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ARTETERAPIA
Santa Maria
RS – Brasil
2022
Curso de Pós-graduação Lato-Sensu
Dados do Estagiário
Nome: Joel Elói Franz
Registro Acadêmico: 1085504
Período do Curso: 16/02/2019 – 25/06/2022.
Santa Maria
RS – Brasil
2022
2
―Tem mais presença em mim aquilo que me falta‖.
(Manuel de Barros)
3
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.........................................................................................................................8
1.1 OBJETIVOS GERAIS......................................................................................................10
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...................................................................................11
2.1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DA ARTETERAPIA...................................................11
2.2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DA PSICOLOGIA JUNGUIANA..............................13
2.3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DA LINGUAGEM SONORA....................................16
2.4.FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DAS LINGUAGENS E EXPRESSÕES
CORPORAIS.....................................................................................................................18
2.5 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DA EXPRESSÃO PLÁSTICA BIDIMENTSIONAL E
TRIDIMENSIONAL............................................................................................................20
2.6 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DA PSICOLOGIA E SIMBOLISMO DA LUZ E
COR......................................................................................................................................21
2.7 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DA SIMBOLOGIA DOS MITOS, CONTOS DE
FADAS E LENDAS..........................................................................................................24
3. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS..................................................................................26
3.1 PLANO DE TRABALHO..................................................................................................27
Sessão 1- Percebendo a Falta....................................................................................................27
Sessão 2- Corpo em Movimento – Os pés................................................................................30
Sessão 3- Corpo em Movimento – Identificando Expressões Faciais......................................33
Sessão 4- Corpo em Movimento – Treinando a Respiração.....................................................38
Sessão 5- Corpo em Movimento – Percepção e Consciência Corporal - Relaxamento e Tensão
– Respiração e partes do corpo.................................................................................................41
Sessão 6- Corpo em Movimento – Posturas Corporais.............................................................44
Sessão 7- Corpo em Movimento – Corpo dançante..................................................................47
Sessão 8- Corpo e sensibilidade................................................................................................50
Sessão 9- Corpo – Mãos à obra.................................................................................................54
Sessão 10- Corpo pulsante – liberando sentimentos.................................................................57
Sessão 11- Guardados do Coração............................................................................................59
Sessão 12- O que guardar e o que deixar ir?.............................................................................61
Sessão 13- O Totem – Lidando com o imprevisto....................................................................64
4
Sessão 14- O Totem..................................................................................................................65
Sessão 15- Moldando o que inspira..........................................................................................68
Sessão 16- Sandplay – O Jogo da Caixa de Areia....................................................................70
Sessão 17- Linha da Vida..........................................................................................................77
Sessão 18- Sombra e Luz..........................................................................................................78
Sessão 19- Liberdade................................................................................................................81
Sessão 20- Mapa dos Sonhos....................................................................................................82
Sessão 21- Gratidão..................................................................................................................84
Sessão 22- Coagulando a Alma................................................................................................86
Sessão 23- Soul Collage...........................................................................................................90
Sessão 24- Sementes de Paz......................................................................................................92
Sessão 25- Resumo de Vida......................................................................................................93
Sessão 26- Modelando a vida....................................................................................................96
Sessão 27- Meus monstros, meus medos..................................................................................98
Sessão 28- Musicoterapia..........................................................................................................99
Sessão 29- Reelaborando Afetos.............................................................................................102
Sessão 30- Mitos e Contos de Fadas.......................................................................................104
Sessão 31- Retalhos do Tempo 1 – Infância...........................................................................106
Sessão 32- Retalhos do Tempo 2 – Juventude........................................................................108
Sessão 33- Retalhos do Tempo 3 – Vida adulta......................................................................110
Sessão 34- Retalhos do Tempo 4 – O Futuro..........................................................................111
Sessão 35- Retalhos do Tempo 5 – Contracapa......................................................................112
Sessão 36- Retalhos do Tempo 6 - Capa do livro e adornos...................................................113
Sessão 37- Sentindo o Caminho..............................................................................................115
Sessão 38- Removendo a Escuridão.......................................................................................117
Sessão 39- Símbolos da Transformação.................................................................................119
Sessão 40- Novas forças para a Vida......................................................................................120
Sessão 41- Assumindo a direção.............................................................................................123
Sessão 42- A Árvore dos Afetos – 1.......................................................................................124
Sessão 43- A Árvore dos Afetos – 2.......................................................................................126
Sessão 44- Novos olhares para um novo caminhar.................................................................128
Sessão 45- Vida em Harmonia – 1..........................................................................................134
Sessão 46- Vida em Harmonia – 2..........................................................................................135
5
Sessão 47- Vida em Harmonia – 3..........................................................................................137
Sessão 48- Encarando a Grande Deusa...................................................................................138
Sessão 49- O vôo do Flamingo...............................................................................................143
Sessão 50- Avaliação geral do processo arteterapêutico, do estágio, do arteterapeuta em
formação e despedida..............................................................................................................145
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Resumo
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1. INTRODUÇÃO
Neste trabalho, será apresentado o processo e os resultados do estágio referente à
formação em Arteterapia. O estágio ocorreu com a participação de uma mulher de 39 anos, de
uma cidade da região central do RS. Sua filha, de oito anos, por vezes solicitava participar.
Por diversas razões, pensando na própria participante em primeiro lugar, foi facultada a
participação da filha às atividades, sempre que solicitado, com a anuência da professora
responsável pelo estágio. Devido à pandemia, optou-se pela videochamada, online, com a
participante em sua cidade, em seu domicílio, e o Arteterapeuta em formação em sua
respectiva cidade, também em seu domicílio. Exceção à regra, foram 2 sessões nas quais a
participante, por outras razões, viria a Santa Maria, cidade do estagiário, e assim, marcou-se
utilizar uma sala de atividades expressivas que oferecia a estrutura para as sessões de
Sandplay (Caixa de Areia) e Musicoterapia, em datas distintas. O estágio teve cinquenta
sessões, ocorridas geralmente duas vezes por semana. Totalizou-se cem horas de atividades,
realizadas entre 29/09/2021 e 23/03/2022.
A fundamentação teórica utilizada para embasar todo o estágio encontra sua base na
Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung, bem como no constructo científico de Nise da
Silveira, além de outros autores satelitais às suas ideias.
Estudou-se algumas áreas pelas quais perpassa o domínio de temas teóricos da
Arteterapia, como LINGUAGEM SONORA, LINGUAGENS E EXPRESSÕES
CORPORAIS, EXPRESSÃO PLÁSTICA BIDIMENTSIONAL E TRIDIMENSIONAL,
PSICOLOGIA E SIMBOLISMO DA LUZ E COR, e a SIMBOLOGIA DOS MITOS,
CONTOS DE FADAS E LENDAS, entre outros. As atividades desenvolvidas foram
distribuídas em um PLANO DE TRABALHO que ofereceu espaço para ser modificado
durante o percurso, à medida que a participante trazia temas, necessidades, queixas e
demandas referentes ao seu próprio processo. O Plano de trabalho contou com cinquenta
sessões, com os seguintes títulos e temas:
Sessão 1- Percebendo a Falta:
Sessão 2- Corpo em Movimento – Os pés
Sessão 3- Corpo em Movimento – Identificando Expressões Faciais
Sessão 4- Corpo em Movimento – Treinando a Respiração
Sessão 5- Corpo em Movimento – Percepção e Consciência Corporal - Relaxamento e Tensão
– Respiração e partes do corpo
Sessão 6- Corpo em Movimento – Posturas Corporais
8
Sessão 7- Corpo em Movimento – Corpo dançante
Sessão 8- Corpo e sensibilidade
Sessão 9- Corpo – Mãos à obra
Sessão 10- Corpo pulsante – liberando sentimentos
Sessão 11- Guardados do Coração
Sessão 12- O que guardar e o que deixar ir?
Sessão 13- O Totem – Lidando com o imprevisto
Sessão 14- O Totem
Sessão 15- Moldando o que inspira
Sessão 16- Sandplay – O Jogo da Caixa de Areia
Sessão 17- Linha da Vida
Sessão 18- Sombra e Luz
Sessão 19- Liberdade
Sessão 20- Mapa dos Sonhos
Sessão 21- Gratidão
Sessão 22- Coagulando a Alma
Sessão 23- Soul Collage
Sessão 24- Sementes de Paz
Sessão 25- Resumo de Vida
Sessão 26- Modelando a vida
Sessão 27- Meus monstros, meus medos
Sessão 28- Musicoterapia
Sessão 29- Reelaborando Afetos
Sessão 30- Mitos e Contos de Fadas
Sessão 31- Retalhos do Tempo 1 – Infância
Sessão 32- Retalhos do Tempo 2 – Juventude
Sessão 33- Retalhos do Tempo 3 – Vida adulta
Sessão 34- Retalhos do Tempo 4 – O Futuro
Sessão 35- Retalhos do Tempo 5 – Contracapa
Sessão 36- Retalhos do Tempo 6 - Capa do livro e adornos
Sessão 37- Sentindo o Caminho
Sessão 38- Removendo a Escuridão
Sessão 39- Símbolos da Transformação
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Sessão 40- Novas forças para a Vida
Sessão 41- Assumindo a direção
Sessão 42- A Árvore dos Afetos – 1
Sessão 43- A Árvore dos Afetos – 2
Sessão 44- Novos olhares para um novo caminhar
Sessão 45- Vida em Harmonia – 1
Sessão 46- Vida em Harmonia – 2
Sessão 47- Vida em Harmonia – 3
Sessão 48- Encarando a Grande Deusa
Sessão 49- O vôo do Flamingo
Sessão 50- Avaliação geral do processo arteterapêutico, do estágio, do arteterapeuta em
formação e despedida.
Pelo relato realizado pela própria participante, quando mencionou: ―Consegui sentir na
vida a evolução. (Na Arteterapia) vi as coisas boas e só lembrava coisas ruins‖ (SIC),
percebeu-se a importância de todo o processo. Após este comentário, D.R. avalia que -
ressignificando os traumas, o estágio ajudou a dar novos sentidos para as situações. ―Estou
conseguindo não me desesperar diante de um problema‖ (SIC). Além disso, a participante
afirma que está mais proativa. E destaca que ―99% da minha mudança eu consegui tirar da
Arteterapia‖ (SIC).
Pondera, também, que além de si mesma, outras pessoas estão percebendo a mudança
e comentaram. Sente-se mais encorajada, determinada, mais confiante de que é capaz. ―Não
me sinto mais solitária, hoje a companhia da minha filha me basta. Fui transformada da
carência para a autossuficiência‖ (SIC). Amanhã será o aniversário de 40 anos, diz ela na
última sessão. Comenta que não costumava celebrar a vida. Mas, domingo vai celebrar o
aniversário na casa da mãe. Comprou balões. Visitou o cemitério e em frente ao túmulo,
brincou com o esposo, de um jeito leve, divertido, na sua oração. ―Eu consegui me tornar uma
pessoa muito melhor do que eu era‖ (SIC).
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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O Dr. Sigmund Freud (1856-1939) foi um dos que primeiro percebeu que a arte
poderia trazer informações do inconsciente, mas não aprofundou este tema. O Psiquiatra
Suíço Carl Gustav Jung (1875-1961), no entanto, explorou em profundidade este mundo de
imagens que o inconsciente produz e oferece ao indivíduo o tempo todo, construindo um
grande embasamento teórico sobre as imagens, as atividades expressivas e sua relação
simbólica com o Homem, individual e coletivamente. Mas a primeira vez que o termo
Arteterapia parece ter sido utilizado num contexto organizadamente terapêutico com uma
estrutura mais específica criando esta área particular de atendimento, foi nos Estados Unidos,
em 1941, quando a educadora Margareth Naumburg (1890-1983) sistematizou o
conhecimento baseado na teoria psicanalítica de Freud.
Já no Brasil, temos dois grandes precursores arteterapeutas em linhas distintas, Osório
Cesar (1895-1979) com influência mais psicanalítica e Nise da Silveira (1905-1999), ambos
psiquiatras que trabalharam em instituições que abrigavam pessoas em sofrimento mental, à
época chamados de alienados. A construção de suma importância destes dois pioneiros trouxe
Osório César, em 1925, criou a Escola Livre de Artes Plásticas do Juqueri, Hospital
Psiquiátrico em que trabalhava desde 1923. Posteriormente, em 1948, cria a 1ª. Exposição de
Arte do Hospital do Juqueri, no Museu de Arte de São Paulo (CARVALHO E ANDRADE,
1995). Em 1929, publica A Expressão Artística nos Alienados. Ele, portanto, é o precursor
brasileiro deste trabalho, tendo realizado mais de 50 exposições divulgando a expressão
artística de doentes mentais, conforme informa REIS (2014).
Quanto à primeira representante da corrente junguiana em território brasileiro a
estruturar o trabalho arteterapêutico, temos em Nise da Silveira o maior modelo e mais
importante figura nacional com o maior legado deixado à psiquiatria, à psicologia, à
estruturação da Arteterapia, da Terapia Ocupacional, da Musicoterapia, uso de animais em
atendimentos (Pet terapia) entre outras iniciativas que Dra. Nise maternou, gerou e deixou
como frutos. Ela foi a primeira que não promovia qualquer dinâmica de orientação aos
11
pacientes, mas deixava-os inteiramente livres em suas manifestações expressivas. Portanto, o
método de Nise da Silveira é bem distante dos outros anteriores. Ela buscava permitir a
expressão de vivências que não foram, de outra forma, verbalizadas e, por isso, estavam
reprimidas no inconsciente, sem elaboração. Ela dizia que ―nosso‖ (os cuidadores, terapeutas)
trabalho era justamente o de estabelecer pontes entre o consciente e o inconsciente para que o
cliente pudesse voltar à luz da consciência, integrando os opostos, como Jung preconizava.
Somente em 1980, tivemos o primeiro Curso de Arteterapia formal, em São Paulo,
preconizado pela Psicóloga Clínica Maria Margarida de Carvalho. Professora do Instituto de
Psicologia da USP. E, em 1990, uma terceira abordagem científica inaugura um espaço de
trabalho em São Paulo, através da arteterapeuta gestáltica Selma Ciornai. Assim, as três
principais correntes que embasam a arteterapia brasileira no momento, são a psicanalítica, a
junguiana e a gestáltica.
As Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) são recursos terapêuticos
que atuam no sistema de saúde brasileiro, inclusive no SUS. Neste contexto pode se encaixar
a Arteterapia, além de atuar em outros âmbitos que envolvam promoção e manutenção da
qualidade de vida, dentro do contexto de saúde integral que preconiza a Organização Mundial
da Saúde - OMS. Neste âmbito, a Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares do SUS reconheceu em 2017 a Arteterapia como mais uma de suas
modalidades. A Arteterapia, no Brasil, recebeu em 2013 o Código Brasileiro de Ocupações,
CBO 226310 – tornando-se então reconhecida como profissão legalmente. Organizou-se
como entidade de classe a UBAAT – União Brasileira de Associações de Arteterapia – da
qual integram 13 Associações Regionais, a saber: AAMA - Associação de Arteterapia do
Estado do Maranhão; AAPB – Associação de Arteterapia da Paraíba; AARJ – Associação de
Arteterapia do Rio de Janeiro; AARTES– Associação de Arteterapia do Espírito Santo;
AATERGS– Associação de Arteterapia do Estado do Rio Grande do Sul; AATESP–
Associação de Arteterapia do Estado de São Paulo; ABCA– Associação Brasil Central de
Arteterapia; ACAT– Associação Catarinense de Arteterapia; AMART– Associação Mineira
de Arteterapia; APAT– Associação Paranaense de Arteterapia; ARTE–PE - Associação
Pernambucana de Arteterapia; ASBART – Associação de Arteterapia da Bahia; ASPOART–
Associação Potiguar de Arteterapia.
No instante em que estes reconhecimentos legais foram conferidos à profissão da
Arteterapia, ela foi definida – nas palavras de ROSSETO (2021, n.p.):
12
[...] como ―uma prática expressiva visual, que atua como elemento terapêutico na
análise do consciente e do inconsciente e busca interligar os universos interno e
externo do indivíduo, por meio de sua simbologia, favorecendo a saúde física e
mental. A arte (...) conectada a um processo terapêutico, transformando-se em
técnica especial, (...) pode ser explorada na análise/investigação de sua simbologia
(arte como recurso terapêutico). Utiliza instrumentos como pintura, colagem,
modelagem, poesia, dança, fotografia, tecelagem, expressão corporal, teatro, sons,
músicas ou criação de personagens, usando a arte como uma forma de comunicação
entre profissional e paciente, em processo terapêutico individual ou de grupo, (...)‖.
A Arteterapia pode ser praticada por pessoas com diferentes idades, com
necessidades especiais, enfermas ou saudáveis, individualmente ou em grupos. É
exercida em ateliers e instituições, em equipes multidisciplinares, sempre sob a
orientação de um arteterapeuta. Como exemplo de contexto citamos: saúde mental,
reabilitação, instituições médicas e legais, centros de recuperação, programas
comunitários, escolas, instituições sociais, empresas, ateliers, entre outros, conforme
define a American Art Therapy Association, AATA(2). Para assegurar a qualidade
dos profissionais arteterapeutas, a União Brasileira de Arteterapia, UBAAT(3),
determina um curriculum mínimo com fundamentação teórica, estabelecendo a
interface entre a arte e a terapia, bem como a prática de estágios supervisionados.
Dentro da Psicologia Analítica e seus princípios mais fundantes, Jung deu muita
importância ao conceito de símbolo. Quer seja porque percebeu que a linguagem inata da
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psique é carregada de símbolos, senão propriamente eles, quer seja porque percebeu o quanto
o ser humano, movido por desejos, é, em verdade, movido por faltas. E o símbolo é
exatamente a expressão daquilo que falta. Esta é uma das principais características do
símbolo. Então Jung escreve um livro chamado Símbolos da Transformação, no qual
demonstra justamente que somos movidos falta após falta na tentativa de suprí-las, de
preencher o vazio. Assim, encontramos a expressão grega Simbolein, que significa tudo
aquilo que aproxima, que completa, que integra. Daí o termo símbolo, referindo nossas
carências e desejos.
Jung apropria-se de duas ideias básicas sobre este inconsciente. que vai conceituar
diferente da psicanálise: considera o inconsciente coletivo, formado por instintos e arquétipos,
com conteúdos que antecedem a existência consciente do indivíduo e se manifesta com
símbolos arcaicos que aparecem em toda a história da humanidade de forma regular e
consistente, trazendo conteúdos que não são individuais, mas problemas universais da
humanidade. E, ainda, a ideia de inconsciente individual, apresentado por ideias novas,
pensamentos, conteúdos que interessam o indivíduo e são ―auto-retratos do que está
acontecendo no espaço interno da psique, sem quaisquer disfarces ou véus‖ (JUNG, 2001,
p.85). Na abordagem junguiana, aproximar-se destas imagens, dar forma e voz a elas,
conversar com elas, amplificá-las, já move a energia psíquica que está contida e reprimida
nelas, sendo assim já terapêutico o próprio ato em si. Aqui se moveria energia, desejos e
impulsos, de acordo com SILVEIRA (2001, p. 86).
Esses referidos padrões que provocam impulsos, emocionais e fisiológicos, carregados
de energia psíquica e, em suas manifestações, são representados por imagens de vivências
primordiais da humanidade, semelhantes, em traços fundamentais, ele denominou arquétipos
(2001, p 86), que, como diz REIS (2014), exprimem, de diferentes modos em função da época
e do lugar, os mesmos afetos e ideias básicos do ser humano. Os mitos são grande ilustração
deste fenômeno.
Ao longo da vida, aprendemos a realizar adaptações de conduta a cada ambiente e
vínculos que convivemos. Estas adaptações ao meio são a forma que o ego utiliza para lidar
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com o ambiente em que se encontra. A estas espécies de papéis que adotamos nestas
interações, denomina-se persona. São importantes, portanto, para realizar a comunicação
interna-externa mais adaptada possível. Utilizamos, assim, muitas personas conforme vamos
assumindo novas tarefas e vivendo novas experiências e relações.
Outro termo importante para a abordagem é a chamada Sombra. Os aspectos ainda
desconhecidos da psique são denominados de sombra. Por isso, sombrio não é apenas algo
considerado como ruim ou negativos. Apenas significa que não é conhecido.
Jung refere que, desde milhares de anos, com os primeiros registros em 2700 A.C. no
Egito, a busca pelo conhecimento das supostas verdades sobre o homem, a vida, a morte, a
eternidade, o espaço, o tempo, entre outros mistérios que interessavam os pensadores antigos,
foi registrado que o ser humano funciona a partir de dois pólos. Estes pólos de energia
psíquica recebem quaisquer nomes que possam representar oposição de polaridade, mas
referencialmente são denominados de Masculino e Feminino. Na abordagem de Jung, o
masculino foi chamado Animus e o feminino de Anima. Ambos os termos latinos, animus
significa ânimo, força de vontade, e ânima, alma. O sopro que anima (O sopro de um deus
que, em seu aspecto feminino, geraria a Vida). No Hermetismo e na Kaballah, estas
polaridades eram também entendidas, entre outras coisas, como Expansão (masculino) e
Retração (Feminino) e estes impulsos estão considerados também como parte dos termos
junguianos quanto a facilitarem a compreensão dos conceitos Anima e Animus.
De modo mais geral, Anima representaria o feminino no Homem e Animus, o
masculino na Mulher. Nem sempre são utilizados desta forma, mas na grande maioria das
vezes, sim. Emma Jung (1882-1955), esposa de C. G. Jung, foi quem escreveu primeiramente
um livro (Animus e Anima) conceituando o Animus na mulher, utilizando a ideia de Logos
para isso. O Princípio Masculino Sagrado em Logos, o Deus judaico-cristão, como modelo de
masculino. Aprofunda mais este estudo. Depois, Jung discorre sobre ambos, Animus e
Anima, ao longo de toda a sua Obra Completa. São centenas as citações em seus livros. Estas
simbologias não tentam explicar gênero. São simbólicas, relativas a impulsos compensatórios
de movimentos que se completam, bem como o exemplo acima de expansão e retração, na
busca pelo equilíbrio, pela integração dos opostos, um mecanismo de autoajustamento que
seria inato da psique.
15
2.3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DA LINGUAGEM SONORA
Afirma Pahlen (1947/1965), que a música é, junto à dança, uma das mais antigas das
artes; como forma de expressão; é ainda mais antiga que a linguagem (MARANHÃO, 2007).
Diferindo das artes plásticas e da pintura, prescinde de uma disposição técnica, bastando a
espontaneidade do som percutido em seu corpo ou em qualquer objeto. O som faz parte da
vida, onde há movimento, há som. Porém, os sons, para o ser humano, são mais do que
percepções acústicas; através dos sons o homem cria diferentes sentidos e significados sobre
sua relação com o mundo (AMUI, 2006).
