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SOCIEDADE CULTURAL EDUCACIONAL DE ITAPEVA FACULDADE

DE CIÊNCIAS SOCIAIS E AGRÁRIAS DE ITAPEVA

A INFLUÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO NA PRODUTIVIDADE


DO AGRONEGÓCIO

EDUARDO BENEDETTI
ORIENTADOR: FABIANO RAMOS SANTOS

Itapeva – São Paulo - Brasil


SOCIEDADE CULTURAL EDUCACIONAL DE ITAPEVA FACULDADE
DE CIÊNCIAS SOCIAIS E AGRÁRIAS DE ITAPEVA

A INFLUÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO NA PRODUTIVIDADE


DO AGRONEGÓCIO

EDUARDO BENEDETTI
ORIENTADOR: FABIANO RAMOS SANTOS

“Trabalho apresentado à Faculdade de


Ciências Sociais e Agrárias de Itapeva
como parte das obrigações para obtenção
do título de Bacharel em Administração”.

Dezembro/2023
Itapeva-SP
FOLHA DE APROVAÇÃO
FICHA CATALOGRÁFICA
AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, a Deus pela saúde e determinação, e por ter feito com que
meus objetivos fossem alcançados, durante todos esses meus anos de estudos.
Aos meus familiares e amigos, que sempre estiveram ao meu lado, pela
amizade incondicional e pelo apoio demonstrado ao longo de todo o período de
tempo em que me dediquei a este trabalho e ao curso.
Agradeço também a FAIT pela oportunidade do curso e pela conjuntura de,
através de seus professore, me proporcionar os conhecimentos necessários para
este caminho ao longo dos anos e no desenvolver específico desta monografia.
Agradeço ao meu professor orientador, Fabiano Ramos Santos, por todo apoio
e profissionalismo com qual conduziu, junto a mim, o desenvolvimento do presente
trabalho.
“O poeta faz agricultura às avessas: numa
única semente planta a terra inteira”
(Mia Couto)
A INFLUÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO NA PRODUTIVIDADE DO AGRONEGÓCIO

RESUMO: O presente trabalho de conclusão de curso tem como temática a


influência da administração na produtividade do agronegócio. Tendo por objetivo
compreender a influência da administração no agronegócio, no sentido específico de
sua produtividade. O desenvolvimento da pesquisa se caracteriza como exploratória
e se baseou no levantamento bibliográfico dos autores referenciados, através de
artigos científicos, outros trabalhos de conclusão de curso e teses. Os resultados
são expresso a partir da identificação e subsequente compreensão acerca de como
a administração pública, a rural e de como a relação da administração com a
tecnologia influencia na produtividade do agronegócio. Para tal, se fez a análise
desses três aspectos, sendo que no referente a tecnologia e administração, ainda foi
realizada a análise de um indicador dessa relação, a Produtividade Total dos Fatores
ou PTF. Concluindo assim que a influência da administração no agronegócio se deve
à três aspectos dessas: administração pública, administração rural, e ao vínculo da
tecnologia com a administração. Ademais, se ressalta que a influência pode não se
limitar somente a esses aspectos. Também, se faz presente no trabalho a sugestão
de novos estudos que possam expandir a compreensão acerca dos resultados
apresentados.

Palavras-chaves: agronegócio; administração pública; administração rural;


evolução histórica; PTF; tecnologia.
THE INFLUENCE OF ADMINISTRATION ON AGRIBUSINESS PRODUCTIVITY

ABSTRACT: This course conclusion work has as its theme the influence of
administration on agribusiness productivity. Aiming to understand the influence of
administration on agribusiness, in the specific sense of its productivity. The
development of the research is characterized as exploratory and was based on a
bibliographical survey of the referenced authors, through scientific articles, other
course completion works and theses. The results are expressed based on the
identification and subsequent understanding of how public administration, rural
administration and how the relationship between administration and technology
influences agribusiness productivity. To this end, an analysis of these three aspects
was carried out, and with regard to technology and administration, an analysis of an
indicator of this relationship, Total Factor Productivity or TFP, was also carried out.
Concluding that the influence of administration in agribusiness is due to three
aspects: public administration, rural administration, and the link between technology
and administration. Furthermore, it is emphasized that influence may not be limited to
these aspects alone. Also present in the work is the suggestion of new studies that
can expand the understanding of the results presented.

Keywords: agribusiness; public administration; rural administration; historic


evolution; PTF; technology.
LISTA DE TABELAS

Tabela 1: PIB do Agronegócio (em R$ milhões do primeiro trimestre de 2023*) - 2022


e estimativas para 2023 com base em informações até março.................................19
Tabela 2: Ramos e segmentos do PIB do Agronegócio (em R$ milhões do primeiro
trimestre de 2023*) - 2022 e estimativas para 2023 com base em informações até
março......................................................................................................................... 20
Tabela 3-Taxas anuais de crescimento de indicadores selecionados por todo período
de 1975 a 2020 (em %)............................................................................................. 31
Tabela 4-Taxas anuais de crescimento de indicadores selecionados em intervalos
detalhados (em %).....................................................................................................32
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Os catorze princípios da Teoria Clássica da administração, por Fayol - 1 15


Figura 2 - Os catorze princípios da Teoria Clássica da administração, por Fayol - 2 16
Figura 3 - As dimensões da Teoria da Burocracia, por Max Weber...........................17
Figura 4 - Linha do tempo do agronegócio do século XVI ao XIX.............................21
Figura 5 - Linha do tempo do agronegócio do século XIX ao XXI.............................24
Figura 6 - Participação dos insumos e do PTF na taxa de crescimento do produto no
decorrer de 1975 a 2020............................................................................................33
Figura 7 - Aspectos da administração que influenciam a produtividade do
agronegócio............................................................................................................... 38
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................11
2 AGRONEGÓCIO.................................................................................................... 13
2.1 DEFINIÇÃO E HISTÓRIA DA ADMINISTRAÇÃO................................................13
2.2 AGRONEGÓCIO.................................................................................................18
2.2.1 O PIB do setor em 2022 e 2023......................................................................19
2.2.2 Evolução histórica..........................................................................................20
2.3 PRODUTIVIDADE DO AGRONEGÓCIO.............................................................28
2.3.1 Metodologia do PTF........................................................................................30
2.3.2 PTF................................................................................................................... 31
2.4 ADMINISTRAÇÃO E A PRODUTIVIDADE DO AGRONEGÓCIO........................33
2.4.1 Administração pública....................................................................................33
2.4.2 Administração rural........................................................................................34
2.4.3 Tecnologia e administração...........................................................................35
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS...............................................................37
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES............................................................................38
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................40
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 41
11

