a arrumar a bagunça que fizera para aprontar o Dry Martini da
mulher.
- Uau, isso é incrível, realmente. – A mulher pegou o palito com as azeitonas e levou até a
altura dos lábios, onde colocou uma delas dentro da boca e a mastigou. – Lívia. Prazer. – A
mulher estendeu a outra mão.
- Alex. – A menina cumprimentou e estendeu a mão para Lívia. – Prazer.
- Então quer dizer que sempre quando eu vier aqui irei te ver. – Lívia continuou.
- Exatamente. – Alex sorriu sacudindo a cabeça levemente.
- Eu gostei disso.
Alex não sabia o que dizer, ela olhou para o balcão catando dois copos que estavam esquecidos
e se virou rapidamente para coloca-los na pia.
- Bem, se eu soubesse que você estaria aqui antes, certamente desmarcaria o encontro que eu
tenho hoje. – Alex ouviu a voz de Lívia atrás dela e a menina não pode deixar de rir.
Alex se virou novamente e apoiou as mãos na mesinha que tinha embaixo do balcão, onde
ficava algumas bebidas que sempre saiam mais.
- Bom encontro, Lívia. – Alex sorriu.
- Obrigada... – A mulher loura sorriu de volta e se levantou com o Dry Martini.
Quando Lívia saiu do banquinho Alex olhou para frente e viu algo que chamou sua atenção.
Uma mulher no canto do bar com braços cruzados embaixo dos seios. Emanando superioridade
e autoridade. Mesmo com as luzes fracas Alex pode ver que a mulher era linda. Alta com
cabelos castanhos e olhos praticamente da mesma cor, uma boca cheia pintada de vermelho.
Ela parecia conhecer essa mulher, mas de onde?
Alguém como se fosse uma remota lembrança. Alguém distante, parecendo que ficava na beira
dos seus sonhos.
Sonhos.... É isso! Essa mulher era dos sonhos de Alex. Ao menos ela achava. Tinha quase
certeza disso.
A mulher a fitou com seu olhar gélido e elas ficaram assim, se encarando por eternos
segundos.
Alex sentiu algo dentro do seu peito, como se quisesse pular o balcão para então correr e beija-
la.
- Ei...
Alguém despertou Alex de seu devaneio.
- Ei... – Um homem a chamou.
Alex rapidamente desprendeu seu olhar da mulher e olhou para o homem que estava no balcão.
- Sim. – Alex falou com a voz tremula.
- Eu gostaria de um Mojito, por favor. – A voz do homem pareceu um pouco distante.
- Claro, claro. – Alex disse rapidamente, voltando para a direção da mulher, mas para sua
surpresa ela não estava mais lá.
A mulher havia desaparecido.
Alex esticou a cabeça para procurá-la pelo o salão, mas nem vista dela.
- Ei.... Meu pedido por favor. – O homem retornou a dizer.
- Desculpe, claro. – Alex balançou a cabeça e de repente se sentiu uma idiota, certamente fora
uma imagem do fruto da sua imaginação, só pode.

Seryn trincou os dentes de raiva, estava do lado de fora do bar. A rua estava um pouco deserta,
era perto da meia noite e seu motorista havia ido embora.
Ela queria matar Lívia.
Como ela sabia o nome da mulher?
Bem, vampiros tinham super audição. Eles conseguiam ouvir coisas a vários metros de
distância.
Sabia que Lívia não era uma vampira, mas ainda assim queria realmente esfregar a cara dela na
parede.
Um sentimento de posse se apoderou em Seryn. Era como Alex fosse sua, seu cheiro, toque e
sangue fossem dela.
E a vampira se sentia patética, pois eram sentimentos ridículos e fracos. Sentiu-se pior ainda ao
ver que Alex flertara de volta. Mas a humana era atraente, com algo realmente diferente dentro
dela. Não somente vampiros viam isso, humanos também.
Por enquanto nenhum sinal de vampiros. Seryn pensou consigo mesmo.
A Rainha flexionou os joelhos e deu um grande salto para o prédio ao lado.
O prédio ao lado do bar tinha cerca de três andares e Seryn achou que olhar ali de cima seria
melhor, poderia detectar caso algum vampiro aparecesse.
A vampira não queria cruzar seu olhar com Alex de novo, ao menos não essa noite. Seryn
queria muito a garota, mas ainda não se decidira o que iria fazer depois desses 3 dias.
Se o que Oli disse realmente for verdade, o sangue de Alex era poderoso para os vampiros. Se
ela caísse em mãos erradas, isso poderia causar um verdadeiro desequilíbrio no seu mundo.
Seria muito mais fácil se Seryn pudesse matá-la. Só que ela sabia que não conseguiria.
Alex era sua salvadora.
Ela desejava Alex. A Rainha queria tê-la.
- O que devo fazer? – Seryn murmurou para si mesma, enquanto sentava no alto do prédio.

Alex, mesmo achando que a mulher que vira no canto do bar fosse fruto da imaginação, por
vezes a procurou pelo salão do bar. Mas frustrada acabou por desistir, já era duas da manhã.
Ela e Lucius já começaram a fechar as portas do pub, a fim de encerrar a noite.
- Mesmo sendo no meio da semana o movimento realmente foi bom. – Lucius dizia enquanto
colocava as cadeiras em cima das mesas.
- Sim.... Como sempre ganhei ótimas gorjetas. – Alex apresentou um sorriso orgulhoso nos
lábios.
- Obviamente que sim, em primeiro lugar você é linda. Segundo, seus olhos, por favor, né? –
Lucius colocou as mãos na cintura e jogou o quadril um pouco para os lados. – E terceiro, você
é excessivamente simpática.
Alex riu fechando a máquina registradora.
Lucius era seu sócio. Um homem de estatura média com a pele morena e barba sempre para
fazer, com olhos castanhos bem claros, forte e com os dois braços lotados de tatuagens.
- Eu já vou indo, está bem? – Alex disse contornando o balcão e chegando na porta dos fundos
do bar. Onde dava para um pequeno estacionamento.
- Okay. Alex? Tem certeza que está tudo bem? – Lucius falou verdadeiramente preocupado.
Alex parou com a mão na maçaneta e virou a cabeça forçando um sorriso.
- Você pareceu distraída hoje e bem, você também não tem se sentindo bem. – Lucius
continuou a falar.
- Eu estou, Lu. De verdade. – Alex disse carinhosamente para o amigo.
- Que bom, saiba que estou aqui.
- Eu sei... – Alex completou, abrindo a porta e indo para o estacionamento.

Seryn andou de uma ponta a outra do prédio do lado do bar, foi quando viu Alex tirando a
chave do carro da bolsa para conectar na porta.
Seu cheiro ainda estava presente, mesmo com a mistura de álcool. Seryn foi um pouco mais
para beira para poder observa-la melhor.
Alex parou e respirou fundo, deixando a chave na porta. Ela fechou os olhos
momentaneamente e quando retornou a abri-los sua cabeça foi em direção da vampira.
Seryn como vampira tinha um sexto sentindo muito apurado e antes que Alex pudesse vê-la se
escondeu na escuridão do prédio.
Deuses, ela sabe que estou aqui? Seryn pensou consigo mesma.
Seryn sentiu de repente a vontade de caçar. Hoje era iria matar alguém, ela precisava.
Ela precisava perfurar a garganta de alguém e sentir o sangue escorrendo pela sua boca, o
animal dentro dela estava se despertando. Alex havia despertado.
A Rainha sabia que enquanto faria sua refeição de caçadora, pensaria nos olhos coloridos
vulneráveis pedindo por ela.
VIII -
Terceiro dia.
- Suas saídas à noite estão sendo notadas, minha rainha. – Pascal a interrompeu enquanto a
vampira conversava com Filipe.
Seryn respirou fundo e controlou sua cólera.
- Acho que minhas saídas notadas não são da sua conta. Esqueceu com quem está falando,
Pascal? – Seryn olhou para Pascal com desdém.
- Apenas fofocas, minha rainha. Quero alertá-la sobre o que dizem. – Pascal tentou apresentar
uma explicação razoável.
- Se alguém tem algum problema com minhas saídas, se pronunciem. – A vampira disse em
alto bom som para todos do salão ouvirem.
Os vampiros a olharam e se encolheram, nenhum deu qualquer resposta.
- Problema resolvido. Vamos, Filipe. – Seryn deu dois tapinhas no ombro do brutamontes.
- Sim majestade. – Filipe acenou com a cabeça.
Pascal foi deixado falando sozinho com suas preocupações vazias.

Alex mais do que nunca estava se sentindo mal. Algo dentro dela parecia vazio, por isso
resolveu se arrumar melhor hoje, para afugentar esses sentimentos que estavam dentro dela.
Ela vestiu um cropped preto justo de meia manga com pequenos quadradinhos vazados e uma
saia também justa de cintura alta, mas que ainda assim mostrava um pouco de seu abdômen.
Por fim, uma sandália com um pequeno salto, ela definitivamente não ficaria no bar hoje e
tiraria um dia de folga, apenas olhando por cima o movimento.
O bar estava cheio, não lotado.
Lucius e mais um funcionário trabalhavam entre atender as mesas e no balcão.
Um DJ tocava algumas músicas animadas ao lado do salão, nada muito alto, mas o suficiente
para as pessoas dançarem.
Era o que Alex faria hoje. Dançar!
Ela abraçou Lucius quando chegou e ele mesmo chegou à conclusão que ela precisava de
diversão.
- Vá lá, garota. Hoje pode ser seu dia de sorte. – Lucius jogou uma picadela para Alex, antes
de colocar duas doses de tequila para os dois. - Por conta da casa. – Ele disse animadamente.
Alex riu alto. Lucius era um grande amigo, mesmo ela não sabendo ao certo o passado do
homem, sabia que ele tinha um bom coração.
Lucius tinha 30 anos, eles se conheceram alguns anos atrás em uma boate gay. A amizade logo
brotou instantaneamente.
Fora dele a ideia de abrirem um bar juntos e ela na hora concordou.
Lucius era um verdadeiro apaixonado pela vida, já vira ele namorando homens e mulheres. Ela
desejava que seu amigo apenas fosse feliz. Seja como for, ele merecia.
Os dois engoliram uma vez só a dose e ela bateu o copinho um pouco forte no balcão. Alex
sacudiu e cabeça e deu um gritinho.
- Agora você está pronta! Só vai. – Lucius riu e novamente jogou uma piscadela.
Então Alex foi fazer aquilo que seu amigo tinha mandado.
Foi dançar.

Seryn observava de longe Alex se mover ao ritmo da música, seu quadril balança de acordo
com a batida e suas mãos passeavam pelo seu corpo. Certamente ela estava atraindo olhares,
inclusive da própria vampira.
Alex Solis estava deliciosa, de acordo com o olhar perito de Seryn. Estava com dançando com
propriedade, sozinha. Alheia a qualquer movimentação ao seu redor.
Seu cheiro conseguia caminhar por todo o pub e ir até as narinas de Seryn. A vampira sentiu
seus caninos querendo descer, se mostrarem. Era um sinal não apenas de fome, mas também de
excitação. Alex fazia isso com Seryn, sensações diferentes de sentimentos que ela começava a
gostar de sentir.
Entretanto, algo atraiu a atenção de Seryn. Um homem também a observava e se aproximava
aos poucos.
Não, ele não era um homem.
Ele era um vampiro, ela são sabia dizer de qual ordem, mas pelo andar e o jeito das
vestimentas desleixadas, era da Ordem dos Insolentes. Vampiros que não se encaixavam em
nenhuma das outras ordens eram julgados como Insolentes, tão podres como os híbridos, sem
qualquer poder especial, a única coisa que os diferenciavam dos híbridos é que ao menos eles
tinham consciência. Eram conhecidos por serem rebeldes e andarem sozinhos.
Ele certamente sentira o cheiro de Alex, pois constantemente lambia os lábios predatoriamente.
O vampiro estava quase no alcance da humana, quando ele parou e virou a cabeça para
encontrar os olhos azuis brilhantes de Seryn.
O vampiro recuou um passo e acenou com a cabeça. Ele deveria ter pensado que Alex
pertencia a Seryn. Além do que tinha sacado que Seryn era mais forte que ele. Que ela era uma
rainha. Os vampiros simplesmente sabiam quando topavam por alguém mais forte ou por
alguém da realeza.
O vampiro então deu meia volta e saiu do bar.

Alex estava cansada de dançar. Fora no banheiro e depois se trancou pelo resto da noite na
salinha da administração. Um cubículo com apenas uma mesa de madeira e uma cadeira de
couro com um laptop. Ela ficou a se distrair organizando as contas e as entregas dos
fornecedores.
Ela estava tão distraída que pulou da cadeira quando ouviu a porta bater.
- Lucius? – Alex tombou a cabeça para o lado ligeiramente.
- Olá, Alex.... Já estamos fechando, são quase 3 da manhã. – Lucius se apoiou na porta fechada
um pouco embriagado com um sorriso frouxo nos lábios.
- Uau, já? – Alex olhou para o relógio do computador e realmente eram 2:45.
- Está quase tudo fechado e eu já vou indo, estou indo acompanhado para casa. – Lucius
mexeu as sobrancelhas e sorriu de um jeito maroto. – Preciso tirar o atraso, né?
Alex riu e balançou a cabeça.
- Vá que eu termino de trancar tudo.
- Sério? – Ele a olhou como uma criança de 5 anos que acabara de ganhar um pirulito.
- Sim.... Vai logo. – Alex levantou da cadeira e balançou as mãos para frente e para trás –
Xoxo, vai.
- Cara, você é a melhor. – Lucius disse feliz. – Até amanhã, Al. – Ele abriu a porta e antes que
ele pudesse sair da sua vista ela falou de volta.
- Até.

Alex trancava a porta dos fundos que dava para o estacionamento. Abriu sua bolsa e catou a
chave do seu carro.
- Indo embora tão cedo. – A voz de um homem no meio do silêncio da noite a fez congelar.
Ela se virou devagar e viu o homem de roupas desleixadas se aproximando.
- O bar já fechou. – Alex falou duramente, enquanto dava um passo para trás em direção ao seu
carro.
- Mas meu interesse não é o bar. É você. – O homem falou perigosamente se aproximando
mais uma vez.
- Eu? – Alex engoliu seco e olhou para os lados. Ela estava sozinha no estacionamento mal
iluminado.
Isso era ruim, isso era péssimo.
O medo aos poucos começou a se apoderar nela, Alex queria sair dali. Gritar, mas como
sempre o medo a travava e ela não conseguia se mover.
O homem se aproximou mais um pouco.
- Já te disseram que você tem um cheiro único? – Ele sorriu maliciosamente lambendo os
lábios e Alex pode ver seus olhos azuis aperolados.
Cheiro único.
Alguém já dissera isso para ela, mas aonde? Quem?
Alex olhou para o homem melhor e além dos olhos estranhamente azuis eles vinham
acompanhados por duas presas que se projetavam um pouco da boca do homem.
Ele era aquilo que ela pensava que era?
Um vampiro?
Com uma velocidade incrível o vampiro saiu correndo em sua direção, ela nada pode fazer
apenas fechar os olhos. Mas o assalto nunca chegou, ela abriu os olhos devagar e se
surpreendera com que vira.
Uma mulher alta em sua frente usando uma jaqueta de couro com detalhes metálicos nos
ombros segurava o vampiro pelo pescoço. Ele se debatia desesperadamente, pedindo perdão.
- Você cometeu um erro em sua existência hoje se aproximando dela. – A mulher falou
gelidamente e Alex teve a sensação de conhecer aquela voz, todo o seu corpo se arrepiou
quando a ouviu.
A mulher apertou a garganta do vampiro cada vez mais forte, até que pôr fim a pele começou a
romper e o sangue começara a descer livremente pelas mãos da mulher.
Alex olhou aterrorizada, não pela apenas pela violência que acontecia em sua frente, mas o
poder incrível da mulher de conseguir fazer isso.
O vampiro foi perdendo força até que em um último suspiro ele desintegrou por inteiro
virando, apenas cinzas.
Alex deu mais um passo para trás, sentindo suas costas baterem no seu carro. Ela observava as
mãos da mulher ensanguentadas, ainda que estivesse com medo dela, ela foi a pessoa que
salvara sua vida.
A mulher por fim se virou e Alex levantou os olhos devagar para encara-la. Seus olhos
estavam azuis brilhantes como as do vampiro e as mesmas presas estavam amostra. Entretanto
ao contrário do que sentira pelo o vampiro, não fora o mesmo reproduzido ao ver essa mulher.
Ela a reconhecia.
Alex comprimiu os olhos como se estivesse tentando enxergar melhor, era realmente ela.
Seus olhos agora se arregalaram e seu coração bateu fortemente contra o seu peito.
A mulher do bar.
A mulher dos seus sonhos.
- Seryn... – Ela sussurrou.
- Sim. – A Rainha concordou.
- Você estava no meu sonho. – Alex continuou estudando os olhos azuis da vampira tentando
procurar respostar.
- O sonho que já foi real. – Seryn completou.
- Real? – Alex piscou confusa.
Algo aconteceu dentro de Alex que como em um supetão todas as memorias vividas nos
últimos dias voltaram à tona e não apenas um sonho que adormecia em algum lugar em seu
cérebro.
- Seryn. – Alex disse ainda incerta, mas seu corpo foi em direção da vampira. Ela deu um
passo em direção da Seryn. – Você foi embora.
- Eu tive que ir. – Respondeu friamente.
- Meu cheiro.... Você poderia me matar.
- Sim, seu cheiro, garota. Você, Alex. Em geral você. – Seryn disse cuidadosamente ainda
parada como mármore no mesmo local.
- Eu não queria que você tivesse ido. Eu acho que, não, eu não acho. Eu senti a sua falta. Isso é
louco, não é? Quero dizer eu te conheço ha....
- Não é louco. – Seryn a cortou usando estranhamente a gíria que não parecia combinar com
ela.
Alex levantou as mãos e lentamente tocara no rosto gelado de Seryn.
Ambas sentiram a descarga elétrica passando pela espinha e chegando até o centro de prazer.
- Alex... – A vampira advertiu respirando fundo.
O cheiro da humana parecia ter se intensificado, poderia ser por causa da excitação e dos
sentimentos que seu corpo estava causando.
- Seryn. – Alex disse num sussurro, quando começou a dedilhar em uma caricia cuidadosa o
rosto da vampira.
Seryn sentiu o animal dentro dela se remexer como quisesse sair da jaula.
A vampira segurou os punhos de Alex não se importando em suja-la de sangue ou não. Elas se
fitaram por alguns instantes, Seryn já não aguentava mais.
Um pouco abruptamente jogou seu corpo em direção ao de Alex fazendo-a andar para trás e
bater na porta do carro novamente.
A respiração de Alex parou no meio do processo não por medo, mas por desejo e se viu sendo
atacada pelos lábios cheios da vampira em uma fome evidente.
Seryn escutava o grunhindo que sua garganta formara ao beijar a boca de Alex. O animal que
vivia dentro dela, se debatia lá dentro e ela aproveitava os lábios da humana.
A boca de Alex era quente e convidativa, tinha um gosto bom e era muito macia. Certamente a
Rainha se viciaria naquela boca, ela não resistiu e passou a língua pelo lábio inferior da
humana.
Seu corpo ondulou pressionando Alex ainda mais contra o carro e sua boca em nenhum
momento se separou.
Alex por outro lado abraçou o pescoço de Seryn e sentiu seu corpo inteiro gritar. Finalmente a
sensação de mal-estar dos últimos três dias passara.
Ela queria muito a vampira e ela iria ter.
Seryn se controlava ao máximo para não esmagar Alex. Seria um acidente fatídico acabar com
a vida da sua mais nova amante ali.
- Vamos sair daqui. Venha para minha casa. – Alex falou sem ar entre os beijos de Seryn. –
Por favor.
Deuses ela estava pedindo. Seryn quase perdeu o controle, quase.
- Garota... – Seryn avisou.
- Venha. – Alex a chamou mais uma vez desta vez mordiscando o lábio da vampira.
Seryn apenas concordou com a cabeça.
IX -
- Eu preciso lavar as mãos e você se certificar que o quarto estará bem isolado contra o sol. –
Seryn disse num gemido quando sentiu a boca de Alex lamber o seu pescoço.
- Tudo bem... – Alex respondeu enquanto se distanciava da vampira para trancar a porta da
frente de sua casa.
Alex foi em seu quarto e se certificou novamente que tudo estava bem fechado. Ela não queria
acordar em sua cama de manhã e ver que a mulher com que passara a noite virara cinzas.
Foi até o banheiro e observou pelo o espelho que seu rosto estava com um pouco de sangue
seco. Era o sangue do vampiro que morrera pelas mãos de Seryn, para salvar sua vida.
Ela pegou uma toalha de rosto, abriu a torneira da pia e molhou, para tirar o vermelho pintado
nas bochechas. Certificou-se também se todo o banheiro estava bem fechado, Alex estranhou
quando acordou dias atrás e vira o lençol pendurado no basculante, agora entendia porque.
Voltou para o quarto e viu Seryn em pé no meio do quarto, sem sua jaqueta de couro preta.
Vestida com uma calça de couro e uma blusa vinho que contornava bastante o seu busto.

Seryn observava Alex se aproximar aos poucos, hesitante. Conseguia ouvir seu coração bater
fortemente contra o peito e seu cheiro tornando-se cada vez mais forte, ela queria a humana.
Seryn prometeu para si mesma que iria se controlar, transar com humanas sempre era delicado.
Já machucara alguns durante o ato, mas pouco se importava, no final acabavam mortas como
seu banquete.
Com Alex seria diferente, ela controlaria seu animal interior. A Rainha não pretendia matar a
humana hoje. Ela ainda queria provar o seu sangue.
Novamente seus lábios se juntaram em um beijo que começou lento, mas logo fora se
transformando um sobre o outro. Seus lábios agora tocavam-se com fome evidente.
Alex tinha a boca macia e parecia sempre pedir por mais, um beijo após o outro sem tempo
para pensar ou respirar.
Seryn estava com seus sentindos aguçados, tudo estava se intensificando. O jeito que a humana
a afetava realmente a pegara de jeito e ela estava gostando disso, pois cada toque que concluía
causava-lhe uma estranha sensação de furor que nunca provara.
A vampira pegou Alex pelo quadril e juntou mais seus corpos. A garota gemeu dentro da boca
de Seryn e contornou seus braços em volta do seu pescoço.
A Rainha subiu com as suas mãos para a cintura de Alex e sentiu a pele quente exposta. Desta
vez foi Seryn que soltou um grunhido.
Seus caninos estalaram, a excitação era forte demais para ser controlada.
Com sua força sobrehumana levantou Alex em seus braços, que rapidamente enlaçou suas
pernas em volta de Seryn. A vampira caminhou e a colocou na cama mesmo que um pouco
abruptamente.
Finalmente parou de beija-la e seus olhos se encontraram. Seryn sentiu seus caninos coçarem
indescritivelmente quando viu que as pupilas de Alex estavam completamente dilatas,
formando apenas um fino aro da cor coloridas de sua íris.

Deus, Alex já estava excitada. Muito excitada. Ela conseguia ver que Seryn estava a desejando,
julgando pelo os seus toques afobados e brusco, mais ainda assim firme e libidinoso. Achava
que acordaria amanhã com marcas no seu corpo, mas sabia que valeria a pena.
Suas pernas continuavam presas na vampira, ela não queria se soltar. Queria continuar ali,
sentindo ser pressionada contra o colchão de sua cama. O corpo de Seryn era sólido como
mármore.
Ela não se assustara quando os caninos da vampira apareceram, na realidade a curiosidade
estava despertando.
As duas ficaram se olhando por alguns instantes, Seryn percebeu a intensidade do olhar da
humana e todo o seu corpo reagira com uma descarga elétrica que resultara um grande efeito
prazeroso em seu ventre. O que aconteceria hoje certamente não seria o suficiente para a
vampira, ela tinha certeza de que iria querer mais.
Alex novamente acariciou as bochechas frias da vampira, passando pelo seu maxilar bem
marcado. Contornou com as pontas dos dedos os lábios cheios da Rainha e por fim tocou
mesmo que por levemente seus caninos.
- Não faça isso. – Seryn avisou com a voz carregada, antes de ondular contra o corpo da
humana.
- Desculpe... – Alex tirou a ponta do dedo do canino e escorregou sua mão para a barra da
calça da vampira.
- Eu estou me controlando muito para não provar você agora. Sua pele tocando em minha
presa não está me ajudando.
A garota não disse nada, levantou um pouco a cabeça e retornou a beijar Seryn com vontade.
Alex começou a tirar a blusa da vampira revelando sua pele oliva. Ela explorava com
curiosidade as costas de Seryn e percebeu quão ela era forte, atlética e extremamente macia.
Finalmente os seios da vampira foram revelados, após Alex ter tirado por completo a sua
blusa. Eles eram cheios e muito bem desenhados, assim como o resto do corpo frio e atlético.
Ela apertou levemente o seio esquerdo de Seryn e juntamente com o movimento veio um
suspiro saindo da boca de ambas.
A vampira prendeu os punhos de Alex com as mãos e os colocou em cima da cabeça ruiva. A
Rainha sorriu maliciosamente e inclinou a cabeça em direção a o pescoço da humana.
- Sou eu quem faço as coisas por aqui, minha querida. – Seryn riu sensualmente e lambeu o
pescoço de Alex, para logo em seguida mordiscar levemente o lóbulo da sua orelha.
Alex gemeu.
E novamente sentiu a coxa da vampira entre suas pernas, levantando sua saia e causando-lhe
uma pressão maravilhosa.
- Você vai acabar comigo, lembre-se que eu respiro. – Alex tentou avisar com a voz trêmula de
desejo.
A Rainha dos Altos escorregou a mão até o seio esquerdo de Alex e apertou.
- Ah, eu vou me lembrar. – Seryn avisou e sua mão desceu mais um pouco antes de encontrar a
coxa de Alex e acariciar, até chegar na banda de seu lingerie. Ela passou o dedo ali lentamente,
provocando a garota.
A vampira começou por fim a despir sua humana, começando pela blusa, revelando um lindo
sutiã preto de renda. Ela abaixou a boca ali e lambeu a taça dos seus seios, para abaixar o
tecido do sutiã e revelar por completo o seio esquerdo e ela prazerosamente o abocanhou.
Tudo foi transcorrendo a partir daí, Alex sabia que quem dava as ordens e quem a levaria seria
Seryn. Certamente ela não reclamaria disso, dava para ver que a vampira gostava do controle e
que estava gostando muito de fazer isso com Alex.
A garota já gemia e pedia para mais contato, mas Seryn continuava em seus seios e sua coxa
constantemente fazia pressão contra sua lingerie encharcada.
As roupas aos poucos foram descartadas, ambas degustavam uma a outra.
Seryn beijava o pescoço de Alex, lambia e passava seus caninos levemente pela pele delicada.
Ela não queria romper, ainda estava inserta de provar o gosto da humana. Mas só de ter a
sensação de suas presas contra a pele quente da humana, causava-lhe arrepios prazerosos por
todo o seu corpo.
Seryn queria consumir Alex por inteira.
Seus corpos se juntaram no meio da cama. Alex gemia constantemente a cada toque prometido
da vampira e ela pedia por mais sem pudor.
A sua humana estava quente e suada apertando-se contra a vampira. Seus dedos marcavam as
costas de Seryn a cada estocada voluptuosa que dava com seus dedos. Alex se movia de acordo
com a vampira, seus olhos fitavam os olhos azuis brilhante de Seryn e ambas se perdiam uma
na outra. Era realmente algo fascinante e extremamente sensual.
A Rainha dos Alros se controlava a cada segundo do seu instinto, seus lábios e dentes o tempo
inteiro roçavam no pescoço e nos seios de Alex. O tempo inteiro provando sua pele, seus
dentes afiados sempre ameaçavam romper a pele da humana, mas por fim ela se segurava.
Seu cheiro.
Desejava apenas uma gota daquele sangue.
Resolveu por fim se alimentar de outra forma. Seryn foi abaixando com seus lábios
mordiscando e beijando a barriga e o ventre de Alex prestando atenção em cada efeito que
causava.
- Seryn, por favor.... Eu quero, eu preciso de você. – Alex disse num fio de voz quase
desesperada por liberação.
A vampira sorriu contra a pele de Alex e se abaixou mais.
Beijou a parte das coxas internas de Alex e finalmente depois de muito tempo – de acordo com
o pensamento de Alex-. Seryn finalmente abocanhou o sexo da sua humana.
Alex abriu mais as pernas e suas costas saíram do colchão, sentindo prazer avassalador.
Seryn degustou a humana de forma única. Enquanto trabalhava com seus dedos dentro dela
avidamente.
Tudo naquela garota parecia viciante e bom demais.

Mesmo depois do clímax que Alex tivera, Seryn não parecia satisfeita e continuava sem parar
o assalto sob o corpo de Alex. Hora com os dedos, hora com a boca e outras com alguma parte
do corpo.
A vampira não estava completamente saciada.
A garota já havia também dado o clímax da vampira. Não levou muito tempo, pois a própria
Seryn estava carregada de desejo. Foi apenas algumas caricias fugazes no centro de prazer da
Rainha e pronto.
Seryn descobriu que dar prazer para Alex significava ter seu próprio. Então, sabia que não
duraria muito quando a humana a tocasse.
- Eu não aguento mais. – Alex falou com a voz rouca.
Sua garganta estava seca, seu corpo suado e cansado.
Seryn levantou a cabeça escondida na volta do pescoço quente da garota e a olhou. A vampira
parou com seus movimentos instantaneamente.
- Seryn, eu simplesmente não tenho mais força. – Alex ofereceu um sorriso frouxo, enquanto
levava a mãos para nuca d vampita aproximando-a e colocando seus lábios em um beijo casto.
– Você não precisa respirar e com certeza seu corpo aguenta muito mais do que o meu. Já tirei
prova viva disso. Mas ainda sou uma mera humana.
- Minha querida, não tem nada de mero em você. – Seryn disse sinceramente, antes de beijar
novamente os lábios viciantes de Alex.
Elas ficaram em silêncio, não em um silêncio estranho, mas reconfortante. Cada uma presa nos
seus distintos pensamentos.
Seryn recolhera seus caninos com dificuldade e respirou fundo, deitando-se na cama. Para sua
surpresa a humana chegou mais perto aconchegando com a cabeça em seu ombro.
A vampira queria afastá-la, mas os cheiros delas duas estavam impregnados em cada poro da
sua pele que simplesmente não pode fazer nada.
O corpo quente de Alex era reconfortante.
Sem saber o que estava fazendo, viu-se com seus longos dedos acariciando os cabelos ruivos
da humana e inclinou-se para beijar sua testa.
Deuses eles são tão macios, assim como o resto do seu corpo. Seryn pensou.
Por outro lado, Alex não conseguia acreditar no que acabara de acontecer, ela havia feito sexo
com uma vampira. Um ser que até alguns dias atrás achava que existiam apenas em histórias.
Entretanto o que acontecera ali foi real e muito bom. Talvez a melhor noite que tinha dividido
com alguém. Seryn era enérgica, uma amante atenciosa e que parecia sentir prazer nisso.
Alex ouvira a Rainha dizer coisas durante o sexo, murmúrios e gemidos retidos. Ouvira seu
nome estrangulado pelos caninos da vampira, quando a mesma finalmente tinha chegado ao
ápice.
- Seryn? – Alex a chamou, enquanto seus dedos circulavam distraidamente o seio direito da da
vampira, causando-lhe arrepios evidentes em sua pele.
- Sim?
- Se eu dormir e acordar amanhã? Você continuará aqui comigo, não é? - Alex falou baixinho,
de repente uma onda de calor invadiu seu corpo. Estava envergonhada pelo o que acabara de
pedir.
Nenhuma resposta imediata apareceu, o que deixou Alex ainda mais nervosa. Talvez a vampira
realmente a quisesse apenas por essa noite, saciar-se da vontade que tanto tinha desde que se
conheceram.
Estranhou a vampira não clamar pelo seu sangue, mas achou que agora não era hora de fazer
perguntas sobre isso.
- Sim, minha querida. Eu prometo que não irei a lugar algum.
- Por que vocês Altos tem palavra, não é? – Alex indagou novamente, escondendo o rosto entre
os seios da pele fria da vampira.
Eles eram extremamente convidativos e cheios, acabou por não resistir e plantou um beijo ali.
Ouviu uma risada baixa de Seryn e sentiu a mão que acariciava seu cabelo descer para sua
cintura e aperta-la mais contra seu corpo firme.
- Sim, nós Altos temos palavra, mas eu também desejo ficar. Pode dormir Alex. – A vampira
sussurrou contra os cabelos ruivos da humana.
Alex era perspicaz, outra característica que se acumulava que Seryn gostou sobre a garota.
- Boa noite Seryn.
- Boa noite Alex. Durma bem.
Alex ia desejar o mesmo, mas lembrou que a Rainha dos Alros não dormia.
Seryn olhou para o teto e tudo o que fizera momentos antes com o corpo de Alex voltaram em
sua mente. Seus caninos coçaram, mas ela manteve-se presa apenas nas memórias deliciosas
que construirá. O corpo da humana era lindo, ao menos a vampira achava e sabia que não seria
a última vez que o clamaria.
Alex Solis ainda seria dela.
Mas, por enquanto observá-la dormir com suas feições tranquilas era tudo o que Seryn teria e
ela não estava reclamando. Assistir Alex dormir certamente se tornaria um passatempo sobre a
humana que já começava a gostar.
X–
Acordar sendo acariciada por alguém era incrível.
Já passavam das 10h da manhã e a vampira olhava as feições e o ressonar da humana. Seu
rosto estava com uma linha fina, marcada pela fronha do travesseiro. Seu cabelo desgrenhado e
seus lábios levemente separados. Lábios no qual não resistiu em beijar.
Foi assim que Alex foi acordada, suplicando ao nome de Seryn.
- Bom dia. – A garota disse preguiçosamente, enquanto se esticava na cama aproveitando para
circular seu braço em volta de Seryn.
- Creio que alguém tenha dormido bem. – A vampira apontou o obvio, somente por observar o
sorriso bobo nos lábios da humana.
- Bem sim e dolorida também. – Alex finalmente olhou para os olhos castanhos de Seryn pela
primeira vez no dia.
- Aposto que sim.
A garota se levantou e sentou na cama, revelando seus seios para Seryn. Novamente sentira os
caninos coçarem e o cheiro de Alex se aflorou como um desabrochar de flores, ela silenciou o
animal dentro dela e se esforçou para controlar seus instintos.
- Eu vou fazer um café da manhã para mim. Você come alguma coisa? Quero dizer comida,
humana? – Alex disse incertamente sentindo suas bochechas esquentarem.
Ela não tinha culpa, não é? Não existia manuais de como tratar um vampiro por aí nas
bibliotecas.
- Não Alex, eu não consumo comida humana. Eu estou bem.
- Okay.... – A gorota disse com a voz um pouco arrastada e ainda com resquício da sonolência.
– Eu já volto, não vá a lugar algum.
Seryn teve vontade de revirar os olhos, obviamente que esse horário não poderia sonhar em
sair dali.
Alex se levantou por definitivo e abriu o armário pegando um robe preto para vestir.
Seryn observou a humana abrir a porta do quarto com muito cuidado, até o suficiente para ela
passar.

Quando Alex voltou com um copo de suco e um sanduiche nas mãos, ela estava com os
cabelos penteados e com o rosto lavado.
Seryn jugou antes de entrar em seu quarto que a humana fora fazer sua higiene matinal.
A garota se sentou na cama colocando o copo em cima do criado-mudo ao lado da sua cama.
Ela arrancou um pequeno pedaço do sanduiche e o mastigou silenciosamente.
- Você teve uma boa noite? – Alex perguntou incerta tentando evitar os olhos de Seryn.
- Você quer dizer se o nosso sexo foi satisfatório para mim? – A Rainha dos Altos perguntou
friamente sem rodeios.
A vampira observou quando o rosto de Alex tomar uma cor avermelhada e para disfarçar,
acabou pegando seu copo e tomou uma grande golada de suco. Seryn achou aquela situação
patética, mas algo no seu peito esquentou e ela sentiu vontade de sorrir, mas ela se conteve.
- Sim. Alex, a noite passada foi ótima. Eu não costumo elogiar humanos, mas eu sou sincera.
Eu gostei. – Seryn não apreciava tanto ser tão expansiva assim, só que algo em Alex fazia falar
mais do que deveria.
A noite passada realmente fora boa, a vampira se satisfez em vários sentidos. Ela gostou de
sentir o toque de Alex e esperava ter mais deles.
- Seryn? – A garota a chamou ainda sem jeito.
- Sim, Alex.
- A sua Ordem não ficará preocupada? Já é de manhã e você não apareceu. Devido aos últimos
dias... – O tom da voz de Alex soava realmente preocupada.
Seryn fitou os olhos coloridos da humana e inclinou a cabeça levemente.
Por que ela diz essas coisas? Por que Alex torna as coisas mais difíceis para mim? Seryn
pensou.
- Quero dizer, você é a rainha da sua Ordem. – A humana retomou a fala um pouco atônita,
tentando decifrar o que se passava na cabeça de Seryn.
- Eles sabem que eu estou bem. – Seryn interveio seriamente.
- Você é a rainha da Ordem dos Altos não é? – Alex indagou curiosamente, antes de colocar
mais um pedaço do sanduiche em sua boca.
- Exato. – Seryn limitou-se a dizer, se arrumando na cama.
- E o que os Altos tem de especial? Você falou que existem sete Ordens, não é mesmo? – Alex
continuou perguntando curiosa demais, ela estava com vontade conhecer o mundo que a
vampira vivia.
- O que temos aqui? Uma humana bisbilhoteira. – Seryn disse sarcasticamente, cruzando os
braços em baixo dos seios. – Muitas perguntas, não acha?
- Eu sei, me desculpe, é só que você conhece coisas sobre mim e eu nada sobre você. E bem,
Seryn, você me fascina. – Alex disse com um sorriso carinhoso nos lábios.
A vampira se sentou na cama e a humana mudou para sua frente, apoiando as mãos nas suas
pernas.
- Eu te fascino? – Seryn perguntou levantando uma de suas sobrancelhas.
- Claro.
- Por quê?
- Eu que comecei a fazer as perguntas aqui lembra? – Alex comprimiu os olhos como se
desafiasse Seryn no olhar.
A vampira balançou a cabeça e soltou um riso baixo, mesmo que preso na garganta.
Essa garota era imprudente, deliciosa e Seryn estava adorando aquilo.
- Está bem. - A vampira fingiu se dar por vencida.
- Eu irei contar algumas coisas que posso contar. Nada além, ouviu bem? Se eu disser não para
as próximas perguntas é não.
- Okay! – Disse animadamente, batendo palma.
Alex surpreendeu Seryn a se inclinar, levantando-se apenas um pouco para dar um beijo rápido
e casto nos lábios da vampira.
Novamente algo que Seryn não estava acostumada. Um toque tão simples, mas que parecia
prometer muitas coisas.
- Eu faço da parte da Ordem dos Altos. Somos vampiros como os humanos diriam, os
clássicos. Temos muita força, velocidade, poder de manipulação, podemos saltar muito alto e
somos os mais parecidos com vocês fisicamente. Apreciamos a arte e a cultura de vocês,
somos os mais tolerantes. Para falar a verdade, eu particularmente odeio humanos.
Seryn fitou a garota morder o lábio inferior e se encolher um pouco.
- Mas estou começando a mudar minha percepção. Talvez exclusivamente para uma em
particular. – A vampira adicionou o comentário verdadeiramente e concluiu para si mesma que
queria ver um sorriso de Alex.
E fora exatamente o que ganhara.
- Temos outras seis Ordens. Cada um com suas características e peculiaridades. – Seryn
retornou a contar o emaranhado que era o mundo dos vampiros, ela nunca tinha feito isso
antes. Nunca pensara em contar para um humano esses segredos, só que ao perceber o
interesse evidente de Alex, seu pensamento estava mudando aos poucos.
- Temos as seguintes Ordens: Insolentes, Mutanos, Feiticeiros, Anciôes, Hibridos e Mortorios.
- Uau! Isso é incrível, e quais são as particularidades de cada um? – Alex perguntou fascinada
com tudo aquilo, seus olhos brilhavam como a de uma criança.
Seryn escondeu um sorriso que queria nascer em seus lábios e de repente sentiu vontade de
beijar a humana até que ela ficasse sem fôlego, entretanto resolvera não se movimentar.
- Como é impaciente, Deuses.... – Seryn balançou a cabeça negativamente. – Como eu ia
dizendo... – A vampira falou depois de alguns segundos. – Temos os Insolentes, foi o vampiro
que te atacou ontem à noite. Eles são os desajustados, não têm nenhuma particularidade,
apenas que são folgados, sozinhos e eles são os únicos que não tem reis ou rainhas. São
esquecidos pelas Ordens.
- Por quê?
- Não irei responder. – Seryn falou rispidamente. – Voltando, temos os Mutanos, são vampiros
que vivem tanto tempo na floresta que acabam adquirindo características animais.
Oli Biezus, seu amigo, era um exemplo dos Mutanos.
Alex riu e esticou a coluna dando umas pequenas quicadas na cama.
- Isso é incrível.
Seryn resolveu ignorar a infantilidade da garota, mesmo achando terrivelmente gracioso.
- Temos os Feiticeiros, uma raça de vampiros que quando sugam o sangue do humano, todas as
habilidades que esse humano possuía, passa automaticamente para eles. Temos também os
Anciões, os vampiros mais velhos do nosso mundo. Todas as regras da nossa cadeia de
vampiros são feitas por eles, e temos que obedecer, obviamente que cada Ordem também tem
as suas, mas em geral as deles que prevalecem. Os Anciões também se envolvem em política
humana, temos que nos assegurar que fiquemos sempre nas sombras.
- É realmente arriscado vocês saírem para o nosso mundo? – Alex inclinou a cabeça levemente
para a esquerda e distraidamente começou a acariciar o joelho desnudo da vampira.
Seryn sentiu o toque e logo o seu corpo reagiu, mas não de maneira libidinosa e sim algo
próximo ao conforto.
- Sim Alex. É incontável as consequências. – Falou sinceramente, sem poder contar a imensa
lista que poderia ser feita. – Há também os Mortorios, são vampiros que não consomem sangue
humano, apenas animais. Isso fez que com eles se adaptassem e não sofressem nenhum tipo de
ferimento com prata.
- Você disse que eram seis.
- Sim, está surgindo uma nova ordem, mesmo que pequena está me preocupando bastante. São
os híbridos, eles são piores que os insolentes, pois ao menos eles têm consciência, mesmo que
inconsequentes. Os híbridos têm desejo de matar os vampiros, humanos ou qualquer coisa que
apresenta perigo para eles.
- Você tem que tomar cuidado. – A garota murmurou.
- Alex, você realmente está preocupada comigo? – Seryn indagou franzindo o cenho.
Era inacreditável o que essa humana fazia com ela.
- Sim, eu não gostaria que você se ferisse. – Alex comentou abaixando o olhar.
Seryn engoliu em seco e de repente sentiu-se ridícula por estar caindo tão facilmente pela
humana.
A vampira lambeu os lábios e respirou fundo, mesmo que não precisasse. Colocou a ponta dos
dedos no queixo de Alex, fazendo com que a humana olhasse para ela.
- Eu não vou me ferir, pequena Alex. Eu prometo. – Seryn disse sensualmente, levantando-se e
ficando de joelhos.
A ruiva viu o corpo monumental vindo até ela. Seryn tinha um corpo fantástico. Se perguntava
como isso era possível, mas resolveu não pensar nisso agora.
A humana foi se inclinando para trás até que a vampira estava praticamente em cima dela. Foi
quando seus lábios se lançaram contra o outro.
E o cheiro de sua humana novamente se tornava tentador para a vampira aguentar.

Já era final da tarde, o crepúsculo estava lá fora, e os dois corpos em cima da cama.
Alex tinha dificuldade de engolir, sua garganta estava seca. Estava jogada em cima de seu
colchão com a cabeça para fora da cama respirando fortemente, tentando encher seus pulmões
de ar.
Sentiu os lábios de Seryn em seu ventre, subindo para a barriga e finalmente entre os seios.
- Você quer me matar, não quer? – Alex disse com a voz rouca, sentindo seu corpo quente e
pegajoso.
A vampira sorriu predatoriamente.
- Não minha querida, mas eu tenho que admitir que você se tornou um vício para mim.
- Espero que eu não esteja ficando para trás, quero dizer os truques que você tem. Me sinto
uma virgem. – Alex falou sentindo suas bochechas esquentarem.
Ela não queria se sentir assim, mas era inevitável, A gatota lembrou que Seryn era uma
vampira com muitos séculos nas costas. Onde deveria ter provado verdadeiras e excepcionais
amantes.
- Escute, Alex. – A Rainha dos Altos reconheceu a preocupação que percorria nos olhos
coloridos da ruiva.
Alex a olhou se ajeitando na cama.
- Eu me satisfaço com você. – Seryn tentou se limitar, mas ela queria dizer mais. – O que eu
sinto... – A vampira abriu a boca uma vez e pela segunda vez hesitou. – Você é o suficiente.
Acredite, mais do que o suficiente.
Seryn desejou dizer mais, só que não queria soar dependente. Ela queria dizer que Alex era
aquilo que a vampira nunca sentira na cama. Aquele fogo, aquela luz, aquele gosto de sol. A
monotonia que sentia há anos se esvaia aos poucos.
- Que bom... – Alex levantou a cabeça e roçou seus lábios nos dá vampira.
Elas se fitaram mais uma vez e a garota observou com fascinação a vampira recolher os
caninos.

Alex se levantou e pegou seu celular, viu que tinha uma mensagem de Lucius, mas resolvera
que não responderia, ao menos não agora.
No relógio marcava 18h00 e elas ficaram o dia inteiro na cama.
- Que tal tomarmos um banho? – Indagou Seryn.
Vampiros não precisavam de banhos, afinal, eles não soavam e muito menos fabricavam
odores. Só usavam o chuveiro quando se sujavam, normalmente por causa do sangue.
Entretanto, Seryn sentiu a necessidade de ter esse tipo de intimidade com a humana, ela queria
poder sentir Alex sob as gotas da água.
- Claro. Eu realmente preciso de um banho. – A ruiva falou parada no meio do quarto
totalmente nua.
- Alex?
- Sim.
- Eu gostaria de te levar para conhecer minha mansão. – Seryn disse sem pensar nas palavras
que acabara de pronunciar.
A única coisa na qual queria era que Alex conhecesse mais sobre ela.
XI –
Alex se viu dentro da elegante Mercedes de Seryn.
Passavam das 20h00 da noite e o motorista da vampira havia chegado na porta de sua casa. Ele
cordialmente abriu a porta de trás para que ambas as mulheres adentrassem.
- Por hipótese alguma ande sozinha na mansão. – Seryn avisou em um tom perigosamente
baixo. – Eles sabem que você estará comigo, eles sabem que ninguém toca em você. Mas seu
cheiro, vai causar um verdadeiro reboliço.
Alex engoliu em seco e apertou os dedos um contra os outros. Suas mãos estavam um pouco
suadas e ela começava a sentir um calor não muito agradável.
- Talvez devêssemos ficar. Eu.... Eu confio em você, mas nos outros vampiros... – A voz de
Alex estava levemente trêmula.
- Bobagem, quero que conheça minha mansão. – Seryn praticamente a ordenou. – E você
realmente confia em mim?
A vampira ainda não sabia o porquê convidara sua humana para a mansão. Ela já tinha levado
outros humanos, mas eles acabavam por virar banquete e Alex nesse momento não seria isso.
Era como se Seryn tivesse a necessidade de que a ruiva a conhecesse mais, era estúpido. Mas
algo inevitável de se sentir.
- Claro que confio. Você já teve tantas oportunidades de me matar e se eu não morri até agora.
- Não tenha tanta certeza disso. –Seryn a cortou cruzando as longas pernas e encarou os olhos
coloridos de Alex.
- Você gostaria de me matar? – Alex desafiou a vampira, ela não tinha ideia de onde essa
coragem repentina surgiu de seu peito. Mas ela era assim, sua cabeça não tinha filtro. Pensava
e falava.
As duas se fitaram e Seryn quase quis sorrir, estava começando a admirar a audácia dessa
menina. Era extremamente excitante, entretanto, a vampira já sabia a resposta para essa
pergunta na ponta de sua língua.
- Não. – Seryn resumiu a dizer.
Alex sorriu e colocou sua mão em cima da coxa de Seryn, esfregou os dedos languidamente
esperando já alguma negação da vampira. Porém para a surpresa de ambas a vampira aceitou o
gesto, acariciando levemente o pescoço de ruiva até que seu cabelo saísse da frente da pele
sensível.
A nuca de Alex era longa e com pequenas pintinhas distribuídas de marrom pintadas pela pele.
A Rainha dos Altos trincou os dentes sentindo os caninos coçarem e seus olhos se penderam
pela pele exposta.
Alex tremeu involuntariamente.
- Seryn...
- Sim. – A vampira respondeu ainda com os olhos presos no pescoço de Alex.
- Prometa que nada vai acontecer comigo, por favor. – A garota pediu um pouco
desajeitamente, apertando a coxa de Seryn para intensificar o pedido.
A Rainha dos Altos voltou com seus olhos para os de Alex e ela pôde ver a insegurança
enlaçando a cabeça da menina.
- Minha querida, ninguém irá tocar em você, e se alguém tentar, a existência dessa pessoa se
extinguira. Isso eu lhe garanto. – Seryn comunicou na tentativa de aliviar a cabeça de Alex.
- Obrigada. – Alex falou, de repente se sentindo um pouco envergonhada pelo pedido.
Seryn inalou profundamente e pôde cheirar Alex. Sua essência ficara levemente mais forte.
- Se alguém experimentar você, esse alguém será eu. – Seryn voltou a garantir.
Ela queria comunicar de sua maneira que Alex estaria segura.
Alex mordeu a bochecha do lado de dentro ao sentir os dedos frios de Seryn sobre sua mão. A
humana levantou os olhos e novamente fitou a vampira.
- Obrigada por cuidar de mim.
Era um agradecimento raro que Alex fazia.
Já que ninguém, além de Lucius se preocupava com ela.

Felipe abriu a porta para as duas mulheres ao chegarem na mansão.


A casa era imensa, como as daquelas que se viam em filmes. Uma mansão antiga da época
vitoriana. Com 5 andares e totalmente sombria. Com tijolos de pedras cinzas e heras subindo
por algumas de suas estruturas. O jardim era encantador e bem cuidado, lotado de árvores
ornamentais e flores.
Ao entrar na mansão, se surpreendeu com a riqueza que Alex estava pisando. A sala de entrada
era imensa. O teto era alto com dois lustres gigante de várias camadas, o chão preenchido por
grandes tapetes vermelhos e vinhos, que combinavam com as cortinas de veludo das grandes
janelas de ferro. Uma imensa lareira de mármore preta ficava na outra extremidade da sala e
mesmo com a temperatura amena que fazia hoje, ela estava acesa. Alguns divãs, poltronas e
sofás de couro ficavam espalhados pelo salão. Assim como duas mesas redondas de madeiras
com quatro cadeiras em sua volta. O lugar era incrivelmente luxuoso, com vasos e objetos
claramente muito caros, todos com cores sóbrias. Vermelho, vinho e preto. A única cor que se
sobressaia era o dourado que preenchia alguns lugares na mobília da sala.
Mas o que Alex não esperava era que assim que desse o primeiro passo para dentro da mansão,
a atenção fosse toda roubada para ela.
Os vampiros elegantes sentados em suas cadeiras e divãs a olharam. Rapidamente, ela sentiu a
diferença que atmosfera estava tomando, os vampiros a olhavam com interesse e cobiça. Um
deles que já estava de pé se aproximou, mas fora detido por uma mulher loura.
Mas então outro vampiro que estava com um cálice na mão se aproximou.
- Majestade?
Seryn se posicionou levemente a frente de Alex como forma de proteção. Ela já se
intensificava pronta para o ataque.
- O que é Pascal? – Seryn disse o nome do vampiro estrangulado entre os dentes.
- A humana. O cheiro dela...
- Não chegue perto, não se atreva nem olhá-la. Ela é minha. – A Rainha dos Altos disse a
última parte com propriedade. – Eu a trouxe para a minha mansão, sob os meus cuidados. Se
algo acontecer com ela...
- Desculpe a intromissão. Ela é apenas algo novo que a gente está vendo. Não sou eu o único
curioso. Sua humana levantou certa comoção. – Pascal olhou para Alex rapidamente e o
homem trincou os dentes, travando o máximo do seu ser para seus dentes não estalarem. Se
isso acontecesse seria o seu fim.
Ele pôs a boca na borda do cálice e tomou uma longa golada do conteúdo vermelho que estava
ali dentro.
- Venha. – Seryn disse fechando os dedos em volta do pulso de Alex.
A humana a seguiu tentando não olhar diretamente para nenhum vampiro, ela estava
apreensiva e por assim dizer até com medo. Mas sua curiosidade se aflorava, e Alex já olhava
todo o local um interesse evidente. Tudo era perfeitamente luxuoso e lindo demais para não ser
visto. Os vampiros eram impecáveis, assim como seus gestos e suas belezas.
Alex passou pelo o meio do salão e sentiu todos os olhares se penderem nela.
Seryn ainda segurava a ruiva pelo punho e seguia com determinação para sua câmara. Lá, elas
poderiam jantar – Alex jantar. – e depois se tudo ocorresse como planejado a levaria para o seu
quarto.
Ao entrarem na câmara particular de Seryn, a vampira finalmente soltou Alex e fechou a porta
atrás de ambas.
A humana ficara admirada com a beleza da câmara. Um cômodo igualmente grande, com uma
imponente lareira, uma cadeira deslumbrante ao centro da câmara. Uma mesa de quatro
lugares redonda e um divã vinho ao lado esquerdo, próximo a lareira.
- Eles são a sua família? – Alex perguntou olhando todo o local, se aproximando da cadeira o
suficiente para roçar seus dedos em seu braço.
- Família? Não, súditos. – Seryn se aproximou colocando as mãos nos ombros da ruiva,
sentindo o calor de sua pele.
- Sua casa é realmente muito bela, Seryn. Tem bom gosto. – Alex disse sinceramente.
Realmente tudo o que vira até agora era simplesmente fantástico demais. Era como se aquele
local não fizesse parte do mundo. Era tudo grandioso e perfeito.
- Obrigada.
- Todos eles moram aqui? – Alex se virou de repente se sentindo um pouco insegura. Olhou
para a porta tendo a sensação de que qualquer momento os vampiros do salão viriam atacá-la.
- Não. Apenas os mais antigos ou os que tem importância na hierarquia dos Altos. O que não
são muitos. Mas durante a noite, a maioria de nós vem para cá. – A Rainha dos Altos explicou
calmamente ao perceber a preocupação evidente da humana. – Eu já disse ninguém irá fazer
nada com você.
- Eu sei, você não vai deixar.
- Não.
As duas se olharam novamente e Alex ainda se perguntava como é que ela fora parar ali,
mesmo admirando sinceramente o convite da vampira. Era como se Seryn não abrisse muitas
oportunidades para entrarem em sua mansão.
- Você gostaria de jantar? – A vampira perguntou depois de alguns segundos de silêncio.
Alex sorriu não acreditando na pergunta que Seryn acabara de fazer.
- Seryn, você sabe que não tomo sangue, não é?
- Garota, não seja estupida. Temos uma cozinha na mansão, vampiros trazem humanos aqui. –
A Rainha dos Altos disse fechando os olhos momentaneamente e balançou a cabeça um pouco
irritada.
- Se for assim, eu adoraria jantar, mas e você?
- Eu também irei ter meu banquete. Não se preocupe. – Seryn sorriu maliciosamente.
- Um outro humano? Eu não sei se ficaria confortável assistindo isso. – Alex cruzou os braços
e se encolheu um pouco tentando isolar o pensamento de sua cabeça.
- Não irei trazer humano algum. Pedirei um cálice apenas.- A vampira se surpreendia com o
tipo de satisfação que ela já começava a dar a essa humana.
Seryn a guiou até a mesa de madeira redonda e puxou a cadeira para que a ruiva se sentasse.
A vampira puxou um interfone que se fixava na parede e digitou o número 23. Era o ramal da
cozinha. Não levou mais de dois toques para que alguém atendesse.
- Majestade? – Uma vampira falou do outro lado da linha.
- O que a cozinha está oferecendo para os humanos hoje? – Seryn perguntou apoiando a mão
em seu quadril, enquanto observava Alex a fitar.
- Filé Mignon com legumes.
- Ótimo, traga um prato imediatamente com vinho e um cálice para mim. – Seryn exigiu um
pouco cortante.
A vampira não esperou resposta e desligou o interfone, colocando-o novamente na parede.
- Não vai demorar muito. – A Rainha informou se sentando ao lado da humana.
- Obrigada. – Alex respondeu, mesmo não tendo ideia do que ia comer. Ela sabia que a
vampira não iria dar algo ruim para ela comer, resolveu também não perguntar o que era.
Achou melhor deixar como surpresa.

