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SET 2016 a MAR 2017


CONTENTS

Post #1
O Segredo da Maçonaria
Post #2
Do Meio-dia à Meia-noite: Zoroastro e o Ofício Maçônico
Post #3
Maçonaria Feminina
Post #4
Hiram: o Irmão Exaltado de Salomão
Post #5
A Coroa
Post #6
O Avental
Post #7
A Cabala e a Lenda de Hiram
Post #8
Do Ritual
Post #9
Tronco da Viúva
Post #10
A Simbologia da Franco-Maçonaria (Parte I)
Post #11
A Simbologia da Franco-Maçonaria (Parte II)
Post #12
A Simbologia da Franco-Maçonaria (Parte III)
Post #13
Filhos da Luz na Terra Santa: Os Maçons Fundadores da Moderna Israel
Post #14
Gays na Maçonaria
Post #15
A Geometria e o Número na Arte Real (Parte I)
Post #16
A Geometria e o Número na Arte Real (Parte II)
Post #17
O DNA Maçônico
Post #18
Considerações sobre o Rito Moderno ou Francês
Post #19
A incrível história de como os Cavaleiros Templários ‘inventaram’ os bancos
Post #20
O silêncio do maçom
Post #21
A Maçonaria e o legado dos alquimistas
Post #22
Arte Royal
Post #23
O silêncio, voz da Iniciação
Post #24
Em Busca de uma Tradição Inventada
Post #25
O Abrasivo que Afia o Cinzel
Post #26
A Estrela Flamígera
Post #27
A corda de 81 nós: uma visão operativa
Post #28
Procura-se
#1

O Segredo da Maçonaria

Autor: João Anatalino Fonte: João Anatalino


A lenda da Palavra Perdida
A Lenda da Palavra Perdida é uma alegoria cabalística, provavelmente criada
pelos autores gnósticos dos primeiros séculos da era cristã. Ela tem como tema
central a crença no poder do Nome Sagrado de Deus e que este era um segredo
iniciático da maior relevância. Embora os sacerdotes da religião judaica já
trabalhassem com esse tema desde os primórdios da adoção do Javismo como
religião nacional, foi, entretanto, com o entrelaçamento das crenças judaicas com a
filosofia grega, que o tema ganhou maior relevância e passou a integrar o conjunto das
alegorias que davam corpo á doutrina que nós hoje conhecemos como gnosticismo.
Na Maçonaria o simbolismo que envolve o Inefável Nome de Deus é um tema de
grande importância iniciática. De uma forma geral, os maçons adotaram a tradição
cabalística de que o verdadeiro significado desse Nome é um segredo guardado a sete
chaves pelos Mestres da sabedoria arcana. Assim, os ritos maçônicos trabalham com
a ideia de que os sons vocálicos originais do Tetragrama YHVH são interditos ao
vulgo, e a pronúncia correta dessa palavra está confinada á sabedoria de muitos
poucos escolhidos.
Essa ideia está expressa na alegoria da Palavra Perdida, que é desenvolvida no
ritual de alguns graus dos Ritos Escocês e do Arco Real através da Lenda de Enoque
e as Duas Colunas de Bronze. Vejamos em resumo essa lenda a seguir.
As colunas de Bronze
Enoque, durante um sonho que teve, foi informado que Deus tinha um nome secreto
que aos homens não era lícito saber, porque se tratava de uma palavra de grande
poder. Esse nome, Deus o comunicou aos seus ouvidos, mas proibiu que o divulgasse
a qualquer outro ser humano. Nessa ocasião o Senhor o informou também sobre o
castigo que iria ser lançado sobre a humanidade pecadora, através do dilúvio.
O Inefável Nome de Deus era a chave que poderia proporcionar aos homens todo o
conhecimento secreto e um dia, quando fossem merecedores, ele lhes seria revelado.
Mas para que essa Palavra Sagrada não fosse perdida após a catástrofe que destruiria
a humanidade inteira, Deus instruiu Enoque para que a gravasse numa pedra
triangular, numa língua só inteligível aos anjos e a ele próprio (a Cabala). Portanto,
mesmo que alguém descobrisse um dia a grafia do Verdadeiro Nome de Deus, isso de
pouco adiantaria ao seu descobridor, pois a pronúncia dessa Palavra Sagrada lhe
estaria interdita.
Antes do dilúvio havia sobre a terra civilizações bastante desenvolvidas em
termos de artes e ciências. Era uma civilização bárbara, liderada por homens
gigantes, os filhos que os anjos caídos (os nefilins da Bíblia) tiveram com as filhas
dos homens. Essa civilização era má, arrogante e descrente. Por isso Deus anunciou a
Enoque que iria destruí-la. Para preservar os conhecimentos dessas antigas
civilizações Enoque fez com que vários textos, contendo conhecimentos científicos,
fossem gravados em duas colunas, e em cada uma delas esculpiu o nome sagrado.1
Uma delas era feita de mármore, a outra fundida em bronze. Essas colunas ele as
pôs como sustentáculo em um suntuoso templo que mandou construir em um lugar
subterrâneo, só dele e de alguns eleitos, conhecidos. Esse templo tinha nove
abóbadas, sustentadas por nove arcos. No último arco Enoque mandou gravar o Delta
Luminoso, que simbolizava o Nome Inefável, e fez um alçapão onde guardou a pedra
na qual ele havia gravado esse Nome.
Com o evento do dilúvio todas as antigas civilizações foram destruídas e seus
conhecimentos científicos e artísticos perdidos. Noé e sua família, os únicos
sobreviventes dessa catástrofe, nada sabiam dessas antigas ciências. Das colunas
gravadas por Enoque, somente a de bronze pode ser recuperada pelos descendentes
desse patriarca. Nela constava o Verdadeiro Nome de Deus, mas não a forma de
pronunciá-lo, pois essa sabedoria estava escrita na coluna de mármore. Assim, essa
pronúncia permaneceu desconhecida por muitos séculos, até que Deus a revelou a
Moisés em sua aparição no Monte Sinai.
Mas Moisés foi proibido de divulgá-la, a não ser ao seu irmão Aarão, que seria,
futuramente, o Sumo Sacerdote do povo hebreu. Deus prometeu a Moisés, todavia,
que mais tarde o poder desse Nome seria recuperado e transmitido a todo o povo de
Israel. Segundo a tradição cabalística isso só aconteceu nos tempos de Shimon Ben
Iohai, o codificador da Cabala, mas nem todo o povo de Israel compartilhou dessa
sabedoria, uma vez que ela continuou sendo transmitida apenas aos rabinos que
atingiam os graus mais altos na chamada Assembléia Sagrada.
Segundo essa lenda, Moisés havia mandado que o Nome Inefável, com a pronúncia
correta, fosse gravado em uma medalha de ouro e guardado na Arca da Aliança
juntamente com as tábuas da lei. Dessa forma, o Sumo Sacerdote, em qualquer tempo,
poderia compartilhar dessa sabedoria e invocar o Grande Arquiteto do Universo na
forma correta.
Esse era o segredo da Schehiná, ou seja, a estratégia segundo a qual Deus se
manifestava ao povo de Israel, através da Arca da Aliança. Porém, a Arca da Aliança
foi perdida em uma batalha que os israelitas travaram contra os sírios. Mas, guardada
por leões ferozes, os sírios nunca conseguiram abri-la e mais tarde ela foi recuperada
pelos sacerdotes levitas. Durante as batalhas que o povo de Israel travou contra os
filisteus pela posse da Palestina, a Arca foi perdida mais uma vez, sendo capturada
pelo exército inimigo. Os filisteus, que não sabiam do poder que tinham nas mãos,
fundiram a medalha de ouro com o Nome Inefável e a colocaram num ídolo dedicado
ao Deus Dagon.2
Esse foi um dos motivos pelos quais Deus instruiu Sansão para que este praticasse
seu último ato de força no Templo dos filisteus em Gaza, matando um grande número
deles. E dessa forma o registro escrito dessa Palavra foi perdido para sempre.
Assim, durante longo tempo a forma de pronunciar o Nome Inefável ficou oculta,
até que Deus o revelou a Samuel e este o transmitiu aos reis de Israel, Davi, e depois
a Salomão.
Após construir o Templo de Jerusalém, (que reproduzia a forma e a estrutura do
templo construído por Enoque, inclusive com os nove arcos, onde, no nono, se erguia
o Altar do Santo dos Santos, no qual a Arca da Aliança estava depositada), Salomão
determinou a Adoniran, Stolkin e Joaben a construção de um templo dedicado á
Justiça. Estes, após escolher e cavar o terreno para a preparação dos alicerces
verificaram que o lugar escolhido era exatamente o mesmo onde Enoque havia
construído o seu templo. Após demoradas pesquisas e árduos trabalhos escavando as
ruínas, descendo a diversos níveis subterrâneos, os mestres destacados por Salomão,
sob o comando de Adonhiran, descobriram a coluna de bronze onde o sagrado Delta
estava gravado. Foi essa coluna que serviu de modelo para Hiram fundir as duas
colunas de bronze que ornavam o Templo de Salomão.
Dessa forma, o Verdadeiro Nome de Deus foi recuperado e pode ser transmitido ao
povo de Israel na sua forma escrita, mas a sua pronúncia permaneceu um segredo
compartilhado por poucas pessoas, pois a coluna de mármore, onde essa sabedoria
estava inscrita, fora destruída pelo dilúvio. Somente Salomão, o Rei de Tiro e os três
mestres que desceram ao subterrâneo detinham esse conhecimento, pois este lhes fora
transmitido pelo profeta Samuel, antes de morrer. Com o desaparecimento daqueles
personagens, ficou perdida novamente a pronúncia da Palavra Sagrada.
Os mórmons e a Lenda de Enoque
Esse é o conteúdo da lenda maçônica, que revela um conhecimento iniciático de
grande relevância, pois o personagem Enoque não é exclusivo da tradição hebraica.
Ele, na verdade, é um arquétipo presente na mitologia de vários povos antigos e
cultuado como “mensageiro dos deuses” e arauto do conhecimento divino, transmitido
aos homens na terra.
No Egito ele era associado ao deus Toth, que teria trazido aos homens o
conhecimento da escrita, da metalurgia e da agricultura. Na Grécia foi conhecido
como Hermes, o Senhor da Magia e da ciência. Na tradição celta havia um
personagem análogo, que ficou conhecido na mitologia daquele povo como Merlin, o
mago, guardião dos portais do conhecimento. Entre os maias ele foi Quetzacoatal, o
civilizador, que trouxe para aquele povo o conhecimento que ostentava aquela antiga
civilização.
Em todas essas tradições, o personagem aparece como guardião das chaves do
conhecimento, que antigas civilizações ostentaram e perderam em virtude do mau uso
que fizeram deles.
A lenda maçônica, tal qual ela aparece nos rituais, não será encontrada nos
chamados apócrifos de Enoque. Ela provavelmente foi inspirada nos textos dessas
obras, mas não consta textualmente delas. Vale registrar que ela encontra um curioso
paralelo no Livro de Mórmon, onde um personagem chamado Mórmon, referido como
profeta-historiador, invoca os conhecimentos de uma antiga civilização que teria sido
a antecessora dos maias, astecas e incas, as grandes civilizações da América.
Um desses livros registra o ministério pessoal que Jesus Cristo teria desenvolvido
junto aos povos americanos logo após a sua ressurreição, ensinamentos esses que
teriam sido registrados por Mórmon, que os entregou ao seu filho Morôni, que por seu
turno os ocultou em um monte chamado Cumora. Durante cerca de dezoito séculos
esses ensinamentos, que haviam sido gravados em placas de ouro, ficaram perdidos.
Mas em 21 de setembro de 1821 Cumôni teria aparecido a um maçom- profeta de
nome Joseph Smith e mostrado o lugar onde as placas estariam escondidas. Depois
ensinou ao mesmo Smith como decifrar e traduzir para o inglês os referidos escritos.
Assim nasceu o Livro de Mórmon, Bíblia da Igreja dos Santos dos Últimos Dias.
Trata-se, como se vê, de uma curiosa versão da lenda maçônica das Colunas de
Enoque, e não é possível saber no que uma influenciou a outra. Considerando que
tanto o profeta-historiador Joseph Smith, quanto seu sucessor no comando da Igreja
mórmon, Brigham Young, eram maçons, bem como um bom número dos primeiros
líderes dessa seita, pode-se especular que eles tinham conhecimento dessa fonte e a
utilizaram para compor o seu curioso trabalho.
A Lenda de Enoque na Maçonaria
A lenda de Enoque, na tradição maçônica se refere ás viagens que o iniciando tem
que fazer, a exemplo dos três Mestres de Salomão, para encontrar a Palavra Sagrada.
Simbolicamente, para o maçom, essas viagens equivalem a uma descida dentro de si
mesmo a fim de liberar a luz que existe dentro dele. Aqui temos novamente a
evocação, tão cara aos gnósticos e aos alquimistas, da necessidade de encontrar
“dentro de si mesmo” aquela energia que faz o homem integrar-se à divindade.
Diz a lenda maçônica que com a perda do verdadeiro significado, o Nome Sagrado
foi substituído pelas iniciais IHVH, que depois de pronunciada é coberta com três
Palavras Sagradas, três sinais e três palavras de passe; somente após o cumprimento
desse ritual se chega ao Nome Inefável. De acordo com essa tradição, os cinco
primeiros iniciados no grau de Cavaleiro do Real Arco foram os próprios reis
Salomão e Hiram, rei de Tiro, e os três Mestres que descobriram o templo sagrado de
Enoque. Um juramento de não pronunciar o Verdadeiro Nome de Deus em vão foi
feito pelos mestres recém-eleitos, juramento esse que se repete na elevação ao
referido grau.
Diz ainda a lenda que mais tarde outros Mestres foram admitidos nessa sabedoria,
até o numero de vinte e sete, sendo a cada um deles distribuído um posto. Outros
Mestres, que tentaram obter o grau sem o devido merecimento receberam o justo
castigo, sendo executados e sepultados no subterrâneo onde a pedra gravada com o
Nome Inefável fora encontrada.3
A cristianização da lenda
Por fim, cabe considerar que a Maçonaria cristã se apropriou dessa lenda para
aproximá-la da tradição associada com o magistério de Jesus Cristo. Essa
transposição iniciática foi feita pelos adeptos da filosofia rosa-cruz, que
incorporaram nela a mística da paixão, morte e ressurreição de Cristo. Assim, a
Palavra Perdida passou a ser soletrada pelas iniciais da inscrição que Pilatos mandou
colocar na cruz de Jesus: INRI, que na tradição rosacruciana designa as iniciais de
uma de suas mais significativas metáforas.
Isso porque INRI é um acróstico da frase “Ígnea Natura Renovatur Integra”, que
quer dizer “a natureza se renova pelo fogo”, metáfora alquímica que simboliza o
processo pelo qual os alquimistas obtinham a pedra filosofal, ou seja, diluindo e
recompondo a matéria prima da obra infinitas vezes até atingir a sua “alma”. Assim,
Pilatos, na verdade, estaria revelando, nos dizeres colocados na cruz de Cristo, o
processo segundo o qual nossas almas poderiam obter a salvação, ou seja, morrendo e
revivendo infinitas vezes, até depurar por completo o “grão de luz” que constitui o seu
núcleo. Dessa forma, o corpo de Jesus simboliza a “matéria prima” da Grande Obra
de Deus.
Para os maçons, todavia, face á influência dos pitagóricos e dos gnósticos, a
questão que está ligada ao Verdadeiro Nome de Deus exprime também as idéias que a
Maçonaria tem de tempo infinito, espaço infinito, a vida infinita, enfim, todas as
manifestações da essência divina na realidade universal, que são tanto adjetivas
quanto substantivas. Explicando que nenhum dos nomes de Deus adotados pelo
homem é considerado pela Ordem como certo e definitivo, a Maçonaria sugere que o
Irmão apenas admita que Deus existe, mas não lhe dê nenhum nome nem tente
conformá-lo á uma imagem, pois que esse conceito não pode ser reduzido á fórmulas
que a mente humana pode desenvolver.
Esse postulado sugere ainda que o espírito humano está ligado á essência primeira
e única de todas as coisas e não necessita de quaisquer outros canais de ligação com a
Divindade, a não ser a sua própria consciência e a sua sensibilidade.
Assim, pode-se dizer que para a Maçonaria o simbolismo do Nome Sagrado está
no ensinamento iniciático que ele veicula. Esse ensinamento nos diz que existe uma
chave, uma palavra, um verbo, a partir do qual todas as coisas foram e são
construídas. Essa palavra, esse verbo, se traduz pelo Inefável Nome de Deus,
verdadeiro e único Principio Criador, imutável e apriorístico, de onde tudo emana e
para onde tudo um dia retorna. É uma inspiração que vem do Evangelho de São João,
onde se diz que no principio era o Verbo, o Verbo era Deus, e um Deus era o Verbo.
Que ele estava no inicio com Deus e nada do que foi feito foi feito sem Ele, e tudo o
que foi feito, foi feito por Ele. Na doutrina joanista, esse Verbo, o Logos, é o atributo
de Jesus Cristo, pois este, sendo o Filho de Deus, é feito da mesma essência do Pai e
representaria a própria encarnação divina na terra. Assim, para os cabalistas cristãos,
Jesus é a própria Shehiná, a manifestação divina no mundo.
A Palavra Perdida é o “Logos”
A Bíblia diz que quando Deus se apresentou a Moisés no Monte Sinai ele não disse
qual era seu nome. Ele, conhecido pelos israelitas como oInominado, por ser absoluta
potência, não tinha um nome que pudesse ser pronunciado por lábios humanos. Ele
Era. Por isso Ele disse “Eu sou”, significando com isso que Ele era o Verbo Divino, a
partir do qual tudo o que existe no universo toma forma e consistência. Ser é a
qualidade essencial de Deus. Qualidade essa que Ele transmitiu aos homens quando
lhes deu nome e consciência de si mesmos.
Porque todo verbo é uma potência a ser desenvolvida. E todo verbo, em si mesmo,
não tem sentido nem significado se não tiver um predicado. Deus então criou o
universo para que ele fosse o seu predicado, da mesma forma que os homens têm uma
missão a cumprir, missão essa que os predica.
Isso significa que o Verbo, transmitido ao homem na forma do seu espírito, o fez
senhor da criação terrestre. E como o homem aprendeu a articular “eu sou”, teve
também que perguntar a si mesmo “o que?” E foi para responder a essa inquietante
pergunta “eu sou o que?”, que ele também se viu obrigado a construir um predicado
para si mesmo. Esse foi o detalhe que fez a diferença entre os homens e as outras
espécies animais.
Por isso é que “ser é verbalizar”. Ser é dar sentido á existência, é ter uma resposta
para a pergunta: o que somos nós? Em certos momentos da vida até podemos
confundir o ser com “estar” ou “ter”. Mas estar vivo não é ser vivo, estar feliz não é
ser feliz, e ter algo que se parece com vida ou felicidade não é ser realmente vivo e
feliz. Ser é um estado de perfeita organização interior que não pode ser afetado por
nenhum acontecimento exterior.
É nesse sentido que a Maçonaria adota como núcleo simbólico a procura da
Palavra Perdida, alegoria que evoca o poder místico que o Verdadeiro Nome de Deus
possui. A Palavra Perdida é o chamado Nome Inefável, cujo conhecimento confere ao
seu detentor o supremo conhecimento, senha necessária, segundo as tradições
gnósticas e cabalistas, para o homem possa entrar no céu, depois de subir todos os
graus da Escada de Jacó. E nessa alegoria tipicamente cabalista está presente todo o
conteúdo iniciático da proposta espiritual da Maçonaria. E na Maçonaria, como na
Cabala, esse é o seu verdadeiro e único segredo.

1 A Bíblia se refere aos três descendentes de Cain, Jubal, Jabel e Tubal-Cain como aqueles que iniciaram a
civilização nas técnicas da agricultura, pastoreio e metalurgia. 2 Conforme o ritual da Maçonaria. 3 Aqui se
encontra outra referência á Lenda de Hiram.

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#2

Do Meio-dia à Meia-noite: Zoroastro e o Ofício Maçônico

Autor: Tiago Roblêdo


Fonte: Pedra Oculta
A jornada dos trabalhos e Zoroastro
Na abertura e também no encerramento dos trabalhos maçônicos figuram curiosas
perguntas acerca da jornada de trabalho dos Maçons. A resposta é que tais trabalhos
se iniciam ao Meio-Dia e se findam a Meia-Noite. Mas que mistério encerra trabalhar
do Meio-Dia à Meia-Noite? A Tradição Maçônica usualmente afere tal hábito a
Zaratustra, fundador e iniciador da religião persa do Zoroastrismo.
Zoroastro
Por volta de 700 a.C. teria nascido numa vila nas estepes da Ásia Central, atual
Irã, perto do Mar de Arai, um menino. Seus pais decidiram dar-lhe o nome de
Zaratustra (ou Zoroastro, versão grega de seu nome, como é mais conhecido). Ao
nascer, segundo a tradição, Zoroastro não teria chorado, pelo contrário, teria rido
sonoramente.
Na vila, entretanto, havia um sacerdote que teria percebido de imediato, que
aquela criança era distinta e, portanto, poderia vir a se tornar uma ameaça a aqueles
que dominavam as crenças do povo. Dessa forma, ele, então, decidiu reagir e
procurou Pourushaspa, o pai de Zoroastro, afirmando que seu filho era um mau
presságio para sua vila porque havia rido ao nascer e que, além disso, que ele teria
em si um demônio. Tal sacerdote então teria ordenado a Pourushaspa a matar seu
filho1 ou os deuses iriam destruir suas criações e plantações.
Pourushaspa não queria ferir seu filho, mas o sacerdote insistiu e impôs uma prova.
Na manhã seguinte, Pourushaspa faria uma grande fogueira colocando Zoroastro no
meio do fogo, mas a criança acabaria por não sofrer dano algum.
O sacerdote então demandou que Zoroastro fosse levado para um vale estreito e
colocado no caminho de uma manada de mil cabeças de gado, a fim de ser pisoteado.
O primeiro boi da manada percebeu a criança e ficou parado sobre ela, protegendo-a,
enquanto o resto passava ao seu lado, e a criança novamente não teria sofrido dano
algum.
Zoroastro por fim teria sido colocado na toca de uma loba que, ao invés de
devorá-lo, cuidou dele até que Dugdav, sua mãe, viesse buscá-lo. Diante de tantos
prodígios o sacerdote ficou humilhado e exilou-se da vila.
A partir de então vivendo uma vida voltada para a meditação Zoroastro passou a
viver isolado, habitando no alto de uma montanha, em cavernas sagradas2. Já com a
idade de trinta anos recebeu a revelação divina por meio de visões.
Assim, Zoroastro começou a missão de divulgar as suas ideias. Entretanto, ele
encontrou dificuldade para converter as pessoas à sua nova fé que diferia em muito
daquelas então praticadas. Aos 40 anos, Zoroastro conseguiria converter o rei
Vishtaspa, que o passaria a respeitá-lo e ouvi-lo após ter sido o único, entre todos do
reino, a conseguir curar o seu corcel que tinha sido envenenado, tornando-se um
fervoroso seguidor.
Dessa forma, Zoroastro iniciou a difusão de seus ensinamentos que pretendiam, de
maneira geral, reformar e sistematizar o antigo e tradicional politeísmo persa, dando-
lhe uma base ética e moral. Além disso, Zoroastro buscava a reforma das condições
sociais que prevaleciam na época. Assim sendo, denunciou a desorganização do
nomadismo e lutou pela fixação do homem a terra, introduzindo a prática da
agricultura e outras técnicas.
A religião que Zoroastro pregou espalhou-se por todo atual Irã e por outros países,
e influenciou o desenvolvimento posterior do Judaísmo, do Cristianismo e do
Islamismo. Segundo a tradição, Zoroastro teria morrido aos 77 anos assassinado3
enquanto rezava no templo, diante do fogo sagrado.
Do zênite ao nadir
O prolifico escritor maçom J.M. Ragon afirma que “A Maçonaria é como a fé de
Zoroastro” reforçando ainda mais os encontros entre Zoroastro e a Tradição
Maçônica, e discorrendo ainda mais:
“A explicação corrente, apenas aceitável para um homem que tem espírito crítico,
é que o homem aprende durante a primeira parte de sua vida e é somente quando
chega ao meio-dia de sua existência que ele se torna útil à comunidade. Mas então,
meia-noite corresponde à morte, as horas antes do meio-dia são visivelmente mais
fecundas e úteis que os anos enfraquecidos da velhice.
Astrologia traz uma significação muito mais profunda a esta fórmula. Sabe-se que
por analogia com a divisão do ano em doze meses ou signos, a Astrologia divide o
dia em doze casas […], possuindo cada uma o seu caráter nitidamente determinado.
Neste sistema, meio-dia corresponde à casa X, o pôr do sol à VII e meia-noite à VI.
Ao meio-dia, o Sol sai da X casa horoscópica, a dos negócios e da situação social,
para voltar a entrar na IX, a da religião e do impulso espiritual. O homem, portanto,
despe-se das coisas exteriores para voltar-se para o interior de si mesmo, para um
mundo sutil e não material. A X casa é a dos negócios e das distinções sociais que é
preciso abandonar ao serem abertos os trabalhos de caráter filosófico, caráter que é
da própria essência da IX casa.
Depois da IX, o Sol atravessa a VIII casa, a da morte, da desagregação do antigo e
do nascimento sobre um plano superior. Vários astrólogos deram a esta parte do céu
(e só esta parte) o sentido da Iniciação. Depois vem a VII casa, a do amor não físico,
da dedicação e da vida social. Nascido num plano novo, o Maçom traz aqui o seu
óbolo à Sociedade, tanto mais que a VI, que é a casa horoscópica seguinte, é a do
serviço. Pode-se interpretar também esta passagem da VII à VI casa horoscópica
como indício de que o Maçom não espera recompensa de sua ação social, mas que se
prepara, ao contrário, para encontrar os espinhos da VI casa. O que quer que seja,
deste serviço nasce a criação, que é a síntese da V casa depois da qual o ciclo
termina pela IV, cujo sentido principal é o fim das coisas.
Portanto, esta curta fórmula, ritualística já oferece o resumo da evolução iniciática,
sem falar de cada parte do dia, que possui uma influência real, mas ainda pouco
conhecida pela nossa ciência, pois esta influência começa apenas a ser estudada pela
astrofísica. Os longínquos criadores do nosso ritual tomavam certamente em
consideração esta variação do influxo cósmico no decorrer do dia, de maneira que as
horas do trabalho maçônico tinham somente o significado esotérico que acabamos de
indicar, mais também constituíam a prova consciente das forças cósmicas em vista da
iniciação.”
Outras alusões dão conta que o Meio-Dia é à hora em que o Sol se encontra no
zênite, no pico de sua elevação, antes de desbancar para o poente. Simbolicamente, a
hora em que começam os trabalhos na Oficina Maçônica. Outra, é que a contagem
temporal entre determinados povos antigos era diferente, onde o dia era dividido em 2
partes de 12 horas cada e se iniciaria na noite do dia anterior, assim o Meio-Dia seria
equivalente às 6 horas, ou seja, ou trabalhos maçônicos se dariam nas 12 horas as
quais o sol opera. Tal medição de tempo teria sido posteriormente adotada pelas
agremiações de pedreiros na Idade Média.
Com efeito, nos tempos antigos, quando as artes e ciências não possuíam um
caráter laico e estavam intimamente (chegando a confundir-se) associadas às escolas
de mistérios e religiões, a astrologia/astronomia foi elemento preponderante para os
primitivos Maçons Operativos.
As primeiras construções quais não possuíam apenas função de abrigo/defesa eram
destinadas a prática religiosa que por sua vês estavam imbricadas de fatores
astronômico-astrológicos. Afinal, os astros eram a única forma de medir o tempo, e a
mediação do tempo era essencial à perpetuação da humanidade, principalmente em
tempos longevos quando o ambiente era hostil em relação a ainda frágil cultura
humana.
Dada a importância da mecânica celeste para os antigos construtores, o Sol como
maior luminar do firmamento e regente das estações certamente assumiria papel
central entre estes. O Sol passava a figurar como o maior símbolo da Lei Divina,
afinal, era o motriz do firmamento e das evoluções do tempo. Os antigos iniciados
passaram a decodificar o comportamento dos astros em princípios para o
comportamento humano, e Zoroastro em suas meditações encontrava-se dentre tal
grupo.
A altíssima morada
Zoroastro como outros iniciadores das antigas escolas de mistérios, compreendiam
os céus como a morada da divina, como fica explicitado no verso4 abaixo:
“A recompensa que Zoroastro prometeu aos Magos5 e a todos os seguidores desta
crença é Garo-Nemana ou a Casa dos Hinos e Louvor, o Paraíso. Esta morada tem
sido a Casa nas Alturas aonde Ahura Mazda mora por toda a Eternidade. Esta
recompensa que é uma dádiva divina que apenas se pode obter mediante os
pensamentos puros e a verdade, isso eu lhes prometo.”
Essa compreensão que os céus eram a morada do divino por vezes era tanto
metafórica quanto literal, o que voltava parte dos estudos iniciáticos a observação (e
registro) do firmamento, e esse fato permeia a obra de Zoroastro6:
“Tais pessoas denunciam como o maior dos pecados contemplar o sol e a terra
com respeito, ainda assim subvertem os ensinamentos sagrados. Eles convertem aos
de mente pura em seguidores da falsidade, destroem a vegetação e se utilizam armas
contra a gente honrada.”
Neste verso fica a interpretação que a contemplação das evoluções do sol e da
terra permite a seu observador conclusões morais, como o respeito aos ensinamentos
sagrados, ao meio ambiente e as pessoas honradas.
OH Ahura Mazda, Zarathushtra escolheu para si mesmo a pura sabedoria como seu
guia. Que a verdade e a honradez fortaleçam nossas vidas materiais. Que o poder
espiritual junto com a fé e o amor iluminem nossos corações como resplandecentes
raios de sol. Concede recompensa, OH meu Senhor, às pessoas que fazem suas ações
seguindo uma mente pura e a sabedoria.
Aquele que sempre pensa em sua própria segurança e benefício, como pode amar a
Mãe Terra que nos provém felicidade? O homem honrado que segue a Lei de Asha
viverá aonde Teu Sol é resplandecente, a morada aonde vivem os sábios.
As ações que tenho realizado no passado e aquelas que serão realizadas no futuro,
que sejam todas dignas ante Ti. O brilho do sol e os resplandecentes amanheceres de
cada dia refletem Tua Glória de acordo com Asha, OH Mazda Ahura.
Outra alusão usualmente empregada pelas Tradições Maçônicas, o sol como agente
iluminador, tanto no sentido físico quanto intelectual (as ciências que como o sol
vieram do Oriente ao Ocidente) e espiritual. A luz assume ao clarear os olhos e
liberar as vistas o viés do conhecimento, que ilumina o coração do iniciado.
Isto Te peço, OH Ahura e desejo que me diga em verdade. Qual poder mantém a
terra e os céus apartados e previne que estes últimos se precipitem?
Isto Te peço, OH Ahura e desejo que me diga em verdade. Quem foi o Criador e
Pai Primevo da Verdade? Quem determina o percurso do sol e das estrelas? Quem faz
à lua crescer e minguar a seu tempo? Tudo isto e além de muitas outras coisas desejo
conhecer, OH Mazda.
Quem é o Criador das águas e das plantas? Quem lhe proporciona velocidade ao
vento e faz pairar desde longe as nuvens escuras e saturadas de chuva? Quem é o
Criador que inspira Vohuman, OH Mazda?
Zoroastro deixa explícito seu anseio de conhecer os princípios da mecânica e
estrutura celeste, suas órbitas, fases e também quanto aos eventos atmosféricos dos
céus, suas correntes e climas. Tal conhecimento principiaria da Verdade Primeira e
poderia fazer retornar a ela.
Vohuman e Asha
A influência zoroastriana nas Tradições Maçônicas tem a astronomia/astrologia
como princípio, mas não como fim. Essas correntes se cruzam em mais de uma
instância, e a principal delas é a moral. Como os egípcios (e sua Ma’at), Zoroastro
entendia que os aspectos por qual a Divindade se manifesta a humanidade devem ser
alcançados através dos Bons Pensamentos (Vohuman) e da Verdade (Asha), ideal que
coaduna plenamente como a moral maçônica.
A influência da obra deste iniciador da Antiguidade pode ser sentida não apenas
nos anais da Maçonaria, mas também nas grandes crenças que vieram após esse
período. Elementos como uma divindade una e suprema, a salvação pela virtude, a
punição pelas faltas cometidas, uma vida futura (post-mortem), o paraíso celestial (e
o inferno), o dia do julgamento, a vinda de um salvador etc. já estavam ali presentes
antes do Judaísmo, do Cristianismo e do Islamismo os apresentarem.
O bem e o mal existem antes de tudo dentro do próprio ser, e estão sempre em
conflito. Como o homem conduz seus pensamentos, palavras e ações são o que
definirá qual lado será triunfante. Entretanto, para que o bem triunfe, não basta o
progresso unicamente pessoal, se faz necessário que o homem trabalhe em função da
conservação e avanço do sagrado, do mundano e da humanidade em si, combatendo
todas as formas na qual o mal se manifeste. Ou seja, se faz necessário levantar
Templos a Virtude e Masmorras ao Vício…

1 Aqui não se poderia deixar de mencionar a alusão à outra alegoria empregada pela Tradição Maçônica, o
sacrifício de Isaac por seu pai Abraão pelo mesmo motivo: Oferecer sua progênie em sacrifício para aplacar uma
demanda divina. 2 Para certos povos da Antiguidade, as cavernas eram os mais altos Templos, pois seriam
habitações “erigidas” de forma natural, ou seja, pela arquitetação Divina. 3 Aqui uma similitude mais pungente com
a Tradição Maçônica, especificamente com a própria Lenda do Assassinado de Hiram Abiff. Tanto Hiram quanto
Zoroastro teriam sido assassinado por traição de seus pares em um Templo. 4 Para a melhor análise do tema,
demandou-se uma tradução do texto zoroastriano denominado “Os Gathas”, cuja tradução e adaptação integral
encontram-se apensada a este trabalho. 5 Outra paridade entre as Tradições Maçônicas e Zoroastrianas, Zoroastro,
assim como os Maçons, também operava em uma fraternidade ou irmandade, denominada “A Irmandade dos
Magos” ou “A Assembleia dos Magos”. O termo “Mago” ou “Magi” (plural do termo persa magus, significando
tanto “imagem” quanto “[homem] sábio”, do verbo cuja raiz é meh, “grande”) é um termo usado desde o século IV
a.C. para denotar um seguidor de Zoroastro. O termo ainda denominaria um seguidor do que a civilização helenista
associava com o Zoroastro, o que, em suma, era a habilidade de ler as estrelas e manipular o destino que elas
previam. 6 Que como citado anteriormente era iniciado e iniciador na astronomia, além disso, outra evidência está na
forte associação dos seus seguidores (os magos) com a observação celeste.

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noite-zoroastro-e-o-oficio-maconico/
#3

Maçonaria Feminina

Autor:Pedro Neves e Péricles Neves Fonte: Pedro Neves


Em uma sociedade justa e perfeita, a luta pela Igualdade deve ser constante, assim
como, pela Liberdade e Fraternidade.
A maçonaria que visa o aperfeiçoamento Moral e espiritual do ser humano, não
pode se omitir e lavar as mãos na questão feminina e outros grupos minoritários,
deficientes físicos, homossexuais, outros grupos maçônicos, etc. A presença da mulher
nas fraternidades iniciáticas, sempre se fez destacar. Assim como, na maçonaria da
Inglaterra, França, Bélgica, Portugal, EUA, Brasil ou na Rosa Cruz, Martinismo, etc.
Na maçonaria brasileira tolera-se apenas em ordens tuteladas (Fraternidades
Femininas, Filhas de Jó, Estrela do Oriente, Filhas do Nilo, Garotas do Arco-iris,
etc).
As mulheres que em épocas não tão distantes, viviam sob a tutela masculina, do
Pai, Marido ou Companheiro, hoje vivem a era da Igualdade social, no lar, no
trabalho, ciência e cultura.
A França, sempre ela, em 1774, é a primeira nação a reconhecer lojas criadas para
admitir somente o então chamado sexo frágil. Lojas de Adoção, com esse nome,
porque elas eram mantidas sob a tutela de Lojas masculinas, isto, porque ainda não
eram consideradas iguais.
A imperatriz Josefina, mulher de Napoleão Bonaparte, foi Grã-Mestra.
A Loja Les Libres Penseurs du Pecq, em 14/01/1882, iniciou Marie Deraisme, que
seria fundadora do Le Droit Humain, em 04/04/1893, Loja mista que admitia a
Igualdade entre homens e mulheres.
A maçonaria não pode se dar ao luxo de dispensar os serviços da mulher, como
mãe, esposa, filha, companheira ou amiga, ela é necessária em nossas obras
assistênciais filantrópicas, eventos festivos, culturais e espirituais.
A maçonaria feminina (adoção), ou a mista (Os Direitos Humanos), é uma
realidade. Existem lares onde marido e mulher, são irmãos, mas não podem se
intervisitarem em virtude de não reconhecimento, vivendo uma situação esdrúxula.
Nossos rituais maçônicos do Rito Escocês Antigo e Aceito, realmente foram
criados visando apenas a iniciação masculina (existem rituais com abrangência a
cerimônias mistas ou femininas, o Ritual de Lauderdale é um deles e os sinais, toques
e palavras são iguais), nós vivemos hoje, uma tradição em que temos por parceiros de
mentalidade, apenas a Igreja Católica.
É indiscutível o imenso número de mulheres que suplantam os homens em todos os
segmentos da sociedade.
Os antigos mistérios, sempre tiveram a brilhante participação feminina.
Até mesmo, a mais tradicional instituição maçônica, a Grande Loja Unida da
Inglaterra, reconhece a convivência com Lojas femininas.
(…)
Mulheres e maçonaria
Existe, na Inglaterra e País de Gales, pelo menos duas Grandes Lojas somente para
mulheres. Com exceção do fato de que esses corpos admitem mulheres, eles são, por
outro lado, tanto quanto pode ser assegurado, regulares na sua prática. Há, também,
um que admite tanto homens quanto mulheres para associação. Eles não são
reconhecidos por esta Grande Loja e a intervisitação não pode ocorrer. Há, porém,
discussões informais, de tempos em tempos, com as Grandes Lojas de mulheres, sobre
assuntos de mútuo interesse. Os Irmãos são, portanto, livres para explicar a não
Maçons, se perguntados, que a Maçonaria não está confinada aos homens (ainda que
esta grande Loja não admita, ela própria, mulheres). Mais informações sobre esses
corpos podem ser obtidas escrevendo para o Grande Secretário. (Extraído do
Relatório da Diretoria de Assuntos Gerais, adotado em 10 de Março de 1999).

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#4

Hiram: o Irmão Exaltado de Salomão

Autor: Desconhecido Fonte: Pedra Oculta


Por que Hiram Abiff foi tão importante a ponto de seu nome, e não o de um rei
ilustre como Salomão, ser reverenciado no mundo maçônico por quase 3.000 anos?
Uma tentativa de resposta pode ser dada a essa pergunta e, embora essa explicação
seja baseada mais em evidências circunstanciais do que em fatos, é um enredo que
daria certa lógica a respeito da história dessa época.
A seguir a história maçônica de Hiram Abiff: Hiram não era simplesmente um
arquiteto secular (exotérico), era também um arquiteto de alto escalão maçônico
(esotérico), supostamente, uma das três pessoas do mundo que guardavam os
verdadeiros segredos da Maçonaria. No entanto, enquanto trabalhava na construção
do Templo de Salomão, três rufiões tentaram forçá-lo a contar tais segredos. Por
alguma razão não explícita pela Tradição Maçônica, todos esses homens tinham em
seus nomes o prefixo “Jubel”. Durante a peleja que se seguiu com essas pessoas,
Hiram Abiff foi morto com três golpes na cabeça, tendo seu corpo sido ocultado.
Alguns de seus companheiros maçons mais tarde encontraram seu corpo e voltaram
imediatamente para contar tudo ao Rei Salomão, o rei ordenou que o corpo de Hiram
fosse sepultado com todos os direitos que seu cargo lhe conferia.
Essa história é centrada na época do reinado de Salomão, e, no entanto, parece ter
certa correlação com a morte do Príncipe Absalão, irmão mais velho de Salomão. O
Príncipe Absalão era filho do Rei Davi, e empreendeu uma rebelião contra o governo
de seu pai. Após uma batalha intensa, Absalão foi morto por Joabe com três lanças
cravadas no peito. Seu corpo foi então atirado em um precipício e coberto com
pedras. Dois mensageiros foram imediatamente enviados ao Rei Davi pra informá-lo
do ocorrido, posteriormente um grande mausoléu foi, ou teria sido, construído para
Absalão pelo rei.
Princípe e arquiteto
Embora haja inúmeras diferenças entre essas duas histórias, há também
semelhanças, portanto, vale a pena verificar se haveria alguma explicação plausível
para essas diferenças. Eis os pontos de discrepância:

1. A Tradição Maçônica refere-se ao Rei Salomão, enquanto a versão bíblica refere-


se ao Rei Davi. De fato, essa talvez seja mais uma explicação do que um
problema. Apesar da construção do Templo de Jerusalém ser atribuída ao Rei
Salomão, a iniciativa da compra dos materiais e da construção foi do Rei Davi.
Além disso, os textos bíblicos indicam que houveram dois indivíduos chamados
Hiram (e que eram correlacionados). Como havia dois Hirans (talvez parentes)
contemporâneos a dois reis diferentes, não é de se estranhar que possa ter havido
alguma confusão. Embora os textos bíblicos indiquem que o Hiram Abiff pudesse
ser o mais novo dos dois Hirans, a ligação com o Príncipe Absalão denuncia a
probabilidade de o herói maçônico ser, na verdade, Hiram, o Ancião, dito “Rei de
Tiro”.
2. O Kebra Nagast (“O livro da Glória dos Reis”) registra claramente que o Rei
Salomão (ao menos conjuntamente) supervisionava as obras do Templo e, como
era um príncipe substituto devido ao assassínio do Príncipe Absalão, é muito
provável que Absalão também fosse um construtor. Naturalmente, a profissão
aludida aqui era tanto construtor no sentido exotérico como no esotérico, portanto,
tanto Salomão quanto Absalão teriam sido maçons.
3. Os três assassinos de Hiram Abiff chamados de “os três Jubes”, eram
Jubela,Jubelo e Jubelum, três nomes idênticos que foram diferenciados pelo uso
de sufixos de caráter distinto. São conhecidos de forma coletiva na Tradição
Maçônica como os “Jewes”, palavra possivelmente derivada de Jubes. A partir
disso, surge a seguinte pergunta: por que esses três rufiões teriam o mesmo nome?
Uma resposta plausível é que não seriam nomes, mas sim títulos! O que se
procuraria, portanto, é uma posição ou cargo antigo conferido a essas três pessoas
e que levavam o título de “Jube”. É esse indício bíblico que narra a história
notavelmente semelhante da execução do Príncipe Absalão por um comandante do
exército chamado Joabe (Juabe). Mas o nome “Joabe” seria, na verdade, um título
militar que significa “Comandante de Cem Mil”. E como oRei Davi tinha três
comandantes militares no campo de batalha quando o Príncipe Absalão foi morto,
poder-se-ia argumentar que Absalão e seu exército foram assassinados pelos “três
Joabes” (ou três Juabes) os três comandantes doRei Davi1. Há certa sinergia nesse
ponto entre a Tradição Maçônica dos três “Jubes” que mataram um grande mestre
e a consideração bíblica dos três “Juabes”2 que impediram uma insurreição contra
o rei e mataram um príncipe.
4. Tanto Hiram Abiff quanto o príncipe Absalão foram mortos por três golpes dados
pelos três Jubes (três Joabes). A Tradição Maçônica indica que esses três golpes
foram dados na cabeça de Hiram Abiff enquanto a Bíblia afirma que foram no
coração de Absalão. Embora essa possa ser uma diferença genuína entre esses
textos, é possível que tenha sido apenas uma pequena confusão de significados. A
palavra hebraica usada aqui, lebab, reflete essa confusão, pois, além de
“coração”, pode ser também “intelecto”, “conhecimento”, “memória” e
“pensamento”, dando espaço a diversas interpretações em sua tradução.
5. Hiram Abiff é notoriamente conhecido na Tradição Maçônica como o “Filho da
Viúva”, mas o príncipe Absalão ainda tinha um pai (o Rei Davi), fato que parece
invalidar essa comparação entre Absalão e Hiram Abiff. De fato, isso não é
possível. A mãe de Absalão era Maaca, cujo papel como primeira esposa foi
posteriormente assumido por outras (e novas) consortes do Rei Davi. É provável
que, após a perda de seu status como primeira esposa, Maaca tenha ficado
conhecida como “A Viúva”, devido ao fato de não ser mais íntima ou ter a
predileção do rei. Os textos bíblicos parecem confirmar que essa era a
terminologia usada na época, quando mencionam as concubinas do Rei Davi. Dez
delas tornaram-se guardiãs da casa (harém), e como esse novo cargo não lhes
permitia mais o contato sexual com o rei, ficavam então conhecidas como Viúvas3.
Essa explicação é sustentada posteriormente pela história contada ao Rei Davi
acerca da luta entre dois irmãos e a morte subsequente de um e o exílio do outro.
Essa história foi na verdade um conto alegórico que diz respeito à luta de Absalão
com seu irmão Amom e seu exílio em Gesur. O interessante, no entanto, era a
questão de que a mãe desses dois irmãos era viúva, se tal viúva seria uma alusão
a Maaca tirada do posto de primeira esposa, consequentemente faria por alusão o
próprio Absalão “Filho de uma Viúva”4.
6. A Tradição Maçônica indica que Hiram Abiff foi um herói, enquanto os bíblicos
indicam o príncipe Absalão como insurrecto do reino. O que seria menos uma
questão de contenda e mais de perspectiva, aquele que empreende ataque contra
um homem é inevitavelmente o que defende outro. A Bíblia seria puramente um
livro escrito pelos escribas da corte do Rei Davi (que de fato havia cometido uma
série de graves equívocos), vencedores dessa batalha singular, enquanto os textos
maçônicos poderiam ter sido escritos pelos apoiadores de Absalão,
possivelmente construtores que ainda rendiam fidelidade a seu antigo mestre.
7. O historiador Josefo disse que o pai5 de Hiram Abiff foi chamado de Ur6, um
nome pode ser ligado a Absalão, que se rebelou contra o seu pai, matou seu meio
irmão Amom e tentou tomar o reino de Davi. Tais ocorridos teriam acontecido em
cumprimento da profecia de Natã em virtude do pecado deDavi por se rebelar
contra seu combatente Urias ou Ur-iah, conspirando contra ele e assassinando-o
para tomar a sua mulher, Absalão seria o vindicador do pecado de Davi contra
Ur-iah7, seu filho simbólico.
8. Se o Hiram maçônico era na verdade Hiram, o Ancião, o “Rei de Tiro”,
possivelmente deve ter sido um familiar de Absalão que concretizou a construção
do Templo de Jerusalém durante o reinado de Salomão. Como foi Salomão quem
herdou o posto de Absalão de príncipe regente e, como o Kebra Nagast afirma que
o Rei Salomão supervisionava a construção do Templo, não seria tão absurdo
conjecturar que Hiram, o Jovem, fosse na verdade o próprio Rei Salomão. Da
mesma forma, tanto Josefo quanto o livro de Crônicas afirmam que foi o Rei
Salomão quem fez os artefatos de metal para o Templo, incluindo o célebre “Mar
de Bronze”. A primeira vista é presumível que Salomão tivesse comissionado
esses materiais e que Hiram os tivesse fabricado, mas os textos ressaltam as
várias ocasiões que o Rei Salomão o fez. Sendo o Rei Salomão o Arquiteto
Maçônico Chefe (Grão-Mestre), é possível que tenha recebido todo o crédito pela
construção do Templo, e tivesse sido considerado ainda, como o seu único
arquiteto.

