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Eduardo Tanaka

Pós-graduado em Direito Constitucional.


Bacharel em Direito pela Universidade de São
Paulo (USP) e Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul (UFMS). Graduado em Odonto-
logia pela USP. Auditor Fiscal da Receita Federal
do Brasil, em Florianópolis. Professor de Direito
Previdenciário, Direito Administrativo e Direito
Constitucional em cursos preparatórios presen-
ciais e teletransmitidos. Instrutor da Escola de
Administração Fazendária do Ministério da Fa-
zenda (ESAF). Diretor do Sindicato Nacional dos
Auditores-Fiscais da Receita Federal do Brasil
– Sindifisco Nacional – Direitoria Executiva Na-
cional. Foi Chefe de Fiscalização da Delegacia da
Receita Previdenciária em Campo Grande. Autor
de diversos livros sobre Direito Previdenciário.

Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A.,


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A saúde e a Constituição Federal

A parte da Constituição Federal que aborda o tema saúde está localizada


nos artigos 196 a 200. É importante o estudo destes dispositivos, que são
rotineiramente cobrados em questões de concursos públicos.

O estudo deve ser sistematizado através de uma análise crítica e atenta,


observando-se os comentários feitos aos artigos, os quais passaremos a
abordar.
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais
e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

A saúde é universal. Todos têm o direito de usufruir dos serviços e ações


da saúde, independentemente de contribuição, pois o acesso é universal e
igualitário.
Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público
dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua
execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou
jurídica de direito privado.

Verifica-se que a saúde é de relevância pública e que a lei ordinária é que


vai dispor sobre a regulamentação, fiscalização e controle. Esta lei a que se
refere a Constituição é a Lei 8.080/90.

Já o artigo 198 da CF trata sobre as diretrizes do Sistema Único de Saúde


(SUS), que são os que seguem:
Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e
hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes
diretrizes:

I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo;

[...]

Haverá direção federal, estadual, municipal e do Distrito Federal; confe-


rindo, assim, o caráter descentralizado.

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Art. 198. [...]

II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos
serviços assistenciais;

[...]

Todas as necessidades médicas deverão ser oferecidas pelo serviço públi-


co de saúde.
Art. 198. [...]

III - participação da comunidade.

A comunidade participa na gestão da saúde.

Quanto ao financiamento do sistema único de saúde, este é tratado nos


parágrafos 1.º e 2.º, do artigo 198, que transcrevemos a seguir:
Art. 198. [...]

§1.º O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art. 195, com recursos
do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, além de outras fontes.

O custeio do SUS dar-se-á com valores do orçamento de todos os entes


estatais (União, estados, Distrito Federal e municípios), das contribuições so-
ciais, bem como, de dinheiro de outras fontes, como doações e legados.
Art. 198. [...]

§2.º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios aplicarão, anualmente, em ações


e serviços públicos de saúde recursos mínimos derivados da aplicação de percentuais
calculados sobre:

I - no caso da União, na forma definida nos termos da lei complementar prevista no §3.º;

II - no caso dos Estados e do Distrito Federal, o produto da arrecadação dos impostos a


que se refere o art. 155 e dos recursos de que tratam os arts. 157 e 159, I, “a”, e inciso II,
deduzidas as parcelas que forem transferidas aos respectivos Municípios;

III - no caso dos Municípios e do Distrito Federal, o produto da arrecadação dos impostos a
que se refere o art. 156 e dos recursos de que tratam os arts. 158 e 159, I, “b” e §3.º.

Deve haver uma aplicação de um percentual mínimo, sobre determinada


base de cálculo, para a saúde. Esta base de cálculo está prevista no parágrafo
2.º, anteriormente citado. No caso da União, a base de cálculo será definida
por Lei Complementar, já no caso dos estados, a base de cálculo será todos os
impostos por eles arrecadados, mais os repasses federais, descontados os re-
passes aos seus municípios. Já no caso dos municípios, a base de cálculo será

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todos os impostos por eles arrecadados, mais os repasses federais e estaduais.