Realmente não demorou muito para que a comida chegasse, talvez 10 minutos. A vampira
loura bateu na porta da câmara e se apresentou com um carrinho, aqueles iguais aos que
tinham em hotéis quando os mordomos vinham para apresentar a refeição.
Alex ficou surpresa ao ver a vampira loura apresentar o prato que ela iria comer. Um delicioso
filé Mignon com legumes.
A vampira colocou uma taça de vinho para Alex e o tempo inteiro tentou se manter focada no
que estava fazendo, pois sabia que a Rainha estava constantemente a vigiando.
- Boa refeição, Majestade. – A vampira loura também depositou o cálice recheado de sangue
na frente de Seryn.
A Rainha dos Altos apenas acenou com a cabeça e voltou a olhar a humana que estava
bebericando a taça de vinho.
A vampira loura colocou os braços para trás e inclinou levemente seu corpo. Antes de se virar
e puxar o carrinho de volta para a saída da câmara.
- Uau, isso realmente está uma delícia.
Alex colocou o garfo com um pedaço de carne e legume dentro da boca e mastigou
satisfatoriamente, fechando os olhos para saborear as explosões de gosto.
Seryn cruzou as pernas e pegou seu cálice onde bebericou apenas um pouco e sentiu o sangue
invadir sua boca. Ela engoliu e momentaneamente imaginou ser o sangue da humana que
estava em sua frente.
A vampira sorriu apenas um pouco e mexeu no cálice para que o liquido lá dentro rodasse.
- Pode parecer estranho, mas temos vampiros da Ordem dos Altos que trabalham em grandes
restaurantes humanos. – Seryn falou, enquanto colocava o cálice novamente em cima da mesa.
– Por isso que a comida é tão boa.
- Você não sente falta? Quero dizer, sua única refeição é o sangue. –Alex indagou, fitando a
vampira lambendo os lábios que estavam ficando um pouco mais vermelhos.
- Faz tanto tempo que não lembro mais do gosto e cada pessoa tem um gosto diferente, então é
como realmente uma refeição. Umas são melhores que a outras.- Seryn informou, se
aproximando mais um pouco de Alex.
A vampira segurou o queixo da humana gentilmente e fez com que seu rosto ficasse mais
perto.
- O seu. Eu tenho certeza que deve ser o melhor, que um dia sonharei em provar. – Seryn
sorriu sensualmente, antes de roçar seu nariz contra a pele sensível do pescoço de Alex.
Alex sentiu os pelos de sua nuca se eriçarem e rapidamente parou de respirar alguns segundos.
O cheiro da humana ficou mais acentuado e os dentes da vampira por consequência estalaram
sem qualquer censura.
- Seryn... – Alex murmurou com a voz tremida. – Eu.... Se lhe fizer mal? – Alex voltou a falar
mais firme, tentando demonstrar para a vampira sua preocupação.
A Rainha dos Altos colocou-se em seu lugar e abriu levemente a boca para recolher seus
caninos. Ela observou o rosto de Alex mudar um pouco de coloração, suas têmporas e
bochechas estavam um pouco mais rosadas que o normal. A vampira não pode negar e achar
aquilo gracioso.
Gracioso.
Seryn pensou essa palavra pela segunda vez com certa aversão. Ela não achava coisas
graciosas, aliás, essa palavra não existia em seu vocabulário. Mas Alex fazia ela dizer, pensar e
sentir coisas ainda inéditas para ela.
Alex retornou a comer com um pouco de dificuldade, a atmosfera rapidamente se transformou
um pouco mais libidinosa com a atitude de Seryn. Ela não estava reclamando, gostava daquilo,
mas realmente se preocupava com a vampira experimentando seu sangue. Aquilo poderia ser
ridículo, mas não gostaria que seu sangue por mais que tivesse o cheiro que fosse, fizesse
algum mal real para a Rainha.
Elas ficaram por algum tempo em silêncio, não um silêncio constrangedor, mas reconfortante.
Porém esse singelo momento fora interrompido por duas batidas na porta.
Oli entrou com seus cabelos soltos e com suas asas à mostra. Alex virou a cabeça e se
engasgou ao ver o par de asas cinzas em sua frente. Ela arregalou os olhos e sentiu seu coração
afundar em seu peito.
O homem parecia um anjo, mas claramente um anjo perverso. Alex o achou lindo, tinha que
admitir a si mesma. Parecia alcançar a idade física de Seryn, mas algo jovial nele se
diferenciava totalmente da vampira.
- Eu senti o cheiro de sua humana da porta do grande salão. – Oli falou colocando as mãos nos
bolsos de sua calça e suas asas mexeram um pouco, como elas tivessem se acertando entre as
penas.
- Oli. – Seryn falou formalmente, antes de bebericar mais um pouco de seu cálice. – Deixe-me
apresentar, está é Alex Solis, a humana que me salvou.
Oli a olhou com interesse e se aproximou.
- Quebrando suas próprias regras. A muito tempo que não vejo você trazendo alguém para sua
mansão.
Seryn ficou em silêncio apenas olhando para o vampiro - Você é das Ordens dos Mutanos. Isso
é fantástico. – Alex disse se permitindo ficar um pouco animada e rir apenas um pouco.
- E contando segredos. – Oli levantou uma de suas sobrancelhas e seus olhos verdes miraram
Seryn novamente, que ignorou o comentário.
Oli se sentou de frente para Seryn e ao lado de Alex.
- Olá. Pois você acertou, sou da Ordem dos Mutanos. – O vampiro estendeu a mão em
iniciativa para cumprimentar a humana.
Alex sem pestanejar aceitou o cumprimento e quando suas mãos se juntaram os olhos do
vampiro a fitaram com surpresa.
- Ela é quente e seu cheiro.... Você não estava mentindo. Seryn, o que você arranjou? – Oli
ainda cumprimentando a humana olhou para a vampira.
Seryn travou o maxilar e respirou fundo desnecessariamente, sabia que Oli não faria nada
contra Alex, mas nem ela poderia responder à pergunta que o vampiro havia feito.
- Eu não tenho ideia. – Resumiu com a voz sóbria.
- Srta. Solis, você definitivamente é especial. – Oli informou saindo do cumprimento da
humana e sorriu ao ver um sorriso sendo oferecido para ele.
Oli conhecia as coisas, Oli sempre sabia. Ele era milenar. Então se dizia que Alex era especial,
Seryn iria acreditar.
Ela só não acreditava que a humana caísse justamente em seu colo. Agora sabia que crescia
uma responsabilidade dentro dela que nem mesmo Seryn tinha capacidade de administrar.
Alex, o que farei com você? A Rainha se perguntou bebericando mais uma vez o cálice,
tentando esconder sua dúvida crescente em sua face.
XII –
- Especial? Seryn diz a mesma coisa. Quero dizer, não sobre mim, mas sobre meu sangue. –
Alex falou com a voz tremida, envergonhada com a confusão da frase.
Como sempre, a falta de seu filtro a colocava em situação embaraçosas, como frases mal
formuladas. Ela detestava aquilo.
Oli sorriu e olhou para Seryn dividindo algo que Alex não entendia. A vampira negou com a
cabeça e rolou os olhos quase que entediada.
- A última vez que senti esse cheiro foi ha muito tempo atrás. Antes mesmo de migrar para a
Ordem dos Mutanos. – Oli voltou seu olhar para Alex e a estudou curiosamente.
O vampiro a achou linda. Seu rosto era fino com um lindo maxilar desenho, o cabelo ruivo
caindo em seus ombros – levemente enrolado nas pontas-, seu nariz arrebitado e seus olhos
verde e azul.
O cheiro inegavelmente era único e raro, como ha muito tempo não sentia. Ele lembrava da
última vez que cheirou algo parecido, infelizmente não pôde experimentar o sabor. Mas
pessoas com esse tipo de cheiro tinham péssimos finais.
- Quando? – Seryn perguntou se inclinando levemente para a mesa.
Oli descansou seu cotovelo e antebraço na mesa e relaxou suas pernas as abrindo um pouco,
suas asas se mexeram ele piscou, ainda fitando Alex.
Alex parou com o garfo no meio do caminho para a boca e engoliu em seco, definitivamente
essa conversa estava tomando um rumo estranho. Achou melhor ficar quieta perante a
conversa, irritar dois vampiros com perguntas leigas não iria ser bom. Ao menos não agora,
pois na cabeça da garota ainda martelava o que Oli queria dizer quando ele disse sobre
migração.
Na realidade, Alex estava interessada no mundo dos vampiros e não sobre seu sangue estranho
com o cheiro forte, ao menos se aquilo interessasse Seryn fortemente. Ai ela poderia fingir
interesse sobre o assunto.
Oli abriu a boca uma vez, mas fechou novamente e com a outra mão levou até o queixo onde
coçou levemente. Ele estava à procura de respostas dentro de si, estava à procura de dizer
aquilo com cuidado. Oli não achava que era possível, não depois de tanto tempo. Se isso fosse
aquilo que ele estava imaginando, isso realmente seria ruim.
- Mutano! – Seryn berrou batendo fortemente com a mão espalmada na madeira da mesa,
causando um barulho forte.
Alex tremeu involuntariamente e largou o garfo se afundando na cadeira.
Seryn por fim percebeu o que havia feito e olhou para a menina de olhos coloridos, tentando
mandar da melhor maneira possível um olhar tranquilizador. Não era que ela soubesse fazer
isso, mas acabou para sua surpresa recebendo um aceno rápido de Alex.
- Desculpe. – A vampira disse querendo reafirmar o gesto e se sentiu estranha a um sentimento
fundo nascendo em seu peito era quase de embaraço.
- Eu entendo. – Alex sussurrou montando um sorriso fraco no rosto.
Olha o que Oli me fez fazer, mas que merda. Seryn esbravejou para si mesma.
- Ei, desculpe. – Oli levantou os braços como tivesse se entregando para a polícia. – Só estou
tentando montar tudo aqui na minha cabeça.
- Monte logo então. – Cuspiu a Rainha.
- Okay. Eu vou tentar dizer aquilo que já vivi e aquilo que já senti em relação a você, humana.
– Oli se virou levemente para Alex e olhou em seus olhos. – O cheiro do seu sangue é
conhecido por mim e pelos vampiros mais antigos. É perigoso se cair nas mãos erradas, muito
perigoso. Eu ainda não sei ao certo o que causa. Mas o cheiro do seu sangue é familiar, raro e
pensei até que já tivesse extinto.
O vampiro descansou suas costas na cadeira e suas asas reclamaram um pouco se sacudindo.
- Eu me pergunto como você, Seryn, sendo da Ordem dos Altos, não pudera suspeitar. – Oli
perguntou.
- Por favor, chegue direto ao ponto. – A vampira pediu entre os dentes.
Seryn apreciava a companhia do vampiro, gostava de sua amizade e tudo o que Oli representou
para ela. Mas se tivesse que atacá-lo pela falta de paciência, faria.
De alguma forma Alex pareceu sentir o pavio de Seryn diminuindo e levou seus dedos
descansando-os em cima da mão da vampira.
Elas se olharam e instantaneamente Seryn pareceu se acalmar.
- Deixe ele terminar. – Alex suplicou carinhosamente, fazendo com que a vampira sentisse os
pelos de sua nuca erriçarem.
Obviamente que Seryn deixaria ele terminar principalmente pela sública deliciosa de sua
humana.
- Você é uma bruxa? – Oli foi bastante direto com sua pergunta, o que fez Alex engasgar
bruscamente.
Seryn olhou para o vampiro e depois para Alex com o olhar confuso e perdido.
- O quê?! – A ruiva indagou franzindo o cenho e de repente a comida que batera em seu
estômago minutos atrás estava começando a se revirar, não causando uma sensação boa.
Seryn fitou Oli com dificuldade no que acabara de ouvir, ela piscou algumas vezes com a
pergunta direta do vampiro.
Seria isso possível? A pergunta passava pela cabeça da vampira, ela já ouvira falar de bruxas,
mas apenas historias passageiras e superficiais. Ela mesma com seus 600 anos nunca havia
visto uma. Parece que talvez, isso tenha mudado.
- As bruxas são raras, não era assim antes. Mas o sangue das bruxas parece ser diferente dos
humanos. Eu não sei muita coisa, mas o seu cheiro foi igual de quando eu encontrei uma. – Oli
cruzou os braços e as pernas, tornando-se mais sóbrio. – O que eu sei é que seu sangue, se você
for uma bruxa, pode fazer algo com os vampiros. De acordo com o que eu sei, talvez
habilidades surpreendentes, mas dizem que efeitos colaterais podem ser sentidos e que
vampiros simplesmente não param, não até a última gota de sangue. Eu não sei se isso é
verdade, mas o que eu sei é que as bruxas foram exterminadas por nós.
- Por que você não me disse tudo isso antes? – Seryn acusou.
- Eu disse. Falei que existem humanos com gosto de sol. Escute Seryn, você apenas me disse
sobre o cheiro de Alex. Eu não tinha sentindo, então não poderia dizer com a certeza. Ainda
não posso. Você gosta muito de sangue, para mim poderia ser apenas mais um devaneio seu.
Desta vez Alex que se sentiu mal. Ela olhou para Seryn e tentou negar para si mesma que fosse
apenas mais uma que fora para cama com a vampira. Afinal, Seryn contou coisas para ela, que
nunca contara. Voltou por ela depois de 3 dias.
- Eu conheci três clãs de Bruxas, pelo o que eu estudei existem quatro. – Informou Oli
levantando três dedos. – O primeiro, Lunas. – Abaixou um dedo. – O segundo Naturea –
Abaixou outro dedo. - E finalmente o último, na qual encontrei um membro ha muito tempo
atrás, os Solis.
Tanto Seryn quanto Alex olharam uma para outra. Era como se algo dentro da humana tivesse
estalado dentro dela. Uma estranheza crescesse em seu peito. Mas tentou negar aquilo, não
seria possível. Ela era apenas uma garota de 25 anos, órfã que tinha um pub gay.
- Existem muitos Solis por aí. – Alex informou hesitantemente.
Seryn a fitava e dentro dela já sabia o que a ruiva representava. Desde que conhecera a garota
sentiu isso, que ela era diferente. Porém a vampira não sabia o que fazer com essa informação.
Melhor não sabia o que aguardava para Alex. De repente, seu peito inflou e ela viu-se
querendo proteger a humana a todo custo. Se ela fosse realmente uma bruxa, teria que a manter
escondida e protegida.
E Seryn faria tudo aquilo? Ela já tinha a resposta. A vampira queria defende-la, na mesma
proporção que gostaria de experimenta-la. Ou seja, era um sentimento forte.
- Eu não tenho certeza de nada. De novo, você tem o cheiro. Eu adiquiri um livro a muitos
anos atrás sobre os clãs de bruxos e lá incrivelmente tem a árvore genealógica deles, eu posso
trazer para vocês. Quem sabe não reconhece algum familiar. Só assim teremos uma prova.
- Resolveremos isso amanhã. – Seryn informou.
A vampira queria passar um tempo à sós com Alex, achava que a humana precisava de atenção
e novamente queria dar aquilo que ela precisasse.
Na cabeça da garota tudo rodava, ela tinha se esquecido da pergunta que tanto queria fazer. O
porquê de Oli falar que havia migrado para as Ordens dos Mutanos. Ela até mesmo esqueceu
de comer, na realidade, tinha perdido completamente o apetite. Sua urgência de abraçar alguém
agora nascia, ela ainda se negava a tal informação que foi dada a ela. Alex ainda não tinha
provas concretas daquilo. Teve vontade de rir morbidamente, mas logo esse sentimento fora
substituído por medo.
Começava a se perguntar como em uma semana sua vida estava se transformando de cabeça
para baixo.
Desejou ter Lucius ali para abraçá-la. Mas algo a pegou de surpresa, um toque bem-vindo que
conhecia já tão intimamente. A mão forte e longa de Seryn apertou levemente sua coxa e Alex
descobriu que queria ser abraçada pela a vampira. Enterrar o rosto na curvatura de seu pescoço
e sentir os braços esguios da vampira em sua volta.
- Oli, acho que sua vinda já foi mais do que necessária. Peço que volte para sua área, amanhã
nos falaremos. – Seryn pediu com a voz fria.
A vampira tocava levemente a coxa grossa de Alex e por vezes apertava. Ela queria subir para
o segundo andar junto com sua humana e esquecer momentaneamente tudo o que Oli havia
falado.
Ela sentia sua libido aumentar, mas não era algo totalmente carnal. Seryn queria fazer Alex se
sentir melhor. Queria levá-la para sua cama e fazer com que ela esquecesse dos próprios
problemas. Afinal, suas costas virou um alvo gigantesco que a própria vampira colocara sem
querer.
Queria beijá-la e tocá-la, sentir a maciez de sua pele quente e seus olhos coloridos
praticamente sumirem com sua pupila dilatada.
Estava se sentindo uma idiota, uma idiota na qual estava gostando de se tornar.
Amanhã seria outro dia e ela poderia pensar no que fazer, principalmente descobrir meios de
proteger Alex.
XIII – O quarto de Seryn era imenso e escuro por se dizer.
Suas paredes eram escuras em um cinza quase preto, acompanhavam brasões desenhados por
toda sua extensão. Na parede direita havia três grandes janelas que se ovalavam quando
chegavam perto do teto. Os vidros da janela, entretanto, eram pretos, para que nenhuma
passagem de sol fosse capaz de penetrar o quarto. Alex pensou que se ela ficasse ali por dias
não iria saber a diferença de dia e noite. As cortinas eram simples e brancas, com o material de
seda. Mas elas estavam estagnadas no lugar, nenhuma brisa passava por ali.
Alex novamente pensou que gostaria de um dia á noite abrir aquela janela, elas ficavam
localizadas no último andar da mansão. Certamente com uma linda vista, imaginou bebendo
vinho com Seryn olhando para o que a paisagem pudesse oferecer.
Na parede esquerda havia duas portas que estavam fechadas, uma dava para o imenso closet de
Seryn e o outra um banheiro igualmente requintado. E entre elas, uma penteadeira clássica e
robusta de cor azul escuro, acompanhava junto a ela um espelho.
O piso tinha um carpete nude claro um pouco desbotado, mas era impecavelmente limpo,
desprovido de qualquer mancha.
A cama de Seryn era grande e alta com quatro pilares de madeira, mas sem qualquer pano. Sua
cabeceira era revestida com tecido grosso azul escuro e no final dela um pequeno sofá da
mesma cor que o chão, mas neles estava desenhados pequenos florais.
Seryn fechou a porta atrás dela e levou suas mãos nos ombros de Alex apertando levemente. A
menina respirou fundo e relaxou, dando um passo para trás e recostou seu corpo contra a
vampira.
Seryn sentiu as costas de Alex pressionando seus seios e fez com que a vampira reclinasse seu
rosto em direção ao pescoço de Alex, salpicando beijos preguiçosos ali.
Alex tombou a cabeça para trás e a recostou no ombro de Seryn.
- Seryn... – A voz da humana saiu cansada e baixa.
- Eu sei – A vampira disse mordiscando o pescoço de Alex.
O cheiro da humana crescia constantemente, assim como seu desejo. Sentiu seus caninos
ameaçarem a descer, mas conseguiu retê-los um pouco mais.
A vampira sabia que o cheiro forte que Alex emanava, poderia ser sentido por outros lá em
baixo, ao menos os vampiros mais velhos que tinham essa habilidade mais apurada. Só que ela
sabia, que ninguém a atrapalharia ou a interromperia não importava as circunstâncias.
- Se isso for verdade, se Oli diz a verdade, não vai demorar até eu virar a principal caça dos
vampiros. Alguém deve saber o que meu sangue causa e certamente eles que viram atrás de
mim. – Alex disse tremendo um pouco, imaginando inúmeras possiblidades de morte passando
por sua mente e nenhuma delas lhe agradava.
Estava se sentindo pequena e indefesa, com medo por ser meter em tudo isso.
Seryn a virou, fitando os olhos da humana já um pouco dilatado.
- Nada irá acontecer com você, Alex. Você é minha humana. – Seryn acariciou a bochecha de
Alex quase ternamente.
A menina se deu conta de que aquilo era o mais próximo de carinho que Seryn já havia dito. E
ela gostou de ouvir.
Alex circulou seus braços em volta do pescoço de Seryn e se esticou para esconder seu rosto
no pescoço frio da vampira.
Seryn a recolheu nos braços e a puxou para cima. Alex passou as pernas pela cintura da
vampira e se deu conta do quanto ela era forte.
Seryn a abraçou com as mãos nas costas da humana e foi a levando em direção da cama. A
vampira não iria simples transar com alguém. Ela queria demonstrar para Alex, a menina de
cheiro diferente e olhos coloridos, que ali ela estava segura.
Com grande facilidade, Seryn foi tirando calmamente cada peça de roupa de Alex, e a cada
peça descartada no chão do quarto a vampira dava atenção especial para a pele recém desnuda.
Alex estava apreciando o jeito que as coisas caminhavam, era lento sem toques emergências,
era mais intenso e languido. A boca de Seryn pairava em seus ombros e ela sentia os caninos
pontiagudos raspando levemente em sua pele.
Ela sabia que hoje seria algo diferente da última, pois o desejo todo que a vampira sentia se
transformava aos poucos. Parecido talvez com carinho.
Seryn pairava sobre Alex e elas se fitaram por um instante, o cheiro da humana estava
irresistível. Como a vampira queria atacar, mas algo dentro dela se conteve. Tudo o que ela fez
foi descer mais seus lábios até finalmente tocar com a boca aquilo que fazia Alex gritar.
A vampira tinha certeza que a noite seria longa, mas também não via a hora de ver Alex, sua
humana, ressonar em seu colo.
A vampira colocou Alex de bruços e beijou toda a extensão de suas costas, principalmente na
nuca quente da humana. Seus dedos passeavam livremente pelo sexo de Alex brincando sem
qualquer restrição entre as dobras quentes, mas por fim ficou apenas massageando levemente
no pequeno nódulo de prazer, que causavam arrepios deliciosos de ambas. Seryn a levava
calmamente, tomando seu tempo e sorrindo contra a pele de Alex a cada gemido.
Hoje seria assim, apenas as duas, sem pressa.

Seryn ficou vigiando o ressonar pacifico pacificamente de Alex em sua cama. Os lençóis se
emaranhavam em seu corpo e seu rosto se perdia por meio de sua cabeleira ruiva. Eram raras
as ocasiões que a Rainha deixava alguém entrar em seu quarto, dividir sua cama.
A vampira sabia que o sol lá fora já estava nascendo, algo dentro de Seryn ativava como um
relógio biológico e sempre a avisava quando o sol suspendia no céu.
Seryn estava deitada com as costas contra o colchão quando se surpreendeu com o movimento
da sua humana. A cabeça de Alex se dirigiu para o peito da vampira e o braço circulou sua
cintura. Ela esfregou a cabeça contra a pele gelada da vampira e sibilou algo incompreensível.
Por um instante, Seryn achou que Alex tivesse despertado, mas se enganou por fim. Uma
pequena e praticamente mínima onda de ternura invadiu o corpo da vampira e sem se dar conta
abaixou sua face e esfregou levemente seu nariz no topo da cabeça de Alex.
Estou me envolvendo com uma suposta bruxa, que poderia acabar com minha existência.
Seryn pensou um pouco amargurada, entretanto ao olhar o ressonar de Alex aquele
pensamento se afugentou.
Ela não se importava, ao menos era o que sentia agora. Se envolver com Alex era como
acariciar o calor, como estivesse sendo beijada pelo o brilho do sol. Futilmente clichê, ela
sabia, mas era como estar por perto de sua humana a fazia sentir. Simplesmente bom demais
para dar as costas e ignorar esse sentimento.
Seryn estava cansada do frio.
Seryn não se importaria ficar horas a fio ali, alisando sua mão no quadril nu de Alex, ela se via
gostando de permanecer exatamente onde estava.
Alex acordou muitas horas depois, praticamente na hora do almoço. Ela foi despertando aos
poucos, abrindo os olhos devagar tomando seu tempo para reconhecer onde estava.
Os braços fortes de Seryn a seguravam firmemente, ela sorriu e gemeu fracamente.
A vampira sabia que Alex estava despertando, o batimento do seu coração aumentava
lentamente, sua respiração se tornava mais forte e seu cheiro ficava um pouco mais acentuado.
Isso fez com que Seryn apertasse mais a sua humana contra seu corpo.
- Desculpe. – Alex falou com a voz arrastada, levantando a cabeça devagar para então bocejar.
- Pelo o que? – Seryn levantou uma de suas sobrancelhas, sem entender o que o pedido de
desculpas se referia. – Ah, por me fazer a noite inteira ficar parada aqui ou me fazer como
travesseiro? – A vampira provocou, fingindo estar com seu ar de frieza.
Alex se encolheu um pouco e fez menção de sair de cima de Seryn, mas foi impedida pela
mesma. A vampira escorregou a mão segurou o quadril de sua humana não permitindo que
saísse dali.
Alex sorriu preguiçosamente e fitou a vampira que continuava com a maquiagem impecável.
- Você é linda. – Alex falou num ímpeto.
Logo sentiu suas bochechas esquentarem.
Seryn estudou o rosto de Alex e se controlou ao máximo, mas ela por fim sorriu. Mesmo que
apenas um pouco.
Claro que a vampira sempre recebia elogios, sendo eles sinceros ou por interesse, ela afinal era
alguém que chamava atenção. Mas o efeito das palavras que humana pronunciou a afetou
consideravelmente e certamente se ela pudesse corar, seu rosto nesse momento estaria com
uma leve coloração avermelhada. Agradeceu por nesse momento ser vampira, achava que esse
tipo de reação a deixaria vulnerável.
Obviamente que a vampira partilhava do mesmo sentimento que Alex. Achava a humana linda,
pelos seus olhos coloridos, seus cabelos macios ruivos e até seus dois dentes inferiores que
eram levemente tortos. Outra coisa que recentemente chamava a atenção da vampira era a
covinha que aparecia na bochecha esquerda de Alex quando ela sorria de lado, aquele pequeno
furinho conseguia fazer Seryn ondular levemente.
- Obrigada. – Disse simplesmente.
- Seryn?
- Sim.
- Como você se tornou rainha da Ordem dos Altos? – Alex perguntou um pouco apreensiva,
mas sua curiosidade sempre falava mais alto do que qualquer etiqueta de bons costumes que
foram dados.
Seryn olhou para Alex novamente, não acreditava na petulância da menina. A vampira não
gostava de contar sobre sua existência, mas como sempre com Alex tudo era diferente. Achava
estranhamente confortável dividir suas coisas com ela.
- Oli me passou o seu trono.
Alex abriu a boca para comentar algo, acabou por receber um olhar repreendedor de Seryn.
- Eu fui mordida ha mais de 600 anos e o vampiro que me transformou desapareceu, me
deixando sozinha. Eu fiquei perdida, sem saber de existência das ordens. Apenas vagando por
aí. O vampiro que transforma um humano, é de responsabilidade dele iniciá-lo na ordem que
pertence. Eu fiquei pelas ruas durante alguns meses, aos poucos me transformando naquilo que
até mesmo os próprios vampiros odeiam, os híbridos. – Seryn falava calmamente se movendo
um pouco para se sentar encostando a coluna na cabeceira da cama. Trouxe Alex junto
consigo, tendo a necessidade de continuar tocando-a.
Ela nunca tinha dividido isso com ninguém, apenas com o outro co-protagonista, Oli.
Alex, por outro lado, tinha dado atenção inteiramente para Seryn, achando sua história
surrealista e ao mesmo tempo inteiramente fantástica.
- Oli me encontrou, na época ele era o rei da Ordem dos Altos. Ele me alimentou, me criou e
me ensinou tudo o que eu sei hoje. Até que um dia, há quase 100 anos atrás, ele me chamou e
disse simplesmente que estava cansado de ser rei e cansado dos Altos. Resolveu que se juntaria
aos Mutanos, eu nunca perguntei o motivo e nem pedi qualquer explicação. Apenas aceitei o
cargo e desde então sou rainha.
Alex respirou fundo, absorvendo tudo o que tinha sido dito. Ela ficou olhando para Seryn
quase extasiada com tudo o que ouvira, até que finalmente abriu um imenso sorriso.
- Isso é absolutamente incrível, Seryn. Quero dizer, você sofreu e muito, eu não tenho dúvidas
disso. Mas, sua história mesmo sendo uma vampira, não é usual. Você é uma rainha – Alex
falou animadamente.
Seryn percebeu que a ruiva parecia uma criança, ela estava de barriga virada para cama e com
os joelhos dobrados e suas pernas se mexiam para frente e para trás.
- Você é estranha.- Seryn continuou sua fala e se deu conta que queria que aquela palavra
soasse como um elogio.
- Obrigada! – Alex disse baixo.
Nesse momento ambas pararam de falar e Seryn roçou seus lábios contra os de sua humana,
até que o estômago de Alex reclamou. Ela se encolheu dentro do beijo da vampira, sentindo-se
levemente envergonhada.
- Vamos. – Seryn deu dois tapinhas na bunda de Alex. – Vamos almoçar.

Alex e Seryn desceram as grandes escadas juntas, e viu que o número de vampiros na grande
sala era menor do que o de ontem à noite.
Atravessaram o salão para a outra extremidade e Alex sentiu o olhar de um vampiro em cima
dela, ela não gostou.
- Não se incomode com ele. – Seryn avisou. – Ele é inofensivo.
Mesmo assim Alex se aproximou da vampira, praticamente tocando os seus ombros com os
dela.
Alex estava apreensiva, mesmo na mansão de Seryn e ela o tempo inteiro ao seu lado, tinha a
sensação de que a espreita de qualquer canto sempre teria alguém para atacá-la. Porém, esse
sentimento acabou quando Seryn abriu a grande porta de madeira e ela se encontrou na sala de
jantar.
A sala era muito clara, a impressão que dava era que o sol da manhã batia incansavelmente no
local, suas paredes eram todas pintadas, retratando uma selva tropical, com micos em cima das
árvores, pássaros voando no céu claro, desprovido de qualquer nuvem e um golfinho saltando
alegremente na água cristalina.
Alex jurou a si mesma que o frescor da natureza era quase real dentro daquela sala.
- Eu sabia que você iria gostar daqui, combina com você. – Seryn falou atrás de Alex com um
sorriso satisfeito nos lábios.
- Isso é lindo. Uma verdadeira obra de arte. – Alex estava claramente entusiasmada com o
local.
- Fui eu que fiz. – Seryn avisou quase com indiferença, lá no fundo estava orgulhosa com o
trabalho que havia terminado, mas melhor ainda foi a sensação prazerosa de surpreender sua
humana.
Alex se virou e arregalou os olhos.
- Deus, Seryn isso é fantástico! – Num impulso a humana abraçou a vampira feliz por ter sido
apresentada aquela linda obra de arte. - Você é fantástica. – Alex beijou os lábios de Seryn e
sentiu os braços da vampira em sua cintura.
- Venha, você precisa comer. – A vampira fingiu ignorar o elogio e o sinal de afeto, pegando a
mão de Alex e a guiou até a mesa.
Alex se sentou na grande mesa robusta no centro da sala. Observou Seryn novamente ir até a
parede mais próxima da porta e pegar o telefone fixo na parede. Alex se perguntou se todos os
cômodos da mansão tinham um telefone como aquele.
Seryn e sua humana sentaram uma de frente para a outra e a vampira fitava Alex comer
vigorosamente a comida.
- Agradeça sua cozinha, isso é fantástico. – Alex levantou o garfo com um pequeno pedaço de
frango espetado nele.
Seryn acenou com a cabeça e apoiou seu braço na mesa.
- Quando o sol se pôr, te levarei para casa. Eu preciso sair para caçar.
Por vezes a necessidade de caça visitava a vampira, mesmo bebendo o sangue do cálice, um
sentimento primitivo se instalava nela, fazendo com que a sua personalidade feroz viesse à
tona e não experimentar Alex apenas aumentava a sensação.
- Caçar? – Alex indagou com a boca ainda com comida, ela engoliu o bolo alimentar com certa
dificuldade ao ouvir pronunciar a palavra.
- Sim, sem perguntas dessa vez, Alex, por favor.
- Tudo bem. – Alex acenou abaixando o rosto para o prato, fisgando mais um pedaço de
frango.

Durante a tarde, Alex conheceu outros cômodos de livre circulação da mansão. Tudo era
absolutamente incrível. Trocou algumas palavras com Felipe, um vampiro com grande
interesse na humanidade. Desviou de Pascal algumas vezes tentando não ter contanto visual,
mas ele parecia uma sombra entre os cantos da parede. Toda vez que topavam com ele, Alex
sentia o braço possessivo de Seryn envolta de sua cintura.
Ligou para Lucius que a lotou de esporro.
- Você não me deu nenhuma satisfação. Somos sócios, eu sou praticamente seu irmão, oras. –
Lucius falou irritado pelo o telefone.
Alex tirou o celular da orelha e mordeu o lábio inferior nervosamente.
- Me desculpe! Eu conheci alguém. – Falou em supetão e levantou os olhos fitando a vampira
que estava enrolada no lençol.
- O QUE? QUANDO? ESTÁ DE SEGREDO COMIGO? – Lucius exigiu, mas claramente
mais aliviado.
- Eu não posso contar nada agora, eu não irei para o trabalho hoje de novo, está bem? Você
pode segurar as pontas, não pode? – Alex usou sua voz mais doce fazendo com que Seryn
erguesse a sobrancelha.
- Ainda bem. – Alex ouviu um suspiro cansado do outro lado da linha. – Você trabalha muito,
merece um descanso.
Alex se despediu de Lucius e desligou o celular.
- Devo me preocupar com ele? – Seryn disse enquanto se levantava colocando-se de joelhos.
Alex engoliu em seco ao ver a majestosa vampira, se levantar como uma predadora. Ela
engatinhou até Alex e seus caninos estalaram.
A menina sentiu um calor agradável entre as pernas, pois sabia exatamente o que aconteceria.
- Você não precisa se preocupar, ele é um irmão para mim. – Argumentou baixo, para em
seguida lamber os lábios.
Ela abraçou Seryn pelo pescoço e a puxou para cima dela.
- Que bom, pois eu teria que machucá-lo e não queremos isso. Queremos?
Seryn virou a cabeça para depositar beijos ao longo do pescoço da sua humana.
- Nã-o.- Alex murmurou já dominada pelo prazer que a vampira lhe proporcionava.
Seryn desceu sua mão esquerda para encontrar Alex já pronta para ela. Acariciou levemente o
centro da humana, causando-lhe arrepios e pequenos gemidos.
Seryn trouxe a mão que estava tocando Alex até a boca, e os lambeu preguiçosamente.
Ela poderia não sentir o gosto do sangue de sua humana, mas de sua essência, sim.
E foi assim que mais uma vez ambas trocavam caricias, agora com mais firmeza e certeza.
XIV –
- Obrigada, Felipe! – Alex agradeceu entrando no carro, que o vampiro já abrira a porta.
- Não há de que. – O motorista fechou a porta da Mercedes e contornou o carro pela frente.
Seryn já estava do seu lado, preparada para deixar Alex em sua casa. Ela partiria para caça.
Por outro lado, a garota quase sentiu ciúmes, mesmo que isso soasse pouco doentio, queria que
Seryn se alimentasse dela. Queria que a boca de Seryn apenas a provasse.
O carro já começava a andar e o fraco ronco do motor com o balanço ameno, fez com que Alex
se sentisse sonolenta, por impulso ou pela falta de filtro, acabou deitando a cabeça no ombro
de Seryn. Ela por fim acabou relaxando.
Alex despertou com uma freada brusca e seu corpo se projetou para frente, mas sentiu o braço
de Seryn a segurando, evitando com que batesse o rosto no banco da frente.
- Majestade. – Felipe falou chamando a vampira em alto e bom som.
Quando Alex olhou para o para-brisa do carro viu 3 homens. 2 deles eram horríveis.
Ela demorou a perceber que estavam prestes a ser atacados.
- Fique no carro, não saia aqui. – Seryn ordenou friamente antes de colocar seus caninos para
fora.
2 híbridos e um humano, sua caça afinal ficaria mais excitante. Entretanto, isso a perturbava,
por quê os ataques repentinos? Era a segunda vez em poucos dias que isso estava acontecendo
com a vampira.
Alex acenou com a cabeça rapidamente, se encolhendo um pouco atrás do banco de carona.
- Vai ficar tudo bem. – A vampira disse com um tom mais calmo e se inclinou levemente para
beijar os lábios doces de Alex. – Ninguém vai tocar em você.
Após a saída de Felipe e Seryn do carro, Alex esticou a cabeça e apenas seus olhos
apareceram. Era o suficiente para ver o que aconteceria em seguida.
A vampira caminhava calmamente para a frente do veiculo junto com Felipe, 2 vampiros
largados a margem da sociedade vampiresca estavam as traças. Com roupas largas e olhos
vazios e vermelhos, os caninos dos híbridos a esse estágio já não se encolhiam mais.
Um pensamento fugaz passou por sua cabeça, lascivo e de maneira nenhuma apreciado. Os
dois híbridos sobre sua linda humana provando o seu sangue. A vampira se segurou para não
olhar para trás, esse pensamento aumentou ainda mais sua raiva. Ninguém tocaria no corpo de
Alex, ninguém além dela provaria o sangue da sua humana.
Ela sabia que eles queriam alguma coisa, ainda não sabia o que, mas não estava muito afim de
descobrir. Tudo o que sabia era, eles estavam no seu caminho e eles tinha que sair dali.
Olhou para Felipe que desabotoava seu terno caro e flexionava as pernas já pronto para o
ataque.
- Não seria pudente atacar uma vampira rainha, não sabem? – Seryn ameaçou com sua voz
gélida que poderia arrancar arrepios de qualquer um.
Sua besta começava a rosnar dentro de si, ela queria sangue e queria matá-los. Antes que
pudessem chegar em Alex.
- Não estamos aqui por você, Majestade. – Um dos vampiros falou com desdém. – E sim pela
sua preciosa humana. – Ele abriu um sorriso macabro e deu passo para frente.
- O cheiro dela é incrível. – O outro vampiro disse com a voz arrastada como a de uma cobra. –
Eu preciso prová-la, você não se importaria em dividi-la, não é?
- Se derem mais um passo, acabarei com a existência de vocês três. – Seryn sentiu uma
comichão em seu peito, ela sabia que sua fera iria ser liberada e ela atacaria com toda a força.
Ela não entendia como os vampiros chegaram até ali e porque estavam à procura de Alex, mas
Seryn não teria piedade de ninguém. Ninguém ameaçaria sua humana e sairia em vão.
O hibrido cometeu um grave erro, pois projetou seu corpo para frente e saiu correndo para
atacar Seryn, mas ele era lento e destreinado.
Ela olhou para Felipe que tirava um cassetete dobrável escondido na calça e logo fora atacado
pelo os outros dois.
Seryn conseguiu desviar das garrafas do hibrido, inclinando seu corpo para trás. O vampiro
tentou mordê-la, mas Seryn o segurou pelo rosto e um movimento rápido, levou sua outra mão
contra o peito do mesmo. Atravessando seu tórax com os dedos, Seryn sentiu o coração gélido
e parado em sua mão e como um chicote o agarrou tirando de dentro do peito do hibrido.
O vampiro engasgou e rapidamente se decompôs.
Ainda segurando o órgão duro em sua mão lotada de sangue, Seryn se virou e viu Alex com as
duas mãos sobre a boca, claramente assustada com que vira.
Alex olhava para a vampira, ela estava com a postura selvagem e com o cabelo levemente
desgrenhado, seus olhos pintados de pretos causavam ainda mais essa impressão de selvageria.
Suas mãos sujas de sangue e o órgão preso entre em seus dedos fora nauseante de ver, mas
Alex sabia que a vampira estava fazendo aquilo para protegê-la.
Algo chamou atenção da garota. Através do ombro de Seryn viu o homem que antes atacava
Felipe caminhar em sua direção com uma grossa corrente em mãos. Ela apontou e gritou o
nome de Seryn.
A vampira não compreendeu ao ouvir o som do seu nome saindo abafado pela boca de Alex,
mas ela se virou quando a garota apontou e foi pega de surpresa. O homem lançou a corrente
de prata em cima dela, mesmo tentando desviar não foi tão rápida e no final a corrente
certeiramente enrolou na volta de seu pescoço.
Seryn grunhiu ao sentir sua pele queimando, a sensação era horrível. Como se jogassem ácido
sobre sua pele e ele lentamente corroía tudo, consumindo cada poro de sua epiderme. A prata
se fundia com sua pele de uma maneira absolutamente dolorosa.
Suas mãos rapidamente pararam no começo da extensão da corrente e ela começou a puxar
forte, dando vários trancos. Mesmo sentindo a ardência em suas palmas e pescoço, resolveu
ignorar. Tudo o que queria nesse instante era matar o humano.
Ela foi puxando cada vez mais forte, até que o homem caiu no chão e as correntes na mesma
hora afrouxaram, e num movimento preciso se livrou delas, porém continuou a segurá-las. A
vampira caminhou lentamente até o homem, arrastando as pesadas correntes no chão e viu que
Felipe já caminhava abotoando seu terno.
Seryn se abaixou ao lado do humano e enrolou a corrente na volta de seu pescoço.
- É ruim, não é? A sensação de não poder respirar.- Ela perguntou o desafiando, apertando
ainda mais, sentindo suas mãos queimarem e o cheiro de queimado já subia em suas narinas.
- Eu não sou o único atrás dela, deveria tomar cuidado. Alguém de sua linda ordem é um belo
de um traidor. Ainda virão atrás de sua preciosa humana. Prepare-se. – O homem avisou rindo
baixo. – Você pode me matar agora, não fará diferença.
Seryn levantou o olhar e fitou Alex que ainda observava cada movimento que ela fazia. Seus
dedos apertavam o banco de caronas e o medo era visível em seu olhar.
A vampira mexeu a cabeça negativamente em um pedido silencioso para que Alex não
assistisse o que estava por vir e incrivelmente a sua humana entendeu. Pois viu Alex se
encostar no banco de trás e olhar para o lado.
Ela ignorava a dor, estava preocupada com que o homem acabara de dizer. Ela queria drená-lo,
mas provavelmente ele estaria infectado com a droga que lhe fazia mal.
- Realmente não fará diferença. – Seryn falou baixo e apertou ainda mais a corrente, cortando
qualquer fluxo de ar para os pulmões homem. – Ninguém chegará perto dela. Podem mandar o
diabo, reis e rainhas. Todos irão se arrepender.
O homem começou a se debater e suas mãos tentavam tapear as de Seryn, mas ele já perdera as
forças os tapas eram inúteis. Seryn apertou mais e escutou um barulho conhecido, os ossos do
homem se romperam, trazendo assim o final de sua vida.
A vampira se levantou e soltou as pesadas correntes. Suas mãos ardiam, assim como seu
pescoço. Sua fome aumentara consideravelmente.
- Livre-se disso. – Ela direcionou com a cabeça o humano sem vida descartado no chão. – Eu
levarei Alex para casa, me encontre daqui 3 horas na área de ponto de encontro.
- Sim Majestade. – Felipe apenas seguiu a Ordem.
Seryn andou até o carro e abriu a porta do motorista quase que violentamente, talvez se usasse
um pouco mais de força seria capaz de ter arrancado.
Ela se sentou no banco e ligou o carro. Sua mão esquerda voou na marcha, enquanto a outra
virava o volante para sair dali o mais rápido possível. Os pneus da Mercedes cantaram e Seryn
apertou o acelerador.
Alex olhou assustada para vampira e tentou articular alguma palavra, mas ela estava confusa
com o que acabara de acontecer. Ela deu um pequeno impulso e passou do banco de trás para o
de carona, Seryn chegou para o lado dando espaço para ela passar.
Alex colocou o cinto e se virou para a vampira, que ainda acelerava o carro pintando o volante
com a cobertura viscosa de sangue.
- Seryn... – A garota a chamou baixo, mas a vampira a ignorou apertando seus dedos na
marcha do carro.
- Eu preciso te levar para casa. – A vampira falou com dificuldade, olhando rapidamente para
Alex.
Seus caninos ainda estavam à mostra e seus olhos brilhavam num incrível tom de azul. Ela
estava com fome e com raiva, e controlava o máximo para não fazer qualquer besteira.
- Eu preciso te levar para casa. – Repetiu. – Seu cheiro, Deuses, seu cheiro. – A vampira
lambeu os lábios predatoriamente.
- O que está acontecendo? O que aconteceu? – Alex pediu uma explicação plausível. Os
ataques e a atitude de Seryn nesse instante estava a deixando louca.
- Eles querem você, ouviu? Seu cheiro, parece que de um dia para noite todos a querem.
Ninguém vai tocar em você. Ouviu bem? – Seryn esbravejou e um som estranho como um
rosnado saiu do seu peito.
Alex apenas a observava confusa com o coração acelerado e ainda assustada. Nunca tinha visto
a vampira assim e por alguns segundos temeu por sua vida.
- Por favor, fique calma. Seu cheiro está aumentando. – Seryn pediu um pouco irritada, mas
tentando manter a voz calma.
Tocou abruptamente a coxa de Alex e apertou levemente tentando passar algum sentimento
reconfortante. A menina se encolheu um pouco e gemeu como se tivesse sentindo dor.
Seryn respirou fundo, mesmo que não precisasse.
Você precisa se controlar, está espantando sua luz. Idiota.
- Me desculpe... – Seryn não acreditou quando as palavras saíram de sua boca, mas ela queria
acalmar Alex e queria também se acalmar.
- T—udo bem... – Alex disse com a voz trêmula, mas por fim colocou a mão por cima da
Seryn. – Por favor, apenas me explique eu prometo que vou me comportar que vou me
acalmar.
- Deuses.... – Seryn murmurou.
Ela disse se comportar, Ah, Alex não faça isso comigo. A boca da vampira secou e o desejo por
sangue aumentou, não apenas do sangue. Sua libido aumentara em um level considerável.
- Eu tenho um desgraçado de um traidor na minha Ordem e eu tenho uma ideia de quem seja.
Ele falou de você para outras Ordens, seu cheiro, Alex, é muito diferente. Quem conhece esse
cheiro, talvez levante as mesmas duvidas que nós, que você é uma bruxa. – Seryn informou
para a garota, enquanto seu próprio raciocínio trabalhava rápido. – Eu não vou deixar ninguém
tocar em você, precisa ir para casa e lá estará segura.
- Mas eu estarei sozinha e você? – Alex apertou a mão de Seryn ficando um pouco mais calma,
pois percebeu que a vampira estava voltando ao seu estado estável. Mesmo que agora sua vida
estivesse em constante perigo, ela ficara aliviada ao ver Seryn assim.
- Eu não posso ficar com você agora. Toda vez que eu mato, eu sinto muita fome e hoje eu
acordei com vontade de caçar, o que dobra ainda mais o que tenho. E você me desperta coisas,
muitas coisas que tenho dificuldade em me controlar. Eu não posso me alimentar de você,
enquanto não tiver certeza do que acontece comigo e também não desejo te causar dor. Porque
do estado que eu estou, irei lhe causar dor. – A vampira falava sinceramente.
Alex se surpreendeu com o nível de explicação que Seryn lhe dava, era difícil arrancar
qualquer coisa da vampira. Então sabia que para a vampira dizer tudo isso, era que realmente,
seja o que estivesse sentindo, estava difícil de administrar.
Seryn dirigiu um pouco mais devagar, constantemente apertando a coxa de Alex. Seu desejo
aumentava e sua vontade por sangue também, tanto que nem se preocupara em recolher as
presas, era complicado recolhê-las quando estava se sentindo desse jeito.
Finalmente estacionando a Mercedes na frente da garagem de Alex, Seryn tirou o cinto e se
virou para a humana.
- Não abra a porta para ninguém, vampiros não podem entrar na casa de humanos sem
permissão. – Seryn disse soltando o sinto de Alex. – Agora eu preciso caçar.
- Seryn...
- Alex, por favor. – A voz da vampira saiu num suspiro cansado.
Alex colocou as mãos no pescoço de Seryn e os trouxe para perto de seu rosto.
- Se eu pudesse me oferecer para você eu faria. Eu queria você essa noite comigo. – Alex
sussurrou em segredo usando o polegar para acariciar a mandíbula da vampira.
- Você não tem ideia do quanto eu queria isso. – Seryn lambeu os lábios e sentiu seu centro
umedecer.
- Eu vou te beijar agora, pois quero ter certeza que amanhã você voltará para mim e que
daremos um jeito. – Alex se aproximou um pouco mais ficando de joelhos no banco de carona
e se inclinou em direção da vampira.
Seryn não resistiu e colocou a mão atrás da nuca de Alex puxando-a para um beijo urgente
carregado de excitação. A vampira gemeu auditivamente e a beijou com força, usando sua
língua para sentir o gosto da boca quente e deliciosa de Alex.
A garota abraçou Seryn se posicionando no colo da vampira.
Elas se beijaram por um longo tempo e quando a vampira despertou de sua nuvem de excitação
graças ao gemido alto de Alex. Viu sua mão dentro da calça jeans da humana e sua boca aberta
perto demais do pescoço quente. Se não fosse pelo gemido de Alex, Seryn teria rompido a pele
sensível e drenando o sangue da garota.
Ela parou abruptamente e se afastou de Alex a deixando sem posicionamento e jeito.
- Eu preciso ir, Alex. – Seryn falou com a voz entre cortada com as mãos caídas ao lado de seu
corpo.
- Eu sei, me desculpe. – Alex a olhou desconcertada. – Você vai voltar, não vai?
Seryn fitou os olhos completamente dilatados da sua humana e sua boca inchada. Ela já sabia a
resposta e estava na ponta de sua língua.
- Eu vou voltar, você sabe que preciso ficar perto de você. Alex, você é o meu calor. – Seryn
confessou.
Mesmo na alta excitação e no difícil controle a vampira sentiu vontade de dizer algo que
assegurasse Alex da sua importância para ela. A humana estava deixando Seryn perdida em
um caminho no qual nunca percorrera antes. A vontade de proteção, de segurança e de querer
estar perto passeavam lentamente dentro de Seryn. Era sentimentos que começavam a dividir
espaço com a fera recheada de sangue e luxúria. A vampira iria ter que aprender a conviver
com isso dentro de si, mas valia a pena.
Alex Solis valia a pena. Independentemente de ser apenas uma humana ou uma bruxa.
Agora ela pertencia a alguém, só não esperava ser por uma humana de olhos coloridos com
humor expansivo e com cheiro mais delicioso que alguém poderia ter.
XV –
Seryn abriu as portas da mansão furiosa. Já estava alimentada de sua caça, mas sua cólera
ainda não baixara um nível desde que fora pega em uma emboscada. Ela já tinha um ideia de
quem era o delator, seu instinto gritava por um nome e a vampira iria atrás dele agora.
- Onde ele está? – Seryn disse esbravejando raivosamente para a vampira mais próxima da
entrada. – Onde está aquele verme?
A vampira queria acabar com existência do delator o quanto antes, ninguém tocava ou ao
menos tentava tocar em Alex. Ela era sua humana, o sol que constantemente brilhava sobre sua
pele fria.
- Quem, Majestade? – Uma vampira loura com aparência mais nova do que Seryn perguntava.
Ela parecia assustada e colocava as mãos a frente do corpo na tentativa de distanciar sua
rainha.
- PASCAL! – Seryn rosnou o nome do vampiro. – Onde ele está?
- Em seu quarto, minha rainha. – A vampira falou com a voz trêmula assustada com a sua
rainha que emanava ódio.
A vampira loura estava naquela casa ha 150 anos e nunca vira Seryn daquele estado, sempre
tão controlada e contida com seus passos e movimentos. Afinal, a humana realmente causara
um grande efeito em sua rainha.
Seryn se virou e subiu os lances das escadas numa super velocidade onde a vampira loura
apenas viu um vulto fantasmagórico.
Seryn andou até a porta do quarto de Pascal e arrombou a porta com um chute firme. Ela o
encontrou numa cena nauseante.
O vampiro estava atrás de uma mulher de quatro, enquanto a outra mordia seu ombro e sugava
o seu sangue.
Pascal levou um susto com o estrondo e com a subida aparição de sua Rainha. Ele empurrou a
mulher que estava em sua frente e caiu de lado procurando rapidamente algo para se tapar.
- FOI VOCÊ, NÃO FOI? – Seryn gritou furiosa entrando no quarto e ficou parada na frente da
cama. – SAIAM DAQUI, SAIAM AGORA? – Ela cuspiu raivosamente para as mulheres nuas
que logo catavam suas roupas pelo chão e corriam desesperadamente pelas suas existências.
- Vocês devem estar desesperadas por deixarem ser fodidas por um vampiro tão imundo como
esse? – Seryn disse enquanto olhava para as mulheres com rostos desesperados que saiam do
quarto o mais rápido possível.
- Maj—estade?? O que? – Pascal se levantou com os olhos ainda arregalados aturdido com
toda a situação.
- Foi você, não foi?? – Seryn ameaçou agora com a voz baixa. – Foi você que deu com as
línguas no dente.
Sua cólera agora estava em níveis insuportáveis até para ela, seus caninos se alongaram e sua
besta se movimentava dentro dela arranhando todo o seu ser.
- O que? – Pascal a olhou se encolhendo um pouco.
- Sobre MINHA humana. Você contou, não contou? Espalhou por aí.... Sobre o cheiro dela.
Tem noção o que fez? – Seryn falou enquanto andava até o vampiro e logo sua mão parou na
garganta fraca e esbranquiçada de Pascal.
Pascal tremeu sobre o assalto. Os Altos não eram vampiros que lutavam, os únicos que sabiam
fazer isso bem era Felipe que Seryn o treinara. Os Altos assim como os Anciões eram
vampiros mais diplomatas e manipuladores.
- FUI EU!! – Ele disse aflito segurando o punho de Seryn com as mãos tentando sair do aperto
agressivo da vampira. – Fui eu, ela é perigosa para nossa Ordem, minha rainha. Ela... Seu
cheiro! Pode e poderia causar sua morte.
Seryn o fitou e o lançou contra as mobílias do outro lado do quarto. Ele caiu no chão estatelado
e parecia não ter força o suficiente para se levantar, então por fim apenas se virou e ficou sob
os cotovelos.
Seryn olhou para o lado e viu meia dúzia de vampiros de sua Ordem olhar com curiosidade e
estopo, talvez algum deles quisessem até se meter, mas nenhum deles faria isso. Não quando se
tratava da rainha.
- Isso poderia causar minha morte, mas não vai. – Ela disse andando como um gato selvagem,
apenas parando no meio do caminho para pegar uma cadeira e quebrá-la com a coxa, ficando
apenas com uma das pernas. – Mas isso meu querido verme, causará a sua. Terrível erro,
ninguém se mete com Alex. NIGUÉM!
E num súbito de fúria, Seryn levou o pedaço mais pontudo da perna quebrada da cadeira contra
o peito de Pascal, perfurando-o com uma grande força.
O vampiro soltou um grito esganiçado e se desfez no chão.
Seryn rodou a improvisada estaca na mão e se virou para porta, onde se acumulavam cada vez
mais vampiros.
- Mais alguém vai querer tocar nela? – Seryn ameaçou com um sorriso predatório nos lábios. –
Hoje eu quero matar.
Nenhum dos seus súditos falaram qualquer coisa, deram passagem deixando a porta livre para
que ela passasse.
- Assim espero. – A vampira jogou a perna da cadeira no chão antes de sair do quarto e parou
momentaneamente no batente da porta. – Temos um quarto vago, quem de vocês que não
moram aqui vai querê-lo?
Ela voltou a andar e se retirou para o seu quarto. Seryn contaria as horas para o sol novamente
se esconder, para que finalmente pudesse ver sua humana. Precisava do corpo de Alex contra o
seu, queria beijá-la, tê-la, seu desejo estava alto e ela queria fazer algo para que isso fosse
administrado.

O relógio marcava as 17h da tarde e Alex olhava para o horário constantemente, ansiosa.
Queria ver Seryn, sentia sua falta. Mas sabia que não a veria até que anoitecesse.
Ficou preocupada quando a vampira saíra de sua casa, a procura de caça. Com medo de que
alguém a atacasse, não ficara tão preocupada consigo mesma. O que era uma idiotice, pois
Seryn sobrevivera 600 anos e Alex tinha 25 anos e mal sabia segurar uma arma. Na realidade,
nunca segurara uma.
A campainha tocou e ela pulou do sofá. Alex não abriu a boca, esperou que seja lá quem
tivesse a chamando iria desistir.
- Vem cá, eu sei que você está ai! – A voz de Lucius nasceu através da porta. – Se você não
abrir isso aqui eu vou arrombá-la. Melhor, tocarei a campainha até ela queimar.
E foi isso que ele fez, pressionou o dedo na campainha. Alex tampou as orelhas com as mãos e
bufou. Ela levantou e foi andando até a porta.
Abriu e viu Lucius com um sorriso brilhante nos lábios. Alex queria estar com raiva, mas era
muito bom ver alguém normal afinal de contas depois de ontem.
- Pensei que nunca.... – A voz de Lucius morreu ao ser recebido com um abraço surpresa de
Alex.
Ele, como bom amigo, rapidamente a reuniu nos braços.
- Sabia que estava precisando de mim. – Lucius falou contra a cabeleira ruiva de Alex. –
Sinergia, se você não sabe, melhores amigos têm isso.
Alex riu contra o peito de Lucius e mexeu a cabeça.
- Eu precisava disso. Entre. – Ela falou o puxando para dentro.
- Estou indo.
Lucius estava perfeitamente arrumado. Com calças jeans justas e uma blusa de manga branca
que marcava seu peitoral, elas tinham pequenos rasgos propositais na gola e na barra. Algo
totalmente diferente de Alex nesse momento, usava um vestido simples curto florido de alças.
- Quer beber alguma coisa? – Alex ofereceu para o amigo enquanto ia para a cozinha e abria a
geladeira.
- Um suco, o que tiver. – Ele falou se sentando no sofá, onde antes Alex estava.
- Morango! – Ela disse se abaixando para pegar o suco que estava na porta da geladeira.
Alex serviu dois copos de suco e foi até o sofá para e juntar com seu amigo.
- Então conte-me absolutamente tudo? – Lucius perguntou obviamente curioso depois de ter
ligado para sua amiga no meio da tarde. – Quem é a moça que está certamente roubando seu
lindo coração brilhante?
Alex corou profundamente e todo o seu rosto foi tomado por um tom avermelhado. Lucius
percebeu e seu sorriso nasceu maliciosamente.
- HMMMM... – Ele a cutucou com o dedo indicador na barriga algumas vezes, fazendo-a rir.
- PARE! – Ela continuou a rir fingindo chateação. Tentando não derrubar o suco pelo seu colo
e pelo sofá.
- Conte-me. – Lucius exigiu novamente pegando um dos copos e o levou até a boca tomando
um gole do suco.
- O nome dela é Seryn.
- Exótico o nome. Gostei. – Ele levantou as sobrancelhas puxando os lábios para baixo.
- Sim. Ela é absolutamente linda. – Alex completou dando a informação sem necessidade, mas
sua voz sonhadora fez com que seu amigo sorrisse de novo.
- Aposto que é, e alguém por aqui está apaixonada por essa lindeza.
Alex abaixou os olhos para não fitar seu amigo e rapidamente mordeu o lábio inferior. Ela
realmente não tinha pensado nisso antes, mas ela estava se apaixonando ou já apaixonada pela
vampira. Queria Seryn o tempo inteiro perto dela, beijá-la, fazer amor. Tudo, Alex queria que
nesse momento a vampira tivesse ali com ela. O que seria impossível, já pelo o fato de como
Seryn vivia, era um imenso obstáculo que se elas continuassem, teria que ser quebrado de
alguma maneira.
- Não precisa me confirmar nada Alex, pelo seu jeito já sei que essa moça já te fisgou. –
Lucius colocou a mão no ombro de sua amiga e apertou. – Espero conhecê-la, tem que ser
aprovada pela família, não é?
Nesse momento Alex quase cuspiu o suco que levava até sua boca. Lucius conhecer Seryn,
quer dizer, Seryn conhecer Lucius, isso seria um tanto inusitado. Eles eram o completo oposto.
- Claro! – Alex concordou, mesmo não sabendo dizer como se sentia sobre isso.
- Como a conheceu? – Lucius apoiou o braço no sofá e se pôs de lado para se focar totalmente
em Alex.
- Longa história. – Alex comprimiu os lábios em uma fina linha tentando inventar uma história
o mais rápido possível. – Foi no bar! – Falou em supetão. – No bar... algumas semanas atrás.
Você não estava, era seu dia de folga. Então uma coisa levou a outra e agora estamos aqui.
- Hmmm – Lucius levantou o queixo e fitou a amiga, sentiu que algo faltava ali, mas resolveu
não investigar. Ao menos não agora. – Entendi, você sempre chamou atenção de lindas
mulheres no bar, mas sempre tão reservada. Aposto que ela vale a pena.
- Vale... – Ela sorriu docemente e a imagem da vampira pintou em sua memória.
Ambos entraram em outro assunto, um sobre o outro, entre risadas altas e compreensão mutua.
Alex quase se esqueceu do que se passara ontem à noite e sentiu absolutamente feliz pela visita
surpresa de sua única família.
Resolveram afinal ir para o bar, apenas esperava que Seryn aparecesse para encontrá-la. Ela
estava tão atribulada com os últimos acontecimentos que nem pegara o celular da vampira e se
perguntou se afinal vampiros tinham celular. Mas ela sentia que a vampira iria achá-la, afinal,
se ela não estivesse em casa Seryn logo poderia deduzir que estivesse no trabalho. Alex
precisava se distrair, não sabia que horas Seryn passaria para vê-la, aprendeu que com a
vampira era assim, nada era prontamente programado.
Alex, como sempre, ficava atrás do balcão de bebidas. O bar estava a todo o vapor, ela se
virava entre drinks e coqueteleira na mão.
Usava um vestido preto com um leve decote e preso na cintura que se abria um pouco, seu
cumprimento chegava na metade de suas coxas. Uma jaqueta jeans, botas de cano baixo e uma
gargantilha preta.
- Olá... – Uma mulher de cabelos curtos vermelhos parou se sentando em sua frente.
- Olá. – Alex sorriu simpaticamente.
- Gostaria de um caipivodka de kiwi.
- Claro, só um minuto. – Alex já se preparava para o drink pegando tudo o que era necessário.
O cabelo da mulher ia até a metade de seu pescoço, seu nariz era arrebitado e seus lábios finos.
Seu olhar estava pintado de marrom e seus olhos eram castanhos bem escuros. Era uma mulher
linda Alex tinha que admitir, enquanto colocava os kiwis dentro da coqueteleira. Poderia até
oferecer mais um sorriso para a mulher, mas sentiu que isso não era certo e sem contar que não
havia interesse nenhum. Seryn, com quem estava se relacionando agora era absolutamente um
sonho perto de qualquer outra que via.
A mulher se inclinou para o balcão e abriu um sorriso depois de lamber os lábios.
- Você é muito bonita.
Alex tentou sorrir, mas continuou concentrada no seu drink.
- Por um acaso o drink pode vir acompanhado com seu telefone? – A mulher continuou
falando baixo o suficiente para apenas duas ouvirem.
Entretanto uma terceira voz apareceu e tanto Alex que estava concentrada em colocar o drink
em um copo e a mulher que flertava com a garota levaram um susto.
- Você pode deixar o dinheiro e deixar ela em paz. – Seryn falou friamente fazendo questão de
mostrar sua presença.
Alex a olhou com os olhos um pouco arregalados, assustada com a aparição surpresa de Seryn
e pelo fato de parecer ter sido pega no flagra, mesmo não fazendo absolutamente nada.
- E quem seria você? – A mulher se virou olhando para a vampira, olhando-a de cima a baixo.
Seryn estava com um vestido vermelho de couros de mangas que contornavam seu corpo. Seu
cabelo estava volumoso e seus olhos e boca muito bem maquiados.
Alex notou a beleza e sua vampira e piscou algumas vezes, sentindo a vontade de pular no colo
de Seryn e beijá-la. Porém, conteve-se.
Seryn estava enciumada, as pessoas poderiam conversar com sua humana, poderiam até
mesmo tocá-la, mas ela queria fazer questão que todos soubessem que Alex era dela nos mais
profundos sentindos.
- Eu sou Seryn, estou com ela. – Seryn ainda usava sua voz fria dando um passo em direção a
mulher que flertava com sua humana e apontou com a cabeça para Alex.
- Ahh... – A mulher se inclinou um pouco para trás, se sentindo um pouco ameaçada. – Está
tudo bem, desculpe. Eu não sabia. – Ela se levantou um pouco encolhida com medo de encarar
a mulher onipotente.
- Você poderia ser mais educada com a moça. – Alex a censurou colocando o pano branco
sobre o ombro direito e colocou as mãos no quadril.
- E você poderia estar menos desejável, minha luz. – Seryn colocou as mãos no balcão e se
inclinou para frente capturando os doces lábios de Alex.
Ela não queria admitir muito, mas um sentimento que apenas ouvira falar nascia em seu ser.
Um sentimento que por 600 anos nunca provara e que estava adorando ter esse sentimento
invadindo ao pouco seu peito.
XVI -
Lucius se aproximou e se encostou no balcão de lado, apoiando o cotovelo ali em cima. Ele
ficou fitando o beijo quente entre as duas mulheres, Lucius queria rir, mas eles estavam em
trabalho, por fim pigarreou.
Seryn parou o beijo de repente e lentamente foi virando a cabeça para o lado. Observou o
homem forte e moreno encarando elas. A vampira franziu o cenho e respirou fundo. Ela sabia
quem ele era. Lucius, o melhor amigo de Alex, ela só não contou que ele fedia, como cachorro
molhado. Era claro que a garota não poderia saber disso, mas Seryn não gostou do cheiro do
seu sangue e isso fez com que ela soltasse um barulho estranho no fundo do seu peito.
Alex ainda perdida, pois seus sentidos estavam completamente focalizados em Seryn balançou
a cabeça e fitou seu amigo. Ela sorriu timidamente e apontou com olhar para mulher mais
velha, num comunicado silencioso que era ela a mulher por quem estava apaixonada.
- Essa é a moça que está roubando os sonos de minha amiga. – Lucius se aproximou
estendendo a mão para Seryn, mas a mesma não retribuiu. Simplesmente detestara o cheiro que
o humano apresentava.
- Sim, e você deve ser o amigo que a perturba nos melhores momentos. – Seryn sorriu
maliciosamente e viu Lucius franzir o cenho confuso.
-Seryn! – Alex a censurou cruzando os braços demonstrando seu desgosto.
- Ei, Ei... Calma aí, só estava preocupado com a minha amiga. Ela tinha sumido, não é uma
competição. Alex é toda sua. – Lucius levantou os braços em sinal de redenção. – Só quero ver
minha maninha feliz. – Ele se virou e jogou uma piscadela.
Alex sorriu para o amigo, onde logo em seguida olhou para Seryn tentando censura-la
silenciosamente.
Seryn achou melhor não começar a provocar o homem, mas ele estranhamente lhe causava
uma irritação, na qual ela não gostava, mas por Alex iria engoli-lo.
- Tudo bem, ela agora tem mais uma pessoa para se preocupar com ela. – Tentou ser amistosa,
mesmo sentindo que não era o seu forte, mas por todas vias recebera um sorriso satisfeito de
Lucius.
- Que bom! Alex, daqui pouco vá dançar com sua garota. Eu seguro as pontas aqui no bar. –
Lucius avisou para amiga.
Seryn, se simpatizou pela fala, apenas por um momento.
- Claro! Daqui a pouco eu vou. Obrigada, Lucius. – Alex sorriu pegando o pano branco e
começou a limpar o balcão, com marcas de copos ainda frescas.
Lucius virou os calcanhares e andou até o caixa.
- Ei, por que agiu com ele dessa maneira? Ele é minha única família. – Alex disse claramente
decepcionada com sua vampira.
Seryn abriu a boca uma vez, estava prestes a falar sobre o cheiro do rapaz, decidiu que
certamente Alex não iria entender.
- Sinto muito se fui rude com seu amigo. Eu apenas não sei lidar com humanos ainda, mesmo
depois de 600 anos.
- Mas você sabe lidar comigo. – Alex rebateu.
- Porque você é o meu sol. – Seryn falou como se aquilo fosse óbvio.
A garota ficou a encarando por alguns segundos, sem saber o que ao certo dizer, não ouviu
quando um homem a chamou para iniciar o pedido. Então Seryn apontou com a cabeça.
- Alguém quer ser atendido. – A vampira avisou num tom perigosamente sensual.
Alex piscou algumas vezes tentando sair do seu estupor, respirou fundo e montou um sorriso
para o homem.
- No que posso ajudar? – Disse educadamente, enquanto pegava uma coqueteleira limpa que
estava já pronta na mesa embaixo do balcão.
- Um Sex on The Beach. – O homem disse, dando sua comanda para que Alex marcasse o
pedido.
Ela pegou uma caneta que também ficava na mesa e marcou com um X a bebida que o homem
pediu.
- É pra já.
Seryn observava toda a cena, achou incrível a habilidade e a rapidez com que Alex produzia o
drink. Ela ficou de braços cruzados vendo cada movimento que sua humana fazia, seus braços
eram esguios e atléticos.
Alex entregou o drink e sorriu gentilmente para o rapaz que agradeceu prontamente pela
bebida.

Alex finalmente entregou o pano branco, já um pouco encardido para Lucius e pegou a mão de
Seryn para juntas irem até a pista de dança. Para a sorte da menina, a música se tornara lenta e
sensual, era exatamente o que queria. Mesmo não estando vestida de maneira tão desejável
quanto realmente queria, seria ótimo testar os nervos de Seryn.
As mãos da vampira pousaram no quadril de Alex, enquanto a menina se movia devagar contra
o corpo de Seryn. Rebolando apenas um pouco, tocando seu centro contra a perna da vampira.
Seryn desceu sua boca para tocar os lábios de Alex, mas no último momento a sua humana
virou o rosto e sorriu maliciosamente.
Alex girou ficando de costas para Seryn, jogando seus cabelos apenas para um lado. Ela
novamente começou a rebolar, se mexendo de acordo com a lenta batida da música. A vampira
começava a sentir seu prazer aumentar aos poucos, se construindo como blocos, um a um. A
vampira se mexeu junto com Alex e inclinou a cabeça para o pescoço da menina, onde
depositou um beijo e uma mordida. Seus caninos ameaçaram a descer, mas ela conseguiu se
controlar, se apertando ainda mais contra Alex. Sentindo seu cheiro aumentar, assim como seu
fluxo sanguíneo e os batimentos de seu coração.
Era tentação demais tê-la assim tão próxima, de maneira tão provocativa e não poder fazer
absolutamente nada, só que ela ao menos podia provar a boca deliciosa de sua humana e foi
exatamente que ela fez. Do jeito que estavam, a vampira segurou o queixo de Alex e trouxe
sua boca contra a da humana. Seus lábios se selaram e Alex gemeu dentro de sua boca.
A garota gostara da maneira agressiva que Seryn a pegou e isso fez com que ela virasse de
novo. Ela segurou a vampira pelo pescoço e o beijo se intensificou, assim como a dança delas.
A vampira já passava as mãos livremente pela lateral do corpo de Alex, enquanto seus lábios
procuravam uma pela a outra.
Finalmente, após o termino da música e outra já começando a tocar a boca de Seryn roçou na
orelha de Alex.
- Que tal irmos para sua casa e continuarmos o que queremos lá? - Seryn sussurrou baixo, com
uma voz perigosamente sensual.
Alex mordeu o lábio inferior, controlando-se o máximo. Seu desejo já estavam se tornando
maior que imaginara. Ela apenas acenou com a cabeça, concordando com o convite da
vampira.
Seryn a pegou pela mão em direção a saída do estabelecimento e tudo o que Alex conseguiu
fazer foi acenar para Lucius. Que a olhou confuso, mas logo em seguida sorriu e acenou de
volta.
- Você está com seu carro, certo? – Seryn falou fechando a porta do bar atrás dela.
- Sim, Sim. Ele está logo ali. – Alex apontou, pegando a chave do carro que estava em seu
bolso.
Seryn pegou a chave da mão da humana e sorriu.
Alex apenas levantou uma sobrancelha e não falou absolutamente nada, era inútil discutir
sobre quem dirigiria o carro. De qualquer forma ela só queria chegar em casa, para poder estar
íntima com Seryn novamente.
Dentro do carro, Alex se atreveu a brincar com Seryn, dando-lhe mordidinhas no pescoço,
cada oportunidade que tinha ou roubando um beijo na bochecha gelada da vampira.
Seryn não tinha certeza como reagir a essas ações carinhosas e doces da sua humana. Era algo
novo que nunca provara antes, mas ela gastou de ser o alvo dessa brincadeira. Sempre era bem-
vinda ser tocada por Alex, ainda mais sua pele quente e seu cheiro que emanava calor.
- Quando chegar em casa, promete fazer amor comigo? – Alex perguntou baixinho com um
sorriso safado no rosto, que deixou Seryn tempo demais olhando para ela e esquecendo do
transito, mesmo que ameno.
- Você sabe, que sempre cumpro minhas promessas, minha querida. Quero passar uma
maravilhosa noite com você. – Seryn disse sinceramente, ela não sabia ser doce ou delicada
como Alex. Só que ela cumpria suas promessas, a vampira era verdadeira em cada palavra que
dizia.
Alex encostou a cabeça no ombro de Seryn e relaxou, nenhum comentário veio pelo
movimento afável. A vampira apenas dirigia o carro em direção a casa de sua humana,
satisfeita por encontrar bom a intimidade que criava com Alex.
Seryn estacionou o carro na garagem de Alex e a menina foi a primeira a sair, assim que
fechou a porta de carona, sentiu um forte empurrão em suas costas fazendo-a bater contra a
lataria do carro. Alex sentiu duas mãos em seu ombro e alguém a virou bruscamente. Quando
Alex olhou a pessoa que fizera isso, viu um imenso par de caninos vindo em sua direção.
Porém antes que eles pudessem chegar em seu pescoço, Seryn se pôs atrás do vampiro e o
segurou em um mata leão.
- Vá para casa rápido!! – Seryn gritou exasperada para Alex.
Seryn começou a fechar seu braço ainda mais em volta do pescoço do vampiro que tentava
atacar Alex. Ela observou a garota sair correndo em direção da porta de casa, entretanto, não
esperava por outro vampiro aparecer em uma velocidade sobrenatural se aproximava cada vez
mais.
Num último momento Alex conseguiu abrir a porta de casa e pular para dentro, o segundo
vampiro parou no limiar da porta e gritou enfurecido.
- VOLTE AQUI, MINHA DELICIOSA!
Seryn sentiu cada poro do seu ser se incendiar, como ela queria matá-los nesse instante. Sua
besta começava a rugir dentro dela como uma fera enjaulada.
O vampiro que Seryn prendia conseguiu se desvencilhar com uma cotovelada bem dada em
suas costelas. Quando fez menção de atacar o vampiro, o segundo acabou pulando em cima de
suas costas e ameaçou mordê-la, mas Seryn conseguiu segurar o maxilar do seu inimigo no
último instante.
Ela cravou a unha no maxilar do vampiro e as sentiu perfurarem a pele do mesmo, porém, ela
estava em desvantagem e por um segundo esqueceu disso. O vampiro que ela antes segurava
pelo pescoço avançou sobre ela dando inúmeros socos em sua barriga. Seryn tentava dar
chutes, mas sua mobilidade estava bastante comprometida.
O vampiro então deu um último soco e avançou sobre Seryn fincando seus dentes no ombro da
vampira. Ela gritou em dor e seus caninos pularam para fora. Perdeu a força
momentaneamente nos seus braços e o vampiro que estava em cima dela, raspou seus dentes
em seu pescoço. Porém, seu corpo endureceu e de repente ele se desfez em cima de Seryn.
Alex estava com uma faca de prata afiada nas mãos, suja de sangue com os olhos arregalados.
Tremendo impotentemente pelo o que acabara de fazer. Sua respiração estava superficial e a
bile do seu estomago ameaçou a vir, mas Alex acabou por engolir.
Seryn sentindo a pressão diminuindo, pegou com a mão os cabelos pretos do vampiro que a
atacava e com uma força surpreendente, esmagou a cabeça do vampiro contra o carro. Ele
gritou de dor e Seryn cega por ódio não ouviu absolutamente nada, era como se um tampão
estivesse bloqueando qualquer som exterior.
O vampiro se desfez por completo, mas ela continuava com a mão apoiada no carro, sentindo a
dor latejante em seu ombro. Seu ódio e sua fúria continuavam ali, sua besta a aranhava fazendo
força contra o seu peito.
Alex se aproximou devagar, ainda atônita com que acabara de fazer. Nunca em sua vida tinha
matado alguém. Ela tinha medo de matar baratas, porque diabos ela mataria alguém? Mas esse
alguém tentou matá-la, pior, tentou acabar com a existência de Seryn. Ela se agarrava nisso,
fazendo com que sua culpa imediata se aliviasse apenas um pouco.
Seryn sentiu o toque quente em seu antebraço, ela se virou bruscamente e levantou a mão.
Estava absolutamente tudo desfocado, a vampira queria matar mais, queria comer, e o cheiro
delicioso constante passando por ela aumentava todas essas vontades.
- Se—ryn... – Alex falou com a voz tremula tirando a mão do antebraço de Seryn. Ela deu um
passo para trás assustada, quando viu a vampira rosnando.
A vampira ouviu um murmúrio, mas ela não conseguiu identificar o que era. Apenas continuou
andando em direção de sua presa que exalava medo.
Alex se arrastava sobre os cotovelos para trás, assustada com o estado que a vampira estava.
Provavelmente não chegaria a tempo em sua casa, ela poderia proibir a entrada de Seryn. Mas,
já conseguia ver sua morte ali.
Seryn se agachou e pegou a sua presa pelos ombros, ela lambeu os lábios pronta para drenar
até a última gota enriquecida de luz que passava pelo sangue.
Luz?
A vampira piscou uma vez. Duas vezes, três vezes. Ela conhecia essa palavra, Seryn dizia essa
palavra agora com frequência.
Alex.
A vampira focalizou seu olhar perdido e se viu encarando sua humana, pequena inofensiva e
tremendo cheia de pavor. Um pavor na qual Seryn causara. As lagrimas de Alex desciam
livremente pela sua bochecha, ela soluçava como uma criança.
A dor do ombro de Seryn, já parecia ter desaparecido.
- Alex? – A vampira chamou a humana sem ter muito certeza do que estava acontecendo.
A garota soltou um grito assustado e se encolheu mais ainda.
Deuses, o que eu fiz?
Ela soltou a garota calmamente no chão e a viu tremer ainda mais, agora com os punhos
fechados sobre o peito. Parecendo estar com frio.
- Deuses.... Me perdoe, por favor, me perdoe. – Seryn falou baixo aflita com a fragilidade da
menina e atormentada pelo próprio ato que estava prestes a fazer.
Ela ia matar sua Alex.
Alex tremia pequena e frágil, assustada com que acabara de acontecer. Ela esperava tudo,
menos isso. Menos ser atacada pela Seryn, por alguém que confiava plenamente, mas a voz da
vampira fez com que ela levantasse o olhar brevemente.
- Me perdoe. – Seryn disse num fio de voz, levantando levemente a mão para tocar no rosto de
Alex.
A garota se encolheu reflexo pelo que acontecera momentos atrás, porém ao sentir o afago na
bochecha de Seryn seu coração acelerou. Alex sabia no que se metera, sabia que seu sangue
causava um efeito catastrófico em Seryn. Ela queria ter raiva da vampira, mandá-la embora,
mas simplesmente não conseguia. A vontade de cuidar da vampira era maior do que a vontade
de manda-la partir.
- Eu ia te ma... – Novamente a voz da vampira saiu falha como se ela não pudesse acreditar no
que estava acontecendo.
Com um esforço tremendo recolheu seus caninos, e controlou sua sede. Seu ferimento iria
curar, demoraria algumas horas, mas ele iria se fechar.
- Eu deveria ir.- Seryn falou roçando o polegar na bochecha de Alex, sentindo calor que pele
proporcionava contra o seu toque frio.
Mas as duas foram pegas de surpresa.
- Não! – Alex disse em supetão. – Não vá, eu estou com medo. Eu não quero ficar sozinha.
- Eu quase te matei, Alex. Eu sou uma Altos, eu cumpro minhas promessas e quase quebrei.
- Mas você não quebrou, eu—eu não quero que você vá, eu entendo que estava no calor de
uma luta, que meu sangue aumentou ainda mais seu instinto, mas você voltou. – Alex colocou
sua mão por cima da mão de Seryn e inclinou a cabeça para o toque, deixando mais uma
lagrima descer.
- Por que você é assim? – Seryn perguntou confusa.
- Assim como? – Alex disse roucamente, deixando seu coração se acalmar.
- Tão peculiar, Deuses.... Você já me salvou duas vezes. Isso torna as coisas tão mais difíceis.
– Seryn comentou em voz baixa, era como se ela estivesse dizendo isso para si mesma.
- Seryn. Quando me deixei entrar por esse ramo de teias complexas do que você representa,
mesmo negando a mim mesma, sabia o risco que estava tomando. – Alex se aproximou um
pouco, sentindo-se melhor. Sua coragem e força se reunia aos poucos e de repente ela se sentiu
mais forte. – Eu matei hoje, por você e você por mim. Se não fosse por você eu estaria morta.
- Mas você começou a ter risco de vida a partir do momento que parou naquela maldita estrada
para me salvar.
- Talvez, mas talvez eu pudesse topar com um vampiro na semana seguinte e eu não ter o
mínimo de chance. A o menos agora eu tenho. – Alex disse tentando montar um sorriso
motivador nos lábios.
Seryn não disse nada, apenas fitou a menina de olhos castanhos com admiração verdadeira.
Sua humana estava mostrando coisas para ela na qual nunca vira ou sentira e não podia se
enganar que finalmente depois de 600 anos parecia finalmente ter um proposito.
- E quanto ao seu ombro? Você precisa de sangue? – Alex disse incerta.
- Não, apenas cuide de mim, Alex. A mordida irá cicatrizar daqui algumas horas, eu só preciso
limpá-la. A dor ainda pode até continuar, mas não será forte quanto agora. – Seryn despejou a
informação, antes de vagarosamente fechar seus braços em volta da cintura da menina.
Em primeiro instante Alex hesitou, mas logo retribuiu o abraço se jogando no pescoço da
vampira. Com um cuidado absoluto de não tocar no ombro onde fora atacada.
- Eu falei que iria manter minha promessa de fazer amor com você essa noite e é isso que farei.
– Seryn falou usando pela primeira vez em sua existência as palavras ―fazer amor‖, ela achou
que sairia patético o som das palavras em sua boca, mas gostou como de ela soou. Pois seria
exatamente que faria com sua humana.
- Venha vamos entrar. – Alex sussurrou esquecendo de qualquer infortúnio que passara na
noite. Ela teria que se acostumar com isso, afinal seu relacionamento agora era com uma
vampira. Não apenas uma vampira. A rainha de uma Ordem.
Além de ela mesma ser um constante alvo, pelo seu cheiro misterioso. Só esperava que esses
ataques não fossem durar para sempre.
A garota chegou a ousar em pensar em ter uma vida normal com a vampira.
Uma doce e terrível ilusão.
XVII – Seryn fez cara feia quando Alex gentilmente tocou com uma toalha de rosto o
ferimento da mordida no ombro da vampira. Ambas estavam sentadas na cama. Seryn apenas
com calcinha e sutiã, enquanto Alex estava totalmente vestida. Sentada sobre os calcanhares a
humana tratava o ferimento com cuidado, mergulhando por vezes a toalha numa vasilha de
plástico antes de levar novamente para o ferimento.
Seryn trancava os dentes para que os caninos não descessem, seria uma péssima hora para
assustar Alex, ainda mais tratando-a tão gentilmente.
- Deixe eles saírem. – Alex disse preocupada. – Faz parte do seu instinto, não controle a dor.
Seryn fitou Alex com dúvida, se perguntando como a garota poderia falar uma coisa dessas,
pois até 10 minutos atrás foram por causa desses mesmos dentes e instintos que iria matar a
sua humana.
Mas, ela gostou de ouvir isso. Respirou fundo sem qualquer necessidade e relaxou, abrindo a
boca levemente e deixando os caninos se alongarem. A dor diminuiu, assim como sua tenção e
ela agradeceu a Alex silenciosamente.
- Prontinho. – Alex falou depois de finalmente limpar o ferimento de Seryn e colocar a vasilha
em cima do criado mudo ao lado da cama.
Alex foi pega de surpresa quando voltou a posição original e os lábios da vampira tocaram no
seu levemente.
- Desculpe. – Seryn repetiu mais uma vez.
- Seryn... – Alex falou o nome da vampira num suspiro cansado.
- Eu nunca pensei que uma humana fosse me afetar tanto. – Seryn admitiu num tom baixo,
enquanto com cuidado recolhia Alex em seus braços.
Ela encostou na cabeceira da cama abriu as pernas e trouxe sua humana para se encaixar entre
elas. Seryn mexeu no cabelo ruivo de Alex o levando para um lado e expos o seu pescoço.
Seus lábios desceram na curvatura entre o pescoço e o ombro de Alex.
Alex sorriu fracamente e relaxou mais contra Seryn do lado no qual não estava ferido, ela
sentiu a vampira passear com os dedos em seu colo, no contorno das alças e decote do vestido.
- Eu poderia poder fazer mais. Seu ferimento... – Alex falou fechando os olhos deixando a
vampira estabelecer seu ritmo.
- Você já faz, eu sei que ainda daremos um jeito. Eu sei que ainda vou te provar, mas não
posso me colocar em risco e nem você. – Seryn respondeu sinceramente com os lábios contra a
parte de trás da orelha de Alex.
Seus caninos passaram suavemente pela pele exposta de Alex, ao mesmo tempo sua mão se
abaixava para encontrar o seio de sua humana.
Alex abriu a boca para verbalizar algo, mas não conseguiu. Isso acontecia quando Seryn a
tocava ainda mais com desejo deliberado de fazer amor com ela.
- Lex... – Seryn soltou um gemido baixo usando um apelido que passeara pela sua cabeça. – Eu
vou te proteger, você é minha humana. – A vampira passou a mão por de baixo do sutiã de
Alex e apertou seu seio.
Alex engoliu em seco, começando a ter dificuldade em respirar. Seryn conseguia acabar com
suas pequenas estruturas em pouco tempo. Talvez fosse seu toque, talvez seu jeito autoritário e
sua presença. Ou talvez fosse uma mistura de todas as coisas, ela não se importava, adorava
todo esse processo de tensão que Seryn fazia e sabia que a vampira sentia a mesma coisa.
Alex tinha poder sobre a vampira.
Seryn lambeu os lábios ao sentir o seio pequeno de Alex em sua mão e o massageou. O cheiro
da humana logo se elevou, assim como seu fluxo sanguíneo. A vampira também estava sob a
constante nuvem de excitação, ter Alex assim tão intimamente a deixava louca. Sua humana
era tão preciosa para ela nesse momento, que Seryn por vezes não precisava de mais nada além
de tocar Alex.
A besta que vivia dentro dela ameaçava sair o tempo inteiro. Enjaulada, se mexia ainda mais
pavorosamente quando estava na volta de Alex. Entretanto, Seryn começava a domesticá-la,
ela não iria mais machucar Alex, a garota simplesmente não merecia.
Com sua outra mão, a vampira foi descendo, ela passeou pela coxa de Alex numa lentidão
tortuosa, onde a garota se mexia à procura de mais e mais contato. Era delicioso o jeito que
silenciosamente Alex pedia por Seryn, era ainda mais quando a parte de trás da humana batia
levemente contra a virilha da vampira.
- Seryn, por favor... – Alex levantou o braço e enlaçou a nuca da vampira, dando lhe um beijo
sôfrego e urgente.
Seryn sorriu dentro do beijo e finalmente tocou no centro de prazer da garota, viu o quanto ela
já estava pronta. Passeou com as pontas dos dedos sob a lingerie da humana e ouviu um
suspiro da sua boca.
Alex mais uma vez seria dela e ela se apaixonava cada vez mais por isso.

Seryn observava Alex dormir profundamente em seu peito, ainda era cedo e sua humana estava
cansada. A noite anterior tinha sido quase que apavorante.
A vampira nunca se importara com a besta que ficava dentro dela, alguns vampiros tinham
isso. A besta em que Seryn se referia, era seu instinto de caça, o instinto que a deixava cega e
nessa hora só existia apenas um objetivo.
Matar.
Ela nunca se importara com a besta, até ontem, quando a mesma tentou matar Alex. Seryn não
queria admitir, mas se ela matasse sua humana, não conseguiria de fato se perdoar. Seus
sentimentos, que antes ficavam adormecidos e apenas os instintos se afloravam, começava
também a nascer. E agora Seryn tinha que conviver e controlar duas faces dela, a da besta e
suas emoções por Alex. Uma faca de dois gumes, que se não tivesse cuidado poderia ser fatal.
Seryn fechou os olhos e se concentrou na batida do coração de Alex. Ela, claro não dormiu,
mas foi o suficiente para relaxar e a tensão do seu corpo diminuir aos poucos.
Alex despertou sentindo a forte presença da vampira em seu lado, Seryn acariciava suas costas
levemente com os dedos gelados. Ela sorriu e esfregou a cabeça contra o peito da vampira. Era
estranho não ouvir nada lá dentro, o coração de Seryn estava morto. O calor humano era
inexistente, assim como as batidas do coração, entretanto, Alex começava a se acostumar com
isso. Mesmo sendo estranho se deitar com alguém que parecia uma estátua de mármore, Alex
aprendeu a adaptar a vampira e agora, nesse instante não trocaria absolutamente por nada.
- Deuses, você dorme muito. – Seryn reclamou contra os cabelos ruivos de Alex.
- É claro que eu durmo, eu sou humana.- Alex falou num gemido preguiçoso, enquanto
esticava as musculaturas das pernas.
- Não, minha querida, você em particular dorme muito. – Seryn rebateu educadamente.
Alex levantou a cabeça e abriu a boca formando um pequeno ―o‖, fingindo estar indignada do
que acabara de ouvir. Ela deu um tapinha no ombro da vampira e abaixou seu rosto para o
esconder na curvatura do pescoço de Seryn.
- Eu não tenho culpa se você me relaxa.
Alex beijou levemente o pescoço da vampira e respirou fundo para inspirar a sua essência.
- Devo falar com Oli hoje, quero que ele nos encontre aqui. Preciso saber se ele encontrou
alguma pista. – Seryn disse num tom sério, parecendo não se ondular sob os lábios de Alex.
- Você quer meu celular? Quero dizer, ele não é um vampiro que tenha cara de usar um celular,
mas se você quiser usar o meu. – Alex ofereceu se sentando na cama.
Os lençóis escorregaram deixando seus seios desnudos, a vampira olhou para eles rapidamente
e sentiu seus caninos coçarem.
- Seryn? Meus olhos estão aqui em cima. – Alex falou jocosamente.
- Hm.. – A vampira soltou um barulho na garganta, antes de novamente fitar os olhos coloridos
da garota. – Claro.
- Claro o que? – Alex franziu o cenho.
- Alex, eu tenho celular e Oli também. – Seryn resumiu um pouco friamente.
- Okay... – A garota dos olhos coloridos deu de ombros descontente com a resposta corrida da
vampira.
Seryn a fitou e chegou perto de Alex, ela pegou o queixo da garota e beijou a ponta de seu
nariz. Desceu mais um pouco até selar seus lábios.
- Eu não estou acostumada a ser gentil, até 2 semanas atrás eu não pensava em ter um
relacionamento monogâmico. Eu sou uma vampira, Alex. Vampiros não fazem essas coisas, eu
vou tentar ser assim ao menos com você. – Seryn falou num murmúrio perto da boca de Alex.-
Eu não posso prometer, tem coisas além de sua compreensão, eu sou uma caçadora, humanos
para mim são propriedades e alimento. Tem algo dentro de mim mais poderoso do que eu, mas
eu estou fazendo o impossível para isso não nos interromper.
- Seryn... – Alex tentou interromper a vampira, mas o dedo gélido de Seryn se pôs na frente de
sua boca.
- Eu quero você. Futuramente, quando necessário pretendo, apenas provar você. – A vampira
desceu sua boca para o pescoço de Alex e passou os lábios levemente pela sua extensão. – Só
espero que seja breve.
- Vai ser. – Alex sentiu um arrepio prazeroso descendo em sua espinha. – Só temos que esperar
que Oli tenha algumas respostas, principalmente se meu sangue faz mal a você ou se também
de alguma maneira me atrapalha.
- Oli. – Seryn voltou sua posição de antes e se virou saindo da cama. – Onde está meu celular?
Alex sentiu suas bochechas esquentarem quando viu a vampira totalmente nua em sua frente,
casualmente olhando pelo quarto a procura do seu aparelho telefônico.
- Aha... – A vampira sorriu maliciosamente ao encontra-lo no chão perto da cama. – Como
diabos isso parou aqui?
Alex abriu a boca para dizer algo relacionado de como o celular fora parar no chão. Em
alguma hora da madrugada, quando rolavam na cama já na terceira rodada do sexo, mas no fim
achou ficar quieta.
- Eu vou fazer meu café da manhã, está bem? – Alex também se levantou da cama e foi até seu
guarda-roupa pegar um robe de cetim preto. Ela atou o nó frouxo e saiu do quarto com cuidado
para que iluminação não pegasse na vampira.

Seryn observou Alex sair do quarto e sorriu de lado. A sua humana era linda demais, seu rosto
harmônico e inocente. Seu olhar colorido e expressivo.
A vampira sacudiu a cabeça achando se um tanto patética e se sentou na cama novamente, já
digitando com uma velocidade surreal o número do vampiro Mutanos.
Ela colocou o celular na orelha e apenas três toques foram o suficiente para alguém do outro
lado da linha atender.
- Já conseguiu alguma coisa? – Seryn perguntou sem rodeios.
- Sim. Tenho um livro em mãos. – A voz de Oli pareceu carregada de mistério e promessas de
revelações.
- E então? – A vampira continuou querendo mais informações.
- Tem coisas que preciso contar pessoalmente.
- Rua 37, casa 440. O bairro é Daises. 19h30, não se atrase e traga sangue. – Seryn comunicou
seu amigo antes de desligar o telefone.

Alex sentava na cadeira alta da ilha de sua cozinha, ela comia tranquilamente um mamão,
enquanto rolava com o dedo as notícias do jornal em seu celular. Era algo que Alex quase
sempre fazia, gostava de se sentir informada. Mas ela foi interrompida quando o nome do seu
melhor amigo apareceu na tela do seu display.
- Olá, Olá. – A garota respondeu ao atender o telefone.
- Bom dia para você também que acordou muito bem. – A voz de Lucius estava animada.
- Sim, muito bem obrigada. – Alex continuou.
- Sua namorada é linda, espirituosa, mas linda. – Lucius tentou ser o mais educado possível. O
primeiro encontro entre os dois, não fora um dos melhores. Aliás, era nítido a tensão que seu
melhor amigo e Seryn criaram.
- Eu não sei denominar o que nós somos. – Alex falou com a voz baixa espichando a cabeça
para o corredor, como se Seryn fosse aparecer lá a qualquer minuto. O que era impossível. –
Mas, sim ela é uma mulher espirituosa.
A garota sabia que esse não era o adjetivo que seu amigo queria dar, mas continuou com essa
pequena simulação. Alex tinha noção que Lucius se preocupava com ela, ele não se metia na
vida dela, mas ele sempre de uma maneira ou de outra a protegia.
- E você está nitidamente feliz com ela. Eu fico feliz por você, Alex. De verdade, você merece.
– Lucius falou um pouco mais sério agora.
- Obrigada Lucius. – Alex sorriu para a mensagem do amigo.
Ela pegou um pedaço de mamão com o garfo e o levou até a boca enquanto escutava o amigo
falar sobre o negócio do bar.
- Sinceramente, esse mês nós arrasamos. Francamente, Alex, o nosso bar é um dos melhores da
cidade. – Alex ouviu a pontada de orgulho que a voz de seu amigo tornou.
- Sim, nós somos também percussores, os mais antigos. Espero que a gente continue assim
Lucius, de verdade.
- Eu também. Temos dores de cabeça, mas no final tudo acaba bem, não é mesmo?
- Sim. – Alex falou de boca cheia, enquanto mastigava o mamão. – Escute, Lucius, eu tenho
que ir está bem? Qualquer coisa é só me ligar. Um beijo.
Lucius terminou de se despedir da amiga e Alex já andava pela cozinha para limpar o prato e o
talher que usara. Ela queria voltar para o quarto e novamente ficar na volta de Seryn, talvez
pudesse convencer até mesmo a vampira ver um filme. Não achava que era o feitio da vampira
ficar 1h30, 2h00 parada assistindo qualquer coisa, mas não impossível perguntar.

Sim, Alex conseguiu. O que Alex não pede e Seryn faz. Elas conseguiram assistir não só um
filme, mas dois. O que para própria vampira era algo realmente raro, não se lembrava se
alguma vez da sua existência tinha visto algum filme. Ela gostava de ler e muito, mas filmes
ela não tinha paciência.
Alex optou por ver dois filmes vampirescos e adorou Seryn quando ela soltou um muxoxo ou
quando ria achando a cena patética demais, longe de sua vivência de vampira. A garota de
olhos coloridos acabou por ouvir mais e mais aulas sobre o mundo de Seryn e ela ouvia tudo
prontamente, feliz por a vampira se abrir quase de maneira tão usual.
- Seryn?
- Sim. – A vampira perguntou, enquanto observava Alex com uma toalha enrolada em volta do
corpo e outra no cabelo.
- O que nós somos? - A garota perguntou fitando Seryn, ainda que vergonhada pelo o que
acabara e perguntar.
- O que somos? – A vampira que estava olhando para os dois furos em seu ombro, que por
sorte estava desaparecendo, voltou para olhar sua humana.
- É, namoradas... O que somos? – Alex mordeu o lábio inferior um pouco nervosa e sorriu
ternamente logo em seguida, enquanto andava em direção da vampira.
- Eu acho que o termo ―namoradas‖ é um pouco infantil, não acha? Eu sou uma vampira de
600 anos. – Seryn cruzou os braços em baixo do seio e ergueu uma de suas sobrancelhas.
- Ah... – A humana falou um pouco desanimada, mas ainda sim mantinha o sorriso no rosto.
- Vem cá. – A vampira a chamou dando dois tapinhas no colchão. Ela ergueu a mão e mirou
com olhar a escova que Alex estava segurando.
A garota entregou a escova para Seryn e se sentou no colchão de costas para ela. Respirou
fundo ao sentir a vampira tirar a toalha do seu cabelo e os dedos gélidos passearem por ele.
- Você é importante para mim, muito importante. Eu só quero você, posso não querer nomear o
que temos, mas não pense que o que tenho por você é apenas algo instintivo, pois não é. –
Seryn disse calmamente e com cuidado começou a escovar o cabelo ruivo de Alex.
Seryn estava completamente perdida pela garota, ela não gostava de admitir isso, mas assim
como sua besta, isso também era mais forte do que ela. E a vampira já tinha decido que
passaria a aguentar isso, pois Alex fazia valer a pena.
A humana suspirou tranquilamente com um ar quase de felicidade plena, esse carinho que
Seryn começava a dar para ela era algo que começava a apreciar. E tinha convicção que Seryn
fazia isso para agradá-la.
O dia foi transcorrendo calmamente. Seryn mesmo que um pouco impaciente, presa num
quarto pequeno, usufruía da companhia de Alex. A persuadiu duas vezes durante a tarde e elas
fizeram amor, a garota tentava dizer não, pois estava concentrada trabalhando no último
balanceamento do mês do bar. Só que era impossível dizer não para Seryn, ainda mais quando
a vampira beijava todo o seu corpo.
As duas estavam na sala e quando o relógio batera 19h30 a campainha da casa tocou, ambas
levantaram, um pouco tensas. Mas já sabiam que era Oli que chegara, a vampira sentira a
presença dele, quando se aproximava.
Os ouvidos dos vampiros eram muito bons, outra coisa que Alex aprendeu durante a tarde e
Seryn conseguiu ouvir o bater das asas do vampiro quando se aproximava.
Foi Seryn quem abriu a porta e Alex se colocou logo atrás dela.
Ele estava com uma calça de linho, uma blusa social e um colete preto totalmente fechado. Em
sua mão esquerda estava segurando um grande livro, velho, com bordas amareladas e capa de
couro.
Na mão direita duas bolsas de sangue.
Oli olhou para o livro e através dos ombros de Seryn mirando Alex.
- Entre. – A garota o convidou, pois aprendera anteriormente que vampiros apenas entravam na
casa de humanos se fossem convidados.
- Eu tinha certeza que você era especial e eu tenho a prova disso, garota de olhos coloridos. –
Ele sorriu confiante, antes de dar o primeiro passo para dentro da casa da humana.
XVIII—
Os três sentaram no sofá e o livro estava aberto em uma página particular. Ele descansava
sobre a mesinha de madeira na frente deles.
Alex em particular encarava o livro com grande medo e curiosidade, estava estupefaça com
que acabara de ouvir do vampiro. A imagem da página amarelada a assustava demais. Uma
senhora encurvada com roupas pretas soltas segurando um cajado de madeira e no ponto
superior dele havia uma pequena chama tremulante. Uma senhora que aparentava ter mais de
70 anos com a face severa, mas com dois olhos grande e expressivos e o deixara Alex com a
boca seca fora.
A mesma senhora tinha olhos coloridos. Um verde e outro azul, praticamente da mesma
tonalidade dos da humana.
Logo abaixo da foto estava escrito com uma letra elegante, parecendo ser feita a mão.
Ester Solis, Guardadora do Clã.
- O que você quer dizer com isso, Oli? – Seryn perguntava seriamente hora fitando o vampiro,
hora a figura que era mostrado para eles A voz da vampira na cabeça de Alex estava longe,
parecia que ela estava sendo drenada para uma outra realidade. Uma realidade absurda que
teve vontade de rir, mas estava aturdida demais para fazer qualquer coisa.
- Há uma grande possibilidade de Alex ser uma bruxa. Eu diria quase certeza. – Ele falou
colocando o opositor e indicador no queixo, pensando nas mais esquisitas teorias.
- Seus pais nunca lhe disseram nada? – Oli perguntou para Alex, mas ela não o ouvia.
Seryn percebeu o estado em que sua humana estava e ficou com dúvida do que fazer. Afinal
não era sempre que dois vampiros conversavam sobre ela, como se ela não estivesse ali. Ou
que uma revelação bombástica como essa caísse em seu colo.
Seryn estava preocupada e resolveu tomar as rédeas da situação.
- Os pais dela morreram e a mãe de Alex tinha os mesmos olhos dessa mulher da foto, assim
como ela. – Seryn disse colocando a mão nas costas de sua humana e a acariciou levemente
suas costas. – Eles tinham um dizeres que achei estranho atrás da fotografia que vi no quarto
de Alex.
Nesse momento a garota de olhos coloridos olha para Seryn e franze o cenho, sem saber o que
dizer, mas de repente se sentira invadida. Como se sua intimidade tivesse sido violada sem sua
permissão.
- O que? – A voz de Alex saiu estranha de sua garganta, quando viu estava a ponto de chorar.
Seus olhos encheram de lagrimas e constante ardência atrás deles a incomodavam.
- Eu... – Seryn abriu a boca, ela queria dizer alguma coisa, mas não na frente de Oli, não queria
se sentir fraca e vulnerável. Então resolvera não falar nada.
- E o que dizia essa mensagem? – Oli incentivou querendo saber mais. Ele percebera a tensão e
o elefante que adentrava no espaço da sala, mas também por vez resolveu ignorar.
- As ameaças sempre serão constantes, mas sempre estaremos com você, nossos espíritos
viverão junto a você. Sinto muito, por você enfrentar o mundo sozinha. Você é o nosso Sol,
Alex. Amamos você... – Seryn foi repetindo palavra por palavra como se fosse um toca fitas,
com a voz constante e distante, porém a última palavra fora dita junto com Alex.
- Mamãe.
Oli fitou a humana e viu a tristeza e os olhos marejados. Ele assim como Seryn não sabia
direito como agir, então ele fez o que sabia fazer melhor, apresentou fatos.
- Solis é um nome bastante incomum, e que no caso significa sol, o que podemos interpretar
como luz e fogo. Essa mulher, sua mãe e você têm os mesmos olhos. E o seu cheiro, Alex, é
realmente diferente de tudo.
- Luz... – Seryn completou olhando para sua humana que continuava a encarar Oli, se negando
fitar a vampira.
- Mas como você pode ter tanta certeza?
- Qual era o nome de sua mãe? – Oli perguntou.
- Lau...ra – Ela falou com a voz trêmula, engolindo em seco.
Oli se esticou virando a próxima página, seus dedos longos e unhas afiadas começaram a
passar entre os parágrafos, até que ele parou no meio de uma frase.
- “... Com apenas uma filha, Ester deu a chance de sua primogênita fugir com um humano.
Antes que os seres das trevas os achassem. Laura era uma sangue limpo, que manipulava o
fogo e desistira de tudo para viver em paz..”
Alex sentiu sua cabeça rodar, ela não parecia estar no seu próprio corpo. Era como se estivesse
vendo tudo como uma espectadora. Seu coração batia fortemente contra os seus ouvidos e uma
forte náusea bateu como um soco em sua face.
- Alex... – Seryn disse fracamente fazendo menção em toca-la, mas em um último segundo a
sua humana desviou.
Alex levantou cambaleando, colocou a mão na testa e percebeu que estava suando frio. Ela não
estava acreditando no que acabara de ouvir, melhor ainda ela não queria acreditar.
Uma bruxa.... Como é possível? Como?
Ela queria gritar, queria chorar. Xingar seus pais e sua vó, pois ela estava sozinha. Toda sua
família fora morta, ela era só por causa dos seres das trevas.
Por causa de vampiros.
E a vida, como pode ser uma verdadeira puta, lhe deu de presente uma vampira rainha. Que
estava perdidamente apaixonada.
Seryn levantou, ela queria ir atrás de Alex, mesmo não sabendo o que falar ou como agir. De
repente uma vontade louca de abraça-la tomou conta do seu ser, entretanto algo a deteve, a
mão esguia e forte de Oli, foi quem a deteve.
- Não terminamos ainda.
- Eu preciso vê-la. – Seryn tentou parecer forte, mas em sua voz assim como seu olhar mostrou
levemente uma vulnerabilidade na qual Oli nunca vira na rainha.
- Seryn, eu sei, eu sei o que você sente por ela e devo dizer que estou quase com inveja. Pois,
nunca em toda minha existência sentira isso. – Ele disse polidamente. – Mas tenho que dizer,
vocês precisam sair daqui. Pois, eu tenho certeza que outros vampiros, ao menos os mais
velhos, sabem da existência de sua humana.
Ele respirou fundo e encolheu os ombros quando ouviu alguma porta bater fortemente.
- Ela está confusa, deve ter sido uma revelação e tanta. – Oli olhou para direção do quarto de
Alex e voltou a fitar novamente Seryn. – Escute, vão até a área dos Mortorios, eles não tomam
sangue humano e não irão se interessar por Alex. Temos que pensar em algo, enquanto isso
sugiro que fique lá.
- Entenda, Alex é uma das poucas em sua espécie. Eu tenho certeza que terão vampiros que
atacarão.
- Já atacaram. – Seryn disse rispidamente.
Ela estava começando a ficar com raiva, sua cólera e sua besta estavam já arranhar suas
entranhas. Seryn queria poder defender Alex de todos eles, matar todo vampiro que chegasse
meio metro perto dela. Alex era dela, sua humana. O sangue que corria nas veias de sua
humana também era dela.
- E quanto ao seu sangue? – Seryn perguntou tentando mostrar indiferença.
- Eu não sei o que pode ocorrer. Mas é algo relacionado a luz, a fogo, já que esse é o elemento
dela. Seryn, ele só te dará mais poder, o sangue dela não traz malefícios. O problema é que os
vampiros não conseguem parar, uma vez que experimentam.
- Está dizendo que eu posso prová-la? – A vampira sentiu sua boca secar e seus caninos
ameaçaram a descer.
O sangue de Alex não faria mal a ela, ao contrário, a faria ainda mais poderosa. E só do fato de
pensar que poderia se alimentar apenas das meninas de olhos coloridos a deixou com uma
sensação prazerosa no peito. Ela conseguiria facilmente viver só com o sangue de sua humana.
- Pode, mas o risco de você matá-la é enorme e pelo o que eu vejo você se importa com essa
humana, acho que prová-la ainda pode ser precipitado. – Oli apontou quase que obviamente
para Seryn e se admirou por ela não ter pensado nisso. Normalmente a vampira era puramente
analítica. Talvez, afinal realmente Seryn começava a descobrir o único sentimento no qual
quase nenhum vampiro sentia.
Amor.
Seryn sacudiu a cabeça isolando o pensamento que acabara de ter e concordou com o amigo.
Tudo o que ela poderia fazer é ir para área dos Mortorios e pensar num plano. Talvez até
mesmo encontrar outros bruxos para que possam aprender a como lidar com isso.
A última coisa que queria agora era ver Alex sem vida.
- Nós vamos. Eu preciso antes falar com ela. Me dê uns minutos. Sairemos o quanto antes.
Ligue para Felipe e peça para ele trazer a limosine, é o único carro que podemos dirigir caso
não cheguemos antes do sol nascer. A viagem vai ser um pouco longa. – Seryn ordenou e se
virou andando para o quarto de Alex. – Ah e roupas também.