Por alguma razão, quando da construção do Templo, parece que esses dois arquitetos,
Absalão e Salomão, foram denominados de Hiram. Deste modo, Hiram (Absalão) foi
conhecido desde o nascimento, já que era o príncipe mais velho e herdeiro legítimo
do Rei Davi. Após um desentendimento com seu pai e a consequente morte de seu
irmão, Amom, Hiram (Absalão) ficou exilado em Gesur. Sendo príncipe, ele teria
(aprendido e) conquistado muitos dos altos cargos, inclusive os sacerdotais, incluindo
ai, possivelmente o título (e ofício) de Arquiteto Chefe.
Apesar de Absalão ter sido o príncipe regente e sucessor do trono quando da morte
do Rei Davi, decidiu organizar uma rebelião contra seu pai e há suspeita de que ele
possuía apoio político e militar. Os exércitos opositores encontraram-se no campo de
batalha e, durante ao combate subsequente, Absalão foi morto por três golpes na
cabeça, dados pelos três comandantes militares do Rei Davi, os chamados “Joabe”. O
corpo de Absalão foi jogado em um precipício e acobertado por pedras não sendo
descoberto por algum tempo.
Os segredos da astronomia, da alquimia, da geometria e da matemática não eram
dominados somente pelos artífices e juízes eclesiásticos, mas faziam parte também
das práticas reais da época. Conhecimento é poder e, assim como cita o verso do
Kebra Nagast, o Rei Salomão em particular vangloriava-se de seu grande
conhecimento, Salomão estava simplesmente seguindo os passos de seu irmão
assassinado Absalão?
O Irmão exaltado
A palavra “Abiff” que normalmente compõe o nome de Hiram quer dizer “Seu
Pai”, no entanto, é preciso lembrar que este termo possui um significado mais amplo
na língua hebraica, poderia dar a noção de mestre8, instrutor, conselheiro e talvez até
patrono9. Sugerindo que Hiram pudesse ser o instrutor de Salomão no ofício e/ou
patrono (e principiador) dos trabalhos no Templo, papel segundo esta abordagem bem
plausível para Absalão.
Apesar da palavra “Abiff” componente do nome “Hiram Abiff” ser constantemente
investigada, relativamente pouco se aborda quanto o próprio nome “Hiram”. Sabe-se
que há mais de um indivíduo na Bíblia portando este nome, que o mesmo figura sob
outras formas como Airam e Adoniram e que sua grafia correta seria Chiyram.
Alguns etimólogos afirmam que Chiyram procede de Chiyra “Família Nobre”,
outros que seria uma forma contraída de Achiyram “Meu Irmão é Exaltado” ou “Irmão
(o) Altivo”. De toda maneira, a Bíblia faz uso constante de adjetivismo10 nos nomes
de seus personagens (históricos ou não), assim Hiram alude à família, seja como
nobre ou exaltado, seriam os Hirans, familiares a Davi e Salomão? Talvez a
recorrência bíblica do termo “Hiram” como no caso dos “Joabes/Jubes” indicasse um
título, portado inclusive por Absalão?
Assim como ainda hoje é praticado, a forma de tratamento entre os membros da
maçonaria é “Irmão”, o maçom que atinge o Grau de Mestre no qual é encenada a
Lenda de Hiram passa por uma cerimônia chamada “Exaltação”, logo todo Mestre
Maçom é um “Irmão Exaltado”. Quem seria o familiar qual Salomão poderia se
referir como “Irmão Exaltado” ou “Hiram” no hebraico (que estava ou estivesse num
posto superior)? A resposta mais lógica seriaAbsalão, o último príncipe sucessor e
possível primeiro arquiteto do Templo.
Alias o próprio nome de ambos os filhos de Davi compartilham a mesma raiz
assim como os Hirans, o Ancião e o Jovem compartilham Chiyram. Salomão vem de
Shalomoh enquanto Absalão de Abshalom11, ambos oriundos da palavra hebraica
Shalom “Paz”12, tal similaridade se repetiria no possível título “Hiram” (Chiyram)?
Um elemento discrepante seria que Hiram, o Ancião era intitulado como o “Rei de
Tiro” e não como príncipe da corte e Davi, entretanto, o nome hebraico para Tiro é
“Tsor”, que também significa “rocha” ou “pedra”, “Melek Chiyram” é traduzido como
“Rei Hiram”, mas Melek também pode denotar príncipe. Ou seja, ao invés de “Rei de
Tiro”, seu título poderia muito bem ser “Príncipe da Pedra” em alusão a sua posição
de arquiteto13, o regente dos trabalhadores em pedra, também notando que o termo
“Príncipe”14 ainda hoje é o título de diversos Graus da Maçonaria Filosófica.
Mesmo na morte, Hiram pelo mistério de sua vida compele aos maçons a um
mistério, a busca da Palavra Perdida, mas na investigação de sua história se trilha por
com uma miríade interminável de fontes, autores, obras, fatos e suposições… Talvez
este seja justamente o objetivo d’A Lenda de Hiram. Compelir o Maçom a tanto
conhecimento quanto seja necessário para a busca da Verdade!
Em vida Absalão e Hiram seriam o mesmo indivíduo? Certamente sua morte nunca
responderá tal questão… Em vida, Hiram forjara Colunas de Bronze para a
sustentação do Templo Salomônico, com sua morte, forjou Colunas de Mistério para a
sustentação da Tradição Maçônica.
Curiosamente o local no qual a tradição israelita afirma que o corpo do filho mais
velho de Davi jaz é chamado de “Coluna de Absalão”15. Na Tradição Maçônica as
Colunas do Templo eram cavas16 a fim de no seu interior serem guardados os mais
valiosos mistérios, e na Coluna de Absalão haveria para os maçons algum Mistério
Perdido a ser encontrado?
Notas
1 Originalmente Joabe, Abisai e Itai. 2 Os “Joabes” ou “Juabes” poderiam ainda ser os subordinados do
comandante Joabe que o acompanharam na perseguição a Absalão, e que após ser este três vezes ferido, também o
golpearam. 3 Bíblia, 2 SM 20,3. 4 Bíblia, 2 SM 14,5. 5 Notadamente o sentido de “pai” no âmbito teológico da época
possuía um sentido muito mais amplo que o de “genitor”. Poderia indicar a noção de mestre, instrutor, conselheiro e
até patrono. 6 Josefo, Ant. 8,76. 7 Além desse “laço profético” entre Absalão e Urias (ou Ur-iah), em As Chaves
de Salomão: O Falcão de Sabá, Ralph Ellis defende que Urias e Absalão seriam na realidade o mesmo indivíduo,
havendo na Bíblia uma repetição da mesma história só que em 2 diferentes versões. 8 E ainda como “Mestre
Apoiador” ou “Padrinho” que na maçonaria moderna quer dizer o maçom que escolhe e inicia um profano e
consequentemente fica incumbido de instruí-lo já como (Irmão) Aprendiz Maçom. 9 Padroeiro; Defensor de causa
ou ideia; Pessoa já falecida, de reconhecido valor no campo das Artes, das Letras ou da Ciência; Figura militar ou
civil de grande vulto, já falecida, escolhida como protetora de cada uma das forças armadas, unidade militar etc. 10
Recurso literário onde o nome de determinado elemento ou personagem de uma narrativa alude a sua natureza ou
principal característica. 11 Além disso, Absalão e Abiff também partilham de uma raiz, “AB”, que significa pai. 12
Nos Templos Maçônicos (tidos como uma representação do universo pelos Maçons) encontramos 02 colunas
possivelmente descendentes das colunas dos reinos unificados do Alto e Baixo Egito (também tido como uma
representação do universo pelos Egípcios) quais haviam derivado alegoricamente até aos israelitas como as
legendárias Boaz e Jaquim. Estas colunas haviam adornado o portão do Templo de Salomão. Para esses israelitas
ancestrais, as colunas representavam tanto o poder real “Mishpat” quanto poder sacerdotal “Tzedek”, e quando
unidas suportavam o grande arco do Céu, cuja pedra-chave era a terceira grande palavra de seu anseio, “Shalom”
que significa “Paz” e de onde advém o nome do Rei Salomão (Shalomoh). 13 Arquiteto vem do grego “Architekton”
que significa “mestre construtor”. 14 16º Príncipe de Jerusalém, 20º Soberano Príncipe da Maçonaria, 22º Príncipe
do Líbano, 24º Príncipe do Tabernáculo, 26º Príncipe da Mercê, 28º Príncipe Adepto e 32º Soberano Príncipe da
Maçonaria. 15 Ou “Pilar de Absalão”. “Ora, Absalão, quando ainda vivia, tinha tomado e levantado para si uma
coluna, que está no vale do rei, porque dizia: Filho nenhum tenho para conservar a memória do meu nome. E chamou
aquela coluna pelo seu próprio nome; por isso até ao dia de hoje se chama o Pilar de Absalão.” – 2 SM 18:18. Sua
construção foi posteriormente re-datada por alguns arqueólogos para os primeiros séculos depois de Cristo, mas isso
não impediria que o sítio já tivesse sido explorado previamente como o objetivo de sepulcro. 16 A preservação do
conhecimento em colunas dentro da Tradição Maçônica (e na israelita) é farta. Tal costume seria iniciado por Seth
(filhos de Adão) e perpetuado pelos filhos da Lameque (Jubal, Jabal, Tubalcaim e Naamá) e Enoque.

Referências e bibliografia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Graus_ma%C3%A7%C3%B4nicos
http://www.behindthename.com/name/hiram/comments
As Chaves de Salomão: O Falcão de Sabá. Ralph Ellis.
A Chave de Hiram. Christopher Knight e Robert Lomas.
Mística Judaica. Walter I. Rehfeld.
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de-salomao/
#5

A Coroa

Autor: Charles Evaldo Boller In: Revista A Trolha Fonte: O Ponto Dentro do
Círculo
Quando o Maçom do Rito Escocês Antigo e Aceito passa ao Grau de Mestre, todos
os seus Irmãos, independente de Grau, identificam-no por um sinal visível externo; é
um Chapéu, que simbolicamente representa uma coroa.
Esta coroa une o que está debaixo dela, o homem, com o que está acima, o divino,
servindo de limite entre quem a carrega com sua componente transcendental. E através
desta coroa que o Mestre Maçom alcança decisões racionais que estão muito acima
da escravidão sensorial. Esta conexão propicia capacidades que vão além do simples
pensar. Se persistir, for dedicado e estudar, este homem será capaz de desenvolver
potencialidades elevadas até então desconhecidas para ele.
A coroa do Mestre Maçom sobre sua cabeça é um Chapéu de feltro de abas moles
e caídas, sem o qual ele não comparece em Câmara do Meio. Quando em Sessões de
outros Graus é como se esta coroa ali estivesse, pois dentro do Templo, em Loja
constituída, é o local onde ele desenvolve sua capacidade de discernimento e visão
equilibrada, objetivo de todo Maçom que escala a escada de Jacó. O chapéu faz de
sua aparência uma pessoa eminente, um Venerável Mestre, à semelhança do monge da
Idade Média que dirigia construções feitas em pedra. Por terminar em forma de domo,
o chapéu afirma uma soberania absoluta sobre si e confirma que ele continua
desenvolvendo em sua caminhada de Aprendiz. Ao elevar-se acima da cabeça, o
Chapéu é insígnia de poder e luz, significando conhecimento. Comparar o Chapéu a
uma coroa é dar a este o significado de uma capacidade sobre-humana, transcendente.
Este paramento simboliza a obliteração do mundo material e concentra
simbolicamente capacidades na solução de problemas da humanidade, é o persistir na
tarefa de desbastar a Pedra Bruta.
A coroa é como uma antena que simbolicamente se conecta a outra dimensão, uma
potencialidade construída na mente. Em sendo negro, sabe-se pelas leis da física que
esta ausência de cor absorve todos os comprimentos de onda do espectro da luz
visível e invisível aos olhos materiais. Isto permite especular que até linhas de
campos de força e outras manifestações energéticas mais sutis podem ser atraídas por
esta coroa. O chapéu do Mestre Maçom funciona assim qual antena que,
simbolicamente, o conecta com aquilo que lhe propicia o sopro de vida e que o faz
igual a todos os seres viventes da biosfera. Ciente de sua relação com o resto das
formas de vida, em suas mais diversas constituições e aparências, o Mestre Maçom se
integra com a natureza e desenvolve o amor fraterno para com os seus iguais, para
com toda a vida espalhada pelo Universo, inclusive com outras possíveis biosferas de
galáxias diversas da que abriga o Sol.
E importante estar desperto e consciente que o Chapéu do Mestre Maçom é apenas
um paramento, um artefato material, um Símbolo; o que faz a diferença está debaixo
do chapéu, a cabeça, a capacidade intelectual do portador da coroa e o que este
intelecto constrói simbolicamente fora e acima do Chapéu. Ela constitui a recompensa
justa da prova que o Maçom faz ao longo da vida, por Edificar Templos à Virtude e
Cavar Masmorras ao Vício. Simboliza dignidade, poder, realeza, acesso a um nível
de forças superiores, sobrenaturais.
Exige-se esforço pessoal para superar, conhecer e mandar em si próprio, pois é
apenas sobre si mesmo que cada ser tem poder absoluto, incontestável. O iluminado
subjuga sua mente e corpo e, para progredir, bate implacavelmente nas nódoas que
levam ao vício e degradação. Mesmo que sucumba diante da tentação, o simbolismo
do Chapéu o fará voltar para a linha reta que conduz ao Oriente, em direção à luz, ao
conhecimento, à sabedoria.
O Chapéu representa o verdadeiro poder que está dentro de si, a inclinação interna
positiva, o coração que ama fraternalmente, tudo em resultado da capacidade de
pensar, afiada constantemente por leitura, estudo e meditação. O Mestre Maçom tem o
ministério de ensinar Aprendizes, Companheiros e outros Mestres Maçons. Aquele
Mestre Maçom que desta obrigação se esquiva não é merecedor da coroa. O Irmão
que se desenvolveu em sapiência, aprendeu na prática que, ao ensinar outros, o seu
próprio conhecimento fixa-se mais, os conceitos e princípios morais que despertam
em sua mente agarram-se mais firmemente ao coração e à memória. Na sua missão de
ensinar deve constantemente provocar, instigar, distribuir os seus pensamentos em
palavras e participar de forma proativa, conciliadora e entusiasta de todos os debates
com temas com os quais a Maçonaria, nos diversos Graus, o provoca.
Debaixo do Chapéu, o Mestre Maçom ouve atentamente as peças de arquitetura,
oratórias e discussões de temas com os quais os Irmãos se presenteiam e provocam. É
o Chapéu que o freia prudentemente em todas as ocasiões em que fica ordeiramente
esperando os outros Irmãos falarem. E nestas ocasiões que treina a arte de ouvir do
líder. Debaixo do chapéu ele fica concentrado, calado, ouvindo e anotando o que os
outros Irmãos dizem. Depois ele analisa e absorve o que está ao seu alcance para
suprir seu autoconhecimento, monta estratégias e colabora empaticamente no tema
com seu parecer, postura e comentário. E ao auxiliar a assembleia de Irmãos com a
força do seu pensamento, transmitido por sua capacidade de oratória, além de ajudar
aos outros, ele ajuda principalmente a si próprio. Servir no ensinar não é apenas mais
uma razão para tornar-se merecedor do prêmio, a coroa que está sobre sua cabeça, o
Símbolo do seu poder, é a principal razão de ele lecionar na escola de conhecimento
da Maçonaria. Não existe magia ou mistério; é o servir e a presença constante no
grupo que lhe dá poderes que ele nunca imaginava existirem. E este é um poder
natural que ninguém usurpa.
O Chapéu representa uma estrutura educacional apoiada em Três Pontos: racional,
emocional e espiritual; um apoia o outro, formando um tripé. E do equilíbrio
propiciado pelo que simboliza o Chapéu que desabrocha a pessoa completa. Esta
educação e o condicionamento elevam o portador do Chapéu à realeza dos Iniciados
nos diversos Graus do Rito Escocês Antigo e Aceito, onde é livre para pensar e
ajudar seus Irmãos através de uma razão esclarecida. E pelo estudo diligente, pelo
treinamento dos sentidos, pela convivência constante que ele atinge o ideal, e este lhe
confere realeza, da qual o Chapéu, apesar de sua aparência grosseira, é o Símbolo
mais expressivo. Debaixo do Chapéu é a maneira mais nobre de viver o amor
fraterno, a única ação capaz de salvar a humanidade de um existir miserável. Debaixo
do Chapéu aflora a capacidade de ouvir, ensinar e treinar em Loja, o que faz do
Mestre Maçom um líder natural.
Primeiro é importante cuidar de si, porque quem não estiver forte, como ajudará
aos outros? Quem não se ama como amará ao próximo? Na relação com outros e
consigo mesmo desenvolve a capacidade de tornar-se o amigo sincero e serve ao
Irmão no que deve ser feito e não no que aquele deseja; o contrário seria escravidão.
E servindo que aflora o líder. Amor fraterno é ação, não sentimento. O Mestre Maçom
que desonra o Chapéu e trata seus Irmãos de forma infame e autoritária, suas ações
podem até estar alicerçadas na lei escrita em papel, mas ele não é um líder nato, é um
tirano. O líder natural é semelhante ao poder que tem uma mãe sobre seus filhos, ela
não precisa impor sua vontade e apenas faz o que deve ser feito para seus rebentos;
ela é o melhor exemplo do líder natural. A mãe que tem necessidade de usar do
chicote para dirigir sua casa já não tem mais capacidade de liderança natural e exerce
poder despótico. O Mestre Maçom que alcança este Grau de entendimento e
perfeição, em sua capacidade de liderança, tem no seu Chapéu a representação
simbólica do poder que ele exerce sobre a comunidade.
Ele serve ao Irmão não porque aquele é Maçom e o juramento o exige, mas porque
ele próprio é Maçom e depende igualmente dos confrades. O Chapéu representa a
capacidade de liderança, é o Símbolo da autoridade que não outorga poder de
comando sobre os outros, pois ele próprio fica sujeito a Obediências que lhe são
impostas. O Chapéu traduz a perfeita igualdade que deve pairar entre seus pares.
Mas como falar em igualdade nos diversos Graus entre pessoas desiguais? Todos
são iguais quanto à essência, por estarem providos do mesmo sopro de vida. Na
Maçonaria, quanto mais o Maçom cresce, mais ele se conscientiza que deve servir
aos que estão degraus mais baixos da simbólica escada de Jacó. E o exercício da
humildade que lhe dá o devido valor, e é transmitida pela rota, mole e disforme coroa,
confeccionada a partir de um tecido ordinário. Ela poderia muito bem ser produzida
em aço e cravejada de joias preciosas, entretanto, de que vale um bem material que
pode ser subtraído pelo ladrão ou destruído pela ferrugem? As preciosidades estão
debaixo do Chapéu, na forma de pensamentos e ações, valores que ladrão algum
deseja e apenas a morte destrói.
O Chapéu induz seu portador a naturalmente usar do dever de governar de acordo
com a necessidade da coletividade. O Chapéu representa que seu usuário está
fortalecido e não se curva perante desmando, futilidade ou arbitrariedade. E o Chapéu
que impede aquele que o usa de transformar-se em déspota. Isto é muito bem retratado
quando em sua Loja o bom Mestre Maçom ouve e serve aos outros. E o Chapéu que
inspira o propiciar dos meios de concentrar forças para produzir os nobres e elevados
anseios dos Irmãos do Quadro.
Longe de exercer a autoridade emanada do Chapéu de forma cruenta, o humilde e
prudente Mestre Maçom torna-se líder natural. Ao obter poder servindo ao próximo,
ele já é parte da realeza que representa o seu Chapéu, e isto lhe dá a distinção de
participar da natureza celeste de seus dons sobre- -humanos, transcendentes. E do
Símbolo do Chapéu, do que está debaixo deste, que provém a ação e a capacidade de
influenciar os outros a fazerem o que precisam fazer para se tornarem felizes. E a
ação do amor em benefício da humanidade. E a ação de construir Templos à Virtude.
E a ação 4a vivência do amor fraterno debaixo da orientação dos eflúvios
provenientes da coroa, do poder que emana do Chapéu do Mestre Maçom servidor.
A sapiência é a busca das energias e coisas mais elevadas; algo bem diferente de
sabedoria. Enquanto a sabedoria pode ser confundida com prudência, pois diz
respeito apenas aos assuntos materiais e de como o homem age, a sapiência é muito
mais importante. A Maçonaria trabalha a sabedoria que leva à luz da sapiência. A
filosofia maçônica é sapiente. A Coluna da Sabedoria é a antena simbólica de onde
emana uma luz de modo que cada um que porta um reles chapéu mole, cada um a sua
maneira, desenvolve sua sapiência para as coisas mais elevadas. O Chapéu como
paramento, Símbolo que o Mestre Maçom usa qual coroa em câmara do meio, torna-o
igual aos demais, nivelando-o a todos os Irmãos Maçons espalhados pelo Universo,
para honra e à glória do Grande Arquiteto do Universo, de onde todos recebem a luz
da sapiência.

Bibliografia
BAYARD, Jean-Pierre. A Espiritualidade na Maçonaria: Da Ordem Iniciática
Tradicional às Obediências. Tradução: Julia Vidili. I a ed. São Paulo: Madras, 2004.
BENOÍT, Pierre; VAUX, Roland de. A Bíblia de Jerusalém, título original: La
Sainte Bible, tradução: Samuel Martins Barbosa. I a ed. São Paulo: Paulinas, 1973.
BOUCHER, Jules. A Simbólica Maçônica: Segundo as Regras da Simbólica
Esotérica e Tradicional, título original: La Symbolique Maçonnique. Tradução:
Frederico Ozanam Pessoa de Barros. I a ed. São Paulo: Pensamento Cultrix, 1979.
FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio de. Dicionário de Maçonaria: Seus Mistérios,
seus Ritos, sua Filosofia, sua História. 4a ed. São Paulo: Pensamento Cultrix, 1989.
HUNTER, James C.. O Monge e o Executivo: Uma História Sobre a Essência
da Liderança, título original: The Servant, tradução: Maria da Conceição Fornos de
Magalhães. I a ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2004.
PARANÁ, Grande Loja do. Ritual do Grau de Mestre Maçom do Rito Escocês
Antigo e Aceito. I a ed. Grande Loja do Paraná. Curitiba, 2004.

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#6

O Avental

Autor: H. L. Haywood Tradução: Nicola Aslan


Fonte: O Ponto Dentro do Círculo
Tivemos o privilégio de ler muita literatura maçônica e, desta forma, podemos
afiançar que sobre nenhum outro símbolo foram escritos tantos contrassensos. Mil e
uma coisas foram sobre ele imaginadas. E todas essas hipóteses – que vão da folha
usada por Adão e Eva à última teoria matemática da Quarta Dimensão – nada mais
fizeram senão escandalizar o homem inteligente e desnortear o homem comum… Por
termos vistos outros afundarem no abismo dos absurdos, agiremos com maior
prudência, caminhando cautelosamente, formando as nossas teorias com o maior
cuidado.
Não pretendemos desrespeitar aqueles que nos antecederam neste campo de
trabalho, mas, falando de modo geral, podemos dizer que a maior parte das
extravagantes teorias que se formaram sobre o Avental teve por base a sua forma que,
como se sabe, é de origem relativamente recente e devida a um mero incidente
histórico. A forma ora em uso é quase quadrada, sugerindo assim o simbolismo do
esquadro, do ângulo reto e do cubo, e de tudo o mais que daí possa surgir. O fato de
ser a abeta triangular sugeriu, por outra, o simbolismo do triângulo, da 47ª Proposição
de Euclides e da pirâmide.
Quanto à descida da abeta sobre o corpo do Avental, também isto forneceu motivos
para raciocínios igualmente ingênuos. Valendo-se de semelhante método de
interpretação, quiseram ver no Avental toda espécie de coisas: a mitologia dos
Mistérios, as metafísicas da Índia, os extravagantes sonhos da Cabala e os ocultismos
da Magia. Esqueceram, entrementes, que o Avental é simplesmente um símbolo
maçônico, cujo verdadeiro significado deverá ser descoberto, em lugar daquele que,
pela pressão exercida por nossa natural tendência para a fantasia, possamos querer
fazê-lo exprimir.
Se consultarmos o Ritual, como ele merece e como sempre devemos fazer,
veremos que nele o Avental é tratado como:
Uma herança do passado;
Um distintivo do Maçom; e
Um emblema da inocência e do sacrifício.

Examinaremos, detida e separadamente, cada um destes três aspectos.


O Avental é uma Herança do Passado
Durante três ou quatro mil anos, o Avental foi usado com diversos propósitos e sob
várias formas. Num dos antigos mistérios, pelo menos – o de Mitra –, investia-se o
candidato com um avental branco, sendo este mesmo uso adotado para os iniciados
dos essênios, que o usavam durante o primeiro ano de sua iniciação. Muitas estátuas
de deuses gregos e egípcios como ainda se podem ver, eram com ele ornamentadas, o
que é muito significativo.
Em muitos casos as sociedades secretas chinesas usaram o Avental, sendo que os
persas, em certa época, o empregaram como bandeira nacional. Também os profetas
judeus usaram muitas vezes os aventais, assim como fizeram os candidatos ao batismo
e como ainda o fazem os dignitários eclesiásticos.
Esse costume é igualmente encontrado entre os selvagens, como notou o Irm∴ J.
C. Gibson, que escreveu:

Por toda parte onde existe o sentimento religioso –


mesmo entre as nações selvagens da Terra – foi
observado o desejo dos nativos de usarem uma cinta
ou um avental de qualquer espécie.

Dito isto, não devemos inferir, contudo, que o Avental tenha chegado até nós por meio
dessas fontes, embora, pelo que sabemos, os construtores primitivos possam ter sido
influenciados por esses antigos e universais costumes. O fato de os Maçons
Operativos usarem o Avental deve-se, ao que tudo indica, tão somente ao propósito
bastante prático de protegerem a sua roupa, como se torna necessário num trabalho tão
rude como o seu. O Avental era, indiscutivelmente, um artigo necessário no
equipamento de um trabalhador, como o foi demonstrado pelo Irm∴ W. H. Rylands,
que encontrou um contrato datando do ano de 1685, e pelo qual um Mestre obrigava-
se a suprir o seu Aprendiz com “suficiente, saudável e competente alimento, bebida,
alojamento e Aventais”.
Sendo o Avental parte tão destacada do costume do Maçom Operativo e parte tão
constante de seu equipamento, era inevitável que os Especulativos continuassem a
usá-lo, embora com propósitos simbólicos. O Irm∴ J. F. Crowe, que foi um dos
primeiros a realizar uma investigação científica e completa do assunto, diz que o mais
conhecido primitivo representante de tais aventais é aquele que se encontra “numa
gravura com o retrato de Anthony Sayer… É visível na ilustração somente a parte
superior, sendo a aba levantada, presumindo-se ser o avental constituído de uma pele
bastante comprida. O desenho seguinte encontra-se no frontispício do ‘Livro da
Constituição’, publicado em 1723, no qual um Irmão é representado entregando na
Loja um certo número de Aventais e de Luvas, parecendo o primeiro ter tamanho
considerável e cordões compridos” (A. Q. C., vol. 5, p. 29).
Na caricatura de Hogarth, chamada “Noite”, desenhada em 1737, as duas figuras
maçônicas assinaladas por Crowe em outro estudo (vide sua obra “Coisa que um
Maçom deveria saber”) “têm aventais que chegam aos tornozelos”. Entretanto, outras
ilustrações do mesmo período mostram aventais alcançando apenas o joelho, o que
assinala o começo do processo de encurtamento, e do decréscimo geral no tamanho,
assim como na alteração da forma, o que, finalmente, nos deu o Avental da nossa
época; desde então, esse vestuário já não serve mais como meio de proteção, tendo
sido encontrado um meio de adaptá-lo a uma maneira mais conveniente de vesti-lo, o
que não é incompatível com o seu significado maçônico original. Como foi sugerido
linhas atrás, o fato responsável pela presente forma do Avental é mero resultado de
determinadas circunstâncias, o que demonstra o quanto são infundadas as
interpretações baseadas na sua forma.
De acordo com os usos adotados nos EUA pelas Lojas simbólicas, o Avental
precisa ser de pele de cordeiro imaculada, tendo de 14 a 16 polegadas de
comprimento e de 12 a 14 polegadas de largura, com uma aba de 3 a 4 polegadas.
A Grande Loja da Inglaterra especifica que semelhante Avental destina-se ao
Primeiro Grau, precisando o Avental do Segundo Grau ter na base duas rosetas azuis
celeste, ao passo que o de Terceiro Grau deve ter a mais uma guarnição de fita da
largura de não mais de duas polegadas, “e uma roseta adicional na abeta caída, e
borlas de prata”. É permitido aos Grandes Oficiais o uso de outros ornamentos,
bordados, dourados, e, em vários casos, fitas de cor carmesim. É de toda evidência
que tais Aventais decorados são de origem recente. O Avental deve ser sempre
vestido fora do casaco.
O Distintivo do Maçom
“A espessa pele curtida, cingida em torno dele com correias, por onde quer que o
Construtor edifique, e onde, à tarde, prende a sua colher de pedreiro”, era, assim, a
parte mais notável do traje do Maçom Operativo, com ele associando-se na mente do
povo, pelo que, ao evoluir, tornou-se a sua insígnia; e sendo uma insígnia, qualquer
marca voluntariamente adotada como resultado de um costume estabelecido, uma
profissão, um emprego ou uma escola de opinião, pode por ela ser representada.
Por onde a insígnia do Maçom tornou-se uma marca? A sua história permite, por
certo, a qualquer um responder: é a marca do trabalho honrado e consciencioso, do
trabalho dedicado a criar, a construir, ao invés de destruir ou de demolir. Como tal, o
Avental do Maçom – por si mesmo símbolo da profunda modificação na atitude da
sociedade relativamente ao trabalho manual e intelectual, outrora desprezado pelos
grandes da Terra, e ao qual ela se tornou propícia – transformou-se na única insígnia
de uma vida honrada. Se os homens outrora se sentiam ufanos em usar uma espada,
enquanto abandonavam a servos e escravos os trabalhos da vida, se outrora títulos e
brasões eram procurados como emblemas de distinção, hoje, se a expressão figurada
nos for permitida, os homens mostram-se ansiosos por usar um Avental. É fora de
dúvida que o cavalheiro da época atual há de preferir salvar uma vida a ceifá-la. E há
de preferir, mil vezes, a glória do próprio aperfeiçoamento à glória de um título ou de
um nome. Na verdade, “a posição social mudou o lado da medalha, e a humanidade ao
homem, principalmente se for um homem capaz de realizar; e o verdadeiro rei
moderno, como sempre afirmara Carlyle, é o ‘homem que pode’”.
E se tudo isto constitui a mensagem do Avental, ninguém tem mais direito de usá-lo
do que o próprio Maçom, se ele for um verdadeiro membro da Ordem, visto ser ele
um Cavaleiro do trabalho, se é que semelhante título existiu alguma vez. Nem todo
trabalho, porém, se ocupa de objetos. Há o trabalho da mente e do espírito, muito
mais árduo amiúde, e bem mais difícil do que qualquer trabalho manual. Aquele que
dedicou os seus esforços a limpar os estábulos da Augias do mundo, aquele que se
dedicou a varrer o lixo que cobre os caminhos da vida, aquele que se dedicou a dar
forma às pedras de construção na confusa pedreira da humanidade, é digno, mais do
que qualquer outro homem, de usar a insígnia do trabalho.
Um Emblema da Inocência e do Sacrifício
Ao revestir o Aprendiz com o Avental, é costume dizer-lhe que é o emblema da
inocência. É duvidoso que alguma vez as Lojas operativas tivessem usado o Avental
com semelhante propósito simbólico, embora isto não fosse impossível no século
XVII, depois que os Especulativos começaram a ser recebidos em maior número. A
evidência indica, todavia, que esse simbolismo nasceu somente depois da criação da
Grande Loja de Londres. Foi a consequência direta do regulamento que dispõe que o
Avental deve ser confeccionado de uma pele de cordeiro branca, e foi então que os
Maçons começaram a ver na cor o emblema da inocência e, na sua contextura, uma
ideia do sacrifício.
Voltou-se com isso à linha das práticas antigas pelas quais o branco “foi
considerado um emblema da inocência e da pureza”. Entre os romanos, uma pessoa
acusada devia, em certas ocasiões, revestir-se de roupas brancas, a fim de atestar a
sua inocência, por ser o branco, conforme disse Cícero, “muito agradável aos
deuses”. O candidato aos Mistérios, e entre os próprios essênios, era revestido de
modo semelhante. O mesmo significado de pureza e de inocência é dado pela Bíblia,
embora nela exista a promessa de que, apesar das nossas culpas serem como o
escarlate, ele continuará branco assim como a neve.
Na primitiva Igreja cristã, os jovens catecúmenos (ou convertidos) vestiam-se de
branco, assinalando assim a sua decisão de abandonar o mundo e a sua determinação
de trilhar uma vida inocente. Mas não há necessidade de multiplicar exemplos, cada
um de nós sente instintivamente que o branco é mesmo o símbolo natural de inocência.
Ocorre-nos que “inocência” procede de uma palavra lembrando “não fazer mal”, o
que pode muito bem ser tomado como a sua definição maçônica, sendo evidente que
nenhum adulto poderá ser considerado inocente no mesmo sentido que uma criança,
isto é, ignorando o mal. A inocência do Maçom há de ser a sua brandura, a
cavalheiresca determinação que o anima a não praticar ato sem moral dirigido contra
quem quer que seja: homem, mulher ou criança; a sua paciente indulgência para com a
imperfeição e a ignorância humanas; o seu perdão cheio de caridade para com os seus
irmãos, quando estes, deliberada ou inconscientemente, lhe fazem mal; a sua
dedicação em favor de uma Cavalaria espiritual que exalte os valores e as virtudes da
humanidade, só através das quais um homem pode elevar-se acima do bruto, e o
mundo ser levado avante em seu caminho ascendente.
É no símbolo de sua contextura – pele de cordeiro – que, além disso, encontramos
no Avental o significado do sacrifício, simbolismo este que também se desenvolveu
por volta do ano de 1700. Acreditou-se, geralmente, até uma época recente, que os
Operativos usavam apenas aventais de couro, o que certamente aconteceu em épocas
muito primitivas. Crowe, entretanto, demonstrou que os registros da mais antiga Loja
apresentam a evidência de igual uso de linho:

Na velha Loja de Melrose – escreve ele – existindo


além do século XVII, os aventais foram também
confeccionados com linho, e esta regra foi lei na
Mary’sChapell nº1, de Edimburgo, a mais velha Loja
do mundo; ao passo que o Irm∴ James Smith escreve,
em sua história da velha Loja de Dumfries que ‘ao
examinar a arca da Loja 53, nela existia apenas um
avental de cabrito ou de couro, sendo os restantes
confeccionados em linho’. Como tais Lojas eram as
mais antigas que quaisquer outras da Inglaterra, é de se
presumir ser um caso bastante claro provando a
substituição por linho, do que, outrora, foi de couro.

Não se pode dizer, entretanto, que o Irm∴ Crowe tenha inteiramente provado a sua
alegação, visto que outras autoridades debatem ainda a questão, afirmando que os
construtores – que necessariamente manuseiam ásperas pedras e pesadas madeiras de
construção – precisavam de um tecido bem mais resistente que o linho ou o algodão.
De qualquer maneira, nestes dois séculos, a Fraternidade usou Aventais de couro,
embora muitas vezes, para os fins ordinários da Loja, fossem substituídos por tecido
de algodão. E não passa de um contrassenso – que foram buscar bem longe – ver-se
na pele de cordeiro uma alusão ao sacrifício do qual o cordeiro, por tanto tempo, tem
sido um emblema.
Mas que significado terá para nós a palavra sacrifício? Se tivéssemos de
responder completamente a esta pergunta teríamos de penetrar bem longe nos campos
da ética e da teologia. Entretanto, tendo em vista o objetivo que nos anima, neste
momento, podemos dizer que o sacrifício do Maçom é a alegre renúncia a tudo o que
nele possa haver de antimaçônico. Se for, por exemplo, demasiadamente altivo para
reunir-se com os outros sobre o Nível, teria oportunidade de deixar de lado o seu
orgulho; se ele for demasiadamente humilde para agir sobre o Esquadro, ele poderia
sobrepujar a humanidade; e se tivesse hábitos de corrupção, poderia abandoná-los,
senão o uso do Avental não passaria de fraude e de trapaça.
Com tão carregamento de simbolismo, o Avental pode ser justamente considerado
como o “mais antigo que o Velocino de Ouro ou a Águia romana, e mais honroso do
que a Estrela ou a Jarreteira”, por não serem estas insígnias mais do que invenções da
lisonja e distintivos de nomes completamente ocos.
O Velocino de Ouro foi uma ordem de Cavalaria fundada por Filipe, Duque de
Borgonha, em 1429 ou 1430. Como insígnia era usado um Carneiro de Ouro com uma
divisa inserida na joia, que dizia: “Opulência, não trabalho servil!” Os romanos de
antigamente usavam uma Águia em suas bandeiras para simbolizar magnanimidade,
fortaleza, “ligeireza” e coragem. A Ordem da Estrela teve origem na França, em 1350,
tendo sido fundada por João II, a fim de imitar a Ordem da Jarreteira; desta última
Ordem é difícil falar, visto ser a sua origem revestida de muita obscuridade e os
historiadores diferirem entre si; foi, porém, tão essencialmente aristocrática quanto
qualquer das outras.
Estes emblemas foram, em todo caso, um indício de aristocrática frivolidade e de
separação, precisamente o oposto do que simboliza o Avental; e a superioridade deste
último emblema sobre os primeiros é demasiadamente óbvia para merecer
comentários.