Desde a Medicina Vibracional praticada no Templo de Saqcará, no Egito, a partir de
2650 A.C., até que a técnica foi se perdendo ao passar dos séculos, até mais antigo ainda, nas
celebrações dos povos primitivos, das flautas de osso do paleolítico, do órgão de tubos
hidráulico egípcio de 4.500 anos de idade, com o qual as famílias cantavam e tocavam em
seus lares, passando pelos tambores e chocalhos que em rituais femininos de fertilidade,
dedicados a deusas de fertilidade em vários locais do mundo, como a deusa Ísis, por exemplo,
nos rituais os quais as sacerdotisas reproduziam os ruídos ouvidos pelo feto na gravidez, ou
seja, os tambores, a batida do coração e os chocalhos o barulho das veias correndo o sangue,
desde muito tempo atrás a humanidade usou a música com finalidades diversas, inclusive a
terapêutica.
Aristóteles relatava o valor medicamentoso da música em relação às emoções
incontroláveis e atribuía seu efeito à catarse emocional, enquanto Platão receitava
música e dança para os terrores e angústias fóbicas (ZANINI, 2004). Já os egípcios e
outras civilizações antigas usavam a música em seus rituais por acreditarem, por
exemplo, que ela poderia interferir na fertilidade das mulheres (FERREIRA;
REMEDI; LIMA, 2006). No entanto, na Idade Média, época caracterizada pela
hegemonia do cristianismo, o Estado opôs-se ao desenvolvimento de estudos
médicos e a igreja passou a tratar enfermidades como a loucura por meio de rituais
de exorcismo, prevalecendo o uso religioso da música em detrimento do uso médico
(ZANINI, 2004). Apesar das práticas musicais terem uma íntima relação com as
práticas de saúde desde tempos remotos da história da humanidade, somente a partir
do século XX, estudos científicos abordando a música como recurso terapêutico
lançaram as primeiras bases de suas práticas atuais na Europa e nos Estados Unidos
(GONÇALEZ; NOGUEIRA; PUGGINA, 2008). As observações dos efeitos da
música deram-se, sobretudo, entre os convalescentes da Segunda Guerra Mundial. A
música era usada como ferramenta voltada para o tratamento da fadiga de combate
entre soldados no pós-guerra (GUAZINA; TITTONI, 2009). Atualmente, já existem
inúmeros estudos nacionais e internacionais que tentam comprovar a eficácia dos
métodos terapêuticos da música, seus efeitos fisiológicos no corpo e na mente
humana, estando suas práticas disseminadas e diferenciadas como nunca antes
(GONÇALEZ; NOGUEIRA; PUGGINA, 2008). Os estudos têm mostrado que a
música aumenta o bem-estar, capacita o relaxamento, estimula o pensamento e a
reflexão, oferece consolo, acalma e proporciona mais energia (RUUD, 1990).
Proporciona ainda a alteração da respiração, da circulação sanguínea, da digestão, da
oxigenação e do dinamismo nervoso e humoral, bem como estimulação da energia
muscular e redução da fadiga. Além disso, promove aumento da atenção e contato
16
com o ambiente, estimula a memória e a atividade motora, eleva o humor e
constitui-se como um importante recurso contra o medo e a ansiedade (LEÃO;
FLUSSER, 2008, n.p.).
A musicoterapia surgiu em 1950 nos Estados Unidos (BRUSCIA, 2000; CHAGAS &
PEDRO, 2008). A partir disso, esta área de atuação tem procurado aprofundar ainda mais os
estudos científicos a respeito do papel da música no cuidado à saúde mental. Nos dias de hoje,
existem no Brasil profissionais de musicoterapia atuando em múltiplos espaços e contextos,
desde consultórios particulares, clínicas, a rede de atenção à saúde mental, hospitais
psiquiátricos e mesmo o Centro de Atenção Psico-Social - CAPS.
17
2.4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DAS LINGUAGENS E EXPRESSÕES CORPORAIS
18
corpo real que odeiam e uma realização fantasiosa com corpos que idealizam. É sempre o
desejo daquilo que falta que ainda norteia a humanidade. Assim sendo, é preciso dar espaço
para um corpo real, reprimido, desejante, que busca ser reconhecido simplesmente como é, e
que cabe à Arteterapia acolher não só os aspectos emocionais dos clientes atendidos, mas
também suas corporeidades, dando-lhes espaço de ser e estar como são e estão. Afinal, o que
se quer é atender o Ser integralmente. Em todas as suas dimensões: biológica, psicológica,
sociológica e espiritual.
Não se pode separar a mente do corpo que habita para estudarmos, absolutamente
especificamente, um ou outro sem que se perca consideravelmente fatores importantes, que
são interativos. Diz Nasser (2010), citando Boechat:
19
quais se pense junto o corpo. Este texto encontra-se em CARTAS Vol. 2, 1946-1955 (2018,
P. 127). Sobre a importância dos sinais que o corpo fornece:
No ato criativo acontece o encontro do ser humano com sua essência, com aquilo
que lhe é particular e profundamente espiritual. Descobrindo sua essência, descobre
seu ser espiritual. Perceber-se um ser criativo é se perceber por inteiro, descobrir-se
um ser humano amado por ser quem ele é. E é isto que faz da criatividade um
processo terapêutico. Cérebro e coração, pensamento e sentimento, razão e intuição,
atitude e aptidão são compartilhados e interligados. Criador é aquele que manifesta
sua capacidade de realizações de valor, é aquele que utiliza a energia potencial
espiritual para realizar transformações em si e no meio em que vive (NERING 2006,
p.44).
Portanto, para a Arteterapia, o corpo participa das sessões da mesma forma que a
mente, a psique, a subjetividade, e todos os elementos que formam a pessoa atendida devem
ser considerados e valorizados dentro das técnicas e ética arteretapêuticas.
COOL E TEBEROSKY (2004, p. 45) afirmam que uma superfície plana tem duas
dimensões, altura e largura. Por isso se chama bidimensional. Sobre ela podemos traçar
linhas, fazer figuras ou manchas em cores. Já quanto a um objeto que tem três dimensões,
20
altura, largura e profundidade, é um objeto tridimensional. Podemos acrescentar ou retirar
elementos a esse objeto em qualquer lado (em cima, embaixo, atrás) e não só em um plano.
(COLL e TEBEROSKY, 2004, p.45).
Na arteterapia, utiliza-se diversos materiais e técnicas, como descrito por Tosin:
Quando se escolhe uma técnica que produz uma peça expressiva tridimensional, é
como se trouxéssemos o problema, até então inexpressado, para a luz da tridimensionalidade,
dando corpo a ele. Agora pode ser visto, ele pode ser reconhecido, ele ―existe‖. Assim
também quando utilizamos papéis ásperos ou suaves, tinta que seja espessa ou aguada,
materiais sintéticos ou naturais, tudo expressa mensagens diferentes e colaboram com as
reflexões do participante do processo terapêutico que vai, assim, encontrando caminhos para
lidar com seu sofrimento e desejo. Os materiais utilizados em arteterapia, portanto, fazem
parte do processo. Não são indiferentes, mas também são uma intervenção e, quem sabe,
podemos dizer que, assim como o setting terapêutico, servem de veículo para que a
mensagem entre psique e consciência do atendido na sessão se enriqueçam mutuamente e
conversem entre si mais efetivamente. Nisto, a Arteterapia diferenciou-se de Nise da Silveira,
que não produzia qualquer interferência nos seus clientes, nem mesmo com sugestões de
materiais ou técnicas. Nas sessões de Arteterapia hoje, pode-se contar com estas duas
possibilidades, ambas embasadas tecnicamente.
A Pesquisadora Eva Heller, em sua obra A Psicologia das Cores, demonstre um estudo
científico realizado sobre as cores, no qual foram consultados 2 mil homens e mulheres com
idades entre os 14 e os 97 anos na Alemanha. Os resultados das pesquisas demonstram que
cores e sentimentos não se combinam ao acaso nem são uma questão de gosto individual –
são vivências comuns que, desde a infância, foram ficando profundamente enraizadas em
nossa linguagem e em nosso pensamento. Ensina-nos também que as cores são agrupadas por
21
afinidades, ou seja, o mesmo tom ou tons similares de uma cor transmitem sentimentos
próximos e interligados, ela denomina essa combinação de Acordes Cromáticos, como na
música. Como se pode ver:
Um acorde cromático é composto por cada uma das cores que esteja mais
frequentemente associada a um determinado efeito. Os resultados da pesquisa
demonstram: as mesmas cores estão sempre associadas a sentimentos e efeitos
similares. As mesmas cores que se associam à atividade e à energia estão ligadas
também ao barulhento e ao animado. Para a fidelidade, as mesmas cores da
confiança. Um acorde cromático não é uma combinação aleatória de cores, mas um
feito conjunto imutável. Tão importantes quanto a cor mais frequentemente citada
são as cores que a cada vez a ela se combinam. O vermelho com amarelo laranja tem
outro efeito do que o vermelho com preto ou violeta; o verde com preto age de modo
diferente do que o verde com o azul. O acorde cromático determina o efeito da cor
principal. Não existe cor destituída de significado. A impressão causada por cada cor
é determinada por seu contexto, ou seja, pelo entrelaçamento de significados em que
a percebemos. A cor num traje será avaliada de modo diferente do que a cor num
ambiente, num alimento, ou na arte. O contexto é o critério que irá revelar se uma
cor será percebida como agradável e correta ou errada e destituída de bom gosto.
Aqui cada cor será mostrada em toda contextualização possível: como cor artística,
na vestimenta, no design de produtos e de ambientes, como cor que desperta
sentimentos positivos ou negativos.
Ou seja, após este esclarecimento de Jung trazido por Nise da Silveira, entendemos
que até mesmo a representação das cores na Arteterapia se dá conforme os conteúdos
emerjam incontroladamente ou sejam escolhas conscientes: nas pinturas terapêuticas, as cores
escolhidas parecem ser diferentes, bem como a intensidade com que se lhes aplicam. Também
Jung fala que já diferenças entre neurose e psicose. Na psicose, o ato de pintar facilita o lidar
com as emoções transbordantes e dissociativas. Como um escudo protetor.
As correlações com aspectos luminosos e sombrios do inconsciente são relativamente
simples de se perceber quando a cores escuras versus cores iluminadas ou claras. Também há
correlação entre as cores utilizadas na simbologia alquímica com as cores que os pacientes
utilizam, mas aqui há que se ter muito cuidado para não cairmos num furor interpretativo e
pecarmos por excesso. Há sempre que se consultar em primeiro lugar a pessoa que produziu a
atividade expressiva e verificar se ela encontra sentido no que se expõe. Por exemplo: o verde
pode estar associado a Saturno, ao arquétipo do Sênex, irritação, um velho ranzinza, algo que
estragou de envelhecido, azedo. Um velho saturnino, que forma dupla com o arquétipo do
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Puer, (criança, em latim). Aquele que não chegou a ser o velho sábio, tornou-se o velho
ranzinza por não ter aprendido a lição do Amor. Mesmo que saiba muito, sem amor é amargo.
Falta-lhe a sabedoria (conhecimento + amor). Muito verde, pode representar o leão verde da
alquimia, que tem os significados acima. Assim, uma a uma, as cores representam os planetas,
os estados da matéria, os signos da astrologia. Conhecimentos dos antigos alquimistas que
podem ser associados a estados de humor. E assim por diante: cada cor, diversas associações
podem ser realizadas com os conhecimentos simbólicos dos povos da antiguidade.
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dessacralizada. Relatando um mito, reatualiza-se de certo modo o tempo sagrado no
qual se cumpriram os acontecimentos de que se fala. (Eis porque nas sociedades
tradicionais se não pode contar os mitos em qualquer altura nem de qualquer
maneira: só se pode recitá-los nas estações sagradas, na selva e durante a noite, ou
em redor do fogo, antes ou após os rituais, etc.). Numa palavra, supõe-se o mito
passado num tempo — se nos permitem a expressão — intemporal, num instante
sem duração, como certos místicos e filósofos vêem a eternidade. Esta verificação é
importante, pois segue-se que a recitação dos mitos não é desprovida de
consequências para quem os recita nem para quem os escuta. Pelo simples fato da
narração de um mito, o tempo profano é — pelo menos simbolicamente —abolido:
narrador e auditório são projetados num tempo sagrado e mítico. Algures1 tentámos
mostrar que a abolição do tempo profano pela imitação dos modelos exemplares e
pela reatualização dos acontecimentos míticos, é como uma nota específica de toda a
sociedade tradicional e que essa nota basta, por si só, para estabelecer a diferença
entre o mundo arcaico e as nossas sociedades modernas. Nas sociedades tradicionais
as pessoas esforçavam-se consciente e voluntariamente, por abolir periodicamente o
Tempo, por apagar o passado e regenerar o Tempo, através de uma série de rituais
que reatualizavam de certo modo a cosmogonia. Podemos deixar de entrar aqui em
desenvolvimentos que nos afastariam muito do nosso assunto. Contentemo-nos em
recordar que um mito arranca o homem do seu tempo próprio — do seu tempo
individual, cronológico, «histórico» — e o projeta, pelo menos simbolicamente, no
Grande Tempo, num instante paradoxal que não pode ser medido porque não é
constituído por uma duração. O que é o mesmo que dizer que o mito implica uma
ruptura do Tempo e do mundo circundante; ele realiza uma abertura para o Grande
Tempo, para o Tempo sagrado. Pelo simples fato de escutar um mito, o homem
esquece a sua condição profana, a sua «situação histórica», como se diz hoje. Não é
absolutamente necessário participar numa civilização histórica para poder dizer de
alguém que esse alguém se encontra numa «situação histórica». (...) a expressão
«situação histórica» não implica necessariamente «a história» no sentido maior do
termo; implica somente a condição humana como tal, isto é, uma condição regida
por um certo sistema de comportamentos. (ELIADE, 1979, p. 171-172)
Assim, a relação do homem com a mitologia o liga ao sagrado, ao tempo sem tempo, à
função Transcendente, à sua individuação e à vida cósmica, por ligar-se com sua própria
natureza.
3 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
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Na anamnese, ela disse ter 39 anos, residente do município de Nova Palma, - RS, tem
uma filha de 8 anos. Acordamos que, eventualmente, a filha talvez participaria, uma vez que
D.R. realizaria as sessões no local no qual a filha também se encontrava. Então, de acordo
com a vontade da filha, ambas poderiam participar da sessão. Após este combinado, foi
deixado no local de trabalho, no município onde reside, um pacote com todos os materiais
arteterapêuticos necessários para a realização das sessões, com algum material extra para
permitir participações da filha.
Figura 1 – D.R.
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figura de uma mandala, sugeriu-se que colocasse uma imagem no centro e, a partir disso,
cercasse-a de proteção. Assim, ela produziu a imagem 2.
Análise simbólica da imagem: Os estudos das imagens serão de acordo com o conteúdo
abordado por Jung ao longo de sua obra completa. Também serão utilizados os livros de
Marie-Louise Von Franz: A sombra e o mal nos contos de fada e A interpretação dos contos
de fada, além do Dicionário de Símbolos (Chevalier e Gheerbrant, 2017), e O Livro dos
Símbolos (The Archive for Research in Archetypal Symbolism, 2012) além dos dois livros-
base de Nise da Silveira, Imagens do Inconsciente (2018) e O Mundo das Imagens (1992),
entre outros. Observa-se o uso de traços vigorosos, (raiva) na cor preta (sombra); as pessoas
estão flutuando, ou seja, não há densidade, é uma situação na qual não se sente consistência,
concretude; e a única cor é o vermelho, no coração, trazendo o símbolo mais conhecido e
tradicional de afeto. Também o traçado simples pode denotar um não engajamento total na
tarefa. Porém, como primeira atividade expressiva, parece que traz em sua essência, já na
primeira sessão, a demanda principal, a morte do esposo e seu luto decorrente.
Figura 2 – D.R.
A participante quis comentar sobre esta imagem: ―Centro: flor secando. Azuis: chuva.
Centro: sol (círculo amarelo), mas não entra nada (onde a flor está secando). Frio, dor, morte.
Necessidade de vida nova. Muitas coisas impedem a água de chegar nesta planta que tá
morrendo... Olhando pras duas imagens, minha vida, aqui, de certa forma, que eu tinha,
morreu.‖ (SIC).
Análise simbólica da imagem: A própria participante realizou a interpretação, detalhe a
detalhe, de sua atividade expressiva, como diz a teoria, esta é a mais importante interpretação.
Em todo o caso, a figura mandálica já demonstra a tentativa de recuperar o centro da sua
psiquê, num gesto de busca de autocentramento. Jung afirma que este movimento é inato na
psiquê humana e representa um gesto saudável tentativa de resolutividade dos conflitos. O ser
no centro, reforça a ideia do Self buscando o Si-mesmo. Em azul, veem-se muitas Vesica
Piscis, a figura mais antiga da humanidade para representar o feminino, a alma, na cor azul,
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também tradicionalmente utilizada para representar o feminino, as emoções.Por meio do
método da Maiêutica Socrática, as questões sensibilizadoras foram:
- O que representa o maior sentimento de falta em sua vida, hoje?
- Qual o problema que não permite que a vida seja renovada?
- Remova o que impede a Renovação da Vida. E represente ao centro a vida ideal. Após esta
terceira reflexão, D.R. produziu a imagem 3.
Figura 3 – D.R.
Sobre esta imagem, ela quis comentar (participante manteve desejo de comentar as
imagens produzidas até o final do estágio. Nas sessões posteriores, foi perguntado algumas
vezes: deseja falar algo sobre a sua expressão? Depois de um tempo, ela produzia a imagem e
já ia falando sobre ela). Destacou: - sede de viver, necessidade, urgência, pessoas que me
devolvam a vontade de buscar, encontrar um sentido. Sentiu-se cheia de vida, leve,
desenhando. É maravilhoso! Esses desenhos eu jamais faria!
Destaca-se que a cliente é proprietária de um Atelier, e, como artesã, desde a morte do
marido, o atelier encontra-se fechado. Não sente vontade de retornar à prática criativa. Suas
clientes pedem que retorne, mas por enquanto diz não ter condições emocionais.
Análise simbólica da imagem: Novamente o círculo como símbolo de integração, desejo de
integrar à sua vida novamente as faltas que D.R. sente. Dentre as diversas imagens de pessoas
e muito colorido, contrastando com o nigredo alquímico na primeira imagem (e lembrando o
preto representar luto em nossa cultura), chamou a atenção que há uma pessoa representada de
forma como se transparente fosse. Uma representação do marido falecido? De alguém que
ainda virá em sua vida? De si mesma em uma futura nova versão?
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Acolhimento: A participante inicia a acolhida dizendo que sonhou com o esposo. O conteúdo
do sonho referia-se que ele viajou sem avisar, sem despedir-se. não conseguiu ficar junto.
Foram dois sonhos. No segundo sonho, disse que cada um viajaria num dia.
Sensibilização: D.R. foi convidada e ficar descalça, observar bem os pés, e ao som dos
tambores da música, dançar marcando o ritmo com os pés. Perceber, sentir seus pés baterem
no chão, pensando em enraizamento da terra. Depois, respirando profundamente, observou
seu ritmo respiratório.
1. Sentou-se e, massageando os pés calmamente, atentou-se aos detalhes sutis.
2. Após um tempo, finalizou-se essa parte e ela foi convidada para sentar.
Abertura – sensibilização: Músicas Conquest of Paradise, Come To me. Desenho dos pés:
Hymn. Estas peças são de Vangelis, playlist do estagiário utilizada para atividades
expressivas.
Material: Música com tambores, (Conquest of Paradise, Vangelis – Gravadora EastWest –
1992 – para o filme homônimo. Álbum Conquest of Paradise) papel, lápis de cor ou guache,
folha contendo as seguintes perguntas para reflexão: 1) Seus pés caminham muito ou pouco?
2) Eles caminham sempre para o mesmo lugar? 3) Você tem cuidado dos seus pés?
Foi proposto que fizesse uma expressão, a partir dos seus pés. Que fizesse o contorno
deles e, após, continuasse o trabalho como preferisse. Escolheu a tinta guache sobre cartolina.
E produziu a ilustração 4:
Figura 4 – D.R.
Após, foi proposto que refletisse sobre a imagem produzida e escrevesse algumas
sensações a partir da expressividade. Então, ela enviou as figuras 5 e 6, de suas reflexões.
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Figura 5 – D.R. Figura 6 – D.R.
D.R. observou que o pé esquerdo estava mais pesado (tinta mais carregada). Cores
escuras, de dor, de perdas. ―Vontade e peso de tudo que tenho vivido...‖ (SIC) ―E o pé direito
(disse palavras e frases soltas): - indo à frente. O verde no pé da folha: o chão. Tem muita
coisa por acontecer. E o vermelho: sofrimento, Sangue, perdas. Azul: deveria ser azul céu,
mas é azul carregado... Triste...‖ (SIC).
Infância: ―Todo o sofrimento da minha infância. Só o pé escuro. Nada de bom na
minha infância (sensação que, no decorrer do processo terapêutico, irá transmutar). Futuro:
eu posso recomeçar (direito). O início do pé tá escuro, mas ele pode ser claro. Pode ter novas
oportunidades. Pé esquerdo- Agora. Pé direito – Futuro. Não é pra desistir, pode, sim,
recomeçar. Ser levem sem dor, sem sofrimento. Vontade, necessidade, ânsia de um futuro‖
(SIC).
Método: Maiêutica Socrática. Reflexões da participante: ―Hoje terminou um dia muito ruim.
Hoje o marido estaria em casa‖ (SIC). (Sextas-feiras, ele que era caminhoneiro, retornava ao
lar). Companheiro de viagem estava no posto abastecendo o caminhão (O caminhão segue
sendo até o final do estágio um forte gatilho disparador do Complexo da Morte).
Análise simbólica das imagens desta sessão: Os pés são a base, e de acordo com o
Chevalier e Gheerbrant (2017), contêm diversas possibilidades de significado. Lembra-se dos
pés peregrinos, como a participante bem demarcou, um pé traduzindo seu agora, por uma cor
sangue (sofrimento) e azul pesado, triste (lembro de um afogamento nas emoções) e um pé
verde (esperança de um futuro melhor) representando, segundo D. R. mesmo, seu futuro.