Seryn abriu a porta e viu sua linda humana abraçando seus joelhos encolhida num canto do
quarto. Ela parecia tão pequena, tão vulnerável. Seu rosto estava escondido entre os cabelos
ruivos e seus olhos fechados bem apertados.
A vampira não sabia o que dizer, então ela fez o que achou que deveria fazer. Mostrar que
verdadeiramente se importa.
Seryn se aproximou com cuidado e se agachou do lado de Alex. Se sentando do seu lado, com
muita cautela reuniu a humana nos braços trazendo ela para seu colo.
Alex soluçou alto ao sentir o abraço forte da vampira, e o seu choro antes que era ponderado se
tornou mais alto. Ela empurrou levemente Seryn, mas a mesma continuou firme em sua volta.
Ela queria machucar a vampira por alguma razão. Talvez por raiva acumulada e confusão de
todos esses anos.
- Por que não me mata? Já que todos de sua espécie fizeram isso? – Alex disse roucamente
escondendo o rosto entre os seios de Seryn.
Ao mesmo tempo que ela queria ficar longe da vampira, uma estranha necessidade a queria por
perto.
Uma terrível dualidade. Pensou ela amargamente.
- Não posso, eu me importo demais com você, Alex. – Seryn falou seriamente, mas seu nariz
roçava levemente no cabelo ruivo de sua humana.
Seu cheiro era irresistível demais, seus caninos coçaram. Sua besta agora sabendo que a
vampira poderia provar o sangue da humana sem efeitos colaterais, se mexia dentro dela como
um leão enjaulado. Mas ela não faria isso, não com Alex.
- Eu estou com medo, eu sinto que toda minha vida foi uma mentira. Algo diferente em mim
despertou. Eu não sei dizer Seryn, só sei que estou com medo. – Alex disse entre soluços. –
Minha família morreu, por causa de vocês.
- Eu sinto muito. – Seryn disse sinceramente. – Isso não irá acontecer com você, Alex. Mas eu
preciso que me ajude.
Alex levantou a cabeça para fitar Seryn e a vampira respirou fundo, mesmo que sem
necessidade. O rosto de sua humana estava vermelho, assim como seus olhos. Um pequeno
corte em sua bochecha, superficial, mas foi o suficiente para que o sangue coagulasse ali.
Seryn olhou para o corte e seus caninos desceram automaticamente, estava tão entretida com
que o sofrimento de Alex que não sentira o cheiro ainda mais forte.
A garota se encolheu e o medo evidente passou em seus olhos.
Seryn apenas conseguia se concentrar no filete de sangue, ele era tão perfeitamente vermelho e
atrativo. Seu cheiro deixava as coisas ainda mais difíceis, eram tantas possibilidades naquelas
gotas de sangue. Que até mesmo seu centro de prazer se apertou, tudo em seu olhar agora
parecia só vermelho. Alex estava totalmente desfocada e o sangue a chamava.
Seryn passou a língua nas presas e suas narinas dilataram.
Deuses, essa garota é deliciosa. Seryn pensou fechando seu abraço ainda mais apertado em
Alex.
- Por favor Seryn.... Você prometeu. – A voz de Alex saiu tão triste, ao mesmo tempo tão
decepcionada com a rainha que tudo o que ela podia fazer era esperar pelo pior.
Afinal os seres das trevas vieram me pegar. Alex pensou amargurada, já aceitando seu próprio
destino.
Ela fechou os olhos e respirou fundo, entre um pequeno soluço. Sentiu os dedos de Seryn
passearem pelo seu corpo, até chegar em sua bochecha. Eles pararam em cima do pequeno
corte e a vampira passou o indicador.
- Eu prometo que não irei te machucar. – Seryn falou perto da orelha de Alex como um sopro
de vida.
A humana abriu os olhos e viu a vampira limpar seu dedo na própria veste. Suas presas ainda
estavam á mostra, assim como a evidente vontade de ter Alex, mas ela se opôs e se controlou.
- Seryn... – Alex enterrou a face no pescoço da vampira e soluçou mais uma vez.
- Nada vai acontecer com você. Mas eu preciso que você me escute.
Alex apenas sacudiu a cabeça.
- Temos que sair daqui. Uma área em que você esteja segura, ao menos até a gente pensar em
alguma coisa. Eu descobri que seu sangue não faz mal para nós e sim nos deixa mais forte. Só
que o seu sangue é tão bom, que nós não paramos e matamos vocês.
Alex estava apenas ouvindo o que a vampira começava a propor para ela.
- Vamos para a área do Mortorios, você tem que ficar a salvo. Daremos uma solução, Lex. –
Seryn usou novamente o apelido da sua humana e apertou ternamente em seu abraço. – Confie
em mim.
Alex novamente fitou os olhos azuis de Seryn e abaixou os ombros. Estava cansada demais
para debater, por que diabos tudo em sua vida era mais complicado? Já estava se acostumando
com a ideia de estar apaixonada por uma vampira, mas não esperava tudo isso. Não esperava
ser uma bruxa e que muito menos seu sangue, logo seu sangue, tão irresistível, a faria ser um
alvo ambulante.
- Vamos comigo, Alex. – Seryn pediu baixinho, num ronronar, roçando seus lábios contra os
de sua humana.
Alex se sentia frágil e fraca, ela não queria pensar nisso agora. Sua história era muito mais
complicada do sempre imaginou que seria.
Seryn sentiu os braços da garota enlaçarem seu pescoço e seus lábios tão prazerosamente se
juntaram contra o seu num beijo sôfrego e com dor, mas era a resposta necessária que a
vampira precisava.
Alex seguiria Seryn e a vampira protegeria sua humana nem que isso custasse sua própria
existência.
XIX -
Alex ainda não acreditava que estava na imensa limusine preta indo em direção ao
desconhecido, mas agora isso era a sua vida. Fugir para que ela não acabasse.
Ela sentia a trepidação leve do carro sob o asfalto, mantendo constante velocidade. Alex
respirou fundo e espichou seu olhar para ver algo através da janela, mas era escura demais para
enxergar qualquer coisa lá fora, a única coisa que conseguiu ver foi seu reflexo e ver ela
própria a assustou.
Seu rosto estava cansado, seus olhos vermelhos e um pouco fundos. Sua palidez tinha
aumentado e o rosado natural e brilhante de sua boca tinha se tornado opaco e mais claro. O
pequeno corte de sua bochecha já fechado, lhe trouxe ao menos algum conforto, um conforto
ilusório de que agora ela estava melhor. Sentiu o ombro frio de Seryn roçar contra o seu e seus
olhares se cruzaram num segundo.
Seryn ignorou a presença do outro vampiro no carro e sua mão passou pelos ombros de Alex, a
trazendo um pouco mais para perto. Ela confiava no seu amigo, entretanto, se sentia ameaçada
a todo o tempo, Alex era uma bruxa rara. Assim como ela, uma nobre, seu sangue puro e
mágico era poderoso demais para cair nas mãos erradas.
Um sentimento de possessão tomou conta da vampira, era como se a humana fosse
remanescente a ela.
Oli conseguia sentir a preocupação da vampira quase palpável. Não era para menos, o Mutano
a conhecia há 600 anos, ele a tinha praticamente como filha, mesmo que aparentemente eles
tivessem quase uma aproximação de idade. Porém, tudo o que ele aprendeu fora passado para
Seryn. Oli sentia orgulho da vampira que criou, mesmo que fria e calculista por muitas vezes.
Em geral, ela era absolutamente justa e fiel à sua Ordem. Se tivessem mais vampiros como
Seryn, com toda a certeza a sociedade vampiresca seria bem mais organizada.
Ele ficou surpreso ao ver a Rainha dos Altos caindo de paixão tão erroneamente por uma
humana, não apenas por uma humana qualquer. Uma bruxa que poderia lhe dar poderes
incríveis, mas como Oli pensava, Seryn era justa e não se aproveitaria da sua salvadora, ao
menos não agora. Não apaixonada por Alex Solis.
Oli estava sentado na frente de Seryn e da humana, ele reparou, estudando as duas mulheres,
que a vampira, quase imperceptivelmente, estava inclinada em direção de Alex. O cheiro dela
realmente era tentador, esperava sinceramente que os Mortorios não atacassem. Mas ele
conhecia o Rei Noah há muito tempo, assim como Seryn, e eles tinham uma confiança bilateral
muito forte.
- Como funcionam as áreas? Você disse que nós vamos para área dos Mortorios. O que isso
quer dizer? – Alex soltou sua voz rouca e cansada, mas sua curiosidade como sempre não a
fazia ela relaxar e mesmo com toda essa pressão achava o universo que Seryn a anexou
surpreendente. Além do que, Alex precisava se distrair.
Oli cruzou os braços e as pernas, movimentando a cabeça como um tique nervoso para trás,
tirando seu cabelo desgrenhado da frente de seus olhos. Ele levantou os olhos para fitar Seryn
a procura da explicação.
A vampira lambeu os lábios e desta vez se virou para Alex querendo prender totalmente seu
foco, mas seu braço ainda se apoiava nos ombros da humana. Ela passou a mão pela calça de
couro que acabara por trocar na casa de Alex e cruzou as pernas para que construísse um ar de
mistério e enigma.
Esse movimento pegou Alex, pois no mesmo segundo a humana piscou duas vezes
rapidamente e engoliu em seco. Cansada e esgotada do que encarou a algumas horas atrás, seu
coração pulou dentro do peito ao fitar a beleza da vampira. Como ela poderia esquecer que
Seryn era tão linda e enigmática, dura e áspera? Eram características que deveriam assustar
Alex, mas foram o conjunto delas que a fez estar ali hoje. Apaixonada por Seryn.
- Nosso país é formado por 6 regiões, cada uma delas são formados por um rei e uma rainha ou
por um rei ou por uma rainha. No meu caso, minha região é a do Sul, tem apenas eu de Rainha
dos Altos. Mas na região Sul temos reis e rainhas de cada ordem. – Seryn manteve a voz calma
e ininterrupta para explicar um pouco resumido o sistema de hierarquia dos vampiros.
- Quer dizer que em outra região tem outro rei ou rainha do Altos? – Alex indagou se sentindo
um pouco mais animada.
Era tudo muito fantástico para não ouvir o que Seryn tinha a dizer.
- Sim. Na Região Norte temos o Rei Caleb. Ele é rei dos Altos há mais de 800 anos. Um
conservador estúpido, mas consigo manter uma boa relação. Afinal, temos regras gerais de
todos os vampiros e regras dentro da própria Ordem. – Seryn continuou a falar ao perceber que
sua humana parecia recuperar levemente o brilho dos olhos coloridos.
- Isso é fantástico. – Alex ofereceu um sorriso para Seryn e logo em seguida olhou para Oli
que estava acenando com a cabeça, como se estivesse confirmando a história inteira.
- Você irá conhecer o rei e a rainha dos Mortorios do Sul. – Oli completou criando de repente a
vontade de participar da conversa.
- Exato, como eu já disse para você, eles não tomam sangue de humanos e lá ficaremos
seguros. Obviamente que teremos que pedir a permissão de ficar na área deles. – Seryn
apontou como se obrigatoriamente Alex já soubesse.
- Rei e Rainha? Eles são um casal? – Alex esticou as sobrancelhas para cima e arregalou os
olhos espantada. Já tinha ouvido dos lábios de Seryn que vampiros não eram tão
monogâmicos.
- Sim. Mortorios não experimentam sangues de humano, então as libidos deles se mantem em
níveis controláveis. Fazem quase 20 anos que eu não os vejo, porém, a última vez que os vi
pareciam felizes. – A vampira informou fitando Alex e uma vontade súbita de sorrir para a
humana surgiu, talvez fosse por sua animação e humor estivessem voltando aos poucos.
- Eles estão há 300 anos juntos. – Oli acrescentou com a informação que era completamente
desnecessária, mas pela reação de admiração notável de Alex, pareceu não ser tão inútil assim.
- 300 Anos. – Alex repetiu olhando para Seryn e sentiu suas têmporas e nuca esquentarem. – É
incrível, deve ser um amor lindo de se ver e sentir.
A vampira a fitou de volta e se perguntou se ela e Alex teriam algum futuro depois de que toda
essa confusão passasse. Afinal, elas poderiam morrer no processo, já que eram criaturas tão
diferentes e praticamente inimigos naturais. Alex era uma bruxa mortal e Seryn uma vampira
sedenta por seu sangue.
Eu seria capaz de transformá-la para tê-la do meu lado. Mas será que isso a mataria? Por
causa de seu sangue especial?
Era algo quase inevitável de pensar, mas seu desejo de manter Alex viva e protegida
aumentava cada vez mais. Assim como seus sentimentos perante a humana.
- Seryn? – Alex notou a confusão que se passava no olhar da vampira, calmamente ela colocou
a mão no joelho da Seryn e apertou.
- Não é nada, minha querida. – A vampira argumentou voltando para a conversa real.
Seryn olhou para Oli que observava a cena, mas em um pedido silencioso - que o vampiro
prontamente atendeu - acabou desviando os olhos para seu colo. Suas asas se mexeram e ele
escorreu um pouco mais para direita, evitando de ficar na frente das duas.
- Por que não descansa um pouco? – A vampira perguntou num tom baixo e íntimo. – Você
deve estar cansada e quando tivermos chegando eu te acordo.
- Mas, eu quero ficar com...
- Lex. – Seryn chamou pelo seu apelido, fazendo com que a humana praticamente derretesse
ante da vampira.
Quando Seryn falava seu apelido num tom rouco, Alex sentia seu coração bater mais rápido e
sua vontade de abraçar a vampira aumentava em um nível que lhe dava nervoso. Mas, não faria
tal coisa. A vampira não estava acostumada com toques assim, tão inesperados e doces, isso
poderia afastá-la. Ainda mais com Oli por perto.
- Você fica do meu lado? – Alex pediu se aproximando mais aos poucos se escondendo no
pescoço da vampira.
- Eu não irei a lugar algum. – Seryn afirmou, antes de beijar o templo da ruiva.
A vampira colocou a mão na nuca de Alex e a trouxe para perto, a humana descansou a cabeça
no ombro de Seryn e seu rosto quase roçando o pescoço frio. Alex colocou as pernas para cima
do estofado e se aconchegou ainda mais.
Gemeu baixinho quando sentiu os dedos longos de Seryn acariciando levemente seu coro
cabeludo. Pequenas descargas elétricas passaram por toda sua espinha e sua cabeça começou a
ficar mais pesada. Talvez ela não tivesse percebido o quanto o sono já estava presente.
- Promete me beijar amanhã? – Alex perguntou soltando um riso frouxo já com os olhos
fechados.
Seryn negou com a cabeça, mas suas palavras foram outras.
- Prometo. – Resumiu secamente.
- Noite Noite, Seryn. – Alex disse num murmúrio fraco.
Seryn não disse nada, apenas deixou a sua humana pegar no sono.

- Você realmente se importa com ela. – A voz de Oli surgiu 5 minutos depois após Alex
dormir, já ouvia o compasso do coração da humana calmo, assim como suas respirações
profundas.
O vampiro não perguntou, foi um fato que apresentou.
- Não é apenas por causa do sangue. – Seryn disse baixo evitando elevar sua voz, a última
coisa que queria agora era acordar sua humana. Alex merecia descansar depois de tudo que
passara.
- Eu sei. Você irá protegê-la, não é? Até o final. – Oli sabia que era uma pergunta imbecil de se
fazer, mas ele queria ouvir da boca da Rainha dos Altos.
- Sim. – Disse cortante.
- Eu admiro você. Essa história pode ser trágica e sabemos que a probabilidade dela...
- Não – Seryn trincou os dentes sentindo seus caninos coçarem, pois, sua cólera aumentara um
pouco. – Nada irá acontecer com ela, não enquanto eu existir.
- Ei, tudo bem... – Oli levantou as mãos como se tivesse sido rendido. – Eu estou do seu lado,
lembra? Eu sei que você quer a sua humana bem, vou tentar garantir isso para você. – O
vampiro disse sinceramente.
- Você sabe que não preciso da sua ajuda. – A vampira falou na defensiva e instintivamente
apertou Alex contra seu corpo de mármore.
- Eu sei, mas vou ajudar ainda assim. Eu me importo com você e me simpatizei com a tagarela
de sua humana. – Oli apontou com o queixo em direção a Alex que estava ressonando
pesadamente praticamente no colo de Seryn.
Seryn olhou para o Mutano e conseguiu enxergar que suas palavras eram verdadeiras. A
vampira acenou com a cabeça e ofereceu um mínimo sorriso de cumplicidade.

O carro onde estavam virou à esquerda, pegando uma via secundária, o asfalto fora substituído
por terra batida e as casas antes espaçadas, davam lugar a pequenos bosques. A noite estava
particularmente linda lá fora. Estrelada e com uma linda lua minguante. A lagoa á esquerda
trazia o frescor da madrugada e pequenos animais da natureza cantavam entre árvores e flores.
Seryn já sabia que estavam chegando e que provavelmente Noah já tinha conhecimento que
sua limusine tinha entrado em sua área. A vampira sentiu o carro diminuir a velocidade aos
poucos, até que finalmente houve a parada total dos motores.
- Já não era sem tempo. – Seryn resmungou com Alex deitada em seu colo.
Oli concordou silenciosamente com a vampira e se levantou ficando totalmente curvado para
abrir a porta.
Ao sair do carro, se esticou por completo, para que os músculos do seu corpo desfrouxassem.
Suas asas também se mexeram, tentando se organizar entre si. Oli odiava ficar sentado na
mesma posição durante muito tempo, suas asas reclamavam quase que constantemente.
O vampiro olhou para o terreno e se deu conta quanto tempo havia passado desde que tivera lá.
Um grande terreno adquirido pelo os Mortorios no século 18. Uma fazenda com um lindo
gramado e árvores distribuídas por lá com pequenos postes iluminando o local. Duas grandes
fileiras uma de cada lado com palmeiras que se seguiam até o grande casarão de dois andares.
Essa era uma casa que pertencia a um senhor de escravos e Noah, um grande guerreiro que se
transformara em vampiro, atacou o proprietário do terreno, libertando todos os escravos que
viviam ali e transformando aqueles que queriam.
Seryn saiu do carro carregando Alex em seu colo. Oli arqueou a sobrancelha ao ver a situação,
mas não disse absolutamente nada.
- Ela simplesmente não acorda. – Seryn argumentou se sentindo patética e se perguntando por
que diabos deu algum tipo de explicação para Oli.
Eles começaram a andar e Felipe também logo atrás deles.
Noah Roman esperava seus visitantes já na porta do casarão, vestido com uma manta branca e
com uma coroa de madeira fixada em sua careca negra. Seus olhos eram vermelhos, seu nariz
largo e sua boca grossa. Noah, o rei dos Mortorios, era um verdadeiro guerreiro. Alto e
musculoso, mas extremamente educado.
O cheiro forte e estranho tomou conta de sua narina. Um cheiro no qual não se lembrava de
onde sentiu da última vez. Mas quando viu Seryn andando entre as palmeiras percebeu que
tinha da humana que carregava em seu colo.
- Rei Noah. – Oli se aproximou primeiro e fez uma referência.
- Oli, Seryn. – O vampiro guerreiro falou polidamente abaixando levemente a cabeça.
- Noah. – Seryn o cumprimentou de volta.
- O que devo a visita? – O rei dos mortorios perguntou, olhando para a humana que ressonava
contra o peito da vampira.
Além de ter um cheiro único é linda.
- Uma longa história. – Oli interveio. – Mas precisamos de sua ajuda. Essa humana é especial e
aqui aparentemente é único local de salvamento dela.
- Humana especial? – Noah perguntou novamente com a voz grossa, enquanto coçava seu
queixo.
- Ela é uma bruxa. – Seryn resumiu. – Nós precisamos de abrigo... – A vampira respirou fundo
e fitou o vampiro negro em sua frente. – Por favor.
Noah piscou estatelado, conhecia Seryn há quase 400 anos e nunca vira tão abertamente como
agora, com o olhar tão carregado de preocupação como agora. Talvez a humana fosse especial,
mas especialmente para a vampira também.
Como eu me sinto em relação a Abigail. Noah pensou entre seus pensamentos e sua rainha
veio em sua memória.
- Claro. Ela é bem-vinda, assim como todos vocês. Arranjarei um quarto para sua humana e
para você, Seryn. Acho que quando ela acordar a primeira coisa que ela vai querer ver é você.
– Noah aconselhou com as mãos ligadas na frente do corpo. – Quando ela acordar amanhã
conversaremos. Mas vocês estão seguros aqui.
Noah era um vampiro altamente justo e quase bondoso. Ele se importava com os outros e com
os humanos, queria acreditar que todas as raças poderiam viver em paz. Uma verdadeira ilusão
que ele fazia questão de manter.
- Está certo. Obrigada. – Seryn acenou com a cabeça e seu nariz roçou levemente contra o
cabelo ruivo de Alex.
- Abigail acompanhará vocês e antes que me pergunte, tenho sangue para meus convidados.
- Eu estou faminto, devo dizer. – Oli se prontificou a falar jogando os cabelos rebeldes para
trás. – Nós esquecemos a bolsa de sangue na casa da humana.
- Venham, entrem e sejam bem-vindos. – Noah calmamente falou dando um passo para o lado.
Alex adormecida nos braços de Seryn, ainda nem sequer se movia. Estava cansada e com as
energias esgotadas, mas relaxou, pois sabia que a sua vampira estava ali.
XX—
Alex abriu os olhos em supetão, suas pupilas dilataram e encolheram se ajustando ao ambiente
que fora apresentado. Como se tivesse acabado de ter um pesadelo, olhou para parede branca e
a janela azulada de madeira. Ela não reconhecia esse local, prendeu a respiração e arregalou os
olhos, tentando se lembrar de como surgira ali. Deitada no quarto desconhecido, sentiu o peso
de uma mão fria no meio das duas costas e relaxou quando ouviu a voz rouca de sua vampira.
- Bom dia. – Seryn disse num tom baixo.
Alex virou a cabeça no travesseiro para encontrar a vampira deitada em seu lado com a cabeça
apoiada na mão.
Foi assim que as memórias de Alex foram voltando aos poucos e logo entendeu como chegara
ali. Estava no reino do Mortorios, fugindo do restante dos vampiros.
Alex era uma bruxa. Uma bruxa que tinha gosto de Sol e nem mesmo ela acreditava. Gostaria
que tudo isso fosse um sonho de mal gosto e que a qualquer hora ela pudesse acordar, a única
coisa desse sonho que Alex gostaria era Seryn. O resto tudo poderia simplesmente explodir.
Mas agora ela estava deitada em uma cama desconhecida, num reino que nunca vira antes em
sua vida e, o pior de tudo, na incerteza se amanhã ela estaria viva.
Alex se ajeitou chegando mais perto da vampira, não queria resistir, abraçou Seryn enterrando
a face entre os seios dela. Estava com medo, entretanto, incrivelmente, esse corpo de mármore
tinha o poder de lhe acalmar.
Seryn deixou a mão pendida no ar, sem saber ao certo o que fazer. Afeto ainda era algo novo
para ela, mas Alex precisava disso, sua humana era carinhosa e carente. Se fosse para afagá-la,
faria exatamente isso. Seu braço desceu para abraçar a forma compacta de Alex, trazendo-a
ainda mais para perto. Baixou seu nariz no topo da cabeça de Alex e inspirou seu perfume, não
o cheiro do seu sangue, mas sim o odor que a humana produzia e era ainda mais delicioso que
o cheiro do sangue.
Ouviu os batimentos do coração de Alex acalmarem aos poucos e sua respiração tornar-se
profunda, Seryn ainda não sabia como deixava a humana tão relaxada assim. Normalmente a
vampira deixava as pessoas com medo ou luxuriante. Porém, com Alex, algo inédito mais uma
vez acontecia.
- Você tem que comer alguma coisa e o Rei Noah quer te conhecer. – Seryn informou com os
lábios entre os fios ruivos de Alex. – Por que não tomamos um banho e descemos?
Alex concordou com a cabeça e sorriu contra os seios de Seryn.
O banho levou mais tempo do que era esperado. Seryn simplesmente não conseguia evitar a
boca e o sorriso exigente de Alex, o toque macio e quente era simplesmente demais para a
vampira ignorar. Alex queria se sentir protegida e ela estava ainda tensa, Seryn daria aquilo
que Alex precisava. Proteção e liberação.
Seryn desceu as escadas lambendo os lábios ainda sentindo o gosto de Alex e sua humana ao
seu lado apertava sua mão enquanto desciam os degraus. Olhava tudo com o mais absoluto
interesse e curiosidade, esticando a cabeça para descobrir qualquer coisa que pudesse lhe
chamar atenção.
E algo realmente lhe chamou a atenção. Dois vampiros. Ambos com coroas. Um rei e uma
rainha. Lindos, e assim com Seryn, absolutamente imponentes.
- Alex, esses são os Reis dos Mortorios. Rainha Abigail. – Seryn apontou para a mulher negra
em sua frente e a mesma acenou com a cabeça.
Alex a fitou e achou seus olhos bastante peculiares, sua íris era avermelhada e seu rosto
completamente harmônico, sua boca era cheia, pintada com um leve rosado, suas maçãs eram
levemente acentuadas e seu nariz um pouco longo e largo. Vestia uma túnica amarela com
detalhes dourados, juntamente acompanhado com um cinto que marcava bem sua cintura.
Usava um turbante de pano com cor predominantemente vermelha e amarela, ficando entre as
dobras do pano uma coroa de madeira que enfeitava como toque final seu traje.
Alex a achou completamente linda, uma das mais lindas que certamente já vira.
- E esse é o Rei Noah. – Seryn apontou para o vampiro que estava ao lado de Abigail,
segurando seu antebraço docemente.
Ele era um homem igualmente belo, forte e com toda certeza poderoso. Seus olhos também
eram avermelhados. Teve vontade de perguntar porque eles tinham essa cor diferenciada, mas
achou que não seria nem um pouco educado para um primeiro encontro. Fez uma nota mental,
onde mais tarde perguntaria para Seryn.
- Prazer em conhecê-los. – Alex apresentou um sorriso polido e se referenciou.
Abigail sorriu á maneira da menina e fez o mesmo gesto.
- O prazer é todo meu. – A rainha respondeu educadamente.
- Eu peço desculpas sobre ontem. Não tenho ideia como cheguei ao quarto, que aliás é
maravilhoso, obrigada pela hospedagem. – Alex foi falando um pouco rápido demais, de
repente se sentindo envergonhada pelo fato de perceber que estava em volta de três nobres.
Porém, a situação piorou quando Oli apareceu atrás dos dois reis. Corrigindo-se, 3 nobres e um
rei já reformado aparecera.
- Fico feliz que tenha gostado das acomodações, infelizmente temos poucos quartos no
casarão. – Abigail disse claramente desgostosa por ter dado essa informação.
- Eu entendo, Seryn nos colocou a par da situação em uma conversa resumida. Pelo o que ela
disse e por estar olhando para você agora, realmente é uma humana diferente. – Noah disse
analisando Alex com cuidado. Seu cheiro realmente era intenso e contrário do que já sentira.
- Por favor, vamos até a sala para que nós possamos conversar melhor. Aposto que também
está com fome. – Abigail tomou a frente de seu marido e sorriu para humana. – Nos
acompanhe.
Seryn colocou a mão no quadril de Alex e juntas seguiram os reis.
Oli as cumprimentou e suas asas se mexeram parecendo reforçar a saudação.
- Dormiu bem, Alex? – Oli perguntou casualmente enquanto andavam os três, lado a lado.
- Sim, Oli. Eu estava bastante cansada depois de ontem. – Alex respondeu olhando para o
vampiro alto, enquanto ao longe ouvia pequenas gotas de chuva cair contra as telhas do
casarão.
Alex viu quando Abgail olhou de perfil para ela ao ouvir suas palavras e novamente voltou a
olhar para frente.
Seryn possessivamente tinha o braço em volta do quadril de Alex, mesmo sabendo que
nenhum dos vampiros ali iriam atacá-la. Algo – talvez seu instinto - mandava ela o tempo
inteiro ficar em alerta. Agora que Alex era uma bruxa e sabiam do que o sangue dela era capaz
de fazer, qualquer um poderia se virar contra ela.
Alex se viu entrando numa espaçosa sala clara, com paredes de cores pastéis e grandes janelas
fechadas azuis marinhos, como a do quarto que estava. A mobília da sala era bem antiga, com
um pequeno armário fechado com portas de vidros e cada andar tinha pequenos bibelôs que
pareciam ser feitos à mão. Um sofá de três lugares e duas poltronas, com pés e braços feito de
madeira e o estofado com cores verdes. Entre eles, uma pequena mesa, onde uma bandeja de
sanduiches e sucos já estava posta.
Um lustre fixado ao teto que fazia a iluminação de toda a sala. Era como se Alex entrasse de
cabeça na história, o ambiente tinha um cheiro de mofo e jasmim, remetendo-a a algo antigo.
Como cheiro de casa de vó.
- Sentem-se. E Alex, fique à vontade, espero que a comida esteja de acordo com que está
acostumada a comer. – Abigail ofereceu, enquanto ela tomava o assento de uma das poltronas
e Noah se posicionava atrás dela.
Oli se sentou na outra poltrona de frente para Abigail e Alex e Seryn no sofá.
A vampira observou o olhar ansioso para comida e sabia que Alex estava com muita fome,
fazia tempo desde que sua humana comera alguma coisa.
- Coma, minha querida. – Seryn disse num tom baixo e íntimo.
Alex quase hesitantemente pegou um sanduiche de pasta de frango e o suco amarelado, que ao
levar para perto da boca, sentiu o cheiro de maracujá.
- Vejo que conseguiu descansar. – Noah perguntou, colocando as mãos para trás e ligou seus
dedos.
- Sim, eu precisava realmente de um descanso assim. – Alex disse, logo depois de engolir o
bolo alimentar que ainda estava um pouco grande. Ela o empurrou com o suco e sorriu. –
Obrigada por aceitarem a gente. Eu não sabia que estava correndo tanto perigo e bem, Seryn
também estava se arriscando demais. – A garota olhou para sua vampira e viu que a mesma
desviou seu olhar, talvez por estar envergonhada, Alex julgou.
Seryn se sentia um pouco incapaz por não conseguir defender sua humana. Mas nesse
momento ela não poderia medir esforços, e se isso acumulasse favores e dívidas para os
Mortorios então que seja.
Abigail olhou para a Rainha dos Altos e sorriu de lado quando seus olhos se cruzaram
rapidamente. A rainha dos Mortorios reparou que algo de diferente sobrevoava entre Seryn,
algo raro de se ver nos vampiros. Um sentimento no qual ela deve sorte de encontrar com
Noah. Seryn ainda não descobrira qual era, isso estava escrito em toda sua face, mas admirou
um pouco mais a vampira por defender tão impecavelmente sua humana. Pois, se ouvisse dizer
que a rainha dos Altos tivesse encontrado uma bruxa há alguns anos atrás, certamente a
humana não estaria viva. Seryn ansiava por poder, mesmo sendo justa, a rainha era implacável
em seu governo.
- Por que vocês não contam a história de como se conheceram? – Noah perguntou tentando não
parecer curiosos, mas no fundo queria saber como a rainha dos Altos tivera a sorte – ou talvez
o azar – de encontrar uma bruxa.
Alex ampliou seu sorriso e para logo em seguida morder seu lábio inferior.
- Posso contar? – A humana virou para Seryn um pouco animada demais, quase como uma
criança querendo contar um feito que achava histórico.
Seryn achou aquele gesto terno e sentiu a vontade de beijar seus lábios, obviamente que se
conteve. Acenou com a cabeça, aprovando o pedido da sua humana.
Alex contou de quando saiu do bar e encontrou Seryn largada na estrada. Como a levou para
casa pela persuasão da vampira. Nesse instante, a humana se virou para a vampira e enrugou os
olhos e a boca fingindo chateação.
Abigail obviamente sorriu, mal conhecia Alex e já se simpatizava com ela.
A humana falou dos ratos do desaparecimento de Seryn, onde pensava que a vampira era um
sonho. Colocando ressalves na qual a vampira nunca ouvira.
- Eu achava que ela era um sonho, uma mulher assim não poderia existir. Quero dizer, olhe
para ela. Seryn é basicamente uma mulher na qual qualquer pessoa ficaria encantado e,
francamente eu não sou o tipo que atraia mulheres assim. – Alex se encolheu um pouco ao
admitir isso em voz.
Colocou um pedaço grande de sanduiche na boca e viu que todos a olhavam com grande
interesse, principalmente Seryn, que apoiava a cabeça nos nós dos dedos e seu cotovelo
descansava no sofá.
Seryn gostou de ouvir o que Alex estava dizendo, descobriu que a sua humana tinha uma
admiração notável por ela. Algumas semanas atrás ela se vangloriaria por ouvir isso, diria que
era realmente tudo isso, porque acreditava que era. Mas com Alex falando era diferente, era
prazeroso em escutar.
Alex falou da visita á mansão e tanto Noah quanto Abigail pareceram surpresos ao ouvirem
que Seryn tinha levado sua humana para seu reino. Era muito raro um rei levar alguém para
suas mansões, foi a prova para o rei dos Mortorios de que Seryn realmente estava apaixonada
pela bruxa.
Seryn não disse absolutamente nada da morte do inútil de Pascal, continuou quieta deixando
apenas sua humana falar.
Alex disse da revelação de Oli e o Mortorio ao ouvir seu nome acenou, como se tivesse sido
pego culpado. Ela contou finalmente do livro.
- Solis? – Noah repetiu o sobrenome de Alex como se quisesse ter certeza que ouvira direito.
- Sim. – Seryn interveio e se mexeu no sofá, se colocando um pouco mais para frente e mais
próxima de Alex.
- Você é a última do seu clã. – Abigail afirmou.
- Pelo o que consta nos livros e Alex não tem nenhum familiar vivo. Sim. – Oli disse cruzando
os braços de baixo de seu peito definido.
- Você deve ser muito poderosa. Alex, realmente está correndo perigo. – Noah informou
levando a mão ao pomo de adão, onde apertou levemente.
- Rei Noah, conhece alguma coisa sobre os Solis? – A ruiva pediu quase como se tivesse com
medo da informação que iria receber.
- Infelizmente não. Os bruxos são reclusos demais, e o clã do Solis eram os piores.
Infelizmente foram mortos e dizimados rapidamente. – Noah voltou a contar o que sabia.
Alex encolheu os ombros sentindo um inesperável e incômodo calafrio e sentiu seus olhos
arderem. Sua família inteira morta por vampiros exatamente como esses que estavam sentados
em sua volta.
Seryn resolveu ignorar os olhares que certamente veriam a seguir, pois colocou seu braço em
volta dos ombros de Alex e a trouxe levemente para ela. A sua humana não pareceu protestar,
ao meio do processo de chegar em seu seio, Alex soltou um soluço reprimido.
- Eu sinto muito. – Abigail falou sinceramente, quase partilhando da dor da humana. Ela
perdera seus pais brutalmente, então entendia a dor de Alex.
- Nós não podemos ajudar muito, mas eu conheço um bruxo. Como somos Mortorios, eles
parecem confiar um pouco mais em nós. Eles são do Clã Naturea, em geral manipulam a terra.
– Noah disse tomando um passo para o lado, ainda massageando o seu pomo de adão. - Eu
posso mandar um dos meus vampiros entrarem em contato com eles. Normalmente nos
encontramos em um hotel ao leste daqui, nas margens da minha área. Porém, meu vampiro só
conseguirá voltar com a resposta daqui uns três dias. São quase 1 dia e meio para ir e para
voltar. Não acho que seja sábio levar um Mutano e um Alto para o terreno deles. Não quero
quebrar a confiança dos Naturea.
- Vo-cê conhece outros como eu? – Alex gaguejou - Sim. Eles são poucos, mas incríveis. Alex,
você não sabe do seu potencial, mas bruxos são criaturas formidáveis. Sinto muito por você
não ter crescido ao meio deles. – Noah afirmou num tom amistoso.
- Eles são confiáveis? – Seryn disse desconfiadamente apertando Alex contra ela.
- Seryn, eles são como eu. O que poderia acontecer? – Alex perguntou um pouco frustrada com
a indagação da vampira.
- Eu sinto muito, Alex. Mas eu tenho que ter certeza que estará bem para o encontro. – Seryn
continuou firme.
- Seryn tem razão, Alex. – A rainha dos Mortorios se pronunciou, concordando com a vampira
dos Altos. – Sua segurança se tornou o primeiro desafio, mas eu confio em Noah, se ele está
dizendo que são confiaveis.
- Então são. – Oli interrompeu se levantando e se esticou, um botão de seu colete apertado
abriu, mas ignorou o ocorrido.
- Pedirei imediatamente ao anoitecer dois vampiros para levar o recado que encontramos uma
semelhante a eles e pedirei que nos encontre no hotel. Creio que se tudo der certo, em cinco
dias você encontra com um bruxo, Alex.
- Está bem. – Alex concordou se sentindo um pouco mais forte, mas ainda assim se encontrava
no colo de Seryn.
- Nesse meio tempo, estarão seguros aqui conosco. – Abigail afirmou.
- Exato, e Seryn, se me permitir, gostaria de treinar sua humana de noite. Eu ainda tenho
punhos de prata. Acho que para a defesa dela seria ótimo. – Noah se direcionou para rainha
dos Altos.
- O que você acha? – Seryn abaixou os olhos para fitarem os coloridos de Alex que já
brilhavam ao ouvir a ideia.
Alex ficou com a coluna ereta sorriu.
- Eu adoraria, quero dizer, eu quero aprender a me defender. Além de poder ajudar Seryn
também.
- Você sabe que não preciso de ajuda. – A vampira cruzou os braços e as pernas, um pouco
irritada com a fala de sua humana.
Abgail olhou a cena e teve vontade de rir, porém apenas distribuiu um sorriso em seu rosto.
- Então prepara-se, pois ao anoitecer iremos treinar no campo lá fora. – Noah comunicou
ajeitando sua coroa que começava a escorregar de sua careca lustrosa.
- Isso será fantástico! – Alex disse animadamente, dando uma palma.
- Realmente será. – Seryn olhou sua humana e a reconstrução de seu humor e isso a deixou
feliz.
Feliz.
Uma palavra que não frequentava seu vocabulário, mas estranhamente era isso que sentia
quando estava ao redor de Alex e gostava de se manter nesse estado. Para isso continuar, sua
missão era deixar sua humana viva.
Alex Solis representava seu sol e aquilo mais puro dos últimos 600 anos de sua vida.
XXI -
As conversas deles se perduraram por mais duas horas.
Alex particularmente gostou da Rainha dos Mortorios. Uma mulher com íris avermelhadas e
um sorriso gentil nos lábios. Alex sentiu vontade de ser amiga daquela vampira, mas não
ousou a pensar de tal forma, pois sabia que seu futuro ali no reino dos Mortorios ainda era
incerto.
O ambiente era diferente dos Altos, mais alegre, os vampiros Mortorios eram mais gentis,
pareciam quase humanos. Não apenas pelas vestes simples, mas pelo andar mais
despreocupado e a gentileza que a cumprimentava a cada cômodo que passeava pelo casarão.
Alex, depois da conversa, pediu para conhecer os locais da casa e Abigail com um sorriso disse
que sim.
Por fim Oli, Seryn e Noah continuaram na sala e a rainha e a bruxa saíram pela exploração do
casarão.
Seryn observou quando a porta da sala fechou e as duas mulheres saíram do ambiente. A
vampira sentiu uma desagradável possessão no peito e de repente teve vontade de levantar e
correr para Alex, reafirmando para Abigail que a humana era dela, mas se deteve. Achava esse
tipo de pensamento irracional e sem qualquer sentindo. Alex estava com ela e Abigail apenas
gentil.
A Rainha dos Mortorios era justa, bondosa, não se alimentava de humanos e amava o seu rei.
Ela tinha que se habituar que sua humana era curiosa demais para ser contida, por fim se virou
para Noah que estava falando alguma coisa e apenas concordou com a cabeça.
- Isso é incrível, você é rainha. – Alex afirmou, mesmo parecendo quase um soar de pergunta.
- Sim, eu sou. Noah me fez rainha. – Abigail sorriu, enquanto andavam em passos preguiçosos
pelo primeiro andar do casarão - Como? – Desta vez isso foi uma pergunta.
- Ele me salvou e nos apaixonamos. – A rainha tentou ser objetiva, mesmo fazendo quase 200
anos, a memória vivida do sofrimento era bem real.
- Como eu e Seryn. – Alex soltou novamente sem pensar, seu maldito filtro entre sua boca e
cérebro sempre faltava quando ficava um pouco nervosa.
Abigail sorriu de canto e levantou uma de suas sobrancelhas, não surpresa pela fala da
humana, mas por sua espontaneidade.
Alex estava envergonhada por de repente se sentir ter sido pega em flagrante, abaixou o olhar
encarando seus sapatos e suas bochechas queimaram. Certamente suas bochechas ficaram
levemente avermelhadas denunciando sua timidez e desejou não ser tão branca o quanto
realmente era.
- Vejo que está apaixonada pela rainha. Uma vampira e uma bruxa. – Abigail apontou
espiando a humana, o seu coração acelerava e o cheiro de Alex aumentou consideravelmente.
Fazendo com que os caninos da rainha dos Mortorios coçassem.
Isso pegou Abigail de surpresa. Sacudiu a cabeça levemente e ignorou o cheiro que Alex
exalava.
- Escute, não fique assim. A gente não pode mandar em nossos sentimentos. Eu acho
maravilhoso, Seryn é uma vampira solitária. Vampiros em geral são assim. Eu a conheço faz
pouco tempo, mas sei que a rainha dos Altos é justa. Foi criada por Oli, não esperava menos.
- Eu sei. – Alex murmurou, ainda envergonhada, mas levantou os olhos para fitar a íris
vermelha da vampira. – Eu só espero que quando tudo isso acabar, ela continue comigo. Quero
dizer, eu sou apenas uma humana, dentre muitas. Eu vou envelhecer e ela continuará linda.
- Alex, você não é muito dentre muitas. – Abigail parou de repente e se colocou na frente de
Alex. Por pouco a humana não se chocou com a vampira.
Elas pararam muito perto uma da outra e a rainha colocou a mão no ombro direito de Alex.
- Eu vi... Seryn se importa com você. Ela pensará em tudo, eu tenho certeza. Vocês farão o que
for o melhor. – A vampira sorriu docemente antes de retomar a caminhar, onde começaram a
subir para o segundo andar.
- Será que posso fazer uma pergunta? – Alex indagou Abigail já chegando no topo da escada.
- Claro. – A vampira respondeu sem pestanejar.
- Isso pode soar meio mal-educado, mas por que vocês têm olhos vermelhos?
- Ah... – Abigail soltou um som na garganta e piscou algumas vezes dando ênfase na sua
retorica. – Nós não tomamos sangue humano, apenas animal. É uma consequência de
tomarmos apenas de animais, adquirimos olhos vermelhos. Além de sermos tolerantes a prata.
- Prata... Sim. – A voz de Alex se tornou apática, quando suas memórias a atraíram para dois
momentos ruins de sua vida.
O primeiro delas quando salvou Seryn das correntes e a segunda quando matou o vampiro.
Sentiu um arrepio desagradável pelo corpo, que fora percebido por Abigail.
- Você está bem? – A vampira perguntou preocupada levantando as mãos no ar estranhamente,
mas pronta para pegar Alex caso ela vacilasse e caísse no chão.
- Sim. Apenas lembranças. – Alex sorriu apaticamente e respirou fundo. – Então tomar sangue
animal lhe tornou mais forte? – Voltou a perguntar tentando isolar os pensamentos ruins que
lhe invadiam teimosamente.
- Apenas somos tolerantes a prata, perante a força dos vampiros somos inferiores. Mas
optamos por isso. Optamos por não usar a vida humana para continuar a nossa, entretando, a
Ordem dos Mortorios é a menor das Ordens. Muitos de nós acaba deserdando, por não
aguentar. Devo admitir que realmente é complicado.
- Mas vocês têm a vantagem da prata. Acho que no final cria-se uma balança, não é? – Alex
disse olhando para Abigail que olhava para o final do corredor pensando na resposta.
- Creio que tenha razão, Alex. Mas gosto de viver como estou. Tenho que confessar, seu
sangue realmente tem um cheiro único. Ele é tentador, muitos dos nossos vampiros devem
estar tentados. Mas ninguém aqui vai te atacar. Isso eu e Noah garantimos para você.
- Eu fico bastante aliviada com isso. Estou ficando cansada de ter um alvo gigante em minhas
costas. – Alex confessou num tom cansada.
- Eu compreendo você, mas como já disse aqui estará segura. E tens Seryn, ela é uma vampira
exemplar. Forte como poucos, ela não está fazendo isso só pela ameaça que representa pelo
desequilíbrio. Mas principalmente porque você sabe que Seryn está apaixonada por você. Algo
raro que acontece em nosso meio confie em mim.
As duas mulheres caminhavam em um corredor, até que Abigail parou em frente de uma porta.
Alex parou atrás da vampira enquanto observava a vampira rainha abrir a porta e se
surpreendeu com a sala que vira.
Uma incrível biblioteca particular, com mais diferentes volumes, tamanhos e grossuras de
livros. O cheiro da sala era de mofo com um toque de lavanda, uma mistura que Alex pensou
que poderia enjoar, mas não foi isso que aconteceu.
- Aqui estão vários livros sobre um pouco de nós vampiros e até mesmo de bruxos. Acho que
seria legal você pesquisar algo que queira descobrir. – Abigail disse, dando espaço para que
Alex entrasse na sala.
- Mas o que exatamente vou procurar? – A humana rodopiou com a cabeça levemente tombada
para trás, pois as prateleiras de livros acabavam no teto pálido.
- Eu não sei, mas acho que na hora que encontrar vai saber o que procura. – A rainha ofereceu,
docemente se apoiando no batente da porta e admirando o frescor da humana.

Seryn cruzava os braços de pé no canto da sala, observando Noah falar com um de seus
vampiros.
- Vocês irão assim que anoitecer. Eu preciso que encontre o bruxo Pablo e, de todos os
vampiros residentes na fazenda, são os únicos além de mim a conhecer o caminho para
encontrá-los.
- Sim, meu senhor. – Um dos vampiros acenou com a cabeça e levou a mão no peito. – O que
você deseja que faremos.
- Os bruxos não costumam vir no terreno de vampiro, avise-os que temos uma bruxa do Clã
Solis e se Pablo pode nos encontrar no hotel que sempre nos encontramos. Acho difícil ele
reclinar. – Noah continuou a falar, levando a mão até o pescoço onde apertou o pomo de adão.
- Leve Felipe com vocês. – Seryn interveio dando um passo à frente.
Noah virou a cabeça para encontrar o olhar da rainha dos Altos e levou alguns segundos para
finalmente concordar com um leve acenar.
- Nós não iremos usar a violência. – Noah comunicou mais para a vampira do que para os seus
próprios vampiros, mas no último segundo da fala se virou para os dois que estavam em sua
frente.
- Eu sei, mas Felipe é um súdito confiável, guerreiro, e com três vampiros indo a viagem pode
levar menos tempo, sem contar os imprevistos. – Seryn falou com tom autoritário.
Noah poderia ser até rei daquela área, mas a vampira era simplesmente dominadora demais,
para não opinar em decisões. Sem contar quando se tratava de Alex. Era quase impossível não
tomar ação quando o tópico principal de tudo aquilo era sua humana. Mesmo Noah ajudando –
o que ela seria eternamente grata – Seryn não admitia não ser a manipuladora principal da
situação.
- Levaremos Felipe, então. – Noah concordou. – Isso é tudo e obrigado pela compreensão de
vocês. – O vampiro se direcionou aos dois que estavam na sua frente.
O rei dos Mortorios odiava dar ordens, qualquer decisão que envolvia o reino, ele perguntava
para todos os seus semelhantes. Noah era o único vampiro das ordens que tentava tratar tudo
de maneira mais democrática. Ele viu o que Abigail sofreu na mão de alguém ditador, com
poder e jurou a si mesmo que não seria um rei assim. Fora um dos motivos que retirou a
palavra súdito do seu vocabulário, ali todos eram cidadãos iguais. Se aqueles vampiros em sua
frente quisessem negar o pedido do rei de ir atrás do bruxo Pablo, ele respeitaria e procuraria
os próximos vampiros. Até que alguém aceitasse. Por sua sorte, a grande maioria dos
Mortorios o respeitava.
Os dois vampiros se retiraram, deixando apenas Noah, Seryn e Oli dentro da sala.
Oli estava sentado na poltrona o tempo inteiro, calado sem pronunciar qualquer palavra
durante a reunião. Era algo que ele fazia, já fora Rei a anos atrás e algo que ele não sentia falta
era esse confronto constante, mesmo que indiretamente, entre Reis.
Oli ficava a observar, com os dedos enlaçados e com os cotovelos apoiados nos braços do sofá.
Uma vez e outra suas asas reclamavam e se mexiam, organizando-se entre si. Ele ainda se
perguntava o porquê se metera em tudo isso, mas se lembrava que amava Seryn, ou era algo
próximo do amor. Vampiros dificilmente sabiam diferenciar sentimentos, aliás, raiva era um
sentimento que eles conheciam bastante. Mas a rainha dos Altos fora criada por ele, mesmo
nunca tendo uma ligação real de sangue entre mestre e seguidor. Oli faria de tudo para ver
Seryn prevalecendo, pois era isso que um mestre faria, acabar com sua própria existência, se
possível.
- Fale com sua humana que ao anoitecer estarei a esperando lá fora. – Noah comunicou
virando todo o seu corpo para Seryn.
- Falarei.
- Ela e Abigail devem estar se dando bem. Minha rainha adora humanos. – O rei continuou
com um sorriso pequeno nos lábios ao pronunciar a palavra de sua esposa.
- Creio que sim. – Seryn descruzou os braços e jogou o cabelo castanho para trás.
- Por que não vai procurá-la, Seryn? – Oli perguntou se levantando. – Eu posso ficar com
Noah.
Seryn olhou para seu amigo e acenou com a cabeça, fazia algumas poucas horas que Alex
tinha partido porta a fora com Abigail para conhecer o casarão. Mas sua necessidade de ver sua
humana aumentava, era como se ela soubesse que a cada minuto que se passasse mais
aumentava o perigo sobre Alex. Consequentemente, mais perto ela queria ficar de sua humana.
- Tem certeza? – Seryn rebateu.
Ela queria ir para Alex, mas sua mente racionaria gritava para ficar todo instante ao lado de
Noah e Oli, participando assim de cada detalhe que pudesse aparecer sobre os planos que
envolvia o misterioso bruxo Pablo.
- Vá, eu sei como novos amantes são. – Noah disse cruzando os braços embaixo de seu peito
musculoso e um sorriso quase malicioso nasceu em seus lábios. – Lhe garanto que qualquer
novidade ou ideia que ocorra, você será avisada.
- Seryn, de todos nós, você é a maior interessada nisso tudo. – Oli se levantou e suas asas se
mexeram mais uma vez. Ele colocou as mãos nos bolsos preguiçosamente e deu de ombros. –
Nós estamos aqui, porque.... Por que diabos estamos aqui mesmo?
Desta vez nenhum dos vampiros se preveniram e os três riram em risadas contidas.
- Estamos aqui porque Oli é o que você tem mais próximo de família e eu, porque vejo que
você ama essa menina. Sou curioso também, quero ver onde tudo isso vai acabar. – Noah
tentou se explicar por ele e Oli.
Seryn tentou ignorar as palavras que foram ditas, mas o rei dos Mortorios não mentia. Ela
sabia disso.
A vampira saiu da sala e começou a caminhar pelos corredores e salões do casarão. Não era
difícil achar Alex, seu cheiro era como um rastro, então era simplesmente segui-lo. Subindo as
escadas Seryn com sua audição finíssima, podia ouvir sua humana conversar com Abgail.
Elas falavam sobre alguma coisa em relação ao fogo e como esse elemento poderia se
intensificar dentro dela. Montavam hipóteses de como seu poder poderia se manifestar.
Seryn não gostou muito de ouvir aquela conversa, era como se Alex estivesse fazendo algo
sem comunicá-la. A vampira queria que sua humana tivesse conversando esse assunto com ela
e não com uma Mortorio. Mas a vampira se controlou, ela tinha que aprender que a humana
não a pertencia, não como um objeto ou um súdito onde todos os passos eram perseguidos.
Alex era uma mulher livre que descobriria coisas novas a cada instante e Abigail apenas
aumenta sua perspectiva perante esse mundo que sua humana acabava de ser inserida.
Seryn parou no batente da porta da biblioteca e apoiou seu cotovelo ali. Observou ambas as
mulheres praticamente em cima de um livro grande.
Alex estava sentada na cadeira folheando as páginas do livro, lendo-o mais rápido possível,
enquanto Abigail ficava do seu lado em pé, levemente inclinada, com os olhos também fixos
nas linhas que as páginas apresentavam. Pareciam tão distraídas e fascinadas, com sorrisinhos
nos lábios, que nem sentiram a forte presença de Seryn na biblioteca.
- Interrompo algo? – A Rainha dos Altos se pronunciou.
Alex levantou os olhos da página e sentiu seu rosto inteiro queimar. Ela arregalou os olhos e se
endireitou na cadeira quase caindo do assento. Se não fosse por Abigail, a garota nesse instante
estaria estatelada no chão.
Seryn ergueu uma sobrancelha e cruzou os braços em baixo dos seios.
- Olá, Seryn. Estávamos procurando algo que talvez pudesse ajudar Alex a saber mais sobre
ela.
- Estou vendo. – A rainha dos Altos continuou caminhando devagar para dentro da biblioteca.-
Conseguiram encontrar alguma coisa?
Nesse momento, Alex se levantou e Abigail ficou ereta atrás dela.
- Ah, nada demais. É tudo meio confuso, algo como se tivesse que sair dentro de mim. Mas na
minha vida toda eu nunca senti isso. – Alex deu de ombros parecendo um pouco decepcionada
com suas descobertas.
- Uma explosão. Srta. Solis é do elemento fogo, uma representação do sol aqui na terra, então
para esse elemento se expandir, tem que haver algum tipo de explosão dentro dela. – Abigail
informou pegando o livro e o fechou levando até a prateleira próxima da janela. Colocou o
livro entre outros dois, sendo um que um deles em sua lombada dizia ―Lobisomem e suas
origens‖ e o outro ―Moby Dick‖.
Abigail nunca entendera a arrumação dos livros que eram expostos na biblioteca, na realidade
não havia nenhuma arrumação. Os livros eram guardados de qualquer maneira, sem seguir
nenhum tipo de lógica. Sendo por autor ou por temas, entretanto, no fim, os vampiros do
casarão sempre encontravam aquilo que procuravam.
- É um pouco frustrante. Não poder saber nada sobre mim. – Alex suspirou um tanto frustrada.
Seryn foi tomada por uma onda repentina de ternura e compartilhou do sentimento de sua
humana. A Rainha sabia como Alex se sentia, pois durante dias e dias a fio, após sua
transformação, se sentira assim. Perdida. Mas Alex passou anos assim, na ignorância e na
escuridão de sua verdadeira identidade. E talvez tenha descoberto da pior maneira possível.
- Mas eu sei que estou perto e tenho que agradecer a você. – Alex voltou a falar interrompendo
os pensamentos de Seryn.
A humana ignorou a presença de Abigail e abraçou Seryn pela cintura. Encostando sua
bochecha no peito da vampira.
Seryn fora pega de surpresa e seus braços ficaram estranhamente parados ao lado do seu corpo.
Olhou para Abigail e viu que a outra rainha desviou os olhos rapidamente. Seryn roçou seu
nariz no topo da cabeça de Alex e sentiu seu cheiro, novamente outra onda invadira seu corpo
e seus braços reuniram sua humana num abraço protetor.
- Estamos perto de descobrir sobre tudo, Alex. – Seryn falou baixo perto da orelha da garota. –
Eu prometo.
Abigail ouvia aquilo tudo, mas não ousou levantar os olhos. Era um momento onde as duas
partilhavam, um momento apenas que as duas poderiam partilhar. Ela conhecia esse
sentimento, pois o dividia com Noah. A Rainha dos Mortorios desejou que Seryn e Alex
terminassem bem, mesmo que sentisse que o futuro fatídico iria alcançar elas.
Elas eram perigosas demais juntas, eram como alvos ambulantes.
Abgail decidiu que as ajudaria, faria o seu impossível para que a bruxa e a vampira
partilhassem daquilo que mereciam.
XXII – Seryn esperou Alex agradecer mais uma vez Abigail pela gentileza que fizera por ter a
levado a um tour particular pelo casarão e principalmente pelas descobertas confusas que
fizeram juntas.
A rainha dos Altos caminhava pelo o longo corredor a caminho do quarto de hóspedes.
- Você realmente vai querer treinar com Noah mais tarde? – Seryn perguntou colocando sua
mão no meio das costas de Alex.
- Acho que sim, quero dizer, eu gostaria. Não quero me sentir tão indefesa assim perante toda a
situação. Quero poder te ajudar também.
- Você sabe que eu não preciso de ajuda, não é? Eu sou uma rainha. – Seryn se inclinou em
direção de sua humana roçando levemente seu nariz na têmpora da mesma.
Alex reprimiu um sorriso. É claro que Seryn iria lhe dar uma resposta cortante. Sua vampira
era independente demais para aceitar qualquer ajuda. Alex também tinha consciência que para
Seryn estar pedindo ajuda para os Mortorios, era que a situação era mais grave do que a
própria Alex poderia imaginar.
- Eu sei. Mas eu quero poder me defender também. – Alex argumentou se aproximando um
pouco mais de Seryn.
- Alex... – A vampira disse num suspiro parecendo um pouco irritada.
Seryn não queria que sua humana se arriscasse á toa, mesmo ela sendo um alvo constante.
Saber lutar ou punhar uma arma em mãos trazia consequências e perigos ainda maiores. Seryn
tinha receio, melhor, a vampira tinha medo de que a confiança de Alex aumentasse só porque
agora a humana poderia ter habilidades especiais.
- Eu prometo não me arriscar, está bem? Eu apenas não quero me sentir inútil. – Alex falou
num fio de voz, enquanto abria a porta do quarto de hóspedes.
Novamente fora pega de surpresa, quando sentiu Seryn a empurrar para parede mais próxima
da porta e seus corpos ficarem centímetros um contra o outro. Alex jurava que podia sentir o
calor que as duas proporcionavam com os corpos tão próximos, mesmo que Seryn tivesse a
pele fria e de mármore. Era como se a vampira tivesse algo a mais que substituísse tudo isso,
era um poder que só ela tinha.
Elas se fitaram por alguns instantes, Seryn esticou o braço e fechou a porta, mas o resto do seu
corpo continuou ali quase tocando Alex.
- Você não é inútil. Alex, você é longe disso. – A vampira falou num sussurro se aproximando
ainda mais de Alex.
Agora seus corpos se tocavam levemente e a perna de Seryn escorregou entre as de Alex.
- Você é aquilo que eu precisava. – Seryn continuou inclinando a cabeça levemente para
encontrar o pescoço quente e convidativo de Alex.
A vampira distribuiu pequenas mordidinhas por toda a extensão do pescoço, suas mãos
começavam a passear pela lateral do corpo de Alex e logo seus dedos exploravam o quadril da
garota por dentro da blusa.
- Seryn... – Alex não sabia o que dizer, a vampira derrubava todo seu raciocínio quando ela a
tocava dessa maneira. Quando as mãos de Seryn se prendiam em seu corpo, tudo o que a
garota queria era ser acariciada e se perder no que a vampira podia dar a ela.
A vampira beijou com fome evidente e com cuidado para não machucar sua humana,
entretanto, fora surpreendida quando Alex a virou. Agora era Seryn que estava contra a parede.
Alex sorriu dentro do beijo e começou a ondular levemente contra o centro da vampira. Seryn
grunhiu e fincou seus dedos no quadril de Alex a procura de mais contato.
A vampira levou um tempo para perceber que quem estava tomando conta da situação era
Alex, pois a mão exigente de sua humana já procurava o seu seio esquerdo.
- Alex... – Seryn chamou o nome da sua humana soando como um aviso. – O que você está
fazendo?
- Tocando em você. – A garota disse contra a pele do colo de Seryn e reafirmando a sua fala
apertando novamente o seio da vampira, desta vez mais languidamente.
- Você sabe que não é....
- Eu quero te tocar, deixa? Hm? – Alex pediu num ronronar que fez o centro de Seryn se
apertar e seu desejo pela humana aumentar.
Alex aproveitou que a vampira não dissera nada e continuou seu assalto. Suas mãos desceram
para tirar a blusa de Seryn com urgência.
- Lex. As coisas que você faz comigo. Você não tem ideia, não é mesmo? – A vampira mordeu
o lábio inferior e sentiu quando seus caninos estalaram e se alongaram. Estava começando a
ficar insuportável o seu acúmulo de desejo.
Alex desceu seus lábios pela barriga plana de Seryn, beijando, mordiscando e lambendo. A
garota podia ouvir um sussurro estrangulado da vampira e sua cabeça levemente tombada para
trás contra a parede. Alex se ajoelhou e começou a desabotoar a calça de couro da vampira.
O barulho do zíper fez com que Seryn olhasse para baixo e visse sua humana ajoelhada com os
lábios roçando sua calcinha de renda. Era uma imagem tão excitante que a vampira pensou que
poderia chegar ao prazer final só de olhar Alex tão entretida em lhe proporcionar desejo. Até
assim, com a postura dominadora, ela estava deliciosamente submissa a situação. Alex iria ter
Seryn de joelhos.
Deuses... Seryn não iria aguentar muito tempo.
E ela realmente aguentou, quando sentiu a boca gulosa e macia de Alex em seu centro.

- Alex? – Seryn a chamou gentilmente.