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#7

A Cabala e a Lenda de Hiram

Autor: João Anatalino


Fonte: João Anatalino
Entre as seitas que mais influenciaram nas tradições maçônicas encontramos os
judeus denominados cainitas, tidos por muitos autores maçons como os verdadeiros
criadores da Lenda de Hiram. Os cainitas constituíram diversas seitas místicas,
preenchidas principalmente por judeus cabalistas, que procuravam compatibilizar
antigas tradições judaicas com ensinamentos cristãos, especialmente aqueles
veiculados pelos chamados cristãos gnósticos. A denominação “cainita” vem do fato
de eles considerarem-se descendentes diretos de Adão, através de Cain, de cuja
geração saiu Tubalcain, mestre artesão, hábil trabalhador de martelo e fundidor de
obras de bronze, segundo a Bíblia .
Os cainitas desenvolveram uma tradição, segundo a qual Cain era filho adulterino
de Eva com um anjo rebelde de nome Samael. Essa tradição, que faz parte do Sepher-
ha-Zhoar, o livro base da Cabala judaica, atribui à estirpe de Cain uma família de
demônios, entre os quais figuram as irmãs de Tubalcain, Noema e Lilith, famosas
demônios fêmeas da tradição cabalística.
O personagem que os maçons conhecem por Hiram é de difícil caracterização. Nas
crônicas bíblicas ele é citado duas vezes: em Reis 13, ele é referido como sendo um
israelita da tribo de Naftali, perito fundidor de obras de bronze; mas já nas Crônicas
(Paralipômenos), ele é referido como sendo filho de uma mulher da tribo de Dan,
perito, não só em fundição de metais, como também na confecção de obras de
madeira, tecelagem , escultura etc.
Dessa forma, Hiram aparece na Bíblia como profissional ligado à tradição dos
fundidores, dos metalúrgicos, dos “sopradores”, (como eram conhecidos, na Idade
Média, os trabalhadores de forja), informação essa que o remete a Tubalcain, e por
via direta à Cain, o filho amaldiçoado de Adão.
Robert Ambelain se refere ainda à tradição que faz de Séfora, a esposa de Moisés,
uma cainita, pois que ela era filha de Jetro de Madian, líder de um importante centro
de fundição de metais, localizado no oásis que leva aquele nome. Dessa fonte cainita
Moisés teria recebido os ensinamentos secretos (iniciáticos) que não se encontram
expostos na Torá, mas que foram repassados por tradição oral aos sacerdotes levitas e
conservados pelos essênios, que por sua vez os legaram aos cainitas cristãos. E estes,
em consequência, os desenvolveram no corpo doutrinário que se convencionou
chamar de Cabala, cujo conteúdo está exposto no Zhoar.
A esse respeito, diz o texto de Ambelain:

Hiram, por seu pai Ur, descende de Tubalcain, e por


ele, em linha direta, de Cain e Samael. Este, na
tradição judaica, é o Anjo Rebelde, o Tentador, o Anjo
da Morte e por morte ritual a Maçonaria sacraliza o
profano (…). Dessa estranha tradição nasceu um
costume, o de denominar “vale” o lugar onde se
reunissem certos altos graus da Maçonaria (…). No
século XVIII um grupo (de maçons) tomou o nome de “
Filhos do Vale”. Num dos altos graus maçônicos, onde
os membros se reúnem num “vale”, o presidente da
Loja leva o nome de “ sapientíssimo Athersatha” (…).
Esse nome, traduzido do hebraico, significa
“Prodigioso fundidor do deus forte” .

Portanto, a lenda de Hiram, que teria, segundo Ambelain, sido introduzida na


Maçonaria através dos “maçons aceitos”, entre os quais haviam inúmeros judeus, é de
clara inspiração gnóstica-cabalística. Da mesma forma que ela é uma adaptação do
drama osírico, as analogias que mais tarde se fizeram entre ela e a Paixão de Cristo
são frutos da licenciosidade interpretativa que as alegorias desse tipo permitem aos
espíritos de imaginação fértil. E esse talvez tenha sido o objetivo de seus
formuladores, já que, no fundo dessa lenda, o que remanesce mesmo é o culto ao sol,
conexo ao mito do sacrificado .
É importante, entretanto, ter em mente que tais concepções só são aceitáveis do
ponto de vista filosófico, do praticante do livre-pensamento, que se acredita ser o
maçom. Na verdade, o misticismo é uma forma alternativa de se explicar o mundo. Se
suas concepções são avessas às doutrinas oficiais, não há que se ver aí qualquer
motivo de escândalo. As concepções extraídas pelos cainitas sobre os textos bíblicos
são apenas o ponto de vista que um grupo de pensadores heterodoxos desenvolveu
sobre alguns temas polêmicos que aparecem nos textos sagrados, e que, até hoje, não
encontraram consenso entre os estudiosos. Do ponto de vista meramente acadêmico
merecem ser analisadas com o mesmo respeito, e cuidado, que aquelas veiculadas
pelos doutrinadores ortodoxos .
Em nosso livro “Conhecendo a Arte Real” discorreremos com mais profundidade
sobre o conteúdo da Lenda de Hiram e a sua influência gnóstica, bem como sua
origem cabalística . Por ora é suficiente lembrar que a maioria das tradições dos
antigos povos associa o despertar da consciência humana, a aquisição do
conhecimento e os primeiros rudimentos de ciência a uma “rebelião” que afastou o
homem dos deuses. Na Bíblia essa “rebelião” está, de certa forma, conectada com a
família de Cain. Dela, por descendência direta, sairiam os personagens Jubal, Jabel e
Tubalcain, que na tradição maçônica estão conectados com o Drama de Hiram. As
associações que se podem fazer entre esses personagens e o simbolismo da Loja de
Companheiros correm por conta do conhecimento e da intuição dos irmãos, mas a
partir dessas informações já é possível pressentir uma explicação para a estranha
trama que envolve o arquiteto do Templo do Rei Salomão. No momento oportuno
voltaremos a esse assunto.
A lenda cainita que liga a família de Hiram, fundidor, à Tubalcain, nome bastante
conhecido dos maçons nas Lojas Simbólicas, em síntese, diz o seguinte:

Salomão, ao receber de Deus a incumbência para


construir o Templo, entrou em acordo com o rei de
Tiro, que se comprometeu a lhe enviar todo o material
necessário, bem como os técnicos requeridos para a
construção, pois em Israel não havia profissionais
capazes de realizar tal trabalho. Entre os profissionais
enviados por Hiram, rei de Tiro, estava Hiram, o
construtor, também perito em fundição. Na ocasião em
que fundia as colunas do Templo, três israelitas
invejosos, descontentes pelo fato do Templo do Senhor
estar sendo construído por um estrangeiro, embora
Hiram fosse de origem israelita, sabotaram o molde
que iria servir para a fundição. Hiram, descobrindo a
sabotagem, denunciou-a ao rei Salomão, que, no
entanto, não tomou nenhuma providência. No dia da
fundição, o mar de bronze escorreu pela multidão que a
assistia, matando uma grande parte dela. Hiram foi
acusado de negligência e abandonou o canteiro de
obras. Refugiando-se no deserto, foi tomado por uma
visão. Um gigantesco homem barbado surgiu à sua
frente: disse ser o espírito de todos os que trabalham e
sofrem nas mãos dos poderosos. Convidou-o a segui-
lo. Hiram acompanhou o misterioso personagem, que o
conduziu às entranhas da terra, até o lugar onde
habitava Enoque, pai de todos os homens de ciência,
que no Egito se chamava Hermes.
Foi então que Hiram descobriu os segredos com os
quais foi construída a cultura da humanidade. Enoque,
ou Hermes, ensinou-lhe todos os segredos da arte de
construir; apresentou-lhe também Maviel, o
carpinteiro, que ensinou a humanidade a trabalhar a
madeira, Matusael que criou a arte da escrita, Jabel
que criou a arte da tecelagem, Jubal que inventou a
música e os instrumentos musicais e Tubalcain, aquele
que ensinou aos homens a arte de curtir peles, a tecer a
lã, a arte de fundir e transformar os metais, e foi pai
daqueles que trabalham a forja e controlam o fogo. E
depois Enoque, ou Hermes, disse a Hiram como o
mundo foi feito:
“Dois deuses criaram o universo”, disse Enoque:
“Adonai, senhor da matéria e Iblis, senhor do
espírito”. Adonai criou o homem a partir do barro da
terra e Iblis insuflou-lhe no peito o espírito. O homem,
que era belo e inteligente como um deus, despertou em
Lilith, deusa irmã de Iblis, uma intensa paixão. Esta,
em consequência, tornou-se amante do homem Adão.
Os deuses haviam feito uma companheira para Adão,
tirada da sua costela, chamada Eva. Por vingança, pelo
fato de Adão ter se amasiado com sua irmã Lilith, Ibles
seduziu Eva e gerou-lhe um filho, que foi Cain . Ao
saber que Cain era filho ilegítimo de Eva com Iblis,
Adão o expulsou. Cain separou-se de sua família
celeste e deu inicio à família terrestre. Abel, o outro
filho de Adão com Eva manteve-se fiel ás origens,
razão pela qual o conflito instalou-se na terra.
Foi assim que ocorreu a separação entre as
estruturas do céu e da terra, evocadas pela tradição
egípcia, e a expulsão do homem do paraíso terrestre,
referida na Bíblia. Hiram foi então apresentado a Cain,
que fez amargas queixas contra os deuses,
especialmente Adonai. Reivindicou para si a origem
da ciência e do conhecimento e disse ser essa a razão
pela qual Adonai recusou seus sacrifícios, aceitando,
no entanto, os de Abel. “Adonai”, diz Cain, “detesta a
ciência e o conhecimento, porque eles tornam o homem
insubmisso ao seu poder”. Como os homens cresceram
e multiplicaram-se sobre a terra, Adonai, ciumento e
temeroso que os homens escapassem do seu controle,
resolveu destruí-los mandando que as águas cobrissem
a terra e afogasse todos seus habitantes. Mas Noé,
instruído por Maviel, o carpinteiro, frustrou os planos
de Adonai construindo uma arca na qual ele salvou-se
a si e a sua família, dando continuidade à família
terrestre.
Por conta dessa origem luciferina da arte metalúrgica, a Bíblia diz que Deus “proibira
a utilização de ferramentas de ferro no interior do canteiro de obras do templo”. O
“tabu do ferro” sempre acompanhou a cultura hebraica na forma de uma grande
aversão pela metalurgia. Uma explicação histórica para essa aversão talvez esteja no
fato de que, durante os anos de ocupação da Palestina pelos filisteus, os israelitas
foram proibidos de praticar qualquer oficio ligado à fundição de metais. Era uma
proibição que objetivava impedir que os filhos de Israel se armassem e promovessem
uma revolução. Só no tempo de Davi essa proibição foi levantada e os israelitas
puderam fundir e fabricar espadas.
A tradição cabalista vai mais longe nessa lenda. De acordo com algumas
interpretações rabínicas, constantes do Zohar, a arte da metalurgia está conectada com
o lado mau e rebelde da família humana, ligada ao nome de Tubalcain. É, portanto,
uma arte luciferina, de inspiração malévola. Um povo consagrado ao Senhor não
poderia praticá-la .
Só assim é possível entender o temor das técnicas de metalurgia que acompanha a
antiga cultura hebraica. Veja-se, inclusive, que todas as experiências daquele povo
com essa arte estão conectadas com alguma tragédia: Aarão com seu bezerro de ouro,
Moisés com a serpente de bronze, Hiram com o mar de bronze etc. Dessa forma
também é possível explicar a utilização do nome de Tubalcain como senha na
transposição do companheiro para o mestre .
O Mestre Hiram nas “Velhas Regras”
A Lenda de Hiram acabou sendo um denominador comum entre todas as práticas
maçônicas. Hiram arquiteto é o detentor dos grandes segredos iniciáticos. Ele é o
construtor do Templo de Salomão, cuja estrutura reflete o próprio universo. Sua morte
representa a transição do profano para o sagrado, do técnico para o científico, do
reino grosseiro da matéria para o reino sutil do espírito. Pelo fenômeno da simbiose,
o companheiro rebelde, que vivia no domínio inferior da consciência, se reconcilia
com o substrato superior do espírito, e adquire, agora da forma correta (e não pela
violência), a sua passagem de grau.
Esse foi o conteúdo da lenda desenvolvida para o catecismo maçônico das “Velhas
Regras” (Old Charges). Nas Old Charges o nome de Hiram é citado como sendo filho
do rei de Tiro, cujo nome também é Hiram. Tanto no Manuscrito Cooke quanto no
Downland, essa informação é referida. Horne acredita que isso é resultado de uma
interpretação equivocada da palavra Hiram Abi, que significa “Hiram, meu pai”. As
referências a Hiram, entretanto, aparecem em várias outras Old Charges, e em
algumas delas, ele é citado como sendo “príncipe maçom” .
As referências a Hiram nas “Velhas Regras”, entretanto, são muito contraditórias.
Em alguns desses antigos manuscritos, o mestre arquiteto do templo de Salomão chega
a ser confundido com o rei Nenrode, construtor da Torre de Babel. Por isso é que as
informações mais confiáveis sobre a identidade do Mestre Hiram ainda são aquelas
veiculadas pela Bíblia e por historiadores como Flávio Josefo, por exemplo.
Com exceção do fato de que nos textos sagrados ele não aparece como arquiteto,
mas como fundidor de bronze, todo o conteúdo da lenda pode ser encontrado nas
crônicas bíblicas: em Reis 13:7 lemos que Salomão “Escolheu obreiros em todo
Israel, e ordenou que fossem trinta mil homens. E ele os mandava ao Líbano, dez mil a
cada mês, de sorte que ficavam dois meses em suas casas e Adoniram era o
encarregado do cumprimento dessa ordem. E teve Salomão setenta mil que
acarretavam as cargas, e oitenta mil cabouqueiros nos montes; fora os aparelhadores
de cada obra, em número de três mil e trezentos, que davam as ordens aos que
trabalhavam. E o rei mandou que tirassem pedras grandes, pedras de preço para os
alicerces do Templo, e que as facejassem. E lavraram-nas os canteiros de Salomão e
os canteiros de Hirão; e os de Gíblios, porém, aparelhavam as madeiras e as pedras
para edificar a casa” .
Os giblitas, no entanto, eram considerados estrangeiros. Como estrangeiros não
poderiam compartilhar dos segredos dos mestres até que recebessem a devida
elevação. Era uma elevação que não se alcançava meramente cumprindo um
interstício de tempo como companheiro, ou simplesmente aprendendo o segredo dos
planos de construção, que eram arte especulativa. Nisso estava envolvida
principalmente uma questão religiosa, e essa questão era a proibição de que um
segredo de natureza sagrada fosse revelado a pessoas que ainda não tinham obtido o
devido merecimento. Era preciso encontrar uma fórmula que superasse esse impasse,
permitindo que o companheiro pedreiro, estrangeiro para as tradições hebraicas,
pudesse romper essa barreira para ser admitido no seleto circulo dos mestres.
Não sendo assim a chamada Escola de Arquitetura de Salomão, que a imaginação
de Anderson colocou nos canteiros de obras do Templo do Rei Salomão acabaria se
transformando numa alegoria sem sentido. A solução foi o sacrifício ritualístico do
Mestre Hiram, que como já dissemos, é a porta de entrada nos Mistérios Maçônicos.
Com essa alegoria Anderson introduziu na tradição maçônica dois arquétipos de
grande significado histórico, psicológico e religioso, que são o mito solar, que está na
origem do mito do herói sacrificado e o sacrifício da completação. A finalidade desse
sacrifício é francamente escatológica, como veremos.
O mito do herói sacrificado
Todo maçom que tenha sido elevado ao mestrado na Arte Real já fez a sua marcha
ritual em volta do esquife do Mestre Hiram Abiff, o arquiteto do Templo do Rei
Salomão, assassinado pelos três companheiros ambiciosos que queriam abreviar o
prazo de seu aprendizado e obter os graus mais elevados sem o devido mérito. A
alegoria da morte de Hiram é uma clara alusão ao mito do sacrificado. Ele está
conectado, de um lado ao simbolismo da ressurreição e de outro lado ao mito solar.
Pois nas antigas religiões solares, como vimos, o sol, princípio da vida, morria todos
os dias para ressuscitar no dia seguinte, após passar uma noite em meio ás trevas.
Assim como toda a teatralização dos Antigos Mistérios, fosse na Grécia ou no
Egito, ou em qualquer outra civilização que praticasse esses festivais, mais do que
uma simples homenagem aos deuses protetores da natureza, esses rituais
simbolizavam a jornada do espírito humano em busca da Luz que lhe daria a
ressurreição. É nesse sentido que a marcha dos Irmãos em volta do esquife de Hiram,
sempre no sentido do Ocidente para o Oriente, nada mais é que uma imitação desse
antigo ritual, que espelha a ansiedade do nosso inconsciente em encontrar o seu
“herói” sacrificado (ou seja, o sol), para nele realizar a sua ressurreição. Pois o sol,
em todas essas religiões, era o doador da vida. Ele fertilizava a terra e fazia renascer
a semente morta. Destarte, toda a mística desses antigos rituais tinha essa finalidade:
o encontro com a luz que lhe proporcionaria a capacidade de ressurreição.
O sacrifício da completação
Conectado com esse simbolismo, os antigos povos, em suas tradições iniciáticas
relacionadas com grandes obras arquitetônicas, desenvolveram o chamado “sacrifício
da completação”. Esse sacrifício consistia em oferecer ao deus a quem era dedicado
o edifício um sacrifício de sangue, que podia ser o holocausto dos inimigos
aprisionados em guerra ou pessoas escolhidas entre próprio povo. Muitas vezes essa
escolha recaia sobre mulheres virgens (as vestais) ou jovens guerreiros, realizadores
de grandes feitos na guerra. Acreditava-se que assim os deuses patronos dos poderes
da terra se agradariam daquele povo, prodigalizando-lhes fartura de colheitas e
proteção contra os inimigos .
Esse tema remonta à antigas lendas, cultivadas pelos povos do Levante, segundo o
qual nenhuma grande empreitada poderia obter bom resultado se não fosse abençoada
pelos deuses. E essa benção era sempre obtida através de um sacrifício de sangue.
Esse costume era praticado até pelos israelitas, como prova o texto bíblico ao
informar que Salomão, ao terminar a construção do Templo “sacrificou rebanho e
gado, que de tão numeroso, nem se podia contar nem numerar” .
Dessa forma, na Maçonaria, o Drama de Hiram tem uma dupla finalidade
iniciática: de uma lado presta sua referência ao culto solar, sendo Hiram, nessa
mística, o próprio sol que é homenageado; de outro lado, cultua o herói sacrificado,
pois é nele que se consuma a obra maçônica.
E dessa forma, a principal alegoria do ensinamento maçônico assume o seu
verdadeiro e real significado.

Gênesis, 4:22. Robert Ambelain. Op. cit., p. 84-85. (carece de correção) O mito do sacrificado é uma tradição
cultivada por todos os povos antigos que desenvolveram religiões solares. O “sacrificado”, no caso, é o próprio sol,
que “morre” todos os dias e renasce no dia seguinte. E graças ao seu calor e sua luz, a vida na terra também têm os
seus ciclos regenerativos. Em função dessa crença, acreditava-se que todo período de tempo deveria ser agradecido
aos deuses através de um sacrifício de sangue, para que a terra prodigalizasse ao povo o benefício de grandes
colheitas. Essa era a crença que estava na raiz dos chamados Mistérios Antigos. De outra forma, todos os grandes
empreendimentos também tinham que ter um “sacrificado” para que essa obra fosse levada à bom termo. É também
originária dos cabalistas cainitas a exclamação Huzz, Huzz, Huzz, que no Rito Escocês costuma ser utilizada na
abertura e no encerramento dos trabalhos em Loja. Essa exclamação (aportuguesada para Huzé, Huzé, Huzé)
também era utilizada pelos Cavaleiros Templários, na recepção de seus grãos-mestres. A palavra é derivada do
hebraico hoschea, que significa libertador. Publicado pela Editora Madras, 2006. Atualmente está esgotado. Estamos
preparando uma segunda edição para 2017. A Bíblia também se refere à essa tradição quando fala nas belas filhas
dos homens, por quem os deuses se apaixonaram e geraram filhos, os audazes “nefilins”. A Franco-Maçonaria, op.
cit., p. 81-86. (carece de correção) Veja-se que na mitologia grega, o deus que cumpre esse papel, é Vulcano, tido
pelos gregos como o deus da forja, controlador do fogo. O arquétipo do deus Vulcano, que habita o interior da terra,
está conectado com tradições luciferinas. Pois o companheiro, na tradição da Maçonaria, é aquele que assassina o
Mestre Hiram para obter o segredo do grau de mestre. No Manuscrito Melrose nº 2 de 1674 e no Manuscrito Harris
de 1789. Reis 13-17. Os giblios, ou giblitas, eram os trabalhadores das pedreiras de Biblos, cidade fenícia que ficava
cerca de 120 quilômetros ao norte de Tiro. Essa cidade é conhecida hoje como Gebal. Nos Primeiros Catecismos
Maçônicos, os giblitas eram considerados como sendo os verdadeiros pedreiros, razão pela qual o Manuscrito
Wilkinson, uma Old Charge utilizada por algumas Lojas inglesas do inicio do século XVIII, continha o seguinte
trolhamento para o iniciando: “P. Qual é o nome do pedreiro?”. “R. Giblita”. Segundo Horne, essa palavra ainda hoje
é utilizada em cerimônias de iniciação em Lojas inglesas e americanas. Veja-se o relato bíblico em Juízes 11:30-31,
na qual o juiz Jefté sacrifica a própria filha em razão de um voto feito à Jeová. Reis I 8:5.

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hiram/
#8

Do Ritual

Autor: Rui Bandeira Fonte: A Partir Pedra


Todas as sessões de Lojas maçônicas se processam segundo um ritual padronizado.
Cada sessão de cada Loja inicia-se sempre da mesma maneira, repetindo-se sempre
as mesmas palavras, efetuando-se as mesmas ações. E igualmente termina também
sempre da mesma maneira, com as mesmas palavras e ações que foram ditas e
executadas em todas as vezes que anteriormente a Loja se reuniu em sessão formal.
Por que razão homens adultos, alguns homens maduros ou mesmo idosos, pais de
filhos, alguns avós de netos, muitos deles com importantes responsabilidades
profissionais e sociais, semanal, quinzenal ou mensalmente se juntam para repetir,
vezes sem conta, as mesmas palavras e executar sempre e sempre as mesmas ações?
A primeira resposta consiste na consideração de que a prática do ritual, o facto de
se iniciar as sessões sempre da mesma forma e igualmente as terminar com os mesmos
procedimentos marca uma diferença, estabelece um tempo e um espaço próprios,
diferentes das experiências pessoais anteriores ao início da sessão e das que
sobrevirão depois do fim desta.
Com a execução do ritual de abertura, cria-se um hiato, faz-se um corte com o que
se passa no exterior, com o que se vivenciou antes do início da sessão. Paralelamente,
ao executar-se o ritual de encerramento, marca-se a fronteira entre o tempo e o espaço
comuns aos presentes e só a eles e os tempos e lugares em que cada um, na sua vida
normal, interage com a generalidade das pessoas.
Com a execução dos rituais de abertura e enceramento, os maçons criam como que
uma cápsula do tempo e do espaço que é só dos elementos da Loja e dos visitantes
presentes, diferente em tudo do que se passa antes, depois, em outros lugares, com
outras pessoas. Cria-se um espaço e um tempo de confiança mútua, regido por regras
próprias que ali e então se aplicam, destinadas a permitir que cada um seja e se sinta
livre para se expressar como entenda, para abrir a sua alma, para compartilhar os
seus anseios e preocupações, alegrias e receios, sem temer que essa exposição
pessoal seja aproveitada fora dali. O que se passa na sessão de Loja fica ali. O que se
quer é dito, revelado, proposto, considerado ali, e então queda reservado aos
presentes, porque só aos presentes diz respeito.
Com a confiança estabelecida nesse tempo e espaço, criam-se as condições para a
máxima cooperação entre os presentes. Cada um pode sugerir o que achar melhor,
expor uma ideia e colocá-la à consideração dos demais, sabendo que a sua sugestão e
a sua ideia serão analisadas segundo os seus méritos, sem preconceitos – e sobretudo
sem temer que porventura uma ideia falhada, uma sugestão desajustada, sejam
utilizadas ou expostas fora dali ou a estranhos aos que ali estavam.
Cria-se um tempo e um espaço de confiança e cooperação próprios para que cada
um partilhe com os demais o que sabe, o que teme, o que o preocupa, o que o alegra, e
receba dos demais a reação que a sua partilha proporcionar. Cada um dá ao grupo o
que pode dar. Cada um recebe do grupo o que necessita de tudo o que o grupo está em
condições de proporcionar.
Estabelece-se um tempo e um espaço de confiança e cooperação em que o elogio é
sincero, a crítica é pura, a solidariedade é sentida, o desacordo, quando existe, é
livremente expresso e livremente analisado, possibilitando a determinação dos pontos
de acordo que existem nos desacordos e das vias de superação de desacordos em
acordos aceitáveis para todos.
Com esse espaço e tempo de confiança e cooperação, criam-se as condições
necessárias para a natural solidariedade e para a criação de sólido espírito de corpo.
Tudo isso se constrói dentro de um espaço e de um tempo delimitados pela
execução dos rituais de abertura e enceramento.
Mas não é esta a única nem, porventura, a principal razão por que homens adultos,
maduros e alguns idosos, pais de filhos e avós de netos, alguns assumindo grandes
responsabilidades profissionais ou sociais, persistem em, uma e outra vez e ainda
outra e sempre, repetir as mesmas palavras, executar as mesmas ações.
A repetição semana a semana, quinzena a quinzena, mês a mês, anos e anos a fio,
permite o aperfeiçoamento. Não só da execução do ritual, mas – e sobretudo – de
quem executa o ritual.
O ritual não é um mero conjunto de palavras destinado a marcar uma diferente
entre o que está de fora e o que fica dentro, entre nós e os outros. O ritual contem um
assinalável conjunto de lições, de lembranças, de normas, de conselhos, de princípios
que nos devem guiar ao longo das nossas vidas. O ritual é a caixa das ferramentas do
aperfeiçoamento de cada um. Quanto mais se repete o ritual, melhor se conhece o
ritual. Quanto melhor se conhece o ritual, mais se descobre no ritual. Quanto mais se
descobre no ritual, mais e melhor se evolui. É por isso que o que se aprende, o que se
surpreende, o que nos toca no ritual hoje é diferente do que se aprendeu, surpreendeu,
nos tocou há cinco anos. E isso há cinco anos diferente de há dez anos. E aquilo de há
dez anos diferente de há vinte anos. Porque o que se aprendeu, surpreendeu e tocou há
vinte anos foi o que permitiu evoluir para aprender, surpreender e ser tocado
diferentemente há dez anos, diversamente há cinco anos e diferenciadamente hoje.
Porque se foi evoluindo e é em virtude da evolução havida que se está em condições
de notar agora o que se não lobrigava há cinco anos, se não via há dez anos e nem se
suspeitava que estava lá há vinte anos.
O ritual é uma caixa de ferramentas que pode ser preciosa para o aperfeiçoamento
e a evolução de cada um. Mas atenção que não basta repetir, não chega papaguear o
ritual. O ritual é para ser executado e repetido, mas também para ser lido, para ser
analisado e sobretudo para ser meditado. Porque evoluir segundo o método maçônico
não se resume a comparecer a sessões, a executar rituais de forma acrítica,
displicente ou mecânica. É necessário compreender o ritual, determinar porque se faz
assim e não de outra forma, a razão e o objetivo de cada ato, de cada palavra ou
expressão. Porque é dessa compreensão que nascem as condições para a mudança em
nós. E a cada mudança, a cada evolução, mais se descobre, mais se compreende.
O ritual é fonte de Luz, da Luz que todo o maçom (todo o humano?) busca. Mas não
se espere que essa Luz nos apareça escancaradamente defronte de nós. Caramba,
convém instalar e ligar ao fornecimento o quadro de eletricidade, instalar os cabos
pela casa, colocar a lâmpada e ligar o interruptor! Afinal de contas o ritual é uma
caixa de ferramentas, não é uma varinha mágica!
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#9

Tronco da Viúva

Autor: Nuno Raimundo


Fonte: Pedra de Butil
O “Tronco da Viúva” é também designado por “Tronco da Beneficência” ou
“Tronco da Solidariedade”. Ao Tronco da Viúva são lhe atribuídas várias origens,
pelo que uma das mais assumidas pela Maçonaria tem origem bíblica.
Hiram Abiff, mestre construtor do Templo de Salomão era filho de uma viúva.
Mestre esse, que foi assassinado por três companheiros seus por não querer divulgar
os segredos de construção a que estava sujeito como mestre-de-obras. Esse
assassinato veio mais tarde a originar uma das mais importantes lendas da Maçonaria;
a qual está na base da maioria dos ritos maçônicos atuais. Advindo dessa lenda, o
epíteto de “Filhos da Viúva”, com que se costumam designar os Maçons.
O fato de se designar por “tronco”, deve-se ao fato dos trabalhadores afetos à
construção do Templo de Salomão, os Aprendizes e Companheiros, receberem os seus
salários ao final do dia, junto às colunas do Templo. Para além de que
etimologicamente, “caixa de esmolas” na língua francesa também se designar por
“tronc”.
Sendo que o termo “Tronco da Viúva” simboliza também uma (caixa de) esmola
para socorro e auxílio das esposas (e filhos menores) de Irmãos falecidos.
Em Loja é o Mestre Hospitaleiro que está encarregado de fazer circular o Tronco
da Viúva. Tronco esse que, em dado momento litúrgico de uma sessão maçônica,
circula pelos Irmãos para que possam efetuar o seu óbolo na medida em que tal lhes
seja possível.
Cabe ao Mestre Hospitaleiro e ao Mestre Tesoureiro, cuidarem para que ele se
encontre numa situação-equilíbrio para que se possa prestar o auxílio necessário a
quem dele reclamar. E como tal, o Tronco da Viúva não se quer nem muito cheio nem
muito vazio. Se o mesmo se encontrar vazio, é porque as doações não serão
significativas, correndo-se o risco, de se não se auxiliar quem dele necessitar numa
situação imediata. Mas se ele se encontrar cheio, é porque quem necessitar de auxílio,
não o estará a receber na devida forma.
Sendo que um dos deveres do Mestre Hospitaleiro é o de bem aconselhar o
Venerável Mestre sobre os fins a darem às importâncias obtidas na circulação do
Tronco da Viúva em Loja. A quem ou a quais, sejam Irmãos ou Instituições Sociais de
que os necessitem.
Essa também é uma das funções sociais da Maçonaria. Ajudar outras instituições
carenciadas que necessitem de auxílio; não procurando o Maçom o reconhecimento de
tais atos, pois a soberba não deve existir nas suas ações. O Maçom assim faz, porque
simplesmente acha de que o deve fazer, não porque procura méritos ou benefícios com
isso. Sendo que, por não se procurar reconhecimentos ou assumir falsos méritos, é
que a caridade maçônica sob a forma de tronco, é feita de forma reservada, nunca
devendo um Maçom mostrar o que deposita no Tronco da Viúva. Quem procurar
reconhecimento, deve procurar outro sítio para fazer a sua solidariedade, a sua
caridade.
O Tronco em si mesmo, é uma forma de Solidariedade, ele lembra ao Maçom, que
a beneficência e a solidariedade devem estar presentes ao longo da sua vida, fazendo
ambos parte dos deveres do Maçon. Além de que, na circulação do Tronco da Viúva
em Loja se relembrar ao Maçom que ele deve ser generoso e caritativo. Por isso,
quando um Maçom faz o seu óbolo, ele deve dar um pouco de si também. Mas nunca
com o pensamento de que um dia se necessitar, terá algo a que se “agarrar”. O Tronco
da Viúva não serve de ”almofada” para os Maçons. Não devendo eles se
aproveitarem da sua existência, para mais tarde o utilizarem sem razão aparente.
Quando um Maçom faz a sua entrega, a sua dádiva para o Tronco da Viúva, a única
coisa que deve ter em mente, é o de partilhar um pouco de si mesmo e do que tem com
os demais Irmãos.
Mas apesar de não ser uma obrigação principal da Maçonaria, pois a mesma não é
uma IPSS, cabe ao Maçom ter um espírito solidário com quem dele necessite. Por
isso mesmo, a missão do Tronco da Viúva, é a de ajudar um Irmão que necessite de
auxílio.
Mas para alguém poder ser ajudado, é também necessário que o Irmão em causa
reconheça a sua necessidade de auxílio. Mas, nem sempre quem precisa de ajuda, o
solicita. A vergonha ou inclusive o orgulho, são em grande parte dos casos, o “travão”
pessoal à procura de auxílio. Quem precisa de ajuda, deve por para “trás das costas”
tais sentimentos, pois agindo assim, corre o sério risco de perder toda a ajuda que
necessitar. E hoje em dia, devido à forma acelerada de como vivemos as nossas
vidas, nem sempre nos é possível perceber quem necessita da nossa ajuda.
Todos nós em certas alturas da Vida, passamos por momentos em que fraquejamos
ou que a nossa força mental não nos consegue ajudar a suportar o dia-a-dia.
É principalmente nesses casos que o Maçom deve ajudar os seus Irmãos. Tentando
se aperceber com a sua iluminação, quem necessita mais dele. Mas essa ajuda nem
sempre deve ser (ou pode ser…) financeira mas antes moral ou espiritual, pois nem
todas as carências de um Irmão são pecuniárias ou materiais. Muitas vezes apenas
alguém necessita de uma palavra de inspiração, uma “palmada nas costas” ou um
simples gesto de afeto e carinho. Tais gestos com certeza não podem ser depositados
num saco, devem-no antes ser entregues (pessoalmente) ao Irmão necessitado. É
amparando o seu irmão, que o Maçom lhe demonstra a sua solidariedade e vive o
espírito de fraternidade que a Maçonaria lhe oferece.
Tal como afirmei anteriormente, a Maçonaria não é uma IPSS. Antes é uma
Instituição que promove a Solidariedade, a Beneficência, a Fraternidade. E como tal,
a sua principal missão é ser solidária com os seus membros/Irmãos. Sendo assim, não
deve uma Loja virar as costas a um Irmão que esteja em apuros, devendo antes, correr
em seu auxílio e o amparar na resolução dos seus problemas. E é para isso que
fundamentalmente existe o Tronco da Viúva.
A única obrigação que ele tem, é a de ser bem utilizado!

Notas
Instituições Particulares de Solidariedade Social. [Nota externa]

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#10

A Simbologia da Franco-Maçonaria (Parte I)