1 INTRODUÇÃO

O agronegócio, pela própria natureza das atividades produtivas que são


desenvolvidas no nosso país, acaba por ter importante destaque no nosso produto
interno bruto, como apontam Cepea e CNA (2023) onde em 2023 esse será
responsável por cerca de 24,6% de toda a economia nacional, além de ser relevante
para inserir a nação nos mercados internacionais através das atividades de
exportação de soja, milho, açúcar, carne de frango (MAPA, 2023) e carne bovina
(Cepea; CNA, 2023). Diante essa perspectiva, especificamente da importância deste
para o país, surge a necessidade da compreensão acerca da influência da
administração na produtividade do agronegócio - a qual se traduz no tema deste
trabalho. Como aponta Azambuja (2016) a vocação agrícola do país era evidente
desde os seus primórdios, além disso, sabe – se também, como se observa nas
entregas significativas feitas pela Embrapa a partir da década de 80 (Filho, 2022), o
alto nível de tecnologia com a qual essa atividade passou a ser executada em
decorrência da sua evolução histórica. Fato em consonância com Carvalho et al.
(2017) que compreendem a tecnologia em si como um dos elementos chaves do
ganho de produtividade do setor agrícola.
Nesta temática ampla, a pesquisa busca delimitar a compreensão da
influência como sendo a identificação dos aspectos administrativos e subsequente
entendimento de como ocorre a influência destes na produtividade do agronegócio,
no sentido de incidência, difusão ou ainda relação entre os conceitos. Para tal, de
uma forma específica, se identifica os aspectos da administração pública, através da
sua incidência na evolução histórica do agronegócio; administração rural pela sua
difusão entre os produtores rurais; e ainda da tecnologia através da relação desta
com a administração e a produtividade do agronegócio.
A hipótese, por sua vez, projeta que a maior parte do ganho de produtividade
do agronegócio esteja relacionado com a tecnologia, através do vínculo desta com a
administração. Sendo que, para investigar, a problemática passa pela compreensão
de como se deve a incidência da tecnologia na produtividade do agronegócio e,
ainda, qual é a natureza da relação desta com a administração.
A estrutura foi concebida através dos objetivos, sendo o geral a compreensão
a cerca da influência que a administração exerce na produtividade do agronegócio.
12

Já os específicos são: o entendimento do conceito de agronegócio e a evolução do


de administração; a contextualização acerca do significado de ganho de
produtividade para esse setor, bem como a análise da evolução desse diante os
passar dos anos; e por fim, a relação que administração tem com a tecnologia
utilizada e a análise da porcentagem da influência desta com produtividade do setor.
Além dos objetivos, para responder a problemática e compreende – la, o
trabalho foi desenvolvido se baseando na pesquisa exploratória, sendo o método de
coletas de dados o bibliográfico. Já que no decorrer do desenvolvimento se analisou
a literatura científica acerca do tema, como artigos, livros e revistas científicas.
Essa metodologia deu origem aos capítulos desse trabalho. O capítulo 1, esse
propriamente dito, busca contextualizar e delimitar o tema, apresentar a hipótese,
problemática e a metodologia empregada. O Capítulo 2, compreende toda a
pesquisa e contem a evolução histórica do conceito de administração, bem como o
do agronegócio, fazendo menção aos agentes que o construíram; faz também a
explicação acerca da produtividade nesse setor, para logo depois apresentar um
indicie que a representa e, com base em autores como Viera Filho e Gasques
(2020), faz a análise deste, para compreender os aspectos que levaram a sua
variação; a parte final do capítulo realiza a relação desses aspectos com a
administração. O capítulo 3 disserta a metodologia com a qual se construiu a
argumentação e corpo do trabalho. O capítulo 4 apresenta os resultados da
pesquisa, ou seja, a relação da administração com a produtividade do agronegócio.
O capítulo final sintetiza a pesquisa, além de sugerir possibilidades de continuação
dela, para os fins de maior compreensão dos resultados que foram apresentados.
13

2 AGRONEGÓCIO

2.1 DEFINIÇÃO E HISTÓRIA DA ADMINISTRAÇÃO

Em obra Chiavenato (2001) disserta que a administração pode ser


compreendida como o produto de esforços coletivos; como o de filósofos, físicos,
economistas, estadistas e empresários, que propagaram seus conhecimentos cada
um em seu campo de contribuição, desenvolvendo e divulgando suas obras e
teorias. Ele ainda sugere que, obras realizadas no antigo Egito, Mesopotâmia e
Assíria, nos quais se ergueram grandes construções, e para tal, a gestão e o
planejamento organizavam, já no mundo antigo, os esforços de milhares de homens
com o único objetivo de edificar obras monumentais – quais até hoje perduram,
como sendo referências históricas e pré-históricas desses esforços.
Outro indício inicial, para ele, partem da China antiga, onde os ensinamentos
de Confúcio já sugeriam “boas práticas administrativas” para o setor público da
época. Não obstante, a bíblia conta a história dos conselhos de Jetro, sogro de
Moisés, que notando as dificuldades em administrar o povo, sugere a seu genro que
delegue funções e competências a 1000, 100, 50, e 10 pessoas, julgando assim as
causas menores e de menos importância de acordo com seu nível de competência,
focando apenas as causas mais graves a Moisés (Chiavenato, 2001).
Seguindo essa linha, através dos exemplos da construção histórica da
administração, pode a inferir como uma ciência que evoluiu juntamente à
humanidade, culminando então em sua " descoberta" - mesmo que estivesse desde
os primórdios auxiliando no desenvolvimento social, econômico e tecnológico da
sociedade. Contudo, apesar do progresso do conhecimento humano ao decorrer do
tempo, Chiavenato (2001) complementa que o conceito de administração como
ciência é relativamente novo, aparecendo por volta do século XX, bem após os
acontecimentos da revolução industrial, e que seu aparecimento teve como
precursor os vários anos de preparação e condições necessárias para tal.
De acordo com Kwasnicka (2004), a revolução industrial foi, por sua vez, um
movimento histórico com início ao findar do século XVlll, que contou com a
fortificação do movimento do êxodo rural, ocorrido após a revolução agrícola que
14

movimentou grande parte da população rumo as grandes cidades em busca de


novas oportunidades, e tem na Inglaterra, devido ao seu posicionamento privilegiado
em detenção de grande mão de obra, capital e novas tecnologias, seu palco
principal. Ainda segundo o autor, a ascensão da tecnologia e das máquinas teve
grande impacto nas relações humanas da época, efeito esse que saltou do palco
britânico para o restante do globo. Acarretando uma verdadeira mudança na
economia global, que agora caminhava para um sistema integrado de produção, que
focava seus esforços em aumento da produção, por meio da utilização de
maquinários que maximizavam a velocidade do até então sistema manufatureiro,
consolidando a revolução industrial como um marco histórico.
Para Kwasnicka (2004), em meio a esse marco histórico, surge uma das mais
importantes conceituações de administração: a administração científica. Qual pare
ele, mesmo que anteriormente se tenha evidências da definição do conceito de
administração científica na Grã – Bretanha, tem como um dos pioneiros Frederic
Winslow Taylor, pois foi através deste e suas ideias, que houve um avanço e
significativa propagação do conceito. Seu principal enfoque como engenheiro
industrial era em melhorar o setor produtivo, tirando máximo proveito da força de
trabalho dos operários, para isso Taylor se utilizou de estudos da motivação salarial
e produtiva dos trabalhadores maximizando seus resultados. Não se preocupando
somente em extrair ao máximo dos trabalhadores, ele também determinou métodos
eficazes de divisão do trabalho, rotinização, padronização de equipamentos, estudos
de movimento, seleção dos trabalhadores mais adequados, garantia de amplo
material para os trabalhadores e a introdução de símbolos como índice,
implementado esses métodos em busca da melhoria e maximização da produção e
da lucratividade (Kwasnicka, 2004).
Outra teoria, desenvolvida quase que em paralelo com os princípios
formulados por Taylor, é a Teoria Clássica da administração, que fora elaborada por
Jules Henri Fayol, engenheiro francês que, juntamente a Taylor, é considerado um
dos pais da administração moderna. Segundo Kwasnicka (2004), Fayol definiu
conceitos básicos da administração e seus princípios, como: prever, organizar,
comandar, coordenar e controlar. Os estabelecendo como pilares de todo e qualquer
administrador ou organização, tanto que hoje são estudados como habilidades
inerentes à atividade administrativa.
15