E, no caso do Distrito Federal, a base de cálculo será todos os impostos por
eles arrecadados, mais os repasses constitucionais.

O parágrafo 3.º, a seguir, prevê que uma Lei Complementar é que regula-
mentará as finanças, tais como, a fiscalização e controle das despesas.
Art. 198. [...]

§3.º Lei complementar, que será reavaliada pelo menos a cada cinco anos, estabelecerá:

I - os percentuais de que trata o §2.º;

II - os critérios de rateio dos recursos da União vinculados à saúde destinados aos


Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, e dos Estados destinados a seus respectivos
Municípios, objetivando a progressiva redução das disparidades regionais;

III - as normas de fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde nas esferas
federal, estadual, distrital e municipal;

IV - as normas de cálculo do montante a ser aplicado pela União.

Sendo assim, devem constar em Lei Complementar todos os percentu-


ais que devem ser aplicados em saúde pelos entes estatais, os critérios de
repasse de verbas federais e estaduais, as regras para fiscalização, avaliação
e controle das despesa com saúde, as regras de cálculo da União com apli-
cação na saúde.

Os parágrafos 4.º ao 6.º do artigo 198 da CF abordam sobre os agentes


comunitários de saúde e agentes de combate às endemias.
Art. 198. [...]

§4.º Os gestores locais do sistema único de saúde poderão admitir agentes comunitários
de saúde e agentes de combate às endemias por meio de processo seletivo público, de
acordo com a natureza e complexidade de suas atribuições e requisitos específicos para
sua atuação.

§5.º Lei federal disporá sobre o regime jurídico, o piso salarial profissional nacional, as
diretrizes para os Planos de Carreira e a regulamentação das atividades de agente
comunitário de saúde e agente de combate às endemias, competindo à União, nos termos
da lei, prestar assistência financeira complementar aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios, para o cumprimento do referido piso salarial.

§6.º Além das hipóteses previstas no §1.º do art. 41 e no §4.º do art. 169 da Constituição
Federal, o servidor que exerça funções equivalentes às de agente comunitário de saúde ou
de agente de combate às endemias poderá perder o cargo em caso de descumprimento
dos requisitos específicos, fixados em lei, para o seu exercício.

Conforme o artigo 199 da CF, a iniciativa privada pode participar da assis-


tência à saúde.

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Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.

§1.º As instituições privadas poderão participar de forma complementar do sistema único


de saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou convênio,
tendo preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos.

§2.º É vedada a destinação de recursos públicos para auxílios ou subvenções às instituições


privadas com fins lucrativos.

§3.º É vedada a participação direta ou indireta de empresas ou capitais estrangeiros na


assistência à saúde no país, salvo nos casos previstos em lei.

§4.º A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção de órgãos,
tecidos e substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento, bem
como a coleta, processamento e transfusão de sangue e seus derivados, sendo vedado
todo tipo de comercialização.

A participação das instituições privadas de saúde pode ser feita de forma


complementar ao Sistema Único de Saúde. Para tal, deverá:

 ser realizado mediante contrato de direito público ou convênio;

 obedecer as diretrizes do SUS;

 ser dada a preferência às entidades filantrópicas e às sem fins lucrativos.

As instituições privadas com fins lucrativos não podem receber recursos


com dinheiro público para auxílios ou subvenções. E, também, é vedado que
empresas ou capitais estrangeiros participem na assistência à saúde no país,
salvo nos casos previstos em lei.

Haverá uma lei que disporá sobre as condições e os requisitos que facili-
tem transplante de órgãos, doações e transfusão de sangue, sendo proibido
todo tipo de comercialização de órgão ou tecido humano.

O SUS possui atribuições dadas pela própria Constituição, devendo ser


regulamentas nos termos de lei, previstas em seu artigo 200. São elas:
Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da
lei:

I - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a


saúde e participar da produção de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos,
hemoderivados e outros insumos;

[...]

O SUS controla e fiscaliza tudo o que diz respeito à saúde, como procedi-
mentos médicos, vacinas, medicamentos e derivados de sangue.