Autor: Francisco Ariza


Tradução: Sérgio Koury Jerez
Fonte: O Ponto Dentro do Círculo
Neste trabalho dedicado à simbologia universal, não poderiam faltar algumas
reflexões sobre o importante simbolismo da Maçonaria, que representa, junto à
tradição Hermética–Alquímica, a única via iniciática não religiosa que sobrevive
ainda na Europa e sua área de influência cultural. E isto é assim embora, na
atualidade, muitos maçons não conheçam – ou conheçam de forma muito limitada – o
caráter simbólico e iniciático de sua Ordem. Alguns chegam inclusive a negar esse
aspecto essencial da maçonaria, crendo que esta só persegue fins sociais e
filantrópicos. Há outros, inclusive, que só vêm na riqueza simbólica da Maçonaria
uma fonte inesgotável onde alimentar suas próprias fantasias “ocultistas”, tão em
moda hoje em dia. Sem dúvida, esta suplantação dos verdadeiros fins da Maçonaria e,
por conseguinte, a infiltração das “ideias” profanas, só podia acontecer numa época
que, como a nossa, vive imersa na mais profunda obscuridade intelectual e espiritual.
Devemos esclarecer que aqui se vai falar da Maçonaria tradicional, ou seja,
daquela que mantém vivos e permanentes, através dos símbolos, dos ritos e dos mitos,
os laços com as realidades cosmogônicas e metafísicas emanadas da Grande Tradição
Primordial, da qual a Maçonaria é (em verdade) uma ramificação. No nosso entender,
e considerada desta maneira, a Maçonaria, igual a qualquer outra organização
tradicional, oferece ao homem caído e ignorante os elementos necessários para levar
a cabo sua própria regeneração e evolução espiritual. A estrutura simbólica e ritual da
Maçonaria reconhece numerosas heranças procedentes das diversas tradições que
foram se sucedendo no Ocidente durante, pelo menos, os últimos dois mil anos. E este
feito, longe de aparecer como um mero sincretismo, revela nesta Tradição uma
vitalidade e uma capacidade de síntese e de adaptação doutrinal que lhe valeu o nome
de “arca tradicional dos símbolos”.
Todas essas heranças foram se integrando com o transcorrer do tempo no universo
simbólico da Maçonaria, amoldando-se a sua própria idiossincrasia. Procedendo de
uma tradição de construtores, não deve parecer estranho que a Maçonaria desempenhe
a função de arca receptora, pois precisamente a construção ou edificação não tem
outra função além de pôr “a coberto” ou “ao abrigo” da intempérie ou inclemência do
tempo; mas, analogamente, quando se entende a construção como algo sagrado — e
este é o caso — está claro que esta não faz outra coisa senão proteger, e separar, do
mundo profano (as trevas exteriores) tudo aquilo que corresponde ao domínio
estritamente espiritual e metafísico. Por outro lado, este é precisamente o papel dos
símbolos que aludem às ideias de receptividade e concentração, como a própria arca,
o cálice, a caverna ou o templo. Sendo, como dissemos, uma via iniciática de origens
artesanais, a Maçonaria teve uma especial sensibilidade com relação a todas as
correntes tradicionais com as quais entrou em contato.
Assim, dentre essas correntes merecem destaque, além do Hermetismo, as que
procedem do Cristianismo, do Judaísmo e da antiga tradição greco–romana, e, mais
concretamente, do Pitagorismo. Também poderíamos mencionar a ainda mais antiga
tradição egípcia, sobretudo no que se refere aos símbolos cosmogônicos relacionados
com a construção, pois, como é sabido, o antigo Egito é, na realidade, um dos centros
sagrados de onde surgiu grande parte do saber que contribuiu para dar forma, com sua
influência sobre os filósofos gregos, à concepção do mundo que é própria da cultura
ocidental. De todo modo, a herança egípcia é transmitida à Maçonaria através,
fundamentalmente, da Alquimia hermética e do Pitagorismo. Não obstante, disso que
dissemos não se deve concluir que a Maçonaria seja o “resultado” da confluência de
todas essas tradições. Se fosse assim, a Maçonaria viria a ser uma espécie de
colagem ou museu arqueológico onde teriam abrigo todas as relíquias do passado
encontradas aqui e acolá, e catalogadas segundo sua respectiva antiguidade.
Evidentemente não é isso que queremos dizer quando falamos da herança
multissecular recebida pela Maçonaria. Cada tradição é legitimada e conformada por
uma “revelação” de ordem divina acontecida em um tempo mítico, “a-histórico” e
atemporal. Tal revelação é “única” para cada forma tradicional que se constitui a
partir dela, dando-lhe seu “selo” ou “marca” particular, sua estrutura, e, portanto, uma
função e um destino a cumprir no cenário do tempo da história.
Ocorre, por quaisquer circunstâncias, que uma tradição receba de outra (ou outras)
determinadas influências por contato ou similitude, o que muitas vezes foi inevitável e
até necessário. Mas de nenhum modo isto quer dizer que uma tradição se “transforme”
em outra, pois, como ocorre com qualquer ser vivo, cada uma compreende um
nascimento, um desenvolvimento, uma maturidade, e finalmente, uma morte. Aquilo
que se convencionou chamar de “Unidade Transcendente das Tradições”, é bem
diferente de uma simples “uniformidade”. Significa, fundamentalmente, que todas – e
cada uma delas – procede de uma fonte única (a Tradição Primordial), que se
manifesta não na forma ou roupagem que possam adotar por circunstâncias de tempo e
de lugar, mas, precisamente, no que constitui a “sabedoria perene” contida no núcleo
mais interno e central de cada tradição. O que ocorre com respeito à Maçonaria é que
esta não possui um caráter religioso, o que tornou possível sua adaptação a todas as
tradições, religiosas ou não, com as quais se relacionou ao longo da história.
A simbologia iniciática, demonstrada na arte da construção, entre outras coisas lhe
serviu de cobertura protetora, ao mesmo tempo em que lhe permitiu amoldar-se a
qualquer “dogma” religioso ou exotérico sem entrar em conflito com ele. Temos um
exemplo disso nas relações que, durante toda a Idade Média ocidental, a Maçonaria
manteve com o poder eclesiástico e com as diversas organizações iniciáticas do
esoterismo cristão. Por outro lado, se a Maçonaria, com esse espírito de fraternidade
e tolerância que a caracteriza, não houvesse acolhido em seu seio essas diversas
heranças, estas, com toda segurança se haveriam perdido definitivamente. E foi
possivelmente essa capacidade receptora que contribuiu para fomentar essa ilusão de
sincretismo que erroneamente alguns lhe atribuem. É precisamente o contrário, pois a
Maçonaria ao “reunir o disperso” não fez nada além de conservar em suas estruturas
simbólico–ritualísticas a “memória” dessas múltiplas heranças, cumprindo com isso
um papel “totalizador” que tem sua razão de ser (e uma razão de ser profunda) neste
final de ciclo que estamos vivendo. Neste sentido, e da mesma forma que na Arca de
Noé foram guardadas, para que não perecessem, todas as “espécies” que deviam ser
conservadas durante o cataclismo ocorrido entre dois períodos cíclicos, a “arca”
maçônica também acolhe tudo o que de válido deve conservar-se – até que, por sua
vez, o ciclo presente termine – e que constituirá os “germens” espirituais que se
desenvolverão durante o transcurso do futuro ciclo.
Particularmente esta função recapituladora assumida pela Maçonaria tradicional
faz pensar que ela subsistirá até a consumação do ciclo, o que, por outro lado, e como
assinala um autor maçom, “… está expresso simbolicamente pela fórmula ritual
segundo a qual a Loja de São João está no vale de Josafá”, que, acrescentamos, é
onde simbolicamente terá lugar o que no Cristianismo se denomina o “Juízo Final”.
No mesmo sentido, também se diz que a Loja maçônica permanece… “na mais alta
das montanhas e no mais profundo dos vales”, aludindo com isso ao começo do ciclo
(quando o Paraíso se encontrava no topo da montanha do Purgatório) e ao seu final
(quando a Verdade do conhecimento, representada pelo estado edênico, “fechando-se”
em si mesma, se fez invisível à maioria dos homens, ocultando-se no “mundo
subterrâneo”). Há que se dizer, para completar esta simbologia cíclica, que o vale
corresponde à caverna, que por estar no interior da montanha se situa por sobre um
mesmo eixo que conecta a cúspide de uma com a base da outra, unindo desta maneira
o mais “alto” (ou princípio) com o mais “baixo” (ou fim).
Dito isso, que cremos foi necessário para aclarar certas confusões que existem em
torno da Maçonaria, tentaremos explicar, a seguir, algumas dessas heranças
simbólicas que esta Ordem recebeu de outras formas tradicionais, ainda existentes ou
já desaparecidas.
Do Hermetismo a Maçonaria recolhe, em parte, a riqueza da simbologia alquímica,
que inclui os ensinamentos e vivências dos processos de transmutação psicológica
que levam do estado profano à realização espiritual.
O simbolismo dos elementos, relacionado com as energias purificadoras da
natureza, é de suma importância no rito da iniciação maçônica. Neste sentido, a
“Câmara de Reflexão” maçônica vem a ser o mesmo, e cumpre idêntica função
simbólica que o athanor hermético: um espaço fechado e íntimo onde se produzem as
mudanças de estados regenerativos exemplificados pela gradual “sutilização” da
matéria densa e caótica do composto alquímico. Igualmente, os diversos objetos
simbólicos que se encontram na “Câmara de Reflexão” são quase todos de origem
alquímica e hermética, como por exemplo, as três taças contendo enxofre, mercúrio e
sal, sem esquecer das siglas V.I.T.R.I.O.L. e a bandeirola com as palavras “Vigilância
e Perseverança”, as quais se referem ao estado de vigília permanente e paciência de
que deve armar-se o alquimista em suas operações.
Por outro lado, existem interessantíssimas analogias entre o processo de
transmutação da “matéria caótica” alquímica e o desbastar da “pedra bruta” na
Maçonaria, pelo que se pode fazer uma transposição totalmente coerente entre o
simbolismo alquímico e o simbolismo construtivo e arquitetônico. Dessa maneira, a
iniciação hermético–alquímica está presente por igual nos três graus maçônicos (de
aprendiz, companheiro e mestre), que reproduzem as três etapas da “Grande Obra”,
que incluem uma morte, um renascimento e uma ressurreição, respectivamente. Enfim,
as leis herméticas das correspondências e analogias entre o macro e o microcosmo
estão resumidas e sintetizadas no esquema geral do templo ou Loja maçônica,
verdadeira imagem simbólica do mundo.
Se a Tradição hermética deixou seus vestígios na Maçonaria, os deixados pelo
Pitagorismo não são menos importantes, e até poderíamos dizer que é, junto com o
judaico–cristianismo, um dos mais significativos, até o ponto de não ser possível
compreender o que é a Maçonaria sem essa referência pitagórica. Numerosos
símbolos maçônicos denotam sua procedência pitagórica, ou, pelo menos, mostram
uma identidade palpável com alguns dos símbolos mais importantes da confraria
fundada pelo mestre de Samos. É o caso, por exemplo, da conhecida “estrela
pentagramática” ou pentalfa, de suma importância na simbologia do grau de
companheiro (onde recebe o nome de “estrela flamejante”), e que os pitagóricos
consideravam como seu signo de reconhecimento e um emblema do homem
plenamente regenerado. Mas é na aritmética sagrada, ou seja, na simbologia dos
números em sua vertente cosmogônica e metafísica, onde se observa mais claramente
a presença do pitagorismo na Maçonaria.
Ambas as tradições dão ênfase ao sentido qualitativo dos números, por sua vez
estreitamente vinculado ao simbolismo geométrico, que também, por seu lado, está
diretamente relacionado com a construção do templo exterior e do templo interior.
Neste sentido, deve ser notado que, no frontão da Academia de Atenas, Platão fez
gravar uma inscrição que rezava: “Que ninguém entre aqui se não é geômetra”,
sentença que unanimemente se atribui aos pitagóricos, e que poderia perfeitamente
estar gravada no pórtico de entrada da Loja maçônica. Do mesmo modo, a Unidade ou
Mônada divina estava simbolizada entre os pitagóricos por Apolo, o deus geômetra
primordial que, mediante a “lei invariável do número” que extrai dos acordes
musicais de sua lira, estabelece o modelo ou protótipo pelo qual se rege a harmonia
da vida universal.
E não é, no fundo, o Grande Arquiteto maçônico, que com o esquadro e o
compasso determina a estrutura e os limites do céu e da terra, da mesma forma que o
Apolo pitagórico?
No que se refere ao Cristianismo, é indubitável que dele procedem numerosos e
importantes elementos doutrinais integrados na simbologia e no ritual maçônicos. Esta
integração se viu favorecida pela convivência que, durante praticamente todo o
período Medieval, os grêmios de construtores mantiveram com as ordens monásticas
e de cavalaria, especialmente a dos templários. Questionar ou desconhecer este
aspecto cristão tanto da antiga como da atual Maçonaria, é privá-la de uma parte
essencial de sua própria identidade tradicional, além de demonstrar com isso uma
ignorância completa sobre o esoterismo cristão, que é, precisamente, o que, em
grande medida, foi absorvido pela Ordem maçônica. Só um dado, porém sumamente
significativo: os santos padroeiros e protetores da Maçonaria são os dois São João, o
Batista e o Evangelista, e como já se disse a Loja é denominada “Loja de São João”.
À presença hermética, pitagórica e cristã, há que se acrescentar a da tradição
judaica, surgida do tronco de Abraão da mesma forma que o Cristianismo e o Islã. A
tradição hebraica transmitiu à Maçonaria fundamentalmente os mistérios relativos às
“palavras de passe” e às “palavras sagradas”, todas elas procedentes do Antigo
Testamento, se bem, é verdade, que também se encontram palavras e nomes sagrados
de origem cristã, concretamente nos que se denominam os “altos graus” maçônicos.
De certo modo, na Maçonaria confluem a Antiga Aliança e a Nova Aliança
formadoras do judaico–cristianismo, que se constituiu em uma só tradição durante os
períodos mais florescentes da Idade Média. Não é exagero afirmar que essa
constituição foi possível graças à própria Maçonaria operativa, que neste sentido
desempenhou um autêntico trabalho de “ponte”, muito especialmente no que se refere
ao âmbito da construção e da arquitetura. Como mais adiante teremos ocasião de
assinalar, as palavras de passagem e as palavras sagradas se relacionam com a busca
da “Palavra perdida”, busca que concentra em grande parte o trabalho de investigação
simbólica do maçom. Igualmente, a concepção simbólica da Loja – como o templo
cristão –, está baseada no desenho geométrico do templo de Jerusalém (ou de
Salomão), e o arquiteto que dirigiu as obras deste templo, o mestre Hiram, passa a ser
um dos míticos e legendários fundadores da Maçonaria.
Depois deste quadro geral, no qual muito superficialmente apontamos quais, a
nosso juízo, são as mais significativas influências tradicionais presentes na
Maçonaria, vamos ver na continuação, sobre o plano da história, de que forma essas
influências penetraram e se converteram em parte constitutiva desta tradição. E, se
bem que não tratemos aqui especificamente da história da Maçonaria, pensamos que
trazer à memória certos feitos históricos talvez pudesse fazer-nos compreender em
maior profundidade alguns símbolos maçônicos que, de fato, se forjaram à luz dessas
múltiplas heranças. Além disso, a história é também uma simbologia sagrada ligada
ao porvir cíclico e ao destino dos homens e das civilizações.
Uma História Simbólica
Devemos nos situar, pois, nessa época crucial da história da Europa e do Ocidente
que foi, sem dúvida, a Idade Média. Ali encontramos nos grêmios, ou agrupamentos
de construtores conhecidos como os free–masons ou franc–maçons, que por estarem
isentos do imposto alfandegário podiam viajar e deslocar-se livremente por todos os
países da cristandade. Dessa liberdade de movimento é que lhes era dado, em parte, o
nome de “franc– maçons”, que quer dizer “pedreiros, ou construtores, livres”.
Dissemos “em parte”, porque, como acertadamente escreve Christian Jacq: O
“franc-maçon” é o escultor da pedra franca, ou seja, da pedra que pode ser talhada e
esculpida… O “maçom franco” é, sobretudo, o artesão mais hábil e mais competente,
o homem que é livre de espírito e que se libera da matéria por sua arte… Em
numerosos textos medievais, o franco–maçom é oposto ao simples pedreiro, que não
conhecia a utilização prática e esotérica do compasso, do esquadro e da régua.
Assim, pois, esses “maçons francos” possuíam seus mistérios iniciáticos e suas
técnicas do ofício relacionadas com a construção, e expressavam na ordem concreta
das coisas a realização efetiva desses mistérios. Em grande medida, os maçons
operativos haviam herdado essas técnicas diretamente dos Collegia
Fabrorumromanos, ou seja, dos agrupamentos de construtores e artesãos cujas
origens remontavam ao legendário rei Numa. Assim como ocorreu com a Maçonaria,
os Collegia Fabrorum também recolheram a herança simbólica de tradições
desaparecidas, a mais notável das quais foi a tradição Etrusca, cuja cosmologia
passou ao Império Romano através desses colégios. É interessante ressaltar que os
Collegia Fabrorum veneravam muito especialmente ao deus Jano Bifronte, chamado
assim porque possuía dois rostos, um que olhava para a esquerda (ao Ocidente, ou
lado da escuridão), e outro para a direita (ao Oriente, ou lado da luz), abrangendo
dessa maneira o mundo inteiro.
Se bem que o simbolismo pertencente a esta divindade romana seja bastante
complexo, sabe-se com segurança que estava relacionada com os mistérios
iniciáticos, concretamente com os ritos de “passagem” ou de “trânsito”. Na
Maçonaria operativa medieval esses mesmos atributos passaram a fazer parte dos
dois São João, cujo nome é idêntico ao de Jano. Mais ainda: através dos Collegia
romanos, a Maçonaria recebeu (entre outras fontes de procedências diversas) a
cosmologia dos pitagóricos, baseada, como já se mencionou, nas correspondências
simbólicas dos números e da geometria, ciências e artes sagradas que precisamente
têm na arquitetura suas aplicações mais perfeitas. Entre os personagens conhecidos
que facilitaram esse trabalho de transmissão da cosmologia pitagórica (e também
platônica) ao período Medieval, merece destaque, no século VII, Boecio, chamado o
“último dos romanos” e autor da Consolação da Filosofia. Os estudos de Boecio
sobre astronomia, geometria, aritmética e música, foram realmente decisivos para o
enriquecimento das “sete artes liberais”, divididas no trivium e no quadrivium, de
suma importância nos ensinamentos da maçonaria operativa.
Por outro lado, a filosofia de Boecio influenciou notoriamente a literatura e o
pensamento esotérico da Maçonaria tradicional dos séculos XVIII e XIX, por
exemplo, em autores como Louis Claude de Saint Martin e José de Maistre. Seguindo
com esta ordem de ideias, existiu uma lenda difundida entre os maçons de língua
inglesa, segundo a qual um tal Peter Grower, originário da Grécia, trouxe aos países
anglo-saxões determinados conhecimentos relativos à arte da construção. Alguns
autores, entre eles René Guénon, afirmam que este personagem, Peter Grower, não era
senão Pitágoras, ou melhor, a ciência dos números e a geometria que através dos
pitagóricos foram introduzidas nas ilhas britânicas, ao mesmo tempo em que em todo
o continente.
No mundo da Tradição muitas vezes os nomes das pessoas, sejam históricas ou
lendárias, designam, mais que os próprios personagens, os conhecimentos que eles
transmitiram e que, com frequência, se transmitiram por meio das escolas ou
confrarias que fundaram. É o que, de certo modo, ocorre com o matemático grego
Euclides, que é mencionado nos “Antigos Deveres” – Old Charges – (que representam
uma série de documentos e escritos da Maçonaria operativa onde foram definidos
alguns eventos relacionados com a história sagrada da Ordem maçônica). Em um
desses documentos, o manuscrito Regius, se faz alusão a Euclides como o “pai” da
geometria, enfatizando-se que esta não designa senão a própria Maçonaria. Em outros
manuscritos se diz que o mesmo Euclides foi discípulo de Abraão, o que, do ponto de
vista da cronologia histórica é totalmente sem nexo, pois, como se sabe, Euclides
viveu no Egito durante o século III a. C., e Abraão aproximadamente dois mil anos
antes. Mas, tendo em conta de que se trata de história sagrada, e não simplesmente
profana, o que em verdade se quer dizer com esta lenda é que Euclides foi o discípulo
que recebeu o saber que o Patriarca encarnava, que era em si o monoteísmo hebraico
em sua expressão cosmogônica e metafísica.
Resumindo, em realidade tudo isso se refere a uma transmissão de caráter sagrado
efetuada da tradição judia para a Ordem maçônica, o que equivale a uma autêntica
“paternidade espiritual”. Seja como for, o legado da cosmologia greco–romana unida
à espiritualidade cristã, deu como resultado a criação da catedral gótica, edificada
pelos grêmios de construtores. Uma catedral, ou um monastério, é um compêndio de
sabedoria; nela, gravada na pedra, se materializam todas as ciências e todas as artes,
assim como os diferentes episódios bíblicos que fazem a história da tradição judaico–
cristã. Ali aparecem os diversos reinos da natureza, o mineral, o vegetal, o animal e o
humano, da mesma forma que as hierarquias angelicais que circundam o trono onde
mora a deidade.
Tudo isso converte a catedral, em um livro de imagens e símbolos herméticos
reveladores da estrutura sutil e espiritual do cosmos. Essas colunas que se elevam
verticalmente até outro espaço, unindo a parte inferior (a terra) à superior (o céu),
esses arcos e abobadas que se assemelham a cristalizações dos movimentos
circulares gerados pelos astros, essa luz solar que ao penetrar através do colorido
policromado dos vitrais se transforma em um fogo sutil que a tudo inunda; todo isso,
dizemos, nos permite reconhecer a existência de um espaço e um tempo sagrados e
significativos. Este conjunto de equilíbrios, módulos e formas harmoniosas (que por
refletir a Beleza da inteligência divina se constitui em “resplendor do verdadeiro”,
como diria Platão) se gera a partir de um ponto central, que, por sua vez, é o “traço”
de um eixo vertical invisível, mas cuja presença é onipresente em todo o templo.
Este ponto central não é senão o “nó vital” que promove a coesão do edifício
inteiro, e para onde conflui e se expande, como se tratasse de uma respiração, toda a
estrutura do mesmo. Tal “nó vital” era bem conhecido pelos mestres de obra, que
viam seu reflexo no umbigo, sede simbólica do “centro vital” do templo–corpo
humano. Essa estrutura do cosmos–catedral, imperceptível aos sentidos comuns, se
percebe graças à intuição intelectual e às formas visíveis do céu e da terra, que estão
simbolizadas pela abóboda e pela base quadrangular ou retangular, respectivamente.
Daí que a Maçonaria conceba o cosmos como uma obra arquitetônica e, a divindade,
como o Grande Arquiteto do Universo, também chamada Espírito da Construção
Universal em outras tradições.
Perto das catedrais em construção se encontravam as oficinas ou lojas, nas quais se
traçavam e desenhavam os planos, se repartiam as obrigações, se falava dos detalhes
da obra, e se celebravam os ritos e cerimônias de iniciação. Estas oficinas eram
autênticos centros de ensino tradicional onde, além das técnicas do ofício, se
transmitiam os conhecimentos cosmogônicos. Realmente, nas oficinas maçônicas se
conjugavam a arte e a ciência, a prática e a teoria, seguindo assim o famoso adágio
escolástico segundo o qual a “ciência sem arte não é nada”.
Cada Loja ou oficina estava sob a autoridade de um mestre arquiteto, que tinha a
suas ordens os oficiais companheiros (divididos em subgraus e funções), que por seu
lado vigiavam e dirigiam os trabalhos dos aprendizes. Esta estrutura ternária e
hierarquizada de aprendiz, companheiro e mestre se encontra com os mesmos ou
diferentes nomes unanimemente repartida em todas as organizações iniciáticas e
esotéricas, pois tal hierarquia expressa um modelo do processo iniciático íntegro, que
reproduz exatamente o desenvolvimento cosmogônico das “trevas à luz”, do “caos à
ordem”.
Um dos poucos testemunhos que se conservaram dos desenhos realizados pelos
maçons operativos é o álbum do arquiteto francês Villard de Honnecourt, ao qual
pertence também o traçado de um labirinto, cuja forma é idêntica à de todos os
labirintos iniciáticos: uma série de dobras concêntricas que conduzem, depois de um
longo trajeto que começa na periferia, ao centro do próprio labirinto, ou ponto de
contato com o eixo vertical por onde se produz a comunicação com os estados
superiores e a “saída” definitiva do cosmos, ou seja, dos limites determinados pelo
tempo – e seu porvir cíclico – e o espaço.
Junto aos maçons operativos encontramos os sábios alquimistas e astrólogos,
perfeitos conhecedores das ciências da natureza aplicadas como símbolos vivos do
processo iniciático e regenerador. Eles dotaram a catedral de numerosos símbolos
baseados nas correspondências e analogias entre o macro e os microcosmos, o céu e a
terra, a divindade e o homem, considerando-se os legítimos herdeiros da ciência
sagrada de Hermes Trismegisto. A “pedra bruta” que os maçons poliam e talhavam
para a construção, representava, como já dissemos, o mesmo que a “matéria caótica”
dos alquimistas: uma imagem da substância plástica indiferenciada na qual estão
contidas, em estado não desenvolvido e potencial, todas as possibilidades de
manifestação de um mundo ou de um ser. A pedra estava viva, não era simples matéria
inerte, e ao mesmo tempo, sua dureza e estabilidade simbolizavam a imutabilidade e
firmeza do Espírito. Em tudo isso, um detalhe não deve passar desapercebido: os
alquimistas tinham a Santiago, o Mayor, como santo padroeiro, que junto a São João
Evangelista (padroeiro dos maçons) e São Pedro (fundador da Igreja), assistiu aos
mistérios da Transfiguração de Cristo no Monte Tabor. A partir de então, um “laço”
fundamentado em um “Segredo” devia unir, acima das diferenças formais, a todos
aqueles que estavam sob a proteção desses santos cristãos, uma mostra do que foram
as fraternais relações que se viviam durante as edificações das igrejas–catedrais.
Essa fraternidade entre alquimistas e maçons deveria perdurar ainda até o século
XVIII.
A liberdade de movimento de que gozavam os franco-maçons, facilitaria os
intercâmbios de conhecimentos com outros grêmios de artesãos, dentre os quais se
destaca o chamado Companheirismo, que agrupava diversos ofícios (entre eles os
entalhadores de pedra e escultores), e que, da mesma forma que os maçons, tinham
seus graus e segredos de iniciação.
Dessa forma, esses intercâmbios se deram com as diversas ordens monásticas e
cavalheirescas. Não há que se fazer, portanto, um excessivo esforço de imaginação
para formar-se uma ideia do clima espiritual que se respirava naquela fecunda e
luminosa época. Poder-se-ia dizer, sem temor de exagerar, que ali o saber não tinha
fronteiras. E mais: a cordial convivência existente entre as organizações iniciáticas e
esotéricas, e aquelas de caráter religioso e exotérico testemunhavam o vigor e a saúde
da tradição.
Os cavaleiros templários, esses monges guerreiros que eram também construtores e
cujas regras foram inspiradas por São Bernardo, mantinham sob sua proteção
numerosas lojas maçônicas. E isso não deve passar inadvertido, pois quando esta
organização do esoterismo cristão desapareceu como tal em circunstâncias sangrentas
(devido a um acordo do sinistro rei francês Felipe, o Belo, com o Papa Clemente V),
essas mesmas lojas, sobretudo as da Inglaterra e Escócia, acolheram em seu seio
muitos dos templários sobreviventes, que traziam consigo certos conhecimentos
iniciáticos de sua Ordem que acabariam por integrar-se definitivamente na estrutura
simbólica e ritual da Maçonaria. Digamos que dentre essas lojas merece destaque a
Grande Loja Real de Edimburgo, fundada pelo rei Robert Bruce, que se opôs à
extinção da Ordem do Templo combatendo ao lado dos templários.
É significativo que o ano de constituição da Ordem Real da Escócia seja o de 1314
(ano em que se extinguiu a Ordem dos Templários), e que esta teve como Loja Mãe a
Ordem Heredom de Kilwinning, cujos alguns dos rituais eram de inspiração
templária. E esta palavra, heredom, significa “herança”, que é a mesma recebida
pelos templários. Não existem documentos escritos que atestem a realidade dessa
herança simbólica, ainda que seja evidente que ela aconteceu. Por tratar-se de
transferências sagradas estas têm lugar primeiramente no plano estritamente espiritual
e metafísico, concretizando-se no âmbito humano por mediação de individualidades
(pouco importa, neste caso, que sejam conhecidas ou anônimas) que as realizam de
maneira efetiva.
Um fio sutil e luminoso une o mundo superior ao inferior, e o inferior ao superior, e
a manutenção dessa comunicação é uma das principais funções que sempre tiveram as
organizações tradicionais e iniciáticas. Recordemos, neste sentido, que a palavra
“tradição” procede do latim tradere, que significa “transmitir” (e por extensão,
herança), e transmissão de uma verdade, voltamos a repetir, que remonta às próprias
origens da humanidade, e que todas as civilizações consideraram como a fonte de seu
saber e cultura. Essencialmente, os templários transmitiram à Maçonaria a ideia da
edificação do templo espiritual “que não é feito por mãos de homem” segundo a
mensagem evangélica. Tal ideia ficou materializada com a criação de certos altos
graus, complementares ao mestrado, de procedência templária.
Um dos mais notáveis, por sua riqueza simbólica, é o grau de Royal Arch do Rito
Inglês de Emulação. A Ordem do Temple (ou do Templo), em seu núcleo mais interno
era de essência johannica (da mesma forma que a Maçonaria), pois se inspirava nos
mistérios contidos no Evangelho e no Apocalipse de São João. Dessa forma, os
“Cavaleiros de Cristo” tinham como uma de suas principais missões a proteção do
Santo Sepulcro e a manutenção das relações com a “Terra Santa”, ou seja, com o
“Centro Supremo” ou “Centro do Mundo”. Com o desaparecimento do Templo, a
Maçonaria tradicional (e aqui enfatizamos o “tradicional”), do mesmo modo que a
Ordem hermética da Rosa–Cruz, continuaria mantendo para o Ocidente os vínculos
com essa “Terra Santa”, também chamada em outras culturas de “Terra dos Imortais”
ou “Terra dos Bem-aventurados”.
Durante o Renascimento encontramos a mesma ausência de documentos escritos
sobre as relações que o hermetismo cristão e alquímico manteve com a Maçonaria.
Graças à recuperação da filosofia platônica, impulsionada na Itália por Marsilio
Ficino e Pico da Mirándola, se assiste, nessa época, a um novo ressurgimento da
tradição e do saber hermético, onde há que se incluir a Magia Natural e a Cabala
cristã. Livros como De Harmonia Mundi de Francesco Giorgi, a Cabala Denudata
de J. Reuchlin, a Mônada Hieroglífica de John Dee, e a Filosofia Oculta de Cornélio
Agripa, entre tantos outros, exerceram uma grande influência nos círculos herméticos
de toda a Europa.
Em tudo isso há algo importante a assinalar: devido à fraternidade que se criou no
período Medieval entre os agrupamentos herméticos e os grêmios de construtores, era
perfeitamente normal que em uma época como o Renascimento – onde o suporte de
uma civilização tradicional estava já bastante debilitado – esses vínculos se
fortaleceram com o fim de salvaguardar os valores da tradição e da doutrina.

Notas
Aludindo a essa primordialidade, alguns textos maçônicos da Idade Média remontam a Maçonaria às próprias
origens da presente humanidade, quando se diz que: “Adão foi o primeiro iniciado maçom e o Paraíso a primeira
Grande Loja”. Parafraseando o que a respeito se menciona em alguns rituais ingleses, o simbolismo maçônico existe
from immemorial time, ou seja, desde tempos imemoriais… Denys Roman, René Guénon et les destins de la Franc-
Maçonnerie. Visita Interiora Terrae, Rectificando Invenies Occultum Lapidem (“Visita o interior da Terra,
retificando descobrirás a Pedra oculta”). É interessante comprovar que as raízes dos nomes de Hiram e Hermes,
HRM, são idênticas, o que nos leva a supor que existe entre ambos uma mesma função tradicional, ou uma mesma
energia espiritual adaptada a duas formas tradicionais ligadas à revelação dos mistérios cosmogônicos. O
monoteísmo hebraico se constitui a partir da confluência entre a tradição abraamita surgida da Caldeia (Abraão era
oriundo de Ur, na Caldeia) e uma corrente diretamente vinculada com a Tradição Primordial. Na Bíblia esta
conjunção está simbolizada pelo encontro acontecido entre Abraão e Melquisedeque, “sacerdote do Altíssimo e rei
de Salém” representante dessa corrente primordial.

Baixe o PDF. Leia também: A Simbologia da Franco-Maçonaria (Parte II) A Simbologia da Franco-
Maçonaria (Parte III)
Permalink: https://dosalicerces.wordpress.com/2017/01/05/a-simbologia-da-franco-
maconaria-parte-i/
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A Simbologia da Franco-Maçonaria (Parte II)

Autor: Francisco Ariza Tradução: Sérgio Koury Jerez


Fonte: O Ponto Dentro do Círculo
Chegamos assim à primeira metade do século XVII, onde assistimos ao surgimento
do movimento hermético-cristão ao qual se convencionou chamar de “iluminismo
rosa-cruz”. Esse movimento, que concedia uma importância especial à invocação dos
nomes divinos hebreus e cristãos, assim como às analogias e correspondências entre
os três mundos ou planos da manifestação universal-corporal, anímico e espiritual –
viria a ser decisivo para a gestação da Maçonaria especulativa. Os rosacrucianos,
dentre os quais se encontravam autênticos homens de conhecimento do porte de
Robert Fludd, Michel Maier e Juan Valentín Andreae (autor de As Bodas Químicas de
Christian Rosenkreutz), eram, por assim dizer, o braço exterior e visível da
enigmática “Ordem da Rosa-Cruz”, da qual tomaram o nome. Esta sociedade
hermética era composta por doze membros (número primordial) que permaneceram
sempre no mais completo anonimato, justificado pelas condições, cada mais vez mais
adversas, provocadas pelo poder exercido de forma autoritária pela maior parte da
nobreza e do dogmatismo inquisitorial. Esse “Colégio Invisível da Rosa-Cruz”, como
igualmente se denominava, herdou, graças a organizações filo-templárias como a Fede
Santa à qual pertenceu Dante, o essencial do simbolismo do Templo.
Durante os primeiros anos do século XVII o movimento rosacruciano estendeu as
ideias herméticas por diversos Estados e Principados do Europa central,
especialmente na Boemia e no Alto e Baixo Palatinado, fomentando um florescente,
mas breve, período no qual se tentou perpetuar a cultura tradicional do Ocidente. Não
obstante, tudo ficou truncado quando o movimento rosacruciano foi cruelmente
dissolvido – como no caso dos templários – durante a “Guerra dos Trinta Anos”,
acontecimento este que supôs que a “Ordem da Rosa-Cruz”, inspiradora desse
movimento, desaparecera da Europa buscando refúgio na Ásia.
Cabe aqui destacar dois pontos: primeiro, o aspecto cruento que tomou a
perseguição dos templários e dos rosacrucianos, aspecto esse que foi uma
característica bastante frequente no Ocidente durante muito tempo, e que deve ser
entendido, antes de mais nada, como a expressão de um gesto verdadeiramente
sacrificial estreitamente ligado com os mitos solares, e que o próprio Cristo
exemplificou com sua paixão e morte na cruz. Do mesmo modo, toda ação sacrificial
sofre uma morte ritual seguida de um renascimento ou ressurreição (o sol repete este
ato todo dia quando desaparece no Ocidente e volta a aparecer no Oriente), o que
pode ser constatado em diversas histórias, incluindo as que se referem ao destino
coletivo de todo um povo e das organizações iniciáticas e tradicionais. Segundo, o
desaparecimento dos Rosa-Cruzes ocorreu exatamente 333 anos depois da destruição
da Ordem do Templo (1314-1647).
Este número, 333, é um número cíclico, pois a soma de seus dígitos dá nove, que é
o símbolo numérico da circunferência, que, por sua vez, simboliza um ciclo completo
e fechado. Digamos, neste sentido, que o correto conhecimento da teoria dos ciclos é
imprescindível para compreender o desenvolvimento histórico ao qual se
circunscreve a vida dos povos e das civilizações, situando esse desenvolvimento em
suas justas relações analógicas com os grandes ciclos cósmicos, relações que
representam a expressão simbólica de tais ciclos no plano horizontal do mundo.
Assim, pois, com a “Guerra dos Trinta Anos” finaliza-se um ciclo e começa outro:
precisamente aquele que desembocaria na era de subversão dos valores tradicionais e
sagrados que constitui o mundo moderno. De fato, com o desaparecimento dos Rosa-
Cruzes acabaria de romper-se o laço que unia o Ocidente ao “Centro Supremo”, ou
seja, à Tradição Primordial das origens.
Assim sendo, não obstante também se possa considerar as coisas de outro modo, e
atendendo ao que neste sentido diz um autor maçom “… Ásia designa apenas o
Oriente, onde está situada desde sempre a Loja do maçom”. Sendo, desde logo,
verdade que o “Colégio Invisível da Rosa-Cruz” se ocultou no Oriente físico, isso de
forma nenhuma invalida que também o fizesse no Oriente simbólico e espiritual.
Voltamos a repetir que os acontecimentos históricos, como todas as coisas, são
sempre simbólicos, manifestando a nível sensível as realidades espirituais. A ordem
metafísica e o natural não se negam – pelo contrário, se complementam – coadjuvando
desta maneira à realização da harmonia universal, tendo sempre em conta, isso sim,
uma preferência hierárquica do primeiro sobre o segundo, sem confundi-los.
Ao finalizar a Guerra dos Trinta Anos, e durante ela, muitos rosacrucianos
abandonaram o continente instalando-se na Inglaterra e na Escócia, seguindo o
caminho que três séculos antes haviam empreendido os templários, e buscando, como
esses, refúgio nas lojas dos “irmãos franco-maçons”. Significa dizer que estas
relações tiveram suas consequências no simbolismo e rituais maçônicos, sobretudo
em alguns símbolos e ritos onde se vê claramente a inspiração hermética e rosa-cruz.
Por aquela época (século XVII) o caráter operativo da Maçonaria praticamente havia
desaparecido, e, com ele, a perda das técnicas ritualísticas próprias do ofício de
construtor e os conhecimentos simbólicos a elas vinculados, os quais ficaram sob
posse de reduzidos grupos maçônicos, que em vista das condições adversas que se
estavam apresentando, optaram por passar ao anonimato. Não obstante, achamos que
essa perda ficou compensada, em parte, pela influência revitalizadora que a
Maçonaria estava recebendo das diversas sociedades herméticas e de algumas das
ordens de cavalaria iniciática que perduravam, ou foram-se criando, desde o final do
período Medieval. O simbolismo arquitetônico ligado aos mistérios da cosmogonia
seguiria vigente, pois constitui a senha de identidade da tradição maçônica; mas, a
partir de então, esse simbolismo já só se aplicaria na edificação do templo interior.
Quer dizer que havia quase desaparecido a “forma”, mas não o espírito, o núcleo, a
essência.
É certo, por outro lado, que a admissão indiscriminada de pessoas que não tinham
mínimos conhecimentos sobre o que era verdadeiramente o simbolismo e a iniciação,
foi criando, paralelamente, as condições que levaram à gestação de uma Maçonaria
privada de sua dimensão espiritual, que é certamente a que a grande maioria de
nossos contemporâneos conhece. Assim, durante o século XVIII e princípios do XIX,
todas aquelas influências tradicionais recebidas durante anos foram, realmente,
decisivas para a estruturação definitiva dos “sistemas” ou Ritos mais importantes da
Maçonaria especulativa, entre os quais destacam por seu caráter tradicional, o Rito
Escocês Antigo e Aceito, o Rito Escocês Retificado e o Ritual de Emulação.
Este breve trajeto pelo tempo nos permitiu comprovar como a Maçonaria interveio
nos feitos mais significativos da história de Ocidente, ajudando a tecer (muitas vezes
de forma passiva e receptiva, é verdade, mas assim tinha que ser por razões que nos
escapam) a trama sutil da mesma durante os últimos setecentos anos.
Símbolos e Ritos
Como tradição sagrada que é, a riqueza simbólica da Maçonaria promove no
homem a busca do conhecimento de si mesmo, além de lhe oferecer os meios e os
métodos para chegar a ele, os quais, fundamentalmente, se expressam como uma
didática que facilita o despertar da consciência, que restitui a lembrança de sua
dimensão universal. Esse ensinamento pode ser classificado em:

símbolos visuais e gráficos;


símbolos sonoros e vocais; e
símbolos gestuais ou ritos.

Entre os primeiros se encontram os de desenho geométrico, cuja diversificação é bem


extensa, adequados à Maçonaria que costuma identificar-se com a própria geometria,
palavra derivada de Gea (terra) e metrón (medida), ou seja “medida da terra”, o que,
consequentemente, se relaciona com o ofício de construtor (e de agrimensor), na
medida que este delimita um espaço com o fim de realizar uma obra arquitetônica.
Entre os símbolos gráficos e visuais destacaremos o chamado “quadro da Loja” que
já é, por si só, uma síntese simbólica da Loja, e que de alguma maneira resume os
ensinamentos iniciáticos contidos em cada um dos três primeiros graus maçônicos.
Como todo símbolo que se refere às ideias de “enquadramento” ou “marcação”, o
quadro da Loja protege uma série de elementos de caráter sagrado destinados à
meditação e contemplação. Nisto é semelhante aos mandalas ou yantras das tradições
hindu e budista, modelos simbólicos que desenham uma imagem geométrica do
universo. São, portanto, verdadeiros suportes de meditação, adequados para gerar no
homem uma visão e um conhecimento de sua própria estrutura interior, refletida na
estrutura do mundo. Dissemos que cada um dos quadros de Loja resume ou sintetiza o
ensinamento do grau ao qual pertence, e isso é correto na medida em que nele se
encontram os símbolos visuais e gráficos mais significativos e importantes. Trata-se
das próprias ferramentas como o maço e o cinzel, o nível e o prumo, a régua de vinte
e quatro polegadas, o compasso e o esquadro. Também achamos o símbolo do Delta, a
estrela pentagramática, o Sol e a Lua, a pedra bruta, a pedra cúbica e a pedra cúbica
em ponta, o pavimento mosaico, o frontispício do templo com as duas colunas (Jakin e
Boaz) destacadas de um e outro lado da porta de entrada da Loja, etc. Trataremos de
algum destes símbolos.
Entre o segundo grupo de símbolos, os sonoros e vocais, encontramos as “palavras
sagradas” e as “palavras de passe” (todas de origem hebraica e cristã) e as lendas
dos distintos graus iniciáticos. As palavras sagradas se relacionam diretamente com o
que, na Maçonaria se chama de “busca da Palavra perdida”, que constitui o
verdadeiro Nome do Deus inefável, e cuja reconstituição equivale a “reunir o
disperso”, quer dizer, harmonizar os distintos elementos do ser na unidade de seu
princípio divino ou supra individual. Todas as “palavras sagradas” que se dão do
primeiro até o último grau, poderiam ser vistas como uma escala ordenada e
hierarquizada que conduz à “Palavra de Vida”, que não é outra senão o verbo interior
luminoso e regenerativo propiciador do nascimento espiritual. Nesse sentido, a
vocalização das palavras sagradas na Maçonaria recorda, em certos aspectos, as
técnicas de vocalização dos mantras, em uso entre as tradições hindu e budista. Como
se repetiu em diversas ocasiões, os mantras são sílabas e palavras de poder,
geradoras de vibrações sutis que conferem a iluminação iniciática ao transmitir a
potência do verbo divino imanente na própria realidade da vida cósmica e humana.
As “palavras de passe” estão estreitamente vinculadas às “palavras sagradas”. Como
sua própria definição indica, as “palavras de passe” aludem ao simbolismo de
passagem ou de trânsito, ou seja, contém uma chave que abre a porta de um espaço e
tempo interior sagrado e qualitativo. Devemos dizer que cada uma das palavras e
letras das línguas sagradas tem seu próprio valor numérico, e tudo junto, palavras e
números, formam a “ciência dos nomes”, em si mesma um código simbólico que
expressa as diferentes leituras da realidade nos distintos níveis e planos em que se
manifesta. Quanto às lendas dos graus, há que vê-las como uma espécie de história
sagrada da Maçonaria que permanentemente restitui a lembrança e a memória do
tempo mítico das origens. São relatos exemplares, modelos a seguir pelo iniciado e
através dos quais este se identifica com as façanhas e vivências de seus antepassados,
reatualizando-as no tempo presente, que desta maneira adquire sua verdadeira
qualidade.
E o terceiro grupo de símbolos refere-se, como se disse, aos ritos. E esta palavra,
“rito”, é idêntica, fonética e etimologicamente, ao sânscrito rita, que significa ordem.
O rito seria, pois, a repetição de um gesto ou ato ordenado. Na realidade o rito
iniciático (também religioso) é o próprio símbolo em ação executado conforme uma
ideia ou arquétipo, e, por sua vez, o símbolo é a fixação de um rito primordial, tal
qual o “gesto” do Grande Arquiteto criando o mundo. Se o trabalho com os símbolos
gráficos e geométricos se baseia fundamentalmente na concentração e nos estudos de
caráter intelectual, os ritos são uma série de gestos e posturas corporais que “fixam”
no plano psicossomático do ser a energia-força que precisamente o símbolo
geométrico veicula. Estes gestos rituais maçônicos são semelhantes aos mudras hindus
e budistas, que através de certas posturas e gestos manuais descrevem uma linguagem
sagrada articulada por uma cadência rítmica que é em si uma “música visual”. Essa
mesma relação símbolo-rito se pode estender também aos propriamente sonoros e
vocais; tudo isso expressa uma unidade de pensamento e ação que deve encarnar-se
na realidade cotidiana e diária, pois obviamente de nada serviria meditar na energia
salutar dos símbolos se depois não a levamos à prática de uma maneira ordenada e
consciente. Da mesma forma, o rito se realiza e desenvolve tanto no tempo como no
espaço; no tempo porque os trabalhos maçônicos se realizam do meio-dia em ponto
(zênite solar) até meia-noite em ponto (zênite polar); e no espaço porque tais
trabalhos são feitos seguindo a direção dos quatro pontos cardeais, ou seja, do
Oriente ao Ocidente e do Meio-dia ao Setentrião. Em tudo isso se reconhece uma
estrutura circular e cruciforme que abrange conjuntamente a ordem do macrocosmos e
do microcosmos, religados ambos pela recriação de um gesto ou rito comum.
Pois bem, essas três categorias de símbolos maçônicos (que por certo se
encontram em todas as tradições) estão ordenadas pela lei qualitativa do número, já
que tanto quando se desenha uma figura geométrica, se vocaliza um nome divino, ou
se executa um gesto ritual, não se está senão manifestando um ritmo interior que, ao
exteriorizar-se e plasmar-se na realidade concreta das coisas, toma necessariamente
uma estrutura numérica. A este respeito, disse José de Maistre em seu livro “As
Noites de São Petersburgo“:

O Criador nos deu o número, e é pelo número que se


manifesta para nós, assim como pelo número o homem
se evidencia a seu semelhante; tire o número e tirareis
as artes, as ciências, a palavra e, por conseguinte, a
inteligência. Devolve-o, e reaparecerão com ele suas
duas filhas celestiais, a harmonia e a formosura: o grito
se converterá em canto; o estrépito, em música; o salto,
em dança; a força se chamará dinâmica, e os traços,
figuras.

Notas
A palavra “sacrifício” procede do latim sacrum facere, um ato ou um fazer sagrado. Jean Tourniac, Vie et
perspectives de la Franc-maçonnerie Traditionnelle.