A visão administrativa idealizada por Fayol também passava pela definição


estrutural da organização em seus mais diversos níveis, pensando na organização
como um sistema fechado, arranjado horizontal e verticalmente em níveis
hierárquicos de poder (Kwasnicka, 2004). Fayol estava intimamente cativado pela
administração e em meados de 1908 publicou um estudo acerca dos princípios da
administração, pois acreditava na possibilidade de formar administradores e
formalizar o estudo da administração. Nesse estudo, ainda, apresentou 14 princípios
dos quais definiu como básicos da administração, quais ainda estudados e utilizados
(Kwasnicka, 2004), a descrição desses se encontram abaixo, nas Figuras 1 e 2:

Figura 1 - Os catorze princípios da Teoria Clássica da administração, por Fayol - 1

Fonte: adaptado de Kwasnicka (2004)

Os restantes dos princípios da Teoria Clássica, a partir do princípio da


centralização, está a vista na Figura 2:
16

Figura 2 - Os catorze princípios da Teoria Clássica da administração, por Fayol - 2

Fonte: adaptado de Kwasnicka (2004)

No livro “Administração: teoria, processo e prática”, Chiavenato (2007),


explica que outra teoria de influência na administração, a Teoria da Burocracia,
encontra em Max Weber (1864 -1920), sociólogo alemão, seu principal contribuinte e
fundador. Para Weber a burocracia não significa a perca de eficiência, como em
muitos casos é abordada, mas sim é um apreço estruturalista de algumas
características da organização formal, voltando seus esforços para o ganho de
eficiência e racionalidade organizacional. Weber definiu algumas dimensões básicas
de sua teoria (Chiavenato, 2007), essas, se definem na Figura 3:
17

Figura 3 - As dimensões da Teoria da Burocracia, por Max Weber

Fonte: adaptado de Chiavenato (2007)

O modelo de administração idealizado por Weber, foca estruturalmente na


competência individual de cada funcionário da organização, visando prever, controlar
e padronizar o comportamento humano e organizacional, dessa maneira buscando o
ganho de eficiência mediante essa padronização. Para Chiavenato (2007), a teoria
da burocracia se torna em partes disfuncional devido a desconsiderar o fator
humano das relações organizacionais, pois isso a torna inflexível e pouco
adaptativa. No entanto, o autor ainda destaca que é inegável a importância da
burocracia para a administração das grandes empresas, tendo em vista que todas
as grandes organizações se utilizam dela como modelo basal para a estruturação de
suas complexas relações de trabalho.
18

2.2 AGRONEGÓCIO

A origem do termo agronegócio remonta ao termo em inglês agribusiness, que


segundo Davis e Goldberg (1957) foi exposto publicamente pela primeira vez em
outubro de 1955, por John H. Davis na Boston Conference on Distribution. Mais
tarde em 1957 o conceito foi definido na obra Conception of Agribusiness. Sendo um
termo criado para descrever as funções inter-relacionadas da agricultura e os
negócios, significa “a soma total de todas as operações envolvidas na fabricação e
distribuição de insumos agrícolas; operações de produção na fazenda; e o
armazenamento, processamento e distribuição de commodities agrícolas e itens
feitos a partir deles” (Goldberg; Davis, 1957, p. 2).
No Brasil, nos anos 1980, o termo em inglês foi inicialmente traduzido para
complexos agroindústriais, sendo este, no final dos anos 1990 e início dos anos
2000, substituído pelo termo agronegócio (Marcos, 2008). Para Marcos (2008)
agronegócio é, conceitualmente, o delimitador dos sistemas integrados de produção
de alimento, onde todos que produzem matéria prima agropecuária devem se inserir,
e qual opera desde o melhoramento genético até o produto final. Já para Matos e
Pessôa:

Essa expressão é utilizada no Brasil para designar grandes


propriedades modernas que se dedicam à monocultura com o
emprego de tecnologia avançada e reduzida mão-de-obra. Na maior
parte dos casos, a produção é destinada ao mercado externo ou às
agroindústrias, com a finalidade principal de auferir lucros (Matos;
Pessoa, 2011, p. 22).

O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada – ESALQ/USP


(Cepea), por meio do seu coordenador científico Geraldo Sant’Ana de Camargo
Barros, em artigo de janeiro de 2022, discorre sobre o conceito e evolução do
agronegócio. Segundo Barros (2022) a urbanização gerou o distanciamento entre a
produção agropecuária e as atividades relacionadas ao seu consumo, as quais
passaram a ter expressão econômica próprias. Neste contexto o conceito de
agronegócio visa resgatar esta interdependência e, segundo a sua origem, envolve
19

necessariamente todas as atividades econômicas que possuem relação com a


agricultura, de modo que sem ela não existiriam (Barros, 2022).

2.2.1 O PIB do setor em 2022 e 2023

As organizações Cepea e CNA, quais são, respectivamente, o Centro de


Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Esalq/USP e a Confederação da
Agricultura e Pecuária do Brasil, possuem como parte da sua atuação o informe
acerca dos indicies econômicos do agronegócio nacional. Desse modo em relatório
datado de junho de 2023, denotam um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB)
do agronegócio em 0,19% no primeiro trimestre de 2023, frente o mesmo período
em 2022 (Cepea; CNA, 2023).

Tabela 1: PIB do Agronegócio (em R$ milhões do primeiro trimestre de 2023*) - 2022


e estimativas para 2023 com base em informações até março
Setores do agronegócio 2022 2023*
Insumos 193107 162707
Primário 719456 760015
Agroindústria 606377 609040
Agrosserviços 1113343 1120132
Total agronegócio 2632282 2651894
Fonte: Cepea e CNA (2023, n.p)

Como expresso na Tabela 1, o PIB do agronegócio no ano passado totalizou


2,62 trilhões de reais e em 2023, fazendo uma projeção com os dados do primeiro
trimestre, totalizará cerca de 2,65 trilhões de reais. Essa diferença próxima de 30
bilhões de reais, é o que embasa o percentual de aumento supracitado. O PIB do
agronegócio ainda pode ser analisado o dividindo em dois ramos, sendo estes o
agrícola e pecuário, contidos na Tabela 2.

Com essa divisão se percebe que todos os setores do ramo pecuário tiveram
uma evolução negativa, com destaque para o do agrosserviços que sozinho foi
responsável por mais da metade de toda a desvalorização do ramo, enquanto o
setor dos insumos, desconsiderando sua proporcionalidade, foi pelo menor. Já o
20

ramo agrícola, com exceção do setor de insumos, apresenta como um todo uma
evolução positiva, tendo como destaque o setor primário. Com um PIB em ordem de
trilhões, ainda segundo Cepea e CNA (2023), seguindo a estimativa, o agronegócio
será responsável por 24,6% de toda a economia nacional em 2023. As instituições
ainda apontam que, apesar de ser um valor considerável é ainda menor que os 25%
de 2022.

Tabela 2: Ramos e segmentos do PIB do Agronegócio (em R$ milhões do primeiro


trimestre de 2023*) - 2022 e estimativas para 2023 com base em informações até
março
Ramo Setores 2022 2023*
Insumos 148118 120233
Primário 449405 494994
Agrícola Agroindústria 490476 499397
Agrosserviços 813420 837777
Total ramo agrícola 1901419 1952401
Insumos 44989 42475
Primário 270051 265021
Pecuário Agroindústria 115901 109642
Agrosserviços 299923 282355
Total ramo pecuário 730863 699493
Fonte: Cepea e CNA (2023, n.p)

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) (2023) através de


publicação do Ministério da Agricultura e Pecuária, por sua vez, detalha que em
2022 a participação da agropecuária no PIB brasileiro foi de aproximadamente 676
bilhões de reais, pouco menos de 8%. Já no primeiro trimestre desse ano, se
aproximou de 260 bilhões de reais, o que corresponde a cerca de 11,6% do PIB total
do trimestre. As diferenças entre os dados da participação do agronegócio, no PIB
nacional, em relação ao IBGE e ao Cepea e CNA, se fazem pois além da
agropecuária e agronegócio se diferenciarem conceitualmente, a metodologia
adotada no cálculo de suas respectivas participações, igualmente, se difere (Castro,
2022).