Vestigia Pedis (pegadas) que se seguem tanto em uma caçada, quanto como pistas do caminho
espiritual (Em nossa cultura ocidental religiosa predominantemente cristã, fala-se em seguir
os passos de Cristo, por exemplo). No mito de Vaischvanara, os pés correspondem à terra
com o qual manifestam o contato com o corpo. O pé também convida à realidade: ter os pés
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sobre a terra. Símbolo de consolidação para a tribo Dogon, e também movimento de
finalização, pois o pé inicia e termina a caminhada. No caso da participante, representou a
pegada atual, mas não a final. Também pode ser símbolo de poder; como neste caso, o poder
de restabelecer, com a caminhada da vida, a esperança futura na vida. Ritos de purificação
envolvem lavar os pés. Será que ter feito tanto azul no pé que representa o presente pode
significar desejo de lavar o sangue, a dor? Nos mitos antigos, os pés seriam uma
representação da força da alma e suas fraquezas, defeitos da alma também. Ex. o calcanhar de
Aquiles, ou o manco Hefestos.
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4. Sentadas com a coluna bem reta, flexionando o pescoço para frente, por fim, trouxeram o
queixo para perto do tórax dez vezes, de maneira bem lenta.
5. Então, giraram, delicadamente, para o lado direito e para o lado esquerdo.
6. Foi desenhado círculos completos no sentido horário e depois no sentido anti-horário.
7. Contraindo o rosto com toda a força e agindo como se fosse gritar, porém sem som,
arregalaram os olhos, abrindo bem a boca.
8. Sentaram-se e registraram, por escrito, as emoções sentidas. Estes registros são as figuras 7
e 8.
Figura 7 – D.R.
Figura 8- D.R.
Material: Música Instrumental suave, figuras com imagens de pessoas com diversas
expressões faciais. Papel A4, lápis de cor ou giz de cera.
• Colocar no centro da sala diversas figuras com imagens de pessoas com diversas
expressões faciais, demonstrando algum tipo de emoção: gritando, chorando, rindo, olhar
paralisado, medo, etc...
• Convidar para irem ao centro e observarem as imagens, prestando atenção para as
emoções que cada uma expressa.
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• Em seguida, cada um escolhe uma imagem, mantendo-a para si, sem compartilhar com a
pessoa que estiver ao seu lado.
• Após alguns momentos, cada um irá representar ao grupo por meio de uma expressão
corporal, o tipo de emoção que a imagem está passando.
• A plateia observa e verbaliza qual a expressão representada (tristeza, alegria, dor, etc.).
• Após todos apresentarem sua imagem, cada um recebe uma folha de papel A4 e desenha
uma expressão facial que mais o identifica (se é de tristeza, cansaço, alegria, medo, etc...)
Assim seguiu-se o acima proposto:
Figura 9 - H.R.
H.R. produz a figura 9. Seus comentários foram: ―Acho linda a cor amarela. E
engraçada. E faço essa posição (demonstra) quando fico triste. Imagem sorrindo: ela me
mostra o que tô tentando buscar (aí, surpreende-me com uma palavra difícil): -
Autenticidade!‖ (SIC). A criança não queria mostrar a imagem que produziu. Achou que não
estava boa o suficiente. Então, foi esclarecido não importava perfeição. A mãe também disse
o mesmo. Então ela desamassou e mostrou a figura 9. D.R. produz duas imagens: 10 e 11.
Figura 10 - D.R.
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A imagem 10 foi descrita como a representação de um processo doloroso. ―Uma
busca pelo que não consigo identificar. Uma busca que nada me saciava‖ (SIC).
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Figura 12- H.R.
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1) Convidar para caminharem pela sala, e pedir que expressem sua respiração nas seguintes
situações:A) Triste, deprimido. B) Sentindo prazer. C) com raiva. D) com medo.
2) Após, o/a estagiário/a exemplifica por intermédio de sua própria respiração os tipos de
respiração, seguindo o roteiro abaixo:
• Triste, deprimido (respiração é curta, pequena);
• Sentindo prazer (respiração é abundante e profunda);
• Com raiva (rápida, ofegante);
• Com medo (respiração quase paralisa).
3) Desenhando as emoções: Na sequência, entregar uma cartolina branca e giz de cera para
cada participante. Cada participante representará por intermédio de um desenho, os tipos de
emoções. por exemplo: Triste, deprimido; sentindo prazer; com raiva; com medo.
Fechamento da sessão: Em círculo cada atendido, irá explanar sobre o que sentiu durante
cada momento vivenciado: sensibilização, a vivência e o desenho.
Então, passou-se a realizar exatamente os procedimentos acima. Assim, solicitou-se:
- Como estava se sentindo? Observar aspectos bons, aspectos ruins...
Então produziram uma atividade expressiva que demonstrasse estes dois estados.
Figura 13 – D.R.
D.R com a observação da produção (que diz não ter conseguido registrar em uma só
foto, fez duas): afirmou que fica mais leve, mais tranquila e disse que muda bastante as
sensações do corpo. Ela percebe que, ultimamente, tem utilizado mais a respiração da
Ansiedade. O que mais mexeu foi o cheiro de comida da mãe. (De fato, a participante passará
a utilizar esta imagem e memória afetivo/sensorial para controle da ansiedade a partir de
então, e veremos, no decorrer das semanas seguintes, relatos espontâneos dela, de como esta
imagem a tem ajudado no dia a dia.
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Respiração: afirma que descobre o processo da respiração. E na caminhada, dá-se
conta da respiração envolvendo o corpo. Na produção do desenho com o giz de cera na
cartolina, descreve que ―pôde botar pra fora a respiração cheia de sentimentos‖. Trata-se das
figuras 14 e 15, que se seguem abaixo. Desenha nuvens, e diz que ―nela vê a ansiedade
espalhada, bem forte‖ (SIC). Ainda acrescenta esperança: azul clarinho e sol na ponta.
Também aponta desânimo nos braços caídos. Nuvem reta em cima, cheia de voltinhas
embaixo.
Sobre a raiva, afirma que a nuvem de tempestade preta com barra vermelha embaixo,
remete a ela. Sobre sentimento feliz, diz que a nuvem gordinha, azul e amarela, representa
isso. Ainda registra cheiros na forma das imagens e cores: o cheiro de comida, seria a
fumacinha da nuvem comprida, cheia de voltinhas, por ela definida e que reflete ser
importante aproveitar cada aroma.
Quanto ao todo do desenho, diz representar ―o misto‖. Todas (as nuvens) têm um
pouquinho de cada. E, ao mesmo tempo, são bem distintas. A gente consegue controlar aquilo
ali (aponta a região do desenho representando raiva). Por último, fala em tom conclusivo:
Alimentar o corpo com comida da mãe.
São associações soltas, assim como transcrito aqui. Deixou-se a fala absolutamente
livre, evitando a preocupação em produzir discursos coerentes e racionais, nem emendas em
tantas palavras soltas. Ela parecia dizer mais para si mesma do que para o estagiário ouvinte.
A filha, H.R.
Figura 14 – H.R.
A filha quis participar. H.R. disse sentir medo, raiva, triste, sem vontade... E quanto a
aspectos bons, referiu esperança, notícia boa, alegria, comida preferida. Disse que podia se
sentir aliviada se pensasse que poderia ter um futuro bom. Um pouquinho mais alegre, calma
e tranquila. Percebeu sua criação de 4 rostos como:
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a) tranquila, ―a cara - mais ou menos‖.
b) Calma, Ela tá alegre e feliz.
c) Com dor, olhos pretos e inchados.
d) Alegre sorriso bem bonito no rosto e os olhos bem lindos.
Não comentou mais nada, além disso.
Ao encerrar a sessão, ambas se disseram surpresas em ver o predomínio de uma
respiração ansiosa e D.R. comenta que foi muito forte para ela a lembrança do cheiro de
comida que a mãe faz.
Análise simbólica das imagens da sessão: Nuvens, carregadas de água, podem ser um bom
simbolismo para estar carregado de emoções. Nuvens pretas, densas, ou mais azuladas,
demonstrando a variação dos estados emocionais. Mas também há luz, sol, inclusive
atribuindo a palavra esperança e um estado feliz ao sol. Este, quando está em um estado ideal,
pode ser símbolo tanto do si mesmo, quanto do Masculino Sagrado, de Deus no gênero mais
masculino (CHEVALER E GHEERBRANT, 2017). Isso parece aqui lembrar justamente a
falta, o masculino que aquece, ilumina, dá segurança. Quanto à filha da participante, o fato de,
na sessão passada, termos ―liberado‖ ela para expressar o desenho de um rosto que ela
considerou imperfeito, parece tê-la autorizado para que, nesta seguinte sessão, apresentasse
diversos rostos, demonstrando seus diferentes estados emocionais. Pode-se entender esse
movimento como um gesto integrador, que representa trazer à consciência movimentos
reprimidos do inconsciente.
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Material: Música Instrumental suave para a sensibilização e música com ritmo mais rápido
para o desenho. Cadeiras em círculo. Papel pardo, giz de cera.
Trabalhando o corpo: Esta técnica consiste em retesar um grupo de músculos enquanto
se inspira e se retém o ar por alguns segundos. Depois se afrouxa gradativamente e
completamente a tensão enquanto se expira de forma lenta.
A cada expiração, procure jogar para fora dos pulmões todo o ar que puder lentamente,
sem que isso o deixe desconfortável (Essa técnica foi desenvolvida por um médico norte-
americano chamado Jacobson. Ela baseia-se na contração muscular de diversos grupos
musculares, seguida de relaxamento; iniciando-se pelos membros inferiores, seguidos pelos
superiores e depois o tronco e a cabeça).
Passo a passo:
1. Sentado ou deitado, feche os olhos e respire profundamente pelo nariz, levando o ar até a
barriga e depois esvazie. Repita esse processo lentamente por três vezes.
2. Estique as pernas e coloque os pés em forma de garras (encoste os dedos do pé na sola dos
pés, tencionando-os.). Ao mesmo, tempo inspire fundo e aperte forte os dedos dos pés, prenda
o ar por cinco segundos e depois relaxe. Observe a tensão que ocorre enquanto você faz isso.
Sinta a diferença entre a tensão muscular antes e depois do exercício.
3. Panturrilhas e pernas: proceda como no exercício anterior tensionando essas partes do
corpo e relaxando.
4. Glúteos, ventre e genitália. Tensionar toda a região por alguns momentos e relaxar.
Observar a diferença entre tensão e relaxamento.
5. Barriga e Tórax (pulmões). Encolha a barriga paulatinamente, permanecendo com os
músculos endurecidos. Observe a tensão. Solte-a de uma vez. Perceba a expansão dessa
soltura. Respire calmamente. Repita e observe a sensação torácica. Solte e experimente como
abdome e tórax inteiros estão relaxados e como tal estado se transfere para as extremidades.
6. Costas. Encolha a barriga e observe as tensões nas costas. Experimente, soltando a abarriga,
como se soltam as tensões das costas, junto com tórax e abdome.
7. Mãos. Fechar as mãos e tensionar os dedos. Abrir as mãos e estender os dedos o máximo
possível. Relaxar sacudindo as mãos como se estivessem molhadas.
8. Antebraços e braços. Braços estendidos para baixo. Tencioná-los por alguns segundos, e
soltar. Observar a tensão e o relaxamento.
9. Ombros. Levante os ombros até se aproximarem das orelhas. Segure-os nessa posição por
alguns segundos. Solte-os de uma vez. Perceba as tensões e o relaxamento. Girar os ombros
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lentamente, 5 vezes para frente e 5 vezes para trás. Novamente tensionar os ombros e levá-los
próximos às orelhas. Soltar e relaxar.
10. O pescoço: gire a cabeça várias vezes, lentamente, primeiro para a direita, até o máximo e
depois para a esquerda. Em seguida, tente tocar com a orelha esquerda o ombro esquerdo,
continue o movimento de girar a cabeça no sentido descrito colocando-a para trás, olhando
para o teto e girando até tocar o ombro direito com a orelha direita, continue o giro para frente
até que o queixo toque seu peito. Faça isso três vezes para a um lado e três vezes para o outro.
Perceba as tensões e o relaxamento.
11. Mandíbulas: morda forte... depois relaxe e abra levemente a boca. Repita por 3 vezes.
12. Lábios e boca: contrair como se fosse pronunciar a letra U ou soprar algo.
13. Pálpebras: aperte fortemente e solte-as, pensando que um líquido morno sai delas e se
espalha por todo o rosto.
14. Testa e couro cabeludo. Franzir a testa, percebendo o couro cabeludo. Relaxar
Enquanto estiver fazendo o exercício, veja em que partes de seu corpo existe mais tensão.
Cada pessoa tem suas áreas específicas, onde se acumula mais tensão que as outras. Perceba
as partes com mais tensão e trabalhe mais nessas áreas.
Desenhar em movimento, em grupo
As duas participantes, escolheram uma cor para identificá-las. Cada uma, um giz de
cera. H.R, escolheu um rosa. E D.R. um verde. Então, enquanto ouviam a música com ritmo
rápido, andavam ao redor da cartolina. E desenhavam uma de cada vez, por alguns instantes.
Quando o estagiário, sem vê-las, dizia ―troca‖, a outra pessoa continuava o desenho.
Observaram o resultado e refletiram sobre a construção coletiva. A produção gerou a figura
17.
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1ª. Parte do relaxamento: D.R afirma como indescritível. Domínio do próprio corpo. Pescoço
era a região mais tensa. Diz-se, após a produção do desenho, 98% diferente do início da
sessão. Sensação de liberdade.
Já a menina H.R. pontua que estava mais agitada, antes da sessão. No começo, doía a
barriga. Depois, não doía tanto. ―Cada exercício novo, eu ia me acalmando um pouquinho
mais‖ (SIC). Ao final, disse perceber-se calma.
Fechamento da sessão: como foi desenhar em movimento e juntas?
H.R. ―Gostei mais do que parado‖ (SIC). Gostou de fazer a árvore, frutos, cacto, casa.
D.R: Percebeu que a lição do movimento ajudou a ver por outros ângulos e olhar ao mesmo
tempo para mais coisas quando foca só numa coisa, existe só o problema. ―E não existe só o
problema! Deu sensação de bem-estar e leveza o desenho pronto. O contrário, quando
começou a sessão. Desenhar sem ter uma ideia formada remete ao futuro. As coisas mudam.
Eu tenho que me adaptar ao que a vida apresenta. E quanto ao giz de cera: a lição é que não
precisa ser perfeito! Foi fundamental fazer com o giz de cera‖ (SIC).
Avaliação da atividade: ―há sempre uma forma de recomeço. Maravilhosa a atividade!‖ (SIC).
Análise simbólica da imagem: Para Chevalier e Gheerbrant (2017), casa pode ser associada
com alma. Uma representação da própria alma do produtor da imagem. No caso da paciente,
ela se prepara para mudar de casa e referiu que produzir esta imagem remeteu-a ao futuro.
Nota-se o verde como novamente uma identificação com o desejo de esperar algo novamente
bom do futuro. As plantas crescendo e envolvendo a casa, lembram o desejo de frutificar
novamente o amor, pois os corações, posicionados como frutos da árvore, fazem lembrar a
Árvore da Vida, símbolo tanto de Masculino quanto de Feminino Sagrado.
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How Fair This Spot, Hijo de la Luna, She Doesn't See Him, Solo Con Te, Gloomy Sunday, La
Luna, First of May.
Sensibilização:
1- Os braços estendidos para os lados sobem muito lentamente até a altura dos ombros;
2- Depois sobem em direção ao céu, balançam para os lados depois, e levam o corpo para
um lado e para o outro, depois para a frente e para trás.
3- Em seguida os braços descem junto com a coluna e quase tocam o chão – um braço
depois do outro, sobe junto com o olhar para o alto, sem levantar a coluna.
4- Respirar e relaxar.
Desenvolvimento prático:
Preparar o centro da sala com os materiais.
Material: Músicas diversas Papel A4, tinta guache, pincel.
―Jogo do andar‖
a. Pede-se aos participantes que andem pela sala, em silêncio, relaxando o corpo, livrando-
se das tensões do dia; (espreguiçando, alongando, mexendo pescoço suavemente)
b. Devem prestar atenção na sua forma de andar e imprimir o seu ritmo diário;
c. Verificar como cada um pisa no chão; a distribuição do peso; a temperatura; o ritmo; o
equilíbrio, etc.;
d. Depois de um determinado tempo, o Diretor dá as consignas de diferentes formas de
andar, por exemplo: com as pontas dos dedos, com os calcanhares, com a borda de fora, de
dentro, com um pé, cansado, feliz, triste, com pressa, com preguiça. Obs.: Podem-se incluir
formas diferentes como marchar, correr, pular, etc.
e. Encerrar formando um círculo e respirar calmamente.
Representação Postural: Represente com um desenho sua postura corporal no dia a dia. (Ex.:
Ombros caídos, encurvado, cabisbaixo, todo rígido, etc.). (Adaptado de: Arteterapia e o Corpo
Secreto, p. 102)
Fechamento da sessão: Em círculo cada atendido irá explanar sobre o que sente em relação
às posturas de seu corpo; que sensações a vivência proporcionou?
Método: Maiêutica Socrática.
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Figura 16 – H.R.
H.R: ―Fiz nuvens e é a minha postura ―eu bem‖ = rosa‖ (SIC). E foi analisando suas imagens
espontaneamente. Afirmou: ―Reto a parte de cima e uma voltinha como se fosse a minha
postura. Cansada é o verde escuro e claro. Várias voltas no cansado. Quando estou mais ou
menos, é o amarelo. Combina com amarelo. Curvado e com voltinhas‖(SIC). (Não se
interferiu nas frases relativamente soltas que enunciou, está registrado tal como enunciado por
ela). H.R. continuou: ―Mal é o azul mais claro, um pouco menos de voltinhas mas bem
volteadinho. Raiva? Bem azul e bem volteado, bem atirado‖ (SIC). Então foi indagado: O que
poderia mudar? E ela citou um parente. ― Porque é ele que faz a gente ficar mal‖(SIC).
Figura 17 – D.R.
D.R: ―Com raiva é o verde. Postura mais rígida. Eufórica: acorda mega falante e amarra o
cabelo bem alto. Desanimada – cabelo mais perto da nuca, braços curvados. Quando alegre,
cores alegres na roupa. Quando não tô bem: cores escuras‖ (SIC). Como gostaria de estar? –
―Amarelo. Sol. Vida – Sol, céu. Ultimamente vejo cinza. Fica faltando aquela vida.
Geralmente, quando acordo eufórica, o fim do dia é complicado, eu choro‖ (SIC).
Indagada sobre a diferença entre a postura regular e a que gostaria, define: - ―está
dentro de mim. Sempre em busca de alguma coisa. No decorrer do dia, não estou conseguindo
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chegar naquele amarelo, naquela luz... (Nome) O marido dizia, não dá bola, é só um dia sem
sol.‖ (SIC).
Na conclusão da sessão, D.R percebeu que, nas palavras dela, a gente tem a
possibilidade de mudar, mas sente que não parece que a vida vai melhorar. Mas depende da
vontade da gente, do querer, afirma. ―Como a postura influencia no dia a dia! Pé – se pisa
com a frente, tem um pouco de equilíbrio. Com o calcanhar, não. Precisa estar bem apoiado
para ter um equilíbrio, uma direção‖ (SIC).
A filha observou que tem que achar uma forma de conseguir mudar. A mãe de H.R.
apontou que é a primeira vez que H.R. não usou preto.
Análise simbólica das imagens da sessão: A filha de D. R. fez um retângulo vermelho ao
redor de sua produção, entendido como um desejo de contenção das emoções, para que não a
invadam, com sua psique ameaçando o equilíbrio da consciência, uma vez que, por estes dias,
suas emoções estão mais ―à flor da pele‖. Já a participante, além da representação das cores,
demonstrou em sua expressividade as posições em que amarra seu cabelo conforme seu
humor. Associando o cabelo a estar mais confiante, menos confiante, lembra a história bíblica
de Sansão e Dalila, na qual o cabelo de Sansão era sua força. Também o conto de Rapunzel,
no qual seu amado sobe pelas tranças do cabelo dela, como sinal de integração animus/anima.
Parece que D. R. está elaborando como recuperar sua força diante dos acontecimentos atuais.
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• Descer os braços vagarosamente e soltá-los na lateral do corpo;
• Abrir os braços lateralmente até tocar a mão da pessoa ao lado;
• Lentamente, balançar de um lado para o outro, prestando atenção para irem sempre para o
mesmo lado e movimentando apenas o quadril, deixando as pernas paradas;
• Parar e respirar calmamente;
• Espreguiçar-se e se sentar.
Desenvolvimento prático: Preparar o centro da sala com os materiais.
Material: Música Instrumental, lenços ou tiras de tecido coloridas. Cartolina branca e tinta
guache.
Dança dos lenços
• Cada um escolhe um lenço ou tira de tecido.
• Ao som de músicas, inicia-se a dança espontânea, em silêncio, apenas ouvindo a música e
dançando.
• O Coordenador vai trocando os ritmos musicais, e verbaliza palavras que auxiliem na
criação de movimentos (braços para cima, dar meia volta, parar, etc...)
• Em seguida, solicita que amarrem o lenço em seu corpo e continuem a dança.
• Sempre em silêncio.
• Desatar os lenços e finalizar com movimentos suaves.
• Deixar os lenços no centro e sentar-se.
Pintando os movimentos:
Cada participante recebe uma cartolina branca e faz um desenho espontâneo, representando o
movimento dos lenços durante a dança.
Fechamento da oficina: Em círculo, cada atendido irá explanar sobre o que sentiu durante a
vivência, se houve algum obstáculo, como percebeu seu corpo durante o processo de
movimentar-se; como foi desenhar os movimentos.
Método: Maiêutica Socrática:
Seguindo, ipsis literis, o roteiro solicitado, a participante experienciou a dinâmica com
o lenço e a atividade expressiva que se seguiu foi a figura 18, que segue abaixo:
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Figura 18 – D.R.
Figura 19 - D.R.
Figura 20 – D.R.
No terceiro momento, ao dançar no escuro, fez contato com sua sexualidade. Estar
dançando para alguém, dançar para o mundo, (com luz apagada, e estagiário não a observava,
para deixá-la à vontade).
Dançando de braços abertos, sentiu por meio do gesto corporal, a liberdade. Já de
braços cruzados, relatou sensação terrível, nas suas palavras. Quando mudou a amarração do
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lenço, começou a enxergar que está presa a papéis: mãe, esposa, e lembrou que, com o
falecido marido, saíam para dançar, na companhia de outros 2 casais amigos, que agora ainda
saem, mas não a convidam. Aquela D.R. não existe mais... Após a constatação de tantos
sentimentos, definiu esta sessão como maravilhosa.
Análise simbólica das imagens da sessão: Na primeira imagem da sessão, surgiram
pássaros, que podem ser atribuídos a ansiedade, no estado sombrio, e desejo de liberdade, de
forma mais luminosa. A cor amarela predominante dá a impressão de que há um movimento,
em relação às primeiras imagens das sessões anteriores, já na direção de algo mais numinoso.