Ambas estavam deitadas na cama entre os lençóis desarrumados. Alex estava de bruços
ressonando pesadamente com a mão estendida no quadril da vampira. Suas costas cheias de
sardas estavam levemente arranhadas, culpa de Seryn que a arranhara após chegar ao clímax
contra a parede.
Porém, a vampira não ficou para trás. Logo que voltara em si Seryn levou sua humana para
cama e a fez gritar. Retribuindo exatamente o que Alex fizera com ela minutos atrás.
Elas ficaram ali depois, com Alex nos braços da vampira. Dividindo o silêncio que as duas
aproveitavam, até que finalmente a humana fechou os olhos sentindo o cansaço que o corpo de
repente lhe pesou e se pôs a dormir.
- Alex, Deuses, humana. Você é muito preguiçosa. – Seryn falou um pouco irritada. – Acorde,
Noah está a sua espera.
Tudo o que Alex fez foi se mover na cama e abraçar ainda mais a vampira.
- Não... – A garota reclamou, se esfregando contra o corpo de mármore de Seryn.
A vampira rodou os olhos, mas não pôde deixar doce o jeito que Alex inconscientemente
procurava o seu corpo para se aconchegar.
- Alex Solis. – Seryn disse o nome da menina ameaçadoramente. – Se você não levantar agora,
sofrerá severas consequências.
Alex se encolheu um pouco ao ouvir o tom de voz hostil da vampira, mas ela resolveu testar
um pouco mais Seryn.
- Não. – Alex falou novamente e se apertou mais contra a vampira escondendo seu rosto na
dobra do pescoço de Seryn.
Ela agitou as pernas como uma criança mimada e soltou um grunhido pela boca.
- Você pediu por isso. – A vampira avisou levando sua mão até a bunda de Alex. Onde deu um
tapa na polpa esquerda. Fraco o suficiente para não machucá-la, mas forte para marcar apenas
um pouco, deixando uma leve vermelhidão.
Rapidamente a cabeça de Alex surgiu na visão da vampira sua boca estava aberta formando
um pequeno ―O‖ e seus olhos arregalados. Seus cabelos estavam desgrenhados e seu rosto
marcado pelo travesseiro.
- Seryn!!
Alex sentiu seu rosto esquentar, não de raiva, mas um leve rubor pela ação tão inusitada que a
vampira causou.
- Eu te disse. – A rainha sorriu e virou levando Alex consigo, deixando a humana embaixo
dela. – Você tem que me obedecer, minha luz. – Seryn sorriu, beijando o pescoço de Alex.
- Eu?
- Sim, você. – Seryn disse num tom baixo e fitou os olhos coloridos de sua humana.
Deuses, ela é ainda mais linda quando acorda. A vampira pensou.
Alex correu com as pontas das unhas por toda extensão das costas nuas e musculosa de Seryn.
Seu peito inflou e seu coração foi tomado por uma sensação embaraçadora de ternura pela
vampira. Era uma palavra estranha para descrever o que estava sentindo, afinal, Alex estava
fitando uma mulher imortal e fatal, com sentimentos raros e ainda inexploráveis, mas Seryn
fazia ela sentir isso. Mesmo com todos os perigos cercando-a, quando ela olhava para a
vampira, o que ela sentia era proteção. Uma proteção absoluta e estranha.
- Eu não deveria dizer isso. Seu ego vai ser ainda mais inflamado do que já está. – Alex falou
enquanto suas unhas desciam e subiam pela pele das costas de Seryn.
A vampira não disse nada, apenas levantou uma de suas sobrancelhas e estudou com cuidado o
que a humana estava prestes a dizer. Apoiou seus cotovelos na cama acima de cada lado do
ombro de Alex, e ao sentir o toque tenro das mãos quentes de sua humana sua vontade foi
puramente de ficar ali, aproveitando cada segundo. Desejou prová-la naquele momento,
desejou ainda mais protegê-la e por uma fração de segundo desejou transformá-la.
– Eu realmente estou apaixonada por você, Seryn. Eu sei que para você pode soar estúpido,
mas...
- Não soa estúpido. – Seryn a interrompeu e sentiu o toque de Alex parar momentaneamente
no meio de suas costas.
- Não? – A garota perguntou com a voz falha, como se o que ela tivesse acabado de falar fosse
idiota o suficiente para ser dita em voz alta.
- Não, não é. – Seryn respondeu, ela desejou falar mais.
Entretanto, a vampira não conseguia verbalizar palavras que pudessem ter um cargo emocional
tão grande assim. Ela queria falar, mas, Deuses, Seryn era uma rainha. A rainha dos Altos, uma
vampira de 600 anos e viver em um clichê num emaranhado de sentimentos era muito
diferente do que tudo já vivera. Mesmo o que sentisse por Alex fosse recíproco, verbalizar isso
era muito complicado.
- Lex, eu... – Seryn tentou falar, mas ela hesitou e a vampira odiava isso. Essa falta de poder
que tinha quando Alex agia.
- Não precisa falar. – Alex sorriu docemente, colocando o dedo indicador na frente dos lábios
carnudos da vampira. – Eu sei, eu sinto isso.
Elas se entreolharam mais uma vez e Seryn viu os olhos de Alex com um brilho único, um
sopro de vida, algo que a própria vampira jamais tivera, nem mesmo quando estava mortal.
A vampira molhou os lábios e se abaixou para beijar a bochecha de Alex.
- Devemos ir, Noah já deve estar te esperando. – Seryn mudou de assunto, quebrando o elo que
criaram por alguns minutos, mas que sabia que ele sempre iria voltar. Afinal, quando ambas
estavam a sós, a vampira poderia mostrar um pouco de si mesma. Aprendendo assim se
permitir a ser vulnerável através do toque da sua humana.

- Eu não sabia que iriamos ter expectadores. – Alex murmurou, inclinando-se levemente em
direção a Seryn.
Ao chegarem à frente do casarão, Alex vira alguns vampiros sentados na varanda aberta e
outros na escada.
Noah estava na parte esquerda do gramado, em pé apenas com calças folgadas e sem camisa.
Sua pele negra brilhava contra a lua, dando um contraste incrivelmente belo.
Abigail estava sentada em um banco com as pernas cruzadas em lindo vestido amarelo e
vermelho. Seus cabelos crespos estavam livres e desciam livremente pelos ombros,
acompanhado com uma linda coroa de madeira orvalho, que ordenava o topo de sua cabeça.
Oli estava sentado na mesa ao lado de Abigail.
Alex se surpreendera que os vampiros daquele Ordens vestiam roupas casuais e não como as
Ordens dos Altos, que pareciam sair de uma capa de revista. Ou como Oli, que parecia se
vestir como um aristicrata dos anos 20. Afinal, não se sentira mal quando vestiu um short e
uma blusa de manga comprida para treinar com Noah.
- Estávamos a sua espera. – O rei se virou e Alex viu que segurava uma espécie de dois socos
ingleses na mão.
De repente, ela se sentiu retraída e se perguntou o que diabos ela fazia ali. Travou, ficando os
dois pés no chão e Seryn percebeu, pois a vampira parou ao lado dela e afitou.
- Aconteceu alguma coisa?
- Eu, eu não sei...
- Quer desistir? – Seryn perguntou com a voz baixa.
Alex sentiu a mão da vampira em seu ombro, onde ela apertou levemente reafirmando sua
pergunta.
Seryn sabia que Alex poderia sentir incerteza, mesmo sabendo que sua humana era corajosa,
ela era passiva demais. O único lapso de violência que tivera fora para salvar a existência da
vampira durante o ataque de noites passadas.
- Não. – Alex disse um pouco incerta, mas limpou a garganta e trincou o maxilar. – Não. –
Respondeu desta vez com mais firmeza.
- Tudo bem.
As duas voltaram a andar e Alex estendeu a mão quando viu que Noah fizera a mesma coisa,
lhe entregando os dois socos ingleses de prata.
- São pesados. – A garota afirmou estudando a arma que segurava nas mãos.
Ela se deu conta que Seryn deu um passo para o lado assim que pegara o soco. Alex percebeu
que aquilo poderia matar a vampira e por um momento se sentiu enojada de estar pegando tal
instrumento. Mas era para sua defesa e para a própria defesa de sua rainha.
Seryn acenou para Alex se distanciou indo em direção a Oli e Abigail.
- Isso será interessante. – Oli falou, cruzando os braços embaixo do peito e suas asas abriram
um pouco.
- Acredito que Alex vai conseguir aprender algo hoje. – Abigail olhou para Oli para logo em
seguida fitar Seryn. – Ela tem jeito, não tem?
Seryn estudou a Rainha e se virou para Noah e Alex, observando sua humana colocar os socos
ingleses em cada punho com cuidado. A vampira também cruzou os braços e colocou seu peso
apoiado em uma das pernas, jogando o quadril levemente para o lado.
- Alex pode nos surpreender. Ela está começando a entender o que ela é. – Seryn apontou.
- É verdade, ela mostrou-se mais respectiva hoje de manhã, pelo o que a rainha Abigail me
disse. – Oli esticou a coluna, para logo em seguida apoiar as mãos na mesa atrás do seu corpo
inclinando-se levemente para trás.
- Alex me informou disso também. A rainha Abigail a ajudou.
- Ela é uma boa humana, melhor dizendo, uma garota de coração bom. Algo raro de se ver hoje
entre a humanidade. Você teve sorte Srta. Savina.
Seryn não disse nada, sua atenção estava focada em Alex que atentamente ouvia as instruções
de Noah.
- Está bem. – A garota concordou liberando o ar pela boca, dando pulinhos e com suas mãos
nas laterais do corpo sacudindo-as levemente, como um lutador profissional.
Seryn rodou os olhos e ouviu uma risada abafada de Oli e Abigail.
- Ela é formidável. – O vampiro Mutano falou num tom mais animado. – Acho que você tem
razão, Abigail, Alex pode nos surpreender.
- Me dê um soco. – Noah ordenou. – Sem ataques surpresas ou coreografias. Apenas um soco.
Alex levantou os braços na altura de seu rosto e se colocou em sua base. O pé da direita na
frente e da esquerda atrás. A garota agradeceu silenciosamente pelos 3 anos que tivera lutando
Muay Thai, mesmo que indo apenas duas vezes na semana ela conseguira pegar uma boa base.
Noah tombou a cabeça levemente para o lado e ficou surpreso pela posição de luta da humana.
- Um soco? – Alex devolveu fazendo uma pergunta, ela ouvira bem o que o rei tinha dito a ela,
mas com todos ali a olhando com a pressão que começara a crescer sob seus ombros de uma
hora para outra. Sentiu-se nervosa e queria ter certeza não fazer besteira. – Onde?
- Sim, um soco e em qualquer lugar.
- Okay. – Alex falou nervosamente se aproximando aos poucos.
Ela chegou perto o suficiente de Noah, achando que a envergadura de seu braço esquerdo
alcançaria o rosto do vampiro de onde estava. Alex respirou fundo e virou o corpo levemente
para o lado esquerdo dando propulsão ao seu soco.
- Ela sabe o que está fazendo. – Seryn estudou o corpo de Alex preparado para atacar.
A vampira se surpreendeu com a sua humana, ela jamais esperaria que Alex pudesse saber ao
menos como dar um soco ou se preparar para uma luta, mas viu que estava enganada.
Alex então disparou seu punho contra o rosto de Noah e lhe deu um soco bem na face do
vampiro. Na hora ela sentiu o impacto contra algo maciço e sua mão doeu, irradiando por todo
o seu braço.
Noah virou o rosto, era um soco forte, mas que no final não fizera um efeito muito grande nele.
Talvez se fosse Oli ou Seryn em seu lugar, eles pudessem sentir mais. Iria ser um soco que
machucaria, talvez apenas os vampiros mais novos. Entretanto, o rei se surpreendera com a
força e a habilidade da humana.
- Ela realmente sabe. – Abigail falou dando uma pequena palminha de alegria.
- Aí, isso doeu muito! – Alex sentiu seus olhos arderem em lágrimas.
A garota levou seu punho até a barriga e o segurou, inclinando-se para frente.
- Foi um bom soco. Mas estamos apenas começando. – Noah avisou, massageando o maxilar
que fora atingindo em cheio.
- Eu sei, eu sei. Mas isso não foi o que eu esperava. – Alex reclamou novamente se pondo em
pé.
- Eu sei que não, mas estamos aqui para treinar, certo?
- Certo.
Seryn, Oli e Abigail começaram a observar a desenvoltura de Alex com os golpes que Noah a
ensinava. A rainha dos Altos estava realmente surpresa com o dom natural que sua humana
parecia ter, entre socos e chutes.
Reparava que Alex já estava suada e no meio do processo do treinamento fizera um rabo de
cavalo alto, acentuando ainda mais seu cheiro.
Seus caninos coçaram levemente e seus olhos rapidamente passearam pelos os outros
vampiros. Seu corpo já estava preparado caso alguém ousasse tocar Alex, mas se deu conta
que ali ninguém iria fazer tal coisa.
- Que tal testarmos algo? – Abigail perguntou, se pondo ao lado de Seryn.
- Testar?
- Sim, vamos ver se o poder de Alex pode expandir.
- Do que você está falando? A gente não sabe como fazer as habilidades dela se aflorarem.
- Bem, Abigail falou que os Solis são como o fogo e o sol, eles precisam de explosões. – Oli se
levantou também e fitou Alex se esforçando para acertar Noah, sem talvez muito sucesso, mas
com grande habilidade.
- Mas não sabemos como causar essas explosões. – Seryn disse um pouco impaciente.
- Bem, explosões acontecem quando estão sob pressão. Coloquemos ela sob pressão.
- O que? – Seryn virou para Oli de repente sentindo vontade de acertá-lo violentamente.
- Ele tem razão. - Abigail deu de ombros concordando com o vampiro Mutano.
- Mas o que? Nós nem sabemos como isso...
- Fácil, quando os vampiros te atacaram. Ela estava sob pressão e terminou com a existência
dele. – Oli relembrou do fatídico episódio. – Podemos supostamente machucar você. Com todo
o respeito.
- Oli? – Seryn franziu o cenho. – O que você quer dizer com isso?
- Posso lhe dar um soco? – Oli pediu e Seryn quase riu do pedido idiota de seu amigo. – Posso
lhe dar um soco? Eu quero provocar Alex, quero provocar a explosão. Vamos ver se vai dar
certo.
- Pode ser um pouco perigoso. – Abigail pareceu estar um pouco incerta agora.
Seryn estudou Oli e depois olhou para Alex, ela realmente queria conhecer o potencial que sua
humana tinha. Queria conhecer mais o que Alex poderia fazer, era uma descoberta que ela
tinha certeza que ambas queriam experimentar.
- Está bem. – Seryn concordou e assim que terminou de dizer as palavras sentiu o punho de Oli
contra o seu queixo, fazendo-a cair.
XXIII—
Tanto Noah quanto Alex pararam no meio de um golpe, quando ouviram algo batendo contra o
chão. Quando Alex viu a cena sentiu seu coração pular e a confusão invadiu sua mente como
uma nevoa.
Seryn estava se levantando aos poucos com a mão no queixo e Oli flutuando alguns
centímetros do chão com o braço levemente estendido.
Os vampiros em volta se levantaram e se posicionaram desconfiados, alarmados pela cena que
acabara de ocorrer.
- Ninguém se mexe. – Abigail anunciou.
Alex olhou confusa para a rainha e começou a respirar de maneira entrecortada, como qualquer
ar que puxasse para dentro do pulmão não fosse o suficiente para enchê-lo. Seu coração
martelava em seus ouvidos, era uma sensação ruim que percorria dentro dela e desejou não ter
visto o que acabara de ver.
Alex se perguntava o porquê Oli assaltaria Seryn dessa maneira, já que afinal eles eram como
uma família.
- Alex, eu não irei parar de socar Seryn, até você conseguir explodir. – Oli falou, enquanto
novamente colocava seus pés no chão. – Eu quero sentir o soco que você deu em Noah na
minha face, eu quero sentir o verdadeiro significado de um Solis.
- O que? Oli o que você está fazendo? – Alex andou alguns passos em direção a Seryn.
Ela queria alcançar a vampira e olhar o estado em que se encontrava. Porém, travou quando
Seryn a olhou com o lábio cortado e seus caninos já alongados. A vampira acenou com a
cabeça como se tivesse de acordo.
- Eu confio em você, Lex. Ele não vai me matar, só me bater. Me bater muito mal. – Seryn
sorriu quase que maliciosamente já aceitando o fato que iria sentir dor pelas próximas horas.
- NÃO! Não, Seryn. Eu... – Alex tentou argumentar alguma coisa, mas nada que pudesse falar
iria mudar a situação em que a colocaram.
- Talvez seja eficaz, Alex. – Noah disse chamando atenção da humana. – Escute, talvez seu
elemento seja assim. Você é o fogo, conhecido como a instabilidade e explosões. Você, Alex
se espalha e cresce de maneira desgovernada. Deixa isso crescer dentro de você. Ninguém irá
matar Seryn. Mas ela irá sentir dor, então aja sob pressão e faça alguma coisa.
- O que? Eu não... – Alex parou de falar quando novamente ouviu um baque surdo no chão e
viu Seryn sendo arremessada alguns metros à frente.
A garota sentiu seu peito novamente se apertar e seus punhos se fecharam. Ela não queria que
Seryn se machucasse mais.
- Vá! Confie, você é uma bruxa. Uma sangue puro entre os clãs. Se concentre na chama que a
dentro de você. Crie uma em sua mente e expanda ela, deixa-a queimar e consumir tudo. –
Noah falou seguramente tentando passar a melhor confiança possível que poderia para a
humana.
Ela o fitou e o Rei percebeu que seus olhos começaram a brilhar de maneira diferente, como se
Alex realmente tivesse conseguido projetar a chama dentro dela.
- Lembre-se que isso poderia ser verdade, concentre-se no fato que vocês são um alvo, que
Seryn poderia sair daqui com o final da existência.
Alex respirou fundo e saiu correndo em direção a Oli, mesmo não querendo e mesmo sabendo
que tudo isso era um teste, não queria ver Seryn ferida. Ela tinha que passar por isso, para
quando o real acontecesse, ela estaria pronta para isso.
A garota de olhos coloridos observou Oli ir novamente para cima de Seryn, Alex acelerou o
passo ainda mais e no último instante pulou em cima dele. Agarrando-o pelas costas e o socou
de maneira desajeitada, porém a pele do vampiro queimou sob o toque da prata.
Oli grunhiu e seus dentes se alongaram, não apenas os caninos superiores, mas os inferiores
também. Ele a pegou de suas costas e a jogou no chão.
Seryn trincou os dentes ao ver a cena e, mesmo tudo sendo o teste, teve vontade de não apenas
socar Oli, acabar com a existência dele. Ele tocara em sua humana e ela agora grunhia no chão
com o impacto que suas costas causara contra o gramado úmido.
Alex sentira medo quando fora lançada no chão e o mesmo tempo raiva. Raiva de não
conseguir lidar com Oli. Ela novamente sentiu seu coração se apertar quando o vampiro
Mutano pegou Seryn pelo colarinho e deu um tapa bem dado em sua cara. Um e depois outro.
Alex sentiu suas têmporas esquentarem e sua respiração se tornar mais rasa. Entretanto, algo
dentro do seu peito crescia, não era apenas o coração que batia dolorosamente, mas a chama
que conseguia criar na cabeça tomava proporções maiores.
Ela era o fogo, não era? Ela era a explosão, Alex era o incontrolável. Era isso que iria fazer, ser
incontrolável.
Assistiu o vampiro dar mais um tapa na face de Seryn e o incontrolável dentro dela cresceu.
- OLI!!! – A humana gritou de uma maneira tão primitiva que todos a olharam. Inclusive o
próprio vampiro que assaltava Seryn.
A Rainha dos Altos caíra de joelhos no chão, sentindo sua face inteira arder e o seu sangue
escorrendo através de seu queixo.
Oli se virou e viu Alex indo em direção a ele como um felino selvagem, seus olhos o miravam
com fúria e aversão. Ela perecia brilhar fracamente, não exatamente Alex, mas o seu entorno.
Emanando um calor diferente que já sentira. Os punhos da humana estavam fechados e Oli
ouvia o coração de Alex bater de maneira desordenada e forte. Muito forte.
Ele se surpreendera quando a humana usara o impulso da ponta dos pés e correra muito rápido
em sua direção. Quando piscou novamente, ela estava em sua frente e junto com ela um punho
literalmente brilhando em direção de seu rosto.
Oli não se defendeu e tentou amortecer o máximo daquele golpe, mas ele era poderoso.
Mesmo na situação que se encontrava, sabia que, se fosse um vampiro novo, sua existência
poderia ter acabado ali mesmo.
O Mutano sentiu seu corpo se projetar para trás, sua pele inteira do rosto queimava e quando
deu por si estava caído no chão com dificuldade para levantar.
Seryn observou aquilo estupefata, suas dores já não a incomodavam. Tudo o que ela conseguia
ver era Alex emanando aquela energia, como o sol. Quente e brilhante. Seu cheiro estava ainda
mais acentuado e seu impulso imediato fora atacar sua própria humana, mas isso mudou
quando novamente observou Alex indo em direção de Oli. Sua humana não parecia ser ela e
sim algum ser magnifico e poderoso. Sua intuição dizia que se Alex chegasse mais uma vez
perto do Mutano iria matá-lo e ninguém a deteria.
- Explosão. Incontrolável. Fogo. O que eu fiz? – Ela murmurou para si mesma. – Noah!!!
Detenha.
O rei dos Mortorios extasiado com a cena não se mexera e quem fez isso foi Abigail que
parecia ter intendido o recado.
Com sua velocidade sobrehumana a rainha conseguiu chegar a tempo do segundo assalto de
Alex. Abraçou-a por trás, envolvendo a humana juntamente com os braços junto ao corpo.
Alex estava sentindo seu corpo queimar, ela sabia que Oli estava ali apenas para testá-la. Que
Seryn mesmo machucada, não se machucou realmente. Mas, algo queimava dentro dela. A
chama a consumia aos poucos, ela só queria acreditar que Seryn estava em perigo real e matar
Oli, colocar suas mãos em volta do pescoço do Mutano. Entretanto, seu pensamento foi
cortado quando sentiu o abraço de alguém atrás dela.
- Alex... – A humana reconheceu a voz.
Era a voz doce de Abigail, no meio de todo aquele fogo, reconhecera a voz de sua nova amiga.
- Eu... – Alex falou com a voz trêmula.
Seus olhos caíram ao chão e ela tentou se controlar, a vontade de acertar Oli não diminuiu.
Aquela dor e aquele fogo estavam consumindo ela. O errado era que ela estava gostando,
mesmo doloroso, era um sentimento de empoderamento - Lex... – Ela reconhecera essa voz
também.
Seryn.
- Eu confio em você, Lex. Foi um erro e eu sinto muito. – A voz rouca e gélida da vampira
preenchera seus ouvidos.
Ela sentia os braços ainda envoltos nela e um novo toque ainda mais conhecido a segurou. Os
dedos de Seryn a seguravam levemente pelo rosto.
Alex levantou os olhos e viu a vampira em sua frente, mas era como se ela estivesse através de
um vidro fosco. Onde, Seryn mesmo perto, era impossível alcançá-la.
- Eu estou bem. Oli está...
- Oli! – Alex pronunciou o nome do Mutano como se fosse um rugido.
Seryn e Abigail se entreolharam nesse instante e concordaram naquele instante que o que
fizeram foi um erro e um martírio para a própria menina.
A rainha dos Altos queria estar no lugar de Alex nesse momento. Fora um ato egoísta dos
vampiros de querer ver sua humana em sua inteira capacidade.
- Ele está bem. Escute, Lex. Eu estou aqui, eu estou bem. Volte está bem, foi um erro, eu sinto
muito. – Seryn voltou a dizer, fitando os olhos coloridos que estavam perdidos.
- Seryn... – Alex falou, cansada.
A chama a consumia, mesmo ela gostando da sensação, era demais para aguentar muito tempo.
Parecia que toda energia estava sendo drenada do seu corpo.
- Eu estou aqui, volte para mim. - Seryn tomou um passo à frente e se inclinou – Eu também
estou... Eu estou apaixonada por você. – A vampira ignorou qualquer um que pudesse estar
ouvindo, ela só queria que sua humana voltasse.
Seryn então completou o espaço que faltava e selou seus lábios contra os de Alex.
A garota sentiu a boca bem-vinda da vampira e era como se tudo rapidamente se acalmasse, e a
chama se apaziguou quase que instantaneamente. Ela parecia mais controlável agora e Alex se
sentiu capaz de mandar na bagunça que acontecia dentro dela.
Alex voltava aos poucos e Abigail parecia perceber pois também aos poucos a soltava do seu
abraço. Quando finalmente estava livre a garota se jogou nos braços de Seryn que, sem
pestanejar, aceitou o corpo compacto de sua humana.
- Desculpe. O que fizemos aqui não foi bom para você. – A vampira escondeu seus lábios nos
cabelos ruivos de Alex, mas seus olhos se fixaram em Abigail e Noah, que caminhava em
direção a elas.
Abigail abraçou seu próprio corpo e sua boca se mexeu, formando a palavra desculpas. Seryn
apenas acenou e fechou os olhos sentindo a fragrância de sua humana.
- Eu não queria fazer isso Seryn, eu machuquei o Oli. – Alex disse entre soluços engasgados.
- Ele está bem. Olhe por você mesmo. – Seryn falou docemente, e com cuidado saiu do abraço
de Alex.
A garota abriu os olhos e piscou algumas vezes tirando o acúmulo de lágrimas que se
prendiam. Ela viu Oli já em pé, com a mão em seu rosto e seus dedos estavam pintados de
sangue no qual ela fora responsável. Seu corpo ficou tenso por um momento, mas ao sentir a
mão de Seryn em suas costas, conseguiu relaxar.
Oli caminhou até elas e sorriu brevemente.
- Foi um baita de um soco, mas eu estou bem. Eu sinto muito se nós fizemos com que você
perdesse o controle. – O vampiro disse seriamente, enquanto suas asas se mexiam um pouco
atrapalhadas.
- Sim, Alex.... Nós sentimentos muito. – A voz de Abigail veio de trás fazendo com que Alex
se virasse.
Abigail ainda se abraçava com o olhar carregado de culpa e Noah se colocou atrás dela,
depositando suas grandes mãos nos ombros de sua mulher.
- Tudo bem, eu simplesmente não conseguia me controlar, é algo muito forte. Um sentimento
doloroso, mas poderoso. – Alex tentou argumentar ainda com os sentimentos desordenados
dentro dela.
- Por que não esquecemos isso? O melhor realmente é esperarmos seu contato com o bruxo
Pablo. Eu comecei tudo isso, por querer te treinar. Eu me sinto responsável, por tudo isso. –
Noah adicionou com a voz um pouco dura.
- Noah, eu mesma queria isso. Foi um erro, eu gostei do treino, de verdade. Acho que posso
me defender sem usar a chama dentro de mim. – Alex voltou a falar, enquanto tirava os socos
ingleses de seu punho.
- Eu quero que fique com eles, mesmo não usando suas habilidades seu soco é forte e com isso
você pode se defender. – Noah argumentou, apontando para os socos.
- Está bem. – A garota falou, segurando a arma com a mão esquerda, enquanto seu braço
circulava á cintura de Seryn a procura de apoio.
- Por que não nos alimentamos? Creio que principalmente Alex estava faminta. Já Seryn e Oli
posso lhe dar dois copos, para recuperarem a energia e seus ferimentos. – Abigail sugeriu com
a voz mais firme e doce.
- Eu gostaria muito de comer, estou realmente faminta, por que não comemos aqui fora? A
noite realmente está linda. – Alex perguntou olhando para Abigail e logo depois para Seryn,
como se de alguma maneira estivesse pedindo permissão para tal pedido.
A rainha dos Altos acenou com a cabeça positivamente, depois de hoje Seryn faria
absolutamente qualquer coisa para agradar sua humana.
- Eu acho uma excelente ideia. – Abigail concordou com um sorriso brilhante. – Irei pedir para
fazer um prato maravilhoso para você, Alex.
- Que bom, porque estou faminta. – A garota de olhos coloridos estava tentando o máximo tirar
aquele clima que se construiu de maneira tão absurdamente rápida. Alex queria voltar a
sensação de protegida como horas antes.
Abigail sorriu e Noah também. Alex sentiu a mão de Seryn em seu ombro e ela novamente
olhou para a vampira. Seu queixo ainda estava levemente sujo de sangue e se perguntou se sua
própria boca estava também, já que beijara Seryn.
Seryn percebeu a mudança de Alex e se inclinou levemente em direção de sua humana.
- Você está bem agora. – Reafirmou mais uma vez a rainha dos Altos.

Todos estavam sentados na mesa do jardim.


Alex tinha em sua frente um grande prato raso com uma linda peça de salmão e um delicioso
molho de maracujá com arroz. Logo depois da primeira garfada, a garota esquecera dos bons
modos, além da fome o prato estava delicioso e rapidamente comia uma porção atrás da outra.
Enquanto isso, Seryn e Oli tomavam um cálice cada um de sangue humano, já não era tão
fresco. Mas o suficiente para se alimentarem e Alex parar com o garfo no suspenso no meio do
ar com a boca aberta ao observar os ferimentos de ambos om vampiros se curarem.
Abigail, que estava do seu lado, e Noah bebericavam em um copo simples de vidro, o sangue
viscoso ali era de animal. Alex poderia até se sentir um pouco enojada com todo a situação,
porém ela já estava se acostumando com isso e era algo que começava a ficar corriqueiro. Para
sua saúde mental, imaginava que estavam a beber suco de groselha, mesmo o cheiro metálico
por vezes invadido suas narinas.
Seryn observava Alex entre as garfadas, enquanto ouvia as explicações de Noah sobre alguma
missão que tivera a muito tempo atrás, onde teve que desaparecer entre os países gelados
durante 6 meses de escuridão. Ela conseguia ouvir o rei e acenar para ele, mas sua atenção e
preocupação ficava inteiramente com Alex.
- Já esteve por lá, Seryn? – Noah indagou.
- Sim, mais já fazem 50 anos.
Alex olhou para Seryn e se engasgou. Colocou a mão na frente da boca e tossiu.
- Espinha? – Abigail perguntou colocando a mão nas costas de Alex.
- Não. – Alex sacudiu a cabeça rápido. – Deus, ás vezes eu esqueço que 50 anos para vocês
não são nada.
Oli riu baixo e balançou a cabeça concordando com Alex.
- Não se admire se um dia encontrar um vampiro e ele não saber em que ano estamos. – O
vampiro Mutano explicou.
- Tempo é bastante relativo para nós, Alex. É algo que não vemos passar, acho que é por isso
que é muito difícil nos relacionar com humanos. – Noah prosseguiu colocando os cotovelos
apoiados na mesa, enquanto suas mãos seguravam o copo suspenso no ar.
Alex olhou para baixo e suspirou um pouco decepcionada.
- Eu sou passageira. – A humana argumentou encarando o prato de comida quase vazio.
- De forma alguma. – Seryn falou rapidamente.
Alex voltou os olhos para cima e fitou a vampira que estava na sua frente.
- Mas 50 anos para vocês não significam absolutamente nada. Para quem tem 600 anos de
existência ou talvez 1000 anos como o senhor Oli aqui. – Alex apontou com a cabeça para o
Mutano.
- Mas o que vale ter 600 ou 1000 anos de existência se você não der importância para ele? –
Abigail argumentou. – Alex, muitos vampiros não dão importância para as próprias
existências, pois nada mais é surpreendente para nós.
- Hmm. – Oli concordou com a cabeça e com a boca cheia de sangue. Ele engoliu e abriu a
boca para recomeçar sua fala. – Isso a Rainha dos Mortorios tem toda a razão. Suas
descobertas, Alex, foram surpreendentes para você e isso foi o suficiente para eu conseguir
sentir esse gosto que há muito tempo não sentia. Acho que é um dos motivos de estar aqui,
ajudando vocês. Suas surpresas e fascínio pelo novo é incrível.
- Absolutamente incrível. – Seryn adicionou, fitando Alex e junto a fala adicionou um mínimo
sorriso.
- Mas vocês são incríveis. Quero dizer, vocês são fortes, ágeis e definitivamente até agora não
vi nenhum vampiro que seja feio. – Alex riu fracamente.
- Obrigada pelo elogio, Alex. – Noah falou francamente. – Mas quando viramos vampiros,
nossos corpos modificam um pouco. Nossos defeitos vão embora e melhoramos.
- Como se fosse um upgrade. Uma versão melhor e mais atualizada de quando éramos
humanos. - Alex disse colocando seu garfo no prato para pegar o copo que estava com um
delicioso suco de manga.
- Sim. Exatamente isso. – Noah concordou, balançando a cabeça.
Alex terminou sua refeição, já se sentindo mais forte e animada. Ficou com vontade de passear
pelo o grande jardim do casarão. Era um lugar muito bonito para não conhecer, perguntou por
fim se ela poderia dar uma volta com Seryn pelo local e Noah concedeu com um sorriso no
rosto.
Agora ambas se distanciavam um pouco da mesa, onde os outros três vampiros ficaram, elas
andavam com os sapatos sobre o gramado e o farfalha que reproduzia era quase um calmante
para Alex. O som dos pequenos insetos e corujas que piavam entre as árvores depois do
jardim, fez com que a humana desejasse ter aquilo em sua vida diariamente. Sem confusões,
alvos ou bar.
Merda, o bar.
Com essa confusão toda esquecera de Lucius, seu amigo deveria estar desesperado atrás dela.
Fez uma nota mental que assim que entrassem ligaria para o amigo. Não era do seu feitio sumir
desse jeito sem dar satisfação para o seu amigo. Afinal, por muito anos ele fora sua única
família.
- Está melhor agora? – Seryn indagou, despertando sua humana do raciocínio.
- Sim. Aquele prato estava delicioso.
- Às vezes me pergunto se você se transformasse em vampira e fosse da Ordem dos Mutanos,
provavelmente você teria características de uma panda. – Seryn zombou de Alex com um
sorriso malicioso nos lábios.
- Ei!! – Alex fingiu estar ofendida, aproveitando para dar um leve tapa no braço da vampira.
As duas sorriram e se fitaram por uns instantes.
- Seryn?
- Sim, Alex.
- Você pensa em me transformar?
Seryn fez menção de abrir a boca, mas quando fez isso ouviu o berro de Abigail.
- ESTAMOS SENDO ATACADOS!
XXIV – Seryn se virou e se deparou com vampiros da Ordem dos Insolentes e os híbridos. A
escória de sua sociedade.
Noah lutava com dois ao mesmo tempo, o vampiro negro era praticamente um armário e não
demorou muito para ele conseguir se livrar de ambos.
Abigail tirou uma adaga de seu vestido e lutava com um Insolente bravamente, já Oli levava
um hibrido para o alto com suas asas batendo ferozmente.
Os outros vampiros das Ordens dos Mortorios se engalfinhavam com outros.
Seryn viu aquele pandemônio e por um instante foi como tivesse sido transportada para algum
filme de ação que passava em cinemas.
- Deus. – A vampira ouviu Alex protestar atrás dela. – Será que isso nunca vai acabar?
Seryn se virou para argumentar com sua humana. Ela partilhava da mesma reclamação.
Gostaria de enxergar na próxima esquina um futuro breve, onde não precisasse viver com a
cólera sempre em níveis altos. Chegou a pensar na morbidez de semanas atrás, quase sentiu
falta. Entretanto, quando fitou os olhos verdes e azuis de Alex decidiu para si mesma que
realmente tudo valia a pena.
Seryn abriu a boca, porém fora interrompida por um vampiro híbrido gigantesco que a atacou
por trás.
A vampira conseguiu dar uma cotovelada na barriga do vampiro e num movimento preciso e
rápido, se colocou atrás dele. Seryn o empurrou e o mesmo caiu de joelhos. A vampira apoiou
sua bota de salto entre as omoplatas do hibrido e puxou os braços para trás com muita força.
- Corra para o casarão agora! – Seryn ordenou encarando os olhos assustados de Alex.
A garota assistia aquela violência com estupor. Seryn tentava arrancar os braços do vampiro –
que gritava de desespero e dor evidente.
- Agora, ALEX! – Seryn esbravejou sob os gritos de desespero do híbrido.
Alex balançou a cabeça, saindo do estado estranho de inércia, e se pôs a correr, mesmo que
tivesse quase a certeza que cada passada que dava seus pés se prendiam mais contra o chão.
Como se raízes a pegassem.
Alex corria muito rápido se abaixando e protegendo sua cabeça com os braços quando algum
vampiro tentava chegar até ela.
No último instante, virou seu corpo e foi em direção a mesa, onde minutos antes estava
tomando um delicioso jantar. Alex tinha deixado seus socos inglês de prata na superfície da
mesa.
Ela então conseguiu os apanhar e logo os fixou entre os seus dedos.
Alex olhou para o lado e percebeu que um vampiro vinha em sua direção.
Sua cabeça não conseguiu analisar o perigo direito, tudo o que ela fez foi pular sobre a mesa,
pisando desajeitadamente na superfície de madeira e num solavanco saltou para o outro lado.
Colocou-se a correr de novo, estava na esperança que talvez chegasse até a porta do casarão.
Mas Alex nunca fora boa em matemática e era claro que os cálculos dela estavam errados, pois
sentiu os dedos gélidos do vampiro agarrando-a pelo seu braço.
Alex conseguiu se virar o suficiente e socou o maxilar do vampiro. No mesmo segundo ele
soltou o seu braço – ela sabia que aquilo faria uma marca, que os dedos iriam ficar impressos
em sua pele branca – e Alex percebeu o estrago que fizera em um único golpe.
Se sentiu vitoriosa, capaz.
Ela conseguiu em um único golpe desfigurar a bochecha do seu assaltante, era como se a pele
do vampiro tivesse sido corroída por algum tipo de material químico.
Novamente sentia o fogo dentro de si começar a se acender. A adrenalina e o medo que
corriam pelo o seu corpo não ajudavam muito, tudo o que ela fez foi respirar para fazer de tudo
que essa chama novamente se apagasse. Alex não queria sentir o que sentira a horas atrás. Não
ao menos sem saber o que fazer direito.
A sensação realmente estava ficando branda e isso foi o suficiente para que a garota voltasse a
correr ainda mais rápido do que antes.
Achava que conseguiria, mas de novo Alex sempre se enganava. Sua maldita perna não era
longa e muito menos sua habilidade para corrida. Ela poderia até saber bater, mas correr nunca
fora sua praia. Mas ainda estava confiante que chegaria ao casarão. Quando finalmente
colocou o pé no primeiro degrau da escada, para a varanda da casa, Alex sentiu seu copo sendo
empurrado com muita força para o lado.
Seus pés se atrapalharam e ela caiu no gramado úmido. Seu corpo ficara por cima de seu braço
e com impacto sobre ele fora o bastante para sentir uma dor bastante aguda. Sem contar que
sua cabeça batera de lado e com força contra o gramado e aquela dor se acumulou com a
primeira.
Alex foi capaz de se deitar de costas, ela gemeu de dor e tentou com muito sacrifício puxar ar
para os seus pulmões. Entretanto, o ar não chegava, quanto mais ela inspirava menos a
impressão de que realmente entrava algo em seu peito.
Deus, a dor só aumentava.
Alex encarava as estrelas lá no alto, mesmo com sua visão pintada com pequenas bolinhas
pretas. Sua vontade real era de fechar os olhos e deixar toda aquela dor tomar conta de cada
pedacinho do seu ser, mas se Alex não chegasse até o casarão, Seryn ficaria muito irritada com
ela e Alex preferiria encarar um hibrido do que sua vampira.
Alex tentou se colocar de pé aos poucos, se virou encarando o chão e se colocou de joelhos.
Suas mãos ficaram espalmadas no chão úmido e mais grunhidos dolorosos saíram de sua boca.
Algo muito de errado estava acontecendo, seu corpo estava fraco, muito fraco.
Reuniu então o que tinha de reserva e se forçou a ficar de pé, porém, assim que seus pés se
fixaram no chão, uma onda de dor e agonia passaram pelo seu corpo. Uma dor nova que antes
estava coberta pelas outras. Seus olhos tombaram para baixo e Alex foi capaz de enxergar o
foco da dor.
Sua blusa estava molhada por um liquido quente e viscoso. Levou sua mão até a área e gemeu
audivelmente de dor. Levemente tirou sua mão do local e Alex a levantou na altura de seus
olhos. Estava pintada com um rubro fechado. Ela reconhecera aquilo.
Sangue. Meu sangue.
Alex olhou para frente assustada demais e encarou o hibrido lambendo seus próprios dedos
com óbvia emergência e desespero. Quase como se aquilo o provocasse um impulso sexual.
A garota de olhos coloridos sentiu nojo e repulsa. Sentia-se violada de alguma maneira e
queria muito chorar, mas ali não era o momento. Alex teria que chegar no casarão.
Seu coração batia forte contra seus ouvidos e a ardência do seu ferimento só piorava tudo
dentro dela. Alex não se deu conta que tinha sido lanhada pelas garras do vampiro, o ferimento
começava na lateral de suas costas e descia pelas costelas. Era uma lesão grave.
Seu corpo se tornava cada vez mais pesado, era como se toda sua força tivesse sido drenada.
Nem poderia tentar acender a chama dentro dela. Por mais que quisesse, sabia que não estava
apta para tal coisa.
Ela iria desistir, era demais para aguentar. Então o próximo movimento foi; suas pernas
fraquejando e ela novamente caindo de joelhos.
Alex achava que seu fim estava próximo.

Seryn procurou por sua humana, enquanto socava um vampiro forte o bastante para quebrar os
ossos da face. Seus olhos azuis safiras eram afiados, a rainha dos Altos era capaz de enxergar
precisamente com pouca iluminação. Ela girou o pescoço, quando finalmente encontrou sua
Alex. E a imagem que Seryn viu lhe causou um misto de sentimentos.
Primeiro, raiva. Na realidade, era muita raiva. Pois, sua linda humana estava de joelhos, onde
era evidente sua dor. Porém, a raiva cresceu em um nível alarmante quando a vampira viu que
o híbrido experimentava o sangue que pertencia a Alex.
Um inútil vampiro provou sua humana. O sangue de Alex também era seu sangue. Uma
possessividade também se instalara em seu peito. Pois, aquele sangue rubro só pertencia a ela.
O segundo sentimento era tristeza. Sim, um sentimento estranho que nunca antes
experimentara. Ao menos não em sua existência como vampira. E ele não chegou de mansinho
e sim de supetão, como um belo soco na boca do estômago.
Perder Alex era irreal.
Seryn correu mais rápido do que qualquer olhar humano poderia acompanhar. A vampira
saltou, flexionando sua perna, e aterrissou sobre os ombros do hibrido que experimentava o
sangue de Alex. Ela segurou a cabeça do vampiro e puxou fortemente para cima.
- Morra, seu filho da puta. – Seryn falou baixo e com o toque frio de sua voz que poderia fazer
qualquer um congelar de medo.
Conseguiu separar a cabeça do vampiro do corpo e no mesmo instante o híbrido se desfez,
sobre seu toque. Seryn aterrissou no chão e rapidamente foi até Alex, segurando-a contra o seu
colo.
Sua humana respirava com dificuldade e sua respiração começava a sair um chiado diferente e
cansado. Seryn apertou-se mais contra Alex, porém o cheiro de sua humana ficava mais forte.
Era tão irresistível.
Deuses...
Seria muito fácil simplesmente abaixar a cabeça e drenar até a última gota de Alex. Mas agora
isso não se resumia apenas ao liquido rubro e poderoso, mas sim aos seus sentimentos pela a
humana.
Rosnou como um animal preso numa jaula e sua vontade apenas se intensificou quando viu
suas próprias mãos sujas de sangue.
Ela queria tanto prová-la, era apenas escorregar a língua entre os dedos. Mas se não fosse
capaz de parar? Por mais que os instintos de Seryn gritassem dentro dela para atacar sua
humana, queria que sua primeira vez ao experimentar o sangue de Alex fosse algo diferente
daquela situação.
- Seryn...- A garota tentou com dificuldade falar o nome da vampira.
A rainha encarou os olhos semicerrados da humana.
Estava perdendo Alex aos poucos. Sua mortalidade estava se esvaindo pelo ferimento.
A lesão em geral estava feia, não funda. Mas se Alex ficasse ali por algum tempo, sem ajuda,
certamente morreria e onde estavam não tinham remédios para humanos.
- Está doendo muito. Desculpe, eu não consegui chegar até o casarão. – Alex ofereceu um
sorriso cansado e com a voz um tanto frágil.
Seryn fitou mais uma vez para humana e decidiu fazer o que antes nunca tinha feito.
A rainha dos altos iria alcançar toda e qualquer possibilidade para salvar a existência de Alex,
que estava se tornando essencial para a própria vampira.
Trouxe seu punho até a boca e seus caninos fizeram o trabalho de romper a pele fria e dura.
Seryn sentiu o gosto de seu sangue, e assim que isso aconteceu, levou seu punho para a boca
de sua humana.
- Eu não irei te perder.
XXV –
- O que você está fazendo? – Oli desceu de vôo indagando claramente confuso.
- Salvando a vida dela. – Seryn apontou o óbvio.
- Mas...
Seryn sentiu a boca de Alex começar a trabalhar, chupando e engolindo o sangue que era
oferecido.
O sangue dos vampiros quando é experimentado pelos humanos, podem além de transformá-
los, – depois de uma certa dosagem – poderia servir também como antídotos e cura de terríveis
ferimentos, como este que Seryn estava vendo no corpo de sua preciosa Alex.
Era estritamente proibido dar sangue de vampiro, com o intuito de curar ou salvar um humano.
Apenas, era permitido quando o vampiro em questão tinha a certeza que desejava transforma-
lo. Porém, Seryn pouco se importou com qualquer regra nesse instante. Tudo o que ela queria é
ter certeza que Alex ficaria a salvo.
A sensação do seu próprio sangue ser partilhado com Alex era indescritível. Ela tinha que
admitir, mesmo na situação de perigo que se encontrava, seu corpo reagira.
Alex sugava o sangue da vampira, agora com mais avidez e com mais força e Seryn já
começava a partilhar das sensações de sua humana.
Era outra coisa que acontecia, se o humano tocasse no sangue do vampiro, era
momentaneamente formada uma ligação entre sentimentos e emoções. Era durável, porém
Seryn não sabia quanto tempo esse efeito tinha. Já que nunca dera seu sangue para outra
pessoa.
Alex já estava fora de perigo, mas ainda usufruía do sangue avidamente. Suas mãos seguraram
o pulso de Seryn para ter mais apoio.
- Você precisa parar, Seryn! Está passando do limite. – Oli alegou sério. – Vamos, pare!
Relutantemente, a rainha dos altos tirou o punho da boca da garota. Os lábios de Alex estavam
pintados se vermelho e seu queixo também ficara sujo. Ela suspirou e se aninhou ainda mais
no colo de Seryn. Parecendo estar alheia de tudo o que estava acontecendo.
- Ela está bem. Apenas muito cansada. – Seryn deu a inútil explicação para Oli.
– Alex, é uma bruxa e não uma humana qualquer, você não sabe o efeito que isso pode
acontecer no corpo dela. – Oli informou seriamente. – Vamos limpar toda essa bagunça e tirá-
la daqui.
Seryn ignorou o que o Mutano disse, sua concentração estava toda em Alex e nas sensações
que a humana vivenciava.
- Eu posso sentir que ela está bem. Alex está viva. Ela está esgotada com toda essa adrenalina.
– Seryn declarou, pegando a garota em seu colo com grande facilidade. – Talvez a quantidade
de sangue não tenha feito nada com ela. Pois não estou sentindo nada de diferente vindo de seu
corpo.
- Talvez. – Oli tentou concordar.
As asas do Mutano se abriram e ele levantou voo entre a escuridão da noite.
Seryn, ainda que extasiada pelo o que acabara de acontecer, caminhou em direção do casarão.
A rainha quase sorriu quando sentiu um leve roçar do nariz de Alex em sua nuca.
Sua humana estava salva.
O pandemônio que se instalou a momentos atrás começava a se acalmar. A situação parecia
estar tomando rédeas.
Os Mortorios eram fortes e habilidosos. Cuidaram dos híbridos e dos insolentes.
- Seryn! – A vampira ouviu a voz de Abigail.
A rainha dos Altos parou no topo da escada e se virou para encarar a outra vampira.
- Ela está bem? – Abigail soava realmente preocupada.
- Eu vou levar ela para cima. – Seryn disse enquanto Alex se aconchegava contra seu colo. –
Ela está bem agora.
- Você deu seu sangue para ela. – A rainha dos Mortorios afirmou subindo o lance de escadas,
colocando-se frente a frente com Seryn. – O cheiro da Alex está um pouco mais ameno.
- Ela poderia morrer se não fizesse isso.
- Eu sei. Eu vi o ataque, mas não cheguei a tempo. Um hibrido me deteve no meio do caminho.
Aliás, conseguimos capturá-lo com vida.
A vampira dos Altos sentiu a sede de vingança invadir aos pouco seu corpo, como um veneno
que lentamente paralisava sua vítima. Iria exterminá-lo com prazer, mas primeiro arrancaria
toda e qualquer informação que pudesse extrair.
Os ataques ficavam cada vez mais articulados e bem planejados. Insolentes e Hibridos não
tinham inteligência o suficiente para armar algo assim. Tinha alguém acima disso, Seryn sabia.
Hoje a rainha faria o que começou a fazer quando entrou na Ordem dos Altos. Seu primeiro
trabalho.
A doce e viciante tortura.

Alex abriu os olhos lentamente.


Ela se encontrava no quarto escuro, iluminado por um único abajur.
Sua cabeça latejava levemente, uma única dor que martelava sem parar. Entretanto, seu corpo
estava bem, a dor que antes cruelmente tomava conta de si, já não estava mais nela.
Alex respirou fundo, colocando as pontas dos dedos em sua testa. Sua boca estava com um
gosto estranho, um gosto levemente metálico se fixava em sua língua.
A memória do que acontecera chegou como uma pancada forte.
Seus lábios contra o punho sangrento de Seryn e sua língua experimentando o líquido viscoso
que descia por sua garganta.
Quando o sangue da vampira bateu em sua boca e Alex engoliu as primeiras gotas, era como
todo o seu corpo estivesse sendo ligado. Recebendo uma descarga imensa de adrenalina e vida.
O sangue de Seryn era vívido, delicioso e extremamente vigoroso. Um choque em seu sistema.
Ela simplesmente não conseguia parar.
Agora ela estava ali, com um vestido de alças preto com pequenas flores em sua barra, sem
qualquer ferimento.
- Ei... – A voz macia de Abigail surgiu na penumbra do quarto.
Alex procurou pela vampira e a encontrou sentada na poltrona.
- Ei... – Alex pigarreou depois de sua fala.
- Um susto, não foi? – A vampira se levantou com um sorriso nos lábios.
- Onde está Seryn? – Alex não queria ignorar a pergunta da rainha dos Mortorios, mas sua
vontade de ver sua vampira aumentou bastante desde que se encontrara acordada.
- Ela deve estar...
Abigail foi interrompida pelo barulho da porta do quarto.
Seryn e Noah entraram um tanto sérios e compenetrados.
A rainha dos Altos estava com as vestes sujas e o rosto pintado de sangue e terra. Já o rei dos
Mortorios, usava apenas uma calça larga manchada também de terra.
Mesmo assim Abigail foi até ele e Noah a reuniu nos braços. A vampira ficou nas pontas dos
pés e o beijou levemente.
- Você acordou. – Seryn apontou o obvio e por alguns segundos se sentiu vulnerável de falar
assim, de maneira doce para Alex.
- Seryn. – Alex sorriu ternamente, sentando-se na cama.
A vampira se colocou ao lado da sua humana e cruzou as pernas, analisando com olhos o corpo
de Alex.
Sua vontade real nesse momento era abraçar a garota. Mas não a tocaria, ao menos não agora.
Seryn estava suja, com resto de sangue de outros vampiros e barro.
- Seryn, por que não fica um pouco com Alex e depois resolvemos nossas pendências? Nosso
problema não vai a lugar algum. – Noah aconselhou a Rainha dos Altos.
- Problema? O que aconteceu? – Alex perguntou um pouco alarmada, sentindo-se levemente
inquieta.
- Nada que precise se preocupar. – Seryn ofereceu um sorriso tenro para Alex antes de se virar
para o rei dos Mortorios. – Nos vemos mais tarde lá em baixo.
Noah e Abigail saíram do quarto e assim que fecharam a porta Alex se atirou nos braços da
vampira, sem se importar com o estado que Seryn estava.
Obviamente, mesmo que ainda surpresa a rainha a pegou, segurando-a firmemente contra ela.
- Eu pensei que fosse morrer. – Alex murmurou contra o pescoço de Seryn. – Mas... – Ela
envolveu seus braços ainda mais na vampira e reprimiu um soluço.
- Você está bem agora. – Seryn disse beijando o topo da cabeça de sua humana. - Alex o que
eu fiz hoje é extremamente proibido. Agora, você criou um laço comigo, algo que jamais fiz
em meus 600 anos de existência. Nem mesmo com Oli.
- Seryn... – A garota levantou a cabeça e fitou os olhos castanhos da vampira.
- Faço isso porque.... Deuses, Alex. Você é preciosa demais para mim. Eu simplesmente não
saberia lidar com sua perda. – Seryn confessou cautelosamente, querendo mostrar a
importância das palavras que estavam sendo ditas.
Alex continuava a olhar a vampira. Sentiu seus olhos arderem e inevitavelmente uma lágrima
escapou.
Seryn segurou a bochecha de sua humana e com polegar limpou a lágrima perdida no meio da
maça de seu rosto.
- Eu vou te proteger, já prometi isso. – A vampira disse, novamente se repetindo.
Alex balançou a cabeça rapidamente como uma criança.
Seryn fez um barulho no fundo da garganta, engasgando em uma risada rouca e grave.
- Alguém provou você antes de mim. – Seryn continuou com a voz afável, porém um pouco
mais dura.
Alex sentiu os dedos gélidos da vampira acariciar sua nuca e isso fez com que ela sorrisse
fracamente.
- Mas você acabou com a existência dele, antes que algo sério pudesse acontecer. – A garota
garantiu tombando a cabeça levemente para lado, dando mais espaço para Seryn lhe acariciar.
– Eu quero pertencer a você.
A rainha dos Altos puxou o ar pelo o nariz e lambeu os lábios quase que predatoriamente. Alex
já era dela de corpo e alma. Não como uma propriedade, entretanto ambas sabiam que faltava
apenas um passo para isso se concretizar.
- Ele poderia ter me matado, mas você não permitiu, Seryn.
- Claro que não, jamais permitiria tal coisa.
Alex sorriu e beijou o maxilar da vampira.
- Que tal irmos para o chuveiro? – A garota propôs, oferecendo um sorriso brilhante.
Mesmo que estivesse completamente limpa e ainda se perguntava como ficara assim, tinha a
necessidade crescente de ficar ao redor da vampira.

Seryn lambia os lábios ao descer as escadas do casarão.


Com o corpo já limpo vestindo suas habituais vestes e cabelo devidamente arrumado. Seryn
admitiu a si mesma que tivera um maravilhoso banho com Alex. Suas mãos quentes e macias a
limpavam pacientemente. Elas não transaram, sua humana apenas queria cuidar de Seryn e a
vampira permitiu, relaxando seus músculos sob o toque quente.
A Rainha dos Altos observou que Alex estava um pouco mais vulnerável e sensível, seus
beijos mais ternos e sussurros mais carinhosos.
- Seryn? – Noah se aproximou chamando-a pela segunda vez.
A vampira piscou e olhou para sua direita. Onde o Mortorio já limpo a aguardava com os
braços cruzados.
- Está pronta? – Noah indagou, ao perceber a atenção de Seryn nele.
A vampira acenou e seguiu o homem negro até o porão.
Ao contrário do casarão que era espaçoso, limpo e arejado, o porão era úmido, nojento, com
grandes acúmulos de limo nos altos da parede.
Seryn encontrou o híbrido preso por correntes de prata, que prendiam em seus punhos já
bastante esfolados e se elas se fixavam no teto.
Ele estava rosnando como um animal com raiva, babando e com olhos vermelhos. Louco para
sair de suas amarrações, chacoalhando os braços de um lado para o outro, o que piorava os
ferimentos de seus punhos. Mas Seryn pouco se importou, quanto mais ele sentisse dor,
melhor.
O hibrido encontrou os olhos da Rainha dos Altos e seu primeiro impulso foi correr em sua
direção. Mas as correntes o detiveram, ficando apenas alguns centímetros da face de Seryn.
A vampira o fitou calmamente, abrindo a boca para que seus dentes se alongassem.
O híbrido colocou um sorriso torto na boca e encarou os olhos safira de Seryn.
- Se não é a rainha patética, vendida por um pedaço de carne humana. – O vampiro falou
sarcasticamente.
- Se não é vampiro patético que irá morrer se não me contar a verdade. – Noah rebateu
gravemente.
O Rei dos Mortorios se colocou atrás do híbrido e o empurrou pelos ombros o obrigando a
ficar de joelhos.
- Contar o que? – O vampiro que estava preso perguntou fazendo um bico, como se estivesse
prestes a chorar. Porém, tudo não passava de um escárnio mal feito. – O que vocês já sabem?
Que todos querem um pedaço daquela deliciosa humana. Não apenas o sangue, mas aquele
corpo extremamente desejável. – Ele passou a língua pelo lábio inferior predatoriamente e
depois a estalou contra o seu da boca. – Ela deve ser deliciosa, não é?
Aquilo foi o suficiente para que a raiva e a besta de Seryn despertasse. Seus dentes coçaram,
ela queria muito acabar com a vida daquele hibrido repugnante em sua frente. Deuses, como
queria matá-lo lentamente, fazendo-o gritar. Seria um som extremamente gratificante de ser
ouvido.
Sua mão parou no ombro esquerdo do vampiro e começou a apertar a carne, lentamente com as
pontas dos dedos.
- Creio, que você nunca irá prová-la. Ou até mesmo qualquer outro. – A vampira disse
ameaçadoramente afundando cada vez mais seus dedos na pele fria do hibrido, até que
finalmente sentiu a pressão da pele romper.
O vampiro grunhiu em dor e vacilou momentaneamente.
Seryn rosnou e com mais força terminou por fim de perfurar com seus dedos longos a carne do
vampiro. O sangue começou a descer livremente pelo ferimento cada vez mais fundo e
horroroso. A Rainha colocou ainda mais pressão e seus dedos tocaram nos músculos do
hibrido.
Em um movimento preciso ela arrancou aquele punhado de carne, pele e músculo do vampiro.
Ela sorriu de um jeito doentio, seus olhos estavam preenchidos com a loucura e a fome de
matança. A besta dentro de Seryn se sacudia e rugia e a vampira aumentava ainda mais seu
sorriso.
O híbrido gritou em desespero e tombou a cabeça para frente. Mas Seryn foi mais rápida,
jogou o pedaço morto de carne no chão e segurou o queixo do vampiro. Enfiou a outra mão
dentro da boca do hibrido e Seryn segurou com as pontas dos dedos o canino alongado.
- Esse ataque foi muito bem coordenado para vocês, híbridos e insolentes, formarem. Quem
organizou isso? Todos nós sabemos que vampiros com inteligência e ambição viriam atrás dela
ou mandariam vocês para capturá-la. Alguém que realmente pudesse aproveitar o que Alex
tem. Agora conte-me. – Seryn disse calmamente com a concentração máxima.
Para a surpresa de Noah e do próprio hibrido, a rainha dos Altos arrancara o canino que
segurava.
- CONTE ME! – Seryn exigiu sem paciência.
Ela queria matar, queria sofrimento, mas ainda não podia. Não arrancou a informação que
precisava.
O hibrido gritou interruptamente, até que sua voz ficasse rouca e se cessasse.
- Está bem! Está bem! – O vampiro desistiu se debatendo em dor. – Foi a Ordem dos
Feiticeiros que nos mandou.
Seryn e Alex se entreolharam como se ambos começassem a montar alguma trilha de
pensamento e raciocínio. Teorias que se formavam em segundos.
- Eles a querem. Eles sabem que ela é uma bruxa. Sabem o quão raro ela é. Mas parece que
você ainda não sabe, não é? Se soubesse já teria se aproveitado disso. – O hibrido não pôde
deixar de oferecer um sorriso banguela. – Eles a querem e estão pagando muito bem para isso.
O vampiro oscilou de dor.
- A temporada de caça começou e o primeiro que tocar naquele pescoçinho gostoso ganhará o
mundo. – O hibrido informou desdenhosamente.
XXVI-
- Apenas mate-o. – Seryn exigiu olhando para Noah. – Eu não consigo olhar mais nenhum
segundo para esse desgraçado.
Noah poderia argumentar contra e se sentir contrariado, mas apenas acenou concordando com
a Rainha. Afinal, ele faria a mesma coisa se tratasse de Abigail.
Seryn rodou os calcanhares, e saiu andando.
A vampira pôde ouvir os gritos do hibrido, enquanto subia as escadas úmidas e escorregadias.
Ela saiu do porão fechando a porta atrás de si, e encostou a cabeça contra a madeira. Fechou os
olhos por alguns segundos e as frases do vampiro capturado ecoaram na sua cabeça.
Estava enojada, pois sua mente a traiu e imagens de vampiros sobre sua humana passearam
livremente. Ela sacudiu a cabeça e trincou os dentes.
Seryn precisava de um plano, mas não tinha ideia do que fazer ou como agir. Era as Ordens
dos feiticeiros que a procuravam, perigosos demais.
Ela precisava saber o real poder de Alex, suas habilidades e principalmente se tinha a
possibilidade do seu poder se inibir, caso um vampiro tentasse prová-la.
Só o que poderia fazer, era esperar. Esperar pelo o encontro dos bruxos Naturea. Ela odiava
esperar, se sentia vulnerável e isso era outra coisa que também detestava.