2.2.2 Evolução histórica


21

Um setor com participação tão significante no PIB nacional como é o


agronegócio nos exemplos dos anos de 2022 e 2023, não pode ter seu início em
época recente. Desse modo através da bibliografia histórica acerca do
desenvolvimento do país, bem como a relação do agronegócio, ou, pelo menos, das
suas expressões agrícolas iniciais, acompanha – se a sua evolução. Nesse sentido,
se observa que os principais produtos da exportação do agronegócio no primeiro
trimestre de 2023, a soja, o milho, o açúcar e a carne de frango in natura (MAPA,
2023) ou as carnes bovinas, que entre janeiro e março tiveram o segundo melhor
desempenho da história (Cepea; CNA, 2023), não foram as primeiras atividades
agrícolas. Na verdade, remontando os primórdios do país, quando esse ainda tinha
alcunha de terra de Vera Cruz, podemos dizer que as primeiras exportações,
comparáveis aos produtos citados, no ramo das plantas, foi o Pau-brasil, nos dos
animais fora gatos bravos, macacos e papagaios - como representante mais
próximos da ave supracitada (Calmon, 1939).
Para entender essas diferenças, que claro, se fazem presentes graças aos
séculos de distância entre uma época e outra, baseando - se nas fontes de Paulo
Calmon (1939), João Carlos Monteiro de Carvalho (1992) e na de José Estáquio
Ribeiro Vieira Filho (2022) entre outras, confeccionou - se uma linha do tempo
contendo alguns dos marcos históricos importantes para o desenvolvimento do atual
agronegócio, presente na Figura 4 e Figura 5:

Figura 4 - Linha do tempo do agronegócio do século XVI ao XIX

Fonte: do autor (imagens por Freepik)


22

Marco zero: pau-brasil e animais silvestres

A figura 1 apresenta de início o marco zero. Qual aqui considerado, vindo do


século XVI, do ano de 1503, com a primeira embarcação portuguesa, donde se tem
relato, a partir da recém-descoberta costa brasileira, do território onde atualmente,
provavelmente, se compreende o município de Cabo Frio no Rio de Janeiro,
carregada de Pau-brasil e comandada pelo capitão, piloto e astrônomo, Americo
Vespucci (Calmon, 1939). Um ponto a destacar é que segundo Pedro Calmon
(1939), de início os portugueses não notaram nenhuma riqueza no território recém-
descoberto, sendo o pau-brasil ate mesmo motivo de desanimo por parte dos
relatos, mas, mesmo assim, essa carga de madeira corresponde ao começo do
tráfico, bem como o início do aproveitamento econômico e colonização de Vera
Cruz. Um outro relato de empreitada do pau-brasil, nessa mesma terra de Cabo Frio,
acontece alguns anos mais tarde. A embarcação que tinha como responsável
Bartolomeu Marchione, Benedito Morelli e Francisco Martins, fez um carregamento
que durou vinte dias e teve um saldo de 5 mil toras abordo (Calmon, 1939). Além da
madeira, sabida possuir tom avermelhado, os homens segundo Pedro Calmon
“completaram a carga com papagaios, gatos bravos, macacos, peles.” (1939, p.
104).

Marco um: cana e açúcar

No mesmo século, porém, agora no ano de 1526, começam os prováveis


registros das primeiras produções de açúcar da terra de Vera Cruz. Agora o palco da
empreitada era o canal de Itamaracá, nomeado de Pernambuco, que nesse tempo,
segundo Paul Gaffarel (1889, p.26 apud Calmon, 1939, p. 123) era uma “cidadela de
madeira que serve de abrigo a alguns portuguêses exilados”. Porém isso e as
dificuldades da inicial colonização, não impediram que o açúcar que deu entrada em
1526 na Índia, viessem dele (Calmon, 1939).
Já em 1530 seguindo, sem saber, o exemplo de Pernambuco, Martim Afonso
fundou duas vilas: São Vicente e Santo Amaro. Qual onde, por seus arredores se
instalou os dois primeiros engenhos daquelas terras. Martim Afonso também
mandou que se plantasse o seu canavial em época própria. Com estes atos, vindo
23

do fato que sabia do pouco futuro que viria da extração do pau-brasil, alcançou dois
objetivos: a expansão portuguesa através das vilas e a sua sustentação pela
indústria açucareira. Os maiorais desse frota, contando com Martim, deram a
Portugal o oportuno conselho econômico, nas ilhas até então nuas de trabalho
agrário, a cana-de-açúcar de muito serviria, de modo que assim o povoamento do
Brasil começava (Calmon, 1939), bem como, o desenho do que viria ser o mesmo
no mercado do açúcar. Ao final do século XVI, segundo Furtado (1969, p.47, apud
Carvalho, 1992), se admite a existência de 120 engenhos na então colônia
portuguesa.

Marco dois: monocultura, escravidão e exportação

Até o final do século XVII, como explica Carvalho (1992), nenhuma outra
atividade agrária, que não o açúcar, se fez presente no Brasil de modo evidente, a
configurando como monocultura. E mesmo a renda produzida por esta, não ficava
na colônia para desenvolvê-la, mas sim era exportada para a Europa através da
potência comercial que Portugal era. O que desenhava o sistema econômico qual
prevaleceria entre a colônia e o colonizador, marcado pela forte submissão desta
para com este, o mercantilismo (Carvalho, 1992).
Além disso, pode se verificar que a característica principal da mão de obra
dessa atividade era a escravidão. Inicialmente, o povo escravizado foram os naturais
da terra, os indígenas, porém, de acordo com o seu modo de sobrevivência prévia,
estes não se submeteram facilmente. Tal acontecimento fez Portugal se voltar à
Africa, onde acabara por conseguir a mão de obra considerada “ideal” (Carvalho,
1992). Nessa época, segundo Furtado (1969, p.47, apud Carvalho, 1992),
considera-se a existência de cerca de vinte mil escravos no nosso território, qual três
quartos destes era destinado somente à atividade açucareira. As características da
produção se voltavam ao uso da terra, mão de obra e tecnologia simples.

Marco três: o café, a diversificação e o trabalho assalariado

Já no século XVIII, segundo Carvalho (1992), mesmo em declínio o mercado


do açúcar para Portugal, esse ainda é o que primariamente se expressa, tendo
como alguns outros produtos de fraca expressão e circulação interna: o gado e
24

muares, fumo, algodão, arroz e culturas de subsistência. Mas o país colonizador


passa a usar outro motivador da exploração e colonização do território brasileiro, a
busca e descoberta de metais preciosos. Gerando um efeito de migração de homens
livres, portugueses, que juntos de escravos acabaram por, graças a penetração ao
interior do território, impulsionar a ocupação e estabelecimento de novas terras.
Acontecimentos políticos ocorridos no final do século XVIII e início do século
XIX, bem como a mudança da família real para o Brasil, fez surgir um inicial sistema
financeiro nacional por essas terras, que acabou por ter grande influência no
financiamento das futuras lavouras de café. Esse produto, veio impulsionar os já
existentes grandes produtores agrícolas, que graças a crise gerada pela ideia dos
metais e a citada situação do açúcar, haviam sido afetados negativamente
(Carvalho, 1992).
Na última parte do século XIX o Brasil apresenta uma economia basicamente
ainda agrária, mas de caráter diversificado, tendo grande produção de café e
crescimentos notáveis nas de algodão e extração de latex (Carvalho, 1992). Outra
característica segundo Carvalho (1992), é o início do uso de algumas tecnologias
simples, mesmo que o aumento da produção decorra ainda da terra, mão de obra e
da expansão da fronteira agrícola. Outrem, ainda segundo ele, se destaca o início da
transição da mão de obra escrava para outros tipos de relações pré-capitalistas,
como o surgimento de assalariados, parcerias e pequenos arrendamentos.