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Art. 200. [...]


II - executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do
trabalhador;
[...]

Como exemplo das ações de vigilância sanitária e epidemiológica cons-


tantes no inciso II do artigo 200 da CF, podemos citar a fiscalização de ali-
mentos em mercado.
Art. 200. [...]
III - ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde;
[...]

Esta formação prevista no inciso III do artigo 200 da CF pode se dar atra-
vés de, por exemplo, oferecimento de cursos.
Art. 200. [...]
IV - participar da formulação da política e da execução das ações de saneamento básico;
[...]

O SUS participa da política e de ações de saneamento básico, por exemplo,


colaborando na execução de sistemas de esgotos e tratamento de água.
Art. 200. [...]
V - incrementar em sua área de atuação o desenvolvimento científico e tecnológico;
[...]

O previsto no inciso V do artigo 200 da CF ocorre, por exemplo, através de


pesquisas sobre medicamentos e procedimentos médicos.
Art. 200. [...]
VI - fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle de seu teor nutricional,
bem como bebidas e águas para consumo humano;
[...]

O SUS fiscaliza, por exemplo, a qualidade nutricional dos alimentos postos


à venda.
Art. 200. [...]
VII - participar do controle e fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de
substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos;
[...]

O SUS controla as substâncias que podem trazer risco à saúde pública,


como substâncias radioativas.

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Art. 200. [...]


VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.

É função do SUS, por exemplo, reduzir o número de acidentes de trabalho


e zelar pela qualidade do ar no ambiente de trabalho.

Resolução de questões
1. (ESAF) Segundo dispõe o artigo 196, da CF/88, a saúde é direito de todos e
dever do Estado. Diante dessa premissa, assinale a opção que está correta.

a) As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionali-


zada e hierarquizada e constituem um sistema único, sem a participa-
ção da comunidade.

b) O acesso universal igualitário às ações e serviços para sua promoção,


proteção e recuperação constitui garantia constitucional.

c) O sistema único de saúde será financiado, nos termos do artigo 195,


da CF/88, com recursos exclusivamente do orçamento, da seguridade
social, da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios.

d) As ações e serviços de saúde não são de relevância pública, cabendo


ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação,
fiscalização e controle, com a execução inclusive através de terceiros.

e) Independe de lei complementar a instituição de normas de fiscaliza-


ção, avaliação e controle das despesas com saúde nas esferas federal,
estadual, distrital e municipal.

2. (ESAF) De acordo com a Constituição Federal/88, as instituições poderão


participar do Sistema Único de Saúde, segundo diretrizes deste, mediante
contrato de direito público ou convênio, tendo preferência as entidades
filantrópicas e as sem fins lucrativos, podendo elas participar de forma

a) alternativa.

b) supletiva.

c) complementar.

d) contributiva.

e) suspensiva.
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Julgue as assertivas a seguir como certas ou erradas.

3. (CESPE) Em face da determinação de abrangência nacional para o sistema


de saúde e da dimensão continental do território brasileiro, adota-se a
centralização como modelo de gestão do SUS, embora seja permitida a
existência de diretorias locais em cada estado e município.

4. (CESPE) Embora bastante contestada, a diretriz que orienta o funciona-


mento do SUS, desde a sua criação aos dias atuais, é a da primazia abso-
luta dos serviços assistenciais, em razão da incapacidade financeira do
poder público de custear as atividades preventivas.

Dica de estudo
Livro: SUS – Legislação e Questões Comentadas – Editora Campus Elsevier
– Lenildo Thürler.

Referências
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da Seguridade Social. 21. ed. São Paulo: Atlas,
2004.

MOTTA, Sylvio. Direito Constitucional. 21. ed. Campus Elsevier, Rio de Janeiro:
2009.

TANAKA, Eduardo. Direito Previdenciário. 2. ed. Campus Elsevier, Rio de Janeiro:


2011.

Gabarito
1. B

2. C

3. Errada

4. Errada

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