Desenhou, depois, o coração envolto pelo lenço com que dançou, referindo sensação de
proteção. Pode-se inferir a representação de um abraço no coração. Na próxima peça
produzida, aparece o casal, que remeteu à primeira imagem do início do estágio. No entanto,
aqui já aparecem cores, vermelho e azul, e D. R. afirmou ter lembrado do esposo e sentido
uma sensação mais conectada com a sensualidade. Neste desenho, ainda sem chão, parece que
se recupera, elabora, a ideia inicial da figura 1.
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Material: Música Instrumental. Papel A4, lápis de cor
Continue o desenho....
• Preparar a sala com os materiais dispostos sobre a mesa.
• Participantes sentados em volta da mesa.
• Na folha A4 cada participante irá iniciar um desenho, após alguns momentos parar e passar
sua folha para a pessoa à sua direita.
• Cada pessoa continua o desenho que a outra estava fazendo.
• Após alguns momentos, passa a folha adiante novamente.
• Assim sucessivamente, até a folha chegar à pessoa que iniciou o desenho.
• Cada participante observa a sua folha e acrescenta o que desejar, finalizando o desenho.
Fechamento da oficina: Em círculo, cada atendido irá explanar sobre como se sentiu durante
a experiência tendo que passar adiante o seu desenho e depois ao recebê-lo de volta podendo
então finalizá-lo.
Método: Maiêutica Socrática.
Como tratou-se de uma só pessoa, houve alguma adaptação no roteiro proposto.
Realizou-se a dança no relaxamento, como forma de sensibilização. Durante as propostas
pequenas batidas nos braços, nas mãos, na cabeça, a participante disse, posteriormente, que
algumas lembranças vieram à tona: ―Os meus pais me diziam que eu era feliz, falante,
brincava com todo mundo. Pais diziam que eu era assanhada, atirada. Eu carreguei o rótulo de
ser vulgar... Eu me rotulei... Ontem para hoje, me dei conta e tentei me dizer que o rótulo não
era meu!‖ (SIC).
Em seguida, propôs-se jogar um pacote de argila no chão, enquanto pensava nos
aspectos sombrios de sua raiva. A seguir, foi convidada a moldar livremente a argila. Então,
seguiu-se a reflexão sobre a construção realizada. Foram realizadas 4 perguntas, no decorrer
da dinâmica.
1 - O que foi que pensou como sombras enquanto jogava a argila no chão?
2 - O que veio à mente enquanto moldava a argila?
3 - O que a peça moldada parece representar?
4 - Como está se sentindo?
E as respostas foram:
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Figura 21 – D.R.
1- ―Incompreensão do vô (pai do falecido marido). Perda do esposo; quando fui rotulada por
coisas que não fiz; quando foi violentada sexualmente na infância, e a mãe pareceu omissa;
quando implorava por um abraço, um carinho do esposo; pensei em tudo que aguentei dos
chefes do trabalho por muitos anos; amizades que sumiram; muitas dores da infância; quando
queria carinho dos pais; queria só ficar em casa...‖ (SIC) (Obs: Neste relato, foi pensado
trabalhar, de alguma forma, expressividades para que possa elaborar o trauma do estupro
infantil).
Figura 22 – D.R.
Figura 23 – D.R.
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3- ―Alguém tentando se desamarrar, com pontas amarradas, com nódulos, com dor, com 2
corações... Tudo que eu queria era que alguém me amasse de verdade. Cabeça cheia de olhos,
para todas as direções. Corpo sobrecarregado. Cheio de pesos...‖ (SIC).
Figura 24 – D.R.
4- Frágil, quebrada no meio. Essas pontas soltas podem ser o começo para desamarrar. Uma
forma de libertação. ―A peça de argila me incomoda, tá representando muito eu‖ (SIC).
Figura 25 – D.R.
Ao dizer que a peça a incomodava, foi perguntado sobre o que queria fazer a respeito.
Disse que ―desmanchá-la‖ (SIC). Então, foi solicitado que desmanchasse e fizesse outra peça.
Figura 26 - D.R.
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Pergunta realizada após a confecção de uma segunda peça: - E agora? E seguiu-se a
resposta: - ―Vontade de um recomeço. A parte mais machucada, precisando de cuidado. Foi a
semana que mais senti a saudade, a falta dele (marido falecido)‖ (SIC).
Na avaliação de o quê a sessão despertou, disse que ter sido violentada e ouvir que era
vulgar, só reforçou o sentimento de culpa, que carrega até hoje. Percebe-se mágoa, culpa,
sensações de abandono e rejeição permeando o comportamento, tomado por diversos lutos
somados.
Análise simbólica das imagens da sessão: Aqui tem-se duas imagens: a primeira imagem,
lembra uma larva, lagarta. A seguinte, um coração. No concernente à peça que remete a uma
larva, esta pode ser a representação de um pênis, numa situação suja, nojenta, ameaçadora à
saúde mental, que aparece repetidamente em representações de mulheres que sofreram abuso.
Esta imagem, foi transmutada para um coração. A sessão iniciou representando a violência, o
falo, o poder doentio (larva associada a doenças) transmutada no amor. O poder é a sombra do
amor, e o amor é a sombra do poder. Um destrói o outro. Diz Jung, onde há busca por poder,
não há amor. E onde há amor, não há busca por poder, pois um é a sombra do outro. Ou seja,
a psique da participante trouxe, espontaneamente, o símbolo da sua cura, ao transmutar a larva
em um coração.
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2. Os braços na posição horizontal apontados para o centro do círculo. Com uma mão bate
no braço com tapas rápidos e enérgicos, do ombro até as extremidades dos dedos, por todos os
lados e relaxa.
3. Segue o mesmo exercício com o braço contrário.
4. Sobre a cabeça, bater as extremidades dos dedos relaxados. Relaxar.
5. Repetir o mesmo exercício sobre o tórax, a barriga. Após cada movimento relaxar.
6. Sacudir as mãos como se estivessem molhadas. Após alguns instantes parar e prestar
atenção nas sensações corporais.
7. Pensar sobre suas mãos, quais lembranças elas trazem, que sensações elas despertam?
8. Acaricie suas mãos e de sua mão para a pessoa que está ao seu lado e agradeça
mentalmente por tudo o que elas já fizeram.
Desenvolvimento prático:
Material: Música Instrumental, papel A4, lápis de cor ou giz de cera.
Mãos à Obra - Desenhando as mãos.
• Preparar a mesa com o material;
• Cada participante recebe uma folha de papel e nela faz o contorno de suas mãos e pinta-as
expressando os sentimentos que tem em relação às suas mãos. (dores, limitações, lembranças,
etc.).
Fechamento da oficina: Em círculo cada atendido irá explanar sobre como se sentiu durante
a experiência. Utilizar as perguntas descritas abaixo para estimular a reflexão e o diálogo.
Método: Maiêutica Socrática.
Figura 27 – D.R.
Foi realizada, nesta sessão, uma atividade expressiva. D. registrou três fotografias da
mesma: uma da obra inteira e outras duas de cada uma das mãos, em separado. Sobre a
atividade, ela quis realizar um comentário. E fala: ―Minha dor, minha caminhada até aqui, me
fechei para o mundo‖ (SIC) (referindo-se a mão com cores mais intensas, escuras e
avermelhadas).
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Figura 28 – D.R. Figura 29 – D.R.
―Desde a primeira vez que fui no cemitério, o amarelo se transformou numa cor
especial, lembra girassol, energia, calor, vida e luz‖ (SIC).
Sobre a atividade expressiva: ―Foi bem tenso, revelador. Mas umas partes minhas que
se apresentam, dizem que é possível, tudo tem uma segunda chance. Minhas mãos são
fundamentais. Usar tudo isso para transformar minha vida em uma forma mais leve. Da
caverna para o mundo real. Eu tinha muita dificuldade com mudanças. Eu tinha que agradar
todo mundo para me sentir valorizada. De uns dias pra cá, eu comecei a viver o dia. Não faço
mais planos. Vinte e um anos de trabalho (na área da saúde). Sexta, uma senhora tomou um
anticoagulante. Eu vi a enfermeira dando 3 AAS e sabia que aquilo podia matar. Ela, como
eu, podia passar por cima do médico e das enfermeiras? Eu me torturei até agora, ela podia ter
morrido de hemorragia interna. (Devia ter falado?) – Eu tenho voz!!‖ (SIC).
Como foi a sessão, foi indagado. – Como a resumiria? – ―Mostrou minha essência.
Alguns comportamentos eram ilusão‖ (SIC).
Análise simbólica das imagens da sessão: no ocultismo, as chamadas ciências ocultas, no
hermetismo, entre outros conhecimentos esotéricos antigos, há uma conhecida representação
de bem e mal. São chamadas mão direita a corrente que representa uma linha reconhecida
como predominantemente ―boa‖, e mão esquerda, como se fosse uma representação do ―mal‖.
Ex. Javé e Satanás, Javé, o deus cristão, seria mão direita, e satanás, a mão esquerda, por isso
pode se dizer dele ―o canhoto‖. Aqui, a participante representa sua sombra com a mão
esquerda e seus aspectos iluminados na mão direita, concordando com essa antiga linguagem
simbólica da alma. O sofrimento e o fato de ter se fechado para o mundo, representou com
tonalidades tanto escuras quanto avermelhadas. Pode ser uma representação do masculino
terrível. E a mão direita, iluminada, associou ao sol, ao girassol, energia, calor, vida e luz. O
masculino sagrado.
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10ª. SESSÃO - 8/11/21
Título: Corpo pulsante – liberando sentimentos
Objetivos: Liberar possíveis emoções contidas; perceber o ritmo cardíaco e sensações
corporais.
Acolhimento: Preparação e a organização do ambiente, utilização de música instrumental no
meio ambiente. Músicas: CD Gladiator: Music From dhe Motion Picture – Hans Zimmer e
Lisa Gerrard. 2000, Decca Records. Faixas: Progeny,The Wheat, The Battle, Earth, Sorrow,
To Zucchabar, Patricide, The Emperor is Dead, The Might of Rome, Reunion, Slaves to
Rome, Barbarian Horde, Am I Not Merciful?, Elysium, Honor Him. Now We Are Free. Obs:
começou-se a utilizar a trilha sonora a partir da última faixa.
Sensibilização:
• Ouça a música ritmada e perceba seu próprio ritmo respiratório. O ritmo forte do som da
percussão remete ao ritmo cardíaco. O tambor é a imitação das batidas do coração.
• Deite-se, coloque as mãos no coração, percebendo sua pulsação.
• Feche os olhos e deixe surgir as imagens que esse som do tambor e do cardíaco traz.
Desenvolvimento prático:
Preparar o centro da sala com os materiais.
Material: Músicas árabe ou indígena, som de percussão(tambor). Papel sulfite, tinta guache.
Pintando o que vem do coração
• Pinte a imagem que surgiu ou simplesmente brinque com a tinta e deixe emergir uma
imagem. Desenhe apenas o que você vê em sua memória, assim você reproduzirá apenas o
que lhe impressionou ou o que é realmente necessário em sua vida.
• Dar um título para a obra, colocar as iniciais do seu nome e data.
• Solicitar que reflitam sobre o que faz seu coração vibrar.
Fechamento da oficina: Em círculo cada atendido irá explanar sobre o que sentiu durante a
vivência, se houve algum obstáculo, como percebeu seu corpo durante o processo e relatar o
que faz seu coração vibrar.
Método: Maiêutica Socrática.
Na acolhida, D.R enuncia, aparentemente entusiasmada: Hoje, pela primeira vez,
voltou ao seu atelier. Seguindo a dinâmica, na sensibilização foi indagado: o que faz o
coração vibrar? A seguir, produziu uma imagem, registrada abaixo, na figura 30:
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Figura 30 – D.R.
D.R. relata que vê esse desenho há muitos anos: ―árvores, lugar tranquilo. Esposo
sentado e eu com vestido esvoaçante, dançando. Ele fica me vendo. Em situações difíceis,
procuro fugir para esse lugar. Às vezes, é outra pessoa que não sei quem é‖ (SIC).
A seguir, representa pessoas com os elementos da imagem: o sol, coraçõezinhos
pequenos da imagem, também a filha. Coração com camadas coloridas, a mãe dela. Pessoa
transparente: ela mesma. E pessoa sentada, que antes disse ser o marido, agora disse ser o pai.
Foi perguntado o que chama mais atenção. ―Os corações coloridos. Uma forma de
buscar uma coisa boa. Vontade de buscar coisas novas. ―A paisagem, o céu. Olho muito o céu
azul, de manhã. Deseja muita coisa boa para o marido morto. Sensação de dor, de coração
partido, passou. Deu lugar para a saudade, para coisas boas. Sensação que tenho que continuar
vivendo, por minha filha. Para ter paz, teria que entrar em acordo com um parente que a
incomoda‖ (SIC).
Conta que a filha H.R. chama ―dindos‖ (padrinhos) de segundo pai e segunda mãe.
Pediu se dindo quer ser o pai dela. Daí ela ia ter um pai no céu e um pai na terra. Emociona-
se.―Quero me conservar dançando‖ (SIC) (em alusão a dinâmicas de danças em sessões
anteriores). ―Eu não quero me fechar para a vida, quero aprender, evoluir, ser uma pessoa
melhor‖ (SIC). Busca paz e conhecimento. Deseja que a filha tenha orgulho dela. E diz: -
―Sofri todos os tipos de abuso e culpava minha mãe‖ (SIC). Diz ainda que, tendo 39 anos, por
32 anos não tem uma memória da mãe. De ter vivido algo. É como se ela não tivesse existido.
É só a partir da filha H.R. que lembra da mãe. Já o pai ―é tudo, mas pouca lembrança,
também. Ele bebia, não nos abraçava. Agora o pai abraça, pai põe a mão no ombro. Mãe
melhorou o convívio, também. Quem sabe – parar de dançar para chamar a atenção... A
atenção de alguém para poder ser notada... Essa busca diária pra provar que sou legal pra
pessoas gostarem de mim!‖ (SIC). Termina a sessão, reflexiva.
Análise simbólica das imagens da sessão: O primeiro aspecto que chama a atenção é uma
possível resposta a uma indagação feita na primeira sessão. Seria a imagem de um ser humano
transparente o marido morto, ou ela mesma, a cliente, em uma versão futura de si mesma que
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―ainda não se veja‖? Aí está a resposta, desenhou novamente alguém translúcido e disse que
se tratava dela mesma, dançando, ora para seu marido, ora para alguém que não saiba quem é,
e que mais tarde na sessão disse ser o pai. Portanto, o masculino, de diversos modos, aqui
representado a observá-la. Jung afirma que o olhar do masculino é constitutivo do feminino, e
a participante está a ser observado por esse masculino que a vê dançar. Assim como na última
sessão, parece apresentar a busca pelo masculino sagrado, perfeitamente compreensível
porque está tomada pela falta do marido. Utilizou como base um desenho que realizou muitas
vezes, desde a infância, o que se pode perceber tanto como a busca por um território psíquico
conhecido quanto uma tendência regressiva, natural em se tratando do tempo do luto, do qual
este pode ser um sintoma.
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Figura 33 – D.R.
Hora de lutar por mim; figuras de mulheres batalhando por um ideal.
―A Diorama mostra a fase que estou vivendo agora. As palavras que estou levando
para minha vida agora. Tem a minha família, eu e a H.R. Na casinha‖ (SIC) (estão comprando
uma casa para elas, ficará pronta em 90 dias). ―Meu pai, minha mãe, meus irmãos. Meu porto
seguro‖ (SIC). Em 40 anos, ouviu pela primeira vez que foram acolhidas como muito
importantes para a família. Sábado, familiares virão para resolver a situação com um familiar,
situação determinante para a definição de onde irão residir. ―Pela primeira vez, sentindo paz.
O desespero, sem chão, de um mês atrás, já não sinto mais. A revolta se transformando em
uma coisa muito boa. Desde que me conheço por gente, só queria ouvir o que ouvi hoje de
minha mãe‖ (SIC).
Figura 36 – H.R.
Segundo H.R.: ―Fiz uma caixinha com 2 montanhas, eu e a mamãe, vários corações e
flores, porque quero guardar todas as lembranças com a mamãe‖ (SIC). (Olhando para a
caixa): ―eu me sinto bem alegre‖ (SIC). Obs. no quadradinho rosa: ―Eu, mamãe e papai‖
(SIC) (coração).
Análise simbólica das imagens da sessão: Concordando com o conceito junguiano de
Sincronicidade, observa-se dois movimentos simultâneos: a participante, no instante em que
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realiza uma atividade que oferece a capacidade simbólica de enxergar, organizar, o que traz
no coração, reorganizando afetivamente seu espaço psíquico, no qual a técnica da Diorama,
da caixa, oferece espaço controlado, delimitado, por isso seguro, de elaborar o luto,
personificando e por isso podendo dar voz aos personagens, lugares, memórias, sentimentos,
que ocupam seu espaço sagrado pessoal – ao mesmo tempo – desenergiza a raiva que sentia
dos familiares, especialmente da mãe, e consegue voltar a sentir afeto positivo por ela,
iniciando um movimento de reaproximação familiar. Aos poucos, sente-se também mais
apoiada pela família. Já se percebe elaboração afetiva, ressignificando seus espaços afetivos.
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Figura 37 – D.R. Figura 38 – H.R.
Das 4 imagens, elas escolheram dentre elas, a melhor e a pior. Com estas duas
produções, escolheram imagens de revistas que representassem o que quiseram guardar e o
que quiseram deixar ir do coração, a partir daquele momento. Na imagem que julgaram a
melhor das 4, colaram as fotografias de o que guardar. E, na peça que julgaram a mais feia,
colaram fotos de revistas que representaram o que deixar ir.
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Figura 41 – H.R. O que guardar no coração.
Repensar um pouco a rotina cotidiana que vivemos é uma chave (para desenvolver a
expressão criadora) (Lopes, 2014).
A filha, quer guardar várias cores, flores e brilhos. Comenta que pretende deixar ir do
coração, a tristeza, coisas ruins, coisas escuras. No encerramento, dizem ter gostado muito da
atividade, bastante clara para se ver os sentimentos que devem ser guardados e que podem
deixar ir embora das suas vidas.
Análise simbólica das imagens da sessão: Depois de trabalhar o que guardar no coração, na
sessão passada, aqui se continua a ideia de ajudar a chegar na elaboração do luto, trabalhando
o deixar ir. Definindo o que precisa ser guardado, inicia-se a construção da simbologia
daquilo que se pode deixar ir. Nesta atividade, o pote, assim como a diorama, a caixa, da
última sessão, também oferece um espaço de contenção, que oferece segurança. Neste
ambiente seguro, a cliente pareceu bastante concentrada na atividade, na qual representou, no
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guardar, o sol, a esperança, a família, o seu atelier que está retomando, entre tantas outras
coisas; e no deixar ir, suas tristezas, medos, inseguranças. Para cada representação, D. R. fez
questão de comentar a simbologia, descrita bem detalhadamente mais acima. Provavelmente,
basta acrescentar que abrir o pote pode simbolizar muito bem o deixar ir, como quem solta
uma borboleta. O sol sendo representado na tampa coloca o pote dentro de uma visão cósmica
da vida. E o uso da linha para fazer a imagem original a ser impressa, faz alegoria com a linha
da vida, que pôde ser utilizada de uma maneira diferenciada, talvez inusitada à participante,
oferecendo-lhe a oportunidade de enxergar a vida com outros olhos, saindo da perspectiva da
sessão anterior onde era um masculino externo que a olhava, dando sentido para sua dança.
Agora, pode olhar por si mesma o que deseja manter e afastar de si, para seguir vivendo
(CHEVALIER E GHEERBRANT, 2017).
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importante era não deixar a participante sem acolhida mediante tanta aflição. Combinou-se
que, em outro dia, seria feita a sessão programada, sem nenhum problema, e que situações
assim podem ocorrer na Arteterapia. Assim, seria possível lidar com o que aquele momento
demandava. Ela terminou o momento parecendo bem mais aliviada e parecendo ter as duas
possibilidades em consideração: a possibilidade de Boletim de Ocorrência e buscar cercar-se
de seus familiares para não lidar sozinha com o ocorrido.
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Figura 43 – D.R.
Desta imagem, disse tratar-se de um Cervo, correndo muito, assustado. Então, parou
de correr numa pastagem, mas já não estava mais sozinho. Primeiro, apavoramento, correr,
fugir. Desespero, medo. ―Daí respirei. Senti o cheiro da comida da mãe, daí veio a imagem
deles, pastando, tranquilo. No desespero, ele estava sozinho. Depois, ele não estava mais
sozinho. Adultos e filhotes presentes‖ (SIC).
Figura 44 – D.R.
Pantera Negra: ela afirma: ―eu nunca tinha pensado num animal que me
representasse. A pantera, não gosta de aparecer, é forte, impõe respeito, grandiosa, sensação
que nada abate. Ela me inspira. E o fato de não se expor, eu sempre busquei ser o mais
discreta possível. Estar sozinha: geralmente ela está, no máximo, em dupla. Estar sozinha me
representa. Ela pode inspirar-me a força‖ (SIC).
Figura 45 – D.R.
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O Totem: - O Cervo, a Pantera Negra e a Águia.
Cervo: velocidade, movimentar-se.
Pantera: Força, não se pode abalar.
Águia: Liberdade, poder ser livre, reinventar, tomar suas decisões.
A soma dos atributos: Força. O não desistir.
No encerramento desta sessão, relata que têm os desenhos da Arteterapia espalhados,
fixados pela casa.
Traz ainda mais uma informação relevante: ―Tenho muitos problemas com coruja.
Desde que fui morar com a avó (meus pais me deram para minha avó – foi quando aconteceu
o abuso), eu ouvia uma coruja cantar. Eu ouvia minha mãe me chamando‖ (SIC). Toda vez
que uma coruja canta, acontece algo ruim, sentencia. E cita adoecimento de primo e morte do
marido como exemplos. A sessão foi bastante mobilizadora.
Análise simbólica das imagens da sessão: As três representações de animais, de acordo com
o Dicionário dos símbolos (2017) e O Livro dos Símbolos (2012):
- Cervo: Faz a ligação entre os domínios terreno e espiritual, encarnando e conduzindo-os ao
domínio simbólico e intermédio da alma. Pureza e sublimidade. O próprio Buda teria sido um
veado anteriormente, cuja missão era de acalmar as paixões dos seres humanos perdidos de
desespero. Associado ao Mercúrio alquímico, a substância anímica transformativa
intermediária, bem como à peregrinação ou às vias iniciáticas, que são sinuosas, indiretas,
constantemente mudando de direção ou, como o veado, desaparecendo completamente.