- O que Seryn foi fazer? – Alex indagou Abigail.


Ambas as mulheres estavam sentadas nas cadeiras da biblioteca.
Alex tinha esquecido o livro aberto de cabeça para baixo. No título indicava explicitamente o
tema sobre lobisomens. Alex até começou a lê-lo com avidez, até que a rainha dos Mortorios
apareceu.
Tudo no universo de Seryn, interessava Alex. Era instigante demais para ser ignorado.
Mesmo absorta nas linhas do livro, a garota levantou os olhos cansados para encontrar Abigail
encostada no batente da porta, com os dedos interligados na frente do corpo.
Alex gostava de Abigail e ela sabia que o sentimento era totalmente recíproco.
- Sinto muito, Alex. Mas não sei se cabe a mim a contar. – A rainha tentou ser a mais gentil
possível, mesmo com a resposta sendo um pouco dura.
A garota deu um suspiro desanimado, mas entendeu a explicação da vampira e aceitou.
- Lendo sobre lobisomens? – Abigail tentou mudar de assunto, andando até a mesa de madeira
onde se inclinou ligeiramente, apoiando as mãos em sua superfície.
- Sim, comecei a ler a pouco tempo, jamais imaginaria que eles pudessem ser reais.
- Eles são criaturas formidáveis. – A vampira falou abaixando um pouco mais, até que seus
cotovelos apoiassem na mesa.
Alex sem querer pendeu seus olhos no pequeno decote, suas têmporas arderam e rapidamente
piscou desviando-os para a capa do livro.
Não fora sua intenção olhar e sentiu vergonha por aquilo, se censurou por tal indiscrição.
- Porém vampiros e lobisomens simplesmente não dão certos juntos. Parecem ser inimigos
naturais. Uma raiva inacabável que não sei de onde nasceu. – Abigail deu de ombros e olhou
para janela, mas ao ver elas fechadas suspirou e novamente fitou Alex. Percebeu então que a
humana estava ruborizada. - Você está bem? – A rainha voltou a dizer preocupada, fez menção
de tocar a testa de Alex, mas no último instante hesitou.
- Estou. – A garota respondeu junto com um aceno e sorriu. Alex limpou a garganta e retomou
a fala. – Quer dizer que vampiros em geral são completamente antissociais nesse universo
inteiro em que vocês vivem.
Abigail riu baixo.
- Exatamente, cada vampiro tem um imenso rei dentro da barriga.
E desta vez foi Alex que riu.
- Isso eu tenho que concordar.
Abigail se esticou de novo e desta vez apoiou seu quadril na mesa.
- Desculpe por ontem, Alex. Noah e eu ficamos envolvidos com o que você representa e te
puxamos para além do seu limite. Isso não foi justo, você é uma humana amável.
- Abigail, eu topei tudo aquilo. Fique tranquila. Okay? Deus, vocês salvaram minha vida.
A vampira mordeu o lábio inferior e sorriu. Inquieta, mexeu em suas pulseiras de ouro, antes
de ligar os dedos na frente do seu corpo.
- Você e Seryn sempre serão bem-vindas nessa Ordem. Ao menos enquanto eu e Noah formos
rainha e rei. Nós gostamos de você.
Alex fitou Abigail e por um segundo teve vontade de abraçá-la. Ela sabia que poderia confiar
na vampira.
Abigail era sua amiga.

- Seryn? – Oli se aproximou com cuidado. Suas mãos descansavam nos bolsos da calça de
linho preto e seu cabelo cumprido estava preso em um coque desajeitado.
A Rainha dos Altos ainda estava de olhos fechados com a cabeça encostada na porta. Mesmo
sentindo a sensação do rubor de Alex, resolvera ignorar, pois ela mesma estava presa em suas
próprias. Porém ao ouvir a voz do Mutano Seryn fora obrigada a abrir os olhos.
- Foram os desgraçados da Ordem dos Feiticeiros. – Seryn comunicou seu amigo virando a
cabeça. – Deuses, Oli, onde fui me meter?
- Você ama aquela humana ou está próximo disso. – O vampiro apontou apoiando suas asas e
costas na parede de frente para porta em que Seryn estava.
A vampira soltou barulho esganado em sua boca, como se aquilo que o vampiro acabasse de
dizer fosse um absurdo. Ela voltou a fechar os olhos e colocou a cabeça reta novamente.
O que Oli apontou poderia até ser verdade, talvez ele tivesse razão, mas Seryn ainda não estava
pronta para verbalizar aquilo em alto e bom som.
Ela era uma vampira, pelos Deuses e não uma sentimental adolescente com os hormônios a
flor da pele. Uma rainha, porém, inutilmente nada disso servia, pois Alex conseguira quebrar
cada uma dessas barreiras com facilidade. A própria Seryn se surpreendera de estar aonde está.
- Temos uma solução fácil, você pode entregá-la e negociar com os feiticeiros. – Oli continuou
calmamente, mesmo que a fala não fosse bem-vinda.
A vampira trancou o maxilar e respirou fundo acalmando sua besta que se remexia
desconfortavelmente dentro dela. Seus dentes coçaram, mas ela se lembrou que quem estava
ali era Oli, seu amigo e protetor de 600 anos. Mesmo que por vezes tivera vontade de espancá-
lo, sabia que aquilo era só uma fala provocativa. Uma maneira de puxar Seryn ao limite.
Seryn ainda poderia ouvir Oli falando, enquanto estavam em sua limusine dias atrás.
Em todo meu milênio de existência, nunca conheci uma humana assim como Alex. Fico
satisfeito por vê-la sobrevivendo.
- Nós daremos um jeito, Seryn. Sua humana ficará com você. Vê-la nas mãos dos Feiticeiros é
perigoso demais e os Deuses sabem, o quanto ela iria sofrer.
- Aquele desgraçado do Cante! Deve ser ele, é o Rei mais perto da minha área. Ele sempre fora
ambicioso demais, perigoso demais. Eu já tive oportunidade de matá-lo, mas ele se afugentou
atrás dos seus truques baratos. – Seryn fechou os punhos e abriu os olhos com sua raiva
tornando-se cada vez maior.
A vampira mordeu a bochecha do lado de dentro da boca, o suficiente para romper a pele
sensível e experimentar o próprio sangue. Levou a mão até a testa e massageou com as pontas
dos dedos. Logo em seguida jogou os cabelos castanhos para trás e deu um passo para frente,
saindo da frente da porta.
- O pior de tudo, é que não tenho ideia do que fazer, simplesmente. – Seryn admitiu um pouco
derrotada.
Sentia-se fraca e inútil perante ao vampiro que treinou com tanto ardor.
- Seryn, eu tenho certeza que você já procurou qualquer solução em sua cabeça. Mas temos
que esperar, não temos certeza ainda o que acontece com os vampiros quando experimentam o
sangue de Alex. Não sabemos o que o poder dela pode causar nela mesma e o principal, não
temos ideia do que Cante pode querer com ela. – Oli levou a mão para trás do pescoço e
apertou levemente, tentando aliviar a tenção que se formava ali.
O Mutano levou um pé na parede e continuou a fitar Seryn.
A vampira o ouvira atentamente partilhando daquilo que ela mesma pensara. Mas era sempre
bom ouvir algo da boca de Oli. Ele sempre foi um porto seguro, no qual podia contar.
- Depois que falarmos com o bruxo Pablo, podemos pensar em algo melhor. Pois, nesse
momento não a nada que possamos fazer. – O Mutano continuou cruzando seus braços em
baixo do peito. – Não podemos confinar em ninguém. Obviamente tirando Noah e Abigail.
- Você quer dizer levar isso para Ordem dos Anciões?
Os anciões basicamente eram aqueles que distribuem as leis gerais dos vampiros, como as
demarcações de áreas, onde cada Ordem iria se instalar ou aprovações gerais para a equilíbrio.
Entretanto, nos últimos anos, coisas ruins estavam acontecendo. Como a massa de híbridos que
se espalhavam e nada acontecia para que isso pudesse parar.
Eles eram vampiros poderosos que se mantinham no poder político humano, manipulando-os
para garantir o segredo do mundo em que os vampiros se instalavam.
- Exato. Não sabemos se isso já chegou nos ouvidos dos Anciões. Afinal, Alex é uma bruxa e
uma humana que se envolvera demais, uma bruxa apaixonada por uma Rainha da Ordem dos
Altos. Uma das melhores Rainhas que essa Ordem já teve, diga-se de passagem. Você não é
uma qualquer. – Oli falou dando de ombros, antes de coçar o queixo. Ele se inclinou em
direção da vampira e fitou no fundo de seus olhos. – Seryn, eu entendo se quiser desistir de
tudo.
- Eu deveria, estou me arriscando demais. – A Rainha confessou. – Abandonei meu reino,
meus súditos, mas Oli... – Seryn molhou os lábios com a língua e engoliu. – Eu simplesmente
não posso.
- Eu sei, mas iremos enfrentar muita coisa. Você tem consciência que isso não tem uma data
para acabar. Seryn, você pode perder seu posto e sua humana morrer. – Oli apontou a realidade
cruel para sua amiga. – Eu não quero lhe convencer ao oposto, você sabe que gosto de Alex.
Mas quero colocar todas as possiblidades na mesa, e vejo que a maioria delas não são boas.
Oli tinha toda a razão, Seryn pensava. Por isso que gostava tanto de tê-lo como mentor.
- Vale a pena. – A vampira resumiu todo o seu sentimento.
- Temos que descobrir o plano de Cante. Você sabe, que isso pode acarretar outro problema,
como a morte dele.
Acabar com a existência de um rei de outra Ordem, que não fosse por defesa, poderia causar a
sua própria.
- Deuses, estou perdendo a cabeça.
Era outro problema que Seryn tinha que começar a repassar em sua cabeça.
24 horas.
Talvez um pouco mais, mas Alex não tinha certeza quanto tempo se passou. Ali na área dos
Mortorios, isolada, perdera a noção total das horas. Descobriu que vampiros não se apegavam
em horários, dias ou ano.
Entretanto, Alex se lembrava das últimas 24 horas ou talvez um pouco mais que isso.
Logo após que Abigail sairá da biblioteca deixando Alex novamente sozinha, voltou a se
concentrar no livro e por mais uma vez se viu puxada para dentro das palavras.
Aprendeu muitas coisas sobre os lobisomens, dentre elas. A sua transformação. Havia 2
maneiras de isso acontecer, primeiro pela lua cheia como Alex aprendera nos livros de contos
de fada. Onde quando o humano mordido visse a lua cheia se transformava em uma fera
gigantesca, um lobo maior do que os que existiam em lugares frios. Perdendo assim o controle
total de sua consciência e ações. Porém, havia segunda maneira de transformação. Isso ocorria
hereditáriamente, quando um homem ou uma mulher já lobisomens tinham um filho –
independente do sexo que vinha-. O mesmo se tornava um lobisomem, mas no caso esses
filhos conseguiam se transformar na hora em que desejasse e eles tinham controle de toda e
qualquer situação.
Seryn então apareceu na biblioteca talvez duas horas depois de quando Alex começara a ler o
livro.
A vampira se aproximou calmamente e se inclinou roçando seus lábios contra as de sua
humana.
Seryn se sentou ao lado de Alex e pacientemente prendeu a atenção de sua humana, ao explicar
tudo do que ouvira do hibrido – pulando a parte de que tivera que tortura a criatura. – e de sua
conversa com Oli.
- Eu estou dando muito trabalho para você, não é mesmo? – Alex fechou o livro que já estava
quase pela metade.
- Vale a pena. – Seryn sussurrou, repetindo o que dissera para Oli.
A vampira gentilmente colocou seu indicador e opositor no queixo de Alex e a segurou com
cuidado.
- Lex, você vale a pena.
A garota sorriu fracamente e inutilmente reprimiu um soluço engasgado em seu peito. Seryn
sabia deixar Alex desestruturada, sem ação. O que estava vivenciando, mesmo com todo esse
perigo que a cercava era simplesmente incrível. Viver com a Rainha dos Altos era algo que
nunca um dia poderia almejar.
- Vem aqui. – A vampira exigiu fracamente.
Alex se levantou e sentou de lado no colo de Seryn. Seu rosto logo procurou a dobra do
pescoço gélido da Rainha e lá inspirou fundo sentindo o cheiro que ela exalava. Isso provocava
quase que instantaneamente um relaxamento e um arrepio agradável na humana.
Seryn sentiu as gotas quentes das lágrimas de Alex bater contra sua pele gélida. A vampira
passou um braço na cintura da garota e a outra por cima das coxas, a apertou levemente,
juntando o corpo quente contra o seu.
- Eu sei que isso é patético, mas eu estou com medo Seryn. Eu não quero parecer aquelas
mulheres indefesas que espera o príncipe defendê-la. Eu nunca fui assim, mas isso tudo é
surreal.
- Não é patético. Alex até semanas atrás você pensava que era só uma humana. Uma humana
corriqueira, que tinha um pub gay. Agora, você é uma bruxa, uma Solis. – Seryn expôs com a
voz baixa. – Você tem todo o direito de temer.
A vampira nunca soube o que esse sentimento significava, o medo. Mas agora, ela começava a
provar. Não era medo de enfrentar a situação, ou do sangue, do perigo e sim de perder a luz
que estava segurando em seus braços.
Seryn partilhava dos sentimentos de Alex e agora mais do que nunca, sabia o que a sua
humana sentia. Sabia o que Alex sentia pela vampira, era maior do que qualquer coisa negativa
dentro dela e isso a fazia continuar.
- Alex, você é uma humana peculiar, muito peculiar, devo ressaltar. – Seryn disse, e ouviu uma
risada fraca de sua humana. – E forte também. Muito forte, eu vi isso no treinamento de ontem.
Além disso, você não está sozinha. Por favor, não se esqueça disso.
A humana levantou a cabeça e fitou os olhos castanhos de Seryn e a vampira sentiu a onda de
calor e afeição sendo partilhado com ela.
Deuses...
Seryn estava perdida dentro desta onda, quase se afogando nela. Mas era tão delicioso e
prazeroso sentir isso que deixou se afogar. Não era apenas o carnal, eram emoções que a
vampira aos poucos degustava e se acostumava. Era fantástico e novo, excitante e estranho.
Hora se sentia vulnerável e hora poderosa. Essa mistura de sentimentos fez com Seryn levasse
sua boca mais uma vez a procura dos lábios de Alex.
Alex devolveu o beijo com veemência.
Os caninos de Seryn desceram e ela teve cuidado para não machucar sua humana. Era demais
para a vampira aguentar, a boca de Alex, o cheiro de Alex, a sua quentura. Suspirou sem
pudor, quando sentiu os braços da garota abraçar seu pescoço, trazendo-a ainda mais para
perto.
Ficaram ali perdidas, entre beijos, mordidas e mãos fugazes no intuito apenas de provocar.
Uma nuvem rasteira de desejo ficou suspendida entre elas, com direito a risadas baixas,
ignorando todos os problemas que a cercavam.
Foram interrompidas por Noah, que pareceu desconfortável ao ver tanto a vampira quanto a
humana claramente aproveitando um momento sem censura. Se Noah pudesse corar,
certamente ele estaria assim.
O Rei cordialmente sorriu e pigarreou discretamente olhando para o chão.
Alex congelou no lugar e parou bruscamente.
Seryn virou a cabeça e fitou Noah, que estava perto da entrada da biblioteca.
- Gostaria de chamá-las para se juntar a nós lá em baixo. Estamos todos reunidos. – O Rei
falou polidamente.
Alex riu de maneira desconcertante e se encolheu no colo da vampira com um leve rubor
nascendo em suas maçãs.

Todos estavam reunidos na sala, e para a surpresa de Seryn sua humana parecia mais animada.
Rindo à toa e gesticulando de maneira exagerada, ela fazia quando gostava de alguma situação
que se encontrava.
Alex contava suas histórias de adolescente e do começo da vida adulta.
Abigail ria com a mão na frente da boca e Oli sorria, quando escutava algo absolutamente
inusitado para um vampiro fazer. Noah também apenas oferecia um sorriso e Seryn se
concentrava em absorver toda a informação que Alex gerava.
Estava orgulhosa de sua humana.
Finalmente ela dormira, depois de horas de conversa. Ali mesmo, no sofá da sala. A única
coisa que sabia antes de se entregar ao sono era que a lua estava pendurada no céu, pois a
janela do cômodo estava escancarada.
Seryn a pegou no colo e a carregou com cuidado até o quarto que dividiam. A vampira ficou
por observar Alex e mais uma vez ficara impressionada com a beleza da garota.
A rainha dos Altos, não acreditava que ali estava. Descobrindo, depois de 600 anos, um
sentimento único. Longe de sua escuridão, violência, libido e sangue. Um sentimento ainda
sem a palavra certa, mas que estava sendo muito bem-vindo.
Seryn faria de tudo para proteger Alex.
Foi nesse momento que a vampira descobriu o significado da palavra incondicional.

Apenas no dia seguinte no começo da noite quando Alex e Seryn estavam na varanda
observando as primeiras estrelas do céu que Felipe apareceu.
- Majestade. – O súdito de Seryn colocou a mão fechada no peito e fez uma referência.
- Felipe.
- O bruxo Pablo concordou em encontrar vocês. Amanhã ele estará no hotel Masterful. –
Felipe contou mudando as mãos para atrás das costas.
Os vampiros que acompanharam seu súdito, estavam cada um posto ao seu lado.
Seryn se virou para um deles e disse.
- Fale com seu rei que partiremos imediatamente.
Alex piscou confusa e desnorteada com as informações.
Ela estava prestes a conhecer um semelhante.
XXVII – Alex se viu dentro da limusine quando o relógio marcou 22 horas.
Seu cabelo ruivo estava preso em um rabo de cavalo frouxo, vestia calças jeans, botas de cano
alto, uma blusa bastante colada cor bege, que realçava seus seios e uma jaqueta de couro
vermelho.
Seus dedos passeavam de tempos em tempos no bolso da jaqueta, pois queria se certificar de
que seus socos ingleses dados por Noah estavam guardados ali.
Alex se sentiu como um cervo, com os olhos o tempo inteiro atentos à procura de seu próximo
caçador.
Seryn estava sentada ao lado de sua humana, com o braço em volta de seus ombros e pernas
cruzadas.
A vampira como sempre se vestia de maneira impecável. Usava uma saia preta reta de couro
preto, com uma leve abertura atrás, uma blusa transparente vinho e saltos altos fechados que
combinava com a mesma coisa da saia.
Seryn institivamente apertava o ombro de Alex, quase que em sincronia quando sua humana
passeava com os dedos pelo bolso da jaqueta.
A vampira podia sentir a incerteza de Alex, assim como suas momentâneas cargas de coragem.
Seryn olhou de soslaio para a ruiva, sua pele quente e macia brilhava levemente, o cheiro de
seu sangue estava um pouco mais elevado que o normal. Era vicioso inspirar essa fragrância,
mas a vampira não fazia questão de resistir. Tudo em sua humana era vívido demais.
A Rainha dos Altos lambeu os lábios inconscientemente, mas seus sentidos ao mesmo tempo
gritaram. Pois alguém a observava.
Abigail.
A linda Rainha dos Mortorios estava sentada em sua frente e a fitava com um mínimo sorriso
desenhado em seus lábios. Seryn não retribuiu, mas ambas as vampiras entenderam o que se
passava entre elas. As duas afinal experimentavam o mesmo sentimento.
Abigail era louca por Noah e Seryn por Alex.
Noah sentava ao lado de sua Rainha e sua mão descansava sobre a coxa da vampira negra.
Por outro lado, Oli sentava separadamente, perto das duas portas no final da limusine. Ele tinha
a visão perfeita de todos, porém seus olhos se mantinham fechados e sua cabeça levemente
tombada para trás. Era claro que ele não dormia, afinal, vampiros não fazia tal coisa. O Mutano
apenas meditava.
- A viagem levara cerca de 4 horas. – Noah informou brevemente, com sua voz grave. – Sugiro
que todos tomem seu tempo e que Alex caso se sinta cansada apenas... Bem, durma.
Alex sorriu e colocou sua cabeça no peito de Seryn. Bocejou e suspirou.
Já não se importava mais em privar seus afagos e carinhos. Era bom também ver que a vampira
também já partilhava desse sentimento, pois não se opôs quando o cabelo ruivo roçou em seu
nariz.
A garota de olhos coloridos sabia que todos os vampiros no carro estavam presos em seus
próprios pensamentos. Tensos com que poderia aparecer, no fim resolvera fazer o mesmo. Era
na realidade o que restava fazer.
Respirou profundamente e se aninhou ainda mais contra Seryn.
Dentro de Alex havia uma mistura de excitação, pois finalmente conheceria o seu verdadeiro
ser que tanto tempo estava esquecido e o medo constante, a sensação percistente de que tudo
iria dar errado. Essas sensações sobrevoavam a cabeça da garota de maneira bastante vívida.
Alex passara depois de um certo tempo em um estado de sonolência prazerosa, entre aquele
delicioso momento em não saber se está acordada ou dormindo.
Entretanto, esse estado não durou muito tempo, pois o carro parou em uma freada brusca e se
não fosse por Seryn abraçando seu corpo ela voado para cima de Abigail.
Um arrepio desagradável passou por sua espinha e seus dedos roçaram mais uma vez os socos
ingleses.
- De novo não. – Alex murmurou cansada.
- O que você quer dizer... – Noah começou a falar, mas fora interrompido, por alguém que
abrira a porta do carro ao lado direito de Oli e que praticamente pulou em cima do colo do
Mutano com a intenção obvia de atacá-lo.
Ouviu-se também um estalo metálico alto. Alex olhou para cima e o teto da limusine
deformou, causando amassados pela lataria.
Oli se engalfinhava com o vampiro que estava tentando ferí-lo. Mas o Mutano, era safo e
poderoso. Ele encaixou seus pés no peito do vampiro e flexionou suas pernas, empurrando-o
para fora do carro.
- Deuses, são muitos. – Oli falou ao ter um vislumbre do que estava acontecendo lá fora.
Nesse mesmo instante, uma das janelas da limusine estourou e um braço peludo e desesperado
por agarrar em algo surgiu. Rapidamente a mão encontrou um pescoço e o vampiro apertou
seus dedos com força.
O dono do pescoço era Noah, entretanto, antes que ele pudesse reagir a qualquer coisa, Abigail
fora ainda mais rápida. Sacou uma faca de prata e um único golpe, levando a lâmina de baixo
para cima, foi o suficiente para decepar a punho do vampiro, que tentava machucar seu marido.
- Precisamos sair daqui! – Seryn comunicou seriamente. – Felipe acelere isso. – A vampira
ordenou dando 3 socos seguidos na divisão preta que dividia a cabine do restante da limusine.
Porém, nenhuma resposta veio.
- Felipe, ANDE! – A vampira ordenou em um berro brutal e carregado de raiva.
O teto do carro rompeu e um vampiro enfiou um pedaço do rosto na abertura. Ele procurou seu
alvo, a linda humana de olhos coloridos. Seu olho não parava, freneticamente analisando a
limusine.
- Te achei! – O vampiro tinha voz metálica e fina, trazendo um arrepio de medo em Alex.
Abigail rodou sua faca e enfiou a lâmina na abertura, penetrando o olho do vampiro que
atravessou por toda a extensão do seu cérebro. Ele fora exterminado instantaneamente.
Alex e Abigail se entreolharam e olhos coloridos da humana estavam totalmente escancarados.
Seryn fitou Alex e sentiu o medo que a garota sentira.
Seryn tinha que tirar sua humana dali.
Seus dedos voaram no controle que ficava fixado no braço da poltrona da limusine e apertou
um botão vermelho.
A divisão começou a baixar e a vampira apenas sibilou juntamente com uma palavra que sairá
enrolada de sua boca.
- Merda.
A existência de Felipe tinha chegado ao fim, assim como o vampiro Mortorio que estava no
carona.
Apenas restavam cinzas e Seryn vacilou rapidamente, seu súdito por 70 anos, um dos mais
fies, agora morto.
Infelizmente a Rainha não teria tempo de ficar em luto, acima de tudo Alex ainda corria
perigo.
Ela levantou os olhos e fitou através dos vidros estourados e se surpreendera com a quantidade
de vampiros que tinha cercando a frente do carro.
Um hibrido qualquer saiu correndo em direção ao carro e pulou no capo, amassando ainda
mais a lataria.
Ele ficou em pé com os joelhos ligeiramente flexionados e grunhiu se jogando para dentro do
carro.
Seryn não perdeu tempo e investiu com um soco, que acertou no maxilar do vampiro. Ele
tentou se agarrar em algo, mas não encontrou nenhum apoio. A Rainha dos Altos aproveitou a
burrice do hibrido e agarrou sua cabeça, levando-a várias vezes contra a fuselagem do carro. A
cabeça do vampiro se chocava em um baque surdo, mas que fazia a vampira sorrir. Era um
ruído alto da morte chegando.
Seryn podia sentir os ossos da face do vampiro se quebrar, ela rosnou e finalmente seus
caninos desceram. Em um último impulso reservado de raiva, a vampira jogou a cabeça do
vampiro contra o teto do carro e o hibrido se desfez em suas mãos.
Alex gritou angustiada quando Oli fora puxado para fora do carro.
A rainha dos Altos olhou para Alex preocupada e viu seu amigo sendo sugado pela escuridão
da rua.
- Noah vá ajudá-lo! – Seryn exigiu rispidamente.
Noah apenas acenou e saiu atrás do Mutano.
Seryn fez menção de pular a divisória para chegar à frente do volante, mas fora detida por uma
mão quente em seu ombro.
- Onde você vai? – A garota tentou argumentar, tentando manter sua voz calma.
- Eu preciso limpar o caminho e ajudar Noah e Oli. – Seryn respondeu roucamente.
Nesse momento tudo o que o corpo da vampira gritava era por um banho de sangue.
- Abigail ficara aqui com você. – Seryn argumentou.
A rainha dos Mortorios apenas concordou com a cabeça.
- Seryn, por favor. Apenas não morra.
A vampira quase sorriu ao pedido de sua humana. A rainha se inclinou e esfregou levemente
seus lábios contra o pescoço quente de Alex.
- Eu não vou morrer, minha querida. Eu já estou. – Seryn falou sarcasticamente contra a pele
sensível do pescoço da sua humana e seu corpo reagiu com a quentura que Alex emanava.
Isso serviu apenas como uma alavanca pela sua fome de violência.
Seryn se concentrou e se desprendeu de Alex.
Em um pulo rápido se colocou na frente do volante e sua mão voou na chave, que já estava na
ignição. Mas por algum motivo o motor não respondeu.
Deuses, isso só pode ser brincadeira. Seryn amaldiçoou em um pensamento febril carregado
de cólera.
Rodou a chave novamente e o carro não respondeu.
Seryn se inclinou para o lado e abaixou a cabeça à procura de alguma coisa que pudesse
responder o problema. Ela não tinha ideia do que estava olhando ou fazendo, mas ao ouvir a
voz de Abigail chamando o seu nome, congelou.
Demorou alguns poucos segundos para voltar a si e quando se levantou, deu de cara com 2
rostos a centímetros do seu. Quatro mãos a agarraram e Seryn apenas sentiu seu corpo sendo
projetado para fora do carro. Escorregou pelo capo do veiculo e caiu diretamente no asfalto.
Porém, rapidamente se levantou com os cabelos escondendo seus olhos.
Seryn nesse instante estava com muita raiva, a besta se sacudiu ferozmente dentro dela e ela
sorriu lascivamente.
Ah, ela queria sangue...
Alex arregalou os olhos e colocou a mão na boca em um grito silencioso, quando viu Seryn
enfrentar os vampiros com uma rapidez e mortalidade que nem ela mesma conseguia
acompanhar.
Seu coração acelerado, sua mão suada e calafrios percorrendo toda sua espinha a deixava
dispersa e perdida. Mas ela não podia ficar parada ali, tinha que tentar fazer alguma coisa. Não
queria ser inútil. Aquela luta não era só de Seryn, ou de Noah. Era dela. Estava aterrorizada, só
que ver os vampiros que se importava morrer, não era bem uma opção que passava pela sua
cabeça.
Enganchou os socos ingleses nos dedos e curvada virou-se para porta, onde Oli fora arrancado.
- Onde pensa que vai? - Indagou Abigail segurando seu braço.
- Eu tenho que ajudá-los. – Alex respondeu afoita. – Talvez eu possa conseguir despertar algo
dentro de mim, sei lá, ser útil.
- É muito perigoso, Alex. Se algo acontecer com você. Deuses, nem mesmo Noah vai deter a
fúria de Seryn.
Alex e Abigail se entreolharam novamente, a respiração da humana estava acelerada e
entrecortada.
Abigail desviou os olhos momentaneamente por cima do ombro de Alex e viu um Insolente,
entrando pela porta do carro à procura da humana.
A Rainha empurrou Alex para o lado no segundo que o vampiro saltou sobre elas.
A vampira rodou a faca na mão e a deixou horizontalmente, a frente de seu rosto. Em um
movimento preciso Abigail tentou golpeá-lo, mas o vampiro desviou inclinando seu corpo para
trás. Entretanto, ele não esperava o soco certeiro e bem dado de Alex. O soco inglês bateu em
cheio a maça do rosto do Insolente.
O soco foi duro, pois a pele do vampiro ficara queimada, como uma queimadura de segundo
grau.
Abigail percebeu que a mão do vampiro estava apoiada na fuselagem do carro, entre duas
janelas e usou sua faca para perfurar a mão do Insolente. A prendeu no lugar e o vampiro
grunhiu de dor e mais uma vez sem esperar, recebeu outro soco de Alex, desta vez ainda mais
forte.
Abigail tirou outra faca de trás de sua vestimenta e a cravou no peito do vampiro, rente ao
coração.
O insolente desmanchou na frente das duas.
Abigail arregalou os olhos e fitou Alex para ter certeza que ela estava bem. Viajou
rapidamente pelo corpo da humana e tudo aparentemente estava no lugar.
Entretanto outro vampiro surgiu no carro, porém desta vez ele vinha pela frente.
- Vamos, vamos! – A rainha dos Mortorios exclamou, guiando Alex para fora da limusine.
Alex saiu do veículo e viu o horror que estava inserida. A rua caótica e lotada de cinzas.
Vampiros atacavam Oli, Noah e Seryn em grupos de três ou quatro em ataques coordenados.
Porém, os três vampiros mesmo que sujos de sangue e com vestes rasgadas se garantiam.
Oli pegava um vampiro e os lançava no ar com uma força inimaginável. Noah parecia um urso
gigante que se abria por inteiro esticando seu corpo e usando suas mãos para esmagar qualquer
coisa ou, no caso vampiros que apreciam em seu caminho. Seryn arrancava os corações de
seus inimigos usando seu braço como uma serpente pronta para o bote e com a mesma rapidez
que perfurava o peito do vampiro tirava o órgão da caixa torácica. Separava as cabeças do
vampiro agarrando-os pelo pescoço e ombros. Definitivamente a rainha dos Altos era uma
máquina mortífera.
Abigail atrás de Alex cuidava do híbrido que tentava sair do carro. Usou com destreza as facas
de prata, mesmo a vampira sendo pequena era muito rápida, pois mal conseguia ver as lâminas
dançando pelo ar.
Todos estavam ocupados e Alex encontrava-se perdida entre a confusão.
Seu instinto inicial fora correr até Seryn para ajudá-la.
Em sua visão periférica apareceu um vampiro bastante ágil, mesmo acelerando o passo Alex
não conseguiria chegar a tempo. Foi então que o vampiro se colocou em sua frente.
O insolente sorriu e tirou do cós da calça jeans larga um chicote. Ele a desenrolou e bateu a
ponta de couro contra o asfalto.
- Finalmente te encontrei.
Ele levantou a mão e o chicote ergueu. O insolente estava prestes a dar lhe um corretivo, Alex
apenas engoliu em seco esperando o coice da ponta de couro.
Mas como era de se esperar, tudo na vida dessa garota era estranha e absolutamente incomum.
Entre as árvores dos bosques que cercavam a rua, um enorme lobo branco surgiu de lá.
O lobo correu e pulou em cima do Insolente abocanhando-o com os enormes e afiados dentes.
Foi o suficiente para arrancar um pedaço do vampiro. A mordida acertou o ombro e o pescoço
do Insolente, que no mesmo instante desintegrou virando cinzas.
Alex ficou estatelada, sem qualquer reação.
O lobo era simplesmente gigante, com a pelagem branca e sedosa que brilhava contra a lua.
A garota reconhecera aquela criatura.
Esse lobo na realidade era um lobisomem.
Sabia disso, pois lera no livro que conseguiu na biblioteca do casarão.
Alex hesitou, dando meio passo para trás. Afinal o lobisomem que estava em sua frente,
poderia ser um daqueles descontrolados. Mas algo fez a parar.
O lobo parou e mexeu as orelhas, sentou brevemente e a fitou.
A criatura tinha grandes olhos cor de mel.
O lobisomem desviou o seu olhar expressivo para cima e uivou. Então se levantou e suas
pernas traseiras tencionaram, ele correu em direção de Alex. Mas no último segundo desviou,
atacando um vampiro.
Novamente em uma única mordida acabara com a existência do hibrido. O Lobo contornou
Alex e correu para Seryn.
A garota percebeu que ele estava ajudando a Rainha dos Altos, usando suas patas e enorme
boca para aniquilar qualquer um que se aproximasse demais de Seryn.
A vampira não pode deixar de perceber, ficou tensa e confusa com a ação do lobisomem. Ela
atacava os vampiros, mas seus olhos sempre achavam a fera. Não seria muito sábio perde-lo de
vista.
Não demorou muito para que os híbridos e insolentes sumissem, desistindo da armadilha.
Noah e Abigail rapidamente se juntaram a Alex e a escoltaram até Seryn. Oli desceu ficando
alguns metros de altura, tento uma visão mais ampla da área.
Todos eles encaravam a besta branca.
Seryn se colocou na frente de Alex, mesmo que o lobo tenha ajudado se livrar dos vampiros, A
rainha dos Altos jamais confiaria em um lobisomem.
Seryn chegou até mesmo se perguntar, se os lobisomens agora trabalhavam para a ordem dos
Feiticeiros. Era algo que poderia se esperar, vindo da laia de feras impensantes como os lobos.
A fera caminhava de um lado para o outro, até que finalmente se sentou na frente de todos os
vampiros. Ele mexeu o focinho e as orelhas. Respirou fundo e bocejou mostrando sua boca
lotada de dentes.
Sua transformação começou lentamente. O lobisomem se esticou, os ossos de seu corpo
estalavam parecendo estar quebradiços, sua pelagem fora desaparecendo dando lugar a pele
humana. Suas patas foram substituídas por mãos e pés. Suas orelhas e rabo felpudo também
sumiram, dando lugar as características humanas.
Alex observava a transformação com interesse e fascínio, mesmo que o medo ainda se
perdurasse dentro dela. Contudo esse último sentimento fora esquecido.
Seu coração inflou e suas pernas fraquejaram, Alex lambeu os lábios secos e deu um passo
para frente passando Seryn.
O homem estava lá, com a cabeça de cabelos escuros tombada para frente. Alex parou
momentaneamente de respirar quando viu o braço daquele homem inteiramente fechados por
tatuagem.
Finalmente o rosto se levantou.
Ali estava o homem que durante anos fora sua única família.
Alex limpou a garganta e teve que se lembrar de respirar novamente.
A beleza constada naquele rosto era tão conhecida e pessoal, que Alex não achou palavras para
descrever o que sentia.
Mas balbuciou o nome que estava preso em sua língua.
- Lucius!?
XXVIII -
- Lucius? – Alex repetiu o nome de seu amigo.
O rapaz sorriu sem jeito, levando a mão esquerda para o ombro direito e se levantou por
completo.
- Ei... Alex. – Falou baixinho, com a voz levemente rouca.
- Ele a conhece? – Abigail perguntou curiosamente, com cuidado já que a questão fora
direcionada para Seryn.
- Eles eram... – A vampira parou trincando os dentes antes de reformular a sua frase. – Eles são
amigos.
- Alex? Amigos de vira-lata? – Oli se pronunciou, descendo calmamente do seu voo.
- Aparentemente. – A rainha comentou entre os dentes.
- Você é um lobisomem. – Alex afirmou, mas ainda procurando alguma resposta honesta do
seu amigo.
- Sim. – Lucius apenas concordou ainda com um sorriso sem graça nos lábios.
- Deus, você está nu.
Os olhos de Alex desceram automaticamente para o órgão sexual do seu amigo.
- É... Pois é.
Alex desviou os olhos rapidamente encarando o asfalto e sentiu suas bochechas esquentarem.
Tudo bem, eles eram amigos há anos, mas a garota nunca vira o pênis do amigo. Aliás, nunca
antes vira qualquer um ao vivo.
- Eu posso te explicar.
- Sobre sua nudez? – Alex franziu o cenho se esquecendo de que Lucius era um lobo.
- Não Alex.

Seryn fitava a relação natural entre os dois e não gostou daquilo. Não era pelo fato de Alex
estar se relacionando com alguém e sim pelo fato de ter um relacionamento com um
lobisomem.
Isso era nojento.
- Me dê seu sobretudo.- Seryn ordenou, se virando para Oli.
- O quê? Por quê? – O Mutano queixou-se rapidamente.
A vampira estendeu a mão.
- Oras, Lucius está nu.
- Não irei tirar meu sobre tudo para dar a um vira-latas. – Oli reclamou claramente contrariado.
- Oli... – Seryn rosnou.
O Mutano trancou os dentes de raiva e praticamente arrancou e vestimenta do seu corpo.
Seryn pegou o sobretudo com um sorriso satisfeito e andou até Alex. Jogou com fúria a peça
de roupa no meio do peito de Lucius.
- VISTA-SE! – A vampira exigiu aborrecida, num resmungar baixo.
Lucius pegou o sobretudo e se vestiu. Suas narinas inflaram e seu rosto inclinou levemente
para a gola.
Como fede. O lobisomem pensou fazendo uma careta desagradável.
- Explique-se vira-lata. – Seryn exigiu novamente, com a voz assustadoramente ameaçadora.
Os dois seres rosnaram um para o outro e Alex alternou o olhar entre Lucius e Seryn. Mesmo
confusa e atônita com o acontecimento, sabia que a relação daqueles dois simplesmente não
daria certo.
Justamente seu melhor amigo e com a vampira na qual estava apaixonada.
Inimigos mortais.
- Eu devo explicações nenhuma para você, sangue suga. Felizmente. – Lucius avisou dando
um passo à frente.
Oli, Noah e Abigail copiaram Lucius e chagaram mais perto. Oli foi ainda mais ousado e
deixou suas presas estalarem.
O lobisomem tentou ignorar a presença dos vampiros e se virou para Alex. Colocou um joelho
no asfalto e dobrou a outra perna, ajoelhando-se em frente da garota. Pôs sua mão esquerda em
cima do peito e sorriu docemente.
- Eu fui enviado para te proteger, Solis. – Lucius fitou Alex falando seriamente. – Minha
matilha protege humanos como você. Bruxos. E você é a minha protegida.
Alex olhou para o amigo com a boca ligeiramente aberta, tentando ou ao menos argumentar
algo. Sua cabeça estava lotada de perguntas, mas nenhuma conseguia preencher uma linha de
raciocínio para ser verbalizada.
Seu melhor amigo, era afinal um lobisomem, ela uma bruxa e a mulher que estava apaixonada
uma vampira. Ela queria rir, mas era um riso de desespero e nervoso.
- Ela não precisa de sua proteção. Alex tem a mim. – Seryn interveio colocando-se ao lado de
sua humana.
A sensação que a garota tinha era que ambos estavam brigando por ela. Como se de alguma
maneira Alex pertencesse á alguém.
- Alex, eu posso te explicar tudo, se você quiser. Mas por favor, acredite em mim quando digo
que estou aqui por você. – Lucius falou ignorando a fala de Seryn. – Eu tenho que te proteger.
- Nós não temos tempo para explicações. – Oli se intrometeu.
O Mutano abriu um pouco as asas e olhou para o pequeno lobisomem ainda ajoelhado.
- Ele pode vir com a gente. – Alex disse depressa.
Lucius sorriu ternamente e acenou com a cabeça concordando.
- Ele vai com a gente. – A garota repetiu.
- O quê? – Seryn indagou quase furiosamente.
- Lucius pode ter mais respostas e é o único além de mim que pode andar sob o sol, podemos
usar isso ao nosso favor futuramente.
- Odeio concordar sobre esse assunto com Alex, mas acho que ela pode ter razão. – Noah disse
se aproximando junto ao pequeno grupo.
- Seryn, por favor. – Alex pediu tentando seu melhor para persuadir a vampira.
A rainha dos Altos cruzou os braços e inclinou a cabeça levemente, projetando seu queixo para
frente. Ela queria parecer irredutível.
- Por favor. – Alex pediu mais intimamente, se aproximando da vampira.
Seryn suspirou fitando aqueles grandes olhos coloridos, passou o dedo anelar pela sobrancelha
e com a outra mão enlaçou a cintura de Alex. Ela queria mostrar para Lucius a quem Alex
realmente pertencia. Era um sentimento irracional e estúpido, mas a vampira queria provar ao
lobisomem que Alex não precisava dele.
- Tudo bem. – Resumiu.
Simplesmente não conseguiria negar isso a sua humana e ao ver o sorriso de Alex. Teve
certeza que mesmo contrariada, fizera a coisa certa.
- Ótimo, decidido. – Oli falou extremamente insatisfeito. – Temos que partir imediatamente.
- Não podemos ir de carro. – Abigail contou. – Ele está completamente destruído.
- Iremos da maneira antiga, então. – Seryn respondeu. – Acha que pode nos acompanhar? – A
vampira perguntou com um certo tom de desdém para Lucius.
O lobisomem se levantou e sorriu maliciosamente.
- Você está brincando, com toda certeza. – Lucius respondeu alegremente, dando pulinhos e
sacudindo as mãos como estivesse aquecendo.
- Oli, leve Alex com você. Acredito que pelo ar não teremos nenhum imprevisto. Eu, Noah e
Abigail iremos junto com o vira-lata apostar uma corrida. – Seryn informou ditando as
instruções.
- Então nos vemos no hotel. – Alex disse colocando-se nas pontas dos pés para beijar a
bochecha da vampira.
- Alex, eu preciso que leve isso para mim. Não posso chegar no hotel nu. – Lucius tirou o
sobretudo.
A garota pegou a roupa e novamente ficou de boquiaberta quando viu seu amigo se
transformou de antes dos seus olhos.
- Eu acho que nunca vou me acostumar com isso, por mais o quanto seja surpreendente. – Alex
declarou, fitando a enorme fera branca.
- Com licença, Srta. Solis. – Oli se aproximou e cuidadosamente com uma facilidade extrema
pegou a humana no colo.
- Deus! – A garota murmurou exasperada, envolvendo um de seus braços fortemente em volta
da nuca do Mutano. – Não me deixe cair, por favor.
Oli sorriu e acenou, começando assim a planar lentamente para que Alex conseguisse se
acostumar com a diferença entre estar no chão firme e no ar.
Alex engoliu em seco espichando os olhos para baixo, ela involuntariamente apertou seus
dedos nos ombros de Oli.
- Minha bolsa! – Alex falou num súbito.
- Eu pego para você. A gente se vê no hotel. – Abigail sorriu esticando o braço para cima e
acenou.

- Oli, por favor. – Alex pediu sem saber ao certo o que dizer.
- Apenas aproveite a vista. Srta. Solis.
Alex já tinha voado de avião algumas vezes em sua vida, mas isso não chegava aos pés do que
estava provando. Ela voava em céu aberto, sentindo a brisa fresca batendo contra o seus
cabelos e face. Alex não sabia para onde olhar, ora fitava o céu, ora para o horizonte, onde ao
longe poderia ver pequenos pontinhos de cores variadas, indicando a proximidade da cidade.
Alex olhou rapidamente para Oli e tinha que admitir que os traços aristocráticos do Mutano, o
fazia um vampiro muito charmoso. Ele estava concentrado com os olhos fixos no horizonte.
Suas asas cinzas batiam ritmicamente, elas brilhavam contra a luz da lua dando um efeito
expetacular.
Não foi de se esperar, depois de algum tempo quando Oli abaixara a cabeça viu Alex
ressonando contra o peito. Ele sorriu e a apertou mais contra ele, na tentativa de deixa-la ainda
mais segura.

Seryn diminuiu a velocidade parando alguns metros do hotel de luxo, já era quase 5 da manhã.
Correram quase 3 horas, sentia-se um pouco esgotada pelo esforço da corrida, mas ainda
estava alimentada e satisfeita.
Noah e Abigail chegaram logo em seguida e dobrando a esquina um pouco mais atrás um
imenso lobo branco corria entre a escuridão da calçada.
A vampira rosnou e fez uma leve careta repuxando o lábio superior para cima.
Lucius tinha conseguido acompanhar os vampiros mesmo que em todo trajeto tenha ficado
para trás. Seryn teve que admitir a si mesma que pela idade do lobisomem, o vira-lata era bom.
- Como iremos entrar? – Abigail foi a primeira a falar. – Estamos com roupas rasgadas, com
sangue seco espalhados por todos os lugares e bem, temos um lobisomem seminu em nossa
cola.
- Sou da Ordem dos Altos, Abigail. Isso não será um problema para mim. Um pouco de
persuasão e manipulação será o suficiente. – Seryn respondeu. – Eu pego as chaves e vocês
esperem aqui fora. Apenas tome cuidado para não serem vistos dessa maneira.
- E quanto nosso amigo aqui? – Noah indagou apontando com o polegar para o imenso lobo
branco atrás deles. – Será bastante difícil esconder um lobo até que retornem.
Seryn suspirou aborrecida, ainda se perguntando o porque diabos aceitara o pedido de Alex.
Lucius já se tornava uma pedra em seu caminho. Mas a vampira descobriu que faria qualquer
coisa por sua humana, inclusive administrar sua aversão por lobisomens.
Seryn jamais fora vista com um lobo, a não ser quando estava matando um.
- Ele entrara comigo e com Alex.
A Rainha dos Altos olhou para cima ao sentir a presença de Alex. A sua humana esperou Oli
fixar seus pés no chão e deu um leve pulinho para descer do colo do Mutano. Seu rosto estava
um pouco inchado e marcado.
Era claro que Alex estava dormindo, Seryn quase balançou a cabeça ao perceber isso.
Alex era preguiçosa, mas ficava linda quando acordava.
- O que perdi? – Oli perguntou jovialmente colocando as mãos nos bolsos da calça.
- Noah irá te explicar. – Seryn resumiu.
Alex andou até o lobo branco e colocou o sobretudo em seu lombo. Deu um passo para trás e
assistiu à transformação de Lucius.
Seu amigo se esticou, alongando seus braços fortes para cima. As mangas do sobretudo caíram
e suas tatuagens ficaram à mostra. Abaixando as mãos novamente, fez um nó apertado com o
cinto da vestimenta que pegara emprestado com Oli.
- Você está bem? – Lucius perguntou, enquanto se aproximava procurando uma resposta no
rosto de Alex.
A garota sacudiu a cabeça positivamente.
- Assim que tivermos tempo irei lhe explicar tudo, prometo. – Lucius continuou ainda com a
voz baixa.
- Vira-lata venha! – Seryn chamou Lucius rispidamente. – Alex, vamos entrar, você também
precisa descansar. – A voz da vampira mudou ligeiramente ficando mais terna.

Seryn, Alex e Lucius partiram primeiro em direção ao hotel.


Alex e Lucius olhavam para baixo, tentando não manter contato com os seguranças que
ficaram na entrada do hotel.
Tentando agir naturalmente, Lucius passou o braço em volta da cintura da garota e sorriu
jogando-lhe uma piscadela. Eles andaram despreocupadamente até a porta giratória dourada do
hotel e passaram.
Seryn travou a mandíbula ao ver o lobo se aproximar mais de sua humana, mas se controlou
engolindo seco. Mesmo contrariada, tinha que admitir mais uma vez que Lucius estava certo
ao tentar agir com casualidade.
Seryn então usou sua super velocidade e passou pelos seguranças sem ser percebida e pela
porta giratória. A vampira parou perto de uma pilastra robusta e clara, onde a câmera de
segurança não pegaria.
O salão de entrada era grande e espaçoso, com um teto alto e um imenso lustre pendurado de
muitas camadas. O piso do chão era amarelo, preto e rosa que formavam um perfeito desenho
de uma rosa dos ventos. A esquerda havia um outro ambientem, com poltronas vermelhas e
vinhos e para acompanhar uma linda lareira, que quando acesa fazia um espaço acolhedor. Já o
lado direito, localizava um pequeno charmoso café, com mesas e cadeiras de madeiras claras e
elegantes. Os três espaços eram divididos por essas enormes e imponentes 4 pilastras, sendo
distribuídas 2 a cada lado.
Seryn surgiu de trás de uma delas, colocando-se ao lado de Alex e logo sua mão procurou o
centro as costas quentes da humana. Achava que a qualquer momento Lucius iria mijar em
Alex para marcar território.
Os três chegaram juntos na recepção deserta, a não ser por uma pequena mulher que estava
localizada atrás do balcão dourado. A mulher tinha cabelos vermelhos e olhos verdes.
Visivelmente cansada, tentou colocar um sorriso no rosto.
Seryn não queria perder tempo seus pés estavam a incomodando profundamente, não era fácil
ter que correr durante horas com saltos altos.
A vampira colocou o antebraço em cima do balcão e fitou a mulher em sua frente. Ela se
concentrou e buscou o olhar da humana cansada e assim de maneira fácil conseguiu conecta-la.
Em geral, a formula de manipulação era fácil, apenas quando se tratava de Alex que Seryn
tinha que fazer um esforço bem maior.
Não havia nenhuma outra alma em todo o saguão, em outros tempos chamaria a recepcionista
para o seu quarto e a usaria como banquete. Não apenas para saciar sua fome, mas seus desejos
também sexuais. Entretanto, hoje isso era impensável, pois mais nada preenchia os desejos e
prazeres de Seryn melhor que sua Alex.
- Posso ajudar em algo? – A mulher perguntou roucamente, mas ainda assim mantinha o
sorriso que agora começava a se transformar em algo mais polido.
Alex observava com fascínio evidente, pois a recepcionista que antes parecia cansada, teve seu
rosto acesso assim que fizera contato com Seryn. A garota ainda lembrava de quando a rainha
dos Altos fizera isso com ela, era inacreditável a influência que a vampira mantinha quando
usava a manipulação.
Era esse o poder dos Altos. Entretanto, Seryn sempre lhe dizia que com a humana, seu poder
não funcionava direito. A vampira tinha que despender demais a sua energia para conseguir
algo de Alex. Ela também ouviu dos lábios de Seryn, que nunca mais usaria esse poder em
cima dela.
- Gostaríamos de 4 quartos. – Seryn ordenou friamente.
- Só fizemos check in com reserva, senhora. – A mulher disse cordialmente.
Seryn se aproximou mais e esticou o braço para tocar fugazmente nos dedos da mulher que
descansavam sobre o balcão. A vampira baixou o olhar por poucos segundos e leu a plaquinha
dourada que ficava fixada no colete preto em cima do seio esquerdo. O seu nome estava
gravado ali com letras de caixa alta em preto.
O nome da recepcionista era Gisele.
- Gisele... – Seryn ronronou o nome da mulher. – Queremos 4 quartos.
A mulher engoliu em seco, antes de molhar os lábios secos com a língua. Dava para ver o
nervosismo evidente de Gisele, suas mãos tremiam um pouco e a vampira poderia escutar o
coração da recepcionista bater fortemente contra o peito. As coisas sairiam mais fáceis do que
imaginava.
Gisele olhou para o monitor que ficava atrás do balcão e todos ouviram seus dedos baterem
contra o teclado.
- Temos 3 quartos a disposição. – A recepcionista informou com a voz um pouco mais robótica
trazendo um arrepio desagradável pela coluna de Alex. .
- Alguém terá que dividir um quarto. – Seryn comunicou em voz alta. – O vira-lata não ficara
com a gente.
- Coloque-o com Oli – Alex tentou parecer casual, mas sentiu suas têmporas esquentarem.
- O que? – Tanto Seryn quanto Lucius falaram em uníssono.
- Lucius é único jeito, aliás sairemos amanhã para comprar roupas. Então não irá ficar muito
tempo com Oli dentro do quarto. – Alex falou dando de ombros.
- Deuses, quando o Mutano descobrir, certamente vai querer nos matar. – Seryn disse,
passando os dedos rapidamente na testa, antes de voltar para Gisele. – Queremos os 3 quartos.
- Tudo bem. – A recepcionista fitou os olhos de Seryn acenando alegremente.
Gisele pegou 3 cartões magnéticos indicativos dos números de cada quarto e os passou numa
pequena máquina que os liberavam para abrir as respectivas portas.
- Preciso de seus documentos. - Gisele pediu polidamente.
- Sinto muito Gisele. Sem documentos. – Seryn comunicou. – Agora, me entre os cartões. – A
vampira falou baixo estendendo a mão.
A recepcionista balançou a cabeça e com as mãos tremulas entregou os cartões a Seryn.
- Obrigada, querida.- A vampira abaixou a voz e propositalmente roçou seu polegar nas costas
da mão direita de Gisele, que retribuiu um sorriso envergonhado. – Mais uma coisa Gisele,
daqui 5 minutos você irá se esquecer de tudo o que aconteceu aqui.
A recepcionista apenas acenou.
Seryn desprendeu seus olhos da mulher e voltou para Alex e Lucius.
- Estamos no quarto 417. Eu encontro você lá em cima. – A rainha dos Altos comunicou,
enquanto entregava o cartão referente ao quarto para Alex.
A humana pegou o cartão magnético e o tamborilou com os dedos duas vezes. O número do
quarto na qual iria dividir com Seryn estava gravado em dourado e logo abaixo uma imagem
do hotel em que acabaram de se hospedar. Um prédio de 4 andares, espelhado com uma
ondulação sinuosa. Na visão de Alex era um edifício bastante moderno.
- E você, no 215. Suba junto com Alex. – A rainha dos Altos ordenou, entregando o cartão
para Lucius.
Vou encontrar Noah e Abigail lá fora para entregar o cartão deles e fazer a comunicação oficial
para Oli, que terá o prazer de dividir o quarto com um vira-lata.
Seryn se virou e correu, passando pelo saguão vazio, pelas portas giratórias e pelos seguranças.
Encontrou o Rei e a Rainha dos Mortorios estavam conversando baixinho, e Oli se instalou na
penumbra da fachada de um prédio velho com as costas apoiada em sua parede.
- Conseguimos os quartos. Aqui está o de vocês. 423. – Seryn informou.
Abigail pegou o cartão e fez a mesma coisa que Alex tinha feito a pouco tempo atrás e
tamborilou com as pontas das unhas.
- E quanto ao meu? – Oli indagou, olhando para as mãos de Seryn, que estavam vazias.
- Está com o vira-latas.- A vampira usou o mesmo tom casual que Alex.
- O que? – O Mutano franziu o cenho confuso com a falta de informação que a rainha dera.
- O hotel tinha apenas três quartos vagos e você foi sorteado para dormir com o vira-lata. – A
vampira não resistiu e sorriu maliciosamente, ao perceber a clara surpresa do Mutano.
- Você está de brincadeira, certo? – Oli disse saindo das sombras, claramente revoltado com a
decisão que Seryn tomara por ele.
- Acalme-se homem. Lucius e Alex sairão amanhã para comprar roupas. Vocês não ficarão
tanto tempo juntos. – Seryn usou o mesmo argumento de Alex e percebeu o quanto essa
desculpa havia saído estupida, mas continuou mantendo a compostura.
- É apenas por algumas horas – Noah tentou ajudar a vampira com o argumento falho.
- Acho que você consegue se controlar e não matá-lo, você tem uma paciência milenar. –
Abigail tentou comprar também a ideia de Seryn.
- Oras. – Oli esbravejou e suas asas reclamaram junto. – Apenas algumas horas?
- Sim. – Seryn apontou, agradecendo silenciosamente para o rei e a rainha dos Mortorios.
- Apenas me diga que quarto. – Oli tentou controlar sua voz, passou a mão pelos cabelos já
sujo e bufou.
- 215 e Oli, boa sorte.