Baixe o PDF. Leia também: A Simbologia da Franco-Maçonaria (Parte I) A Simbologia da Franco-


Maçonaria (Parte III)
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maconaria-parte-ii/
#12

A Simbologia da Franco-Maçonaria (Parte III)

Autor: Francisco Ariza Tradução: Sérgio Koury Jerez Fonte: O Ponto Dentro do
Círculo
A Loja, Imagem do Mundo
Em primeiro lugar, prestemos atenção ao sentido etimológico da palavra Loja: ela
deriva de Logos, que é o Verbo ou Palavra, que emitida no mundo o resgata das trevas
e do caos, criando assim a possibilidade da manifestação e da ordem universal.
Igualmente, “Loja”, se não etimologicamente mas quanto a seu sentido simbólico, é
idêntica à palavra sânscrita loka, que quer dizer “mundo”, “lugar” e, por extensão,
“cosmos”. Por outro lado, também se dá uma identidade entre Loja, Logos e o grego
lyke, que significa “luz”.
Aqui temos, em resumo, o que distingue a Loja maçônica: um espaço iluminado,
mas iluminado interiormente graças à influência espiritual transmitida pela iniciação.
Daí que a Loja se assemelhe à “caverna iniciática”, termo que se utiliza em diversas
tradições para designar o que há de mais central e oculto no cosmos: seu próprio
coração. Como a caverna iniciática, ou o athanor hermético, a Loja permanece
protegida e a coberto do mundo profano e das “trevas exteriores”, que jamais
penetrarão nela porque na realidade se encontra situada em outro plano. Explicando
melhor: não se trata de um “lugar” no sentido literal, mas sim da consciência interna
onde habita o mistério da alma humana. Evidentemente existe uma Loja concreta e
física, que pode estar situada em qualquer rua de qualquer cidade de qualquer nação,
e que pode mudar de localização tantas vezes quanto se queira. O importante é que o
templo exterior simboliza com imagens mnemônicas e evocadoras nosso próprio
espaço e tempo interior. Além das aparências deve penetrar-se no que estas velam e
ocultam, pois do que se trata, realmente, é de conhecer o “Templo que não está feito
por mãos de homem”, como dissemos anteriormente.
A forma da Loja é a de um quadrado longo ou retângulo, cujo comprimento é o
dobro da largura. Tridimensionalmente seria um paralelepípedo, figura geométrica
que, para Platão, dava as proporções e relações harmônicas do universo. De fato, na
Loja maçônica se dão uma imensidão de correspondências simbólicas que tecem um
conjunto perfeitamente tramado onde é possível perceber a harmonia do mundo. Nada
neste templo é supérfluo nem foi posto por acaso, e cada símbolo ali presente, cada
palavra ou gesto emitido, está refletindo um matiz particular dessa harmonia.
Assinalaremos que o desenho da Loja maçônica parte da ideia diretriz marcada pelo
“número de ouro” ou “divina proporção”, regra que era utilizada pelos arquitetos
medievais. Este número determina, a partir de um ponto central que se expande em um
movimento logarítmico, as proporções harmônicas presentes em todos os organismos
vivos, quer se trate, por exemplo, da estrutura corporal do homem, de uma flor, do
caracol, da estrela do mar ou das espirais galáticas. Para os pitagóricos, o “número
de ouro” manifesta a inteligência criadora da Mônada ou Unidade, o Hieros Logos, ou
Grande Arquiteto, em sua ação, ou gesto, sobre a matéria caótica, plasmando-se nela
as ideias de simetria e ordem, equilíbrio e beleza.
Por tudo isso a Loja maçônica sintetiza a totalidade da vida universal, do cosmos
manifestado, até ser como a transfiguração qualitativa deste. É, pois, uma imagem do
mundo, uma Imago Mundi, um protótipo dele, reduzido à sua forma essencial. Nesse
sentido, poderia aplicar-se à Loja maçônica aquela frase inscrita no templo de
Ramsés II: “Este templo é como o céu em cada uma de suas dimensões e proporções”.
Por outro lado, a estrutura encompridada da Loja permite seguir o curso diurno do
sol, o astro que ilumina a terra partindo do Oriente para o Ocidente, passando pelo
Meio-dia ou Sul. Por tudo isso, e ao ser como uma imagem simbólica do universo, a
Loja está ordenada pelas direções do espaço, que surgidas simultaneamente pela
irradiação de um ponto central (o “Coração do Mundo”) gera um sistema de
coordenadas onde o alto, o baixo, o comprido e o largo formam a cruz de três
dimensões, outro esquema simbólico do cosmos.
Daí se deriva uma geometria espiritual bem conhecida pelos maçons operativos
que, aplicando-a na orientação e disposição dos edifícios sagrados, faziam com que
fossem penetrados pelos eflúvios e pelas forças mágicas da natureza e do cosmos. Do
espaço íntimo e oculto da gruta ou caverna onde nossos antepassados pré-históricos
oficiavam seus ritos e cultos sagrados, passando pela choça ou tenda ritual dos povos
nômades e os templos construídos de madeira, até, enfim, os monastérios e catedrais,
uma longa cadeia tradicional foi dando testemunho dessa vontade do homem por
enquadrar e delimitar determinados espaços “carregando-os” de significado
espiritual, de modo que refletissem na terra a própria ordem do céu.
Continuando com a descrição da Loja, observamos que no Oriente se acrescenta o
Devir, que no Templo de Jerusalém simbolizava o Sancto-Sanctorum ou “Santo dos
Santos”. O Devir tem forma de semicírculo, idêntico ao abside semicircular das
igrejas e catedrais cristãs, o mesmo que o mihrab das mesquitas muçulmanas. Tal
semicírculo é a projeção no plano horizontal terrestre da cúpula ou abóboda celeste.
Todo o espaço restante da Loja, que vai desde a porta de entrada até onde começa o
Devir, se denomina Hikal, que era o Sanctum ou “Santo” no Templo de Jerusalém. O
Hikal está separado do Devir por três degraus, que aludem aos três graus iniciáticos
de aprendiz, companheiro e mestre. Assim, pois, esses três degraus se referem à ideia
de elevação gradual e hierarquizada a outros planos ou níveis superiores de
realidade. De fato, no “Santo dos Santos” se depositava o que havia de mais sagrado
para o povo de Israel: a “Arca da Aliança”, pequeno receptáculo, em si mesmo um
modelo do cosmos, que “continha” os eflúvios e bendições emanados da divindade.
Da “Arca da Aliança”, como centro simbólico do mundo, espalhavam-se as bendições
em todas as direções do espaço, comunicando-as, além dos muros e paredes do
templo, para a cidade e o universo inteiro.
No lugar que aproximadamente corresponderia à “Arca da Aliança” está situado o
Altar ou Ara, coração da Loja onde incide o eixo vertical que comunica o céu à terra.
Também se chama “Altar dos juramentos”, porque sobre ele se realizam os
compromissos e “alianças” que o maçom contrai com a organização iniciática. Não
em vão, sobre o Altar se encontra a Bíblia, ou Livro da Lei Sagrada, aberta nos
versículos do livro dos Reis ou nas Crônicas, nos quais se mencionam a edificação e
as medidas exatas do Templo de Jerusalém, ainda que também possa ser aberta no
prólogo do Evangelho de São João, que começa com as palavras: “No Princípio era o
Verbo…”.
Os versículos do Antigo e do Novo Testamento se referem, pois, à construção do
templo material e do templo espiritual, respectivamente; o primeiro como reflexo ou
símbolo do segundo, pois existe antes que o próprio mundo, e nele residem
eternamente a sabedoria e a inteligência do Sumo Fazedor. Sobre a Bíblia se
depositam o compasso e esquadro, os dois emblemas maçônicos por excelência. Estas
são as ferramentas ou utensílios que simbolizam o céu e a terra. Com o compasso se
traça o círculo ou circunferência, figura geométrica que em todas as tradições é
considerada como uma imagem do céu e do celeste. Com o esquadro se traça o
quadrado, ou melhor, a cruz (que se forma pela união de dois esquadros unidos por
seus respectivos vértices), inseparáveis da ideia de quaternário; assim: os quatro
elementos, os quatro pontos cardeais, as quatro estações, os quatro períodos cíclicos
da humanidade, as quatro fases da lua, os quatro períodos da vida humana, etc., isto é,
tudo o que está relacionado com a terra e o terrestre. O compasso como “ciência do
céu” e o esquadro como “ciência da terra”, sintetizam os mistérios da cosmogonia,
que são também os mistérios do homem compreendidos em sua totalidade. Em uma
gravura hermética atribuída a Basílio Valentino aparece a figura do rebis ou
andrógino (união das energias contrárias numa só natureza ou substância) com um
compasso em sua mão direita e um esquadro na esquerda, simbolizando assim a união
do céu e da terra. Esta mesma representação iconográfica aparece em uma gravura
chinesa onde se vê a figura andrógina do imperador Fo-Hi e sua irmã Niu-Kua, o que
vem a confirmar a universalidade destes dois símbolos. A união entre o superior e o
inferior, entre o céu e a terra, é representada na Maçonaria pela superposição e
entrelaçamento do compasso e o esquadro, o primeiro com o vértice para cima e o
segundo para baixo, assemelhando-se à “estrela de Davi” ou “selo de Salomão”. Esta
complementariedade, que não obstante mantém uma ordem hierárquica, está
assinalada pela fórmula hermética de que “… o que está em cima (o macrocosmos) é
como o que está em baixo (o microcosmos) e o que está embaixo é como o que está
em cima”. Se a Bíblia, como livro sagrado, recolhe a revelação da Palavra, o
compasso e o esquadro são as ferramentas que servem para aplicar o conteúdo
espiritual dessa revelação na ordem da arquitetura. Bíblia, compasso e esquadro são
as “Três Grandes Luzes” da Maçonaria, porque no estudo, na meditação e no uso
ritual que delas se faz se vai iluminando a trilha que conduz ao Conhecimento.
Seguindo ainda para o Oriente, sobre a parede do fundo encontramos o Delta
luminoso com o Tetragrama ou nome inefável de Deus no centro. Este Delta é um
triângulo com o vértice para cima, figura que expressa a realidade dos princípios
universais, uma vez que é a primeira estrutura arquetípica que se expressa em todos
os planos da manifestação como uma força que cria, outra que conserva e uma terceira
que destrói, ou melhor, transforma. Estas três ideias-força surgem da unidade
primordial que fica simbolizada no Delta por um só olho que às vezes substitui ao
Tetragrama, mas que refere-se ao sentido de presença imutável da deidade no próprio
seio da manifestação. Ademais, a manifestação, da sua realidade mais sutil até a mais
densa e material, está simbolizada pelas quatro letras que compõe o Tetragrama: Iod,
He, Vau, He, correspondendo-se, cada uma delas, com os quatro níveis ou mundos
que constituem a existência universal, e que são os mesmos que se encontram na
Árvore da Vida cabalística. Neste nome divino fica, então, resumida a obra da
criação em seu conjunto, e seu conhecimento se vincula diretamente com a busca da
“Palavra Perdida”.
Mas o templo, e neste caso a Loja maçônica, não é só uma estrutura estática –
como tampouco o é o universo – mas dinâmica também, podendo ser visualizada
como uma roda, imagem da “roda do cosmos” ou Rota Mundi. Isso está
expressamente indicado pelas doze colunas ou pilares que cercam o recinto da Loja, e
que equivalem aos doze signos zodiacais. Seis destas colunas estão situadas no
Setentrião, e seis ao Meio-dia. Diremos que o zodíaco (que quer dizer precisamente
“roda da vida”) é como o marco do universo visível, e seu movimento cíclico, unido
ao dos planetas e demais constelações, influi na troca alternativa das estações e na
manutenção e renovação da vida do cosmos e do homem. Disso se deduz que a
Maçonaria não desconhece a antiga ciência da astrologia, que junto a da alquimia
revela também os mistérios do céu e da terra.
As colunas Jakin e Boaz se vinculam à simbologia dos dois solstícios, e portanto,
com as duas fases ascendente-descendente do ciclo anual. Elas se assemelham, assim,
aos dois São João, o Batista e o Evangelista e, em consequência, à “porta dos
homens” e à “porta dos deuses”, respectivamente. Estas são as portas zodiacais de
Câncer e Capricórnio, que correspondem à entrada do verão e do inverno, isto é, ao
descenso e à ascenso da luz solar. As portas solsticiais cumprem um papel muito
importante dentro do processo iniciático, que, não se deve esquecer, reproduz
exatamente as etapas do desenvolvimento cosmogônico. Para os pitagóricos, pela
porta de Câncer as almas penetram no “antro das ninfas”, que é o mesmo que a
caverna platônica, outra imagem do mundo. Ali se regeneram pelo conhecimento dos
“pequenos mistérios”. Pela porta dos deuses estas almas saem do cosmos para
participar dos “grandes mistérios”. Ou seja, a alma humana “… entra no mundo por
uma porta e sai por outra, e no ínterim – assinado pelo espaço e o tempo – tem a
oportunidade de reconhecer-se e escapar dessa condição pela identificação com
outros estados do ser universal, que pode vivenciar por meio da consciência
individual – semelhante à consciência universal – e que constituem a possibilidade da
regeneração particular – e também da universal -, sempre, é claro, tomando como
suporte a geração e a criação no espaço e no tempo”. Esses dois processos são
idênticos aos realizados por Cristo, cujo nascimento, paixão, morte e ressurreição,
representam um arquétipo da iniciação. Esse mesmo processo pode ser visto também
na mitologia de grande número de heróis e deuses solares, como é o caso de Osíris,
Quetzalcóatl, Mitra e do próprio arquiteto Hiram. Com relação à vida de Cristo é
interessante assinalar o dado, sem dúvida não casual, de que as iniciais das colunas
Boaz e Jakin são também as iniciais de Belém e Jerusalém, as duas cidades que
presidem o nascimento e a morte do Salvador, ou seja, o ciclo completo de sua
existência humana.
No centro da Loja se estende o “pavimento mosaico”, tapete de quadros brancos e
pretos exatamente igual ao tabuleiro de xadrez, cujas origens também são simbólicas
como a da maioria dos jogos. O “pavimento mosaico” é, sem dúvida, um símbolo da
manifestação que, efetivamente está determinada pela luta e delicado equilíbrio que,
entre si, sustentam as energias positivas, masculinas e centrífugas (yang, luminosas) e
as energias negativas, femininas e centrípetas (yin, obscuras), expressas também na
alternância dos ritmos e ciclos vitais e cósmicos. Neste sentido, é ao redor do
pavimento mosaico por onde se efetuam as circunvoluções rituais que os maçons
realizam em Loja, seguindo assim uma ordem marcada pelos quatro pontos cardeais,
as direções do espaço.
Por último, deve-se mencionar que no próprio meio do pavimento mosaico se
dispõe o “quadro da Loja”, que antigamente era desenhado no chão ao começar os
trabalhos, e apagado quando os trabalhos eram finalizados. Já dissemos que este
quadro é um esquema sintético de todo o templo maçônico, além de constituir um
suporte simbólico para a meditação e a concentração. De fato, o quadro da Loja, ao
conter em seu interior o desenho dos símbolos mais significativos e importantes,
torna-se um veículo da influência espiritual na Maçonaria. Não é, então, casual que
seja precisamente ao redor deste quadro (que é o ponto geométrico mais central do
templo maçônico) que tem lugar o rito da “cadeia de união”, na qual se invoca a
potência criadora e iluminadora do Grande Arquiteto e, implicitamente, também a de
todos os antepassados míticos e históricos que contribuíram na edificação do templo
material e espiritual. E esta invocação vertical se realiza mediante a união encadeada
e fraterna de todas as forças vivas presentes na Loja, isto é, de todos os “irmãos”, que
estabelecem assim uma comunicação sutil entre suas respectivas individualidades,
servindo como suporte para a manifestação da influência sagrada.
Cabe mencionar, por último, que ao redor do “pavimento de mosaico” e do
“quadro da Loja” se encontram os três pilares da Sabedoria, da Força e da Beleza.
Esses pilares também recebem o nome de “três pequenas luzes”, porque sobre cada
uma delas arde uma pequena vela; são pois colunas de luz e de fogo, três nomes do
Arquiteto diretamente relacionados com a construção do templo e do cosmos.
Mas não queríamos terminar sem oferecer um texto das Leituras do Rito de
Emulação que resume belamente tudo o que até aqui dissemos sobre o templo
maçônico:

“Permita-me atrair vossa atenção sobre a forma da


Loja, a qual é um paralelepípedo cujo o comprimento
se estende de Leste a Oeste, a largura do Norte ao Sul
e, a altura, da superfície da terra até seu centro,
inclusive com tanta altura como os céus. “Uma Loja de
maçons se descreve assim para mostrar a
universalidade da Ciência e ensinar-nos que a caridade
de um maçom não deve conhecer limites além dos da
prudência . “Nossas Lojas devem estar orientadas de
Leste a Oeste, porque todos os Templos dedicados à
adoração divina, como as Lojas dos maçons estão ou
devem estar assim orientadas. “O Universo é o Templo
do Deus que servimos. A Sabedoria, a Força e a
Beleza sustentam seu Trono como pilares de sua obra,
porque sua Sabedoria é infinita, sua Força onipotente e
sua Beleza resplandece na ordem e na simetria do
conjunto da Criação. Ele estendeu os céus ao infinito,
como um vasto dossel; dispôs a terra como uma tarima,
coroou seu templo com as estrelas como um diadema e
de sua mão irradiam a potência e a glória. O sol e a lua
são os mensageiros de sua vontade e toda sua lei é a
concórdia [o Amor]”.

Notas
Federico González, La Rueda, una imagen simbólica del cosmos.

Baixe o PDF. Leia também: A Simbologia da Franco-Maçonaria (Parte I) A Simbologia da Franco-


Maçonaria (Parte II)
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maconaria-parte-iii/
#13

Filhos da Luz na Terra Santa: Os Maçons Fundadores da Moderna Israel

Autor:Yaron Gal WeisTradução:Kennyo IsmailIn: Fraternitas in Praxis – v. 1, n. 1


(2013) Fonte: Fraternitas in Praxis
Introdução
Este artigo é baseado no livro “Filhos da Luz na Terra Santa”, escrito pelo
excelentíssimo Irmão Leon Zeldis, Fellow da Philalethes Society, membro da
Sociedade dos Frades Azuis, 33°, Past Soberano Grande Comendador do Supremo
Conselho do Rito Escocês para o Estado de Israel, Grão-Mestre Adjunto de Honra da
Grande Loja do Estado de Israel.
O escritor deste artigo não tem qualquer intenção de discutir o escopo completo do
profundo e sério trabalho histórico do ilustre Irmão Leon Zeldis. Na verdade, opta-se
aqui por seguir um argumento específico que sugere que o Estado de Israel foi
concebido e fundado por maçons e por pessoas ligadas a esses.
Os Judeus e a Maçonaria Operativa
Não é de surpreender que o povo judeu tenha sido de alguma forma, e alguns
judeus ainda estão, interligados com a Maçonaria. Como é de conhecimento público,
alegoricamente a Maçonaria considera Israel, mais especificamente Jerusalém, como
seu berço. Afinal de contas, o Templo de Salomão tem uma importância significativa
para a Maçonaria em todos os ritos maçônicos regulares (p. 7).
Embora não há evidência histórica de que qualquer tipo de organização dos
maçons operativos tenha existido até, pelo menos, a fundação do Reino Latino de
Jerusalém pelos cruzados no século 11 d.C. (p. 8-9), algumas características desse
tipo de organização podem ser encontradas na comunidade de Qumran, um grupo
judaico messiânico que viveu nas proximidades do Mar Morto (p. 8-9). Entre essas
características, pode-se notar o termo pelo qual o grupo era conhecido, “Filhos da
Luz”; o processo de admissão na comunidade, que correspondia a um lento progresso
dos recém-chegados, que eram supervisionados e avaliados periodicamente; e o
simbolismo baseado em pilares e pedreiras (ibid.). Alguns historiadores afirmam que
Jesus de Nazaré tenha pertencido a essa comunidade, também conhecida como dos
essênios.
Em Jerusalém, pode-se ainda encontrar vestígios da Maçonaria Operativa
relacionados a lendas maçônicas. O Muro das Lamentações, situado em Jerusalém, é
na verdade a única relíquia que sobrou do Templo de Herodes. Os registros oficiais
indicam que durante escavações arqueológicas feitas em seu subsolo, um túnel foi
encontrado. Os arqueólogos então encontraram as pedras da fundação, que
aparentemente sustentavam a base das paredes do templo. Elas tinham sido esculpidas
tão perfeitamente, que não se pode sequer enfiar uma faca com a lâmina mais fina
entre elas (p. 28). Isso pode ser uma evidência da existência de pedreiros
profissionais há mais de 2.000 anos.
Na opinião de vários historiadores, debaixo da bela Cúpula da Rocha, na Mesquita
de Al-Aksa, situa-se a pedra fundamental ou pedra santa do Templo de Herodes. De
acordo com a Bíblia, a Arca da Aliança foi colocada à frente dela (p. 29-30).
A importância de Jerusalém para o Judaísmo pode ser demonstrado na seguinte
antiga crença judaica: a) a Terra de Israel é o centro do mundo; b) Jerusalém é o
centro de Israel; c) o Templo é o centro de Jerusalém; d) O Dvir é o centro do
Templo; e) A Arca da Aliança é o centro do Dvir; (f) A pedra fundamental ou pedra
santa está na frente da Arca da Aliança (p. 30).
Maçonaria Especulativa no Oriente Médio
Antes de começarmos a explorar a Maçonaria judaica, é de extrema importância
nos situarmos no contexto histórico para o desenvolvimento da Maçonaria no Oriente
Médio. Em 1798, Napoleão Bonaparte conquistou o Egito, seguindo para o Norte e
conquistando também Gaza, Jaffa e Ramallah. Muitos oficiais e soldados do seu
exército eram maçons. Talvez daí a forte predominância da Maçonaria francesa sobre
a Maçonaria judaica em Israel durante o início de sua formação (p. 32-33).
Uma das empreitadas mais intrigantes dos oficiais de Napoleão foi o
estabelecimento de uma loja em Alexandria com o nome de “Isis” (p. 33). Por que
razão esses oficiais escolheriam especificamente esse nome para a Loja? Alguns
céticos provavelmente podem sugerir que a razão foi, obviamente, a localização da
Loja no Egito. Porém, um maçom bem instruído provavelmente levará em
consideração que a deusa egípcia Isis simboliza conhecimento, a ordem temporal do
sacerdócio e do corpo cumulativo de iniciados. Ela é personificada como o Templo,
Ela é a mãe de todo o bem, a protetora do certo e a patrona de todo desenvolvimento.
É relevante também mencionar que Isis era a patrona das artes mágicas entre os
egípcios, enfatizando que a magia deveria ser usada exclusivamente para o propósito
da redenção da alma humana. Enquanto Isis é identificada com o Templo, ela
representa apenas um dos lados de um triângulo místico. Os outros dois lados são
Osíris, simbolizando a aprendizagem dos ritos antigos, e Hórus, simbolizando os
adeptos que “nasceram de novo”, fora do útero da mãe Isis, que representa a escola
de mistérios ou a iniciação.
Alguém poderia perguntar por que o autor dá tanta atenção ao Egito e sua
mitologia. A resposta encontra-se na conexão entre o Antigo Egito, o povo de Israel e
a Maçonaria judaica moderna. A Bíblia conta a história do povo de Israel, que serviu
governantes egípcios como trabalho escravo. De acordo com as antigas fontes, o povo
de Israel trabalhou na construção das pirâmides. Considerando isso, os judeus foram
antigos maçons operativos profissionais (infelizmente não podemos acrescentar o
termo “livres”, nesse caso). A partir daí, pode-se imaginar a atratividade da filosofia
maçônica aos judeus. Afinal de contas, foi Moisés quem disse ao Faraó: “Deixa ir o
meu povo”. Ou seja, em outras palavras: “Liberte-os!”.
Porém, somente a partir do Século 19 há evidências de atividades maçônicas na
terra de Israel (p. 14). No ano de 1860, a “Alliance Israelite Universelle” foi fundada
na França, com o objetivo de incentivar a educação judaica no Oriente. Um de seus
fundadores foi eleito em 1869 como Soberano Grande Comendador do Supremo
Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceito na França (p. 19). A “Aliança” teve um
grande impacto sobre a educação secular judaica e israelense antes do
estabelecimento do Estado de Israel, e maior importância ainda após a sua criação.
Outra organização com uma extrema importância para a formação de Israel foi o
movimento “Hibbat Zion” (Amor de Sião), que foi fundado em 1889 por intelectuais
judeus russos, na cidade de Odessa (p. 20). O objetivo principal desse movimento era
encorajar os judeus à imigração para Israel e estabelecer assentamentos agrícolas e
industriais com base em princípios democráticos e liberais (ibid.). Esse movimento
estabeleceu a Sociedade Secreta “Bne’I Moshe” (Filhos de Moisés) a qual foi
fortemente inspirada pela Maçonaria (p. 21). Um dos seus principais fundadores era
Asher Ginzberg (“Ahad Ha- Am”), que afetou profundamente a motivação dos judeus
europeus a emigrar para Israel. Asher Ginz- berg tinha conexões com a Maçonaria:
sua filha era casada com um maçom ativo (ibid.).
O chamado “Caso Dreyfus”, que refletiu em violência e antissemitismo na Europa,
levou ao surgimento do líder do movimento sionista, Theodor (Binyamin Zeev) Herzl
(p. 24). Embora o próprio Herzl não fosse maçom, o seu pai era, e Herzl havia sido
“adotado” em um ritual maçônico de adoção de lowtons, realizado nas dependências
de uma organização chamada “Chevra Kadisha” (Sociedade Sagrada) em Budapeste
(p. 25). O movimento sionista culminou em uma onda de imigração de judeus para
Israel, e de uma de suas principais criações, a Organização Sionista Mundial – OSM,
quando surgiram as instituições nacionais iniciais de Israel e seus primeiros líderes
políticos.
Seria interessante notar que, em 13 de maio de 1868, o Mui Venerável Irmão
Robert Morris, Past Grão-Mestre da Grande Loja de Kentucky, dirigiu uma cerimônia
fechada na caverna de Zedequias, popularmente conhecida como “Pedreiras do Rei
Salomão”, numa profundidade abaixo das muralhas da cidade velha de Jerusalém. O
Dr. Morris trabalhou incessantemente para erguer a primeira Loja Maçônica regular
em Israel e, em 1873, ele finalmente conseguiu obter uma carta constitutiva da Grande
Loja do Canadá, com sede em Ontário, para a “Royal Solomon Mother Lodge” n º
293, para trabalhar “na cidade de Jerusalém ou locais adjacentes”. Esta foi a primeira
Loja Maçônica regular em Israel. A maioria de seus membros fundadores eram
colonos americanos que viviam em Jaffa (p. 33-37).
Como já assinalado neste artigo, os maçons judeus tinham desempenhado um papel
importante na formação da educação judaica e israelense. Um deles foi o Irmão Karl
Netter, que estabeleceu a “Mikve Israel”, a primeira escola a ensinar métodos de
agricultura moderna em Israel (p. 46). Outro famoso educador judeu foi o também
maçom David Yellin (1864-1941). O Irmão Yellin foi um dos primeiros professores
de hebraico em Israel, e um dos fundadores da Biblioteca Nacional e do Comitê da
Língua Hebraica (p. 69). Além disso, ele atuou como Vereador da cidade de
Jerusalém e Vice-prefeito (ibid.). E por último, mas não menos importante, é um
agradável dever mencionar o Irmão David Yudilevich, que foi um dos fundadores da
cidade de Zichron Yaakov, e que estabeleceu a escola “Haviv”, a primeira no mundo
a ensinar apenas em língua hebraica. Ele também atuou como Vereador, na cidade
Rishon Le Tzion (p. 70-72).
Outra anedota sobre as conexões históricas entre Jerusalém e a Maçonaria pode
ser encontrada na história do Irmão e Sir Charles Warren. Em 1867, o General
Charles Warren iniciou um período de escavação clandestina, que durou cerca de três
anos. Uma de suas descobertas mais curiosas foi o “Salão Maçônico” sob as paredes
do Monte do Templo, em Jerusalém. As paredes do “Salão Maçônico” foram
construídas com pedras cortadas e contêm duas colunas quadradas com títulos
esculpidos, aros e batentes (p. 42-43).
Apesar de se esperar que os maçons não tratem de questões políticas e religiosas
dentro de suas Lojas, nada impede que um maçom seja engajado politicamente fora
dela. Pelo contrário, um maçom deve ser, acima de tudo, livre para lutar por aquilo
que acredita. Esse foi o caso de um dos mais importantes e influente ideólogos
sionistas, Irmão Vladimir (Ze’ev) Jabotinsky (1880-1940). O Irmão Jabotinsky foi o
fundador do movimento revisionista na organização sionista, que mais tarde deu
origem ao nascimento do partido de extrema-direita sionista: o “Likud”. Menachem
Begin e Benjamin Netanyahu são os dois Primeiros-ministros israelenses que
surgiram a partir desse movimento (p. 143). Além disso, o Irmão Jabotinsky também
foi um escritor, poeta e tradutor (ibid.).
A primeira Grande Loja Nacional em Israel foi constituída em 1933, mesmo antes
da criação do Estado, e reuniu todas as Lojas que estavam trabalhando sob
jurisdições egípcias ou francesas. As lojas de língua inglesa, no entanto, recusaram-se
a aderir à nova Grande Loja e continuaram trabalhando separadamente. A falta de
reconhecimento por parte da Grande Loja Unida da Inglaterra resultou em um quase
completo isolamento internacional (p. 156-158).
A 2ª Guerra Mundial teve um efeito tremendo e desastroso sobre a Maçonaria em
todo o mundo e, especialmente, sobre os judeus maçons. Um caso especial, nesse
contexto, é a história das cinco Lojas Maçônicas de língua alemã, fundadas em Israel
em 1931 pelo Grão-Mestre da Grande Loja Simbólica da Alemanha, o Mui Venerável
Irmão Otto Muffelmann. Ele percebeu que a ascensão de Hitler na Alemanha poderia
significar o fim da existência da Maçonaria em seu país. Então ele viajou para Israel
e, com a ajuda de Irmãos alemães que emigraram para escapar das leis raciais
nazistas, fundou Lojas nas três principais cidades: Jerusalém, Tel-Aviv e Haifa. Logo
depois, a Maçonaria foi realmente proibida na Alemanha, as Grandes Lojas alemãs
fecharam suas portas, e muitos Irmãos maçons foram brutalmente assassinados nos
campos de concentração. Lojas de língua alemã em Israel e Chile, por exemplo,
mantiveram viva a chama da Maçonaria alemã durante aqueles anos terríveis e, após
o fim da guerra, foram cruciais no reestabelecimento da Maçonaria na Alemanha (p.
114-116).
Após a 2ª Guerra Mundial, houve a necessidade da (re)criação de uma Grande
Loja em Israel, que fosse capaz de promover a unidade dentro da Maçonaria
israelense e conquistar reconhecimento internacional. Esse ideal foi alcançado em
1953, no edifício da YMCA em Jerusalém, quando, em uma cerimônia
impressionante, conduzida pelo Conde de Elgin e Kincardine, na posição de Past
Grão-Mestre da Grande Loja da Escócia, a Grande Loja do Estado de Israel foi
instalada e o Mui Venerável Irmão Shabetay Levy foi empossado como seu primeiro
Grão-Mestre (p. 189-200).
Este autor opta por concluir este breve artigo com um modelo humilde e reservado
da Maçonaria israelense: Irmão Shabetay Levy. O Irmão Levy ajudou judeus, cristãos
e muçulmanos perante as autoridades otomanas (p. 149). O Irmão Levy também serviu
como Vereador da cidade de Haifa, Vice- prefeito e, finalmente, Prefeito (ibid.). Além
disso, o Irmão Levy assumiu, como já mencionado, como o primeiro Grão-Mestre da
Grande Loja do Estado de Israel, em 20 de outubro de 1953 (p. 192-200).
Comentários Finais
Em resumo, na verdade muitos maçons estiveram envolvidos na criação do
moderno Estado de Israel. O autor deste artigo gostaria de sugerir ao leitor mais
esclarecido que evite se confundir entre Sionismo e Maçonaria. Essas duas
instituições filosóficas não são uma. São claramente diferentes, conjuntos separados
de ideias e ideais. Deve-se ter em mente que, apesar do fato de muitos maçons terem
participado de forma profunda e relevante na criação e formação da Israel moderna,
eles fizeram isso como indivíduos e de suas próprias iniciativas. Logicamente foram
positivamente influenciados pelo espírito humanista da Maçonaria, o qual preconiza
princípios como de liberdade, igualdade, fraternidade e verdadeira amizade entre as
pessoas, independentemente de religião, raça, status social ou convicções políticas.
Como se pode facilmente observar, há uma virtude fundamental que é incutida pela
iniciação maçônica em seus membros, que é auto aperfeiçoamento. Todos e cada um
dos heróis maçons judeus começaram com a busca pelo aperfeiçoamento de si
mesmos antes de tentarem melhorar o mundo exterior em que viviam. Essa é
provavelmente a chave que dá acesso ao maior segredo maçônico, a construção de um
maçom sério e dedicado.
Notas
N.E.: Flavius Josephus (37 d.C. – ca. 100 d.C.), judeu e romano, registra que o Templo de Jerusalém foi
totalmente reconstruído por Herodes, o Grande (ca. 73 a.C. – 4 a.C. ou 1 d.C.). Ficou conhecido como Templo de
Herodes ou Terceiro Templo de Jerusalém, após a construção por Salomão (ca. 957 a.C.) e a reconstrução após o
cativeiro na Babilônia (ca. 515 a.C.). Dvir, que significa “o lugar mais sagrado”, mais conhecido como Sanctum
Sanctorum. Dreyfus foi um oficial do exército francês, de origem judaica, que, inocente, sofreu um processo judicial
coberto de fraudes que levou a sua condenação. Para reduzir os efeitos públicos do erro judicial, iniciou-se uma
campanha nacionalista e xenofóbica na França, a qual alcançou toda a Europa ainda no final do século XIX.
Cerimônia pela qual uma Loja Maçônica assume o compromisso de apoiar e orientar na formação moral e
intelectual do filho de um de seus membros, no caso de sua ausência. Em todo o mundo os Grão-Mestres são
chamados pelo termo de tratamento “Mui Venerável”. Já no Brasil, como sempre, modificações ocorreram. Uns são
chamados de “Soberano”, outros de “Sereníssimo” e outros de “Eminente”. Um dos locais mais sagrados de
Jerusalém, tido como sagrado para judeus, cristãos e muçulmanos. Os judeus consideram que se trata do sagrado
Monte Moriá, onde foi construído o Templo de Salomão. Há um aviso para que os judeus não se aproximem, visto o
risco de, sem saberem, invadirem o território do Sanctum Sanctorum, o qual, mesmo com o desaparecimento total do
Templo, é tido como restrito ao Sumo Sacerdote. N.E.: YMCA, do inglês Young Men’s Christian Association,
Associação Cristã de Moços. O Império Otomano foi um dos maiores e mais duradouros impérios da Era Vulgar,
durando mais de 600 anos. Entre o final do século XIX e início do XX, concentrou-se no território correspondente
atualmente ao Egito, Oriente Médio e Turquia. Sua queda ocorreu em 1922.

Bibliografia
ZELDIS-MANDEL, Leon. B’nai Or Be’Eretz HaKodesh, (Sons of Light in the
Holy Land). Israel: E. Narkis, 2009.

Baixe o PDF.
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santa-os-macons-fundadores-da-moderna-israel/
#14

Gays na Maçonaria

Autor: Kennyo Ismail


Fonte: No Esquadro
Este é um grande tabu na Maçonaria brasileira. Um assunto tão polêmico que é
evitado, a ponto de eu ter recebido algumas solicitações para não o incluir na obra
Debatendo Tabus Maçônicos.
Sem entrar no mérito da discussão (que nem ao menos é realizada), me aterei aos
fatos relacionados ao tema no meio maçônico internacional, de forma a fornecer
informações aos interessados em, quem sabe, um dia debatê-lo.
No caso dos Estados Unidos, recentemente duas Grandes Lojas, da Geórgia e de
Tennessee, se pronunciaram oficialmente contrárias ao ingresso de homossexuais na
Maçonaria. Essas posturas têm gerado manifestações de outras Grandes Lojas, como a
da Califórnia, que se pronunciou publicamente sobre o assunto, como pode ser visto
no seguinte trecho:

Você pode ter lido sobre os recentes acontecimentos


em alguns estados dos EUA, incluindo Geórgia e
Tennessee, onde Grandes Lojas Maçônicas adotaram
novas regras ou tem imposto regras existentes que
disciplinam os maçons por sua orientação sexual. Tais
regras e ações não coincidem com os princípios da
Maçonaria praticados pela Grande Loja da Califórnia
e não são apoiadas pelo que entendemos como o
grande objetivo da nossa fraternidade.
(…)Maçonaria instrui seus membros para defender
e respeitar as leis do seu governo e não para minar
essas leis (…).
Com mais de 50.000 membros em todo o estado, as
lojas sob a Grande Loja da Califórnia estão abertas a
homens de bom caráter e fé, independentemente da sua
raça, cor, crenças religiosas, opiniões políticas,
situação econômica, orientação sexual, capacidade
física, cidadania ou nacionalidade (..).
Sincera e fraternalmente, M. David Perry, Grão-
Mestre.

Agora, vejamos a postura oficial da Grande Loja de Utah:

(…) A Mui Respeitável Grande Loja de Maçons


Livres e Aceitos de Utah recebe em suas portas e
admite a seus privilégios, homens dignos de vários
credos e classes. No entanto, ela insiste que todos os
homens estarão sobre uma exata igualdade. Como esta
Grande Loja não se preocupa com a fé de um Mason
religioso, origem étnica e raça ou, também não se
preocupa com a preferência sexual de um maçom. Tudo
o que se pede é que um maçom de Utah observe bem
seus deveres e promova o bem da Fraternidade dentro
dos limites de sua Loja e da comunidade em torno
dele.
Atenciosamente & Fraternalmente,
R. Wesley Ing, Grão-Mestre.

A Grande Loja do Distrito de Columbia também se pronunciou a respeito:

Em resposta às recentes questões apresentadas a esta


Grande Loja sobre as qualificações e elegibilidade dos
homens que pretendem aderir em nossas Lojas,
oferecemos esta declaração de princípios inabalável:
A admissão à participação em nossas Lojas é estendida
a homens de fé com base em seu mérito pessoal e bom
caráter, sem distinção de raça, credo, orientação
sexual, religião específica ou nacionalidade.
(…) A diversidade da nossa sociedade, em termos
de raça, credo, orientação sexual, religião específica e
origem nacional é, assim, visto como um ativo, em vez
de um passivo (…).
(…) Nossa dedicação à diversidade não nasceu em
Washington, DC. A lei em todo o mundo maçônico e
prática desde os dias de Constituições de Anderson
desfavorece claramente a exclusão dos homens com
base em modos de crenças, experiências e estilos de
vida que gozam de proteção legal em suas sociedades
(…).

E no dia 1º de março deste ano, o Supremo Conselho do REAA da Jurisdição Sul dos
EUA, conhecido também como o Supremo Conselho “Mãe do Mundo”, se posicionou
quanto à polêmica:

A associação ao Rito Escocês é baseada em


integridade pessoal e bom caráter, sem distinção de
raça, crenças religiosas, orientação sexual ou
nacionalidade.

Christopher Hodapp, importante escritor maçônico, também se declarou a respeito na


última Conferência de Grão-Mestres da América do Norte:

Apenas 10 anos atrás, ninguém teria sequer


contemplado as complicações maçônicas do casamento
gay e, de repente, jovens maçons ficam chocados
quando descobrem que algumas jurisdições têm regras
que discriminam membros gays. Toda a nossa
sociedade mudou rapidamente, num piscar de olhos, e
nós temos que lidar com isso. Porque, se estamos
contando com esses novos homens para se unirem, se
tornarem ativos na Maçonaria, e salvarem nossa
fraternidade do esquecimento, não podemos
simplesmente ignorar os problemas que eles
consideram ser de importância vital como sendo trivial
(…). Nós lhes dizemos, muitas vezes, ali mesmo em
nossas páginas, que ensinamos tolerância. Nós não
podemos voltar atrás nessa promessa.

Lembrando ainda que a Grande Loja da Geórgia, uma das duas que se posicionaram
oficialmente contra, já havia se envolvido anteriormente em polêmica discriminatória,
ao tratar da proibição de ingresso de maçons que não fossem brancos. O preconceito
parece ainda ser um problema em alguns estados dos EUA.
Sou da opinião simples de que o que um maçom faz entre quatro paredes somente
diz respeito a ele, e que imprimir opiniões pessoais em legislação maçônica não
condiz com os princípios da instituição. Sendo a Maçonaria uma escola de
moralidade, a partir do momento que a homossexualidade não é considerada uma
imoralidade, não há que se falar em impedimento por essa razão. A crença de que
assim se está protegendo a instituição esbarra no fato de que a parcela da sociedade
contrária à homossexualidade é preconceituosa (a mesma parcela que geralmente é
contrária à Maçonaria), e o preconceito é justamente um dos males (juntamente com o
fanatismo e a ignorância) que devem ser combatidos pela Maçonaria.
Nesse sentido, creio que a pergunta que cada um deve se fazer é: Você considera a
homossexualidade como algo imoral? A resposta para essa pergunta e a complexidade
envolvida em sua compreensão conduzirão sua opinião sobre o tema.
O que não podemos é fechar nossos olhos para a realidade. Precisamos debate-la.

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#15

A Geometria e o Número na Arte Real (Parte I)

