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E por aqui ainda perdura o seu jardim. Hoje talvez um pouco esquecido, por
culpa do tempo, que sendo sempre o mesmo é cada vez mais escasso.
Mas já que cá estamos vamos conhecê-lo. Um jardim pode ser tudo. Outono,
Inverno, Primavera e Verão. É também um testemunho do tempo, guardião de
memórias, palco de revoluções, habitat de criaturas fantásticas e outras nem
tanto.
Não acreditam? Venham comigo.
Está lá? Está lá? Aqui Terra, zero, zero, zero, zero, zero.
S.O.S.! Fome, ódio de mil patas, tiranos com cutelos de cinzas,
bandeiras de pele humana, olhos furados de cardos,
mortos que só vêem o céu através dos caminhos das raízes
Aqui escravos, preguiça, azorragues de chumbo derretido,
exportação de tédio dos palácios dos ricos, carregamentos de bocejos,
suor em latas para discursos de demagogos,
fúria de túmulos, guerra, raptos, saques, automóveis imbecis,
, mandíbulas nos olhos a roerem o azul
Aqui planeta zero, zero, zero, nada.
Primavera.
(Bailarinas jovens. Como jovens rebentos da primavera. Em passos suaves e
delicados. Entre elas uma Deusa: a Deusa da Terra e dos animais)
Raposa: A minha amiga andorinha não regressou esta primavera… Não comerei
as vossas galinhas, se deixarem de caçar a caça que é minha.
Esquilo: Porque é escassa a sombra dos carvalhos e dos castanheiros?
Lince: Porque me repatriaram? Não encontro as florestas ibéricas que eram a
minha casa!
Coelho bravo: Porque fazeis de mim um troféu? Na páscoa tão adorado e depois
estufado!
Lobo: Depois eu é que sou o lobo mau. Vejam o tamanho desta pegada.
Como comendador, tomarei nota do achado. Pode tirar-me aqui uma “selfie”?
(passando o telemóvel ao público) Obrigada. Ah, patorra! Não há dúvidas que
esta pegada não é minha.
A minha cidade
É uma floresta de cimento
que não ao vento.
A minha cidade
Brilha de noite com um sol caseiro
Em cada candeeiro.
A minha cidade
Tem motores a pulsar
E corações esquecidos de amar.
A minha cidade
Tem voos de gaivotas brancos
Mas todos sonham
Com o voo das notas
A sair dos multibancos.
Comendador: Bem. Não me lembro de isto aqui. Deve ser talvez uma obra da
artista Joana Vasconcelos. Terá tomado o nosso jardim pelo Jardim de
Serralves?
Comendador:
O tanto que se pode aprender só num simples passeio de jardim. E depois disto, reflicto: