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O LEÃO, O LOBO E A RAPOSA - MONTEIRO LOBATO

Narrador: Irei contar para vocês a fábula: O LEÃO, O LOBO, A RAPOSA. Certa vez um leão muito velho
e já caduco, andava no morre e não morre. Mas apegado à vida e sempre esperançado, deu uma ordem
aos animais para que o visitassem e lhe ensinassem remédios para curar seu mau. Assim sendo, as
coisas começaram a acontecer. A bicharada inteira começou a fazer desfile para visitar o rei lhe dar
receitas ou conselhos.
(Entra o coelho com ramos na mão.)
COELHO: Olá vossa majestade, vim lhe trazer esses ramos para fazer um chá. Essa é a planta da
longevidade, vai deixar o seu DNA novinho, novinho. Espero que o senhor se sinta melhor depois de beber
um grande copo. Até mais ver. Tchau.
(No momento em que a coelha está saindo ela encontra com a onça.)
ONÇA: Olá amiga coelha espere-me, vou te dar uma carona, assim a senhora chegará mais rápido a sua
casa, deixa só eu entregar à majestade o seu precioso remédio.
(Enquanto a onça entrega o remédio para o leão, a coelha diz:)
COELHO: Ela pensa que eu sou besta. Vou mostrá-la quem é mais inteligente aqui!
(sai correndo)
(Entra o macaco, com uma música bem animada, com um remédio nas mãos.)
MACACO: Majestade, majestade, vim lhe dar alguns conselhos, mas levei um susto tão grande ao ver a
coelha e a onça saírem juntas que esqueci o que ia dizer-lhe. Elas são amigas agora? O senhor ordenou
amizade entre elas?
LEÃO: Calma macaco! O interessante daquela história é que a onça sempre se dá mal. (risos) Antes de ir
embora macaco me responda, onde anda a raposa e o lobo que até agora não vieram me visitar?
MACACO: Já estou indo vossa majestade, ali está vindo o lobo, pergunte a ele, saberá lhe responder
melhor. Tchau, se cuida.
LEÃO: Tchau macaco.
(Entra o lobo, todo sorrateiro.)
LEÃO: Olá seu lobo, onde anda a raposa, porque ainda não veio me visitar?
LOBO: Ah, a raposa majestade! Eu sei. Ela é uma esperta, acha que vossa majestade, morre logo e é
bobagem andar e perder tempo com cacos de vida.
(O leão enfurecido anda de um lado para outro)
LEÃO: Então é assim que ela me trata. Eu que sou o rei da floresta e que em tudo mando. Vá buscá-la e
traga-a nem que seja debaixo de vara. Diga a ela para não se esquecer que eu sou o rei da floresta.
(O leão senta novamente em seu trono nervoso enquanto o lobo sai.)
(Entra a raposa dançando.)
(O lobo chega e a segura e fala com ela.)
LOBO: Nossa majestade pede sua presença agora.
(O lobo volta acompanhado da raposa, e a deixa nos pés do leão.)
RAPOSA: Perdão majestade, não vim antes porque até agora andava em peregrinação pelos oráculos,
consultando-os a respeito da doença que abate o ânimo do meu querido rei. E olhe, não perdi a viagem,
visto que lhe traga a única receita que será capaz de curá-lo, produzir melhoras ao seu estado real de
saúde.
LEÃO: Então diga logo o que é.
(Com ar de ironia olhando para o lobo.)
RAPOSA: É combater a frialdade que entorpece os vossos membros com uma pele de lobo.
LEÃO: Pele de lobo?
RAPOSA: Pele ainda quentinha de um lobo escorchado na horinha. E como está aqui o mestre lobo,
súdito fiel de vossa majestade, vai ele sentir um imenso prazer em lhe emprestar a pele ao seu real
senhor.

(O leão pega o lobo que olha com ar de desprezo para a raposa e sai. Voltando para o palco com
uma pele de lobo sobre o corpo.)

RAPOSA: Toma lobo, para intrigante, intrigante e meio. Vamos embora majestade, dar um passeio por aí,
aposto que já se sente melhor.

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