Autor: Marc Garcia Tradução: Sérgio Koury Jerez Fonte: O Ponto Dentro do
Círculo
A Maçonaria encarna uma via iniciática por meio da qual ainda é possível, num
Ocidente obscuro e enfermo, vincular-se efetivamente à Tradição Unânime e
Primordial. Trata-se de uma Arte na qual foram purificados e endossados símbolos,
ritos e mitos de ordem cosmogônica que reis, guerreiros e homens de ofício
reconheceram, desde tempos imemoriais, como suportes para a realização metafísica.
O neófito iniciado nos mistérios da Arte Real recebe uma influência espiritual que
opera sua regeneração psíquica, isto é, seu renascimento ou tomada de consciência de
si mesmo como homem verdadeiro. Este despertar corresponde simbolicamente a um
percurso de um ponto de uma circunferência até seu centro, e também a uma conta ao
inverso, que parte do denário e termina na Unidade, princípio gerador da
multiplicidade implícita na década. Acabada a viagem pelos pequenos mistérios,
começa, sem solução de continuidade, o trânsito pelos mistérios maiores, a ascensão
pelo eixo imóvel em torno ao qual gira a roda do porvir, ou raio que, atravessando o
Sol, traça a via que devolve o ser ao seio do Não-Ser.
Geometria, Número e Cosmogonia
O profano que solicita ser admitido na Franco-Maçonaria, no Rito Escocês Antigo
e Aceito, redige um testamento filosófico na Câmara de Reflexão ante os três
princípios alquímicos. Três zonas de seu corpo são desnudadas antes de ser
conduzido, privado da visão, até a porta do Templo. Tendo sido introduzido na Loja,
realiza nela três viagens, e recebe por fim a Luz ao terceiro golpe do malhete do
Venerável Mestre. O ternário preside o início da edificação do templo interior do
maçom da mesma forma que a construção do Cosmos, do qual a Loja é uma imagem
perfeita.
As teogonias mais elevadas consideram um ternário principial constituído por um
princípio superior ou Ser puro (na tradição hindu, Ishwara ou Apara-Brahma; na
tradição extremo-oriental, o “Grã Extremo” ou Tai-ki) e a primeira das dualidades
surgida da polarização da Unidade (Purusha e Prakriti na tradição hindu; o Céu, Tien,
e a Terra, Ti, na tradição extremo-oriental). O Ser ou Unidade transcendente, no seio
do qual se acham indissoluvelmente unidas as duas polaridades do binário principal
anteriormente a toda diferenciação, pressupõe outro princípio: o Brahma neutro e
supremo (Para-Brahma) do hinduísmo, o Wu-ki do taoísmo, o Não-Ser ou Zero
metafísico do qual nada pode ser predicado e que contém ao Ser que é sua afirmação.
Segundo a Cabala, o Absoluto, para manifestar-se, se concentra em um ponto
infinitamente luminoso, deixando as trevas ao seu redor. Esse ponto luminoso é o Ser
no seio do Não-Ser, a Unidade que afirma o Zero e da qual emanam as manifestações
indefinidas do Ser.
Assim como o um é o símbolo aritmético da Unidade, o ponto sem dimensões é a
imagem geométrica do Ser. Sua determinação no seio do Não-Ser é análoga à que uma
ponta de um compasso estabelece ao apoiar-se em uma folha de papel. Se produz a
polarização do um-ponto-Ser-Unidade no binário ao apoiar a segunda ponta do
compasso na folha. Os dois pontos determinados sobre o papel estão vinculados entre
si por meio do compasso, e o segmento de reta que une ambos os pontos é a projeção
unidimensional de tal vínculo sobre o plano geométrico. Aritmeticamente, pode-se
simbolizar a polarização da Unidade como o produto de dois números inversos entre
si: 1 = n · 1/n.
Sendo n um número inteiro qualquer. O produto n · 1/n não é distinto da Unidade; a
dualidade aparece só ao considerar-se separadamente os dois elementos
complementares de tal produto, indiviso no interior da Unidade. Outra imagem
numérica equivalente é a obtenção do dois pela soma da Unidade com seu reflexo,
que é ela mesma: 1 + 1 = 2.
Esta operação simboliza de uma maneira nítida a gênese do binário pela Unidade,
e mostra que não há nada na natureza deste que seja diferente da Unidade geratriz.
A consideração distintiva da Unidade e da dualidade produz o ternário: 2 + 1 = 3.
Geometricamente, o ternário surge ao se traçar arcos de circunferência centrados
nos dois polos do binário e cortá-los entre si, definindo um terceiro ponto ou vértice.
Se a abertura do compasso é igual à distância entre os extremos do binário, se obtém,
ao unir os vértices dois a dois mediante segmentos de reta, um triângulo equilátero
que de novo evoca a não-diferença entre a Unidade e suas produções duais.
A proporção áurea é uma das expressões mais sintéticas do caráter interior do
ternário formado pela Unidade no binário. Esta proporção, à qual na antiguidade
grega se designava com a vigésima primeira letra do alfabeto (21 = 2 + 1 = 3), se
obtém ao dividir um segmento em duas partes, de maneira que o comprimento da parte
menor esteja para a da maior como esta para a comprimento total do segmento dado.
Se diz que a parte menor é segmento áureo da maior e que a maior o é do segmento
inicial. A proporção áurea é a quantidade incomensurável resultante do quociente
entre a comprimento do segmento dado e a de seu segmento áureo. Esta última se
determina geometricamente desenhando um triângulo retângulo que tenha por catetos o
segmento dado e sua metade, e restando à hipotenusa o cateto menor.
A proporção áurea é a única proporção continua de três termos que se pode
construir com só dos termos distintos. O segmento e suas duas partes são “três que são
dois, que são um”, o símbolo de uma diferenciação entre a Unidade percebida como
objeto e o preceptor de tal objeto contidos ambos no reconhecimento ininterrupto de
uma Unidade omnicompreensiva. Por outro lado, tal diferenciação prefigura as
dimensões primeira e segunda da manifestação no seio da Unidade, o qual é refletido
pela propriedade geométrica de que, se a comprimento do segmento dado é a unidade
de medida, as medidas de suas partes em proporção áurea resultam ser uma o
quadrado da outra (ou, reciprocamente, esta é a raiz daquela).
A Unidade adicionada ao ternário produz o quaternário. O Tao te King diz: “O Tao
deu a luz ao Um, o Um deu a luz ao Dois, o Dois deu a luz ao Três, o Três deu a luz às
inúmeras coisas”, pelo que, nas palavras de René Guénon, “o quatro, produzido
imediatamente pelo três, equivale de certo modo a todo o conjunto dos números, e
isso porque, desde que se tenha o quaternário, se tem também, pela adição dos quatro
primeiros números, o denário, que representa um ciclo numérico completo: 1 + 2 + 3
+ 4 = 10, que é, como já dissemos em outras ocasiões, a fórmula numérica da
Tetraktys pitagórica”. O quatro é o símbolo da Unidade que se manifesta; é o número
que marca a manifestação, a qual se desdobra em um marco de referência quaternário
composto de um espaço tridimensional e o tempo (3 + 1 = 4) no qual todos seus
elementos se acham regidos pela lei da tétrada: quatro pontos cardeais, quatro
estações do ano, quatro idades do homem.
A representação geométrica do quaternário em seu aspecto estático é o quadrado, e
em sua vertente dinâmica, a cruz. A complementaridade de ambos os símbolos fica
patente ao inscreverem-se as figuras em uma circunferência: uma e outra resultam de
unir os quatro vértices circunscritos mediante segmentos retos das duas maneiras que
é possível fazê-lo, cada um com seu contíguo ou então cada um com seu oposto. Os
braços da cruz são como os raios de uma roda que, dando-lhe rigidez, afirmam seu
giro em torno de seu eixo. Ao contrário, os lados do quadrado são como limaduras ou
planos da roda que detêm seu giro e a fixam. O traçado do quadrado se efetua a partir
da cruz unindo-se os extremos contíguos desta. A cruz se constrói no interior da
circunferência, desenhando-se um diâmetro e sua perpendicular. Isso nos devolve à
consideração de que tudo parte de um Centro único, que o quaternário manifesta.
O tetraedro é a figura geométrica que expressa o quaternário na
tridimensionalidade. Sua projeção vertical sobre o plano ao qual pertence sua base é
um triângulo equilátero cujas três alturas convergem em seu centro, reflexo da cúspide
do poliedro. O ponto afirmado no seio do triângulo e acima do tetraedro são imagens
do Verbo manifestado, pelo que se diz que o quatro é o número da Manifestação. Na
Loja, o ponto mais alto é o olho do Delta luminoso, ou a iod do Tetragrama divino,
ambos símbolos do Grande Arquiteto do Universo para cuja glória trabalham os
maçons. O quaternário também é revelado pela planta em forma de quadrado longo do
Templo maçônico e do pavimento mosaico, cujas dimensões são igualmente
significativas (comprimento duplo ou triplo que a largura; retângulo de litígios de
largura 3 e comprimento 4; comprimento e largura em proporção áurea, etc.).
O giro da cruz ao redor de seu centro – engendrando a circunferência que, em
união com seu centro, representa o denário – é a expressão geométrica da circulação
do quadrante que a Tetraktys pitagórica simboliza aritmeticamente (1 + 2 + 3 + 4 =
10). A cruz resolve exatamente o problema inverso da quadratura do círculo,
dividindo sua área em quatro partes iguais, o que se pode expressar numericamente
permutando os termos da igualdade anterior (10 = 1 + 2 + 3 + 4). Para quadrar o
círculo com um quadrado cuja área seja igual à do círculo dado, se requer a
intervenção do quinário: deve-se inscrever, em primeiro lugar, um pentágono no
círculo; logo, um segundo pentágono cujos vértices sejam os pontos médios dos arcos
de circunferência limitados por vértices adjacentes do primeiro pentágono; e, por
último, outros dois pentágonos cujos vértices se acham pela bissecção dos arcos
demarcados respectivamente por um vértice do primeiro pentágono e o vértice mais
próximo do segundo. Obtêm-se assim quatro pentágonos cujos vinte vértices, que
podemos numerar correlativamente, se distribuem uniformemente ao longo da
circunferência. As retas que passam por quatro pares de vértices tais como o segundo
e o quinto, o sétimo e o décimo, o duodécimo e o décimo quinto, e o décimo sétimo e
o vigésimo delimitam um quadrado cuja área é muito aproximadamente a do círculo
dado.
A soma da Unidade e de sua expansão quaternária considerada como uma
realidade distinta àquela produz o quinário (4 + 1 = 5). Podemos dizer que o cinco é
o símbolo da Unidade reencontrada na Produção numérica, tal como a encruzilhada
das quatro direções cardeais revela o centro da cruz e do quadrado do qual os braços
da cruz são diagonais. O cinco faz que tudo retorne novamente a sua origem, como ao
cabo das quatro estações de um ciclo, a quinta é de novo a primeira. No homem, a
quinta etapa de sua vida, após suas quatro idades, é um instante ou ponto em que se
unem sua morte e seu nascimento, o “aqui e agora onde tempo e espaço se fundem na
unidade perfeita do eterno presente”. Esse ponto, que se situa além da
tridimensionalidade e da temporalidade, se corresponde simbolicamente com o lugar
onde se encontram as quatro direções cardeais, isto é, com o centro da cruz.
O cinco é o número do homem, do microcosmos e do Companheiro, grau da
iniciação maçônica ao qual se desperta contemplando a Estrela Flamígera de cinco
pontas após cinco viagens de instrução. No Rito Escocês, Antigo e Aceito, a viagem
central simboliza o trabalho interior apoiado na meditação dos símbolos próprios das
sete Artes Liberais, entre as quais se contam a Geometria e a Aritmética. A estrela
pentagonal em cujo centro resplandece a letra G ou a iod hebraica se refere ao Grande
Arquiteto do Universo e também ao “perfeito iniciado que o maçom se esforça por
ser”.
O traçado geométrico da estrela de cinco pontas se efetua dividindo uma
circunferência em cinco partes iguais e unindo suas divisões ou vértices
alternadamente (o primeiro com o terceiro, o terceiro com o quinto, o quinto com o
segundo, etc.) mediante segmentos retos até fechar a linha poligonal que assim se
descreve, o que se consegue ao cabo de duas circulações completas. Para determinar
os cinco vértices da estrela há que se traçar dois diâmetros perpendiculares da
circunferência dada, como, por exemplo, o vertical e o horizontal, e desenhar duas
novas circunferências interiores tangentes entre si e à circunferência inicial cujos
centros sejam os pontos médios dos raios que compõem um dos dois diâmetros
traçados. Os raios de tais circunferências menores têm um comprimento que é metade
da do raio da circunferência inicial. Suponhamos que os centros das circunferências
menores estão alinhados sobre o diâmetro horizontal da circunferência maior; a reta
que passa pelo extremo inferior do diâmetro vertical e pelo centro de uma qualquer
das circunferências menores corta a esta em dois pontos. Desenhando, com centro no
extremo inferior do diâmetro vertical da circunferência maior, arcos circulares com
raios iguais às distâncias entre tal extremo e um e outro dos pontos de corte antes
determinados sobre a circunferência menor, as quatro intersecções de tais arcos com a
circunferência maior resultam ser vértices da estrela pentagonal. O quinto vértice é o
extremo superior do diâmetro vertical da circunferência inicialmente dada.
Esta construção geométrica, como todas as da Arte das formas, é um suporte
precioso para meditar sobre a construção do Cosmos a partir da Unidade, cujo estágio
intermediário está representado pelo cinco. A curvatura das circunferências interiores
é análoga à da linha sinuosa que divide as metades clara e escura do yin-yang binário.
Assim, a soma dos comprimentos dessas duas circunferências é igual à da primeira
circunferência, o que é outra expressão simbólica da polarização da Unidade na
dualidade. Por outro lado, a proporção áurea, relacionada com o ternário, marca a
geometria da estrela de cinco pontas: estão em proporção áurea as distâncias entre
dois vértices alternados e dois vértices contíguos, como também o estão a
comprimento de um braço da estrela e a de um lado do polígono invertido que
constitui seu corpo. A cruz da qual parte a construção geométrica descrita é a marca
do quaternário na estrela pentagonal; e quando se traçam arcos tangentes às
circunferências menores com centro em cada um dos dois extremos do diâmetro
vertical da primeira circunferência, de modo que os círculos menores fiquem inscritos
em uma mandorla, a distância entre os vértices de tal mandorla resulta no diâmetro de
uma circunferência cujo comprimento é quase idêntico ao perímetro de um quadrado
circunscrito à circunferência inicial, produzindo-se assim a circulação do quaternário.
A consideração do conjunto dos seres individuais – simbolizados pelo número
cinco – como algo aparentemente distinto da Unidade que é seu princípio e continente
produz o senário (5 + 1 = 6), o símbolo aritmético da Criação e do macrocosmos. A
expressão geométrica do senário está implícita na circunferência, a qual é dividida
em seis partes iguais por seu raio. O seis define, pois, o módulo da roda do vir a ser,
o trecho significativo que recorda, no âmbito do contingente, a permanente união entre
o centro e os inumeráveis pontos da circunferência, e também a unidade de medida do
tempo,.
Unindo entre si de maneiras diversas seis pontos uniformemente distribuídos sobre
a circunferência se constroem distintas figurações geométricas do senário. Traçando
segmentos retos entre pares de pontos contíguos obtemos o hexágono regular, cujos
lados são de comprimento igual à do raio da circunferência em que se inscreve. Se,
além disso, se une três vértices alternados do hexágono com o seu centro, a figura
resultante é a projeção do símbolo tridimensional do senário, o cubo, sobre um plano
perpendicular a uma de suas diagonais. Por outro lado, se os vértices distribuídos ao
longo da circunferência que se unem com traços de reta não são contíguos, mas
alternados, se obtém a estrela de seis pontas ou de Davi, ou selo de Salomão, que
revela o senário como a união do ternário não-manifestado e de seu reflexo invertido,
ilusório e mutante no plano da criação (3 + 3 = 6), isto é, o produto da polarização da
tríade principal (3 · 2 = 6).
O cubo é a representação geométrica da Cidade Perfeita, a Jerusalém Celeste, e
também da Loja, da qual se diz que tem um comprimento de leste a oeste, uma largura
de norte a sul, uma altura até o zênite e uma profundidade até o nadir. Também tem
forma de cubo a pedra desbastada pelo maçom com as ferramentas próprias da Arte
Real, que, pelo paralelismo e a retidão de suas faces, perpendiculares às seis
direções do espaço, é útil para a construção do templo interior: “… sem dúvida,
sempre representa o cubo o Ideal da perfeição humana, já que se apresenta com
absoluta igualdade, retidão e paralelismo tetragonal nas três dimensões da vida
material, moral e espiritual, enquanto em geral a primeira, que corresponde ao
comprimento, prevalece no estado e atividade ordinários da humanidade”.

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na-arte-real-parte-i/
#16

A Geometria e o Número na Arte Real (Parte II)

Autor:Marc GarciaTradução:Sérgio Koury JerezFonte: O Ponto Dentro do Círculo


Diz o Gênese que Deus concluiu a Criação em seis dias, “e repousou no sétimo dia
de todo o labor que fizera”. O sete simboliza o reencontro, no plano da Criação, da
Unidade imutável que é sua origem e síntese, o que se expressa aritmeticamente
mediante a soma dos sete primeiros números inteiros: 7 = 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 + 7
= 28 = 2 + 8 = 10 = 1 + 0 = 1. Também se diz que o sete é o número da Formação,
consequência imediata das distinções que nossa mente estabelece entre as coisas
criadas – representadas pelo senário – que aparecem por isso revestidas de formas.
A construção do heptágono e da estrela de sete pontas, imagens simbólicas do
septenário, expressa geometricamente a observação exterior, se é que se pode chamar
assim, que a mente efetua da manifestação projetando sobre ela as formas. Para
dividir uma circunferência em sete partes iguais e assim determinar os vértices de um
polígono regular inscrito de sete lados, há que traçar um diâmetro e dividi-lo em sete
segmentos de igual comprimento. Em seguida, com raio igual ao diâmetro desenhado e
centros nos dois extremos deste, se abrem dois arcos circulares que se cortam em dois
pontos exteriores à circunferência. A reta que passa por um destes pontos e pela
segunda das seis divisões marcadas sobre o diâmetro com o fim de dividi-lo em sete
partes iguais, corta a circunferência em dois pontos. Tomando a distância entre o
ponto mais próximo à segunda divisão do diâmetro e o extremo do diâmetro que se
acha mais próximo de tal ponto, e usando-a sete vezes como corda da circunferência,
achamos os sete vértices do polígono inscrito. O heptágono se constrói unindo pares
de vértices contíguos, enquanto que a estrela de sete braços se obtém traçando uma
poligonal que passe pelo primeiro de cada três vértices (isto é, unindo o primeiro
vértice com o quarto, o quarto com o sétimo, o sétimo com o terceiro, etc.), ficando
fechada ao cabo de três circulações completas.
Sendo o cubo uma expressão geométrica do senário, seu centro, o ponto no qual os
braços da cruz tridimensional formada pelas alturas do poliedro são cortados,
representa o septenário como símbolo do retorno à Unidade principial, o que também
está simbolizado pelo Sabbath judeu e pelo domingo cristão; são dias de descanso da
semana durante a qual, à imagem da Criação, transcorre o trabalho do homem.
O sete é também a soma do três e do quatro (3 + 4 = 7). O septenário pode ser
contemplado, pois, como a união da tríade principial presidida pelo Logos e pelo
quaternário que dela emana, ao que não é estranha a divisão das antigas sete Artes
Liberais em três artes da palavra ou trivium (Gramática, Lógica e Retórica) e quatro
ciências cosmogônicas ou quadrivium (Aritmética, Geometria, Música e Astronomia).
Geometricamente, a soma do ternário e do quaternário é análoga à coroação de um
quadrado com um triângulo, sendo a figura resultante o alçado da pedra cúbica em
ponta, que, como o número sete, simboliza a perfeição da Arte Real. Sete maçons
fazem uma Loja “justa e perfeita”, como sete notas completam a escala musical “que
reproduz o som dos sete planetas em sua rotação”.
No centro das sete esferas planetárias se encontra a Terra, símbolo do conjunto do
mundo material que, como produto da Unidade e do mundo das formas, está
caracterizado pelo número oito. Geometricamente, o oito pode ser representado
através de dois quadrados, um inscrito no outro e cujos vértices de um sejam os
pontos médios dos lados do outro. É a imagem do recipiente no qual se combinam os
quatro princípios alquímicos da matéria para produzir a substância do Universo, ou
do athanor no qual se vertem os sete metais da grande Obra, caldeirão este que não é
senão a alma do próprio alquimista. A forma do oito evoca o contínuo correr das
águas do psiquismo que o Adepto busca aquietar.
O mercúrio, com o que se relaciona o movimento fluido da psique, está em
correspondência com a oitava sefiroth da Árvore da Vida cabalística. O octógono é a
expressão geométrica do caráter intermediário que todo o anímico e mercurial possui.
Este polígono – que se constrói unindo os extremos de duas cruzes inscritas em uma
circunferência de forma que os braços de uma sejam as bissetrizes dos ângulos retos
formados pelos braços da outra – é uma forma construtiva de transição empregada nos
templos da maioria das tradições para apoiar um domo ou cúpula hemisférica,
associada ao céu, sobre uma base quadrada que simboliza a estabilidade da terra. A
forma octogonal é também a das pias batismais e os antigos batistérios dos templos
cristãos. Tratam-se de lugares de passagem situados no exterior ou na entrada das
igrejas, em uma localização intermediária entre um espaço profano e outro sagrado na
qual se opera um sacramento que, dentro da esfera do individual, corresponde ao
domínio psíquico intermediário entre o espírito e o corpo,. A morte iniciática é outro
trânsito com o qual o oito está relacionado, poderíamos dizer, com maior razão ainda;
como o batismo cristão, comporta um segundo nascimento, porém de uma natureza
distinta e superior uma vez que produz, além dos efeitos psíquicos de ordem
individual aos quais se circunscreve a regeneração por via exotérica, uma
transmutação que conduz o ser ao ponto de partida de uma realização de ordem supra-
individual.
O estabelecimento de uma (aparente) diferenciação entre a realização material e a
Unidade conduz ao novenário (8 + 1 = 9). O nove é o símbolo da multiplicidade
indefinida, representada pelos indefinidos pontos da circunferência que se
correspondem com as indefinidas manifestações formais do Ser. O nove, como a
circunferência, retorna sobre si mesmo incessantemente (9 = 9 + 8 + 7 + 6 + 5 + 4 +
3 + 2 + 1 = 45 = 4 + 5 = 9), o que evoca o aspecto aprisionador das formas
materiais da manifestação, e em particular, do pele de que se acha revestido o estado
humano do Ser. Não há saída possível pela tangente diante da corrente do devir ou da
tentativa de correr mais que ela, do mesmo modo que não há saída do novenário
multiplicando o nove por outro número inteiro, posto que o resultado sempre é
redutível ao nove. A única saída da circunferência é interior, a caminho do centro ou
Unidade na qual todo o manifestado deve reabsorver-se, completando o ciclo: 9 + 1
= 10 = 1 + 0 = 1.
Epílogo
O Aprendiz maçom que ingressa em Loja toma assento na coluna do Setentrião. Se
diz que é a região menos iluminada do Templo, apta para quem acaba de iniciar suas
andanças pela via do Conhecimento e que “ainda não é capaz de suportar uma grande
luz”. Procedente do âmbito da manifestação total do Ser, simbolizada pelo denário e
pela roda ou o círculo, começa seu caminho de retorno à Unidade, isto é, ao centro de
si mesmo iluminando seus passos com uma ainda débil claridade interior. Como o
personagem do nono arcano do Tarot, lanterna na mão, avança lentamente, com
paciência e em solidão, regressando do nove ao oito, do oito ao sete…
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#17

O DNA Maçônico

Autor: José Maurício Guimarães


Fonte: O Malhete
O ano 2016, um dos mais difíceis – senão o mais difícil para o Brasil – chega ao
fim. E permanece a pergunta: a democracia republicana, como posta em prática, tem
garantido a ordem e o progresso de nossas instituições? E a maçonaria que praticamos
– cópia equivocada dos sistemas políticos republicanos – contribuiu para tornar feliz
a humanidade, combatendo a tirania, a ignorância, os preconceitos e os erros,
promovendo o bem-estar da Pátria?
A maçonaria é uma criação humana fundada nos princípios tradicionais da
liberdade, igualdade e fraternidade entre as pessoas. Essa tríade, composta pela
independência legítima dos cidadãos e das nações, pela submissão às mesmas leis,
direitos e obrigações assim como pela harmonia entre os que lutam por uma mesma
causa, é que torna nossa Ordem um organismo vivo.
Definida como organismo vivo, composto de seres humanos vivos, a maçonaria
está sujeita ao desenvolvimento ou passagem por etapas sequenciais distintas. Está
sujeita à lei natural do crescimento pela absorção e reorganização cumulativa de sua
cultura no meio em que atua. Organismo vivo que é, a maçonaria tem que ter
movimento, interno e externo, com resposta aos estímulos e sempre avaliando as
características do ambiente e agir seletivamente em resposta às mudanças em tais
condições.
Noutras palavras, a maçonaria tem que se reproduzir e transformar-se
gradualmente, adaptando-se ao meio por sucessivas gerações, sob pena de vir a
morrer pelo inexorável processo de excreção dos excessos sociais não atuantes ou
indesejados.
Enfim, tudo isso seria mera biologia se não comportasse uma psicologia paralela.
O ano 2016 chega ao fim com a ordem e o progresso seriamente ameaçados na
república, certamente com uma humanidade menos feliz, com o recrudescimento das
tiranias, da ignorância e dos preconceitos.
As novas gerações da maçonaria nasceram durante o regime militar de 64 e
cresceram grudadas nos aparelhos de televisão. Chamam isso de “cultura da
modernidade”, mas na verdade é a maior mudança de paradigma já encarada pela
sociedade atual.
Frente ao caos que se instalou em diversas nações do mundo, seja pelo populismo
de governos corruptos, seja pela desarmonia entre os poderes republicanos, a
maçonaria ainda se debate em fórmulas arcaicas de “poderes”, tais como
“legislativos maçônicos”, “judiciários maçônicos” ou mesmo “executivos
maçônicos”. Repito o que disse numa mensagem anterior: “Vocês podem vasculhar as
Constituições de Anderson de cabo a rabo, os Landmarks de rabo a cabo; e não
encontrarão uma linha sequer, uma só palavra, sobre “poderes” na maçonaria, tais
como um “legislativo”, um “judiciário” ou mesmo um “executivo”.
Ao referirem-se como “executivos maçônicos”, estabeleceu-se um novo valor no
seio da “moderna” maçonaria com as palavras de ordem Líder, Liderança e Liderar,
conceitos inexistentes em toda a filosofia maçônica, pois a Maçonaria (agora com
“M” maiúsculo) foi concebida para aperfeiçoar o homem, não para torná-lo
comandante dos outros, forjando modificações sobre o pensamento e comportamento
internos e externos mediante autoridade, prestígio ou pretexto de coordenação. Este é
um ponto muito delicado que merece ser analisado através dos princípios da retórica
– arte da eloquência e de bem argumentar, uma das três disciplinas de que se
constituía o trivium – que na maioria das vezes, em “moderna maçonaria” vem se
transformando em armadilha do sofisma (argumentação ou raciocínio que aparentam
verdade mas que cometem incorreções internas inconsistentes ou deliberadamente
enganosas).
É verdade que Albert Pike, referência maior do R∴ E∴ A∴ e A∴, refere-se a
“força cega do povo” que deve ser economizada e também “gerenciada”; mas é pelo
intelecto – escreve ele em Moral e Dogma – que é para as pessoas o que a fina agulha
da bússola é para o navio.
Um rebanho de carneiros segue obediente um script definido pelo pastor; uma
alcateia segue os passos do lobo alfa. Mas em nenhum desses casos o pastor ou o
lobo alfa promovem mais intelecto aos carneiros, ovelhas ou lobos – portanto não são
“líderes”, mas autoridades impostas pelo medo ou pela força. Recolham as pedras os
que já se preparam para lançarem imprecações contra mim, pois quando falo de
intelecto não me refiro a “intelectual”, mas à faculdade de compreender e à atividade
pensante inerente à condição humana.
O intelecto é diferente, como se expressou Albert Pike: fina agulha da bússola (the
slender needle of the compass), objeto delicado e frágil capaz de organizar o curso e
a “força cega” de um navio ou transatlântico.
A Maçonaria fundamentou-se no Iluminismo, “movimento intelectual do século
XVIII, cuja principal característica é centralidade da racionalidade crítica e o
questionamento (filosófico) que recusa todas as formas de dogmatismo”. A colocação
de um “homem alfa condutor” contaria todo o pensamento da preponderância
racionalista em benefício de princípios da “certeza absoluta”.
Repito aquela narrativa da Grécia antiga: após a derrota de Atenas na Guerra do
Peloponeso, Calíbio, tentou agredir Autólico com um cajado; este o segurou pelas
pernas e o derrubou afirmando que ele “não sabia governar homens livres”. O excesso
de leis se deve à diminuição do amor entre as pessoas; deve-se ao aumento da
desconfiança entre as pessoas.
Nas Lojas, o Venerável Mestre de Loja não precisa ser um líder, mas uma pessoa
que incentive o questionamento mediante a racionalidade crítica ou intelecto. Daí a
complexidade do dever de governar homens livres. De outra forma permaneceremos
como uma espécie de igreja ou seita onde as ideias de uma pessoa (ou grupo)
prevalecem sobre a verdade e a razão. Esse tipo de “liderança” é o refúgio para quem
não possui o DNA maçônico.
Quem carece de líderes é a política, e isso também não temos; sequer temos!
Repito, este é um ponto muito delicado que precisa ser analisado através dos
princípios da lógica e da retórica. Para bons entendedores, meia palavra basta… ou
bastaria.
Apesar de tudo, nossas cerimônias, juramentos, atos, e ações são concretizados em
plena e total reverência às Constituições de Anderson e aos imutáveis Landmarks; até
os Neófitos juram obedecê-los, desde o primeiro dia, sem saberem do que tratam.
Faltam, portanto, o questionamento e a racionalidade crítica; sobra com excesso a
obediência cega e a eterna repetição de erros.
A Maçonaria precisa permanecer fiel aos princípios tradicionais quanto ao
conteúdo; mas deve se reproduzir e transformar-se na forma, adaptando-se ao meio
social, sob pena de vir a desaparecer ou transformar-se noutra coisa. A dialética
histórica conduziu muitas instituições ao esquecimento ou embalsamação, inexorável
processo de eliminação dos excessos sociais não atuantes ou indesejados.

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#18

Considerações sobre o Rito Moderno ou Francês

Autor: Antonio Onias Neto


Fonte: Bibliot3ca
Muito se critica e pouco se conhece a respeito do Rito Moderno ou Francês. Uma
das mais infantis acusações (?) ou afirmativas gratuitas que se faz sobre o Rito é ser
ele ateu. É lamentável que maçons, que deveriam conhecer um pouco de filosofia e
teoria do conhecimento, façam confusão entre ateísmo e agnosticismo. O Rito
Moderno, por saber que a atitude filosófica da Maçonaria é a pesquisa constante da
verdade, e por outro lado, ao ver que a verdade, para que seja considerada em todo o
seu sentido, deve ser absoluta e infinita, abraça a corrente de pensamento que
reconhece a impossibilidade do conhecimento do Absoluto pelo homem em sua
finitude e relatividade, ou seja o agnosticismo. Afirmando assim uma posição de
humildade perante o Absoluto, o que deveria ser característica de todo Maçom.
Acrescente-se mais que o Gnosticismo, como teoria da possibilidade de
conhecimento (não confundir com os chamados “Gnósticos” do início da Era Cristã),
afirma que é possível conhecer o absoluto. Ora, o Ateísmo, ao afirmar
categoricamente a inexistência de Deus, pertence à corrente gnóstica, posto que, nessa
assertiva, mostra ser possível conhecer o Absoluto, donde podemos concluir que o
ateu jamais será agnóstico e o agnóstico não pode ser ateu, pois suas teorias da
possibilidade do conhecimento se chocam frontalmente.
Por outro lado, há religiões, como o Budismo, que, em sua origem, tomam uma
posição agnóstica, não se preocupando em explicar o Absoluto, reconhecendo a
impossibilidade de defini-lo. Desta forma, o Rito Moderno acolhe em seu seio, sem
nenhum constrangimento, irmãos das mais diversas profissões religiosas e filosóficas,
posto que, mesmo sendo ele agnóstico, não impõe aos seus membros o agnosticismo,
mas exige deles uma posição relativa quanto à possibilidade de que outros Irmãos,
que abraçam outra filosofia, estejam certos, ora quem é dono da verdade não tem
necessidade de pesquisá-la ou procurá-la.
Outra afirmativa que se faz sobre o Rito Moderno é sua antirreligiosidade, o que
não passa de outra confusão, que os dicionários, se consultados, ajudariam a
esclarecer. O prefixo “anti” quer dizer “contra”. O que melhor caberia para o Rito é o
prefixo “a”, que significa “inexistência”, “privação”; e é empregado no sentido de
equidistância entre o “a favor” e o “contra”. A maçonaria é equidistante das religiões,
não é uma seita religiosa, e os Irmãos que assim a tornam são, evidentemente, ou
aqueles que procuram desvirtuá-la, ou aqueles que insatisfeitos com suas religiões
procuram na Maçonaria uma nova religião ou a compensação para as suas frustrações
místicas.
E, é baseado na equidistância perante as religiões que o Rito Moderno não adota a
existência da Bíblia no Triângulo de Compromissos, Altar de Juramentos para outros
Ritos. Os defensores da colocação da Bíblia alegam que deve haver um “livro da lei
revelada”. Ora, a Bíblia só passou a ser adotada em algumas Lojas a partir de 1740,
antes disso Anderson e os demais Maçons aceitavam a obrigação do “Livro da Lei”,
Lei Maçônica, Lei Moral. Acrescente-se, ainda, que existem religiões, tais como a
Umbanda, o Candomblé, a Pajelança, e outras, com diversos adeptos entre nós, que
possuem um livro da lei revelada, cuja tradição é oral. Perguntamos, que livro
religioso se colocaria na presença de tais Irmãos?
Vemos constantemente Irmãos Judeus e Muçulmanos, quando Iniciados e em suas
exaltações, compelidos a jurarem sobre a Bíblia Cristã, em tradução Católica ou
Protestante, numa autêntica violação de suas consciências e dos princípios maçônicos,
ou numa prova de que tais juramentos são falsos. Nosso “Livro da Lei” são os
princípios da Sublime Ordem, quando muito as Constituições das Potências às quais
pertença a Loja, onde constam tais princípios, ou, ainda, as Constituições de
Anderson, em sua redação original, que deu origem à institucionalização da moderna
Maçonaria. Aproveitamos para transcrever o artigo primeiro da Constituição de
Anderson, que é bastante claro a respeito do assunto:

O Maçom está obrigado, por sua vocação, a obedecer


a Lei Moral, e se compreender seus deveres, nunca se
converterá em um estúpido ateu nem em um irreligioso
libertino. Apesar de nos tempos antigos os Maçons
estarem obrigados a praticar a religião que se
observava nos países em que habitavam, hoje crê-se
mais conveniente não impor-lhes outra religião senão
aquela que todos os homens aceitam, e dar-lhes
completa liberdade com referência às suas opiniões
particulares. Esta religião consiste em ser homens bons
e leais, quer dizer, homens honrados e probos, seja
qual for a diferença de denominações ou de
convicções. Deste modo, a Maçonaria se converterá
em um centro de União e é o meio de estabelecer
relações amistosas entre pessoas que, fora dela, teriam
permanecido separadas.

Após a leitura deste texto, muito pouco se poderá acrescentar a respeito, além de que
há religiões que não permitem ao homem se ajoelhar perante seu semelhante, como
exigem alguns Ritos, o que não é permitido no Rito Moderno. Mais uma vez o Rito
prova, com sua atitude, ser equidistante e respeitar a religião de todos os Irmãos. Bom
seria que os Irmãos, que se intitulam religiosos, estudassem um pouco a história e o
conteúdo de outras religiões além das nossas, saindo de uma posição sectária,
proibida pela Ordem.
Outra “terrível” acusação que se faz ao Rito é não invocar e tampouco adorar o
“Grande Arquiteto do Universo”, tendo inclusive evitado o uso de seu nome nos
Rituais. Ora, meus Irmãos, por mais boa vontade de que possamos estar imbuídos,
jamais deixaremos de invocar as entidades religiosas a que estamos ligados dentro de
termos e Rituais próprios de nossa religião, e, estaremos desta forma sempre ferindo
e violando as crenças e as formas de adoração de outros Irmãos. Deixemos as
adorações e as invocações para fazê-las em nossas Igrejas, nossas Sinagogas, nossos
Templos religiosos, nossos Centros, nossos Terreiros, nossas Casas e evitemos fazê-
las em Loja, onde temos a obrigação de não forçar qualquer Irmão a repetir fórmulas
com as quais sua consciência não possa concordar.
Quanto ao não uso do nome do Grande Arquiteto do Universo nos Rituais: este uso
só começou a ocorrer a partir da Convenção de 1877, por conclusão do relator da
proposta de exclusão do seu uso nos Rituais do Grande Oriente de França, e, é bom
lembrar que este Irmão relator era um religioso, o pastor protestante Frederico
Desmons. Este foi o grande motivo para que a Grande Loja Unida da Inglaterra
rompesse relações com o Grande Oriente de França.
No entanto, o Grande Oriente da Bélgica, desde 1872, vedara a invocação e a
inclusão do Grande Arquiteto do Universo nos seus Rituais, e nem por isso a Potência
inglesa rompera relações com os belgas. O principal fundamento para a exclusão do
nome do Grande Arquiteto do Universo dos Rituais é terem os Irmãos, como se pode
observar, utilizado dia a dia o símbolo do Princípio Criador da Energia inteligente,
do Ente Supremo, do mesmo modo que se vulgarizou o termo Deus, particularizando o
seu emprego, invocando-o e adorando-o, conforme sua religião e não como símbolo
de todas as concepções que se tenha do que é a Origem do Universo.
Antes de encerrar essas breves considerações gerais sobre o Rito Moderno ou
Francês, não poderíamos esquecer o problema dos “Landmarks”. O que são
“Landmarks”? O próprio nome diz: são marcas de terra, limites, lindeiros, e como tal
devemos considerá-los, jamais como dogmas.
Lembremo-nos: na maçonaria não existem dogmas, existem princípios. No
Brasil, existe uma verdadeira psicose pelos “Landmarks” de Mackey, e, no entanto,
quando a Maçonaria veio para nossa Pátria, eles sequer existiam, tendo aparecido
apenas em 1858.
Meus Irmãos, fica a pergunta: quem deu poderes, que entidade inspirou ao nosso
Irmão Mackey para firmar dogmas dentro da Sublime Ordem? Particularmente um
deles: o 25º, que não permite qualquer alteração, ferindo o princípio da investigação
constante da verdade, da evolução, da pesquisa, de se afirmar progressista: nada pode
mudar a partir dele, é o dogma da imutabilidade, da não evolução. É evidente que o
Rito Moderno, dentro desses termos, não poderia aceitar os “Landmarks” de nosso
querido Irmão, que pretendeu impedir um dos fundamentos da Maçonaria: a
liberdade.
Meus Irmãos, diversos são os “Landmarks” mais conhecidos, tais como os de
Findel, de Lecerff, de Pound, de Mackey, de Grant, que chegam a 54, e muitos outros.
Qual deles é o profeta da Maçonaria que recebeu inspiração divina pra que se afirme
ser sua catalogação a correta? Que Congresso Maçônico mundial concluiu serem estes
ou aqueles os “Landmarks” aceitos universalmente? Deverão os “Landmarks”, mesmo
que universais, estacionarem no tempo e no espaço? Apenas como lembrança,
devemos citar que muitos dos nossos Irmãos de outros Ritos e de outras Potências
concordam plenamente conosco na tese que abraçamos sobre os “Landmarks”.
Conclamamos aos Irmãos de todos os Ritos e de todas as Potências: devemos nos
preocupar com aquilo que nos une, e, relegar ao segundo plano o que nos separa. Este
é o fito primordial do Rito Moderno quando dá origem à instituição de um “Grande
Oriente”: admitir a diversidade dos Ritos, unindo, numa mesma Potência, Irmãos das
mais diversas posições filosóficas, num verdadeiro Universalismo, pois este é o
princípio fundamental da Sublime Ordem.

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rito-moderno-ou-frances/
#19

A incrível história de como os Cavaleiros Templários ‘inventaram’ os


bancos

Autor: Tim Harford


Fonte: BBC
Na Fleet Street, uma das mais movimentadas do centro de Londres, a dez minutos a
pé da Trafalgar Square, existe um arco de pedra pelo qual muita gente pode passar e
viajar no tempo. Um pátio tranquilo leva a uma capela estranha, circular, e a uma
estátua de dois cavaleiros em cima de um único cavalo. A capela é a Temple Church,
construída pela Ordem Dos Templários em 1185, quando ficou conhecida como a
“casa londrina dos Cavaleiros do Templo”. Mas a Temple Church não tem apenas uma
importância arquitetônica, histórica e religiosa. Ela também foi o primeiro banco de
Londres.
Os Cavaleiros Templários eram monges guerreiros. Era uma ordem religiosa, com
uma hierarquia inspirada na teologia e uma missão declarada – além de um código de
ética –, mas também um exército armado e dedicado à “guerra santa”. Mas então
como eles chegaram ao negócio dos bancos?
Os Templários dedicaram-se inteiramente à defesa de peregrinos cristãos a
caminho de Jerusalém. A cidade havia sido capturada na primeira Cruzada em 1099, e
ondas de peregrinos começaram a chegar, viajando milhares de quilômetros pela
Europa. Esses peregrinos precisavam, de alguma forma, bancar meses de comida,
transporte e acomodação para todos eles, sem precisarem carregar grandes somas de
dinheiro consigo – já que isso os tornaria alvo fácil para ladrões.
Afortunadamente, os Templários tinham uma solução. Um peregrino poderia deixar
seu dinheiro na Temple Church em Londres, depois pegá-lo de volta em Jerusalém.
Em vez de carregar o dinheiro até lá, ele só precisaria levar uma carta com o crédito.
Os Cavaleiros do Templo eram a Western Union (conhecida empresa que faz
transferência de dinheiro entre países) das Cruzadas.
Nós não sabemos direito como os Templários faziam esse sistema funcionar, nem
como se protegiam contra fraudes. Havia um código secreto para verificar o
documento e a identidade do viajante?
Banco privado
Os Templários não foram a primeira organização no mundo a oferecer esse tipo de
serviço. Diversos outros países haviam feito isso antes, como a dinastia Tang na
China, que usava o feiquan – “dinheiro voador”, um documento de duas vias que
permitia a comerciantes depositarem seus lucros em um escritório regional e depois
pegarem o dinheiro de novo na capital.
Mas esse sistema era operado pelo governo. O sistema bancário oferecido pelos
Templários funcionava muito mais como um banco privado – embora pertencesse ao
papa – aliado a reis e príncipes ao redor da Europa e gerenciado por uma parceria de
monges que tinham feito voto de pobreza.
E os Cavaleiros do Templo fizeram muito mais do que apenas transferir dinheiro
por longas distâncias. Em seu livro Money Changes Everything (“Dinheiro muda
tudo”, em tradução livre), William Goetzmann diz que eles ofereciam uma série de
serviços financeiros reconhecidamente avançados para a época.
Se você quisesse comprar uma ilha na costa oeste da França – como o rei Henrique
3º da Inglaterra fez nos anos 1200 com a ilha de Oleron, a noroeste de Bordeaux –, os
Templários poderiam ajudar a fechar o negócio.
Henrique 3º pagou 200 libras por ano por cinco anos para os Templários em
Londres, e quando seus homens tomaram posse da ilha, os Templários zelaram para
que o vendedor tivesse recebido todo o dinheiro. Ainda nos anos 1200, as Joias da
Coroa foram mantidas no Templo como uma forma de segurança para um empréstimo
– com os Templários atuando como uma espécie de casa de penhor.
Os Cavaleiros do Templo não foram o banco da Europa para sempre, claro. A
Ordem perdeu sua razão de existir depois que os cristãos europeus perderam
completamente o controle de Jerusalém em 1244, e os Templários foram dissolvidos
por completo em 1312.
Então quem assumiu essa função bancária que eles deixaram? Se você tivesse
presenciado a grande feira de Lyon em 1555, poderia conhecer a resposta. Ela foi o
maior mercado para comércio internacional de toda a Europa.
Troca sofisticada
Mas nessa edição da feira, começaram a circular rumores sobre a presença de um
comerciante italiano que estava fazendo fortuna no local. Ele não estava comprando,
nem vendendo nada. Tudo o que ele tinha à frente era uma mesa e um tinteiro. Dia
após dia, ele recebia comerciantes e assinava pedaços de papel – e, de certa forma,
ficava rico. Os moradores locais olhavam para ele com suspeita.
Mas para uma nova elite internacional das grandes casas de mercadoria da Europa,
suas atividades eram perfeitamente legítimas. Ele estava comprando e vendendo
dívidas – e, ao fazer isso, estava gerando um considerável valor econômico. Um
comerciante de Lyon que quisesse comprar, digamos, lã de Florença, poderia ir a esse
banqueiro e pedir um tipo de empréstimo chamado de “conta de troca”. Era um
documento de crédito, que não especificava a moeda de transação.
Seu valor era expressado em ecu de marc, uma moeda privada usada para essa
rede internacional de banqueiros. E se os comerciantes de Lyon ou seus agentes
viajassem a Florença, a “conta de troca” do banqueiro de Lyon seria aceita pelos
banqueiros de Florença, que trocariam sem problemas o documento pela moeda local.
Por essa rede de banqueiros, um comerciante local podia não só trocar moedas,
mas também “traduzir” seu valor de compra em Lyon para valor de compra em
Florença, uma cidade onde ninguém havia ouvido falar sobre ele. Era um serviço
valioso, que valia a pena. De meses em meses, agentes dessa rede de banqueiros se
encontravam em grandes feiras como a de Lyon, conferiam suas anotações e
acertavam as contas entre si.
Nosso sistema financeiro de hoje tem muito a ver com esse modelo. Um australiano
com um cartão de crédito pode fazer compras em um supermercado de Lyon. O
supermercado checa com um banco francês, que fala com um banco australiano, que
aprova o pagamento ao comprovar que ele tem o dinheiro em conta.
Contrapontos
Mas essa rede de serviços bancários sempre teve também seu lado obscuro.
Transformando obrigações pessoais em dívidas negociáveis internacionalmente, esses
banqueiros medievais passaram a criar seu próprio dinheiro privado, fora do controle
dos reis da Europa. Ricos e poderosos, eles não precisavam mais se submeter às
moedas soberanas de seus países.
O que de certa forma ainda é feito hoje em dia. Os bancos internacionais estão
fechados em uma rede de obrigações mútuas difícil de entender ou controlar. Eles
podem usar seu alcance internacional para tentar contornar impostos e
regulamentações. E considerando que as dívidas entre eles são um tipo claro de
dinheiro privado, quando bancos estão fragilizados ou com problemas, o sistema
monetário do mundo todo também fica vulnerável.
Nós ainda estamos tentando entender o que fazer com esses bancos. Nós não
podemos viver sem eles, ao que parece, mas também não temos certeza de que
queremos viver com eles. Governantes há muito tempo procuram formas de controlá-
los. Às vezes, essa abordagem tem sido no esquema laissez-faire (“deixai fazer”),
outras vezes não.
Poucos governantes têm sido mais duros com os bancos do que o Rei Felipe IV, da
França. Ele devia dinheiro para os Templários, e eles se recusaram a perdoar seu
débito. Então, em 1307, no local onde hoje fica a estação Temple do metrô de Paris,
Felipe lançou um ataque ao Templo de Paris – o primeiro de uma série de ataques ao
redor da Europa. Os Templários foram torturados e forçados a confessar todos os
pecados que a Inquisição pudesse imaginar. A ordem acabou sendo dissolvida pelo
papa. O Templo de Londres foi alugado para advogados. E o último grande mestre
dos Templários, Jacques De Molay, foi trazido ao centro de Paris e queimado
publicamente até a morte.