Rejuvenescimento, renascimento, o fluxo e refluxo do crescimento espiritual e da passagem
do tempo. ―O veado selvagem, vagueando aqui e ali, afasta a Alma Humana do Cuidado‖
(WILLIAM BLAKE apud O LIVRO DOS SÍMBOLOS, 2012).
- Pantera negra: Solitário, tímido, noctívago e adaptado a vários ambientes. Tanto
majestático quanto violento por natureza, evoca ambiguidade, tensões dinâmicas da natureza e
a mistura de suas energias, da alma, do espírito e do corpo. Associado ao eclipse da luz, à
ação da consciência a ser afetada pela escuridão e por poderes sinistros. Faz tocas, o que se
associa ao submundo e seus mistérios e transformações. O senhor dos Espíritos. Os grandes
felinos precisam de habitat, de espaço pelo valor e pela força de sua presença viva na
natureza.
- Águia: Diz O Livro dos Símbolos (2017): Somos metaforicamente transportados nas asas de
águias através de nuvens de tempestade, acima de seus efeitos desintegrantes, para sobreviver
e para beneficiar do resultado fértil da inundação e do fogo rasteiro. Perspectiva sublimada e
67
vista dominante. Símbolo de Alma. Do livro dos mortos egípcio: Ba, o pássaro da alma,
representava a plenitude da individualidade. Pássaro associado ao desejo de liberdade. Bando
de pássaros pode representar ansiedade. Na alquimia, a Águia é a representação da ascensão
do espírito que abandona a Prima Matéria. Imaginava-se que a águia mítica do espírito voava
até ao fogo do sol, quase ardendo, para depois mergulhar nas águas profundas, na vida que
crescia, e ressurgir como uma auto-renovação à semelhança de uma Fênix. O Purgatio
(lembrando que purgação, em português, é justamente elaborar o sofrimento) é representado
por um pássaro, uma pomba.
Figura 46 – D.R.
68
Comentários sobre sua atividade expressiva
Suas referências foram: ―Minha irmã, Cíntia, que me inspira, que é o símbolo mais
perfeito de uma mulher guerreira. Fadas: Tranquilidade, coisas boas, pureza, bondade...
Capacidade de transformar coisas no Bem. Bruxas: No sentido da magia, sedução. Fazer o
mágico acontecer... O feitiço, o encantamento...Volverine: A força, e ele não desiste. Pode
estar todo arrebentado e se reinventa. Busca forçar de onde aparentemente não tem mais o que
tirar‖ (SIC).
Fez primeiro o coração. Então, uma vassoura de bruxa, uma vara de condão, uma
terra, um chão para essa árvore se desenvolver. A imagem feita transmite: ―Sede de viver, não
esmorecer, como se me alimentasse a alma‖ (SIC).
Encerramento: Qual sua avaliação? ―De todas as peças produzidas até aqui no estágio, foi a
peça que mais me identifiquei. Passa força mesmo, de continuar, não desistir‖ (SIC).
Análise simbólica da imagem da sessão: A participante constrói seu próprio símbolo,
oriundo, assim como o totem da sessão passada, de uma coleção de símbolos. Um grupo de
símbolos, quando postos num conjunto, constituem um espaço sagrado. A referida peça que
ela elaborou também carrega a metáfora do amuleto, um objeto que lembra ao seu portador
uma determinada intenção, que as superstições dão poder de proteção. D. R. escolheu 6
símbolos:
Coração: vem se apresentando nas sessões este símbolo, demonstrando que a participante tem
trabalhado seu afeto neste processo.
Vassoura de bruxa: ela lembra da irmã, que consegue transformar os desafios que enfrenta
―como mágica‖, e inspira-se nela. Aqui, portanto, o objeto criado ganha poder de amuleto,
inspirando a participante a lembrar da atitude da irmã perante a vida e imitá-la, ou seja,
reconferindo propósito e resiliência.
Vara de condão: D. R. confere a si mesma uma nova ferramenta perante a vida: varinhas
mágicas, cetros, lembram poder, autoridade, e a magia confere uma energia de transmutação.
Entende-se o desejo de transmutar o sofrimento que enfrenta, magicamente, em algo melhor.
Terra: mais uma solução dada pela participante a si mesma: o mundo do afogamento das
emoções do luto, feminino, aquático, precisa de aterramento para se reerguer. Necessitando
um chão firme por onde pisar e recomeçar, traz o elemento terra como base para frutificar o
novo em sua vida.
Chão para uma árvore se desenvolver: O conjunto do seu símbolo lembrou uma árvore, tal
qual a árvore da vida, um símbolo poderoso e antigo que habita o inconsciente coletivo. Ela
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vê nesta árvore seu renascimento e revigoramento. Por isso, o chão que surge nesta peça
permitiu tridimensionalizar o símbolo de sua dor, mas também o símbolo da transmutação do
putrefatio para a vida, frutificada novamente.
70
tempo, a coleção de miniaturas. Assim fez. Depois, foi convidada a pegar uma cesta, que
estava à sua disposição, e escolher livremente quantas miniaturas lhe chamassem a atenção.
Era importante pegar peças que lhe causassem tanto boa impressão quando estranhamento. E
ela realizou todos estes passos. Por último, foi orientada a formar uma cena com as
miniaturas. Se quisesse simular água, como um rio, lagoa, mar, etc., bastava cavar, pois o
fundo era de um azul brilhante (fórmica). A paciente produziu uma cena.
Figura 47 – D.R.
Foi indagado se desejava dizer algo a respeito da imagem produzida pelo conjunto de
miniaturas. Ela, como já de costume, opta por fazer comentários. Então, foi lhe dito que os
seus comentários a respeito da Sandplay, são muito mais importantes que qualquer
comentário que o estagiário possa fazer, pois sua fala é impregnada de suas vivências pessoais
já o estagiário só pode falar tendo por base o Inconsciente Coletivo, segundo concepção de
Jung. A partir disso, ela faz as seguintes observações:
Figura 48 – D.R.
Casal: ―minha relação com o falecido esposo. Ela teve um tempo que foi mágica, tudo de
bom‖ (SIC).
A coruja: ―Tudo que tenho medo, que me traz pânico. Sempre tive pavor da aranha – o bicho
mais maldoso, e da coruja, que me olha e me tortura‖ (SIC).
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Casinha: ―a situação lá de casa, casa caindo‖ (SIC). (relação desgastada com o pai do esposo,
com quem mora).
Bombeiros e ambulância: ―só coisas ruins‖ (SIC).
Menina tocando violino, com vestido rodado: ―Tô sempre dançando pro herói, pessoas
importantes...‖ (SIC).
Avião enterrado: ―sonhos que ficaram pra trás‖ (SIC).
Terço: ―Busca do entendimento de alguma coisa‖ (SIC) (Função Transcendente?); ―tentar
acreditar em alguma coisa‖ (SIC).
Trem: ―Viagens que quero fazer com minha filha‖ (SIC).
Bebê: ― Aqui é ela‖ (SIC).
Indígena: ―Voltar às raízes, buscar o que importa – o que traz sentido‖ (SIC).
Tigre e leão: ―Força, garra, pra não desistir‖ (SIC).
Figura 49 – D.R.
Ela comenta: ―Olhando num conjunto, é a minha vida, os meus lutos, sentimentos, a
história da minha vida‖ (SIC).
Figura 50 – D.R.
Análise simbólica das imagens da sessão: Primeiramente, faz-se necessário dividir a Caixa
de areia pela metade. Uma linha vertical cortando a cena ao meio. Á esquerda de quem olha,
temos a representação da inconsciência. À direita de quem olha, a consciência. Nos aspectos
inconscientes, vemos símbolos de masculino e feminino terríveis, a criança interior,
masculino ameaçador à criança. Na consciência, vê-se objetos que representam fobias da
participante, ferramentas para lidar com fogo (raiva) um casal-cada um em uma ponta de uma
ponte (separação – mundo dos mortos e mundo dos vivos separados por uma ponte? Desejo
de religação com um companheiro?
73
Inconsciente............... ...............Consciente
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fé? Seria a manifestação religiosa do RELIGARE? Índio: para ela, é voltar às raízes. Ou seja,
sucessivamente, a explicação que D.R. fornece para os símbolos escolhidos é totalmente
coerente com este quadrante estar ligado ao passado arquetípico. Do bebê, à frente do índio:
ela mesma, a participante diz. – Uma simbologia clara da criança interior. O trem, assim como
um ônibus, metrô, um transporte coletivo, enfim, Freud definiu em sua Interpretação de
sonhos que pode representar trazer a família ampliada para o movimento terapêutico, ou seja,
justamente neste quadrante em que o passado arquetípico está em questão, o índio, a criança e
o trem, aponta, numa triangulação (é importante observar quando peças formam
triangulações, na Sandplay, o significado não só isolado das peças, mas a soma de
significados daquela triangulação de objetos. Pode-se entender que homens violentos,
dominados por impulsos instintivos e primitivos, são na verdade puer, problema recorrente na
família, visto o trem apontar para a família ampliada. A menina olhando para o guerreiro que
está no quadrante do presente mostra que esse problema com o masculino terrível continua no
presente.
2) No quadrante superior esquerdo, tem-se um casal de grandes felinos. Em Chevalier e
Gheerbrand (2017), encontra-se a explicação sobre estes grandes felinos: Tanto majestático
quanto violento por natureza, evoca ambiguidade, tensões dinâmicas da natureza e a mistura
de suas energias, da alma, do espírito e do corpo. Faz tocas, o que se associa ao submundo e
seus mistérios e transformações. O senhor dos Espíritos. Os grandes felinos precisam de
habitat, de espaço pelo valor e pela força de sua presença viva na natureza. Simbolizam,
também, o masculino e feminino terríveis em sua forma sombria. Como se trata, neste
quadrante, dos aspectos que ainda precisam ser trabalhados, relativos ao quadrante anterior,
ancestral, para o momento presente se reconciliar com o passado, vendo os aspectos sombrios
em primeiro plano, é preciso lembrar que estes símbolos apontam exatamente para a cura, se
olharmos os aspectos luminosos, que é o que falta para D. R. chegar a esta reconciliação.
Ambos, leão e tigre, juntos, apontam também para união. No entanto, releva expor que uma
das coisas que mais chamou a atenção no quadrante é o deserto. Só há ali o casal de felinos,
mais nada. Sintomático esse vazio simbólico.
3) Aqui se retrata o presente. A ponte, apontando para o futuro, tem um cisne com um relógio
em um extremo dela, e um casal e uma flor no outro extremo, adentrando o futuro. Além
disso, há um guerreiro, ocupado com a criança interior do quadrante 1. O cisne, ou uma íbis, a
peça vítrea não é muito clara, lembra a simbologia da ave, que já tratamos neste trabalho em
outras ocasiões. Ligando a um processo de transformação espiritual, e ainda por cima esta
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peça tem um relógio embutido; relógio além de lembrar nossa relação com o tempo, com a
vida que passa, tem o significado de se tomar decisões. Há decisões a serem tomadas que
travam ou destravam a vida. O caminho para a futura relação mais ideal entre animus/anima
ou mesmo, mais literalmente, ter outro companheiro em sua vida, passa por decisões que D.
R. terá que tomar. Esta ponte para o futuro é a ponte sobre os afetos e que leva a uma outra
vida, literal ou simbolicamente.
4) No futuro, a participante adiciona uma coleção de símbolos que lhe trazem medo, sendo
muito coerente com o momento de luto, com sensação de abandono colocando-a regredida,
demonstrando um grande medo deste futuro que, além deste sentimento que a toma, não vê
muito mais outras coisas. Mostra o trabalho que necessita fazer, para desenergizar o complexo
relacionado às fixações infantis. Reconstruir a casa é uma das tarefas, aqui casa como símbolo
de alma, símbolo dela mesma. Também reconstruir um lar, mais literalmente. E, se a coruja é
o símbolo de sua maior fobia (tem fobia ao animal), também aponta o movimento necessário
para transformar o medo em amor, com sabedoria. Apresentaremos a ela, futuramente, estes
símbolos, esperando uma dessensibilização do trauma, relacionado ao abuso (a coruja lembra
os olhos do abusador). Os bombeiros lembram as sirenes, ambulâncias, ―só coisas ruins estão
acontecendo quando ouço essas sirenes‖. Mas também apresentam o controle da raiva, que
lembra exatamente o masculino terrível, presente em 3 quadrantes. Aqui, os carros de
bombeiro podem representar uma esperança de controle da raiva e das emoções em geral, com
a água como elemento de controle. Portanto, o feminino sagrado equalizando, modalizando o
masculino terrível.
Praticamente ao final da sessão, D.R. foi convidada a, caso quisesse, agora
conscientemente, sabendo de tudo que foi trazido, mudar algo em sua cena, podendo
livremente mexer as peças, tirar, acrescentar algo. Ela decidiu mudar somente uma peça.
Tirou a pequena casinha que estava no quadrante do futuro e trouxe uma linda e grande casa,
colocando-a à frente de tudo que lhe trazia medo. Ficou assim a composição:
Cópia da Figura 51 D. R. - 1
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Entendendo-se o símbolo casa como a própria alma da participante, a mudança
pretendida é radical. O conteúdo de uma caixa de areia pode continuar mobilizando a
participante semanas após a sessão. Vamos acompanhar o que esta movimentação poderá
trazer de movimento à psique da participante.
A partir explicações que ela foi efetuando, elaborou-se uma versão digital das três
imagens acima e anotado digitalmente, em azul, as observações que ela produziu das suas
vivências. Seguem as imagens das anotações.
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Figura 58 – D.R. – Anotações do estagiário - 1 Figura 59 – D.R. – Anotações do estagiário - 2
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Sombra, solidão, medo, perda, indecisão, tristeza, impotência, arrependimento. Como está se
sentindo agora? ―Representa um misto de sensações, angústia, não ter controle, mas também
de libertação‖ (SIC). Tirar a venda. Demarcar pontos de sobreposição (onde cores se
encontraram)
Figura 61 – D.R.
Agora, virar o papel. O que parece? ―Parece que todas as sombras estão sendo
enterradas‖ (SIC). Em seguida, solicitou-se que girasse o desenho de maneira que ficasse de
―ponta cabeça‖.
Figura 62 – D.R.
―O preto foi por onde comecei – transformei, depois, de olhos abertos, ao demarcar as
intersecções das cores, numa xícara de café, que gosto muito. O café, para mim, é uma
companhia. Alimenta a alma‖ (SIC). Fez a xícara de café, depois o céu, depois a flor, depois a
menina. ―Não consigo sentir nada de sombra: a menina buscando um futuro bem feliz, as
coisas vão dar certo e se encaminham para uma coisa melhor. Tô em cima de alguma coisa,
um patamar, um pedestal, me elevando para alguma coisa maior, sensação de liberdade,
tomando os meus rumos com o meu café. Sensação de tapete voador‖ (SIC).
Encerramento: A sessão ―pareceu uma sequência, consigo trazer pro dia a dia coisas
que a sessão trabalha. Como posso transformar a emoção do momento. Exército o cheiro do
café, o cheiro da comida da mãe. Me sinto mais segura e mais aberta. Julgo menos. Penso
muito na Caixa de Areia e na Timeline. O que eu podia fazer para mudar a linha quase toda
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escura. Fui dormir me sentindo vítima. Ontem, acordei pensando e agradecendo ter
conseguido sobreviver. Sinto orgulho de mim por tudo que enfrentei. Muitas vezes, eu impus
distanciamento pro pai e a mãe. Eu culpava a mãe por ter me dado. Todas as pessoas ao meu
redor, na verdade, sofreram. Gravei um vídeo pedindo desculpas, para a minha família, por
pensar que só eu estava sofrendo. Esse áudio foi umas duas semanas depois da morte do
(nome do esposo). Ali eu me permiti ser cuidada‖ (SIC).
Análise simbólica das imagens da sessão: A xícara de café é um símbolo muito
interessante. Iniciou com uma representação sombria, típica da negrido alquímica, com uma
mancha escura na folha de papel. Posteriormente, ela transformou essa mancha numa das
coisas que mais gosta. Dois cheiros que lhe trazem ótimas memórias afetivas, cheiro da
comida da mãe e cheiro de café, aqui agora surge a complementação do primeiro aroma que já
havia surgido nas sessões. Além deste reforço positivo sinestésico, a transmutação de algo que
representa aspectos sombrios em algo tão positivamente marcante pode ser visto como um
movimento extremamente salutar que a arteterapia está trazendo. Existe ampla literatura e
conhecimento de que na simbologia do inconsciente, comida representa afeto. Então, café,
podendo ser considerado como algo pertencente à alimentação, pode trazer acalento à
escuridão. E, de fato, este relato está sendo escrito posteriormente e já se denota mudança da
participante desde o evento em que ela expressou espontaneamente este símbolo. Acredita-se
que a expressão dela ―parece que as sombras estão sendo enterradas‖ é suficiente para
expressar o que representou a expressão desta sessão.
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Sensibilização: Meditação; apenas prestar atenção na respiração – inspiração e expiração.
Após, expressar, livremente, com a técnica que prefira, os sentimentos que vêm. Inspiração,
expiração. Como a vida tem se apresentado no presente: para onde ela está se dirigindo agora?
Explorar as imagens que se apresentam; após a imagem se apresentar, escolher
livremente o material e a técnica, para expressar o que percebeu de sua psique se
manifestando. Esta foi a imagem que se apresentou:
Figura 63 – D.R.
Ela diz estar ―Sentindo-se bem! Bem mesmo, mais tranquila, mais segura. Diz estar
administrando melhor as emoções, compreendendo que o perfeito não precisa existir para a
gente ficar bem‖ (SIC).
Sobre a imagem que a irrompeu, ―foi um céu lindo, azul, com sol, eu caminhando
com um lenço, numa duna de areia, com vento gostoso e sensação boa, ao mesmo tempo 2
mãos que me amparam. Sentimento de gratidão por estas mãos estarem ali. O manto
vermelho, parece que ele tá sufocando os sentimentos‖ (SIC).
Disse que sexta-feira fez uma mamografia, está com um nódulo, 0,7cm, com
ramificações, grau 3. Encaminhou com mastologista. ―Se tiver que operar, já vou botar
silicone que eu tanto queria‖ (SIC). Trouxe esta notícia com aparente tranquilidade, inédita
até aqui nas sessões. Obs: Foi solicitado relatar um sonho, por escrito, para ser utilizado na
próxima sessão.
Análise simbólica das imagens da sessão: A imagem desta sessão pareceu
contrastar com as imagens que estavam sendo construídas até então. Como um virar de chave,
nesta, a positividade, a transformação, parece estar sendo representada predominantemente,
ao contrário de até aqui, quando a sombra sempre se fazia bem evidente. O que mais chamou
a atenção, foram as duas mãos que, em sessão anterior, a esquerda era sangue e sofrimento.
Agora, as duas mãos iluminadas. O céu, pela primeira vez, totalmente claro, límpido. E a
manta, pode-se interpretar como um sinal de calor, aconchego. O fato de ser posicionada ao
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redor do pescoço, pode-se inferir que o feminino está podendo expressar-se, ter sua voz, e isto
aquece a garganta, onde normalmente percebe-se sintomas fisiológicos quando o feminino
está impedido de se manifestar. Mais esvoaçante, (liberdade), entende-se que a participante já
apresenta melhoras no seu estado emocional apenas observando esta peça expressiva.
Sensibilização: Durante um momento de meditação, pensar nos sonhos que lembra que vem
tendo, ultimamente. Escolher um destes sonhos. Se pudesse tirar uma fotografia da história
que a imagem do sonho conta, como seria essa cena?
Desenvolvimento: Produzir duas imagens: 1 - a imagem de um sonho, que foi solicitado
relatar por escrito, entre esta e a última sessão ocorrida. Produzir esta imagem como se fosse
uma fotografia do sonho. 2 - Fazer o mapa do cenário do sonho, onde os eventos ocorreram.
Um mapa do território geográfico, visto de cima, situando a narrativa no tempo e,
principalmente, no espaço. Fazer uma trilha pontilhada no mapa, demonstrando a sequência
dos acontecimentos se possível.
Figura 64 – D.R.
A primeira imagem mostra a primeira cena do sonho: a casa de uma senhora, uma
vizinha querida, ela estava na sua própria casa. Alguém inventou uma fofoca e, por isso,
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alguém pediu para pegar minhas coisas e ir embora. Fui no hospital, chamar a senhora que
criou a fofoca e ia sair de alma lavada, pois disse que não fiz nada. Enfrentou-a antes de ir
embora. Então, foi para a casa do pai, no interior.
Segunda cena do sonho: Um pé de figo, na casa do pai. Muita poeira em tudo.
Ônibus atrasado, porque tinha atolado.
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por alguém que tentei transformar num monstro, pra não viver a relação‖ (SIC). Sente culpa
por transformar essa pessoa num monstro para tentar afastá-la. Não foi perguntado a quem ela
se referia, propositalmente. E ela não disse de quem se trata.
Análise simbólica das imagens da sessão: Alguns símbolos surgem neste sonho,
dentre eles, destaca-se o ônibus no barreiro, ou seja, está difícil trazer toda a família ampliada
para o movimento de uma mudança terapêutica, estava travada nas emoções. No entanto,
também mostra que mesmo atrasado, será possível destravar. O que já está ocorrendo, pois o
ônibus, atrasado, chega. Há o movimento, no mapa, de sair da casa em que se encontrava e ir
para a casa do pai. Este movimento parece em busca do masculino sagrado, em busca do
religare, em busca da falta. Antes, passa pelo hospital, onde diz à fofoqueira tudo que queria
dizer. Na sessão passada, a manta ao redor do pescoço pareceu indicar essa cura do que estava
preso na garganta, agora neste sonho o símbolo é mais direto ainda. Só então pode retornar à
casa do pai. A figueira na casa paterna lembra a Árvore da Vida, no Jardim do Éden, que no
livro original da Torá era uma figueira, até a cultura romana trocar para uma macieira, apenas
porque a palavra latina para macieira é Malus, que também significa o mal. Então ficava
interessante, em latim, a troca, mas a figueira é a original Árvore da Vida. Então ela volta à
casa paterna, volve à vida, volve à fonte nutridora, volta ao local do afeto. Reencontra-se com
o local de onde pode retornar sua Jornada da Alma, após um travamento.
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antecedeu a atividade do estágio, sem que qualquer comunicação entre o estagiário e a
participante, ela produziu o texto de agradecimento a vários familiares e enviado por
aplicativo. Mesmo assim, vai reescrever, à mão. Seguem as imagens da produção.
Figura 73 – D.R.
―Esta imagem, conversa com o coração cheio. Reacomodar todo mundo com a sua
devida importância, seu devido espaço‖ (SIC), ela comenta. Esta foi mais uma sessão que
bastou-se em si mesma, sem necessidade de um encerramento, que foi acontecendo
naturalmente na sensação de esgotamento das manifestações espontâneas que ocorreram com
a leitura, o desenho, as emoções provocadas. Não houve necessidade de maiores explicações,
conclusões, para o fechamento.
Análise simbólica das imagens da sessão: O coração, antes tomado pela dor, pelo
sofrimento, agora se preenche de cor, e passa a ser composto de diversas fontes de afeto.
Diversas ―gavetinhas‖, que tornam possível nutrir-se novamente de afeto, que antes provinha
de uma só fonte, da relação interrompida pela morte. As cores voltam, o colorido enuncia
mais vida tomando a sombra.
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22ª. SESSÃO – 15/12/21
Título: COAGULANDO A ALMA
OBS: A filha, H.R., ficou bastante interessada em participar. Então, foi providenciado
material para as duas.
Objetivo: Experienciar em uma vivência, diversas etapas dos processos alquímicos, para
ajudar a solidificar a transformação que vem ocorrendo de memórias dolorosas em novas
elaborações.
Acolhimento: Preparação e a organização do ambiente, utilização de música instrumental no
meio ambiente. Músicas: CD Reprise. Vangelis. East West Records. 1999. Faixas: Bon
Voyage, Dreams Of Surf, Opening, Conquest Of Paradise, Monastery Of La Rabida, Come
To Me, Light And Shadow, Fields Of Coral, Movement 5, Movement 6, West Across The
Ocean Sea, Theme From "Bitter Moon, Rachel's Song, Movement 4, Psalmus Ode, Dawn,
Prelude.
Sensibilização: Concentrar e pensar nas coisas que gostariam de transmutar em suas vidas.
Escreverem num papel.
Material: Pedaços de Giz de cera, pires, copo com a boca mais larga que a base, 60% do
copo já com água, um punhado de sal (uma colher de sopa ou menos), uma colherinha para
mexer o sal, fósforo, uma vela, papel A4.
Desenvolvimento prático: Esta sessão exigiu mais passos de elaboração que as outras, mas
foi muito interessante. Os passos seguidos foram os seguintes:
Num pires, queimar o papel com os dizeres que não quer mais presente em sua vida. Observar
que terá 3 tipos de cinza: uma cinza preta, (nigredo) uma cinza de cor cinzenta e uma cinza
branca (albedo). Na nigredo, ainda há muito a queimar. Na albedo, já se queimou tudo o que
era possível.
Previamente, encher um copo com 60% de água. O copo precisa ter a boca maior que a base.
No copo de água, acrescentar o sal. Observar que se tinha um cristal e que, agora, ele diluiu
(solutio) na água. Os problemas podem ser dissolvidos. Agora este sal, na água, lembra as
lágrimas, salgadas, que vão dissolver as cinzas das palavras que querem eliminar de sua vida.
Mexer esta mistura.
Acender uma vela e queimar giz de cera, de forma que seu derretimento pingue dentro
do copo. Ir observando o resultado, e trocando de cores, conforme desejar. Observar a
interação das cores. O que era sólido, agora vira líquido, novamente. Enquanto a vela pinga a
cera do Giz, concentrar-se em uma intenção de transformação para aquela palavra queimada
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no papel. Quando a cera formar uma camada de aproximadamente um centímetro no copo,
levar o copo ao congelador e aguardar uns 10 minutos.
O resultado será uma peça mandálica. A parte de cima da peça sólida que flutua,
agora, na água do copo, será o fundo da mandala. A parte que fica imersa na água é que será a
superfície da mandala. Ela é construída invertida. As cores se inverterão. E, novamente,
aquilo que era líquido, agora novamente se solidificou (coagulatio). E temos uma nova
consistência, bem diferente de como era originalmente.
A palavra dolorosa a transformar, agora é uma figura mandálica multicolorida! Dizer o
que sente vendo o resultado do seu trabalho alquímico operativo e o que ele pode inspirar
como trabalho alquímico filosófico.
Figura 74 – D.R.
H.R: Palavra: tristeza. ―Cansada, triste, mas feliz de fazer essa vivência‖ (SIC).
D.R: Tristeza. Afirmou: ―Deu pra enxergar o problema‖ (SIC).
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Figura 76 – H.R. - Quando a cera do giz está quente, não se vê, com clareza, como está ficando
Figura 78 – D.R. - É preciso cuidar com esta cera, muito quente. Manusear com cuidado
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23ª. SESSÃO -20/12/21
Título: Soul Collage.
Objetivos: Dar uma imagem aos pensamentos e ideias que irrompem a mente,
desordenadamente.
Acolhimento: Preparação e a organização do ambiente, utilização de música instrumental no
meio ambiente. Músicas: CD Sensuous Chill. Yanni. Sony Masterworks. 2016. Faixas: Thirst
for Life, Rapture, Drive, What You Get, Desert Soul, 1001, The Keeper, Whispers in the
Dark, Seeing You Around, Orchid, Our Days, A Little Too Late, Dance for Me, Retreat to
Dream, Test of Time, Can't Wait, I'm So.
Sensibilização: Perguntar: qual a questão mais importante para eu lidar nestes dias? Ao
encontrar a pergunta – escrever a pergunta na cartolina. Virar a cartolina.
Em silêncio – buscar imagens em revistas, recortando-as, até que preencham toda a
cartolina. Distribuí-las por sobre a cartolina e, por último, colá-las. Se quiser falar sobre o que
representou e como se sentiu no processo, pode fazê-lo.
D.R associa a Soul Collage à Caixa de areia (Sandplay) e realiza uma série de
comentários relativos às imagens da Caixa de Areia: ―Tenho que tomar um rumo, construir
uma estrada... O guerreiro me incomoda no momento. O cisne, na Sandplay, reflete alguma
coisa... Ele tinha a cara baixa, olhando profundo.... A menina, a pedra mística, a construção,
eu cerquei eles. E emite uma sentença: Investir no amor próprio‖ (SIC).
Figura 83 – D.R.
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Decidindo ―ir pro nosso canto‖ (SIC) (futura casa dela e da filha), conversou bastante
com os pais. ―Insegura, Indecisa.... Abandonando o vovô (culpa)... Hoje fazem 9 meses que
esposo faleceu. Impasse‖ (SIC). Figuras bem aleatórias, disse ela. ―Disposição, também.
Mas.... Curiosidade sobre futuro. Além disso, uma sensação não identificável, perturbadora‖
(SIC).
Conclusão: Qual o rumo que devo seguir? ―O do coração! A vida inteira me
preocupei com os outros. Nunca parei para pensar o que eu queria. Começar a pensar mais em
mim! Ótima sessão!!‖ (SIC).
Análise simbólica das imagens da sessão: A soul collage oferece a possibilidade de ser
interpretada exatamente como a técnica da SandPlay (Caixa de Areia). Há outra maneira de
interpretar, própria da Soul Collage, mas desta forma, ambas totalmente válidas. Algo que
não fora mencionado na sessão da Caixa de Areia é que, além das triangulações entre objetos
próximos, também pode-se observar objetos opostos na disposição da caixa. O que foi
colocado no outro lado da caixa, em oposição à peça que estou observando? É comum haver
correlação possível entre estes símbolos. Assim, vemos na Soul Collage, no quadrante inferior
esquerdo, relativo ao passado arquetípico, uma mulher boiando na água. No quadrante do
presente, vemos um cisne boiando na água (lembra o conto do Patinho Feio). Ainda no
mesmo quadrante da mulher boiando, uma casinha de barro, em condições de pobreza.
Lembro do contraste com a casa posta no quadrante futuro, da caixa de areia. No quadrante
futuro, da Soul Collage, está um metrô em oposição ao trem, da Caixa de Areia, no quadrante
inferior esquerdo. Ambos, com o mesmo significado, assim como o ônibus, no sonho da 20ª.
Sessão. Trazer a família ampliada para o movimento terapêutico. Aqui, colocado como
movimento futuro, renovado. Também no quadrante superior esquerdo á uma criança com
uma lança na mão e no quadrante do futuro há um guerreiro com uma lança na mão. Parece a
maturação de um movimento de crescimento afetivo do Animus da participante. No quadrante
do passado, parece que a mente da participante está lidando com um tipo de quebra-cabeças, o
que se vê também no quadrante presente; na Sandplay, havia flor no quadrante do presente, e
somente nele. Aqui, também. Mas há mais flores. E também há uma flor desabrochando no
quadrante do futuro, bem como um fruto, o que não havia na Sandplay, o que denota
progressos.
91
Além disso, no quadrante do passado arquetípico, há a palavra PODER que é a
sombra do amor, e símbolo do masculino terrível. Perto de onde estava o índio na Sandplay.
Substituído por uma flor, do outro lado, no quadrante do presente. Também uma imagem de
um drink, na altura de onde estavam o guerreiro e a criança tocando violino na Sandplay.
Tanto o masculino terrível quanto a criança interior substituídas por essa bebia alcoólica, pode
remeter à integração da consciência que eram movimentos não conscientes, como um bêbado
que age sem seu próprio domínio; álcool, em grego, representa ―o anestesiador do espírito‖.
Do outro lado, uma flor, onde havia o guerreiro na caixa de areia. Substituição do herói, do
guerreiro, pela figura de uma flor. Parece que a amorosidade está tomando lugar da força e do
poder. Algo novo florescendo.
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Comentários: ―Gostei, dá uma paz, a gente viaja, parece que a gente limpa, não
consegue pensar em outra coisa, parece que a gente está em outro espaço. Sensação boa, de
vida, sol, claridade. Alguma coisa boa. Vontade de continuar ela. Parece que a gente se
transporta para outra dimensão‖ (SIC).
Filha: ―Senti uma calma, tranquilidade. Vontade de fazer mais, mais camadas. Usei
flor, folha, raminhos verdes, lentilha, arroz, feijão, e mais flor‖ (SIC).
As duas disseram que a sessão foi maravilhosa. Como todas!
Análise simbólica das imagens da sessão: A mandala é reconhecida na obra de Jung (2010)
como um símbolo de integração de opostos, demonstrando a característica da psiquê, pela
tendência que ela apresenta de, em determinadas situações, produzir imagens mandálicas,
como uma tentativa de auto-harmonizar-se, realcançando seu centro de equilíbrio emocional.
Também é ponto pacífico o fato de que a Árvore da Vida é um dos símbolos mais
antigos da humanidade. E ainda, como já fora apresentado neste trabalho, que alimentos, na
linguagem simbólica, podem estar relacionados a afeto. Somando estes três poderosos e
ancestrais símbolos nestas atividades, foi proposto elaborar uma mandala com sementes,
grãos, flores. Assim foi feito. Chamou a atenção que a participante produziu uma mandala
que, ao seu centro, está dividida em 5 partes, formando um pentagrama. E numa segunda
circunferência, externa, subdivide-se em 10 partes. O cinco, na alquimia, lembra os quatro
elementos mais a quintessência, o espírito. E o 10, o início de uma nova fase, de um novo
ciclo, após o nove, que representa destruição, aniquilamento. Portanto, numericamente, a
simbologia está concernente com o que a participante experimenta como momento de vida.
D. R. comentou que ―parece que a gente se transporta para uma outra dimensão‖, aqui
expressa uma outra e nova sensação, coerente com a simbologia estudada acima. Bem ao
centro, uma figura rosácea, sendo que a rosa, na Alquimia, representa a alma. As sementes
foram agrupadas, nos 10 espaços externos, na mesma forma das folhas com as quais
intercalava-se os espaços. Ambas apresentam a forma da Vesica Piscis, símbolo, na
Geometria Sagrada, do Feminino Sagrado, figura básica da Semente da Vida egípcia e da Flor
da Vida egípcia, ambas correlacionadas ao Feminino Criativo, Sagrado, Divino.
94
Figura 88 – D.R. Figura 89 – D.R.
Ela comenta: ―A Linha do Tempo foi a sessão que mais ajudou. Quando comecei a
fazer a Arteterapia, estava focada na perda do esposo, achava que era minha única dor. A
Arteterapia desestruturou isso. Vejo as dores desde a infância, já observo o que aquilo ali quer
me dizer naquele momento. Eu já passei por inúmeras dificuldades e estou me tornando uma
pessoa mais forte. Antes da sessão da Timeline, apareceu mais pessoas. Depois da Timeline,
já apareceu o café, que eu gosto, depois o lenço vermelho, coisas que estavam na minha
garganta. Optei por não começar uma relação depois daquela sessão. E foi bom. Detectou
problemas logo depois. A Timeline foi um divisor de águas, depois, para mim. No dia
seguinte, fiquei arrasada. Depois, levantei a cabeça.‖ (SIC).
95
Figura 93 – D.R. Figura 94 – D.R.
96
Sensibilização: Para que a história de vida se mantenha e aponte um futuro, é preciso ver essa
trajetória. Pensar em sua vida até aqui, observando pontos importantes neste momento de
vida. Então pensar, primeiro, em o problema. Depois, vamos deixar a arteterapia apontar uma
resposta a esse problema. Música e meditação sobre este tema.
Desenvolvimento prático:
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Então, foi solicitado que pensasse em suas habilidades atuais perante a vida. Os
recursos que dispõe para enfrentar esse monstro. Ela, pensando em seus talentos, desenhou
uma caixa. (Em seu atelier, D. R. produz caixas rica e artisticamente decoradas, para venda.
Sua arte foi representada como sua maior força de enfrentamento). Escreve: caixas – força.
Então comentou as duas imagens. – Sempre implorei por atenção e carinho. A coruja foi da
mesma época do abuso. Os olhos do abusador lembram os olhos da coruja.
Sobre as habilidades: a Caixa de MDF me lembra proteção. A caixa protege. – Colocar
os meus dentro de uma caixa e fechar.
Análise simbólica das imagens da sessão: O simbolismo da caixa, aparece com frequência
tanto em sonhos, quanto nos mitos (Caixa de Pandora, por exemplo) e na alquimia. Jung
(2010) desenha o masculino terrível, um demônio, uma divindade, um deus-ferreiro que
aparece em várias culturas, a exemplo de Hefesto, Ciclopes, Credne, Crisor, Deus do Martelo,
Goibhniu, Govanonon, Hadúr, Huracán, Ilmarinen, Kotar, Loki, Luchta, Manco Capac,
Ogum, Ptá, Qaynan, entre tantos outros, com um objeto de ouro e pedras preciosas em mãos,
onde aprisiona o amor dos homens que não pagam o alto preço que ele costuma cobrar por
seus serviços. Na alquimia, também pode ser representado este depositário como um vaso
alquímico e como um templo. É chamado de Atanor, este vaso alquímico. A parte externa,
contensora, é o corpo. E dentro, o conteúdo que pode carregar, são todas as experiências que a
alma pode fazer.
99
Acolhimento: Preparação e a organização do ambiente, utilização de sistema de iluminação à
meia-luz, com luzes oscilantes multicoloridas.
Sensibilização: Explicou-se como seria a atividade e foi ensinado à participante como tocar a
Taça Tibetana, pois no encerramento desta atividade, D. R. tocaria ela mesma a taça tibetana.
Desenvolvimento prático: A Atividade consiste em duas horas de exposição da participante
a uma música composta em tempo real durante a sessão; esta é uma peça sinfônica, com
características ocidentais e orientais, estilos antigos e modernos, que passam por várias
culturas, tempos e climas sonoros. A melodia não é importante e sim, o clima sonoro, que
provoca diversos estados emocionais. São utilizados 22 instrumentos durante a sessão,
diversos deles simultaneamente. São instrumentos analógicos e digitais, ocidentais e orientais,
tanto de sopro, percussão, teclas, entre outros. Instrumentos oriundos de quase todos os
continentes. Depois de aproximadamente uma hora, junto à música, inicia-se uma narração
de uma meditação guiada, utilizando a linguagem comumente utilizada nos sonhos e
atividades expressivas, a linguagem simbólica da alma, segundo Jung. Não é uma linguagem
objetiva, é subjetiva. A participante deita-se em um sofá ao centro da sala, que contém seis
caixas de som espalhadas ao redor, num sistema quadrafônico de som (som que vem de todos
os lados). Seguem imagens da sala e dos equipamentos.
Figura 101 – Autor (Sala Musicoterapia) Figura 102 – Autor (Todos os instrumentos são utilizados)
Figura 103 – Autor (Luzes multicoloridas) Figura 104 – Autor (Ambiente imersivo)
100
Figura 105 – Autor (Sala Musicoterapia) Figura 106 – Autor (Em primeiro plano, o Oboé)
Figura 109 – Autor (Sala Musicoterapia) Figura 110 – autor (Sala Musicoterapia)
101
Figura 112– Autor (Teclados)
A participante afirmou que a musicoterapia foi uma das experiências mais fortes que
já vivenciou, e uma das mais impactantes sessões do estágio. Disse ter proporcionado, de
alguma forma, fazer as pazes consigo mesma, com tudo que lhe aconteceu até então. Pareceu
sair da sessão mais animada do que chegou.
Nesta sessão não se produziu imagens expressivas em forma de registro gráfico.
Somente a música e as imagens mentais foram o tema, que foi registrado em texto e
conversado sobre, ao final da sessão.
102
Acolhimento: Preparação e a organização do ambiente, utilização de música instrumental no
meio ambiente. Músicas: Sara Brigthman, CD La Luna. Sob licença de Nemo Studios, Angel
Records. 2000. Faixas: This Love, Scarborough Fair, Figlio Perduto, La Califfa, Here With
Me, Serenade, How Fair This Spot, Hijo de la Luna, She Doesn't See Him, Solo Con Te,
Gloomy Sunday, La Luna, First of May.
Sensibilização: Ouvindo a música, de olhos fechados, permitir que o inconsciente apresente
uma imagem que possa representar o novo, em sua vida. Novos afetos, novos olhares, novos
lugares, novos vínculos, novas emoções...
Desenvolvimento prático: A filha da Participante também quis participar, D. R. solicitou
antecipadamente se a filha poderia participar desta sessão, pois anteriormente à data da
sessão, D.R. recortou E.V.A.‘s que possuía em pedacinhos, e a filha interessou-se, inclusive
ajudando a picotá-los. Assim, segue a atividade expressiva de ambas.
Sobre a figura 115, a filha, H.R., comentou que as camadas que fez, representava, cada
uma das camadas de cores, uma pessoa, que liga às outras, assim como as camadas se ligam.
Afirmou ainda: ―Fiz como se fosse geração em geração. O coração, foi uma pessoa que me
trouxe outra pessoa, que me trouxe outra pessoa‖ (SIC). Sente-se bem, olhando para o seu
mosaico.
Já a mãe, manifestou-se sobre sua criação, como sendo uma pessoa que está tentando
alçar voo. Camadas, seriam ciclos da vida. Superação, quedas, perdas. Cada camada uma
coisa. E disse que a borboleta apareceu primeiro na sessão da musicoterapia. D.R., disse que a
borboleta está saindo do casulo, isso que representaria sua atividade expressiva, esta é a
imagem que viu na sua mente. Reflete que se baseou na sua timeline, de alguma maneira, para
chegar à imagem que a psique fez surgir. A obra pronta, diz ela, transmite renascimento, ―Tô
103
escapando de alguma coisa, deixando pra trás algo de ruim... Me livrando de crenças,
sentimentos, preconceitos‖ (SIC.). Ambas consideraram a sessão ―bem legal‖.
Análise simbólica das imagens da sessão: A mandala, por si, é um símbolo de auto-
centramento. Busca da psique pelo seu ponto de reequilíbrio. O Círculo, símbolo do Si-
mesmo. A borboleta, um conhecido símbolo tanto de alma quanto de renascimento. (Uma
curiosidade: foi o símbolo mais encontrado nos campos de concentração, os prisioneiros
desenharam borboletas nos dormitórios, nos beliches, paredes, tetos.... Um símbolo de
renascimento e transformação, como que um símbolo de resiliência diante da devastação da
morte. Em ambas as mandalas, muito colorido, também como provável sinal de resiliência
diante do luto que ambas atravessam.
104
Figura 116 – D.R.
105
demais para a psiquê. Portanto, pode ser uma representação aceitável de Luto a referida
imagem do coração ―partido‖.
106
Figura 117 – D.R.
Comentários: Lembrou de várias coisas boas da infância, que não se recordava mais.
Destacou que gostava de abacate com pão batido, pé de tangerina e algumas flores. O livro,
que também representa a escola, e aquele coração colorido, deu a sensação de ser incrível
costurar de volta as coisas boas da infância.
Análise simbólica das imagens da sessão (CHEVALIER E GHEERBRANT, 2017):
-Livro: Símbolo do Universo, O segredo divino confiado ao iniciado. A inteligência cósmica
e a inteligência individual. Fechado, a matéria virgem. Aberto, matéria fecundada. Fechado,
segredo. Aberto, segredo tomado por quem o lê. Livro e coração: Aberto a sentimento;
fechado, ele os esconde. Para os alquimistas, a Obra é expressa simbolicamente por um livro,
às vezes aberto, às vezes fechado. Conforme a matéria-prima tenha sido trabalhada ou apenas
extraída da mina. Às vezes, quando fechado, possui sete fitas, os sete processos alquímicos
que permitem desvelar os selos da natureza. Assim se chega às ciências profanas e aos
mistérios sagrados.
-Milho: Nas culturas mexicanas é o Sol, o Mundo e o Homem. Símbolo da prosperidade,
considerada em sua origem: a semente.
-Coração: Símbolo do centro, centro do indivíduo, centro do universo, centro no indivíduo
que abarca a divindade. Também o duplo movimento energético do universo, de expansão e
retração. Centro da vida, da vontade, da inteligência. No ocidente, centro dos afetos. Símbolo
também do espírito. No oriente, um dos símbolos mais potentes alegado ao coração é o
conhecimento. No Egito, o coração era escrito hieroglificamente através da forma de um vaso.
-Lírio branco: Símbolo de pureza, inocência, virgindade. Na alquimia, pureza celestial. ―O
noivo de tua alma deseja entrar. Floresce: ele não vem se os lírios não florirem‖. Também
pode ser símbolo de erotismo. O Lírio como flor do Amor, pode representar um amor intenso,
mas que, na sua ambiguidade, pode ficar irrealizado, reprimido ou sublimado. Se ele é
107
sublimado, o lírio é a flor da glória. Símbolo também da possibilidade de realizações
antiéticas do ser.
-Terra: O princípio passivo, o princípio feminino, a Grande Mãe, a tendência ascendente, a
densidade, a fixação e a condensação. Sustento, Doçura e submissão, firmeza calma e
duradoura. Humildade (húmus), o Caos primordial.
108
Figura 118 – D.R.
Comentários: ―Era muito bom, muito divertido o grupo de danças do CTG. Foi uma
época muito boa. O chapéu e botas também lembram meu amor pelo interior, pelo campo,
pelo Gado, adoro Rodeio, Cavalo... Meu pai usou bombacha (calça larga, típica do gaúcho) a
vida inteira. Vestido: com as cores da marca do Atelier, vermelho e dourado‖ (SIC.). O nome
do meu atelier é Amor Dourado (batizado pela filha). A participante referiu que gostaria de
morar novamente no interior (está residindo no centro da cidade).
Análise simbólica das imagens da sessão:
- Vestido: O traje revela o pertencimento a uma sociedade, caracterizada; tirá-lo é, de certa
forma, renegar essa relação. Voltar a apresentar o símbolo traz um religare, com a função
sagrada da veste, que é a identificação. A roupa pode expressar o caráter profundo daquele
que a veste. A roupa, própria do homem, já que é o único animal que a usa, é um dos
primeiros indícios da consciência da nudez, de uma consciência de si mesmo, de uma
consciência moral. É também reveladora de certos aspectos da personalidade, em especial do
seu caráter influenciável (modas) e do seu desejo de influenciar. O uniforme, ou peça
determinada do vestuário (capacete, boné, gravata, etc.) indica a associação a um grupo, a
atribuição de uma missão, um mérito.
- Chapéu: Pode corresponder à coroa, símbolo de poder, do pensamento, e de identificação;
usar o chapéu, servir o chapéu, lembra assumir uma responsabilidade, uma ação.
- Botas: Símbolo de afirmação social e de autoridade, o ato de descalçar-se já é um ato de
intimidade. Para os antigos os calçados eram um sinal de liberdade, já que os escravos
andavam de pés descalços. Pode ser o símbolo de uma pessoa pertencente a si mesma; é fálico
para os freudianos, contato entre corpo e terra, por isso ligado ao princípio da realidade (com
os pés no chão).
109
33ª. SESSÃO – 31/01/2022
Título: Retalhos do Tempo 3 – Eu, adulta
OBS: A participante mostra-se bem engajada na tarefa da sessão já na acolhida.
Objetivos: Integrar aspectos positivos da vida adulta na história da sua vida.
Acolhimento: Preparação e a organização do ambiente, utilização de música instrumental no
meio ambiente. Músicas: CD Gladiator: Music From dhe Motion Picture – Hans Zimmer e
Lisa Gerrard. 2000, Decca Records. Faixas: Progeny,The Wheat, The Battle, Earth, Sorrow,
To Zucchabar, Patricide, The Emperor is Dead, The Might of Rome, Reunion, Slaves to
Rome, Barbarian Horde, Am I Not Merciful?, Elysium, Honor Him. Now We Are Free.
Sensibilização: Pensar nos momentos que representam sua vida adulta, suas maiores
conquistas, seus melhores momentos. Procurar perceber que imagens se apresentam e
registrá-las na costura do tecido, em mais uma página do livro da sua vida.
Desenvolvimento prático:
D.R. Registrou três imagens em uma nova página de retalho, de seu livro Retalhos do
Tempo. As três imagens, concernentes à vida adulta, foram uma mulher grávida, com um
coração à altura do ventre, um chapéu de formatura, e três corações unidos.
Comentários: ao ser perguntada se queria falar sobre as imagens, a resposta foi: - Sim!
(Falar sobre sua produção parece ser importante para D. R.). ―Esperei 10, 11 anos para ter um
filho. A H.R. foi muito desejada, a maior realização da minha vida, apesar da gestação
delicada‖ (SIC.).
―Minha faculdade, que sempre quis fazer, uma realização que meus pais não tinham
como me dar. Fiz particular e paguei trabalhando. Fiz com 2 calças e 2 moletons. Eu me
orgulho muito, foi uma conquista minha‖ (SIC.).
110
―E os corações, representam a minha família. Eu chorava porque minha família tinha
se partido. Mas nada me impede de reconstituir. A soma das imagens me passa o sentimento
de realização‖.
―Eu tava só com as sombras, só com as coisas ruins. Com esse trabalho, vi as coisas
boas‖ (SIC). Sugestão para o trabalho final: O que representou o processo? ―Fazer a imagem
num bastidor‖ (SIC.).
Análise simbólica das imagens da sessão: Já fora comentado neste relatório, nas 2 sessões
anteriores, sobre chapéu e coração. Quanto à imagem da mulher grávida, pode representar
algo novo, que inicia. Um novo tempo, um novo ciclo (CHEVALIER E CHEERBRANT,
2017).
111
Figura 120 – D.R.
Comentários: Disse a participante sobre seu trabalho: ―Eu e H.R. hoje de tarde. Logo
veio a sessão dessa noite. Eu me vejo nessa foto, mais velhinha com a H.R. Desde a sessão
que vi que poderia ter vários tipos de amor, dediquei-me mais para a H.R. Ela mudou, deixou
de ser apática. E a casa, é num sentido muito amplo. A minha casa interior, a reconstituição da
minha família, meu espaço com a H.R., família num sentido mais amplo, aconchego,
proteção, carinho...‖ (SIC.)
Quanto ao balanço, refletiu que pode representar liberdade, infância, carinho, infâncias
boas, paz, coisas boas, serenidade.
Análise simbólica das imagens da sessão: Com a ampla análise da própria participante dos
símbolos que representou, creio que se pode ficar com estes símbolos e estas ideias de
representação, pois parecem suficientes em significado.
112
Sensibilização: Procure repassar as páginas que estão já registradas no seu livro. Veja as
imagens que representam cada período importante que já viveu, e inclusive, apontam uma
possibilidade de futuro bom. Agora, deixe-se levar por sua imaginação e crie uma página de
abertura para apresentar sua vida, através dos Retalhos do Tempo.
Desenvolvimento prático: D. R. escreveu, com as linhas coloridas, bordando dez palavras,
na simulação de páginas de um caderno. As palavras são: Sabedoria, Gratidão, Paz, Perdão,
Amor, Saúde, Família, H. R., Trabalho, Futuro... E deixou linhas em branco, como a
continuar a escrever palavras boas no futuro.
Comentários: Diz a autora: ―Fiz o livro em amarelo e dourado, significando muita luz.
Que eu consiga levar pro futuro tudo que coloquei ali! No atelier, desenvolvi peças que nunca
imaginei conseguir! Essa virada de página que minha vida tá dando vai ser maravilhosa!
(SIC.).
113
Sensibilização: Ao findar seu livro Retalhos do Tempo, Escolha um título, e escolha a técnica
que preferir para registrá-lo na capa. Após, se quiser, poderá confeccionar qualquer
acabamento que sentir o ímpeto de fazer.
Desenvolvimento prático: A participante quis ficar com o título que estávamos
provisoriamente utilizando, gostou muito dele. Bordou-o na capa muito rapidamente, e a
seguir, passou a dar acabamento em todas as páginas, utilizando bolinhas que usa para
confeccionar terços, com elas fez corações nas páginas, bem como cercou a página de
abertura, decorando o livro com as 10 palavras que representam sua vida, até então.
114
Figura 126 – D.R. Figura 127 – D.R.
Comentários: ―Quis dar uma customizada nas outras páginas‖, disse ela. ―Ah,
descobri o nome da flor que gosto e está na página da infância: chama-se Lírio do Vento.
Sessão maravilhosa! Única! Busca no passado coisas boas!‖ (SIC).
Comentários:
-Lixa: ―O lugar foi uma praia deserta, entardecer. Sensação de um caminho difícil,
com arbustos cheios de espinhos. É como se tivesse escolhido o caminho mais difícil. Ou ver
a vida passar, parada‖ (SIC).
-Veludo: ―Sensação bem diferente! O mesmo lugar, 3 caminhos. Calçamento, lírios do
vento e areia. Possibilidade de tomar decisões, aqui é possível entrar em movimento, como o
mar que te leva a lugares bons‖ (SIC.). Ela viu o mar como um caminho, também.
Então, D.R. cometa que a lixa foi o caminho até aqui. E o papel camurça, lhe dá um
novo papel. Novos caminhos, sensação de dever cumprido. ―Eu estava invertendo o papel
com minha filha. Ela cuidava de mim. Agora mudou. No final de semana, eu me diverti,
consegui brincar com ela‖ (SIC.). A questão do brincar era um complexo para D. R. ela não
conseguia brincar com a filha (adulto brincando com criança talvez disparasse o gatilho do
abuso). Nota-se que a participante se deu conta de que pode se permitir ser feliz novamente.
116
Análise simbólica das imagens da sessão: O fato de D. R. ter visto, agora, o mar como um
caminho, pareceu ser importante. Nem tanto como o símbolo do Inconsciente Coletivo, mas
pensando mais como o símbolo do universo feminino, da fluidez (a dança, para ela, é bem
significativa – lembra de dançar na adolescência, gosta de ir em bailes, gostava de dançar para
o herói, então, o mar também dança, aqui pode haver uma identificação com o símbolo
apontando não mais um caminho de terra, associado ao Animus, mas agora um caminho de
água, associado à Anima. Remar sua própria canoa, conduzir seu próprio barco, experimentar
uma liberdade, a solitude ao invés da solidão, mas na companhia da filha, são elementos que
podem auxiliar atravessar o luto e encontrar um novo ―porto seguro‖ (JUNG, 2010).
117
Desenvolvimento prático:
118
39ª. SESSÃO – 22/02/2022
Título: Enfrentando o medo
Objetivos: Trabalhar as fobias que ainda estão trazendo sofrimento.
Acolhimento: Preparação e a organização do ambiente, utilização de música instrumental no
meio ambiente. Músicas: CD La Luna. Sarah Brightman. Nemo Studio, Angel Records. 2000.
Faixas: This Love, Scarborough Fair, Figlio Perduto, La Califfa, Here With Me, Serenade,
How Fair This Spot, Hijo de la Luna, She Doesn't See Him, Solo Con Te, Gloomy Sunday, La
Luna, First of May.
Sensibilização: Meditação, relax com música. Agora permitir que surjam à mente 5 imagens
que lhe causam estranheza. Registrar as imagens na cartolina.
Desenvolvimento prático: A partir do registro das 5 imagens que causam estranheza, definir
o que podem representar. Agora, recortá-las. Atirar as imagens para cima, e na sequência em
que caíram, criar uma narrativa. Amassá-las e registrar a sensação. Rasgá-las e registrar a
sensação. Neste ponto, registrar a ideia geral que as imagens lhe transmitem, neste momento.
119
Figura 139 – D.R.
120
Objetivos: Trazer à consciência o arquétipo que representa o comportamento inconsciente da
participante.
Acolhimento: Preparação e a organização do ambiente, utilização de música instrumental no
meio ambiente. Músicas: CD Truth of touch. Yanni. Yanni/Wake. 2011. Faixas: Truth of
Touch, Echo of a Dream, Seasons, Voyage, Flash of Color, Vertigo, Nine, Can't Wait, Guilty
Pleasure, O Luce Che Brilla Nell'oscurità, I'm So, Long Way Home, Yanni & Arturo, Mist of
a Kiss, Secret.
Sensibilização: Relaxamento. Será apresentada uma imagem, com doze figuras arquetípicas.
Elas serão apresentadas, uma a uma. A participante ajudará a reconhecê-las. Após esse
momento, fechar os olhos e imaginar: Que arquétipo me define? Após, conversar sobre quais
são as fraquezas deste arquétipo? Produzir uma peça com argila que possa representar algo do
arquétipo que mais a representa. Pode ser híbrido, um personagem que seja a mistura de mais
de um desses arquétipos – e pode conter outras características. Produzir, finalmente, algumas
ferramentas para compensar as fraquezas do arquétipo, munindo-o de condições novas para
superar os desafios.
Desenvolvimento prático: Apresentou-se a imagem da figura 140, que são bonecos de
biscuit produzidos pela artista plástica Luciene Lima, (imagem da internet) representando, na
sua visão, os 12 principais arquétipos que Jung cita. Para Jung (2010), os doze mais comuns
arquétipos são: O Explorador, o Rebelde, o Mágico, o Herói, o Amante, o Comediante, a
Pessoa Comum, o Cuidador, o Governador, o Artista, o Inocente e o Sábio.
D.R. produziu uma caixa, um baú, com representações do seu arquétipo, uma mistura
de 3 destes 12 personagens. Escolheu 3 arquétipos: a Artista, o Guerreiro e a Amante.
121
Figura 141 – D.R Figura 142 – D.R.
Descrição da Imaginação ativa narrada pela participante: ―Uma estrada com árvores,
sol, sombra, névoa sobre o caminhão. Vai encobrindo lentamente. Aos poucos, a névoa vai
123
baixando. Um outro veículo vai surgindo. Quando a névoa baixou, o caminhão se transformou
numa linda camionete branca, linda, enorme. E a parte de baixo se transformou em um tanque
de guerra. Mas não é um tanque de guerra do mal. É lindo, limpo, brilhoso!‖ (SIC.).
Comentários: Afirma que, ao olhar para a atividade expressiva que produziu, sente um futuro.
―Não consigo entender o tanque de guerra, mas não é pro mal. Tanto que fiz com caixas de
maquiagem. Um futuro bom, um lugar leve, bonito...‖ (SIC). Lembrou de uma viagem a
Guaporé-RS com o esposo, buscar uma bicicleta. A bicicleta que seria dela.
Quanto à camionete, sempre foi o meu sonho, campo, cavalo, essa parte voltada para o
interior. Tanque: podia ser utilizado para passeios (aqui na região existem passeios turísticos
com antigos veículos que foram do exército, anteriormente). Podia atirar flores, balões, água...
Análise simbólica das imagens da sessão: Apresentando a própria interpretação da
participante, o tanque poderia significar como transformar a raiva. Diz ela que o mal não
resolve, tentar fazer alguma coisa boa, uma transformação desse sentimento... Ele passa (o
tanque) uma sensação de trazer um divertimento, alguma coisa assim (há caminhões militares
antigos, caracterizados como tal, mas que deram baixa do Exército, usados para lazer na
região). Parece que a participante associou ao caminhão um novo uso, como o exemplo dos
caminhões militares que agora são para finalidade lúdica e turística. Também lembrou de uma
viagem que fez para uma finalidade lúdica, buscar sua bicicleta, com o caminhão do esposo.
Portanto, parece que se conseguiu dar outro encaminhamento à imagem de caminhão que
D.R. tinha até então.
124
Desenvolvimento prático: Foi solicitado, meses antes, que a participante conversasse com
seus parentes sobre seus familiares, falasse sobre as características afetivas dos antepassados.
Após algumas conversas, chegou-se a este momento, no qual vai-se construir uma árvore
genealógica para assinalar características afetivas dos familiares. Foi solicitado que D.R. se
concentrasse nas memórias afetivas envolvendo os pais, irmãos, tios, primos, avós, bisavós,
etc. E pensasse nas características afetivas deles. Então, que fosse criando uma árvore
genealógica, onde ela não escreveria o nome dos parentes, mas iria numerá-los. Em uma
legenda, em separado, iria escrever os nomes e os números correspondentes. Nesta árvore,
criar símbolos para os diferentes humores e afetos, e demarcar cada parente com os símbolos
das características afetivas que os representam.
Esta tarefa é bem demorada, calculou-se 2 sessões para isso. D.R., quando marcou sua
pessoa na árvore, não quis adjetivar-se com os símbolos. Então, foi sugerido a filha, H.R.,
escolher os símbolos para a mãe, o que foi feito. A ideia foi bem recebida pelas duas e foi um
momento interessante. Foi necessário criar mais um símbolo na legenda de sinais
correspondentes às características afetivas e de humor, pois H.R. conceituou a mãe, entre
vários adjetivos positivos, também como - às vezes- ―braba‖. Então foi acrescentado um sinal
para tal expressão emocional.
Comentários: D.R. percebeu que convive com poucos parentes. Pouca lembrança do
avô por parte de pai, alcoolista, que morreu relativamente jovem. O pai também bebia. Por
outro lado, do avô e avó maternos, não tem boas lembranças. O avô tinha muitas mulheres,
festas, e em casa, passavam necessidade. No lado paterno, a avó criou todos os netos.
Manifesta carinho por ela e lembra de risoto de salame, pão batido com abacate... A mãe de
D.R. fala bem da sogra, mais que a própria mãe dela.
125
43ª. SESSÃO – 07/03/2022
Título: A Árvore dos Afetos - 2
Objetivos: Terminar a tarefa de elaborar uma árvore genealógica na qual se perceba os afetos,
emoções, humores, comportamentos familiares através de símbolos atribuídos a cada um.
Acolhimento: Preparação e a organização do ambiente, utilização de música instrumental no
meio ambiente. Músicas: CD Symphony. Sarah Brightman. Angel Studios. 2008. Faixas:
Gothica, Fleurs du Mal, Symphony, Canto della Terra, Sanvean, I Will Be With You,
Schwere Traume, Sarai Qui, Sotia DÁmore, Let It Rain, Attesa, Pación, Running.
Sensibilização: Relembrar o caminho realizado até aqui, na sessão passada.
Desenvolvimento prático: Ver a cartolina que já estava sendo tomada pela árvore
genealógica, e continuar na tarefa de nomear sentimentos, emoções, afetos, para cada um dos
familiares.
126
Figura 152 – D.R. Figura 153 – D.R. Figura 154 – D.R.
127
44ª. SESSÃO – 09/03/2022
Título: Novos olhares para um novo caminhar.
Objetivos: Vamos, mais uma vez, tentar contribuir para dessensibilizar os símbolos das
fobias de D.R., hoje principalmente representados na Coruja e no Caminhão. Auxiliar na
transmutação dos símbolos sombrios para sua integração na consciência.
Acolhimento: Preparação e a organização do ambiente, utilização de música instrumental no
meio ambiente. Músicas: CD Songs From The Heart. Celtic Woman. Manhattan, 2010.
Faixas: Fields of Gold, Amazing Grace, Níl Sé'n Lá, My Lagan Love, When You Believe,
The New Ground-Isle of Hope, Isle of Tears, The Coast of Galicia, Non C'è Più, The Moon's
A Harsh Mistress, You'll Be In My Heart, Goodnight My Angel, Galway Bay, The Lost Rose
Fantasia, O, America!
Sensibilização: Relax. Controle da respiração. Foi proposto pensar se é possível olhar os
aspectos sombrios da vida com um novo olhar, para que pudesse encontrar um novo jeito de
caminhar pela ―Estrada da vida‖.
Desenvolvimento prático: Foram apresentadas à D. R. diversas imagens, na sequência
abaixo. Nenhum comentário foi feito sobre as imagens. Eram imagens da internet. A
sequência selecionada tinha essa índole: Um homem e uma coruja. Um homem sendo afetivo
com um filhote de coruja. Um filhote de coruja sendo cuidado. Uma coruja cuidando (para
isso, foi encontrado duas imagens na internet, de uma coruja que adotou um patinho. Numa
primeira imagem, o patinho no ninho da coruja. Na segunda imagem, a coruja, em seu ninho,
cuidando do patinho que ela adotou). Após apresentar a ideia da coruja cuidando do patinho
em sua morada, apresentou-se uma casa humana. Em seguida, uma casa construída em um
caminhão. Aí seguiram 7 imagens que foram transformando a imagem de motorcasa de um
caminhão para uma camionete branca, que a participante tinha já apresentado durante uma
Imaginação Ativa a substituição do caminhão por uma grande e linda camionete branca e
atrelado ela a algo lúdico. No meio das imagens de motorcasas, foi inserida a imagem um
furgão que vende sorvetes, para utilizar a ideia da própria D.R. de um caminhão com uso
lúdico.
128
Figura 158 – Sequência de imagens aleatórias da internet: Homem e coruja.
Figura 160 – Sequência de imagens aleatórias da internet: filhote de coruja sendo cuidado
Figura 161 – Sequência de imagens aleatórias da internet: Patinho no habitat de uma coruja
129
Figura 162 – Sequência de imagens aleatórias da internet: Patinho adotado por uma coruja
130
Figura 166 – Sequência de imagens aleatórias da internet: Motor casa e homem
131
Figura 170 – Sequência de imagens aleatórias da internet: Caminhonete camper – lazer.
Como as imagens eram fóbicas, sem que fosse solicitado, demonstrando no rosto o
desconforto, provavelmente para aliviar a ansiedade, D.R. espontaneamente produziu uma
imagem com tinta guache.
Figura 17 2– D.R.
132
Em sequência, foi proposto que D.R. novamente se concentrasse. (a imagem dos olhos
da coruja seguia fixada em sua mente, causando fobia). Que a mente apresentasse agora uma
imagem que demonstrasse como ela poderia lidar com tudo o que viu, reacomodando aspectos
ainda sombrios em algo melhor para si mesma. E surgiu a seguinte expressão:
Esta estrada até o mar a levaria à casa nova. Então, de imediato, já produziu outra
imagem:
Aqui, chegou-se à sensação de saciedade de resposta aos tantos estímulos visuais que
recebeu na sessão. Este barco é a resposta da Alma. Houve um sentimento de acomodação
positiva.
Comentários: ―Sentimentos de paz e tranquilidade, agora. O caminho à praia é colorido e tem
os lírios de vento, e se pode sentar na pedra, olhar o mar e os pássaros, tomar um
chimarrão...‖ (SIC).
Para onde esse caminho leva? – Foi indagado. Ela disse: ―Para um lugar de
tranquilidade, que tira da pressão, da correria do dia a dia, como se eu tivesse saindo daqui
para a mãe, para um porto seguro‖ (SIC). Pássaro: seriam garças brancas? Flamingos?
133
Ao encerramento da sessão, D.R. quis comentar que neste dia foi ver financiamento
para a casa. E encerrou dizendo, olhando para seu último desenho: - Um navio que vai me
levar para onde quero chegar.
Achou que podia se tratar de flamingo no barco.
Análise simbólica das imagens da sessão: O flamingo é um pássaro extremamente fiel.
Encontra um companheiro para toda a vida. E as fêmeas, são tão amigas com algumas outras
fêmeas, que umas ajudam as outras a construir o ninho. As amizades são para a vida toda,
também como os pares para acasalamento. Um símbolo extremamente potente apresentado no
barco (CHEVALIER E GHEERBRANT, 2017).
E o barco, um importante símbolo de que finalmente sai do território do Animus (fim
da estrada por terra) e entra no território do feminino, seu lugar mais natural, o barco, como
espaço, da Anima. Possivelmente, ao se apresentar este símbolo no final desta sessão, pode-se
considerar muito bem sucedida a vivência. Pois houve o que Jung (2010) denomina de
apresentação de símbolos de transformação. A coruja agora é um flamingo, e o caminhão, um
barco, que é um veículo de locomoção e casa, também. Um novo espaço para a Alma e para
acontecer nova movimentação na Jornada da Alma, agora por água.
134
utilizadas estas frases para pensar a poesia de uma canção. Assim, D.R. registrou as seguintes
frases:
Comentários: A participante nunca compôs uma música, não se julga capaz, aparentemente.