Seryn fechou a porta do quarto do hotel, quando ouviu a voz de Alex exasperada.
- MEU DEUS!
A vampira saiu em passadas largas em direção da voz e encontrou sua humana olhando para
imensa banheira de porcelana do banheiro.
Seryn queria gritar com Alex, mas ao ver a garota se virando com um olhar sonhador para ela,
rapidamente mudou de ideia.
Mesmo cansada o olhar jovial persistia no rosto de Alex, trazia uma onda de relaxamento para
Seryn. Uma sensação de plenitude indescritível. Sua humana era a calmaria depois de uma
ressaca em alto mar.
- Por que não se junta a mim em um delicioso banho. Eu realmente preciso muito disso. – Alex
pediu carinhosamente, fazendo um pequeno beiço com o lábio inferior. Ela enlaçou o pescoço
da vampira e a trouxe mais para perto tentando ser persuasiva.
A vampira não respondeu, apenas desfrutou do corpo de Alex contra o seu e inclinou sua
cabeça para beijar os lábios macios e quentes da humana.
Era inacreditável como Alex conseguia derrubar todas as barreiras de Seryn.
Deuses.... Essa garota será o meu fim. A vampira reconheceu dentro dela.
Alex sorriu dentro do beijo, dominada por completo.
- Vou tomar esse beijo como um sim. – Alex indicou roucamente, roçando seu nariz contra o
pescoço da vampira.
- Por que não vai preparando o banho, enquanto tiro os meus saltos? – Seryn indagou,
passando as mãos por debaixo da jaqueta de Alex e tirou a vestimenta escorrendo seus dedos
pelos ombros da humana.
- Okay.
Seryn girou os calcanhares e saiu do banheiro, deixando Alex sozinha.
A garota não perdeu tempo, sentou na borda da banheira de porcelana e levou a mão direita
para girar o registro. Na parede da banheira haviam dois registros, cada um era diferenciado
por duas pequenas bolinhas, uma tinha cor vermelha para indicar a água quente e a outra azul
para a fria.
Alex abriu praticamente todo o registro da bolinha vermelha e apenas um pouco da azul. Por
vezes colocava a mão na água para medir a temperatura e regulava os registros até que achasse
a água agradável.
Finalmente com a banheira cheia Alex levantou e foi até a pia branca, pegou um pequeno
vidrinho de sais, que estavam em cima de uma esteira preta, junto ao shampoo e o
condicionador.
A garota abriu o vidrinho com os sais e despejou todo o conteúdo na água. O cheiro de alecrim
logo invadiu seu nariz e Alex relaxou ao inspirar fundo para desfrutar do perfume.
Colocou o vidrinho vazio em cima da pia e logo tratou de tirar suas roupas.
Levantou o pé esquerdo e o levou para dentro da banheira e depois o outro. Colocou as mãos
na borda e afundou seu corpo aos poucos na água, gemendo prazerosamente.
Alex ouviu a porta do banheiro abrir e virou a cabeça.
Seryn estava entrando, apenas de saia, sutiã e descalça. Ela estava com um sorriso predatórios
nos lábios e caminhava sedutoramente para a banheira.
A garota parou de respirar momentaneamente e sem qualquer censura passou os olhos pelo
corpo da vampira. Seryn jogava seu quadril provocativamente, num quase rebolado. O corpo
de Alex atraiu e uma pequena onda de prazer esquentou seu centro.
Alex lambeu os lábios e seus olhos se fixaram nos seios voluptuosos de Seryn, que estavam
quase saltando das taças negras.
A rainha dos Altos era uma visão.
Seryn sentou na borda da banheira e levou seus dedos longos e frios para o maxilar de Alex.
Ela acariciou a pele ainda mais quente, sentindo a delicadeza que seus dedos tocavam. Desceu
um pouco mais, parando no pescoço e a vampira identificou o pulso regular da sua humana
batendo contra seus dedos gélidos.
O cheiro de Alex aumentava gradativamente e Seryn sorriu mais uma vez, antes de sua língua
passar pelo canto do seu lábio superior. Os caninos coçaram.
- Deuses, como eu quero te provar. – Seryn confessou e desta vez seu centro que se contraiu.
Seu desejo sobrecarregado por Alex só crescia. Seu dedo indicador circulou o pulso firme da
humana sob sua pele e desta vez seus caninos se alongaram.
Alex incitou a vampira se erguendo e seus seios saíram da água. Deixando a vampira com a
visão completa deles e eles estavam extremamente convidativos.
Seryn apoiou a mão na borda de porcelana do lado inverso que estava e pendeu para frente, o
suficiente para ficar centímetros do pescoço de Alex.
- Você sabe que sou sua, não sou? – Sua humana falou provocativamente com a voz baixa,
enquanto erguia as mãos para tocar nos ombros da vampira.
- Minha... – Seryn respondeu em uma nuvem de desejo comunal, sua mão apertou a borda de
porcelana e seus dedos ficaram marcados contra a louça.
Seryn levou a boca no pescoço de Alex e seus caninos roçaram levemente contra a pele
sensível. Era só uma pequena pressão e a vampira experimentaria sua humana, entretanto
mesmo carregada de desejo se conteve e passou sua língua contra o pulso de Alex.
- Eu vou te ter. – A vampira exigiu levantando a cabeça e beijando a humana fervorosamente,
esquecendo de manter o cuidado para não machucá-la.
Alex recebera o beijo com alegria e retribuiu da melhor maneira possível.
A garota não resistiu, derretendo-se perante ao assalto e num impulso puxou Seryn para dentro
da banheira. Derramando água para todos os cantos.
A vampira parou o beijo e fitou sua humana, ela estava encharcada e não era apenas o seu
corpo, a área sensível entre suas pernas também estava assim.
A antiga Seryn certamente teria matado Alex, por tal petulância, mas com essa nova Seryn, as
coisas não funcionavam mais desse jeito.
A vampira tirou seu sutiã e o descartou de qualquer maneira no chão, deixando seus seios
volumosos na altura dos olhos de Alex.
- Minha querida, espero que você ainda tenha energia. – Seryn falou, antes de beija-la mais
uma vez com força e propriedade.
Ter os lábios de Alex sob os dela era tão deliciosamente bom. Seu corpo perigosamente
vulnerável e escorregadio deixava Seryn perdida dentro dessa nevoa de prazer que se
encontrava. Pensava em infinitas possibilidades de ter Alex, de deixar sua humana rouca e
presenteá-la com prazer certo e duro.
As roupas da vampira foram sendo tiradas e jogadas pesadamente contra o piso do banheiro.
A vampira sentou e trouxe Alex para o seu colo em um puxão bruto pelo quadril. As pernas da
humana logo enlaçaram sua cintura e a mesma friccionou o próprio centro contra o abdômen
de Seryn.
Alex arquejou e resmungou algo inaudível.
Seryn sorriu e trouxe a outra mão para o seio de sua humana.
- Eu adoro quando você se rende tão facilmente assim para mim, minha querida. – A vampira
passou a língua na frente do seu canino e levou sua boca a outro seio de Alex.
A garota engoliu em seco e fechou os olhos degustando do que a vampira lhe dava. Seu rosto
estava quente, sua boca seca e sua respiração erradica. Ela estava amando cada segundo
daquilo, ausente de qualquer perigo e rendendo-se mais uma vez para Seryn.
Seryn escorregou sua mão antes no seio de Alex para sua barriga e começo da coxa esquerda,
até finalmente para o alivio de ambas no centro tão necessitado de sua humana.
Alex não se conteve e suspirou alto se agarrando ainda mais na vampira. Suas mãos
procuravam algo para se fixar e elas acabaram achando a borda da banheira, Seryn saiu do
beijo e sorriu.
- Querida, segure-se, pois não irá querer perder um momento do que está prestes a acontecer
com você. – A vampira disse sensualmente, reafirmando sua fala com um toque áspero.
Alex lambeu os lábios e mais uma vez fez aquilo que restava. Entregou-se mais uma vez para a
rainha dos Altos.
XXIX – Alex acordou e o luxuoso quarto estava todo escuro, a não ser pelo abajur que estava
ligado em cima do criado-mudo, juntamente com um relógio de cordas redondo e um telefone.
Os ponteiros do relógio já marcavam 10:50 da manhã. Alex deveria estar no saguão do hotel as
11:00, ao menos foi o que marcara ontem com Lucius quando estavam dentro do elevador.
Alex queria levantar realmente queria, mas estar nessa imensa cama e sentindo Seryn cercando
ela por trás, cobrindo quase todo o seu corpo era bom demais para sair.
A garota ainda estava com a preguiça matinal e com as marcas do incrível sexo que tivera pela
madrugada.
Estava orgulhosa de si mesma, pois novamente quando chegaram a cama Alex conseguiu tocar
intimamente Seryn mais uma vez. Deixando a vampira sem qualquer estrutura remanescente.
Alex conseguira algo que a 600 anos a rainha dos Altos nunca permitirá, quebrar cada uma de
suas defesas.
- Parece que alguém finalmente acordou. – A vampira disse, antes de se aproxima um pouco
mais e seus lábios alcançarem a nuca quente de Alex.
Seryn roçou seu nariz entre as omoplatas de sua humana para logo em seguida beijar
levemente no mesmo local. Os dedos da vampira tocaram a cintura de Alex com as pontas dos
dedos e assim tão facilmente que Seryn queria Alex.
Seus caninos coçaram, entretanto, a vampira ainda se deteve, algo lhe dizia que Alex de
alguma forma iria protestar.
- Seryn... – A voz rouca e arrastada de Alex fez com que a vampira sorrisse conta a pele quente
de sua humana.
- Sim?
Seryn subiu seus lábios e plantou um beijo casto no ombro esquerdo de Alex.
- Eu tenho que sair.
A Rainha dos Altos suspirou e fechou olhos, um pouco irritada, tinha que admitir, todavia
entendia o que a humana queria dizer com aquilo.
- Seu encontro com o vira-lata, claro. – Seryn soltou seriamente, enfatizando o apelido que os
vampiros sempre deram a lobisomens.
Alex se mexeu e a vampira deu espaço para que ela se mexesse. A garota se virou e fitou Seryn
com um sorriso nos lábios. Levou sua mão na bochecha fria e escorregou para os cabelos
sedosos e preto.
Uma caricia muito bem-vinda.
A vampira fechou os olhos momentaneamente sentindo as unhas de Alex coçarem seu couro
cabeludo e a caricia viera acompanhada com inúmeros arrepios prazerosos na base de sua
nuca.
Alex aumentou o sorriso tirando a cabeça do travesseiro para beijar a ponta do nariz de sua
vampira.
- Eu vou sair com Lucius, pois além de comprar roupas para todos nós. Irei ouvir o que ele tem
a me dizer.
- Eu sei Alex, apenas... – Seryn parou no meio da fala e fitou os olhos coloridos da garota.
- Apenas... – Alex a incentivou, murmurando a palavra dita por Seryn.
- Tenha cuidado.
A vampira não queria transparecer, mas não poderia negar a si mesma que estava preocupada.
Não ter Alex em sua visão, no momento de crise como essa, lhe deixava desconfortável. Era
como se tivesse perdendo o controle, mas não podia obrigar Alex a ficar, ela não era uma
propriedade sua e sabia que se pedisse por tal coisa a humana não iria gostar.
Alex Solis procurava respostas.
- Eu terei Seryn. – Alex confirmou ternamente.
- Não me obrigue a matar o vira-lata. Pois, se algo acontecer com você...
Alex riu baixinho e sacudiu a cabeça negativamente.
Seryn deu espaço para a humana sair da cama e logo que Alex a deixou sozinha entre os
lençóis, sentira falta do corpo quente contra o seu.
Limpou a garganta e passou a língua nos lábios, tentou ignorar a sensação e se controlar.
Deuses, foco Savina. A rainha dos Altos pensou.
- Leve meu cartão. Está dentro da sua bolsa. – Seryn disse se esticando na cama.
- Está bem. Algum pedido especial? Além de preto e couro? – Alex soltou com um tom leve de
sarcasmo.
Seryn soltou um barulho no fundo da garganta reprimindo uma risada e rolou os olhos
resolvendo ignorar sua humana.

Alex sabia que estava atrasada, ao menos 10 minutos.


Lucius a aguardava na recepção com o sobretudo torto em seu corpo, a peça de roupa
simplesmente era muito grande.
Lucius era um homem com estatura mediana e Oli deveria ter quase 2 metros de altura.
Alex fitou seu amigo e percebeu seus olhos fundos contornados por uma coloração levemente
escura. A garota sabia que ele não teve uma noite boa de sono e ela também sabia como Lucius
prezava sua hora de dormir.
- Noite difícil? - Alex indagou já sem graça ao se aproximar do lobisomem.
- Impossível. Não é fácil dormir com o inimigo do outro lado da cama, mas eu estou feliz por
estar vivo. Você pelo visto relaxou bastante.
Alex sentiu seu rosto esquentar e suas bochechas foram ficando rosadas. A culpa fora das
memorias que invadiram sua mente sobre a noite passada.
- Sim, consegui descansar bem.
- Eu sei disso. Você está cheirando a Seryn.
Alex abriu a boca para argumentar, mas resolveu ficar quieta.
Um pouco de implicância da parte do lobisomem não faria mal a ela.
- Antes de você descer, fiz uma pequena pesquisa e soube que tem um pequeno shopping a céu
aberto aqui perto. Podemos fazer umas compras e almoçar. – Lucius continuou a falar depois
da pequena provocação.
- Ótima ideia, estou faminta e você pode me contar tudo para mim. Sem mais segredos. – Alex
murmurou inclinando-se em direção de Lucius, como se as pessoas que transitavam no saguão
soubessem de toda a rede e complexidade que se metera.
Era estranho por outro lado, vivenciar isso tudo. Alex via as pessoas agora, absorta de tudo o
que estava acontecendo e que existia verdadeiramente. Alheias do mundo que ela se enfiara.
Pessoas não sabiam de vampiros, bruxos, lobisomens e deus, talvez até mesmo sérias.
Era como se um véu dividisse Alex e o resto do mundo normal, na qual ela já não fazia mais
parte.
Durante 25 anos estava dentro dele, agora não mais.
- Ei.... Tudo bem? – A voz de Lucius apareceu no meio do nevoeiro de pensamento de Alex.
Levou alguns segundos para que a garota realmente voltasse. Ela mexeu a cabeça e depositou
um sorriso sincero nos lábios. Respirou fundo tentando se acalmar, pois sabia que Seryn
poderia estar sentindo todas essas questões e confusões em sua cabeça.
- Estou bem. Que tal irmos? – Alex retrucou, enquanto arregaçava a manga da sua camisa
branca até os cotovelos.
- Vamos!

Lucius e Alex pegaram um táxi na frente do luxuoso hotel e não demoraram muito para chegar
no shopping.
Alex percebeu assim que chegaram os olhares estranhos e atravessados para seu amigo. Não
era para menos, um homem de sobretudo com as mangas maiores que seus braços e gola
totalmente aberta com seus ombros quase amostra.
Decidiu comprar primeiro roupas para Lucius, ele precisava urgentemente trocar de roupa. Não
queria que os seguranças os expulsassem dali.
Alex empurrou Lucius pelas costas para a loja que achou mais o seu perfil.
Na realidade o shopping não era grande, apenas dois andares. A praça de alimentação em si
tinha mais espaço do que as próprias lojas. Um pátio aberto com coqueiros espalhados entre as
mesas e cadeiras de plásticos.
Lucius não demorou muito para escolher suas roupas, para o agrado de Alex.
Seu amigo optou por escolher uma calça jeans colada cinza, uma blusa branca com a gola
cavada, uma jaqueta preta e para finalizar uma bota de cano preto.
Foram para uma próxima loja e lá selecionaram roupas para Seryn.
Para sua vampira escolheu um vestido de couro preto, com fendas na manga comprida. Saltos
de cor vinho e roupas intimas. Lembrou no último instante de comprar maquiagem para Seryn.
Era sim que a Rainha dos Altos andava, montada 24 horas por dia.
Pegou roupas para si mesma, um jeans preto um cropped também preto e uma jaqueta jeans.
E nesse ritmo conseguira comprar roupas para todos. Oli, Noah e Abigail. Não mediu esforços
para selecionar peças boas e de acordo com a personalidade de cada um.
Agora, cheios de sacolas e de roupas trocadas quase uma hora depois Alex e Lucius sentaram
nas cadeiras de plástico na praça de alimentação. Ambos acabaram por optar por um
restaurante vegano, escolheram o mesmo prato e descobriram que teriam que esperar até que
as senhas deles chegassem.
Havia um visor ao lado da TV que apresentava os principais pratos do restaurante e ao lado um
visor preto que era preenchido com números vermelhos. E nele brilhava o seguinte número.
941.
O pedido de Lucius e Alex eram 946.
Empilharam as sacolas menores na cadeira ao lado deles e as maiores depositaram no chão de
cimento. Para sua felicidade particular a Praça de Alimentação estava vazia, então eles não
precisariam ficar entre murmúrios e falas baixas.
Alex não sabia ao certo como começar o assunto que tanto ansiava em discutir.
A garota nunca tivera o filtro que ligava sua cabeça a boca, então de maneira abrupta
perguntou o que estava engasgado desde que vira seu amigo.
- Apenas conte-me tudo, eu não sei o que perguntar ao certo para você. Preciso que conte o que
sabe, pode fazer isso por mim?
Alex se mexeu na cadeira, procurando uma posição agradável, mas descobriu que nenhuma
iria lhe fazer melhor ou mais relaxada. No fim resolveu cruzar as pernas em cima da cadeira e
apoiar os cotovelos nas coxas.
Fitou Lucius se aprumar e limpar a garganta audivelmente, antes de procurar os olhos
coloridos de Alex.
- Eu irei contar absolutamente tudo o que sei. – Lucius falou seriamente, antes de passar seus
dedos pelo o topete de seu cabelo.
O visor mudou e agora os números vermelhos marcavam 942.
- Eu não sei o que você sabe, mas talvez eu te ajude a esclarecer as coisas. – Lucius continuou
e tomou ar enchendo seus pulmões de ar. – Existem 4 Clãs. Solis, Naturea, Lunas e Chaos.
Lucius ergueu a mão e levantou o dedo indicador.
- Primeiro, Solis. O que rege o fogo e a luz.
Lucius ergueu o médio.
- Segundo, Naturea. O que controla a terra.
Levantou o anelar e o visor mudou de 942 para 943
- Terceiro, Lunas. O que controla a escuridão.
Lucius levantou o ultimo dedo e novamente respirou fundo.
- E por último o quarto. Chaos. Manipulação de sentimentos.
Alex observava os dedos de Lucius levantarem sem piscar. Ela estava tão absorta nas
informações que seu amigo dera, que não percebeu quando novamente o visor mudou e o
número foi para 944.
Era como se algo dentro dela despertasse, um calor inexplicável. Seu corpo reagiu a isso e ela
tremeu levemente.
- Eu não sei como funciona direito o método de treinamento dos bruxos. Eu fui mandando para
cuidar de você, então não vi muitos bruxos treinando. Você, Alex é rara. Não apenas por ser a
última dos Solis, mas os bruxos hoje são poucos por aí. A grande maioria se escondem para
não serem encontrados. Entretanto, posso falar por mim. A minha história se entrelaçando na
sua. – Lucius parou molhando o lábio inferior com língua, para logo depois passar os dedos na
boca. – A muito tempo minha alcateia sofreu um terrível ataque de bruxos e se não fosse pelos
Clãs talvez não tivesse sentado aqui com você. Na época do ataque nossa alcateia era a mais
forte e soberana da região, bem... isso até os vampiros nos atacarem. – Lucius parou
novamente e virou a cabeça para olhar o visor.
Os números brilhavam 945.
- Os clãs juntaram forças junto com nossa alcateia e conseguiram espantar os vampiros.
Metade dos lobos foram dizimados, foi uma grande perda. Eu não sei ao certo até hoje o
porque os bruxos ajudaram nossa alcateia. Talvez fosse interesse por realmente quererem
juntas forças com a minha alcateia ou talvez simplesmente não queriam ver outra espécie
passando pelo o que estavam passando. – Lucius continuará a falar até que levantou
abruptamente.
Alex seguiu o amigo com o olhar e se dera conta que a senha deles já marcava no visor.
Ela viu Lucius sorrindo para a atendente de um jeito charmoso, antes de pegar as duas
bandejas, uma em cada mão. Ele voltou e colocou uma das bandejas na frente de Alex e por
fim se sentou, já tirando os talheres de uma pequena sacolinha de plástico. Espetou um pedaço
de cenoura e levou até boca, fechando os olhos e soltando um gemido prazeroso pela boca.
- Esse ataque aconteceu a mais de 100 anos atrás e por causa disso juramos proteção à os clãs.
Minha linhagem ficou com aos clãs dos Solis e é aqui que nós nos encontramos. – Lucius
apontou o garfo para Alex antes de abaixa-lo e espetar um brócolis.
Alex não sabia o que dizer tentar argumentar algo agora, não parecia predente, ela tinha que
ouvir. Seu prato continuara intocável e os talheres ainda estavam na sacolinha de plástico. Seus
cotovelos ainda descansavam em cima de suas coxas e sua concentração inabalável continuava
em Lucius.
Era hora de ouvir.
- Meus avós cuidaram dos seus, meus pais dos seus pais e agora eu cuido de você. É
hereditário, entende? Infelizmente minha família falhou e a sua pagou por isso, mas Alex, eu te
prometo que isso não irá acontecer com você. Eu amo você, eu a tenho como parte da minha
família.
Alex fitou o amigo e sentiu seu peito apertar. A sensação de impotência invadiu seu corpo, se
sentira culpada pela morte de todas aquelas pessoas. Ela acreditava em Lucius, acreditava que
ele a protegeria com a própria vida e isso era uma responsabilidade imensa que a garota não
sabia lidar.
Ela ergueu a mão colocando em cima da mesa e alcançou a de Lucius, apertou levemente e
sorriu tristemente.
- Lu, eu acredito em você.
Alex viu os olhos de seu amigo encherem de lágrimas e o mesmo respondeu apertando sua
mão de volta.
- Desculpe por não ter contato antes. Eu não podia, seus pais te esconderam para te proteger.
Nem mesmo os bruxos remanescentes sabem aonde você está. Eu apareci na sua vida para te
proteger, estava fazendo um ótimo trabalho, acredite. Até que... – A voz de Lucius morreu e
seus olhos desceram para seu prato.
- Até que Seryn aconteceu. – Alex completou.
Não precisava ser nenhum inteligente para entender o que o lobisomem estava dizendo.
- Não me entenda mal, querida. Nós naturalmente somos inimigos de vampiros. Eu posso até
acreditar que Seryn goste de você, mas desde que ela surgiu as coisas saíram de mão.
Alex queria gritar com Lucius, ficar com raiva e esbravejar boas e poucas palavras. Mas por
um lado racional sabia que o lobisomem tinha razão.
Ela saiu do toque do seu amigo e finalmente começou a comer.
- Al, eu vou continuar a te proteger. Iremos fazer de tudo para que você possa viver em paz.
- Em paz? Lucius acho que isso nunca irá acontecer. Eu não vejo nenhuma luz no fim do túnel.
- Não seja pessimista, você nunca foi assim.
Alex acenou com a cabeça, antes de enfiar uma trouxinha de salada dentro da boca.
- Eu vou te ajudar a achar mais respostas. – Lucius garantiu firmemente com um sorriso
esmagador nos lábios.
- Talvez tenhamos respostas mais cedo do que a gente imagina. – Alex falou ainda com a boca
relativamente cheia, porém colocou a mão na frente dos lábios para esconder qualquer pedaço
de folha que pudesse aparecer.
- O que você quer dizer? – Seu amigo juntou as sobrancelhas e tombou a cabeça levemente
para o lado.
- Um bruxo do clã Naturea irá nos encontrar hoje à noite. – Alex usou um tom casual, na
tentativa da mesma se acalmar.
Lucius parou com o garfo no meio do caminho para sua boca e seu braço despencou, fazendo
com que o talher batesse contra o prato.
Ele piscou e fitou sua amiga.
- Está tudo bem, Lu. Os Mortorios conhecem ele.
- Isso apenas me pegou de surpresa. Quero dizer, desde que eu estou com você nunca mais vi
um bruxo. – Contou com voz um pouco hesitante, pegando novamente o talher. – Será que
posso participar da reunião?
- Claro. Quero que todos estejam comigo. – A garota respondeu sorrindo.
- Obrigada, Alex.
- Vamos terminar de comer e ir, o que acha?
- Okay.
Eram tantos sentimentos confusos que se aprofundavam em Alex, que isso lhe causou um
pouco de ansiedade.
Era o medo do desconhecido, a curiosidade do novo. Um desconforto recorrente como se tudo
estivesse prestes a dar errado.
A adrenalina invadira seu corpo e seu coração batia violentamente contra o peito. Alex estava
com ânsia de descobrir tudo.
Entretanto a insegurança também fazia parte dela. O medo de ver seus amigos e
principalmente Seryn morrer no meio do processo era bastante aterrorizante.
Ela era uma bruxa poderosa. A última dos Solis e ainda assim se sentia inútil.
- Al, chegamos. – Lucius a chamou carinhosamente, colocando a mão em seu joelho.
A garota despertou do seu cochilo e devaneios, virando a cabeça para encarar seu amigo. Ele
sorriu ternamente e abriu a porta do taxi para ajudá-la a sair.
- Você se importa de levar as roupas para eles? Ficarei aqui embaixo. Quando o bruxo chegar
eu aviso vocês. – Lucius disse enquanto passavam pela porta giratória.
- Claro. – Ela deu de ombros, porém no último instante parou no meio do saguão, e se virou
para o amigo. – Como você vai saber quem é o bruxo?
Lucius levou o indicador até a ponta do nariz e bateu duas vezes.
- Cheiro. – Respondeu jogando uma piscadela para Alex.

A garota parou no primeiro quarto, onde Oli estava e entregou sua sacola. O Mutano até
chegou a perguntar sobre o paradeiro do vira-lata e a garota apenas repetiu o que Lucius falara
para ela.
Oli estudou a garota pequena em sua frente e agradeceu pelas roupas.
Alex não resistiu e provocou Oli, dizendo que quem escolhera suas roupas fora o lobisomem.
O Mutano bufou e abriu a sacola. Se surpreendeu com a blusa que Lucius escolhera para ele.
- Até que ele não tem mal gosto.
Alex riu baixinho e se despediu de Oli.
O próximo quarto fora dos Mortorios e quem atendeu a porta fora Abigail.
Seu robe estava em um nó frouxe e seu ombro esquerdo totalmente descoberto.
Alex sentiu seu rosto esquentar e seus lábios se juntaram em uma fina linha.
- Acho que te interrompi. – Alex argumentou sufocando um sorriso envergonhado.
- Alex, você nunca atrapalhar. - Abigail apontou sinceramente, enquanto ajeitava seu robe. –
Mas...
- Aí Deus, desculpe. – Alex fitou a vampira e mordeu o lábio inferior. – Eu só vim trazer as
roupas e vocês podem continuar o que estavam fazendo.
Abigail pegou a sacola e sorriu.
- Uma ordem que com felicidade farei e você deveria fazer o mesmo.
Desta vez Alex riu alto.
Definitivamente a cada dia que passava a garota gostava mais da rainha dos Mortorios.
- Eu com certeza irei.
Porém antes que pudesse ir embora, Alex se espichou para olhar através do ombro de Abigail e
gritou.
- Tchau, Tchau Noah.

Seryn abriu a porta e pegou Alex pela cintura. Sua boca logo procurou a da sua humana e a
beijou fortemente.
Alex sorriu dentro do beijo e se distanciou o suficiente para olhar para a vampira.
- Isso tudo é saudade? – Alex provocou, ligando os dedos atrás do pescoço de Seryn.
- Não seja ridícula. – A vampira rebateu levantando uma de suas sobrancelhas.
Era patético admitir, mas a humana lhe fizera falta, mesmo estando fora por 3 horas. Sentia
falta do seu cheiro, do seu calor e de seu sorriso.
- Okay... – Alex escondeu um sorriso e beijou os lábios de Seryn castamente. – Trouxe suas
roupas, espero que goste.
A vampira olhou para sacola caída no chão.
- Confio em seu bom gosto. Temos algumas horas até que o bruxo chegue, quero ouvir o que o
vira lata falou. Você pode me contar?
A vampira nunca fora boa ouvinte, porém sabia que Alex queria desabafar. Na realidade,
Seryn nunca se importara com problemas além dos dela, mas isso mudou e a sua humana fazia
parte do seu caminho.
A Rainha dos Altos se importava com Alex.
- Contarei absolutamente tudo... – A garota aumentou um sorriso, mas ele se transformou em
um malicioso. – E depois disso faremos o que?
- Eu irei ter você, de novo e de novo. – Seryn disse categoricamente.
XXX—
Alex e Seryn encontraram todos os vampiros, Lucius e o bruxo sentados no café do hotel.
A noite já tinha chegado, um pouco fria e com nuvens acumuladas no céu escuro.
As duas mulheres andavam lado a lado e Noah fora o primeiro que percebeu a presença da
vampira e da humana. Ele levantou da cadeira e as cumprimentou oferecendo um aceno, logo
todos presentes na mesa levantaram o olhar para também encontrar as mulheres.
O bruxo Pablo levantou apressadamente e colocou um sorriso simpático nos lábios.
- Uma honra conhecê-la Srta. Solis. – O bruxo a saldou. – Eu sou Pablo Naturea. – Ele
estendeu a mão peluda.
Alex olhou para o bruxo e o estudou rapidamente. Pablo era um homem que deveria ter
aparentemente 50 anos de idade. O seu cabelo louro escuro era levemente grisalho, tinha olhos
verdes vividos e sobrancelhas peludas. O bruxo era tão alto quanto Oli, entretanto parecia ser
mais largo que o Mutano e em seu maxilar se fixavam duas grandes cicatrizes que desciam e se
perdiam na gola de sua blusa.
Alex estendeu a mão e o cumprimentou erguendo sua mão educadamente. Porém, ao toca-lo a
garota sentiu uma enorme descarga elétrica, era como se uma forte energia ou até mesmo uma
dose grande de adrenalina invadisse seu corpo.
Um formigamento familiar, já experimentado antes se colocou na base de sua nuca e Alex
sentira sua chama tremular dentro dela.
Eles se olharam e Alex desviou o olhar para as mãos conectadas.
- Você sentiu isso? – A garota indagou rapidamente, com a voz surpresa.
- Srta. Solis realmente é poderosa. – O bruxo comentou saindo do cumprimento, escondendo
sua mão dentro do sobretudo que usava.
- O que está acontecendo? – A voz de Seryn despertou do transe em que Alex se encontrava.
A energia ainda se pertencia dentro dela, mesmo que agora mais fraca.
- Não sei. – A humana disse sinceramente.
- Venha junte-se a nós. Anseio por esse encontro desde que os vampiros enviados contaram de
sua existência. – Pablo contou se sentando, antes de juntas de ligar seus dedos em cima da
mesa.
Alex e Seryn sentaram. Noah ficou do lado esquerdo da rainha dos Altos e sua humana no
direito. Lucius estava ao lado de Alex e na cabeceira da mesa. Pablo e Oli estavam do outro
lado da mesa e Abigail na outra ponta da mesa.
- Creio que tenha muitas perguntas.- O bruxo continuou amistosamente. – Deus, eu mesmo
tenho milhões de perguntas para você.
Alex fitava os olhos verdes de Pablo e o jeito em que o bruxo falava parecia um tanto forçado,
como se ele estivesse trabalhando arduamente para ser simpático. Mas a garota teve que
admitir que ele passava uma gigante sabedoria só pelo o olhar.
- O que posso fazer por você? – Pablo perguntou, enquanto cruzava as longas pernas e se
colocava de lado.
- Eu nunca sei o que perguntar, Pablo. Eu apenas quero saber de tudo. – Alex falou
ansiosamente, coçando as palmas da mão, que estavam ficando levemente úmidas.
Pablo riu baixo colocando o punho na frente da boca.
- Claro que quer, oras. Mas infelizmente há coisas que não posso contar aqui. Quero dizer,
mesmo esses vampiros aqui tentando te ajudar, eu não posso revelar muitas informações.
Afinal eles continuam vampiros. – Pablo explicou seriamente, colocando novamente os dedos
conectados em cima da mesa. – Não me leve a mal, mas eu nunca vi vampiros trabalhando
junto com bruxos e sinceramente é um recorde você está viva no meio deles.
- Eu não permitiria que nada acontecesse com Alex. – Seryn rosnou repuxando o canto do
lábio superior.
Deuses, seus caninos coçaram.
- Eu tenho certeza que não. Aliás, pelo que vi, parece que nenhum de vocês machucaria ela. –
O bruxo concluiu se ajeitando na cadeira. - Nosso cheiro pode ser muito tentador, até mesmo
para os Mortorios.
Pablo encontrou os olhos de Abigail e a mesma sustentou seu olhar. A rainha dos Mortorios
certamente não havia gostado do que ouvira, e muito menos do olhar desafiador que o bruxo
lhe oferecia.
Jamais, por hipótese alguma machucaria Alex. Ela era sua humana preferida.
- Não se ofenda. – Pablo esclareceu.
- Não estou. – Abigail o cortou.
Seryn olhou para a outra rainha, e se surpreendera com a fala rude. Abigail raramente agia
dessa maneira, se esperava isso da rainha dos Altos. Seryn estranhou aquilo e tomou a decisão
de não confiar no bruxo.
Abigail jamais faria mal a Alex. Já Pablo, bem, a vampira tinha seus receios.
- Que bom, pois o poder que Alex daria a você é a mais preciosa de todas. Eu sinceramente
não acreditei quando me disseram que haviam encontrado um Solis perdido.
Ainda machucava saber que era a última de sua família.
Sentiu os dedos longos e gélidos de Seryn tocando seu joelho. A vampira – Alex sabia – queria
mostrar que estava ali para ela.
A garota tinha conhecimento da evolução dos sentimentos de Seryn. Mesmo que a rainha ainda
não mostrasse isso sempre ou em vários momentos. Porém, a cada toque, a cada palavra
sarcástica sobre o relacionamento delas e principalmente os sorrisos fugasses e raros que
vampira dava para ela, era o suficiente para Alex saber que era verdadeiro.
- E o que seria o poder que Alex cede para os vampiros? – Seryn perguntou seriamente, ainda
descansando seus dedos no joelho da sua humana.
- O que todo vampiro deseja – Pablo respondeu de maneira invasiva.
Ele respirou fundo e notou com um sorriso majestoso nos lábios que tinha a atenção de todos.
- Oras, ser capaz de andar sob á luz do sol.
Seryn sentiu um arrepio e de repente o cheiro de Alex pareceu ficar mais forte. Mas a vampira
tinha consciência de que o cheiro não aumentara e sim seu corpo reagiu a fala de Pablo.
Ela lambeu os lábios inconscientemente e novamente sentiu seus caninos gritando para se
alongarem. A besta dentro de si se mexeu e em resposta Seryn apertou a coxa de Alex
apertando suas próprias pernas.
O que a vampira dos Altos ouvira agora, era saída de todas as suas dúvidas.
Por 600 anos Seryn teve o desejo do sol e agora estava ali, sua salvação para tal feito. Por
ironia do destino Alex era a portadora do seu ultimato prazer.
Sua humana definitivamente era sua luz.
A cabeça de Alex latejou pela revelação. Ela era a representativadade do que qualquer vampiro
mais queria.
- Por isso que sou um alvo. – Alex concluiu com a voz monótona e vazia.
- Exato, por isso que nós bruxos temos proteções. – Pablo disse, enquanto apontava para
Lucius com a mão reta. – Seu protetor está aqui para isso. Aliás, devo dizer que tem feito um
excelente trabalho. Tanto tempo se passara e ela continua viva.
Lucius sorriu desviando o olhar e reparou que Oli o fitava.
Seryn rolou os olhos e bufou. Na visão teimosa da vampira, Alex era bem protegida e ela não
precisava de nenhum lobisomem lhe cercando. Odiava quando Alex ficava em volta de Lucius
por muito tempo. Principalmente porque o cheiro de sua humana se misturava com o do vira-
lata.
- Entenda todos nós bruxos damos poderes para os vampiros. Mas convenhamos Srta. Solis, o
seu certamente é o mais sedutor. Talvez seja por isso a caçada frenética. Você é a última, uma
raridade. – Pablo falou com cuidado, enquanto mudava o cruzamento das pernas.
- Mas essas habilidades que ganhamos, elas se perduram para sempre em nossos corpos? –
Seryn indagou, e sentiu quando Alex pegou sua mão.
Elas se olharam rapidamente e sua humana sorriu tristemente.
- Não. O efeito dura por algum tempo. Dependendo da quantidade de sangue que o vampiro
tomar. Normalmente é todo, pois vocês simplesmente não se controlam. – Pablo respondeu
friamente, ligeiramente irritado.
Ele levantou a sobrancelha peluda ao ver a troca de olhares entre a bruxa e a vampira e quase
riu do absurdo que estava presenciando.
Se alguém lhe contasse isso, jamais acreditaria.
- Não seria mais esperto manter os bruxos vivos? – Noah pela primeira vez durante a reunião
indagou algo.
- O sangue deles podem ser bastante vicioso. – Oli respondeu, antes que Pablo pudesse falar
algo.
- Exatamente. – Pablo concordou. – Por isso temos nossos protetores. Imagine o estrago que o
vampiro pode fazer tendo um sangue de bruxo em seu sistema.
Algo estalou dentro de Seryn e seus olhos pararam em Oli.
- A Ordem dos feiticeiros. Eles conseguem manter o sangue por tempo ilimitado.- A vampira
compartilhou seu pensamento com seu amigo.
- Claro! O Rei dos Feiticeiros poderá andar na luz do dia. – Oli continuou o raciocínio de
Seryn.
- Mas para que? – Alex indagou fracamente, apertando a mão da rainha dos Altos.
A vampira encarou sua humana e viu seu olhar recheado de preocupação.
- Eu não sei ainda, mas quando eu descobrir, certamente irá pagará por isso. – Seryn afirmou.
Alex mais uma vez estava com raiva e impotente. Essa situação estava acabando com ela aos
poucos. Sentiu um enorme desejo de acabar com a existência do rei dos Feiticeiros. Tudo o que
queria era se sentir segura mais uma vez.
Sua chama tremulou fracamente.
- Eu sinto muito por você, Srta. Solis. Cair nisso tudo de paraquedas não deve ser fácil. Nós
bruxos vivemos reclusos, por causa disso. Somos poucos agora.- Pablo disse categoricamente.
– Eu só quero que saiba que você tem um poder incrível e é muito poderosa. Talvez não tenha
ideia do quanto ainda, você é o fogo, o incontrolável.
- O que você quer dizer com isso? – Alex perguntou franzindo o cenho.
- A surra que deu em Oli é um exemplo. Ele é um vampiro milenar. – Abigail lembrou o
acontecimento entre a breve luta de Alex e o Mutano.
- Eu pagaria para ver isso. – Lucius se intrometeu, soltando uma risada frouxa e amistosa.
- Cale a boca vira-lata. – Oli exigiu entre os dentes.
- Eu posso te ensinar mais coisas Alex. Principalmente como se defender. Mesmo com os
protetores é bom saber se virar. – Pablo considerou honestamente.
- Eu não tive uma boa experiência da última vez que tentei usar minhas habilidades. – Alex
argumentou hesitantemente.
Abigail sorriu amigavelmente para a humana, ela não gostava de vê-la assim e desejou
confortar sua amiga perdida no meio de toda essa confusão.
- Você não foi instruída de maneira correta. – Pablo resumiu friamente.
- Eu posso te ensinar, te mostrar como somos incríveis. – Pablo tentou encorajar a bruxa. – Me
dê um dia.
- Desculpe, acho que me perdi no meio da conversa.- Seryn interveio, não gostando do rumo
em que o assunto estava tomando.
- Nosso esconderijo não é longe daqui. Eu posso levá-la amanhã de manhã e lhe trazer sã e
salva no dia seguinte. – Pablo continuou com um sorriso confiante no rosto, se inclinando
levemente para frente. – O que acha Alex?
- Pode ser perigoso. – Lucius se pronunciou rapidamente, antes que Alex tivesse a
oportunidade de dizer qualquer coisa.
- Odeio concordar com o vira-lata, mas ele está certo. Expor Alex dessa maneira, mesmo de
manhã é perigoso. – Oli disse partilhando da ideia de Lucius.
- Gente, eu estou bem aqui. Ninguém precisa tomar decisões por mim. – Alex respondeu um
pouco irritada.
- Lex...- Seryn sussurrou baixo o apelido de sua humana e por mais uma vez as duas se
olharam.
Alex não queria ser tão dependente e vulnerável. Ela queria se defender, queria poder tomar
decisões, se sentir forte e poderosa.
As vezes um pensamento irracional invadia sua cabeça e se perguntava até quando Seryn
aguentaria tudo isso. Arriscando sua própria existência. Alex tinha receio de que a qualquer
momento a vampira poderia virar as costas e ir embora.
- Apenas um dia Seryn. – Alex murmurou.
- Apenas? – A vampira perguntou já desistente, ela tinha a convicção que não mudaria a
cabeça de Alex.
- Sim.
Seryn continuou a fitar Alex, alheia de qualquer outro que a cercava. Ela conhecia o olhar que
sua humana apresentava, a fome constante de saber quem era e de onde pertencia. A própria
rainha se sentira assim a 600 anos atrás antes de conhecer Oli. A diferença era que Seryn ficara
poucos meses perdida e Alex 25 anos.
- Lucius irá te acompanhar. – A rainha dos Altos exigiu sem rodeios.
Todos sabiam, inclusive Alex que Seryn não gostava de Lucius, mas o lobisomem amava Alex
e ele faria de tudo para protege-la.
- Ele é o protetor. – O bruxo Naturea apontou o óbvio.
Lucius acenou e sorriu para Alex.
Tudo estava decidido.
- Ótimo! Passarei aqui ás nove da manhã. – Pablo comunicou com um sorriso nos lábios,
batendo as mãos uma na outra.
A conversa depois disso não se prolongou por muito tempo. Noah e Abigail ficaram bastante
quietos e Oli tirava suas dúvidas que eram permitidas por Pablo. Lucius se levantou para pegar
um café e rosquinhas e Seryn e Alex hora ficavam discutindo entre elas, hora com Oli e Pablo.

Alex e Seryn subiam no elevador lado a lado.


A vampira podia sentir a cada andar que passavam os dedos de Alex roçando levemente contra
os seus.
Seryn odiava admitir isso, mas estava realmente preocupada com toda a situação. Era um
sentimento que desde que conhecera Alex só aumentava.
Elas andaram pelo corredor em silêncio, até chegarem na porta do quarto que dividiam. Alex
tirou o cartão magnético do bolso e levou para um pequeno compartimento de plástico que
ficava fixado a maçaneta da porta. O pequeno sinal verde acendeu, destravando-a.
Seryn foi a primeira a entrar e Alex fechou a porta atrás dela. Enfiou o cartão em uma pequena
abertura prateada na parede mais próxima da porta e a luz do quarto se acendeu.
Seryn se sentou na poltrona bege, perto da janela e seu olhar mirava o brilho das luzes da
cidade.
Alex tirou a jaqueta descartando-a na cama e suspirou profundamente.
- Você está bem? – A garota perguntou com cuidado, enquanto se aproximava.
Seryn não respondeu absolutamente nada, apenas estendeu a mão, virou o resto e fitou o olhar
colorido de Alex.
A garota aceitou a mão de Seryn e a tocou. Se aproximou mais um pouco até que finalmente se
sentou de lado no colo da vampira.
- Apenas tenha cuidado. – Seryn avisou intimamente, e seus dedos escorregaram para o
maxilar e o pescoço quente de Alex.
A humana fechou os olhos e sorriu inclinando-se mais em direção ao toque bem-vindo de
Seryn. Ela concordou com a vampira, chegou mais perto dos lábios carnudos e frios e os
colocou sob os seus.
- Eu prometo, confie em mim. – Alex pediu roucamente.
Seryn sentiu a respiração de sua humana contra o seu rosto e o seu cheiro tentador ficara
levemente acentuado.
Os dentes da vampira se alongaram num estalo involuntário.
Seryn então a beijou ternamente, segurando o rosto de Alex entre suas mãos. Ela não sabia o
que dizer e queria mostrar através do beijo que acreditava em sua humana.
O beijo estava lento e languido, num ritmo degustativo.
Seryn desceu com suas mãos para o corpo de Alex. A esquerda se enfiara entre os cabelos da
nuca de sua humana e a direita nas pernas.
Não sabiam ao certo quanto tempo ficaram se beijando, mas Alex tinha certeza que fora um
bom tempo. Até que Seryn começara a tirar suas roupas, ela tinha certeza que para a vampira o
desejo já estava se tornando insuportável.
As peças foram sendo retiradas devagar e quando Alex perdia uma peça de roupa, Seryn usava
sua boca, lingua e dedos para acariciá-la. A vampira queria aproveitar cada segundo e suspiro
de Alex. Queria sentir sua humana arfar e pedir por ela.
Seryn queria preencher Alex, mostrar para ela que não estava sozinha.
A garota agora se via sentada na poltrona, ainda se perguntando como chegará nessa posição.
Ela estava de pernas abertas e a vampira se encontrava entre elas. Trazendo-lhe ondas cada vez
mais altas de prazer, mas sempre mantendo um ritmo calmo e suave, sem quaisquer loucuras e
luxuria.
Seryn provava sua humana pacientemente, experimentando seu gosto e fazendo de tudo para
prolongar seu desejo. A vampira nunca focava em um só lugar e quando fazia isso e percebia
que Alex estava próxima, desviava e se concentrava em outro ponto.
Porém, a garota fora pega de surpresa quando chegou ao clímax.
Seryn continuou a beijá-la até que as ondas se amenizassem.
Alex queria chorar, seu queixo tremia e sua boca totalmente seca por várias vezes fora
molhada pela sua língua.
Elas se deram conta do que acabaram de fazer, fora amor. Pela primeira vez desde que
começou seu relacionamento com a vampira.
Seryn levantou majestosamente e beijou o pescoço de Alex. Demorando mais do que o
necessário, sua boca passeava pela pele pulsante e quente. Seu desejo aumentou em níveis
insuportáveis, mas ver sua humana assim tão completamente entregue a ela, fez com que suas
pernas bambeassem.
Seu corpo e seu ser pediam por sua humana.
Seryn fez algo que nunca em seus 600 anos de existência fizera antes.
Ela se entregou.
- Me leve para cama, Lex. – Seryn falou com a voz rouca e abafada contra a pele deliciosa do
pescoço da garota.
Ela precisava ser tocada, sentir o calor que Alex poderia lhe dar e mais do que tudo ser tocada
por alguém que realmente havia a apresentado os melhores sentimentos que alguém poderia
ter. Até mesmo para ela, uma vampira dura e severa.
Mas Alex quebrou todas suas barreiras, encontrando algo ainda de bom dentro da Seryn.
Agora, já não vivia mais a besta ali e assim outra coisa.
A luz.
Alex Solis era sua luz.
A humana levantou e pegou a mão de Seryn. A guiou para cama. Colocou a vampira deitada
no centro do colchão e ela se sentou em cima do seu centro.
A rainha dos Altos depositou as mãos na cintura de Alex e seus olhos passearam pelo corpo da
humana.
Deuses, ela era linda.
Sentiu a umidade de Alex batendo contra o seu próprio centro e Seryn mordeu o lábio inferior
reprimindo um gemido.
A vampira queria dizer algo, porém ainda estava incerta o que dizer. Tudo o que poderia fazer
nesse momento era confiar naquelo que estava sentindo e se tornando cada vez mais
importante para ela.
Alex Solis.
XXXI – Seryn estava sentada na cama com as costas apoiadas na cabeceira, o lençol que
envolvia o seu corpo contornava a cintura da vampira e seus seios ficaram completamente
desnudos. Ela observava Alex com calma, acompanhando com olhar sua humana andar pelo
quarto catando suas peças de roupas.
Por vezes seus olhares se encontravam e Alex sorria para ela ternamente. A vampira ainda não
acreditava que na madrugada passada havia se aberto completamente, mas fora uma
necessidade tão maior que ela, que simplesmente não sabia administrar. Era como seu ser
tivesse pedindo para que Alex a completasse de todas as maneiras possíveis, Seryn queria
sentir algo. Algo além da violência e do sangue e sua humana lhe dera isso.
- Amanhã estarei de volta. – Alex afirmou já arrumada, se sentando na beirada da cama e
pegou a mão da vampira. – Quem sabe, eu não descubra alguma coisa realmente importante,
que possa nos ajudar.
- Quem sabe... – Seryn repetiu vagamente. – Apenas não faça nada sem pensar, você costuma
fazer isso, se arrisca muitas vezes. Mesmo tendo uma ligação com você eu não vou poder sair
daqui de uma hora para outra.
- Eu prometo. Eu quero me conhecer, saber de onde venho.
- Virtude humana mais indesejada essa tal de curiosidade. – Seryn confessou claramente
irritada, mas ela manteve o controle e respirou fundo. – Entretanto, eu lhe entendo. – A
vampira suavizou a voz e colocou a mão na junção entre o ombro e o pescoço de Alex.
- Eu não desejo ser um estorvo para você, Seryn. Quero poder me defender, não ser uma
preocupação eterna. – Alex falou fracamente.
-Você não é um estorvo para mim, Lex. – A vampira assegurou num sussurro antes de se
aproximar e roçar seus lábios na mandíbula de sua humana.
Seryn depositou um beijo em Alex e voltou a encostar suas costas na cabeceira da cama.
- Só espero que seu protetor, faça bem o trabalho dele. – A vampira de repente mudou o tom
de voz e falou com desdém.
Alex reprimiu um sorriso.
Ela pegou a cabeça de Seryn entre suas mãos e levou seus lábios contra os dela.
- Amanhã eu estarei de volta. – Alex reafirmou e rapidamente retornou ao beijo tenro.
- Cuide-se.
- Eu irei, Majestade. – Alex respondeu jocosamente, usando o título de nobreza da vampira.
Seryn rodou os olhos levemente irritada pela prepotência de sua humana, mas relevou o
comentário.
Relevar e ter paciência eram coisas que Seryn começava a aprender graças a seus sentimentos
envolvendo Alex.
- Eu estou falando sério, Alex. Tome cuidado. – Seryn alertou.
- Eu vou ter.
Alex levantou da cama e a circulou para o outro lado do quarto. Chegou até a porta e se virou
em um último instante, fitando sua vampira.
A garota sorriu e sentiu um leve formigamento na base de sua coluna. Seu peito inchou e seus
olhos encheram de lágrimas. Era como se ela estivesse se despedindo de sua vampira, próximo
a perda, porém ignorou o sentimento.
- Até mais meu amor. – Alex disse docemente, tentando evitar que sua voz saísse tremida.
Meu amor, essa palavra ecoou na cabeça de Seryn.
Ela nunca fora amor de ninguém.
Deuses, Alex era perfeita.
- Até Lex. – Seryn retornou a despedida com a voz baixa.
Alex abriu a porta e sumiu pelo corredor iluminado. Deixando Seryn só.

- Está nervosa, não é? – Lucius perguntou, mesmo não precisando saber de qualquer resposta.
Ele tinha certeza que sua amiga estava num estado de nervosos absoluto.
Esperavam por Pablo na rua à frente do hotel luxuoso.
Alex mordeu o lado de dentro da bochecha e respirou fundo tremendo um pouco. Não era o
frio que lhe incomodava era outra coisa. Era sim o nervosismo como Lucius indagara.
Ela se abraçou e controlou seu leve tremor.
Deus, como ela queria mais repostas. Alex seria introduzida ao seu mundo, depois de 25
longos anos.
- Um pouco. – Admitiu de voz baixa.
Espichou o corpo na tentativa de procurar Pablo dentro de algum carro que passava pela rua.
- Relaxe, se você não gostar podemos vir antes. – Seu amigo disse despreocupadamente dando
de ombros.
Alex piscou virando a cabeça para encarar Lucius. Juntou as sobrancelhas confusa pela
informação do lobisomem.
- Como?
Ele inclinou em direção da garota e respondeu baixo.
- Eu me transformo e você sobe em mim. Simples. Não acho que seja longe o lugar onde Pablo
vive.
- Meu herói. – Alex rebateu falsamente piscando os olhos várias vezes como estivesse
lisonjeada.
Seus olhos desviaram novamente de Lucius e foram parar na rua.
Um carro preto, bastante popular desacelerava, dando seta.
O veículo parou na frente de Alex e Lucius e o vidro recheado de fumê desceu e o rosto
conhecido de Pablo apareceu.
- Espero que não tenha feito a senhorita esperar muito. – O bruxo falou cordialmente com um
sorriso nos lábios, enquanto tirava os óculos escuros da frente dos olhos.
- De forma alguma. – Alex respondeu, forçando um sorriso.
- Entrem. – Pablo ordenou sutilmente.
Lucius tomou a liberdade passando ao lado da garota, ele abriu a porta de trás dando espaço
para Alex entrar.
Alex deu uma última olhada para o Hotel e a sensação de perda invadiu seu peito por mais uma
vez.
Seryn estava lá dentro.
Por um segundo, mesmo a ansiedade e a curiosidade sendo protagonistas severos dentro de sua
cabeça, sua vontade de recuar e correr para Seryn fora grande. Entretanto, tudo que fez foi
respirar fundo e escorregar para dentro do veículo.
Assim que entrou no carro reparou que uma mulher quem dirigia o carro, talvez uns 5 anos
mais velha do que ela.
Lucius entrou no carro e fechou a porta.
Pablo virou seu corpo para encara-los e sorriu levemente.
Está aí algo que incomodava Alex, o sorriso do bruxo da Naturea lhe incomodava
profundamente. Mas achou que pudesse ser seu nervosismo atrapalhando o julgamento
precoce.
Não negava que estava se sentindo muito mais segura com Lucius ao seu lado. Como era bom
tê-lo por perto nesse momento.
Pela primeira vez, desde que descobrira sobre os protetores, realmente se sentiu como tal.
Protegida por ele.
- Prometo que seremos rápidos. Nosso esconderijo não é tão longe daqui. Talvez umas 3 horas
dependendo do trânsito. Fica logo depois do limite da cidade. – Pablo explicou ainda com um
sorriso pregado nos lábios.
O bruxo fez menção de voltar para sua posição original, mas ele se deteve e voltou a olhar para
os dois convidados. Ele deu um tapinha na própria testa e voltou a sorrir.
Aquele sorriso.
- Está é Matilda, minha protetora. – Pablo apontou com a mão para a motorista, apresentando-
a.
Alex levantou os olhos para o retrovisor e pegou Matilda a encarou.
A mulher acenou e Alex fez o mesmo.
Matilda era uma lobisomem.
Uma mulher de cabelos curtos, até o meio do pescoço, olhos puxados – definitivamente ela era
oriental, ou tinha ancestrais. –, um nariz pequeno e chato.
- Prazer em conhecê-la. – Lucius gentilmente a cumprimentou. - Sou Lucius. – Ele levantou a
mão e acenou.
- Eu sei quem você é. Você é bastante famoso entre a matilha. – Matilda ponderou, tentando
ser gentil.
Mas tanto Lucius e Alex se olharam estranhando o comportamento da lobisomem.
- Eu sou? – Lucius perguntou sem graça, acompanhado de um riso fraco.
A realidade, era que fazia muito tempo desde que Lucius fora em sua matilha. Para a segurança
de Alex, ele só aparecia em datas festivas e em um ou outro final de semana. Nada o fazia ficar
preso na matilha, toda sua família havia morrido. Tinha apenas um ou dois lobos no qual ele
realmente gostava e o Alfa não fazia parte deles.
- Claro. – Maltilda respondeu, antes de dar a seta do carro e colocar mão na caixa de marcha.
O carro começou a andar.
Pablo voltou para sua pose original e apoiou seu antebraço na porta do carona.
- Você é o protetor de um Solis. – A motorista continuou.
- Ah... – Lucius falou um pouco arrastado ainda sem entender com que tipo de conotação
Matilda queria levar nessa fala.
Alex estava ainda mais sem entender, mas tentou formular o maldito filtro que nunca tivera em
sua vida. Algumas perguntas não eram boas serem externalizadas, se não quisesse causar
conflito.
- As famílias dentro da matilha sempre quiseram trabalhar com os Solis, inclusive a minha.
Você tem sorte Lucius.
O lobisomem novamente não sabia o que dizer, ele evitou olhar para o retrovisor, não queria
encontrar os olhos de Matilda. Era como o tom da mulher fosse um pouco invejoso, ele mesmo
não sabia o porquê. Achava que ser protetor seja de qual fosse o bruxo, seria uma honra.
Mas por outro lado Lucius realmente se sentia com sorte, pois estabelecera uma linda amizade
com Alex. Ela era sua irmã e amiga. Não sabia como era a relação dos outros lobisomens com
bruxos, mas agradeceu silenciosamente por particularmente defender Alex.

A viagem seguiu tranquila e silenciosa, sem muita conversa ou comentários.