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como-os-cavaleiros-templarios-inventaram-os-bancos/
#20

O silêncio do maçom

Autor: Desconhecido
Tradução: Juarez de Oliveira Castro
Fonte: A∴ e R∴ L∴ S∴ Alferes Tiradentes, nº 20

Aquele que pretenda escutar e compreender a voz do


silêncio tem que saber da perfeita atenção da mente em
assuntos de índole interna.
– Provérbio Hindu

Meus Irmãos, nesta ocasião vos peço, respeitosamente que guardeis silêncio; assim
achareis a correta disposição de entender os legados de uma virtude sem par.
Para que entendais corretamente o significado do silêncio para o maçom devemos
acudir a sua definição profana, indicando que é a privação voluntária da faculdade de
falar. E em verdade, quase todos sabemos falar, mas poucos sabemos calar. Por ele,
saber calar a língua e os sentidos é uma virtude de Deus.
A lenda ensina que o príncipe Bahzam um dia qualquer saiu a caçar perto de seu
palácio; nesta atividade foi surpreendido pela noite, quando precisamente buscava
uma boa presa. Já cansado, o príncipe se sentou debaixo de uma árvore frondosa com
o propósito de respirar; neste momento sentiu sair das matas a voz de uma ave; em
seguida Bahzam se colocou de pé e disparou sua sarabatana ao pássaro, matando-o
em seguida. Tendo o jovem a seus pés a ave morta, meditou, suspirou e disse: “Oh!,
Quão bonito é saber calar e cuidar a língua! Se esta ave não tivera falado não havia
perecido”.
Pois bem, acercando-nos à maçonaria diremos que o silêncio resulta ser uma
virtude através da qual se corrigem muitos defeitos e se aprende a ser prudente e
indulgente com as faltas que se observam.
Mas, de onde provém o silêncio como axioma fundamental para crescimento do
maçom e qual é seu verdadeiro significado e importância?
Etimologicamente silêncio provém do sânscrito mu e seus derivados muka (mudo)
e musterion (mistério), dita raiz se complementa na Grécia através do verbo musin
(que significa fechar) e sua ramificação museria (silêncio) e em Roma com a raiz
(mutus) donde surge o termo mutare ou trocar, por se referir ao silêncio que as aves
observam durante a renovação de suas penas.
Do visto, podemos deduzir que o conceito de silêncio guarda uma estreita relação
com o de mistério e também por segredo maçônico; este seria tema para outra peça,
que não é pertinente tratá-lo aqui.
Ensina a história da maçonaria, em relação ao silêncio do primeiro grau, que
bastaria entender sua simbologia ao nos remeter ao gênese das sociedades humanas;
com efeito, ensina Ragon, que os primeiros homens não tinham linguagem
propriamente dita. Aqui há o porquê o aprendiz não deve falar em Loja. Com efeito,
que teria que dizer? Poderia ensinar? Simplesmente não deve falar porque não sabe
nada. Poderia perguntar? Sobre que, se ignora o que se trata em Loja? Antes é mister
que por sua idade aonde apenas está abrindo os olhos, escute e observe.
O dito acima parece se ratificar historicamente na escola pitagórica; recordemos
que em sua comunidade filosófica educativa, situada em Crotona (Itália meridional,
denominada então Magna Grécia) aos discípulos se lhes submetia a um longo período
de noviciado aonde se lhes admitia como ouvintes, observando um silêncio absoluto.
A razão de ser da atitude contemplativa que deve inspirar ao aprendiz e ao maçom
em geral, não é outra que a de potencializar suas possibilidades espirituais que se
encontram sempre latentes; em outras palavras, no silêncio se encontra a
possibilidade do crescimento; quando nos isolamos de nossas influências exteriores,
abrimos os canais de concentração, observamos, escutamos e contemplamos, estamos
aprendendo a ver a luz, e isto, de por si, é um processo que entranha uma grande força
de vontade. Como compreendereis não é fácil guardar silêncio.
A maçonaria simboliza o silêncio com a Trolha (plaina ou palheta) com a qual se
deve estender cuidadosamente uma capa sobre os defeitos de nossos semelhantes, da
mesma forma que o faria um maçom operativo sobre os defeitos de uma edificação.
Igualmente, o silêncio tem muitos outros significados em ritos especiais e graus
filosóficos, assim como nos procedimentos de reconhecimento. Mas ao ser estes
mistérios aos que não estão chamados os aprendizes, será mister reencontrá-los
através do crescimento, lento, seguro e firme.
Pois bem, enfoquemos o silêncio construtor a nosso principal legado: a iniciação.
Mas previamente, recordai meus Irmãos, qual foi a primeira palavra pronunciada hoje
por nosso Venerável Mestre. Não? Pois não há sido outra que: “silêncio” seguida da
expressão “em Loja”. Mas, que nos ensina dita palavra e em tal momento especial?
Nos leva a entronizar-nos em um mundo que nos mostra mais além do que percebem
nossos sentidos; nos ajuda a abrir nosso coração e nosso entendimento para receber
os melhores frutos da espiritualidade e do conhecimento; nos ajuda a nos sintonizar na
mesma frequência do G∴ A∴ D∴ U∴; em fim, o silêncio promulgada ao início de
toda sessão permite nossa união mística e a possibilidade de enlaçar as melhores
energias que devem ser utilizadas em nossos trabalhos altruístas.
Pois bem, retomando é bom indicar que o silêncio em torno à iniciação resulta
ponto chave; desde que somos vendados e levados à Câmara de Reflexão, se nos
ensina que somente através da contemplação se pode aceder às primeiras verdades.
Mesmas, que é necessário desentranhar pouco a pouco através do crescimento
interior. De forma igual, quando prestamos juramento adquirimos a obrigação de
calar, especialmente quando se nos indica que não devemos revelar os segredos da
ordem nem a palavra ensinada ao mundo profano; ali, o silêncio simboliza a discrição
e a disciplina do maçom, assim como sua lealdade frente a si mesmo e seus irmãos.
Para ser mais eloquentes escutemos um velho adágio hermético que resulta claro
sobre o ponto: “os lábios da sabedoria estão mudos fora dos ouvidos da
compreensão”; por ele, o bom maçom prefere que o cortem a garganta antes que
romper seu silêncio. E por si fora pouco, na consagração, logo que o recipiendário
começou a ver, assim seja tenuemente a verdadeira luz, se lhe faz ratificar seu
juramento e suas obrigações e ali começa a verdadeira vida ao compreender nosso
legado e o chamado especial, a ser consciência entre inconscientes e a ser equilíbrio
aonde somente há tempestade.
Por ele queridos irmãos o alcance de nossa voz, produto de nossos pensamentos,
resulta chave na construção do Templo, através do polimento da Pedra Bruta; é
melhor calar quando não sabemos como e quando falar; é melhor calar até que
aprendamos a importância de utilizar a palavra de uma forma consciente e sábia; é
melhor não dizer nada quando podemos utilizar a paixão como detonante de nossos
fonemas. É melhor calar quando não estamos preparados para aceitar nossa missão; é
melhor calar quando se começa a caminhar por caminhos desconhecidos, mas com a
segurança de que há uma presença divina que nos acompanha.
Para aprender a calar há que ser consciente de nossas fraquezas, porque, que
difícil ainda resulta, às vezes, encontrar nosso silêncio interior?
Dessa dificuldade advém, se observais com cuidado a maioria dos vícios do ser
humano; pois a palavra resulta ser a consequência direta de nossos pensamentos e a
saúde mental.
A melhor palavra é a curta e breve, a sábia que transmite a verdade; a que se dirige
ao bem. Aprender a falar pouco, o justo e suficiente, significa no maçom em geral, não
somente no Aprendiz, a força de vontade, o caráter moderado, o domínio de si
mesmo, a elevação de seu espírito.
Como meta, queridos Irmãos, é pertinente recordar ao sábio Lokman que ensinou a
seu sucessor: “Meu filho! Se a gente se orgulhar pela tua eloquência e pela tua arte de
bem dizer, tu deverás agradecer a Deus ao ter te dado juízo para saber calar”.
Pois bem, como bom aprendiz meus irmãos volto ao silêncio para encontrar a paz,
porque há que ser amo de nossos silêncios e não escravo de nossas palavras.

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#21

A Maçonaria e o legado dos alquimistas

Autor: João Anatalino


Fonte: O Malhete
Uma palavra sobre a alquimia
Cabe aqui uma palavra sobre a alquimia. Simultaneamente arte, técnica e ciência
do espírito, essa misteriosa ocupação tem desafiado a argúcia dos historiadores,
provocado perplexidade nos cientistas e alimentado a imaginação dos amadores do
insólito desde tempos imemoriais. Fonte inesgotável de tesouros literários, rendeu
algumas obras-primas da literatura mundial, entre os quais o clássico de Rabelais, As
Aventuras de Gargântua e Pantagruel. Segundo alguns autores, os romances do Graal
são alegorias alquímicas que procuram transmitir aos adeptos da arte de Hermes o seu
magistério. Inspirou também famosos contos de fadas, como O Gato de Botas, Ali
Babá e os Quarenta Ladrões, O Pequeno Polegar, As Viagens de Guliver, etc… e
algumas boas obras modernas como as estórias de Harry Potter, O Alquimista, de
Paulo Coelho, os Cem Anos de Solidão de Gabriel Garcia Marques e outros. Segundo
Pawels e Bergier, mais de cem mil livros foram dedicados a essa prática, o que no
mínimo a eleva a fenômeno cultural dos mais significativos.
Somente essa constatação já nos parece suficiente para que a alquimia não seja
levada na conta de pura divagação de espíritos fascinados pelo fantástico. Hoje não
se tem muita dúvida que se trata de uma técnica, cuja origem está na prática da
metalurgia antiga – prática essa, como bem demonstrou Ambelain – de caráter
sagrado. Tanto na China, com os taoistas, como no Egito dos faraós, com os
sacerdotes de Heliópolis, ou na Grécia clássica, com os filósofos naturalistas, foram
as técnicas metalúrgicas, aliadas ao pensamento mágico que elas naturalmente
evocam, que deram origem à alquimia. Daí ela se organizou como ciência da natureza
e prática espiritual para o desenvolvimento de uma consciência superior.
Os trabalhos de René Alleau e Mircea Eliade demonstraram com muita
propriedade que a alquimia, desde a mais remota antiguidade, é uma arte iniciática,
associada aos mistérios da natureza. Por isso era praticada pelos sacerdotes egípcios
e hindus em seus templos, não só como forma operativa de produção de artefatos
preciosos, mas também como disciplina do espírito para atingir o êxtase espiritual.
Mais tarde, os filósofos taoístas e gregos a elevaram à nível de disciplina acadêmica,
organizando-lhe uma epistemologia própria, fazendo dela uma arte especulativa e
empírica ao mesmo tempo.
No Egito essa arte era própria dos ourives, mestres na fabricação do “ouro falso”,
como eram chamados os artefatos fabricados com metais comuns, submetidos a
banhos dourados para imitar o ouro. Essa atividade era praticada sob a supervisão
direta dos sacerdotes e tida como “arte sagrada”, comparável à arquitetura. Durante
muitos séculos os gregos tentaram descobrir o segredo de tais banhos, e foi no curso
dessas tentativas que eles desenvolveram a forma operativa da alquimia, especulando
primeiro e depois realizando experiências de laboratório, anotando e analisando os
resultados. Com isso deram a essa prática, em princípio uma arte empírica, um caráter
de ciência experimental.
Foi na Grécia, já no século II da era cristã, que apareceu o primeiro tratado de
alquimia, escrito por um filósofo gnóstico de nome Zózimo. Mais tarde, Jâmblico e
Pelágio, mais filósofos do que cientistas, ambos ligados ao pensamento esotérico,
retomaram o trabalho de Zózimo, vinculando a alquimia aos Mistérios Egípcios e a
tradição hermética, com a qual ela ficou identificada desde então. Associando os
símbolos alquímicos à tradição esotérica, fizeram da alquimia uma ciência do
espírito, e mais tarde, quando ela se integrou à cultura medieval, passou a ser também
a Art d’Amour, pela interação do sonho alquímico com as tradições da Gennete.
Foi, portanto, a partir dos trabalhos de pensadores gnósticos, como Jâmblico,
Pelágio, Olimpiodoro e outros, que a alquimia ganhou o status de arte hermética, já
que foram aqueles autores que divulgaram a lenda que tais conhecimentos teriam sido
legados à humanidade por Hermes Trismegisto, sacerdote que teria vivido três
encarnações no antigo Egito, e em cada uma delas legado aos homens os
conhecimentos necessários para o desenvolvimento da civilização. Na primeira
encarnação Hermes teria ensinado as técnicas de agricultura, na segunda a arte da
escrita e na terceira a metalurgia, com os segredos a ela ligados, entre eles o da
fabricação do ouro e da realização espiritual através da prática dessa arte. Para os
gregos, Hermes foi sucessivamente o deus Osíris, o deus Toth e o próprio Hermes
grego; houve inclusive quem o visse como encarnação de Moisés e Salomão, já que
eram muitas as tradições que atribuía ao rei israelita a invenção da pedra filosofal.
Entretanto, os maiores divulgadores da alquimia foram realmente os árabes. Pelos
menos, são muçulmanas ou mouriscas as mais fortes tradições e referências a respeito
dessa prática, em épocas anteriores ao século XII, quando ela penetrou na Europa e
caiu nas graças dos “espíritos de categoria”, na expressão de Pawels e Bergier.
Os métodos da Alquimia
Especializando-se nas artes da metalurgia, os alquimistas procuravam aprender os
processos pelos quais a natureza produz os minerais. Com esse conhecimento,
trabalhando em seus laboratórios, poderiam repeti-los e realizar transmutações de
metais simples em metais preciosos. Graças a esse trabalho, muitas descobertas no
campo da química, da medicina e da metalurgia foram realizadas.
A possibilidade de transformar um metal comum em ouro não era um sonho, uma
fantasia de loucos possuídos pelo delírio metafísico, como muitos autores
racionalistas o definiram, mas sim uma prática desenvolvida a partir de uma teoria,
que, se pelo menos não era exata, nada tinha de loucura. Os alquimistas acreditavam
que os metais eram encontrados na natureza na forma perfeita e imperfeita. Os
imperfeitos eram aqueles alteráveis pela ação da natureza. Oxidavam-se, corroíam-se,
alteravam-se pela ação do fogo e outros elementos. Os perfeitos eram inalteráveis e
resistentes a esses elementos. Entre os primeiros listavam o ferro, o chumbo, o
estanho, o cobre; entre os segundos, a prata e principalmente o ouro.
Todos os metais, segundo essa teoria, eram formados por dois elementos, que eram
o enxofre e o mercúrio, encontrados em quantidades variáveis em cada metal segundo
sua categoria. O que conferia a cada metal a qualidade de perfeição era a pureza
desses dois constituintes. O ouro era constituído por uma grande quantidade de
mercúrio e uma pequena quantidade de enxofre, ambos muito puros. O estanho, o
ferro, o cobre, ao contrário, eram constituídos por grandes quantidades de enxofre e
pequenas quantidades de mercúrio, ambos mal fixados, ou impuros. Então, para se
alterar as propriedades de um mineral impuro, tornando-o puro, era preciso submetê-
lo a um processo de eliminação de suas impurezas, fazendo-o passar do estado
imperfeito para o perfeito.
O processo pelo qual um metal ordinário pode ser transformado em ouro é
explicado por Ouspensky como sendo uma transmutação da matéria em seu estado
físico para um estado “astral”, por meio da sua desmaterialização. Dessa forma o
metal desmaterializado pode ser “modificado” pela vontade do operador, retornando
ao mundo físico como outro metal, no caso, o ouro. Esse seria o processo pelo qual os
alquimistas realizariam as suas transmutações. Convenhamos que é uma explicação
um tanto imaginosa para uma operação que ninguém sabe se um dia foi sequer
realizada. Só vale citá-la mesmo em razão do simbolismo que encerra.
Na verdade, no plano físico, a crença que está no cerne da prática alquímica é
simples e pode ser explicada a nível operacional. Trata-se simplesmente de isolar,
pela ação do fogo e pelas diversas recombinações da sua estrutura, o chamado
“DNA” de um determinado elemento da natureza, que segundo a crença dos
alquimistas, conteria a chamada “alma” dos metais. Isolada essa “alma” e aplicada
em novas combinações atômicas, o metal original mudaria de estrutura.
Maçonaria e alquimia
No plano espiritual, esse mesmo processo poderia ser tomado como aplicável em
relação ao homem, enquanto ser físico, para transformá-lo num “ser superior”,
espiritualizado ao extremo. Essa seria a fundamentação da ritualística maçônica, pois,
da mesma forma que as técnicas alquímicas realizavam uma transmutação sobre as
moléculas do metal, alterando sua composição, a prática maçônica obteria o mesmo
resultado sobre o espírito de seus praticantes, alterando-os para melhor.
Os adeptos da arte de Hermes acreditavam que a matéria bruta, sobre a qual
deveriam trabalhar, era um caos, uma treva espessa, um depositório de energias
desorganizadas. Mas no seu interior habitava a chama divina, a luz dos princípios, o
raio, que liberto das suas amarras físicas, daria ao seu libertador o controle sobre
todas as forças da natureza. Para eles, era também essa energia, que liberada, dava a
todos os corpos, minerais, vegetais ou animais, suas conformações, fazendo deles um
elemento químico, uma planta ou um animal, sendo também responsável pelos graus
em que se organizam seus elementos internos, dividindo-os em espécies.
Essa energia, que Aristóteles chamava de enteléquia era a matéria prima do
espírito. O espírito, que é luz, habitava em meio a trevas. Ao ser libertado precisava
ser convenientemente dirigido. Pois assim como os núcleos atômicos de materiais
pesados que são rompidos sem medidas de controle, podem causar explosões
imensas, com danos irreversíveis para o operador e para o ambiente, também o
espírito liberado sem direcionamento, sem “magistério” próprio, pode causar
terríveis perturbações.
A alquimia entrou na Maçonaria pelas mãos dos “maçons aceitos” do grupo
rosacruciano, ali pelo início do século XVII. Ganhou adeptos em todas as Lojas
Especulativas, provavelmente pela analogia que as tradições alquímicas guardavam
com a ideia maçônica, de aprimoramento do espírito através do trabalho manual.
Para os alquimistas, o trabalho de manipulação da matéria nos laboratórios
provocava no espírito do operador o mesmo resultado que o trabalho de edificação
trazia para o construtor de edifícios. Ambas eram práticas sacralizadas, que levavam
ao êxtase aqueles que nelas eram iniciados. Além disso, a esperança alquímica de
revelação divina, através da manipulação da matéria, estava no mesmo nível da
esperança maçônica, de obtenção da gnose através do simbolismo de um ritual
iniciático. Daí tanto se pode dizer que a alquimia era a Arte Real praticada
operativamente nos laboratórios por filósofos químicos, da mesma forma que a
Maçonaria era uma alquimia espiritual praticada numa Loja maçônica em vez de um
laboratório. Ambas eram derivações de antigas artes operativas: a alquimia provinha
da prática da antiga metalurgia, a Maçonaria da prática da arquitetura.
Que tais ideias fossem associadas a uma disciplina espiritual, visando o mesmo
resultado, não causa nenhuma perplexidade. Afinal, o que pregavam as crenças
religiosas e as tradições iniciáticas de todos os tempos, senão a idéia de que o
espírito humano é um elemento que deve ser expurgado de suas impurezas, para
tornar-se uma entidade “luminosa”, limpa, pura, capaz de alçar-se ao território das
divindades e com elas conviver num nível de igualdade? E não era essa também a
finalidade da religião, a meta da filosofia, a esperança gnóstica e a realização
derradeira de toda experiência mística?
Porque então, pensavam os alquimistas, essa esperança não podia ser realizada
através da manipulação química da matéria, que ao mesmo tempo realizava a
experiência espiritual da prática religiosa e o conhecimento superior da busca da
gnose, de forma especulativa e operativa ao mesmo tempo?
Foi nesse passo que a Alquimia deixou de ser apenas a Arte de Hermes, destinada
a apreender os segredos da natureza e aplicá-los na transmutação dos metais, para
transformar-se em verdadeira ciência do espírito, capaz de realizar a iluminação do
próprio operador, levando-o a um estado de consciência superior, que só um
verdadeiro iniciado conseguia atingir. Essa era, pelo menos, a esperança da grande
maioria dos praticantes da Art d’Amour, como ficou sendo conhecida a alquimia entre
os românticos admiradores dessa arte. A esse respeito escrevem Pawels e Bergier:

Finalmente pensamos o seguinte: o alquimista no fim


do seu trabalho sobre a matéria vê, segundo a lenda,
operar-se em si mesmo uma espécie de transmutação.
Aquilo que se passa no seu crisol passa-se igualmente
na sua consciência ou na sua alma. Há uma mudança de
estado. Todos os textos tradicionais insistem nesse
ponto, evocam o momento em que a “Grande Obra” se
realiza e em que o alquimista se transforma “num
homem desperto”. Parece-nos que esses velhos textos
descrevem deste modo o termo de todo o conhecimento
real das leis da matéria e da energia, incluindo o
conhecimento técnico.

Eis, portanto, realizada a ascese espiritual, a iluminação buscada pelos místicos de


todos os tempos, a gnose dos antigos filósofos e o insight do cientista. O operador
alquímico é agora um Homem Novo, renascido das próprias cinzas, como a fênix da
lenda, como a matéria prima mineral que durante anos a fio triturou, dissolveu,
aqueceu no crisol e cozeu no seu forno, “matando-a” e “ressuscitando-a” inúmeras
vezes, até que, por um fenômeno de interação entre suas moléculas modificadas e
recombinadas infinitas vezes, produz-se o fenômeno.
E ao mesmo tempo, enquanto o metal se purifica no decorrer do processo, o
operador alquímico torna-se também “purificado”, como o metal grudado no fundo do
crisol. Ele é detentor de todo saber, todo conhecimento, todos os segredos da natureza
e senhor do seu próprio psiquismo. É o Homem da Terra, feito à semelhança do
Homem do Céu, da tradição essênia, o Homem Desperto das crenças teosóficas, o
Homem Universal da esperança maçônica.
Simbolismo alquímico e maçônico
Eis enfim, realizado o grande sonho da humanidade. Enquanto o alquimista possui
agora, um artefato capaz de introduzi-lo no mais íntimo dos segredos da natureza, que
é o processo pelo qual ela “fabrica” os elementos naturais, ele agora é também, como
homem desperto, um verdadeiro “eleito” na sociedade em que vive, pois possui a
gnose, a verdadeira sabedoria que tudo transforma.
Essa também é a simbologia que se aplica ao maçom, homem regenerado pela
Iniciação, possuidor de uma consciência superior, que lhe permite “ver” e agir num
domínio ampliado pelo mundo interior que a prática da Arte Real finalmente lhe
assegura.
Não é sem motivo que muitos autores sustentam que o objetivo da Maçonaria é a
realização de uma obra espiritual comparável à grande obra dos alquimistas,
representada pela pedra filosofal. Não é também irracional a comparação que se faz
entre a construção simbólica do Templo de Salomão e a obtenção dessa “pedra”,
capaz de transformar minerais impuros no mais puro ouro.
E não é também, por acaso que a Iniciação maçônica, e o seu próprio catecismo,
são pródigos de evocações a símbolos alquímicos. E tanto se pode dizer que a
Maçonaria é uma espécie de cavalaria simbólica, quanto uma forma de alquimia
praticada especulativamente numa Loja, em vez de um laboratório, tendo como
matéria prima o psiquismo do praticante, e como finalidade a transmutação do próprio
operador.
Bernard Rogers resume bem essa questão:

O objetivo que os franco-maçons perseguiam é a


construção do Homem, isto é, da Humanidade
Autêntica, concebida como projeto, a partir da
construção do individuo. Não causará surpresa o fato
de que o eixo em torno do qual eles estabeleceram seu
simbolismo seja a construção do Templo de Salomão,
sendo o ser humano considerado como a morada da
divindade. A quem venha opor esse propósito a
afirmação de que há franco-maçons ateus,
respondamos que nenhum desses, a menos que não
mereça sua qualificação, poderia pelo menos negar sua
fé na perfectibilidade do homem, cuja natureza divina,
isto é, luminosa, não pode deixar de ser reconhecida
por quem não tem medo das palavras e se recusa a
tornar-se escravo do que esta ou aquela religião possa
exigir dele.

Por acaso também não é que a disposição dos símbolos numa Loja maçônica,
assemelhe-se, de forma notável, à quarta prancha do Mutus Líber dos alquimistas.
Ambas são visões simbólicas do universo. Nelas se representa a “energia dos
princípios”, responsável pelas transformações internas e externas que se realizam na
natureza e no homem. É na Loja que a mística da Palavra Perdida, o Verbo Divino, o
Número Único, que na cabala representa o Princípio Criador de todas as coisas, e na
alquimia a flos coeli, “o dom de Deus”, é captada pela alma humana no momento da
Iniciação. É essa energia que age, à medida que a cerimônia avança, para a realização
da transmutação do neófito, conferindo-lhe um status que o eleva de sua condição
anterior de profano à condição superior de iniciado.
O piso da Loja maçônico
Em tudo e por tudo o magistério alquímico guarda a mais estreita relação com a
tradição maçônica. Tanto é que as cinco telas do Mutus Líber ocupam, na iconografia
alquímica, a mesma posição que o piso mosaico na Loja Maçônica, onde se realizam
as transmutações dos aprendizes, na passagem sucessiva das fases de Iniciação nas
Lojas Simbólicas. O piso mosaico, em ambas as tradições, tem a função específica de
“receber e filtrar a luz” que vem do Oriente, a “Luz de Rá” das iniciações egípcias,
Princípio Criador de tudo que há no mundo. E as cores desse piso, em preto e branco,
repetem as mesmas cores do mercúrio dos filósofos alquimistas.
Diz-se que o piso mosaico, na Loja maçônica, é uma representação do piso que
ornava o Templo de Salomão. Mas essa referência histórica é apenas uma informação
que não reflete o seu verdadeiro significado. Na verdade, desde o tempo de Moisés,
ou até antes disso, esse traçado geométrico já representava ideias de alto conteúdo
esotérico. Era utilizado nos templos egípcios, nas antigas sinagogas judaicas e nos
templos greco-romanos como forma de captar e filtrar a luz solar, orientando-a para
um fim determinado. Dessa forma, não é estranho que os alquimistas tenham utilizado
a mesma disposição geométrica para preparar o seu “filtro”, fundamentados na mesma
sensibilidade que tiveram os antigos profetas e hierofantes.
As antigas tradições maçônicas dizem que o Templo de Salomão era ornamentado
por um piso mosaico formado por quadrados pretos e brancos, orientados de certa
forma. Essa informação consta de diversos manuscritos antigos, pertencentes ao
conjunto que hoje chamamos de Old Charges (As Velhas Instruções). É bom lembrar,
entretanto, que em nenhuma parte da Bíblia, ou de qualquer outro documento histórico,
esse detalhe foi realmente informado, o que nos leva a pensar que ele tenha,
efetivamente, mais relação com o simbolismo alquímico do que, propriamente com as
antigas tradições maçônicas herdadas da arquitetura medieval.
O iluminismo maçônico
Por analogia, podemos comparar o magistério alquímico com a prática maçônica.
Há uma similitude nos objetivos de ambas as tradições e no processo de obtenção de
resultados, que muito se assemelham entre si. Da mesma forma que na prática
alquímica o metal se regenera a partir de uma conjunção entre a luz e as trevas, na
Maçonaria essa regeneração é operada a partir do sol e da lua. Por isso esses astros
estão representados no Oriente da Loja, atrás do trono do Venerável Mestre. No meio
deles, no centro do triângulo, o “olho onisciente” reina absoluto.
Essa simbologia, inspirada em tradições egípcias, é representativa da crença de
que tudo no universo emana da conjunção de dois princípios, resultando num terceiro,
que se propaga por todo o real existente. O sol ali representado é Osíris, ou Rá, o
Princípio Criador de tudo que existe no universo. A lua representa Isis, a deusa-mãe
em cujo ventre se opera o milagre da regeneração, e o “olho onisciente” é o olho de
Hórus, o filho que nasce da união de Ísis e Osíris, após a ressurreição daquele deus.
Por ele, a manifestação do Princípio Criador projeta o universo real, dando forma a
toda a criação cósmica.
A trindade egípcia, pintada obrigatoriamente atrás do trono do Venerável Mestre é
representativa do “mistério maçônico” que se opera na Loja, a partir do qual o maçom
alcança a regeneração psíquica pela prática da Iniciação. É da luz que vem do
Oriente, a partir da consagração dada pelo Venerável, que o iniciado atinge a
qualidade de homem renascido, após ter sofrido a morte psíquica, simbolizada por
sua passagem pelos subterrâneos e sua descida ao ventre da terra.
Após ter passado um período perdido nas trevas, realizando diversas provas e
viagens, o neófito “vê” a luz, no momento em que lhe são retiradas as vendas dos
olhos. Momento limite de sua Iniciação, ele percebe que essa luz lhe é conferida
pelos astros ali representados, simbolizando que ele, finalmente, superou a primeira
fase de sua jornada iniciática e sabe agora da existência de uma verdade maior que
precisará ser descoberta.
A correspondência entre o iluminismo maçônico e a tradição alquímica é evidente:
o Aprendiz, que durante longo tempo permaneceu num estado de semente, lançada num
profundo negro, evolui para o branco da regeneração, quando se torna Companheiro e
conhece o vermelho da ressurreição ao tornar-se Mestre. O Mestre que renasce a
partir de Hiram morto, eis o apogeu do processo que simboliza o nascimento de um
maçom na sua plenitude iniciática, pois ao iniciar-se Aprendiz, e ao elevar-se a
Companheiro, ele ainda está em processo de gestação. Será preciso um longo trabalho
de manipulação e aprimoramento do seu caráter até que ele se torne, enfim, o Homem
Universal, alicerce da nova sociedade, justa e perfeita, que a Maçonaria se propõe
construir.
Essa é a alquimia que se processa no interior de uma Loja Maçônica, que nesse
mister, repete o trabalho feito no laboratório do alquimista.

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dos-alquimistas/
#22

Arte Royal

Autor: Nuno Raimundo


Fonte: A Partir Pedra
Era de noite…
e debaixo de uma acácia que me era conhecida
eu repousava.
Reparei que na abóbada celestial flamejava uma estrela,
e que por ser tão bela, certamente que, seria obra de um sapiente geômetra.
Que com a força do seu punho a cinzelou e no céu a estabeleceu…
É nestes momentos, de rara nostalgia, e vislumbrando a natureza que me rodeia,
que sinto que quase não sei ler nem escrever,
e que dificilmente conseguirei soletrar o quer que seja…
Ou não fossem as palavras que ficam, por vezes, por dizer,
serem tantas como as espigas dos nossos campos;
e que por isso, por vezes, me parece que a carne se me desprega dos ossos…
Depois, acordei e vi que a luz me inundava o quarto
e que tudo tinha sido um mero sonho.
Um sonho bom…

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#23

O silêncio, voz da Iniciação

Autor: Alain Pozarnik


Tradução: José Filardo
Fonte: Bibliot3ca
Embora apreciadores da beleza do silêncio, seja durante um passeio ao ar livre,
andando na rua, trancados no interior de nosso veículo ou dentro de nossa casa, nós
escutamos avidamente uma música gravada, um programa de televisão ou de rádio.
Enquanto parte de nós sonha com a calma, paz e profundidade, paradoxalmente outra
parte foge do silêncio e nos arrasta para o mundo do tumulto e barulho.
De um lado, somos fascinados pela grandeza potencial do silêncio, mas por outro,
os sons dos nossos mecanismos de pensamento e emoções preenchem
automaticamente o nosso espaço interior. Eles nos impedem de nos escutar, de nos
ver, de nos aprofundar, de nos encontrar face a face conosco. Nós somos infiéis à
condição de nossa humanização. Nossos pensamentos e emoções agitam-se
perpetuamente. Uns nos ocupam ou nos preocupam; outros nos fazem vibrar. Ambos
nos hipnotizam e nós procuramos ali, a perspectiva de uma solução para os nossos
problemas, ou uma esperança de felicidade para nossa solidão. Estamos tão
acostumados e identificados com suas produções ou suas autoproduções que
acabamos por acreditar que nós somos os nossos pensamentos e nossas emoções e
que, sem eles, nossa vida perderia sua intensidade ou simplesmente não mais
existiríamos. Seus silêncios, o silêncio nos assustam. Quando não ouvimos mais a
agitação barulhenta da presença de nossos pensamentos ou de nossas emoções, temos
uma terrível sensação de vazio, de nada, de morte, e fornecemos o mais rapidamente
possível aos nossos mecanismos emocionais e intelectuais todos os tipos de alimentos
oferecidos pelo fast-food da vida. Para alimentar suas máquinas, e nos dar a
impressão de existir, nós lhes oferecemos não importa qual alimento interno ou
externo que eles engolem avidamente. Mas, ao fazer isso, tornamos superficiais estes
ruídos ambientais. Eles habitam em nós, nos preenchem e nos ensurdecem. Nós nos
tornamos incapazes de ouvir a vida além deles, aquela existente mais profundamente
em nós.
As ilusões do ruído
Este “eu sou” barulhento que surfa a espuma da vida é parte de nossos mecanismos
egoístas de mamíferos humanos. Ele está irremediavelmente limitado à superfície
porque é total e exclusivamente voltado para si mesmo, para seus próprios medos e
vaidades, suas ignorâncias e suas reivindicações. A espuma do ego, que conhece
apenas a si mesma e seu mundo, vive como vivem todos os animais programados por
um instinto de sobrevivência e reprodução, com uma consciência limitada ao instante
da expressão. Ele nos leva a nos preocuparmos conosco, com nossa aparência, nossos
desejos, nossos medos e engendra nossos conflitos, nossos hábitos de traições,
mentiras e julgamentos, para nos tornarmos ou continuarmos a ser um líder de grupo
com um máximo de excitações emocionais ou intelectuais.
No entanto, dentro de nós existe algo como uma chamada para uma vida mais
autêntica, mais justa, mais consciente. Existe como que um espaço livre não utilizado.
Um espaço em que poderíamos viver de forma diferente, evoluir, tornarmo-nos mais
humanos. Mas o ego de superfície, o ego mecânico que nada escuta, a não ser os seus
acólitos e vive apenas para a sua preservação, não entende essa outra possibilidade,
este humano natural. Ao contrário, quanto mais ele se sente quebrar e mais barulho ele
faz, mais ele se agita, mais ele se opõe. Aquele que somos efetivamente toma como
refém o que poderíamos nos tornar, para que permaneçamos imóveis, que não
possamos lhe escapar, que não possamos nos evadir em direção a um horizonte mais
vasto, onde ele não teria seu lugar.
O medo do silêncio
Todas as iniciações tradicionais, religiosas ou seculares, enfatizam a importância
do silêncio para superar nossas visões ruidosas, relativas, limitadas, e atingir a
harmonia universal da verdade. A única maneira de não ser submergido pelos ruídos
parasitas é não reservar para elas a nossa atenção, e as ouvir em nosso silêncio
interior.
Ancorados no silêncio da Loja, podemos ver surgir, sem a eles aderir
completamente, os mecanismos habituais de nossas associações de pensamento e
nossos impulsos emocionais. Os ruídos e as agitações estão lá e suas consistências
são muito reais, mas em nosso silêncio, em nossa ancoragem vigilante nós as vemos
nascer, agitar-se, tentar ampliar-se e como nós não mais as seguimos, não mais
aderimos, elas morrem lentamente, mesmo se forem subitamente substituídas por uma
outra série de ruídos e agitação. Concretamente, ou nós resistimos ao aparecimento de
ruídos e mantemos nossa independência e nossa liberdade, ou nos deixamos seduzir
pela curiosidade de ver onde elas nos levarão, e nos tornamos seus escravos. O
silêncio imposto em Loja nos permite conhecer a realidade de nossos mecanismos. O
desejo de ficar em silêncio leva nossa vigilância a observar nossos mecanismos
automáticos muito frequentemente inconscientes ou arbitrariamente justificados, a não
mais ser seu escravo, ir além deles e os controlar pelo abandono. No silêncio
voluntário, vemos surgir nossos pensamentos e emoções, nós os ouvimos se apoiar em
teorias peremptórias, nas opiniões abundantes vindas de nossa infância, de nossos
pais, de nossos professores, de nossos encontros e de nossas experiências passadas,
de toda a nossa história em geral, de nossas certezas imutáveis e confortáveis, de
nossas revoltas e de nosso gosto pela aventura. No silêncio, tomamos a medida de
nossa contaminação por nossos ruídos antigos, e podemos observar o rodeio do
pensamento, nos outros e em nós mesmos, que se esforça para sempre impor as
mesmas certezas, as mesmas ambições, os mesmos desejos, a mesma aparência para
sermos reconhecidos, admirados e amados, com o único objetivo de preservar este
sabor falsificado de vida feliz na aparência, desde o surgimento de uma onda
momentânea que será finalmente engolida na ressaca do oceano da vida.
Em direção a um novo tempo
No silêncio como ascese compreendemos pouco a pouco a necessidade de ficar em
silêncio para ouvir nossa profundidade humana. Não se trata mais apenas de ouvir
nossos ruídos, mas de escutar nosso silêncio, a vida que abriga nosso silêncio.
Existem vários níveis de silêncio e cada nível nos dá acesso a uma realidade
diferente. O silêncio não é fugir da vida, nem mergulhar em um isolamento, mas ele
nos permite ouvir o baixo nível sonoro do nosso ser humano. O silêncio exterior e
depois o silêncio interior nos permitem ouvir e depois escutar a respiração do nosso
ser humano futuro. O silêncio não é um fim em si, mas o meio, a condição para tomar
consciência de uma realidade geralmente inaudível, geralmente coberta por nossos
ruídos mecânicos. Depois de remover nossos ruídos, resta o silêncio. O silêncio não é
o oposto de ruído, o silêncio está além do ruído. O iniciado não se submete mais aos
ruídos de seus pensamentos e de suas emoções, ele se submete ao silêncio que existe
além. Ele se tornou um homem livre e entra em um tempo de eternidade. Nesta fase,
não somos nós que impomos o silêncio, é o silêncio que reina, diz um ritual maçônico.
Quando o silêncio reina, trata-se do silêncio do Ser, e o Ser ilumina de outra forma o
mundo que percebemos até então através de ruídos falsificadores do ego. Quando o
silêncio reina, não nos submetemos ao silêncio, mas à beleza, à majestade, à grandeza
humana e cósmica que o silêncio nos revela. Esta nova escuta é, por vezes,
perturbadora, dolorosa, mas por mais que ela nos seja estranha, por mais que
estejamos habituados, ela é tão fascinante.
Quando o silêncio se torna o mestre do nosso Templo interior, ele reina sobre uma
e outra coluna, não sobre a loja como um lugar geográfico, mas em cada um de seus
elementos humanos. Esta submissão ao silêncio é uma submissão do homem comum
ao ser humano completo. Nascido agora como um novo homem, uma nova
compreensão, uma nova palavra, uma nova esperança na realidade do mundo.
O silêncio que reina em nós, nos permite agora mergulhar em um novo tempo,
infinito, eterno. O silêncio que reina é o sinal de vida de nosso Ser profundo que
encontrou seu espaço de expressão. O silêncio que reina é o sinal de que nosso ser
reina, e que ele pode viver; que nossa vida não está mais sujeita aos caprichos do
nosso ego, mas que é realmente a nossa humanidade que se expressa. Trata-se de um
silêncio estupefato por sua beleza humana, de um silêncio da inteligência, de um
silêncio que olha e escuta, de um silêncio que compreende e que ama, de um silêncio
que é a tomada da palavra pelo Ser capaz de capturar simultaneamente o relativo e o
objetivo, a materialidade e a espiritualidade, o finito e o infinito.
O silêncio que era uma porta tornou-se um estado de Conhecimento, de
Consciência e de Amor. Este silêncio autêntico se desloca conosco, não importando o
que façamos, ou o que nós sejamos. Ele está sempre presente, porque este silêncio
está em nós no espaço e no tempo, além do tempo e do espaço em toda a nossa
eternidade.
Agora que sobrevoamos o segredo do silêncio, resta-nos trabalhar, observar, e nos
esforçar para descobrir como fazer para realizar concretamente em nós mesmos, da
forma como os rituais nos indicam, como via da sabedoria, da força e da beleza:
“Venerável Mestre, reina o silêncio sobre uma e outra coluna”.
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iniciacao/
#24