Porém entrega-se com afinco à tarefa. Antes de iniciar a composição da letra, trabalharam-se
algumas sugestões de como ela poderia criar uma letra. Da mesma forma que se demonstrou
alguma técnica de pintura sem que a técnica, o aspecto técnico seja importante, a
expressividade que o é, assim também se mostrou algo da técnica para que ela pudesse fazer a
tarefa sem medo, mas não colocando a técnica acima da expressividade. Na próxima sessão,
falar-se-á de composição, para o conforto da participante.
A Frase definitória da sessão 38, foi uma das que mais chamou a atenção: é possível
que se torne o nome da canção. E, talvez, esta frase seja, então, utilizada no refrão da canção.
135
OBS: lembrou, no início, a participante, que esta semana faz um ano da internação na CTI do
falecido esposo. E no próximo domingo, fará um ano de falecimento.
Objetivos: Apresentar um pouco de conhecimentos musicais à participante, que não tem
familiaridade com a expressão musical. Alguns conceitos que possam auxiliá-la a compor
uma música que fale de si, de sua vida.
Acolhimento: Preparação e a organização do ambiente. Nesta sessão, não se utilizou músicas
de fundo. Na criação musical, atrapalha.
Sensibilização: Caminhando, de olhos fechados. Inspira, expira. Cantar o seu nome.
Primeiro, sem som externo, só internamente. A seguir, entoar uma melodia, cantando o seu
nome. A seguir, imaginar uma dança para seu nome. Imaginar, mentalmente, o seu nome, e
dançar o nome. Por último, cantar e dançar seu nome, aumentando, lentamente, o volume da
voz, começando bem baixinho e, ao final, cantando alto o som de seu nome. Os guaranis
chamam o nome de Espírito Nome. Cantar com sacralidade seu nome e dançar a sua dança. A
paciente foi convidada, então, a ler as frases que escreveu sobre as sessões 1 a 45. Escolher a
frase mais forte.
Desenvolvimento prático: Foi proposto que a frase mais impactante fosse utilizada como
nome da canção e ela aparecesse no refrão da música. Ficou definida: Depois da Tempestade
vem o Sol.
Foram apresentadas formas simples de combinar rimas, o conceito de métrica e de
prosódia. E foi proposto que D.R. tomasse contato, até próxima sessão, com suas 45 frases,
para que a poesia fosse sendo ―ruminada‖, fomentada, surgindo de dentro para fora.
Aproveitasse pequenos momentos de inspiração e anotasse.
Por ora, começar a compor a letra. Tentando combinar frases acima escolhidas,
modificar a sequência das palavras e procurar por sinônimos para criar rimas.
Assim, encerramos a sessão, que foi de bastante proveito para a participante, segundo
ela, em realizar algo totalmente novo e estava, além de perdendo a insegurança, divertindo-se.
Sem fotos de atividades nesta sessão.
Comentários: Foi bem perceptível a empolgação crescente à medida em que ia
entendendo como poderia realizar uma composição. A participante terminou a sessão com
várias possibilidades de sequenciamento das frases, agora queria um tempo para, sozinha,
degustar, amadurecer as ideias. Assim, a tarefa continuou na próxima sessão.
136
47ª. SESSÃO – 16/03/2022
Título: Vida em Harmonia - 3
OBS: Antes de iniciar a sessão, diz que no início do luto foi no médico, que lhe indicou
Antidepressivo/Ansiolítico. Nesta semana, ele aumentou de 15 para 20mg diárias.
Objetivos: Escrever a letra da canção que representa o momento de vida atual da D.R.
Acolhimento: Preparação e a organização do ambiente. Para se trabalhar com a composição
musical, não é possível ter uma música de fundo. Atrapalha para se compor. Utilizou-se o
silêncio, pois a participante estava criando a sua música.
Sensibilização: Lembrar da música, da dança, da sonoridade do canto do seu nome.
Mentalmente, de olhos fechados, cantar e dançar seu nome. Fazer somente a dança do nome.
Deixar o canto do nome pronto para querer ter voz, querer ser emitido. Então, criar a canção,
com essa potência de expressar-se musicalmente.
Desenvolvimento prático: A Participante trouxe um rascunho do que havia elaborado, da
última sessão para esta, e diz que ainda havia algumas partes da poesia que não estava
expressando exatamente o que gostaria, ainda precisava alterar algumas palavras. Então
fizemos isso, foi-se procurando sinônimos, contando as sílabas das frases para que ficassem
semelhantes umas com as outras a fim de dar um ritmo natural das palavras à canção.
Assim, a participante trocou uma ou outra palavra. Iniciou-se com esta letra:
Ela trocou o nome da música para ―Solte as amarras‖, e a versão finalizada ficou
assim:
SOLTE AS AMARRAS
1.Quando perdemos um grande amor
A dor é tão forte que nos sufoca.
137
Buscamos com urgência o que for carinho,
Qualquer coisa que nos toca.
3. É na família a referência
As forças, o norte, porto seguro
Mantendo o olhar de uma criança
Para preservar a sua essência.
Então, ela passou grande parte da atividade a cantarolar a letra, até que, lentamente,
uma melodia se firmou em sua memória. Estava pronta sua canção.
Comentários: D.R. afirma que a mensagem que quer passar com a sua canção é de
perseverança.
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Vi nessa ''bela dama", sepultada em suas vestes de cortesã, uma princesa adormecida
num corpo obeso. Ofélia não tinha mãe, tendo crescido numa corte que impunha um certo
código de comportamento. Apaixonou-se por um príncipe destinado a ser rei. Enquanto a
realidade não lhes ameaçou o pequeno paraíso, Ofélia e Hamlet puderam amar se. Mas
quando "coisas grosseiras ' e brutais" ["things rank and gross"] de súbito destroem o seu
jardim e Lord Hamlet põe-se a perscrutar o rosto da amada, encontra nele uma criança
desprovida de recursos interiores para ser fiel a si mesma e, menos ainda, a ele. Quando a
noite seguiu ao dia, ela só pôde fazer aquilo que o seu pai exigira - representar um papel como
sua marionete -, traindo inconscientemente a mulher que ela jamais encontrara em si mesma e
agindo com falsidade diante do homem a quem acreditava amar.
Ela não dispunha de realidade interior para responder à necessidade masculina de
Hamlet. Quando o coração da mulher bate pelo pai, "não há nem pode haver benefício" ["it is
not, nor it cannot come to good"]. Com o pai morto e sem o amado, Ofélia enlouquece. Na
sua insanidade, diz mais verdades do que é conscientemente capaz de dizer. Sozinha entre as
pessoas da corte, com as vestes sujas e os cabelos desarrumados - um passarinho assustado -,
seus olhos estão vazios de tudo, exceto do demônio que a domina. Ela exclama, patética:
Nosso Salvador entrou numa padaria onde o pão estava sendo feito e pediu que lho
dessem. A mulher do padeiro pôs de imediato um pedaço de massa no forno para
assar e lhe dar. Mas sua filha a reprochou; insistindo que o bocado de massa era
grande demais, deixou-lhe apenas um pedacinho. A massa, contudo, passou no
mesmo momento a crescer, alcançando um tamanho descomunal. Diante disso, a
filha do padeiro exclamou: "Hu, hu, hu", som semelhante ao da coruja, o que
provavelmente induziu nosso Salvador a transformá-la, por sua maldade, nessa ave.
Por ironia, Ofélia dá uma descrição de si mesma. Prisioneira das suas necessidades
infantis, ela não consegue reconhecer o estrangeiro/estranho. Não consegue passar da infância
para a idade adulta; por essa razão, é incapaz de responder a Hamlet com o sentimento
maduro que o poria em contato com o seu próprio lado feminino e o salvaria de sua fatal auto-
alienação.
Noutra versão da lenda, é véspera de Natal. A filha do padeiro está de tal modo
ocupada com a preparação do pão de Natal e com a arrumação da casa que fica irritada com o
139
seu tolo pai, que perde tempo dando comida a um vagabundo na porta dos fundos. Dominada
pelos seus afazeres e pelas fantasias relativas ao grande dia, ela não vê a realidade que está
diante dos próprios olhos. O pão que ela nega a Deus alcança "um tamanho gigantesco"; o
mistério que ela rejeita na porta dos fundos materializa-se como um monstro na da frente.
Incapaz de emitir um grito humano, ela deixa escapar por três vezes um som semelhante ao
pio da coruja, sentindo-se transformada num pássaro noturno. Na Grécia, a coruja era a ave de
Atena, símbolo de sua afinidade com as trevas. Atena também só teve pai, tendo brotado de
sua cabeça depois de ele ter engolido a mãe grávida. Ofélia é uma pequena coruja
cambaleante, assaltada pelo próprio feminino inconsciente, por seu pai e pelo que "dizem".
Ela jamais encontra sua própria voz. Nunca encontra o próprio corpo nem os próprios
sentimentos, razão pela qual perde a vida e o amor no aqui e no agora. Aos poucos, as águas
do inconsciente, seu "elemento próprio", a engolem. Descrevendo a sua morte, Shakespeare
diz (através da rainha Gertrudes):
Toda mulher acossada pela obesidade conhece a agonia causada pelo fato de se olhar
no espelho e ver uma coruja refletida. Se se atrever a sustentar o olhar, pode até ver sua cauda
de sereia. A cisão entre a cabeça e o corpo está destruindo a sua vida e ela nada pode fazer
para quebrar o encanto.
Neste livro, quarenta mulheres e eu olhamos a coruja nos olhos com a maior
honestidade possível. Seja qual for o brilho obtido ali, apresento-o nas páginas seguintes.
Sugiro, em termos essenciais, que as mulheres do século XX têm vivido há séculos numa
cultura de orientação masculina que as manteve inconscientes do seu próprio princípio
feminino. Ora, em suas tentativas de encontrarem seu próprio lugar num mundo masculino,
elas têm aceito, inadvertidamente, valores masculinos - vidas orientadas para alvos, impulsos
140
compulsivos e um alimento concreto que não consegue nutrir-lhes o mistério feminino. Sua
feminilidade inconsciente se rebela, assumindo alguma manifestação somática. Neste estudo,
a Grande Deusa ora se materializa na obesa, ora devora a anoréxica. Sua vítima, ao lidar com
o sintoma, pode ter de se defrontar com a própria feminilidade. Somente ao descobrir e amar a
deusa perdida em seu próprio corpo rejeitado, pode a mulher ouvir sua própria voz autêntica.
Este livro sugere maneiras práticas de ouvi-la, explorando o significado do feminino enquanto
este "se arrasta até Belém para nascer" ["Slouches towards Bethlehem to be born"].
WOODMAN, Marion. A Coruja era Filha do Padeiro. Obesidade, Anorexia Nervosa e o
Feminino Reprimido. São Paulo: Cultrix, 1995, p. 8-1.
141
Figura 181 – D.R.
Comentários: ―A vida inteira, eu me escondi. Todo mundo gosta de mim, pelo que eu podia
proporcionar. Tenho que não me importar tanto com a opinião das pessoas pra elas me verem
como uma pessoa legal...‖ (SIC).
―Desenhei o olho da coruja dentro de um coração. Dentro do olho da coruja, a força de
uma guerreira. Com os raios de sol batendo na lâmina da espada. Estou sentindo, olhando pro
desenho, uma sensação de poder indestrutível. Vontade de dizer pra coruja: Eu gostaria de me
espelhar nela!‖ (SIC).
Agora, está sentindo como uma página que virou: desenterrou alguma coisa que
estava ali, ―berrando pra sair pra fora‖. Em um exercício de imaginação ativa, pegou uma
coruja e a soltou. Parece que saiu um pássaro preto dentro de mim.
Ao ser indagada sobre o que a coruja que você soltou está fazendo? A participante
respondeu: ―Ficando por perto para proteger: ela tem um sorriso bem bonito e o olho dela não
é arregalado. Ambas estão sentadas numa pedra, num penhasco e ela me mostrando: olha aí o
mundo que a gente tem pra viver! Estou vendo o mundo pelos olhos dela. Vendo um mundo
lindo, riacho de água branquinha, vento batendo no rosto, sensação de liberdade. Vendo a si
mesma (a coruja vendo-a e emitindo opinião de como vê a D.R.): - Uma parceira, um guia,
uma companheira‖ (SIC.). Ao ser perguntada sobre como vê a coruja ao pousar: ―Uma amiga,
uma protetora, um guia‖.
Análise simbólica das imagens da sessão: A imagem que representava a fixação da infância,
que lhe era mais fóbica, a coruja, que lembrava os olhos do abusador, segundo a própria
participante, nesta sessão, depois de uma grande sequência de trabalhos destinados a esta
transmutação, finalmente foi mudada, como símbolo, para algo luminoso. O Olho do
Masculino sagrado, que lhe dá sensação de proteção, de ser um guia, o brilho do sol na
espada. A ameaça de morte e destruição, transformou-se em proteção. E tudo, acolhido dentro
142
de um coração (símbolo que talvez mais tenha sido utilizado nas sessões) cor-de-rosa. Eis o
seu símbolo de Feminino Sagrado, que surge no exato instante em que nasce o Masculino
Sagrado dentro dela (JUNG, 2010).
Da figura 182, D.R. disse ser a representação de que os casais de flamingos são unidos
para a vida toda. Da figura 183, ela chamou a atenção que esta espécie anda sempre junta, em
143
bandos, formando uma família. Da próxima imagem, figura 184, ela registra que as amizades
são verdadeiras, são companheiras. ―Achei incrível‖ (SIC), diz D.R. com empolgação na voz.
Então, foi solicitado que a participante registrasse tridimensionalmente, com massa de
modelar, um resumo de tudo que aprendeu, sentiu, experimentou como emoção, ao conhecer
um pouco do Flamingo. Ela produziu a figura 185:
Perguntada sobre como que se sente? Respondeu ―Só coisas boas – aquela sensação de
paz. A necessidade de ter um companheiro não me atormenta mais‖ (SIC.).
Comentários: Flamingos fazem amizades duradouras. Os casais são para sempre.
Fêmeas fazem amizades também duradouras e se ajudam a fazer ninhos, vivem 40 anos. E
nesta semana, D.R. faz 40 anos.
Análise simbólica das imagens da sessão: Não é mais necessário buscar nos
dicionários de símbolos uma explicação teórica do Flamingo, pois esta imagem foi construída
lentamente nas sessões, carregada de significados de transformação pessoal do sofrimento da
D.R. para uma situação em que volta a esperar algo do futuro. O Flamingo no Barco e,
posteriormente, a coruja que não mais oferecia medo e, ao final, um casal de flamingos,
oferece imagens potentes e suficientes para poder se inferir que o processo arteterapêutico
levou a participante a mergulhar em seus aspectos sombrios e encontrar dentro de si a
transmutação alquímica na direção de sua individuação. Este símbolo está apresentado aqui
como o Flamingo, do qual pode-se inferir o equivalente a uma fênix para nossa participante.
Das cinzas da morte para um pássaro, livre, que pode voar, que valoriza a família, a
companhia, as amizades, e que vai partir para uma nova casa, um novo estado de alma,
viajando mar adentro (para dentro e para fora, ao mesmo tempo, nas palavras dela, na direção
de um porto seguro), demonstrando simbolicamente que está em seu processo de
individuação. Crendo ser este um símbolo do seu Inconsciente Pessoal, por isso não há porque
buscar as interpretações do Inconsciente Coletivo para o Flamingo.
144
50ª. SESSÃO – 23/03/2022
Título: Avaliação do processo arteterapêutico
Objetivos: Encerramento e avaliação do estágio, agradecimento à participante
Acolhimento: Preparação e a organização do ambiente, utilização de música instrumental no
meio ambiente. Músicas: CD Geometry of Love. Jean Michel Jarre. Warner Music. 2003.
Faixas: Pleasure Principle, Geometry of Love - Part1, Soul Intrusion, Eletric Flesh, Skin
Paradox, Velvet Road, Near Djaina, Geometry of Love – Part 2.
Sensibilização: Momento de lembrar de tudo que foi realizado nas sessões do estágio. Como
se sentia nas primeiras sessões? Como se sente hoje? O que chamou atenção durante o
estágio? Quer fazer alguma crítica, sugestão, reclamação? A voz é sua.
Desenvolvimento prático: Com a palavra, a participante que, livremente, falou. Destaca-se
as seguintes falas:
―Foi nítido, para mim (diz D.R.), até a 25ª sessão, o surgimento dos problemas nas
imagens. Depois a gente ‗resolveu‘ os problemas. As sombras na 26ª, 27ª atividade, não
aguentava mais trabalhar a sombra (e era exatamente quando se mudou a direção sem
combinar)‖ (SIC). ―Consegui sentir na vida a evolução. Vi nos Retalhos do Tempo as coisas
boas e só lembrava coisas ruins‖. Após este comentário, D.R. avalia que na sessão que
ressignificou o caminhão, o frio, o cadeado, a coruja e o respirador, foi outra sessão que
ajudou a dar novos sentidos para as situações. ―Estou conseguindo não me desesperar diante
de um problema‖. Além disso, a participante afirma que está mais proativa. E destaca que
―99% da minha mudança eu consegui tirar da Arteterapia‖.
Pondera, também, que além de si mesma, outras pessoas estão percebendo a mudança
e comentaram. Sente-se mais encorajada, determinada, mais confiante de que é capaz. ―Não
me sinto mais solitária, hoje a companhia da minha filha me basta. Fui transformada da
carência para a autossuficiência‖ (SIC). Amanhã será o aniversário de 40 anos. Não
costumava celebrar a vida. Domingo, vai celebrar o aniversário na casa da mãe. Comprou
balões... Visitou o cemitério e brincou com o esposo, de um jeito leve, divertido, na sua
oração. ―Eu consegui me tornar uma pessoa muito melhor do que eu era‖ (SIC.). ―Gratidão!‖
Disse D.R. para o processo arteterapêutico e o arteterapeuta em formação. ―Se a gente estiver
em mãos de bons profissionais, quanta gente poderia ser salva! A coruja me atormentou a
vida inteira! Hoje vou ver com outros olhos!‖ (SIC.). Assim, com a troca de agradecimentos,
foi feita a despedida, encerrando o estágio de 50 sessões de Arteterapia.
145
Diz Jung (2012), em seu O Espírito na Arte e na Ciência: A análise prática dos artistas
mostra sempre de novo quão forte é o impulso criativo que brota do inconsciente, e também
quão caprichoso e arbitrário. A psique se manifestou, caprichosa e arbitrária, da primeira à
última criação da Participante, conduzindo-nos para dentro e para fora do mundo de D.R.,
simultaneamente. Que ela possa seguir sua Jornada, daqui em frente.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pareceu ter ficado muito evidente a efetiva transformação ocorrida durante o processo
das cinquenta sessões, quer seja revelado nas falas da participante, ou mesmo diretamente na
sequência das atividades expressivas, que iniciaram demonstrando raiva, dor, desamparo, luto,
e terminaram demonstrando esperança, uma perspectiva de continuidade e decisões de seguir
em frente com possibilidade de reencontro com uma boa perspectiva de vida.
Percebeu-se a interação mãe-filha nas sessões, de modo evidente na sincronicidade dos
instantes em que ambas compartilhavam o mesmo sintoma ou sofrimento, também na
ausência da filha quando a mãe necessitava falar sobre algo de sua intimidade adulta, o que
leva a crer o contrário, que a presença da filha era consentida pela mãe justamente quando ela
sabia que a filha se beneficiaria da sessão por trazer o mesmo sintoma. Ao término de cada
sessão, sempre foi dito qual seria o tema da próxima e os materiais necessários. Assim, ambas
decidiam a participação de uma ou das duas. Pode-se afirmar que ambas se beneficiaram do
estágio e que cresceram na qualidade positiva do afeto de sua relação. Destaco que a
participante não conseguia brincar com a filha, no início do estágio. E, ao final, passavam
momentos de qualidade juntas, em atividades lúdicas.
A participante endossou a importância que o Arteterapeuta em formação e,
principalmente, a Arteterapia ocupou em seu processo de elaboração que iniciou como sendo
do seu luto, e terminou como sendo de sua vida.
Percebeu-se que, uma a uma, as cadeiras ofertadas nas disciplinas do curso de
Arteterapia responderam a questões pragmáticas enfrentadas no estágio e, também, davam o
suporte do saber fazer com eficácia para as tarefas sugeridas além do manejo das questões e
demandas espontâneas que surgiram no decorrer do processo. Considera-se que a experiência,
como um todo, foi positiva, não tendo nenhum ponto negativo a observar. Fica registrado o
agradecimento especial à Professora Edeltraud F. Nering pela assessoria, carinho, apoio e
146
prontas respostas que contribuíram imensamente para a harmoniosa realização do aprendizado
mesmo em situação de exceção com a Pandemia e as adaptações necessárias.
5 REFERÊNCIAS
BULFINCH, Thomas (1796-1867). O livro da Mitologia. Trad. Luciano Alves. São Paulo:
Martin Claret, 2013.
HANS ZIMMER E LISA GERRARD. Gladiator: Music From dhe Motion Picture. Decca
Records. 2000.
HELLER, Eva. A psicologia das cores: Como as cores afetam a emoção e a razão. SP:
Gustavo Gili, 2013.
147
JAFFÉ, Aniela. FREY-ROHN, Liliane. VON FRANZ, Marie-Louise. A morte à luz da
Psicologia. São Paulo: Cultrix, 1995.
JUNG, Carl Gustav. O Espírito na Arte e na Ciência. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.
______, Carl Gustav. Chegando ao inconsciente. In C. G. Jung & M. L. von Franz (Orgs.). O
homem e seus símbolos (M. L. Pinho, trad., pp. 18-103). Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2014.
REIS, Alice Casanova dos. Arteterapia: A Arte como instrumento no Trabalho do Psicólogo.
Revista Psicologia: Ciência e Profissão, 2014.
SARA BRIGTHMAN. La Luna. Sob licença de Nemo Studios, Angel Records. 2000.
______, Nise da. Jung: vida e obra. 16.ed. rev. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.
______, Nise da. O mundo das imagens. São Paulo: Ática, 1992.
148
TOSIN, A. R. M. A arte de criar e manipular fantoche como recurso no processo
arteterapêutico. Anais da VI Jornada de Arteterapia e Filosofia: Desafios
Contemporâneos. São Paulo: Arte Sem Barreiras, v. 1, n. 1, p. 128-141, 2014.
VON FRANZ, Marie-Louise. A Interpretação dos Contos de Fada. São Paulo: Col. Amor
& Psique, Paulus, 1990.
______, Marie-Louise. A Sombra e o Mal nos Contos de Fada. São Paulo: Col. Amor &
Psique, Paulus, 2. Ed. 2020.
149
DE ACORDO:
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ANEXOS
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