Figura 5 - Linha do tempo do agronegócio do século XIX ao XXI

Fonte: do autor (imagens por Freepik)


25

Marco quatro: exportações e capitalismo

A Figura 2, inicia com o marco quatro, qual compreende do final século XIX
até a década de 40 e, segundo Cavalho (1992), o que marca o comportamento da
economia é o café. Graças a ele a economia nacional se expande, especificamente
por estímulos externos, como aumento da demanda e elevação do preço, e internos,
como abundância de terras e mão de obra, bem como as políticas estatais. Nesse
tempo o sistema capitalista passa a reger com mais nitidez as relações no campo,
como resultado disso se expressa, as já citadas, relações de trabalho assalariadas e
a terra como reserva de valor (Carvalho, 1992).
O dinamismo do café, basicamente em relação a sua precificação, faz criar
um dinamismo também na economia do país. Outra característica desse período
como aponta Carvalho (1992), é a dualidade do sistema agropecuário, enquanto um
segmento da produção era voltado a demanda externa, a exportação, a outra era
para a interna. Bem como o financiamento dessas, passam estar mais ligado a
atuação do Estado. Ainda segundo ele, como no período anterior, o aumento da
produção estava somente ligado à expansão da fronteira agrícola.

Marco cinco: mudanças e industrialização

Esse período, que, como exposto por Carvalho (1992), compreende de 1930
a 1986, corresponde há várias mudanças políticas, que se traduziram também em
mudanças tributárias nas exportações do agronegócio e na agroindústria. Ele ainda
disserta que muitas destas favoreciam a agroindústria em detrimento das
exportações, porém com um objetivo. A primeira mudança política, de importância ao
que se analisa aqui, é o Estado Populista instaurado no país pela Revolução de
1930. Que em conjunto com o novo pacto de poder, que passaria deixar em
segundo plano a burguesia relacionada à agropecuária exportadora e se voltaria
mais a da burguesia industrial, também trouxe um processo de industrialização
denominado pelos teóricos de “modelo substitutivo de importações” (Carvalho,
1992). Com ele, o Estado passa a extrair recursos da agropecuária para financiar a
industrialização, através de políticas econômicas cambiais, tributárias e comerciais
(Carvalho, 1992).
26

Como explica Carvalho (1992), um reflexo desse modelo era a priorização


das importações de tecnologias industriais em detrimento das da agrícolas. Já no
sentido de exportações, o que se via era a contenção dessas com o objetivo de
conter o aumento dos preços desses produtos internamente. Ainda segundo o autor,
como resultado se implantou no país um parque industrial de bens de consumo não
duráveis e, posteriormente, um de bens de consumo duráveis. Tais políticas
perduraram até 1968 e segundo Pastore (1979, apud Carvalho, 1992, p. 49),
configuram “uma fase de crescimento industrial sem precedentes em nossa história
econômica”.
A próxima mudança decorre do esgotamento desse modelo, bem com a
mudança política vindo com a implantação do Estado Planejador-produtor em 1964,
pelos militares, que se lança numa agressiva política de exportação de produtos
industrializados (Carvalho, 1992). A política comercial, penalizava os produtos
agrícolas e estimulava a exportação de manufaturados. Mais especificamente, os
produtos agrícolas foram separados em dois grupos, os de exportações tradicionais,
como café, cacau e soja em grãos, e outro contendo os produtos alimentícios, como
arroz e feijão, e produtos destinados a agroindústria. O primeiro grupo sofreu alta
tributação ao ser exportado, além de parte da produção ser reservada para a
indústria agroalimentar. Já o grupo dos produtos alimentícios, sua exportação foi
proibida (Carvalho, 1992)..
Em reflexo dessas politicas comerciais, as indústrias nacionais que tinham
como matéria-prima os produtos agrícolas, tiveram um período de alto crescimento.
Tanto que segundo Carvalho (1992, p. 52) “Foram transportadas do exterior
indústrias fabris praticamente completas”, instalando – se no país um amplo parque
de Indústrias Agrícolas e Alimentícias. Essas, também tinha a sua atenção voltada,
para além do objetivo de exportação de industrializados, o mercado interno que
crescera graças aumento da população urbana, em decorrência do esvaziamento da
do campo (Carvalho, 1992).
Além das indústrias que dependiam da agricultura, o período é marcado pelo
surgimento também das Indústrias Para a Agricultura, responsável por insumos
modernos: maquinários sofisticados; implementos agrícola, como defensivos,
corretivos e fertilizantes (Carvalho, 1992). E ao lado dessas, surgiu um politica de
abertura de linhas de crédito ao setor agrícola. Porém, como aponta Carvalho
(1992), essa tecnologia e crédito, acabaram por ficar disponíveis apenas para os
27

grandes produtores, que graças a tal, tiveram parte do seu aumento de produção
advindo disso. Já para a outra parte, a maioria da unidade camponesa, o aumento
da produção continuou atrelada à expansão da fronteira agrícola.

Marco seis: complexos agroindustriais

Devido as transformações nas relações das atividades agrícolas com as


exportações, indústrias para ela e que dependem dela no sentido de matéria-prima,
bem como com as políticas estatais acerca do comércio, tributação e crédito, como
contemplados nos marcos anteriores, se assume, segundo Carvalho (1992), que na
década de 90, todo esse sistema assumia tal complexidade que não podia mais ser
compreendido de forma setorial. De tal modo que Carvalho (1992) evoca o conceito
de Sistema ou Complexo Agroindustrial, pois o termo agricultura se adequava ao
tempo em que o produtor rural, dentro da sua propriedade, produzia uma série de
produtos agrícolas, como seu próprio alimento, além de comercializar o excedente;
bem como os insumos que usaria. Realidade que não se expressava mais.
O Sistema ou Complexo Agroindustrial, consistia agora em uma série de
relações complexas onde a agropecuária é apenas uma parte da sua composição.
Ainda citando Carvalho (1992), nesse sistema o produtor passa a adquirir grande
parte do que consome ou os implementos que serão utilizados em suas atividades
agrícolas, no mercado. Bem como o beneficiamento do que suas terras produzem,
suas embalagens, serão agora realizados além dos limites destas. Ate mesmo a
comercialização não será de atribuição direta dele.
A composição desse sistema, de forma especificada, consiste na
agropecuária e nas agroindústrias produtoras de insumos, as denominadas
Indústrias Para Agricultura (IPA) e as que adquirem a produção agrícola, Indústrias
Agrícolas e Alimentícias (IAA) (Carvalho, 1992). Se nota que as origens dessas,
remontam a políticas estatais anteriores, que desenvolveram parques industriais
voltados ao fornecimento de insumos à agropecuária, bem com os que dependiam
dela para a sua matéria – prima (Carvalho, 1992).
Vale ressaltar que o aumento da produtividade através de tecnologia, como as
que já eram disponíveis aos grandes produtores no marco passado, agora se
difundem mais entre os produtores. Entretanto se acumulando nas regiões sul e
sudeste do país, bem como nas atividades agrícolas voltadas a exportação
28

(Carvalho, 1992). Outro ponto, é que o Estado é o responsável por um dos principais
elementos dinamizador de todo esse sistema: a politica de crédito rural. Qual
abrange desde o produtor em suas atividades agrícolas, até as atividades industriais
(Carvalho, 1992).

Marco sete: tecnificação e a Embrapa

Esse marco, para fins dessa análise, transita da década de 80 até os dias
atuais e tem como evidenciador a mudança da mentalidade no setor. Formado em
agronomia em Minas Gerais e, posteriormente, feito mestrado e doutorado nos
Estados Unidos, Eliseu Alves tem papel importante nesta mudança. Pois, após seus
estudos, concluiu que toda a prosperidade agrícola dos Estados Unidos, era em
decorrência dos investimentos em ciência e tecnologia (Filho, 2022). Convencido
que o Brasil deveria adotar esse mesmo modelo, acabou por participar de grupos,
ligados ao governo da época, quais após discussões, concluíram que o problema da
atividade agrícola do país não estava ligado a falta da difusão da tecnologia já
existente, mas sim à necessidade de produzir novas (Filho, 2022). O que culminou
na criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) em 26 de
abril de 1973 (Embrapa, 2022), onde Eliseu Alves ocuparia espaços institucionais.
A Embrapa, segundo Filho (2022), passaria a fazer entregas significativas a
partir da década de 80, como por exemplo a incorporação do Cerrado na produção
agrícola, conduzida graças aos estudos em relação a correção da acidez do solo,
bem como a tropicalização de sementes do cultivo de grãos. Outra, ainda citando
Filho (2022), foi a disseminação da técnica da fixação biológica do nitrogênio, que
diminui os custos das produções e propiciou o fomento do Programa Nacional do
Álcool (Proálcool), e ainda o grande crescimento da produção de soja. Sendo assim
a tecnificação da agropecuária, ao lado da produção e o aumento da procura
internacional, vem sendo destaques do setor nesse século XXI (Embrapa, 2022).

2.3 PRODUTIVIDADE DO AGRONEGÓCIO


29

É de se notar que, desde do marco zero até o quinto, o aumento da produção


se deve, em sua maior parte, pela extensão da fronteira agrícola, como visto no caso
da colonização do país através da produção de açúcar, e, em um segundo, com o
adentramento do interior do país pela busca de pedras preciosas. Porém, nos
marcos seguintes, mesmo que de forma concentrada de início, a tecnologia começa
a se fazer presente neste aspecto, como a participação da Embrapa na década de
80. Para Slack (2001 apud Nigro, 2005) o capital induz a tecnologia, e ambos,
assim, podem gerar ganhos de produtividade ao elevar a automação, inovar,
melhorar o processo de tomada de decisão e a gestão da organização.
Mas ao se pensar nesta questão de produtividade e o agronegócio, surge
duas questões: o que significaria ganho de produtividade para esse setor e qual foi a
variação desse índice no decorrer dos anos anteriores até hoje?
Para a primeira, acerca do sentido que tem o ganho de produtividade para o
agronegócio, inicialmente se mostra necessário definir o conceito de ganho de
produção. Nesse sentido dissertam Saint-Jean e Therriault (2007) que a
produtividade pode apresentar diferentes características a depender da aplicação, e
quando relacionada ao ambiente laboral, se refere a diferença entre produção de
bens, prestação de serviços e os custos para a realização das atividades, se
caracterizando pelo desejo de obter resultados melhores e mais eficientes, com o
menor custo possível. Ainda segundo os autores, quando aplicada aos indivíduos, se
refere a mensuração de sua produtividade em comparação ao restante do grupo ou
unidade de produção, ou seja, estabelece padrões e métricas para esses.
Mesmo se bem definidas e bem gerenciadas as atividades de um setor
produtivo, nas esferas do planejamento e controle, ainda há espaço para melhoria
(Slack, 1999). Dessa maneira, podemos estabelecer a produtividade como sendo
uma forma de se auferir maiores ganhos com a diminuição de custos de produção,
agregando valor à venda dos produtos. Não obstante, passa pelo fator humano de
capacitação, divisão e especialização no trabalho, bem como é um processo
contínuo.
Para Gasques e Filho (2020), em livro que compila vários artigos relacionados
à análise dos sensos da agropecuária, a produtividade do setor estaria, nos últimos
anos, no Brasil, ligada a qualificação da mão da obra, disponibilidade de
equipamentos e máquinas com melhor desempenho, à alocação mais eficiente da
30

terra e a pesquisas. Coisas essas, ainda segundo eles, relacionadas a mão de obra,
terra e ao capital.
Já no âmbito da segunda questão, por mais que temos como certo que houve
aumento da produtividade do agronegócio no nosso país, é necessário, para os fins
desse trabalho, a observação de um índice específico baseado em dados oficias.
Em consonância com essa ideia, Martins e Laugeni (2001 apud Nigro, 2005)
explicam que para o a obtenção de um índice de produtividade é necessário o uso
dos recursos envolvidos, a produtividade parcial, e um conjunto de fatores ou todos
os fatores envolvidos, a chamada Produtividade Total dos Fatores (PTF). Aqui, em
decorrência de vários artigos calculando e o analisando, se opta pelo PTF.

2.3.1 Metodologia do PTF

O cálculo do PTF da agricultura, segundo Gasques et al. & Filho e Gasques


(2022; 2020), é resultado da relação entre os produtos e os insumos, qual é obtida
através do índice de Tornqvis, através da seguinte equação:

( ) ( ) ( )
n m
PTF 1 1 Y it 1 X jt
ln = ∑ ( Si t + S i (t − 1) ) ln − ∑ ( C j t +C j (t −1) ) ln (1)
PTF (t − 1) 2 ( i=1 ) Y i (t −1) 2 j=1 X j ( t −1 )

Ainda segundo os autores, o termo ln(PTF 1 / PTF(t-1)) é uma razão que


representa a variação do índice em um período determinado pelo (t-1,t). Já após o
sinal de igual, segundo Vieira Filho e Gasques:

O primeiro termo do segundo membro é o somatório dos logaritmos


das razões entre as quantidades dos produtos em dois períodos de
tempo sucessivos; a ponderação é feita pela média da participação
de cada produto no valor total da produção. O segundo termo é o
somatório dos logaritmos das relações entre quantidades de insumos
em dois períodos sucessivos de tempo; também nesse caso os
valores são ponderados (média de participação de cada insumo no
custo total) (Viera Filho; Gasques, 2020, p. 108)
31

Vieira Filho e Gasques (2020) ainda explicam que Yi e Xj, são, nesta ordem,
as quantidades de produtos e de insumos; na mesma medida que S i e Cj, por essa
ordem, são as participações do produto “i”, no valor total da produção, e do insumo
“j”, no custo total dos insumos. Já, ainda segundo eles, o número de produtos e de
insumos são determinados por “n” e “m”.
Ainda, referente a obtenção desse índice, podemos especificar os produtos e
os insumos utilizados para fazer a relação. Esses, de acordo com Gasques e Filho
(2020), que para tal se baseiam nos Censos Agropecuários do IBGE, no dos
produtos, são: lavouras, silvicultura, agroindústria rural, extração vegetal,
horticultura, produção animal e pecuária. Já nos dos insumos: terra, pessoal
ocupado, número de tratores, adubos e corretivos, agrotóxicos e energia elétrica.