Em Busca de uma Tradição Inventada

Autor: Françoise Jean de Oliveira Souza


Fonte: História Viva
A história é continuamente reescrita. À medida que a realidade presente muda, as
interpretações acerca de um fato passado também são alteradas, buscando respostas
que correspondam melhor às necessidades do tempo atual. Foi assim com a
Inconfidência Mineira (1789). Poucos momentos foram tão debatidos, reescritos e
apropriados quanto esse.
Durante boa parte do século XIX, a Inconfidência não assumiu lugar de destaque na
historiografia brasileira. Tal situação modificou-se apenas na segunda metade do
século, quando o princípio da nacionalidade tornou-se uma questão premente a ser
resolvida. Urgia ao Brasil a construção de laços de pertencimento capazes de criar
um sentimento nacionalista, e era fundamental encontrar os elementos fundadores da
nação, construindo uma identidade que pudesse particularizá-la. Com o golpe militar
que inaugurou a República em 1889, essas necessidades foram reforçadas. O regime
instaurado de cima para baixo estava longe de apresentar-se como uma demanda da
população em geral. Assim, era preciso legitimá-lo perante o povo, apresentando-o
não como um elemento estranho à sociedade, mas sim como um desejo histórico
presente havia muito tempo.
A solução para essas questões passava pela criação de um mito fundador que
estabelecesse uma ideia de continuidade entre o fato presente e o passado brasileiro.
Era necessário criar uma tradição republicana para a nação por meio de heróis que já
tivessem ansiado pela implantação desse regime. Nessa ocasião, a Inconfidência
Mineira e Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, assumiram com propriedade o
papel de precursores da República.
A escolha de Tiradentes como herói nacional não é difícil de ser explicada. Com a
publicação da obra de Joaquim Norberto de Souza e Silva, História da Conjuração
Mineira (1873), que ressaltava o fervor religioso do personagem nos últimos
momentos de sua vida, inúmeras representações simbólicas tornaram-se possíveis,
aproximando-o à figura de Cristo. Outro fator importante para essa opção foi que o
movimento não aconteceu efetivamente, o que poupou os inconfidentes do
derramamento de sangue e os manteve imaculados. Eles foram apenas vítimas da
violência, nunca agentes.
A Inconfidência como objeto passível de ser novamente apropriado permitiu à
historiografia refazer as linhas gerais do levante sempre que a conjuntura política
brasileira teve necessidade de reavivar o sentimento nacional. Seu legado simbólico
foi retomado de tempos em tempos, mais especificamente nos momentos de rupturas
históricas no decorrer do século XX. Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e até
mesmo os militares de 1964, autointitulados “os novos inconfidentes”, apropriaram-se
do fato histórico em favor de seus interesses políticos. Sob novas roupagens, o mito
repetia-se incessantemente.
Contudo, não foram apenas os governos que utilizaram a influência do movimento e
de seu herói. Muitas instituições também procuraram um “lugar ao sol” nessa festa de
apropriações simbólicas. Foi o caso da maçonaria, que tomou Tiradentes como seu
símbolo maior no Brasil ainda no século XIX. A partir de 1870, ocorreu um
crescimento acelerado do número de lojas maçônicas no país e muitas delas foram
batizadas de “Tiradentes”. Frequentemente, suas bibliotecas tinham o inconfidente por
patrono e até mesmo os jornais maçônicos carregavam seu nome. Já no século XX,
Tiradentes pareceu ganhar em definitivo um lugar de destaque no panteão maçônico,
tornando-se patrono da Academia Maçônica de Letras.
Mas por que esse mineiro poderia representar a maçonaria? Que legitimidade
haveria nisso? “Simples”, responderiam os historiadores ligados a essa organização:
Tiradentes teria sido maçom, e a Inconfidência Mineira, uma conspiração maçônica
em prol da libertação nacional!
Muitos maçons, historiadores ou não, aventuraram-se a escrever sobre o episódio
para desvendar sua “verdadeira” história e demonstrar o papel crucial da maçonaria
na definição dos acontecimentos de 1789. Em geral, essas narrativas começam
demonstrando que a Inconfidência não foi um episódio regional. Tal movimento teria
feito parte de um projeto internacional elaborado para tornar livres todos os povos
oprimidos. A Inconfidência, a Revolução Francesa e a Independência dos Estados
Unidos seriam expressões de um mesmo fenômeno: o do anseio revolucionário por
independência, democracia e liberdade que sacudiu a Europa e a América por meio
das atividades maçônicas.
Desse modo, o sentimento nativista não seria suficiente para explicar os anseios
dos inconfidentes pela República. Acreditar apenas nisso, segundo os escritores da
maçonaria, seria “ingenuidade e romantismo”. Os conspiradores mineiros agiriam
inspirados não só pela ideia de nação brasileira, mas, principalmente, pelos
sentimentos de sua organização. “Mirando-se no exemplo vitorioso da revolução
americana guiada por George Washington, Thomas Jefferson, etc., (…) os líderes
inconfidentes questionaram o que a metrópole impunha como sendo inquestionável”,
escreve o maçom Raymundo Vargas. Eles não teriam planejado uma revolta se não
tivessem certeza de que os “irmãos” americanos prestariam auxílio ao restante do
continente. O projeto também incluía a Europa, e a França foi o palco escolhido para
os contatos que uniriam o Brasil “a essa corrente universal de liberdade”.
A narrativa maçônica apresenta-se confusa para aqueles que sabem que a
instituição foi fundada no Brasil em 1801. A Inconfidência poderia caracterizar-se
como um movimento maçônico se ainda não havia lojas no Brasil? De acordo com
seus escritores, haveria, sim, centenas de maçons organizados em lojas, mas estas
funcionavam clandestinamente, já que a ordem se encontrava proibida pela legislação
portuguesa.
O relato que inaugurou a crença em uma Inconfidência de caráter maçônico partiu
de Joaquim Felício dos Santos, que, curiosamente, não era maçom. Em sua obra
Memórias do distrito diamantino da comarca do Serro Frio (1924), ele escreve que a
“Inconfidência de Minas tinha sido dirigida pela maçonaria, Tiradentes e quase todos
os conjurados eram pedreiros-livres”. Com base nessa passagem, estudiosos, maçons
ou não, começaram a associar automaticamente a Inconfidência à maçonaria. Surgiu a
crença de que Tiradentes, que ia muito à Bahia para refazer o sortimento de
mercadorias de seu negócio, acabou, numa de suas viagens, tornando-se maçom. Ele
seria o responsável pela criação de uma loja maçônica, local onde os conjurados
teriam sido iniciados na organização, “introduzida por Tiradentes quando por aqui
passava vindo da Bahia para Vila Rica”, escreve Tenório D’Albuquerque.
Prova maior da importância do triângulo como símbolo maçônico teria se dado no
momento da execução de Tiradentes, quando o maçom e capitão Luiz Benedito de
Castro não distribuiu as tropas em círculo como de costume, e sim formou um
triângulo humano em torno do patíbulo. A multidão “não poderia compreender o
significado simbólico daquele triângulo, mas Tiradentes, no centro dele, compreendia
aquela última e singela homenagem”, descreve Raymundo Vargas.
Finalmente, as narrativas maçônicas encontram explicação também para um
instigante mistério: o sumiço da cabeça de Tiradentes. A urna funerária contendo a
cabeça do herói da Inconfidência teria sido retirada secretamente às altas horas da
noite pelos irmãos maçons remanescentes do movimento. O roubo da cabeça seria,
segundo Raymundo Vargas, uma das primeiras afrontas da maçonaria às autoridades
repressoras portuguesas, mostrando-lhes que “a luta só começava”. Segundo autores
maçons, não teria sido por acaso que, no mesmo local onde a cabeça de Tiradentes
fora exposta, o então presidente da província mineira e grão-mestre da maçonaria
brasileira em 1874 Joaquim Saldanha Marinho, em 3 de abril de 1867 ergueu uma
coluna de pedra em memória do mártir maçom.
Vários outros aspectos da Inconfidência foram trabalhados pelos autores ligados à
organização, tais como a personalidade maçônica do Visconde de Barbacena ou as
“irrefutáveis” provas da viagem de Tiradentes à Europa para fazer contato com seus
irmãos da ordem. Percebe-se que a maçonaria, por meio de seus intelectuais,
construiu uma série de argumentos para não deixar dúvida quanto ao papel de
destaque dessa instituição no desenrolar de todos os fatos da Conjuração.
Recentemente, surgiram alguns trabalhos elaborados por historiadores maçons mais
criteriosos que refutam muitas das teses aqui apresentadas. Contudo, estes ainda não
foram suficientes para derrubar do imaginário maçônico a figura do herói mineiro.
De fato, existem vestígios de que maçons passaram pelas Minas setecentistas.
Analisando os processos inquisitoriais luso-brasileiros de fins do século XVIII e
início do XIX, encontram-se denúncias contra mineiros de Vila Rica e do Tijuco,
acusados de libertinos, heréticos e maçons. Sabe-se também que muitos estudantes
brasileiros em Coimbra e Montpellier iniciaram-se na maçonaria europeia e
trouxeram seus valores e ideias para o Brasil. Alguns deles, como José Álvares
Maciel e Domingos Vidal, ajudaram nos planos dos inconfidentes.
Para além da discussão da veracidade ou não desses relatos acerca da
Inconfidência, é interessante perceber de que maneira a elaboração de tal narrativa
histórica favorece a instituição dos pedreiros livres. Em diversos momentos, a
presença da maçonaria em território brasileiro foi questionada. Com a proclamação
da República, por exemplo, a Igreja Católica perdeu o título de religião oficial do
Estado e, para tentar reaver sua influência política, reforçou o combate à organização.
O catolicismo oficial passou a apresentar a maçonaria como uma sociedade
“estranha” à cultura brasileira, vinda de fora, representante do imperialismo e, logo,
uma ameaça à soberania nacional. Mais tarde, com esses argumentos, Getúlio Vargas
a colocaria na ilegalidade.
Diante de situações como essas, tornou-se fundamental para a maçonaria
apresentar-se à sociedade brasileira como uma instituição que, ao contrário do que
dizem seus opositores, mostra se presente há tempos em nosso território e em nossa
cultura. Assim, a narrativa da Inconfidência como um movimento maçônico pode ser
denominada de “’tradição inventada”, expressão cunhada por Eric Hobsbawm que
indica a criação de um passado com o qual se busca estabelecer uma continuidade.
Construir por meio de uma historiografia uma tradição na qual os maçons teriam feito
parte do momento fundador da nação brasileira é, sem dúvida, uma maneira de
assegurar sua presença no Brasil. Ao associar a imagem de Tiradentes à sua, essa
ordem passa a ser lembrada como a defensora dos nobres valores carregados pelo
herói nacional. Mais do que uma forma de defesa, a apropriação maçônica da
simbologia da Inconfidência lhe dá legitimidade perante a sociedade. Por ora, a
estratégia teve êxito na medida em que a insurreição de 1789 e a atuação maçônica
encontram-se, ainda hoje, intimamente associadas no imaginário popular.
A bandeira mineira
A origem da bandeira de Minas Gerais é mais uma prova, para os maçons, do
envolvimento desta organização na Inconfidência. “Se ainda ao mais incrédulo dos
incrédulos restasse um resquício de dúvida quanto à origem maçônica da
Inconfidência Mineira, bastaria contemplar-lhe a bandeira”, afirma Tenório
D’Albuquerque, em A bandeira maçônica dos inconfidentes. Utilizando como disfarce
a ideia da Santíssima Trindade, o triângulo representaria, na verdade, a sagrada
trindade da maçonaria: liberdade, igualdade e fraternidade. No interrogatório relatado
nos autos da devassa, ao ser perguntado sobre o significado da bandeira, Tiradentes
teria respondido “sagrada trindade” e não “santíssima”. Tal detalhe supostamente
passou despercebido ao escrivão.
Discordância entre historiadores
A historiografia acadêmica encontra-se longe de um consenso acerca da
participação ou não da maçonaria na Inconfidência. As hipóteses vão desde o papel
central dos maçons na elaboração dos planos do levante até a negação total de sua
influência na Conjuração.
Augusto de Lima Júnior ressalta o papel da maçonaria ao percebê-la como um
importante elemento de ligação e comunicação dos inconfidentes com os grupos de
apoio no Rio de Janeiro e na Europa. Em posição oposta está Lúcio José dos Santos,
alegando que o fato de não haver nenhum vestígio da ação propriamente maçônica nos
autos da devassa seria a maior prova da ausência dessa sociedade na Inconfidência.
Também argumenta que, se a maçonaria possuísse prestígio suficiente a ponto de ser a
idealizadora do movimento, ela teria tido forças para impedir a condenação de seus
membros. Finalmente, a meio-termo entre as duas opiniões encontra-se Márcio
Jardim, para quem a atuação maçônica teria sido importante, mas secundária: seu
papel seria apenas o de aglutinar pessoas e ideias. O autor observa, ainda, como a
maçonaria dos dias atuais se apropria da figura de Tiradentes, o que revelaria um
desejo de mostrar poder acima do comum, causando lhe surpresa o fato de “boatos
sobreviverem ao tempo e à evidência das provas contrárias”.

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tradicao-inventada/
#25

O Abrasivo que Afia o Cinzel

Autor: Charles Evaldo Boller


Fonte: O Ponto Dentro do Círculo
A gigantesca e verdadeira obra da Maçonaria é propiciar ao seu iniciado um lugar
adequado para a modificação da personalidade, a moderação de paixões e desejos e o
desenvolvimento de virtudes; numa escalada que inicia numa operação denominada:
desbastar a pedra bruta.
Esta atividade consiste no trabalho, básico e rústico, de arrancar da pedra, arestas,
deformidades e protuberâncias, de modo que ela possa vir a adaptar-se ao seu lugar
reservado numa importante construção.
Traduzindo, significa: o aprendiz recebe instrução, é dotado de ferramentas, de
conhecimentos elementares, é assistido por método e simbologia próprios que,
manipulados por seu intelecto, culminam em desenvolver suas capacidades racionais,
intelectuais, lógicas e filosóficas nos assuntos da Maçonaria.
E estas, por sua vez, o auxiliam a subir uma escada que parte de um ambiente onde
domina a matéria, e o eleva até um estágio onde ocorre a predominância do espírito
sobre a matéria.
O interessante é que, o potencial adquirido com o uso da sua própria
intelectualidade, dependendo de suas raízes culturais, não o precipita na geração de
dogmas que possam torná-lo fanático; ao contrário, o treinamento o leva ao suave
equilíbrio entre racionalidade e espiritualidade.
Gradativamente, o processo “abre portas inefáveis” até então invisíveis. Sua
sensibilidade lhe revela, a cada reunião, no templo especialmente preparado para o
seu desenvolvimento pessoal, onde, sob efeito de sons e incenso, ocorre sua
integração com a força do maçom, um campo energético gerado pelo seu grupo de
companheiros.
A vida mística e profunda da essência dos símbolos vai gradativamente revelando
o que até então não enxergava. Desvelando apenas uma parte onde ele mesmo é
material de construção, uma pedra que depois de trabalhada, constituirá parte
integrante do grande templo moral da humanidade.
Dentre as ferramentas de trabalho do aprendiz estão o maço e o inseparável cinzel
que desbastam a pedra bruta, ele mesmo. O cinzel representa o intelecto e ambos
concorrem para o mesmo objetivo. É exemplo de dualismo construtivo, eficaz e
positivo.
O cinzel é o símbolo do trabalho inteligente. Seguro pela mão esquerda
corresponde ao aspecto passivo da consciência, à penetração, à receptividade
intelectual, ao discernimento especulativo, indispensável para descobrir as
protuberâncias ou falhas da personalidade. Serve de intermediário entre o homem e a
natureza. Sozinho seu uso é quase nulo. Sem a ajuda do maço ele não produz muita
coisa, exige participação da outra ferramenta. Assemelhado com a razão humana que,
isolada, nada constrói. O cinzel carece da parte operativa, ação, força e trabalho do
maço.
A lógica representada pelo cinzel torna o aprendiz independente, sem torná-lo
mesquinho. Sem sua intervenção, o resultado do trabalho seria inútil, senão perigoso.
A sua falta representa as soluções aprisionadas no espírito. Além de ser emblema da
escultura, arquitetura e belas artes, é também a imagem da causticidade dos
argumentos que permite destruir os sofismas do erro.
O cinzel é usado para o trabalho mais bruto, no alicerce de uma construção. Um
trabalho básico. É o aço aplicado sobre a pedra, ambos duros, mas, a dureza do cinzel
é maior, ademais, está afiado, daí sua capacidade de penetração, de corte das
asperezas. Com ele corta-se fora o que o homem tem de feroz, levando-o a uma
condição mais elevada diante da natureza e aproximando-o do conceito de Grande
Arquiteto do Universo.
A Terra seria um deserto se os seres humanos deixassem de fazer por polidez o que
são incapazes de fazer por amor, e seria quase perfeito, se cada um conseguisse fazer
por amor o que só faz por polidez; isto porque, ela faz a pessoa parecer por fora,
como deveria ser por dentro.
Quem não for bastante delicado e cortês não pode ser muito bom.
Cerimônias são diferentes em cada país, mas a verdadeira cortesia é igual em
todos os lugares.
Assim como a cera, naturalmente dura e rígida, torna-se, com um pouco de calor,
tão moldável que se pode levá-la a tomar a forma que se desejar. Também se pode,
com um pouco de cortesia e amabilidade, conquistar os obstinados e os hostis.
Partindo do princípio de que uma virtude não é natural, mas uma qualidade
desenvolvida ao longo do crescimento individual, do ponto de vista moral, a polidez
é uma virtude. Como exemplo: o que acorreria com as quatro virtudes cardeais:
justiça, prudência, temperança e coragem, se o indivíduo não é polido ou destituído
de qualquer educação ou cortesia? Seriam inúteis!
Sem a educação e o respeito não há como desenvolver virtudes. E como a polidez
é algo de aparente pouca importância, é neste “quase nada” que reside seu mérito. Ela
pode ser definida como o caráter ou a qualidade do que é polido, da fina educação, da
gentileza.
É também uma forma do discurso que indica cortesia e civilidade daquele que fala.
Ao que se esforça no uso de expressões que atenuem o tom autoritário, do imperativo
e outras fórmulas de etiqueta linguística.
Adicionalmente, designa o indivíduo que possui grandes virtudes e elevada cultura
e conhecimento em determinadas áreas do saber.
Na luta para obter maior controle do espírito sobre a matéria, a polidez lustra o
coração, de modo que revele o não visto. Sua transparência é proporcional ao quanto
foi polido.
Para quem mais poliu sua sensibilidade manifestam-se mais formas invisíveis e
revelam-se verdades para as quais a mais sofisticada racionalidade é impotente.
E o cinzel deve ser afiado continuamente, permanentemente, exigindo constante
aporte de novos conhecimentos, para não embotar. É a Polidez, o conhecimento
aprofundado de temas da vida que o afia. Afiar o cinzel significa receber fina
educação, ser cortês e atencioso. E estas são atividades nas quais denodadamente
deve-se investir com força, com a ação do maço, e gradativamente ir galgando a
escada que leva à perfeição que pertence ao Grande Arquiteto do Universo.

Bibliografia
CAMINO, Rizzardo da. Dicionário Maçônico, ISBN 85-7374-251-8, primeira
edição, Madras Editora limitada., 413 páginas, São Paulo, 2001;
Paraná, Grande Loja do. Ritual do Grau de Aprendiz Maçom do Rito Escocês
Antigo e Aceito, terceira edição, Grande Loja do Paraná, 98 páginas, Curitiba, 2001.

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cinzel/
#26

A Estrela Flamígera

Autor: Kennyo Ismail


Fonte: No Esquadro
Infelizmente, até os mais respeitáveis escritores maçons deixaram com que suas
formações cristãs influenciassem sobre este tema, pecando em sua interpretação. Nas
instruções originais de Thomas Webb, amplamente divulgadas nas Grandes Lojas
Americanas, a Estrela Flamígera é símbolo da estrela que guiou os sábios até o local
de nascimento de Jesus. Por sorte, essa interpretação foi retirada quando da revisão
das instruções, em 1843, na Convenção de Baltimore. Albert Pike, não satisfeito,
praticamente copiou essa interpretação de Webb em seu famoso livro Moral &
Dogma, em 1871. Importante ressaltar que são afirmações sem qualquer embasamento
histórico.
Alguns autores brasileiros conseguiram ir mais além no mundo da imaginação. Na
teoria desses, multiplicada por trabalhos apresentados nas Lojas, a Estrela Flamígera
foi inventada por Pitágoras e nomeada por Agrippa, sendo usada pela primeira vez em
um ritual de 1737 na França.
Essa teoria seria ótima, se não houvesse vários pentagramas de origem
mesopotâmica, babilônica, egípcia, registrados em pedra e datados de, pelo menos,
3.000 a. C., ou seja, mais de dois milênios antes de Pitágoras nascer.
Outro fato que pesa contra essa teoria é o fato de Albert Mackey ter registrado em
uma de suas principais obras possuir um monitor de trabalhos maçônicos datado de
1735 que consta a Estrela Flamígera como ornamento da Loja, o que contradiz o
pioneirismo francês.
Outro ponto importante é que uma coisa é uma estrela e outra coisa é uma Estrela
Flamígera. Deve-se tomar o devido cuidado de não se relacionar todas as estrelas do
mundo e seus significados com a Estrela Flamígera. Afinal de contas, não importa o
significado que a estrela tem para os índios da tribo dos tapajós ou para os esquimós.
Estamos tratando aqui de Maçonaria.
Mas então o que seria a Estrela Flamígera? Há uma explicação mais razoável do
que simplesmente “chutar” que se trata da Estrela de Belém?
Eis uma teoria fundamentada da origem da Estrela Flamígera na Maçonaria:
Os povos antigos tinham a crença de que os deuses habitavam as estrelas. Essa
crença esteve presente no judaísmo, como denuncia o livro Amós (5:26), onde consta
a crença ao deus Moloch, um deus que possuía uma estrela como símbolo. Os judeus
adotaram tal crença por influência dos egípcios, que adoravam Sírius como um de
seus mais importantes deuses. Sírius é a estrela mais brilhante do céu, também
conhecida como “estrela-cão” por ser a principal estrela da constelação “Cão
Maior”. Os egípcios construíram vários templos em dedicação a Sírius e há indícios
de que Sírius serviu de base para o calendário egípcio.
Essa influência egípcia fica clara no livro Atos (7:43), que cita o tabernáculo de
Moloch e “a estrela do vosso deus Renfan”. Renfan era um dos nomes pelos quais os
egípcios chamavam Sírius. O Antigo Testamento contém várias outras passagens que
citam o deus Moloch.
Pois bem, nos livros de Reis I e Reis II, ninguém menos do que o Rei Salomão
edifica um altar em homenagem a Moloch, o qual, como sabemos, tinha como símbolo
uma estrela, por ser a estrela mais brilhante do céu. Os livros relatam que Salomão
agiu por influência feminina. Já não mais forte como antes, velho, encontrava-se
dividido entre sua sabedoria e a beleza de suas mulheres e concubinas. Enfim,
Salomão misturou assuntos da matéria com assuntos do espírito.
Essa questão de dualidade entre matéria e espírito está diretamente ligada à
maçonaria simbólica, em que o material prevalece no grau de Aprendiz, mede forças
com o espiritual no Grau de Companheiro, e então o espiritual prevalece no grau de
Mestre.
Considerando o papel do Rei Salomão para a Maçonaria e essa dualidade
enfrentada por Salomão e culminando na sua reverência a Sírius, a estrela mais
brilhante do céu (daí o termo “flamígera”), é fácil compreender o importante papel e
simbolismo que a Estrela Flamígera ocupa no grau de Companheiro Maçom. Não
haveria melhor maneira de simbolizar tal dualidade aos Companheiros do que através
do exemplo do próprio Rei Salomão, identificada no Templo por Sírius, a Estrela
Flamígera.
A Estrela Flamígera representa as forças e os perigos que podem desvirtuar até o
homem mais sábio de todos os sábios do caminho da retidão que leva à Verdade.
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#27

A corda de 81 nós: uma visão operativa

Autores:Lincoln Gerytch, Sérgio Koury Jerez, Ulisses Pereira da Silva Massad


Fonte: Bibliot3ca
A arte da cordoaria e os nós
O uso de cordas, cordões, nós e laços pelo homem se confunde com a sua própria
história. Fundamentais para a evolução da espécie e extremamente valiosos para o
estabelecimento de sua supremacia sobre outros animais, o desenvolvimento destes
recursos como parte do ferramental de sobrevivência humano só deve ser posterior,
na escala tecnológica – se o for – ao emprego de pedras, paus e ossos pelas
comunidades primitivas. Supõe-se – já que não há provas materiais disso – que
mesmo o Homo habilis, que viveu entre 2,5 e 1,6 milhões de anos atrás, na África
oriental, já fosse capaz de realizar atividades básicas de cordoaria e entrelaçamento
de fibras.
Os primeiros materiais para confecção de cordas devem ter sido trepadeiras,
cipós, peles de animais, cabelos, junco, cânhamo, tendões e tripas. Inicialmente, elas
devem ter sido utilizadas para confeccionar abrigos, leitos em árvores e atar coisas a
serem transportadas, e deve ter se passado um longo tempo até que os nossos
ancestrais percebessem o seu valor no desenvolvimento de artefatos de caça, pesca,
ataque e defesa.
Os arcos e flechas, por exemplo, que requerem o uso técnicas apuradas para
produção de cordas e elaboração de nós, só vieram muito depois. Não se sabe ao
certo onde se originaram, mas os vestígios mais remotos de seu uso foram
encontrados em Angola, datando de aproximadamente 30 mil anos.
A descoberta, em 1991, do “homem do gelo”, – Oetzi, como foi apelidado – que
morreu no Tirol há cerca de 5.400 anos, permitiu uma avaliação precisa do papel dos
nós e das cordas nas vestimentas e utensílios dos povos europeus antigos.
Há mais de 3 mil anos, como decorrência de sua familiaridade no trabalho com
cordas e nós, que vinha desde os primeiros hominídeos, os egípcios e seus vizinhos
semitas e líbios já eram capazes de produzir tecidos com alto grau de sofisticação.
A par do uso das cordas nas atividades do dia a dia, os nós, em particular,
desempenhavam um papel importante nas crenças egípcias. A eles era atribuído um
poder mágico, médico ou religioso. O tipo do nó variava segundo o seu emprego. A
direção das laçadas, o número de cordões que o compunha e o material com que era
feito também eram específicos para cada finalidade.
Para os egípcios, tanto fazer nós quanto desfazê-los poderia trazer resultados
positivos ou negativos. Por exemplo, um nó na ponta de um cordão protegia contra as
influências do mal. Contudo, se o mal já estivesse instalado, o impediria de sair.
Desfazê-lo significava remover qualquer bloqueio, mas, por outro lado, poderia abrir
caminho para que alguma força potencialmente prejudicial tomasse conta de seu
usuário. O mesmo nó, no campo da medicina, era usado pelas mulheres grávidas para
como um amuleto para prevenir sangramentos ou abortos.
Um nó muito importante na mitologia egípcia era o Nó de Ísis, semelhante aos nós
que, naquela cultura, ornamentavam a gola das vestes das divindades em geral.
Segundo o Livro dos Mortos, quem usasse este nó ganharia a proteção de Ísis e de seu
filho Hórus, e seria bem-vindo no outro mundo. Os sacerdotes e sacerdotisas de Ísis,
em particular, eram reverenciados por seu poder de cura e frequentemente recorriam
ao uso de cordões e nós mágicos em suas terapias. Para demonstrar que acreditavam
no seu próprio remédio, usavam, eles mesmos, cabelos trançados, tradição esta que
migrou para a cultura greco-romana junto com o culto à deusa.
Os kvinus, formas primitivas de registrar de informações, também recorriam ao
uso de nós e cordas. São os registros “escritos” mais antigos da história. Empregados
como sistema de memorização pelos povos andinos, chineses e japoneses ancestrais,
usavam uma convenção de sinais feitos com nós que auxiliavam na preservação da
memória de fatos e conhecimentos.
Tudo isso dá uma ideia da importância da arte da cordoaria e das técnicas para
elaboração de nós no desenvolvimento das civilizações. Talvez por serem um recurso
muito comum e, sob a maioria dos aspectos, muito simples, os livros de história não
lhes deem o devido destaque. Mas o fato é que cordas e nós sempre estiveram
presentes, quaisquer que fossem os seus usos, na trajetória do homem. São, portanto,
uma parte indissociável da tradição dos povos, em todos os continentes.
As cordas e os nós na Maçonaria Operativa
A utilização de cordas ou, pelo menos, o entrelaçamento de fibras, está no
nascedouro das ciências construtivas. A partir do momento em que o homem deixou as
cavernas e passou a adotar uma vida nômade ou seminômade, a confecção de abrigos
tornou-se fundamental e, neste contexto, saber fazer cordas e confeccionar nós podia
significar a diferença entre sobreviver ou não, já que seu uso proporcionava mais
resistência e segurança às primitivas habitações.
Possivelmente foi muito depois da corda ter sido intensivamente usada nas
situações mais comuns – como amarra, meio de tração e arrasto, auxiliar em
escaladas, recurso de ataque e defesa, utensílio de caça e pesca – que ela passou a ser
utilizada com uma finalidade mais nobre, qual seja, como instrumento de medição. E
foi mais adiante ainda que alguém deve ter tido a ideia de fazer nós equidistantes nas
cordas, de modo a que pudessem servir não só para medir partes inteiras, mas também
frações dessas partes, a exemplo do que o homem provavelmente já fazia com as
varas de medição.
No estabelecimento de extensões maiores, como, por exemplo, terrenos e áreas
rurais, a utilização de cordas com nós era essencial, já que o uso de outros recursos
levava a medidas menos precisas. Há indícios de que eram usadas com essa
finalidade pela maior parte das principais civilizações antigas, como a suméria,
egípcia, chinesa, grega e romana.
No Egito, especialmente em função das cheias do Nilo, que destruíam as divisas
das terras aráveis, os agrimensores exerciam um papel fundamental. Eram chamados
de Hardenonaptai (esticadores de corda). Heródoto, o historiador grego, já menciona
o trabalho deles ao se referir a Ramsés II (aprox. 1.300 a.C.), dizendo que o faraó
egípcio distribuía lotes de terra para os seus governados, em parcelas retangulares
iguais, sobre as quais cobrava um imposto anual. Quando o rio varria as linhas
demarcatórias, era comum os proprietários pedirem redução nos valores a serem
pagos, alegando a diminuição de sua área. O faraó, no entanto, cioso das receitas que
as terras lhe proporcionavam, enviava seus agrimensores para restabelecer os limites
perdidos ou determinar a pertinência da redução do imposto.
Isso mostra que os agrimensores não só determinavam distâncias simples entre
pontos, mas que eram capazes de estabelecer ângulos retos através de um recurso que
era passado tradicionalmente de geração para geração: a corda de doze nós. Não se
sabe onde e quando esta tradição teve início, mas o fato é que, por experiência
prática, os esticadores de corda sabiam que era possível, utilizando-se apenas uma
corda fechada com doze nós equidistantes, criar um triângulo retângulo onde a medida
de cada lado correspondia, respectivamente, a 3, 4 e 5 intervalos entre nós (…).
Os agrimensores eram muito prestigiados no Antigo Egito. Como toda a cultura
girava em torno das cheias do Nilo e das grandes construções, medir era uma
atividade essencial e constituía o topo da escala de conhecimentos da época. Prova
disso é que a cerimônia mais importante da tradição egípcia era chamada de “esticar
a corda”. Seus rituais estavam associados à medida do tempo e do espaço na terra e
nos céus, nos quais a deusa Seshat, padroeira dos arquitetos, aparecia ao lado do
faraó.
Voltando-se à corda, credita-se a ela os primeiros passos de uma ciência que é,
seguramente, a mais cara para os maçons: a geometria. Quando se amarram hastes nas
extremidades de uma corda e se fixa uma destas hastes num determinado ponto no
chão, basta esticar a corda e com a haste remanescente girar em torno da haste fixa,
que desenharemos um círculo, figura fundamental de todo desenvolvimento
geométrico. Não por acaso, alguns dos filósofos gregos mais importantes, como
Platão e Aristóteles, atribuíam aos egípcios a criação da geometria.
O método de medição e de criação de figuras geométricas usando cordas
permaneceu o mesmo durante muitos séculos, mas acredita-se que, com o objetivo de
aumentar-se a exatidão das medidas, os nós tenham sido gradativamente substituídos
por algum outro tipo de marcação.
Foi apenas no século XVII que as técnicas de medição de terras tiveram um salto
de qualidade no que tange à precisão, quando a agrimensura passou a adotar a
Corrente de Gunter, uma cadeia formada por hastes de metal. Até então, as cordas
ainda eram prevalentes. Só em 1922 é que foi patenteada a trena, por Hiram Farrand.
As cordas e os nós na Maçonaria Simbólica
Jean van Win acredita que a corda que utilizamos na decoração dos templos tenha
sido introduzida na maçonaria simbólica devido a um engano. Segundo ele, o uso a
corda de nós espalhou-se pelo mundo, a partir da França, por um erro de tradução do
abade Pérau, que, em 1742, publicou um livro intitulado O Segredo dos Franco-
maçons, baseado na obra A Maçonaria Dissecada, de Samuel Prichard, editada em
1730. Nela, Prichard afirma que dentre os equipamentos da Loja há o “Pavimento
Mosaico, que é o piso da Loja, a Estrela Flamígera, que é seu Centro, e a Orla
Dentada, que é a borda em torno dela”. Acontece que o abade traduziu, do inglês
original para o francês, Pavimento Mosaico como Palácio Mosaico, Estrela
Flamígera como Dossel Constelado de Estrelas e Orla Dentada por Borla Dentada.
Com isso, as potências maçônicas que, por qualquer motivo, se inspiraram direta ou
indiretamente na tradição francesa, teriam assimilado o termo Borla Dentada.
Ainda segundo van Win, a adoção da corda como elemento na decoração dos
templos teria vindo de uma tradição diferente: a partir do século XVI, era costume das
mulheres nobres, ao enviuvarem, encimarem o brasão de seus maridos com uma corda
ornada com nós de amor terminada em borlas pendentes. Isso – acrescido de uma
eventual associação com o termo “filhos da viúva”, surgido nos rituais na mesma
época – teria bastado para que se passasse, por extensão, a associar a Borla Dentada
de Pérau a uma corda com nós e borlas em torno da Loja.
De todo modo, o fato é que as cordas com nós vêm sendo usadas desde então como
ornamento nos templos, quadros ou tapetes de Loja maçônicos. Algumas Lojas
utilizam nos seus quadros ou tapetes o número de nós conforme o grau representado.
A maioria delas, no entanto, especialmente na Europa e América do Norte, adota a
corda de 12 nós, que, como já mostramos, tem um significado relevante na história da
geometria. Aqui cabe uma consideração: aceita-se, por seu caráter simbólico, que a
corda maçônica, mesmo sendo aberta, tenha 12 nós, embora uma corda assim crie
apenas 11 intervalos ou medidas entre os nós, o que não permitiria a representação de
um triângulo retângulo. Ou seja, a rigor, a corda aberta em torno do templo, quadro ou
tapete de Loja deveria ter 13 nós, perfazendo 12 medidas, para, desta forma, poder
representar o triângulo pitagórico. Assim, quando fechada, os nós das extremidades
poderiam ser sobrepostos, criando as condições para a criação do triângulo.
Diferentemente de outros países, no entanto, as potências do Brasil fizeram uma
opção peculiar, adotando em suas Lojas a Corda de 81 nós, que, quando fechada,
sobrepondo-se os extremos, formaria 80 intervalos. Logo, a ser observado o mesmo
critério utilizado pelas Lojas do hemisfério Norte, dissociando a realidade do
simbolismo, a corda maçônica brasileira poderia conter apenas 80 nós.
A exemplo da corda de 13 nós, a Corda de 81 nós também se presta à criação de
um triângulo retângulo. Seus catetos correspondem aos intervalos formados,
respectivamente, por 16 e 30 nós, e, a hipotenusa, por intervalos de 34 nós
(16+30+34=80 e 162+302=342). Também, da mesma forma que a corda de 13 nós, a
de 81 pode ser usada para criar triângulos equiláteros e isósceles e, assim sendo, quer
sejam de 12 ou 80 nós quando fechadas, ou 13 e 81 quando abertas, geometricamente
ambas as cordas expressariam o mesmo significado.
Os documentos históricos da maçonaria anteriores à criação da Grande Loja da
Inglaterra, em 1717, denominados genericamente de Antigos Deveres, não fazem
alusão a cordas e nós.
Já os rituais de 1904, publicados pelo Grande Oriente e Supremo Conselho do
Brazil, mencionam apenas um cordão que forma, de distância em distância, nós
emblemáticos (e) termina em uma borla pendente em cada um dos lados da porta de
entrada. Conclui-se, desta forma, que o número de nós foi estipulado em data
posterior à publicação dos rituais.
Não obstante, além das evidentes conotações geométricas, algumas referências
podem ter sido determinantes para que o número de nós da corda adotada pela
maçonaria brasileira fosse 81, quais sejam:

o número mínimo de meses estipulado para que um maçom chegue ao grau 33;
o total de graus da maçonaria francesa, em 1784;
a idade do Mestre Secreto (3 x 27);
a quantidade de atributos da divindade, para o intendente dos edifícios;
a idade do Vigilante do Perfeito e Sublime Maçom.

Além dessas, a inspiração para a adoção dos 81 nós pelas Lojas brasileiras talvez
possa ter advindo de Albert Pike, que escreveu em seu livro O Pórtico e a Câmara
do Meio, de 1872, o seguinte:

Ao redor de toda a parede, logo abaixo do teto, está


pintada, nas Lojas francesas, um cordão ou corda com
nós (la houppe dentelèe) de aproximadamente seis
polegadas de diâmetro, com borlas pendendo em cada
canto. Os nós são em número de oitenta e um. Não é
usada nesta jurisdição.

Quanto às borlas, nenhum documento foi encontrado que justificasse seu uso
maçônico. Se foram, de fato, inspiradas no brasão das viúvas, serviriam apenas de
arremate e adorno e, do ponto de vista operativo, não teriam qualquer significado.
Há, porém, uma hipótese plausível de que tenham existido marcadores de distância
atados nas cordas junto com os nós ou em substituição a eles. Essa hipótese decorre
da constatação de que algumas Correntes de Gunter adotavam pingentes de metal
presos em cada elo, de modo que o agrimensor soubesse, ao olhar um pingente, a que
distância se encontrava com relação ao início da corrente. Isso evitava, especialmente
nas distâncias maiores, o trabalho de contagem e recontagem de elos, que poderia
levar a erros.
Ora, se é sabido que as cordas de nós foram aperfeiçoadas durante dezenas de
séculos, é razoável imaginar-se que a solução dos pingentes fosse anterior à invenção
das Correntes de Gunter. Assim sendo, da mesma forma que adotou as cordas com
nós, não seria de se estranhar que a maçonaria simbólica tenha incorporado também
os pingentes, transformando-os em borlas. Mas isso é apenas um palpite.
Para concluir, mesmo considerando que o uso da corda de nós pela Ordem possa,
de fato, ter advindo do erro de tradução de Pérau, é inegável que esta “coincidência”
foi extraordinariamente feliz, já que, à exceção da Pedra, nenhum outro utensílio
operativo poderia ser considerado mais importante e tradicional.
Mas estes são apenas aspectos exotéricos relacionados à Corda de 81 nós. Muito
mais se poderia falar sobre ela ao analisá-la sob outros prismas.
É o que pretendemos fazer oportunamente…

Bibliografia
Ashley, C.W.. The Ashley Book of Knots. Londres, Inglaterra, Faber and Faber,
1993.
Buckland, R.. Buckland’s Complete Book of Witchcraft. St. Paul, Minnesota,
E.U.A., Llewellyn Publications, 1997.
Cassidy, J.. The Klutz Book of Knots. Palo Alto, CA, Klutz, 1985.
Gould, R.F.. Collected Essays and Papers Relating to Freemasonry. Belfast,
William Tait, 1913.
Mackey, A.G.. An Encyclopedia of Freemasonry. Nova Iorque, E.U.A., The
Masonic History Company, 1914.
Paulson, J. F.. Surveying in Ancient Egypt. Cairo, Egito, Anais do From Pharaohs
to Geoinformatics FIG Working Week 2005 and GSDI-8.
Pike, A.. The Porch and the middle chamber: book of the Lodge. 1872.
Poll, M.R. (ed). Ancient Manuscripts of the Freemasons. New Orleans, LA,
Cornerstone Book Publishers, 2009.
Prichard, S.. Masonry Dissected. Londres, Inglaterra, Charles Corbett, 1730.
Rituais no 1º, 2º e 3º Graus. Adotados pelo Supr∴ Cons∴ do Brazil, em julho
de 1898 – Rio de Janeiro, Typ. J. Schmidt, 1904.
Turner, J. C. e van de Griend, P. (ed). History and science of knots. Singapore,
World Scientific, 1995.
Van Win, J.. La Houppe dentellée: cordelière ou «floche», décor ou symbole?.
Extraído de http://montaleau.over-blog.com/article-rite-francais-de-la-houppe-
dentellee-66256800.html
Wendrich, W.. Entangled, connected or protected? The power of knotting in
ancient Egypt. In K. Szpakowska (ed). Through a Glass Darkly: Magic, Dream and
Prophecy. In Ancient Egypt 243-69 Swansea, The Classical Press of Wales, 2006.

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visao-operativa/
#28

Procura-se

Autor: Pedro Campos de Miranda


Fonte: O Ponto Dentro do Círculo
Procura-se um homem que luta para preservar e desenvolver os valores de seu
templo interior. Esse homem é acusado de ser livre e de ter bons costumes, de gostar
de aparar as arestas da imperfeição, de ser um incansável pesquisador da verdade. De
procurar respeitar a humanidade, tolerando suas crenças diversas, mas sempre
obstinado em palmilhar a senda espiritual que conduz à luz maior que é Deus, o
Grande Arquiteto do Universo.
Esse homem é apontado como elemento que incomoda aos que não dão aos outros
o direito de pensar e que não permitem a ninguém tentar encontrar explicações
inteligentes sobre o início da vida do homem, sobre a criação e o funcionamento
desse universo fantástico, sobre como os homens devem amar-se uns aos outros,
independentemente de raças, de posições sociais, etc. Tal homem combate
ininterruptamente o ódio que ainda hoje provoca matanças de irmãos criados pelo
mesmo Pai.
Outra acusação que pesa contra esse homem é a de procurar fazer feliz a
humanidade. Já pensou um mundo totalmente feliz, sem desavenças, com todos se
comportando como verdadeiros irmãos? Quem iria dominar quem e quem tiraria
proveito político e financeiro disso? Muitos acham que isso é perigoso. Ainda mais:
ele procura ser sempre participativo, presente na explosão da alegria e mais presente
ainda no tormento da dor de seus semelhantes.
Além disso, junta-se à legião dos que combatem a ignorância, a injustiça, as trevas,
a escravidão, a intolerância, e procura sempre conquistar homens de boa formação
moral, cultural e espiritual que poderão vir a ser pedreiros-livres, os quais, em breve,
aprenderão a construir o seu templo interior, a mais nobre edificação que o homem
pode erigir em honra ao Grande Arquiteto do Universo.
Também é acusado de haver descoberto o amor e de procurar mostrar aos outros
essa maravilha que Deus colocou à nossa disposição. Isso é imperdoável para os que
odeiam. Amar a todos, a começar de seus pais, de seus irmãos, de sua esposa e de
seus filhos, de seus amigos e de seus colegas, de seus semelhantes. Vejam só!
Fala-se que ele acredita em Deus e que usa a denominação Grande Arquiteto do
Universo para não ofender aos que conhecem o Pai Celestial como Jeová, Viracocha,
Btahma, Alá, Odin, etc., e que se tornam seus irmãos. Comenta-se que ele não acredita
em um Deus vingativo, mal humorado e que fala sempre em um Deus de amor, de
esperança e de compaixão.
Acredita naquele Criador de que nos fala o filósofo Benedictus de Spinoza, a quem
devemos procurar não por medo de castigos ou para pleitear favores, mas tão somente
porque Ele é a única opção válida com que contamos no caminho evolutivo. Um Deus
que jamais considera uns salvos e outros pecadores, mas que ama indistintamente a
todos nós que Ele criou. Esse Deus deve ser propagado?
Esse homem é tido como avesso às vaidades humanas ligadas a distinções
características do lado exterior do seu ser e que não irão acompanhar o seu espírito
quando ele for chamado ao Oriente Eterno. Propaga-se que ele é um grande sonhador,
pretendendo combater o vício com a virtude e que é um defensor intransigente do
Direito, da Justiça e da Verdade e que aconselha todos a manterem o bom humor,
característica que facilita muito o desenvolvimento espiritual. É apaixonado pela
liberdade, mas sabe cumprir seu dever. Por isso entusiasma-se com o grande
jurisconsulto que foi Cícero: Sou livre porque sou escravo da lei.
Outra coisa: vive falando em usar a consciência e a razão. Fala que só quem vive
em paz consigo é capaz de viver em paz com os outros. Sobre a tão conhecida Escada
de Jacó, que simboliza o caminho percorrido pelos anjos para contato com os mortais,
esse homem acredita que tal escada sugere-nos que o topo da caminhada está muito
além do patamar que nos é visível, significando que não será apenas subindo alguns
degraus perceptíveis no estágio em que nos encontramos que iremos alcançar a
perfeição.
Quando alguém é proposto para entrar em sua instituição, exige que a vida do
candidato, passada e presente, seja levantada com zelo e cuidado; procura descobrir
se o candidato gostará de passar por uma verdadeira metanoia, que é uma alteração
dos sentimentos, atingindo um novo estado de consciência que o tornará um autêntico
obreiro da paz, do amor, da solidariedade. Julga-se membro de uma corrente
espiritual do Terceiro Milênio desejosa de fazer todos felizes. Chama os conflitos
armados de estupidez da guerra. Entende que ser livre não é mudar de senhor, mas
deixar de ser escravo; é manter uma vontade firme de eliminar a preguiça de trabalhar
ou de procurar a verdade; que se considera livre, mas não se esquece da lei da física
“ação e reação”, que pode ser aplicada também aos seres humanos.
Diz ele que a vida é como uma orquestra: cada músico toca um instrumento
diferente, com tons e compassos estabelecidos para cada um, com notas próprias, etc.,
com marcação do momento em que cada músico atua, dentro de uma cultivada
harmonia que torna agradável e benfazejo o resultado de tais diferenças. E que,
quando a humanidade agir como uma orquestra, regida por maestros responsáveis e
conhecedores da real harmonia, não haverá mais fome, nem doentes desamparados,
nem gente morando nas ruas, nem violência, nem donos da verdade.
Apregoa como muito útil a repetição dos ensinamentos de homens abençoados que
pertenceram a religiões diversas, que nos ensinaram a dirigirmo-nos a Deus, como
recomenda Gibran Khalil Gibran: “Nada Te podemos pedir, pois Tu conheces nossas
necessidades antes mesmo que elas nasçam em nós.” Acredita que Joel Goldsmith
está certo: “Quando pararmos de pedir coisas a Deus, receberemos o maior dos
presentes: Deus mesmo!” Está sempre aconselhando-nos a não vivermos na sombra
para que, um dia, não venhamos a ter medo da luz.
Se você encontrar esse homem, procure ficar perto dele e sentir a energia positiva
que ele irradia. Sinta a sua doçura no falar. Sinta-lhe a vontade de ser útil, a sua
disposição de fazer. Esse homem é um maçom! Agradeça-lhe por tudo o que os
maçons já fizeram pela humanidade em tempos diferentes e difíceis, em países
diversos, escrevendo gloriosas páginas da conquista da liberdade, da igualdade e da
fraternidade. Agradeça-lhe, sobretudo, pelo que os maçons vêm procurando realizar
em benefício do ser humano, até em favor daqueles que os agridem torpemente.
Procure tratá-lo com carinho e respeito. Ele sonha em poder garantir sua
felicidade. O maçom dirige sua oração ao Grande Arquiteto do Universo sabendo que
ela não lhe desagrada os ouvidos nem o coração:

Sou livre e honro o Criador, amando a criatura. Faço


isso livremente porque desejo viver um dia na luz
plena, onde não haverá dúvidas e nem amarguras e
onde todos serão verdadeiramente irmãos; e bendirei
todas as ações que desenvolvi, contribuindo para que
nosso Templo fosse sempre um reflexo da ordem e da
beleza que resplandecem no trono do Grande Arquiteto
do Universo.

O pedreiro-livre encontra na Maçonaria uma floração mística da alma, apoiada na


razão. Quem vem apenas buscar, perde. Ela nos faz entender que o trabalho é um hino
de amor à vida. Só ele nos capacita a receber o maravilhoso salário de bençãos com
que o Altíssimo nos recompensa. E a maior das bençãos é a própria vida. Esta
permiti-nos experimentar e aprender, orientando o corpo para que fique mais fácil
para o espírito acompanhar a senda visível que foi traçada pelas boas ações no campo
material.
Antes de se entregar ao sono de cada noite o maçom agradece ao Grande Arquiteto
do Universo por tudo que recebeu Dele durante o dia e pede-Lhe que abençoe e
ilumine aqueles que o consideram um inimigo, a fim de que se tornem
verdadeiramente seus amigos e seus irmãos e, de modo particular, àqueles que o
fazem ou o fizeram sofrer, ajudando-lhe a lapidar o seu espírito.

Aquele que tem a luz dentro de seu próprio peito,


claro, pode sentar-se no centro e desfrutar de um dia
brilhante; mas aquele que esconde uma alma obscura e
pensamentos negativos, ainda incomodado pela luz do
meio-dia, ele próprio é sua masmorra. (John Milton)

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