Alex olhava através da janela empoeirada do carro, o sol estava suspenso no céu entre poucas
nuvens não muito carregadas. Os prédios começaram a dar lugar a casas cada vez mais
espaçadas e que por sua vez clareiras e bosques.
Alex tentava não incentivar perguntas, achava melhor deixar sua curiosidade por enquanto
dentro de si. Esperava Pablo dar o movimento necessário, entretanto ele parecia realmente não
querer falar nada agora.
A garota coçou as palmas das mãos em cima das coxas e esticou sua perna direita ouvindo seu
joelho reclamar.
O carro então tomou á direita e aos poucos saiam da estrada, virou para uma rua lotada de
buracos que dava para uma lombada.
Alex chegou a se perguntar se o carro aguentaria a tranqueira que estava pegando, mas para
sua surpresa ele sobreviveu e Matilda parou o veículo.
Pablo se virou já tirando o cinto de segurança.
- Teremos que seguir daqui caminhando. O carro não vai ter espaço para subir o resto.
Lucius e Alex acenaram e ambos saíram do veículo.
- Prometo que não será mais de 10 minutos. – Pablo se prontificou, tomando a liderança.
- Sem problemas. – Lucius e Alex falaram em uníssono e sorriram.
Eles começaram a adentrar pelo bosque, a rua antes barrenta e esburacada fora substituída por
uma terra compacta e úmida com folhas mortas espalhadas. O bosque era denso, mas eles
conseguiam caminhar livremente entre as árvores.
Alex transpirava, e uma pequena quantidade significativa de umidade brotava em sua testa e
um fio de suor desceu livremente por sua espinha. Ela estava prestes a contestar, quando a
trilha acabou e uma clareira surgiu perante a seus olhos.
O local era simplesmente de tirar o fôlego. Havia uma casa grande de madeira de 2 andares,
cercadas por flores que subiam pelas pilastras também de madeira. Ela era elevada do chão e
sustentadas por grossas toras de carvalho.
Uma pequena ponte ligava a casa ao deck, parcialmente coberto.
Alex observou crianças inquietas se espichando no parapeito do deck, dando tchau afobadas,
com as pequenas mãozinhas. A bruxa sorriu de volta e acenou. Uma delas até mesmo se
encolhera virando e sumindo para parte coberta, claramente envergonhada.
Para se chegar na casa era necessário subir um pequeno lance irregular de escadas que dava
para a varanda fresca.
Pablo foi o primeiro a chegar na varanda.
A garota fora recebida por uma menina que tinha saído primeiro, envergonhada da retribuição
do aceno.
Esbaforidas as outras duas crianças chegaram logo atrás, trazendo barulho e risos escondidos.
Eles fitavam Alex com aqueles grandes olhos arredondados com interesse.
- Você é a menina de fogo!! – A primeira menina que tinha chegado, que aparentava ter 5 anos
de idade disse animadamente.
- Sofia... – Pablo chamou a atenção da criança, e ela se encolheu.
- Desculpe. – A menina deixou um sorriso sem graça e se encolheu envergonhada.
- Uaau! – Desta vez um menino articulou audivelmente.
Uma criança que desta vez aparentava ser um pouco mais velha que Sofia, talvez entre os 7 e 9
anos.
- Que irada essas suas tatuagens. – O menino deu um passo entusiasmo para Lucius e suas
mãozinhas tocaram o punho do lobisomem.
Lucius durante o percurso até clareira, chegou a tirar a jaqueta de couro e a amarrou na cintura,
então todas suas lindas e perfeccionistas tatuagens estavam amostra.
- Você é o protetor dela? – O menino voltou a dizer com os olhos fixos nos desenhos do braço
de Lucius.
- Eu mesmo. – O lobisomem sorriu brilhantemente, antes de jogar uma piscadela para o garoto.
- Isso é incrível!
- Essas crianças, desculpem... – Uma voz feminina foi adicionada a conversa e Alex viu a dona
da voz surgindo da lateral da casa.
A mulher estava acompanhada com outros 2 homens. Todos vestidos de maneira simples,
porém bem trajados.
Alex não sabia distinguir qual deles era um bruxo ou protetor.
- Seja bem-vinda. – A mulher adicionou gentilmente, pondo-se atrás das crianças. – O clã
Naturea tem uma imensa honra de recebe-los.
- Essa é a Karen, a coroada do nosso clã. – Pablo apresentou a mulher.
Karen era uma mulher de meia idade, de cabelos louros e olhos verdes bem escuros, seus
dentes eram levemente tortos, mas isso não incomodava Alex. Aliás achara uma mulher bem
bonita, mesmo desprovida de qualquer maquiagem, Karen era uma mulher ao natural.
- O prazer é todo meu. – Alex se curvou e levantou os olhos. Na realidade, ela não sabia como
se portar na frente de uma coroada do Clã. Nunca fora ensinado para ela os bons costumes dos
bruxos. Mas achou melhor fazer isso, seria ao menos o mais educado.
- Fizeram uma boa viagem, eu espero. – Karen indagou gentilmente, enquanto colocava as
mãos em cima dos ombros de Sofia. – Por que não nos acompanham até o deck? Podemos nos
conhecer melhor e terei o prazer de responder algumas perguntas para você.
Alex olhou para Lucius procurando afirmação de que tudo estava seguro. Obviamente que sua
ansiedade atrapalhava seus questionamentos de confiança, mas ela já estava ali, não estava?
Entretanto, ainda assim Alex precisava da compreensão e da segurança de seu amigo. Ela não
podia simplesmente ser carregada pela correnteza que os Natureas ditariam para ela.
O seu protetor apenas sorriu, passando a mão pelo cabelo e acenando.
- Claro. – Alex por fim disse, depois de alguns segundos de silêncio.
As 3 crianças foram as primeiras a se moverem correndo de volta para o deck, com risadas e
comentários altos.
Alex seguiu Karen e Pablo até a parte coberta.
O espaço era arejado com tapetes espalhados pelo chão de madeira. Pufes e almofadas de
diferentes tamanhos formavam um círculo no centro do deck coberto. Perto da parte descoberta
haviam duas mesas grandes de carvalhos, com diferentes livros, pedras, um pequeno caldeirão,
penas e velas aromatizantes. O local cheirava a canela e mato molhado, um cheiro agradável
na perspectiva de Alex.
Karen e Pablo se sentaram lado a lado, e Lucius e Alex se ajeitaram nos pufes de frente para os
bruxos.
Matilda, como os outros dois homens que estavam acompanhando Karen não vieram e Alex
mesmo se espichando para ver onde eles tinham ido, já não mais o encontravam.
Sofia e o menino se enfiaram entre as almofadas perto de Alex e Lucius, acompanhando cada
movimento deles e a terceira criança se voltou para as grandes mesas de carvalho.
- O que você gostaria de saber? – Karen perguntou, sem qualquer rodeio.
Tudo, Alex pensou.
Porém um tema bastante especifico batera em sua cabeça.
Seu poder.
Ela queria saber sobre o seu poder de luz que carregava dentro dela.
- Essa chama dentro de mim? Como eu a controlo? Como eu a manifesto? O que eu faço para
ficar cada vez mais forte? Meu potencial? – Alex jogou uma jorrada de indagações apressadas
para Karen.
Sua fome pela curiosidade finalmente a consumiu por inteira, se ela tinha um dia para ficar ali
iria aproveitar o máximo possível, sugar o que poderia de aprendizagem e a partir disso
conseguir tomar decisões melhores.
- Nossa, você realmente veio preparada, não é mesmo? – Pablo zombou, rindo baixo, antes de
cruzar os braços.
Lucius o fitou e definitivamente não gostou de sua atitude.
- Eu esperei minha vida inteira por isso. – A garota argumentou fracamente.
Karen levantou o antebraço com a palma da mão virada para cima e isso fez com que Alex a
fitasse mais atentamente, segurando a atenção na mulher mais velha.
Karen fechou o punho e em seguida abriu a mão, levantou um dedo de cada vez. Um a um em
sequência. No centro de sua palma pequenas heras com folhinhas verdes começaram a nascer e
elas se esticavam livremente, até que ficassem penduradas em seus dedos.
Alex olhou com surpresa e excitação.
O que acabara de acontecer ali em sua frente, fora absolutamente fantástico.
Algo dentro de Alex mudou, para dizer melhor se acendeu. Talvez pela influência do que
Karen acabara de fazer.
Sua chama acendeu.
Ela tinha ânsia de experimentar aquilo, a sensação de ter tão livremente seu poder correndo sob
suas veias e corpo com controle e maestria.
Alex queria ser uma Solis.
Uma Solis que lhe fora negada sua vida inteira.
Poderia até ser invenção de sua cabeça ou uma impressão barata, mas ela já se sentia mais
forte.
- Não é fácil, requer treino e concentração. Não é algo que se aprenda em um dia, porém pode
ser o começo de algo. – Karen falou seriamente, fixando seu olhar em Alex, enquanto fechava
sua mão e as eras se recolhiam. - Seu Clã é os Solis, Alex. Como já sabe. Aqueles que
controlam o fogo, a luz e são completamente indomáveis. Você tem o brilho, a força e ardência
do fogo. É muito poderosa.
Karen respirou fundo e lambeu os lábios com a língua para tomar fôlego e continuar sua
explicação.
- Eu não posso te ensinar a dominar o fogo, ele não faz parte de mim e para eu te ensinar ao
menos os ensinamentos básicos de um bruxo, bem... Isso levaria anos.
- Em outras palavras, Karen pode te ensinar a controlar uma lamparina e não o seu sol inteiro.
– Pablo interveio, na tentativa de tonar a conversa mais explicativa. – Para controlar o sol,
você deveria ter sido ensinada por um Solis, você pode até aprender sozinha a dominar tudo
isso dentro de você, mas vai ser quase impossível.
- Vou lhe dar um exemplo, Nossa Sofia aqui. – Karen apontou para a menina, que observava
Alex atentamente e com verdadeiro interesse.- Ela já consegue controlar uma árvore dentro de
sí. Despertar uma floresta inteira dentro dela nesse instante seria um erro mortal, ela terá que
desenvolver isso por anos e muitos anos.
- Sou como uma criança, posso ser capaz de criar uma chama, mas meu sol terá que continuar
dormindo até eu ser capaz de controlá-lo e talvez nem consiga. – Alex não quis soar
desanimada, mas era nítido que seu descontento já fazia parte dela.
Estava frustrada, pois se dera conta que perdeu uma vida inteira de amor, treino e
conhecimento. Por causa de ganância de vampiros.
Deus, por causa de seres como Seryn.
Seryn Savina.
Fazia algumas horas que não via a vampira e a sensação era contraria, parecia que Alex não via
Seryn por muito tempo.
E isso a deixou ainda pior.
Seryn de repente pareceu um sonho distante.
- Você é exatamente isso, uma criança. – Karen concordou, tirando Alex de seus pensamentos
íntimos. – Fazemos o seguinte. Feche os olhos, quero que imagine a escuridão total dentro de
si.
Alex engoliu em seco, sentindo como se uma bola de pelos estivessem arranhando sua
garganta e olhou para os lados um pouco nervosa, porém por fim fechou os olhos.
- Desfoque de tudo, não pense em absolutamente nada. Quero que você relaxe. Foque apenas
em sua respiração. Escute-a.
Alex fez exatamente o que Karen mandou e um arrepio agradável desceu pela sua espinha.
Tudo aconteceu absolutamente rápido, seu corpo entrou em um estado de dormência, ficando
cada vez mais sensível.
Começou por ouvir os passarinhos cantando, depois as farfalhas das folhas e até mesmo o som
do vento passeando entre as árvores.
- Imagine uma pequena chama, apenas um tremular. Um brilho suficiente para não a deixar
sozinha no escuro.
Alex novamente fez aquilo que foi dito.
Seu corpo esquentou, sua temperatura parecia estar um pouco mais elevada do que ela achava
normal e a chama dentro da escuridão de sua mente tornou-se forte o suficiente para ela
enxergar.
Alex juntou as sobrancelhas, se concentrando para manter a pequena chama acessa.
- Respire fundo Alex. Você e a chama são uma só. Lembre-se que você é o sol e que dá vida
para tudo e todos. – Karen disse com a voz mais distante.
Alex continuou a respirar e com muito esforço, quase comunal conseguiu deixar a chama
estável. A vontade de espalhar aquela pequena luz e lamber todo o seu corpo era tentador
demais. Pois, a sensação de quentura e acalento que aquilo dava era muito diferente.
- Agora levante a mão, assim como eu fiz antes. – Karen pediu calmamente esperando a garota
agir. – Preste muita atenção, eu quero que você leve essa chama que criou em sua mente até a
palma de sua mão.
A testa de Alex ficava cada vez mais úmida pelo esforço que fazia, sua mão tremia um pouco e
sua respiração tornava-se entrecortada. Nunca achou que seria tão difícil transportar uma
pequena chama de sua mente para a palma de sua mão. Karen fizera aquilo com tanta
facilidade.
A garota se esforçou e se concentrou mais ainda, imaginou aquela chama passando por dentro
de seu ombro e percorrendo pelo seu braço calmamente e quando finalmente conseguiu fazer
isso, sentiu toda a parte esquerda do seu braço arder, como se a chama que criara realmente
tivesse a queimado.
- Alex, abra os olhos. – Karen ordenou fracamente.
Quando a garota os abriu e abaixou o olhar viu uma pequena e inconstante chama tremular no
centro da palma de sua mão.
Alex olhou para aquilo admirada, seu coração batia forte contra o peito e seu corpo inteiro
parecia pegar fogo. Mas essas sensações eram incríveis.
Eu consegui! Sorriu orgulhosa de si mesma.
Aproximou a mão na altura dos olhos e conseguiu sentir o calor que emanava.
Era pequena, mas era sua. Aquilo era o seu esforço. O começo de muitas possibilidades.
Pablo sorriu.
- Você tem um talento nato! Não é à toa que os vampiros são loucos em você. – O bruxo
comentou.
E mais uma vez Lucius não gostara do comentário.

Seryn ainda decidia com Oli se iria ou não sair para se alimentar. Ela ainda estava relutante,
não tinha vontade de sair para caçar. Seu desejo por sangue não diminuirá, apenas almejava
por um único. De Alex Solis.
A ânsia de afundar suas presas na pele da sua humana aumentava cada vez mais, não queria
outro sangue. Queria a de sua linda humana. Mas acima de tudo mesmo que contrariada
precisava se alimentar.
O relógio batia 19h00, Seryn se encontrava dentro do elevador, estava indo ao encontro de Oli
em seu andar. Decidira por fim que teria que sair. Era uma necessidade primordial para sua
sobrevivência.
O painel do elevador estava prestes a mudar para o número dois, quando uma dor irreal
invadira seu corpo e pequenos pontos negros tomaram conta de sua vista. Seus dentes se
alongaram automaticamente, pois o que estava sentindo era forte. Uma agonia de se livrar
daquela dor tomara conta de seu ser, se alastrando rapidamente como um veneno.
Apoiou a mão na parede de metal do elevador a procura de apoio e manteve a cabeça baixa,
para que as câmeras não pegassem seu rosto.
Medo.
Seryn sentiu medo, mas se deu conta de que aquele sentimento não era dela, nem a dor ou a
agonia e sim de sua humana.
Alex estava sofrendo.
Deuses, minha luz. A vampira gritou dentro de si.
A porta do elevador se abriu e Seryn levantou rapidamente a cabeça.
Oli a fitava atordoado e o sorriso malicioso se desmanchava em seus lábios. Ele tombou a
cabeça e franziu o cenho ainda confuso.
- Alex está correndo perigo! – Seryn cuspiu as palavras em um gemido dolorido.
A vampira trincou os dentes e seu corpo baqueou, mas Oli fora mais rápido e a reuniu em seu
peito.
Que Alex continue viva.
Seryn pediu silenciosamente, antes de deixar a besta que antes adormecida acordasse
furiosamente dentro dela.
XXXII -
- Você tem certeza? – Noah perguntou com cuidado.
Seryn e Oli estavam parados na frente da porta do quarto do Rei e da Rainha dos Mortorios. E
deuses Seryn estava sem paciência.
A vampira pegou Noah pelo colarinho e o pressionou contra a parede do corredor mais
próxima da porta.
As costas do Mortorio bateram fortemente contra o cimento duro e isso fez com que ele abrisse
a boca como estivesse liberando ar.
- Você só pode estar de brincadeira comigo! – Seryn rosnou contra os dentes.
Noah não se movimentou continuou parado, observando a vampira. Mesmo que ele quisesse
lutar, não teria sequer alguma chance contra Oli e Seryn. Ele entendia a raiva da Alta, se os
papeis se invertessem provavelmente teria o mesmo tipo de reação a uma pergunta tão idiota.
- Noah, se Seryn diz que Alex está em perigo, então ela está. – Abigail saiu do quarto e
gentilmente colocou a mão no antebraço da rainha dos Altos. – Nós iremos agora, Noah sabe
onde é o esconderijo dos Naturea.
Seryn apertou os dedos na gola de Noah e olhou para Abigail.
Abigail gostava de Alex, e Seryn confiava no casal dos Mortorios. Ela estava dizendo a
verdade.
A rainha dos Altos relaxou e se desprendeu do vampiro negro. Respirou fundo
desnecessariamente, tentando se acalmar e acenou concordando com que Abigail acabara de
falar.
- Vamos, se partimos agora chegaremos lá em 4 horas. – Noah comunicou, ajeitando sua blusa
completamente amassada.

Lucius abriu os olhos.


Ele estava preso pelo pescoço em uma coleira presas por correntes que o prendiam no meio da
clareira.
O lobo branco tentava forçar o pescoço para sair da sua prisão, mas não tinha a força o
suficiente para sair dali. Por mais que corresse ainda tentando arrebentar as correntes, elas se
esticavam e o puxava para trás. Seu pescoço estava completamente ferido e com pequenas
queimaduras e a impressão que dava era que coleira se prendia mais em sua pelagem. O ar que
ia para os seus pulmões, já não era o suficiente.
Sua cabeça latejava e sua pata traseira doía quase sempre que se movia.
Ele escutou vozes nervosas e altas vindo do deck.
Lucius sacudiu seus pêlos e engoliu a saliva acumulada na boca, sua garganta protestou.
Sua cabeça gritava, as imagens das últimas horas estavam desformes e confusas. Cada vez que
tentava se esforçar para lembrar o que acontecera, mais sua cabeça latejava.
O lobo choramingou baixinho e deteve-se quando seu instinto mandou uivar.
Ele precisava sair dali e avisar Seryn que Alex fora capturada.
Deus, sua amiga fora sequestrada e ele inutilmente não conseguiu fazer nada.
Mas eles eram simplesmente muitos e os Natureas estavam envolvidos.
Mesmo não sabendo ao certo como isso aconteceu, tudo o que sua mente conseguiu entregar
era que Karen e outros três bruxos os prenderam entre raízes e cipós. A bruxa usara algo
extremamente duro contra sua cabeça, fazendo com que ele desmaiasse instantaneamente e
acordasse assim. Preso em correntes.
Lucius sentou e suas orelhas se mexeram. Seus olhos começaram a passear por todo o local e
para as laterais do bosque.
Tinha que ter um jeito de sair dali.
A Ordem dos Feiticeiros, eles estavam com Alex e Deus o que não fariam com ela.
Ele não poderia falhar, não com ela. Sua protegida, sua família.
Lucius levantou e tomou impulso, começou a correr e seus músculos trabalharam sob a
pelagem grossa. Entretanto as correntes se esticaram e sua coleira apertou seu pescoço o
puxando de volta. Ele protestou e choramingou, sua pele fora ferida mais uma vez.
Rosnou baixinho e soltou um uivo, chamando atenção de Pablo que estava no Deck logo à
frente.
Lucius parou de uivar e suas orelhas se mexeram alertando um barulho diferente.
Passos.
Melhor, eram pessoas correndo, contra a folhagem seca da clareira. Ele fizera menção de virar
a cabeça, quando Seryn, Noah e Abigail apareceram em sua visão periférica.
Eles não pararam, passaram direto por ele e foram em direção a casa.
- Ei vira-lata. – Oli o chamou, e o lobisomem mexeu as orelhas novamente, nunca foi tão bom
ouvir esse apelido. – Precisa de uma mãozinha aí?
Lucius olhou para cima e viu o Mutano se aproximando, até aterrissar seus pés no gramado. O
lobo o fitou quase em um pedido silencioso, porém no último instante Lucius recuou.
- O que foi? – Oli franziu o cenho.
Lucius abaixou o olhar e eles bateram nas correntes. Ele se sacudiu para que elas fizessem
barulho e reluzirem perante a luz da lua e do deck.
Oli seguiu os olhos de Lucius e viu se dando conta do que o lobisomem estava querendo dizer.
- Prata. – O Mutano apontou suavemente.
O lobo fez um barulho com o nariz, expulsando o ar de seus pulmões de uma só vez.
Oli bateu as mãos nas laterais das coxas e bufou.
- Você vai ficar me devendo uma. – O vampiro declarou, se aproximando.
Oli agachou do lado do lobo e falou baixinho: - Relaxe, pois isso vai doer mais em mim do que
em você.
Oli levou as mãos na coleira e assim que seus dedos a tocaram, ambos sentiram o cheiro de
queimado.
O Mutano murmurou algo incompreensível e seus caninos superiores e inferiores se
alongaram, era inevitável a dor que sentiu o incomodou profundamente.
Oli puxou a coleira e ela estalou, partindo-se em 2 pedaços.
O lobo sacudiu seus pelos brancos e fitou o vampiro por alguns instantes, antes de mirar a
cabeça para o deck da casa.
Oli pareceu entender o recado e rapidamente ambos correram a encontro de Seryn.

A rainha dos Altos segurava o pescoço de Pablo e o bruxo ficava cada vez mais vermelho.
Se eu apertar mais um pouco, vai se partir como um graveto. A vampira pensou.
Noah estava com o pé em cima do peito de Matilda e suas mãos tentavam tirar a enorme bota
do vampiro, mas parecia inútil. Era como se um imenso pedregulho estivesse esmagando
pouco a pouco seu peito, ficando cada vez mais difícil de respirar.
Abigail imobilizava Karen por trás, segurando seus braços fortemente. A brutalidade da
vampira foi capaz de quebrar o pulso da bruxa, que nesse momento chorava em agonia.
- Nós não tivemos escolha. – Pablo dizia com dificuldade, enquanto seus dedos se apertavam
em volta do pulso de Seryn.
- Você a condenou! Ela faz parte de vocês e você a mandou para o inferno. – Seryn esbravejou
com os caninos ameaçadoramente perto do bruxo.
Deuses, ela queria quebrar aquele pescoço. A besta dentro dela queria sangue, sua vontade de
matança aumentava a cada segundo. Aquele humano tirou aquilo que era mais precioso em sua
existência. Sua luz!
- Eles iam matar todos nós, inclusive nossas crianças. – Pablo tentou protestar.
Uma lágrima escapou do olho esquerdo avermelhado do bruxo e se debateu em um soluço
estrangulado.
Seryn estava pouco se importando, ela estava apenas querendo Alex de volta.
- Seu... – Seryn começou a falar mas acabou por ser interrompida.
- Ele não teve escolha. Solte-o. – Oli ordenou, se aproximando da vampira dos Altos.
A besta tremulou, Seryn conhecia aquela voz, mas a vontade de sangue era maior que a própria
vontade de ouvir qualquer coisa.
- Seryn, solte-o imediatamente, há crianças aqui! – O Mutano contestou, com a voz mais
persistente.
Oli jamais permitiu ataque em crianças ou com elas no mesmo recinto. Era uma regra pessoal
que ele mesmo inventara e com grande dificuldade passara para Seryn.
A vampira dos Altos trancou o maxilar tão forte que chegou a estalar. Sua raiva havia a
deixado tremula, seu corpo parecia vibrar, pois o pensamento de perder Alex era irreal.
Por mais um pouco ela perderia o controle.
Oli chegou mais perto até ficar centímetros atrás de Seryn. Ele ergueu os braços e os colocou
por cima dos da vampira.
- Solte-o, quanto mais demorarmos, mais a vida de Alex corre perigo. – Oli disse baixo, perto
da orelha de Seryn.
A rainha oscilou, ao sentir a presença do Mutano.
Ela mordeu o lado de dentro da bochecha e sentiu o gosto metálico do seu próprio sangue.
Lex...
A imagem do sorriso doce e dos olhos coloridos de Alex passearam em sua mente.
Aos poucos os dedos pálidos de Seryn fora afrouxando e o bruxo instantaneamente puxava o ar
ainda com certa resistência, mas o alivio do rosto de Pablo era óbvio.
A vampira soltou completamente o bruxo, mas ainda oscilava permeando raiva. Entretanto, Oli
ainda se mantinha atrás dela e ela surpreendentemente foi se acalmando.
Logo Noah e Abigail fizeram o mesmo e soltaram Karen e Matilda.
Lucius estava sentado o tempo inteiro na parte coberta do deck, observando tudo aquilo em
silêncio absoluto.
Ficou assustado quando vira a estranha bondade de Oli e os sentimentos reais que Seryn tinha
por Alex.
Definitivamente a Rainha dos Altos iria ao inferno por sua amada.
Ele era apenas um espectador guardando energia para o que realmente importava.
- Vamos salvar Alex. – Seryn resumiu.
XXXIII – Furiosa.
Era esse o sentimento principal que definia a vampira.
A sede de vingança tomara conta dela.
Ela corria junto á Noah e Abigail a toda a velocidade, ignorando a fome e o desgaste constante
de energia. Estavam todos se puxando ao extremo.
Oli ia pelos céus, voando também como nunca voara antes e Lucius estava com o Mutano.
Segurando pelos seus ombros vestindo apenas o sobretudo que já parecia ser mais do lobo do
que propriamente de Oli.
Lucius estava ferido superficialmente na pata traseira e isso poderia atrapalhar o ritmo da
corrida.
Ele não abandonaria Alex.
Mesmo por contragosto Oli aceitou em levá-lo.
Todos ficaram assustados com a decisão do Mutano, entretanto Seryn não tinha tempo de
pensar naquilo. Um único nome passava pela sua cabeça e era isso que importava.
A vampira seria capaz de matar Cante, se isso lhe acarretaria algum problema, estava pouco se
importando.
Ela apenas queria Alex em seus braços.
Deuses, a Rainha dos Altos queria sentir o cheiro de sua humana novamente.

Eles pararam na frente da grande mansão branca e moderna dos Feiticeiros.


Mesmo com seguranças na porta, Seryn não perdeu tempo.
Noah, Abigail, Oli e Lucius atacaram os vampiros com golpes rápidos e precisos, envolvendo
principalmente desmembramentos dolorosos e muito sangue.
Seryn esmurrou a porta da frente com o pé e sem muito esforço a arrombou.
Fora recebida no salão de entrada por um exército de vampiros que logo a encurralou em um
semicírculo.
A rainha dos Altos rosnou mostrando seus caninos. Ela mexeu suas mãos, preparando-se para a
qualquer momento atacar.
As mãos de Seryn era sua arma principal, seus dedos ganhavam tanta força na hora de uma
luta, que ficavam mortais. Arrancava corações em um único golpe, era seu método preferido
de exterminar e Seryn desejava profundamente arrançar o músculo morto do peito de Cante
sentindo em suas mãos. Seus dedos coçavam por isso, como queria explodir seu coração
apertando-o fortemente, vendo seu inimigo se desfazer em sua frente.
- CANTE! Seu maldito. – Seryn soltou alto com a voz carregada de cólera.
Os vampiros se aproximaram ainda mais, porém ao ouvirem um uivo tão conhecido, eles
pararam.
Lucius entrou na mansão com a cabeça baixa e com o focinho enrugado, mostrando todos os
seus dentes imensos e bem afiados.
Oli, Noah e Abigail seguiram logo atrás.
Seryn se sentiu mais confiante e forte quando viu sua ―cavalaria‖ chegar pronta para atacar
novamente.
- CANTE! APAREÇA!
Duas portas de correr brancas abriram na outra extremidade do salão de entrada e o rei dos
Feiticeiros saiu de lá.
- Minha querida, não precisa gritar. Eu já ouvi você e sua pequena trupe. Inacreditavelmente
me causando prejuízos. – Cante respondeu cinicamente, enquanto esticava o braço
desaparecendo de vista.
Seryn sentiu ansiedade terrível quando Cante puxou Alex contra o seu corpo, o instinto único
de matança gritava para mata-lo. Sua humana se chocou contra ele e supriu um soluço. Alex se
embolou entre as pernas e quase foi ao chão, porém, Cante levou o braço envolta da de sua
cintura, não permitindo que ela caísse.
Ele roçou o nariz na bochecha da humana e sorriu.
A rainha dos Altos fechou os punhos e suas unhas marcaram a palma de sua mão, o suficiente
para que a pressão rompesse a pele.
Sua besta sacudiu violentamente dentro dela quando viu a proximidade do vampiro em Alex.
Sua visão ficou mais avermelhada e a rainha sentiu nojo. Nojo por um vampiro tocar naquilo
que ela considerava sua luz.
Seryn chegou à conclusão que colocaria fim na existência de Cante e se pagasse alguma coisa
por isso, simplesmente não se importava.
- Guardando essa preciosidade só para você, minha querida rainha dos Altos. – Cante disse,
antes de colocar as mãos no queixo de Alex e fazer com que ela fitasse Seryn.
Deuses...
O peito da vampira doeu novamente.
Sua humana estava completamente assustada, com os olhos coloridos avermelhados e sua boca
não parava de tremer.
Seryn sabia que Alex queria ser forte, sentia isso através da ligação.
- Você a me deu de mão beijada, Uma Solis tanto tempo escondida. Você me deu um trunfo,
Seryn. Agora será ainda mais simples de ascender. – O vampiro anunciou, com um sorrisinho
sádico no rosto. Aproximando seu nariz, até que tocasse na bochecha da humana.
Seryn rosnou perante aquela cena, assim como Lucius.
Cante Mali, era um vampiro da Ordem dos Feiticeiros. Um rei, um vampiro milenar, assim
como Oli.
Ele era alto, como o Mutano, tinha cabelos mel claro com alguns fios prateados indicando que
fora mordido na meia idade. Seus olhos eram verdes, seu nariz um pouco quadrado, lábios
cheios, acompanhado de um cavanhaque da mesma cor que seu cabelo.
- Ascender? Do que está falando? – Seryn exigiu ameaçadoramente.
- Minha querida, todos nós sabemos que os vampiros estão ficando cada vez mais patéticos.
Olhe para você, caindo de amores por uma bruxa. – Cante passou os dedos na pele quente do
pescoço de Alex e inalou. – Deuses, o cheiro dessa garota.
Seryn deu um passo para frente e rosnou mostrando seus caninos.
- Não de mais nenhum passo, Majestade. – O vampiro dos Feiticeiros exigiu. – Não vai querer
que eu acabe com sua preciosidade, agora, não é? Eu tenho muitos planos para ela.
- Cante, do que diabos você está falando? – Seryn indagou, entre os dentes.
Aquela nevoa de raiva se instalou na vampira, agora ficava densa e pesada, seu peito se
apertava de maneira dolorosa e sua ansiedade não ajudava nem um pouco toda essa situação. O
canto superior do seu lábio repuxou diversas vezes em reflexo a o sentimento e suas mãos
tremiam quase que imperceptivelmente.
- Simples, eu quero me tornar o rei sobre todas as outras ordens. Nossa essência está se
perdendo, nossa nobreza se perdera há muito tempo e agora qualquer porco, preguiçoso e inútil
pode se tornar um vampiro. Temos que resgatar de novo nossa superioridade. – Cante contou
colocando-se atrás de Alex e sua mão escorregou pela barriga da humana. Seus lábios
penderam perto do pescoço quente. – Somos superiores a todos, bruxos, lobisomens e
humanos. – O rei dos Feiticeiros olhou para Lucius e depois para Oli. – Me admiro um milenar
com um vira lata.
O lobo rosnou para Cante e Oli cruzou os braços, mexendo suas asas.
- Esse vira-lata parece ter nesse momento mais valor do que você. – Oli cuspiu as palavras com
certo gosto e sorriu vitoriosamente quando Cante pareceu ficar ofendido.
O feiticeiro tentou ignorar o comentário do Mutano e recomeçou a fala.
- Você se lembra Seryn? Do ataque que sofrera no hotel há semanas atrás?
A noite que conhecera Alex.
- Eu estava começando meus planos, matar os reis mais respeitados de cada área. Recrutando
híbridos, insolentes e humanos com desejo por morte. Mas algo deu errado naquela noite, não
foi? Eu sabia que não podia confiar nas escórias dos vampiros para fazer essa tarefa, muito
menos em humanos. Eu cheguei a criar uma droga. Deuses, mas eles conseguiram falhar.
Quanta inutilidade. – Cante continuou tranquilamente e seus dedos acariciavam tranquilamente
a barriga de Alex.
Seryn tentava se controlar, usando o máximo de si, mas vê-lo tocando em sua luz dessa
maneira lhe causara repulsa.
Alex parecia tão pequena nos braços do rei dos Feiticeiros tão detestavelmente indefesa.
- Mas então, por ironia do destino, essa linda humana caiu em seus braços. – Cante sorriu
maliciosamente para Seryn e inalou mais uma vez. – Eu pensei que meus planos de matarem
você fosse falhar, até que um passarinho chamado Pascal espalhou para os quatro ventos sobre
o cheiro peculiar da sua humana. O cheiro se assemelhava ao calor do sol, e eu já conhecia
aquele cheiro. Tudo foi se comprovando quando vocês obviamente foram procurar refúgio
com os Mortorios, era claro que Alex era especial, se não fosse, você não a levaria até lá.
Abigail apareceu no campo de visão de Seryn e viu que suas lâminas lotadas de sangue
estavam preparadas. A rainha dos Mortorios queria tanto sangue quanto a própria vampira dos
Altos.
- Entretanto ainda me perguntava, porque diabos você não aproveitou o que a bruxinha tinha
para oferecer. Foi quando dei por mim, que na realidade você estava apaixonada por ela. – O
rei dos Feiticeiros riu sadicamente e logo em seguida passou a língua pelo canino. – Que
patético, uma rainha apaixonada pela sua presa natural. Ficou com medo de não conseguir
parar?
- Seu... – Seryn tentou argumentar algo mas fora interrompida pela fala de Cante.
- Deixa eu te contar uma coisa. Eu consigo controlar, eu posso prová-la e não matá-la. Posso
usá-la para meu prazer, para minha força, qualquer coisa que eu quiser. – O vampiro colocou a
língua para fora e lentamente passou pelo pescoço de Alex. Ele degustou a pele quente e
deliciosa, gemendo prazerosamente. Ele olhou para Seryn desafiando-a silenciosamente.
- Não se atreva! – A vampira dos Altos ameaçou com a voz gélida. – Se não...
- Se não o que? Vai me matar? Eu já estou morto. – Cante ironizou com um riso baixo levando
os lábios ao pescoço de Alex. – Eu quero que você assista isso de camarote Seryn, ver sua
linda humana ser minha.
Seryn fez menção de ataca-lo, mas por descuido abaixou a guarda. Sentiu algo afiado e fino
entrando em seu pescoço.
Uma seringa lotada de droga.
A vampira imediatamente sentiu a dosagem invadir seu corpo e suas pernas vacilaram.
Oli tentou ajudá-la, ele até chegou a erguer os braços, mas foi detido por vampiros feiticeiros.
Suas asas protestaram e um dos vampiros acabou sendo acertado por uma delas.
Seryn caiu de joelhos e sua visão começou a ficar turva. Sua besta já não se sacudia tanto
dentro dela e a sua fúria estava sendo minimizada pelo formigamento da droga.
- Não se mexam. – Seryn balbuciou para o lobo e para os vampiros.
Se eles tomassem alguma atitude na tentativa de ajudar a rainha, poderia ser o fim de Alex.
- Seryn!! – Alex berrou seu nome, e uma descarga de adrenalina passou pelo seu corpo.
A garota tentou se debater, querendo sair das mãos de Cante. Mas o vampiro a travou com
facilidade.
- Volte aqui, você é minha agora.
Então aconteceu.
Seryn viu tudo de camarote e se ela pudesse apagar aquilo da memória, Deuses ela faria.
Cante agarrou o cabelo de Alex com a mão abruptamente e puxou para o lado, expondo todo
seu pescoço. Ele passou a língua por toda a extensão da pele quente, Alex tremeu sobre o ato.
Sentiu repulsa, nojo, como se estivesse sendo violada e abusada. Ela não queria aquilo. Apenas
desejava correr para Seryn.
- Veja Majestade, veja sua Alex sendo minha. – Cante cantou vitória.
Ele abriu a boca e cruelmente afundou suas presas no pescoço de Alex. Logo seu sangue
começara a escorrer pelo o ombro sujando sua blusa.
O cheiro de Alex invadiu fortemente as narinas de Seryn. Ela fitou o vampiro livremente
sugando o sangue que pertencia a ela e a feição dele de puro êxtase só deixou a vampira mais
furiosa, mesmo sob o efeito da droga queria muito arrancar o coração de Cante.
Ele revirava os olhos e gemia em prazer. Encontra partida Alex amolecia cada vez mais contra
o corpo do vampiro com olhos perdidos e brilho.
Seryn podia sentir o desemparo e o terror de Alex através de sua ligação.
Seu corpo ficou um pouco mais forte, deixando a besta quase resistente sob o efeito da droga.
Com dificuldade se colocou de pé e seus caninos ficaram amostra.
Alex pertencia a ela.
O seu sangue também.
Ela iria acabar com Cante.
Porém, veio uma pancada tão forte na parte de trás de sua cabeça que seu corpo projetou para
frente e Seryn caiu.
Sua visão teve tempo apenas de fitar Alex também fechando os olhos desistindo de seu próprio
ser.
XXXIV – Seryn despertou em solavanco.
Ela estava deitada de bruços, quando conseguiu abrir os olhos.
Seu corpo estava completamente dolorido sobre a terra úmida. A parte esquerda de sua face,
também estava lotada de terra e grama.
Ela sentou devagar sentindo sua cabeça explodir, levou os dedos na testa e massageou
fortemente. A droga ainda em seu corpo lhe causava efeitos.
Fechou os olhos e flashes invadiram sua mente.
Alex!
Seryn abriu os olhos novamente e olhou em volta. A rainha sabia exatamente onde estava.
No labirinto.
Cante colocava seus traidores aqui, com essas infinitas paredes de concretos tomada por heras.
Ele os deixavam aqui logo antes do sol nascer e assistia dos fundos de sua mansão o vampiro
agonizar com a pior morte possível.
Seryn fora jogada ali para ser o espetáculo pessoal.
Alex poderia estar morta agora, para a vampira já não faria mais tanto sentindo sair daquele
labirinto. Estava fraca e vulnerável. Lidando com a estranha perda que se apoderava dentro de
si, porém de repente algo mudara dentro dela.
Ansiedade.
Esse sentimento não partia dela e sim de sua humana.
Alex estava viva.
A vampira levantou no espaço central do labirinto e olhou para os três caminhos em sua frente.
Seryn tinha poucos minutos até o sol aparecer.
Olhou para o céu, que aos poucos tomava uma tonalidade mais clara.
Ela compreendia que cada segundo importava.
A vampira correu como nunca, um borrão testando todas as possiblidades, ao menos todas que
enxergava. Mas sempre acabava no meio do labirinto ou em alguma passagem sem saída.
Seryn estava ficando verdadeiramente frustrada e sua fome voltava cada vez mais forte. Ela
precisava sair dali.
A rainha dos Altos levantou a cabeça e fitou o céu novamente. Estava ainda mais claro e as
estrelas começavam a desaparecer.
Sentiu um arrepio na base de sua coluna e engoliu seco.
Mais uma vez nervosa e frustrada.
Claro. Seryn pensou em um estalo.
Como não havia pensado nisso antes.
Uma habilidade que Oli lhe ensinara anos atrás e que sempre esquecia que sabia. Talvez
sempre tenha achado a habilidade inútil, por isso não dava importância de usa-la, mas nesse
momento pareceu crucial.
Seryn fechou os olhos e liberou o ar pela boca, tentando esvaziar todos os pensamentos e
sentimentos que perambulavam dentro dela.
Inclusive sua besta.
Se Alex não tivesse muito longe, Seryn poderia ser capaz de ouvir a batida do seu coração.
A rainha se concentrou o máximo que pode, despendendo ainda mais de energia. Seus olhos se
mexiam sob suas pálpebras a procura do som que tanto queria ouvir. Seus dedos se
movimentaram de maneira estranha e desordenada.
Até que...
Uma batida fraca, mas constante.
Seryn abriu os olhos e sorriu confiante.
Correu.

- Ela não vai conseguir, não crie esperança. – Cante se vangloriava, segurando uma fraca Alex
em seus braços.
A garota não queria acreditar nas palavras do vampiro, mas seu lado pessimista crescia cada
vez mais, quando olhava para o céu e o via se tornando cada vez mais claro.
Cante tinha seus braços em volta dos ombros de Alex.
Ambos estavam em pé na grande varanda que dava para o labirinto. Ele estava no topo da
escadaria da varanda e Alex um degrau abaixo.
O que separa a garota da vampira eram escadas, um gramado verde e a entrada do labirinto.
Tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe.
Seu coração foi batendo mais forte contra o seu peito. Estava fraca, nauseante e tonta, mas
nada a faria apagar. Precisava ter a esperança que Seryn sairia daquela situação.
Ela engoliu em seco e novamente olhou para o horizonte, através do labirinto e o brilho
alaranjado do sol da manhã já brilhada.
Seryn não conseguiria, entretanto, sua visão lhe contara outra coisa.
A vampira aparecia na entrada do labirinto, se atrapalhando entre as botas.
Uma onda de ternura invadiu seu corpo. Porém olhando para o horizonte, Alex se deu conta
que pelo estado que Seryn se encontrava, ela simplesmente não conseguiria fazer nada.
- Não é possível, nunca conseguiriam passar pelo labirinto. – Cante murmurou atrás da
humana.
Alex precisava fazer alguma coisa, senão a existência de Seryn se findaria.
Alex fechou os olhos e se concentrou passando o exercício que Karen lhe ensinou em prática.
Pensou em uma chama pequena, transformando-a em uma labareda. Poderia ser perigoso,
poderia perder o controle, mas era um risco que deveria tomar. Se concentrou para que o fogo
se tornasse constante.
Imaginou a chama passeando pelo seu corpo para chegar em sua mão.
Alex sentiu o calor emanando em seus dedos.
Era agora ou nunca.
Pisou fortemente no pé de Cante o suficiente para que ele afrouxasse os braços em volta de
seus ombros.
- O que?
Alex, em um movimento rápido girou e virou sua mão com punho fechado contra o rosto do
vampiro, lotado de chama e calor.
Ele a soltou e a empurrou.
Alex tropeçou entre os pés e caiu, rolando 6 degraus abaixo.
Ouviu Cante berrar furiosamente.
Ela respirou fundo e se pôs de pé com muita dificuldade, seu corpo inteiro irradiava dor, mas a
adrenalina era tanta que conseguiu tirar forças para se projetar para frente e correr. Deixou suas
pernas fazerem o trabalho sem pensar muito.
Alex correu para Seryn e seus corpos se chocaram em um baque forte e surdo. A vampira
rapidamente segurou Alex pela cintura, para que sua humana não fosse ao chão, - ME
MORDA! – Alex exigiu em desespero, catando o tecido duro da roupa de Seryn entre os
dedos.
- Alex, não. Eu não conseguiria para, estou faminta. – Seryn protestou.
Alex olhou para o céu e o sol já começava a sair.
Deus, sua vampira iria findar em suas mãos.
Não deixaria isso acontecer.
Elas tinham segundos.
A garota colocou as mãos nas bochechas de Seryn e a segurou no lugar. Sorriu gentilmente e
deixou uma lagrima presa por dor escapar.
Elas se entreolharam e o sentimento foi forte e indestrutível.
- Eu confio em você, faça o que tem que fazer. É a nossa única chance. – Alex pediu
sussurrando, entre um soluço.
Seryn fitou os olhos coloridos e ela viu algo que nunca antes fora lhe mostrado.
Amor.
A vampira colocou sua mão na nuca de Alex e a mesma tombou a cabeça expondo seu
pescoço.
Seryn não queria que fosse dessa maneira a primeira vez que provaria o sangue da sua humana,
mas ela não tinha escolha.
A vampira estalou seus caninos para fora e seu rosto desapareceu entre os fios ruivos de Alex.
Seus lábios tocaram gentilmente a pele quente e convidativa da garota. Sentiu um arrepio
percorrendo por cada poro de seu corpo em antecipação.
Seus caninos foram os próximos a roçarem no pescoço de Alex e a vampira gemeu. Então,
com cuidado finalmente fizera aquilo que sempre quis desde que conhecera a humana.
Afundou seus dentes na pele sensível.
Quando o sangue de Alex brotou e tocou pela primeira vez na boca de Seryn, foi eletrizante,
seu corpo inteiro entrou em um estado suspenso de prazer e satisfação e a vampira deixou-se
navegar por aqueles sentimentos.
O sangue de Alex era maravilhoso, a rainha dos Altos nunca provara algo assim antes. A
textura, o gosto era totalmente diferente de qualquer outro sangue que já pusera na boca. Ela se
deu conta de como os outros eram totalmente triviais e sem irrelevância. Que o líquido viscoso
que estava provando agora, que era sim um verdadeiro banquete.
A besta dentro dela aproveitou também, retumbando em seu peito e Seryn colocou mais
pressão, sugando com força.
Alex era intoxicante.
Seryn começou a sentir o calor dos primeiros raios solares em suas costas, aquilo de princípio
a incomodou, mas logo todo seu corpo se acostumou com a nova sensação.
A vampira envolveu a cintura de Alex cravando suas unhas nela, trazendo seu corpo ainda
mais contra o da sua humana.
Alex gemeu baixo e fechou os olhos com a dificuldade evidente de respirar. Sua boca estava
seca e a sensação de náusea tornava-se mais e mais forte.
- Ser...yn. – Alex balbuciou, em um engasgo o nome da vampira.
Porém, a rainha dos Altos continuou dominada pelo sangue com gosto de luz.
- Por favor.
A voz penetrou mais forte dentro da vampira e a própria besta acalmou reconhecendo aquela
voz.
- Seryn...
A rainha piscou e abruptamente tirou seus caninos de Alex.
Sua boca e queixo estavam sujos de sangue de sua humana.
Seryn instantaneamente se sentiu mais forte e poderosa. Em êxtase profundo, demorando
alguns segundos até que ela reconhecesse Alex em seu colo.
- Deuses, Lex. – A vampira murmurou.
A sua humana estava pálida.
Seryn trincou os dentes e rapidamente a culpa chegou como uma flecha em seu peito.
- Eu sabia que você pararia. – A garota falou se segurando na vampira.
- Lex, você está... – Seryn tentou falar, mas sua voz saira estranhamente tremula.
- Ganhe dele e quero que me leve para casa.
Seryn ofereceu um sorriso minimalista e concordou mexendo a cabeça.
- Assim que eu finalizar esse desgraçado.
Alex sorriu e fechou os olhos escondendo o rosto entre os seios da vampira.
Com cuidado Seryn a pegou e gentilmente colocou a humana apoiada na parede do labirinto.
- Hoje à noite deitaremos juntas. – A vampira afirmou, beijando a testa de Alex.
A garota apenas balançou a cabeça, antes de apagar.
Seryn escutava o coração de Alex bater fracamente, mas de maneira rítmica.
A rainha dos Altos tinha que tirá-la dali o quanto antes.
Seryn sentiu então dedos fortes em seu ombro empurrando-a para trás.
Cante acertou um soco no meio da maça do rosto da vampira, fazendo com que ela
escorregasse e quase se desequilibrasse.
O rosto do vampiro estava deformado, seu olho esquerdo completamente destruído e o sorriso
charmoso de Cante fora substituído por um sorriso repuxado até a metade da bochecha.
Seja o que Alex tenha feito com ele, aquilo deve ter doido e Seryn sentiu orgulho de sua
humana.
A vampira rosnou voltando a posição normal.
Cante tentou socá-la novamente, mas desta vez Seryn desviou, se abaixando. Ela rodou e deu
um grande pulo para trás com objetivo de se distanciar de Alex.
O vampiro avançou contra Seryn e ela esticou o braço. Cante se chocou com um enorme murro
em seu peito, fazendo com que ele caísse no chão.
A rainha se agachou e o pegou pelo colarinho da blusa, lançando-o fortemente para longe,
porém o vampiro cairá em pé. Usou os pés para frear a queda os arrastando pela grama.
Cante poderia ser milenar, mas Seryn percebeu que ele não era tão bom na luta e que o
ferimento que Alex causou, certamente o deixara mais fraco.
Seryn correu em direção de Cante e o vampiro fez o mesmo, mas antes que pudessem se
encontrar a vampira pulou comprimindo as pernas e passando por cima do rei dos Feiticeiros.
Cante parou e rodou, usando a perna de impulso para se virar e novamente tentar socar Seryn,
entretanto a vampira conseguiu bloquear o golpe segurando o punho do vampiro.
A vampira dos Altos puxou a mão de Cante para ela e o rosto do vampiro foi de encontro com
o punho poderoso de Seryn.
- Quem é o patético agora? – A vampira disse contra os dentes, puxando-o novamente para
encontro do seu punho.
Cante foi rápido e conseguira desviar, ele pegou um punhado do tecido duro do vestido de
Seryn entre os dedos e a puxou contra a joelhada que ele estava preparando. A vampira foi
obrigada a largar o punho de Cante e se defender, empurrando o joelho do vampiro para baixo.
Ela novamente pulou para trás e ficou em posição de combate.
Cante correu até ela e novamente se engalfinharam, entre chutes, socos e golpes acrobáticos.
Seryn levava uma leve vantagem, mas Cante era um vampiro milenar e isso fazia ela tivesse
um certo respeito por ele.
Seryn desviou de um golpe jogando a coluna para trás, quando viu os dedos de Cante querendo
acertá-la como garras.
Ela novamente se distanciou, para pegar impulso e pular alto. A vampira preparou um soco no
meio do ar, mas no último instante Cante desviou e o punho de Seryn ficara marcado contra a
grama, deixando uma leve depressão.
O vampiro rapidamente subiu em suas costas, usando os pés como apoio e segurou os dois
braços de Seryn. Ele fazia uma enorme força para trás na tentativa de quebra-los, porém Seryn
fazia uma enorme e comunal força para frente.
Com grande dificuldade conseguiu se colocar de pé e com grande vigor se atirou para trás e
seu corpo caiu sobre o rei dos Feiticeiros.
Ela conseguiu se desprender de Cante e se levantou, sentindo seus braços latejarem
horrorosamente, mas isso não a fez desistir. Pegou o vampiro pela blusa e o arremessou para
cima, antes que seu corpo caísse de novo ao chão Seryn o golpeou com um chute rodado.
Cante voou e bateu violentamente contra os degraus da escada. O impacto tinha sido tão forte
que os degraus ruíram.
Seryn correu e se colocou em cima do vampiro com os pés a cada lado do quadril de Cante.
A rainha levou as mãos na cabeça do rei dos Feiticeiros e sorriu vitoriosamente.
- Nos encontramos no inferno. – Seryn falou com força, puxando a cabeça de Cante para cima.
Um estalo.
Uma cabeça separada do corpo O rei dos feiticeiros por fim findou.
Seryn soltou a cabeça e antes que o membro pudesse tocar no chão, tornou-se cinza.

Alex acordou com seu corpo sendo embalado e isso fez com que ela abrisse os olhos. Aos
poucos, seu olhar tomou foco e o rosto de Seryn dava forma.
Ela estava no colo da vampira subindo as escadas da varanda.
- Ganhamos? – A voz de Alex saiu rouca.
- Vamos para casa, minha querida luz.
A garota sorriu, de repente se sentindo um pouco mais forte.
Seryn entrou na mansão com Alex em seus braços e para sua surpresa Noah, Abagail, Oli e
Lucius ainda estavam vivos. Todos ajoelhados perante a os vampiros Feiticeiros.
A atenção de todos sem exceção fora para elas, os vampiros as olhavam com desconfiança e
confusão, um deles por instinto colocara a ponta da lâmina de uma faca no pescoço de Lucius.
- Seu rei está morto. – Seryn anunciou. – Soltem eles imediatamente.
Os vampiros feiticeiros ficaram em silêncio e nenhum se mexeu.
- Andem, seus inúteis! – A rainha dos Altos esbravejou. – Ou querem terminar como seu rei.
Um dos vampiros deu um pequeno pulinho e acenou rapidamente.
O rei estava morto.
Seryn havia o matado e até que os feiticeiros não recebessem um novo nobre, eles eram
obrigados a recuarem. Ainda mais, sobre a mira de uma rainha que acabara de matar um
milenar.
Um vampiro Feiticeiro fez um sinal com a mão e aqueles que estavam cercando os aliados de
Seryn se distanciaram.
Abigail foi a primeira a levantar e correr em direção de Seryn e Alex.
- Você está bem? – A rainha dos Mortorios indagou preocupada, enquanto colocava a mão na
testa de Alex.
A garota sorriu fracamente e soltou um sim quebrado.
Alex se aninhou ainda mais no colo da vampira e respirou fundo inalando o cheiro da vampira.
Abigail sabia que era mentira, Alex estava pálida, fraca e um pouco desnorteada. Se não se
cuidasse ficaria doente, mas sua plenitude ao ficar com Seryn fora o suficiente para acalmar a
rainha dos Mortorios.
Lucius que estava com o sobretudo largo de Oli veio logo atrás com os olhos lotados de
lágrimas. Ele parou ao lado de Abigail e sorriu, mas seu sorriso fora para Seryn.
- Obrigada por salvá-la. – Lucius agradeceu verdadeiramente.
Seryn pensou em milhões de respostas cortantes e rudes, entretanto, ela mesma estava aliviada
com a salvação de Alex.
- Não deixaria nada acontecer com a nossa garota. – A rainha retrucou seriamente.
Lucius aumentou seu sorriso.
- Precisamos sair daqui. – A voz de Oli surgiu atrás deles.
- Arranje um carro imediatamente para nós. – Noah prontificou a falar. – O maior que tiverem.
– Exigiu com a voz de comando.
O vampiro feiticeiro que parecia ser o mais receptivo acenou concordando.
- Nós vamos para casa agora? – Alex perguntou, contra o pescoço de Seryn.
- Sim Lex. – A rainha dos Altos respondeu.
Finalmente tudo tinha acabado.

Elas ainda não estavam em casa.


Dois dias se passaram e Alex e Seryn se encontravam na varanda do casarão dos Mortorios.
A rainha achou mais sensato esperar Alex ganhar mais força até que estivesse pronta para
retornar para casa.
A viagem de carro fora longa quando retornaram para a área dos Mortorios.
Alimentaram Alex assim que tiveram a oportunidade, parando em um hotel na beira de estrada.
Noah, Oli e Abigail saíram para caçar. Já Lucius e Alex engoliam tudo com avidez no
restaurante do hotel.
Seryn não saiu, preferindo ficar com Alex. Ainda com receio que algo pudesse acontecer.
Para a surpresa da vampira, Alex a incentivou e elas fizeram amor, na cama barata do hotel.
Antes que Seryn fizesse Alex chegar ao ápice, a garota fez um pedido repentino. Pedira algo
que deixara a vampira espantada e fascinada ao mesmo tempo.
- Me prove. – Alex murmurou roucamente, num pedido recheado de prazer.
Seryn molhou os lábios com a língua e com muito cuidado levou os caninos para o pescoço de
Alex. Era um pedido extremamente sensual para a vampira recusar.
A rainha dos Altos rompeu a pele de Alex e começou a sugar devagar. A humana levou as
mãos para suas costas e as arranhou fincando as unhas na pele de mármore.
O prazer de Alex intensificou ainda mais, em um grau que já mais experimentara e finalmente,
após um suspiro longo e murmúrios perdidos a sua humana adormeceu em seus braços.

Agora elas estavam no casarão Alex e Seryn assistiam o crepúsculo e a rainha ainda podia
sentir os últimos raios em sua pele.
As duas ainda não sabiam ao certo quanto tempo o efeito do sangue da bruxa tinha efeito sobre
Seryn, mas concordaram que a cada vez que a vampira saísse a luz do dia, iria ao menos provar
Alex.
- Iremos para casa hoje, certo? – Alex falou com a cabeça apoiada no ombro de Seryn.
A vampira que estava com olhos fechados foi forçada a abrí-los.
- Sim Lex, assim que anoitecer. – Seryn respondeu, roçando seu nariz nos cabelos ruivos de
Alex.
Seu cheiro ainda continuava tentador.
- Seryn? – A sua humana lhe chamou.
A vampira virou a cabeça e fitou os olhos coloridos lotados de vida.
- Sim?
- Eu amo você.
Seryn sentiu uma pressão estranha no peito e pela primeira vez em sua existência a besta
incontrolável que vivia dentro dela se amansou sob as palavras de Alex.
Deuses, Lex eu também.

Epílogo – Alex fechava a caixa registradora do bar terminando mais um dia.


Duas semanas se passaram e ela vivia sossegada com seu novo amor.
Alex fitou Seryn mais a frente sentada em uma cadeira alta na frente do bar discutindo algo
com Lucius.
A garota saiu do cubículo de vidro observando os dois e se aproximou.
- Vamos? – Alex falou colocando o cabelo atrás da orelha.
- Vamos! - Lucius respondeu animadamente, juntando as mãos em uma palma.
Seryn concordou e levantou da cadeira puxando a saia de couro para baixo, antes de circular a
cintura fina de Alex.
Foram até as portas do fundo do pub e saíram por lá, quando Alex pisou para fora do
estabelecimento sentiu um enorme frio na barriga. Uma sensação nenhum pouco convidativa e
ela se espremeu mais contra Seryn.
- Aconteceu alguma coisa? – A vampira indagou.
Alex olhou para Seryn e negou com a cabeça.
A sensação começou a 3 dias atrás. Era como se alguém estivesse na espreita observando seus
passos.
E bem, sua intuição não estava errada.
FIM.

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