2.3.2 PTF

Com os trabalhos de Gasques et al. & Filho e Gasques (2022; 2020), que
calculam o PTF num intervalo de tempo que compreende de 1975 a 2020, é possível
refletir sobre os aspectos desse índice, no sentido da sua interferência na produção,
bem como nos seus formadores. O resultados supracitados se encontram na Tabela
3:

Tabela 3-Taxas anuais de crescimento de indicadores selecionados por todo período


de 1975 a 2020 (em %)
Períodos 1975 - 2020
1) Produto 3,79
2) PTF 3,33
3) Insumos 0,45
3.1) Mão de obra -0,42
3.2) Terra 0,04
3.3) Capital 0,84
PTF / produto (%) 87,9
Fonte: Gasques et al. (2022, p. 10)

A tabela mostra a evolução anual do PTF da agricultura no Brasil, além de


especificar também a evolução das quantidades de produto e insumos no mesmo
decorrer de tempo, qual compreende um total de quarenta e cinco anos. Com isso
32

se nota que, nesse período, a taxa de crescimento do PTF equivaleu a 3,33 % ao


ano. Já os insumos teve uma taxa mais singela, englobando mão de obra, terra e o
capital, equivaleu a apenas 0,45 % ao ano. Mas mesmo com a pequena evolução
dessa taxa, o produto em si, nesse decorrer de tempo, teve um crescimento de 3,79
%.
Como os insumos e o PTF fazem parte da taxa do produto, e como, quando
comparado com a PTF, a taxa de insumos foi relativamente pequena, pode se inferir
que a maior parte da taxa do produto é composta pelo PTF. Isso se comprova na
última linha da tabela, que demonstra a razão entre o PTF e o produto, qual resulta
que esse é responsável por cerca de 87,9 % da taxa.
Um detalhamento em relação ao intervalo total, pode ser analisado na tabela
4 abaixo:

Tabela 4-Taxas anuais de crescimento de indicadores selecionados em intervalos


detalhados (em %)
Períodos 1975-1979 1980-1989 1990-1999 2000-2009 2000-2020 2011-2020
1) Produto 4,35 3,38 3,02 5,18 3,76 2,55
2) PTF 2,93 2,27 2,66 3,8 3,18 1,56
3) Insumos 1,38 1,09 0,35 1,33 0,56 0,98
3.1) Mão de 0,05 0,6 -0,22 -0,05 -0,84 -0,57
obra
3.2) Terra 0,58 0,23 -0,2 0,09 0,18 0,27
3.3) Capital 0,74 0,26 0,78 1,29 1,22 1,28
PTF / produto (%) 67,3 67 88 73,3 61,2 87,9
Fonte: Gasques et al. (2022, p. 10)

De acordo com essa tabela, se observa que o crescimento da taxa do PTF se


deu, em maior intensidade, em dois períodos: 1975 a 1979 e 2000 a 2009. De
acordo com a evolução histórica elaborada anteriormente, esses períodos se
relacionariam, respectivamente, com o “marco cinco: mudanças e industrialização” e
com o “marco sete: tecnificação e a Embrapa’.
Os valores da evolução do produto no nosso país, segundo Gasques e Filho
(2020), são elevados mesmos em comparação com os dos Estados Unidos, qual
teve uma taxa de crescimento de produto de 1,19 % ao ano entre 2007 e 2017. Já o
Brasil, segundo a tabela 4, em período semelhante, de 2011 a 2020, teve um
crescimento de 2,55 % ao ano.
33

O fenômeno da composição da taxa de crescimento do produto pelo PTF, dito


anteriormente representar uma grande porcentagem, encontrasse, também por
intervalos, na Figura 6 abaixo:

Figura 6 - Participação dos insumos e do PTF na taxa de crescimento do produto no


decorrer de 1975 a 2020

Fonte: adaptado de Gasques et al. (2022, p. 10)

Se o observa, a partir da imagem, que 1990 a 1999 é o período que esse fenômeno
ocorre com mais evidencia, pois é onde a participação do PTF chega a 88% (Gasques et
al., 2022). Segundo Gasques et al. (2022), essa participação tão expressiva do PTF
no produto, indica ainda a importância da tecnologia no aumento da produção desse
setor.

2.4 ADMINISTRAÇÃO E A PRODUTIVIDADE DO AGRONEGÓCIO

Mediante ao visto, podemos dividir a relação da administração com a


produtividade do agronegócio em várias esferas, das quais se pode ter a da
administração pública, a da administração rural e a da tecnologia e administração.

2.4.1 Administração pública


34

A administração pública, qual se tem como uma ferramenta fundamental


para a conclusão dos objetivos do Estado (ALexandrino; Paulo, 2005 apud Chaves;
Albuquerque, 2019). E para tal, tem como meio de atuação, se destacando aqui, a
Administração Indireta, que segundo Carvalho e Sampaio (2010 apud Chaves;
Albuquerque, 2019) tem como sua manifestação as autarquias, fundações públicas,
empresas públicas e etc. Acaba por ter seus indícios na evolução histórica do setor.
No, não de forma exclusiva, “Marco cinco: mudanças e industrialização” e no
“Marco sete: tecnificação e a Embrapa”.
No primeiro, no sentido da percepção do Estado da necessidade do
desenvolvimento industrial através da implantação do “modelo substitutivo de
importações”, que seria futuramente, após transformações, parte presente nos
complexos agroindustriais, o que propiciou o próprio desenvolvimento das
agroindústrias. Já no outro, através da mudança de mentalidade em relação as
pesquisas agrícolas e a criação de uma autarquia, a Embrapa, uma empresa
pública, o que beneficiou igualmente o setor, como no caso da integração da região
do Cerrado à produção.

2.4.2 Administração rural

Já no que tange à administração rural, que por sua vez teria como papel
auxiliar no uso dos recursos da propriedade rural, no objetivo de auferir o aumento
de produtividade com diminuição dos custos (Calzavara, 1985), temos sua
importância para o setor, bem como a sua baixa difusão. A importância se deve, pelo
fato que estaria em contato com onde se obtém a produção: a atividade agrícola. A
qual é de natureza séria, já que está ligada a fatores como: clima, natureza perecível
do que se produz, oscilação de preço, doenças no rebanho ou pragas nas
plantações e a sazonalidade (Avila; Avila; Ferreira, 2002). Já a baixa difusão, pode
ter sua situação compreendida através de dois estudos:
No primeiro, realizado por Hofer, Borilli e Philippsen (2006) sobre a utilização
da contabilidade rural pelos agricultores do município de Toledo no Paraná, qual foi
realizado com cerca de 262 produtores rurais da região, se constatou que 37,79%
dos entrevistados guardavam as informações de suas atividades na memória,
35

portanto não registravam nem os fatos ou atos contábeis; 49,62% anotavam de


maneira escrita as despesas e receitas; 9,62% através de planilhas eletrônicas;
0,38% fazia o controle por fichas e 3,05% disseram possuir um controle
informatizado.
No segundo, de Silva e Silva (2020), feito com 11 proprietários de fazendas na
região de Goianápolis, município de Goiás, constatou que cerca de 82% dos
proprietários administravam suas fazendas, enquanto apenas 18% tinham apoio de
profissionais qualificados para auxiliá-los na administração e gestão do negócio.
Esses ainda, quando questionados sobre a utilização de ferramentas para registros,
50% disseram ter controle por anotações, 19% relataram ter o controle através de
planilhas e cerca de 31% não fazem nenhuma espécie de controle financeiro.
Com base nesses resultados, se observa que mesmo com a diferença de
quase duas décadas entre os estudos, e o último sendo recente, de 2020, ainda há
uma certa resistência por parte dos pequenos produtores no que diz respeito ao
registro de dados importantes a administração rural e a contabilidade.

2.4.3 Tecnologia e administração

Ao analisar as participações na taxa de crescimento do produto da


agropecuária, como feito no subtópico “2.3 Produtividade do Agronegócio”, se nota
que boa parte deste é em decorrência do PTF. E, como explicam Gasques et al.
(2022), isso seria indício da importância da tecnologia no aumento da produção.
Eles ainda especificam que a natureza do ganho de produtividade do setor, se
relacionaria com a mão de obra, terra e ao capital. Em consonância, especialmente
com os aspectos do capital e tecnologia, temos o pensamento de Slack (2001 apud
Nigro, 2005), qual disserta que o capital induz a tecnologia, quais em conjunto
podem gerar ganhos de produtividade ao elevar a automação, inovar, melhorar o
processo de tomada de decisão e a gestão da organização – o que também, ainda,
estaria relacionado à administração rural.
Segundo Slack (1999) a tecnologia envolvida é dividida em tecnologia de
processo e tecnologia de produto e serviço. A tecnologia de processo seria os
aparatos tecnológicos e técnicas que serviram para o desenvolvimento do produto,
36

já a outra, seria propriamente a tecnologia do produto. Levando isso em


consideração, se analisa que as IPA, Indústrias Para a Agricultura, que fazem parte
dos Complexos Agroindustriais, apresentado no “Marco seis” da evolução histórica
do agronegócio, se fazem uso, no seu produto final, da tecnologia de produto e
serviços, já que desenvolvem os maquinários, como por exemplo os tratores, que
serão utilizados no campo. Enquanto o produtor rural, ao usar esses maquinários
para aumentar a produtividade de suas safras, estaria usufruindo da tecnologia de
processo.
Para Chiavenato (2007) a tecnologia por si só é útil, porém depende da
administração para ser utilizada e transformada em resultado. Então se imagina que,
toda a tecnologia e pesquisa feita para o setor do agronegócio, só se transforma em
resultado por intermédio da administração. Esse aspecto ainda pode ser
compreendido na dimensão cinco da Teoria da Burocracia de Max Weber, qual diz
respeito sobre a competência técnica, onde para se escolher quem ocupará um
cargo, deve se olhar para aptidão e qualificação.
37

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa usada para elaborar o trabalho se caracteriza como exploratória,


qual se busca conhecer com mais profundidade o assunto, para construir questões
importantes para a pesquisa (Beuren, 2008). Já o método de coletas de dados
adotado foi o bibliográfico, através de fontes secundárias como artigos científicos,
livros, teses e trabalhos de conclusão de curso.
Essas fontes foram obtidas através de pesquisas no buscador Google
Acadêmico, na biblioteca de periódicos SciELO e no portal de periódicos da CAPES,
através de palavras-chaves como: história da administração; conceito e evolução do
agronegócio; PIB e produtividade do agronegócio; administração rural, pública;
tecnologia e administração.
Ademais a relação da administração, nas esferas da administração pública,
rural e da tecnologia e administração, com a produtividade do agronegócio, ou seja,
os resultados do estudo, tiveram uma abordagem qualitativa. Sendo que foram
expostos através de um diagrama de Venn, onde os círculos representam cada uma
dessas esferas, e a intersecção entre elas a influência da administração. Sobre o
diagrama, ainda se salienta que o tamanho dos círculos, não se voltam, de maneira
alguma, a explicar o tamanho da influência de cada aspecto ou ainda nenhuma
proporcionalidade entre esses.
38

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A pesquisa bibliográfica referente a temática do trabalho, qual abrange de


forma mais específica a área da administração e o setor do agronegócio, resultou na
elucidação das relações existentes entra essas. Quais evidenciaram estarem
presentes nas esferas da administração pública, da administração rural e da
tecnologia e administração, como exposto no diagrama contido na Figura 7:

Figura 7 - Aspectos da administração que influenciam a produtividade do


agronegócio

Fonte: do autor

A administração pública é perceptível através da própria história da evolução


do agronegócio apresentada no estudo, a qual por várias vezes teve intensa
influência do Estado. Como em politicas de tributação e de acesso ao crédito, bem
com as de fomento a industrialização. Outro traço é a própria criação da Embrapa.
Já a administração rural seria pela própria proximidade com a atividade
elaborada no campo, bem como a natureza imprevisível dela.
A administração e tecnologia se faz presente a partir da análise da evolução
da produtividade através da Produtividade Total dos Fatores, a qual explicita a
grande influência do PTF no aumento da taxa do produto da agropecuária ao longo
39

dos anos, e por consequência a influência da própria tecnologia. Sendo que a


relação entre elas, se volta basicamente na utilização e transformação da tecnologia
em resultado para a produção pela administração.
Ademais, de forma secundária, se percebe que o atual agronegócio, que
como os dados da Cepea e CNA (2023) do primeiro trimestre, do ano corrente,
demonstram ter uma contribuição tão participativa no PIB nacional, não se
desenvolveu como hoje está posto, mas sim foi uma construção histórica de
diversos agentes. Passando da coroa portuguesa aos estados Populista e ao
Planejador-produtor, chegando ao atual. A própria agroindústria é um exemplo dessa
construção, pois como descreve Carvalho (1992), herda o parque industrial da
época da implantação do modelo substitutivo de importações, para depois, ter um
incrimento de tecnologia no período da industrialização, culminando nas Indústrias
Para Agricultura (IPA) e nas Indústrias Agrícolas e Alimentícias (IAA), que na década
de 90 seriam parte dos Complexos Agroindustriais.
Outro ponto a se destacar é a baixa difusão da administração rural e da
contabilidade rural entre os pequenos produtores, qual se expressa nos estudos de
Hofer, Borilli e Philippsen (2006) e o de Silva e Silva (2020), que mesmo espaçados
em quando duas décadas apontam para o mesmo tipo de deficiência. Mesmo a
administração rural sendo de grande importância ao setor, pela natureza imprevisível
das atividades agrícolas.
40

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Temos que a pesquisa resultou na compreensão de que a influência da


administração se deve em três aspectos desta, a pública, a rural e seu vínculo com a
tecnologia. Entretanto é bom destacar que a influência pode não se limitar
exclusivamente a estes, outros elementos administrativos podem, e possivelmente,
estão envolvidos.
Outra coisa, no sentido de métrica, é que se analisou somente um índice que
pode ser mensurado metodologicamente, para verificar que tipo de relação o
aspecto encontrado possuía com a produtividade do setor. No caso foi a
produtividade total dos fatores, onde se entendeu a dimensão da tecnologia na
relação, qual foi a contribuição para o aumento da taxa de produto.
Portanto diante os mencionados limites desta pesquisa, se projeta as
possibilidades de pesquisa que podem culminar no melhor, e mais assertivo,
entendimento acerca da conjuntura qual envolve a temática. Esses poderiam
compreender o estudo de outros índices que ajudariam fornecer uma mensuração
da relação dos outros aspectos, como o da administração pública e rural, ou ainda
outro que não foi resultado desse trabalho.
Ainda, poderiam verificar com o apoio de outros autores e metodologias, as
mesmas conjunturas, de modo que partindo de outras perspectivas, se encontrasse
outros aspectos de influência na produtividade do agronegócio.
Ademais, se entende que para os fins da hipótese do ganho de produtividade
do agronegócio estar relacionado à tecnologia, bem como para o objetivo geral da
compreensão a cerca da influência que a administração exerce na produtividade e
para os objetivos específicos, que os resultados e o corpo do trabalho em si, foram
satisfatórios. Mesmo que, como evidenciado, haja a necessidade de expansão do
apresentado e a compreensão de outros possíveis aspectos, o que fica para futuros
trabalhos.
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